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“ A influência do ambiente e da
mobilidade para saúde de idosos

Priscilla Cardoso Silva


UFRGS

Débora Pastoriza Sant' Helena


UFRGS

Andréa Kruger Gonçalves


UFRGS

10.37885/200800874
RESUMO

A restrição de um ambiente adequado aumenta a probabilidade de incapacidade funcional,


problemas de saúde e mortalidade. O objetivo deste trabalho foi demonstrar a influência
do ambiente na mobilidade de idosos. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica.
Para pesquisa foram utilizadas três bases de dados: Lilacs, Pubmed e Scielo. Foram
selecionados artigos científicos publicados no período de 2014 a 2019. Observou-
se que dos seis artigos que tiveram relação com o tema, abordaram o ambiente e a
mobilidade de forma diversificada e diferenciada sobre a perspectiva da mobilidade física
e mobilidade urbana. Ressaltamos a necessidade de novas pesquisas sobre a temática
e de políticas públicas, na busca de adequadas soluções e prerrogativas para prevenção
de enfermidades perante o envelhecimento da população.

Palavras-chave: Mobilidade; Ambiente; Ambiente Construído; Idosos.


INTRODUÇÃO

O envelhecimento humano é um processo universal e natural, caracterizado pela di-


minuição gradual e progressiva das alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, e
nas modificações psicológicas e sociais, estas mudanças determinam a perda das capaci-
dades físicas e cognitivas podendo levar a prejuízos na mobilidade e adaptações ao am-
biente no qual interagem, evoluindo para o aumento de processos patológicos e até a morte
(FERREIRA et al., 2012; FECHINE; TROMPIERI, 2015). A adversidade das alterações do
envelhecimento associados a este aumento de patologias e ao efeito do ambiente sobre a
mobilidade definem o comprometimento ou dependência física dos idosos, fator que atinge
cerca de um terço à metade dos idosos com idade acima de 65 anos (ROSSO; AUCHIN-
CLOSS; MICHAEL, 2011).
Com o crescente aumento populacional de idosos com idade superior a 60 anos, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013) apontou que em 2030 a popu-
lação de idosos será maior que a de crianças com idade até 14 anos, e em 2055, supe-
rará a população com idade inferior a 29 anos de idade, aumentando consideravelmente
o número de idosos no país. Atualmente no Brasil, os idosos são caracterizados pela sua
predominância entre o sexo feminino, etnia/raça branca, e 80% residem nas áreas urbanas,
dados relevantes para o controle e preocupação com os fatores externos relacionados ao
envelhecimento (IBGE, 2013).
Estes fatores populacionais têm influenciado no aumento de pesquisas sobre o ambiente
e a sua influência na forma de viver das pessoas. O ambiente pode ser caracterizado como
o ambiente natural, referente ao clima, vegetação e topografia, no entanto, as característi-
cas do ambiente construído têm sido amplamente estudadas nos últimos anos. O ambiente
construído compreende as construções, espaços e objetos que são criados ou alterados pelo
homem, com objetivo de moradia, comércio, indústria, modificando o transporte, ocupação,
lazer e atividades do lar (HINO; REIS; FLORINDO, 2010). O ambiente construído estruturado
nas cidades diariamente influenciam na manutenção e melhoria da autonomia, bem-estar e
a participação social das pessoas, tendo relação com a utilização e otimização dos recursos
ambientais, como a residência, espaços de convivência e de lazer, incluindo a acessibilidade
e mobilidade (HANS-WERNER; WEISMAN, 2003). A acessibilidade relaciona a pessoa e
o ambiente, representando um encontro entre o idoso com sua capacidade funcional e as
exigências do ambiente físico que se encontra (PETTERSSON et al., 2017).
Segundo as definições de Portugal e Loyola (2014) a mobilidade da pessoa idosa
é definida como a capacidade física que o idoso possui para se movimentar e realizar as
atividades da vida diária, tanto no ambiente domiciliar como no seu ambiente externo. O
comprometimento da mobilidade e a dependência nas atividades de vida diária podem oca-

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sionar situações no qual o idoso está sujeito ao aumento do risco de quedas, influenciando
diretamente no seu estado de saúde, pois acabam se tornando dependentes nas suas
atividades físicas, ocasionando em isolamento social, progredindo para uma alteração na
sua saúde mental (OLIVEIRA; GOMES, 2013).
A redução da capacidade funcional ocorre pelo comportamento adotado dos idosos,
afetando o estado geral de saúde e favorecendo a diminuição das atividades físicas e diárias
(LOURENÇO et al., 2012), para alteração deste comportamento se faz importante o estímulo
e, um ambiente desafiador e facilitador para os idosos. Assim a mobilidade urbana difere nas
características pessoais diretas da capacidade física, pois são relativas ao deslocamento
das pessoas e os espaços urbanos, visando toda a infraestrutura de deslocamento no coti-
diano, influenciando nos diversos meios de locomoção e transporte, como a pé, de bicicleta,
automóvel, ônibus, trem e metrô, públicos e privados (PORTUGAL; LOYOLA, 2014). No es-
tudo de Giehl et al., (2012) a importância da presença de calçadas, ruas e demais espaços
públicos de boa qualidade, enfatizam a possibilidade para um deslocamento mais eficaz e
criam um ambiente propício até para a prática de atividade física.
O pesquisador Lawton (1977; 1983), muito citado em estudos, enfatiza a importância
do ambiente e de seus fatores multidimensional, referenciados a critérios intrapessoais e a
critérios sócios normativos comportamentais, sobre a qualidade de vida e o bem-estar inter-
ligando sobre o sistema pessoa-ambiente, e a forma na qual o indivíduo tem competência
para lidar com a combinação de estresse e adaptações ambientais. Estas adaptações ao
ambiente permitem significados e afetos relacionados a vínculos sociais em torno da vida
cotidiana e do ambiente que se vive, permitindo acessibilidade, independência, mobilidade
e relações sociais (SCHEIDT et al., 2006; LIMA, 2011). Estes aspectos são preocupantes
para a assistência e planejamento público, pois não é percebido evolução no planejamento
de um ambiente mais acessível, mesmo frente ao fenômeno do envelhecimento populacional
(GRANBOM et al., 2016).
Visando a carência de atenção aos aspectos ambientais que se encontram os idosos
e na mobilidade que afeta as suas atividades do cotidiano e o seu estado de saúde, torna-
-se uma preocupação para a sociedade e para as políticas públicas, desta forma o objetivo
deste estudo foi demonstrar através de uma revisão bibliográfica a influência do ambiente
na mobilidade de idosos.

METODOLOGIA

Utilizou-se como metodologia a revisão bibliográfica que consiste na procura de refe-


rências teóricas para análise do problema de pesquisa e a partir das referências publicadas
fazer as contribuições científicas ao assunto em questão (LIBERALI, 2011). A estruturação

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da revisão foi baseada nas seguintes etapas: identificação do tema e definição; definição dos
critérios de inclusão e exclusão de artigos; definição das informações a serem extraídas dos
estudos selecionados; leitura na íntegra dos estudos selecionados e análise; interpretação
e discussão dos artigos; e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A pesquisa foi realizada nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PUBMED) e a Scientific Electronic
Library Online (Scielo). Como estratégia de busca em cada uma das bases, envolveu-se a
utilização de palavras-chave na língua portuguesa: "ambiente" OR "ambiente construído"
AND "mobilidade" AND "idosos" OR "envelhecimento".
Os critérios de inclusão utilizados para compor a pesquisa de revisão dos artigos foram:
a) estudos em língua portuguesa; b) estudos com população acima de 60 anos; c) estudos
que identificaram de alguma forma os temas relacionados às palavras pesquisadas; d) estu-
dos publicados no período de 2014 a 2019. Ao longo da pesquisa foram excluídos os artigos
cujo ambiente estava associado à outra patologia, desta forma não sendo possível determinar
de maneira independente os resultados; artigos de revisão sistemática e artigos duplicados.

RESULTADOS

A presente revisão identificou no total 78 artigos potencialmente relevante, dos artigos


listados tiveram seus resumos lidos e, após a aplicação dos critérios de inclusão, os resumos
foram selecionados para leitura do texto completo. A leitura dos artigos na íntegra permitiu
um maior entendimento das informações, de forma que foram filtrados novamente excluindo
os artigos que não abordavam o ambiente e mobilidade, restando seis artigos para compor o
corpus documental desta revisão. As informações relacionadas a este processo de seleção
de artigos estão sumarizados na figura abaixo.

Figura 1. Organograma de estratégia metodológica.

Fonte: autoras

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O quadro 1 (abaixo) apresenta o perfil dos artigos inseridos nestes estudo e as in-
formações mais relevantes. Observa-se que dos seis artigos selecionados, dois estavam
diretamente relacionados aos meios de locomoção, dois tratavam da mobilidade e do am-
biente nas instituições de longa permanência, um estudo de coorte, relata a realidade de
uma comunidade e o espaço, e um estudo que aborda a relação dos idosos com os espaços
públicos de uma cidade.

Quadro 1. Resultados da pesquisa bibliográfica

Artigo Autores e ano Tamanho da amostra (N) Tipo estudo Relevância

Sete (54,0%) referiram dificul-


dades para dirigir, dos quais 5
(71,4%) apresentavam dificul-
Programa de orientação
dades decorrentes da intera-
com ênfase em práticas N=13 idosos (idade Pesquisa de-intervenção
ALMEIDA et al., 2016 ção com o ambiente; 3 idosos
de autocuidado para entre 62 a 82 anos) (entrevista; grupo focal)
(42,9%), com dificuldade emo-
motoristas idosos
cional e 3 (42,9%) obtiveram
dificuldades físicas, sensoriais
e/ou cognitivas.
O conhecimento da bicicleta é
fundamental para a promoção
eficaz de sua utilização em
espaço urbano, para a qual o
A cidade e a bicicleta:
Dados populacionais- planeamento regional e urba-
uma leitura analítica VALE, 2016 Pesquisa documental
portugues no tem um papel fundamental,
VALE, 2016
igualmente ou mesmo superior
ao papel do planeamento de
transportes. A fim de estimular
a prática física.
O efeito de período foi o mais
Efeito da idade, período
importante para as três dimen-
e coorte de nascimento
sões da incapacidade, com au-
na incapacidade de
mento da prevalência no início
idosos residentes na SILVA et al., 2019 N=1,606 idosos Estudo de coorte
do período, seguida de redu-
comunidade: Coorte
ção ao longo do tempo, com
de Idosos de Bambuí
pequenas diferenças em rela-
(1997-2012).
ção ao sexo e a escolaridade.
Para a mobilidade, foi possí-
vel identificar que a maioria
Avaliação do déficit
N= 34 idosos (17 institu- dos idosos institucionalizados
cognitivo, mobilidade e CARNEIRO; VILELA; Estudo transversal de
cio- nalizados e 17 não e não institucionalizados são
atividades da vida diária MEIRA, 2016 abordagem quantitativa
institucio- nalizados independentes sendo essas
entre idosos
diferenças não significativas
(p=0,0210).
O ambiente construído envol-
Ambiente construído,
vente disponibilizar as condi-
saúde pública e políticas
N= 88 idosos (MI= 75 ções suficientes (em termos de
públicas: uma discussão SANTINHA; MAR-
anos) de 11 Instituições Estudo transveral atividades/serviços e acessibili-
à luz de percepções e QUES, 2015
de Longa Permanência. dade) a predisposição dos ido-
experiências de idosos
sos institucionalizados para sair
institucionalizados
é, de uma forma geral, elevada.

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A percepção de dificuldades,
como poucos bancos, falta de
faixas de segurança, tempo
de sinal muito curto para pe-
Percepção dos idosos
destres, degraus muito altos
jovens e longevos Estudo de base popu-
N= 6913 idosos de 59 e mau cheiro dos banheiros
gaúchos quanto aos NAVARRO et al., 2015 lacional, observacional,
cidades. públicos, foi maior entre os ido-
espaços públicos em descritivo e retrospectivo
sos jovens. Os idosos longe-
que vivem
vos perceberam menos esses
fatores, porém, destacaram
menor frequência nos ambien-
tes comunitários.

Fonte: Autoras

CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS

Nos resultados dos estudos trouxeram três vertentes, percebidas através das institui-
ções de longa permanência; preocupação em relação às quedas e a capacidade funcional e;
espaços, transportes e locomoção, correlatados nos desafios ambientais e o envelhecimento.
A perda da capacidade funcional apresenta-se como um dos fatores relevantes na
relação com o ambiente e a mobilidade de idosos, gerando dependência, aumento do medo
e risco de quedas, barreiras na mobilidade provocando complicações ao longo do tempo,
institucionalização, ocasionando o aumento de cuidados e alto custo para os serviços de
saúde, além da morte (CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016). No estudo dos mesmos auto-
res sobre instituições de longa permanência com 34 idosos (17 institucionalizados e 17 não
institucionalizados) foi possível verificar que 88,24% dos idosos institucionalizados são inde-
pendentes contrapondo aos 70,59% não institucionalizados que apresentam esta condição,
no entanto, não ocorreram diferenças significativas entre a mobilidade e a moradia. Neste
estudo, apesar dos idosos institucionalizados aparentemente possuírem independência, po-
dem desenvolver ao longo de sua estadia diferentes graus de dependência, devido a falta de
motivação, encorajamento e estímulo, característicos dos ambientes asilares (CARNEIRO;
VILELA; MEIRA, 2016).
Em um outro estudo com 11 instituições (Centro-dia e Instituições de Longa permanên-
cia) foram entrevistados 88 idosos de cada instituição, sobre os cinco critérios de mobilidade:
conectividade (transporte público); convivência (caminhos a pé); conforto (deslocamento
pleno e agradável, sensação de calma e acolhimento, mobiliário de descanso); legibilidade
(percursos fáceis e locais de fáceis de encontrar) e convivência (locais atrativos e espaços,
integração social, culturais e riquezas arquitetônicas), estes cinco critérios produzem um
resultado na mobilidade, participação social, qualidade de vida e ambiente urbano, fatores

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relevantes para as políticas públicas de cuidado e acolhimento (SANTINHA; MARQUES, 2015).
Em um estudo brasileiro, Silva et al., (2019) apresentam o estudo de coorte em ido-
sos de Bambuí, no período de 1997-2012, as taxas de perda da mobilidade variaram de
acordo com o aumento da idade, apresentaram 35% na faixa etária de 60 a 62 anos de
idade evoluindo para até 95% entre idosos com idade superior a 102 anos, correlacionando
a mobilidade diretamente ao declínio funcional e a importância de um ambiente adequado
para a execução das atividades diárias e locomoção. A incapacidade nas três dimensões
consideradas, mobilidade, atividades básicas de vida diária e atividades instrumentais de
vida diária, indicam a importância do investimento em saúde nas políticas e programas para
o público idoso (SILVA et al., 2019).
Outro fator alarmante para a saúde pública são as preocupações com as quedas, que
estão diretamente relacionada a perda do nível funcional, a perda de equilíbrio, velocidade da
marcha e ao baixo nível de mobilidade (CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016), no estudo com
idosos portugueses foram abordados os receios de sofrerem quedas, devido a diminuição
da mobilidade, perda de equilíbrio e capacidade funcional (SANTINHA; MARQUES, 2015).
Desta forma, se faz importante o surgimento de estratégias para estimular a mobilidade e
as atividades de vida diária entre os idosos (CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016).
Em um estudo o discurso abordado pela maioria dos idosos são as saídas das institui-
ções, para passeios a cafés ou lugares verdes, mas não apresentaram interesse na saída
para a prática de atividade física, no entanto, outros idosos declararam que não viam a
necessidade de se ausentar da instituição, pois o local supria toda as suas necessidades,
podendo ser também justificado pela opinião positiva ao local do estabelecimento, pois a
maioria residia próximo ao local, levando ao aumento da motivação para institucionalização,
ponto de vista positivo geograficamente (SANTINHA; MARQUES, 2015).
O interesse de sair do local onde reside foi apontado no estudo sobre a percepção dos
idosos jovens (60 a 79 anos) e longevos (acima 80 anos) gaúchos, totalizando 6913 entre-
vistados em 59 cidades gaúchas, destes 1378 entrevistados relataram a falta de segurança
como a maior barreira que dificulta a sua saída de casa. A segunda barreira relatada foi a
dificuldade de locomoção, principalmente entre os mais velhos, seguido de falta de motivação,
falta de companhia e dificuldade com o transporte público, sugerindo que o grupo de longevos
apresentam menor mobilidade devido a maiores limitações físicas (NAVARRO et al., 2015).
No estudo de Almeida et al., (2016) com um grupo de idosos, identificaram à influência
de fatores internos (pessoa) e externos (ambiente), sobre a relação do meio de transporte e
a direção veicular, 71,4% dos idosos entrevistados apontaram a interação com o ambiente
um fator de dificuldade ao dirigir. O ato de dirigir exige do idoso multi habilidades, além de
experiência, responsabilidade e discernimento, exige a capacidade de julgar habilidades, se

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adaptar às dificuldades, identificar previamente as alterações de circunstâncias ambientais
favoráveis e tomada de decisão
Deste modo perceberam a importância das orientações/educação perante as condições
relativas ao ambiente físico e social, como a deficiência dos mecanismos de educação no
trânsito, fiscalização e punição às infrações. Ambas mudanças favorecem a mobilidade dos
motoristas e pedestres, para se manter sempre uma direção segura pelo maior tempo possível,
já que muitas vezes são agravados pelo processo de envelhecimento (ALMEIDA et al., 2016).
O meio de transporte apresentado no estudo de Vale (2016) foi a bicicleta, este meio
além de promover benefícios à saúde física e mental, é uma ferramenta de mobilidade urba-
na, muitas vezes utilizada por idosos devido a ser um meio de transporte eficaz, econômico
e de fácil manuseio sendo uma solução importante de acessibilidade para o deslocamento
urbano. Apesar do idoso apresentar uma velocidade inferior a um adulto, 6-8 km/h, em fun-
ção da idade, as condições ambientais influenciam diretamente a sua prática em relação
ao clima, tempo e atratividade cênica da paisagem dificultando ou favorecendo o seu uso
para locomoção.
A utilização deste meio de transporte, a bicicleta, proporciona benefícios coletivos, pela
redução de poluentes, redução de poluição sonora e de espaço físico, favorecendo a aceitação
do encerramento da carteira de habilitação, promovendo bem-estar psicológico, socialização,
independência e melhora da saúde física (ALMEIDA et al., 2016; VALE, 2016). Assim o idoso
se torna um dos fatores relevantes para as alterações de acessibilidade e mobilidade nas
cidades, justificando o acréscimo de ciclovias urbanas, para segurança, visto que os idosos e
as crianças são os grupos mais vulneráveis a acidentes de trânsito (VALE, 2016).
Em relação a mobilidade e o ambiente, os idosos institucionalizados ao tratar do des-
locamento das instituições a pontos de referência foram classificados por dois níveis: no
primeiro nível (distância do estabelecimento de 400/500 metros) metade dos idosos en-
contravam áreas de lazer e consultórios; no nível dois (800m a 1 km) mais da metade dos
idosos encontravam cafés, restaurantes, mercearias, áreas verdes e de lazer, e três quar-
tos encontravam igrejas (SANTINHA; MARQUES, 2015). Nesse mesmo estudo, os idosos
afirmaram que procuravam realizar atividades que possuíam curtas distâncias, ou no caso
de longas distâncias tinham a preocupação desses locais possuírem assentos/bancos e
caminhos com menos barreiras arquitetônicas, apresentaram também o desapontamento ao
utilizarem transporte público, devido a baixa mobilidade física, acesso irregular nos carros,
a escassez de veículos, a própria inexperiência para utilizá-los e a reduzida sensibilidade
por parte da população geral para com as pessoas idosas (SANTINHA; MARQUES, 2015).
Assim preferiam realizar as atividades a pé, mesmo encontrando obstáculos, pelo mau
funcionamento e precária estrutura física nas passarelas, ou até mesmo pela sua ausência,

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situações que poderiam contribuir para o aumento dos casos de acidentes (SANTINHA;
MARQUES, 2015). A desatenção ao pedestre e acesso às vias públicas foi uma queixa em
estudo de Santinha e Marques (2015), neste 1181 idosos jovens e 149 longevos relataram
que os automóveis não priorizavam os pedestres e se sentiam inseguros com a falta de
faixas de segurança para pedestres, pelas calçadas não adaptadas e falta de sinalização.
Como visto no estudo de Navarro et al., (2015) a preocupação e a insegurança com
os ambientes públicos surgiu em 26,1% dos entrevistados, o relato de poucos bancos e má
conservação dos mobiliários também foi uma preocupação entre 19,6% dos idosos, relataram
o descaso dos locais (sujeira, sem limpeza) e baixa iluminação, não havendo diferença esta-
tística significativa em relação aos grupos de idosos. A percepção de todas essas dificuldades
foram mais percebidas pelos idosos jovens, porém, para os idosos mais longevos não teve
grande influência sobre eles, pois frequentavam menos ambientes coletivos e comunitários.
A maioria dos estudos enfatizaram que nos ambientes externos e domiciliares, ins-
tituições e órgãos públicos necessitam repensar as estruturas asilares e das cidades nas
questões socioeducativas tornando os espaço acolhedores, melhorando a sua estrutura
física, com estratégias de autonomia, proteção, motivação, encorajamento e acessibilida-
de, favorecendo a uma maior independência, mobilidade e saúde aos idosos (SANTINHA,
MARQUES, 2015; CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016; VALE, 2016; ALMEIDA et al., 2016)
para que suas interações cotidianas sejam ampliadas e assim seja garantido o direito ao
envelhecimento ativo.
A presente revisão bibliográfica apresentou algumas limitações: a delimitação do idioma
em língua portuguesa, a utilização de apenas três bancos de dados; a exclusão de disserta-
ções e teses e a escassez de produções sobre o tema, restringindo a literatura para análise
e discussão da temática. O objetivo do estudo foi demonstrar a influência do ambiente na
mobilidade de idosos, por ser um tema novo a maioria dos estudos se basearam na capaci-
dade funcional de realizar as atividades de vida diária dentro dos ambientes, na locomoção
urbana, diante seus desafios perante a segurança e o medo de quedas em ambientes não
adaptados para o envelhecimento.

CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou relacionar o ambiente e a mobilidade de idosos, retratando


a realidade através de abordagens diferenciadas e diversificadas. A mobilidade por ser a
capacidade de se movimentar pode ser influenciada pelas dificuldades físicas, psicológicas e
sociais, ocasionando ao idoso o isolamento social, dependência e incapacidades funcionais,
desta forma, o ambiente se torna o local, a nível residencial e externo, determinante para a
motivação e interesse do idoso para se locomover e se integrar na sociedade.

114 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Há necessidade de mais discussões sobre o tema, abrangendo o idoso como um dos
pilares da sociedade para definição de estratégias de mobilidade urbana e de políticas pú-
blicas, com o intuito de promover soluções e medidas de prevenção em saúde, necessárias
para o declínio da utilização intermitente dos serviços pela população idosa, facilitando a
mobilidade física e a construção de um ambiente acolhedor e urbanamente funcional para
a longevidade populacional.

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