O Corpo

Existia uma fazenda que ficava isolada em uma propriedade distante de uma
pequena cidade no interior do nordeste, há muito tempo atrás. Histórias e
relatos sobrenaturais de andarilhos que pediam abrigo na propriedade
rodeavam uma casa velha que já estava abandonada pelo fazendeiro há
décadas.

As pessoas chegavam pedindo abrigo para passar a noite, e o fazendeiro

oferecia a casa.

- Tem essa casa velha aí, mas todos que tentam dormir correm e não
amanhecem o dia, o povo diz que é mal-assombrada, mas eu nunca vi nada
não.

Mesmo assim, as pessoas insistiam em dormir, já que estavam sem teto.

Armavam a rede, mas quando o relógio marcava meia-noite, ouviam-se uns
gemidos no teto da casa e, ao olharem para cima, encontravam um corpo
pendurado de cabeça para baixo, gemendo e dizendo que iria cair. Assustadas,
as pessoas saíam correndo; no outro dia, quando o fazendeiro chegava, só
encontrava a rede vazia.

Dias depois, em uma tarde, chegou um homem corajoso à propriedade, já

sabendo dos relatos, pedindo para dormir na casa velha. O fazendeiro contou a
mesma história, mas mesmo assim o andarilho insistiu em ficar. Esperou a
noite chegar, armou a rede e, quando o relógio bateu meia-noite, ele escutou
um barulho gemendo na telha; ao olhar para cima, lá estava o corpo pendurado
de cabeça para baixo, gemendo "Eu vou cair, eu vou cair". O homem
respondeu "caia"; em seguida, caiu a cabeça do corpo no chão, fazendo um
barulho oco e seco. A voz continuou a falar "eu vou cair, eu vou cair", e a cada
vez que o homem respondia, se desprendia uma parte do corpo, restando
apenas uma perna pendurada. A voz retornou a ecoar pela casa: "eu vou cair,
eu vou cair". "Caia", diz o homem, e quando a última parte do corpo caiu em
cima dos membros que estavam no chão, aquilo se transformou em uma botija
de ouro. O homem pegou tudo e colocou embaixo do braço, indo embora no
meio da madrugada. Logo cedo, o fazendeiro levantou e foi ver se o homem
ainda estava dormindo, encontrou a rede vazia e uma corda pendurada no teto
da casa.