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CAPÍTULO I:

A CIDADE DE OLIVA

Anotações de 17 de junho de 1983:


Viagem traumatizante.

Sou Natanael Hertmann, aspirante a investigador e acadêmico, moro junto de


uma parte da minha família (pai, mãe, meus três irmãos, e alguns tios e primos.),
atualmente me recupero de alguns ferimentos, e no tempo ocioso irei
documentar os estranhos acontecimentos ocorridos em minha viagem mais
recente. Primeiramente, descreverei o local: pequena cidade de Oliva, no interior
do Sul da Bahia, cidade essa que quase não é relatada em mapas atuais e apenas
naqueles que datam do século XIX, se trata de uma cidade pouco povoada, tem
menos de 2 mil habitantes, é envolta por uma floresta densa e pouco explorada
em sua maioria, os moradores são trabalhadores do campo, a modernização não
parece ter chegado ao povoado, evidente pela falta de energia elétrica na região.
No dia 13, recebemos a notícia de que um tio havia comprado uma casa lá,
nessa região tranquila, longe do alvoroço da cidade. Ele nos convidou para
passar alguns dias na casa, já que iria acontecer uma festa cultural da cidade, e
ele não queria ficar sozinho.
Ao receber essa notícia, a maioria concordou em ir, fiquei contrariado, preferia
ficar em casa, mas fui, para não entristecer meu tio. Todos se arrumaram, e assim
partimos para a cidade, uma viagem monótona, que se tornou mais tolerável com
as conversas que tive com meu tio Virgulino, uma figura excêntrica, branco, de
cabelos grisalhos, na base dos 50 anos, um homem esguio e alto, que utiliza de
um óculos apoiado em seu grande nariz, tem uma voz baixa. É professor de
arqueologia em uma faculdade e vive pesquisando sobre ocultismo, tomos
antigos, e conhece bastante sobre lendas locais. Inclusive, falou-me sobre as
“Árvores vivas” lenda dessa região do interior da Bahia, essas criaturas usam sua
“pele de árvore” como camuflagem, para pegar desavisados que andam pela
floresta, e sugar sua energia vital com seus galhos de tentáculos. Ao ouvir isso, ri,
era absurdo, deveria ser uma história como o homem do saco, para assustar as
crianças e não fazerem coisas ruins, como desrespeitar os mais velhos ou
andarem sozinhas por aí.
Chegamos na casa e fomos recepcionados pelo tio Hugo, um homem de cerca
de 50 anos, acima do peso, pele morena, cabelo raspado e um grande bigode,
espalhafatoso, sempre tem um sorriso no rosto e sua voz parece um trovão.
Cumprimentou a todos, e nos guiou pela grande casa, que tinha um estilo antigo,
estava meio desarrumada, com alguns cômodos empoeirados e com móveis
deteriorados. Ao chegarmos na cozinha, na mesa havia um grande almoço para
todos, organizei minhas malas em um dos quartos de visita, e peguei um pouco
de comida, comi enquanto me encostava na varanda, encarava a floresta escura e
densa, que era como a descrição dada pelo meu tio. Passaram alguns minutos, e
estando tão absorto em meus pensamentos, tomei um leve susto quando alguém
tocou meu ombro, era meu tio Virgulino, que era seguido por seu filho, Michael.
Virgulino convidou-me para ir visitar a cidade, aceitei, mas antes fui ao meu
quarto, para pegar meu caderno de esboços. Assim, seguimos a pé para Oliva, já
que a cabana do meu tio ficava um pouco fora dos limites da cidade, enquanto
conversávamos sobre a estranheza da coloração da vegetação, já que tudo
parecia levemente morto.
A estranheza da coloração se manifestava na cidade também, visto que o chão,
vegetação e construções possuíam o mesmo tom morto, por um momento
acreditei que os cidadãos também eram cinzas, mas segui sem comentar. A
cidade estava bastante movimentada, com diversos homens e mulheres
carregando caixas e materiais para a organização da festa, todos levavam esses
materiais para o centro da vila (que era identificada pelo chão de pedregulhos, e
uma estátua grande de um homem com um mosquete em mãos, provavelmente,
o fundador da cidade.). Nesse centro as barracas estavam sendo montadas, e
algumas estavam sendo preenchidas com alimentos e outros com jogos.
Conversamos com alguns dos moradores, brevemente, para não atrasá-los na
organização da festa, eram simpáticos, e estranhamente a maioria tinha um físico
fraco, apenas os que trabalhavam com lenha eram mais robustos, isso poderia
acontecer por algum tipo de contaminação na comida ou água que deixaram
todos doentes? Não sabia explicar o que poderia ter acarretado essa aparência
fraca.

CAPÍTULO II:
O VELHO LOUCO DO PORTO

Virgulino nos levou ao porto, lá, ficamos observando o mar enquanto


conversávamos, Michael se manteve no chão de terra, por medo das velhas
tábuas do assoalho, que ele insistia que iam quebrar em algum momento. Com
meu tio, falei sobre a estranheza das pessoas, e que aquilo foi causado pelas
“Árvores Vivas”, fiz um barulho de fantasma, com um tom de piada. Meu tio riu,
e em seguida nossa conversa foi interrompida por um alto som de algo indo
contra ao chão, e um grito de raiva, vindo de um dos homens que cortava
madeira, fomos averiguar a situação, uma das barracas estava quebrada, um
homem de idade havia esbarrado na barraca, e agora gritava para as pessoas,
este homem estava na base dos 70 anos, quase não tinha cabelo, e os poucos que
tinham eram bem bagunçados e pareciam quebradiços, usava de uma camisa
verde de flanela e suspensórios, seu cheiro deixava evidente de que era
pescador:
— Cancelem essa festa! Toda essa algazarra de vocês vai atrair os monstros da
floresta! Eles vão sugar a energia vital das nossas crianças e deixar elas mais
fracas do que são! As árvores vivas vão matar a todos nós!
Gritava insanamente e parecia acreditar ferozmente no que dizia, fiquei
assustado, mas curioso para falar com o mesmo. O senhor foi agarrado por um
dos lenhadores, que o arrastou até o porto e o deixou lá, quase derrubando o
velho na água:
— Vá para casa, e não pise na cidade até a festa acabar!
Intriguei-me pela situação, e estava curioso para conhecer as lendas das árvores
por completo, voltei para o casarão com meu tio e primo, alguns minutos depois
da situação com o senhor, lá peguei meus itens investigativos para entender essa
história. Com meu caderno de anotações em mãos fui procurar minha “equipe”,
meus irmãos, falei sobre as histórias e desse senhor louco, argumentei que seria
interessante investigar e anotar as coisas que ele dizia, fazer como nos velhos
tempos, desvendar os segredos de cidades durante viagens. Arnaldo, o mais
novo entre os quatro irmãos, ficou receoso, sempre teve medo de histórias de
fantasmas e acreditava que eles poderiam existir, encorajamos ele a ir, falamos
que era apenas uma lenda, assim como tudo que a gente sempre investiga,
ninguém iria se machucar, ele ficou mais tranquilo, e concordou em ir. Charles, o
mais velho, foi para sua mala, e voltou guardando algo metálico em seu casaco:
— Já que esse senhor é meio doido, vou levar algo pra nos protegermos, caso
ele tente atacar.
Não perguntamos o que ele trazia, somente concordamos, e saímos de casa.
No momento que estávamos descendo a estrada, Virgulino gritou:
— Rapazes! Onde vocês vão? O que irão fazer?
Ele se aproximou, fui o primeiro a me colocar em frente aos demais e falei:
— Vamos investigar a lenda das árvores, vamos falar com o senhor que
apareceu na cidade.
Encarou a todos com seriedade, e então, disse:
— E vocês esperavam que eu ia deixar vocês irem sem mim? — Abriu um grande
sorriso, e continuou, apontando para si, e então, para todos. — NÓS vamos
investigar.

CAPÍTULO III:
LENDAS LOCAIS

Seguimos viagem, a tarde começara a cair, caminhávamos pela praia fria e


nevoada, indo para o pequeno barraco na encosta com conexão para um porto.
O senhor estava mais a frente, sentado em uma cadeira de balanço na beira do
porto, com uma vara de pesca. Nos aproximamos dele, todos se apresentaram, e
logo começamos um diálogo, estando eu e Virgulino na linha de frente.
— Boa tarde, senhor. Sou Virgulino. — Estendeu a mão, e cumprimentou o
homem. — Você é?
— Eduardo Hicht, boa tarde, rapaz. Cês querem alguma coisa? — Ele parecia
mais calmo, mais ainda estava incomodado pela presença de várias pessoas
desconhecidas ali.
— Gostaríamos de ouvir sobre a lenda das Árvores... Vimos você na cidade,
causando certa confusão, parecia preocupado com a situação. — Eu disse, com o
bloco de anotações em mãos.
— Cês são o que? Jornalista? Ou só querem tirar sarro de mim?
— Não, somos apenas investigadores de lendas, senhor.
— Ah sim. Lenda as árvore não são, eu já vi elas, de noite. Caminhando na
floresta.
— Poderia nós falar mais de como elas são e agem? — Virgulino ditou.
— Cês já perceberam como que o povo da cidade é insosso? E também a
vegetação aqui da região? É por causa dos monstro, a vários anos atrás esses
bicho foram perturbados dentro da floresta, quando a cidade era só o vilarejo de
Oliva, os lenhadores entraram na parte errada do bosque, e mexeram em quem
tava quieto. — Ele gesticulava de forma trêmula, eu anotava tudo que ele dizia,
ele não parecia crer no que falava.
— E... O senhor já chegou perto de alguma dessas criaturas?
Nesse momento, o homem levantou um pouco a barra da calça, e mostrou para
nós uma grande série de cicatrizes na perna, partes extremamente acizentadas,
que pareciam até necrosadas.
— Um desses bixo me pegou, quando eu era bem jovem, tinha uns 23 anos. Eles
parecem árvores com tentáculos, que ficam se balançando pra lá e pra cá, me
levantou pela perna e senti uma queimação diabólica, me jogou longe, depois que
eu dei uma baita machadada no desgraçado. Essa perna aqui ficou sem uso por
quase cinco mês. Eu já tentei falar pro povo, mas eles falam que isso é ferida de
polvo e água viva, e que eu sô maluco. — Ele puxou de seu casaco, uma foto,
parecia ser da floresta, e nela, havia a silhueta escura de uma criatura em meio as
árvores, com galhos e o que pareciam diversos olhos. — E também, tenho essa
foto que uns jornalista tirou quando vieram aqui, pra saber as lendas.
Analisamos a cicatriz, era totalmente diferente de qualquer animal ou espectro
natural, as marcas eram em formatos espirais, e a coloração não invadia a pele,
como nos outros cidadãos, também, olhamos a foto, era bizarra.
— Nossa... Foi isso que causou a coloração no povo? — Ditei, olhando o senhor.
— Os antepassado foram atacados pelas árvores vivas, e essa maldita genética
podre foi passada nas gerações. A fraqueza que esse bichos causam não é
resolvida com nada.
— Podemos levar essa foto? — Após passar pela mão de todos, Charles a
pegou.
— Pode, meu fi, não tem valor nenhum pra mim.
Essas foram as informações principais que anotei, conversamos mais com o
senhor, mas, nada que fosse de maior importância, e entendemos bastante sobre
a lenda. Arnaldo ficou assustado com os relatos, e por isso, voltamos para casa,
após a insistência do mesmo para irmos embora. Naquela noite, eu, Virgulino e
Charles tínhamos um objetivo em comum, desvendar o mistério, ver se Hicht
tinha razão, ou se era apenas um insano homem. Fotografar as criaturas, e
noticiar nos jornais sobre o estranho bosque da cidade de Oliva.

CAPÍTULO: IV
SELVA ABISSAL

O som dos instrumentos da cidade eram audíveis do casarão, a festa já estava


começando, todos da casa já estavam prontos, menos eu, Virgulino e Charles.
Não íamos a festa, por agora, havia um objetivo de maior importância para nós,
que precisávamos resolver. Esquentamos água no fogão de lenha, e quando
ninguém viu, pegamos a panela e jogamos um pouco da água morna em nossa
cabeça e pescoço, mentindo que não estávamos bem, eu e Charles falamos que
iriamos ficar em casa, nossa mãe, carinhosa do jeito que sempre foi, quis nos
acompanhar, por temer que poderíamos piorar, e assim, Virgulino interviu.
— Não é necessário, irmã Rosana, eu cuido dos garotos. Já estou velho festejar,
vá, divirta-se. Caso a febre dos garotos piorem, vou a cidade avisar.
— Tem certeza, irmão? — Ela levantou a sombrancelha, e cruzou os braços.
— Claro, não quero estragar a diversão para você.
— Entendi, qualquer coisa, venha avisar. — Ela foi até nós, acariciou meu
cabelo, e então, saiu com o restante da família.
— Vão para o quarto de vocês. — Virgulino olhou para nos, e sussurrou.
Sorrimos levemente, e então, andamos até lá com certa lentidão. No caminho,
Charles me parabenizou pelo plano genial para fingir febre, eu dei uma risada, e
disse que achei o plano óbvio, assim, esperamos Virgulino no quarto.
Alguns minutos depois, Virgulino entrou no quarto, e nos assustamos, ele tinha
uma espingarda na mão, que havia pego na sala de caça do tio Hugo. Estava
carregando o armamento, e falou.
— Se proteger contra monstros? Talvez. Mas nessa floresta deve ter algum
animal selvagem, lobos, javalis, não sei... É melhor termos algo para defesa. —
Ele também trazia um revólver, que entregou para Charles. — Espero que teu pai
tenha te ensinado a atirar.
— Positivo. — Guardou o revólver no casaco, e me entregou a faca, que era o
que levou para o encontro com Hicht. — Se a gente achar algo, mesmo que seja
um monstro ou algo assim, você corre. Não tenta bancar o herói.
Respirei fundo, e respondi. — Ok, você também. Na verdade, todos nós.
O uivo da floresta nos amedrontava, a noite transformava a floresta em uma
imensidão de escuridão. Com o auxílio de uma lamparina caminhamos em
direção a mata escura, ansiosos e assustados pelo aspecto da floresta. Quanto
mais explorávamos floresta a dentro, mais estranha ela se tornava, o chão rígido
ficava cada vez mais cinza e lamacento, mesmo que não estivéssemos em um
pântano, as árvores se curvavam bizarramente para dentro, com galhos torcidos
de forma que nunca vimos antes, pareciam ficar cada vez fechar mais a rota, e
por isso, tivemos que começar a quebrá-los. Por toda a floresta, havia uma névoa
densa, com partículas acizentadas voando no nevoeiro, que dificultava nossa
visão, quase não nós enxergávamos.
Meu tio ia em frente, eu estava no meio, e Charles fazia a guarda atrás.
Começamos a ver a silhueta de uma área mais aberta a frente, uma clareira, com
uma grande caverna no centro, tínhamos atenção total à aquilo, que foi quebrado
com uma fala de Charles.
— Ah, droga... Pessoal, espera aí, meu pé tá preso... — Virgulino virou-se para
trás, a perna de Charles estava presa a um galho, o pé havia passado por debaixo.
— Volta o pé, garoto. Não é tão difícil.
— Não tô conseguindo... — Ele puxava a perna para trás com força. — Parece
que o galho tá enrolado na minha perna...
Eu apenas observava a situação, e ao olhar para meu tio, tomei um susto, eu
entrei em choque, não conseguia dizer nada, atrás dele havia algo... Uma criatura
gigantesca, com pernas virada para frente e grande cascos, o corpo dessa
criatura era uma massa de tentáculos emaranhados, com olhos e terríveis bocas
fetidas com dentes longos, seus tentáculos moviam-se violentamente.
— O que foi rapaz? — Ele me balançou, e repetiu. — O QUE FOI GAROTO? —
Gritou comigo, estava em choque, frio e tremendo. Sobre o reflexo dos meus
olhos, Virgulino pode ver galhos se balançando, e então, ele olhou para trás.
atrás.

CAPÍTULO: V
ÁRVORES VIVAS

Só tivemos tempo de berrar, e antes que pudéssemos agir, a criatura urrou de


forma gutural, um som grave e engasgado, terrível de se ouvir.
Charles foi levantado, o que segurava sua perna era uma dessas criaturas, que o
segurou, passando por outros tentáculos, parecia tentar o imobilizar. Virgulino
também fora levantado, perdeu o equilíbrio, mas não deixou a espingarda cair, a
criatura o segurava, e em meio a parte de cima de sua “cabeça” os tentáculos se
separaram, dando visão a uma terrível e gigante bocarra, que parecia não ter fim.
Virgulino ainda gritava, mas conseguiu pegar a espingarda com as duas mãos,
mirou, e atirou contra a boca, explodindo a raiz de um tentáculo, que caiu
fazendo um som estrondeante no solo macio. A criatura urrou com dor, e uma
espécime de sangue que parecia graxa começou a pingar da criatura. O que
acontecia com Charles era parecido, mas sua mira não o ajudava, ele conseguiu
destruir um dos tentáculos que o segurava, mas, estando sendo apertado pela
criatura, começou a ceder pela força sobre humana do bicho, que começou a
abrir seus tentáculos, para o engolir.
Eu, não me mantive parado, mas em meu estado de choque, apenas consegui
pensar em começar a tirar fotos com minha câmera analógica, foram cerca de
quatro, o flash da câmera iluminava levemente as criaturas, deixando as imagens
mais nítidas, a luz rápida trazia um desconforto para aqueles que tentavam se
defender, ao ouvir o disparo da espingarda, sai do transe, parei de tirar as fotos,
observei a criatura gigantesca que segurava meu irmão, e, com uma tentativa de
ajudá-lo, parti para cima com a faca em mãos, cortando parcialmente a criatura,
que me chicoteou com um tentáculo, jogando meu mais longe. Após o acerto
crítico, Virgulino fora jogado longe pela criatura, gritando de dor, pela
queimadura extrema em sua perna, conseguiu ver Charles preso, e assim correu
por volta da criatura, que falhou em pegá-lo novamente, Virgulino aproximou-se,
e atirou contra a criatura, quase ignorando o risco de acertar o garoto. Rompeu
parte dos tentáculos que seguravam meu irmão, que conseguiu forçar se soltar-se
com dificuldade, e começou a correr para o mais longe que podia, junto de
Virgulino. Eu, me levantei, senti minha barriga queimando, e comecei a correr
junto dos outros, para livrar-me da morte certa.
O desespero era visto e ouvido, gritávamos, correndo desesperados em meio a
tenebrosa floresta, indo na direção das luzes do casarão, já que nossa lamparina
já havia sumido a tempos, algumas vezes, esbarrávamos nas árvores e uns aos
outros. Charles caiu na lama, mas conseguiu levantar-se a tempo. Os galhos finos
e retorcidos batiam sobre nosso corpo, fazendo leves cortes pelo rosto, torso, e
mãos, quando tentávamos não ser cortados.
Chegando ao fim da floresta, já fomos recepcionados pela família e alguns
moradores da vila, que ao nos verem já começaram a indagar, e estavam
extremamente preocupados com nossos ferimentos de aparentes marcas de
tentáculos queimados. Não tínhamos tempo para perguntas, simplesmente lancei
minhas fotos para alguém, gritando.
— A GENTE PRECISA SAIR DAQUI! DEMÔNIOS MORAM NESSA
FLORESTA! — Cansado, não parei, parti em direção ao carro, já entrando,
desesperado. — ESQUEÇAM AS BAGAGENS, CORRE.
Todos que não haviam passado pelo trauma, estavam confusos, mas,
lentamente começaram a ir em direção aos veículos, pensando que sofríamos de
algum deliro coletivo por conta da febre, assim, de repente se iniciou uma
movimentação pesada na floresta, o barulho do matagal se mexendo de forma
brutal chamou a atenção de todos, que olharam na direção, vendo as terríveis
criaturas saírem, com seus tentáculos ao vento, buscando a próxima vítima. O
caos se instaurou, todos entenderam o que acontecia, o velho louco realmente
falava a verdade, algumas pessoas desmaiaram e foram prontamente carregados
por aqueles de mente mais forte. Nossa família, esquecendo de qualquer bem
material, entrou no carro, ignorando os pedidos de ajuda abafados dos
moradores da vila, que batiam desesperados na janela, já sendo pegos pelas
árvores vivas, partimos em retirada, a fim de abandonar aquele lugar maldito.
O carro derrapou após uma chicotada de uma das criaturas, que amassou a
lataria do veículo que prontamente foi colocado de volta aos eixos pelo tio
Wanderley, que o pilotava. Respiramos em alívio, eu, Charles e Virgulino
estávamos menos tensos, e pensamos em Hicht, e o que ele iria fazer para se
safar das criaturas mortais? Mas, não iriamos voltar nunca mais para a cidade,
aquilo deveria ser enterrado na mente de todos, e nunca mais deveria ser
mencionado. A cidade de Oliva é maldita, nunca mais volto a ela em situações
convencionais.

Anotações 24 de Agosto de 1987:


Nova missão.

Estou de volta a terra dos meus pesadelo, recuperado e preparado. Desde que fui
atingido, não paro de ter o mesmo sonho com uma caverna e a florestas, mas
agora, árvores vivas vão sofrer, e eu irei encerrar esse ciclo de terror.

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