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Grupo Teatral Estudantil Ars-Cenika - Colégio Integrado São Francisco – 2020/21/22 - 1

A FADA QUE TINHA IDEIAS


Fernanda Lopes de Almeida
Adaptação: Alfredo Barzon
Digitado por:
Alfredo Barzon | Pietra Bueno | Ana Lívia Camargo | Isadora Paioleti | Maria Clara Cardani | Bruna Berg | Ana Laura
Toledo | Luísa Lion | Júlia Nhoato | Stella Del Posso.

01-Clara Luz – Tainá Zirpoli


02-Fada Mãe – Maria Clara Cardani
03-Fada 1 – Ana Clara Dias
04-Fada 2 – Isabela Alborghetti
05-Fada 3 – Ana Clara Madruga
06-Fada 4 – Sophia Kalmann
07-Fadinha 1 – Antonella Passarell
08-Fadinha 2 – Ana Klara Lima
09-Fadinha 3 – Daniela Escardalete
10-Fadinha 4 – Liz Táparo
11-Passarinho – Giulia Vitoria
12-Vermelhinha – Ana Lívia Felix
13-Gota de Chuva – Isabela Godoy
14-Professora – Pietra Salvatierra
15-Senhor Relâmpago – Zé Flávio
16-Dona Relâmpaga – Anna Julia
17-Irmão maior – Pedro Henrique
18-Irmão do Meio – Luis Otávio
19-Relampagozinho – Nícolas Mendes
20-Rainha – Bruna Berg
21-Conselheira 1 – Julia Almeida
22-Conselheira 2 – Melina Ligabue
23-Conselheira 3 – Ana Laura Martins

CENA 1 – NA CASA DA CLARA LUZ

   TEMA DE ABERTURA
(abre a cortina)
Clara Luz – Eu não quero! Eu não quero saber dessa porcaria de livro!
Fada Mãe - Mas minha filha, todas as fadas sempre aprenderam por esse livro. Por que só você não quer aprender?
Clara Luz - Não é preguiça, não, mamãe. É que não gosto de mundo parado.
Fada Mãe - Mundo parado?
Clara Luz - É. Quando alguém inventa alguma coisa, o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica
parado. Nunca reparou?
Fada Mãe - Não...
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Clara Luz - Pois repare só. É por isso que eu não me interesso por esse livro velho e embolorado. Para inventar
minhas próprias mágicas.
Fada Mãe – Minha filha, pode até ser verdade esse negócio de mundo parado. Mas nós viveríamos tão bem, aqui no
Céu, se não fosse a sua mania de inventar! Já pensou se a Rainha descobre que você nunca saiu... (cochicha)
nunca saiu da Primeira Lição do Livro?
Clara Luz – Se ela descobrir, não acho nada de mais, mamãe.
Fada Mãe – Shhhhhhh
Clara Luz - Que é que tem?
Fada Mãe – Nem diga uma barbaridade dessas, minha filha! Como “o que é que tem”? Vivo tão preocupada com
isso! Felizmente o palácio da Rainha fica do outro lado do Céu.
Clara Luz – A Rainha nem está pensando na gente, mamãe. Ela tem mais o que fazer.
Fada Mãe – Não sei não, minha filha. Você não podia fazer uma forcinha e passar ao menos para a Segunda lição?
Clara Luz - Não vale a pena mamãe. A primeira lição um já é tão enjoada, que a segunda tem que ser duas vezes
pior.
Fada Mãe - Mas enjoada por quê?
Clara Luz - Ensina a fabricar tapete mágico.
Fada Mãe - Pois então? Já pensou que maravilha saber fazer um tapete mágico?
Clara Luz - Não acho, não. Tudo quanto é fada só pensa em tapete mágico. Ninguém tem uma ideia nova!
(A Fada Mãe suspira e começa a espanar os móveis. Clara Luz dá umas voltinhas, procurando o que inventar.
Repara num bule e reflete em voz alta).
Clara Luz - Tem bico. Dá um bom passarinho.
(Transforma o bule em passarinho, mas com três asas. Duas dele mesmo e uma do bule. A Fada Mãe, de repente,
dá com o passarinho e leva um susto danado).
Fada Mãe - Que bicho esquisito é esse?
Clara Luz - É o bule, mamãe, que eu transformei em passarinho.
Fada Mãe - Clara Luz! E agora? Onde vou coar o pó-de-meia-noite para fazer nosso café? E que ideia foi essa de
fazer passarinho com três asas? Ao menos ponha só duas asas nele!
Clara Luz - Mas mamãe, ele gosta de ter três asas!
Passarinho - Não gosto, não senhora! Faça o favor de me consertar já!
(Clara Luz faz várias tentativas desajeitadas para consertá-lo, mas quem acaba consertando é a Fada Mãe).
Passarinho (para a Fada Mãe) - Se não fosse a senhora eu não sei como seria! Essa sua filha é muito intrometida.
(Vai saindo) Veja só! Inventar que eu gosto de ter três asas!
Fada Mãe (depois de tomar fôlego) – Minha filha, por favor, por hoje chega de fazer experiências com a sua vara de
condão! Só agora de manhã você fez umas quatro!
Clara Luz – Cinco, mamãe.
Fada Mãe – Isso mesmo, cinco! Vou ter que sair para desencantar uma princesa e quero ir sem preocupações.
Clara Luz – Vá sem susto. Eu tomo conta da casa.
Fada Mãe – Que tal você ir fazendo a massa dos bolinhos de luz enquanto eu saio? Acho que você já sabe fazê-la
sozinha.
Clara Luz – Sei fazer muito bem.
Fada Mãe – Ótimo! Amanhã de manhã faço o bolo de aniversário. É só o que está faltando. Então, até logo mais!
(Sai com leveza, como se voasse).
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(O tempo todo, pela expressão corporal, as fadas devem dar essa impressão de vôo, de que não pisam em chão
comum).

CENA 2 – VIZINHAS, CADA UMA EM SUA JANELA


Fada 1 – Que festa é essa que elas vão dar?
Fada 2 – É pra festejar o aniversário da Vermelhinha.
Fada 1 – Ah, sei! Aquela estrela cadente que é muito amiga da Clara Luz!
Fada 2 – Aquela mesma!
Fada 4 – Uma peste!
Fada 3 – não sei por que Clara Luz não arranja uma amiga mais calma. Chego a ficar tonta quando as duas
começam de correria, brincando de esconder atrás das nuvens.
Fada 4 – Não sei como a mãe dela não toma uma providência!
Fada1 – Xí, essa é muito mole...
Fada 3 – Muito mole...
Fada 2 – Completamente perdida...
Fada 4 – Não sabe educar a filha...
Fada 1 – Um desleixo...
Fada 4 – Clara Luz faz o que quer...
Fada 2 – O tempo todo, só quer saber de brincar!
Fada 3 – Nem quer saber de estudar...
Fada 4 – E ainda, eu ouvi falar, assim... me contaram, tá? Não tô querendo fofocar...
Fadas 1, 2 e 3 – (dissimuladas) Imagina...
Fada 4 - ...que ela não estuda o Livro!
Fada 2 – Que absurdo!
Fada 1 – Que babado!
Fada 3 – Se a Rainha descobre!
Fada 4 – Ai, se a Rainha descobre!
Fada 2 – A Mãe devia tomar uma providência!
Fada 3 – E ainda, a menina vive por aí com a vermelhinha...
Fada 4 – Outra indisciplinada!
Fada 2 – Outra rebelde!
Fada 4 – E Mãe da Clara Luz devia proibir essa amizade.
Fada 1 – Ah, mas não proíbe mesmo!
Fada 3 – Pelo contrário. A Mãe em vez de proibir, tá organizando essa festa para a Vermelhinha.
Fada 1 – Quando vai ser a festa?
Fada 2 – Amanhã! Com certeza você ainda vai ser convidada.
Fada 3 – Ai, tô tão ansiosa pra essa festa!
Fadas 2 e 4 – Eu também!
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CENA 3 – CASA DA CLARA LUZ

Clara Luz - (Lendo alto)


Bolinho De Luz:
250g de raios de sol
250g de raios de luar
1 colher de chá de fermento de relâmpago.
Maneira de fazer: mistura-se bem os raios de sol e de luar, até saírem faíscas. Junta-se então o fermento de
relâmpago.
-Que fácil! Não sei como certas pessoas podem achar difícil fazer bolo!
(Tira os raios de sol e de luar dos "potes" onde estão guardados, nas "prateleiras". Despeja tudo num tacho e mexe,
como a receita manda. A "casa" inteira começa a brilhar. Todos os efeitos da Cena 3 podem ser conseguidos apenas
com luz.)
Clara Luz - Estou tendo uma ideia! Fermento é o que faz o bolo crescer. Se, em vez de uma colher de chá, eu puser
um relâmpago inteiro, vai sair um bolo enorme. Mamãe, amanhã, nem vai precisar fazer o bolo das velas. (Pensa um
pouco.) Mas onde vou achar um relâmpago inteiro aqui dentro de casa? O jeito é ir para a janela e pescar o primeiro
que passar.
(Ouve-se barulho de trovões. Começa a relampejar. Clara Luz dirige-se à "janela da sala" e faz gestos de quem tenta
pegar os relâmpagos. Afinal passam, em fila, o Senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os relampagozinhos-filhotes.
Clara Luz consegue pegar o menor deles, Relampagozinho, o último da fila.)
Clara Luz - Que sorte! Peguei um filhote de relâmpago!
Relampagozinho - (Muito Zangado.) Quer fazer o favor de me soltar? Não viu que estou com meu pai, minha mãe e
meus irmãos?
Clara Luz - Vi, sim. Mas é uma brincadeira ótima. Você vai gostar.
Irmão Do Meio - Não sei que brincadeira é, mas sei que ele não vai gostar.
Irmão Maior - Faça o favor de soltar o meu irmão, já, já. Nossos pais já devem estar longe.
Clara Luz - (Dirigindo-se ao Relampagozinho, que não parou de se remexer o tempo todo.) Você não quer ser o
fermento do meu bolo? Vai ser tão interessante!
Relampagozinho - Eu não, que não sou bobo. Pensa que quero ser comido em festa de aniversário?
Irmão Do Meio - Ele não, que ele não é bobo.
Clara Luz - (Sempre dirigindo-se ao Relampagozinho.) Você entra e depois sai. É só para fazer o bolo crescer.
Relampagozinho - (Começa a gostar da ideia.) Puxa! Deve ser divertido mesmo!
Clara Luz - Garanto que você vai adorar. Até podemos combinar assim: no meio da festa você pula de dentro do bolo
e dá um susto danado em todos.
Relampagozinho - (Caindo na risada.) Vai ser formidável! Aceito. (Relampeja direto para a "cozinha", numa correria
louca.)
Clara Luz - Preciso ir depressa, para ensiná-lo a entrar na massa do bolo direito. Vão andando, vocês dois. Se
quiserem podem vir ao aniversário, não façam cerimônia.
Irmão Maior - Não venho a aniversário nenhum. Você não tinha nada que transformar o meu irmão em fermento.
Irmão Do Meio - Vou fazer queixa à mamãe. (Os irmãos saem correndo.)
Clara Luz - (Procurando pelo Relampagozinho.) Pronto, já sumiu dentro da massa sem esperar explicação nenhuma.
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(Esse efeito pode ser obtido de diversas maneiras. Pode existir um tacho bem grande no palco, onde o
Relampagozinho de fato entre, ou pode o Relampagozinho desaparecer nos bastidores e Clara Luz continuar agindo
como se ele estivesse dentro do tacho que, neste caso, terá proporções normais.)
Clara Luz - E agora? Só o verei de novo amanhã, quando ele pular de dentro do bolo. Nunca vi ninguém tão afobado!
Bom agora o jeito é acender o forno e esperar. (Faz gestos de quem acende o "forno" e põe o "bolo" dentro.)
Clara Luz - (Gritando para o Relampagozinho, que desapareceu dentro da massa.) Capriche, sim? Faça o bolo
crescer bem!
(Clara Luz dá uma voltinha e logo a massa do "bolo" está crescendo e espirrando luz. Tal efeito pode ser conseguido
com o uso de luzes mas, em falta desse recurso, pode também ser obtido de outra maneiras. Pelo que Clara Luz diz
já se tem ideia do que está se passando.)
Clara Luz - (Correndo para ver o que está acontecendo.) Meu Deus! Era para crescer, mas não tanto assim!

CENA 4 - JANELAS DAS VIZINHAS E CASA DE CLARA LUZ


Fada 1 - Olha só o rio de luz que está saindo da casa de Clara Luz! Será que é alguma mágica?
Fada 4 – O que essa menina tá fazendo?
Fada 2 - Não pode ser. Não existe nenhuma mágica assim no Livro das Fadas!
Fada 3 - Existe sim, na página 23.
Fada 4 – Página 23!
Clara Luz - Socorro! Não sei fazer isso parar!
Fada 3 – (para a fada 4) Me dá o livro! Me dá o Livro!
Fada 4 – Tá aqui!
Fada 1 - Ela está pedindo socorro! Vê depressa a página 23!
Fada 3 - (Que já está folheando o livro apressadamente.) Está aqui! (Lêem juntas.)
Fada 2 - O que tem na página 23 é: "Como transformar abóbora em carruagem". (Olham-se desconsoladas.)
Fada 1 - Não está no Livro. Não podemos fazer nada.
Fada 4 – O que essa menina fez?
(Elas começam a passar o livro de mão em mão)
Fada 1 – Página 34 – Como descamar seu dragão.
Fada 3 – Página 55 – Como mudar a cor do vestido.
Fada 2 – Página 12 – Como tirar a vaca que foi pro brejo do brejo.
Fada 4 – Página 32 – Como desencantar sapo sem beijar na boca.
Fada 3 – Página 29 – Como desentortar banana com um arpão de pescar tubarão.
Fada 4 – Página 61 – Como encantar bodes.
Fada 2 – Página 46 – Como enfeitiçar passarinhos para que cantem mais bonito.
Fada 1 – Página 66 – Como desencantar grilos falantes
Fada 2 – Não adianta, meninas! Não tem nada pra isso no livro!
Fada 4 – O que a Clara Luz foi aprontar? Ai não!
Fada 3 - Nem quero pensar no que vai acontecer se a Rainha souber disso tudo!
(Vem chegando a Fada-Mãe. Quando vê aquele clarão enorme saindo de sua casa, quase morre de susto.)
Fada-Mãe - Minha filha! Onde está você?
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Clara Luz - Estou aqui, mamãe. Faça uma mágica depressa! Não sei o que vou fazer com essa massa! Vai acabar
pingando lá na Terra!
Fada-Mãe - (Aflita.) Meu Deus! Vou ter que fazer uma mágica que não é do Livro! (Bate na "massa" com a varinha de
condão dizendo.) Vire um cometa! (A "massa", com Relampagozinho dentro, vira um cometa e sai correndo numa
velocidade louca.)
(Quem sai correndo é o ator que faz o papel de Relampagozinho. A transformação em cometa pode ser conseguida
com um adereço fácil de colocar, como a cauda por exemplo. O que é importante é mostrar que ele passou por uma
mudança.)
Clara Luz - (Entusiasmada.) Puxa, mamãe! Você, quando quer, faz cada mágica! Pena você perder tanto tempo
encantando e desencantando princesas!
(A Fada-Mãe está se abanando, sem voz para falar.)
Fada-Mãe - Minha filha, porque você tem tantas ideias, hein? Seria tão bom se tivesse menos...

CENA 5 - CASA DE CLARA LUZ


(Dia seguinte. Festa de aniversário de Vermelhinha. Estão presentes fadas, fadinhas, Fada-Mãe, Vermelhinha e
Clara Luz.)
Fada 3 - Quantos anos a Vermelhinha está fazendo?
Fada 2 - Nove milhões de anos.
Fada 3 - Isso para uma estrela é bem pouco. Ela ainda é muito criança.
Fada 4 – E muito peralta!
Fada 1 - Como é bonitinha, não?
Fada 4 – Bom isso é verdade. A danada é bonitinha...
Fada 2 – É... e é engraçadinha. Um pouco levada demais, mas engraçadinha...
(Fada-Mãe entra com o bolo de velas.)
Fada-Mãe - Venham! Venham todas! Vamos cantar parabéns para a melhor amiga da minha filha!
(Todas se agrupam e começam a cantar parabéns. Ouve-se uma barulheira e entra Dona Relâmpaga, seguida pelo
Irmão Maior e pelo Irmão Do Meio.)
Dona Relâmpaga - (Berrando, com as mãos na cintura.) Só quero saber o que fizeram com o meu filho! Fui
informada de que foi aqui nesta casa que ele entrou.
Irmão Maior - Foi aqui mesmo, mamãe.
Irmão Do Meio - Nós vimos tudo.
Fada 2 - É a Dona Relâmpaga! Vem para cá, filhinha! Essa senhora é muito perigosa.
Fada 3 - Ela tem um gênio terrível!
Fada 4 – (para as fadinhas) Venham, meninas!
Fada 1 - (Para a filha.) Vem cá! Não saia de perto de mim!
Fada-Mãe - (Dirigindo-se à Dona Relâmpaga.) Mas, minha senhora, de que filho a senhora está falando? Eu não sei
de nada!
Dona Relâmpaga - Não se faça de boba! Pensa que pode ir transformando o filho dos outros em cometa e que
depois fica tudo por isso mesmo? Está muito enganada. Ou me devolvem o meu filho já, ou queimo tudo nesta casa.
(Correria. As fadas começam a se esconder.)
Fada 1 - Ela está queimando a mobília!
Fada 4 – Que horror! Que mal-educada!
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Fada 2 – Vem pra cá, minha filha, já disse.


Fada-Mãe – Cometa? Juro à senhora que nunca transformei filho de ninguém em cometa!
Clara Luz – (Muito lampeira.) Transformou sim, mamãe, não se lembra? Foi ontem mesmo, de noite, que você
transformou o filho dela em cometa.
Fada-Mãe – Eu?
Clara Luz – É, sim. Esqueci de lhe contar, mas ele estava dentro da massa dos bolinhos. Por isso é que a massa
cresceu tanto.
(Ouvindo isso, Dona Relâmpaga quase incendeia a casa toda. Efeitos de luz e som. Mas na falta destes, o que as
fadas dizem e os modos cada vez mais zangados de Dona Relâmpaga já poderão dar uma boa ideia do “incêndio”)
Dona Relâmpaga – Vou reclamar pra Rainha das Fadas! Essa menina vai receber um castigo que ela vai ver só!
Fada 1 – Ela vai incendiar a casa!
Fada 4 – Por Merlin! Essa maluca vai queimar tudo!
(A Fada-Mãe fica com falta de ar e a Fada 3, mais corajosa, vem abaná-la. As fadinhas começam a chorar. Só
Vermelhinha e Clara Luz não choram.)
Clara Luz – Sabe de uma coisa? Não tenho medo nenhum das suas reclamações. Pode ir reclamar. E que modos
são esses de entrar na casa dos outros? Não tem educação?
(Dona Relâmpaga, que está habituada a berrar sozinha, espanta-se e cala-se.)
Vermelhinha – Isso mesmo. A senhora devia estar muito contente de ter um filho cometa e em vez disso ainda vem
reclamar! Na minha família sempre quisemos que nascesse um cometa e nunca nasceu nenhum.
Dona Relâmpaga – (Admirada.) É?
Vermelhinha – Claro que é. Ter um filho cometa é o mesmo que ter um filho príncipe, ou até rei.
Irmão Maior – Já pensou, ter um irmão príncipe?
Irmão do Meio – Prefiro rei.
(Dona Relâmpaga faz cara de quem começa a ficar orgulhosa. Mas depois enxuga uma lágrima.)
Dona Relâmpaga – O caso é que fico com muitas saudades dele. Desde que virou cometa, não apareceu mais.
(Clara Luz e Vermelhinha olham uma para a outra.)
Clara Luz – Coitada! Nesse ponto, ela tem razão!
Vermelhinha – É mesmo! Que adianta ter um filho príncipe e nunca ver esse filho?
Clara Luz – (Sem se atrapalhar.) Pode deixar, Dona Relâmpaga. Assim que mamãe melhorar, vou pedir pra ela tirar
o seu filho de dentro do cometa.
Dona Relâmpaga – (Satisfeitíssima.) Pensei que isso não fosse possível!
Clara Luz – É possível, sim. Dá um pouco de trabalho, mas é possível. Mamãe é formidável em mágicas. Faz cada
uma que só a senhora vendo!
Vermelhinha – Enquanto espera, aceita um refresco de orvalho?
(Dona Relâmpaga aceita, prova e faz cara de quem gostou. A Fada-Mãe dá sinais de melhora. Vermelhinha, Clara
Luz e Dona Relâmpaga estão conversando, muito amigas.)
Fada-Mãe – (Espantada.) Não é possível! Será verdade o que estou vendo? (Para as amigas.) Pensei que ainda ia
ter um trabalhão para acalmar essa senhora.
Clara Luz – É verdade sim mamãe. Dona Relâmpaga já entendeu tudo. Agora você vai é ter que tirar o filho dela de
dentro do cometa.
Dona Relâmpaga – É um favorzinho que lhe peço. A senhora compreende, sei que é uma honra ter um cometa na
família, mas sinto muita falta dele.
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Fada-Mãe – Perfeitamente, Dona Relâmpaga. Eu não sabia de nada disso. Foi tudo ideia da minha filha.
Vermelhinha – Tirar o Relampagozinho de dentro do cometa não é nada. Difícil vai ser pegar o cometa.
(Pela “janela” aberta vê-se passar o cometa.)
Fada 1 – Olhem! Lá vai ele!
Fada 3 – Nunca vi um cometa tão rápido!
Clara Luz – (Com um risinho.) Também, ela nunca viu um cometa com relâmpago dentro!

CENA 6 – FORA DE CASA


(Saem todos atrás do cometa, inclusive Dona Relâmpaga e os dois filhos. Começa uma grande correria, que deve
parecer-se o mais possível com um vôo. Essa correria abrange o palco todo e pode, inclusive, estender-se pelos
bastidores.)
Irmão Maior – Foi lá para aquele lado!
Dona Relâmpaga – Onde? Onde?
Fada 2 – Sumiu!
Fada 1 – Apareceu! Olha lá!
Fada 4 – Ei! Olha o que ele tá fazendo!
Fada 3 – (Assustadíssima.) Está indo para os lados do palácio da Rainha!
(Ouvindo isso, as fadas todas gritam tanto que o cometa, espantado, muda de rumo. As fadas, em coro, suspiram de
alívio.)
Fadas – Ah!...
Fada 1 – Felizmente afastou-se do palácio!
Fada 4 – Que susto!
(Continua a correria. O cometa escapa sempre. Clara Luz consegue, afinal, apanhá-lo. Com a velocidade, ele ainda a
arrasta algum tempo, mas acaba parando.)
Clara Luz – (Arrastando-o de volta.) Ufa! Se eu soubesse que o Relampagozinho ia dar esse trabalhão, nunca o teria
convidado para entrar no meu bolo.
(Todas as fadas convidadas se reúnem para ver o Relampagozinho sair do cometa. Dona Relâmpaga começa a
chorar de alegria.)
Dona Relâmpaga – (Para Vermelhinha.) Estou tão comovida como no dia em que ele nasceu!
(A Fada-Mãe move a varinha de condão algumas vezes, como quem faz uma mágica trabalhosa, e o
Relampagozinho pula para fora do cometa, isto é, o ator despoja-se do adereço que caracterizava o cometa.)
Relampagozinho – (Com uma cara muito estonteada, como quem acabou de acordar.) Ué, o que foi que aconteceu?
Fadinha 1 – Que gracinha! Como é lindo!
Fadinha 4 – Vamos brincar com ele?
Fadinha 2 – Quem brinca primeiro com ele sou eu!
Fadinha 3 – Não! Sou eu!
Fadinha 4 – Não! Fui eu que dei a ideia!
Fadinha 1 – Vamos todas juntas!
Fadinha 3 – Como assim?
Relampagozinho – Põe a mão aqui.
(todas as fadinhas colocam a mão no ombro do relampagozinho. Ouve-se um barulho de trovão)
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Todas as fadinhas – Tô chocada!!


(Relampagozinho está atordoado, esfregando os olhos. Ainda não entendeu bem o que lhe aconteceu. Assim que
melhora, sai numa correria louca, como sempre. As fadinhas saem atrás, brincando de pegar.)
Vermelhinha – (Para Clara Luz.) Nunca me diverti tanto no meu aniversário! Agora, sempre que fizer anos, vou
convidar pelo menos um relâmpago.
Clara Luz – Eu também.
Dona Relâmpaga – (Para a Fada-Mãe.) Muitíssimo obrigada por tudo. A senhora queira desculpar ter queimado os
móveis. É que estava louca de saudades e eu, quando estou com saudades, queimo tudo ao meu redor.
(Ouve-se uma trovoada e a voz grossa do Senhor Relâmpago, ao longe.)
Senhor Relâmpago – Mulher! Crianças! Onde estão vocês?
Dona Relâmpaga – (Para a Fada-Mãe.) É o meu marido. Eu nem contei nada disso a ele. Ele é tão exaltado!
Fada-Mãe – Mais ainda que a senhora? Isto é...quer dizer...foi um prazer conhecer a senhora.
Dona Relâmpaga – O prazer foi todo meu. (Sai, com os filhos.)
(As fadas começam a retirar-se também. Aproxima-se a Gota de Chuva.)
Fada 3 – Parece que vai chover.
Fada 4 – Ai ai... detesto me molhar...
Fada 2 – Vamos indo, minha filha.
Fada 1 – Foi um aniversário um pouco agitado, mas muito divertido.
Clara Luz – Puxa, Gota de Chuva, como você chegou atrasada! Todo mundo já está indo embora!
Gota – Eu estava ajudando a preparar uma chuva, que vai cair daqui a pouco.
Vermelhinha – Ih! Chegou aquela gelatina incolor!
Gota – O quê? Acha que eu não ouvi? Gelatina incolor sou eu?
Vermelhinha – Já que você ouviu, é isso mesmo. E daí?
Gota – Pensa que é linda, assim toda vermelha?
Vermelhinha – E você, que nem tem cor?
Gota – Cara de tomate!
Vermelhinha – Cara de fantasma!
Clara Luz – Essa discussão de vocês está me dando uma ideia...
Gota e Vermelhinha – (Juntas, esquecendo a briga.) Conte, depressa! Qual é a ideia?
Clara Luz – Vou colorir a chuva.
(Alvoroço de Gota e Vermelhinha.)
Clara Luz – (Para Gota.) Você fica encarregada de descer à Terra e depois vir nos contar tudo que aconteceu por lá.
Assim que acabar a chuva, evapore-se e volte pra cá bem depressa.
Gota – Está bem, mas só vou com uma condição.
Clara Luz – Qual é?
Gota – Poder escolher minha cor. Você pode me colorir de uma cor que eu não goste.
Clara Luz – De que cor você quer ser?
Gota – Amarelinha. Adoro amarelo.
Vermelhinha – Se eu fosse você, escolheria azul.
Gota – Não. Ou vou amarela, ou então não vou.
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(Nesse momento a chuva começa a cair.)


Clara Luz – Chegou a hora meninas! Começou a chover.
(Erguendo a varinha de condão, colore a chuva. Começa a chover de todas as cores. Vermelhinha e Gota dão pulos
de alegria. Para a chuva, na impossibilidade de usar efeitos de luz, pode-se usar fitas, papel picado ou qualquer outro
recurso. Mas, como sempre, a fala dos personagens e suas atitudes podem ser suficientes.)
Clara Luz – (Para Gota.) Agora vá! Vá depressa, para depois contar tudo o que o pessoal lá da Terra achou dessa
chuva.
Gota – Vou como, se você ainda não me coloriu? Pensa que eu quero ser a única gota sem cor no meio dessas
outras, lindas?
Clara Luz – Ah! É mesmo!
(Com uma varinha, Clara Luz faz Gota ficar amarela. A transformação pode se dar pelo acréscimo de uma peça de
roupa, como um xale amarelo ou uma capa.)
Gota – (Saindo velozmente.) Adeus! Até a volta!
Vermelhinha – Bom, já vou indo, porque não gosto de chuva. Só brilho com bom tempo. Vá pensando no que você
vai fazer no meu próximo aniversário. (Sai.)

CENA 7 – JANELA DAS VIZINHAS


(De dentro de suas casas, as fadas começam a notar alguma coisa de diferente e cada uma abre a sua janela.
Quando vêem a chuva colorida, quase caem para trás. O passarinho, num canto da cena, assiste à chuva colorida
num misto de medo e admiração, porém, sem interferir na cena.)
Fada 2 – Não é possível, Gertrude! Já viu o que está acontecendo?
Fada 3 – Não posso acreditar! Estou vendo uma chuva colorida!
Fada 4 – Chuva colorida? (observa a chuva) Nossa! Não é que é mesmo?
Fada 2 – É isso mesmo! Foi por isso que eu gritei!
Fada 1 – Mas quem terá feito uma coisa dessas? Que dirá a Rainha, quando souber?
Fada 3 – Que escândalo!
Fada 4 – Se bem que é uma chuvinha bem bonita...
Fada 1 – Mas, se a Rainha descobre... (todas entram em casa. O passarinho dá a cara na cena)
Passarinho – Se a Rainha descobre... (sai voando).

CENA 8 – PORTA DA CASA DE CLARA LUZ


Fada-Mãe – (Chegando à “porta”.) Tenho alguma coisa nos olhos. O que estou vendo só pode ser defeito da minha
vista.
(Clara Luz aproxima- se.)
Fada-Mãe – Querida, imagine como estou mal da vista: estou vendo uma chuva de todas as cores.
Clara Luz – Sua vista é ótima, mamãe. Está chovendo colorido mesmo. Fui eu que fiz.
Fada-Mãe – Clara Luz! Você coloriu a chuva?
Clara Luz – Colori.
Fada-Mãe – Mas com ordem de quem?
Clara Luz – De ninguém mamãe. Para colorir a chuva, não precisa ordem, não. Basta a gente ter a ideia.
Fada-Mãe – Mas menina, quem manda aqui no Céu não é você, é a Rainha.
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Clara Luz – Eu sei, mamãe. Então não sei disso? Mas por que a Rainha iria ser contra uma chuva tão bonita? Só se
ela for muito boba.
Fada-Mãe – Boba?! (Perdendo a respiração e com voz fraca.) Por favor, um copo d’água!
(Clara Luz corre pra buscar. A mãe bebe.)
Fada-Mãe – Já estou melhorando.
Clara Luz – Mamãe, você tem um defeito. Quer saber qual é?
Fada-Mãe – Diga, minha filha.
Clara Luz – É essa sua falta de ar. Tudo faz você ficar com falta de ar. Tem tanto ar, olha aí!
Fada-Mãe – (Olhando ao redor.) É...Ar tem bastante.
Clara Luz – Pois então? Só fica com falta de ar quem quer. Tem ar até sobrando.
Fada-Mãe – Engraçado! Sabe que, depois dessa sua explicação sobre ar, eu estou respirando muito bem?
Clara Luz – Então estou às ordens. Quando você ficar com falta, pode falar comigo, que eu explico tudo de novo e
você melhora. (Afasta-se.)
Fada-Mãe – (Muito intrigada.) Nunca vi umas ideias como as dessa menina! Só se ela saiu ao pai, que era o Mágico
mais inventador da corte do Rei dos Mágicos.

CENA 9 - FORA DE CASA


Clara Luz – (Chamando outras fadinhas.) Passou a chuva! Vamos brincar de modelagem com as nuvens do pôr-do-
sol?
Fadinha 3 – Oba! Vamos!
Fadinha 1 – Adoro essa brincadeira!
Fadinha 4 – É a melhor brincadeira que existe!
(Aproximam-se todas, alegremente, e começam a modelar. Pode ser apenas mímica.)
Fadinha 2 – Engraçado! Sem querer, a gente só faz bichos!
Fadinha 1 – Lá na Terra as pessoas ficam apontando para o Céu e dizendo: “Olha lá aquela nuvem, parece uma
girafa!” “Olha aquela outra, parece um elefante! ”
Fadinha 3 – Ninguém sabe que somos nós, brincando aqui no Céu.
Fadinha 4 – É. Ninguém sabe!
(As mães, de vez em quando, vêm até a janela ver o que as meninas estão fazendo.)
Fada 1 – Elas estão brincando direitinho.
Fadinha 1 – Olhem! O Vento fez meu cavalinho correr!
Fadinha 2 – Também quero que a minha girafa corra!
Fadinha 4 – Vai, vento, faz meu ornitorrinco correr também!
Fadinha 3 – Vento! Vento! Sopre no meu camelo!
Fadinha 2 – Foi embora! Que pena! Eu queria tanto!
Clara Luz – Sei de uma mágica que pode fazer todos esses bichinhos correrem.
Fadinha 4 – Como assim?
Fadinha 1 – Conte! Conte como é, Clara Luz!
Clara Luz – É assim: vocês vão modelando e vão procurando gostar cada vez mais do trabalho que estão fazendo.
Fadinha 4 – Mas... mas... é só gostar?
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Fadinha 3 – Isso é fácil!


Clara Luz – O trabalho tem que gostar cada vez mais de vocês.
Fadinha 2 – Como? Como é que um trabalho pode gostar da gente?
Clara Luz – Não sei, não. Mas se o trabalho não gostar da gente também, não vai adiantar.
Todas as Fadinhas – E depois?
Clara Luz – Depois acontece a mágica. É só isso.
(Todos correm e recomeçam a modelar. De repente começa-se a ouvir relinchos, uivos, canto de pássaros, urros.)

CENA 10 – JANELAS DAS VIZINHAS E FORA DE CASA


Fada 2 – Que horror! Filomena! Gertrude! Venham ver uma porção de bichos correndo lá fora! O Céu virou jardim
zoológico!
Fada 1 – Não diga! Que perigo meu Deus!
Fada 3 – E nossas filhas estão lá no meio das feras!
Fada 4- Que horror!
FADAS – (Gritando para as filhas.) Venham já para dentro!
Fadinha 4- (Para a mãe) Deixa! Deixa a gente brincar! Tá legal!
Fada 4 – Nem pensar!
Fadinha 3 – (Chorando revoltada.) Mas mãe, logo agora que a brincadeira está ficando boa!
Fada 3 – Que boa o quê, menina! Quer ser devorada por algum leão?
Fadinha 3 – Mas mamãe, fui eu que fiz esse leão. Ele não morde.
Fada 3 – Morde sim senhora. Você não tem medo nem de leão, menina?
Fadinha 3 – Eu não, mamãe. Já disse que fui eu que fiz!
Fada 3 – (Para as vizinhas.) Minha filha disse que fez um leão!
Fada 4 – Essas fadinhas estão birutas!
Fadinha 4 – (muito brava) Biruta, mãe?
Fada 1 – E a minha disse que fez um pássaro que canta e tudo.
Fada 3 – Não é possível. Elas ainda nem aprenderam a fazer tapete magico direito! (Pensa um pouco e decide.)
Nossas filhas não sabem fazer leão, pronto! Está acabado!
Fadinha 3 – (Na maior choradeira.) Sei fazer leão, sim. Já disse que sei!
Fada 3 – Não sabe!
Fadinha 3 – Sei sim!
Fadinha 2 – Ela sabe, tia!
Fadinha 4 – Sabe mesmo!
Fadinha 1 – Eu vi ela fazendo!
Fada 1 – Viu nada. E querem saber? Fadas da idade de vocês tem que aprender a fazer tapete mágico e pronto!
Fadinha 1 – (Também na maior choradeira.) Não quero aprender a fazer tapete mágico. Sei fazer coisa que vive e
tem voz!
Fada 1 – Mas querida, tapete mágico é muito útil. Que diferença faz se tem voz ou não tem voz?
Fadinha 1 – (Soluçando.) Faz muita diferença! Faz uma diferença enorme!
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Fada 2 – Que será que essas meninas têm hoje meu Deus! Nunca vi ninguém chorar tanto por causa de uma simples
girafa!
Fadinha 2 – (Chorando mais ainda.) Minha girafa não é simples! Ninguém entende a minha girafa. Sou muito infeliz!
Fadinha 4 – Mães são muito chatas!
Fada 4 – (repreendendo) Olha aqui! (Fadinha 4 mostra a língua para a mãe) Ah! Agora vai ficar de castigo! Dá aqui
essa varinha!
Fadinha 4 – Não dou!
Fada 4 – (tomando a varinha) Dá agora!
Fadinha 4 – (entrando em casa chateadíssima) Que mãe que eu tenho!
Fada 3 – Entre já, estou dizendo!
Fada 1 – Entre!
Fada 2 – Entre!
Fadinha 2 – Puxa, não posso fazer nada, que coisa!
(Cada fadinha entra para a sua casa, todas chorando de raiva. Anoitece. As mães que ficaram entrando e saindo,
acomodam as filhas, reúnem-se de novo.)
Fada 2 – Acho que é tudo verdade mesmo. Nossas filhas sabem muito mais coisas do que nós pensamos.
(Todas ficam caladas, refletindo sobre aquilo.)
Fada 1 – No nosso tempo, aprendíamos a fabricar tapete mágico e ficávamos muito contentes com isso.
Fada 2 – É mesmo...
Fada 4 – Era tão mais simples! A gente aprendia, aceitava... e pronto.
(Pausa longa. Num momento todas suspiram ao mesmo tempo.)
Fada 3 – (de repente) Eu não ficava nada contente de fabricar tapete mágico!
(As outras fadas olham surpreendidas para a Fada 3. Depois, começam todas a falar ao mesmo tempo.)
Fada 2 – Eu também não ficava nada contente!
Fada 1 – Eu detestava tapete mágico!
Fada 4 – Uma chatice!
Fada 2 – Eu, até hoje, detesto desencantar princesa!
Fada 4 – Eu odeio tirar a vaca que foi pro brejo do brejo!
Fada 3 – Eu, para falar a verdade, detesto todas as lições do Livro!
Fada 4 – Nenhuma presta pra nada, na verdade! Só tem feitiço sem graça...
Fada 2 – Eu quero fazer um papagaio, mas tem que falar de verdade, senão não serve!
Fada 1 – Eu daria tudo para aprender a fazer um leão, nem que fosse dos pequenos!
(Já é noite. Com o barulho que as mães fazem, a Fadinha 3 aparece com carinha estremunhada de quem esteve
dormindo.)
Fadinha 3 – Que foi, mamãe? Por que vocês estão gritando tanto?
Fada 3 – É que eu quero aprender a fazer um leão! Eu quero que seja cor de ouro!
Fadinha 3 (Com benevolência.) Está bem, mamãe, não precisa aborrecer. Amanhã eu ensino a fazer, ouviu?
Fada 1 – Eu também quero!
Fada 2 - Eu também quero!
Fada 4 – Me ensina também?
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Fadinha 3 – Está bem, está bem!


Fada 3 – Tem que ser amanhã bem cedinho!
Fadinha 3 – Não sei por que tanta pressa! Não sei o que deu em vocês!
Fada 3 – Já perdemos muito tempo! Queremos que seja assim que o sol raiar!
Fadinha 3 – (Começando a esfregar os olhos com sono.) Está bem, está bem, vai ser assim que o sol aparecer.
(Retira-se.)
(Escurece totalmente.)

CENA 11 – JANELA DAS VIZINHAS


(Entra uma música sugerindo o amanhecer. Clareia. O passarinho canta num canto da cena. Quando a música para,
ele vai para um “galho”, na frente da cortina. Num lugar de onde as fadas não podem vê-lo.)
Fada 1 – Que mal exemplo nós demos ontem de noite!
Fada 2 – É mesmo! Se a Rainha soubesse que até falamos mal do livro!
Fada 3 - É melhor fingirmos que esquecemos toda a história!
Fada 4 – Fingirmos, nada! Quer saber? É melhor esquecermos de verdade.
Fada 2 – Se a Rainha descobre...
Fada 1 - Se a Rainha descobre...
Fada 3 - Se a Rainha descobre...
(Quando ouve isso, o passarinho muda de expressão e passa a escutar escondido a conversa das fadas).
Fada 4 – Não queria estar nem perto se a Rainha descobrisse!
Fada 2 – Nem eu!
Fada 1 – Muito menos eu!
Fada 3 – Eu também não!
(pausa)
Fada 3 – Mas ia ser tão legal!
Fada 4 – Uma cracatua gigante!
Fada 2 – Um papagaio falante!
Fada 1 – Um elefante elegante!
Fada 3 – Uma gazela saltitante...
Fada 1 – Nossas meninas é que são felizes!
Fada 2 – São felizes as meninas...
Fada 3 – Quanta liberdade!
Fada 4 – Liberdade... (ficam as quatro sonhando por alguns segundos, até que a Fada 4 cai em si). Não! Mas a gente
não pode! Se a Rainha descobre!
Fada 1 - Se a Rainha descobre!
Fada 2 - Se a Rainha descobre!
Fada 3 - Se a Rainha descobre! Ai ai ai, se a Rainha descobre!
Fada 4 – Quer saber? Vou cuidar do meu serviço!
Fada 3 – É melhor eu ir cuidar do meu serviço!
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Fada 2 – Só nos resta cuidar dos nossos serviços.


Fada 1 – Isso mesmo! Vamos cuidar do nosso serviço, como se não tivesse acontecido nada.
Fada 4 – Mas é verdade! Não aconteceu nada! Aconteceu?
Fada 2- Não aconteceu nada!
(Todas entram em casa e vão cuidar dos seus serviços).
Fadinha 3 – (observando, um pouco afastada) Coitada da mamãe. Está com vergonha de ter querido fazer um leão
de ouro... (sai de cena).
(Aparece o passarinho)
Passarinho – Não aconteceu nada é? Sei... (Sai voando)

CENA 12 – CASA DA CLARA LUZ


Fada Mãe – Minha filha, hoje vem uma professora nova. Você vai ter sua primeira aula de horizontologia
Clara Luz – O que é isso?
Fada Mãe – É saber tudo sobre o horizonte. As crianças lá da terra aprendem geografia. As fadas aprendem
horizontologia.
Clara Luz – Acho que vou gostar dessa aula.
Fada Mãe- Espero que sim. Essa professora é uma moça muito esforçada. Passa o dia dando lições para sustentar a
mãe, uma fada velhinha, que já não pode trabalhar nem fazer mágicas. Formou-se o ano passado em professora de
fadinhas e tirou 10 em tudo.
Clara Luz – Em tudo?! Não tirou nem um 9?
(O sininho da porta bate. É a professora que vem chegando. Clara Luz corre em seu encontro.)
Clara Luz – Bom dia! Estou louca para aprender tudo sobre horizontes!
Professora – Que bom! Gosto de alunas assim entusiasmadas.
Fada Mãe – Como está passando, professora? Sente-se, fique à vontade. Aceita um cafezinho de pó-de-meia-noite?
Professora – Aceito sim, obrigada.
(A Fada Mãe “serve o café’’.)
Fada Mãe – Vou lá para dentro, para não atrapalhar a aula
(Sai)
Professora – Muito bem. Primeiro quero ver o que você já sabe. Sabe alguma coisa sobre o horizonte?
Clara Luz – Saber, mesmo, não sei, não. Mas tenho muitas opiniões.
Professora – Opiniões?
Clara Luz – É, sim. Quer que diga?
Professora – (Muito espantada.) Quero.
Clara Luz – A minha primeira opinião é que não existe um horizonte só. Existem muitos.
Professora – Está enganada. Horizonte é um só!
Clara Luz – Eu sei que todos acham que é só um. Mas justamente eu vou escrever um livro chamado “Horizontes
Novos’’.
Professora – (Cada vez mais admirada.) Você vai escrever um livro?
Clara Luz – Vou sim. Nesse livro eu vou dizer todas as minhas ideias sobre o horizonte.
Professora – São muitas?
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Clara Luz – Um monte. Por exemplo: eu acho que nós duas não deveríamos estar aqui.
Professora – Ué! Deveríamos estar onde, então?
Clara Luz – No horizonte, mesmo. Assim, em vez de você ficar falando, bastava me mostrar as coisas e eu entendia
logo. Sou muito boa para entender.
Professora – já percebi.
Clara Luz – Tenho muita pena das professoras, coitadas, falam tanto!
Professora – (Com um suspiro.) É verdade...
Clara Luz – (Muito contente.) Então, se está de acordo, por que não vamos para o horizonte, já?
Professora – (Levando um susto.) Não pode ser!
Clara Luz – Por quê?
Professora – Não sei se é permitido... Não foi assim que eu aprendi horizontologia no colégio...
Clara Luz – Por isso é que você é tão fraquinha.
Professora - Hein?
Clara Luz – Coitada, levou anos aprendendo horizontologia sentada!
Professora – (Levantando-se de repente.) Sabe de uma coisa? Vamos!
Clara Luz – (Radiante.) Eu sabia que ia gostar dessa aula. (Saem de cena de mãos dadas, como se tivessem
voando)
(São retiradas de cena as três casinhas das fadas-vizinhas e o palco fica livre.)

CENA 13 – FORA DE CASA


Clara Luz – Viu como é fácil ir?
Professora – É mesmo. Nunca pensei que fosse tão fácil! Sabe como é, não tenho muito tempo para passeios...
Clara Luz – Pois com o ar puro lhe batendo no rosto, está até mais coradinha. Você é bem bonita sabe?
Professora – (Com um sorriso.) Você acha?
Clara Luz – Olhe! Chegamos!
(A professora está tão alegre que se esquece de que é professora e sai aos pulos, com os cabelos voando. Clara Luz
vai atrás, também muito contente.)
Professora – Viva! Estou no horizonte!
Clara Luz – Aproveite!
Professora – Sabe, Clara Luz? Eu, quando era criança, nunca tive tempo de brincar.
Clara Luz – Você nunca coloriu a chuva? Nunca modelou as nuvens?
Professora – (Espantada.) Não!
Clara Luz – E nem nunca brincou de escorregar no arco-íris?
Professora – Também não!
Clara Luz – Então vamos agora?
Professora – (entusiasmada) Nem quero saber se é permitido ou não. (Sobe por um lado do arco-íris e escorrega
pelo outro, radiante. O arco-íris pode ter sido mesmo colocado no palco – um escorregador com as cores do arco-íris,
por exemplo – ou não. Ou tudo pode ser mimica ou faz de conta)
Professora – Lá vou eu!
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(Ficam algum tempo de brincadeira no escorrega: risos, erros, acertos, piruetas. A Professora, a princípio
desajeitada, acaba sempre fazendo as coisas um pouquinho melhor que Clara Luz)
Clara Luz – Você tem um jeitinho louco para escorregar no arco-íris, hein? Eu não consigo fazer isso tão bem! Agora
não quer dar uma espiada nos outros horizontes?
Professora – Que outros, só existe um.
Clara Luz – Então olhe lá!
Professora – (Olhando ao Longe.) Não é possível, Clara Luz! Estou vendo dez!
Clara Luz - É? Então você é formidável em horizontologia mesmo. Eu só estou vendo sete.
Professora – Mas não é possível, Clara Luz! Será que não estamos sonhando?
Clara Luz – Claro que Não. Está sonhando é quem só vê um.
(um sininho toca, à distância.)
Clara Luz -É mamãe, avisando que a lição acabou. (saem de cena novamente, “voando’’)
(Recompõe-se o cenário anterior à cena do horizonte. Enquanto o cenário muda, o passarinho aparece num foco.)
Passarinho – Aula direto, no lugar? Sem lousa? Mostrando? Que coisa maluca! Mais uma ideia dessa menina Clara
Luz. Ideias são perigosas... (Olha para o lado de onde vem chegando Clara Luz com a professora) Subversivas! (Sai
voando pelo lado contrário).

CENA 14 - JANELAS DAS VIZINHAS E A PORTA DE CLARA LUZ


(Clara Luz e a professora voltam "voando", rindo da cara das outras fadas que abrem a janela e fazem comentários
umas com as outras)
Fada 3- Que professora, essa! Onde já se viu lição assim?
Fada 1 - Brincando no meio da aula!
Fada 4 – Onde já se viu? Elas estão se divertindo! Que raio de aula é essa?
Fada 2- Que modos!
(A fada mãe está na porta, esperando pela filha e pela professora)
Professora - (Encabulada, como quem fala com quem fala com quem fala consigo mesmo) Só agora que estou
pensando! O que é que a mãe de Clara Luz vai achar de tudo isso?
Fada-Mãe - (séria) Onde estiveram?
Clara Luz - Fomos ao horizonte, mamãe. Essa professora não ensina falando, não. Ela ensina indo
Fada-Mãe - (Agindo de maneira oposta à que esperava por sua fisionomia séria). Em vez de vinte estrelinhas, vou
lhe pagar trinta, professora. Nunca vi minha filha gostar tanto de uma lição.
Professora - (Confusa) Não, não! Não vou cobrar nada por essa aula! Eu aprendi muito com a sua filha.
Clara Luz - Não acredite, mamãe! Ela foi a melhor professora que eu já tive.
Fada-Mãe - Sei disso. Por favor, professora, não deixe de voltar duas vezes por semana, como combinamos.
Professora - (Recebendo o pagamento.) Bom, então muito obrigada. Eu volto sim, claro que volto!
(Enquanto a professora vai saindo, chaga o Relampagozinho e os irmãos, sempre relampejantes e na maior correria).
Irmão Maior - Quem é essa?
Clara Luz - Minha professora de horizontologia.
Relampagozinho - Vamos brincar?
Clara Luz - Vamos, já acabei a aula.
(Surge a gota, toda amarelinha e muito satisfeita).
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Gota - Clara Luz!


Clara Luz - Até que enfim! Como você custou a se evaporar!
Gota - Pensa que é fácil? Experimente evaporar-se, pra ver como é difícil.
(Aproxima-se de Clara Luz e dos ralanpagozinhos).
Clara Luz - Conte! Conte tudo como foi!
Gota - Tive uma sorte danada! Imagine que caí numa floresta! As árvores, as plantas estavam todas enfeitadas com
gotas de todas as cores. Parecia um sonho. As fadas de lá disseram que nunca viram nada tão lindo como essa
chuva colorida.
Clara Luz - É mesmo?
Gota - É sim. Mas elas pensam que foi a Rainha que mandou essa chuva. Eu não contei que foi você.
(Clara Luz relampagozinho rolam de rir).
Clara Luz - Imagine se elas descobrem!
Gota - Elas pensam que tudo isso foi um agradecimento da rainha porque este ano fizeram a primavera mais bonita.
Eu ainda vi o fim. Cada flor maravilhosa!
Clara Luz - Como vão ficar tristes se descobrirem que a rainha nem viu primavera nenhuma! Você fez muito bem em
não contar que fui eu quem coloriu a chuva.
Gota - (Com ares importantes). Sei o que faço. Agora, houve uma pessoa que detestou essa chuva. Ficou danada da
vida!
Clara Luz - Quem?
Gota - Uma bruxa, chamada feiosa, que mora lá na floresta. Eu caí num riacho, o riacho foi me levando e acabei no
quintal dessa bruxa. Uma casa muito feia caindo aos pedaços.
Clara Luz - Mas por que ela não gostou da chuva?
Gota - Ela detesta coisas bonitas. Disse que vai mandar uma carta pra rainha proibindo-a de colorir a casa dela.
Irmão do Meio - Vai dar uma confusão! (riem muito, só de imaginar).
Gota - Quando cheguei, ela estava esfregando tudo com a vassoura, para sair todo o colorido. Quando me viu assim
amarelinha, ficou furiosa e quis me varrer. Foi aí que eu tratei de me evaporar e voltar.
Fada-Mãe - (entrando) Do que estão falando, tão animados?
Clara Luz - É a Gota, que está contando que as fadas lá na floresta acharam a chuva colorida linda.
Relampagozinho - Só quem não gostou foi uma bruxa chamada feiosa...
Irmão Maior - Disse que vai escrever pra rainha, reclamando.
Fada-Mãe - (Preocupadíssima) Se essa bruxa mandar a carta mesmo, eu nem sei o que vai acontecer! A rainha até
hoje não sabe da chuva colorida. Pela carta, vai ficar sabendo de tudo e vai querer descobrir quem alterou a chuva
sem a ordem dela.
Clara Luz - Mas, mamãe, essa chuva só vai trazer benefícios! Para o ano que vem, as fadas da floresta vão caprichar
na primavera. Ninguém gosta de fazer primavera à toa.
Fada-Mãe - Minha filha, isso não é da sua conta. Você precisa se convencer que você não é a rainha, ouviu?
Clara Luz - Sabe, mamãe, na minha opinião, tudo é da conta de todos.
Fada-Mãe - (olhando pensativa para Clara Luz) Minha filha, você não é muito pequena pra ter tantas opiniões?
Tenho medo que faça mal pra sua saúde.
Clara Luz - Não se preocupe, mamãe. Desde os três anos de idade, eu comecei a ter muitas opiniões. Tenho muita
prática.
Fada-Mãe - É...Isso é verdade... você tem praticado bastante.
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(Saem todos correndo pra brincar. Só fica a fada-mãe).


Fada-Mãe - (Consigo mesma) Agora a rainha vai descobrir tudo, inclusive que Clara Luz nunca passou da primeira
lição do livro. Não sei o que vou dizer quando ela me chamar pra dar explicações.
(Escurece)

CENA 15 - JANELAS DAS VIZINHAS, DIA SEGUINTE


Fada 2- Bom dia, vizinhas! Já sabem da notícia que a Gota de chuva trouxe ontem?
Fada 1 - Não! Qual é?
Fada 2-Imaginem que a bruxa feiosa disse que vai escrever pra Rainha, reclamando da chuva colorida!
Fada 3 - Que é que você tá dizendo? Isso nos vai trazer complicação.
Fada 2 - Vai. Eu quase não dormi essa noite, de tão preocupada.
Fada 4 – Se a bruxa escreve pra Rainha, a Rainha descobre, não é mesmo?
Fada 3 – Exatamente!
Fada 4 – Ah, essa menina Clara Luz, ainda vai arranjar encrenca pra todas nós!
Fada 3 - Se ao menos essa menina tivesse ideias só um dia sim, um dia não...
Fada 1 - (Pensativa) É verdade que sem as ideias dela isto aqui iria ficar muito monótono...
Fada 3 - Ora, mas teríamos descanso. Pelo menos umas férias de ideias essa menina podia tirar.
Fada 2 - Não adianta, porque ela vai continuar tendo ideias todos dias. Garanto que agora mesmo está tendo
alguma.

CENA 16 – PORTA DE CLARA LUZ


(Clara Luz e Gota estão brincando na porta de casa)
Vermelhinha – (Chegando) Posso brincar com vocês?
Gota – Contanto que você não implique.
Vermelhinha – Você que é implicante.
Clara Luz – Você chegou em boa hora, Vermelhinha. Estou com vontade de organizar um teatro aqui no céu e
preciso da opinião de vocês. Acham que é boa idéia?
Vermelhinha - Quero ser a artista principal!
Gota – Não. Eu é que vou ser.
Vermelhinha – Então não entro.
Gota – Melhor. Não faz falta nenhuma.
Vermelhinha - Amarelenta!
Gota – Cara de tomate amassado!
Clara Luz – Vou precisar que todos entrem.
Gota – Não sei se vou poder. Ando muito ocupada. Mas conte de uma vez como vai ser esse teatro.
Clara Luz – Vai ser um balé do Céu inteiro, com chuva de estrelas cadentes. Vou pedir à Dona Relâmpaga para vir,
com o marido e os filhos, fazer a música.
Gota – Dona Relâmpaga não sabe música.
Clara Luz – Não sabe agora, mas vamos ensaiar e eles vão acabar sabendo. Todos naquela família têm uma voz
muito bonita.
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Gota – Bom, eu entro. Mas só desta vez. Outra festa que você der, quero ser a artista principal.
Clara Luz – Está bem.
Gota – Então vamos já à casa de Dona Relâmpaga, convidá-la para cantar na festa.
(Novamente as casinhas das fadas-vizinhas são retiradas do cenário.)

CENA 17 – PORTÃO DA CASA DOS RELÂMPAGOS


Gota – (Disfarçando o medo.) Podem ir vocês duas. Eu estou com calor e vou ficar aqui fora.
Vermelhinha – Há, há! Você está é com medo.
Gota – Medo? Lembre-se de que eu sou uma gota de chuva e já andei nas maiores tempestades.
Vermelhinha – Que mentira! Nunca vi você em tempestade nenhuma.
Senhor Relâmpago – (Com voz grossa e retumbante, que vem lá de dentro dos corredores) Quem está aí?
(As três estremecem de susto)
Clara Luz – (Cautelosamente) Somos nós, Senhor Relâmpago. Podemos entrar?
Senhor Relâmpago – (Sempre trovejante) Nós? Nós quem?
Clara Luz – Clara Luz, Vermelhinha e Gota.
Gota – Não! Eu não! Eu não estou aqui, não!
(Senhor Relâmpago vem abrir a porta, que faz um barulho de mil trovoadas. As três, instintivamente, se juntam mais,
formando um grupo apertado)
Senhor Relâmpago – (Rindo grosso) Há, há, há! Que figuras! Pode-se saber o que essas três mirradas figuras vieram
fazer na casa dos Relâmpagos e Trovões?
Vermelhinha – Bem... É que... O senhor sabe que nós...
Clara Luz – Nós somos amigas do seu filho... o.... Relâmpagozinho...
(Gota está paralisada de medo)
Senhor Relâmpago – Não minta! Onde já se viu fada ser amiga de relâmpago?
Clara Luz – (Defendendo-se) Não estou mentindo, não! Nós ficamos amigos desde o dia em que ele entrou no meu
bolo e depois virou cometa e depois desvirou.
Senhor Relâmpago – (Interrompendo, sempre trovejante) Estou bem lembrado, não precisa me contar tudo de novo.
Meninas bem levadas por sinal. Fora daqui as três! E agradeçam que eu hoje estou de bom humor.
Dona Relâmpaga – Mas querido, foi uma travessura de criança. O que é que as fadas-mães vão dizer, se souberem
que não quisemos receber as meninas?
Senhor Relâmpago – Que bem me importa o que as fadas vão dizer! (Mudando de tom) Bom, bom, vão entrando.
Mas vejam lá como se comportam, hein? Não quero nada transformado aqui dentro desta casa. (As três ficaram
paradas, sem se resolverem a entrar. Novo berro do Senhor Relâmpago) Como é? Eu já disse para entrarem.
Vermelhinha – (Baixo, para Gota) Há, há! Agora é que quero ver você entrar...
Gota – (Só para fazer pirraça à Vermelhinha) Grande coisa, já estou até entrando!
(Entra)
(Vermelhinha, para não ficar atrás, entra também e Clara Luz segue as duas)

CENA 18 – CASA DOS RELÂMPAGOS


Dona Relâmpaga – Que alegria! Vocês vão jantar conosco.
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Clara Luz – (Baixo, para Gota e Vermelhinha) Ouvi dizer que na casa deles só se janta choque! (Alto, para Dona
relâmpaga) Fica pra outro dia, Dona Relâmpaga. Hoje não posso. Mamãe está me esperando. Vim só para fazer um
convite.
Dona Relâmpaga – Que bom! Adoro convites!
Clara Luz – É para a senhora e toda a sua família cantarem na minha festa.
Senhor Relâmpago – (Com grossas gargalhadas) Há, há, há, há, há! Essa menina tem uma audácia! Imaginem só!
Eu, que já abalei cidades inteiras com os meus berros, cantando numa festa de fadas!
Clara Luz – (Tomando coragem) Justamente. Eu tenho observado os seus berros e descobri que o senhor tem uma
voz muito bonita.
Senhor Relâmpago – Bom... isso é verdade. Minha voz não é nada feia.
Clara Luz – Então resolvi fazer um teatro, com o senhor e a sua família cantando.
Senhor Relâmpago – (Berrando de novo.) E quem é você para resolver coisas? Era o que faltava, eu agora nesta
idade, virar artista de teatro!
Dona Relâmpaga – E por que não, querido? Eu, para falar a verdade, gostaria bem de cantar nessa festa.
Senhor Relâmpago – Até você, mulher? Não tem juízo na cabeça?
Clara Luz – O que é que tem a sua idade, Senhor Relâmpago? Acho o senhor ainda bem moço.
Senhor Relâmpago – Bem, ainda consigo ir lá na terra, derrubar um carvalho de uma vez só e voltar a tempo para o
jantar, com a mulher e as crianças.
Clara Luz – Pois então? Mas agora chega de tanto trabalho pesado. Agora o senhor precisa aproveitar a sua bonita
voz.
Senhor Relâmpago – (Começando a gostar.) Que menina! Quando ela cisma com uma coisa!
Dona Relâmpaga – Aceite, querido. Você precisa se distrair!
Senhor Relâmpago – Mas eu não sou cantor. Eu só sei berrar.
Clara Luz – Por isso, não. Nós ensinamos o senhor a cantar, é muito fácil.
Vermelhinha – (Ajudando.) Voz, o senhor já tem.
Senhor Relâmpago – Está bem, está bem, então vou. Mas não se queixem se eu estragar a festa.
(Pulos de alegria de Clara Luz, Vermelhinha e Gota. Abraços de Dona Relâmpaga no marido.)
Clara Luz – Muito obrigada, Senhor Relâmpago! Vai ser a festa mais interessante que já houve aqui no Céu. Então
amanhã de tarde eu volto aqui, para ensaiarmos.
Dona Relâmpaga – (Levando as meninas até a porta.) Adeus, queridinhas! Vão direitinho para casa.
(Clara Luz, Gota e Vermelhinha saem.)
Clara Luz – Que família simpática! Hoje descobri que não se deve ter medo de ninguém só pelo barulho.

CENA 19 – PORTA DA CASA DE CLARA LUZ


(Recompõe-se o cenário com as casinhas das vizinhas. Clara Luz, Vermelhinha e Gota chegam de volta. As fadinhas
vizinhas estão esperando Clara Luz.)
Fadinha 3 – Vai haver um teatro, não é?
(O passarinho olha, no canto da cena. Ouve a conversa atentamente).
Fadinha 4 – Vai sim! Foi a Clara Luz que marcou, né, Clara Luz?
Clara Luz – Sim!
Fadinha 2 – Que legal! Nunca fui num teatro!
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Fadinha 4 – Eu já! Fui assistir com a minha mãe!


Fadinha 3 – Foi?
Fadinha 4 – Fui. Em São Paulo!
Fadinha 2 – Como assim? Como é que nuvem entra em teatro lá na terra?
Fadinha 4 – Era teatro de arena, ao ar livre, uai!
Fadinha 2 – Ah...
Clara Luz – Nosso teatro vai ser aqui no Céu. Todo mundo vai poder entrar!
Fadinha 3 – Vai ser um baita de um acontecimento, como nunca aconteceu aqui no céu!
Fadinha 4 – Mal posso esperar!
Fadinha 1 – Você convidou a família Relâmpago?
Clara Luz - Convidei, sim.
Fadinha 4 – Mas, você não ficou com medo?
Clara Luz – Eu não!
Fadinha 3 – Nem vou contar à mamãe, se não ela não vai querer ir.
Clara Luz – Mas por quê? Eles vão animar muito a festa.
Fadinha 2 – Não sei, eu ainda tenho um pouco de medo dessa família.
(Escurece. O passarinho aparece num foco.)
Passarinho – Teatro é? Mas que história é essa de teatro? Mais uma ideia da Clara Luz! Essa menina não para de
ter ideias! Ideias!... Ideias são perigosas!... (sai voando)

CENA 20 – CASA DE CLARA LUZ, DIAS DEPOIS


(A Fada-Mãe aparece com um vestido novo.)
Clara Luz – Mamãe, que beleza! Você até está parecendo a Fada das Sete Madrugadas.
Fada-Mãe – Quem é essa? Não me lembro dela!
Clara Luz – É uma fada que eu inventei.
Fada-Mãe – (Rindo.) Fada não se inventa, minha filha. Fada existe ou não existe.
Clara Luz – Pois eu inventei a Fada das Sete Madrugadas agorinha mesmo e aposto que ela já está existindo.
Fada-Mãe – Por que você me pediu para pôr o meu vestido mais bonito?
Clara Luz – Porque vai haver uma surpresa.
Fada-Mãe – Surpresa? Aposto que você convidou umas amiguinhas para virem brincar e tomar refresco de orvalho.
Será isso?
Clara Luz – Nada disso. Muito mais interessante. Vamos indo?
Fada-Mãe – Vamos aonde, querida? A surpresa não é aqui em casa mesmo?
Clara Luz – (Rindo.) Não, mamãe. A surpresa é no Céu inteiro.
Fada-Mãe – (Ficando com um pouco de falta de ar.) No Céu inteiro? Minha filha, como é mesmo aquilo que você
explica e que eu melhoro da falta de ar?
Clara Luz – (Saindo com a mãe.) É que tem ar que chegue para todos e não vai faltar ar para ninguém.
Fada-Mãe – Ah, é mesmo! (Saem.)
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CENA 21 – FORA DE CASA


(Todas as fadas, inclusive a Professora de Horizontologia, já estão acomodadas para assistir ao teatro. Chegam
Clara Luz e a Fada-Mãe. Ouve-se uma forte trovoada. Entram o Senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os
relampagozinhos e cumprimentam a todos, como artistas de teatro. Alvoroço entre as fadas.)
Fada 2 – Que ideia de Clara Luz! Convidar o Senhor Relâmpago!
Fada 4 – Essa menina só tem ideias! E ideias tortas! Onde já se viu? Logo o Senhor Relâmpago!
Fada 1 – Ele é o terror aqui do Céu.
Fada 3 – Era só o que faltava! Se eu soubesse, nem tinha vindo a este teatro.
Senhor Relâmpago – (Começa a cantar.)
Derrubei carvalhos
E queimei florestas.
Quando eu era moço,
Não queria festas.
Mas de incendiar,
Já estou enjoado.
Quero festejar,
Que é mais engraçado!
(As fadinhas-filhas começam a aplaudir o Senhor Relâmpago.)
Fadinha 1 – Muito bem! Muito bem!
Fadinha 4 – Que legal! O Senhor Relâmpago até que é engraçado!
Fadinha 2 – Viva o Senhor Relâmpago!
(As mães se entreolham.)
Fada 3 – Eu nunca tinha reparado que bonita voz ele tem.
Fada 1 – Nem eu. Só hoje é que eu ouvi de verdade a voz dele.
(O Senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os relampagozinhos começam a entoar, em coro, um cântico sem
palavras. É a hora do balé de estrelas cadentes. Pode-se usar efeitos de luz.)
Fada 3 – Que beleza! Olhem! Olhem! Quantas estrelas cadentes!
Fada 4 – Que lindas! Que brilhantes!
Fada 1 – Elas estão dançando! Nunca pensei que um balé de estrelas cadentes com coro de relâmpagos pudesse
ser tão lindo!
Fada 2 – Estou até com vontade de chorar.
(Ficam olhando, como se estivessem vendo o balé de estrelas.)
Fada-Mãe – (Levanta-se e canta.)
Sete são as madrugadas,
Poderiam ser setenta.
As coisas que a gente inventa
São sempre bem inventadas.
Professora – (Cantando.)
Mora no oitavo horizonte
Um grande leão dourado.
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Isso não é muito longe,


É mesmo aqui, ao meu lado.
(As outras fadas vão saindo de seus lugares de espectadoras e começam a tomar parte na festa.)
Fadas 1, 2, 3 e 4 – (Cantando em coro.)
Não há mágica malfeita.
Quando a filha põe três asas
E é a mãe que endireita,
A mãe é que está errada,
Pois só quem fez a invenção,
Manda na coisa inventada.
(Todas as fadas e fadinhas presentes à festa reúnem-se para cantar. A família Relâmpago apenas assiste.)
Todas as fadas – (Cantando em coro.)
Não há nada mais bonito
Que inventar em liberdade
E só tem a vida alegre
Quem sabe dessa verdade.
Fadinha 2 – Mamãe! Mamãe! Olha lá os bichos que nós fizemos naquele dia!
(Todos olham na direção em que, supostamente, apareceram os bichos. Fadinhas 1, 3 e 4 dão gritos de alegria.)
Fadinha 1 — Que bom! Que bom!
Fadinha 4 – Olha o meu ornitorrinco! O vento tá fazendo ele correr!
Fadinha 3 — Estão correndo melhor do que nunca.
Fada 2 — (aterrorizada.) Eles estão indo para o palácio da Rainha.
Fada 4 – (ainda mais aterrorizada.) É agora que a Rainha descobre!
Todas as fadas — Oh!
Fada 1 — Que desastre! Nem quero pensar no que vai acontecer!
Fada-Mãe — É melhor irmos todas para casa.
Clara Luz — Mas, mamãe, logo agora, quando a festa chegou no melhor pedaço?
Fada 3 — Agora mesmo. Já para casa, todas! E correndo.
Fada 4 – Pra casa, meninas!
Fada 2 — (Para a filha.) Vamos, vamos! Depressa!
Fadinha 3 — (saindo, puxada pela mãe.) Não quero ir para casa!
Fadinha 1 — (também puxada pela mãe.) Não quero ir para casa!
Fadinha 4 – (resistindo) Me deixa aqui! Eu não quero ir pra casa agora, mãe!
Fadinha 2 — É sempre assim! No melhor da festa, elas botam a gente para dentro!
(Saem todas as fadas, apressadamente. Só ficam senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os relampagozinhos, que
olham uns para os outros com cara de quem não entendeu nada.)

INTERMEZZO
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(Meia luz. O passarinho entra em cena. Pé ante pé vai colocando um pergaminho na porta – ou caixa de correio – de
cada casinha).
Passarinho – (Para a plateia) Que fique bem claro. Não fui eu quem deu a notícia, apenas sou portador da
mensagem. Mas, em todo caso, peço às senhoras e aos senhores que esqueçam que eu passei por aqui. (sai)

CENA 22 — JANELA DAS VIZINHAS


Fada 2 — Vocês receberam chamado para uma reunião no palácio?
Fada 1 — Acabei de receber. O que será que houve? Os bichos terão entrado lá, mesmo?
Fada 4 – Certeza que entraram. Acho que estamos perdidas!
Fada 2 — Será que a rainha recebeu a carta da Bruxa?
Fada 3 — É lógico, vocês fazem cada pergunta! Preparem-se porque a reunião no palácio não vai ser brincadeira.
Bem feito para nós, que não aprendemos. Vira e mexe, estamos encrencadas com essas ideias de Clara Luz.
(São retiradas as casinhas das vizinhas)

CENA 23 — PALÁCIO DA RAINHA.


(Todas as fadas e fadinhas estão reunidas no salão do Palácio, esperando a Rainha.
O medo é tão grande que só se fala cochichando. Clara Luz está sentada entre a Fada-Mãe e a Professora de
Horizontologia.)
Fada-Mãe — (pálida.) Minha filha, é melhor você não dizer nada. Deixe que eu e a Professora falamos, ouviu?
(Entra a Rainha, seguida pelas duas conselheiras. Faz-se um silêncio profundo. Rainha acomoda-se no trono e
depois olha para as fadas, uma por uma)

(Conselheira 2 toca a trombeta)


MÚSICA – PIADA DA FANFARRA QUE NÃO PARA
Rainha — ( Berrando.) Pára com essa porcaria! Quem não tiver culpa fica proibida de fazer cara de culpada!
(Torna olhar uma a uma. Cada cara está mais culpada que a outra. Clara Luz é a única com uma cara bem lampeira.
A Rainha descobre.)
Rainha — Levante- se menina. Você é a única que não está com cara de culpada! Como é seu nome?
Clara Luz — Clara Luz, Majestade.
Rainha — Por que está com cara diferente?
Fada-Mãe — A cara é dela é assim mesmo, Majestade. Não repare.
Rainha — Reparo no que quiser. E ninguém pediu a sua opinião. Cale-se!
(A Rainha ocupa-se em tirar um papel do bolso e esquece Clara Luz por um momento.)
Fada-Mãe — (Cochichando) Minha filha, por favor, se ela mandar você falar, fale o menos possível, sim?
Rainha — Agora eu quero que me expliquem por que essa maluca me escreveu esta carta. E depois quero saber de
onde veio a bicharada que invadiu o palácio ontem à noite. Se esses dois assuntos não ficaram bem explicados.
Vocês todas serão despedidas do Céu.
Fada 4 — (Gaguejando de surpresa) Despedidas do céu, Majestade?
Fada 3 – Mas... mas...
Fada 1 – Majestade, a gente...
Fada 2 – A senhora vai mesmo nos despedir do céu?
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Rainha — Exatamente. Quero tudo bem explicado ou dentro de dois dias não haverá mais nenhuma fada morando
aqui no Céu. Só eu e as minhas conselheiras que, aliás não servem para nada.
(As conselheiras fazem referência, agradecendo. As outras fadas ficam desesperadas.)
Fada 1 — Mas Majestade! Para onde vamos nos mudar, assim de uma hora para outra?
Fada 4 – A gente não tem pra onde ir!
Fada 3 – Nós sempre moramos aqui!
Fada 2 – Pra onde a gente vai, se a senhora nos despejar?
Rainha — Isso é com vocês. Expliquem tudo ou serão despejadas.
(As fadas se encaram, sem coragem de explicar nada. No meio dessas caras de medo, a única diferente é de Clara
Luz. A Rainha logo nota isso.)
Rainha — Levante-se, menina. Que cara de coragem é essa que você está fazendo?
Clara Luz — Desculpe, Majestade, mas não posso dizer. Mamãe me pediu para falar o menos possível. De modo
que, se vossa Majestade permitir, vou tornar a me sentar.
Rainha — Não permito, não! Fique em pé e fale o máximo possível. Essa menina vai esclarecer tudo que aconteceu.
(Pisca para a plateia) Um passarinho me contou...
Clara Luz — Não posso, Majestade. Entre Vossa Majestade e mamãe, gosto muito mais da mamãe, que eu conheço
há muito mais tempo.
Fada-Mãe — (Aflita.) Obedeça à Rainha, minha filha. Fale!
Clara Luz — Pois não, para mim não custa nada. Pois gosto muito de falar. O que é mesmo que a Vossa Majestade
quer saber?
Rainha — Explique imediatamente a sua cara de coragem, menina?
Clara Luz — Bem, Majestade, deve ser por duas razões: A primeira é que não me importo de ser despejada. Para
mim tanto faz morar no Céu ou em outro lugar. A segunda é que posso contar sobre a carta de Feiosa e a invasão
dos bichos.
Fada 4 – Estamos Perdidas!
Fada 2 – Acho que vou desmai...
(Ouvindo isso algumas fadas desmaiam.)
Conselheira 1 — (Para a conselheira 2, ambas cochichando num canto da cena) Meu Deus, elas não sabem que é
proibido desmaiar no Palácio?
Conselheira 3 – Tá na lei!
Conselheira 2 – Capítulo 2, Seção 4, Artigo 7º, item “G”, das disposições gerais das regras de conduta do Palácio da
Rainha, no Livro das Fadas.
Conselheira 1 – Ai, ai, ai... se a Rainha conhecer essa Lei, estão fritas!
Conselheira 2 – Estão Fritas!
Conselheira 3 – Cozidas!
Conselheira 1 – Fritíssimas!
Conselheira 2 – Despejadas!
Coneslheira 1 – Expulsas!
Conselheira 3 – Chutadas!
Conselheira 2 – Banidas!...
Fada-Mãe — Se Vossa Majestade permitir, eu posso explicar.
Rainha — Sua filha sabe muito bem se explicar sozinha. Fale, menina! Comece pela carta da Bruxa.
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Clara Luz - Não sei o que ela diz na carta, mas com certeza está fazendo queixa de que coloriram a casa dela. Não é
isso?
Rainha - Como sabe?
Clara Luz - Sei porque quem coloriu fui eu. Quer dizer, eu, propriamente, não. Eu colori a chuva e a chuva coloriu a
casa dela.
Rainha - Como? Você coloriu a chuva? Não estou entendendo.
Clara Luz - Isso mesmo, Majestade. Colori a chuva de diversas cores, para ver como ficava. E ficou lindo! As fadas lá
da Terra gostaram muito.
Rainha - Devo estar sonhando. Tudo isso, que essa menina está dizendo, só pode ser sonho meu!
Clara Luz - Não é sonho, não, Majestade. Eu, justamente, não gosto de sonhos. Em vez de sonhar com um leão
dourado, prefiro fazer um leão dourado.
Rainha - Menina! Foi você que fez aquele leão que correu atrás de mim?
Clara Luz - Não, Majestade. Aquele, Infelizmente, não fui eu que fiz. Aquele foi a Professora de Horizontologia que
descobriu. No dia em que fomos ao horizonte, ela descobriu que ele morava no oitavo.
Rainha - No dia em que vocês foram aonde menina?
Clara Luz - Ao horizonte Majestade.
Rainha - Impossível. Horizonte é lugar para se ver de longe não é lugar para se ir.
Clara Luz - Por que, Majestade?
Rainha – (para as conselheiras, à parte) Por que?
Conselheira 2 – Porque...
Conselheira 3 – Tá na... na.... tá na lei....
Conselheira 1 – É a lei número....
Conselheira 3 – Número....
Conselheira 2 – A lei...
Conselheira 1 – Você lembra qual lei?
Conselheira 3 – (olhando para a Conselheira 2) Vamos lá. Diga você! Qual é a Lei?
Conselheira 2 – Eu deveria saber?
Conselheira 1 – Devemos consultar o livro...
Conselheira 2 – Sim, o livro...
Conselheira 3 – Isso! O livro! ... que livro mesmo?
(as outras conselheiras olham com olhar de reprovação para a Conselheira 3)
Clara Luz – E então? Por que é proibido?
(A Rainha olha para as conselheiras, que dão de ombros).
Rainha - (berrando) Porque... Porque é proibido e acabou-se!
Clara Luz - Vossa Majestade queira desculpar, mas não sabia que era proibido. Agora, se Vossa Majestade der
licença, tenho uma opinião para dar sobre esse assunto.
Rainha - Não dou licença nenhuma! Sente-se imediatamente.
(Clara Luz senta-se. Pausa. Silêncio constrangedor. A Rainha não resiste a curiosidade).
Rainha - Levante-se! Dê a opinião imediatamente!
Clara Luz - Majestade, a Gota Amarela, que já esteve na Terra muitas vezes, sempre me conta histórias de lá. Um
dia ela me contou que houve um Rei, lá no Brasil, chamado Dom João Sexto, que abriu os portos.
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Rainha - E daí? Que é que tem isso com o horizonte?


Clara Luz - Tem muito, Majestade. Minha opinião é esta: que se Dom João Sexto, que não era fada, pôde abrir os
portos, por que Vossa Majestade não pode abrir os horizontes?
Rainha – (Olha para as conselheiras que dão de ombros. A Rainha solta um “Ah” embargado, quase um sussurro e
fica paralisada) Ah... (Fica olhando, muito séria, para Clara Luz.)
Clara Luz - Vossa Majestade que é a Rainha das Fadas, vai querer ficar atrás de Dom João Sexto?
Rainha - Nunca! Não admito que nenhum Rei ou Rainha passe a minha frente!
Clara Luz - Neste caso, Vossa Majestade não tem outro remédio senão abrir os horizontes.
(A Rainha fica encarando Clara Luz perplexa)
Rainha - Quem é que manda neste céu, afinal de contas? Que mais essa menina fez?
Passarinho – (Entrando pela janela) Essa pirralha me deixou com três asas! Três! Imagine um passarinho com três
asas!
Conselheira 1 – Mas não tem esse feitiço no livro de feitiços!
Conselheira 2 – Não mesmo!
Passarinho – Todo mundo sabe que ela não segue o livro!
Conselheira 3 – É! Ela não segue o livro!
Conselheira 2 – É...
Conselheira 1 – Todo mundo sabe mesmo...
Conselheira 3 – Que livro mesmo?
Passarinho – Se não fosse a mãe dela... Ah, se não fosse a mãe... Eu estaria voando torto até hoje.
Clara Luz – Se não fosse eu, você estaria com o bumbum quente, tá bom? Seu bule mal agradecido!
Rainha – Bule?
Passarinho – Sim. Eu era um bule. Essa menina me transformou em passarinho...
Rainha – E você gostava mais de ser bule?
Passarinho – É... não... (pausa longa) Mas ela coloriu a chuva e vive tendo ideias! Ideias! Ideias são perigosas!
Conselheira 3 – Perigosas!
Conselheira 2 – Sem dúvida!
Conselheira 1 – Perigosíssimas!
Passarinho – E ela faz coisas! Eu vejo sempre essa menina fazendo coisas!
Clara Luz – Xô, Mal agradecido! (O passarinho foge, voando)
Rainha – Que mais essa menina fez? Me contem! Que mais? Aposto que fez ainda muito mais coisas e ninguém me
contou.
Clara Luz - Fiz sim Majestade. Felizmente, apesar de ainda ser pequena, já fiz um monte de coisas.
Rainha - Continue a falar. Que mas você fez? Sou capaz de apostar que fez todos aqueles bichos que invadiram o
palácio. Estou vendo que só pode ter sido você.
Clara Luz - Não, Majestade, não poderia ter feito toda aquela bicharada sozinha. Nós todas fizemos juntas.
Rainha - Nós todas quem?
Clara Luz - As filhas todas. De noite, as mães ficaram doidas para entrar na brincadeira, mas, no dia seguinte, se
arrependeram, não sei por quê.
(Ouvindo isso, mais algumas fadas desmaiam.)
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Clara Luz - Não sei por que todas estão desmaiando. Brincar de fazer bichos com as nuvens é um brinquedo tão
antigo de fadas.
Rainha - Sim, menina, mas não bichos que saíam galopando, mordendo, urrando e relinchando. As mães tinham a
obrigação de ensinar isso as filhas. Assim que voltarem a si do desmaio, vão receber ordem de despejo.
Clara Luz - Vossa Majestade vai me desculpar, mas acho isso uma injustiça de Vossa Majestade.
Fada-Mãe - (Pondo a mão na cabeça.) Minha filha, por favor, não critique a Rainha!
Rainha - (Só para mostrar para Fada-Mãe que quem manda é ela) Não se meta! Quem dá as ordens aqui sou eu.
Continue a criticar-me, menina.
Clara Luz – (Olha para mãe, que assente) Bom... Essas que Vossa Majestade quer castigar são as que mais
consultam o Livro das Fadas para tudo e que nunca tiveram coragem de ter a menor ideia. Só ultimamente é que
estavam começando a ter, mas Vossa Majestade, com esta reunião, acabou com as ideias delas.
Rainha - Bom, ainda bem.
Clara Luz - Se Vossa Majestade quer despejar alguém, é mais justo que despeje a mim, que nunca saí da Primeira
Lição do Livro.
Rainha – Como?
Conselheira 1 – Que absurdo!
Conselheira 2 – Que horror!
Conselheira 3 – Um ultraje!
Fada-Mãe - (Desesperada, perdendo a paciência.) Minha filha, por que você não cala a boca?
Clara Luz - Mamãe, ela disse para falar o mais possível e você me disse para obedecer!
Rainha – Peraí, Menina, o que você disse? Você nunca saiu da Primeira Lição?
Clara Luz – (sem se abalar) É sim, Majestade. Não é que eu não goste de estudar, não. As aulas da professora de
Horizontologia, por exemplo, adoro. Mas as lições desse Livro detesto, porque não gosto de bolor.
Rainha - Bolor? Que bolor?
Clara Luz - Uai Majestade! Esse livro está coberto de bolor.
Rainha - Impossível, menina! Esse Livro é um Livro mágico, que não embolora.
Clara Luz – Ah, embolora sim, Majestade. Se Vossa Majestade reparar bem, verá que ele está coberto por uma
camadinha fina de bolor.
(Essas palavras causam uma sensação entre as fadas que ainda não desmaiam).
Rainha - (Gritando para as conselheiras.) Vão agora, Imediatamente buscar o Livro para eu mostrar a essa menina
que ele não tem camadinha nenhuma!
(A Conselheira 2 vai correndo. Toadas as fadas que não estão desmaiadas vêm rodear o trono. Volta a conselheira 2
com o Livro coberto de bolor esverdeado.)
Rainha - (Examinando o Livro. Fica atônita.) É mesmo... está com bolor! (Furiosa, dirigindo-se às conselheiras.)
Como é que nunca me avisaram disso? Será que sou sempre a última a saber de tudo neste Reino?
Conselheira 1- Mas, Majestade, nós também não sabíamos!
Conselheira 2 – Eu não tinha ideia!
Conselheira 3 – Vocês ainda tão falando do tal do livro? É isso?
Rainha – (Grita, nas costas da Conselheira 3 – As três conselheiras quase morrem de susto) Como é que não
sabiam? Consultam este Livro todos os dias e nunca viram que ele estava embolorado? Aconselhem imediatamente
sobre esse bolor!
(Conselheiras olham uma para a outra e não sabem o que dizer.)
Conselheira 2 – É que...
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Coneslheira 1 – Eu... eu... eu nunca...


Conselheira 3 – Eu nem sei de que livro estão falando...
Clara Luz - Majestade, essas conselheiras não podem aconselhar direto. É impossível.
Conselheiras 1, 2 e 3 – (Bravas.) Ei!
Rainha - Impossível por quê?
Clara Luz - Porque todo conselho, para ser bom, tem que ter uma ideia dentro. É preciso misturar a ideia na massa
do conselho, como eu misturei o Relampagozinho na massa do bolo, no dia em que ele virou cometa.
Rainha - Como? Não estou entendendo nada!
Conselheira 2 – É maluca!
Conselheira 3 – Doida!
Conselheira 1 – Maluquinha da Silva!
Clara Luz – Maluca nada! Vocês não percebem?
Conselheira 1 – (Imitando nenê) Vocês não percebem?
Conselheira 2 – Não percebem o que, menina?
Clara Luz - Ninguém vai ter uma ideia que preste, aqui na corte, enquanto os horizontes estiverem fechados e
enquanto só se puder fazer mágicas por esse Livro embolorado. Então é uma tremenda bobagem ter conselheiras.
Vossa Majestade está gastando estrelinhas à toa.
Conselheira 2 – Essa menina vai acabar com meu emprego...
Conselheira 3 – Se fosse só o seu...
Rainha - Isso eu também acho. Gasto milhares de estrelinhas por mês para pagar essas conselheiras e nunca ouvi
um conselho que valesse a pena.
Conselheiras 1, 2 e 3 – (Para a Rainha) Ei!
Conselheira 2 – Também não precisa esculachar, né?
Clara Luz - Pois é. Agora, se a vossa Majestade ouvisse os conselhos belíssimos que todos deram, no dia da festa,
aí é que Vossa Majestade ia ver o que é conselho bom.
Rainha - Festa? Que festa?
(As últimas fadas que ainda não tinham desmaiado desmaiam nesse momento. Sobram a Fada-Mãe e a professora
de Horizontologia.)
Professora - (Para Fada-Mãe) Eu bem que gostaria de desmaiar também.
Fada-Mãe - Eu também. Mas se a gente desmaiar, quem vai proteger Clara Luz?
Rainha - Responda, menina! Que festa?
Clara Luz - A festa que houve aqui no Céu e que acabou quando os bichos vieram visitar o palácio de Vossa
Majestade.
Rainha - Ah! Aquilo foi uma festa?
Clara Luz - Foi sim. Houve balé de estrelas cadentes, a família Relâmpago cantou, todos esqueceram o Livro e cada
um teve a ideia que quis. Aí todos começaram a dar conselhos cantando, que é uma maneira muito melhor de dar
conselhos.
Rainha – Ah é? E o que mais?
Clara Luz - Quando a Professora começou a cantar sobre o leão dourado, os outros bichos vieram correndo e nessa
hora é que todos cismaram de vir conhecer o palácio de Vossa Majestade.
Rainha - E quem organizou a festa?
Clara Luz - Eu, Majestade.
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Rainha - É? Escute, menina, (ameaçadora) eu estou desconfiada que você pensa que a Rainha é você.
Conselheira 1 – Um absurdo!
Coneslheira 3 – Onde já se viu?
Clara Luz - Oh! Não Majestade! Eu ainda sou muito pequena para ser Rainha. Eu estou só dando uma mãozinha.
Conselheira 2 – (à parte) Petulante!
Rainha - dando uma mãozinha pra quem?
Clara Luz - dando uma mãozinha pro mundo, não é? Quem inventa mágica nova, está melhorando o mundo. (A
rainha não responde. Fica pensativa). Mas é preciso deixar as pessoas inventarem as mágicas que quiserem,
Majestade. Não pode ser pelo Livro. (A Rainha continua calada.) Pelo Livro, as pessoas ficam iguais a essas suas
conselheiras, que dão a vida inteira os mesmos conselhos. (As conselheiras se olham, meio concordando, meio se
sentindo ameaçadas pelas ideias de Clara Luz)
Rainha - (Dando um berro tão grande que todas estremecem, até as desmaiadas.) Quem é que educa essa menina?
Onde está a mãe dela? Onde está essa tal de professora de Horizontologia?
(A Professora e a Fada-Mãe são as únicas que não estão desmaiadas.)
Professora - (Levantando-se.) Fiquei calada esse tempo todo, com muito medo dos berros de Vossa Majestade. Mas
agora vou falar. Vossa Majestade pode me dar o castigo que quiser, mas eu digo que tudo que essa menina disse
está certo. E se Vossa Majestade não abrir os horizontes, eu não quero mais ser professora de Horizontologia. Ou
dou aula no próprio horizonte, ou não dou aula nenhuma.
Fada Mãe - (Levantando-se também.) Eu acho a mesma coisa. Há muito tempo que já não suporto esse livro
embolorado, mas só hoje estou com coragem para dizer isso. Não desencanto mais nenhuma princesa, nem torno a
fabricar nenhum tapete mágico. Vou inventar minhas próprias mágicas, como a minha filha. Estou muito orgulhosa de
tê-la educado tão bem que ela é uma menina cheia de ideias. E peço desculpas a ela por ter atrapalhado as suas
ideias, algumas vezes, com minha falta de ar. Se Vossa Majestade quiser nós despejar, despeje, porque quem tem
ideias vive bem em qualquer lugar. Chega! (Senta-se exausta).
Rainha - Não sei porque essa gritaria. (Jocosa e bem-humorada) Eu só chamei vocês porque achei que gostariam de
saber que a Fada Clara Luz será nomeada Conselheira Chefe deste palácio. (Mãe e professora se olham
completamente surpresas. A Rainha dá um sorriso bem humorado e fala para a plateia.) Eu também sei ter ideias!
(Para Clara Luz em tom de cerimônia.) Clara Luz, você agora é a minha Conselheira chefe. (Todas as fadas
desmaiadas voltam a si do desmaio ao mesmo tempo. Começa uma grande algazarra. Todas se abraçam radiantes.
As conselheiras vai cumprimentar Clara Luz.)
Conselheira 1 - Que bom que você agora é a nossa chefe!
Conselheira 3 – (No embalo, como quem não entendeu ainda o que está acontecendo) É... que bom! (para a
conselheira 1) Ela é chefe de quem mesmo?
Conselheira 2 - Já não aguentávamos mais dar sempre os mesmos conselhos!
Rainha - Graças a Deus vou poder descansar! É horrível governar sozinha sem ter conselheiras que sirvam!
Clara Luz - Só tem um probleminha, Majestade: é que eu só me mudo aqui para o palácio com minha mamãe, a
professora de Horizontologia, a gota de chuva, a vermelhinha e a família Relâmpago. Eu ainda sou pequena e só
posso ser uma boa conselheira com bons amigos me ajudando, sem querer desmerecer as senhoras conselheiras,
minhas subordinadas.
Conselheira 2 – Que isso...
Conselheira 3 – Bondade sua...
Conselheira 1 – Imagina...
Rainha - Claro, menina. Traga quem quiser. O palácio é muito grande e eu estou pouco me incomodando. (Entra a
família Relâmpago que desta vez é recebida pelas fadas com sorrisos e abraços.) De qualquer maneira já sei que o
seu primeiro conselho vai ser abandonar o Livro das Fadas e abrir os horizontes, não é? E quer saber de uma coisa?
Até eu já estou cansada desse Livro, para falar a verdade. (A essas palavras da Rainha, todos começam a cantar e a
dançar num clima de comemoração. A Rainha dança também.)
Grupo Teatral Estudantil Ars-Cenika - Colégio Integrado São Francisco – 2020/21/22 - 32

Todos - (cantando em coro dessa vez com a participação da família Relâmpago.) Não há nada mais bonito
Que inventar em liberdade
E só tem vida alegre
Quem sabe dessa verdade.
(A voz passante do senhor Relâmpago torna agora a canção mais forte e vibrante.)
FIM

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