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I Série.
Luanda, 2022
TEXTOS DE APOIO
GÉNERO NARRATIVO
CATEGORIAS DA NARRATIVA
Quanto à presença
Quanto à Ciência
2
Quanto à posição
Acção, personagens,
3 Caracterização
Texto n. 1
O Baile
O rapaz perguntou:
- Quer dançar?
- Não sei dançar – respondeu ela duramente. O rapaz tornou a sorrir e disse:
- É fácil, eu ensino-lhe.
Começaram a dançar. Lúcia tropeçava nos próprios passos. Tornou a dizer:
- Não sei dançar. _ E acrescentou: - É melhor pararmos.
Mas ele continuou a dançar, olhou-a, sorriu de novo e disse:
- Não faz mal. Eu gosto de dançar consigo mesmo que dance mal.
O rosto de Lúcia iluminou-se. Não era só o elogio daquele rapaz bonito que a alegrava. Era, posta nela, a
atenção de alguém que pertencia ao mundo do brilho e poder onde ela queria penetrar.
Deixou de tropeçar, começou a seguir a música, sorrir, inclinando a cabeça para o lado. Mas foi então que a
coisa mais temida aconteceu. Estavam agora a dançar no meio da sala, quando o sapato esquerdo escorregou do pé
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de Lúcia. Ela sentiu-o escorregar, mas, levada pelo movimento da dança, não conseguiu parar logo para o segurar.
Olhou e viu o sapato separado de si no meio da sala. Ia a dizer: “É meu”, quando uma rapariga começou a rir e
perguntou:
- O que é aquilo? Mas o que é aquilo?
Lúcia calou-se. Várias pessoas olharam. Riam. As palavras cruzavam-se no ar.
- Um sapato!
- Todo roto!
- De quem será?
- Não é de ninguém. É uma partida?
- Quem terá tido esta ideia?
- Talvez não seja partida. Talvez seja de alguém que o perdeu.
- Ninguém é capaz de vir para um baile com um sapato daqueles.
O sapato estava miserável. Com os movimentos do pé de Lúcia, a seda do forro tinha rebentado na
biqueira e no salto. Algumas pessoas não viam ou fingiam não ver, mas outras olhavam, comentavam.
Lúcia dançava muito direita em equilíbrio na ponta do pé descalço que o vestido comprido escondia.
Quando a música acabou e os pares abandonaram o espaço da dança, o sapato ficou sozinho no centro da sala,
esfarrapado e miserável sobre o chão polido.
Lúcia e o rapaz tinham-se sentado num sofá. Ela não sabia se ele tinha ou não compreendido que o sapato
era dela. Não ousava encará-lo.
A dona da casa chamou um criado e murmurou qualquer coisa.
O criado foi buscar as pinças que estavam penduradas ao lado do fogão e agarrou com elas o sapato e
levou-o. A música recomeçou a tocar.
O rapaz perguntou qualquer coisa à Lúcia, mas ela só respondeu:
- Tenho sede.
- Vou-lhe buscar uma bebida – disse ele. Levantou-se e saiu pela porta da esquerda.
- Compreendeu que o sapato era meu – pensou ela – e arranjou uma maneira de se ir embora.
Uma das raparigas que conhecera no princípio da noite veio sentar-se junto dela: olhou Lúcia na cara e
perguntou-lhe com ar trocista:
- De quem seria o sapato?
- Não sei – disse Lúcia.
- Eu sei – respondeu a rapariga.
E, rindo, afastou-se e dirigiu-se para um grupo de amigas.
- Tenho de sair daqui depressa, depressa – murmurou Lúcia. Levantou-se e saiu da sala.
Sophia de Mello B. Andresen, in Histórias da Terra e do Mar.
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Compreensão do texto
2. Identifique os sucessivos estados de espírito revelados por ela, indicando os respectivos momentos.
3. Atente na frase: “Era, posta nela, a atenção de alguém que pertencia ao mundo do brilho e poder...”
Texto n. 2
A astúcia da velha
Era uma vez uma velha que vivia no campo com um netinho. Uma noite, acendeu o lume para fazer
a ceia e disse ao pequeno que fosse debaixo da cama buscar uma alcofinha que lá estava com ovos. O rapaz
foi, mas começou de lá a gritar, cheio de medo:
_Minha avó, venha cá ver! Estão aqui uns olhos a luzir. Venha cá, venha cá!
Ela foi ver e encontrou lá um homem com cara de ladrão. Não se deu por achada e disse:
_Ai, não te atormentes! É um pobrezinho que se recolheu na nossa casa! Venha cá, irmãozinho, deve
estar com muito frio. Venha aquecer-se ao meu lume e comeremos uns ovinhos.
O homem saiu de lá, agradecendo e dizendo que estava ali por causa do frio. Acrescentou que tinha
visto a porta aberta e por isso entrara. A velha dava-lhe toda a razão e foi-o levando para a cozinha.
Sentaram-se ao pé da chaminé e cearam todos três. Depois contou a velha:
- Meu irmãozinho, agora vou entretê-lo um bocado de tempo enquanto não adormecemos, contando-
lhe alguma coisa com respeito à minha família. Começando por meu pai, que era muito bom homem, mas
muito falto de paciência na doença: sofria com resignação, menos na doença. Qualquer coisa que tivesse, por
pequena que fosse, custava-nos imenso a aturar! Pois um dia apareceu-lhe um tumor, que chegou a termos de
ir à cidade consultar um médico. Não estando ainda o tumor capaz de ser operado, mandou-o lá voltar dois
dias depois. Como era muito impaciente, nós pedimos-lhe muito que não fizesse barulho. Bem! Daí a dois
dias voltámos lá com ele e o médico pegou na lanceta. Apenas lhe levantou a pele, começou a gritar: «Aqui-
d'el-rei! Aqui-d'el-rei!»
E a velha gritava com quanta força tinha.
O ladrão, aflito, dizia-lhe:
- Senhora, não grite tanto que podem ouvir os vizinhos!
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- Não há dúvida! Olhe, meu irmãozinho, já tenho contado esta história a tantos hóspedes que aqui
têm pousado que os vizinhos já se habituaram. Pois, como dizia, acomodámos meu pai e tornou o médico a
espetar a lanceta. Não imagina o senhor o que foi ali! Era uma gritaria que não se parava!
E a velha insistia com toda a força:
- Aqui-d'el-rei! Aqui-d'el-rei! Aqui-d'el-rei que me matam!
E o homem muito aflito:
- Não grite assim, tiazinha! Olhe os vizinhos!
- Isso, sim! Descanse, que não há novidade! Depois foi preciso espremer o tumor. Já se vê que não
podia ficar assim, e então é que foi o bom e o bonito!
E a velha berrava cada vez mais alto. Ainda ela não tinha acabado a história e já a vizinhança lhe
estava a bater à porta. E ela, muito descarada, foi abrir:
- Que é isto, vizinha, o que se passa?
- Ai, não é nada! Era eu que estava a contar uma história a este irmãozinho.
E, muito baixo, foi informando:
- Agarrem aquele homem, que é um ladrão. Estava escondido debaixo da minha cama!
Deitaram-lhe a mão e foi levado para a cadeia. E a velha livrou-se da morte e ao neto também, graças
à sua esperteza e coragem.
Viale Moutinho, Contos
Compreensão do texto
1. Por que a velha não se deu por achada quando viu o ladrão? Justifique
4. A dada altura, o homem começou a ficar preocupado. Teria ele razões para tal? Fundamente.
Texto n. 3
A Revelação
O menino parou de mastigar. Ficou suspenso, a boca cheia de jinguba surripiada na panela que estava
sobre a fogueira. A voz da mãe repetiu o chamamento:
– Candimba, vem aqui.
O menino levantou-se, engolindo rapidamente a massa da jinguba e saliva. Aproximou-se em passo
lento, mãos nos bolsos dos calções, cabeça baixa. A mãe viu-me a roubar na panela e vai castigar-me? O semblante
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da mulher aquietou-se. Não tinha os olhos que fazia quando descobria uma falta. Era então para um recado, só
podia ser. E ele preferia estar descansado à sombra da mandioqueira, vigiando a mãe à espera de uma oportunidade
para encher os bolsos com a jinguba.
– Candimba, vai à loja do Sr. Ferreira. Compra sal. A mãe entregou-lhe uma caneca pequena e
algumas moedas que tirou do pano. O menino recebeu as moedas, enfiou-as nos bolsos. Com a caneca na mão,
perguntou aborrecido:
– Sal acabou, mãe?
– Se te mando é porque não há. Vai depressa e volta logo. Não te quero ver com os vadios de rua que
não trabalham.
– Posso tirar um bocadinho? Só para provar.
E o menino olhava gulosamente para a jinguba descascada, repousando num tabuleiro. Em seguida, a
mãe deitaria os bagos na panela de açúcar em calda, mexendo com a colher. Depois de deixar secar, dividiria em
pacotinhos de papel de seda que o miúdo venderia na cidade. Agora era a última ocasião de poder saborear a
jinguba. Por isso, os olhos luziram quando entendeu a resposta:
– Bom, tira uma mãozada, mas anda depressa. Candimba encheu os bolsos precipitadamente, saiu a
correr.
À entrada da loja, ouviu a voz irada de Sr. Ferreira. Discutia com Mariana, rapariga que casou no ano
passado com Chico da serração. Pôs a cabeça na porta, os olhos muito grandes e redondos, espiando. O branco do
balção não reparou nele. Estava vermelho, gesticulava, tudo acompanhado de muitos berros. Mariana chorava de
costas para a porta, tapando a boca com o antebraço. O menino ouviu-a a suplicar:
– Sr. Ferreira, meu marido var saber. Filho sai mulato. Chico perceberá logo que não é dele. Ele mata-
me.
– Quero lá saber! Que culpa tenho eu? Agora avia-te. Que provas tens que o filho é meu? Ainda não
nasceu! Como podes saber?
- Sei, sim, juro com Deus. Senti mesmo!
Miúdo Candimba esqueceu a jinguba na boca aberta. Os assustados olhos tudo perscrutando. Não
percebia bem a conversa, pois era muito pequeno para compreender imediatamente. Mas sentia algo de terrível nas
palavras trocadas.
– Ouve lá. Julgas que me levas assim? Como podes ter sentido? Como se eu fosse parvo… O filho é
do teu marido, ficaste com ele muito mais vezes do que comigo.
– Mas eu sei. Eu sei! Juro. Vai sair mulato.
– E depois? E se fui eu que o fiz? És casada com o teu homem, não tenho nada com isso.
O menino já percebera tudo. Fez-se mais pequenino, encostado à porta. A mão apertava nervosamente
a caneta de lata. Viu Mariana erguer decididamente a cabeça, passar os dedos pela barriga inchada, falar com raiva:
– Sr. Ferreira prometeu. Dou-te vestidos, vais mesmo à cidade. Tiro-te da sanzala, dou-te comida boa,
brincos e pulseira. Sr. Ferreira prometeu mesmo. O teu filho vai ser meu no papel, dou-lhe educação. Não vai ser
menino de sanzala.
– Então? Prometi? Alguém ouviu? Só tu mesmo. Vai dizer ao teu marido. Vê lá se ele acredita. Digo-
lhe que é mentira, que foste tu que me pediste. Vai à polícia, se eles acreditam em ti ou em mim.
Maria abateu-se novamente sobre o balção. Os soluços voltaram a sacudir-lhe o corpo. Miúdo
Candimba, perturbado, chegou-se mais para dentro da loja, embora a sua vontade fosse fugir como um mbambi.
Vou dizer ao meu marido. Ele mata-me, mas depois vem-lhe matar a si. O comerciante riu-se.
Desferiu uma palmada no balção para indicar que já se fartava da discussão. Falou com rancor: que venha! Tenho
uma espingarda à espera dele. Dou-lhe tantos tiros que fica como um Cristo!
Miúdo Candimba sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha ao ouvir a ameaça. E voltou-se assustado
quando, repentinamente, uma mão lhe pousou no ombro.
– Que fazes aqui na porta? Deixa-me entrar.
O miúdo sentiu os olhos do comerciante fixos nele. E Mariana disfarçando o choro. O menino desatou
a fugir.
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Dirigiu-se à casa para que concorriam as mulheres e as crianças. A casa de Mariana. Lá chegado,
percebeu imediatamente o que se passara, Mariana morrera. Matou-se. Uma facada mesmo no coração.
Miúdo Candimba sentiu um frio invandi-lo. Depois um calor quente. Era uma fogueira que nele se
instalara.
Pepetela, in Contos de Morte (texto com cortes)
Compreensão do texto
2. Caracterize, com dois adjectivos, o estado anímico de Mariana perante a situação descrita no texto.
3. Apresente as razões por que Mariana se envolvera com Sr. Ferreira. Justifique com uma frase do texto.
Texto n. 4
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Compreensão do texto
Texto n. 5
Frei Simão
As notas de frei Simão nada dizem do lugar do seu nascimento nem do nome de seus pais. O que se
pôde saber dos seus princípios é que, tendo concluído os estudos preparatórios, não pôde seguir a carreira das
letras, como desejava, e foi obrigado a entrar como guarda-livros na casa comercial de seu pai.
Morava em casa de seu pai uma prima de Simão, órfã de pai e mãe, que haviam por morte deixado
ao pai de Simão o cuidado de a educarem e manterem. Quanto ao pai da prima órfã, tendo sido rico, perdera
tudo ao jogo e nos azares do comércio, ficando reduzido à última miséria.
A órfã chamava-se Helena; era bela, meiga e extremamente boa. Simão, que se educara com ela, e
juntamente vivia debaixo do mesmo teto, não resistiu às elevadas qualidades e à beleza de sua prima.
Amaram-se. Em seus sonhos de futuro contavam ambos o casamento, coisa que parece mais natural do
mundo para corações amantes.
Não tardou muito que os pais de Simão descobrissem o amor dos dois. Ora, é preciso dizer, apesar de
não haver declaração formal disto nos apontamentos do frade, é preciso dizer que os referidos pais eram de
um egoísmo descomunal. Davam de boa vontade o pão da subsistência a Helena; mas casar o filho com a
pobre órfã é que não podiam consentir. Tinham posto a mira numa herdeira rica, e dispunham de si para si
que o rapaz se casaria com ela.
Uma tarde, como estivesse o rapaz a adiantar a escrituração do livro mestre, o pai entrou no
escritório com ar grave e risonho ao mesmo tempo, e disse ao filho que largasse o trabalho e o ouvisse. O
rapaz obedeceu. O pai falou assim:
- Vais partir para a província. Preciso de mandar umas cartas ao meu correspondente Amaral, e como
sejam elas de grande importância, não quero confiá-las ao nosso desleixado correio. Queres ir no vapor ou
preferes o nosso brigue? Obrigado a responder-lhe, o velho comerciante não dera lugar que seu filho
apresentasse objeções. O rapaz enfiou, abaixou os olhos e respondeu:
- Vou onde meu pai quiser.
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O pai agradeceu mentalmente a submissão do filho, que lhe poupava o dinheiro da passagem no
vapor, e foi muito contente dar parte à mulher de que o rapaz não fizera objeção alguma.
Nessa noite, os dois amantes tiveram ocasião de encontrar-se a sós na sala de jantar. Simão contou a
Helena o que se passara. Choraram ambos algumas lágrimas furtivas, e ficaram na esperança de que a
viagem fosse de um mês, quando muito.
À mesa do chá, o pai de Simão conversou sobre a viagem do rapaz, que devia ser de poucos dias.
Isto reanimou as esperanças dos dois amantes. O resto da noite passou-se em conselhos da parte do velho ao
filho sobre a maneira de portar-se na casa do correspondente. Às dez horas, como de costume, todos se
recolheram aos aposentos.
Os dias passaram-se depressa. Finalmente raiou aquele em que devia partir o brigue. Helena saiu de
seu quarto com os olhos vermelhos de tanto chorar. Interrogada bruscamente pela tia, disse que era uma
inflamação adquirida pelo muito que lera na noite anterior. A tia prescreveu-lhe abstenção da leitura e
banhos de água de malvas.
Quanto ao tio, tendo chamado Simão, entregou-lhe uma carta para o correspondente, e abraçou-o. A
mala e um criado estavam prontos. A despedida foi triste. Os dois pais sempre choraram alguma coisa, a
rapariga muito.
Quanto a Simão, levava os olhos secos e ardentes. Era refratário às lágrimas, por isso mesmo padecia
mais.
O brigue partiu. Simão, enquanto pôde ver terra, não se retirou de cima; quando finalmente se
fecharam de todo as paredes do cárcere que anda, na frase pitoresca de Ribeyrolles, Simão desceu ao seu
camarote, triste e com o coração apertado. Havia como um pressentimento que lhe dizia interiormente ser
impossível tornar a ver sua prima. Parecia que ia para um degredo.
Chegando ao lugar do seu destino, Simão procurou o correspondente de seu pai e entregou-lhe a
carta. O Sr. Amaral leu a carta, fitou o rapaz e, depois de algum silêncio, disse-lhe, volvendo a carta:
- Bem, agora é preciso esperar que eu cumpra esta ordem de seu pai. Entretanto venha morar para a
minha casa.
- Quando poderei voltar? Perguntou Simão.
- Em poucos dias, salvo se as coisas se complicarem.
Machado de Assis, in Contos Fluminenses
Compreensão do texto
2. Apresente as razões por que os pais de Simão impediam sua relação com Helena.
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4. Que expectativa tinha Simão em relação ao seu futuro com Helena? Transcreva a frase do texto que
Texto n. 6
A Estrela
Um dia, à meia-noite, ele viu-a. Era a estrela mais gira do céu, muito viva, e a essa hora passava
mesmo por cima da torre. Como é que a não tinham roubado? Ele próprio, Pedro, que era um miúdo, se a
quisesse empalmar, era só deitar-lhe a mão. Talvez depois a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E
daí, se calhar, talvez a viesse a dar à mãe para enfeitar o cabelo. Devia-lhe ficar bem, no cabelo.
De modo que, nessa noite, não aguentou. Meteu-se na cama e quando calculou que o pai e a mãe já
dormiam, abriu a janela devagar e saltou para a rua. Com sete anos, ele estava treinado a subir às oliveiras
quando era o tempo dos ninhos. Assim que se viu na rua, desatou a correr até à torre, porque o medo vinha a
correr também atrás dele. A igreja ficava no cimo da aldeia e a aldeia ficava no cimo de um monte. Mas
conseguiu e agora estava ali. Olhou a estrela para ganhar coragem, ela brilhava, muito quieta. A torre era
muito alta e tinha uma porta para a rua. Pedro empurrou-a um pouco e viu que rangia pouco, mas o silêncio
era muito e parecia, por isso, que também a porta rangia muito. E teve medo. Reparou mesmo que estava a
suar, e não devia ser da corrida, porque este suor era frio. Meteu-se de lado e entrou. Havia um grande escuro
lá dentro, e cheirava lá a ratos, a cera, às coisas velhas que apodrecem na sombra. Como estava escuro, pôs-se
a andar às apalpadelas. Mas as pedras frias assustaram-no. Lembravam-lhe mortos ou coisas assim. Já com os
pés não se assustava tanto, porque o frio que entrava por aí era só frio da falta de botas. Até que pisou o
primeiro degrau e começou a subir. Cheirava mal que se fartava. Mas, à medida que ia subindo, vinha lá de
cima um fresco que aclarava o cheiro. À última volta da escada em caracol, olhou ao alto o céu negro, muito
liso. Via algumas estrelas, mas era tudo estrelas velhas e fora de mão. Até que chegou ao campanário e
respirou fundo. Agora tinha de subir por uma escadinha estreita que começava ao lado; e depois ainda por
uma outra de ferro, ao ar livre, e com o adro lá em baixo. Mas quando chegou à de ferro, não olhou. Deu foi
uma olhadela à estrela, que já se via muito bem. Todavia, quando a escada acabou, reparou que lhe não
chegava ainda com a mão. Tinha pois de subir o resto de gatas, dobrando e desdobrando as pernas como uma
rã. Mesmo no cimo da torre havia uma bola de pedra e enterrado na bola havia um ferro e ao cimo do ferro
estava um galo com os quatro pontos cardeais. Pedro segurou-se ao varão e viu que tinha ainda de subir até se
pôr mesmo em cima do galo. Subiu devagar, que aquilo tremia muito, e empoleirou-se por fim nos ferros
cruzados dos quatro ventos. Enroscando as pernas no varão, tinha agora os braços livres. E então ergueu a
mão devagar. Os ferros balançavam, mas ele nem olhava lá para baixo. Fez força ainda nas pernas, apoiou-se
na mão esquerda e com a outra, finalmente, despegou a estrela. Não estava muito pregada e saiu logo.
Entalou-a então no cordel das calças, porque não tinha bolsos, e começou a descer. A chatice era se lhe caía e
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se partia lá em baixo. Mas não a levando entalada, só se a levasse nos dentes, o que podia dar em resultado
parti-la à mesma. Porque precisava dos dentes para fazer força nos sítios mais difíceis. Em todo o caso, com
jeito, lá conseguiu. E assim que pôs pé em terra, largou para casa, mas não muito depressa. Apetecia-lhe
mesmo parar de vez em quando e olhar a estrela com uma atenção especial. Era formidável. Lembrava um
pirilampo, mas muito maior. Oh, muito maior. E de outro feitio, já se vê. A certa altura, voltou-se para trás e
olhou ao alto o sítio donde a despegara, como se para ver se realmente já lá não estava. E não.
Vergílio Ferreira, Contos
Compreensão do texto
c. Face a toda a ocorrência do texto, escreva o adjectivo que melhor caracteriza psicologicamente o
protagonista.
4. O protagonista ponderou na hipótese de segurar a estrela com os dentes, mas desistiu. Porquê?
Texto n. 7
Noite de Natal
Dasdores sentia-se dividida entre a Missa do Galo e o presépio. Se fosse à igreja, o presépio não
ficaria armado antes de meia-noite e, se se dedicasse ao segundo, não veria o namorado. É difícil ver
namorado na rua, pois moça não deve sair de casa, salvo para rezar ou visitar parentes. Festas são raras. O
cinema ainda não foi inventado, ou, se o foi, não chegou a esta nossa cidade, que é antes uma fazenda
crescida.
Dasdores e suas numerosas obrigações: cuidar dos irmãos, velar pelos doces de calda, pelas
conservas, manejar agulha e bilro, escrever as cartas de todos. Os pais exigem-lhe o máximo, não porque a
casa seja pobre, mas porque o primeiro mandamento da educação feminina é: trabalharás dia e noite. Se não
trabalhar sempre, se não ocupar todos os minutos, quem sabe de que será capaz a mulher? Quem pode vigiar
sonhos de moça? Eles são confusos e perigosos. Portanto, é impedir que se formem. Dasdores nunca tem
tempo para nada. O seu nome, alegre à força de repetido, ressoa pela casa toda. “Dasdores, as dálias já foram
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regadas hoje?” “Viste Dasdores, quem deixou o diabo desse gato furtar a carne?”. Dasdores multiplica-se,
corre, delibera e providencia mil coisas.
Dasdores sente-se livre em meio às tarefas e até mesmo extrai delas algum prazer. (Dir-se-ia que as
mulheres foram feitas para o trabalho. Alguma coisa mais do que resignação sustenta as donas-de-casa.) Ela
sabe combinar o movimento dos braços com a actividade interior ‒ é uma conspiradora ‒ e sempre acha
folga para pensar em Abelardo. Esta véspera de Natal, porém, veio encontrá-la completamente desprevenida.
O presépio está por armar, a noite caminha, lenta como costuma fazê-lo no interior, mas Dasdores é íntima
do relógio grande da sala de jantar, que não perdoa. Sucede que ninguém mais, salvo esta moça, pode dispor
o presépio, arte comunicada por uma tia já morta. E só Dasdores conhece o lugar de cada peça, determinado
há quase dois mil anos, porque cada bicho, cada musgo tem seu papel no nascimento do Menino.
As caixas estão depositadas no chão ou sobre a mesa e desembrulhá-las é a primeira satisfação entre
as que estão infusas na prática ritual da armação do presépio. Todos os irmãos querem colaborar, mas antes
atrapalham, e Dasdores prefere ver-se morta a ceder-lhes a responsabilidade plena da direção. Jamais lhes
será dado tocar, por exemplo, no Menino Jesus, na Virgem e em São José. Nos pastores, sim, e nas grutas
subsidiárias. O melhor seria que não amolassem e Dasdores passaria o dia inteiro a compor sozinha a
paisagem de água e pedras, relva, cães e pinheiros, que há-de circundar a manjedoura.
Alguém bate palmas na escada. Amigas que vêm combinar a hora de ir para a igreja. Entram e
acham o presépio desarranjado, na sala em desordem. Esta visita rouba mais tempo. Quando alguém dispõe
apenas de uns poucos minutos para fazer algo de muito importante e que exige não somente largo espaço de
tempo, mas também uma calma dominadora ‒ algo de muito importante e que não pode absolutamente ser
adiado – se esse alguém é nervoso, sua vontade se concentra, numa excitação aguda e o trabalho começa a
surgir, perfeito, de circunstâncias adversas. Dasdores não pertence a essa raça torturada e criadora; figura no
ramo também delicado, mas impotente, dos fantasistas. Vão-se as amigas, para voltar duas horas depois, e
Dasdores, interrogando o relógio, nele vê apenas o rosto de Abelardo, como também percebe esse rosto de
bigode e a cabeleira lustrosa e os olhos acesos.
A mão continua a tocar maquinalmente nas figuras do presépio dispondo-as onde convém. Nada fará
com que erre; do passado a tia repete sua lição profunda. Entretanto, o prazer de distribuir as figuras, de fixar
a estrela, de espalhar no lago de vidro os patinhos de celuloide, está alterado, ou subtrai-se. Dasdores não o
saboreia por inteiro. Ou nele se insinuou o prazer da missa? Ou o medo de que o primeiro, prolongando-se,
viesse a impedir o segundo? Ou um sentimento de culpa, ao misturar o sagrado ao profano, dando, talvez,
preferência a este último, pois no fundo da caminha de palha suas mãos acariciavam o Menino, mas o que a
pele queria sentir sentia, Deus me perdoe ‒ era um calor humano, já sabeis de quem.
Aqui desejaria, porque o mundo é cruel e as histórias também costumam sê-lo, acelerar o ritmo da
narrativa, prover Dasdores com os muitos braços de que ela carece para cumprir com sua obrigação, vestir-se
violentamente, sair com as amigas ‒ depressa, depressa, ir correndo ladeira acima, encontrar a igreja vazia, o
adro já quase deserto, e nenhum Abelardo. Mas seria preciso atribuir-lhe, não braços e pernas suplementares,
e sim outra natureza, diferente da que lhe coube, e é pura placidez. Correi, sôfregos, correi ladeira acima e
chegai sempre ou muito tarde ou muito cedo, mas continuai a correr, a matar-vos, sem perspectiva de paz ou
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conciliação. Não assim os serenos, aqueles que, mesmo sensuais, se policiam. O dono desta noite, depois do
Menino, é o relógio, e este vai mastigando seus minutos, seus cinco minutos, seus quinze minutos. Se nos
esquecermos dele, talvez pule meia hora, como um prestidigitador furta um ovo, mas, se nos pusermos a
contemplá-lo, os números gelam, o ponteiro imobiliza-se, a vida parou rigorosamente. Saber que a vida
parou seria reconfortante para Dasdores, que assim lograria folga para localizar condignamente os três reis
na estrada, levantar os muros de Belém. Começa a fazê-lo, e o tempo dispara de novo (…) Pronto, este ano
não haverá Natal. Nem namorado. E a noite fundir-se-á num largo pranto sobre o travesseiro.
Mas Dasdores continua, calma e preocupada, cismarenta e repartida, juntando na imaginação os dois
deuses, colocando os pastores na posição devida e peculiar à adoração, decifrando os olhos de Abelardo, as
mãos de Abelardo, o mistério prestigioso do ser de Abelardo, a auréola que os caminhantes descobriram em
torno dos cabelos macios de Abelardo, a pele morena de Jesus, e aquele cigarro ‒ quem botou! ‒ ardendo na
areia do presépio, e que Abelardo fumava na outra rua.
Compreensão do texto
Texto n. 8
Igualdade de direito
O rancor de Lucrécia em relação a mim acumula-se no espírito dela, a cada ano, como água
lamacenta numa represa abandonada. Um dia o peso da lama destruirá a barragem. Não há muito que eu
possa fazer. Percebi, faz tempo, que todos os meus gestos lhe desagradam, sejam eles de aproximação ou de
confronto. Quando saí de casa, uns bons anos antes do divórcio, Karinguiri era muito pequena. Nos primeiros
quinze meses, Lucrécia não me deixou ver a menina. Mudou-se com ela para casa dos pais. Recusava-se a
atender os meus telefonemas e deu instruções aos guardas para me manterem à distância. Um deles chegou a
ameaçar-me com a arma. Alexandre Pitta-Gróz, que é advogado de formação, embora nunca tenha exercido,
fez-me ver a inutilidade de avançar com um processo em tribunal, reivindicando os meus de direitos de pai:
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Este país está dividido entre aqueles eu podem reivindicar direitos, e os outros, os que não têm
direitos nenhuns. A tua mulher está no primeiro grupo. Tu até já estiveste no grupo dela, enquanto vocês
eram casados, depois voltaste ao nosso. Habitua-te a isso.
Fui-me habituando. Quinze meses após ter saído de casa, Lucrécia ligou-me. Disse-me que poderia ir
ao apartamento de uma tia dela, nessa tarde, para ver a menina. Fui. Karinguiri completara há pouco quatro
anos. Segurei-a ao colo. Perguntei-lhe:
- Sabes quem sou eu?
A menina sorriu feliz:
- És o meu papá.
Regressei a casa devastado. A partir desse dia passei a visitar a menina, duas a três vezes por mês.
Comecei a escrever contos que líamos juntos. Brincávamos com bonecas. Fazíamos desenhos, estendidos no
chão, enquanto ela me falava sobre a melhor amiga, uma menina muito loira, filha de um empresário francês,
amigo de Homero Dias da Cruz. Eu chegava a casa, à noite, com os joelhos doridos, o esqueleto
desconjuntado, como se tivesse passado duas horas a malhar num ginásio.
No ano seguinte, Lucrécia permitiu que ficasse com Karinguiri durante uma semana, nas férias da
Páscoa. Nessa época ainda vivia no apartamento de Armando Carlos. Lembro-me do olhar espantado da
menina, ao entrar:
- Onde estão as empregadas?
- Não temos empregadas.
- Quem vai cuidar de mim?
- Eu cuidarei de ti. Sou o teu pai. A minha função é cuidar de ti.
Nem sempre foi fácil. A maior dificuldade era penteá-la. Karinguiri usou durante muitos anos uma
juba espessa, que reverberava ao sol, como uma fresca labareda de cobre. Podiam fazer-se almofadas com os
caracóis dela.
Um amigo do meu pai, Pedro da Mata, administrador dos Caminhos-de-ferro, vivia na Restinga do
Lobito com a esposa e nove filhos. Na época colonial costumávamos passar as férias de março em casa deles.
Após a independência, a família Mata foi para Portugal. O filho mais novo, Mauro da Mata, permaneceu no
Lobito. Passei a visitá-lo com frequência, depois que o meu pai voltou para Benguela. Ficámos muito amigos.
José Eduardo Agualusa, in A Sociedade os Sonhadores
Involuntários.
Compreensão do texto
3. A dada altura, Lucrécia foi benevolente para com o narrador. O que terá contribuído para isso?
14
4. O narrador não estava satisfeito com a sua condição e queria interpor recurso. Terá ele conseguido levar a
Texto n. 9
O confronto de áreas
As áreas da educação, da política e do futebol confrontam-se, sempre, com a análise dos processos e
dos resultados da parte de leigos e de especialistas. Muitas vezes acontece que os analistas e os decisores
tomam partido por uma perspectiva de análise que valoriza os resultados em detrimento dos processos
devido à predominância da mentalidade pragmática. Segundo este pensamento, o critério da verdade é a
utilidade prática das técnicas educativas, das medidas políticas ou das tácticas de jogo.
Num mundo crescentemente tecnocrático, com parâmetros econométricos que submergem os outros
critérios de avaliação, não admira a importância excessiva que é dada aos resultados educativos, políticos e
futebolísticos. Nas leituras apressadas, desta Era da Globalização, sempre que os resultados são frustrantes
abrem-se crises. No entanto, como é sabido, a verdadeira crise actual reside no esquecimento de valores
morais que devem reger as condutas humanas.
Na verdade, tem de se encontrar um meio-termo, dificilmente quantificável, de análise que pondere
os processos e os resultados, pois irei dar dois exemplos relativos à desvalorização deste princípio basilar.
Nem sempre é fácil atingir em educação este meio-termo, daí que o Professor Nuno Crato tenha andado a
criticar, aquilo que o Professor Marçal Grilo chamou de “eduquês”, as modernas pedagogias românticas de
darem demasiado destaque aos processos educativos construtivos baseados nos sujeitos das aprendizagens.
Com efeito, só através de uma dose de Humanismo e de Pragmatismo se pode alcançar este meio-termo nas
práticas pedagógicas, porque nos devemos recordar que a pedagogia exige arte, ciência e técnica. Se
centramos a pedagogia na ciência visamos, mormente, os resultados de aprendizagem, mas se centramos a
pedagogia na arte visamos, sobretudo, os processos de aprendizagem. De forma que, o grande desafio que se
abre à Educação Internacional, à revelia desta Era Tecnocrática, é a de conseguir um equilíbrio entre os
processos e os resultados educativos.
A hegemonia da corrente pragmática nesta era da Globalização tem favorecido o ataque especulativo
aos países criativos de matriz Latina, ou de influência católica, em 2010-2011 (Grécia, Irlanda, Portugal,
Espanha, Itália e Bélgica). De facto, mais uma vez, é a pressão dos resultados e a depreciação da capacidade
criativa destes povos e da sua rica herança cultural que está em questão. Ora o destino da moeda única
Europeia (o Euro), e da própria União Europeia, não pode depender da adopção de um padrão cultural
comum que garanta a concretização de resultados financeiros, porque a riqueza da Europa é, precisamente, a
sua diversidade de costumes, de tradições e de culturas. Este é, pois, o desafio incontornável que se abre à
Europa neste momento de crise financeira.
15
Um bom exemplo desta dicotomia ideológica foi o Campeonato da Europa 2004, realizado em
Portugal, em que a selecção portuguesa dirigida por um brasileiro, Luiz Felipe Scolari, foi vencida na Final
pela selecção grega dirigida por um alemão, Otto Rehhagel, que conquistou o título de selecção campeã
Europeia de Futebol nesse ano. Enfrentaram-se dois estilos de futebol: o grego, germanizado, que adoptou
um estilo pragmático à procura de resultados e o português que adoptou um estilo artístico, baseado na
“posse de bola”, que buscou os processos que encantaram milhões de espectadores em todo o mundo, mas
que claudicou frente ao Hércules grego possuidor de um estilo de jogo “sem arte, mas com engenho”.
O Futebol Clube de Barcelona, na Europa em 2010-2011, é o modelo de futebol síntese que
conseguiu conciliar os resultados desportivos com os processos futebolísticos, que deram um grandioso
espectáculo ao mundo, comandados pelo catalão Josep Guardiola. Este edificante exemplo deve servir de
inspiração, na Educação e na Política, para que se pense, concomitantemente, nos processos e nos resultados,
no sentido de se superarem estes estrangulamentos da crise destes sectores da vida colectiva global, que mais
não são do que um reflexo da crise de valores que atravessa a História da Humanidade no início do século
XXI. Em suma, o Futebol Clube de Barcelona por se ter alavancado nos três pilares interdependentes (a arte,
a ciência e a técnica) proporcionou ao mundo um futebol magistral que obteve resultados estratosféricos com
processos artísticos moldados na consabida criatividade catalã.
Nuno Sotto Mayor
Ferrão
Compreensão do texto
2. Por que ele chama atenção da não valorização dos processos em detrimento dos resultados?
Texto n. 10
Bentinho
Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da porta. A casa
era a da rua de Matacavalos, o mês novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei-de trocar as
datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.
- D. Glória, a senhora persiste na idéia de meter o nosso Bentinho no seminário? É mais que tempo, e
já agora pode haver uma dificuldade.
- Que dificuldade?
16
- Uma grande dificuldade.
Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de alguns instantes de concentração, veio ver se
havia alguém no corredor; não deu por mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa
ao pé, a gente do Pádua.
- A gente do Pádua?
- Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece bonito que o nosso
Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam de
namoro, a senhora terá muito que lutar para os separar.
- Não acho. Metidos nos cantos?
- É um modo de falar. Em segredinhos, sempre juntos. Bentinho quase não sai de lá. A pequena é
uma desmiolada; o pai faz que não vê; tomara ele que as coisas corressem de maneira que… Compreendo o
seu gesto; a senhora não crê em tais cálculos, parece-lhe que todos têm a alma cândida…
- Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos a brincar, e nunca vi nada que faça desconfiar. Basta a
idade; Bentinho mal tem quinze anos. Capitu fez quatorze à semana passada; são dois criançolas. Não se
esqueça de que foram criados juntos, desde aquela grande enchente, há dez anos, em que a família Pádua
perdeu tanta coisa; daí vieram as nossas relações. Pois eu hei de crer? … Mano Cosme, você que acha?
Tio Cosme respondeu com um Ora! que, traduzido em vulgar, queria dizer: São imaginações do José
Dias; os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?
- Sim, creio que o senhor está enganado.
- Pode ser, minha senhora. Oxalá tenham razão; mas creia que não falei senão depois de muito
examinar…
- Em todo caso, vai sendo tempo - interrompeu minha mãe- vou tratar de metê-lo no seminário
quanto antes.
- Bem, uma vez que não perdeu a idéia de o fazer padre, tem-se ganho o principal. Bentinho há de
satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um
bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o Império…
- Governou como a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos.
- Perdão, doutor, não estou a defender ninguém, estou a citar. O que eu quero é dizer que o clero
ainda tem grande papel no Brasil.
- Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de ser padre,
realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, mana Glória, há mesmo
necessidade de fazê-lo padre?
- É promessa, há de cumprir-se.
- Sei que você fez promessa… mas uma promessa assim… não sei… Creio que, bem pensado…
Você que acha, prima Justina?
- Eu?
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- Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de todos.
Contudo, uma promessa de tantos anos… Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta! Pois isto é
coisa de lágrimas?
Minha mãe assoou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com ela. Seguiu-se
um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção… Não
pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a dizer. Prima Justina exortava: Prima Glória! Prima Glória!
José Dias desculpava-se: Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para
cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo.
Machado de Assis, in Dom Casmurro
Compreensão do texto
5. Clarifique o sentido da frase “(…) parece-lhe que todos têm a alma cândida.”
18
FUNCIONAMENTO
DA LÍNGUA
1. O que é a sílaba?
A sílaba é um som ou conjunto de sons de uma palavra cujo núcleo é formado por uma
vogal ou um ditongo e que se pronuncia numa só emissão de voz.
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De realçar que as consoantes, por si só, nunca constituem sílabas, necessitando, para tal, de
estarem combinadas com uma ou mais vogais.
2. Classificação de sílabas
Sílaba tónica é a sílaba que pronunciamos com maior intensidade de voz. Esta sílaba pode
ou não estar acentuada graficamente.
Ex.: Caneca, tónico, amor, tímido, papel, universidade.
Quando se tem dificuldade em identificar a sílaba tónica, deve experimentar-se chamar a
palavra como se fosse um nome, como no exemplos abaixo:
Ex.: Caneeeeeeeeca, tóooooooonico, amooooooor, etc.
Sílaba átona é a sílaba que pronunciamos com menor intensidade de voz. Esta sílaba não
tem acento gráfico. Ex.: Caneca, tónico, amor, tímido, universidade, etc.
Graves ou paroxítonas são aquelas em que a sílaba tónica recai na penúltima sílaba.
Ex.: Barro, poderoso, lápis, universidade, Mártir, etc.
4. Acentos gráficos
Os acentos gráficos são sinais diacríticos que indicam, na escrita, a pronúncia de uma vogal
ou sílaba tónica de uma palavra. Podem ser:
Acento agudo (´) utiliza-se para indicar a vogal aberta da sílaba tónica principal a, e
ou o abertos, i ou u.
Ex.: Maracujá, céu, pó.
Acento grave (`) utiliza-se para marcar a contracção da preposição a com o artigo
definido a ou com pronome demonstrativo começado por a.
Ex.: à (a + a), àquele (a +aquele), àquela (a+ aquela).
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Acento circunflexo utiliza-se para assinalar a vogal tónica oral ou nasal, se esta for
a, e ou o. Marca, portanto, uma vogal fechada.
Ex.: Avô, câmara, vê, etc.
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Todas as palavras esdrúxulas são graficamente acentuadas, independentemente da
terminação. Ex.: Esdrúxulo, típico, inválido, megalómano, económico, etc.
Exercícios
1. Coloque, na respectiva coluna, as palavras abaixo, de acordo com a sua classificação quanto
ao acento tónico. Sublinhe a sílaba tónica:
Pá, mandioca, passageiro, canela, Cátia, tónico, lençol, petróleo, somente, até, cafeína,
avião, especialidade, pastel, paciente, boémio, trimestre, fotógrafo, cabidela, factor,
esdrúxulo, maracujá, emblema, híbrido, amor, pacífico, universidade, computador, sala,
exame.
Palavras agudas ou oxítonas Palavras graves ou paroxítonas Palavras esdrúxulas ou
proparoxítonas
2. Acentue as palavras que se seguem e coloque-as nos seus respectivos critérios de correcção:
Passaro, pe, parabens, sabado, orgao, propedeutico, polen, ananas, musical, fregues, paraiso,
destroi, ceu, Cesar, entendi, bisavo, taxi, mas, musica, abdomen, creem, rapido, metrico,
solido, martir, ferias.
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Palavras agudas ou oxítonas Palavras graves ou paroxítonas Palavras esdrúxulas ou
proparoxítonas
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É a relação de palavras que partilham a mesma grafia e pronúncia, mas possuem
significados diferentes.
Ex.: O rio fica distante da cidade. Eu brinco com os meus alunos
Eu rio muito quando estou alegre. O brinco da Maria é lindo.
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Exercícios
1. Os hiperónimos de gato, rosa e amor são, respectivamente:
a) Desporto – órgão - sentimento.
b) insetos – mamíferos - veículos.
c) felino – flor - sentimento.
d) felino – sentimento - esporte.
e) felino – sentimento - órgão.
3. A palavra tráfico não dever ser confundida com tráfego, seu parónimo. Em que item a seguir o
par de vocábulos é exemplo de homonímia e não de paronímia?
a) estrato / extrato
b) flagrante / fragrante
c) eminente / iminente
d) inflação / infração
e) cavaleiro / cavalheiro
Pronominalização
Pronominalizar é substituir o complemento directo ou indirecto pelo respectivo pronome
pessoal de complemento correspondente.
1. Complemento directo
O Complemento directo designa a entidade sobre a qual recai a acção enunciada pelo verbo
e, quando representado por um pronome pessoal, corresponde-lhe os pronomes o, a, os, as.
Para se identificar esse complemento, faz-se as seguintes perguntas:
O quê?: para coisas;
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Quem?: para pessoas.
Vejamos os exemplos:
A Maria comprou uma flor. A Maria Comprou-a. Comprou o quê?
Se o verbo terminar em ditongo nasal, isto é, am, em, ão, õe, o pronome toma as formas no,
na, nos, nas.
Exemplos:
Os meninos falaram a verdade. Os meninos falaram-na.
Levem os meninos para casa. Levem-nos para casa.
Os professores dão bem as aulas. Os professores dão-nas bem.
Põe a loiça no lugar. Põe-na no lugar.
2. Complemento indirecto
Complemento indireto designa a entidade sobre a qual recai, indirectamente, a acção do
sujeito e quando representado por um pronome pessoal, corresponde-lhe o pronome lhe.
Para se identificar esse complemento, faz-se a seguinte pergunta: A quem?
Exemplos:
O Mateus telefonou à mãe. O Mateus telefonou-lhe. (Telefonou a quem?)
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O João ofereceu- a à Maria. Aqui se pronominalizou apenas o c. directo
O João ofereceu- lhe uma flor. Aqui se pronominalizou apenas o c. indirecto
O João ofereceu-lha. Aqui a pronominalização é dos dois complementos.
Exercícios
A vírgula
É um sinal de pontuação que exerce três funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da
voz na leitura, enfatizar e/ou separar expressões e orações e impedir qualquer ambiguidade.
Ex.: Vou precisar de farinha, ovos, leite e açúcar.
Desta maneira, não posso mais acreditar em ti.
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Para separar o verbo e os seus complementos:
Ex.: Entreguei, os pedidos, aos clientes.
Comprei, um carro novo.
Com conjunções não são seguidas de vírgula:
Ex.: Vi a Maria com, o João.
Ela afirmou que, a situação era verídica.
Exercícios
O ponto e vírgula
É um sinal de pontuação que indica uma pausa maior que a vírgula e menor que o ponto; é
intermédio entre a vírgula e o ponto final; emprega-se para separar orações dentro de um mesmo
período e indica um tom ligeiramente descendente.
Ex.: O Joaquim celebrou o seu aniversário na praia; não gosta do frio e nem das montanhas.
Os conteúdos da prova são: Geografia; História; Português.
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Casos do uso da vírgula
Exercícios
30
Fuas Roupinho, que foi um dos primeiros navegadores portugueses, num tempo em que se ignorava
ainda a ciência náutica.
Crase
Crase é a contracção da preposição a que rege um verbo, um nome ou um adjectivo com o
artigo/determinante definido feminino singular a, (à = a + a).
Regra básica
A crase acontece antes dos nomes femininos. Em caso de dúvida, substitua o nome feminino
pelo masculino. Se na troca resultar em “ao” há crase. Se resultar “o” não há crase. Vejam-se os
exemplos:
Atenção:
Mas a crase pode ocorrer antes dos nomes masculinos, quando estes se referem ao modo e
à maneira.
Ex.: Fiz um golo à CR7.
Cortei cabelo à Neymar.
Vesti à João Rolo.
Casos proibidos
a + um/a/s + nome. Ex.: Dá isso a um menino de rua.
a + este/a/as + nome. Ex.: Vai a esta clínica.
a + nome masculino. Ex.: Gosto de andar a cavalo.
a + verbo no infinitivo. Ex.: Estou apto a discutir.
a + indefinidos. Ex.: Não digas a ninguém // Falo a toda a gente.
a + interrogativos. Ex.: A que horas vens? // A qual banco te referes?
a + quem. Ex.: A rapariga a quem falo.
a entre duas palavras iguais. Ex.: lado a lado, frente a frente, cara a cara, um a um, etc.
a + nome de disciplina. Ex.: Tive 10 a Português.
a + nome de mulheres ilustres ou desconhecidas. Ex.: Referi-me a Isabel II. Mas, se o
nome vier precedido do cargo, a crase é obrigatória. Ex.: Refiro-me à Rainha Isabel.
a + Sua/Vossa Excelência. Ex.: Entrego o documento a Sua/Vossa Excelência
Exercícios
1. O plano dos bandidos saiu as avessas.
2. Não chegaram a saber quem era a autoridade.
3. Encontramos os barcos as margens da lagoa.
4. Fui a casa, mas voltei logo.
5. Não fui aquela farmácia.
6. Entregamos o prémio aquele aluno.
7. Submeterei aqueles alunos a uma prova.
8. Reprovo aquela atitude.
9. Encontrei-o a porta de minha casa.
10. A noite, reuniam-se para ouvi-lo.
11. A sua aversão a estrangeiros era censurada.
12. As dez e meia todos dormiam.
13. Enviei a encomenda a Fernanda.
14. Você vai a aula hoje?
15. Não desobedeça a ninguém.
16. Os guardas ficaram a uma grande distância.
17. Os meninos chegaram a uma hora.
Formas de tratamento
As formas de tratamento são os meios linguísticos que os interlocutores usam para
estabelecer as relações interpessoais e que representam as maneiras pelas quais nos dirigimos uns a
outros.
De salientar que as sociedades estão divididas hierarquicamente, por isso o tratamento que
recebe um membro da sociedade depende do papel que desempenha e das suas características:
idade, sexo, posição familiar, hierarquia profissional, grau de intimidade, etc.
2. Informal
Pelo contrário, o tratamento informal é aquele que os falantes usam com pessoas que têm
uma certa intimidade, como por exemplo, entre amigos, família, conhecidos, etc., em que a
preocupação com a correcção linguística é menor e o vocabulário utilizado é simples, incluindo
frequentemente palavras e expressões familiares, bem como o calão.
Ex.: Se vires a Maria, dá-lhe este presente.
Obs.: Quer os verbos, quer os pronomes ficam na 2.ª pessoa do singular.
34
As formas de tratamento reverente são muito formais e usam-se para entidades que ocupam
cargos diversos, na hierarquia social. É o caso de Vossa Santidade, Sua Excelência, Vossa
Senhoria, Sua Eminência, Vossa Magnificência, Vossa Alteza, etc.
Embora se tenha a palavra “Vossa” na expressão, que é um pronome da 2ª pessoa plural,
estas formas de tratamento exigem sempre os verbos na terceira pessoa do singular.
Ex.: Vossa Excelência solicita ajuda?
Vossa Senhoria está satisfeito com os trabalhos?
Escrevi uma carta a Sua Excelência Ministro da Educação.
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É um modo verbal que serve para exprimir uma ordem, dar conselho, fazer
convite, solicitar, exortar, etc.
Existem dois tipos de imperativo:
1. Forma formal
forma afirmativa
Corresponde à 3.ª pessoa do singular do presente do conjuntivo.
Ex.: Senhor sair da sala. Senhor, saia da sala.
João comer frutas João, coma frutas
Forma negativa
Corresponde à 3.ª pessoa do singular do presente do conjuntivo.
Ex.: Sair da sala. Não saia da sala.
João comer frutas João, não coma frutas
2. Forma informal
Forma afirmativa
Corresponde à 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo.
Ex.: Sair da sala. Sai da sala.
João comer frutas João, come frutas
Forma negativa
Corresponde à 2.ª pessoa do singular do presente do conjuntivo.
Ex.: Sair da sala. Não saias da sala.
João comer frutas. João, não comas frutas.
Obs.: O imperativo negativo por tu termina sempre em “s”.
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c) _____________________ o ambiente para que tenhamos um mundo
melhor. (preservar – você)
d) _______________ agora e ____________ a pagar em Janeiro. (comprar /
começar – você)
e) Não ____________ para não seres julgado. (julgar – tu)
f) ____________ tu o problema deste trabalho. (encontrar – tu)
g) Não _______________ as esperanças, tudo vai melhorar. (perder – tu)
h) Não ______________ a fé num mundo melhor. (perder – nós)
i) __________tu também dessa campanha e ____ alimentos não perecíveis.
(participar/ doar – tu)
j) ______________ diariamente para ter uma boa saúde. (exercitar-se – nós)
k) _______________ o teu filho para ser vacinado contra a rubéola. (trazer)
l) _______________ as nossas ofertas e ____________ de carro hoje
mesmo. (aproveitar / trocar - você)
m) ___________ as luzes, o show vai começar. (apagar – vocês)
Verbos
Verbos são palavras variáveis que exprimem acção, estado, mudança de estado, fenómeno
da natureza e possui inúmeras flexões, de modo que a sua conjugação é feita mediante as variações
de pessoa, número, tempo, modo, voz e aspecto.
1. Estrutura do verbo
Vogal temática
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A vogal temática é o elemento que se une ao radical para receber as desinências e, assim,
conjugar os verbos. O resultado dessa união chama-se tema. Assim, tema = radical + vogal
temática.
Ex.: DISSERTA - (disserta-r), ESCLARECE- (esclarece-r), CONTRIBUI- (contribui-r).
A vogal temática indica qual conjugação o verbo pertence. Assim,
A primeira conjugação abrange os verbos cuja vogal temática é A.
Ex.: argumentar, dançar, cantar, amar, estudar, etc.
Segunda conjugação abrange os verbos cuja vogal temática é E e O.
Ex.: Escrever, saber, fazer, ter, pôr, supor, repor, etc.
Obs.: o verbo pôr, assim como seus derivados (compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª
conjugação, pois a forma arcáica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver desaparecido
do infinitivo, revela-se em algumas formas do verbo: põe, pões, põem, etc.
Terceira conjugação abrange os verbos cuja vogal temática é I.
Ex.: Emitir, evoluir, ir, partir, subir, ect.
2. Desinências
As desinências são os elementos que junto com o radical promovem as conjugações. Elas
podem ser:
Desinências modo-temporais quando indicam os modos e os tempos.
Desinências número-pessoais quando indicam as pessoas.
Exemplos:
Dissertávamos (va- desinência de tempo pretérito do modo indicativo), (mos- desinência de
1.ª pessoa do plural)
Esclarecerei (re- desinência de tempo futuro do modo indicativo), (i- desinência de 1.ª
pessoa do singular)
Contribuamos (a- desinência de modo presente do modo conjuntivo), (mos- desinência de
1.ª pessoa do plural)
Verbos defectivos
Os verbos defectivos são aqueles que não são conjugados em todas as pessoas, tempos e
modos. Eles podem ser de três tipos:
Impessoais
Quando os verbos indicam, especialmente, fenômenos da natureza (não tem sujeito) e são
conjugados na terceira pessoa do singular, são verbos impessoais. Ex.: Chover, trovejar, ventar,
trovejar, etc.
Unipessoais
Quando os verbos indicam vozes dos animais e são conjugados na terceira pessoa do
singular ou do plural.
Ex.: Ladrar, miar, surtir, zurrar, assobiar, etc.
Pessoais - Quando os verbos têm sujeito, mas não são conjugados em todas as
pessoas, são verbos pessoais.
Ex.: Banir, falir, reaver.
A voz passiva é usada quando o sujeito gramatical sofre a acção verbal. Indica, assim, que o
sujeito gramatical é o paciente de uma ação que é praticada pelo agente da passiva.
Ex.: O cão foi lavado pelo Manuel.
Os livros foram lidos pelos alunos.
Exercícios
1. Passe as frases de voz activa para passiva e vice-versa:
a) Eu comi o bolo.
b) O Manuel comprou o chapéu.
c) Os alunos leram os livros.
d) A leoa caçou a hiena.
e) O funcionário concluirá a tarefa.
f) A Maria foi ferida por uma criança.
g) Os livros serão lidos pelos alunos.
h) O trabalho foi feito pelo professor.
i) Os direitos foram reivindicados pelos trabalhadores.
j) A palestra seria ministrada pelo professor.
k) A fábula foi contada pela professora.
l) Os réus foram orientados pelos advogados.
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c) Eles ______________ (descobrir) tudo se tivessem mais tempo.
d) ________________ (ouvir) tudo quanto lhe contavam. Quando eu era mais nova
___________ (caber) nesta saia.
e) Tu não _________ (crer) no que te diziam, mas ____________ (ver) que tinham razão.
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5. Complete as frases, conjugando os verbos no pretérito imperfeito do conjuntivo.
e) Quando éramos pequenos, faríamos tudo o que os nossos pais _______________ (mandar).
g) O treinador solicitou ao assistente que ele _____________ (analisar) o calendário dos jogos.
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