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CIP-BRASIL.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

K64f
Kinsella, Sophie
Fada-na-fila-de-espera: A Fada Mamãe e eu, volume 2 / Sophie Kinsella;
ilustrações de Marta Kissi; tradução de Marcela Filizola. - 1. ed. - Rio de Janeiro:
Galera Junior, 2020.

Tradução de: Fairy-in-waiting


Sequência de: A Fada Mamãe e eu

ISBN 978-85-01-11902-5

1. Ficção. 2. Literatura infantojuvenil inglesa. I. Kissi, Marta. II. Filizola, Marcela. III.
Título.
20-63433 CDD: 808.899282
CDU: 82-93(410.1)

Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439

Título original:
Fairy-in-waiting

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são produto da
imaginação do autor ou são usados de forma ficcional. Qualquer semelhança com eventos,
lugares ou pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

Copyright do texto © Sophie Kinsella, 2018


Copyright das ilustrações © Marta Kissi, 2018

Projeto gráfico original: Mandy Norman Adaptação de capa e de miolo para esta edição:
Renata Vidal

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos
morais do autor foram assegurados.

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos
pela EDITORA RECORD LTDA. Rua Argentina, 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.:
(21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução.

ISBN 978-85-01-11902-5

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Para Phoebe e Saskia
SUMÁRIO
Anterrosto
Folha de rosto
Página de direitos autorais
Dedicatória
Sumário

Prazer, essa sou eu e a Fada Mamãe

MACACORIDOO!
Fada Mamãe e macaquices

PARERIDOO!
Não é possível parar um guarda-roupa mágico

FLOCOSRIDOO!
Sorvete para todo mundo

VOERIDOO!
A melhor festa de aniversário da vida
Prazer, essa sou eu e a Fada
Mamãe

O lá. Eu sou Ella Brook e moro numa cidade chamada


Cherrywood com minha mãe, meu pai e meu irmão caçula,
Ollie. Tenho olhos azuis e cabelos castanho-escuros. Na escola,
meus melhores amigos são Tom e Lenka. E minha maior inimiga é
Zoe, que mora na casa ao lado e é minha Não-Melhor-Amiga. Ela é
a menina mais malvada do mundo e tem cara de má até quando
sorri.
Até aí, tudo normal.
Mas minha família guarda um segredo especial, que não posso
contar para ninguém, nem mesmo para os meus amigos. Minha
mãe parece normal, como qualquer outra mãe... mas não é. Afinal,
ela pode se transformar em fada. Basta bater os pés três vezes,
depois as mãos, rebolar um pouquinho e dizer “Marshmallow”... e
PUFF! Vira a Fada Mamãe. E se ela falar “Maçã do amor”, volta
a ser apenas a mamãe. Tia Jo e vovó também são fadas. Todas as
três podem voar, ficar invisíveis e fazer magia de verdade. Além
disso, minha mãe e Tia Jo têm uma varinha de condão muito legal
chamada Smartvarinha V5. O aparelho tem poderes mágicos, uma
tela de computador, um botão de Magia Extrarrápida e aplicativos,
e-mail e jogos de fadas!
O problema é que a mamãe ainda não é muito boa em fazer
feitiços, mesmo se esforçando muito nas aulas de magia com Fada
Fenella, a quem assiste pelo FadaTube. Mas um dia tudo vai dar
certo. E um dia, quando eu crescer, também vou virar fada, assim
como ela. Vou ter asas brilhantes e minha própria Smartvarinha.
Até lá, minha mãe diz que só preciso esperar. Então é isso que
faço. Sou uma Fada-na-fila-de-espera.
MACACORIDOO!
Fada Mamãe e macaquices

U ma vez eu estava com a Fada Mamãe assistindo a uma aula


da Fenella, sua Professora Fada, pelo FadaTube. Ela estava
aprendendo um feitiço de clima chamado Choveridoo, então fiquei
acompanhando a lição protegida por um guarda-chuva. Mamãe
estava sob uma sombrinha flutuante mágica.
Eu queria muito uma sombrinha flutuante mágica também.

— Você pode usar vários feitiços para fazer parar de chover —


explicou Fenella na tela do computador. — Tente “Normaridoo” com
o código 4-5-2. É um feitiço muito útil.
Fada Mamãe digitou 4-5-2 em sua Smartvarinha e disse:
— Normaridoo! — A chuva parou imediatamente.
Quando mamãe terminou a aula e voltou ao normal, soltei um
suspiro e ela olhou para mim.
— O que foi, Ella? — perguntou.
— Estou cansada de ser uma Fada-na-fila-de-espera —
respondi. — Quero ser uma fada de verdade e fazer magia de
verdade e salvar o dia.
Ela riu.
— Toda fadinha pensa assim — falou minha mãe. — Esqueça
isso. Sua hora vai chegar. Agora, o que podemos fazer para animar
você?
— Andar de patins com Lenka e Tom? — sugeri. — Eles vão se
encontrar no parque.
— Ah, poxa — disse ela. — Infelizmente, não podemos. Vamos
almoçar com o chefe do seu pai, o Sr. Lee. Mas vai ser divertido
também!
Não acreditei nela. Meu pai apareceu logo em seguida.
— Está na hora de nos arrumarmos para o almoço — avisou. —
O Sr. Lee é muito importante, então todos nós precisamos estar
muito elegantes.
Agora eu tinha certeza de que o almoço não ia ser divertido.
Coloquei meu melhor vestido, e minha mãe veio arrumar meu
cabelo. Ela estava tentando fazer tranças francesas, mas Ollie
insistia em puxar o braço dela, então mechas de cabelo ficavam
caindo.
— Se comporte, Ollie! — falei, mas acho que ele não sabe o que
“se comportar” significa.
— Então — disse meu pai ao entrar, vestindo sua camisa mais
elegante e uma gravata azul-escura com bolinhas. — Estamos
todos prontos? Vamos para o carro.
Mamãe foi pegar uma fita e a trança soltou novamente.
— Ai, nossa — reclamou ela. — Acho que preciso de ajuda. —
Mamãe bateu os pés três vezes, então as mãos, depois rebolou um
pouco e disse “Marshmallow” ... e PUFF! se transformou em
fada.
Ao se transformar, mamãe permanece com a mesma aparência,
mas fica ainda mais bonita. A luz do sol reluzia em suas asas, o
vestido estava todo brilhante e a coroa prateada cintilava.
Ela apontou a Smartvarinha, digitou um código, blip-blip-
blop, e disse:
— Trançaridoo!
Um instante depois, as tranças mais perfeitas e lindas surgiram
em meu cabelo, amarradas por um laço de fita vermelha.
— Fada Mamãe! — exclamei. — Ficaram lindas! Você é tão
inteligente! Olha, papai!
Mas, quando olhei para ele, soltei uma risadinha. Normalmente,
o cabelo castanho do papai é curto. Só que agora tinha longas
tranças com laços cor-de-rosa na ponta. Nunca vi meu pai de trança
ou laços cor-de-rosa antes.
Mamãe também estava com tranças longas. Até Ollie tinha
tranças. Todos nós tínhamos tranças.
— Quê?! — disparou papai, horrorizado ao ver as tranças no
espelho. — O que você fez comigo? Pareço uma criancinha!
— Opa — disse a Fada Mamãe. — Não sei como isso
aconteceu. Tenho certeza de que falei o feitiço correto.
Rapidamente ela olhou as opções no aplicativo de feitiços da
Smartvarinha, então parou e disse:
— Aqui está. — Mamãe digitou um código e disparou: —
Cabeloridoo!
Imediatamente, nossos cabelos voltaram ao normal.
Mas meu pai ainda estava de cenho franzido.
— Esse almoço é importante — comentou ele. — Não quero que
nada dê errado. Por isso, tenho uma regra especial hoje: nada de
magia.
— Nada de magia? — repetiu minha mãe.
— Isso mesmo. — Papai soou muito decidido. — Nada de
magia.

Minha mãe não fez magia alguma ao longo de todo o percurso até a
casa do Sr. Lee. Mesmo quando o GPS travou e nós nos perdemos,
ela não fez nenhum feitiço. Apenas pediu ajuda a uma moça
simpática para achar o caminho.
A casa do Sr. Lee era bem grande. Havia um jardim enorme e
um pequeno bosque nos fundos. A Sra. Lee deu uma volta pelo
jardim com minha mãe, Ollie e eu, enquanto meu pai e o Sr. Lee
conversavam.
Nos fundos da casa, havia um poleiro de madeira para um
pássaro, mas estava vazio.
— Você tem um pássaro de estimação? — perguntei, e a Sra.
Lee começou a piscar. Tinha lágrimas em seus olhos.
— Meu Deus! — exclamou minha mãe. — Você está bem, Sra.
Lee? O que houve?
— Tenho um papagaio chamado Ben — explicou ela. — Amo
muito meu bichinho. Mas ele fugiu! Ben nunca fez isso antes. Acho
que ele estava ficando entediado. — A Sra. Lee pareceu ainda mais
triste. — Talvez eu nunca mais veja meu papagaio!
Ela assoou o nariz e foi para a cozinha fazer o almoço. Eu podia
sentir o cheiro de alguma coisa gostosa assando e fiquei pensando
que a Sra. Lee parecia uma mulher muito gentil, por isso me senti
mal por ela. Se eu tivesse um papagaio de estimação, não iria
querer que ele fosse embora.
— Você quer brincar, Ella? — perguntou minha mãe.
— Não — respondi. — Quero encontrar o papagaio da Sra. Lee
para ela.
— Concordo — disse mamãe. — Vamos lá procurar.
Vasculhamos todos os canteiros de flores e árvores, mas não
vimos nenhum papagaio. Então fomos procurar no bosque nos
fundos do jardim.
— Talvez Ben tenha entrado no bosque — sugeri. — Nunca
vamos encontrar um papagaio lá.
— Não adianta — comentou minha mãe. — Vamos ter que usar
magia.
— Mas o papai disse “nada de magia” — lembrei.
— Eu sei. — Ela pensou por um momento. — Acho que ele quis
dizer Nada de magia a não ser que tenha um papagaio perdido. Vou
ser supercuidadosa. Ninguém vai saber.
— Mãe, posso fazer o feitiço? — implorei. — Por favor?
Ela sorriu carinhosamente.
— Infelizmente, não, Ella. Mas você pode ser minha ajudante
especial. Primeiro, se certifique de que ninguém pode nos ver.
Verifiquei todos os cantos cuidadosamente, nós estávamos
sozinhas. Então minha mãe bateu os pés três vezes, depois as
mãos, rebolou um pouquinho e disse “Marshmallow”... e PUFF!
virou a Fada Mamãe.

Ela digitou um código na Smartvarinha, blip-blip-blop, e


disse:
— Beneridoo! Encontreridoo! Voeridoo! — Em
seguida, agarrou minha mão.
Um instante depois, estávamos voando. Eu nunca tinha voado
antes, e a sensação do ar era gelada e fazia “vush”. O chão parecia
bem distante, e me agarrei com força na mamãe. Voamos até o
interior do bosque e pousamos debaixo da copa de uma árvore.
Logo ouvimos um som. Crrác-crrác!
— O papagaio está na árvore! — falei. — Encontramos Ben!
Como vamos pegá-lo?
— Não podemos assustá-lo — explicou a Fada Mamãe —, ou
ele pode voar para longe. Vou subir bem devagar e tentar pegá-lo.
Ela se elevou no ar muito silenciosamente enquanto eu
observava. Então ouvi aquele som de novo: crrác-crrác!
— Ben me viu — reclamou a Fada Mamãe — e voou para outro
galho. Ele é um papagaio muito atrevido. Ella, sua hora de ajudar
chegou. Pronta?
— Sim! — afirmei. — O que eu faço?
— Acho que você pode escalar a árvore. Com ele entre nós
duas, conseguimos pegá-lo.
Olhei para a árvore acima de mim. Era bem alta, com galhos
enormes.
— Não se preocupe, Ella — disse a Fada Mamãe, com os olhos
brilhando. — Vou ajudar você com um pouco de mágica. Vai
precisar de pernas superfortes.
— Está bem! — concordei, empolgada. Talvez eu ainda não
pudesse fazer feitiços, mas, mesmo assim, podia pegar Ben e salvar
o dia.
Fada Mamãe digitou um código em sua Smartvarinha, blip-
blip-blop, e gritou:
— Escaleridoo!
Olhei para minhas pernas para ver se já estavam mudando. E
estavam. Ficaram bem marrons e peludas. Olhei para meus braços.
Estavam marrons e peludos também. O que estava acontecendo?
Eu ainda era humana?
Olhei para a Fada Mamãe e berrei. Ela tinha virado um macaco.
Será que isso queria dizer que eu também era um macaco? Ollie
nos encarava do chão com seus grandes olhos azuis.
— Fada Mamãe! — disparei, com uma voz de macaco. — Você
nos transformou em macacos!
— Opa — disse ela, também com voz de macaco. — Não sei
como isso aconteceu. — Ela apoiou a Smartvarinha, pulou para
cima de um galho e se balançou com a cauda. — Ei, olha o que eu
consigo fazer.
— Eu quero tentar! — falei. — Macacoridoo! — Pulei para cima
também, e nós duas nos balançamos com nossas caudas. Corri até
o topo da árvore e olhei para o bosque, mas não consegui ver Ben,
o papagaio. Então saltei para outra árvore e me balancei com a
cauda de novo. Ser macaco era divertido.
De repente, ouvimos o som de uma campainha e eu arquejei.
— Mãe, está na hora do almoço! — concluí. — Rápido, nos
transforme em humanas de novo.
— Mas onde foi parar a Smartvarinha? — perguntou a Fada
Mamãe. — E cadê Ollie?
Foi então que vimos meu irmão. Ele estava seguindo pelo
bosque enquanto segurava a Smartvarinha.
— Ah, não! — gritou a Fada Mamãe. — Vá atrás dele!
Nós corremos atrás de Ollie com nossas mãos de macaco, e
Fada Mamãe quase o tinha alcançado... quando, de repente, a Sra.
Lee apareceu entre as árvores. Imediatamente, minha mãe se jogou
atrás de um arbusto e me puxou com ela. Eu estava ofegando. Não
queria que a Sra. Lee nos visse.
— Olá, rapazote — disse a Sra. Lee para Ollie. — O que está
fazendo sozinho aí?
Ela olhou em volta, nos procurando, mas ficamos bem quietas
atrás do arbusto.
— Ipiiii-ipiiii-ipiiii! — balbuciou Ollie, apontando para o
arbusto, mas a Sra. Lee não conseguiu entender. Fiquei bem feliz
por meu irmão ainda não falar.
— Este é um celular muito inteligente — comentou ela, pegando
a Smartvarinha da mão de Ollie. Por sorte, o aparelho tinha
desligado sozinho e parecia um celular normal. — Deve ser da sua
mãe. Vamos lá comer alguma coisa. — A Sra. Lee levou meu irmão
em direção à mesa de almoço no jardim.
Fada Mamãe e eu olhamos uma para a outra. Aquilo era terrível!
O que íamos fazer? Éramos macacos, e a Sra. Lee estava com a
Smartvarinha.
— Precisamos pegar a Smartvarinha de volta — disse a Fada
Mamãe. — Caso contrário, seremos macacos para sempre. Venha
comigo, Ella. Quando virmos os outros, finja ser um macaco de
verdade. Faça macaquices. Seja malcriada.
— Ser malcriada? — repeti. — De propósito?
— Sim — respondeu ela, e seus olhos de macaco cintilaram. —
Pode ser tão malcriada quanto quiser, mas só dessa vez.
Nós entramos silenciosamente no jardim e fomos até a mesa de
almoço. A Sra. Lee foi a primeira a nos ver e levou um susto.
Fada Mamãe saltou sobre a mesa.
— Uh-uh-uh-ah-ah! — gritou ela, jogando um
pedaço de pão no Sr. Lee. Em seguida, minha mãe colocou os
dedos de macaco nas narinas do papai. Ele levantou
apressadamente enquanto o Sr. e a Sra. Lee gritavam.
Pulei em cima da mesa e guinchei. Então corri de um lado para o
outro. Depois brinquei com o cabelo da Sra. Lee e mostrei a língua
para ela. O Sr. Lee levantou e tentou me pegar.

— Socorro! — disparou a Sra. Lee. — Será que


vieram do zoológico?
— Será que vieram do circo? — questionou o Sr. Lee.
Eu jogava salada para todos os lados e estava amando ser um
macaco malcriado. Então, notei meu pai. Ele estava olhando
diretamente para mim. Em seguida, olhou para a Smartvarinha
sobre a mesa e então para mamãe.
Meu pai sabia que éramos nós.

— Uh-uh-uh-ah-ah — falei para ele, apontando


para a Smartvarinha com minhas mãos de macaco. O que eu queria
dizer era Nos dê a Smartvarinha rápido, pai!.
Ele entendeu. Papai pegou o aparelho e sacudiu para minha
mãe como se estivesse tentando enxotá-la.
— Saia daqui, macaco — disse ele. — Saia.
Fada Mamãe pegou a Smartvarinha e saiu correndo.
A Sra. Lee arfou.
— Aquele macaco roubou seu celular!
— Não se preocupe — respondeu meu pai. — Vou atrás dele.
Fada Mamãe e eu corremos para a floresta, e ele veio atrás de
nós. Papai parecia muito zangado.
— Achei que tivesse dito nada de magia — disparou ele. —
Concordamos com isso. Tudo que eu queria era um almoço simples
e agradável. E agora, vejam, vocês são macacos.
— Desculpa — falou a Fada Mamãe. — Estávamos tentando
achar o papagaio perdido da Sra. Lee. Vou nos transformar
novamente. Sem problemas.
Ela apontou a Smartvarinha, digitou um código, blip-blip-
blop, e disse:
— Desmacacoridoo!
Eu conseguia sentir o feitiço funcionando. Minhas pernas
peludas estavam mudando e eu estava ficando mais alta. Muito
mais alta. E maior.
— O quê? — gritou meu pai.
Olhei para baixo e arfei. Já não era mais um macaco: era um
elefante! Assim como a Fada Mamãe. Eu tinha uma tromba! E patas
gigantes! Peguei uma maçã de uma árvore e a entreguei para o
papai. Talvez ser um elefante fosse bem legal.

Mas então comecei a me preocupar. E se a mamãe não


conseguisse me transformar em criança de novo? Como eu poderia
ser um elefante para sempre? Não poderia ir à escola. Sentaria em
minha cadeira e ela quebraria. Decidi que realmente não queria ser
um elefante.
— Fada Mamãe! — falei, com uma voz de trombeta. — Faça
outro feitiço!
— Opa — disse ela, e sua voz também era de trombeta. — Me
desculpe. Vou tentar de novo. — Ela tentou usar a tromba para
digitar outro código, mas a Smartvarinha caiu no chão. — Isso é
complicado — comentou a Fada Mamãe. — Como será que os
elefantes fazem?
— Eles não fazem magia — argumentou meu pai, soltando um
suspiro e dando a Smartvarinha mais uma vez para minha mãe.
Dessa vez, ela conseguiu digitar o código, blip-blip-blop.
— Deselefanteridoo! — bradou ela, como um trompete.
A magia estava agindo novamente. Eu estava ficando mais e
mais baixa. Não era mais um elefante... mas também não era uma
menina.
Era um pinguim. Assim como a Fada Mamãe.
— Pinguins? — questionou o papai, encarando-a. — Pinguins?
Isso é ridículo!
— Não sei como isso aconteceu — disse a Fada Mamãe, com
um grasnido de pinguim.
Tentei andar até ela, mas só consegui cambalear. Realmente
não queria ser um pinguim. Eu teria que viver na neve e só comer
peixe.
— Olá? — Ouvi a Sra. Lee gritar pela floresta. — Você está aí?
Está tudo bem?
Todos nos entreolhamos. Sermos macacos era ruim o bastante.
Mas pinguins era ainda pior.
— Meus feitiços não estão funcionando! — disse a Fada Mamãe
para meu pai. — Não sei o que fazer.
Foi então que tive uma ideia.
— Fada Mamãe... — comecei.
Mas papai interrompeu:
— Agora não, Ella!
— Mas eu sei qual feitiço usar! — exclamei.
Tanto ele quanto a Fada Mamãe se viraram para mim.
— Use o Normaridoo! — expliquei. — Código 4-5-2. Lembra?
— Sim! — concordou minha mãe. — Que boa ideia!
Ela apontou a Smartvarinha, digitou os números 4-5-2 com a
ponta de sua nadadeira e disse:
— Normaridoo! Por favor! Por favor, funcione!
Eu podia sentir meu corpo crescendo. Meu cabelo voltou.
Minhas nadadeiras viraram braços. Meu bico virou um nariz. Eu era
uma criança novamente. — Graças aos céus — disse meu pai,
então ele nos puxou e nos abraçou. — Agora, nada de magia,
mesmo.
— Ella, você é uma Fada-na-fila-de-espera incrível — comentou
a Fada Mamãe. — Você salvou o nosso dia.
Eu me senti leve e feliz. Tinha salvado o dia!
— Graças aos céus por Ella — agradeceu o papai, me dando um
abraço superapertado. — Agora podemos almoçar como uma
família normal? Pelo menos uma vez na vida?
— Claro! — disse a Fada Mamãe. — Maçã do amor. — E assim
ela voltou ao modo normal.
Naquele momento, a Sra. Lee apareceu entre as árvores. Ela
parecia muito confusa ao ver todos nós juntos ali.
— Oi! — disse ela. — Aí estão todos vocês! O que está
acontecendo?
— Hmm... — falou minha mãe.
— Bem... — começou o papai.

— Crrá c-c rrác! — surgiu uma voz de cima. E então o


papagaio Ben desceu voando da árvore. Ele era vermelho e azul e
seguiu direto para a Sra. Lee, pousando em seu ombro.

— Ben! — exclamou ela. — Vocês acharam meu Ben! Muito


obrigada! — Ela fez carinho na cabeça dele e ele a acariciou com o
bico. — Agora venham almoçar — disse a Sra. Lee para nós. —
Vocês merecem!
Nós retornamos à mesa e nos sentamos com Ollie e o Sr. Lee.
— Vocês não vão acreditar — disse o Sr. Lee —, mas acabaram
de aparecer dois macacos aqui!
— Mentira! — disparou minha mãe, soando muito surpresa. —
Macacos de verdade?
— Sim! — confirmou a Sra. Lee. — Eram macacos muito
malcriados, mas engraçados também. Uma pena que você tenha
perdido, Ella. Talvez eles voltem. Não faço ideia de onde podem ter
vindo...
— Bem, espero que não voltem — comentou o papai, sorrindo
para mim. — Não aguento mais nenhuma macaquice.
Nesse instante, Ben voou até meu ombro. Suas presas eram
afiadas, mas gostei da sensação. Era engraçado ter um papagaio
no ombro. Eu tinha achado que o almoço seria chato, mas foi
superlegal. Mal podia esperar para contar sobre o papagaio para
Tom e Lenka. Talvez um dia eu pudesse ter um papagaio de
estimação. E poderíamos brincar de pirata ou de pique-esconde.
— Vou comprar uns brinquedos de papagaio para Ben — disse a
Sra. Lee. — Assim ele não vai ficar entediado.

— Crrá c-c rrác! — grasnou Ben em meu ouvido. Ele


me olhou como se estivesse se perguntando por que eu não era
mais um macaco.
Depois do almoço, desenhei um pouco em meu caderno. Fiz
Ben na árvore, com as penas vermelhas e azuis. E, ao desenhar,
pensei sobre ser um macaco com o corpo peludo. Pensei sobre ser
um elefante com uma longa tromba cinza, assim como sobre ser um
pinguim com nadadeiras. E pensei que o que eu realmente gostava
de ser, mais do que tudo, era criança.
PARERIDOO!
Não é possível parar um guarda-
roupa mágico

U m dia estávamos na rua fazendo compras quando minha mãe


parou de repente e disse:
— Uau! Isso é incrível!
Eu me virei muito rápido e olhei porque podia ser algo realmente
incrível, tipo uma banheira cheia de jujubas ou um robô de verdade.
Mas era só uma loja de antiguidades com um grande relógio na
vitrine. Como alguém podia chamar um relógio de “incrível”?
Antiguidades são móveis muito velhos e coisas com cheiro
empoeirado e que não funcionam. Você não pode tocar nelas, ou
sentar nelas, ou brincar com elas, mesmo se for uma boneca ou um
cavalo de balanço. Minha mãe diz que antiguidades são especiais,
como tesouros. Ela ama cristaleiras, vasos e quadros antigos. Já o
papai não. Ele chama antiguidades de “lixo” e fica na porta da loja,
olhando o celular.
Nós seguimos minha mãe para o interior da loja e esperamos
enquanto ela olhava o relógio. Então mamãe foi até alguns castiçais
e louças. Tudo parecia sem graça para mim, especialmente a louça.
Essas coisas só são interessantes se estiverem servindo comida
gostosa, como espaguete à bolonhesa.
Em seguida, mamãe falou de novo:
— Uau! Isso é incrível!
A essa altura, ela estava nos fundos da loja, olhando um grande
guarda-roupa de madeira com perninhas e a imagem de uma árvore
pintada nele.
Realmente, era mesmo incrível. Eu nunca tinha visto um armário
como aquele. Olhei para a imagem e me perguntei quem a tinha
pintado.
— É lindo — ressaltou minha mãe. — Temos que dar uma casa
para ele.
Meu pai tirou os olhos da tela do celular e comentou:
— É muito grande. Além disso, a porta está caindo.
— A gente conserta — respondeu ela.
Papai observou o armário. Ele não parecia contente.
— Precisamos de outro guarda-roupa? — perguntou.
— Guardaremos nossos casacos pesados nele — argumentou
minha mãe. — É fantástico.
Quando ela diz que uma coisa é fantástica, sempre a
compramos.
Quando o guarda-roupa foi entregue, parecia ainda maior do que na
loja. Os homens atravessaram a porta com ele e o carregaram até o
quarto de hóspedes enquanto minha mãe os seguia, dizendo:
— Não é lindo?
Depois que os homens foram embora, ela comentou:
— Agora precisamos consertar essa porta. — Ela olhou em
volta. — Aonde seu pai foi?
O celular da mamãe apitou com uma notificação de mensagem.
Ela leu e esboçou uma expressão um pouco zangada.
— Do nada, seu pai decidiu levar Ollie ao supermercado —
contou ela. — Ok, tudo bem. Eu mesma conserto a porta.
Mamãe pegou a caixa de ferramentas, colocou um lenço no
cabelo, fez um chá para si mesma, então pegou a chave de fenda e
a encarou. Em seguida, pousou a ferramenta.
— Magia é melhor — declarou. Então bateu os pés três vezes,
depois as mãos, rebolou um pouco e falou “Marshmallow”... e
PUFF! se transformou na Fada Mamãe.
Eu estava animada para vê-la consertar o guarda-roupa, mas
esperava que nada desse errado.
— Você já fez algum feitiço de conserto antes? — perguntei.
— Na verdade — contou a Fada Mamãe —, sou muito boa em
feitiços de conserto. Ganhei Ouro no meu teste de Feitiços de
Conserto e Construção. — Ela apontou a Smartvarinha para o
armário, digitou um código, blip-blip-blop, e disse: —
Consertoridoo!
A porta do guarda-roupa ganhou vida e se endireitou no móvel.
A chave de fenda voou e a fixou com um parafuso. Estava perfeita
novamente.
— Muito bem, Fada Mamãe! — comemorei, batendo as mãos.
— Pronto — disse ela. — Tão perfeito quanto se fosse novo.
Que guarda-roupa lindo. Vamos guardar todos os nossos casacos
nele.
Nós pegamos nossos casacos pesados de inverno, colocamos
as peças no armário e fechamos a porta. Mas, um momento depois,
as portas se abriram, os casacos saltaram e foram parar no carpete.
Fada Mamãe e eu os encaramos.
— Esses casacos simplesmente pularam sozinhos do guarda-
roupa? — quis saber ela.

Tentamos recolocá-los dentro do armário, mas eles saltaram


novamente. Dessa vez, um deles caiu na cabeça da mamãe.
— Fada Mamãe! — falei. — É um guarda-roupa mágico!
— Minha nossa! — comentou ela. — Meu feitiço deve ter sido
muito forte. Vou consertá-lo. — Ela pegou a Smartvarinha, mas,
antes que conseguisse usá-la, ouvimos um barulho vindo do móvel.
Então uma voz bem baixa e aguda disse:
— Pinica.
— Pinica? — repetiu minha mãe.
— Acho que ele está falando dos casacos — sugeri. — Os
casacos pinicam.
Eu me senti mal pelo guarda-roupa. Casacos piniquentos são
horríveis mesmo.
— Isso é ridículo! — exclamou a Fada Mamãe. — É um guarda-
roupa, não uma pessoa! — Ela apontou a varinha de condão para o
móvel e disse: — Pareridoo! Agora vai voltar ao normal.
Mas o armário não voltou ao normal.
— Pinica! — reforçou ele. — Nada de casacos!
Em seguida, o móvel começou a andar em direção à porta com
suas perninhas.
— Fada Mamãe! — gritei. — É um armário que fala e anda!
— Pare! — ordenou ela, apontando a varinha para ele. —
Pareridoo!
Mas o guarda-roupa não parou. Ele andou até o primeiro degrau

da escada e começou a descer. Pá, pow, pá!


Fada Mamãe correu atrás dele, gritando:
— Pareridoo! Fiqueridoo! Congelaridoo! — Mas
nada funcionou.
Ela tentou agarrá-lo, mas o móvel era mais forte e seguiu pelo
corredor até chegar ao jardim. Então o guarda-roupa entrou na
piscina infantil e começou a chutar, jogando grandes jatos de água
para fora.
— Guarda-roupa abusado! — gritou minha mãe. — Volte aqui!
Pareridoo!
O armário soltou um risada aguda, hi-hi-hi!, e chutou a água com
mais força ainda.
— Nenhum dos meus feitiços está funcionando — disse a Fada
Mamãe. — Acho que o guarda-roupa tem seu próprio tipo de magia.
— Ela andou até o móvel e o encarou seriamente. — Me conte a
verdade. Você é um guarda-roupa normal ou mágico?
— Mágico! — respondeu ele, com sua voz baixa e estridente. —
Guarda-roupa mágico!
De repente, dois braços e duas mãos de madeira cresceram, e
ele acenou para mim, rindo.
— Olha, Fada Mamãe! — falei. — Ele tem braços!
Minha mãe suspirou.
— Não podemos ter um guarda-roupa mágico — comentou ela.
— Vamos ter que nos livrar dele.
Eu não podia acreditar.
— Mas eu amo o guarda-roupa! — argumentei. — É divertido!
— Ella, não podemos ficar com um guarda-roupa mágico —
explicou ela. — Vai ser muito complicado. Vou trancá-lo no anexo e
aí vamos vender.
Quando o papai voltou para casa, ele e a mamãe conversaram.
Depois meu pai falou muito firmemente com o armário e amarrou
uma corda em volta de uma das pernas dele. Meu pai fez o móvel
andar até o anexo e trancou a porta. Eu fiquei muito triste. Antes de
deitar para dormir, corri até lá e olhei o guarda-roupa pela janela.
— Boa noite — falei. — Queria que você não fosse tão abusado.
Assim talvez o papai e a mamãe deixassem você ficar.

Era madrugada, e eu sonhava com um caminhão de bombeiros,


disparando e fazendo “uááá-óó-uááá-óó”.
Mas então acordei e percebi que não era um sonho. O barulho
vinha de dentro da casa. O som era “uááá-óó-uááá-óó”. Fiquei com
medo. Que barulho era aquele? Saí da cama e fui até a porta. Espiei
e vi meus pais de pijama. Eles também tinham sido acordados.
— Que barulho é esse? — perguntou meu pai.
— Está vindo da porta dos fundos — comentou minha mãe.
Todos nós corremos para o andar de baixo, e o papai abriu a
porta dos fundos. Lá fora, bem na entrada, estava o guarda-roupa.
Ele gritava bem alto:

— Uááá-óó-uááá-óó.
— Ele quer entrar — falei. — Está se sentindo sozinho. Tadinho
do guarda-roupa.
— Como ele conseguiu sair? — perguntou meu pai, irritado.
— Ele precisa voltar para o anexo — disse minha mãe. Então o

móvel chorou, “Uááá!”, ainda mais alto.


Por toda a rua, luzes se acendiam nas casas. O armário estava
acordando todo mundo.
— Por favor, o guarda-roupa pode entrar? — implorei. — Ele
parece tão triste.
— Tudo bem! — respondeu minha mãe para o armário. — Pode
entrar por uma noite. E só.
O móvel entrou na casa correndo com suas perninhas. Ele foi e
se posicionou ao lado do relógio de pêndulo.
— Boa noite — falei para ele. O guarda-roupa me deu um
abraço com seus braços de madeira e eu retribuí.
— Pronto, comporte-se — disse mamãe, sacudindo o dedo para
o armário.
— Comporte-se — repetiu ele com a voz aguda. — Comporte-se,
comporte-se, comporte-se.

Mamãe, papai e eu voltamos para nossas camas no andar de


cima.
— Bem, espero que tenhamos uma noite tranquila agora.

Mas não tivemos uma noite tranquila. Eu estava no meio de um


sonho sobre voar com borboletas quando ouvi um som alto:

pow!
Acordei imediatamente e pulei da cama. Eu sabia que era o
guarda-roupa. Achei que ele estivesse fazendo besteira lá embaixo.
Talvez estivesse correndo de um lado para o outro, ou talvez
estivesse brincando com os outros móveis. Minha mãe e meu pai
ficariam muito irritados e aí mesmo que nunca deixariam o armário
permanecer conosco.
Decidi descer e dizer para ele se comportar.
Desci as escadas cuidadosamente. Então parei, surpresa. O
guarda-roupa não estava fazendo besteira. Ele estava parado em

silêncio ao lado do relógio de pêndulo. Houve outro pow! O


som vinha da sala de estar. Fiquei com muito medo. Que barulho
era aquele? Fui até lá na ponta dos pés e espiei o interior da sala de
estar. Um homem de máscara estava colocando objetos dentro de
um saco. Havia um vaso de flor quebrado no chão e uma cadeira
derrubada também. O barulho que ouvi devia ser disso.
O homem colocou a câmera do papai dentro do saco e depois o
relógio de prata da mamãe. Ele estava roubando nossas coisas!
Fiquei com muita raiva, mas não ousei entrar. Em vez disso, fui até
o guarda-roupa mágico.
— Guarda-roupa! — disparei. — Tem um ladrão aqui! Pegue
aquele homem!
O móvel correu apressado para a sala de estar com suas
perninhas. Ouvi um som de luta e, em seguida, o ladrão surgiu
correndo com o saco nas costas.

— Guarda-roupa! — gritei. — Socorro! Pega


ladrão!
O armário apareceu, vindo apressado da sala de estar. Ele
perseguiu o ladrão e o agarrou com as mãos de madeira.

— O quê? — gritou o homem, parecendo muito surpreso.


Ele se contorceu e bateu no guarda-roupa, tentando se soltar. Mas o
armário era superforte. Foi então que as portas do móvel se abriram
com tudo, e o guarda-roupa enfiou o ladrão lá dentro, fechando e
trancando as portas.
O ladrão estava preso dentro do guarda-roupa.
— Oba! — comemorei. — Que guarda-roupa esperto!
No instante seguinte, meus pais apareceram na escada. Os dois
pareciam zangados e sonolentos. Mamãe bocejava e papai estava
com o cabelo todo espetado.
— Chega! — declarou meu pai.
— O que aquele guarda-roupa abusado fez agora? — perguntou
minha mãe.
— Ele não é abusado — protestei. — Ele pegou um ladrão. É um
guarda-roupa muito, muito comportado.
Quando a polícia chegou, papai abriu o armário, e os policiais
ficaram muito surpresos ao encontrar um ladrão lá dentro. Eles o
puxaram para fora e colocaram algemas nele, depois tiraram todas
as nossas coisas do saco do homem e as devolveram para minha
mãe.

O ladrão estava muito chocado. Ele contou para a polícia sobre


como o guarda-roupa tinha ganhado vida e o prendido, mas eles
não acreditaram. Em seguida, os policiais levaram o ladrão embora.
Minha mãe fez chocolate quente e todos nós nos sentamos no
corredor e encaramos o guarda-roupa.
— Vocês não podem mandá-lo embora agora — argumentei. —
Não podem. É um guarda-roupa bom, inteligente e corajoso. A partir
de agora, vai realmente fazer parte da família.
Dei um tapinha carinhoso no armário e ele retribuiu.
— Sei disso — respondeu mamãe, bocejando. — Mas, ainda
assim, precisa de treinamento.
— Eu faço isso! — falei. — Posso cuidar dele. Por favor? Por
favor? Vai ser um guarda-roupa muito comportado. Eu sei que vai.
Minha mãe e meu pai sorriram um para o outro.
— Você acha que consegue, Ella? — perguntou minha mãe. —
Vai ser muito trabalhoso treinar um guarda-roupa mágico.
Pensei no armário jogando os casacos para fora porque
pinicavam. Pensei nele se sentindo sozinho no anexo. Pensei que,
se ele estivesse feliz de verdade, talvez começasse a se comportar
melhor.
— Sim — respondi. Bebi meu chocolate quente e sorri para
minha mãe. — Acho que consigo.
FLOCOSRIDOO!
Sorvete para todo mundo

Í amos passar as férias na França. Teríamos praia, piscina e


barcos para passear. Eu tinha um maiô listrado novo, um chapéu
novo e até mesmo uma mala vermelha com rodinhas nova. O
Guarda-roupa ia cuidar da casa enquanto estivéssemos fora.
Mesmo meu pai não gostando muito de magia, ele disse que o
Guarda-roupa seria melhor do que qualquer cão de guarda.
Fada Mamãe estava tendo uma aula com Fenella no FadaTube,
aprendendo feitiços para fazer a mala. Ela apontou a Smartvarinha,
digitou o código, blip-blip-blop, e disse
“Empacoteridoo!”. Mas todas as roupas rodopiaram pela sala
e caíram sobre nossas cabeças.
— Opa — disse a Fada Mamãe. — Código errado. — Ela digitou
outro número e tentou de novo: — Empacoteridoo!
Imediatamente, todas as roupas dobraram-se sozinhas e se
colocaram em nossas malas. Magia é muito útil às vezes.
Quando a aula da mamãe acabou, falei:
— Eu queria poder fazer o feitiço Empacoteridoo todos os dias
em vez de ter que arrumar minha mochila para a escola. Queria
poder fazer magia agora.
— Um dia você vai poder — comentou minha mãe, sorrindo.
Então ela me deu um abraço e disse: — Você guardou seus óculos
de nadar na mala?
— Claro! — respondi. — Vou nadar todos os dias.

O aeroporto estava muito cheio. Havia pessoas e carrinhos de


bagagem e malas por todos os cantos. Não sabíamos para onde ir.
Meu pai saiu para perguntar a alguém, mas demorou séculos para
voltar. Então Ollie derrubou o ursinho dele no chão e começou a
chorar. Depois, sem querer, um homem passou por cima do pé de
minha mãe com o carrinho de bagagem. Mais e mais pessoas
chegavam, e todos estavam amontoados. Mamãe parecia irritada.
— Tem gente demais aqui! — reclamou ela. — Nunca vamos
chegar à França! — Ela nos puxou para trás de um carrinho com
uma pilha de malas para que ninguém pudesse nos ver. Então bateu
os pés três vezes, depois as mãos, rebolou um pouquinho e disse
“Marshmallow”... e PUFF! se transformou na Fada Mamãe.
Ela apontou a Smartvarinha para a multidão ao nosso redor,
digitou um código, blip-blip-blop, e disse:
— Esvaziaridoo!
Imediatamente, o aeroporto ficou vazio. Não havia uma pessoa
ou mala ou carrinho de bagagem. Não havia balcões de check-in ou
placas. Não havia aviões do lado de fora.
Não havia mais aeroporto! Apenas um grande prédio
desocupado e nossa família. Meu pai veio andando pelo saguão
enorme e vazio. Ele revirou os olhos.
— Não me diga — ironizou. — Magia.
— Opa! — exclamou a Fada Mamãe. — Não sei como isso
aconteceu.
— Não tem nenhum avião — observei, começando a chorar. —
Agora não vamos viajar de férias! — Eu não ia poder usar minha
mala nova nem nadar com meus óculos.
— Vamos viajar, sim! — respondeu a Fada Mamãe, me dando
um abraço. — Não se preocupe, Ella. Vou usar magia e trazer o
aeroporto de volta.
— E aí, quem sabe, guardar essa Smartvarinha? — sugeriu meu
pai. — Só por uma semana.

Quando chegamos ao hotel, eu estava muito empolgada. Havia


praia, piscina e uma grande estrutura de escalada. Tinha também
uma caixa de areia para Ollie e muitas espreguiçadeiras para deitar.
As melhores espreguiçadeiras eram as azuis perto da caixa de
areia. Havia guarda-sóis com franjas brancas, mesas especiais e
almofadas grandes e confortáveis. Mas outra família já estava ali.
Eles eram franceses e tinham cabelo escuro. Havia uma mãe, um
pai, uma menina e um bebê menino — igual a nossa família. Todos
usavam óculos escuros, até mesmo o neném. Eu achei que eles
pareciam muito legais.

— Amanhã vamos sair cedo com nossas toalhas — disse minha


mãe. — Vamos pegar essas espreguiçadeiras.
Nós nadamos e brincamos a manhã inteira, e escrevi um cartão
postal para Tom e Lenka. Então, depois do almoço, fui até a caixa
de areia. Ollie estava brincando com o bebê francês, e a irmã dele
também estava ali. Ela usava um maiô florido muito bonito.
— Oi — falei. — Eu sou a Ella.
— Olá — respondeu a menina. — Eu sou a Cécile.
Cécile era mais velha do que eu. Tinha 12 anos. Brincamos
juntas a tarde toda e nos divertimos muito. Cécile sabia mergulhar
de costas e plantar bananeira. Brincamos de nadar juntas à procura
de moedas, e às vezes ela me deixava ganhar. Depois fomos tomar
sorvete.
— Délicieuse! — disse Cécile, lambendo seu sorvete. — Isso
significa... delicioso!
O inglês de Cécile soava engraçado. Mais tarde, minha mãe me
contou que era o sotaque francês.

Na manhã seguinte, vi mamãe em nossa varanda. Ela tinha se


transformado em fada e estava segurando toalhas de piscina.
— Fada Mamãe, o que você está fazendo? — perguntei. —
Papai falou “nada de magia”!
— Shhh — respondeu ela. — Não vamos acordar o papai. — Ela
digitou um código na Smartvarinha, blip-blip-blop, e apontou
para as toalhas. — Espreguiçadeiridoo!
Imediatamente, as toalhas voaram pelo ar. Pareciam grandes
pássaros batendo suas asas brancas. Elas pousaram sobre as
espreguiçadeiras azuis perto da caixa de areia.
— Pronto — declarou a Fada Mamãe. — Agora teremos as
melhores espreguiçadeiras.
— E se alguém tirar nossas toalhas? — indaguei.
— Não podem — explicou ela, piscando um olho para mim. —
Agora aquelas toalhas têm magia especial. Ninguém pode movê-las.
Maçã do amor! — E, assim, minha mãe voltou ao normal.
Mas quando descemos para a piscina, nossas toalhas tinham
sido movidas e estavam nas espreguiçadeiras não tão boas.
Enquanto isso, Cécile, Pierre, seu irmão, e a mãe deles ocupavam
as melhores espreguiçadeiras.
Minha mãe foi até a mãe de Cécile e disse:
— Com licença. Nossas toalhas estavam nessas
espreguiçadeiras.
A mãe de Cécile sorriu e respondeu:
— Agora são as nossas que estão.
Eu sabia que minha mãe estava zangada, mas ela não queria
demonstrar. Mamãe voltou para perto de mim, se sentou nas
espreguiçadeiras não tão boas e olhou para a mãe de Cécile.
Eu fui brincar com Ollie e Pierre na caixa de areia. Ajudei os dois
a montar um imenso castelo. Então ambos se sentaram nele —
ploft. Durante esse tempo todo, podia ver minha mãe
pensando e pensando.
Na manhã seguinte, antes do café, fui até a varanda de novo e a
encontrei lá. Ela estava de olho nas espreguiçadeiras azuis.
— Shhh — disse mamãe. — Estou esperando.
Então uma coisa incrível aconteceu. A mãe de Cécile surgiu na
varanda de baixo, segurando uma pilha de toalhas. Ela tinha asas
cintilantes, uma coroa verde-esmeralda e uma Smartvarinha. Era
fada, exatamente como mamãe!

A mãe de Cécile digitou um código, blum-blum-blam, e


disse uma palavra que não compreendi. Logo em seguida, as tolhas
dela voaram pelo ar e pousaram nas melhores espreguiçadeiras.
— Eu sabia! — exclamou mamãe. Rapidamente, ela
bateu os pés três vezes, depois as mãos, então rebolou um pouco e
disse “Marshmallow”... e PUFF! virou fada.
Ela apontou a Smartvarinha para as toalhas na espreguiçadeira.
— Toalhasridoo!
As toalhas começaram a flutuar novamente. A mãe de Cécile
não podia acreditar no que estava vendo. Então ela olhou para
cima, viu minha mãe e disparou:

— Zut alors!
Fada Mamãe gritou novamente:
— Toalhasridoo! — E, dessa vez, nossas toalhas
começaram a voar em direção às melhores espreguiçadeiras.
A mãe de Cécile gritou outra coisa, e as toalhas dela saíram
voando também. Elas chegaram até as nossas, e todas as toalhas
começaram a brigar no ar. Estavam se golpeando. Com as pontas,
socavam e cutucavam uma a outra.
Eu não conseguia parar de rir porque era muito engraçado.
Então, de repente, vi um homem mais velho no térreo. Ele estava
olhando para as toalhas como se não pudesse acreditar no que via.
— Cuidado! — exclamei. — Aquele homem está vendo!
— Ops — disse a Fada Mamãe.

— Sacré bleu! — disse a mãe de Cécile.


Elas chamaram suas toalhas de volta para as varandas. As duas
fadas mamães se entreolharam e começaram a rir.
— Vamos compartilhar as espreguiçadeiras — sugeriu a mãe de
Cécile. — E vamos ser amigas. Meu nome é Marie.

Naquela tarde, minha mãe e Marie ficaram deitadas nas


espreguiçadeiras lado a lado. As duas conversaram muito. Meu pai
e o de Cécile conversaram também. Mamãe e Marie mostraram
suas Smartvarinhas uma para a outra e contaram histórias sobre o
tempo na Escola de Fadas. Os dois pais conversaram sobre quando
feitiços dão errado. O pai de Cécile disse que uma vez Marie fez a
Torre Eiffel desaparecer sem querer. Meu pai riu e riu.
Ollie e Pierre estavam brincando juntos na caixa de areia. Eu
queria conversar com Cécile, mas ela estava lendo uma revista e
fiquei meio tímida.
Comentei:
— Gostei do seu maiô.
E ela respondeu:
— Fiz usando um feitiço. — Cécile olhou em volta para se
certificar de que ninguém estava vendo, então mexeu na bolsa e
tirou uma Smartvarinha. — Essa é a minha — disse ela. — Você
tem uma?
Não era possível! Minha mãe sempre falou que só posso ter
minha própria Smartvarinha quando crescer e tiver ido à Escola de
Fadas.
— Não — respondi. — Não tenho.
— Você ainda não é grande o suficiente — disse ela, com um
sorriso convencido. — Diferente de mim. Sei fazer muitos feitiços.
Fiquei com inveja. Queria uma Smartvarinha também.
Então, quando minha mãe apareceu, falei:
— Mãe, olha! Cécile tem uma Smartvarinha!
Mamãe ficou chocada.

— Meu Deus! — exclamou ela. — No nosso país, crianças não


podem ter Smartvarinhas. É contra o Livro de Regras das Fadas.
— Mas não estamos no nosso país — afirmei. — Posso usar?

— Não! — respondeu minha mãe. Ela não parecia muito


feliz. — Vamos à praia.
Fomos até a praia e brincamos nas ondas. Meu pai fingiu que
era um tubarão, e Ollie riu muito. Mas eu só conseguia pensar na
Smartvarinha. Queria muito, muito ter uma chance de usá-la.

Depois do almoço, meus pais entraram na piscina com Ollie. Cécile


e Pierre também estavam na piscina, assim como os pais deles. Eu
estava sentada na espreguiçadeira, sozinha.
A bolsa de Cécile estava no chão, e eu podia ver sua
Smartvarinha. Eu sabia que não deveria mexer nela. Não era minha.
Eu não tinha permissão.
Mas pensei: E se eu só experimentar rapidinho? Talvez ninguém
nem perceba.
Peguei a Smartvarinha. Era menor que a da mamãe, mas os
botões eram parecidos. Com meu toque, o aparelho começou a
brilhar e a crescer, transformando-se numa varinha. Posso fazer
uma Smartvarinha se transformar porque sou uma Fada-na-fila-de-
espera, mas não tenho permissão para fazer mágica. Sempre que
brinco com a Smartvarinha da minha mãe, ela desliga toda a função
mágica.
Tentei lembrar os códigos que a Fada Mamãe tinha aprendido
nas aulas de magia com Fenella pelo FadaTube. Eu me lembrei do
feitiço para fazer sorvete de flocos.
Pensei: Um sorvete de flocos seria gostoso. Poderia comer bem
rápido e ninguém ficaria sabendo.
Digitei 4-3-2, blip-blip-blop. Então apontei a Smartvarinha
e disse:
— Flocosridoo!
Mas nada aconteceu. Será que eu tinha errado o feitiço?

Então ouvi um grito alto, olhei em volta e levei um susto. A


piscina não era mais azul; estava amarelada. Cheia de sorvete de
baunilha com flocos de chocolate.

— Oba! — comemorou um menino. — Uma piscina de


sorvete! Essas são as melhores férias da minha vida!
— Essa piscina está fria e congelante! — disparou um senhor,
com raiva. — Quero meu dinheiro de volta!
Ninguém conseguia nadar direito no sorvete. Algumas crianças
começaram a lamber em vez de nadar. Outras mergulharam no
sorvete com a boca aberta. Minha mãe estava segurando Ollie no
colo, e ele começou a lambuzar a cara dela de sorvete.

Todos faziam sl urp- urpsl no sorvete. Uma menina


tentava comer seis flocos grandes de chocolate de uma só vez.
Mas então as pessoas começaram a sentir frio porque sorvete é
bem gelado. Pierre e Ollie começaram a chorar.
De repente, minha mãe levantou o olhar e me encarou. Eu ainda
estava com a Smartvarinha na mão. Tentei esconder rapidamente,
mas ela viu.

— Ella! — gritou mamãe. — O que você fez?


Todo mundo dentro da piscina estava coberto de sorvete e com
frio. Eu tinha estragado as férias dos outros, fora que não deveria
usar magia, e agora a mamãe ficaria muito zangada comigo.
Coloquei a Smartvarinha de Cécile de volta na bolsa o mais rápido
que consegui, depois corri até a praia e me escondi atrás de uma
cadeira. Queria ficar escondida para sempre.

Ao ouvir minha mãe me chamar, me encolhi mais. Não queria que


ela me achasse. Mas ela me encontrou, se sentou ao meu lado e
segurou minha mão.
— Poxa vida, Ella — disse mamãe.
Comecei a chorar, mas não olhei para cima.
— Eu estraguei as férias — falei.
— Não estragou, não — respondeu ela. — Não se preocupe.
Sempre trago Pó de Fada comigo nas férias e a mãe de Cécile
também. Consertamos tudo.

— Desculpa — falei, bem baixinho. — Queria ser adulta e fazer


feitiços de verdade.
— Você vai ser adulta e fazer feitiços de verdade um dia —
afirmou minha mãe, carinhosamente. — Mas ainda não é. Você é
muito nova para ter uma Smartvarinha. Nunca mais quero que mexa
em uma, nem mesmo a minha, a não ser que eu permita. Promete?
— Prometo — respondi.
— Cécile estava se exibindo — contou ela. — Aquela
Smartvarinha não era dela. É antiga. Cécile pode andar com ela,
mas não tem permissão para fazer feitiços. A mãe dela está
zangada por ela ter contado essa mentirinha.
— Ah — falei.
— Agora me diga uma coisa — pediu minha mãe. — Qual feitiço
você queria fazer?
— Eu queria um sorvete de flocos — expliquei.
— Que bom! — afirmou ela. — Olhe para cima, Ella.
Eu olhei. Mamãe estava segurando um sorvete de flocos na
casquinha para mim.
— Olha aí — disse ela, me entregando o sorvete. — Não precisa
ser fada para tomar sorvete nas férias.
Mamãe me abraçou e eu a abracei de volta.
— Marie e eu decidimos guardar nossas Smartvarinhas —
comentou ela. — Até o final das férias, seremos apenas duas
famílias normais. O que acha?
Pensei na mamãe e no aeroporto vazio. Pensei nas toalhas
brigando. Pensei na piscina de sorvete e nas pessoas congelando.
E sorri para minha mãe.
— Sim — concordei. — Acho uma ótima ideia.
VOERIDOO!
A melhor festa de aniversário da vida

U m dia acordei e dei de cara com mamãe e Ollie ao pé da


cama com um monte de balões. Por um instante, não entendi
nada... mas então lembrei! Era meu aniversário!
— Feliz aniversário, querida! — exclamou ela, me dando um
beijo. — Você vai ter um dia muito animado hoje. Waffles de café da
manhã, presentes para abrir... e, à tarde, temos sua festa!
— Ipiiii-ipiiii-ipiiii! — disse Ollie, então abriu um enorme
sorriso de gengiva. Decidi que ele queria dizer “Feliz aniversário,
Ella”.

A festa era num grande salão. Minha mãe tinha convidado todo
mundo e feito um bolo cor-de-rosa. Além disso, havia um mágico.
Ela me explicou que o mágico não podia fazer magia de verdade, só
de mentira. Mas ainda seria superdivertido.
Era uma festa à fantasia, então todos estavam a caráter. Fui
vestida de palhaço e Lenka foi de astronauta, enquanto Tom estava
fantasiado de lagarta.
— Eu queria mesmo ser uma astronauta — comentou Lenka. —
Voaria até a lua.
— Eu seria uma lagarta espacial — disse Tom. — Perseguiria
você ao redor da lua.
— E eu seria um palhaço espacial — falei.
Nós três perseguimos um ao outro pela sala, fazendo barulhos
de monstros espaciais. Então Zoe, minha Não-Melhor-Amiga,
chegou. Ela estava vestida de princesa e não se juntou à
brincadeira. Só ficou perto da porta, nos encarando de um jeito
horrível. Zoe é minha Não-Melhor-Amiga porque diz coisas
maldosas e empurra pessoas. Ela espera até que a professora não
esteja olhando, então empurra os colegas e sai correndo. Mamãe
diz que Zoe precisa amadurecer. Eu acho que ela simplesmente
precisa parar de empurrar os outros e de ser má.

Meus pais estavam na festa também, vestidos de pirata. Tia Jo


estava fantasiada de gato, com orelhas e cauda, e vovó estava de
vovó.
O mágico começou sua apresentação e nós nos sentamos para
assistir. Mas não era muito boa. Ele fez uma moeda desaparecer, só
que depois não conseguiu achá-la de novo. Depois disso, o mágico
tentou fazer um truque com o baralho, mas derrubou todas as cartas
no chão, escorregou nelas e bateu a cabeça.
— Que trágico — comentou Tia Jo, balançando a cabeça.
— Será que ele não consegue fazer melhor que isso? —
perguntou vovó.
— Shhh! — interferiu minha mãe. — Vão deixar o mágico triste.
O homem tinha uma varinha mágica, mas não parecia funcionar.
Ele disse “Abracadabra!”, mas nada aconteceu.
O mágico estava com uma cara superinfeliz. Ele tentou puxar um
coelho da cartola, mas o chapéu estava vazio.
— Desisto — disse ele, sentando-se no chão. — Não acho
aquele coelho em lugar nenhum.
Todos os meus amigos começaram a rir do mágico. Até Tom
estava rindo. Comecei a rir também. Ele não era muito bom em
fazer mágica, mas era engraçado.
— Faça alguma mágica! — gritou Tom para ele.
— Estou tentando! — respondeu o mágico. — Fazer mágica é
muito difícil! — Ele apontou a varinha de condão, mas nada
aconteceu. — Viu?
— Muito trágico — comentou Tia Jo, erguendo a sobrancelha
para minha mãe. — Humanos normais não deveriam tentar fazer
magia.
— Ele parecia bom pelo site — respondeu mamãe, com uma
cara preocupada.
— As crianças não vão se importar — disse meu pai, então
olhou para o relógio. — Já está na hora do chá?
Mas papai estava errado sobre as crianças não se importarem,
porque minha Não-Melhor-Amiga Zoe veio até mim, sorrindo de uma
forma má, e disse baixinho em meu ouvido:
— Essa festa está muito ruim. Muito ruim mesmo.
— Não está, não — retruquei.
— Está, sim — insistiu Zoe. — Minha festa foi muito melhor.
Tinha kart e cachorro-quente. Sua festa está uma droga.
— O que você disse? — Uma voz alta a interrompeu. — Essa
festa não está uma droga! — Era minha mãe e ela estava
implacável.
Zoe se afastou, com uma cara um pouco assustada.
— É, essa festa não está uma droga! — concordou Tia Jo,
também com uma expressão implacável.
— Não, certamente não está! — gritou vovó. Ela olhou para
minha mãe e para Tia Jo. — Devemos?
Havia uma pilha de cadeiras no canto do salão. Vovó, Tia Jo e
mamãe foram para trás delas, onde ninguém podia vê-las. Elas
bateram os pés três vezes, depois as mãos e rebolaram um
pouquinho. Segurei a respiração e observei.
— Marshmallow! — disse minha mãe.
— Sorvete de limão! — disse Tia Jo.
— Bala de menta superforte! — disse vovó.

PUFF!
E... De repente as três viraram fadas com asas
brilhantes. Fada Mamãe estava com sua coroa prateada, Fada Tia
Jo, com a de diamantes, e Fada Vovó usava a dourada com pedras
azuis. Quando você se torna uma fada adulta, precisa escolher sua
Coroa de Fada e usá-la para sempre. A minha vai ser cor-de-rosa e
prateada com diamantes cravejados.
Papai encarou as três.
— Sério? — disse ele. — Acham isso uma boa ideia? Todos vão
ver vocês!
— Vão achar que estamos fantasiadas — respondeu Tia Jo.
— Só dessa vez, porque é aniversário da Ella. — Vovó deu uma
piscadela para mim. Então ela apontou a varinha para o mágico. —
Feitiçoridoo! — gritou.
Imediatamente, centelhas azuis saíram das orelhas do mágico,
depois lufadas de fumaça vermelha.

—Óóó! — dispararam todos. O mágico mexeu sua varinha


de condão e ela começou a tocar uma música. Ele a sacudiu de
novo e dela surgiram bolhas. Então, mais uma sacudida, e balas
saltaram da ponta da varinha.
— Eu sou mágico! — disparou ele. — Sou
mágico de verdade!
O mágico estava muito empolgado. Ele começou a apontar a
varinha para todos os cantos. Seu coelho de brinquedo se
transformou em um coelho de verdade e começou a saltar pelo
chão. As cartas de baralho construíram uma torre sozinhas. Um fio
de lenços saiu da manga do mágico e começou a voar pelo salão
como um pássaro.

— Que incrível! — observou Lenka.


— Maravilhoso! — disse Tom, batendo palmas em seguida.
Zoe não disse nada, mas estava observando tudo com os olhos
bem arregalados.
Então Tia Jo apontou sua Smartvarinha e gritou:
— Voeridoo!
Eu podia sentir meu corpo começando a flutuar. Me sentia como
uma bolha. Estava voando! Todos os meus amigos estavam voando
também, e os ouvi arquejar e dar gritinhos de empolgação. A
sensação era como se estivéssemos nadando no ar. Todos nós
estávamos rindo e chutando e acenando um para o outro. Papai e
mamãe estavam voando de mãos dadas, e ele disse:
— Isso me traz lembranças. — Em seguida, a beijou. Meu pai
estava bem feliz. Às vezes acho que ele só finge não gostar de
magia.

— Uhul! — gritou Tom quando passou flutuando. — Essa é a


melhor festa da vida! — Ele começou a chutar um balão de hélio. —
Vamos jogar futebol voador!

Todo mundo estava voando e chutando os balões de hélio. Ollie


flutuava de cabeça para baixo, dizendo “Ipiiii-ipiiii-ipiiii”. A
única pessoa que não estava voando era o mágico. Ele estava
sentado no chão, encarando a varinha de condão e dizendo:
— Estou sonhando? Será que sou realmente, verdadeiramente
mágico?
Então flutuei até Fada Mamãe, Fada Vovó e Fada Tia Jo. As três
estavam diante da mesa de chá, olhando meu bolo de aniversário
cor-de-rosa. Fada Mamãe parecia meio zangada.
— Qual é o problema com o bolo? — perguntou ela para Fada
Vovó e Fada Tia Jo. — Eu mesma que fiz.
— Poderia ser maior — respondeu Fada Vovó.
— E mais gostoso — comentou Fada Tia Jo.
— E mais grandioso.
— E com mais glacê cremoso e confeitos prateados e jujubas —
sugeriu Fada Tia Jo. — Posso fazer isso? Tenho um feitiço de bolo
ótimo. Ganhou um prêmio na Feira das Fadas.
— Não! — respondeu Fada Mamãe, ainda mais zangada. — Eu
faço!
Ela digitou um código na Smartvarinha, blip-blip-blop,
balançou o aparelho no ar e gritou:
— Boloridoo!
Imediatamente, o bolo começou a crescer. Cresceu mais e mais
e mais.
— Pareridoo! — disse Fada Mamãe quando o bolo estava

da minha altura. Mas ele não parou de aumentar. — Pare! —


gritou ela. — Pareridoo!
Mesmo assim, o bolo não parou. Cresceu tanto que quase
chegou ao teto. Era como uma montanha de bolo coberta de glacê
de morango, com confeitos prateados e jujubas. Com todos voando,
as pessoas começaram a dar de cara no bolo, e a cobertura cor-de-
rosa se espalhou por todos os cantos.
De repente, eu me lembrei de uma das aulas com Fenella a que
mamãe assistiu. Então voei até o ouvido dela e sussurrei:
— Fada Mamãe, tente dizer “Pareridoo, boloridoo”.
— Pareridoo, boloridoo! — gritou ela, e enfim o bolo
parou.
— Muito bem, Fada Mamãe! — falei, rapidamente. — Você
conseguiu!
Eu queria que a vovó e a Tia Jo achassem que a Fada Mamãe
era muito incrível em fazer mágica, porque ela é. Pelo menos de vez
em quando.
— Agora está muito grande — disse Tia Jo.
— Está perfeito — comentei. — Eu queria um bolo desse
tamanho. Não é, Fada Mamãe?
— Mas todo mundo ficou preso no glacê! — observou Fada
Vovó.
Era verdade. Todo mundo que tinha dado de cara no bolo estava
preso. Agora era um bolo cor-de-rosa decorado com crianças!

— Hmmm, hmmm, hmmm! — fez Tom. Todo o


rosto dele estava coberto de glacê cor-de-rosa, e ele se lambia para
limpar. — Amei esse bolo de aniversário!
Todos estavam rindo e comendo cobertura e jogando bolas de
glacê uns nos outros.
— É o melhor bolo do mundo — falei, dando um abraço na Fada
Mamãe.
— Será que fiz o bolo aumentar também? — disse o mágico,
chocado. — Será que sou realmente tão mágico?

Todos nós ficamos ao redor da montanha de bolo, a Fada Mamãe


acendeu minhas velas e todo mundo cantou “Parabéns”. O bolo era
grande demais para cortar, então cada pessoa apenas tirou
pedações com as mãos.
Depois, nós nos sentamos e o mágico leu uma história enquanto
Fada Mamãe, Fada Vovó e Fada Tia Jo limpavam tudo. Então Fada
Mamãe disse “Maçã do amor!”, Fada Vovó disse “Panqueca!” e
Fada Tia Jo disse “Torta de mirtilo!”, e as três voltaram ao normal.
Quando o mágico terminou de contar a história, Tia Jo jogou um
pouco de Pó de Fada nele para que se esquecesse da magia que
tinha visto. Por dez segundos, o mágico ficou parado. Ele tinha meio
que dormido. Então...
— Pronto! — disse Tia Jo, e ele acordou.
— O que houve? — perguntou o mágico, piscando. — A festa
acabou? Fiz alguma mágica? Funcionou?
— Não acho que você deva continuar tentando fazer mágica —
comentou Tia Jo. — Não é o trabalho adequado para você. Tem
alguma outra coisa que sempre quis fazer?
O mágico suspirou.
— Eu sempre quis ser condutor de trem — contou ele. — Talvez
eu faça isso então. — Ele tirou o coelho da bolsa e olhou para mim.
— Não vou mais precisar desse coelho. Gostaria de ganhá-lo como
presente de aniversário?
— Ah, sim! Quero, por favor! — falei. Cruzei os dedos das mãos
e dos pés, torcendo para que minha mãe deixasse.
— Tudo bem, Ella — disse ela, sorrindo. — Pode ficar com o
coelhinho.
Fiquei tão, tão feliz. Finalmente eu tinha um animal de
estimação. Tinha um coelho de estimação!

Então chegou a hora de todos irem para casa.


— Essa foi a melhor festa do mundo! — comentou Tom
enquanto vestia o casaco. — Mesmo, mesmo, mesmo.
— Não foi, não — disse Zoe. — Minha festa com kart foi a
melhor.
— Não foi — sussurrou Tom em meu ouvido. — Foi a sua, Ella.
Zoe me encarou com olhos semicerrados e zangados. Ela olhou
para mim, depois para minha mãe, Tia Jo e vovó.
— Como você fez todo mundo voar? — questionou ela. — Como
fez o bolo crescer tanto? Por acaso é mágica ou algo assim?
Eu não sabia o que dizer. Não posso contar para ninguém que
minha mãe é fada.
Mas, felizmente, vovó a ouviu. Ela veio diretamente até nós e
disse:
— Foi o mágico. Ele tem muitos feitiços especiais escondidos na
manga. Agora vá e pegue seu brinde.
— Mas sua mãe tinha asas — lembrou Zoe. — Assim como sua
tia e sua vó. Elas se pareciam com fadas. Por acaso são fadas de
verdade?
— Eram fantasias! — respondeu Tia Jo. — Não somos fadas de
verdade, assim como você não é uma princesa de verdade.
Então a mãe de Zoe apareceu na porta e minha Não-melhor-
amiga correu para ela.
— A mãe da Ella era uma fada — contou Zoe. — Ela era, de
verdade mesmo. Ela se transformou numa fada. Com asas.
— Que incrível, querida! — respondeu sua mãe. — Adoro
fantasias.
— E nós voamos! E o bolo cresceu e cresceu. Era gigante. Elas
fizeram magia. Magia real, de verdade.
— Maravilhoso! — comentou a mãe de Zoe. — O mágico deve
ter usado uns truques muito espertos. Que festa divertida. Já falou
“Obrigada por terem me recebido”?
Zoe pegou a sacola de brindes com minha mãe e disse:
— Muito obrigada pela linda festa. — Então ela veio até mim e
me encarou novamente com seus olhinhos pequenos e cheios de
raiva. — Eu vou descobrir a verdade — prometeu, em voz baixa,
para que mais ninguém ouvisse. — Sei que sua mãe é uma fada de
verdade. E essa festa teve magia de verdade. Não teve?
Pensei no mágico, nas faíscas azuis, nas bolhas e no coelho de
verdade. Pensei sobre o voo e no bolo-montanha. Pensei em todos
dizendo como tinha sido a melhor festa de aniversário da vida. E
sorri.
— Obrigada por vir, Zoe — falei. — Espero que você tenha
gostado.
TESTE SUAS
Vire a página e divirta-se com as atividades!
DESEMBARARIDOO!
Ah, não! Ella pegou a Smartvarinha da mãe emprestada e
embaralhou essas palavras! Ajude a resolver esse caos mágico e
desembaralhe as letras:
(Veja as respostas na página 175.)

ETASF À ATSANFAI

ÓP ED DAAF

ÇAMÃ OD MARO
ENCONTRERIDOO!
Ajude Ella e a Fada Mamãe a encontrar o papagaio da Sra. Lee!
(Veja a resposta na página 175.)
PREENCHARIDOO!
Você consegue decifrar essas palavras das aventuras de Ella?

HORIZONTAL
Ella faz uma dessas para ir à França.

Fada Mamãe acidentalmente transforma Ella num desses!

Fada Mamãe faz um desses ganhar vida!

VERTICAL
A Sra. Lee tem um, mas ele foge!

As mamães de Ella e de Cécile tiveram uma briga usando


isso!
A Fada Mamãe da própria mamãe!

Ele se apresenta na festa de Ella, mas precisa de uma

ajudinha.
(Veja as respostas na página 175.)
RECEITA DE SORVETE
Você não precisa de uma Smartvarinha para fazer sorvete — faça o
seu em casa com essa receita simples! Mas peça ajuda a um
adulto, especialmente ao usar a batedeira.
(O adulto não precisa ser uma fada!)

INGREDIENTES
Uma lata de leite condensado
2 colheres de chá de extrato de baunilha
600ml de creme de leite fresco

PARA MAIS SABOR!


Chocolate: 150g de cacau em pó sem açúcar
Morango: 300g de morangos amassados (e peneirados, se preferir)
MODO DE PREPARO

Coloque o leite condensado, o creme de leite e o extrato


de baunilha numa tigela grande. Acrescente o cacau em
pó ou os morangos se quiser sabores diferentes!

Bata a massa com a batedeira por cerca de 5–6 minutos,


até formar picos.

Espalhe a massa numa vasilha ou num pote que possa ir


ao congelador. Cubra e congele por umas 8 horas, até
ficar firme. Leve para a geladeira por 15 minutos antes de
servir para ficar mais macio.
CRIE SUA COROA DE FADA
Quando for adulta, Ella poderá escolher sua própria Coroa de Fada.
Desenhe sua coroa abaixo — lembre-se de colorir!
RESPOSTAS
DESEMBARALHERIDOO!
FESTA À FANTASIA PÓ DE FADA MAÇÃ DO
AMOR

ENCONTRERIDOO!
PREENCHARIDOO!

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