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KÁTIA LUCIANO PEREIRA MORAIS

A diversidade estrutural de peptídeos potenciadores da


bradicinina da Bothrops jararaca (Bj-BPPs) proporciona ações
sinérgicas no sistema cardiovascular.

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de São Paulo para obtenção do
título de Mestre em Ciências.

São Paulo
2010
KÁTIA LUCIANO PEREIRA MORAIS

A diversidade estrutural de peptídeos potenciadores da


bradicinina da Bothrops jararaca (Bj-BPPs) proporciona ações
sinérgicas no sistema cardiovascular.

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de São Paulo para obtenção do
título de Mestre em Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Martins de Camargo

Co-orientadora: Dra. Claudiana Lameu

São Paulo
2010
Dissertação elaborada no Laboratório

Especial de Toxinologia Aplicada (CAT-

CEPID) do Instituto Butantan, durante o

curso de Pós-Graduação em Biologia

Molecular e apresentada à Universidade

Federal de São Paulo como requisito

para obtenção do título de Mestre em

Ciências

Apoio Financeiro: CNPQ / FAPESP


Dedico esse trabalho ao Dú, meu marido, pelo

amor e apoio, pelas palavras de animo, pela

paciência, pela companhia e por tudo o que ele

faz por mim.


A minha querida mãe e a minha adorada avó

que sempre acreditaram em mim.


Ao Criador graças por tudo o que Ele realizou

em minha vida durante essa etapa, o meu

coração transborda de alegria e gratidão a esse

Deus.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Antonio Carlos de Martins de Camargo pela oportunidade,


pelos ensinamentos, pelo incentivo a uma reflexão científica.
A Dra. Claudiana Lameu por toda ajuda, pela paciência, pela amizade,
pelo respeito, pelo empenho para que esse trabalho se concretizasse.
A Dra. Daniele Ianzer e ao colega de laboratório José Rodolfo Miranda
pelos experimentos de avaliação de parâmetros cardiovasculares e potenciação
de BK.
Ao Dr. Juliano Guerreiro pela ajuda no desenvolvimento desse trabalho.
A Dra. Solange Serrano e a Dra. Vanessa Rioli pelas discussões sobre a
expressão da proteína recombinante.
A Dra. Marina Assakura pela atenção e disposição em atender a todas as
necessidades para realização desse projeto.
A Dra. Beatriz L. Fernandes pela revisão do texto.
Ao Dr. Robson Mello pela síntese e purificação dos peptídeos.
Ao Ms. Clécio F. Klitzke pelas análises no espectrômetro de massas.
Ao Mr. Gabriel Benedetti pela amizade, pela companhia, pelas caronas,
pela ajuda, pelas aulas, etc.
A todos os colegas do laboratório Bruno P, Bruno D, Joyce, Joana,
Liliane, Eduardo, Juliana F, Juliana Y, Milene, André, Priscila, Amanda, Mara,
Carlos.
A aquelas que ser tornam verdadeiras amigas Aparecida Siqueira (Cida),
Erica, Michele, Mariana, Rosi.
A, Aparecida das Dores (Dadá), Vera Lúcia, Silvia Rossí, Neusa Lima,
Maria José que mesmo com sua simplicidade se tornaram muito importantes.
À FAPESP.
Ao CNPQ pelo apoio financeiro.
Lista de Figuras e Tabelas

Figura 1 - Ação da ECA sobre os: sistema renina-angiotensina (SRA) e sistema calicreína-cinina
(SCC) e a interferência dos Bj-BPPs em ambos sistemas.......................................................... 26

Figura 2 – Representação esquemática das funções da ASS em mamíferos. .............................. 32

Figura 3 – Vasodilatação promovida pelo NO devido ao relaxamento da musculatura lisa do vaso


.......................................................................................................................................................... 44

Figura 4 – Representação esquemática da transdução de sinal induzida pelo Bj-BPP-10c. ........ 45

Figura 5 – Representação esquemática da reação catalisada pela ASS. ...................................... 59

Figura 6 – Efeito hipotensor da BK na pressão arterial de ratos Wistar anestesiados antes e após
administração de Bj-BPPs.. ............................................................................................................. 65

Figura 7 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-5a ............................................................................................................ 68

Figura 8 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-9a ............................................................................................................ 69

Figura 9 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-10c .......................................................................................................... 70

Figura 10 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-11e. ......................................................................................................... 71

Figura 11 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-12b. ......................................................................................................... 72

Figura 12 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do BPP-13a. ............................................................................................................. 73

Figura 13 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do veículo. ................................................................................................................ 74

Figura 14 – Perfil eletroforético em gel de agarose mostrando fragmentos de DNA. .................... 77

Figura 15 – Perfil eletroforético da ASS recombinante humana em gel 10% de SDS-poliacrilamida.


.......................................................................................................................................................... 78
Figura 16 – Análise por Western blot da ASS humana recombinante obtida pela expressão em E.
coli. ................................................................................................................................................... 78

Figura 17 – Caracterização da atividade enzimática da ASS recombinante utilizando o método de


colorimetria. ...................................................................................................................................... 81
Lista de Figuras e Tabelas

Figura 18 – Efeito do MDLA na atividade enzimática da ASS recombinante. ................................ 81

Figura 19 – Efeito de concentrações crescentes dos Bj-BPPs sobre a atividade enzimática de 1 g


de ASS recombinante. ..................................................................................................................... 83

Figura 20 – Produção de NO por células HEK293 estimuladas com concentrações crescentes


(0,03 - 3 M) de BPPs ...................................................................................................................... 86

Figura 21 – Intermediação dos receptores B2 de cininas e muscarínico do subtipo M1 na


produção de NO induzida pelo Bj-BPP-5a em células HEK293. ..................................................... 87

Figura 22 – Intermediação da ASS e do receptor muscarínico do subtipo M1 na produção de NO


induzida pelo BPP-13a em células HEK293. ................................................................................... 88

Figura 23 – Interferência dos inibidores na resposta de agonistas de receptores 2-adrenérgico,


B2 de cininas, muscarínicos do subtipo M1, M2 e M3. .................................................................... 89

2+
Figura 24 – Mobilização da concentração de cálcio intracelular ([Ca ]i) em HEK293 estimuladas
com concentrações crescentes dos Bj-BPPs 5a, 9a, 11e, 12b e 13a. ............................................ 91

Tabela 1 - Peptídeos Potenciadores da Bradicinina (“Bradykinin Potentiating Peptides” - Bj-BPPs)


do veneno da serpente Bothrops jararaca. ...................................................................................... 22

Tabela 2 - Atividade biológica dos Bj-BPPs I. ................................................................................. 29

Tabela 3 - Ensaios in vivo de alguns Bj-BPPs encontrados no cérebro e veneno da Bothrops


jararaca ............................................................................................................................................ 75

Tabela 4 - Confirmação da identidade da ASS recombinante por espectrometria de massas. .... 79

Tabela 5 - Validação da atividade enzimática da ASS recombinante. ........................................... 82

Tabela 6 - Atividade biológica dos Bj-BPPs II.. ............................................................................. 110


Abreviaturas

4-DAMP 4-Diphenylacetoxy-N-methylpiperidine methiodide

ACh acetilcolina

ACN acetonitrila

AMP adenosina mono-fosfato

ASL argininosuccinato liase

ASS argininosuccinato sintase

ATP adenosina tri-fosfato

BCIP 5-bromo-4-cloro-3-indolil fosfato

Bj Bothrops jararaca

BK bradicinina

BPF fatores potenciadores da bradicinina

BPPs peptídeos potenciadores da bradicinina

BSA albumina sérica bovina

[Ca2+]i concentração de Ca2+ intracelular

CAT1 transportador de aminoácidos catiônico 1

CIRC liberação de cálcio mediada por cálcio

CNP peptídeo natriurético do tipo-C

cGMP monofosfato de guanosina cíclica

DMEN dulbecco’s modified eagle medium

ECA enzima conversora de angiotensina

EDHF fator hiperpolarizante derivado de endotélio

eNOS óxido nítrico sintase endotelial

FC freqüência cardíaca

HEK human embryonic kidney

HPLC cromatografia líquida de alta pressão


Abreviaturas

iNOS óxido nítrico sintase induzível

IP3 inositol 1,4,5-trisfosfato

LB luria bertani

MALDI-TOF matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight

MDLA ácido metil DL aspártico

NADPH nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato

NBT nitro blue tetrazolium

NO óxido nítrico

NO2 dióxido de nitrogênio

NOS óxido nítrico sintase

nNOS óxido nítrico sintase neuronal

NOx óxido nítrico total

PAM pressão arterial média

RAS sistema renina-angiotensina

SCC Sistema calicreínas-cininas

SDS dodecil sulfato de sódio

SHR ratos espontaneamente hipertensos

SNC sistema nervoso central

TFA ácido trifluoracético


Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 19

1.1 Descrição e definição dos Peptídeos Potenciadores da Bradicinina (Bj-

BPPs) ................................................................................................................ 20

1.2 Efeitos dos Bj-BPPS sobre o sistema calicreína-cininas e reninina-

angiotensina ...................................................................................................... 23

1.3 Bj-BPPs como modelo estrutural para o desenvolvimento do captopril. ..... 26

1.4 Evidências de diferenças funcionais e de mecanismo de ação entre os

BPPs ................................................................................................................. 28

1.5 Participação da ASS em processos bioquímicos e seus impactos

fisiológicos. ........................................................................................................ 30

1.6 Produção de NO e sua participação na regulação da pressão arterial. ....... 34

1.7 Sinalização por cálcio .................................................................................. 37

1.8 Possíveis alvos e mecanismos de ação dos Bj-BPPs ................................. 41

2. OBJETIVOS...................................................................................................... 46

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 48

3.1 Síntese e purificação dos peptídeos (Bj-BPPs) ........................................... 49

3.2 Potenciação do efeito hipotensivo da bradicinina pelos Bj-BPPs em ratos

anestesiados ..................................................................................................... 50

3.3 Aquisição dos parâmetros cardiovasculares de ratos acordados tratados

com os Bj-BPPs................................................................................................. 51

3.4 Obtenção da ASS humana recombinante ................................................... 52

3.4.1. Subclonagem em vetor de expressão .................................................. 52


Sumário

3.4.2 Expressão e purificação da proteína ASS ............................................. 54

3.4.3 Eletroforese em gel de SDS-poliacrilamida e Western blot................... 55

3.4.4 Espectrometria de Massas .................................................................... 57

3.4.5 Determinação da atividade enzimática da ASS .................................... 58

3.5 Cultura de Células HEK 293 (human embryonic kidney 293) ...................... 59

3.6 Quantificação da concentração de NO ........................................................ 60

3.7 Medidas de variação da concentração de cálcio intracelular livre [Ca 2+]i..... 61

3.8 Análise Estatística ....................................................................................... 61

4.RESULTADOS .................................................................................................. 63

4.1 Potenciação da BK pelos Bj-BPPs sobre a pressão arterial de ratos Wistar

anestesiados. .................................................................................................... 64

4.2 Efeitos cardiovasculares da administração intravenosa de Bj-BPPs em ratos

espontaneamente hipertensos acordados ......................................................... 66

4.3 Clonagem e expressão da ASS recombinante humana .............................. 76

4.4 Efeito dos Bj-BPPs sobre a atividade catalítica da ASS .............................. 79

4.5 Efeito dos Bj-BPPs na produção de NO por células HEK293...................... 84

4.5 Mobilização de [Ca2+]i induzida pelos Bj-BPPs em células HEK 293 .......... 90

5.DISCUSSÃO ...................................................................................................... 92

5.1 Os BPPs apresentam efeitos diferenciados sobre o RAS e SCC ................ 93

5.2 ASS como alvo para os Bj-BPP-5a, Bj-BPP-10c, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a

.......................................................................................................................... 98
Sumário

5.3 A Produção de NO pode não ser o único mecanismo de ação dos Bj-BPPs

para promover vasodilatação .......................................................................... 100

5.4 Os Bj-BPPs encontrados na proteínas precursora dos BPPs e do CNP no

cérebro de serpentes são capazes de mobilizar de [Ca2+]i.............................. 103

6.CONCLUSÃO .................................................................................................. 106

7.REFERÊNCIAS ............................................................................................... 111

8.ANEXOS .......................................................................................................... 127


RESUMO
Morais, KLP. A diversidade estrutural de peptideos potenciadores da
bradicinina da Bothrops jararaca (Bj-BPPs) proporciona ações sinérgicas no
sistema cardiovascular.
Nosso laboratório mostrou que um único gene codifica um precursor protêico,
cujo processamento gera o peptídeo natriurético tipo C (CNP) e uma variedade de
peptídeos ricos em prolina, conhecidos como peptideos potenciadores da
bradicinina ou BPPs. Com pequenas diferenças, esse precursor é expresso na
glândula do veneno e na região neuro-endócrina do cérebro da Bothrops jararaca.
Todos os produtos desse processamento têm como característica comum sua
ação sob o sistema cardiovascular, levando à redução da pressão arterial e da
frequência cardíaca. Esse fato intrigante levou-nos a questionar se esses
diferentes peptídeos teriam mecanismo de ação semelhante.
Surpreendentemente, esse trabalho mostrou que a resposta é negativa embora
ainda não possamos explicar detalhadamente como cada um desses peptídeos
atua no complexo mecanismo responsável pelo tônus vascular e pela frequência
cardíaca.
Historicamente, a demonstração de que os peptídeos potenciadores da
bradicinina da Bothrops jararaca (Bj-BPPs) eram inibidores naturais da enzima
conversora de angiotensina (ECA) teve ampla repercussão médica. Essa inibição
parecia explicar a forte ação anti-hipertensiva desses peptídeos, dai servirem de
modelo estrutural para o desenvolvimento de um inibidor sítio-dirigido, o Captopril,
medicamento mundialmente utilizado para o tratamento da hipertensão arterial
sistêmica humana. Contudo, recentes evidências experimentais sugerem que a
atividade anti-hipertensiva dos Bj-BPPs não está relacionada somente com a
inibição da ECA. Nosso grupo demonstrou para o Bj-BPP-10c que sua ação anti-
hipertensiva se deve à ativação da geração de L-arginina, essencial para
produção de óxido nítrico, potente vasodilatador, bem como pela regulação do
barorreflexo arterial e pela sinalização de cálcio intracelular, ações que
contribuem para a produção de NO em células endoteliais e neurais. Outros Bj-
BPPs derivados do mesmo precursor foram aqui analizados. Demonstramos que
o mecanismo de ação do Bj-BPP-5a envolve receptores B2 da bradicinina, o
receptor muscarínico do subtipo M1 e a produção de NO. Curiosamente, o Bj-
BPP-9a que serviu de modelo para a síntese do Captopril, parece atuar
predominantemente como um clássico inibidor da ECA. O Bj-BPP-11e deve ter
ação num receptor de membrana, assim explicando seus efeitos sobre
parâmetros cardiovasculares. O mecanismo de ação do Bj-BPP-12b poderia ser
explicado pela potenciação da BK e/ou pela inbição da ECA e do Bj-BPP-13a por
ação em receptor muscarínico do subtipo M3 e sobre a ASS.
Adicionalmente, o presente trabalho mostrou, pela primeira vez na área de
toxinologia, que toxinas de serpentes já se valem do recurso bem conhecido na
geração de hormônio-peptídeos em mamíferos, isto é, utilizam o processamento
de uma poliproteina para gerarem peptídeos de ação sinérgica.

Palavras-chave: peptídeos potenciadores da bradicinina, óxido nítrico, anti-


hipertensivo, argininosuccinato sintase, receptores muscarínicos, enzima
conversora de angiotensina.
SUMMARY
Morais, KLP. The structural diversity of the proline-rich oligopeptides from
Bothrops jararaca (Bj-BPPs) provides synergistic cardiovascular actions.
Our laboratory has shown that one gene codes for the protein precursor that yields
the natriuretic peptide type C (CNP) after having been processed, along with a
variety of proline-rich peptides, known as bradykinin-potentiating peptides or
BPPs. Showing little differences, this precursor is expressed in the venom gland
and the neuroendocrine region of the Bothrops jararaca brain. All processing
products have in common that they act on the cardiovascular system, lowering
arterial blood pressure and heart frequency. This intriguing fact led us to question
whether the different peptides display similar mechanisms of action. Surprisingly,
the present study showed that the answer is negative, although we cannot, at the
present time, explain in full detail how each peptide acts in the complex
mechanism, responsible for vascular tonus and cardiac frequency.
Historically, the demonstration that the Bradykinin-Potentiating Peptides from
Bothrops jararaca (Bj-BPPs) were natural inhibitors of the angiotensin converting
enzyme (ACE) had a wide medical impact. In fact, this inhibition seemed to fully
explain the strong anti-hypertensive action of these peptides, therefore being
employed as structural models for the development of a site-directed inhibitor,
Captopril, a drug used worldwide for the treatment of systemic human arterial
hypertension. Recent experimental evidences, however, suggest that the anti-
hypertensive activity of the Bj-BPPs is not due exclusively to the inhibition of the
ACE. Our group demonstrated that the antihypertensive action of Bj-BPP-10c, for
instance, is due to the activation of L-arginine generation, which is essential for
NO production, a potent vasodilator. Moreover, it also regulates the arterial
baroreflex and intracellular calcium signaling, which contribute to NO production in
endothelial and neuronal cells.
In the present work we studied the mechanism of action of other Bj-BPPs found in
the above mentioned precursor. We showed that the mechanism of action of Bj-
BPP-5a involves bradykinin B2 receptor, the muscarinic receptor, subtype M1, and
NO production. Bj-BPP-11e probably acts on a membrane receptor, thereby
explaining its effects on cardiovascular parameters. The mechanism of action of
Bj-BPP-12b might be explained by Bk potentiation and/or by ACE inhibition and Bj-
BPP-13a action on by muscarinic receptor subtype M3 and the ASS. Interestingly,
Bj-BPP-9a, which was the model molecule for the synthesis of Captopril, seems to
act predominantly as a classic ACE inhibitor.
Beside the pharmacological interest, our work also revealed, for the first time, that
snake toxins also employ the well-known strategy in hormone-peptide generation,
that is, they use the processing of a polyprotein to generate peptides which display
a synergistic action.

Keywords: bradykinin potentiating peptides, nitric oxide, antihypertensive,


argininosuccinate synthetase, muscarinic receptors, angiotensin I-converting
enzyme.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 19

1. INTRODUÇÃO
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 20

1.1 Descrição e definição dos Peptídeos Potenciadores da Bradicinina (Bj-

BPPs)

O veneno das serpentes peçonhentas tem como principal função a

imobilização das presas para garantir sua alimentação e sobrevivência. Devido à

grande quantidade e diversidade de moléculas presentes em seus venenos,

esses animais tem cativado pesquisadores ao longo dos tempos. As toxinas

produzidas pelas glândulas de veneno são injetadas na corrente sangüínea das

vítimas causando inúmeros efeitos, como por exemplo, distúrbios na coagulação

sangüínea, efeitos citotóxicos, hemólise, hemorragia local e sistêmica, necrose

tecidual, efeitos neurotóxicos e hipotensão (Bjarnason e Fox, 1998; Walter et. al.;

1999; Tanen et. al., 2001).

O veneno das serpentes é constituído por uma mistura complexa de

proteínas e peptídeos biologicamente ativos (Bjarnason e Fox, 1998; Walter et.

al., 1999; Tanen et. al., 2001). Alguns desses peptídeos bioativos do veneno de

serpentes são sintetizados como proteínas precursoras que, após o

processamento proteolítico, geram o polipeptídeo maduro ativo (Kini, 2002). Esse

é o caso, por exemplo, para os peptídeos potenciadores de bradicinina

(“bradykinin potentiating peptides” – BPPs) presentes no veneno da Bothrops

jararaca (Bj-BPPs).

Os Bj-BPPs são moléculas capazes de potenciar algumas atividades

farmacológicas da bradicinina (BK), como a ação contrátil da musculatura lisa do

íleo isolado de cobaia, ex vivo (Ferreira, 1965) e in vivo no sistema nervoso

central (SNC), cardiovascular e antinociceptivo (Ribeiro et al., 1971).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 21

O isolamento dos primeiros Bj-BPPs produzidos pela glândula de veneno

de Bothrops jararaca aconteceu em meados dos anos 60, e foram inicialmente

chamados de fatores de potenciação da BK (Bradykinin potentiating factors -

BPFs) (Ferreira, 1965). Apenas em 1970, quando foram caracterizados como

moléculas peptídicas foram nomeados como Bj-BPPs (Ferreira et. al., 1970).

Desde então, outros peptídeos com característica estrutural de um BPP foram

isolados do veneno dessa serpente (Ondetti et al., 1971). Em 1997 Murayama et

al. (1997) clonaram o cDNA que codifica esses peptídeos e observaram que os

Bj-BPPs são produtos do processamento da proteína precursora do peptídeo

natriurético do tipo-C (Bj-CNP). A partir desse estudo duas novas seqüências com

características estruturais de Bj-BPPs foram identificadas. Como esse trabalho

sugeriu a existência de outros Bj-BPPs, Ianzer et. al. (2004) buscaram e isolaram

mais cinco novos peptídeos do veneno da Bothrops jararaca. O fato dos Bj-BPPs

serem produzidos na mesma proteína precursora do CNP, um hormônio, sugeriu

a expressão da proteína precursora dos Bj-BPPs e CNP em outros tecidos além

da glândula. Foi, então, clonado e seqüenciado o precursor de Bj-BPPs e CNP do

cérebro da serpente que continha duas novas seqüências de putativos Bj-BPPs

(Hayashi et. al., 2003) (Tabela 1).

Os Bj-BPPs são peptídeos de 5 a 14 resíduos de aminoácidos que

possuem como característica estrutural um resíduo piroglutâmico no N- terminal,

alto conteúdo de prolinas e um resíduo de prolina na posição C-terminal (Ferreira

et al., 1970; Ondetti e Cushmann, 1984). Os peptídeos contendo mais de sete

resíduos de aminoácidos terminam com o tripeptídeo Ile-Pro-Pro e possuem

vários resíduos de prolina nas suas regiões internas (Ferreira et. al., 1970; Freer e

Stewart et. al., 1971; Ianzer et. al., 2004) (Tabela 1), o que lhes confere certa
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 22

resistência à hidrólise por aminopeptidases, carboxipeptidases e endopeptidases

(Cheung e Cushman, 1973; Ianzer, 2001).

Tabela 1 - Peptídeos Potenciadores da Bradicinina (“Bradykinin Potentiating Peptides” - Bj-


BPPs) do veneno da serpente Bothrops jararaca. A nomenclatura dos Bj-BPPs é baseada
no tamanho (número de resíduos) e na ordem cronológica de descoberta (letras) no veneno
das serpentes. <E = ácido piroglutâmico

Sequência de aminoácidos Nomenclatura MW (Da) Potenciação da BK


a,c,d,e
< E KW AP BPP-5a 611,7 +++
e
< EW PRP BPP-5b 665,8 +
a,e
< E SW PG P BPP-6a 653,7 +
e
< ED G PI P P BPP-7a 705,8 +
a,b,e
< EW PRPQ I P P BPP-9a 1101,3 +++
a,b,c,e
< E SW PG PNI P P BPP-10a 1075,2 ++
b,e
< ENW PRPQ I P P BPP-10b 1215,4 ND
a,b,c,d,e
< ENW PHPQ I P P BPP-10c 1196,3 +++
b,e
< EW PRPT PQ I P P BPP-11a 1299,5 ND
c,e
< EG R AP G PP I P P BPP-11b 1069,2 ++
d
< EG R AP H P PI P P BPP-11c 1149,3 ++
e
< EG R PP G PP I P P BPP-11d 1095,3 ND
d
< E AR P P H P PI P P BPP-11e 1189,4 ++
a,e
< EGW AW PRPQ I P P BPP-12a 1415,6 +++
d
< EW G RPP G PP I P P BPP-12b 1281,5 +++
e
< EW AQW PRPQ I P P BPP 12c 1485,8 ND
d,e
< EG GW PRPG P EI P P BPP-13a 1370,5 +++
a,b,c,d,e
< EG G L PR PG P E I P P BPP-13b 1297,5 +++
e
< EW AQW PRPT PQ I P P BPP-14a 1683,85 ND
a
Ferreira et. al., 1970;
b
Ondetti et. al., 1971;
c
Murayama et. al., 1997;
d
Hayashi et. al., 2003;
e
Ianzer et. al., 2004.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 23

1.2 Efeitos dos Bj-BPPS sobre o sistema calicreína-cininas e renina-

angiotensina

A BK, um nonapeptídeo (Arg-Pro-Pro-Gly-Phe-Ser-Pro-Phe-Arg)

identificado por Rocha e Silva et. al. (1949), pertence a um grupo de polipeptídeos

conhecidos como cininas, que são derivados de uma proteína mais complexa, o

cininogênio, pela ação da enzima calicreína (Meki et. al., 1995).

As cininas geradas através da cascata metabólica do sistema calicreínas-

cininas (SCC) estão envolvidas em vários processos fisiológicos e patológicos, e

podem causar vasodilatação, aumentar permeabilidade vascular, liberar o

ativador do plasminogênio de tipo tecidual, estimular a produção de óxido nítrico

(NO) e mobilização de ácido araquidônico. Resumidamente, podemos dizer que

as cininas participam fisiologicamente da regulação de pressão sanguínea,

funções renal e cardíaca e de processos patológicos como inflamação (Moreau et.

al., 2005).

As diversas atividades farmacológicas das cininas são mediadas através

de ligações com dois tipos de receptores específicos (receptores B1 e B2), antes

de serem metabolizadas por diversas peptidases (Marceau et. al., 1998; Leeb-

Lundberg et. al., 2005). As ações como vasodilatação e hipotensão são mediadas

pelo receptor B2, pela liberação de NO, prostaciclinas e fator hiperpolarizante

derivado de endotélio (EDHF) (Couture e Girolami, 2004). Enquanto as ações

mediadas pelos receptores B1 inclui uma importante função na angiogênese

(Campbell, 2003).

As peptidases (zinco metalopeptidases) são as principais responsáveis

pela degradação da BK, entre elas, a enzima conversora de angiotensina (ECA),

a NEP, a aminopeptidase P e as carboxipeptidases M e N (Margolius, 1995).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 24

A ECA é uma enzima chave no sistema renina-angiotensina (RAS). Esse

sistema está envolvido no controle da pressão arterial e do balanço hídrico

corporal e tem seus efeitos mediados pela produção ou ativação de diversos

fatores de crescimento, substâncias vasoativas, peptídeos, receptores e enzimas,

induzindo vasoconstricção e hipertrofia celular.

A cascata representada pelo RAS inicia-se pela liberação de renina pelos

rins, que cliva o angiotensinogênio plasmático, produzido pelo fígado, formando

angiotensina I, que em seguida é clivada pela ECA, gerando angiotensina II (um

potente vasoconstritor. A angiotensina II tem suas ações mediadas pelos

receptores AT1 e AT2. A ligação da angiotensina II em receptor AT1 desencadeia

processos celulares produzindo vários efeitos, dentre eles, vasoconstrição,

síntese protéica, crescimento celular, regulação da função renal e do equilíbrio

hidroeletrolítico (Ardaillou e Michel, 1999; De Gasparo et. al., 2000).

A ECA possui dois sítios ativos homólogos, um localizado no seu C-

terminal e outro no N-terminal e ambos possuem um íon zinco ligado, essencial à

atividade catalítica. Assim, os inibidores da ECA competem com o substrato

natural pelo zinco(II) no sítio ativo e também através de ligações de hidrogênio e

interações hidrofóbicas.

Embora os dois sítios sejam capazes de hidrolisar angiotensina I e BK, o C-

terminal é mais efetivo na hidrólise desses peptídeos vasoativos. As evidências

experimentais sugerem que o N-terminal esteja mais envolvido com o

processamento de outros peptídeos bioativos (Coates, 2003), tais como o

hormônio-tetrapeptídeo (Ac-Ser-Asp-Lys-Pro-OH) envolvido na regulação

negativa da hematopoiese (Rieger et. al., 1993; Rousseau et. al., 1994; Azizi et.

al., 1996) e a angiotensina(1-7), que inibe a hidrólise da angiotensina I feita pelo


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 25

domínio C-terminal (Deddish et. al., 1998). Dessa forma, a ECA é uma enzima de

fundamental importância na fisiologia cardiovascular, pois converte a angiotensina

I em angiotensina II (pontente vasoconstritor) e degrada a BK pela remoção do

dipeptídeo C-terminal (Turner e Hooper, 2002; Villard e Soubrier, 1996).

Os Bj-BPPs foram os primeiros inibidores naturais da ECA descritos, ou

seja, impedem tanto a degradação do peptídeo hipotensor, aumentando os seus

níveis no organismo (Stewart et. al., 1971), como a formação do peptídeo

vasoconstritor, o que ocasiona um forte efeito anti-hipertensivo.(Krieger et. al. ,

1971; Gavras et. al., 1974). Devido a ação inibitória dos Bj-BPPs sobre ECA, os

efeitos fisiológicos do RAS encontram-se diminuído, enquanto os efeitos do

sistema SCC estão potencializados (Figura 1).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 26

Angiotensinogênio Cininogênio

Renina Calicreína

Angiotensina I Bradicinina

ECA
1 2
3
Angiotensina II
BPPs Metabólitos
Inativos
Metabólitos
Inativos

AT1
AT2 B2
Efeitos
Efeitos fisiológicos
fisiológicos

Figura 1 - Ação da ECA sobre os: sistema renina-angiotensina (SRA) e sistema calicreína-
cinina (SCC) e a interferência dos Bj-BPPs em ambos os sistemas. 1) Conversão da
angiotensina I em angiotensina II; 2) Degradação da BK; 3) Inibição da ECA pelos Bj-BPPs.
Efeitos fisiológicos no SRA mediados pelos receptores AT 1 incluem vasoconstrição, retenção de
água e sódio, liberação de aldosterona, aumento da atividade nervosa simpática entre outros;
mediados pelos receptores AT 2 incluem diferenciação celular, vasodilatação entre outros. Os
efeitos no SCC mediados pelos receptores B2 incluem vasodilatação e hipotensão através da
liberação de NO, prostaciclinas e do EDHF. Devido a inibição da ECA pelos Bj-BPPs, os efeitos
fisiológicos do SRA estão diminuídos (não há formação de angiotensina II) e os efeitos fisiológicos
do sistema SCC estão potencializados (inibição da degradação de BK).
(Adaptado de Burnett, 1999; Couture e Girolami, 2004; Santos et. al., 2005).

1.3 Bj-BPPs como modelo estrutural para o desenvolvimento do Captopril.

Após a descoberta da ação inibitória dos Bj-BPPs sobre ECA, houve

grande interesse nesses peptídeos, devido à importância da ECA no controle da

pressão arterial e a necessidade de desenvolvimento de uma terapia para

doenças cardiovasculares, assim como a hipertensão. Na época, dentre os

peptídeos identificados estavam o Bj-BPP-9a, sob o nome genérico de teprotide,

devido aos quatro resíduos de prolinas na sua estrutura, que apresentava potente
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 27

inibição da ECA e potenciação de BK in vitro (Ferreira et. al., 1970) e o Bj-BPP-5a

que também foi um dos primeiros Bj-BPPs a ter estrutura determinada e que foi

sintetizado e utilizado em ensaios que demonstravam a habilidade dessa

molécula em inibir a conversão de angiotensina I e a inativação de BK em pulmão

de rato (Stewart et. al., 1971).

Entretanto, ensaios utilizando esses dois peptídeos revelaram que o Bj-

BPP-9a era mais efetivo e tinha efeito mais duradouro que o do Bj-BPP-5a na

pressão arterial, tanto para a potenciação da BK como para a inibição da

conversão da angiotensina I (Greene et. al., 1972). Desse modo, O Bj-BPP-9a foi

utilizado na primeira demonstração clínica da utilidade dos Bj-BPPs no controle da

hipertensão, demonstrando um efeito anti-hipertensivo em humanos (Gavras et.

al., 1974; Gavras et. al., 1978).

No entanto, foi constado que a utilidade terapêutica do Bj-BPP-9a era

limitada pela ausência de atividade por administração oral, tanto em modelos

animais como em humanos e pelo alto custo de sua síntese (Krieger et. al., 1971;

Gavras et. al., 1974; Gavras et. al., 1975). Assim, tornou-se essencial para

aplicação farmacêutica o desenvolvimento de um inibidor não peptídico da ECA

efetivo por via oral.

Sendo assim, as estruturas dos peptídeos Bj-BPP-9a e Bj-BPP-5a,

(Ferreira et. al. 1970; Stewart et. al., 1971) foram estudadas por Cushman e

Ondetti que sugeriram que a prolina C-terminal dessas moléculas interagia

especificamente com sítio ativo da ECA (Cushman et. al., 1977). Assim, o Bj-BPP-

5a e Bj-BPP-9a serviram como base para o desenvolvimento do primeiro inibidor

sítio dirigida da ECA, o Captopril que foi sintetizado pela adição de um radical
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 28

quelador de metais a uma prolina (aminoácido carboxiterminal dos Bj-BPPs)

(Cushman et. al., 1977), e tem sido utilizado por via oral para o tratamento da

hipertensão arterial sistêmica humana desde os anos 80 (Ondetti e Cushman,

1981).

1.4 Evidências de diferenças funcionais e de mecanismo de ação entre os

BPPs

Apesar 1) da inibição da ECA ser um mecanismo relevante para explicar a

atividade dos BPPs e 2) da alta similaridade de seqüência de aminoácidos entre

moléculas peptídicas, tem sido sugerido que os diferentes Bj-BPPs apresentam

diferenças funcionais e de mecanismo de ação, tanto para explicar a atividade

potenciadora de BK como a atividade anti-hipertensiva (Cotton et. al., 2002;

Hayashi e Camargo, 2005; Guerreiro et. al., 2009; Lameu et al., 2010a; Mueller et.

al., 2005; Gomes et. al., 2007; Hayashi et. al., 2003).

Essas diferenças foram primeiramente observadas ao comparar a

seletividade dos Bj-BPPs codificados pelo precursor neuronal, Bj-BPP-5a, Bj-

BPP-10c, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a (Hayashi et. al., 2003) pelos

sítios ativos da ECA e a atividade dos peptídeos de potenciar o efeito contrátil da

BK em íleo isolado de cobaia. Por exemplo, o BPP-5a é muito menos eficaz em

inibir a ECA que o Bj-BPP-13a, no entanto é muito mais potente para potenciar a

BK. Em contrapartida, o Bj-BPP-10c é um excelente inibidor do sítio C-terminal da

ECA e tem efeito de potenciação de BK similar ao Bj-BPP-5a e ao Bj-BPP-12b

que tem seletividade pelo sítio N-terminal. O Bj-BPP-11e além de ser um fraco

potenciador da BK, também não está entre os melhores inibidores dessa enzima

e não apresenta preferência por nenhum dos sítios ativos da ECA (Tabela 2).
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 29

Tabela 2 - Atividade biológica dos Bj-BPPs I. Efeito dos Bj-BPP-5a, Bj-BPP-9a, Bj-BPP-10c, Bj-
BPP-11e, Bj-BPP-12b, Bj-BPP-13a na potenciação de BK em íleo de cobaia (ex vivo) e na inibição
dos sítios N e C da ECA (in vitro). Os dados são expressos pela média ± erro padrão (Adaptado
de Hayashi e Camargo, 2005; Cotton et. al., 2002).

BPPs Sequência de Potenciação ECA Ki (nM)


aminoácidos de BK Sítio-N Sítio-C
(nmol)
BPP-5a <EKWAP 0,36±0,03 400 1280

BPP-10c <ENWPHPQIPP 0,48±0,02 200 0,5

BPP-11e <EARPPHPPIPP 2,68±0,20 100 300

BPP-12b <EWGRPPGPPIPP 0,83±0,30 5 150

BPP-13a <EGGWPRPGPEIPP 1,50±0,20 50 50

Posteriormente, em 2007, estudos da atividade anti-hipertensiva do Bj-

BPP-7a e do Bj-BPP-10c trouxeram informações sobre o mecanismo de ação

desses peptídeos, já que ambos apresentam uma potente e sustentada atividade

anti-hipertensiva em ratos espontaneamente hipertensos (SHRs) acordados, mas

não impedem a formação de angiotensina II a partir da angiotensina I, ou seja,

não afetam a função fisiológica da ECA. Além disso, no caso do Bj-BPP-10c, a

dose que produz o efeito anti-hipertensivo é menor que a dose requerida para

inibir a ECA in vivo (Ianzer et. al., 2007), sugerindo a participação de outros alvos

para gerar esses efeitos farmacológicos.

Isso pode ser reforçado através do estudo de distribuição biológica do Bj-

BPP-10c marcado com I125 que demonstraram que esse peptídeo se acumulava

em vários órgãos como: cérebro, fígado, testículos e principalmente nos rins,

mesmo após a saturação dos sítios ativos da ECA com um inibidor específico

dessa enzima, o Captopril (Silva et. al., 2008).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 30

Dessa forma, foram realizados estudos visando identificar novos alvos para

o Bj-BPP-10c. Então, nosso grupo demonstrou que o Bj-BPP-10c tanto in vitro

como in vivo se liga a enzima argininosuccinato sintase (ASS) e aumenta sua

atividade (Guerreiro et al., 2009). A ASS é a enzima passo limitante no

fornecimento de substrato para óxido nítrico sintase (NOS) produzir NO (Shen et.

al., 2005; Flam et. al., 2007). Guerreiro e colaboradores demonstraram que a

vasodilatação promovida pelo BPP-10c em SHRs não resulta somente da

diminuição da concentração de angiotensina II e/ou aumento da BK, mas também

do aumento da biodisponibilidade de L-arginina para produção de NO (Guerreiro

et. al., 2009).

Outra evidência importante sobre o mecanismo de ação do BPP-10c surgiu

recentemente, quando foi demonstrado que o Bj-BPP-10c mobiliza [Ca2+]i em

células neuronais. Esses resultados contribuíram para entender o mecanismo de

ação do BPP-10c no sistema nervoso central, onde o peptídeo induz a liberação

dos neurotransmissores, GABA e glutamato, envolvidos no controle da pressão

arterial e diminui a sensibilidade do barorreflexo que está aumentada na

hipertensão (Lameu et. al., 2010a, Lameu et. al., 2010b).

1.5 Participação da ASS em processos bioquímicos e seus impactos

fisiológicos.

Há cerca de 60 anos, a ASS foi identificada (Ratner e Petrack, 1951), e

recentemente foi reconhecida como uma enzima presente em todos os

mamíferos. A ASS humana é um homotetrâmero, cada subunidade é composta

por 412 resíduos de aminoácidos e apresenta alta similaridade com as de outros

mamíferos, sua localização e distribuição celular estão relacionadas com a função


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 31

fisiológica desempenhada e pode ser encontrada no citoplasma, na mitocôndria e

na membrana plasmática (Husson et. al., 2003).

A ASS catalisa a reação de conjugação da citrulina com aspartato gerando

argininosuccinato com consumo de ATP. O argininosuccinato é substrato da

argininosuccinato liase (ASL) que o converte em arginina e fumarato. Ambas

enzimas agem de forma acoplada e fazem parte de vias metabólicas importantes

envolvendo a biodisponibilidade de L-arginina (Husson et. al., 2003; Flam et. al.,

2007).

A L-arginina é classificada como um aminoácido condicionalmente

essencial devido à habilidade do corpo de sintetizá-la em quantidades suficientes,

mesmo quando é extraída da dieta ou durante doenças ou traumas (Morris,

2004). O maior local de síntese de L-arginina em animais que possuem o ciclo da

uréia é o fígado, contudo, essa arginina não é secretada, pois é rapidamente

convertida a uréia e a ornitina pela arginase (ciclo da uréia) (Nussler et. al., 1994;

Shuttleworth et. al., 1995; Husson et. al., 2003). Nos rins, onde é sintetizada a

partir da citrulina, é liberada para circulação sanguínea, uma vez que esse órgão

não possui enzimas capazes de utilizá-la como substrato (Nagasaki et. al., 1996;

Gouta et. al.,1999).

No endotélio vascular a disponibilidade de L-arginina ocorre pela ação

conjunta da ASS e da enzima ASL, esta via é conhecida como ciclo da citrulina-

NO ou ciclo arginina-citrulina, onde a L-arginina é reciclada a partir da L-citrulina,

sendo disponibilizada como substrato da enzima NOS endotelial (eNOS) para

produção de NO (Nagasaki et. al., 1996; Hecker et. al., 1990).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 32

Dessa forma, a ação da ASS sobre o metabolismo da L-arginina contribui

para três grandes funções diferentes no organismo dependendo da célula ou

tecido, desintoxicação de amônia no fígado, produção de L-arginina no rim para

todo organismo e síntese de L-arginina para produção de NO em várias outras

células (Figura 2). Além dessas três grandes funções também foi sugerido que a

ASS desempenha um papel importante na neuromodulação através da produção

de argininosuccinato (Nakamura et. al., 1991).

Figura 2 – Representação esquemática das funções da ASS em mamíferos. As enzimas


indicadas são: CPS-I, carbamil fosfato sintase; OTC, Ornitina transcarbamoilase (EC 2.1.3.3);
ASS, argininosuccinato sintase (EC 6.3.4.5); ASL, argininosuccinato liase (EC 4.3.2.1); NOS, oxido
nítrico sintase (EC 1.14.13.39) (Figura de Husson et. al, 2003)

Devido a sua participação em processos bioquímicos que geram impactos

fisiológicos no organismo, a ASS apresenta grande valor clínico, pois algumas

patologias podem ser associadas a sua deficiência ou excesso, tais como

citrulinemia (Curis et. al., 2005; Haberle et. al., 2002), hipertensão arterial
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 33

sistêmica e possivelmente, a pré-eclâmpsia (Panza, 1997; Williams et. al., 1997;

Haller, 1997; Dusse et. al., 2007, Garg e Hassid, 1989) e doença de Alzheimer

(Haas et. al., 2002; Wiesinger, 2001).

A citrulinemia é uma doença hereditária rara do metabolismo, com

transmissão autossômica recesssiva, e que se deve a deficiência da ASS no ciclo

da uréia, resultando no aumento da concentração plasmática da citrulina e da

amônia, o que é tóxico para o organismo (Curis et. al., 2005). Essa disfunção

pode levar danos cerebrais com deficiência mental, geralmente levando à coma e

à morte.

Há também sugestão da ASS como alvo terapêutico para o tratamento da

pré-eclâmpsia e a hipertensão essencial humana. Em condições fisiológicas

ideais existe um equilíbrio entre a liberação de fatores relaxantes e fatores

contráteis pelo endotélio. Sabe-se que em condições patológicas, como a

hipertensão essencial humana, esse equilíbrio é alterado. Entre esses fatores o

NO desempenha um papel fundamental na regulação do tônus vascular e da

homeostasia (Harrison, 1996), entre outras condições, a diminuição na

disponibilidade ou a deficiência de L-arginina compromete a secreção de NO

(Higashi e Chayama, 2002). Uma vez que, a ASS participa da via de reciclagem

da L-arginina, o que contribui para a manutenção de substrato para eNOS, sendo

que a sua atividade catalítica é considerada o passo limitante para produção de

NO (Solomonson et al., 2003 e Goodwin et. al., 2007), a modulação positiva

dessa enzima poderia restabelecer o equilíbrio desse sistema, com conseqüente,

diminuição da pressão arterial.


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 34

A doença de Alzheimer é caracterizada neuropatologicamente por

emaranhados neurofibrilares, por placas compostas de agregados de -amilóide e

degeneração neuronal (Haas et. al., 2002). O NO é um importante mediador da

degeneração neuronal e pode ser altamente neurotóxico quando gerado em

excesso em resposta a citocina. Observações recentes sugerem que essa

neurotoxicidade produzida pelo NO são induzidas na região das placas

características da doença de Alzheimer (Haas et. al., 2002). Dessa maneira,

considerando o ciclo citrulina-NO, a ASS funcionaria como marcador indireto, pois

indica contínua reposição de L-arginina e, assim, promoveria sustentação e

potencialização neurotóxica pela liberação de NO.

Sabendo que os Bj-BPPs são estruturalmente análogos, hipotetizamos que

outros peptídeos, além do Bj-BPP-10c, atuam sobre a ASS para ativá-la ou inibi-

lá. Dessa forma, esses peptídeos poderiam se tornar moléculas potenciais para

aplicações em outros casos clínicos, além da hipertensão. Por exemplo,

peptídeos que inibem a ASS podem ser testados em modelos experimentais de

Alzheimer, ou ainda, peptídeos que apenas se liguem a enzima podem ser

usados como biomarcadores de doenças associadas com ASS.

1.6 Produção de NO e sua participação na regulação da pressão arterial.

A biossíntese do NO é feita a partir da oxidação de L-arginina pela NOS,

que é uma enzima dimérica que contém um grupamento heme. Além do substrato

L-arginina, a reação catalisada pela NOS requer oxigênio molecular, NADPH, e

co-fatores, tais como tetrahidro-L-biopterina (H4biopterina), FMN, FAD, heme e

aumento da concentração de Ca2+ intracelular ([Ca2+]i) (Marletta, 1994).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 35

Há três isoformas de NOS que são codificadas por genes distintos: a NOS

neuronal (nNOS), encontrada em concentrações elevadas em tecidos neuronais e

alguns não neuronais (Davis et. al. 2001, Marleta, 1994, Murad, 1996); a NOS

induzível (iNOS) que apesar de originalmente ter sido encontrada em macrófagos,

existe em uma variedade de tipos celulares, incluindo hepatócitos, células

musculares lisas vasculares, fibroblastos e células epiteliais (Davis et. al. 2001,

Marleta, 1994, Murad, 1996) e a eNOS, foi identificada como a enzima que produz

fatores relaxantes derivados do endotélio (Davis et. al. 2001, Marleta, 1994,

Murad, 1996). Tanto a nNOS como a eNOS, são agrupadas como NOS

constitutivas, por serem geralmente expressas constitutivamente, e tem suas

atividades reguladas pela [Ca2+]i via calmodulina. Por outro lado, a expressão da

iNOS é induzida por compostos, como endotoxina ou citocinas pró-inflamatórias

(incluindo a interleucina-1, IFN , e fator de necrose tumoral alfa) (Marleta, 1994,

Murad, 1996). A iNOS está ligada a calmodulina, mesmo em níveis basais de

Ca2+, assim, a sua função não é afetada pela concentração de desse íon. Além

disso, a iNOS pode produzir níveis muito mais elevados de NO e portanto tóxico

em comparação com as outras isoformas.

O NO produzido no endotélio possui ação vasodilatora por ação na

musculatura lisa dos vasos. Além disso, essa molécula atua em diversos tipos

celulares, tais como, células neurais, cardíacas, sanguíneas (plaquetas),

macrófagos e está implicado em um conjunto diversificado de funções fisiológicas

como inibição da ativação plaquetária (Albrecht et. al., 2003, Kubes et. al., 1991),

neurotransmissão, (Garthwaite e Boulton, 1995), além de estar associado com a

função cognitiva, com a manutenção da plasticidade simpática e com resposta

imune (Kelly e Gold, 1999; Davis et. al., 2001; Marleta, 1994; Murad, 1996).
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 36

O NO produzido pelo endotélio vascular desempenha um papel

fundamental na regulação do tônus vascular promovendo vasodilatação. Efetores

circulantes, como a BK, ligam-se a receptores específicos na membrana das

células endoteliais, sinalizando uma liberação transiente de cálcio intracelular, o

qual se liga à calmodulina formando o complexo cálcio-calmodulina (Ca2+/CaM)

responsável pela ativação da eNOS. A ligação do Ca2+/CaM a NOS estimula a

transferência seqüencial de elétrons. Primeiramente ocorre a transferência de

elétrons do NADPH para as flavinas do domínio redutase, e então os elétrons das

flavinas são transferidos para o domínio oxigenase. Desse modo, a eNOS torna-

se ativada para produzir NO na presença adequada de L-arginina (Busse e

Fleming, 1995), o que possibilita que essa enzima catalise duas reações

seqüenciais de oxidação da L-arginina em citrulina liberando o NO (Tarpey e

Fridovich, 2001).

O NO formado no endotélio difundi-se para a musculatura lisa do vaso

promovendo a ativação da guanilato ciclase e conseqüente produção de GMP

cíclico (cGMP). O cGMP atua sobre canais de K+ dependentes de voltagem

dificultando a despolarização destas células, além de promover diretamente a

diminuição da [Ca2+]i, promovendo relaxamento muscular (Cawley et. al., 2007)

(Figura 3). Além disso, é sugerido também que o NO, no cérebro, está envolvido

na regulação cardiovascular central, através da redução da atividade simpática do

SNC (Lin et. al., 1999).

Um dos fatores limitante para a produção de NO é a viabilidade do

substrato para a NOS, a L-arginina. A NOS está localizada intracelularmente na

cavéola, o que permite uma estreita proximidade com o seu substrato, L-arginina

e seus cofatores (Liu et. al., 1996). Os níveis intracelulares de L-arginina são
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 37

muito superiores ao valor de Km para NOS (Harrison, 1997), contudo a produção

de NO pode ser estimulada por uma fonte de L-arginina exógena (Vallance e

Chan, 2001). Este fenômeno conhecido como paradoxo da L-arginina sugere a

existência de um “pool” separado e exclusivo de L-arginina para a produção de

NO na célula (Solomonson et. al., 2003).

O transporte de L-arginina através da membrana das células é um possível

mecanismo de controle dos níveis de L-arginina intracelular. McDonald et. al.

(1997) mostraram que o transportador de aminoácidos catiônico 1 (CAT1) é

responsável por 60-80% do total de L-arginina transportada para o ambiente

intracelular, além de se co-localizar com a NOS na cavéola. Assim, a fonte de L-

arginina consumida pela NOS é mantida pelo CAT1 ou pela regeneração da L-

arginina através do ciclo citrulina-NO, sendo que a enzima passo limitante das

reações acopladas é a ASS (Hecker et. al.,1990, Xie et. al., 2000, Flam et. al.,

2001). Evidências clínicas sugerem que assim como a ativação da NOS pela

mobilização de Ca2+, a reciclagem de seu substrato são importantes para

produção de NO (Fakler, 1995; Scaglia et. al., 2004).

1.7 Sinalização por cálcio


2+ 2+
A concentração extracelular de Ca está na faixa de milimolar; já a [Ca ]i

oscila entre 0,1 e 10μM. Apesar deste gradiente eletroquímico transmembranar


2+
favorável, o Ca tem a sua entrada na célula restringida, pois é mediada por

canais e transportadores específicos existentes na membrana plasmática. As


2+
oscilações na [Ca ]i devem-se não só à sua entrada ou saída da célula através

da membrana celular envolvendo canais de Ca2+, mas também à sua mobilização


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 38

das reservas intracelulares pela ativação de receptores acoplados a proteína G

(Brown, 1999; Putney, 1999; Tran et. al., 2000; Putney et. al., 2001).

Os canais envolvidos na regulação do fluxo de cálcio podem ser abertos

por transmissores (agonistas), pela diferença de potencial da membrana celular

(canais dependente de voltagem), por estímulos mecânicos (canais

mecanosensíveis) ou térmicos (canais TRP) (Busse e Fleming, 1995; Putney,

1999; Putney et. al., 2001; Parekh e Putney, 2005; Vetter e Lewis; 2010).

Os receptores acoplados a proteína G que também estão envolvidos na

sinalização de cálcio são caracterizados por uma única proteína que transpassa a

membrana plasmática sete vezes, resultando em sete domínios hidrofóbicos

transmembrana conectados por três “loops” hidrofílicos extracelulares e três

intracelulares. A porção N-terminal reside no meio extracelular e a porção C-

terminal no citoplasma (Mahaut-Smith et. al., 2008; Hanson e Stevens, 2009).

As proteínas G podem ser dividas em Gs, Gi/0, Gq e G12 baseado nas

semelhanças na seqüência, seletividade de efetores e sensibilidade de inibidores.

As proteínas G existem como um heterotrímero contendo três subunidades: α, β e

γ. Na sua forma inativa, a protéina G está complexada em α, β e γ, com GDP

fixado à subunidade α. Uma vez estimulada por um receptor ativado por seu

ligante, a subunidade α troca seu GDP por GTP. Isso causa a dissociação de α

que se separadas subunidades β e γ, interagindo com uma proteína efetora ou

canal iônico a fim de estimular ou inibir mensageiros intracelulares secundários.

(Felder, 1995).
2+
As vias de mobilização de [Ca ]i desencadeadas por receptores

associadas à proteína G, podem envolver a ativação da fosfolipase C (PLC),

causando a hidrólise do fosfolipídeo de membrana fosfatidilinosito 4,5-bifosfato


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 39

(PIP2) em inositol 1,4,5-trisfosfato (IP3) e 1,2-diacilglicerol (DAG). O IP3 pode se

ligar a canais do retículo endoplasmático, gerando um aumento rápido e


2+
transiente da [Ca ]i. Esse tipo de sinalização pode ser ativada, por exemplo, pela

ligação de BK ao receptor B2 de cininas acoplado a proteína Gq que está

envolvido na estimulação da NOS e produção de NO, sendo um importante

mediador da atividade hipotensiva da BK (Busse e Fleming, 1995; Noda et. al.;

2004).
2+ 2+
Outro mecanismo é o Ca citoplasmático ativando a liberação de Ca dos

estoques intracelulares através de receptores de IP3 e rianodina, conhecido como


2+ 2+
liberação de Ca induzida por Ca (CICR - calcium-induced calcium release).

Essa via de mobilização de [Ca2+]i foi observada em estudos realizados com o Bj-

BPP-10c, que em células do sistema nervoso central mediava seus efeitos por um

receptor acoplado a proteína Gi/0, seguido de um mecanismo CICR. Uma vez

ativada, a proteína G ativaria canais de cálcio da membrana e permitiria a entrada

de Ca2+ na célula, ativando receptores rianodina, liberando mais Ca 2+ dos

estoques intracelulares (Lameu et. al., 2010a) (Figura 4).

O Ca2+ é um importante segundo mensageiro que possui inúmeros efetores

intracelulares para funções específicas em diversos processos fisiológicos, assim

como, atividade cardíaca, coagulação do sangue, manutenção das membranas

celulares, adesão celular, transmissão de sinais às células nervosas, contração

muscular, ativação de enzimas, controle da expressão gênica, morte celular e a

regulação de funções musculares e nervosas (Berridge et. al., 2000; Garcia et. al.,

2006).
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 40

Dentro do contexto de controle da pressão arterial, o aumento da [Ca2+]i

ativa a NOS no endotélio e em células nervosas para a produção de NO e

provoca relaxamento dos vasos. Na musculatura lisa e esquelética o aumento da

[Ca2+]i tem efeito inverso. A contração muscular acontece quando há uma

interação das proteínas contráteis de actina e miosina, que ocorre na presença

Ca2+ intracelular e ATP. O Ca2+ é liberado pelo retículo sarcoplasmático quando

estimulado pela despolarização. A função do Ca2+ no músculo é expor um sítio de

ligação da miosina na proteína actina (Volpe et. al., 1986).

Em contrapartida, respostas celulares que diminuem a [Ca2+]i, no músculo

promovem vasodilatação, por exemplo, o NO difunde-se do endotélio vascular

para a musculatura lisa do vaso ativando a guanilato ciclase e conseqüente

produção de cGMP. O cGMP atua sobre canais de K+ dependentes de voltagem

dificultando a despolarização destas células, além de promover diretamente a

diminuição da [Ca2+]i, provocando relaxamento muscular. (Figura 3) (Solomonson

et. al., 2003; Wray e Burdyga, 2010).

No músculo cardíaco esse o íon é necessário para a geração da atividade

elétrica e do disparo e manutenção da atividade contrátil. Além disso, diversos

transportadores de Ca2+ existentes na célula cardíaca regulam as variações da

[Ca2+]i para a execução das diversas funções do coração. Embora as contrações

do músculo cardíaco sejam controladas pelo sistema nervoso autônomo, a

deficiência de Ca2+ pode ocasionar disfunções contráteis nas células cardíacas

levando a arritmia e insuficiência cardíaca (Ai et. al., 2005; Bassani e Bassani,

2007).

Além disso, o Ca2+ atua na liberação de neurotransmissores, na região

adjacente a fenda sináptica. Existem muitos canais de cálcio que através da


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 41

despolarização da membrana se abrem liberando Ca2+ para dentro da célula. Este

influxo de Ca2+ nas imediações da membrana pré-sináptica, causa por atração

iônica o movimento das vesículas com neurotransmissores na direção da

membrana pré-sináptica, onde os neurotransmissores são liberados na fenda

sináptica por exocitose. Esse mecanismo é importante para as funções do

sistema nervoso, entre as quais a manutenção da pressão arterial exercida pelo

sistema simpático e parassimpático (Burnashev, 1998; Putney, 1999; Michelini;

1999).

Há também evidências que o Ca2+ possa ter um efeito hipotensor

relacionado ao fato desse íon estar associado a excreção de sódio, tanto que

medicamentos diuréticos são utilizados na tratamento de hipertensão,

aumentando a diurese e natriurese (Frohlich et. al., 1995; McCarron, 1995).

Outra relação importante entre o Ca2+ e doenças cardiovasculares está

associada a sua participação no metabolismo de carboidratos, onde o influxo de

Ca2+ ativa a secreção de insulina. Entretanto, quando há o aumento excessivo

desse íon, pode ser citotóxico e promover uma disfunção ou destruição das

células β, contribuindo para o desenvolvimento de diabetes (Nakata et. al., 1997).

Além disso, o Ca2+ estimula a exocitose de transportadores de glicose no músculo

esquelético, o que pode ser intepretado como efeito protetor contra a diabetes,

que é uma doença também relacionada com disfunções cardiovasculares (Nakata

et. al., 1997; Youn et. al., 1991).

1.8 Possíveis alvos e mecanismos de ação dos Bj-BPPs

Apesar do estudo da inibição ECA pelos Bj-BPPs ter sido muito importante

para a ciência e para saúde pública com o desenvolvimento do captopril, já tinha

sido sugerido desde longa data que a atividade de potenciação da BK e, portanto,


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 42

o efeito sobre a pressão arterial não poderia ser inteiramente explicado pela

inibição de enzimas que degradam a BK (Camargo e Ferreira, 1971; Greene et.

al., 1972). Além disso, questionamentos sobre o mecanismo de ação dos Bj-BPPs

surgiram, principalmente quando confrontadas as informações sobre a atividade

biológica desses peptídeos (Tabela 2) sugerindo interações com outros alvos e

mecanismos de ação distintos para cada peptídeo.

O Bj-BPP-10c confirmou todas as hipóteses até então sugeridas. Esse

peptídeo apresenta um novo e importante alvo, a ASS (Guerreiro et. al., 2009)

com grande potencial de se tornar alvo terapêutico assim como aconteceu com a

ECA (Ondetti et. al., 1977; Cushman et. al., 1977; Ondetti e Cushman, 1981). O

Bj-BPP-10c além de possuir um efeito periférico controlando diretamente a

vasodilatação possui um efeito central regulando o sistema nervoso autônomo

(Lameu et. al., 2010b).

Desse modo, o fato do Bj-BPP-10c possuir outro alvo além da ECA e um

novo mecanismo de ação, surgiu a necessidade e a curiosidade de estudar a

atividade de outros Bj-BPPs. Portanto, esse trabalho teve como objetivo verificar

se a potenciação de BK, a ativação da ASS, indução da produção de NO e

mobilização [Ca2+]i estão também envolvidos no mecanismo de ação do Bj-BPP-

5a, Bj-BPP-9a, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a. Além de verificar se esses

peptídeos, assim como o Bj-BPP-10c, possuíam atividade anti-hipertensiva em

ratos espontaneamente hipertensos.

O critério utilizado para a escolha dos peptídeos foi que o Bj-BPP-5a, Bj-

BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a são peptídeos codificados pelo precursor dos

Bj-BPPs e Bj-CNP expresso no cérebro da serpente, e, portanto tem grande

possibilidade de existir um correlato endógeno em mamíferos assim como é o


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 43

caso do CNP e de outras enzimas encontradas no veneno e outros tecidos da

serpente (Cho et. al., 1999; Hayashi et. al., 2003; Hayashi e Camargo; 2005;

Woodard e Rosado, 2007; Rubattu et. al., 2008). Estudamos também os

potenciais alvos de ação do Bj-BPP-9a, pois foi o único testado em humanos e

possui eficácia comprovada no controle da pressão arterial (Gavras et. al., 1974).

Dessa maneira, com esse trabalho esperamos contribuir na literatura com novas

informações a respeito do mecanismo de ação dos Bj-BPPs.


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 44

BP
P-
10
c

Figura 3 – Vasodilatação promovida pelo NO devido ao relaxamento da musculatura lisa do


vaso. Os agentes vasodilatores atuam em receptores localizados na membrana do endotélio
2+
vascular e desencadeiam respostas intracelulares gerando a entrada de Ca pelos retículos
2+ 2+
sarcoplasmáticos. O Ca liga-se à calmodulina formando o complexo Ca /calmodulina. Este
complexo atua sobre a eNOS promovendo sua ativação e conseqüente formação de NO. O NO
difunde-se do endotélio vascular para a musculatura lisa do vaso promovendo, nessas células, a
+
ativação da guanilato ciclase e conseqüente produção de cGMP. O cGMP atua sobre canais de K
dependentes de voltagem dificultando a despolarização destas células, além de promover
2+
diretamente a diminuição da concentração de Ca intracelular provocando relaxamento muscular.
A fonte de L-arginina utilizada pela eNOS pode ser oriunda do transporte direto através do CAT1
ou através do sistema de reciclagem da L-arginina. O Bj-BPP-10c atua modulando positivamente a
atividade catalítica da ASS, aumentando a sua afinidade por um de seus substratos, o ATP, com
conseqüente aumento de disponibilidade de L-arginina, que é substrato da eNOS, estimulando a
produção sustentada de NO, contribuindo para o relaxamento muscular.
(Adaptado de Solomonson et. al., 2003; Flam et. al, 2007;

http://www.mona.uwi.edu/fpas/courses/physiology/muscles/Endothelia_and_Smooth_Muscles.htm)
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 45

Figura 4 – Representação esquemática da transdução de sinal induzida pelo Bj-BPP-10c. O


BPP-10c ativa um receptor metabotrópicos Gi/o com 7 porções transmembrana resultando na
inibição da adenilato ciclase e ativação de um dos canais de cálcio na membrana celular. O influxo
de cálcio promove CICR estimulada pela ativação de receptores intracelulares de rianodina (RyR)
2+
ou de IP3. As elevações de [Ca ]i induzida pelo Bj-BPP-10c podem participar no mecanismo de
liberação de GABA e glutamato, que exercem funções essenciais no controle da função
cardiovascular no sistema nervoso central (Figura de Lameu et. al., 2010a).
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 46

2. OBJETIVOS
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 47

2.1 Objetivos Gerais:

Avaliar os potenciais alvos dos Bj-BPPs (Bj-BPP-5a, Bj-BPP-9a, Bj-BPP-11e,

Bj-BPP-12b, Bj-BPP-13a) envolvidos no mecanismo de ação anti-hipertensiva.

2.2 Objetivos Específicos:

a) determinar o efeito potenciador dos Bj-BPPs 9a, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b, Bj-

BPP-13a sobre BK na pressão arterial de ratos normotensos anestesiados;

b) determinar os parâmentros cardiovasculares (pressão arterial média e

freqüência cardíaca) de SHRs tratados com o Bj-BPP-9a, Bj-BPP-11e, Bj-

BPP-12b e Bj-BPP-13a;

c) obter a enzima ASS humana recombinante em sistema procarioto;

d) determinar o efeito dos Bj-BPPs, sobre a atividade enzimática da ASS,

analisando sua interferência na atividade catalítica dessa enzima in vitro;

e) determinar/quantificar a produção de NO de células HEK293 tratadas com os

Bj-BPPs na ausência e/ou presença de antagonistas de receptores envolvidos

no controle da pressão arterial;

f) determinar a mobilização de [Ca2+]i induzida pelos Bj-BPPs em células

HEK293.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 48

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 49

3.1 Síntese e purificação dos peptídeos (Bj-BPPs)

Os peptídeos foram sintetizados no Laboratório de Pré-Formulação do

CAT-CEPID, segundo o método de síntese de fase-sólida pela estratégia Fmoc,

conforme descrito em Lameu et. al., 2010a. Os peptídeos foram purificados por

cromatografia de fase-reversa em sistema HPLC semipreparativo (Shimadzu)

com sistema binário de bombas LC-6AD e detector SPD-10AV UV-Vis, usando

uma coluna de fase-reversa (ODS-C18, Shimadzu, 20x250). A eluição foi feita

utilizando dois solventes: (A) ácido trifluoracético (TFA)/H2O (1:1000) e (B)

TFA/acetonitrila (ACN)/ H2O (1:900:100), sob fluxo de 5ml/min com gradiente de

10% para 60% do solvente B por 45min. Para as cromatografias de fase-reversa

em escala analítica foi utilizado um sistema de HPLC da Shimadzu com um

detector SPD-10AV UV-Vis e um detector de fluorescência RF-535, acoplado a

uma coluna Merck C18 (Merck KGaA, 4,6x30), previamente eluída com um

sistema de solvente A e B, sob fluxo de 1ml/min e um gradiente de 10%-80% de

solvente B por 20min. A eluição dos peptídeos foi monitorada por absorbância em

220nm. As amostras foram congeladas em nitrogênio liquido e liofilizadas

(Edwards Freeze Dryer Super Modulyo Pirani 1001, Thermo Fisher Scientific Inc.,

Waltham, MA) por 48h a -50ºC sob vácuo. A massa molecular e a pureza dos

peptídeos sintetizados foram confirmadas por espectrometria de massas MALDI-

TOF (Ettan MALDI-TOF, GE Healthcare) com a colaboração do Dr. Robson Mello

do Laboratório de Síntese de Peptídeos – LETA – CAT/CEPID – Instituto

Butantan.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 50

3.2 Potenciação do efeito hipotensivo da bradicinina pelos Bj-BPPs em ratos

anestesiados

Para realização dos ensaios de potenciação da BK foram utilizados ratos

(Rattus norvegicus) machos adultos de peso corporal entre 250 a 350g da

linhagem Wistar. Os animais foram fornecidos pelo Biotério Central do Instituto

Butantan, mantidos com acesso livre à alimentação e água e submetidos a um

ciclo luz-escuro (12h cada) no Biotério do Laboratório Especial de Toxinologia

Aplicada antes de serem utilizados para os experimentos. Procedimentos que

envolvem animais e seus cuidados foram conduzidos conforme Giles, 1987 e

aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP (CEP 0934/09) e

520/08 do CEUAIB-Instituto Butantan. Para o registro dos parâmetros

cardiovasculares (pressão arterial média - PAM e freqüência cardíaca - FC), os

animais foram submetidos a procedimento cirúrgico para implantação das cânulas

arterial e venosa. Os ratos foram anestesiados com uretana 12% (1,0mL/100g de

peso corporal) por via intraperitoneal e colocados em decúbito dorsal em uma

prancha cirúrgica. Foi realizada uma pequena incisão na pele, separando a

musculatura para localização do feixe vásculo-nervoso femural. Na artéria femural

foi introduzida uma cânula para registro da pressão arterial. Na veia femural foi

introduzido uma cânula para as infusões das drogas. A cânula arterial foi

conectada ao transdutor e feito o registro dos parâmetros cardiovasculares.

Durante o procedimento experimental a temperatura do animal foi mantida em 36

- 37 C através de uma manta elétrica de aquecimento. O registro foi realizado

com a conexão da cânula arterial a um transdutor de pressão (strain-Gauge –DT-

XX Viggo-spectramed) e as oscilações de pressão captadas foram amplificadas e

convertidas em sinais digitais através do conversor analógico/digital (A/D) MP100


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 51

(BIOPAC systems, Inc.). O software utilizado foi AcqKowledge 5.0 (BIOPAC

Systems, Inc.). Após a prévia calibragem do equipamento, PAM e FC foram

monitoradas continuamente. Para padronização do efeito hipotensor causada pela

bradicinina foram realizadas injeções de doses padrão de BK de 0,5 g e 1 g.

Após a padronização, foi feita a injeção intravenosa (i.v.) in bolus dos Bj-BPPs na

dose de 60nmol num volume total de 150 L (solução de NaCl 0,9 %). Nos tempos

5, 10, 15, 20, 25 e 30min, após a injeção do peptídeo, foram reinjetadas doses

padrão de 0,5 g de BK para verificar a potenciação do seu efeito hipotensor. O

número de experimentos variou de 4 a 5 para cada peptídeo. Estes ensaios foram

realizados em colaboração com a Dra Daniele Ianzer e com o aluno de Mestrado

José Rodolfo Miranda, do Laboratório de Fisiologia Cardiovascular - LETA –

CAT/CEPID – Instituto Butantan.

3.3 Aquisição dos parâmetros cardiovasculares de ratos acordados tratados

com os Bj-BPPs.

Nesse experimento foram utilizados SHRs machos, adultos de peso

corporal entre 250 a 350g, fornecidos pelo Biotério Central do Instituto de

Ciências Biológicas - USP. Os animais foram manipulados de acordo com os

Princípios Éticos na Experimentação Animal adotado pelo colégio Brasileiro

(COBEA) e com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP (CEP

0934/09) e 520/08 do CEUAIB-Instituto Butantan. No dia anterior a aquisição dos

parâmetros cardiovasculares, os ratos foram submetidos a procedimento cirúrgico

para implantação das cânulas arterial e venosa. Os animais foram anestesiados

com uretana 12% (1,0mL/100g de peso corporal) por via intraperitoneal e

colocados em decúbito dorsal em uma prancha cirúrgica. Foi realizada uma

pequena incisão na pele, separando a musculatura para localização do feixe


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 52

vásculo-nervoso femural. Na artéria foi introduzida uma cânula para registro da

pressão arterial média (PAM) e freqüência cardíaca (FC) e na veia, uma cânula

para as infusões dos peptídeos (Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b ou Bj-BPP-13a). Após

18 - 20h do procedimento cirúrgico, com o animal acordado e com livre

movimentação, a cânula arterial foi conectada a um transdutor de pressão

acoplado ao sistema de aquisição de dados da BIOPAC Systems, Inc., para medir

a PAM e FC. Antes da administração de um dos Bj-BPPs (Bj-BPP-11e, Bj-BPP-

12b ou Bj-BPP-13a) foram monitorados os parâmetros cardiovasculares dos ratos

durante 60min, como controle basal. Após esse período, foi feita a injeção i.v. in

bolus do peptídeo (71nmol/Kg) e os parâmetros cardiovasculares foram

monitorados durante 6h. O número de experimentos para cada tratamento variou

de 4 a 5 animais. Estes ensaios foram realizados em colaboração com a Dra.

Daniele Ianzer e com o aluno de Mestrado José Rodolfo Miranda, do Laboratório

de Fisiologia Cardiovascular - LETA – CAT/CEPID – Instituto Butantan.

3.4 Obtenção da ASS humana recombinante

3.4.1. Subclonagem em vetor de expressão

O clone contendo o cDNA da ASS humana (pORF-ASS) foi adquirido

comercialmente da Invitrogen. Este clone é apropriado para clonagem utilizando o

sistema GATEWAY, que consiste em uma recombinação entre o clone pORF-

ASS e os vetores pDESTs. Os vetores pDESTs são um conjunto de vetores

apropriados para expressão de proteínas em sistemas procariotos, sendo que a

variação entre eles consiste apenas na proteína de fusão co-expressa com o

proteína desejada. Nesse projeto optou-se por utilizar o vetor pDEST 17, que

apresenta uma seqüência que codifica seis resíduos de histidina na região N-

terminal. Conforme recomendação do fabricante foi realizada uma reação de


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 53

recombinação que continha: pORF-ASS 150ng/μl, pDEST 17 150ng/μl, LR

clonase II 0,2U/μl em tampão Tris-EDTA (TE) pH 8,0. Em seguida, essa reação foi

incubada por 1h a temperatura ambiente e ao final foi adicionada 0,2U/μl de

proteinase K.

O DNA recombinante foi inserido em bactérias pelo método de choque

térmico, como descrito a seguir. Aproximadamente 25 a 50ng do produto da

reação descrita acima foram colocados em um tubo plástico de microcentrífuga já

contendo 105 células da bactéria Escherichia coli (E. coli) da linhagem DH5α.

Após incubação no gelo por 20min, as bactérias foram incubadas a 42ºC por 45s

e, em seguida, no gelo por 3min. Então, foram adicionados 0,95ml de meio de

cultura SOB (Super Optimal Broth, que é constituído por triptona 2%, extrato de

levedura 0,5%, NaCl 0,05%, KCl 2,5mM, MgCl2 10mM, MgSO4 10mM)

suplementado com 20mM de glicose. Em seguida, o tubo de centrífuga contendo

as bactérias foi incubado a 37ºC, por 1h, sob agitação. Só então as bactérias

transformadas foram semeadas em placas com meio LB sólido (extrato de

levedura 0,5%; triptona 1% e bacto-ágar 2%) contendo um antibiótico de seleção

(ampicilina 50μg/ml). Estas placas foram então incubadas em estufa a 37ºC entre

12 a 14h.

Os plasmídeos das colônias bacterianas foram extraídos utilizando o kit

Minipreps Wizard DNA Purification System (Promega) e os clones isolados

foram submetidos a seqüenciamento de nucleotídeos utilizando o ABI Prism Dye

Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction Kit (BigDye – Applied Biosystem)

em no seqüenciador automático ABI 3100 (Applied Biosystem). Os insertos foram

seqüenciados usando oligonucleotídeos (senso 5’-ATGTCCAGCAAGGGCTC-3’)


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 54

e anti-senso 5’-TTTGGCAGTGACCTTGC-3’) correspondentes às regiões

flanqueadoras do sítio de clonagem do vetor pDEST 17.

3.4.2 Expressão e purificação da proteína ASS

Os clones positivos que continham o inserto da sequência de cDNA da

ASS humana foram isolados e inseridos em bactérias E. coli BL21 Origami

(DE3)pLysS por choque térmico. As bactérias contendo o vetor pDEST 17 com o

cDNA codificante para a ASS foram amplificadas em meio líquido contendo o

antibiótico de seleção (ampicilina 50μg/ml). Para tanto, um pré-inóculo foi

preparado retirando-se uma colônia isolada da placa e adicionando-a a 50ml de

meio de cultura LB (Luria Bertani). Após incubação entre 12 a 14h, a 37ºC, sob

agitação a 220rpm, este pré-inóculo foi transferido para um erlenmeyer contendo

500ml de LB líquido contendo ampicilina 100μg/ml, que foi incubado durante 4h a

37ºC, sob agitação a 220 rpm. A absorbância do meio de cultura com as bactérias

foi monitorada, até atingir a densidade ótica a 600nm em torno de 0,4 a 0,5. A

expressão da proteína recombinante foi induzida pela adição de L-arabinose 0,2%

(Invitrogen), seguido de incubação por aproximadamente 48h, a 18ºC, sob

agitação a 220rpm. Após a incubação, a cultura foi centrifugada a 200g, a 4ºC,

por 20min para recuperar as bactérias contendo a proteína recombinante em seu

citoplasma. Após descartar o meio de cultura, as bactérias foram lavadas com 10

a 20ml de solução salina, congeladas e estocadas a –20ºC até o seu uso.

As bactérias foram descongeladas e ressuspendidas em 10 ml de tampão

A, contendo Tris-HCl 20mM pH 7,5, KCl 100mM, imidazol 20mM, -

mercaptoetanol 10mM e glicerol 10%. Essas células foram lisadas por sonicação

no gelo e centrifugadas a 250g, a 4ºC, por 45min. Após a centrifugação, o


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 55

sobrenadante foi recolhido e a proteína recombinante foi purificada por

cromatografia de afinidade, utilizando uma resina de agarose Ni-NTA (níquel-

ácido nitriloacético, Qiagen), haja vista que a ASS recombinante foi gerada em

fusão com uma cauda de histidina, a qual apresenta afinidade pelo níquel.

A resina Ni-NTA foi inicialmente equilibrada com tampão B, contendo Tris-

HCl 20mM pH 7,5, KCl 100mM, imidazol 80mM, -mercaptoetanol 10mM e

glicerol 10% e, em seguida, foi incubada com sobrenadante obtido acima por 1h a

4ºC, sob agitação a 7rpm. A resina foi então lavada por 8 vezes com 10 volumes

de tampão A. Para eluição da proteína recombinante purificada, foram

adicionados a resina 2 volumes de tampão C [Tris-HCl 20mM pH 7,5, KCl 10mM,

imidazol 500mM, e glicerol 10% (v/v)], e então incubada por 30min a 4ºC, sob

agitação a 7rpm. Essa amostra (resina mais tampão de eluição) foi centrifugada a

200g, a 4ºC, por 5min, e o sobrenadante contendo a proteína recombinate foi

transferido para um novo tubo e estocados a 4ºC para posterior confirmação da

ASS por Western blot e espectrometria de massas (descritos nos itens 3.4.3 e

3.4.4 respectivamente) e determinação da atividade enzimática.

3.4.3 Eletroforese em gel de SDS-poliacrilamida e Western blot

A eletroforese em gel de SDS-poliacrilamida foi realizada como descrito por

Laemmli (1970). O gel a 12,5% foi preparado em tampão Tris-HCl 380mM, pH 8,8

contendo SDS 0,1%, acrilamida 10%, TEMED (N,N,N’,N’-tetrametiletilenediamina)

0,1% e persulfato de amônio 10%. As amostras aplicadas foram previamente

desnaturadas e reduzidas em tampão Tris-HCl 125mM, pH 6,8, contendo 2-

mercaptoetanol 2% e SDS 2% e foram aquecidas a 95 oC durante 5min. Usou-se

como tampão de corrida Tris-HCl 25mM, contendo glicina 180mM, pH 8,3 e SDS
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 56

1%. As corridas foram desenvolvidas a temperatura ambiente e a duração foi de

aproximadamente 2h, sob voltagem constante de 100V. Os padrões de massas

moleculares utilizados foram: soro albumina (68kDa), IgG (cadeia pesada 50kDa

e cadeia leve 23,5kDa), ovo albumina (43kDa) e ribonuclease (13,7kDa). Após as

corridas, os géis foram retirados da placa e submetidos à coloração com uma

solução de Coomassie blue (Coomassie blue R 250 0,1%, metanol 50%, ácido

acético 7%) durante 12h a temperatura ambiente. Transcorrido o tempo de

coloração, o gel foi colocado em solução descorante [etanol, ácido acético e água

4:1:5 (v/v)] até a completa visualização das bandas.

Para o Western blot, após a eletroforese, as amostras foram eletro-

transferidas para uma membrana de nitrocelulose, utilizando tampão de

transferência (Tris-HCl 380mM, glicina 180mM em metanol 20%), sob voltagem

constante de aproximadamente 30V, durante 12h. Após a transferência, a

membrana foi incubada com a solução TBS-T [tampão Tris-salina contendo

0,05% (v/v) de Tween 20] suplementada com BSA 5% (albumina sérica bovina)

por 1h, em agitador orbital, a temperatura ambiente. Após descartar a solução de

BSA, adicionou-se o anticorpo policlonal primário anti-ASS (BD Transduction

Laboratories) diluído em tampão TBS-T a 1:500, (recomendação do fabricante) e

incubou-se por mais 1h a temperatura ambiente. Após este período, a solução do

anticorpo foi removida, e a membrana foi lavada com a solução TBS-T, por três

vezes, durante 10 min cada, a temperatura ambiente. Após descartar a solução

de TBS-T, adicionou-se o anticorpo secundário anti-IgG de camundongo

conjugado com fosfatase alcalina (Promega), diluído a 1:7500 em tampão TBS-T.

Após a incubação, sob agitação, por 1h, a temperatura ambiente, a membrana foi

novamente lavada por três vezes em tampão TBS-T por 10min cada. Finalmente,
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 57

As bandas foram reveladas usando solução AP (100mM NaCl, 100mM Tris-HCl,

pH 9.5, 5mM MgCl2) contendo 115mM BCIP (5-bromo-4-cloro-3-indolilfosfato) e

60mM NBT (nitro blue tetrazolium) como substrato. Para determinação da massa

molecular aproximada das proteínas com afinidade pelo anticorpo, a posição das

bandas foi comparada às do marcador de massa molecular Amersham Full-

Range Rainbow (GE Healthcare, EUA).

3.4.4 Espectrometria de Massas

Após análise da proteína eluída em gel de SDS-poliacrilamida, a banda da

proteína com massa molecular semelhante a da ASS foi recortada do gel com

auxílio de uma lâmina e picotadas em fragmentos pequenos. Em seguida, os

fragmentos de géis foram transferidos para um tubo no qual foi adicionada uma

solução de NH4HCO3 75mM em etanol 40% e a mistura foi incubada por 60min a

temperatura ambiente. O processo foi repetido até o gel ficar completamente

descolorado. Então a proteína no gel foi submetida à reação de redução com a

adição de DTT (ditiotreitol) 5mM em NH4HCO3 25mM por 30min a 60ºC, seguida

de uma reação de alquilação com iodoacetamida 55mM em NH 4HCO3 25mM por

30min a temperatura ambiente, no escuro. Ao término da alquilação os

fragmentos de gel foram lavados uma vez com NH4HCO3 25mM. Fez-se a

desidratação dos fragmentos de gel incubando-os por três vezes com acetonitrila

por 10min e então os fragmentos foram secos por 10min a vácuo. Logo após, o

gel foi reidratado em uma solução contendo tripsina 40μg/ml em NH4HCO3 50mM

por 45min no gelo. Em seguida, a solução de tripsina foi retirada, uma solução de

NH4HCO3 50mM foi adicionada (em um volume suficiente para cobrir os

fragmentos de gel) e o tubo contendo os fragmentos de gel foi incubado em

banho termostatizado (a 37°C) por 16h.


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 58

Os fragmentos das proteínas digeridas foram extraídos do gel pela adição

de 0,05ml de NH4HCO3 50mM e incubação por 10min em banho de ultra-som,

seguida pela adição de 0,05ml de ACN. Este procedimento foi repetido por três

vezes. Os eluatos contendo os fragmentos gerados pela digestão com tripsina

foram secos a vácuo, ressuspensos em TFA 0,1%, e submetidos à dessalinização

em ZipTip C18 (Millipore). Cada amostra foi adicionada à placa de análise do

espectrômetro de massas Ettan MALDI-TOF/Pro e misturada com o mesmo

volume de uma solução saturada de ácido alfa-ciano-4-hidroxicinâmico (Sigma)

em ACN 50%/TFA 0,1%. Para as análises o espectrômetro foi previamente

calibrado com P14R ([M+H]+ 1533,86) e angiotensina II ([M+H)]+ 1046,54). As

análises foram realizadas pelo Ms. Clécio F. Klitzke, do Laboratório de

Espectrometria de Massas - LETA – CAT/CEPID – Instituto Butantan.

3.4.5 Determinação da atividade enzimática da ASS

A ASS recombinante foi submetida à quantificação pelo método de

Bradford (Bradford, 1976) e então sua atividade enzimática foi determinada na

ausência ou prensença dos Bj-BPPs. A metodologia empregada para medir a

atividade enzimática da ASS foi a descrita por Hao et. al., 2004, que consiste em

medir, por colorimetria, o fosfato inorgânico gerado indiretamente pela ação

enzimática da ASS. A ASS conjuga a citrulina ao aspartato gerando

argininosuccinato, com concomitante hidrólise do ATP (adenosina tri-fosfato)

gerando AMP (adenosina mono-fosfato) e pirofosfato (Figura 5). O pirofosfato

resultante é então hidrolisado pela pirofosfatase (enzima adicionada à reação)

liberando duas moléculas de fosfato inorgânico que reagem com molibdato de

amônio produzindo uma solução de coloração azul.


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 59

Figura 5 – Representação esquemática da reação catalisada pela ASS. O primeiro passo da


reação é a incorporação do AMP à citrulina com liberação de pirofosfato. Em seguida, há a troca
do AMP pelo aspartato com liberação do AMP. Finalmente, ocorre a liberação do produto
arginosuccinato. (Figura de Lemke et. al, 1999)

Cerca de 1μg de ASS foi adicionado ao tampão de reação (Tris-HCl 20mM

pH 7,8; ATP 2mM, citrulina 2mM; aspartato 2mM; MgCl2 6mM; KCl 20mM e

pirofosfatase 0,2U) para volume final de 200μl de reação. As reações foram

incubadas a 37ºC em placas de 96 poços com concentrações crescentes dos

peptídeos (0,001 - 100μM) e/ou 1mM do inibidor específico da enzima, o MDLA

(ácido metil DL aspártico - Sigma) e após 30min a reação foi interrompida com a

adição de um volume igual de tampão molibdato (ácido ascórbico 10mM,

molibdato de amônio 2,5mM e ácido sulfúrico 2%). O acúmulo de fosfato

inorgânico gerado nas amostras foi determinado por colorimetria a 650nm e pela

comparação dos valores obtidos com uma curva padrão. Esta foi obtida

incubando-se crescentes concentrações (5 – 400 M) de fosfato inorgânico e o

tampão molibdato.

3.5 Cultura de Células HEK 293 (human embryonic kidney 293)

A linhagem celular HEK 293 são células renais embrionárias humanas

transfectadas com adenovírus tipo 5 [ATCC no. CRL-1573]. A manutenção

dessas células foi realizada utilizando-se o meio DMEM, suplementado com 10%
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 60

de soro bovino fetal, 100mg/ml penicilina/estreptomicina e 2mM L-glutamina e

mantidas a 37ºC em atmosfera de 5% de CO2.

3.6 Quantificação da concentração de NO

Para a quantificação de NO, as células HEK 293 foram tripsinizadas e 1 x

106 repassadas para placas de 6 poços com meio de cultura apropriado conforme

descrito anteriormente. Após o período de adesão celular, o meio de cultura foi

trocado por meio sem soro, e as células foram incubadas com concentrações

crescentes dos Bj-BPPs por 24h. Em seguida, o meio de cultura foi coletado e

centrifugado a 90g por 5min para eliminar possíveis fragmentos celulares e o

sobrenadante (meio extracelular) foi coletado.

As células foram lisadas com o tampão RIPA (50mM Tris-HCl, pH7,5,

150mM NaCl, 1% Nonidet p-40 (NP-40), 0,5% deoxicolato de sódio, 0,1% SDS,

1mM Ácido Dietilenotriaminopentacético e 10mM N-etilmaleimida). Em seguida, o

lisado celular foi coletado e incubado no gelo por 30min, foram centrifugados a

21000g a 4ºC por 15min e então o sobrenadante (meio intracelular) foi coletado.

O meio extra e intracelular foi injetado no analisador de NO (NOA 280i – Sievers),

seguindo a metodologia descrita por Feelisch et. al., 2002.

Embora o NO gasoso possa ser detectado diretamente, o NO formado em

sistemas biológicos é rapidamente oxidado a nitrato e nitrito (NOx). Para

determinação de NO por quimiluminescência em fase gasosa, nitrato e nitrito

foram reduzidos a NO por solução saturada de cloreto de vanádio (VCl3) em HCl

1M a 90ºC. O NO reagiu com ozônio (O3) para formar dióxido de nitrogênio, em

estado excitado (NO2*). Como o dióxido de nitrogênio volta ao estado de menor

energia (NO2) a luz foi emitida (hv). (Tarpey e Fridovich, 2001).

O3 + NO O2 + NO2* NO2 + hv
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 61

3.7 Medidas de variação da concentração de cálcio intracelular livre [Ca 2+]i.

As alterações na [Ca2+]i foram determinadas por microfluorimetria utilizando

o equipamento FlexStation 3 (Molecular Devices, EUA), de acordo com Lameu et

al., 2010a. As células HEK-293 foram cultivadas como descrito anteriormente e

repassadas para placas de paredes pretas e fundo transparente de 96 poços

(Costar, RU) a uma densidade de 5 x 104 células por poço em meio sem soro.

As células foram incubadas a 37ºC por 60min com o FlexStation Calcium

Kit contendo 2,5mM de probenecide seguindo as instruções do fabricante. O

volume final para cada poço foi de 200μl. A placa de células foi colocada no

FlexStation 3 (Molecular Devices, EUA) para monitoramento da fluorescência

antes e depois da adição de concentrações crescentes dos Bj-BPPs (adição de

50μl - 0,01-3μM concentração final). A fluorescência das amostras foi excitada a

485nm e a fluorescência de emissão foi detectada a 525nm. As amostras foram

lidas nos intervalos de 1,52s até 120s, totalizando 79 leituras por poço. Após 20s

de acompanhamento da intensidade de fluorescência basal da [Ca2+]i das células

não estimuladas, o peptídeo agonista foi adicionado ao poços e a indução de

[Ca2+]i transiente foi monitorada por 100s. As respostas foram medidas pela

intensidade do pico de fluorescência em comparação a intensidade de

fluorescência basal e calculadas no software SoftMax Pro (Molecular Devices,

EUA).

3.8 Análise Estatística

Com o auxílio do Software GraphPad Prism 5, os testes estatísticos foram

realizados por meio da análise de variância com comparações múltiplas (One-

Way ANOVA), indicado para verificar diferenças em 3 ou mais grupos distintos,

utilizando a correção de Bonferroni ou utilizando o teste de Dunnet’s para análises


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 62

comparativas de dois grupos. Níveis descritivos (p) inferiores a 0,05 ou 5% foram

considerados significantes e representados por um asterisco (*) (Neter et. al.,

1990).
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 63

4.RESULTADOS
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 64

4.1 Potenciação da BK pelos Bj-BPPs sobre a pressão arterial de ratos

Wistar anestesiados.

A avaliação e comparação da intensidade de potenciação da BK pelos Bj-

BPPs foram realizadas em ratos Wistar anestesiados após administração

intravenosa dos Bj-BPPs na dose de 60nmol. A figura 6 apresenta a resposta

hipotensora da BK antes e após a administração dos Bj-BPPs 5a, 9a, 10c, 11e,

12b e 13a em ratos normotensos anestesiados.

Nesse experimento observamos que todos os Bj-BPPs avaliados foram

capazes de potencializar a resposta hipotensora da BK (0,5µg). No entanto, a

amplitude de potenciação foi diferenciada para cada peptídeo. O efeito

potenciador do Bj-BPP-5a foi observado apenas nos tempos de 10 e 15min após

a sua injeção. O Bj-BPP-9a perdeu seu efeito potenciador sobre BK a partir de

30min após sua administração. O Bj-BPP-10c potenciou o efeito hipotensor da BK

durante todo período experimental. O Bj-BPP-12b causou potenciação da BK no

período compreendido entre 5 e 25min. Os Bj-BPPs 11e e 13a potenciaram a

resposta hipotensora da BK somente nos tempos de 10 a 20min e 5, 10 e 30min,

respectivamente. O Bj-BPP-10c apresentou o melhor efeito potenciador da BK

dentre os peptídeos estudados, seguido dos Bj-BPPs 9a, 12b e 13a (132, 114,

109 e 62%, respectivamente). Os Bj-BPPs 5a e 11e foram equipotentes com

potenciação máxima de 48%. (Tabela 3).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 65

A Tempo (min) B Tempo (min)


0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
0 0

-10 -10

PAM (mmHg)
PAM (mmHg)

-20 -20

-30 -30 **
** *
* **
-40
* -40 **
** *
BK 0 5 g)
-50 -50 BK 0 5 g)
BK (1,0 g) BK (1,0 g)
BPP-5a -60
BPP-9a
-60

C Tempo (min) D Tempo (min)


0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
0 0

-10 -10
PAM (mmHg)

PAM (mmHg)
-20 -20
**
** * *
-30 *** ** ** -30
*
** ***
**
-40 -40
BK 0 5 g) BK 0 5 g)
-50 BK (1,0 g) -50 BK (1,0 g)
BPP-10c BPP-11e
-60 -60

E Tempo (min) F Tempo (min)


0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
0 0

-10 -10
PAM (mmHg)
PAM (mmHg)

-20 -20
* * **
* **
-30
** *
-30 ** ** *

-40 -40
BK 0 5 g)
BK 0 5 g)
-50 -50 BK (1,0 g)
BK (1,0 g)
BPP-13a
BPP-12b
-60 -60

Figura 6 – Efeito hipotensor da BK na pressão arterial de ratos Wistar anestesiados antes e


após administração de Bj-BPPs. Injeção intravenosa in bolus de Bj-BPP foi feita na dose de
60nmol. A. Bj-BPP-5a (n=4) (Gomes et. al., 2007); B: Bj-BPP-9a (n=4) C: Bj-BPP-10c (n=4); D: Bj-
BPP-11e (n=5); E: Bj-BPP-12b (n=4) and F: Bj-BPP-13a (n=5). Dados expressos como média ±
EPM. *p<0,05; **p<0,01 e *** p<0,001 vs. BK (0,5µg) antes da injeção do Bj-BPP.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 66

4.2 Efeitos cardiovasculares da administração intravenosa de Bj-BPPs em

ratos espontaneamente hipertensos acordados

Os efeitos cardiovasculares causados pela administração intravenosa dos

Bj-BPPs foram avaliados em SHRs acordados. Os animais tiveram a pressão

arterial média (PAM) e a frequência cardíaca (FC) monitoradas durante 6h após a

injeção in bolus dos Bj-BPPs (71nmol/Kg). As Figuras 7 a 13 apresentam as

variações máximas da PAM e FC a cada 10min durante 6h após a administração

dos Bj-BPPs e do veículo.

A variação dos parâmetros cardiovasculares causados pela administração

i.v. dos Bj-BPPs na dose de 71nmol/Kg em SHRs mostrou que todos os peptídeos

avaliados foram capazes de reduzir a pressão arterial desses animais. No

entanto, a amplitude do efeito anti-hipertensivo foi diferenciada para cada

peptídeo.

Os Bj-BPPs 5a, 12a e 13a causaram alteração similar da PAM em tempos

diferenciados, atingindo média de redução de 23±4mmHg após 5,5h; 19±2mmHg

após 4h e 22±3mmHg após 5h, respectivamente (Figuras 7A, 11A e 12A). Os

BPPs 5a e 12b provocaram similar efeito bradicárdico, com redução da FC de

39±12bpm, após 6h e 43±8bpm após 5,8h, respectivamente (Figuras 2B e 6B).

Os Bj-BPPs 9a e 11e provocaram discreta alteração da PAM (redução

média de -17±4mmHg, após 5,5h para ambos peptídeos) (Figuras 8A e 10A). Ao

contrário dos outros Bj-BPPs avaliados, o efeito anti-hipertensivo causado pelo Bj-

BPP-9a não foi acompanhado da redução de frequência cardíaca (Figura 9B).

Os Bj-BPPs 10c, 11e e 13a provocaram potente redução da FC, variando

em torno de -47 a -56bpm (Figuras 9B, 10B e 12B).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 67

A administração do veículo (NaCl 0,9%) não causou alteração significativa

da PAM ou da FC (Figura 13). Os valores da alteração máxima nos parämetros

cardiovasculares (PAM e FC) de SHRs causada pela administração dos Bj-BPPs

estão apresentados na Tabela 3. Os valores das respostas máximas

apresentados foram obtidos a partir da observação do pico máximo de queda da

PAM e FC de cada animal, sem considerar o tempo do período experimental.


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 68


B P P -5 a
A
15
T e mpo (min)
5 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
PAM (m m Hg)

-5

-15

-25

-35

-45
*
-55

B
50
40
30 T e mpo (min)
20
10
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
FC (bpm )

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80 *
Figura 7 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a
administração do Bj-BPP-5a (Ianzer et al., submitted). A: pressão arterial media (PAM) e B:
Frequência cardíaca (FC). Injeção intravenosa de Bj-BPP-5a (n=5) foi feita na dose de 71nmol/kg.
Dados apresentados como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 69

BPP-9a
A
15
Tempo (min)
5
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

-5
PAM (mmHg)

-15

-25

-35

-45
*
-55

B
Tempo (min)
50 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
40
30
20
10
FC (bpm)

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80

Figura 8 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-9a. A: pressão arterial media (PAM) e B: Frequência cardíaca (FC).
Injeção intravenosa de Bj-BPP-9a (n=5) foi feita na dose de 71 nmol/kg. Dados apresentados
como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 70

BPP-10c
A
15
Tempo (min)
5
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

-5
PAM (mmHg)

-15

-25

-35

-45

-55
*

B
50
40
30 Tempo (min)
20
10
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
FC (bpm)

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80 *

Figura 9 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-10c (Ianzer et al., 2007). A: pressão arterial media (PAM) e B:
frequência cardíaca (FC). Injeção intravenosa de Bj-BPP-10c (n=8) foi feita na dose de 71
nmol/kg. Dados apresentados como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 71

BPP-11e
A
15
Tempo (min)
5
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

-5
PAM (mmHg)

-15

-25

-35

-45
*
-55

B
50
40
30 Tempo (min)
20
10
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
FC (bpm)

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80 *

Figura 10 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-11e. A: pressão arterial media (PAM) e B: Frequência cardíaca (FC).
Injeção intravenosa de Bj-BPP-11e (n=5) foi feita na dose de 71 nmol/kg. Dados apresentados
como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 72

BPP-12b
A
15
Tempo (min)
5 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

-5
PAM (mmHg)

-15

-25

-35

-45
*
-55

B
50
40
30 Tempo (min)
20
10
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
FC (bpm)

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80 *

Figura 11 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-12b. A: pressão arterial media (PAM) e B: Frequência cardíaca (FC).
Injeção intravenosa de Bj-BPP-12b (n=4) foi feita na dose de 71 nmol/kg. Dados apresentados
como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 73

BPP-13a
A
15

Tempo (min)
5
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

-5
PAM (mmHg)

-15

-25

-35

-45
*
-55

B
50
40
30 Tempo (min)
20
10
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
FC (bpm)

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80 *

Figura 12 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do Bj-BPP-13a. A: pressão arterial media (PAM) e B: Frequência cardíaca (FC).
Injeção intravenosa de Bj-BPP-13a (n=5) foi feita na dose de 71 nmol/kg. Dados apresentados
como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 74

Veículo
Tempo (min)
A
15 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

-5
PAM (mmHg)

-15

-25

-35

-45

-55

B Tempo (min)

50 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360


40
30
20
10
FC (bpm)

0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80

Figura 13 – Alterações nos parâmetros cardiovasculares de SHR durante 6 horas após a


administração do veículo. A: pressão arterial media (PAM) e B: Frequência cardíaca (FC).
Dados apresentados como média ± EPM.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 75

Tabela 3. Ensaios in vivo de alguns Bj-BPPs encontrados no cérebro e no veneno da Bothrops jararaca. Efeito máximo de: redução da pressão
arterial média (PAM) e freqüência cardíaca (FC). Efeito máximo de potenciação da BK.

Redução Redução Potencialização


Sequência de
Bj-BPP Origem Máxima na PAM Máxima na FC Máxima da BK
aminoácidos
(mmHg) (bpm) (%)

Bj-BPP-5a <EKWAP Venenoa / Cérebrob -30±5* -66±9* 48±5e


Bj-BPP-9a <EWPRPQIPP Venenoa -22±3* -40±15 114±31
Bj-BPP-10c <ENWPHPQIPP Venenoa / Cérebrob -53±6*d -67±10*d 132±22
Bj-BPP-11e <EARPPHPPIPP Cérebrob -26±3* -61±9* 48±10
Bj-BPP-12b <EWGRPPGPPIPP Cérebrob -25±2* -54±9* 109±17
Bj-BPP-13a <EGGWPRPGPEIPP Venenoc / Cérebrob -27±2* -67±10* 62±15

*p<0,05 quando comparado ao grupo controle, que corresponde as alterações dos parâmetros cardiovasculares observadas no grupo tratado com o
veículo.
a
Ferreira et al.1970
b
Hayashi et al.2003
c
Ianzer et al.2004
d
Ianzer et al.2007
e
Gomes et al.2007
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 76

4.3 Clonagem e expressão da ASS recombinante humana

A inserção correta do fragmento de cDNA que codifica a ASS humana no

vetor de expressão pDEST 17 foi verificada por análise de restrição (Figura 14) e

confirmada por seqüenciamento de nucleotídeos (dados não mostrados).

A expressão da ASS humana em sistema procarionte apresentou

rendimento de cerca de 2mg de proteína por litro de cultura, após indução com L-

arabinose. A análise por eletroforese em gel de SDS-poliacrilamida da ASS

purificada do lisado bacteriano mostrou que a banda correspondente à ASS em

fusão com a cauda de histidina foi a única observada quando o gel foi corado com

Coomassie blue (Figura 15). Ainda, a análise por Western blot da proteína

recombinante purificada, utilizando-se o anticorpo anti-ASS, mostrou que houve

reconhecimento da banda correspondente a ASS humana (Figura 16).

A banda correspondente à ASS em fusão com a cauda de histidina

visualizada no gel de SDS-poliacrilamida foi recortada, submetida à digestão com

tripsina e os fragmentos gerados foram analisados por espectrometria de massas

(peptide mass fingerprinting em espectrômetro MALDI-TOF) no qual foi possível

identificar os peptídeos correspondentes à ASS humana (Tabela 4). Em conjunto,

esses resultados mostraram que houve a expressão da ASS em células

procariontes e que a purificação permitiu obter a ASS recombinante humana

isolada.

A clonagem, a expressão e a purificação da ASS recombinante humana

permitiram avaliar o efeito direto do Bj-BPPs sobre a atividade catalítica da

enzima. Contudo, foi necessário verificar se a ASS recombinante humana

apresentava a mesma atividade catalítica da ASS recombinante adquirida


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 77

comercialmente, e ainda se os peptídeos apresentariam o mesmo tipo de efeito

sobre a atividade catalítica das duas enzimas.

1 2 3

23,1kb
9,4kb
6,5kb
4,4kb
pDEST 17
2,3kb
2kb

cDNA da AsS

Figura 14 – Perfil eletroforético em gel de agarose mostrando fragmentos de DNA. linha 1 –


vetor pDEST 17 contendo o fragmento de cDNA codificante para a ASS submetido à digestão com
a enzima de restrição EcoR I; linha 2 – vetor pDEST 17 sem a inserção do cDNA codificante para
a ASS e digerido com a enzima EcoR I. Linha 3 - padrões de fragmentos de DNA (λ Hind III).
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 78

1 2

63 kDa
50 kDa
46 kDa

23 kDa

13 kDa

Figura 15 – Perfil eletroforético da ASS recombinante humana em gel 10% de SDS-


poliacrilamida. Linha 1 - Marcadores de massa molecular. Linha 2 – ASS humana recombinante
obtida pela expressão em E. coli.

1 2

50 kDa

35 kDa

Figura 16 – Análise por Western blot da ASS humana recombinante obtida pela expressão
em E. coli. Linha 1 - Proteína purificada revelada pelo anticorpo anti-ASS. Linha 2 - Marcadores
de massa molecular.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 79

Tabela 4 – Confirmação da identidade da ASS recombinante por espectrometria de massas.


A confirmação da ASS expressa em bactérias foi realizada após digestão tripsínica em gel e por
análise das massas dos peptídeos gerados em MALDI-TOF.
Amostra Massa
analisada Peptídeo identificado (Da) Proteína identificada
IDIVENR 858,468
NQAPPGLYTK 1088,573
FELTCYSLAPQIK 1569,777
EFVEEFIWPAVQSSALYEDR 2415,15
RQVEIAQR 999,5694
KVFIEDVSK 1064,599
NDLMEYAK 999,4463
YLLGTSLAR 993,5728 Argininosuccinato Sintase (E.C. 6.3.4.5)
QVEIAQR 843,4683 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
MPEFYNR 956,4295
Proteína xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
correspondente VFIEDVSK 936,5037 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
a AsS expressa QHGIPIPVTPK 1186,694 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
em bactérias. EDFEEAR 895,3792 xxxxxx

4.4 Efeito dos Bj-BPPs sobre a atividade catalítica da ASS

Através de ensaios utilizando quantidades crescentes da enzima (1, 2, 3, 4

e 6 g), observamos que a enzima estava ativa, visto que o aumento da atividade

foi proporcional ao aumento da quantidade de enzima (Figura 17A). Também

avaliamos a atividade de 1 g de ASS recombinante em função do tempo,

possibilitando a observação que sua atividade era crescente até 45min de

incubação, decrescendo após esse período (Figura 17B). Além disso,

comparamos a atividade da enzima recombinante obtida no nosso laboratório

com a adquirida comercialmente, e os resultados mostraram que a mesma

quantidade de proteína de ambas as preparações (da ASS recombinante humana

e ASS adquirida comercialmente) apresentaram velocidades catalíticas

equiparáveis (Tabela 5). Todos juntos, estes resultados sugerem que a expressão

da ASS recombinante humana em sistema procarionte resultou em uma enzima

ativa com a capacidade de conjugação da citrulina com o aspartato para gerar


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 80

argininosuccinato, que foi inibida pelo MDLA, um inibidor específico da ASS

(Figura 18) (Shen et. al., 2005; Flam et al., 2007).

Após terem sido confirmadas a característica e integridade enzimática da

ASS, avaliamos os efeitos de concentrações crescentes dos Bj-BPPs sobre a

atividade da enzima recombinante. Os resultados desses ensaios revelaram que

os Bj-BPPs estudados possuem efeitos distintos sobre a ASS. Alguns Bj-BPPs

são capazes de modular positivamente sua atividade catalítica, como é o caso do

Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a (Figura 19D e E), em contrapartida, nas concentrações

estudadas, alguns peptídeos não alteram a atividade catalítica da ASS, isso foi

observado para os Bj-BPPs 9a e 11e (Figura 19B e C). Resultados ainda mais

antagônicos aos peptídeos que modulavam positivamente e aqueles que não

alteravam a atividade catalítica da ASS foram os obtidos com o Bj-BPP-5a, que

modula negativamente a atividade catalítica dessa enzima (Figura 19A).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 81

A B

25 250
] u M /m in

20 200

(u M )
15 150
3-
4
P r o d u ç ã o [P O

3-
PO4
10 100

5 50

0 0
5

10

20

30

45

60
0,

A S S (u g ) T e m p o (m i n )

Figura 17 – Caracterização da atividade enzimática da ASS recombinante utilizando o


método de colorimetria. A - Avaliação da atividade enzimática com quantidades crescentes de
enzima; B- Avaliação da atividade enzimática (1 g de ASS) em diferentes intervalos de tempo.

150
] u M /m in

100
3-
4
% P r o d u c a o [P O

50
***

0
al

10
as
B

M D L A (m M )

Figura 18 – Efeito do MDLA na atividade enzimática da ASS recombinante. Avaliação da


atividade enzimática (1 g de ASS) na presença de 1 ou 10mM de MDLA, um inibidor específico da
ASS.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 82

Tabela 5 – Validação da atividade enzimática da ASS recombinante. A atividade enzimática da


ASS recombinante humana é comparável à da ASS recombinante adquirida comercialmente. Os
valores são a média ± desvio-padrão de três replicatas.

Proteína Atividade catalítica (μM/min)

ASS comercial 1,27 ± 0,13

ASS recombinante humana 1,23 ± 0,39


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 83

A B

150 150

]
]

3-
3-

4
4

% P ro d u ç ã o [P O
% P ro d u ç ã o [P O

100 100
* * * ** ** ** *
***

50 50

0 0

al

01

03

0
1

10

30
1

3
al

01

03

0
1

3
1

10

30

0.

0.

10
0.

0.

10

as
as

0.

0.
0.

0.

B
B

[B j -B P P -5 a ] ( M) [B j -B P P -9 a ] ( M)

C D

150 200
**
*
*
]

150
3-

3-
4

4
% P ro d u ç ã o [P O

% P ro d u ç ã o [P O

100

100

50
50

0 0
al

al
0

0
01

03

01

03

3
1

10

30

10

30
0.

0.

0.

0.
10

10
as

as
0.

0.

0.

0.
B

[B j -B P P -1 1 e ] ( M) [B j -B P P -1 2 b ] ( M)

150 ***
*** ***
***
*
* *
]
3-
4
% P ro d u ç ã o [P O

100

50

0
al

01

03

0
1

10

30
1

3
0.

0.

10
as

0.

0.
B

[B j -B P P -1 3 a ] ( M)

Figura 19 – Efeito de concentrações crescentes dos Bj-BPPs sobre a atividade enzimática


de 1 g de ASS recombinante. A - Bj-BPP-5a; B - Bj-BPP-9a; C - Bj-BPP-11e; D - Bj-BPP-12b; E
- Bj-BPP-13a. Os valores são a média ± desvio-padrão de três experimentos.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 84

4.5 Efeito dos Bj-BPPs na produção de NO por células HEK293

Ensaios para avaliar a produção de NO seriam uma forma indireta de

avaliar ou correlacionar o efeito dos Bj-BPPs sobre a ASS ou até mesmo verificar

se esses peptídeos alteram a produção de NO sem afetar a atividade catalítica

dessa enzima.

Testamos a capacidade dos peptídeos estimularem a produção de NO em

células HEK-293. Após o tratamento das células com quantidade crescentes de

cada Bj-BPP, observamos que o Bj-BPP-9a, Bj-BPP-11e e Bj-BPP-12b nas

concentrações utilizadas não interferiram na produção de NO por essas células

(Figura 20).

O Bj-BPP-5a e o Bj-BPP-13a promoveram aumentos significativos na

produção de NO pelas células HEK293. Na figura 20A e E, podemos observar

que células HEK-293 estimuladas por 24 horas com Bj-BPP-5a nas

concentrações entre 0,3 e 3 M aumentaram a produção de NO em 137%, de

basal 4,75±0,68 para 13,68±1,84nmol/106 células. Na figura 20E,

semelhantemente ao Bj-BPP-5a, o Bj-BPP-13a nas concentrações entre 0,1 e

3μM induziu um aumento de 148%, de basal 4,75±0,68 para 14,09±1,4nmol/106

células).

Mediante esses resultados, buscamos avaliar a participação da ASS, do

receptor B2 de cininas, dos receptores de acetilcolina muscarínicos e do receptor

2-adrenérgico, no mecanismo de produção de NO por células HEK-293 induzida

pelo Bj-BPP-5a e Bj-BPP-13a. Para tanto, as células incubadas com o Bj-BPP-5a

(0,3 M) ou Bj-BPP-13a (0,1 M) foram pré-tratadas com o inibidor específico da

ASS, MDLA e com antagonistas de receptores de membrana B2 de cininas, HOE-


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 85

140; 2-adrenérgico, yohimbina e muscarínicos do subtipo M1, pirenzepina; M2,

galamina e M3, 4-DAMP (4-Diphenylacetoxy-N-methylpiperidine methiodide). Os

resultados mostraram que o mecanismo pelo qual o Bj-BPP-5a induz a produção

de NO deve envolver ambos, receptor B2 de cininas e receptor muscarínico do

subtipo M1 (Figura 21), já que o HOE-140 e pirenzepina reduziram cerca de 40%

e 60%, respectivamente a resposta do peptídeo.

Na produção de NO induzida pelo Bj-BPP-13a, foi possível observar que

tanto o inibidor da ASS como o antagonista do receptor muscarínico do subtipo

M3 interferiram na produção de NO induzida pelo Bj-BPP-13a, cerca de 10 e

25%, respectivamente (Figura 22).

A concentração do MDLA, inibidor da ASS, utilizada foi de 10mM, a

requerida para bloquear o efeito de seu ativador, Bj-BPP-10c (Guerreiro et. al.,

2009) em células HEK293. As concentrações dos antagonistas dos receptores B2

de cininas (HOE-140 1 M), 2-adrenérgico (yohimbina 10 M) e muscarínicos dos

subtipos M1 (pirenzepina 1mM), M2 (galamina 100 M) e M3 (4-DAMP 10 M)

utilizadas foram suficientes para inibir a resposta de seus agonistas 1 M de BK,

1mM de L-arginina e 50 M de muscarina. (Figura 23)


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 86

A B

20 20
***
15 *** 15
( n m o l/1 0 6 c é lu la s )

( n m o l/1 0 6 c é lu la s )
***
*
N O x tota l

N O x tota l
10 10

5 5

0 0

al
al

03

3
1

03
1

3
0,

0,
0.

0.

as
as

0,
0.

B
B

[B j -B P P -5 a ] ( M ) [B j -B P P -9 a ] ( M )

C D
20 20

15 15
( n m o l/1 0 c é lu la s )

( n m o l/1 0 c é lu la s )
N O x tota l

N O x tota l

10 10
6

5 5

0 0
al

al
03

03
1

3
0,

0,

0,

0,
as

as
0,

0,
B

[B j -B P P -1 1 e ] ( M ) [B j -B P P -1 2 b ] ( M )

E
20

*** ***
15 ***
***
( n m o l/1 0 c é lu la s )

***
N O x tota l

10
6

0
al

3
1

3
03

0,

0,
as

0,
B

[B j -B P P -1 3 a ] ( M )

Figura 20 – Produção de NO por células HEK293 estimuladas com concentrações


crescentes (0,03 - 3 M) de BPPs . A - Bj-BPP-5a; B - Bj-BPP-9a; C - Bj-BPP-11e; D - Bj-BPP-
12b; E - Bj-BPP-13a. Os valores são a média ± desvio-padrão de três experimentos
independentes.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 87

( n m o l/1 0 c é lu la s ) 150

100
% NO x t o t a l

*
6

***
50

0
a

40

na

a
na

P
LA
-5

in

M
-1

pi
bi
D
P

am

A
E

ze
+M

im
P

-D
O
B

al
en
oh

+4
+H

+G
ir
+Y

P
+

Figura 21 – Intermediação dos receptores B2 de cininas e muscarínico do subtipo M1 na


produção de NO induzida pelo Bj-BPP-5a em células HEK293. Porcentagem de metabólitos de
NO (NOx) formados em células HEK293 estimuladas com 0,3 M de Bj-BPP-5a na ausência ou
presença de 10mM de MDLA, inibidor da ASS e antagonistas de receptores de membrana: 1 M
de HOE-140, antagonista de B2 de cininas; 1mM de pirenzepina, antagonista de receptor
muscarínico do subtipo M1; 100 M de galamina, antagonista de receptor muscarínico do subtipo
M2 e 10 M de 4-DAMP, antagonista de receptor muscarínico do subtipo M3.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 88

150

( n m o l/1 0 c é lu la s )

100
*
% NO x t o t a l

***
6

50

0
3a

40

P
na
LA

na

in

M
-1

-1

pi
bi
D

am

A
P

ze
+M

im

-D
P

al
en
oh

+4
B

+H

+G
ir
+Y

+P

Figura 22 – Intermediação da ASS e do receptor muscarínico do subtipo M1 na produção de


NO induzida pelo BPP-13a em células HEK293. Porcentagem de metabólitos de NO (NO x)
formados em células HEK293 estimuladas com 0,1 M de Bj-BPP-13a na ausência ou presença de
10mM de MDLA, inibidor da ASS e antagonistas de receptores de membrana: 1 M de HOE-140,
antagonista de B2 de cininas; 1mM de pirenzepina, antagonista de receptor muscarínico do
subtipo M1; 100 M de galamina, antagonista de receptor muscarínico do subtipo M2 e 10 M de 4-
DAMP, antagonista de receptor muscarínico do subtipo M3.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 89

250 250

200 200

% N O x t o t al
% N O x t o t al

150 150
***
100 100
**
50 50

0 0

al

40
al

na

na

B
as
as

-1
ni

bi

E
B

gi

O
ar

hi

H
L-

yo

+
K
+

B
na
ni
gi
ar
L-

800

600
% N O x to tal

400 **
*** ***
200

0
al

na

P
a

in
in

M
as

ri

ep

A
ca
B

D
la
nz

4-
us

ga
re

+
M

+
pi

na
na
+

ri
ri
na

ca
ca
ri

us
us
ca

M
M
us
M

Figura 23 – Interferência dos inibidores na resposta de agonistas de receptores 2-


adrenérgico, B2 de cininas, muscarínicos do subtipo M1, M2 e M3. Porcentagem de
metabólitos de NO (NOx) formados em células HEK293 estimuladas com agonistas após pré-
incubação das células com seus inibidores por 30min. As concentrações dos antagonistas dos
receptores B2 de cininas (HOE-140 1 M), do receptor 2-adrenérgico (yohimbina 10 M) e dos
receptores muscarínicos dos subtipos M1 (pirenzepina 1mM), M2 (galamina 100 M) e M3 (4-
DAMP 10 M), foram suficientes para inibir a resposta de seus agonistas 1 M de BK, 1mM de L-
arginina e 50 M de muscarina, respectivamente.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 90

4.5 Mobilização de [Ca2+]i induzida pelos Bj-BPPs em células HEK293

Os transientes de [Ca2+]i induzido pelos Bj-BPPs após estimulação das

células HEK293 com os peptídeos foram monitorados por microfluorimetria

(Lameu et al., 2010a). As curvas dose-resposta para elevação da [Ca2+]i para

cada peptídeo foi determinada individualmente. O Bj-BPP-5a apresentou uma

potência (valores de pD2) de 7,93±0,12; o BPP-11e, 7,15±0,11; BPP-12b,

8,63±0,15 e o BPP-13a, 7,82±0,17, enquanto que nenhuma resposta de [Ca2+]i

significante pode ser observada pela estimulação das células com o Bj-BPP-9a

(Figura 24). Além disso, observamos que o aumento da [Ca2+]i foi instantâneo e

transiente, ou seja, imediatamente após a aplicação do Bj-BPPs o pico de

resposta alcançou a [Ca2+]i (dados não mostrados).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 91

A B C

125 125 125


% U n id ad e d e F lu o rescên cia

% U n id ad e d e F lu o rescên cia

% U n id ad e d e F lu o rescên cia
100 100 100
(m a x -m i n )

(m a x -m i n )

(m a x -m i n )
75 75 75

50 50 50

25 25 25

0 0 0
-11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -9 -8 -7 -6 -5 -12 -10 -8 -6 -4
lo g [B P P -5a] (M ) lo g [B P P -9a] (M ) lo g [B P P -11e ] (M )

D E

125 125
% U n id ad e d e F lu o rescên cia
% U n id ad e d e F lu o rescên cia

100 100
(m a x -m i n )
(m a x -m i n )

75 75

50 50

25 25

0 0
-11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -1 0 -9 -8 -7 -6 -5
lo g [B P P -12b ] (M ) lo g [B P P -1 3 a ] (M )

2+
Figura 24 – Mobilização de cálcio intracelular ([Ca ]i) em HEK293 estimuladas com
concentrações crescentes dos Bj-BPPs 5a, 9a, 11e, 12b e 13a. As curvas dose-resposta foram
obtidas pela regressão não-linear e os valores pD2 (-log EC50) foram calculados usando o
programa Graph-Pad PRISM (GraphPad Software). Os valores são a média ± desvio padrão de
três experimentos independentes.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 92

5.DISCUSSÃO
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 93

5.1 Os Bj-BPPs apresentam efeitos diferenciados sobre o RAS e SCC

A potenciação dos efeitos contráteis de BK em íleo isolado de cobaia foi

observada pela primeira vez com o veneno bruto da serpente Bothrops jararaca, e

ainda não se sabia ao certo quais substâncias dessa mistura complexa de

moléculas eram responsáveis por essa resposta (Rocha e Silva et. al., 1949).

Atualmente já está bem estabelecido que esse efeito desencadeado pelo veneno

da Bothrops jararaca é devido a peptídeos vasoativos presentes na sua

composição, os Bj-BPPs (Ferreira et. al., 1970). O efeito desses peptídeos de

potenciação das respostas da BK sempre foi atribuído a capacidade de inibir a

ECA (Stewart et. al., 1971; Smith e Vane, 2003). A ECA possui dois sítios ativos

homólogos, um na região C-terminal e outro na região N-terminal. Recentemente,

demonstrou-se que alguns inibidores da ECA possuem maior seletividade pelo

sítio C-terminal, que é o sítio mais efetivo na hidrólise da BK e na formação de

angiotensina II, enquanto outros inibidores são mais seletivos para o sitio N-

terminal, que segundo evidências experimentais estaria mais envolvido com o

processamento de outros peptídeos bioativos (Cotton et. al., 2002).

No entanto, existem relatos que sugerem que os inibidores da ECA podem

promover vasodilatação através de mecanismo independentes da inibição dessa

enzima (Greene et. al., 1972; Marks et. al., 1980), por exemplo, estudos com o

Captopril mostraram que esse inibidor da ECA é capaz de produzir redução nos

níveis da pressão arterial em animais onde o RAS não é o responsável pela

manutenção da pressão arterial (Marks et. al., 1980).

Além disso, existem estudos que sugerem que os Bj-BPPs possam agir por

vias independentes da ECA, demonstrando que, se correlacionarmos os efeitos

inibitórios da ECA com a potenciação de BK, esses dois mecanismos não serão
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 94

suficientes para justificar os efeitos dos Bj-BPPs (Camargo e Ferreira, 1971;

Greene et. al., 1972; Ianzer et. al., 2007).

Entre os métodos clássicos para avaliar a potenciação de BK estão os

testes farmacológicos em órgãos isolados, como o íleo de cobaia ex vivo e in vivo

sobre o efeito hipotensor de BK (Mueller et. al., 2005). Sabe-se que todos os

peptídeos utilizados nesse trabalho são capazes de potenciar BK ex vivo,

(Hayashi e Camargo, 2005), entre esses alguns também já foram testados in vivo

(Hayashi et. al., 2003) e aparentemente os mecanismos utilizados por esses

peptídeos in vivo e ex vivo são distintos.

Embora a causa não esteja totalmente clara, estudos sugerem que a

inibição da ECA não se correlaciona diretamente com o efeito potenciador da BK.

Por exemplo, é sugerido que a fosforilação de receptores B1 pela proteína

quinase C (PKC) promova sua internalização, ou seja, desensibilização, e sua

desfosforilação pela fosfatase SHP-2 o ressensibilize (Ignjatovic et. al., 2002).

Assim, uma das hipóteses seria a de que os Bj-BPPs poderiam ter influência

sensibilizando ou dessensibilizando os receptores de BK (Marcic et. al., 2000), ou

participando da hetero-oligomerização dos receptores B2 de cininas, o que

incluiria a interação com a ECA (Minshall et. al., 1997) e com outras enzimas

responsáveis pela degradação da BK (Deddish et. al., 2002).

Nesse trabalho, além da ação anti-hipertensiva já descrita para os Bj-BPP-

5a, Bj-BPP-9a e Bj-BPP-10c (Ianzer et. al., 2010; Gavras et. al., 1975; Bianchi et.

al., 1973; Ianzer et. al., 2007), demonstramos que os Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b e

Bj-BPP-13a também são capazes de promover esses efeitos na pressão arterial,

embora a amplitude do efeito anti-hipertensivo ocasionado por cada Bj-BPP seja


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 95

diferente. Além disso, não podem ser diretamente correlacionados com a

constante de inibição da ECA e a potenciação de BK.

Por exemplo, o Bj-BPP-5a é eficiente na potenciação de BK ex vivo

(Ferreira et. al., 1970; Ondetti et. al., 1971; Murayama et. al., 1997), mas o mesmo

não é observado nos experimentos realizados in vivo (Figura 6A). Além disso,

esse peptídeo não é um bom inibidor da ECA, sendo mais seletivo para o sítio N-

terminal dessa enzima, que não é o mais eficiente na formação de angiotensina II

e na degradação de BK. Entretanto, a administração desse peptídeo a SHRs

acordados promoveu eficientemente a redução da PAM e da FC (Ianzer et. al.,

2010).

O Bj-BPP-11e é um fraco potenciador de BK, tanto ex vivo como in vivo,

não apresenta preferência por nenhum dos sítios ativos da ECA, provoca discreta

redução da PAM. Surpreendentemente, entretanto, ocasiona potente redução da

FC quando comparado ao Bj-BPP-10c. Esses dados sugerem uma ação do

peptídeo em células musculares especializadas no nódulo sino-atrial (marcapasso

do coração), região especial do coração que controla a FC (Somsen et. al., 2004).

Embora, o coração possua seus próprios sistemas intrínsecos de controle e

possa continuar a operar, sem quaisquer influências nervosas, a eficácia da ação

cardíaca pode ser muito modificada pelos impulsos reguladores do sistema

nervoso central. O sistema nervoso central é conectado ao coração através de

dois grupos diferentes de nervos, os sistemas: parassimpático e simpático. A

estimulação dos nervos parassimpáticos causa diminuição da freqüência, dos

batimentos cardíacos, da força de contração do músculo atrial, diminuição na

velocidade de condução dos impulsos através do nódulo átrio-ventricular,

aumentando o período de retardo entre a contração atrial e a ventricular e


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 96

diminuição do fluxo sanguíneo através dos vasos coronários que mantém a

nutrição do próprio músculo cardíaco. Todos esses efeitos podem ser resumidos,

dizendo-se que a estimulação parassimpática diminui todas as atividades do

coração. A estimulação dos nervos simpáticos apresenta efeitos exatamente

opostos sobre o coração, como aumento da freqüência cardíaca, aumento da

força de contração e aumento do fluxo sanguíneo através dos vasos sanguíneos

(Velden et. al., 1990; Michelini, 1999).

Dessa maneira, existe também a possibilidade do Bj-BPP-11e ter um efeito

na estimulação do sistema parassimpático e/ou diminuição do simpático para

reduzir a FC que leva a discreta queda da PAM promovida por esse peptídeo.

Tanto o Bj-BPP-12b como o Bj-BPP-13a causam alteração da PAM e FC

de modo semelhante ao Bj-BPP-5a, sendo diferente do tridecapeptideo por

ocasionar uma potente redução da FC, observada principalmente entre 30 e

90min após a injeção do peptídeo. No entanto, ambos apresentam efeito

potenciador da BK ex vivo, mas somente o Bj-BPP-12b potencia in vivo, além do

fato de apresentar seletividade de inibição pelo sitio N-terminal da ECA o que não

ocorre com o Bj BPP-13a que não é um bom inibidor dessa enzima (Tabela 2).

O Bj-BPP-9a potencia BK equivalentemente in vivo e ex vivo, é mais

seletivo para o sítio C-terminal da ECA, sendo considerado um eficiente inibidor

dessa enzima (Cotton et. al., 2002). Entretanto, promove discreta redução da

PAM e não altera a FC, portanto é descartada a hipótese de ação sobre o sistema

nervoso central.

O Bj-BPP-5a, Bj-BPP-10c, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a, além de

serem encontrados no veneno, também são codificados pelo precursor dos Bj-

BPPs e CNP expresso no cérebro da Bothrops jararaca, sugerindo um papel na


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 97

fisiologia da serpente (Hayashi et. al., 2003; Hayashi e Camargo, 2005).

Interessantemente, dentre os peptídeos apresentados, o Bj-BPP-9a é o único que

não está na proteína precursora dos BPPs e CNP do cérebro (Murayama et. al.,

1997; Hayashi et. al., 2003).

Sabe-se que, por exemplo, a fosfolipase A é uma enzima que desempenha

um importante papel na fisiologia da serpente e no envenenamento, sendo

responsável por efeitos nas presas que inclui mamíferos. Como a mesma enzima

está presente no veneno e na fisiologia da serpente, o que determina o seu efeito

tóxico é explicado, entre outras causas, pela quantidade injetada na corrente

sanguínea da vítima. A combinação com outras moléculas pode desencadear

vários efeitos biológicos, tais como neurotoxicidade, cardiotoxicidade,

miotoxicidade, a inibição da agregação plaquetária, edema, hemólise,

anticoagulação, hemorragia, convulsão e hipotensão arterial para imobilização da

presa (Soares et. al., 1998; Kini, 2003).

Recentemente, nosso grupo observou que o Bj-BPP-10c é capaz de

mobilizar [Ca2+]i em neurônios de mamíferos, possivelmente contribuindo para

elevar a produção de NO no sistema nervoso central (Lameu et al., 2010b), com

conseqüente aumento da liberação de neurotransmissores, assim como GABA e

glutamato melhorando a sensibilidade do barorreflexo de ratos espontaneamente

hipertensos (Lameu et. al., 2010a; Lameu et. al., 2010b). Como a sensibilidade do

barorreflexo está prejudicada em patologias relacionadas com o controle da

pressão arterial, como por exemplo, na pré-eclâmpsia (Molino et. al.,1999), esse

peptídeo usado em quantidades adequadas pode ser benéfico para tratar esses

tipos de patologia.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 98

5.2 ASS como alvo para os Bj-BPP-5a, Bj-BPP-10c, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a

A ASS desempenha um papel fundamental no ciclo citrulina-NO, sendo a

enzima passo limitante de reações acopladas para fornecimento de L-arginina

para consumo da NOS (Hao et. al., 2004; Shen et. al., 2005; Corbin et. al., 2008).

Os substratos da ASS são a citrulina, o aspartato e o ATP, dessa forma,

essa enzima conjuga citrulina e aspartato a argininosuccinato. O primeiro passo

da reação é a incorporação do AMP à citrulina com liberação de pirofosfato. Em

seguida, há a troca do AMP pelo aspartato com liberação do AMP. Finalmente,

ocorre a liberação do produto argininosuccinato, que por ação da ASL é

convertido a L-arginina e fumarato (Husson et. al., 2003; Karlberg et. al., 2008).

A ASS humana é uma proteína tetramérica que consiste de dois dímeros

idênticos. A estrutura monomérica dessa enzima possui três domínios: um

domínio de ligação de ATP, um domínio de síntese e um domínio no C-terminal

envolvido na oligomerização de suas subunidades (Karlberg et. al., 2008).

Recentemente, nosso grupo demonstrou que a ASS é alvo do Bj-BPP-10c

e que esse peptídeo é capaz de modular positivamente a atividade catalítica

dessa enzima, aumentando a sua afinidade pelo ATP, provavelmente, devido a

uma mudança conformacional ocasionado por esse peptídeo que facilitaria a

interação da ASS com o ATP (Guerreiro et. al., 2009).

No presente trabalho nós demonstramos que outros Bj-BPPs, como o Bj-

BPP-13a também aumentam a atividade catalítica da ASS, entretanto

apresentando efeitos de menor amplitude. Outros, como o Bj-BPP-5a são até

antagônicos a atividade do Bj-BPP-10c sobre a ASS.

Embora sem apresentar uma curva dose-resposta, o Bj-BPP-5a promove

uma discreta inibição da ASS. Desse modo, poderíamos sugerir esse peptídeo
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 99

como um possível candidato para estudos relacionados com patologias onde a

atividade preservada da ASS é nociva, como é o caso de alguns tumores. Há

trabalhos indicando a relação entre a constante reposição de L-arginina gerada

pela ASS e o crescimento de carcinoma hepatocelular, melanoma maligno,

câncer de próstata, renal e ovariano, assim um molécula que modulasse a

atividade catalítica da ASS negativamente poderia ser utilizada no tratamento

dessas patologias (Feun et. al., 2008; Shen et. al., 2006; Delage et. al., 2010).

Entre os demais Bj-BPPs avaliados o Bj-BPP-12b e o Bj-BPP-13a são

capazes de modular positivamente a atividade da ASS, mas no caso do Bj-BPP-

12b esse fato ocorre em concentrações mais altas que o Bj-BPP-10c e o Bj-BPP-

13a. Desse modo, esses dois peptídeos apresentam potencial no tratamento de

patologias onde a atividade dessa enzima está reduzida, como a citrulinemia

(Haberle et. al., 2002; Ezgu et. al., 2005) e quando a modulação positiva da sua

atividade catalítica pode trazer contribuição terapêutica como na hipertensão e na

pré-eclampsia, devido a disponibilização de substrato para consumo da NOS e,

conseqüente, aumento da produção de NO (Shen et. al., 2005; Guerreiro et. al.,

2009).

Os Bj-BPP-9a e Bj-BPP-11e não alteram a atividade da ASS, o que poderia

indicar que essa enzima não é alvo desses peptídeos, ou ainda, que interagem

com a ASS sem modificar sua capacidade enzimática, isso não os descartaria

como possíveis biomarcadores de patologias associadas a ASS.

Sendo assim, esses resultados sugerem que a disponibilização de

substrato para consumo da NOS, L-arginina, deva participar apenas do

mecanismo de ação do Bj-BPP-13a, assim como observado para o Bj-BPP-10c

(Guerreiro et. al., 2009), mas não deve participar do mecanismo de ação do Bj-
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 100

BPP-5a, Bj-BPP-9a e Bj-BPP-11e, pois não são ativadores da ASS. No caso do

Bj-BPP-12b, a participação desse mecanismo se torna menos sugestiva, já que

em concentrações muito mais altas que do Bj-BPP-13a apresenta atividade sobre

a ASS, mas nas mesmas doses promovem intensidade de queda da PAM e FC

semelhantes.

5.3 A produção de NO pode não ser o único mecanismo de ação dos Bj-

BPPs para promover vasodilatação

A NOS catalisa a oxidação do grupo guanidino da L-arginina, formando NO

e citrulina (Tarpey e Fridovich, 2001). O NO se difunde rapidamente do endotélio

para a musculatura lisa do vaso promovendo vasodilatação (Solomonson et. al.,

2003).

Devido a ação do Bj-BPP-10c sobre a ASS, sabe-se que esse peptídeo é

capaz de disponibilizar substrato para consumo da NOS, sustentando a produção

de NO (Guerreiro et. al., 2009). Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a aumentarm a atividade

da ASS, entretanto, mostramos que Bj-BPP-5a também induz a produção de NO,

mesmo sendo um inibidor dessa enzima. Para o Bj-BPP-12b não observamos um

aumento da produção de NO pelas células HEK293, nas concentrações utilizadas

já que foram menores que a concentração mínima para aumentar a atividade da

ASS (10 M) que é muito alta, tornando o papel do NO secundário no mecanismo

de ação do Bj-BPP-12b. O Bj-BPP-9a e o Bj-BPP-11e também não provocaram

nenhuma alteração na liberação de NO, todavia esses peptídeos não alteram a

atividade da ASS, sugerindo que o ciclo citrulina-NO não esteja envolvido nos

seus mecanismos de ação.

No entanto, não é só o aumento da atividade da ASS pelos Bj-BPPs que

pode induzir a produção de NO. Sabemos que a estimulação do receptor B2 de


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 101

cininas pela BK leva a um aumento da [Ca2+]i. Essa elevação de transientes de

Ca2+ induzida pela BK ativa a NOS para gerar NO (Busse e Fleming, 1995).

Muitos outros receptores quando ativados geram sinais intracelulares para induzir

a produção de NO, entre esses podemos citar os receptores muscarínicos e α2-

adrenérgico, que também estão envolvidos na regulação da pressão arterial.

Os receptores α2-adrenérgicos constituem um grupo de receptores

acoplados a proteína Gi/0 e Gs, que são ativados quando estimulados por

catecolaminas e mais recentemente foi demonstrado que a L-arginina é um

agonista desses receptores (Joshi et. al., 2007). A ativação pré-sináptica desses

receptores diminui a atividade simpática e relaxa os vasos. No endotélio, esses

receptores promovem vasodilatação através da liberação de NO e acúmulo de

GMPc (Vanhoutte, 2001).

Os receptores muscarínicos são membros de uma superfamília de

receptores acoplados à proteína G, associados principalmente a ações

fisiológicas desencadeadas quando ligados a acetilcolina (ACh). As ações

muscarínicas da ACh são mediadas por cinco subtipos de receptores

muscarínicos molecularmente distintos (M1-M5) (Caulfield e Birdsall,1998).

Baseado em sua habilidade de ativar diferentes classes de proteínas G

heterotriméricas, os cinco subtipos de receptores muscarínicos podem ser

subdivididos em duas classes distintas de acordo com suas atividades funcionais:

os mobilizadores intracelulares de cálcio (receptores M1, M3 e M5), que são

acoplados seletivamente às proteínas G da família G q, e os inibidores da

adenilato ciclase (M2 e M4), que demonstram seletividade por proteínas G da

família Gi (Felder, 1995). Diferentes abordagens experimentais demonstram que

os receptores muscarínicos estão presentes em praticamente todos os órgãos,


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 102

tecidos e tipos celulares. Os receptores muscarínicos periféricos são

responsáveis pelas ações clássicas da ACh em órgãos ou tecidos inervados por

fibras nervosas parassimpáticas. As principais ações mediadas por esses

receptores muscarínicos periféricos incluem a redução do ritmo cardíaco e

estimulação de secreção glandular e relaxamento da musculatura lisa (Wess,

2004). Os receptores muscarínicos centrais estão envolvidos na regulação de um

número extraordinário de funções cognitivas, comportamentais, sensitivas,

motoras e autônomas. Sinalização reduzida ou aumentada dos diferentes

subtipos de receptores muscarínicos implicam na fisiopatologia de diversas

doenças do sistema nervoso central, incluindo a doença de Alzheimer e

Parkinson,depressão, esquizofrenia e epilepsia (Wess, 2004).

Dessa maneira, utilizamos ferramentas farmacológicas, antagonistas de

receptores e inibidores de enzimas, para estudar a participação dos receptores

muscarínicos, α2-adrenérgico, B2 de cininas e da enzima ASS no mecanismo de

produção de NO induzida pelos BPPs.

Com isso, confirmamos a participação da ASS no mecanismo de ação do

Bj-BPP-13a, mas nossos resultados sugerem fortemente também a participação

de receptor muscarínico do subtipo M3 nos efeitos induzidos por esse peptídeo.

Os receptores muscarínicos do subtipo M3 estão, principalmente

envolvidos no controle do tônus vascular. Há medicamentos no mercado que

ativam esse receptor para promover relaxamento, como é o caso da pilocarpina,

utilizada para o tratamento de glaucoma, hipertensão ocular (Hurvitz et. al., 1991;

Costagliola et. al., 2009)

Observamos também que a produção de NO induzida pelo Bj-BPP-5a não

teve interferência do MDLA conforme esperado. Entretanto, verificamos que a


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 103

participação dos receptores de BK e muscarínico do subtipo M1 devem ser

importantes no seu mecanismo de ação. Ianzer e colaboradores, recentemente,

mostraram que o Bj-BPP-5a não age sobre receptores B1 e B2 de cininas (Ianzer

et al., 2010). A participação do receptor de BK no mecanismo de ação de um Bj-

BPP poderia de ser devido ao acumulo de BK pela inibição da ECA, no entanto o

Bj-BPP-5a não é um bom inbidor dessa enzima. Dessa forma, sugerimos o Bj-

BPP-5a promova um “cross-talking” entre os receptores M1 e B2. O mecanismo

de cross-talking deve envolver vários passos e o primeiro deles seria a ação

direta do Bj-BPP-5a sobre o receptor muscarínico do subtipo-M1.

A participação do receptor muscarínico do subtipo-M1 na produção de NO

estimulada pelo Bj-BPP-5a é muito interessante do ponto de vista científico e

terapêutico, já que muitos esforços têm sido aplicados na busca de agonistas

para os receptores muscarínicos do subtipo M1, para o tratamento de desordens

cognitivas, tais como Alzheimer (Fisher et.al., 2003; Caccamo et. al., 2006; Conn

et. al., 2009). A ativação desse subtipo de receptor também tem sido relacionada

com a liberação de EDHF (Eglen, 2006) e com o aumento de expressão da NOS

(Wotta et. al., 1998; Cuadra e El-Fakahany, 1998).

5.4 Os Bj-BPPs encontrados na proteína precursora dos BPPs e do CNP no

cérebro de serpentes são capazes de mobilizar [Ca2+]i

A mobilização da [Ca2+]i. induzida pelo Bj-BPP-10c é instantânea e

transiente, ou seja, imediatamente após a aplicação do peptídeo, o pico de

resposta alcança a [Ca2+]i máxima nas células, e então rapidamente [Ca2+]i

diminuiu e alcança níveis basais, caracterizando uma resposta típica de ativação

de receptores de membrana (Lameu et. al., 2010a). Dessa maneira, investigamos


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 104

se os demais Bj-BPPs (Bj-BPP-5a, Bj-BPP-9a, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-

BPP-13a) eram capazes de mobilizar [Ca2+]i em células HEK293.

Com exceção do Bj-BPP-9a, todos os Bj-BPPs utilizados nesse trabalho

foram capazes de induzir transientes de [Ca2+]i, sugerindo que esses peptídeos

possuem a habilidade de interagir com receptores de membrana.

Nossos resultados permitem indicar os receptores muscarínicos do subtipo

M1 e M3 como os principais candidatos a ser receptor do Bj-BPP-5a e Bj-BPP-

13a, respectivamente, no entanto, a validação desses receptores como alvos dos

Bj-BPPs ainda precisa ser realizada.

Nossos resultados também indicam que o principal mecanismo de ação do

Bj-BPP-9a é a inibição da ECA e potencialização de BK, já que esse peptídeo não

altera a FC, não age sobre a ASS, não estimula a produção de NO e não mobiliza

[Ca2+]i pelo menos em células HEK293. Entretanto, não podemos descartar a

possibilidade desse peptídeo interagir com receptores tecido-específicos não

expressos nas células HEK293, ou interferir em mecanismos bioquímicos que não

foram observados nesse ou em trabalhos anteriores.

Conforme discutido anteriormente, apenas o Bj-BPP-5a e o Bj-BPP-13a

estimulam a produção de NO em células HEK293. Embora o Bj-BPP-5a iniba

discretamente a ASS, esse efeito não compromete a produção de NO induzida

por esse peptídeo, provavelmente a produção de NO ocorra devido a ativação da

NOS pelo aumento nos níveis de [Ca2+]i provocado por esse peptídeo.

O Bj-BPP-13a além de disponibilizar substrato para consumo dessa enzima

pela modulação da atividade da ASS deve contribuir com a ativação da NOS

através da mobilização da [Ca2+]i, possivelmente através receptores M3.


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 105

Entretanto o Bj-BPP-11e e o Bj-BPP-12b não estimulam a produção de NO,

mas os ensaios de mobilização de [Ca2+]i sugerem que esses peptídeos sejam

agonistas de um receptor de membrana, envolvido com a liberação de EDHF ou

com outras funções, assim como controle da expressão gênica e ativação de

enzimas diferentes da NOS (Finkbeiner e Greenberg, 1997).

É relevante citar que a mobilização [Ca2+]i, desempenha papel fundamental

na liberação de neurotransmissores (Putney, 1999), assim como o GABA, que

está relacionado com controle das funções cardiovasculares pelo sistema nervoso

central (Gordon e Sved, 2002). Conforme já descrito, o Bj-BPP-10c é capaz de

estimular a liberação desse neurotransmissor, regulando a sensibilidade do

barorreflexo de ratos espontaneamente hipertensos (Lameu et. al., 2010a; Lameu

et. al., 2010b).

Sendo assim, não poderíamos descartar a possibilidade dos Bj-BPP-5a, Bj-

BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a atuarem no sistema nervoso central, já que

além de diminuírem a freqüência cardíaca como Bj-BPP-10c, também estão

presentes no cérebro da serpente.

Tomando em conjunto os resultados de comparação das ações biológicas

dos Bj-BPPs encontrados no veneno da Bj e no sistema nervoso central dessa

serpente como parte do precursor do hormônio CNP, verificamos que,

contrariamente ao que por várias décadas se supunha, esses peptídeos tem

efeitos biológicos diferenciados e por isso mesmo são uma fonte inesgotável de

surpresas como sinalizadores biológicos, potencialmente úteis para o

desenvolvimento de fármacos.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 106

6.CONCLUSÕES
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 107

6. Conclusões

Os Bj-BPPs foram os primeiros inibidores naturais da ECA descritos,

bloqueiam a conversão de angiotensina I em angiotensina II (potente

vasoconstritor) e a degradação da bradicinina (potente vasodilatador). Devido

essa habilidade eles serviram como modelo estrutural para o desenvolvimento do

Captopril, que desde os anos 80 tem sido utilizado por via oral para o tratamento

da hipertensão arterial sistêmica humana (Ondetti e Cushman, 1981). Além disso,

sabe-se que dentre esses peptídeos, alguns apresentam atividade anti-

hipertensiva, o que é o caso do Bj-BPP-5a, Bj-BPP-7a e Bj-BPP-10c (Ianzer et.

al., 2007; Ianzer et. al., submitted).

Os resultados apresentados nesse trabalho fornecem informações

importantes a respeito das respostas desencadeadas pelos Bj-BPP-5a, Bj-BPP-

9a, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a na a potenciação de BK, na ativação

da ASS, na indução da produção de NO e na mobilização [Ca2+]i e confirma que

todos os peptídeos possuem atividade anti-hipertensiva em SHRs:

1) foi observado que todos os peptídeos que são expressos na proteína

precursora dos Bj-BPPs e do CNP no cérebro da Bothrops jararaca reduzem a FC

de SHRs, o Bj-BPP-9a que é encontrado apenas no veneno não produziu o

mesmo efeito sobre a FC. Por isso, as ações do Bj-BPP-5a, Bj-BPP-11e, Bj-BPP-

12b e Bj-BPP-13a podem estar associadas ao fato de serem encontrados em

regiões do cérebro de serpentes correlacionados com o controle neuroendócrino,

indicando que podem agir no sistema nervoso central, como já foi visto para o Bj-

BPP-10c (Lameu et. al., 2010a);

2) foi demonstrado que o mecanismo pelo qual o BPP-5a induz a

produção de NO deve envolver ambos, receptor B2 de cininas e receptor


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 108

muscarínico do subtipo M1, sem qualquer participação da ASS, mobilizando

[Ca2+]i para ativação da NOS, além de ser um potente potenciador de BK ex vivo,

apesar de não ser um excelente inibidor da ECA (Cotton et. al., 2002; Hayashi et.

al., 2003; Gomes et. al., 2007);

3) o Bj-BPP-9a não apresentou nenhum efeito sobre os alvos ou

mecanismos avaliados. Provavelmente, tenha como principal alvo de ação a ECA,

pois é um potente inibidor dessa enzima com maior seletividade pelo sítio C-

terminal (Cotton et. al., 2002), o que explicaria seu efeito anti-hipertensivo e de

potenciação de BK;

4) Os mecanismos de ação do Bj-BPP-11e Bj-BPP-12b foram os

menos esclarecidos nesse trabalho, já que esses peptídeos foram capazes de

mobilizar [Ca2+]i, mas ainda não temos nenhuma sugestão do receptor envolvido

nessa resposta. O Bj-BPP-11e é um fraco potenciador de BK, nem está entre os

melhores inibidores da ECA. O Bj-BPP-12b é potente potenciador de BK in vivo e

ex vivo, mas é mais seletivo para o sítio no N-terminal. Além disso, apesar de

modular positivamente a ASS em altas concentrações, o Bj-BPP-12b não deve ter

como principal mecanismo de ação a indução da produção de NO;

5) O Bj-BPP-13a induz a produção de NO através de um mecanismo

que envolve a ativação do receptor muscarínico do subtipo M3, mobilizando

[Ca2+]i para ativação da NOS e disponibilizando substrato para consumo dessa

enzima por modulação da atividade da ASS. Esse peptídeo apresenta efeitos

semelhantes de potenciação da BK tanto in vivo e como ex vivo e não apresenta

seletividade por nenhum dos sítios ECA;

Sendo assim, esse trabalho demonstra que o Bj-BPP-5a, Bj-BPP-9a, Bj-

BPP-11e, Bj-BPP-12b e Bj-BPP-13a apresentam atividade anti-hipertensiva e


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 109

confirma que possuem diferentes mecanismos de ação, ocasionando diferentes

efeitos na potenciação de BK, na ativação da ASS, indução na produção de NO e

na mobilização [Ca2+]i (Tabela 6).


Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 110

Tabela 6 - Atividade biológica dos Bj-BPPs II. Efeito dos BPPs na potenciação da resposta contrátil em musculatura lisa (ex vivo) e na resposta
hipotensiva da BK (in vivo), na pressão arterial média (PAM) e freqüência cardíaca (FC) de SHRs acordados, na atividade da ASS, na produção de NO e
2+
na mobilização de [Ca ]i em células HEK293. Os dados são expressos pela média ± erro padrão.

Potenciação Potenciação Mobilização


ECA Ki (nM) Redução Redução Ação Indução da
Sequência de da BK ex Máxima da de [Ca2+]i
Bj-BPP Origem Máxima da Máxima da sobre a produção
aminoácidos vivo BK in vivo Valores de
PAM (mmHg) FC (bpm) ASS de NO
(nmol) (%) Sítio-N Sítio-C pD2
a
Veneno
Bj-BPP-5a <EKWAP 0,36±0,03 b 48 ± 5 g 400b 1280b - 30 ± 5*f - 66 ± 9* f Inibiçãoj Simj 7,93±0,12 j
Cérebrob

Bj-BPP-9a <EWPRPQIPP Venenoa 0,22± c 114 ± 31j 100b 1b -22 ± 3*j -40 ± 15 j Nulaj Nãoj Nãoj

Venenoa
Bj-BPP-10c <ENWPHPQIPP 0,48±0,02 e 132 ± 22j 200b 0,5b - 53 ± 6*e - 67 ± 10* e Ativação h Sim h 7,23±0,09 i
b
Cérebro

Bj-BPP-11e <EARPPHPPIPP Cérebrob 2,68±0,20 b 48 ± 10j 100b 300b - 26 ± 3*j -61 ± 9*j Nulaj Nãoj 7,15±0,11 j

Bj-BPP-12b <EWGRPPGPPIPP Cérebrob 0,83±0,30 b 109 ± 17j 5b 150b - 25 ± 2*j -54 ± 9*j Ativaçãoj Nãoj 8,63±0,15j

Venenod
Bj-BPP-13a <EGGWPRPGPEIPP 1,50±0,20 b 62 ± 15j 50b 50b - 27 ± 2*j -67 ± 10*j Ativaçãoj Simj 7,82±0,17j
b
Cérebro

*p<0,05 quando comparado ao grupo controle.


a
Ferreira et al.1970
b
Hayashi et al.2003
c
Ianzer, 2001
d
Ianzer et al.2004
e
Ianzer et al.2007
f
Ianzer et. al. submitted
g
Gomes et al., 2007
h
Guerreiro et. al., 2009
i
Lameu et al., 2010
j
presente trabalho
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 111

7.REFERÊNCIAS
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo 112

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8.ANEXOS

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