Você está na página 1de 152

Sistemas de

monitoramento e
alerta como suporte à
gestão local de riscos
de desastres
Sistemas de
monitoramento e
alerta como suporte à
gestão local de riscos
de desastres

São José dos Campos


2022
Ficha Institucional

REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Presidente da República

Jair Messias Bolsonaro

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL - MDR

Ministro

Daniel de Oliveira Duarte Ferreira

SECRETARIA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – SEDEC

Secretário

Alexandre Lucas Alves

CENTRO NACIONAL DE MONITORAMENTO E ALERTAS DE DESASTRES NATURAIS - CEMADEN

OSVALDO LUIZ LEAL DE MORAES – Diretor

JOSÉ ANTÔNIO MARENGO ORSINI – Coordenador-Geral de Pesquisa e Desenvolvimento

MARCELO ENRIQUE SELUCHI – Coordenador-Geral de Operações e Modelagens

REGINA CÉLIA DOS SANTOS ALVALÁ – Coordenadora de Relações Institucionais

WESLEY BARBOSA – Coordenador de Administração


Ficha Técnica

Coordenação do Projeto: Osvaldo Luiz Leal de Moraes


Supervisor do Projeto: Wesley Barbosa

SISTEMAS DE MONITORAMENTO E ALERTA COMO SUPORTE À GESTÃO

LOCAL DE RISCOS DE DESASTRES

Danielle Blazys Correa


Lucas Rangel
Maria Cristina Maciel Lourenço
Rachel Trajber
Rafael Alexandre Ferreira Luiz

REVISÃO TÉCNICA

Leandro Casagrande
Pedro Ivo Camarinha
Rafael Alexandre Ferreira Luiz
Tiago Bernardes

DESIGNER INSTRUCIONAL

Ednei Augusto Januário

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Aline Ferreira dos Santos


Ana Elisa Pereira da Cunha Nogueira
Camila Maria do Prado Santos
Lucas Fernandes Cantisani

EDIÇÃO E REVISÃO

Aline Ferreira dos Santos


Mayara Crispim Freitas Sá
Sumário

Módulo 1
Fundamentos de Sistemas de Monitoramento e Alerta de
Desastres

Módulo 1.....................................................................................................................................10

Introdução...............................................................................................................................11

Sistemas de Monitoramento e Alerta aplicados à Gestão de Riscos de Desastres:

Antecedentes, Desafios e Perspectivas.............................................................................12

Eixos do Sistema de Monitoramento e Alerta de Desastres ........................................23

Informações e Monitoramento de Desastres...................................................................28

Módulo 2
Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de Desastres

Módulo 2.....................................................................................................................................28

Introdução...............................................................................................................................29

Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de Desastres ............................30

Redes e Agências de Monitoramento e Alerta de Desastres da União.......................31

Rede Hidrometeorológica Nacional – ANA.......................................................................31

Sistema de Coleta e Distribuição de Dados Meteorológicos – INMET........................38

Rede Observacional –CEMADEN.........................................................................................40

Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica – DECEA.....................................49

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE............................53

Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – CENSIPAM...58

Serviço Geológico do Brasil – CPRM...................................................................................61


Acesso e Interpretação de Produtos e Serviços de Monitoramento e Alerta de

Desastres da União................................................................................................................64

Boletim de Monitoramento Hidrometeorológico – CPRM............................................66

Ações de Monitoramento Hidrológico – ANA..................................................................70

Previsões Probabilísticas – CPTEC/INPE............................................................................74

Avisos Meteorológicos – INMET..........................................................................................77

Alertas de Risco de Desastres Geo-hidrológicos – CEMADEN......................................81

Módulo 3
Instrumentos de Gestão de Riscos de Desastres na Escala Local e
Sistemas de Monitoramento e Alerta

Módulo 3.....................................................................................................................................87

Introdução...............................................................................................................................88

Instrumentos de Gestão Local de Riscos de Desastres .................................................89

Plano Preventivo de Defesa Civil – PPDC..........................................................................89

Plano de Contingência – PLANCON....................................................................................92

Plano Municipal de Redução de Riscos – PMRR...............................................................95

Outros instrumentos de Gestão Local .............................................................................103

Carta de Suscetibilidade......................................................................................................104

Carta de Aptidão à Urbanização.........................................................................................105

Mapeamento das Vulnerabilidades...................................................................................106

Boas Práticas de Gestão de Risco de Desastres na Escala Local.................................109

Defesa Civil de Salvador – CODESAL.................................................................................109

Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de São Paulo – CEPDEC/SP....117

Projeto GIDES – Eixo Monitoramento e Alerta (Nova Friburgo/RJ, Petrópolis/RJ e

Blumenau/SC)........................................................................................................................125
Sistemas de monitoramento e alerta como suporte à gestão local de riscos de

desastres.................................................................................................................................131

Módulo 4
Abordagens Participativas
para o Fortalecimento de Sistemas de Monitoramento e Alerta de
Desastres

Módulo 4.....................................................................................................................................131

Introdução..............................................................................................................................132

Sistemas de Monitoramento e Alerta de Centrados em Comunidades e a

Ciência Cidadã........................................................................................................................133

Gestão de Riscos e Desastres em diálogo com a Educação..........................................133

Governança participativa para o fortalecimento do monitoramento e alerta de

desastres.................................................................................................................................136

Ciência Cidadã: conhecimento, monitoramento, comunicação e

autoproteção ........................................................................................................................137

O Nupdec pode ser uma forma de governança participativa......................................139

Boas Práticas em Sistemas Participativos de Monitoramento e

Alerta................................................................................................................................140

Formação em Capacidades de Prevenção e Monitoramento -

Nova Friburgo/RJ..................................................................................................................140

Prevenção de deslizamentos se aprende na escola: ciência cidadã em redução de

riscos de desastres................................................................................................................142

Cemaden Educação: rede de escolas e comunidades na prevenção de

desastres.................................................................................................................................143

Cemaden Educação: Eixo aprendizagem..........................................................................144

Cemaden Educação: Eixo aprendizagem..........................................................................145


Cemaden Educação: eixo mobilização..............................................................................145

Cemaden Educação: Eixo Comunidade Com-VidAção ..................................................145

Referências bibliográficas..........................................................................147
Sistemas de monitoramento e alerta como
suporte à gestão local de riscos de desastres 1

Fundamentos de Sistemas de
Monitoramento e Alerta de
Desastres
11

Introdução
Nesta unidade você verá como as várias agências, fundos e programas

da Organização das Nações Unidas (ONU) vêm desempenhando, desde a

década de 1970, um papel fundamental na promoção, articulação e imple-

mentação dos Sistemas de Monitoramento e Alerta de Desastres como um

componente estratégico para Redução do Risco de Desastres, ao apoiarem

uma série de projetos, realizações de conferências e implementação de pla-

taformas colaborativas com o objetivo de desenvolver uma cultura de pre-

venção e preparação aos desastres ao redor do mundo.

Além disso, serão caracterizados os quatro eixos que compõem um Sis-

tema de Monitoramento e Alerta de Desastres:

» a) Conhecimento do Risco: Conjunto de informações que leva em

consideração a dinamicidade dos conceitos de “ameaça” e vulnerabili-

dade”, e a intensificação destes pelos processos de urbanização acele-

rada, degradação socioambiental e mudanças climáticas;

» b) Monitoramento do Risco: Infraestrutura, tecnologia e recursos hu-


manos capazes de fornecerem serviços de monitoramento de amea-

ças de origem natural e alertas antecipados de risco de desastres;

» c) Comunicação do Risco: Práticas utilizadas na distribuição da infor-

mação produzida pelos serviços de monitoramento e alerta de manei-

ra compreensível para os órgãos competentes e para a sociedade, so-

bretudo para os moradores de áreas de risco; e

» d) Capacidade de Resposta: Recursos, estratégias e planos de preparação ao

desastre que envolvam diversos atores para uma gestão efetiva do desastre.

Espera-se que, ao final deste módulo, o aluno seja capaz de compreender

a importância dos fundamentos de um Sistema de Monitoramento e Alerta de

Desastre para uma efetiva Gestão de Riscos de Desastres em seu município.


12

Sistemas de Monitoramento
e Alerta aplicados à Gestão
de Riscos de Desastres:
Antecedentes, Desafios e
Perspectivas

Ao longo da história, o Homem sempre buscou investigar e registrar os

fenômenos da natureza na tentativa de prevê-los. Por este motivo, o de-


senvolvimento de instrumentos e técnicas de observação sempre estive-

ram na vanguarda do progresso científico e tecnológico. À medida em que

a humanidade abandona sua pré-condição nômade e passa a depender da

agricultura para viver, analisar as chuvas na tentativa de estabelecer um pa-

drão de frequência torna-se fundamental para o planejamento do plantio e,

portanto, para a garantia de sobrevivência.

Figura 1: Operadora de radar durante a Segunda Guerra Mundial. Fonte: IWM


13

Com a intensificação do comércio internacional e do transporte maríti-

mo no final do século XVIII, conhecer a rota provável de uma tempestade

tropical significava reduzir os riscos e, por conseguinte, reduzir os danos e

as perdas econômicas. A partir do momento em que o Homem passa a viver

nas cidades e, mais recentemente, com o fenômeno da urbanização mun-

dial e o advento das mudanças climáticas, monitorar as ameaças naturais

capazes de causar algum dano para a sociedade passa a ser uma necessida-

de de autoproteção da vida e prevenção de prejuízos materiais.

Embora a preocupação em salvaguardar vidas também estivesse entre

os objetivos dos primeiros sistemas de avisos de tempestades desenvol-

vidos e implementados ainda no século XIX, foi apenas no início da Segun-

da Guerra Mundial que, diante da real ameaça de bombardeio aéreo da

Alemanha, implementou-se na Inglaterra, pela primeira vez, um sistema

de detecção de eventos, comunicação e tomada de decisão baseado em

processos e protocolos pré-estabelecidos e aplicados exclusivamente

para a proteção e Defesa Civil (figura 1). Gradativamente, as instituições

de proteção e Defesa Civil recém-organizadas ao final da Segunda Guerra

Mundial incorporaram outras atribuições além daquelas associadas a ques-

tões de segurança em tempos de guerra. Com o passar do tempo, elas fo-


ram sendo adaptadas à realidade das demandas de segurança e proteção

da população em tempos de paz, vivendo em uma sociedade cada vez mais

exposta a ameaças (naturais, socionaturais e tecnológicas), e vulnerável ao

risco de desastres dos mais variados tipos.

Na esteira da chamada “Corrida Espacial” dos anos 1960 disputada entre

as duas superpotências da época (Estados Unidos e União Soviética) – quan-

do houve significativos avanços em tecnologias de observação da Terra –, <1> United Nations. Ver:
https://www.un.org/en/.
a 25ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocorri-

da em 1970, já apontava para a necessidade da aplicação da tecnologia e

pesquisa científica para a prevenção de desastres, incluindo arranjos para


divulgar efetivamente, a todos os países, os frutos da pesquisa de satélites

e outras inovações sofisticadas visando o fortalecimento da cooperação


14

internacional para determinar as causas e manifestações antecipadas de

desastres iminentes, e o desenvolvimento e melhorias de Sistemas de Mo-

nitoramento e Alerta de Desastres (UN, 1970).

No entanto, até a década de 1970, as instituições dedicavam-se, na prática,

quase exclusivamente a responder e a reduzir os efeitos dos desastres. A mu-

dança de paradigma começa na década de 1980 quando, no período entre 1983

e 1985, as severas secas que atingiram a Etiópia levaram à morte cerca de 1,2

milhões de pessoas devido à fome generalizada (figura 2). A crise no país afri-

cano chocou o mundo e chamou a atenção da comunidade internacional para a

questão da produção de alimentos e a insegurança alimentar em diversos países.

Figura 2: Seca e fome


na Etiópia (1983-1985).
Fonte: BBC

<2>Food and Agriculture


Organization of the United
Nations. Ver: https://www.
Sob liderança da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agri- fao.org/giews/en/.

cultura (FAO), um dos primeiros sistemas globais de informação e alerta an-

tecipado foi desenvolvido com o intuito de emitir, regularmente, relatórios

analíticos e objetivos sobre as condições ambientais vigentes, e fornecer

avisos antecipados de crises alimentares iminentes em nível nacional ou re-

gional, utilizando ferramentas de observação da Terra e monitoramento de

preços globais. Foi quando se percebeu que o investimento em ações de

preparação poderia reduzir os impactos de desastres e que alguns deles

poderiam até ser evitados com ações de prevenção.


15

Além da crise alimentar na Etiópia, a década de 1980 também foi mar-

cada pela ocorrência de desastres de grande magnitude que registraram

dezenas de milhares de mortos e feridos, além de danos materiais exorbi-

tantes, com destaque para o terremoto da Cidade do México e a erupção

vulcânica de Nevado del Ruiz na cidade de Tolima, Colômbia (1985); as inun-

dações no Sudão e Bangladesh (1988); além dos furacões Gilbert (1988) e

Hugo (1989), que atingiram o Caribe e os Estados Unidos, entre outros.

Diante do crescente número de vítimas e perdas econômicas decorren-

tes dos desastres, a ONU instituiu o período de 1990 a 1999 como a Déca-

da Internacional para a Redução dos Desastres Naturais. Na ocasião, os

governos foram incentivados a colaborar internacionalmente para o desen-

volvimento de políticas e programas de mitigação, com o objetivo de redu-

zir os efeitos cada vez mais devastadores dos desastres, especialmente nos

países em desenvolvimento.

Particularmente em relação aos Sistemas de Monitoramento e Alerta, to-

dos os estados-membros foram encorajados a garantir o acesso a níveis glo-

bais, regionais, nacionais e locais, e a ampla disseminação dos alertas como

um dos elementos de suas metas de desenvolvimento nacional (UN, 1991).

Neste contexto, como parte dos desdobramentos da I Conferência Mun-

dial de Redução de Riscos de Desastres, realizada no Japão em 1994 e do seu

plano de ação denominado “Estratégia de Yokohama”, o comitê técnico-cien-

tífico da ONU coordenou, em 1995, uma revisão de conceitos e práticas exis-

tentes com o objetivo de fazer recomendações sobre o desenvolvimento e a

aplicabilidade dos Sistemas de Monitoramento e Alerta de Desastres.

Para isso, especialistas de vários países foram convocados para estudar


<3>Guiding Princi-
diferentes aspectos desses sistemas, incluindo o uso e a transferência de
ples for Effective Early
tecnologias, e as capacidades nacionais e locais relacionadas ao uso eficaz Warning. Ver: https://
www.unisdr.org/2006/
dos alertas antecipados. Os resultados alcançados serviram de base para pu- ppew/whats-ew/mi-
lestones-first-steps-
blicação, em 1997, dos Princípios Orientadores para Alerta Antecipado Eficaz,
-ew.htm.
dentre os quais, destacam-se:
16

» Sistemas de Monitoramento e Alerta devem ser componentes de um progra-

ma mais amplo de mitigação nacional de riscos e redução de vulnerabilidade;

» A ação resultante dos alertas deve ser baseada em procedimentos de

Gestão de Risco e Desastres previamente estabelecidos por organiza-

ções em nível nacional, regional e local;

» Os alertas precisam ser claramente entendidos e operacionalmente

relevantes para as defesas civis locais, que são mais frequentemente

orientadas para funções de risco não específicas;

» O processo de alerta deve levar a práticas demonstradas que possam

informar e aconselhar grupos vulneráveis de pessoas, para que medidas

adequadas possam ser tomadas no sentido de mitigar perdas e danos;

» Há uma necessidade contínua de monitorar e prever mudanças nos pa-

drões de vulnerabilidade particularmente em níveis locais, em função

das condições da rápida urbanização, migração abrupta, mudanças eco-

nômicas, conflito civis ou elementos semelhantes que possam alterar as

condições sociais, econômicas ou ambientais de uma determinada área;

» Grupos de pessoas que apresentam diferentes tipos de vulnerabi-

lidade terão diferentes percepções de risco e várias estratégias de

enfrentamento. Os Sistemas de Monitoramento e Alerta localmente

apropriados fornecerão uma série de métodos de comunicação e de-

vem promover múltiplas estratégias de proteção e redução de riscos;

» Todos os aspectos da concepção e implementação dos Sistemas de Monitora-

mento e Alerta exigem o envolvimento das partes interessadas no nível local.

Isso inclui a produção e verificação de informações sobre riscos percebidos,

concordância sobre os processos de tomada de decisão envolvidos e proto-

colos operacionais padrão. Habilidades igualmente importantes envolvem a

seleção de meios de comunicação adequados e estratégias de divulgação que

possam garantir um nível efetivo de participação da população na atuação,

mediante o recebimento das informações provenientes dos alertas.


17

Ao longo dos anos, e à medida que as mudanças climáticas e suas con-

sequências tornam-se cada vez mais evidentes, as várias agências, fundos

e programas da ONU vêm desempenhando um papel importante na pro-

moção e desenvolvimento de uma cultura de prevenção e preparação aos

desastres por meio de uma série de projetos, realizações de conferências e

implementação de plataformas colaborativas. Neste sentido, a importância

dos Sistemas de Monitoramento e Alerta de Desastres tem sido cada vez

mais reconhecida e, por isso, o tema tem recebido progressivamente aten-

ção no âmbito de tratados internacionais, conferências e planos de ações,

tornando-se um dos elementos centrais de muitas estratégias para a Redu-

ção do Risco de Desastres.

<4> International Con-


Em 1998 ocorre a I Conferência Internacional de Sistemas de Alerta Ante- ference on Early War-
cipado para Redução de Desastres Naturais (EWC)4, na cidade de Potsdam, ning Systems for Natu-
ral Disaster Reduction
Alemanha. O encontro confirmou os Sistemas de Monitoramento e Alerta (http://www.geomu-
s eum.com/welcome.
como um componente central das estratégias nacionais e internacionais de html).
prevenção aos desastres no século 21.

Também identificou rea-

lizações e experiências mais


adequadas para melhorar as

relações organizacionais e

a eficácia dos alertas ante-


Figura 3: Relatório
cipados, além de identificar final da EWC II. Fon-
te: UNISDR.
os principais pontos fortes e

fracos relacionados às capaci-

dades de resposta. Ainda foi

enfatizado que o alerta an-

tecipado eficaz depende da


colaboração multissetorial e

interdisciplinar entre todos

os atores envolvidos e que,

embora baseado em ciência


18

e tecnologia, o alerta antecipado

deve ser adaptado para o atendi-

mento às necessidades das pes-

soas, seus ambientes e seus re-

cursos (IDNDR, 1998).

Inserida no contexto da Estra-

tégia Internacional das Nações Uni-

das para a Redução de Desastres,


Figura 4: Relató-
estabelecida em 2000 pela ONU, rio final da EWC
II. Fonte:UNISDR.
ocorre em 2003, a II Conferência

Internacional de Sistemas de Alerta

Antecipado para Redução de Desas-

tres Naturais (EWC II)na cidade de


<5> Second Interna-
Bonn, Alemanha (figura 3).
tional Conference on
Early Warning Sys-
tems for Natural Di-
saster Reduction. Ver:
https://www.unisdr.
org/2006/ppew/info-
-resources/ewc2/

Figura 5: Cidade de Banda Aceh, Indonésia, em ruínas após a passagem do tsunami do Oceano Índico
de 2004.

Neste encontro, o foco estava em como integrar o alerta antecipado

às políticas públicas relevantes dos países. A conferência ressaltou que as

informações técnicas dos Sistemas de Monitoramento e Alerta devem ser

traduzidas para as realidades locais de maneira clara e objetiva, para que

medidas adequadas de resposta sejam tomadas.


19

A discussão iniciada pela conferência foi fundamental para o desenvolvimen-

to de futuros sistemas, pois capacitou governos, instituições e comunidades lo-

cais a participarem de todo o processo de formulação de políticas, promovendo

a conscientização e a preparação da resposta aos desastres. O evento também

sinalizou a transição dos Sistemas de Monitoramento e Alerta de um produto

meramente técnico, para um processo sociopolítico incorporado (ISDR, 2003).

O papel das ONU na promoção dos Sistemas de Monitoramento e Alerta

tornava-se gradualmente institucionalizado à medida em que as conferên-

cias aconteciam e o interesse internacional pelo tema aumentava. Nesta con-


<6> Platform for the
juntura, uma das contribuições mais notáveis foi o lançamento da Plataforma Promotion of Early War-
ning. Ver: https://www.
para a Promoção do Alerta Antecipado em 2004 com o objetivo de contribuir unisdr.org/2006/ppew/
para o desenvolvimento de boas práticas em Sistemas de Monitoramento e

Alerta, estimulando a cooperação entre as organizações envolvidas.

A plataforma estava fortemente apoiada sob o conceito de Sistemas de

Monitoramento e Alerta “centrados em pessoas” – assunto que veremos

com maior profundidade no Módulo 4 deste curso.

A III Conferência Internacional de Sistemas de Alerta Antecipado para Re- <7> Third Internatio-
nal Conference on Ear-
dução de Desastres Naturais (EWC III) ocorreu em 2006, novamente na cida- ly Warning Systems for
de de Bonn, Alemanha (figura 4), já inserida no contexto do Marco de Ação Natural Disaster Reduc-
tion. Ver: https://www.
de Hyogo 2005-2015: “Construindo a Resiliência das Nações e Comunidades unisdr.org/2006/ppew/
info-resources/ewc3_
para Desastres”, idealizado durante a II Conferência Mundial sobre Redução website/
de Desastres, realizado em 2005 na cidade de Kobe no Japão.

Dois anos antes ocorria o devastador terremoto e tsunami do Oceano

Índico de 2004 (figura 5), resultando em centenas de milhares de mortos e

feridos em diversos países – o que fez com que crescesse a necessidade de

cooperação internacional para o desenvolvimento de Sistemas de Monito-

ramento e Alerta de Desastres em escala global, de maneira colaborativa.


20

Figura 6: Representação conceitual da interseção das agendas do Marco de Sendai, Acor-


do de Paris e ODS. Fonte: Adaptado de UNDP (2018).

Neste contexto, a conferência ocorreu sob o lema “do conceito à ação”,

e teve como objetivo traduzir o conhecimento existente em implementa-

ção concreta. Muitos projetos inovadores de Sistemas de Monitoramento

e Alerta foram apresentados para potencial apoio financeiro e implemen-

tação. As discussões foram centradas na identificação de potencial não uti-

lizado dos alertas antecipados e a própria conferência preparou o terreno

para o debate científico multidisciplinar sobre as últimas práticas e pesqui-


sas. Graças a esse encontro, foram identificadas muitas lacunas entre o de-

senho conceitual e a implementação prática/viável dos Sistemas de Moni-

toramento e Alerta de Desastres (ISDR, 2005).

Em 2007, o quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudan- <8> Intergovernmen-


tal Panel on Climate
ças Climáticas (IPCC) deixou evidente o papel que as mudanças climáticas Change. Ver: https://
www.ipcc.ch/.
podem desempenhar na intensificação da frequência e na gravidade dos

desastres. Ao destacar as ligações entre desastres e mudanças climáticas,

o relatório do IPCC chamou a atenção para o potencial colaborativo dos

Sistemas de Monitoramento e Alerta nas políticas públicas e agendas inter-

nacionais que abordam o risco de desastres e as mudanças climáticas como

dois lados da mesma moeda (IPCC, 2007).


21

O nexo entre adaptação às mudanças climáticas, redução do risco de

desastres e desenvolvimento sustentável foi amplamente reconhecido em <9> The Paris Agre-
ement. Ver: https://
2015, quando a comunidade internacional assumiu uma série de compro- unfccc.int/process-an-
missos em prol de um futuro mais sustentável. Neste sentido, três grandes d-meetings/the-paris-
-agreement/the-paris-
compromissos globais foram adotados: o Acordo de Paris; os Objetivos de -agreement.

Desenvolvimento Sustentável (ODS) – no âmbito da Agenda 2030 para o De-


<10> The 17 Sustaina-
senvolvimento Sustentável; e o Marco de Sendai para Redução de Riscos de
ble Development Go-
Desastres 2015-2030. als. Ver: https://sdgs.
un.org/goals.
Essas três grandes agendas globais criaram um quadro abrangente para

redução da vulnerabilidade e aumento da resiliência (figura 6). Embora o

Acordo de Paris tenha focado especificamente na mitigação das mudanças

climáticas e o Marco de Sendai na redução do risco de desastres, todas as <11> Sendai Fra-
agendas enfatizam a mensagem de que é impossível provocar mudanças mework for Disaster
Risk Reduction 2015-
significativas se as soluções forem verticais ou isoladas. Uma transição para 2030. Ver: https://
www.undrr.org/pu-
uma sociedade de baixo carbono, por exemplo, não só mitiga a intensidade blication/sendai-fra-
das mudanças climáticas, mas também contribui indiretamente para a cria- mework-disaster-risk-
-reduction-2015-2030.
ção de sociedades e economias resilientes (UNDP, 2018).

O Acordo de Paris, aprovado durante a 21ª Conferência das Nações Uni-

das sobre Mudanças Climáticas(COP21), deixou clara a intenção da comuni-


<12> 21th Session of
dade internacional em canalizar energias e recursos financeiros para redu- the Conference of the
Parties. Ver: https://
ção das emissões e promoção da adaptação às mudanças climáticas. Além unfccc.int/process-and-
-meetings/conferences/
do principal objetivo de manter o aumento da temperatura global abaixo
past-conferences/paris-
do limiar de 2°C até o final do século 21, a conferência também chamou a -climate-change-confe-
rence-november-2015/
atenção para a importância do monitoramento das mudanças climáticas. cop-21.
Neste sentido, o artigo 7 do acordo aponta para a necessidade de:

» Fortalecer o conhecimento científico sobre o clima, incluindo

pesquisas, observação regular do sistema climático e Sistemas de

monitoramento e Alerta de forma a informar os serviços climáti-

cos e apoiar a tomada de decisão (UNFCC, 2016).


22

O Acordo, portanto, destaca como a comunidade internacional tornou-

-se consciente, não apenas das ameaças provenientes das mudanças climá-

ticas, mas também da importância dos Sistemas de Monitoramento e Alerta

para um futuro climático resiliente (UNDP, 2018).

Com a adoção dos ODS, enfatizou-se ainda mais a ligação entre mudan-

ças climáticas e desastres e, sobretudo, a importância das soluções trans-

versais. Muitos dos ODS, na verdade, podem ser parcialmente atingidos

pela formação de uma sociedade de baixo carbono e resiliente às mudanças

do clima e aumento dos desastres. É o caso do:

» ODS 1: reduzir a pobreza;

» ODS 2: reduzir a fome e garantir a segurança alimentar;

» ODS 6: garantir água e saneamento; e até mesmo o

» ODS 5: que aborda o empoderamento feminino e a igualdade de gênero.

Desastres e mudanças climáticas minam os direitos humanos básicos (direitos

à vida, alimentação, abrigo, saúde, bem-estar e emprego para todos), e prejudicam

a vida e os meios de subsistência dos grupos mais vulneráveis (KELMAN, 2020).

Além disso, alguns dos ODS promovem diretamente os Sistemas de Monito-

ramento e Alerta ao fazerem referência, explicitamente, às mudanças climáti-

cas e ao risco de desastres, como a ODS 13, que aborda a importância de mitigar
as mudanças climáticas e reduzir seus impactos. Mais especificamente, incenti-

va a disseminação dos Sistemas de Monitoramento e Alerta a fim de reduzir os

riscos relacionados às mudanças climáticas através das seguintes metas:

» Fortalecer a resiliência e a capacidade adaptativa aos riscos cli-

máticos e desastres naturais em todos os países (UNDP, 2021).

» Melhorar a educação, a conscientização e a capacidade humana e insti-

tucional sobre a mitigação das mudanças climáticas, adaptação, redução

de impacto e Sistemas de Monitoramento e Alerta (UNDP, 2021).


23

Com a adoção do Marco de Ação de Sendai 2015-2030, foi ratificada a impor-

tância dos Sistemas de Monitoramento e Alerta não apenas para a redução do

risco de desastres, mas também para o desenvolvimento sustentável como um

todo. O Marco destaca ações prioritárias específicas para uma sociedade resi-

liente ao risco. Através da sétima meta de redução de risco de desastres, a estru-

tura do marco faz referência aos sistemas através da seguinte recomendação:

» Aumentar substancialmente a disponibilidade e o acesso a Sistemas

de Monitoramento e Alerta multirrisco e informações e avaliações

de risco de desastres para as pessoas até 2030 (UNISDR, 2015).

Com base nos tratados, nas agendas e iniciativas mencionados, pode-

-se afirmar que a comunidade internacional tem um importante trabalho

de implementação dos Sistemas de Monitoramento e Alerta de Desastres

em andamento. Ademais, com o desejado fortalecimento das capacidades

institucionais e do conhecimento local/tradicional, emprego de tecnologia

moderna, engajamento do setor privado, e cooperação transfronteiriça,

ainda há muito horizonte para o tema.

Eixos do Sistema de
Monitoramento e Alerta de
Desastres

As discussões sobre o desenvolvimento e implementação de Sistemas

de Monitoramento e Alerta como estratégia de redução do risco de desas-

tres têm recebido valiosas contribuições há pelo menos 40 anos. Sob a tu-

tela institucional da ONU, diversas agências internacionais, governos nacio-

nais, academia e setores da sociedade têm colaborado enormemente com

o tema (na teoria e na prática).


24

Em 2017, o Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desas- <13> United Nations
Office for Disaster Risk
tre (UNDRR) sintetizou a evolução do arcabouço teórico-conceitual consti- Reduction. Ver: https://
tuído ao longo dos anos, com a seguinte definição sobre o que é um Siste- www.undrr.org/termi-
nology/early-warning-
ma de Monitoramento e Alerta: -system.

» Um sistema integrado de monitoramento, previsão e predição, ava-

liação de riscos de desastres, comunicação e atividades de prepara-

ção que permita que indivíduos, comunidades, governos, empresas e

outros tomem medidas oportunas para reduzir os riscos de desastres

com antecedência aos eventos perigosos (UNDRR, 2021).

“Sistema integrado”, neste caso, refere-se à fusão do método científico

de monitoramento e detecção, com uma organização de emergência (res-

posta) que utiliza tecnologias de alerta aliadas a fatores sociais para emitir,

em tempo hábil, um alarme de notificação à população que está em risco.

Desse modo, considera-se que os Sistemas de Monitoramento e Alerta de

Desastres possuem componentes científicos, gerenciais, tecnológicos e so-

ciais conectados a uma variedade de processos.

Uma quebra ou falha em uma etapa do processo pode resultar em um

alerta ineficaz, mesmo que os demais componentes estejam desempenhan-

do corretamente sua função interna (SORENSEN, 2000).

Por abranger diversas áreas do conhecimento e possuir diferentes con-

textos sociais de implementação, para que um Sistema de monitoramento

e Alerta seja efetivo, é necessário que ele esteja estruturado em torno de

quatro eixos fundamentais: Conhecimento do Risco; Monitoramento do

Risco; Comunicação do Risco e Capacidade de Resposta (figura7).


25

Figura 7: Eixos de um Sistema de Monitoramento e Alerta de Desastres. Fonte: Adapta-


do de UNDP (2018).

Conhecimento do Risco: implica na consideração da natureza dinâmi-


ca das ameaças e vulnerabilidades, intensificadas por processos como falta

de planejamento urbano, degradação ambiental e mudanças climáticas; e

na análise de capacidades e políticas de mitigação, o que pode ocorrer por

meio de métodos científicos de análise de dados e informações com a fina-

lidade de gerar conhecimento (MARCHEZINI et al., 2020).

Nesse sentido, este eixo procura responder questionamentos como: os

perigos e as vulnerabilidades são bem conhecidos? Quais são os padrões e

tendências nesses fatores? Os mapas e dados de risco estão amplamente

disponíveis? A título de exemplo, uma agência brasileira que atua em nível

federal neste eixo é a CPRM – Serviço Geológico do Brasil, responsável pelo

mapeamento das áreas de risco e disponibilização de informações sobre

risco de desastres dos municípios brasileiros.


26

Monitoramento do Risco é o ato de coletar informações juntamente

com um conjunto de variáveis relacionadas ao risco de desastres, com a pre-

ocupação em buscar os parâmetros corretos a serem monitorados. A par-

tir do monitoramento podem ser identificadas condições socioambientais

com potencial de causar danos e perdas, isto é, situações de alerta de risco

de desastres (UNDP, 2018; MARCHEZINI et al., 2020). Trata-se de um eixo

fundamental e, por isso, deve possuir uma sólida base técnica e científica

para operar de forma confiável e ininterrupta. O Centro Nacional de Moni-

toramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) é uma das diversas

agências da União que atuam nesse eixo, do qual iremos nos aprofundar

com mais detalhe no módulo II deste curso.

Comunicação do Risco preconiza que os alertas devem ser assimilados

pelo público-alvo e que os múltiplos canais de comunicação devem ser uti-

lizados para garantir o acesso aos alertas. O principal objetivo desse eixo

é fornecer um alerta antecipado sobre um risco específico de um local ge-

ograficamente restrito, bem como capacitar as pessoas a tomar medidas

de ação e iniciar medidas de mitigação ou segurança antes que ocorra um

evento adverso (SAITO, 2018; UNDP, 2018). O Centro Nacional de Geren-

ciamento de Risco de Desastres (CENAD) é a agência brasileira responsável

por centralizar, a nível federal, todas as ações neste eixo temático.

Capacidade de Resposta é o conhecimento centralizado em planos

e insumos necessários para ações oportunas e apropriadas por parte das

autoridades e dos que estão em risco. Podem ser aprimoradas através

de exercícios e treinamentos (simulados), e campanhas educativas para

aumentar a percepção de risco. A capacidade de resposta também precisa

levar em consideração o fato de que todas as pessoas devem receber a

mesma proteção (UNDP, 2018).

O Centro Nacional de Gerenciamento de Risco de Desastres (CENAD) é a

agência brasileira responsável por atuar neste eixo do sistema, em parceria

com as Coordenadorias de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC’s) na esca-


27

la estadual e municipal, bem como os Núcleos de Proteção e Defesa Civil

(NUPDEC’s), que atuam no nível das comunidades – assunto do qual iremos

abordar no Módulo III e IV deste curso.

Dada a complexidade envolvida nos Sistemas de Monitoramento e Alerta

de Desastres e, para que eles funcionem como esperado, é necessário garantir

a interoperabilidade entre os eixos. Para isso, os sistemas devem residir em am-

bientes que incorporem uma boa governança institucional; com capacidades

operacionais e recursos adequados e clareza quanto à definição das funções

e responsabilidades dos atores envolvidos. Além disso, é importante que eles

possuam procedimentos operacionais padronizados, e que sejam regularmen-

te testados e avaliados com o objetivo de melhoria contínua dos processos.


28

Sistemas de monitoramento e alerta como


suporte à gestão local de riscos de desastres 2

Sistema Nacional
de Informações e
Monitoramento de
Desastres
29

Introdução

Neste módulo conheceremos a organização e o funcionamento do

Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de Desastres, recém-

-estabelecido pelo Decreto nº 10.593 de 24 de dezembro de 2020, com o

objetivo de apresentar a governança e o arranjo institucional das diferen-

tes redes de observação e coleta de dados da União. Serão enfatizadas as

redes e agências de monitoramento de ameaças de origem hidrometeoro-

lógicas (chuvas intensas, inundações, deslizamentos, entre outras) e seus

principais produtos e serviços disponibilizados de forma gratuita por meio

de diversas plataformas virtuais.

Saber utilizar tais recursos em situações reais torna-se fundamental

para que Defesas Civis e órgãos competentes possam realizar ações mais

assertivas de prevenção e resposta aos desastres. Portanto, este módulo

tem como objetivo orientar o agente de Defesa Civil quanto ao acesso dos

principais recursos dessas plataformas e na interpretação dos principais

produtos e serviços de monitoramento ofertados pelas agências federais

de monitoramento, contribuindo, dessa maneira, para a melhoria das ações

de prevenção em suas rotinas de trabalho.

Ao final deste módulo, é esperado que o aluno seja capaz de conhe-

cer e utilizar os principais produtos e serviços de monitoramento e alerta

disponibilizados pelas agências que compõem o Sistema Nacional de Infor-

mações e Monitoramento sobre Desastres.


30

Sistema Nacional
de Informações e
Monitoramento de
Desastres

Recentemente foi estabelecida a organização e o funcionamento do

Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de Desastres, através


<14>Ver:http://www.
do Decreto nº 10.593 de 24 de dezembro de 2020. Trata-se de um esforço p l a n a l to . g ov. b r/
ccivil_03/_ato2019-
inicial no sentido de reunir, sob um único arcabouço institucional, todas as 2022/2020/decreto/
D10593.htm
iniciativas realizadas pelas diversas agências públicas que trabalham com

a temática de monitoramento e alerta de desastres em âmbito nacional.

Neste sentido, destacam-se os seguintes artigos do decreto:

» “Art. 35. O Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de De-

sastres será instituído e coordenado pela Secretaria Nacional de Prote-

ção e Defesa Civil (SEDEC) do Ministério do Desenvolvimento Regional”;

» “Art. 36. O Sistema Nacional de Informações de Monitoramento de

Desastres será integrado pelos sistemas existentes ou que venham a

ser instituídos pelos órgãos e entidades integrantes do SINPDEC (Sis-

tema Nacional de Proteção e Defesa Civil)”;

» “Parágrafo único. Os sistemas integrantes do Sistema Nacional de In-

formações de Monitoramento de Desastres deverão fornecer dados

e informações relativos aos seguintes tipos de risco, entre outros: I -

climatológicos; II - de incêndio; III - de manejo de produtos perigosos;

IV - de saúde; V - em barragens; VI - hidrogeológicos; VII - hidrológicos;

VIII - meteorológicos; IX - nucleares e radiológicos; e X - sismológicos”.

Ainda que seja necessário discutir e pormenorizar as disposições

gerais do referido decreto, a iniciativa de definir a coordenação do siste-


31

ma sob a responsabilidade da SEDEC (Art. 35) é bem-vinda, pois apresenta

avanços no sentido de promover a centralidade das ações de monitoramen-

to e alerta no principal representante do SINPDEC e órgão responsável por

coordenar as ações de proteção e defesa civil em todo o território nacional,

incluindo a disseminação dos alertas para as coordenadorias de Defesa Civil

dos estados e municípios.

Além disso, ao designar a “integração dos sistemas já existentes

ou que venham a ser instituídos pelos órgãos e entidades integrantes do

SINPDEC” (Art. 36), o decreto visa um ambiente de boa governança ao levar

em consideração as particularidades técnicas de cada sistema em opera-

ção, com suas competências e habilidades já definidas, bem como a total

autonomia das respectivas instituições sobre seus produtos e serviços de

monitoramento e alerta.Por fim, cabe destacar a preocupação de incluir no

sistema uma pluralidade de ameaças (de origem natural e tecnológica), que

segue a tendência mundial em considerar contextos mais amplos de riscos

e desastres, nos quais torna-se imprescindível o monitoramento de amea-

ças múltiplas em uma sociedade cada vez mais urbanizada e complexa.

Redes e Agências de
Monitoramento e Alerta de
Desastres da União

Rede Hidrometeorológica Nacional – ANA

A Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN) (Figura 8) é coordenada


<15> Ver: https://www.
pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), e conta com a gov.br/ana/pt-br
parceria de outras instituições federais, além de entidades estaduais, para

realizar o monitoramento e disponibilizar informações de diversos parâme-


32

tros de interesse hidrológico. Dos 12.963 mil rios brasileiros (fronteiriços e

transfronteiriços) cadastrados pela agência, a RHN é responsável pelo mo-

nitoramento de cerca de 2.176 (aproximadamente 17%).

Figura 8: Mapa interativo da Rede Hidrometeorológica Nacional. Fonte: dadosabertos.


ana.gov.br.

Atualmente, a rede possui 4.641 pontos de monitoramento em todo o

país, divididos em 1.874 estações que monitoram variáveis relacionadas aos

rios, como níveis, vazões, qualidade da água e transporte de sedimentos; e


outras 2.767 estações que monitoram principalmente as chuvas. As infor- <16> Dados base-
ados no inventário
mações obtidas e divulgadas, após a validação e sistematização dos dados de estações realiza-
do em 2018.
hidrometeorológicos, são valiosas para subsidiar a tomada de decisão para

a gestão efetiva dos recursos hídricos.

Além disso, servem para:

» Produzir estudos;

» Definir políticas públicas;

» Avaliar a disponibilidade hídrica;

» Monitorar eventos considerados críticos (inundações e estiagens);

» Disponibilizar informações para a execução de projetos pela sociedade;


33

» Identificar o potencial energético de navegação ou de lazer, em um

determinado ponto ou ao longo da calha do manancial;

» Levantar as condições dos corpos d’água para atender a projetos de

irrigação, ou de abastecimento público;

» Além de serem a base para a realização de avaliações para a concessão

de outorgas de direito de uso dos recursos hídricos (ANA, 2021).

<17> Ver: https://


A disponibilização dos dados da RHN encontra-se no portal do Sistema www.snirh.gov.br/
portal/snirh-1/sis-
Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos – SNIRH, onde é possí- temas

vel acessar diversos produtos, tais como:

» Sistema Hidro-Telemetria (Figura 9), no qual é possível acessar dados hidro-


<18> Ver: http://
meteorológicos georreferenciados das estações telemétricas em tempo real; www.snirh.gov.br/
hidrotelemetria

Figura 9: Portal do Sistema Hidro-Telemetria da Rede Hidrometeorológica Nacional. Fon-


te: snirh.gov.br.

» HidroWeb (Figura 10), que oferece acesso ao banco de dados históri- <19> Ver: https://
w w w.snirh.gov.
cos da RHN, oriundos de coleta convencional, ou seja, registros diários br/hidroweb

feitos pelos observadores e medições realizadas em campo pelos téc-

nicos em hidrologia e engenheiros hidrólogos.


34

Figura 10: Mapa interativo do Portal do sistema HidroWeb da Rede Hidrometeorológica


Nacional. Fonte:snirh.gov.br.

» Sistema de Acompanhamento de Reservatórios – SAR (Figura 11), <20> Ver: https://


www.ana.gov.br/sar/
que disponibiliza dados operativos dos reservatórios do Brasil e per-

mite, entre outras funcionalidades, a espacialização da informação

por meio de arquivos que podem ser baixados e depois utilizados em

ferramentas como o Google Earth. Atualmente o SAR está dividido

em 3 módulos: (i) Nordeste e Semiárido – em que são monitorados

mais de 500 reservatórios nos nove estados da Região Nordeste e

em Minas Gerais com capacidade total próxima a 40 bilhões de m³;


(ii) Sistema Interligado Nacional – que contempla dados operativos de

160 infraestruturas para geração das usinas hidrelétricas despachadas

pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico; e (iii) Outros Sistemas


<21>Ver: http://www.
Hídricos - que traz informações da operação do Sistema Hídrico Canta- ons.org.br

reira, responsável pelo abastecimento de grande parte da região me-

tropolitana da cidade de São Paulo, dos reservatórios de abastecimen-

to da região metropolitana do Distrito Federal e dos reservatórios do

Sistema Paraopeba, utilizados para abastecimento de parte da região


metropolitana de Belo Horizonte.
35

Figura 11: Portal do SAR da Rede Hidrometeorológica Nacional. Fonte: ana.gov.br.

» Hidrosat (Figura 12), sistema desenvolvido em parceria com o institu- <22>Ver :https://
www.snirh.gov.br/
to de pesquisa francês Institut de Recherche pour le Développement portal/snirh-1/sis-
temas
para fornecer dados de monitoramento hidrológico e de qualidade da

água a partir de sensores satelitais, utilizando uma técnica conhecida


<23> Ver: https://
www.ird.fr/
como “Hidrologia Espacial”. O portal fornece uma série temporal de

mais de 10 anos de parâmetros hidrológicos como: cota, turbidez, con-


centração de material em suspensão e de clorofila-a.

Figura 12: Portal HidroSat da Rede Hidrometeorológica Nacional. Fonte: snirh.gov.br.


36

Além da disponibilização dos produtos de monitoramento, a ANA conta

com salas de situações estaduais, integradas à sua sede em Brasília (Figura

13), que funcionam como centros de gestão de situações críticas, coordena-

das pelo órgão gestor de recursos hídricos e com participação facultada aos

representantes do instituto de meteorologia local e da Defesa Civil estadual.

Nesses grupos, buscam-se identificar ocorrências e subsidiar a tomada de

decisão para a adoção antecipada de medidas mitigadoras dos efeitos de se-

cas e inundações. As salas são implementadas nos estados pelos órgãos ges-

tores estaduais de recursos hídricos. A ANA cede equipamentos, softwares e

capacitação para os estados acompanharem a situação de eventos extremos.

As contrapartidas estaduais dizem respeito à operação das salas de situação e


à manutenção das estações hidrometeorológicas automáticas cedidas pela ANA,

responsabilizando-se por toda a estrutura física e de pessoal. Em cada estado,

forma-se uma rede de articulação consoante com a estrutura administrativa local.

Há casos em que as parcerias também envolvem entidades federais (ANA, 2021).

Figura 13: Sala de Situação da ANA em Brasília. Foto: Natália Sampaio / Banco de Imagens
ANA.
37

A implantação dessas salas permitiu o acompanhamento e a análise da

elevação dos níveis ao longo dos rios no ano consecutivo, combinados com

a previsão meteorológica e a difusão pela Defesa Civil nos municípios atin-

gidos. A ação também possibilitou maior articulação entre os órgãos com

atuação relacionada à ocorrência de desastres naturais (ANA, 2021).

A ANA ainda atua como coordenadora do Sistema Nacional de Informa-


<24> Ver: https://
ções sobre Segurança de Barragens (SNISB), que possui um cadastro conso- www.snisb.gov.br/

lidado de informações sobre barragens, cuja inserção dos dados está sob a

responsabilidade de cada entidade ou órgão fiscalizador de segurança de

barragens no Brasil. Foi criado pela Lei nº 12.334/2010, na qual se define que < 2 5 > Ve r : http : / /
w w w. p l a n a l t o .
deverá compreender coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2010/
informações das barragens em construção, em operação e desativadas.
lei/l12334.htm

O sistema contém informações consolidadas de barramentos para dife-

rentes usos e sem qualquer restrição em termos de altura ou capacidade

total do reservatório. Assim, abrange barragens submetidas ou não à Lei nº

12.334/2010 (SNISB, 2021).

O sistema está sendo desenvolvido baseado no conceito modular e com

desenvolvimento faseado. A modularidade tem como objetivo diminuir a

complexidade do sistema, facilitando o seu desenvolvimento, as atualiza-

ções e a expansão futura. Este modelo pretende garantir flexibilidade na

inserção de novas funcionalidades e proceder à adaptação progressiva do

Sistema. A parte já desenvolvida do sistema permite armazenar registro de-

talhado das principais características das barragens, apresentando gráficos

e mapa (Figura 14).

Além disso, permite armazenar e gerenciar informações relativas ao Pla-

no de Segurança de Barragens, suas inspeções, revisões periódicas, Plano

de Ação de Emergência, dentre outras. O portal do sistema também forne-

ce informações como legislações/regulamentos, guias e manuais, além dos

Relatórios de Segurança de Barragens (SNISB, 2021).


38

Figura 14: Mapa interativo do SNISB. Fonte: snisb.gov.br.

Sistema de Coleta e
Distribuição de Dados
Meteorológicos – INMET

O Sistema de Coleta e Distribuição de Dados Meteorológicos do Insti-

tuto Nacional de Meteorologia (INMET) é a rede mais antiga do Brasil. O <26> Ver: https://
portal.inmet.gov.br/
banco de dados meteorológicos do instituto já incorporou em seu acervo,

em forma digital, informações diárias coletadas desde 1961. Além disso,

encontra-se em plena atividade um projeto de recuperação digital de dados

históricos que agregará à base de dados meteorológicos aproximadamente

12 milhões de documentos – patrimônio do clima observado desde tempos

do Império (antes de 1900).

O sistema do INMET coleta dados meteorológicos como temperatura,

umidade relativa do ar, direção e velocidade do vento, pressão atmosféri-

ca, precipitação, evaporação, radiação solar, provenientes de 571 estações

meteorológicas automáticas, que transmitem em tempo real tais variáveis

meteorológicas, e de 170 estações convencionais, operadas por observado-


39

res meteorológicos. Estas últimas, por serem operadas manualmente por

instrumentos convencionais e certificados, costumam ser muito precisas.

Na atualidade, o INMET possui a maior rede de estações automáticas

da América do Sul e utiliza o que há de mais moderno internacionalmente.

Os dados coletados por essa rede são disseminados, de forma democrática

e gratuita, em tempo real através do portal do instituto (Figura 15), e têm

aplicação em todos os setores da economia, de modo especial no agropecu-

ário e em apoio à Defesa Civil (INMET, 2021).

Figura 15: Portal interativo do INMET. Fonte: portal.inmet.gov.br.

O INMET foi criado em 1909 com o nome de Diretoria de Meteorologia e

Astronomia, revendo seu nome atual apenas em 1992. O órgão pertence ao

atual Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e hoje seu objetivo

é promover informações meteorológicas à sociedade brasileira e influenciar

construtivamente nos processos de tomadas de decisão de forma a promover

o desenvolvimento sustentável no país. Para isso, usa recursos de monitora-


40

mento, análise e modelos de previsão de tempo e clima baseados em pesqui-

sas aplicadas, trabalhos em parcerias e compartilhamento de conhecimento.

São atribuições do instituto: elaborar e divulgar diariamente em nível

nacional a previsão do tempo, avisos e boletins meteorológicos; promover,

coordenar e elaborar estudos meteorológicos e climatológicos ambientais

e/ou aplicados à agricultura e outras atividades associadas; estabelecer, co-

ordenar e operar redes de observação meteorológicas e de transmissão de

dados, inclusive as integradas à rede internacional, além da promoção de

capacitação a demandas técnicas (INMET, 2021).

O instituto também representa o Brasil junto à Organização Meteoroló-

gica Mundial (OMM) e nela tem como responsabilidade o tráfego de mensa- <27> Ver: https://
news.un.org/pt/
gens coletadas pela rede de observação meteorológica da América do Sul tags/omm

os demais centros meteorológicos do Sistema de Vigilância Meteorológica

Mundial. Além disso, o INMET também deve sediar um Centro de Sistema

de Informação Mundial (INMET, 2021).

Rede Observacional –
Cemaden
<28> Ver: https://
O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Natu- w w w.gov.br/
mcti/pt-br/rede-
rais (Cemaden), órgão vinculado ao atual Ministério de Ciência, Tecno- -mcti/cemaden

logia, Inovações e Comunicações, foi criado em 2011 após o desenvolvi-

mento de uma percepção global e local de demanda de informação sobre

desastres e de mobilizações que partiram tanto do governo quanto da

sociedade. A tragédia ocorrida em janeiro desse mesmo ano, na Região

Serrana do Rio de Janeiro, foi um marco fundamental para pressionar e

culminar na criação do Centro. Com o objetivo de implementar, comple-

mentar e consolidar a rede de instrumentos meteorológicos, hidrológi-


41

cos e geotécnicos para monitoramento ambiental em parceria com vá-

rias instituições, o Cemaden foi resultado da busca pela consolidação de

um programa multissetorial, que permitisse a atuação coordenada entre

os órgãos envolvidos nas questões relativas à gestão de monitoramento

e alertas, alarme e articulação, resposta e mobilização (CEMADEN, 2021).

O Cemaden possui uma rede própria de monitoramento de dados,

atualmente com 4.205 equipamentos instalados por todo o país. Esta rede

foi prevista no Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desas-

tres Naturais (2012-2014) com intuito de coletar informações necessárias

ao monitoramento e alerta de desastres de origem hidrometeorológica em

tempo real. Os dados desta rede são relevantes para o acompanhamento

das chuvas, pelos profissionais da Sala de Situação do Centro (Figura 16)

que, juntamente com outras informações, auxiliam na análise de cenários

de risco de desastres de origem hidrometeorológica e, consequentemente,

na decisão pela emissão de diferentes níveis de alerta.

Figura 16: Sala de Situação do Cemaden, em São José do Campos/SP. Fonte: Cemaden.

Além disso, os dados também são relevantes como variáveis de entrada

em modelos hidrológicos e geodinâmicos utilizados para a previsão de va-

zão – nível do rio e fator de segurança para estabilidade de encostas, estes


42

essenciais para a análise de risco de inundações, enxurradas e deslizamen-

tos de terra (CEMADEN, 2021).

As características dos pluviômetros automáticos que compõem a rede do

Cemaden (Figura 17) foram definidas com o propósito de medir a quantidade

e a intensidade das chuvas que possam deflagrar deslizamentos de terra, inun-

dações e enxurradas. Os 3.350 equipamentos foram instalados com o objetivo

de ampliar e complementar a rede de monitoramento pluviométrico existente

no Brasil, e para subsidiar a emissão de alertas de desastres de origem hidrome-

teorológica, os quais contribuem para a redução de danos e perdas humanas.

Figura 17: Cobertura de pluviômetros automáticos da rede observacional do Cemaden.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Os equipamentos foram instalados em locais próximos a áreas de ris-

co mapeadas, tendo sido estabelecido parcerias formais com instituições e

entidades que abrigaram os equipamentos. As entidades responsáveis pela


salvaguarda dos equipamentos formam uma importante rede nacional de
43

colaboração para a redução de riscos de desastres, em conjunto com órgãos

governamentais (CEMADEN, 2021).

Os dados utilizados para a identificação de riscos de desastres precisam

ser confiáveis e com disponibilidade instantânea. Dessa forma, os pluviô-

metros automáticos se conectam aos servidores do Cemaden e transmitem

dados dos acumulados de chuva em milímetros, a cada 10 minutos, sendo

então processados e disponibilizados para a Sala de Situação do Centro em

plataforma especializada desenvolvida pelo Centro.

Os dados gerados pelos pluviômetros automáticos estão disponíveis


<29> Ver: https://
para a sociedade através do Mapa Interativo (Figura 18), no qual tam- w w w.gov.br/mcti/
pt-br/rede-mcti/ce-
bém é possível fazer o download da série histórica de dados dos equipa- maden

mentos, ou período de interesse, para posterior manipulação dos dados

conforme as diferentes necessidades.

Figura 18: Portal do Mapa Interativo do Cemaden. Fonte: Cemaden.

Os dados disponibilizados via Mapa Interativo são brutos, ou seja, não

passaram por nenhum tratamento; logo, pode haver inconsistências neles.

Em complemento, todos os dados do Cemaden são disponibilizados em ho-


<30> Coordinated
rário UTC sendo necessário subtrair a diferença para se conhecer o horário Universal Time.
local. No caso do Brasil, essa diferença se altera conforme o fuso horário e

a vigência do horário de verão. Para as regiões onde se segue o horário de


44

Brasília e o horário de verão não está vigente, é necessário diminuir 3 horas

no horário UTC. No período em que o horário de verão está vigente (em que

adiantamos os relógios em 1 hora), nos aproximamos do horário UTC, e a

diferença que deve ser subtraída passa a ser de apenas 2 horas.

Figura 19: Cobertura de estações hidrológicas da rede observacional do Cemaden. Fonte:


Elaborado pelo autor.

Além dos pluviômetros automáticos, a rede do Cemaden conta com

186 plataformas de coleta de dados hidrológicos (PCDHidro) (Figura 19).

As estações hidrológicas foram instaladas em municípios monitorados pelo

Centro, situados em bacias com rápido tempo de resposta e alta densidade

populacional.

Com a finalidade básica de realizar a medida, o armazenamento e a

transmissão de dados hidrológicos, essas estações monitoram o nível

do rio (usando sensor tipo radar) e da precipitação (com pluviômetro de


<31> Registrador e
báscula), e incluem uma câmera de vídeo integrada a um datalogger de transmissor auto-
mático de dados.
maneira a permitir registros fotográficos em tempo real da situação do
45

rio, principalmente no que diz respeito à enxurrada, erosão de margens

e ao alagamento do núcleo urbano. Essas informações são transmitidas

pelas redes de telefonia celular.

A rede de estações hidrológicas do Cemaden visa atender a vários

propósitos, como:

» a) melhorar o entendimento do processo de transformação chu-

va-vazão em bacias de resposta rápida;

» b) verificar através de evidências fotográficas a ocorrência de

enxurradas e os montantes pluviométricos deflagradores desses

eventos;

» c) verificar através de evidências fotográficas a ocorrência de so-

lapamento de margens;

» d) permitir o ajuste de modelos hidrológicos;

» e) auxiliar na emissão de alertas com dados em tempo real; e

» f) permitir a atualização do modelo hidrológico (assimilação de

dados) a partir de informações coletadas em tempo real de ma-

neira a melhorar a confiabilidade das previsões de extremos hi-

drológicos.

A rede do Centro também conta com o projeto “Sensores Geotécnicos”

que visa a instalação de Plataformas de Coleta de Dados Geotécnicas (PCDs-

Geo) para o monitoramento da quantidade de chuva e de umidade do solo,

permitindo, desse modo, uma maior precisão dos alertas de deslizamentos.

Desde 2019, já foram instaladas 80 PCDsGeo em áreas de risco de muni-

cípios com vasto histórico de ocorrências de movimento de massa como em

Petrópolis – RJ (Figura 20); Blumenau – SC; municípios da Baixada Santista

– SP; Campos do Jordão – SP; Salvador – BA; municípios da região do ABC

Paulista; e na região metropolitana do Recife – PE (Figura 20).


46

Atualmente, existem estudos para instalação de mais 6 sensores em

áreas de risco de Angra dos Reis – RJ. Cada plataforma geotécnica conta

com seis sensores distribuídos ao longo de três metros de profundidade do

solo, monitorando o nível de saturação do solo (CEMADEN, 2021).

Figura 20: Equipe da Defesa Civil de Petrópolis acompanhando instalação de estação


geotécnica pelo Cemaden. Fonte: G1.

Quanto aos radares meteorológicos próprios do Cemaden (Figura 21),

foram 9 os instalados em diferentes regiões do Brasil entre os anos de 2013

e 2014: Natal – RN; Petrolina – PE; Salvador – BA; Maceió – AL; Jaraguari –

MS; Santa Tereza – ES; e São Francisco – MG, Três Marias – MG e Almenara

– MG. Os radares também contribuem na emissão de níveis de alerta para

municípios vulneráveis à ocorrência das inundações, enxurradas e eventos


geológicos sobre possíveis desastres associados à chuva.

Informações de outros 27 radares meteorológicos no Brasil somam-se a

esses 9 e são utilizados na Sala de Situação, processados por avançados pro-

gramas de computador. O radar meteorológico é uma ferramenta que pro-

porciona a previsão de chuva de curtíssimo prazo e proporciona um ganho

significativo na detecção e antecipação de tempestades (CEMADEN, 2021).

Uma outra abordagem de monitoramento realizada pelo Cemaden é a pre-

visão de secas e de risco de colapso de safras no Semiárido Brasileiro. Para


47

esse monitoramento regional são utilizadas 102 Plataformas Automáticas de

Coleta de Dados Agrometeorológicos (PCDAgro) e 506 de umidade do solo

(PCDAqua) (Figura 22). O conhecimento da quantidade e da disponibilidade

de umidade do solo e de sua variação espacial é de suma importância para se

compreender a dinâmica do balanço de água e de energia à superfície do solo.

Figura 21: Cobertura de radares do Cemaden. Fonte: Elaborado pelo autor.

O Cemaden almeja realizar parcerias com empresas de assistência téc-


nica e extensão rural das nove unidades da federação de abrangência do

semiárido, além de outros parceiros locais, de forma a mobilizar apoio lo-

gístico para realização do trabalho inicial de campo e de assistência técnica

ao produtor rural de agricultura familiar.

Os equipamentos integrarão a rede de coletas de dados já existente nos

estados e a transmissão será automática, para o Centro. Os dados agrome-

teorológicos contribuem no desenvolvimento de estratégias, minimizando,

dessa forma, os efeitos adversos dos eventos extremos na agricultura do se-


48

miárido brasileiro, como decisões referentes à distribuição da precipitação

durante a estação chuvosa em relação às necessidades hídricas das culturas.

As informações provenientes deste projeto proporcionarão ao produtor ru-

ral de agricultura familiar uma geração de produtos que o auxiliarão na tomada

de decisões sobre as atividades agrícolas, particularmente relacionados com

datas de preparação do solo e de plantio, operações de controle de pragas e

doenças, aplicação de fertilizantes e previsão de safras (CEMADEN, 2021).

Figura 22: Cobertura de PCDAgro (esquerda) e PCDAcqua (direita) da rede observacional


do Cemaden. Fonte: Elaborado pelo autor.

A integração dos dados coletados mencionados compõe a rede obser-

vacional Cemaden que permite, portanto, o desenvolvimento de sistemas

pilotos de alerta de cheias e enxurradas, alerta de movimentos de massa,

modelagem hidrológica distribuída e de risco iminente de movimentos de

massa ou estiagens que irão aperfeiçoando a confiabilidade dos alertas de

desastres naturais no Brasil (CEMADEN, 2021).


49

Rede de Meteorologia do
Comando da Aeronáutica –
DECEA
<32> Ver: https://
www.decea.mil.br/

O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) da Força Aé-

rea Brasileira (FAB) é responsável pelo controle do espaço aéreo brasilei-

ro. Suas atividades viabilizam os voos e a ordenação dos fluxos de tráfego


<33> Ver: https://
aéreo no país. É o órgão gestor do Sistema de Controle do Espaço Aéreo www.fab.mil.br/in-
dex.php
Brasileiro (SISCEAB).

Figura 23: Portal da Rede de Meteorologia do DECEA. Fonte: Redemet.

Neste sentido, a informação meteorológica torna-se vital para a segu-

rança das operações aéreas, contribuindo para o conforto dos passageiros

e facilitando a definição de rotas mais rápidas e econômicas de voos regula-

res. Desse modo, o DECEA também é responsável por controlar, normatizar

e supervisionar a operação dos órgãos de meteorologia aeronáutica que

compõem o SISCEAB (DECEA, 2021).


50

O DECEA exerce este papel através de uma complexa estrutura de ra-

dares, estações meteorológicas, centros de coordenação e outros recursos

instalados no país. Nesse contexto, a Rede de Meteorologia do Comando da

Aeronáutica (REDEMET) concentra informações essenciais para o gerencia- <34> V e r : h t -


tps://www.rede-
mento dos voos que podem ser relevantes também para o monitoramento met.aer.mil.br

de extremos meteorológicos.

Através do portal da REDEMET (Figura 23) são disponibilizados dados de

boletins meteorológicos aeronáuticos rotineiros, gerados a partir de equipa-

mentos instalados nos principais aeródromos do Brasil e da América do Sul.

Os dados incluem variáveis como: direção e velocidade do vento; visibilida-


de; nebulosidade; temperatura do ar; pressão atmosférica; umidade relativa,
provenientes de estações meteorológicas de superfície, de altitude e de rada-

res. Além disso, o DECEA também gera produtos a partir de sua rede própria

de radares (Figura 24), situados nos municípios de Santiago – RS e Canguçu

– RS; Urubici – SC; São Roque – SP; Petrópolis – RJ e Gama – DF (DECEA, 2021).

Figura 24: Cobertura de radares do DECEA.Fonte: Elaborado pelo autor.


51

As siglas e nomenclaturas dos produtos gerados no contexto da “Me-

teorologia Aeronáutica” seguem padrões internacionais específicos e, por

essa razão, podem resultar na interpretação menos intuitiva para leigos. No

entanto, para fins de monitoramento e alerta de desastres (objetivo desse

curso), alguns desses produtos merecem ser citados. São eles:

» METAR (Meteorological Aerodrome Report): informe meteorológi-

co regular utilizado para a descrição completa das condições meteo-

rológicas observadas em um aeródromo específico. É reportado em

intervalos regulares de 1 (uma) hora;

» TAF (Terminal Aerodrome Forecast): descrição completa das condi-

ções meteorológicas previstas em um aeródromo durante o período

de 24 horas, incluindo qualquer mudança considerada significativa

para as operações aéreas. Contém informações específicas apresen-

tadas numa ordem fixa;

» SPECI (Informe Meteorológico Aeronáutico Especial Selecionado):

código meteorológico utilizado para divulgar as informações obtidas

em uma observação meteorológica à superfície, para fins aeronáuti-

cos, realizada quando da ocorrência, dissipação ou mudança significa-

tiva na intensidade de um fenômeno que seja considerado importante

para as operações aéreas. Geralmente é realizada nos intervalos das

horas cheias.

» SIGMET: mensagem (com validade de até 4 horas) relativa à ocorrên-

cia, previsão e evolução (no tempo e espaço), de determinados fenô-

menos meteorológicos (gelo, ciclone, trovoada e turbulência) em rota,

e de outros fenômenos na atmosfera (cinzas vulcânicas, nuvem radio-

ativa e vulcão) que possam afetar a segurança das operações aéreas.

A REDEMET disponibiliza o SIGMET sob a forma de mensagem e repre-

sentado graficamente (plotado).


52

Figura 25: Regiões de Informação de Voo do espaço aéreo brasileiro. Fonte: Redemet.

O METAR, TAF e SPECI consideram um raio de abrangência entre 8 km

a 16 km e servem especialmente às atividades de decolagem e pouso (DE-

CEA, 2021). Já o SIGMET é feito por FIR (do inglês, Flight Information Re-

gion ou Região de Informação de Voo): designação dada à maior porção de

espaço aéreo em que se dividem os espaços aéreos dos países para que seja

prestado ao menos um dos serviços de tráfego aéreo.

O Brasil é composto por 5 FIR’s (Figura 25), sendo elas: Atlântico (SBAO); Bra-
sília (SBBS); Curitiba (SBCW); Recife (SBRE); Amazônica (SBAZ); além da região co-

nhecida como “Tubulão”, que corresponde ao espaço aéreo compreendido entre

as capitais de São Paulo – SP e Rio de Janeiro – RJ. As mensagens das condições

meteorológicas são apresentadas em horário UTC, ou seja, correspondem a três


<35> Ver: http://
horas a mais em relação ao Horário de Brasília (quando fora do horário de verão).
clima.icea.decea.
mil.br/clima/Su-
perficie.php
Por fim, vale ressaltar que a disponibilização do banco de dados cli-

matológicos do DECEA é gerenciado pelo Instituto de Controle do Espaço

Aéreo (ICEA), e atualmente está em fase de testes. Um outro banco de da-


<36> Ver: https://www.
dos internacional, com mensagens mais diversificadas do que as já citadas icea.decea.mil.br/

(sem a opção de decodificação automática), e que reúne somente as infor-

mações da última hora é Sistema OPMET (Banco Internacional de Dados <37> Ver: https://re-
demet.decea.mil.br/ol-
Operacionais de Meteorologia) (DECEA, 2021). d/?i=produtos&p=consul-
ta-de-mensagens-opmet
53

Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos
– CPTEC/INPE

O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Na-


<38> Ver: https://
cional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) é o centro mais avançado de www.cptec.inpe.br/

previsão numérica de tempo (curto e médio prazo) e clima da América La-

tina. Fornece previsões de alta precisão desde 1995 a partir do domínio de

técnicas de modelagens numéricas complexas da atmosfera e do oceano.

O Centro tem como objetivo prover o país com o que há de mais avança-

do em previsões do tempo e clima e dispor da capacidade científica e tec-

nológica de melhorar continuamente estas previsões, visando o benefício

da sociedade. Ele opera por 24 horas nos 365 dias do ano, assim como a sala

de situação do Cemaden (CPTEC/INPE, 2021).

Com a colaboração de profissionais especializados e altamente capaci-

tados, o CPTEC utiliza supercomputadores com capacidade de processar


bilhões de operações aritméticas por segundo. A junção do conhecimento

e tecnologia faz com que a confiabilidade alcançada na previsão numérica

de tempo e clima esteja no mesmo nível dos centros de previsão dos países

mais desenvolvidos. Os dados que alimentam o sistema de computação são

advindos dos satélites Meteosat e Goes, da rede de dados da OMM e das

redes nacionais sob a responsabilidade do INMET.

Outras informações vêm de instituições como: DECEA; Diretoria de


<39> Ver: https://
Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha ; centros estaduais de w w w. m a r i n h a .
mil.br/dhn/
meteorologia; e outros centros internacionais. O satélite brasileiro (SCD-

1) (Figura 26), que coleta dados ambientais, também desempenha papel

importante no levantamento de informações necessárias à pesquisa mete-

orológica no CPTEC/INPE (CPTEC/INPE, 2021).


54

Em um país com grande extensão territorial e diversidade climática

como o Brasil, a boa qualidade das previsões meteorológicas a partir da dis-

tribuição de estações de monitoramento local e de dados remotos (como

os obtidos por satélites), é imprescindível ao planejamento e bom desem-

penho de inúmeros setores.

O CPTEC/INPE, usando modelos numéricos, tem contribuído para a pre-

visão de secas ou inundações favorecendo as tomadas de decisões nas áre-

as de Defesa Civil, geração de energia elétrica e gerenciamento de recursos

hídricos, por exemplo.

O sistema de computação e os acervos de dados propiciam enorme cres-


cimento da pesquisa meteorológica no país, com o resultado de melhorar o
conhecimento sobre fenômenos atmosféricos de interesse. A modelagem

de previsão oceânica e ressacas marítimas também é fornecida pela Centro

(CPTEC/INPE, 2021).

Figura 26: Ilustração artística do satélite brasileiro SCD-1. Fonte: INPE.

<40> A previsão proba-


Entre os diversos produtos disponibilizados no portal do CPTEC/INPE,
bilística trata de atri-
buir probabilidades de
estão aqueles relacionados à Previsão Probabilística do tempo (Figura 27),
tempo severo a uma
determinada região.
com a opção de o usuário escolher:
55

Figura 27: Portal de previsão numérica do tempo do CPTEC/INPE. Fonte: INPE.

» A localidade (município);

» O período desejado (24h a até 5 dias);

» E o fenômeno meteorológico (acumulado de chuva acima de 50 mm,

chuva intensa ou tempo severo).

Além da informação no formato de mapa, o sistema permite a visualiza-

ção da distribuição gráfica de diversos parâmetros meteorológicos (precipi-

tação, temperatura, umidade relativa do ar, direção e velocidade do vento,

pressão atmosférica e cobertura de nuvens) por localidade e intervalos de

tempo predefinidos (Figura 28).


56

Figura 28: Meteogramas de parâmetros meteorológicos. Fonte: cptec.inpe.

O CPTEC/INPE disponibiliza, ainda, um portal específico no qual é possí-

vel que o usuário escolha o modelo meteorológico desejado, as variáveis, e

os horários em que estes modelos foram rodados (Figura 29).


57

Figura 29: Portal de previsão numérica do tempo do CPTEC/INPE. Fonte: cptec.inpe.

Outro importante produto do CPTEC/INPE é o Portal SIGMA (Figura 30),

que disponibiliza diversas opções de monitoramento de variáveis meteoroló-

gicas derivadas de imagens de satélite e técnicas de sensoriamento remoto,

com destaque para o Hidroestimador – método inteiramente automático que

utiliza uma relação empírica exponencial entre a precipitação (estimada por

radar) e a temperatura de brilho do topo das nuvens (extraída do canal infra-

vermelho do satélite GOES-12), gerando taxas de precipitação em tempo real.

Figura 30: Portal SIGMA do tempo do CPTEC/INPE. Fonte: cptec.inpe.


58

O CPTEC/INPE oferece também produtos relacionados à Previsão Climá-

tica Sazonal (global e nacional), com destaque para a produção de mapas, no-

tas técnicas e boletins diários, mensais e trimestrais com informações sobre:

» Precipitação total;

» Temperatura mínima;

» Temperatura máxima;

» Anomalia de precipitação;

» Anomalia de temperatura mínima;

» E anomalia de temperatura máxima.

Centro Gestor e
Operacional do Sistema de
Proteção da Amazônia –
CENSIPAM

Dentro do âmbito do Ministério da Defesa, o Centro Gestor e Operacio-

nal do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) utiliza dados gerados

por uma infraestrutura tecnológica composta por subsistemas integrados

de sensoriamento remoto, radares, estações meteorológicas e plataformas


<41> Ver: https://
www.gov.br/defesa/
de coleta de dados presentes na região amazônica. A infraestrutura utili-
p t- b r/ co m p o s i c a o/
secretaria-geral/
zada pelo CENSIPAM ainda inclui aeronaves gerenciadas pela Força Aérea
centro-gestor-e-ope-
racional-do-sistema-
Brasileira adaptadas com sensores ópticos, infravermelhos, multiespectrais
-de-protecao-da-ama-
zonia-CENSIPAM
e radares “aeroembarcados” para geração de imagens de alta precisão.
59

Dessa forma, o Centro promove o monitoramento da Amazônia Legal,

do espaço marítimo brasileiro (Amazônia Azul), e de outras áreas de inte-

resse, produzindo informações em tempo próximo ao real. Um dos prin-

cipais produtos de monitoramento e alerta do CENSIPAM é a plataforma <42> Ver: http://


hidro.sipam.gov.
SipamHidro (Figura 31), que monitora e envia alertas hidrometeorológicos br/
de eventos extremos de inundação na região amazônica (CENSIPAM, 2021).

Figura 31: Portal do SipamHidro do CENSIPAM. Fonte: sipam.gov.br.

O SipamHidro se destaca por coletar dados de diversos órgãos parcei-


<43> Ver: https://www.
ros, como, a ANA, o ONS, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), gov.br/inpe/pt-br

o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a National Oceanic Atmospheric Ad-

ministration (NOAA). Na plataforma é possível monitorar:


<44> Ver: http://
www.cprm.gov.br/
» Níveis dos rios,

» Precipitação diária por bacia hidrográfica,


<45> Ver: http://
» Nível e vazão dos reservatórios das usinas hidrelétricas, www.cprm.gov.br/

» E os efeitos das inundações sobre as áreas urbanas em tempo quase real.


60

Figura 32: Rede de radares meteorológicos do CENSIPAM. Fonte: Elaborado pelo autor.

Além disso, a plataforma disponibiliza ferramentas que possibilitam

acompanhar as condições do tempo a partir de 11 radares meteorológicos

(Figura 32), possibilitando estimar com até duas horas de antecedência as

ocorrências de tempestades severas sobre áreas urbanas. Desta maneira, os

órgãos competentes podem disparar alertas à população (CENSIPAM, 2021).

A partir do conjunto de informações geradas pelo SipamHidro, os ana-

listas do CENSIPAM elaboram e disponibilizam outros produtos como: Bo-

letins Técnicos Hidrometeorológicos, contendo diagnóstico e prognósticos

sobre as condições meteorológicas e hidrológicas que servem de apoio às

Defesas Civis dos estados e municípios da Amazônia Legal; Boletins Climá-

ticos, produzidos mensalmente com projeções de temperatura e precipita-

ção para os três meses subsequentes; e os Boletins Especiais, que podem

ser produzidos para situações específicas de condições adversas ou para

atender missões de campo (CENSIPAM, 2021).


61

O CENSIPAM também tem realizado um trabalho para apoio e combate

às queimadas. Sediados em Manaus (AM), Porto Velho (RO) e Belém (PA),

meteorologistas e especialistas em sensoriamento remoto analisam infor-

mações sobre os focos de calor e fazem o cruzamento com dados meteoro-

lógicos e imagens de satélites para emitir relatórios diários que apontam os

locais de atuação. Os analistas têm aperfeiçoado a metodologia para indicar

áreas prioritárias, de modo a aumentar a eficiência das equipes de campo.

Para indicação dos alvos, são levados em consideração a persistência dos

focos de calor, o número de dias sem chuva na região e a previsão de chuva

para as próximas 24 horas (CENSIPAM, 2021).

Serviço Geológico do Brasil


– CPRM

A CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), também conhe-

cida por Serviço Geológico do Brasil, foi criada em 1969 e tem como uma de

suas frentes de atuação a prevenção de desastres hidrogeológicos.

Dessa forma, além de contribuir na geração de produtos cartográficos que de-

limitam as áreas de risco dos municípios brasileiros, ela disponibiliza como princi-

pal ferramenta de monitoramento e alerta o Sistema de Alerta de Eventos Críticos

(SACE) (Figura 33), com o objetivo de monitorar e gerar informações hidrológicas de <46> V e r : h t t p : / /
www.cprm.gov.br/
qualidade, para subsidiar a tomada de decisões e ações relacionadas à mitigação dos sace/

impactos de eventos hidrológicos extremos.

Trata-se de uma plataforma que contém informações geradas no con-

texto dos Sistemas de Alerta Hidrológico (SAHs) da União, reunindo infor-

mações de 17 bacias hidrográficas acerca do monitoramento automático

de chuvas e níveis de rios em diversas estações hidrometeorológicas, além

do acesso aos mapas de riscos, boletins e alertas publicados (CPRM, 2021).


62

Nas salas de monitoramento da CPRM (Figura 34), as equipes trabalham com

dados que são recebidos a cada 1 hora, por transmissores via satélite ou celular

instalados nas estações de monitoramento automáticas. Esses dados são prove-

nientes das estações da RHN, de responsabilidade da ANA, e operada pela CPRM.

Figura 33: Visualização da plataforma SACE da CPRM. Fonte: Sace.cprm.br.

Tais estações são dotadas de sensores de nível, que medem a variação

nos níveis das águas com alta precisão, bem como pluviômetros automáti-

cos, capazes de registrar a quantidade de chuva em intervalos de segundos.

Os dados são recebidos, validados e processados por meio de modelos

hidrológicos elaborados pela equipe da CPRM, e consolidados em forma

de boletins de monitoramento, enviados às defesas civis estaduais, munici-

pais, ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD),

à ANA, ao Cemaden, e demais órgãos de interesse.

Sempre que há necessidade, são enviados também boletins de alerta <47> V e r : h t t p s : / /


w w w.gov.br/mdr/
hidrológico, com informações adicionais de previsões dos níveis dos rios, de p t- b r/ a s s u n to s / p r o -
tecao-e-defesa-civil/
forma que os órgãos atuantes possam se preparar da melhor forma possí- centro-nacional-de-ge-
renciamento-de-riscos-
vel para o evento (CPRM, 2021). -e-desastres-cenad
63

Figura 34: Sala de Situação da CPRM. Fonte: cprm.gov.br.

Além do monitoramento contínuo das bacias hidrográficas, a platafor-

ma SACE também disponibiliza mapas de manchas de inundação (Figura 35)

de municípios com histórico de eventos hidrológicos extremos. Esses ma-

pas possibilitam delimitar as áreas atingidas, definidas em campo após uma

inundação e/ou previstas por um modelo hidráulico, associadas às vazões

e cotas do rio, podendo ser utilizados como ferramentas de planejamento

urbano e como incremento ao sistema de alerta, que, em função dos re-

sultados de previsão das cotas de inundação, permite alertar autoridades,

Defesa Civil e, quando pertinente, a população em geral sobre as áreas a

serem atingidas pela inundação (CPRM, 2021).

Por fim, cabe destacar que, em consonância com a sua missão de gerar e

difundir conhecimento hidrológico, a CPRM, em parceria com a ANA, tam-

bém disponibiliza informações sobre eventos extremos de seca e estiagem

– principalmente em períodos considerados severos, quando torna-se es-

sencial que a sociedade e as autoridades tenham instrumentos para geren-

ciar possíveis situações de escassez de água.


64

Um desses instrumentos é o conhecimento da quantidade realmente dis-

ponível atualmente e a possibilidade de fazer projeções. Desse modo, por

intermédio da plataforma SACE, a CPRM publica uma série de documentos

demonstrando a situação atual das vazões e/ou níveis dos principais rios das

regiões mais afetadas por tais eventos, efetuando prognósticos da situação

futura e permitindo que os diversos setores que necessitam da água para

abastecimento público, energia, agricultura, entre outras funções possam

ter subsídios para se planejarem diante de cenários de escassez hídrica.

Figura 35: Visualização da plataforma SACE da CPRM. Fonte: cprm.gov.br.

Acesso e Interpretação
de Produtos e Serviços de
Monitoramento e Alerta de
Desastres da União <48>Disponível em: ht-
tps://w w w.gov.br/
m d r/ p t- b r/ n o t i c i a s /
defesa-civil-nacional-
-elabora-guia-sobre-
Nesta seção, utilizaremos como base a recente publicação do CENAD in- -preparacao-para-enfren-
tamento-de-desastres.
titulada “Guia Prático para Utilização de Alertas do Governo Federal para Ações

de Preparação para os Desastres”, elaborado com o objetivo de facilitar a lei-


65

tura e interpretação de alertas, avisos e boletins que são encaminhados pelas

agências federais de monitoramento às defesas civis municipais e/ou estaduais,

tornando-se uma importante ferramenta de gestão de riscos e desastres.

Sendo assim, é importante saber identificar e diferenciar os produ-

tos e serviços de monitoramento, pois existem diferenças conceituais entre

eles. Por exemplo: o boletim se configura como um instrumento relaciona-

do com o estudo de dados e informações que apontam para situações de

anormalidade em um certo intervalo de tempo.

Geralmente, o boletim possui o enfoque exclusivo em uma única variá-

vel capaz de causar um evento adverso (CENAD, 2021). Os boletins de moni-


toramento hidrológico elaborados pela CPRM são exemplos desse tipo de
produto, pois acompanham a evolução dos níveis dos rios e apresentam a

tendência de atingirem, em um determinado período, as cotas de referên-

cia pré-estabelecidas pela Defesa Civil local.

Já o aviso possui enfoque em uma análise técnica (clara e concisa) acerca

da previsão de uma situação de anormalidade para um período futuro (normal-

mente de curto ou curtíssimo prazo). As informações constantes neste tipo de

comunicado estão relacionadas aos eventos adversos causadores do risco, prin-

cipalmente, aqueles relacionados a questões meteorológicas (CENAD, 2021).

Os avisos meteorológicos produzidos pelo CPTEC/INPE e INMET são

exemplos desse tipo de produto, pois apresentam validade (24h ou 48h) e

informações sobre a potencialidade do evento (acumulado em mm/h).

Em relação ao alerta, este se constitui em um instrumento concei-

tualmente mais completo, que traz uma breve análise sobre a relação exis-

tente entre a potencialidade da ameaça deflagradora do evento alertado

(geralmente a chuva), a suscetibilidade da área afetada (área de risco ma-

peada), e a vulnerabilidade da população exposta, indicando, assim, uma

situação de risco de desastre em um determinado local.


66

Além disso, o documento contém recomendações de ações de prepara-

ção, tais como, verificações in loco e acionamento de Planos de Contingên-

cia, entre outros (CEMADEN, 2021). O alerta de risco de desastres elabora-

do pelo Cemaden é um exemplo desse tipo de produto.

Ademais, outros fatores devem ser objeto de atenção como: a) prazo

de validade, que pode ser de horas, dias ou semanas; b) nível de criticidade,

uma vez que os documentos possuem nomenclaturas diferentes depen-

dendo do órgão emissor; e c) tipo de evento adverso alertado, que podem

ser meteorológicos (chuvas intensas, granizos, vendaval, tempestade etc.);

climatológicos (seca, estiagem, incêndios florestais etc.); geológicos (des-

lizamentos, corridas de massa, quedas de blocos etc.); ou hidrológicos(en-

xurradas, inundações e alagamentos) (CENAD, 2021).

Boletim de Monitoramento
Hidrometeorológico – CPRM

A CPRM opera, desde 1989, o Sistema de Alerta Hidrológico (SAH)

com o objetivo de realizar o monitoramento automático das chuvas e níveis

dos rios das principais bacias hidrográficas brasileiras, e gerar informações

hidrológicas de qualidade para subsidiar a tomada de decisões e ações re-

lacionadas à mitigação dos impactos de inundações. Para tanto, a agência

emite, com regularidade, Boletins de Monitoramento Hidrometeorológico

(Figura 36) de 17 bacias hidrográficas em todo o país, utilizando dados pro-

venientes da RHN – operada em parceria com a ANA. De forma geral, os

boletins apresentam:

a) Comportamento atual dos níveis dos rios, em comparação aos dados

observados nas respectivas séries histórica;

b) Dados climatológicos de precipitação e análise de anomalias;


67

c) “Cotagramas” das estações fluviométricas (Figura 37), com a cota

atual; cotas máxima ou mínima diárias; medianas e ano de ocorrência de

máxima ou mínima das estações, dependo do processo hidrológico no

qual os rios encontram-se.

Figura 36: Boletim de Moni-


toramento Hidrometeoroló-
gico. Fonte: cprm.gov.br.

Figura 37: Cotagrama do


Rio Negro em Manaus.
Fonte: cprm.gov.br.
68

As cotas de referências utilizadas no âmbito do SAH possuem as

seguintes definições:

» Cota de Inundação Severa: Cota em que a inundação provoca da-

nos severos ao município;

» Cota de Inundação: Cota em que o primeiro dano é observado no

município;

» Cota de Alerta: Possibilidade elevada de ocorrência de inunda-

ção;

» Cota de Atenção: Possibilidade moderada de ocorrência de inun-

dação.

É importante ter conhecimento que cada município possui diferentes

valores para suas cotas de referências, que são definidas localmente, em con-

junto com a Defesa Civil. Em cada rio, os tempos que eles levam para atingir

as cotas de referência variam desde poucas horas até meses em alguns casos,

afetando os tempos de preparação para as inundações (CENAD, 2021).

O monitoramento da CPRM contempla tanto eventos de cheias

quanto de secas, em alguns casos. No contexto do SAH, em que a ocorrên-

cia de inundações (ou secas) é mais frequente em períodos específicos do

ano, ao longo desses períodos, são emitidos boletins de monitoramento


da situação dos rios. Em outros locais, em que não há um período definido,

a operação é contínua (CENAD, 2021). Havendo possibilidade concreta de

ocorrência de cheias/secas e atingimento das cotas de referência, a CPRM

envia Boletins Extraordinários (ou Boletins de Alertas Hidrológicos) às de-

fesas civis estaduais, municipais, às demais agências da União e principal-

mente para o CENAD. <49> Ver: https://


w w w. c p r m . g o v. b r/
sace/
As informações contidas nos boletins da CPRM também podem ser

acessadas através do Sistema de Alerta de Eventos Críticos (SACE). Ao aces-

sar a plataforma, os documentos podem ser encontrados no menu lateral


69

da esquerda (Figuras 38 e 39), no qual é possível selecionar a bacia hidro-

gráfica monitorada no âmbito do SAH e informações detalhadas como:

» - pontos georreferenciados de monitoramento;

» - características físicas das bacias;

» - municípios atendidos;

» - mapeamento de risco (por município);

» - estudos associados à bacia; e

» - o próprio boletim hidrometeorológico.

Figura 38: Visualização da plataforma SACE e bacias monitoradas no âmbito do SAH. Fon-
te: cprm.gov.br.
70

Figura 39: Boletins hidrometeorológicos da bacia do Rio Caí. Fonte: cprm.gov.br.

Ações de Monitoramento
Hidrológico – ANA

Inaugurada em 2009, a Sala de Situação da ANA monitora e analisa a evo-

lução das chuvas, dos níveis e da vazão dos principais rios, reservatórios e bacias

hidrográficas do Brasil. Todas as informações são compartilhadas por meio de bo-

letins e de sistemas de monitoramento, servindo de suporte para a decisão das

autoridades responsáveis pela gestão de eventos hidrológicos críticos no país.

Nos últimos anos, a agência apoiou a implantação de salas de situação

nos estados e atualmente acompanha o funcionamento e a melhoria de seus

produtos e articulações. As Salas de Situação Estaduais funcionam como

centros de gestão de situações críticas, coordenadas pelo órgão gestor de

recursos hídricos do estado, em que podem estar presentes também repre-

sentantes do instituto de meteorologia local e da Defesa Civil estadual, e

buscam identificar ocorrências e subsidiar a tomada de decisão para a ado-

ção antecipada de medidas mitigadoras dos efeitos de secas e inundações.


71

Os Boletins de Monitoramento Hidrológico da ANA estão disponí-

veis online. Ao acessar a página, o usuário tem a opção de escolher o bole-


<50>Ver: https://www.
tim da bacia desejada, onde é possível saber a situação hídrica atual, além gov.br/ana/pt-br/as-
suntos/monitoramen-
do histórico de boletins anteriores e informações detalhadas, incluindo to-e-eventos-criticos/
eventos-criticos
relatórios técnicos e resoluções governamentais associadas ao sistema hi-

dráulico da bacia hidrográfica.

Ainda na página de boletins da ANA, é possível ter acesso às “Salas

de Crise”, que são ambientes de coordenação e articulação de atores gover-

namentais e não governamentais que são ou podem ser impactados pelos

efeitos de crises hídricas ou têm alguma atuação sobre elas. A sala é, assim,

uma das ferramentas utilizadas na gestão de eventos hidrológicos críticos

envolvendo bacias ou regiões com reservatórios ou outras infraestruturas

hídricas, com o objetivo de promover medidas de aumento da segurança

hídrica, da capacidade de resposta e da resiliência do sistema.

As reuniões acontecem periodicamente e permitem a participação tanto

presencial quanto por meio de videoconferências, quando os atores envol-

vidos dialogam para buscar soluções para os problemas verificados (ANA,

2021). Como citado anteriormente, o principal produto de monitoramento


<51> Ver: http://
hidrológico em tempo real da ANA é o Sistema Hidro-Telemetria (Figura w w w.snirh.gov.
br/hidroteleme-
40), disponível online. Esse portal é personalizável em função do objetivo tria/Mapa.aspx

do usuário. Por exemplo, na Figura 40, no campo 1 é possível visualizar uma

série de parâmetros que podem ser filtrados em função da região/recorte

geográfico de interesse, sendo eles:

» Estados;

» Origens;

» Bacias;

» Sub-bacias;

» Estação.
72

A seleção de mais itens subsequentes de um mesmo parâmetro deve ser

feita pressionando a tecla CTRL.

- No campo 2, mais parâmetros podem ser adicionados (Digite as esta-

ções, municípios ou rios de interesse, separados por “,” (vírgula) ou “;” (pon-

to e vírgula), sem espaço entre os itens da lista.

- No campo 3, é possível filtrar as estações ativas, em manutenção e as

desativadas (no exemplo, somente as ativas estão sendo visualizadas).

- No campo 4, deve ser selecionada a variável de interesse: se vinculada

à chuva ou a dados fluviométricos (nível e/ou vazão).

- O campo 5 corresponde à legenda de referência para a variável esco-

lhida, bem como as unidades de medida. Esse último aspecto encontra-se

expressa na parte “Informações Úteis”. No exemplo, algumas estações plu-

viométricas da Bahia são classificadas com precipitação “Muito fraca” ou

abaixo de 5 milímetros, conforme a legenda de referência.

- O campo 6 permite o controle de ativação das camadas observadas do mapa.

- O campo 7 da figura anterior reúne outras opções de visualização dos da-

dos, diferentes da representação espacial. É possível listar as estações de forma

a reunir uma série de especificações das mesmas, de forma tabulada (Figura 41).

Figura 40: Portal interativo do Sistema Hidro-Telemetria da ANA. Fonte: snirh.gov.br.


73

Nas colunas, encontram-se parâmetros como: código da estação, nome

da estação, origem, status da estação, nome do rio, estado, responsável,

operador, tipo de estação, hora da última atualização, entre outros.

Figura 41: Dados tabulados do Sistema Hidro-Telemetria. Fonte: snirh.gov.br.

No espaço de visualização do mapa, ao clicar sobre o elemento gráfico

que representa uma estação de monitoramento, uma caixa com as especifi-

cações da mesma é aberta (Figura 42).

Figura 42: Caixa de atributos e funcionalidades referentes à estação de monitoramento


do Sistema Hidro-Telemetria da ANA. Fonte: snirh.gov.br.
74

Nessa caixa, podem ser acessadas funções como: geração de gráficos

(Figura 43), geração de link de visualização para compartilhamento, tabu-

lação dos dados dos últimos 6 meses, exportação de dados, entre outras

funcionalidades, especificamente para essa estação.

Figura 43: Apresentação de gráficos de série temporal de precipitação por estação de


monitoramento do Sistema Hidro-Telemetria da ANA. Fonte: snirh.gov.br.

O campo 7, previamente comentado, apresenta funcionalidades semelhantes.

Previsões Probabilísticas –
CPTEC/INPE

O CPTEC/INPE encaminha diariamente ao CENAD avisos de Previsões

Probabilísticas (Figura 44) de chuvas intensas, chuvas excessivas e tempes-

tades severas. Entende-se por chuvas intensas aquelas que podem atingir

ou ultrapassar o limiar de 30 mm acumulada em 1 hora; chuvas excessivas

são aquelas que podem superar, em até 24 horas, acumulados de 50 mm e;

tempestades severas estão associadas à ocorrência de um ou mais dos se-

guintes elementos: granizo de diâmetro maior que 2,0 cm; rajada de vento

maior que 80km/h e/ou danos por vento (quedas de árvores, destelhamen-

tos, danos estruturais etc.); e formação de tornados (CPTEC/INPE, 2021).


75

De acordo com a Figura 44, as informações da Previsão são divididas em

3 partes. A parte 1 indica o tipo de evento e datas de início e fim do docu-

mento, ou seja, a validade; a parte 2 apresenta um texto descritivo com

informações sobre os critérios utilizados para a definição do evento; e, por

fim, a parte 3 informa o nível de probabilidade da ocorrência do evento na

área geográfica delimitada no mapa.

Para correta interpretação da previsão, é importante ter em mente

que, como a probabilidade de um ponto qualquer registrar tempo severo

é baixa por natureza, em vez de utilizar um ponto, define-se uma área em

volta do ponto com raio de influência de 40 km (semelhante ao utilizado em

outros países). Portanto, está sendo estimada a probabilidade de ocorrên-

cia de evento adverso em um raio de até 40 km de distância de um ponto

dentro da área delimitada (CPTEC/INPE, 2021).

Figura 44: Aviso sobre a Previsão Probabilística do CPTEC/INPE. Fonte: CENAD (2021).

Desse modo, a Tabela 1 indica a classificação dos níveis de probabilida-

des de ocorrência de eventos meteorológicos adversos utilizada pelo CP-

TEC/INPE, assim como a frequência dos mesmos.


76

Tabela 1: Classificação dos níveis de probabilidades e frequência dos eventos utilizada na


Previsão Probabilística do CPTEC/INPE. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE, 2021.

De acordo com a Tabela 1, tempestades não severas são muito comuns de ocor-

rerem, e dizem respeito a eventos esperados e previstos, mas sem potencial de

causar danos expressivos. Já eventos previstos com potencial Nível 1 são mais co-

muns e estão associados a tempestades severas isoladas e/ou pouco organizadas.

Figura 45: Previsão Probabilística do CPTEC/INPE. Fonte: cptec.inpe.


77

Eventos de previsão Nível 2 são relativamente comuns de ocorrer e

apresentam uma configuração de tempo severo mais organizada. Já em re-

lação aos eventos previstos de Nível 3 são incomuns, e são caracterizados

pela organização de muitas tempestades severas, algumas significativas.

Por fim, eventos previstos de Nível 4 são raros e estão relacionados com a

organização de muitas tempestades severas com alto potencial destrutivo.

Como já visto, a página do CPTEC/INPE disponibiliza uma interface na <52> Ver: http://
tempo.cptec.
qual também é possível ter acesso à Previsão Probabilística para o período inpe.br/

de 24h ou 48h, em todo o território nacional (Figura 45), com a opção de

filtragem do tipo de evento meteorológico previsto.

Outro recurso disponibilizado pelo CPTEC/INPE é portal SIGMA– uma in-


terface WebGis que reúne dados derivados de radares de diversas instituições <53> Ver: http://
sigma.cptec.
federais e estaduais. A plataforma permite acompanhar o monitoramento de inpe.br/
variáveis como: descargas elétricas, precipitação (por satélite e por radar) sis-

temas convectivos, nuvens, radiação, insolação, nevoeiro e vento.

Os dados são atualizados de 10 em 10 minutos e cobrem todo o territó-

rio nacional. Ainda é possível visualizar animações de imagens de satélites

em tempo real e, mediante cadastro no sistema, realizar o download de

dados e importar arquivos vetoriais como camadas extras de visualização.

Avisos Meteorológicos –
INMET

O INMET fornece, diariamente, Avisos Meteorológicos de acumulados

de chuva, chuvas intensas, e temporais/tempestades para autoridades e ór-

gãos competentes da União, estados, municípios e para qualquer pessoa

interessada em recebê-los (mediante cadastro de e-mail), com o objetivo

de informar as condições meteorológicas previstas, o nível de severidade e


78

os possíveis impactos associados (alagamentos, queda de árvores, corte de

energia elétrica, transtornos no transporte rodoviário etc.).

O Aviso é divido em três partes (Figura 46). A parte 1 é destinada às caracterís-

ticas gerais como data de envio, tipologia do evento, nível de severidade, validade;

status e link para maiores informações. A parte 2 é reservada para descrição do

aviso e contém o horário de início do comunicado, as condições meteorológicas

previstas (limiares), e os possíveis impactos que o evento previsto pode ocasionar.

Finalmente, na parte 3 contém um resumo das áreas atingidas, por Uni-

dade da Federação e informações de contato com o INMET e a Defesa Civil.

Figura 46: Aviso Meteorológico do INMET. Fonte: CENAD, 2021.

Em relação ao nível de severidade dos avisos, o INMET adota a seguinte

classificação/recomendação:

Perigo Potencial: Situação meteorológica potencialmente perigosa.

Cuidado na prática de atividades sujeitas a riscos de caráter meteorológico.

Mantenha-se informado sobre as condições meteorológicas previstas e não

corra risco desnecessário (INMET, 2022);


79

Perigo: Situação meteorológica perigosa. Mantenha-se muito vigilante

e informe-se regularmente sobre as condições meteorológicas previstas.

Inteire-se sobre os riscos que possam ser inevitáveis. Siga os conselhos das

autoridades (INMET, 2021);

Grande Perigo: Situação meteorológica de grande perigo. Estão previs-

tos fenômenos meteorológicos de intensidade excepcional. Grande proba-

bilidade de ocorrência de grandes danos e acidentes, com riscos para a in-

tegridade física ou mesmo à vida humana. Mantenha-se informado sobre as

condições meteorológicas previstas e os possíveis riscos. Siga as instruções

e conselhos das autoridades em todas as circunstâncias e prepare-se para

medidas de emergência (INMET, 2021).

Quanto ao grau de severidade dos avisos aplicado às tipologias dos even-

tos previstos, o INMET considera a classificação demonstrada na Tabela 2.

Tabela 2: Classificação do grau de severidade aplicado às tipologias de eventos previstos


no Aviso Meteorológico do INMET. Fonte: Adaptado de CENAD, 2021.

Os Avisos Meteorológicos produzidos pelo INMET também podem ser visualizados

através da página do Centro Virtual para Avisos de Eventos Meteorológicos Severos para

o Sul da América do Sul ou ALERT-AS. Ao acessar a página, o usuário pode verificar todos <54>Ver:https://
alertas2.inmet.
os alertas vigentes no território nacional, separados por Unidade da Federação (Figura 47). gov.br/
80

Figura 47: Interface do ALERT-AS, do INMET. Fonte: inmet.gov.br

Ao selecionar um aviso específico, o usuário é direcionado para uma pá-

gina com as mesmas informações contidas na Figura 48, porém com a visu-

alização espacial da área de abrangência geográfica do aviso, bem como a

lista dos municípios que a compõem (Figura 48).

O INMET também disponibiliza o Mapa de Estações, plataforma de monitoramento

em tempo real que reúne, de forma integrada, dados oriundos de sua rede própria e de

parceiros como o Cemaden, DECEA, CENSIPAM , entre outros .

Figura 48: Visualização do Aviso Meteorológico na plataforma ALERT-AS, do INMET. Fon-


te: inmet.gov.br.
81

A ferramenta possui diversas funcionalidades, com destaque para a busca

e filtro de estações por nome, entidade parceira, região, tipo (automáticas ou

convencionais), periodicidade (horário, diário, mensal) e parâmetros (precipi-

tação, temperatura, direção e velocidade do vento e umidade relativa do ar).

Ainda é possível ativar a imagem mais recente (estática ou animada) do

satélite geoestacionário GOES-16, assim como a sequência de imagens de

todos os radares do país, geradas a cada 10 minutos, com a opção de visuali-

zar o histórico de até 72 horas antes.Outro recurso da plataforma é a possi-

bilidade de ativar a camada da previsão meteorológica de até sete dias para

todo o país, bem como os Avisos Meteorológicos para 24h e 48h.

Alertas de Risco de
Desastres Geo-hidrológicos
– Cemaden

Como já mencionado anteriormente, o Cemaden – órgão de pesquisa

vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) tem a <55>Ver: https://


www.gov.br/mcti/
missão de realizar, em âmbito nacional, o monitoramento contínuo das con- pt-br

dições geo-hidrológicas do país, objetivando o envio de Alertas de Riscos

de Desastres (Figura 49) quando observadas as condições que produzam

risco iminente de ocorrência de processos geodinâmicos (movimentos de

massa) e hidrológicos (inundação e/ou enxurrada).

Atualmente, o Centro monitora 1.038 municípios brasileiros considerados <56> Ver: http://
prioritários quanto ao risco de desastres de origem geo-hidrológicas. Conforme www2.cemaden.
gov.br/munici-
estabelecido em Protocolo de Ação entre as instituições, o Alerta elaborado pios-monitora-
dos-2/
pelo Cemaden é primeiramente enviado ao CENAD, que o retransmite para as

Defesas Civis estaduais, municipais e demais autoridades quando necessário.


82

Figura 49: Visualização do Aviso Meteorológico na plataforma ALERT-AS, do INMET. Fon-


te: inmet.gov.br.

Conforme verificado na Figura 49, o alerta do Cemaden é composto, fun-

damentalmente, por cinco partes:

» A parte 1 diz respeito à identificação e controle do documento, com

informações sobre o número do alerta, data de abertura e atualização

e o município alertado;
83

» A parte 2 é de suma importância pois indica o nível de criticidade do

alerta, que diretamente relacionado com os protocolos de ação das

Defesas Civis;

» A parte 3 refere-se à descrição dos cenários de risco existentes no mu-

nicípio, indicando sobretudo as áreas de risco oficialmente mapeadas;

a situação meteorológica atual, que aponta para os limiares que defla-

garam a abertura do alerta; e a tendência da previsão meteorológica

para as próximas horas, especificamente para o município alertado;

» A parte 4 chama a atenção para as Ações de Proteção e Defesa Civil

recomendadas pelo CENAD diante da potencialidade do impacto do


evento alertado;

» Por fim, na parte 5 é recomendado que os responsáveis pelo recebi-

mento do alerta preencham o Formulário de Ocorrências do Cemaden,

e verifiquem a Previsão de Risco Geo-Hidrológico para saber se o seu

município continuará inserido em um cenário de risco nas próximas 24

horas.

A estrutura teórica para determinação dos cenários de risco na rotina opera-

cional do Cemaden, a descrição e interpretação dos níveis dos alertas emitidos,

e a importância do Formulário de Ocorrências para a alimentação do Banco de

Dados de Desastres do Cemaden são assuntos tratados com riqueza de infor-

mações no Curso I – Metodologia de Concepção do Alerta: da teoria à prática.

Os dados de monitoramento e alerta do Cemaden podem ser acessados


<57>Ver:http://
www2.cema-
pelo Mapa Interativo, incluindo o acesso ao banco de dados dos pluviômetros.
den.gov.br/ma-
painterativo/#
O Mapa Interativo visa o monitoramento da chuva, tanto da sua parcela já preci-

pitada ou acumulada (a partir dos dados dos pluviômetros) como da parcela da

chuva futura ou prevista (a partir dos dados dos satélites e radares meteoroló-

gicos. A página inicial fornece a visualização observada na Figura 50.

As variáveis de precipitação encontram-se nos campos 2 e 3, fornecidos

por radares e por estações automáticas, respectivamente. Os demais cam-


84

pos servem para o gerenciamento das informações visualizadas. Por exem-

plo, o painel 4, referente às camadas ativas, é um objeto móvel que pode

ser ativado, desativado e editado.

O campo 1 da interface habilita as camadas dos limites estaduais e dos

limites dos municípios monitorados pelo Cemaden. Os demais itens são au-

toexplicativos, ainda assim, no campo 7 está disponível um manual detalha-

do e específico de uso da plataforma. Lembrando ainda que, além da custo-

mização dos dados apresentados, é sempre possível ampliar ou expandir a

visualização do mapa na região de interesse.

Figura 50: Mapa Interativo do Cemaden. Fonte: Cemaden.

A visualização dos parâmetros de precipitação pode ser personali-

zada com as camadas de dados dos pluviômetros e do radar de interesse

ativas ao mesmo tempo.Os formatos de data (mm/dd/aaaa) e de hora (hh/

mm/ss PM ou hh/mm/ss AM) no Mapa Interativo seguem o padrão america-

no. Da mesma forma, o horário utilizado é o GMT, ou seja, deve-se subtrair 3

horas para se obter o horário oficial de Brasília (ou subtrair 2 horas quando

da vigência do horário de verão). Ao clicar em uma das estações pluviomé-

tricas, três diferentes gráficos são gerados automaticamente, sendo eles:


85

a) Precipitação acumulada nas últimas 4 horas; b) Precipitação acumulada

em “x” horas (opções de 12 a 96 horas, sendo divididos em intervalos de 6

horas); e c) Precipitação acumulada em “x” dias (opções de 7 a 36 dias, sen-

do divididos em intervalos de 7 dias).

Na mesma página em que os gráficos da estação foram gerados, uma

tabela com as demais estações presentes no mesmo município é fornecida .

Figura 51: Lista de pluviômetros localizados no mesmo município. Fonte: Cemaden.

O Cemaden também divulga diariamente em sua página, a Previsão de < 5 8 > Ve r : h t t p s : / /


www.gov.br/mcti/
Risco Geo-Hidrológico para todo território nacional (Figura 51). Elaborado pt-br/rede-mcti/ce-
maden
pela equipe multidisciplinar de profissionais que atuam na Sala de Situação,

este produto é divulgado sempre com 24 horas de antecedência, e indica

a área geográfica (escala de mesorregião) com possibilidade de ocorrên-

cia de eventos geo-hidrológicos, bem como o grau de severidade esperado

(baixo, moderado, alto e muito alto).

O Cemaden também divulga em sua página outros produtos com regu-


laridade como Boletins sobre a Situação Atual e Projeção Hidrológica de
86

Reservatórios, e Boletins de Impactos de Extremos de Origem Hidro-Geo-

-Climático em Atividades Estratégicas para o Brasil, na qual apresenta uma

avaliação mensal das ocorrências registradas e alertas emitidos e um diag-

nóstico e cenários de extremos pluviométricos (secas e inundações) e seus

possíveis impactos em diferentes setores econômicos do Brasil.


87

Sistemas de monitoramento e alerta como


suporte à gestão local de riscos de desastres 3

Instrumentos de Gestão
de Riscos de Desastres
aplicados na Escala Local e
Sistemas de Monitoramento
88

Introdução
Após compreender os Fundamentos dos Sistemas de Monitoramento e

Alerta de Desastres (Módulo I) e conhecer as agências, os produtos e ser-

viços do Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de Desastres

(Módulo II), conheceremos neste módulo os principais instrumentos de

Gestão de Risco de Desastres aplicáveis na escala local, e que podem estar

associados aos sistemas de monitoramento e alerta.

É valioso que os responsáveis formais pela gestão de riscos no âmbito

municipal, gestores e servidores públicos, não apenas conheçam tais ins-

trumentos, mas que sejam capazes de relacioná-los com os sistemas de mo-

nitoramento e alerta com o objetivo de avaliar as melhores estratégias de

planejamento e tomada de decisão em situações que antecedem os desas-

tres em seus territórios. Também serão apresentados alguns exemplos de

boas práticas de utilização de instrumentos de gestão de risco local asso-

ciados a sistemas de monitoramento e alerta de desastres.

Ao final desta unidade, é esperado que o aluno seja capaz de conhecer os

principais instrumentos de gestão de risco de desastres que podem ser apli-

cados na escala local e utilizar os sistemas de monitoramento e alerta como

ferramenta de auxílio no planejamento de ações preventivas e no processo de

tomada de decisão em atividades relacionadas à gestão do risco de desastres.


89

Instrumentos de Gestão
Local de Riscos de
Desastres

Além da utilização dos produtos e serviços de monitoramento e alerta

ofertados pela União, a gestão local de riscos de desastres deve valer-se

dos instrumentos de escala municipal e/ou regional para uma boa atuação

frente aos riscos de desastres.

Intrínseco à sua própria escala de elaboração, estes instrumentos têm


uma acurácia grande, indicando locais prioritários para ações de prevenção,

mitigação, preparação, resposta e/ou recuperação por parte das gestões

municipais. Alguns destes produtos serão abordados neste módulo de ma-

neira introdutória para conhecimento das principais características e fun-

cionalidades.

Plano Preventivo de Defesa Civil – PPDC <59>https://


www.ipt.br/

O ano de 1988 foi marcado por uma série de desastres no Brasil


<60>https://www.
envolvendo escorregamentos de terra, com destaque para os eventos de infraestruturameio-
ambiente.sp.gov.br/
Petrópolis (RJ), Cubatão (SP) e Ubatuba (SP), que causaram centenas de ví- institutogeologico/

timas fatais. Diante dessas tragédias, o governo do estado de São Paulo,

preocupado com as situações de risco no litoral paulista, determinou aos

Institutos de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Instituto Geológico (IG), Institu-


<61>https://www.infra-
to Florestal (IF), e Instituto Botânico (IBt) a elaboração de estudos que le- estruturameioambiente.
sp.gov.br/institutoflo-
varam ao mapeamento dos problemas e a propostas de soluções, dentre as restal/
quais estava o Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC).
<62>https://www.infraestru-
turameioambiente.sp.gov.br/
A atual Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do estado de institutodebotanica/

São Paulo (CEPDEC-SP), o IPT e IG foram as instituições de governo responsá-


<63> https://ead.defe-
sacivil.sp.gov.br/antigo/
90

veis pela produção do novo plano que seria aplicado nos próximos períodos

chuvosos para o estado de São Paulo. A primeira operacionalização ocorreu no

mesmo ano em municípios da Baixada Santista (Santos, Cubatão, Guarujá e São

Vicente) e Litoral Norte Paulista (Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilha-

bela), com o apoio das instituições que o elaboraram (MACEDO et al., 2004).

Apesar do PPDC trazer o conceito preventivo em seu título, o prin-

cipal objetivo do plano é abastecer as equipes técnicas municipais de ins-

trumentos de ação na fase de preparação para que, em situações de risco

instalado, reduza a possibilidade de registro de perdas de vidas humanas

provenientes de eventos relacionados a movimentos de massa e inunda-

ções. Em outras palavras, o PPDC é um instrumento relevante utilizado pe-

los governos locais para proporcionar maior segurança aos moradores de

áreas suscetíveis a deslizamentos e processos correlatos.

O período de operacionalização do plano são os meses mais chuvo-

sos que variam de acordo com a região, pois existem diferentes regimes

pluviométricos no Brasil. Por exemplo: na Região Sudeste, onde o verão é

o período com maior precipitação, é recomendável que o PPDC fique em

vigência de dezembro a março.

Já na Região Nordeste, onde o intervalo com nível pluviométrico mais

elevado acontece entre o outono e o inverno, o plano é comumente exe-

cutado entre os meses de abril e julho. Dentro do município, as áreas prio-


ritárias para realização das ações previstas no instrumento são os assenta-
mentos precários previamente mapeados, sobretudo em locais de encostas

com risco de deslizamentos e/ou próximos às margens de rios e córregos

com risco de inundação.

A partir do acompanhamento da evolução das chuvas, previsão me-

teorológica e vistorias de campo, o PPDC recomenda a realização de ações


coordenadas de preparação antecipada ao possível evento adverso, com o

objetivo maior de preservar vidas humanas. Como ponto de partida para

elaboração do PPDC, cada município deve estabelecer limiares de precipi-

tação acumulada nos últimos 3 dias, baseado no histórico de eventos. O


91

valor frequentemente varia entre 80 e 120 mm, dependendo das caracte-

rísticas geomorfológicas, geológicas e condição das ocupações em risco.

Além do critério do acumulado de chuva, os governos locais devem pro-

porcionar capacitação técnica aos agentes para responder adequadamente

aos níveis de alertas e emergências.

Neste sentido, os sistemas de monitoramento e alerta de desastres cumprem

papel importante durante o período de vigência do plano, pois são determinantes

para alteração dos níveis de emergência e mudanças de fases, na medida em que

funcionam como balizadores das etapas programadas dentro de um PPDC.

Portanto, é imprescindível que o funcionamento desses sistemas garanta

o fluxo adequado de informações para a efetividade do PPDC e de outros

instrumentos de gestão de risco de desastres associados.

Quadro 1: Níveis do PPDC, critérios de entrada nos níveis e ações correspondentes. Fon-
te: Adaptado de Macedo et al. 2004.
92

O sistema é genericamente estruturado em quatro níveis (Observação,

Atenção, Alerta e Alerta Máximo), que indicam protocolos e ações específi-

cas que devem ser considerados pela administração pública local na fase de

preparação ao desastre (quadro 1).

Ainda que o PPDC seja um instrumento consolidado na fase de preparação

da gestão de riscos, existem limitações que devem ser compreendidas para não

superestimar seu poder de atuação. A principal limitação está relacionada à sua

incapacidade de alterar a condição de risco instalado dos locais monitorados,

porque não é capaz de evitar o evento adverso ou incidir sobre a ameaça como

as medidas estruturais (obras de engenharia, por exemplo), nem melhorar a

condição de vulnerabilidade da comunidade exposta como medidas estrutu-

rantes (políticas sociais setoriais de médio e longo prazo, por exemplo).

Via de regra, o PPDC é um dos instrumentos de gestão de risco mais

utilizados na escala local e se apresenta para a administração pública e po-

pulação com nomes mais atrativos, baseados na comunicação simples para

facilitar a compreensão de todas e todos. As nomenclaturas utilizadas va-

riam de acordo com a escolha da gestão do poder público municipal ou es-

tadual, entre elas, “Operação Chuvas de Verão”, “Operação Guarda-chuva”,

“Operação Chuva”, “Operação Inverno” e similares.

Plano de Contingência – Plancon

O conceito amplo de Plano de Contingência (Plancon) pode estar re-

lacionado com desastres de diferentes tipologias de ameaças e é citado na

Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei nº 12.608, 10 de abril de <64> http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2012) como um dos instrumentos que os municípios devem elaborar, por 2014/2012/lei/l12608.htm

vezes com apoio dos estados, caso haja áreas de riscos em seu território.

É importante entender que o PPDC e o Plano de Contingência podem ser ins-

trumentos similares, redundantes ou complementares, a depender do histórico

de gestão de riscos do município e da capacidade de articulação entre os planos.


93

O objetivo de do Plancon é atenuar os danos provocados por um desas-

tre, buscando proteger vidas humanas e reduzir prejuízos materiais. Assim

como o PPDC, o Plano de Contingência também trabalha com estudo de

um ou mais cenários de riscos e ações concretas nas etapas de preparação e

resposta. A realização do planejamento antecipado das intervenções frente

às consequências do evento adverso permite a mobilização dos profissio-

nais e voluntários, assistência à população e manutenção (ou restabeleci-

mento) dos serviços essenciais.

Da mesma forma que o PPDC, o período de operacionalização do

Plancon também são os meses mais chuvosos, caso sejam elaborados para

conter desastres de origem geo-hidrológica (movimentos de massa, enxur-

radas e inundações).

O essencial é que a construção do Plancon seja realizada em períodos

considerados de normalidade para definir procedimentos, ações e decisões

que devem ser tomadas nos períodos mais críticos. Os sistemas de monito-

ramento e alerta de desastres cumprem papel importante durante a ope-

racionalização do Plancon, pois permitem que os responsáveis pela gestão

local de riscos avaliem quais as ações mais adequadas para colocar em práti-

ca, que vai depender do acompanhamento das ameaças e da fase do plano.

Para cumprir seu objetivo de preparar os recursos humanos e mate-

riais para a emergência, a elaboração do Plancon deve ser organizada em

duas etapas prévias:

» i) Cenários de riscos: Articulação entre instrumentos técnicos de co-

nhecimento dos riscos (setorização de áreas de risco; cartas de sus-

cetibilidade, mapeamento de vulnerabilidades, rotas de fuga, mape-

amento dos pontos de encontro e abrigos, entre outros), sistemas

de monitoramento e alerta de desastres (nível federal, estadual ou

municipal), sistemas de alarme e comunicação expressa, cadastro das

instituições dos recursos humanos e materiais, entre outras ações;

»
94

» ii) Ações de contingência: Planejamento das atividades práticas de

preparação e resposta apoiado pela interação dos elementos que

compõem o cenário de risco por meio da realização de exercícios si-

mulados.

É importante que a população participe da elaboração do Plancon

para que seja mobilizado o máximo de atores possíveis no planejamento e

execução das ações programadas.

A participação dos entes federativos, com sua diversidade de secretarias

e instâncias que intervêm na temática dos riscos, e o envolvimento da socie-

dade, são fatores que definem responsabilidades e atribuições e qualificam

a coordenação das práticas no momento da emergência.

O Plancon, como instrumento, cumpre a função de proteger pessoas

e bens materiais nas etapas de preparação e resposta da gestão de riscos e

desastres. Entretanto, assim como o PPDC, não tem a capacidade de incidir

sobre as componentes de ameaça e vulnerabilidade dos locais monitorados.

Portanto, apenas elaborar e operacionalizar um ótimo plano de contingên-

cia nem sempre é suficiente para que a gestão de riscos local seja exitosa,

porque deve-se levar em conta medidas que atenuem os possíveis impactos

de um desastre também nas fases de prevenção, mitigação e recuperação.

Outro destaque importante é a necessidade de aferição constante

do Plancon com a realidade. Neste sentido, os simulados são atividades que

encenam os acontecimentos do cenário de risco e as ações de contingência,

tendo como objetivos treinar os atores envolvidos para suas atribuições,

avaliar as condições de execução, revisar o documento e atualizá-lo a partir

de observações de campo.

O fluxograma a seguir (Figura 52) representa a organização das fases

dos simulados, entre a elaboração do Plancon e audiência pública para pu-

blicização do documento.
95

Figura 52: Fluxograma para realização de simulados. Fonte: BRASIL, 2018.

Plano Municipal de Redução de Riscos –


PMRR

O Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) é o instrumento de

gestão mais completo que uma administração pública pode possuir em seu

acervo técnico para subsidiar a gestão de riscos de desastres em seu terri-

tório.

Isto porque, normalmente, o PMRR apresenta um “rol” de produtos que

vão desde mapeamentos detalhados com a identificação e caracterização

de tipologias específicas de cenários de risco (movimentos de massa e pro-

cessos hidrológicos), elaboração e/ou revisão de planos previamente exis-

tentes, como o próprio PPDC e o Plancon (medidas não estruturais); a me-

todologias de estudo e descrição de concepções e alternativas técnicas de

intervenções urbanísticas, habitacionais e de Engenharia Civil e Geotécnica

(medidas estruturais).
96

Uma das primeiras iniciativas precursoras do PMRR se deu na Prefeitura

Municipal de São Paulo com o mapeamento de risco das favelas da cidade,

realizado entre 1990 e 1991. No dia 24 de outubro de 1989, um escorrega-

mento de um aterro (bota fora) em uma tarde sem chuva, de uma semana

seca, vitimou doze crianças e dois adultos, além de acarretar a destruição de

58 moradias na Favela Nova República, próximo à Avenida Giovanni Gronchi.

Na ocasião, a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo

(COHAB-SP) contratou cerca de 10 escritórios de geotecnia, sob a coorde- <65> https://cohab.


sp.gov.br/
nação do IPT, para realizar a primeira experiência de identificação dos pro-

blemas relacionados aos riscos ambientais urbanos nessa escala.

Na primeira etapa, foram 140 favelas vistoriadas e foi realizada a cons-


trução de um importante debate no meio técnico para desenvolver uma

metodologia de mapeamento de riscos simplificada, que pudesse ser repli-

cada na maioria dos municípios com situações similares. Ainda no município

de São Paulo, no ano de 2001, diversas ações civis públicas movidas pelo Mi-

nistério Público Estadual chegaram à mesa da nova gestão paulistana com a

determinação da remoção completa das moradias em risco.

Com a finalidade de evitar a massificação das remoções das favelas (que

frequentemente não solucionam o problema), foi negociado um termo de

ajustamento de conduta (TAC) entre a Prefeitura Municipal e a Promotoria

de Justiça de Habitação e Urbanismo, que implicitamente priorizou a redu-

ção de riscos associada à fixação no próprio local dos ocupantes.

O referido TAC deu origem a um novo mapeamento na cidade com apro-

ximadamente 500 favelas, adicionando um elemento central ao debate: a

proposição de medidas estruturais e não estruturais para a redução de ris-

cos em cada setor mapeado.

Nesse contexto de avanço do conhecimento dos riscos nas favelas pau-

listanas é que o PMRR conquista espaço para consolidar-se como um impor-

tante instrumento de gestão local de risco de desastres.


97

O principal objetivo do plano, como o próprio nome sugere, é atuar na

fase de mitigação, reduzindo os riscos instalados em assentamentos pre-

cários onde frequentemente existe uma condição favorável aos desastres

devido à somatória de terrenos suscetíveis, com ocupações vulneráveis a

processos como deslizamentos de encostas e taludes e inundações de cór-

regos. Secundariamente, em conjunto com os sistemas de monitoramento

alerta, o mapeamento que compõe o PMRR indica os locais prioritários para

as ações de preparação e resposta previstas em outros documentos como o

PPDC e o Plancon, citados anteriormente.

Ainda que seu mapeamento possa ser utilizado durante o período chu-

voso como subsídio às ações de contingência, e ser parte fundamental da

definição dos locais a serem monitorados, o PMRR deve ser executado du-

rante o período sem chuvas para possibilitar a finalização das intervenções

estruturais antes do período crítico. Na tentativa de trazer maior eficácia

ao instrumento, é importante que o processo de encaminhamento das pro-

posições seja iniciado o quanto antes, isso porque as ocupações em áreas

suscetíveis ao desastre são extremamente dinâmicas e suas condições de

riscos se alteram com enorme rapidez.

O PMRR tem por objetivo a construção de referenciais técnicos e ge-

renciais que possibilitem às administrações municipais implementar inter-

venções estruturais e ações não estruturais para controle, redução e erra-


dicação de situações de riscos associados a processos de instabilização de
taludes (deslizamentos e processos correlatos) em encostas, solapamentos

de margens de córregos e inundações. Nesse sentido, seu conteúdo míni-

mo deve contemplar os seguintes aspectos:

» i) Diagnóstico do risco em assentamentos precários no município (ma-

peamentos);

» ii) Proposição de intervenções estruturais, como obras para redução

e controle dos riscos nos setores mais críticos identificados no diag-

nóstico;
98

» iii) Estimativa de custos para as intervenções sugeridas;

» iv) Proposição de uma escala de prioridades de intervenção com crité-

rios definidos;

» v) Realização de audiências públicas para apresentação e discussão do

plano.

A primeira etapa consiste na escolha das áreas a serem mapeadas no

município, definidas com base em dados espaciais, visitas preliminares, re-

gistros históricos da Defesa Civil e instrumentos em escalas menores como

as Cartas de Suscetibilidade (1:25.000) e Cartas de Aptidão à Urbanização

(1:10.000), que abordaremos mais adiante.

Ressalta-se que o PMRR está no âmbito do eixo de conhecimentos dos

riscos dos sistemas de monitoramento e alerta, porque tanto utiliza os

mapas e bases atualizados para sua elaboração, como desenvolve o mape-

amento de risco em escalas maiores, mais detalhadas.Após a seleção das

áreas, inicia-se o imageamento com fotos oblíquas (cerca de 45º) que per-

mitam, ao mesmo tempo, a visualização dos taludes atrás das edificações, e

a identificação da fachada em campo.

Desse modo, com as imagens em mãos, segue a jornada de campo por

todas as áreas imaginadas buscando agrupar as edificações em setores de

um mesmo processo perigoso e condicionantes que permitam a classifica-


ção em quatro níveis de riscos:

» R1 (Baixo ou inexistente),

» R2 (Médio),

» R3 (Alto)

» ou R4 (Muito alto).
99

Segundo Carvalho (2000):

(...) a maneira mais simples de se tratar a probabilidade em aná-

lises de risco consiste em se atribuir à possibilidade de ocorrên-

cia de processo de estabilização, níveis definidos de forma literal

(possibilidade de ocorrência baixa, média ou alta, por exemplo).

Essa é a base para as análises de risco de caráter qualitativo, em

que um profissional experiente avalia o quadro de condicionantes

e indícios da ocorrência de processo de estabilização, compara as

situações encontradas com modelos de comportamento e, base-

ado em sua experiência, hierarquiza as situações de risco em fun-

ção da possibilidade de ocorrência do processo num determinado

período (geralmente um ano. (CARVALHO, 2000, p. 52).

A publicação “Mapeamento de riscos em encostas e margens de rios”, elabo-

rada em 2007 pelo IPT, em parceria com o antigo Ministério das Cidades, traz a

descrição dos critérios para definição dos graus de riscos em um PMRR (Quadro 2).

Caracterizar o máximo possível os condicionantes geológico-geotécnicos,

tanto nos trabalhos com as bases cartográficas quanto em campo, e a tipolo-

gia de ocupação das áreas mapeadas permite aos técnicos entender a causa-

lidade do risco e, consequentemente, sugerir medidas estruturais e/ou não

estruturais aderentes aos processos em curso.


Quadro 2: Critérios para determinação dos graus de riscos do PMRR. Fonte: Brasil/IPT, 2007.

100
101

A Figura 53 traz os setores com seus respectivos graus de riscos e suges-

tões de obras para mitigação.

Figura 53: Setores de risco com propostas de intervenção em foto oblíqua no município
de Franco da Rocha/SP. Fonte: francodarocha.sp.gov.br.

Após a setorização das áreas de risco, caracterização e proposição

de medidas estruturais e não estruturais de todos os locais de interesse

selecionados na etapa anterior, elabora-se o planejamento das ações,

estabelecendo critérios de prioridades a partir dos graus de riscos, cus-

tos estimados por setor e outros fatores que porventura sejam relevan-

tes para a gestão municipal, por exemplo, o andamento do processo de

regularização fundiária da área.

Dessa maneira, o PMRR fornece subsídios tanto para medidas não es-

truturais quanto estruturais, como obras de mitigação de riscos (cons-


102

trução de canaletas de drenagem, escadas hidráulicas, limpeza, aces-

sos, proteção vegetal, concreto projetado, solo grampeado, estruturas

de contenção, remoções e outras).

Terminada a redação do PMRR, é recomendado aos autores organizarem

oficinas técnicas de formação aos servidores públicos de todas as secreta-

rias participantes do Sistema Municipal de Defesa Civil a fim de capacitá-los

para utilização mais adequada do instrumento (Figura 54).

A comunicação dos resultados à população deve ser feita por meio de

audiências públicas, preferencialmente nos locais mapeados, ou próximo,

para permitir a participação efetiva dos moradores.

Figura 54: Capacitação do Plano Municipal de Redução de Riscos para secretarias munici-
pais. Fonte: francodarocha.sp.gov.br.

As principais limitações do PMRR estão atreladas a três fatores prin-

cipais que se relacionam entre si: interpretação jurídica, prazo de validade

e escala. São poucos os integrantes do meio jurídico que interpretam de


maneira coerente o mapeamento contido no PMRR; a ideia predominan-
103

te é que não há possibilidade de conviver com nenhum nível de risco. Essa

perspectiva coloca as gestões municipais em situação complicada porque

sofrem questionamentos jurídicos, principalmente vindos do Ministério Pú-

blico, para a remoção total da população em setores de riscos.

Outra consideração importante, frequentemente invisibilizada tanto no

âmbito jurídico quanto nas gestões locais, é o prazo da validade do plano.

É recomendável que o mapeamento do PMRR seja atualizado a cada novo

período chuvoso, isto é, todos os anos. Ainda que algumas boas referências

coloquem o prazo de validade de dois anos, a ideia central é que o plano

não serve se a representação estiver defasada da realidade, experiência co-

mum devido à dinâmica das ocupações em áreas de riscos.

Em relação à escala, algumas metodologias preveem setores muito ex-

tensos com várias moradias porque trabalham em escalas inadequadas,

generalizando processos perigosos sem o devido cuidado necessário. Essa

elaboração descuidada ou generalista do mapeamento cria dois problemas

imediatos: o primeiro, relacionado à dificuldade da gestão municipal em

atuar com precisão nas moradias realmente em risco; e o segundo, relacio-

nado aos questionamentos jurídicos citados anteriormente.

Outros instrumentos de Gestão Local

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), Lei nº 12.608,

de 10 de abril de 2012, em seu artigo 5º aponta como um de seus objeti-

vos: “Promover a identificação e avaliação das ameaças, suscetibilidades e

vulnerabilidades a desastres, de modo a evitar ou reduzir sua ocorrência”.

Neste sentido, as Cartas de Suscetibilidade (1:25.000), Cartas de Apti-

dão à Urbanização (1:10.000) e os Mapeamento de Riscos são instrumentos

cartográficos de conhecimento das componentes do risco que devem ser

articulados complementarmente a partir do detalhamento progressivo.


104

Carta de Suscetibilidade

As Cartas de Suscetibilidade (Figura 55) podem ser definidas como docu-

mentos cartográficos que representam a possibilidade de ocorrência de um

determinado evento relacionado a processos de movimentos gravitacionais de

massa (deslizamentos, corridas de massa e queda, tombamentos e rolamen-

tos) e/ou processos hidrológicos (inundações e enxurradas) (CPRM, 2021).

Em consonância com a diretriz da PNPDEC, sua elaboração foi prevista

no Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres com início em

agosto de 2012. O instrumento delimita os locais suscetíveis a movimentos

gravitacionais de massa e/ou processos hidrológicos na escala 1:25.000 e

são classificadas em alta, média e baixa suscetibilidade.

Figura 55: Carta de suscetibilidade do município de Juiz de Fora – MG. Fonte: CPRM, 2014.

Resultado de modelagem matemática realizada em escritório, o produto é vali-

dado posteriormente em trabalho de campo por equipe técnica de pesquisadores

que vistoriam todas as situações do município. Importante enfatizar que as limita-

ções de escala e o modelo matemático impedem a utilização para avaliar estabili-

dade dos terrenos ou ainda exibir resultados confiáveis para áreas ocupadas.
105

Carta de Aptidão à Urbanização

A Carta de Aptidão à Urbanização (Figura 56), citada na PNPDC como

obrigatoriedade para os municípios do cadastro nacional, constitui-se em

um instrumento de planejamento urbano que atua na fase de prevenção da

gestão de riscos e têm como objetivo:

“caracterizar os terrenos do ponto de vista geológico-geotécnico e definir as

aptidões à ocupação quanto à probabilidade de ocorrência dos desastres, em

regiões metropolitanas não ocupadas e zonas não ocupadas que estão locali-

zadas em áreas de expansão a médio e longo prazos.” (CPRM, 2021).

Figura 56: Carta de aptidão à Urbanização do município de Magé - RJ. Fonte: CPRM, 2015.

No plano ideal, as cartas de aptidão à urbanização deveriam ser subsídio

tanto para o zoneamento e plano diretor do município quanto para aprova-

ção de novos grandes loteamentos. O documento delimita áreas aptas, inap-

tas e aptas com restrições à urbanização para orientar a expansão da cidade,


106

evitando locais potencialmente geradores de novos riscos socioambientais.

É importante ressaltar que a escala de elaboração (1:10.000), exige aos pro-

cessos construtivos de edificações e equipamentos urbanos a realização de

investigações geotécnicas de caráter quantitativo em escala de projeto.

Mapeamento das Vulnerabilidades

Normalmente omitida nos espaços de debate sobre desastres, a vulne-

rabilidade é um dos componentes do risco que devem ser investigados e

conhecidos com o objetivo de subsidiar a gestão local do risco.

Neste campo, existem alguns estudos de mapeamento de vulnerabili-

dade social que se destacam, como o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS)

para municípios e regiões metropolitanas do Brasil, desenvolvido em 2015

pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). <66>https://www.


ipea.gov.br/portal/

O IVS é composto por 16 indicadores elaborados a partir dos dados censitá-

rios disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

e é dividido em três dimensões (renda e trabalho, infraestrutura urbana e capi-

tal humano). Desse modo, os setores censitários são agrupados em cinco clas-

ses de vulnerabilidade: muito baixa, baixa, média, alta e muito alta (IPEA, 2015).

O Ipea disponibiliza os resultados deste estudo através do Atlas da Vul-

nerabilidade Social(Figura 57), uma ferramenta que permite a consulta em <67>http://ivs.


ipea.gov.br/index.
diversos formatos de dados sobre a temática da vulnerabilidade social, e a php/pt/

produção de análises e informações para os mais diversos perfis de usuários.

A plataforma oferece um panorama da vulnerabilidade e da exclusão so-

cial dos municípios, estados e regiões metropolitanas. Sua relevância vem

justamente da capacidade de fornecer informações sobre a unidade polí-

tico-administrativa mais próxima do cotidiano dos cidadãos: o município.

Além disso, o Atlas permite conhecer as desigualdades a nível intramunici-

pal das diversas espacialidades de uma mesma região metropolitana.


107

Figura 57: Interface do Atlas de Vulnerabilidade Social do Ipea. Fonte: ipea.gov.br.

Outro importante material que contribui para o conhecimento da vul-

nerabilidade na escala local é a publicação “População em áreas de risco

no Brasil” (Figura 58), lançada em 2018 como resultado de um acordo de

cooperação técnica entre IBGE e Cemaden, com o objetivo de desenvolver

uma proposta metodológica pautada na criação de um novo recorte espa-

cial para auxiliar na gestão de riscos a desastres: a Base Territorial Esta-


tística de áreas de risco (BATER) - gerada a partir da associação dos dados

sociodemográficos às áreas de risco mapeadas de inundações, enxurradas

e movimentos de massa.

Os dados divulgados na publicação são do ano de 2010, data do último

Censo Demográfico realizado pelo IBGE, mas a metodologia foi desenvolvi-

da para ser replicada a partir dos dados dos próximos Censos Demográficos,

garantindo o baixo custo de execução e otimização de recursos públicos.

Além disso, será possível acompanhar a evolução temporal das característi-

cas da população exposta ao risco de desastres.

O estudo traz a público os primeiros resultados referentes à situação

da população em área de risco no Brasil, que tem por objetivo gerar dados
108

socioeconômicos, subsídios fundamentais para iniciativas que visam reduzir

o número de vítimas fatais e prejuízos materiais relacionados a desastres na-

turais em todo o país. Ademais, o desafio de gerar informações geográficas

articuladas em diversas escalas de análise constitui um primeiro esforço em

estimar a população brasileira exposta e vulnerável ao risco de desastres.

Os resultados apresentados nessa publicação auxiliam no conheci-

mento das condições da população residente em áreas de risco, facili-

tando no campo da prevenção o direcionamento de ações voltadas aos

perfis da população residente (IBGE, 2018).

Figura 58: População em área de risco na Região Sudeste. Fonte: IBGE, 2018.

A apropriação e manipulação dos dados sobre a população do município

qualifica significativamente as ações da gestão local em todas as fases. Ao

tomar conhecimento das dimensões da vulnerabilidade social dos morado-


109

res de áreas de riscos é possível atuar de maneira assertiva no combate ao

problema. Portanto, a lição importante é que existem outras possibilidades

de gerenciamento dos riscos socioambientais que não se limitam à análise

das ameaças e de processos perigosos.

Boas Práticas de Gestão


de Risco de Desastres na
Escala Local

Nesta seção abordaremos alguns casos considerados como “boas

práticas” envolvendo a gestão local de riscos, o monitoramento e alerta de

desastres e protocolos de ações, com destaque para as fases de prevenção,

mitigação e preparação.

Defesa Civil de Salvador – CODESAL

As ações de Proteção e Defesa Civil do município de Salvador estão


<68>O SMDC de
organizadas de acordo com o Sistema Municipal de Proteção e Defesa Civil Salvador foi reorga-
nizado através do De-
– SMPDC, composto por órgãos da Administração Pública Municipal, enti- creto nº 23.814 de 11
de março de 2013.
dades públicas e privadas e a comunidade. Na qualidade de órgão central

do SMPDC, a Defesa Civil do município de Salvador (CODESAL), funciona

como uma Diretoria Geral da Secretaria Municipal de Sustentabilidade e

Resiliência (SECIS), responsável pela articulação, coordenação e supervisão

técnica do Sistema.

A CODESAL tem seu quadro composto por equipes de engenheiros

civis, arquitetos, geólogos e assistentes sociais, além de outros profissio-

nais. Desde a sua criação, em 1976, atua em regime de Plantão 24 horas,


110

todos os dias da semana, inclusive fins de semana e feriados, para atender à

demanda da população pelo telefone 199 e presencialmente em sua sede.

Como muitas metrópoles brasileiras, a ocupação urbana do municí-

pio de Salvador ocorre de forma irregular e desordenada nas áreas de en-

costas, sendo um dos principais problemas enfrentados pela administra-

ção municipal. De acordo com o IBGE (2018), a capital baiana possuía, em

2010, o total de 1.217.527 habitantes em alguma área considerada de risco

(45,5% da população). Os crescentes assentamentos populacionais nessas

áreas trazem como consequência os deslizamentos de terra e desabamen-

tos de imóveis que vitimam pessoas, a cada ano, nos períodos de grandes

pluviosidades.

Em março de 2015, duas localidades que já possuíam histórico de

deslizamentos com vítimas fatais – Bom Juá e Barro Branco – foram atin-

gidas novamente por deslizamentos de terra (Figura 59), deixando, dessa

vez, 16 pessoas mortas. A partir desse episódio, a Administração Municipal

entendeu a necessidade de reestruturar a Defesa Civil de Salvador, apare-

lhando todo o órgão para dar respostas às demandas da cidade, objetivan-

do minimizar a ocorrência de acidentes.

Até então voltada mais para a resposta, a CODESAL passou a atu-

ar prioritariamente com foco na prevenção, por meio da intensificação dos

trabalhos educativos e inclusivos, da elaboração de planos de prevenção

e dos mapeamentos das áreas de risco. Partindo deste contexto, no início

de 2016, foi elaborado o Plano Diretor de Encostas (PDE), com o objeti-

vo indicar os assentamentos mais vulneráveis e subsidiar o planejamento e

controle de ações necessárias para a redução do risco nestas áreas e, con-

comitantemente, deu-se início às atividades de monitoramento do Centro

de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil (CEMADEC).


111

Figura 59: Deslizamentos em Salvador no ano de 2015. Fonte: Terra.

O CEMADEC tem como objetivo acompanhar e avaliar o quadro evoluti-

vo dos fenômenos climáticos extremos que oferecem riscos à população de

Salvador, e emitir alertas sobre as situações de riscos iminentes associados

aos eventos extremos, conforme os protocolos do PPDC do município.

O Centro atua em regime de plantão 24/7, e é composto por uma equipe

multidisciplinar, em uma moderna central tecnológica instalada na sede da

CODESAL (Figura 60), dotada de 9 (nove) estações de trabalho (cada uma

com três monitores) e um videowall.


112

Figura 60: Sala de Situação da Codesal. Fonte: Codesal.gov.br.

O CEMADEC conta, atualmente, com uma rede de monitoramento constituída

por 71 (setenta e uma) Plataformas de Coleta de Dados - PCDs, sendo 48 (quarenta

e oito) estações pluviométricas (CODESAL e Cemaden), 04 (quatro) estações hidro-

lógicas (Cemaden e CODESAL), 04 (quatro) estações meteorológicas (CODESAL e

INMET) e 15 (quinze) estações geotécnicas (Cemaden), conforme a Figura 61.

Figura 61: Rede de


monitoramento do
CEMADEC. Fonte:
codesal.gov.br.
113

Alinhada com a rede de monitoramento e alerta, a CODESAL também

opera um sistema de alarmes composto por 11 (onze) sirenes em 10 (dez)

áreas de risco (Figura 62). Esse sistema segue os protocolos predefinidos no

PPDC do município, considerando as condições do tempo, juntamente com

os acumulados de chuva registrados, o que permite alertar os moradores de

áreas de risco de possíveis ameaças associadas aos deslizamentos de terra.

A CODESAL publica anualmente em sua página na Internet, o relatório <69>ver: http://


www.codesal.sal-
“Operação Chuva”, demonstrando um resumo de todas as ações de prevenção vador.ba.gov.br

e procedimentos operacionais que ocorreram ao longo do ano, com especial ên-

fase para o segundo trimestre – período que, em Salvador, é historicamente mar-

cado por condições meteorológicas adversas, caracterizadas por fortes chuvas e

aumento do número de ocorrências como deslizamentos de terra e alagamentos.

Figura 62: Sistema de Alarmes de Salvador. Fonte: codesal.


114

Neste relatório, além da análise climatológica e meteorológica das chu-

vas, também são apresentados alguns Instrumentos de Gestão de Riscos de

Desastres aplicados pela Defesa Civil, como o PPDC e o Plancon do município.

Destacam-se também as atividades que envolvem a preparação das comuni-

dades, como a realização de Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil

(NUPDEC’s), assunto que será abordado no Módulo IV deste curso.

O PPDC de Salvador, estabelece quatro níveis de criticidade em relação

à evolução dos eventos monitorados: Observação, Atenção, Alerta e Alerta Má-

ximo. Os critérios para mudança de nível consideram os seguintes parâmetros:

» i) Previsão do tempo;

» ii) Quantidade de chuva acumulada em 72 horas;

» iii) Alertas emitidos pelo Cemaden;

» iv) Quantidade de ocorrências registradas.

Nas áreas que contam com o sistema de alarme, as vistorias são reali-

zadas a partir do registro de 80mm de chuva em 72 horas, com a finalidade

de localizar pontos de risco iminentes de deslizamento e sinalizar em quais

locais devem ser agilizadas as medidas de prevenção. De acordo com o PPDC,

as sirenes que compõem o sistema de alarme são acionadas quando há:

» i) Previsão de continuidade de chuva moderada a forte;

» ii) Ocorrências de deslizamentos observadas nas vistorias;

» iii) Acumulados de chuva das últimas 72 horas acima de 150 mm.

O Plancon de Salvador é atualizado anualmente e tem como objetivo

geral: “definir, orientar e organizar as ações a serem executadas pelos ór-

gãos que compõem o SMPDC de Salvador, em circunstâncias de situações

adversas relacionadas com o incremento de precipitações pluviométricas”.


115

O documento leva em consideração todo o conjunto dos recursos

humanos e meios materiais disponíveis na Administração Municipal, além

do apoio de órgãos públicos estaduais, federais e representações comuni-

tárias organizadas. Importante destacar a descentralização das ações com

o engajamento da população através dos NUPDEC’s – compostos por volun-

tários e agentes públicos ligados à temática da gestão de riscos. Durante o

período de operacionalização do Plancon, a Defesa Civil monitora as con-

dições meteorológicas e os alertas emitidos pelo Cemaden. Quando estes

são emitidos nos níveis Muito Alto, o SMPDC é acionado para agir, dando

prioridade às áreas com as seguintes características:

» i. Áreas mais suscetíveis a deslizamentos de terra;

» ii. Áreas com histórico de acidentes em decorrência das chuvas;

» iii. Área do Centro Histórico de Salvador com a existência de edi-

ficações em situação de risco alto e muito alto de desabamento;

» iv. Locais vistoriados em situação de alto e muito alto risco onde

não ocorreram intervenções;

» v. Áreas sujeitas a alagamentos.

Além disso, o plano também lista todas as atividades que podem ser to-
madas antes, durante e depois do evento adverso, sempre de acordo com

os alertas emitidos pelo Cemaden. Embora envolva praticamente todos os

órgãos da Administração Pública, o quadro 3 relaciona as ações prioritárias

em que, de acordo com o Plancon, a CODESAL tem a atribuição de atuar di-

retamente na fase de preparação e resposta ao desastre, individualmente

ou em conjunto com uma ou mais secretarias.


116

Quadro 3. Matriz das atividades da CODESAL nas fases de preparação e resposta ao de-
sastre, de acordo com o Plancon. Fonte: Adaptado de Salvador (2013).

Por fim, vale ressaltar que atualmente a CODESAL também trabalha com

um Plano de Contingência específico para o Centro Histórico de Salvador,

com a finalidade de mitigar o impacto no patrimônio histórico e na arqui-

tetura do município, uma vez que se trata de importante fonte de renda

através do turismo, fomentado pelo valor cultural de tais ativos.


117

Coordenadoria Estadual de Proteção e


Defesa Civil de São Paulo – CEPDEC/SP

No estado de São Paulo, a Defesa Civil teve sua origem após os re-

sultados das intensas chuvas ocorridas em Caraguatatuba (1967) e dos in-

cêndios nos edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974) (Figura 63) na capital,

que ocasionaram diversos óbitos devido à falta de rápida coordenação dos

órgãos públicos e integração com a comunidade.

Figura 63: Incêndio no Edifí-


cio Joelma em 1974. Fonte:
wikimedia.

O governo paulista percebeu então, a necessidade da criação de um ór-

gão que, ao mesmo tempo, pudesse prevenir a ocorrência desses eventos


118

ou, na impossibilidade da prevenção, pudesse minimizar seus efeitos. Neste

contexto surgiu a Defesa Civil do estado de São Paulo e o Sistema Estadual

de Defesa Civil (Decreto nº 7.550, de 09 de fevereiro de 1976), que foi reor-

ganizado em 2019 com uma Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa

Civil (CEPDEC-SP), subordinada diretamente ao Governador e dirigida pelo

Coordenador Estadual de Proteção e Defesa Civil, constituindo-se no órgão

central do Sistema de Proteção e Defesa Civil do estado de São Paulo.

As Coordenadorias Regionais de Proteção e Defesa Civil (REPDEC’s) atuam

no interior do estado e na região metropolitana. São 19, tendo como principal

atribuição a formação, a orientação e o apoio às Coordenadorias Municipais de

Proteção e Defesa Civil (COMPDEC’s) em todos os municípios paulistas.

Em 46 anos de existência, a Defesa Civil do Estado evoluiu por meio

da experiência adquirida em diversos eventos calamitosos, coordenando

ações e suplementando e apoiando municípios e munícipes em momentos

difíceis. Esses eventos e todos os outros atendimentos diários prestados

denotam a importância de uma postura preventiva, que é semeada e forta-

lecida por intermédio de cursos de capacitação voltados para agentes pú-

blicos e para o público infanto-juvenil, da publicação de materiais técnicos

e informativos, do engajamento em diversos eventos e campanhas, bem

como por meio da implementação de Planos de Contingência e da opera-

cionalização de diversos Planos Preventivos de Defesa Civil.

Entre os bem-sucedidos planos, podemos citar o específico para es-

corregamentos na Baixada Santista e litoral norte (em vigência há 31 anos),

que foi o modelo para o desenvolvimento dos demais PPDCs de escorre-

gamento (ABC, Região Metropolitana de São Paulo, Vale do Paraíba e Ser-

ra da Mantiqueira, Campinas, Sorocaba, Itapeva e aglomeração urbana de

Jundiaí), dos PPDCs de inundação (Vale do Ribeira) e de estiagem (Região

Metropolitana de Campinas e regiões de São José dos Campos/Vale do Pa-

raíba, São José do Rio Preto, Marília e Barretos).


119

Com o passar dos anos, o sucesso do plano e o aumento do número de

áreas de risco em vários municípios do estado, o PPDC foi implantado em

outras regiões, totalizando em 2019, 176 municípios contemplados em al-

gum PPDC (Figura 64) (MACEDO et al., 2020).

Figura 64: Municípios paulistas contemplados em algum PPDC. Fonte: Macedo et al.
(2020).

Para aprimorar a operação dos PPDCs, o estado de São Paulo possui atu-

almente 309 municípios com algum instrumento de identificação de áreas

de risco (mapeamento, setorização ou cadastramento), priorizando a ma-

crometrópole paulista (76% da população paulista).

As áreas apontadas são direcionadas para as inundações e deslizamen-

tos. Neste sentido, são realizadas parcerias, com utilização de recursos pró-

prios, para contratação de órgãos especializados, como o IG e o IPT, para

mapeamentos e setorizações nos municípios prioritários, de acordo com o

histórico e suscetibilidade a desastres.

Outra ação coordenada pela CEPDEC-SP é o Programa Estadual de Pre-

venção de Desastres Naturais e de Redução de Riscos (PDN), em que diver-


120

sos atores do estado se reúnem mensalmente para articulação e estratégia

de prevenção de risco a desastres e riscos geológicos, indicando maneiras

de evitar, reduzir e gerir as situações de risco. De forma inovadora, o pro-

grama articula ações e projetos das secretarias e instituições públicas esta-

duais que trabalham na área para alcançar melhores resultados.

O PDN conta com um comitê deliberativo, constituído por diversas se-

cretarias, e com o Grupo de Articulação de Ações Executivas (GAAE), com-

posto por representantes da CEPDEC, IG, IPT, Secretaria da Segurança Pú-

blica (SSP), Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Departamento de

Águas e Energia Elétrica (DAEE), Companhia Ambiental do Estado de São

Paulo (CETESB), Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do

Estado de São Paulo (CDHU), Secretaria da Educação, Secretaria de Logísti-

ca e Transportes, Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS) e Secretaria

dos Transportes Metropolitanos (STM).

Além disso, a CEPDEC-SP dispõe de um Núcleo de Gerenciamento de

Emergências (NGE) (Figura 65), que funciona 24 horas por dia, monitorando

todas as ocorrências de desastres no estado, e que, sendo necessário, age

de forma suplementar ao pronto atendimento, acionando órgãos e recur-

sos para uma maior efetividade nas ações de resposta.

O NGE possui equipes treinadas e, em situações específicas – como du-

rante as estações de estiagem e de chuvas, períodos em que os municípios

mais afetados operam os PPDCs –, conta ainda com a parceria de diversos

órgãos técnicos, que atuam de maneira preventiva quando surgem os pri-

meiros sinais de um possível desastre, bem como após a ocorrência, visando

minimizar os danos, sempre com o intuito de preservar vidas humanas, e

orientando para a remoção preventiva de pessoas em áreas de risco, ou até

mesmo interditando os locais, se oportuno.

Meteorologistas de plantão confeccionam diariamente boletins me-

teorológicos que são encaminhados aos municípios por correio eletrônico


<70> http://www.
e disponibilizados no sítio eletrônico da coordenadoria, para prevenir ocor- defesacivil.sp.gov.br/
121

rências e antecipar providências de gestão por parte dos municípios. Além

disso, são emitidos alertas sobre condições meteorológicas regionais e lo-

cais com maior potencial de risco, divulgados aos agentes públicos munici-

pais por meio de serviço de mensagens curtas (SMS).

Figura 65: Núcleo de Gerenciamento de Emergências – NGE. Fonte: defesacivil.gov.br.

<71>https://www.
Todo o monitoramento é realizado com o apoio dos radares do Instituto ipmetradar.com.
br/
de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) (Figura 66), da Rede de Meteorolo-

gia da Aeronáutica (Redemet) e de empresa contratada pela CEPDEC-SP <72>https://


www.redemet.aer.
(Somar Meteorologia - Southern Marine Weather Services), para realizar o mil.br/

acompanhamento meteorológico do estado, acrescidos de dados dos ae- <73>https://portal.


inmet.gov.br/
roportos, de estações meteorológicas automatizadas do Instituto Nacional

de Meteorologia (INMET), postos automatizados de medição pluviométri-


<74>http://www.
ca e fluviométrica do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e daee.sp.gov.br/site/
imagens de satélite. É realizado, também, o monitoramento das bacias hi-

drográficas em parceria com o DAEE, por meio de 4 salas de situações: São

Paulo, Registro, Taubaté e Piracicaba.


122

Figura 66: Fachada do IPMet em Bauru-SP. Fonte: ipmetradar.com.br.

<75>https://www.
saisp.br/
A CEPDEC-SP conta ainda com o Sistema de Alerta a Inundações de São

Paulo (SAISP) (Figura 67), operado pela Fundação Centro Tecnológico de Hi-

dráulica (FCTH), que gera, a cada cinco minutos, boletins sobre as chuvas e
<76> https://
suas consequências para várias regiões do estado. O monitoramento hidro- www.fcth.br/
lógico do SAISP é feito pela Rede Telemétrica de Hidrologia do DAEE e pelo

Radar Meteorológico de São Paulo (de propriedade do DAEE). Os princi-

pais produtos do SAISP são: mapas de chuva observada; leituras de postos

das redes telemétricas do Alto Tietê, Cubatão, Registro e Piracicaba; mapas

com previsões de inundações na cidade de São Paulo.

Foi desenvolvido, ainda, o Sistema Integrado de Defesa Civil – SIDEC

(Figura 74), uma plataforma de gerenciamento entre os níveis estadual e


123

municipal, que serve como banco de dados para consultas, solicitações e

atividades de ensino. O SIDEC é uma ferramenta georreferenciada, o que

facilita a tomada de decisão dos gestores no momento da gestão do risco.

Figura 67: Interface do SAISP. Fonte: saisp.br.

Com objetivo de aprimorar o monitoramento diário realizado, também em

parceria, com o Cemaden, a CEPDEC-SP auxiliou na instalação de Platafor-

mas de Coleta de Dados Pluviométricos (PCDs), conhecidas como pluviô-

metros automáticos, que possibilitam a produção de alertas mais precisos

sobre os riscos das cidades, otimizando o trabalho realizado pelo municí-


124

pio e, consequentemente, beneficiando a população. Ao todo, foram ins-

talados aproximadamente 754 PCDs, para preparar melhor os municípios

paulistas que operacionalizam os 8 Planos Preventivos de Defesa Civil.

Figura 68: Interface do SIDEC. Fonte: Sidec.sp.gov.br.

Por fim, vale ressaltar que a CEPDEC-SP promove constantemente a

capacitação dos agentes de Defesa Civil dos municípios paulistas, com ofici-

nas de redução de risco para a Operação Verão e para a Operação Estiagem

(Figura 69), abrangendo as principais regiões do estado, a fim de que sejam

transmitidas informações essenciais para as fases de prevenção, prepara-

ção, mitigação, resposta e recuperação dos desastres.

Ao todo, nos anos de 2018 e 2019, foram realizadas 46 oficinas presen-

ciais em todo o território paulista, sendo 16 preparatórias para a Operação

Verão e 30 para a Operação Estiagem. Em 2020, devido à pandemia da co-

vid-19, os treinamentos estão sendo oferecidos de maneira inovadora pela

plataforma EAD, sendo abertos a todas as regiões do estado, de modo a

difundir ainda mais o aprendizado.


125

Figura 69: Oficinas preparatórias para Operação Chuvas de Verão em Caçapava-SP. Fonte:
cacapava.sp.gov.br.

Projeto GIDES – Eixo Monitoramento e


Alerta (Nova Friburgo/RJ, Petrópolis/RJ
e Blumenau/SC)

O “Projeto de Fortalecimento da Estratégia Nacional de Gestão Integra-

da de Riscos em Desastres Naturais” – GIDES, teve como objetivo contribuir

com a redução de riscos de desastres decorrentes de movimentos de massa

no Brasil, por meio de suporte técnico para formulação de políticas públicas.

O projeto envolveu diferentes órgãos vinculados aos Ministério do Desenvol-

vimento Regional - MDR (representados pelos antigos Ministérios da Cidades e

da Integração Nacional), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI,

Ministério das Minas e Energia - MME e instituições estaduais e municipais.

O GIDES foi desenvolvido entre 2013 e 2018 resultando na produção de seis

manuais que tratam de novas metodologias de mapeamento, monitoramento,


126

plano de contingência, intervenções estruturais para mitigação em caso de flu-

xo de detritos e intervenções de ruptura da encosta, bem como manual técnico

para redução do risco de desastres aplicado ao planejamento urbano.

Ao Cemaden, na condição de representante do MCTI coube, de forma

geral, desenvolver métodos para o cálculo de limiares, elaboração e trans-

missão de alertas de risco de desastres e, de forma conjunta ao Centro Na-

cional de Gerenciamento de Desastres (CENAD) e às Defesas Civis estadu-

ais e municipais, melhorar os sistemas informatizados de monitoramento,

previsão, alerta e alarme.

Ao final do projeto, foi produzido o “Manual Técnico para Elaboração,


Transmissão e Uso de Alertas de Risco de Movimentos de Massa”, com pro-
postas de aplicação prática de protocolos, proposição de novas metodolo-

gias, sistemas informatizados e procedimentos operacionais.

Neste contexto, o projeto contou com a participação das Defesas Civis

Municipais de Blumenau-SC, Nova Friburgo e Petrópolis-RJ. A primeira ini-

ciativa foi definir quais processos seriam monitorados e, posteriormente,

qual método seria utilizado para o monitoramento (Figura 70).

O escopo do método adotado no projeto difere dos métodos atuais uti-

lizados em muitos sistemas de monitoramento, fundamentados nas meto-

dologias propostas por Tatizana et al. (1987 a, b).


<77>Para mais ex-
plicações, sugere-se
O Método Compartilhado, além de fundamentar-se em dois índices – um buscar o Curso II -
Aspectos técnicos dos
de curta duração (1,5 horas) e outro de longa duração (72 horas) –, estabele- extremos geo-hidroló-
gicos no país e as dife-
ce seus cálculos com base na meia vida, em que, a partir de um determinado renças regionais - aula
6.5.7.
momento (tempo) é descontado do volume total acumulado uma parcela

da chuva que é perdida em função da meia vida adotada (CEMADEN, 2018).

Ou seja, o termo da meia vida simula uma característica de infiltração, de

escoamento e de armazenamento de água no solo.


127

Figura 70: Etapas de desenvolvimento dos diferentes tipos de métodos de previsão de


movimentos de massa. Fonte: Manual Técnico para Elaboração, Transmissão e Uso de
Alertas de Risco de Movimentos de Massa (Cemaden, 2018).

A partir da escolha do método, a segunda iniciativa diz respeito à defini-

ção dos blocos, cálculo dos limiares e definição das linhas de apoio. A com-
partimentação do município em blocos é interessante quando há diferen-

ças ambientais significativas (variação da geologia, climatologia, pedologia

e geomorfologia), bem como a distribuição das áreas de risco em função

dos diferentes tipos de movimentos de massa que podem ocorrer dentro

de um determinado município (Figura 71).

A partir da identificação desses fatores buscou-se definir os possíveis li-

miares que poderiam desencadear os processos de deslizamentos e/ou flu-

xos de detritos para o município ou para cada bloco existente dentro desse

município. Portanto, em um mesmo município pode haver mais de um limiar.

Assim como no método das envoltórias, proposto por Tatizana et al

(1987 a, b), o Método Compartilhado necessita de dados de precipitação e


128

de ocorrências para traçar as suas linhas de referências, aqui no caso, deno-

minadas de Linha de Probabilidade Moderada (LPM), Linha de Probabilida-

de Alta (LPA), Linha de Probabilidade Muito Alta (LPMA) e Linha Crítica (LC),

esta última, indicando que, quando atingida, poderia ocorrer os desastres.

Ressalta-se, que a definição das linhas, bem como os limiares empregados

foram discutidos e validados juntos às Defesas Civis Estaduais e Municipais

participantes do projeto e esse exercício deve ser realizado em ações futu-

ras, independentemente do método empregado no monitoramento.

Figura 71: Modelo de definição de blocos para o cálculo dos limiares.Fonte: Manual
Técnico para Elaboração, Transmissão e Uso de Alertas de Risco de Movimentos de Massa
(Cemaden, 2018).

A respeito das linhas de probabilidades e as ações coordenadas por cada

órgão dentro do sistema, ao longo do projeto foram discutidos (por meio

de apresentações ou Reuniões Técnicas), os nivelamentos dos níveis dos


alertas por parte do Cemaden juntamente com os níveis operacionais das

Defesas Civis, como pode ser observado no quadro 4.

Além disso, para cada nível de alerta/operacional foi determinado um

tipo de ação, assim como o tempo de articulação entre o início do monito-


129

ramento até o desencadeamento do possível desastre (LPM > LC = 3 horas,

LPA > LC =2 horas, LPMA > LC = 1 hora).

Quadro 4: Ações coordenadas de acordo com os níveis operacionais no âmbito do projeto


GIDES. Fonte: Adaptado de Cemaden (2018).

Notas:

(1): Transmitido pelo Cemaden ou pela DCE, para as DCMs.

(2): Da Defesa Civil Municipal.

(3): Transmitido pela DCM ou pela DCE, conforme acordado entre ambos, para

os moradores das áreas em risco.


(4): LPM: Linha de Probabilidade Moderada de Eventos. LPA: Linha de Probabi-

lidade Alta de Eventos. LPMA: Linha de Probabilidade Muito Alta de Eventos.

LC: Linha Crítica de Eventos (ou Linha de Probabilidade Máxima de Eventos).

Tais atividades também resultaram em sugestões para melhoria do for-

mato dos alertas (em relação a alertas enviados pelo Cemaden). Assim,

em situações em que o município apresentasse mais de uma estação plu-

viométrica (PCDs), o agente poderia direcionar ações às localidades mais


130

críticas, com base nos dados da curva cobra. Pode-se destacar, também, a

associação das ocorrências com o pluviômetro mais próximo, considerando

um raio de 3km. Essa condição, permite em ações futuras balizar e construir

limiares regionalizados dentro do próprio município e não mais um único

limiar para todas as estações inseridas dentro dele.

O projeto ainda buscou a criação de um Banco de Dados fruto do registro di-

ário das atividades realizadas por cada ente. A dinâmica proposta seria uma ava-

liação diária, no caso, para as Defesas Civis e por turnos, no caso do Cemaden.

Em um formato de planilhas de dados o agente de Defesa Civil ou o

tecnologista da Sala de Situação do Cemaden responderia se houve indis-


ponibilidade ou atrasos nos dados utilizados para monitoramento (pluviô-
metros, radar, satélite ou modelos), falha no sistema de coleta e armaze-

namento dos dados, falha de internet e telefonia, outros tipos de falhas

(computadores, falta de energia etc.), dificuldade no entendimento das in-

formações recebidas (conteúdo do alerta, do boletim meteorológico, chuva

acumulada, curva cobra etc.), entendimento sobre os alertas do Método

Compartilhado, entre outras.

A partir dessas informações eram compilados, no final do dia ou do turno,

as possíveis interferências que podem ou poderiam comprometer o sistema de

monitoramento e, consequentemente, as ações preventivas e de resposta.


131

Sistemas de monitoramento e alerta como


suporte à gestão local de riscos de desastres 4

Abordagens Participativas
para o Fortalecimento de
Sistemas de Monitoramento
e Alerta de Desastres
132

Introdução
Das mudanças climáticas à pandemia, os riscos e os desastres estão se

somando, multiplicando e potencializando e, tornando as comunidades ain-

da mais vulneráveis aos riscos. Marcos internacionais e a Política Nacional

de Proteção e Defesa Civil (Lei nº 12.608/2012) recomendam a participação

da sociedade e o empoderamento das pessoas na gestão dos riscos de de-

sastres. Assim, é importante pensarmos em organizar Núcleos de Proteção

e Defesa Civil (Nupdecs) com uma abordagem de governança participativa,

que atuem na prevenção e, em casos extremos, na preparação das comuni-

dades.

Neste contexto, processos de educação em Redução de Riscos de

Desastres (RRD) com metodologias participativas podem engajar a comuni-

dade escolar (famílias e vizinhança) e contribuir com a geração de conheci-

mentos (pelas escolas) que dialoguem com a Defesa Civil.

Por isso, neste módulo, será enfatizada a importância da participa-

ção das comunidades locais e escolares no processo de fortalecimento de

sistemas comunitários de prevenção, com destaque para o monitoramento

e alerta de desastres. Serão apresentadas algumas experiências, sobretudo

de Nupdecs, utilizando a abordagem de “primeira linha” (fisrt mile), meto-

dologias de Ciência Cidadã e de campanhas educativas. Espera-se que, ao

final desta unidade, o aluno seja capaz de compreender a importância da

Ciência Cidadã e da participação da população na construção e aperfeiçoa-

mento de sistemas de monitoramento e alerta centrados em comunidades.

Inspire-se nessas e em outras (boas) práticas para ampliar seu alcan-

ce, produzindo inovações na gestão de riscos e emissão de alertas.

Isso salva vidas!


133

Sistemas de
Monitoramento e Alerta de
Centrados em Comunidades
e a Ciência Cidadã
Gestão de Riscos e Desastres em diálogo
com a Educação

A educação que dialoga com a Gestão de Riscos e Desastres deve

cuidar sobretudo da prevenção, contribuindo para o exercício da cidadania,

da compreensão das causas e da vulnerabilidade socioambiental e, em ca-

sos extremos, da preparação para o exercício de autoproteção. Aumentar

sua capacidade de autoproteção, frente ao risco de desastre, implica em

investimentos que podem referir-se não somente a cadastrar seu celular

móvel para receber um alerta via SMS (medida não-estrutural), mas tam-

bém elevar a infraestrutura de sua casa para pavimentos mais altos diante

de inundações recorrentes (medida estrutural).

As populações urbanas e rurais têm sido impactadas pelo aumento de

eventos extremos de clima, que exacerbam as vulnerabilidades existentes,

destruindo vidas e alterando o acesso a recursos básicos. Assim, é crucial

desenvolver políticas de interação com a sociedade. Hoje em dia, há uma

mudança de paradigma em relação à compreensão dos desastres: antes vis-

tos como acidentes ou eventos fortuitos da natureza; e agora entendidos

como resultado de um contexto de risco que antecede a sua ocorrência.

Ao considerarmos que o desastre é a materialização de uma situação de

risco já instalada no local, torna-se possível governos e sociedade se res-

ponsabilizarem por conhecer, compreender e promover ações para evitar,


134

eliminar ou reduzir fatores que se traduzem em ameaças e condições de

vulnerabilidade relativas a cada caso.

Quem são esses atores e por que discutir a necessidade da compo-

sição da gestão de riscos por meio de uma visão ampla e heterogênea?

Desde a Constituição Federal de 1988, diversas leis reforçaram a

importância do diálogo entre o governo e a sociedade sobre preservação

ambiental e gestão de riscos com a participação de organizações sociais na

tomada de decisões. Dentre elas, a Política Nacional de Proteção e Defesa

Civil (Lei nº 12.608/2012) criou sistemas de monitoramento e informações

sobre desastres e promoveu a interligação entre diversas políticas. Suas di-

retrizes explicitam a importância de:

» Atuação articulada entre a União, os estados, o Distrito Federal e os muni-

cípios para redução de desastres e apoio às comunidades atingidas;

» Prioridade às ações preventivas relacionadas à minimização de desastres;

» Adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento das

ações de prevenção de desastres de origem hídrica;

» Planejamento com base em pesquisas e estudos sobre áreas de ris-


co e incidência de desastres no território nacional;

» Participação da sociedade na gestão dos riscos de desastres, por

exemplo: por meio da educação ambiental para redução dos riscos

de desastres vinculada aos currículos escolares.

A participação comunitária tem o objetivo de ampliar a informação local,

comprometer os administradores públicos, e garantir uma resposta clara

e direta às prioridades de uma comunidade. Nesse escopo, o conhecimen-

to, a participação e o empoderamento das pessoas tem a recomendação e

o respaldo de documentos internacionais e das leis nacionais, que para se

tornarem mais eficazes, precisam envolver as comunidades no nível local,

especialmente, aquelas expostas ao risco de desastres.


135

Figura 72: Estudantes participando de uma ação de conscientização da Defesa Civil.


Fonte:Cemaden.

A educação, então, contribui para um sistema de monitoramento e aler-

ta participativo nas comunidades locais. Esse sistema será mais eficiente se

envolver a participação ativa das comunidades escolares nos quatro eixos


do sistema (Conhecimento do Risco; Monitoramento do Risco; Comunicação

do Risco e Capacidade de Resposta) como vimos no módulo I deste curso.

Neste contexto, a educação que dialoga com a Gestão de Riscos e Desas-

tres apoia o engajamento da sociedade para trabalhar em parceria com os

integrantes do Sistema de forma preventiva. Como não existe risco zero, é

importante evitar a ocorrência dos desastres que o materializam. Isso pode

ser feito aprofundando-se na compreensão de suas causas e intervindo nos

fatores que produzem as condições de vulnerabilidade, além de fortalecer

as capacidades de proteção das comunidades.


136

Governança participativa para o


fortalecimento do monitoramento e alerta
de desastres

Governança participativa é uma forma de descentralizar o poder go-

vernamental para possibilitar aos cidadãos atuarem nos processos de políti-

cas públicas. Ter acesso a dados e informações é importante, porém isso não

se traduz automaticamente em participação, conhecimento e sabedoria.

Em geral, os sistemas de monitoramento e alerta tratam as pessoas

como receptores de avisos, mas está cada vez mais claro que a população

deve estar preparada para monitorar, analisar dados, informações, medir e

avaliar riscos e consequências – e, sobretudo, agir com base na informação

obtida. E isso requer educação.

Os Marcos de Ação de Hyogo e Sendai recomendam o desenvolvi-

mento de sistemas de monitoramento e alerta centrados nas pessoas.

Para isso, é preciso uma abordagem integrada de métodos educacionais,

bem como de estratégias de capacitação e comunicação. Metodologias

participativas de ensino-aprendizagem constituem oportunidade para

as escolas, a juventude e suas comunidades serem proativos na criação

e no uso desses sistemas para a prevenção e resposta a desastres.

Quando consideramos que desastres não são naturais, mas sim uma

construção e mesmo uma criação social, torna-se possível pensar na edu-

cação e comunicação como aliadas da prevenção e da redução de riscos.

Então, se os riscos são socialmente produzidos, a educação pode ajudar a

reverter este quadro, contribuindo para transformar as condições que pro-

duzem desastres, diminuindo as vulnerabilidades das comunidades e do

meio ambiente, bem como aumentando a capacidade de prevenção. Os de-

sastres, quando entendidos como resultado de um contexto de risco prévio

e já estabelecido, tornam ainda mais eficaz a abordagem de governança

participativa para a prevenção focada nas pessoas.


137

Essa forma de prevenção é conhecida como “primeira linha” (em inglês,

first mile). Ao invés de atuar no “fim de linha” (em inglês, last mile ou última

milha), que é somente na resposta a um desastre que já aconteceu. A abor-

dagem de primeira linha, com atuação centrada nas pessoas e comunidades

no processo de gestão de riscos e desastres, vai além de um setor “criado

por e para especialistas".

Sob esta perspectiva, busca-se o trabalho interdisciplinar e o enfoque

transdisciplinar, isto é, o envolvimento de cidadãos como parte do processo

de pesquisa, ao se analisar as diferentes dimensões da vulnerabilidade e ca-

pacidades de grupos sociais considerando as diferenças etárias, de gênero,

pessoas com deficiência, dentre outras.

Ciência Cidadã: conhecimento,


monitoramento, comunicação e
autoproteção

O envolvimento das comunidades escolares em pesquisas que envol-

vem a redução do risco de desastre em seus espaços próprios de convivência,


possui a capacidade de gerar conhecimento e promoção de intervenções lo-

cais, em atuação conjunta com as intuições do Sistema Nacional de Proteção

e Defesa Civil. Neste sentido, a percepção dos fatores sociais que envolvem

situações de desastres ampliou a missão do Cemaden, integrando educação,

difusão científica e comunicação em uma proposta de Ciência Cidadã.

Ciência Cidadã abrange uma gama de tipos de parcerias entre cien-

tistas e interessados em ciência, para produção compartilhada de conheci-

mentos com potencial para promover o engajamento das comunidades e a

co-elaboração de políticas públicas sobre temas de relevância social e am-

biental. Essa combinação contribui para um sistema de monitoramento e

alerta participativo das comunidades locais, com base nos quatro pilares do

sistema de alerta (Figura 73):


138

Figura 73: Eixos de um Sistema de Monitoramento e Alerta de Desastres. Fonte: Adapta-


do de UNDP (2018).

» Conhecimento do Risco: mapeamento participativo para identifi-

cação de riscos, vulnerabilidades e capacidades pelos estudantes

com orientação dos professores (exemplo: Programa Cemaden

educação) em diálogo com a Defesa Civil e a comunidade local;

» Monitoramento do Risco: criar redes observacionais locais e utili-

zar aplicativos de comunicação (exemplo: Dados à prova d’água);

» Comunicação (comunitária) do risco: participar de núcleos de pro-

teção e Defesa Civil (Nupdec) de uma comissão de prevenção de

desastres e proteção da vida nas comunidades escolares (Com-Vi-

dAção);

» Capacidade de resposta: preparação do exercício de autoprote-

ção em situações de emergência que não puderam ser evitadas.


139

Ciência Cidadã abre então, possibilidades criativas tanto para a ciência

na escola quanto para a participação das escolas na formulação da ciência.

Constituindo uma comunidade de aprendizagem, a escola propicia aos es-

tudantes e suas comunidades a possibilidade de contribuir com a geração e

divulgação de informações significativas para alimentar o Sistema Nacional

de Proteção e Defesa Civil, especialmente o Cemaden, em relação à gestão

de riscos e à emissão de alertas.

O Nupdec pode ser uma forma de


governança participativa

Os Núcleos de Proteção e Defesa Civil (Nupdecs) formados por cida-

dãos de cada comunidade é um dos elos mais importantes do Sistema Na-

cional de Proteção e Defesa Civil. Eles se organizam por meio do trabalho

voluntário e solidário, com o propósito de contribuir nas ações preventivas

em áreas de risco, além de orientar e prestar socorro mais imediato em situ-

ações de calamidades e emergências. De acordo com a Lei n.º 12.608/2012,

são atribuições dos Nupdecs:

» Estimular a participação da comunidade nas ações de prevenção, pre-

paração, assistência e recuperação de áreas atingidas por desastres;

» Solicitar, sempre que necessário, a orientação dos técnicos da De-

fesa Civil, em situações de ameaça;

» Acompanhar junto à Defesa Civil, os programas e projetos des-

tinados à sua área;

» Estimular a troca de experiências entre núcleos, visando o cons-

tante aprimoramento das atividades;

» Emitir à Defesa Civil relatórios periódicos das atividades desenvolvidas.


140

Podemos experimentar uma forma de governança participativa nos Nu-

pdecs atuando com a valorização dos saberes das pessoas que convivem

em um contexto diário de vulnerabilidades e riscos. Por meio do diálogo de

saberes e ações de educação permanente e ao longo da vida, tais núcleos

podem contribuir na sensibilização dos moradores para práticas que dimi-

nuam o risco, preservem o ambiente e melhorem a qualidade de vida. Isso

aumenta o conhecimento, a rede de solidariedade e a capacidade de agir.

Através de informações e ações educativas, o NUPDEC pode contribuir

na sensibilização dos moradores para práticas que diminuam o risco, pre-

servem o ambiente e melhorem a qualidade de vida.

Boas Práticas em
Sistemas Participativos de
Monitoramento e Alerta
Formação em Capacidades de Prevenção e
Monitoramento - Nova Friburgo/RJ

O curso de Formação de Capacidades para Prevenção e Monitoramento das

áreas de risco da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, coordenado

pelo Cemaden e promovido pela Cruz Vermelha de Nova Friburgo, contou

com palestras, mesa-redonda e oficinas sobre Sistemas Comunitários de

Alerta para o desenvolvimento de práticas a partir da abordagem de pri-

meira linha criando mecanismos de participação social nos quatro eixos do

sistema de alerta (Conhecimento do risco; monitoramento e alertas; difu-

são e comunicação; capacidade de resposta).

O curso propôs um diálogo entre ciências e atores sociais para dis-

cussão sobre sistemas comunitários de alerta, diante do desafio de se cons-

truir sistemas de alerta participativos que aparece tanto na literatura cientí-


141

fica, quanto nas considerações das Defesas Civis municipais que constatam

as dificuldades de encontrar caminhos para envolver as comunidades (por

exemplo, na elaboração de rotas de evacuação, definição de critérios para

acionamento de sirenes etc.).

Foram debatidas as incertezas e limitações dos sistemas de monitora-

mento; a imprecisão da previsão meteorológica da chuva, principalmente

em termos quantitativos; e a dificuldade em medir a precipitação em áreas

ainda com baixa densidade de pluviômetros e/ou sem cobertura de radar;

além da falta de manutenção dos equipamentos e algumas falhas e atrasos

na rede de transmissão.

O trabalho, executado de forma interdisciplinar - por cientistas sociais, me-


teorologistas, hidrólogos, geólogos e psicólogos – envolveu metodologias

participativas para debater questões como “O que fazer? Como fazer? Com

quem? Com quais recursos? Quem faz o quê?

Figura 74: Curso de Formação de Capacidades para Prevenção e Monitoramento das áreas
de risco da região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Arquivo Cemaden.

Por fim, apresentou-se algumas sugestões para aperfeiçoamento das

políticas públicas de sistemas de alerta. Dentre as recomendações dos vá-

rios grupos, os/as autores destacam:


142

» Encontrar uma linguagem acessível para difusão do conhecimento

técnico e científico;

» Construir conjuntamente um sistema comunitário de alerta;

» Escutar mais a comunidade e entender seus desafios;

» Promover uma boa comunicação de riscos e capacidade de resposta e

autoproteção da comunidade;

» Desenvolver estratégias sobre como falar para o público bem diverso;

» Conhecer melhor as competências das instituições federais, estaduais e

municipais e papéis da sociedade civil na governança do risco de desastres;

» Envolver e aumentar a quantidade de profissionais das ciências humanas

nos sistemas de alerta, pois podem trazer conhecimentos, especialmente

sobre as populações vulneráveis, suas dinâmicas e formas de organização.

Prevenção de deslizamentos se aprende


na escola: ciência cidadã em redução de
riscos de desastres

O projeto Prevenção de deslizamentos se aprende na escola: ciência

cidadã em redução de riscos de desastres foi concebido a partir do diálogo

com as equipes do Projeto RedeGeo/Cemaden, do Programa Cemaden Edu-

cação, duas escolas públicas, as Defesas Civis de Santos, de Cubatão-SP e a

UNIFESP, e contou com recursos do Programa Ciência na Escola (MCTI).

O projeto visa contribuir para a resiliência da comunidade escolar


por meio da ciência participativa e cidadã, com atividades de ciências, tec-

nologia e inovação voltadas para estudantes do Ensino Médio. Para conhe-

cer o lugar onde vivem e o que promove os escorregamentos de terra na

localidade, os estudantes passaram por uma formação dialogada sobre o


143

comportamento dos solos secos e úmidos, dos terrenos inclinados, do seu

uso e ocupação pela população, dos sinais de movimento do terreno e sua

relação com as chuvas e à vulnerabilidade socioambiental.

A Escola Estadual Maria Helena Duarte Caetano encontra-se em uma

área de risco geológico na Serra do Mar, em Cubatão-SP. Lá, um grupo de

duas pesquisadoras de Iniciação Científica Jr e o professor de Geografia

aprofundaram os estudos das chuvas, testaram a viabilidade do pluviôme-

tro artesanal (PluviPET) e a compararam à PCD geotécnica da RedeGeo

(FINEP) instalada na escola. Demonstraram que o PluviPET está dentro de

uma margem de segurança para a comunicação do risco e tem potencial

para ampliar a experiência para sistemas comunitários de gestão de riscos.

Cemaden Educação: rede de escolas e


comunidades na prevenção de desastres

A percepção dos fatores sociais que envolvem situações de desas-

tres levou o Cemaden a ampliar a sua missão para incluir a educação e a

comunicação para a percepção de riscos. Neste sentido, em 2014 foi criado


o Programa Cemaden Educação: rede de escolas e comunidades na preven-

ção de desastres , que tem entre suas diretrizes:

» Promover a difusão científica em comunidades escolares, Defesas

Civis e sociedade em geral, utilizando estratégias educacionais

para o desenvolvimento de sociedades sustentáveis e resilientes;

» Estimular a pesquisa cidadã do lugar onde as pessoas vivem,

com vistas à geração de conhecimentos e intervenções locais

para reduzir sua vulnerabilidade;

» Envolver a comunidade escolar e local na gestão de riscos, numa

atuação conjunta com as intuições do Sistema Nacional de Pro-

teção e Defesa Civil.


144

O que são desastres socioambientais? O que são as mudanças climá-

ticas? Como viabilizar sociedades sustentáveis em suas múltiplas dimensões

desenvolvendo formas inovadoras de viver no nosso planeta? As perguntas

são aplicadas à solução de problemas práticos:

Como reduzir a vulnerabilidade aos riscos de desastres?

Como mudar práticas insustentáveis?

Como tornar a comunidade mais resiliente?

Propõe-se assim um conjunto de atividades de educação integral, inte-

grada e ao longo da vida que engajam os participantes em aprender a apren-

der e a compartilhar dados. A inserção deste tema no ambiente escolar vai

além da sua inclusão no currículo, mas envolve também construir uma gestão

participativa e aberta ao diálogo com a comunidade, bem como realizar ade-

quações no espaço físico visando à adaptação e mitigação de desastres.

O sistema colaborativo vai além da organização e processamento do

conhecimento científico, incentiva a produção local e a partilha dos conhe-

cimentos obtidos. Com isso, espera-se construir uma rede de proteção do

Brasil por meio da educação formal, informal e não formal. A inserção deste

tema no ambiente escolar vai além da sua inclusão no currículo, pois envol-

ve também a construção de uma gestão participativa e aberta ao diálogo

com a comunidade, bem como a realização de adequações no espaço físico

visando à adaptação e mitigação de desastres.

Cemaden Educação: Eixo aprendizagem

A escola situada em município vulnerável e interessada na prevenção,

pode se tornar um “Cemaden Microlocal”, espaço onde a comunidade se in-

forma, pesquisa, monitora e se mobiliza para redução de riscos de desastres.


145

Cemaden Educação: Eixo aprendizagem


A escola situada em município vulnerável e interessada na preven-

ção, pode se tornar um “Cemaden Microlocal”, espaço onde a comunida-

de se informa, pesquisa, monitora e se mobiliza para redução de riscos de

desastres. Ciência Cidadã abre possibilidades criativas tanto para a ciência

na escola quanto para a participação das escolas na formulação da ciência.

Estudantes transformam-se em jovens pesquisadores/as. Trocam conheci-

mentos sobre riscos de desastres em suas comunidades. Compartilham os

resultados das pesquisas: uma escola aprende com a outra

Cemaden Educação: eixo mobilização

A Campanha #AprenderParaPrevenir acontece anualmente, desde

2016, em referência ao Dia Internacional para Redução do Risco de Desas-

tres (13 de outubro), com o objetivo central de mobilizar pessoas, institui-

ções e comunidades para criarem espaços de diálogos na construção e difu-

são de conhecimentos e intervenções em Educação para Redução de Riscos

e Desastres (ERRD).

Já foram realizadas seis edições entre os anos 2016 a 2021, envolven-

do participantes de diversas escolas, instituições de educação não-formal,


defesas civis, universidades, entre outras. A cada ano, uma nova temática

e dinâmica de participação é proposta. A última edição da campanha, rea-

lizada em 2021, foi idealizada com o objetivo de gerar maior mobilização e

engajamento pelas redes sociais como TikTok/ Instagram/ Facebook, com o

desafio do público compartilhar vídeos autorais curtos com conteúdo edu-

cativo sobre o tema “Desastres, aqui!? Como prevenir?”.

Cemaden Educação: Eixo Comunidade


Com-VidAção
146

Figura 75: Esquema com as várias áreas de atuação adotadas pelo Cemaden Educação.
Fonte: Adaptado de Cemaden.

Além do trabalho educativo em prevenção, é interessante que essa es-

cola desenvolva ações no seu território. A Comissão de Prevenção de De-

sastres e Proteção da Vida (Com-VidAção) é uma estrutura proposta para

envolver a juventude, a comunidade e a Defesa Civil, entre outros atores

sociais, na gestão participativa de riscos e em intervenções transformado-

ras nas comunidades:

» Liderada por jovens pesquisadores;

» Gestão participativa de riscos e em intervenções transformado-

ras nas comunidades;

» Dialoga, interage e colabora de mãos dadas com o Nupdec.

A Com-VidAção se inspira nos Círculos de Aprendizagem e Cultura do

educador Paulo Freire, que são espaços participativos em que “todos têm a

palavra, todos lêem e escrevem o mundo”. Espaços de trabalho, pesquisa,

exposição de práticas, dinâmicas, vivências que possibilitam a construção co-

letiva do conhecimento e a transformação do espaço em prol da prevenção.


147

Referências Bibliográficas

ANA – Agência Nacional de Águas. Ministério do Desenvolvimento Regional

(MDR). Disponível em: <https://www.gov.br/ana/pt-br> . Acesso em: set. 2021.

BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Pro-

teção e Defesa Civil. Projeto GIDES: Manual de Planos de Contingência para

Desastres de Movimento de Massa. Brasília/DF, 2018.

BRASIL. Ministério das Cidades. Instituto de Pesquisas Tecnológicas –

IPT. Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios. In: CARVALHO,


C. S., MACEDO, E. S.; OGURA, A. T. (Org.). Brasília: Ministério das Cidades;

Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, 2007.

CARVALHO, C.S. Análise quantitativa de riscos e seleção de alternativa de inter-

venção: exemplo de um programa municipal de controle de riscos geotécnicos em fa-

velas. Workshop sobre Seguros na Engenharia, 1. Ed. São Paulo: ABGE, 2000, p. 49-56.

CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres

Naturais. Manual técnico para elaboração, transmissão e uso de alertas de

risco de movimentos de massa. São José dos Campos, 2018.

CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres

Naturais. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MC-

TIC). Disponível em: <http://www2.cemaden.gov.br/>. Acesso em: set. 2021.

CENAD – Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres. Guia

Prático de Utilização de Alertas do Governo Federal Para Ações de Preparação

para Desastres. 2021.Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC).

Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). [s.l.] 1. ed. Brasília – DF. 47 p.

CENSIPAN – Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da

Amazônia. Ministério da Defesa (MD). Disponível em: <https://www.gov.br/

defesa/pt-br/assuntos/CENSIPAM>. Acesso em: set. 2021.


148

CPTEC-INPE – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Insti-

tuto Nacional de Pesquisas Espaciais. Ministério da Ciência, Tecnologia, Ino-

vações e Comunicações (MCTIC). Disponível em: <https://www.cptec.inpe.

br/>. Acesso em: set. 2021.

DECEA – Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Ministério da Defe-

sa (MD). Disponível em: <https://www.decea.mil.br/>. Acesso em: set. 2021.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico, 2010.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População em áreas

de risco no Brasil, 2018.

IDNDR – INTERNATIONAL DECADE FOR NATURAL DISASTER REDUCTION.

International Conference on Early Warning, 1. Postdam, Alemanha. 7-11 set.

1998. Disponível em: <www.geomuseum.com/>. Acesso em: 31 ago. 2021.

IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da Vulnerabili-

dade Social. 2015. Disponível em: <http://ivs.ipea.gov.br>. Acesso em: 1 set. 2021.

INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. Ministério da Agricultura,

Pecuária, Desenvolvimento e Abastecimento (MAPA). Disponível em: <ht-

tps://portal.inmet.gov.br/>. Acesso em: set. 2021.

IPCC. Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working

Groups I, II and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmen-

tal Panel on Climate Change. Core Writing Team. PACHAURI, R. K; REISIN-

GER, A. (eds.). IPCC. Geneva, 2007, 104 p.

ISDR – INTERNATIONAL STRATEGY FOR DISASTER RISK REDUCTION.

International Conference on Early Warning, 2. Bonn, Alemanha. 16-18 out.

2003. Disponível em: <www.unisdr.org/2006/ppew/info-resources/ewc2/

pg000001.htm>. Acesso em: 31 ago. 2021.

ISDR – INTERNATIONAL STRATEGY FOR DISASTER RISK REDUCTION. In-

ternational Conference on Early Warning, 3. Postdam, Alemanha. 27-29 mar.


149

2005. Disponível em: <www.unisdr.org/2006/ppew/info-resources/ewc3_

website/>. Acesso em: 31 ago. 2021.

KELMAN, I. Disaster by Choice: How Our Actions Turn Natural Hazards

into Catastrophes. Oxford University Press, 2020.

LABGRIS - Laboratório de Gestão de Riscos. Universidade Federal do

ABC (UFABC). Relatório Técnico: Plano Municipal de Redução de Riscos do

município de Franco da Rocha - SP. Santo André, 2021.

MACEDO, E. S.; SANTORO, J.; ARAÚJO, R. E. Plano Preventivo de Defe-

sa Civil (PPDC) para deslizamentos, Estado de São Paulo, Brasil. In: SIMPÓ-

SIO BRAISLEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1., 2004, Florianópolis: GEDN/

UFSC, 2004. p. 908-919.

MACEDO, E. S.; NYAKAS, W. J.; DE ANDRADE, E. Plano Preventivo de De-

fesa Civil (PPCD): instrumento de gestão de riscos e desastres de movimen-

tos de massa. Diálogos Socioambientais, v. 3, n. 08, p. 43-47, 8 out. 2020.

PANZERI, C. ; MATSUO, PATRICIA MIE ; TRAJBER, RACHEL ; OLIVATO, DÉ-

BORA ; VELLOSO, M. F. A. ; SATO, A. M. ; LUCENA, R. . Campanha #Apren-

derParaPrevenir: inspirações para reduzir riscos de desastres.. In: Lourenço

Magnoni Junior et all. (Org.). Redução do risco de desastres e a resiliência no

meio rural e urbano. 2ªed.São Paulo: Centro Paula Souza, 2020, v. 1, p. 10-26.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SALVADOR. Coordenadoria de Proteção e


Defesa Civil - Codesal. Plano de Contingência para Chuvas - Operação Chuva

2013 (3ª Revisão). Salvador, 2013.

SAITO, S. M. Vulnerabilidades no Contexto de Sistemas de Alerta de Ris-

co de Desastres. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental. Florianópolis,

7, p. 618-630, 2018.

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL - CPRM, 2021. Disponível em: <https://

www.cprm.gov.br>. Acesso em: 1 set. 2021.


150

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL - CPRM. Carta de suscetibilidade do

município de Juiz de Fora - MG. Escala 1:25.000. 2014.

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL - CPRM. Carta Geotécnica de Aptidão

à Urbanização do município de Magé - RJ. Escala 1:25.000. 2015.

SERVIÇO Geológico Brasileiro (CPRM). Ministério de Minas e Energia

(MME). Disponível em: <https://www.cprm.gov.br/>. Acesso em: set. 2021.

SNISB – Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barra-

gens. Agência Nacional de Água e Saneamento Básico (ANA). Disponível

em: <https://www.snisb.gov.br/>. Acesso em: set. 2021.

SORENSEN, J. H. Hazard Warning System: Review of 20 Years of Pro-

gress. Natural Hazards Review. 1, p. 119-125, 2000.

MARCHEZINI, V; FERREIRA, A. M.; MOURÃO, C. E.; SCOFIELD, G. B.; NERY,

T. D.; LUIZ, R. A. F.; LUZ, E. F. P.; ISHIBASHI, R.; IVO, A. A. S.; SAITO, S. M. A go-

vernança dos dados no sistema de alerta de risco de desastres associados a

inundações e deslizamentos. Direito Ambiental e Geografia. São Cristóvão,

Rio e Janeiro: Lumen Juris, 2020.

TATIZANA, C. et al. (1987a) Análise de correlação entre chuvas e escorrega-

mentos – Serra do Mar, município de Cubatão. Congresso Brasileiro de Geologia

de Engenharia, 5. São Paulo. Anais, São Paulo: ABGE, v. 2, 1987, p. 225-236.

TATIZANA, C. et al. (1987b) Modelamento numérico de análise de cor-

relação entre chuvas e escorregamentos aplicado às encostas da Serra do

Mar, município de Cubatão. Congresso Brasileiro de Geologia de Engenha-

ria, 5. São Paulo. Anais, São Paulo: ABGE, v. 2, 1987, p. 237- 248.

TRAJBER, Rachel; OLIVATO, D. A. Escola e a comunidade: ciência cidadã

e tecnologias digitais na prevenção de desastres. In: Victor Marchezini, Ben

Wisner, Silvia M. Saito, Luciana R. Londe (Eds.). Reduction of Vulnerability to

Disasters: from Knowledge to Action. São Carlos: Rima Editora, 2017 (ISBN:

978-85-7656-045-6).
151

UN - UNITED NATIONS. General Assembly. 45th. International Decade

for Natural Disaster Reduction: resolution / adopted by the General Assem-

bly.1991. Disponível em: <https://digitallibrary.un.org/record/105590>.

Acesso em: 31 ago. 2021.

UN - UNITED NATIONS. Resolutions and Decisions adopted by the Gene-

ral Assembly during its 25th session: GAOR, 25th session, Supplement No.

28. 1970. Disponível em: <https://research.un.org/en/docs/ga/quick/regu-

lar/25>. Acesso: 2 mai. 2022.

UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. The Sustainab-

le Development Goals. Disponível em: <www.undp.org/sustainable-develo-

pment-goals>. Acesso em: 31 ago. 2021.


152

Você também pode gostar