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SEMIOLOGIA

FISIOTERAPÊUTICA

Isadora Rebolho Sisto


Avaliação nos diferentes
ciclos da vida: adultos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as formas de avaliação para determinar a funcionalidade


na fase adulta em situações de normalidade.
 Reconhecer os instrumentos e as metodologias de avaliação do mo-
vimento humano em adultos.
 Relacionar os instrumentos e equipamentos utilizados em adultos
aos objetivos fisioterapêuticos e funcionais.

Introdução
O conceito de capacidade funcional (CF) pode ser definido como a
eficiência do adulto e/ou idoso corresponder às demandas físicas do
cotidiano, o que compreende desde as atividades básicas para uma vida
independente até as ações mais complexas da rotina diária.
Na velhice, é possível observar baixos níveis de CF, principalmente de-
vido à depreciação das funções físicas, como a diminuição da função dos
sistemas osteomuscular, cardiorrespiratório e nervoso, situação que pode
impedir os idosos de realizar suas atividades cotidianas com eficiência.
A avaliação do nível de CF dos idosos pode balizar as intervenções
direcionadas a essa população, pois é um ponto fundamental para deter-
minar o risco de dependência futura, de complicação ou instauração de
doenças crônicas, de probabilidade de quedas e de índices de morbidade
e mortalidade.
Tendo em vista que o desempenho nas atividades do cotidiano é
determinado pela integração de diversas capacidades e habilidades
físicas, a Fisioterapia dispõe de testes físicos que são utilizados como
importantes ferramentas para determinar o perfil funcional do idoso, pois,
além de permitirem a predição de possíveis alterações longitudinais da
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CF, podem ser utilizados para avaliar o efeito de intervenções com base
em programas de exercícios.
Neste capítulo, você vai identificar as formas de avaliação para de-
terminar a funcionalidade na fase adulta em situações de normalidade,
reconhecer os instrumentos e as metodologias de avaliação do movi-
mento humano em adultos e relacionar os instrumentos e equipamentos
utilizados em adultos aos objetivos fisioterapêuticos e funcionais.

Formas de avaliação para determinar a


funcionalidade na fase adulta
Funcionalidade humana, de acordo com a Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), da Organização Mundial de
Saúde (OMS), é um termo macro que designa os elementos do corpo, suas
funções e estruturas, as atividades humanas e a participação do ser humano
nos processos sociais, indicando os aspectos positivos da interação dos indi-
víduos com determinada condição de saúde e com o contexto em que ele vive
no que diz respeito aos fatores pessoais e ambientais (estruturais e atitudinais)
(BUCHALLA, 2003).
Pode-se dizer que a funcionalidade humana resulta da inter-relação com-
plexa entre corpo, comportamento e sociedade. Conhecer a funcionalidade
humana depende da articulação de vários saberes, pois significa, sobretudo,
compreender a pessoa inserida em um ambiente com suas múltiplas dimensões,
no qual a atividade humana é afetada pela interação com as propriedades dos
vários ambientes. A funcionalidade é definida como a capacidade de o indivíduo
se adaptar aos problemas de todos os dias, apesar de ter uma incapacidade
física, mental e/ou social (APÓSTOLO, 2012).
A CF é conceituada como a eficiência do idoso corresponder às demandas
físicas do cotidiano, o que compreende desde as atividades básicas para uma
vida independente até as ações mais complexas da rotina diária (FECHINE;
TROMPIERI, 2012).
A avaliação da CF é o método de descrever as habilidades e limitações
no desempenho de tarefas necessárias na vida diária, de atividades de lazer e
ocupacionais, bem como as interações sociais, focando na função motora do
indivíduo (FREITAS; PY, 2011).
O estado funcional, além de ser um indicador do estado de saúde, é um
ótimo indicador de previsão dos custos e recursos dos cuidados de saúde. A
funcionalidade e a incapacidade de uma pessoa são concebidas como uma
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interação dinâmica entre os estados de saúde (p. ex., doenças, perturbações,


lesões, traumas) e os fatores contextuais. A CIF foi criada, pela OMS, classificar
a funcionalidade. Os indicadores de incapacidade, nomeadamente os de limi-
tação de atividade e os de limitação de CF, permitem definir, posteriormente,
necessidades de cuidados de saúde (LOPES et al., 2013).
A CIF contém os domínios da saúde e os domínios relacionados a esta.
Além disso, ela também relaciona os fatores ambientais que interagem com
todos esses construtos (Figura 1) (DI NUBILA; BUCHALLA, 2008).

Estado de saúde
(distúrbio ou doença)

Funções e
Atividade Participação
estruturas corporais

Fatores Fatores
ambientais pessoais
Fatores contextuais

Figura 1. CIF, 2008.


Fonte: Adaptada de Di Nubila e Buchalla (2008).

A Fisioterapia é uma das principais áreas que vem tentando usar a CIF em todo
mundo, principalmente pela necessidade de se unificar a linguagem diagnóstica
desses profissionais. No entanto, no Brasil, os fisioterapeutas têm pouco contato com
a classificação, sendo que uma parte desses profissionais conhece apenas o modelo
de funcionalidade que ela propõe.
A CIF é formada por categorias e suas subdivisões, ou construtos, de diversas di-
mensões, incluindo as partes do corpo. Ela abrange a funcionalidade como atividade
e participação, ou seja, o que o ser humano pode fazer em diferentes situações ou
sob a influência de diferentes ambientes, por exemplo.
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A cada categoria ou construto, relaciona-se um conjunto que deve ser completado


por qualificadores — números que indicam a magnitude de um problema dentro de
uma categoria específica. De forma geral, o usuário deve selecionar as categorias e os
qualificadores que identificam e expressam cada caso. A classificação deve ser feita
com base no modelo multidirecional de funcionalidade, o qual integra as diferentes
dimensões, estabelecendo relações entre o ambiente, o desempenho das atividades
e a participação social.

Instrumentos e metodologias de avaliação do


movimento humano em adultos
O envelhecimento é um fenômeno natural que tem grande repercussão na
população. Isso porque ele está relacionado ao aumento de doenças crônicas e
síndromes geriátricas, podendo levar à redução da expectativa de vida saudável
e prejudicar a autonomia e a independência funcional do idoso (FREITAS
et al., 2016).
A CF deve guiar o cuidado ao idoso, levando em consideração os conceitos
de autonomia e independência. A autonomia é a capacidade individual de deci-
são e de comando sobre suas ações, enquanto a independência é a capacidade
de realizar atividades sem auxílio (SANTOS; GRIEP, 2013).
O comprometimento da CF do idoso tem implicações importantes para
a família, a comunidade, o sistema de saúde e para a vida do próprio idoso,
haja vista que a incapacidade ocasiona maior vulnerabilidade e dependência
na velhice, contribuindo para a diminuição do bem-estar e da qualidade de
vida dessas pessoas.
A tendência atual é que o número crescente de indivíduos idosos apresente
uma sobrevida maior e com mais condições crônicas, além de haver aumento
no número de doenças crônicas diretamente relacionado à diminuição da CF
(ALVES et al., 2007).
É de extrema importância avaliar a CF dos pacientes e idosos, incluindo
capacidade aeróbica, teste de força, mobilidade funcional e flexibilidade.

Capacidade aeróbica: teste de caminhada de 6 minutos


e Escala de Borg
O teste que avalia a capacidade aeróbica é o teste de caminhada de 6 minutos
(TC6). Ele mensura a distância máxima que pode ser percorrida em uma
caminhada durante 6 min, ao longo de um percurso de 30 m de comprimento.
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Esse teste deve ser realizado em um corredor de linha reta e a distância deve
ser sinalizada a cada 3 m. O participante deverá ser previamente orientado
a vestir roupas confortáveis e calçados adequados para caminhada. O teste
deve ocorrer pelo menos 2 h após as refeições, sendo que, nesse período, o
participante não pode ter praticado exercício físico rigoroso.
Para a realização do teste, o participante deverá ter um repouso de, no
mínimo, 10 min. Durante esse tempo, serão avaliadas as contraindicações
absolutas (angina instável, infarto agudo do miocárdio recente) e relativas
(pressão arterial acima de 180 × 100 mmHg e frequência cardíaca de repouso
maior que 120 bpm) do teste.
Depois do TC6, é aplicada a Escala de Borg (Figura 2), que é uma escala
de 10 pontos, na qual cada número corresponde a uma intensidade de falta de
ar, indo desde nenhuma falta de ar até falta de ar máxima (ATS COMMIT-
TEE ON PROFICIENCY STANDARDS FOR CLINICAL PULMONARY
FUNCTION LABORATORIES, 2002).

0 Nada mesmo

0,5 Muito, muito leve (apenas perceptível)

1 Muito ligeira

2 Ligeiro (leve)

3 Moderado

4 Um pouco severo

5 Grave (pesado)

7 Muito severo

10 Muito, muito grave (máximo)

Figura 2. Escala de Borg.


Fonte: Adaptada de ATS Committee on Proficiency Standards for Clinical Pulmonary Function Labo-
ratories (2002). 
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Os participantes devem ser treinados antes da realização do teste e realizá-


-lo uma única vez, com um intervalo de 15 min entre o término do treino e
o teste propriamente dito. O teste deve ser interrompido caso o participante
relate dores em membros inferiores, taquicardia, dispneia ou qualquer outro
desconforto (ATS COMMITTEE ON PROFICIENCY STANDARDS FOR
CLINICAL PULMONARY FUNCTION LABORATORIES, 2002).
Ao término do teste, novamente deve ser realizada a aferição de pressão
arterial, frequência cardíaca e oximetria e aplicada a Escala de Borg. Para
análise, é utilizada a Equação de Enright e Sherril (1998). Os autores sugerem
a distância caminhada esperada durante o teste de acordo com o gênero, o
peso, a altura e a idade do participante (Quadro 1).

Quadro 1. Equações de referência para predição da distância no TC6 segundo Enright e


Sherrill (1998)

Homens Mulheres

DP = (7,57 × altura cm) – (5,02 × idade) – DP = (2,11 × altura cm) – (2,29 × peso Kg)
(1,76 × peso Kg) – 309 m – (5,78 × idade) + 667 m
Subtrair 153 m para obter o limite inferior Subtrair 139 m para obter o limite inferior
de normalidade de normalidade

DP, distância prevista.

Fonte: Adaptado de Enright (2003).

Teste de força de membros superiores (dinamômetro


de mão)
A avaliação da força muscular dos membros superiores pode ser avaliada
com um dinamômetro de mão com graduação em escala quilograma-força
(kgf). Para realizar o teste, o paciente deve ficar sentado confortavelmente em
uma cadeira sem braços, com os pés apoiados no chão e o quadril e o joelho
posicionados a aproximadamente 90° de flexão.
O ombro do membro testado deve estar em adução e rotação neutra, o
cotovelo em flexão de 90°, o antebraço na posição neutra e o punho entre 0
e 30° de extensão e entre 0 a 15° de adução. A mão do membro não testado
deve repousar sobre a coxa do mesmo lado. O teste de preensão palmar deve
ser realizado bilateralmente. O paciente deve apertar a alça do aparelho três
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vezes com cada uma das mãos, sendo registrado o maior valor obtido (BO-
HANNON, 2008; GALE et al., 2007).

Teste de força de membros inferiores: teste de sentar e


levantar da cadeira
A força dos membros inferiores pode ser mensurada por meio do teste de
sentar e levantar da cadeira em 30 s ou 10 repetições (TSL-10).
O teste de 30 s começa com o paciente sentado em uma cadeira, com
as costas encostadas e os pés afastados, conforme a largura dos ombros, e
totalmente apoiados no solo. Os membros superiores devem estar cruzados
no nível dos punhos e contra o peito.
Ao sinal de partida, o paciente deve se levantar e se sentar o máximo de
vezes em um intervalo de tempo de 30 s. A pontuação será obtida pelo número
total de execuções corretas durante 30 s. Caso o paciente esteja no meio da
elevação no final dos 30 s, esta será considerada como uma elevação completa
(Quadro 2) (MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2001; RICKLI; JONES, 2008).
Outra variação do TSL-10 se trata de uma medida indireta, a qual tem
sido recomendada para quantificar a força muscular dos membros inferiores
(BRODIN; LJUNGMAN; SUNNERHAGEN, 2008). Esse teste é realizado
em uma cadeira sem braços, com 44,5 cm de altura e 38 cm de profundidade
(CHO; SCARPACE; ALEXANDER, 2004). O paciente iniciará o teste sentado
com os braços cruzados à frente do tórax e as costas apoiadas na cadeira. Ele
será então orientado a se levantar e retornar para a posição sentada o mais
rápido possível até realizar 10 repetições completas e consecutivas, recebendo
encorajamento verbal para isso (WHITNEY et al., 2005).
O tempo (em segundos) necessário para realizar as 10 repetições, bem
como a percepção subjetiva de esforço avaliada pela Escala de Borg, será
cronometrado e registrado pelo avaliador. Antes e depois do teste, deverão ser
verificadas a pressão arterial e a frequência cardíaca para garantir a segurança
do paciente (SEGURA-ORTÍ; MARTÍNEZ-OLMOS, 2011).
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Quadro 2. Valores de referência para o TSL-10

Idade 60–64 65–69 70–74 75–79 80–84 85–89 90–94

Feminino 12–17 11–16 10–15 10–15 9–14 8–13 4–11

Masculino 14–19 12–18 12–17 11–17 10–15 8–14 7–12

Fonte: Adaptado de Rickli e Jones (2008).

Teste de mobilidade funcional: Timed up and go


A mobilidade funcional pode ser avaliada por meio do teste Timed up and go
(TUG). Ele deve ser realizado com o paciente sentado em uma cadeira, com
os pés totalmente apoiados no solo. O paciente deve então levantar de uma
cadeira sem ajuda dos braços, caminhar por 3 m, voltar e se sentar novamente.
O avaliador deverá iniciar o cronômetro ao sinal de partida, quer a pessoa tenha
ou não iniciado o movimento, e pará-lo no momento exato em que a pessoa se
sentar, com isso, o resultado do teste será obtido em segundos.
Tais manobras ajudam na avaliação do equilíbrio sentado e durante a
marcha e a avaliar como o paciente realiza a transferência (BOHANNON;
SCHAUBERT, 2005; THRANE; JOAKIMSEN; THORNQUIST, 2007).
A instabilidade postural é frequente nos idosos e tem como complicações
as quedas e a imobilidade. As quedas ocorrem em 30% dos idosos, os quais
apresentam alta taxa de recorrência e constituem a sexta maior causa de mortes
em idosos. As quedas têm causa multifatorial e devem ser prontamente inves-
tigadas. O teste mais utilizado para avaliar a marcha é o TUG (PODSIADLO;
RICHARDSON, 1991).
Deve-se pedir que o paciente se levante da cadeira, sem ajuda dos braços,
ande 3 m, retorne e se sente. Enquanto ele realiza essa tarefa, o fisioterapeuta
deverá observar seu percurso e contar o tempo gasto com essa ação. Serão
consideradas anormais as situações em que o paciente não levantar e não
andar, assim como aquelas em que o idoso gastar mais de 12 s para realizar
a tarefa (Quadro 3).
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Quadro 3. Valores de referência para o teste TUG

Resultado

Avaliação Indivíduos Indivíduos Indivíduos


normais e independentes dependentes
independentes em transferências na maioria das
básicas atividades de
vida diária e
com perda de
mobilidade

Tempo para Menos de 10 s Menos de 20 s Mais de 30 s


completar o teste

Fonte: Adaptado de Podsiadlo e Richardson (1991).

Teste de flexibilidade de membros superiores: teste de


alcançar atrás das costas
Para a flexibilidade dos membros superiores, utiliza-se o teste de alcançar atrás
das costas. Nesse teste, o idoso deverá colocar a mão sobre o mesmo ombro,
com a palma aberta e os dedos estendidos, alcançando o meio das costas o
máximo que conseguir (cúbito apontado para cima). A mão do outro braço
estará colocada atrás das costas, com a palma para cima, subindo tanto quanto
for possível na tentativa de tocar ou sobrepor os dedos médios estendidos de
ambas as mãos.
Sem mover as mãos do paciente, o avaliador deve ajudar a verificar se os
dedos médios das mãos estão direcionados uns aos outros (RICKLI; JONES,
2008).
Devem ser avaliados os dois lados. Não será permitido que o avaliado
reposicione ou tente unir as mãos após a primeira tentativa. A distância da
sobreposição, ou a distância entre as pontas dos dedos médios, será medida com
uma régua. Os resultados negativos (–) representam a distância mais curta entre
os dedos médios, enquanto os resultados positivos (+) representam a medida
da sobreposição dos dedos médios. Serão registradas as duas medidas e o
melhor valor será usado para medir o desempenho (RICKLI; JONES, 2008).
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Teste de flexibilidade de membros inferiores: teste de


sentar e alcançar com Banco de Wells
A flexibilidade dos membros inferiores deve ser avaliada pelo teste de sentar e
alcançar (TSA) com Banco de Wells. O teste começa com o paciente sentado
em cima de um tablado neurológico (para que não precise sentar no chão),
com os joelhos estendidos e os pés tocando a base inicial do Banco de Wells.
Um dos testes mais utilizados para esse fim é o TSA, proposto por Wells
e Dillon, em 1952, o qual, devido à sua fácil aplicação e ao baixo custo ope-
racional, é recomendado e utilizado pelas principais baterias de testes já
padronizadas em todo o mundo (WELLS; DILLON, 1952).
Os resultados do TSA permitem avaliações com base em tabelas normativas
pré-elaboradas conforme o gênero e a idade (AMERICAN COLLEGE OF
SPORTS MEDICINE, 1995), porém, em sua grande maioria, elas se baseiam
em populações canadenses ou americanas, havendo, na literatura, carência de
dados que permitam a construção de tabelas normativas para outras populações,
inclusive a brasileira, uma vez que a flexibilidade é determinada, entre outros
fatores, pela etnia e a genética (BEIGHTON; SOLOMON; SOSKOLNE, 1973).
O paciente irá realizar uma flexão de tronco com os membros superio-
res estendidos e as mãos sobrepostas. O teste deve ser realizado três vezes,
registrando-se o maior valor alcançado ao final do movimento.
A partir desses dados, foi elaborada uma nova tabela de classificação para o
TSA, seguindo os mesmos critérios estabelecidos pela classificação canadense,
isto é, foram calculados os percentis divididos em cinco categorias: fraco (até
20º percentil), abaixo da média (25 a 40º), média (45 a 60º), acima da média
(65 a 80º) e excelente (acima de 85º).

Fazer o TC6 é um bom meio de descobrir as capacidades respiratória, cardíaca e meta-


bólica de uma pessoa com alguma alteração, como insuficiência cardíaca ou doença
pulmonar obstrutiva crônica, ou que fez uma cirurgia no coração ou no pulmão, por
exemplo. O principal objetivo do teste é verificar a distância que a pessoa consegue
caminhar durante seis minutos seguidos.
Para avaliar as funções cardíaca e respiratória, devem ser medidas a frequência
cardíaca e a pressão arterial antes e depois do teste ser realizado. 
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Relação entre os instrumentos e equipamentos


utilizados em adultos e os objetivos
fisioterapêuticos e funcionais
A diminuição da CF limita a independência de adultos e idosos na execução
das atividades de vida diária, reduz a qualidade de vida e confere altos riscos
para mortalidade, dependência, institucionalização, hospitalização e cuidados.
Os fatores mais fortemente associados à CF estão relacionados com a
idade, a presença de algumas doenças, as deficiências e os problemas médicos
(ROSA et al., 2003).
Sabe-se que tanto as doenças físicas quanto as mentais podem levar à
dependência, à diminuição da CF e até mesmo à perda da autonomia. Além
disso, convém ressaltar que há maior prevalência de incapacidade e dependência
funcional em idosos do sexo feminino, sendo este um forte determinante de
dependência (FIRED; GURALNIK, 1997).
Esse aspecto está intimamente relacionado à redução da massa muscular
decorrente do envelhecimento, até mesmo em idosas sem doenças crônicas
(SILVA et al., 2006). Além deste, o declínio fisiológico de outros componentes
da função motora constitui um dos fatores mais significativos da dependência
funcional (GUCCIONE, 1992). O fato de idosas sem doenças prévias apre-
sentarem maior expectativa de vida corrobora com a maior possibilidade de
estas desenvolverem doenças crônicas que incapacitam ou contribuem para
a diminuição da CF (ROSA et al., 2003).
A principal meta no cuidado é a manutenção da independência e da au-
tonomia do indivíduo. A manutenção da qualidade de vida está intimamente
vinculada à autonomia e à independência, as quais são excelentes indicadores
de saúde para a população.
Um modelo de atenção à saúde centrado na avaliação da CF deve ser,
portanto, o exemplo a ser praticado em relação à atenção à saúde da população.
Nesse contexto, o estabelecimento de prioridades e ações de saúde, principal-
mente em geriatria, deve nortear as novas políticas de saúde (VERAS, 2002).
A Fisioterapia é a área da saúde que aplica e utiliza medidas de avaliação
da CF de forma mais precisa. Essas medidas, descritas anteriormente, têm sido
amplamente utilizadas em pesquisas epidemiológicas sobre envelhecimento
e na avaliação individual do paciente na prática clínica diária.
Além de poder avaliar um grande número de habilidades e predizer alguns
achados, como quedas, admissão em instituições de cuidado e risco de morte,
uma das principais razões para a grande utilização de medidas de desempenho
funcional é que, por se tratar de métodos objetivos e padronizados de avaliação,
12 Avaliação nos diferentes ciclos da vida: adultos

ela oferece mais subsídios para instrumentalizar e operacionalizar a atenção


à saúde, revelar necessidades e determinar a utilização de recursos (DIOGO;
NERI; CACHIONI, 2004).
As informações geradas pela avaliação da CF possibilitam conhecer o
perfil dos pacientes por intermédio da utilização de uma ferramenta simples
e útil, o que pode auxiliar na definição de estratégias de promoção da saúde,
visando a retardar ou prevenir as incapacidades (LEE, 2000).
A seguir, veja qual é o objetivo geral da Fisioterapia para idosos.

 O objetivo da Fisioterapia para idosos varia segundo a patologia e as


limitações que a idade do paciente apresenta. A Fisioterapia tem como
objetivo geral permitir que o idoso mantenha uma boa qualidade de
vida dentro das limitações que a patologia ou a idade lhe impõe, de
modo que o idoso possa realizar as suas atividades cotidianas sem a
ajuda de cuidadores e/ou familiares.

Objetivos específicos:

 aumentar a força muscular;


 melhorar a flexibilidade;
 melhorar o equilíbrio;
 melhorar a qualidade de vida;
 melhorar a coordenação motora;
 prevenir o risco de quedas;
 prevenir complicações respiratórias;
 prevenir complicações cardiovasculares;
 promover independência funcional;
 promover os benefícios da Fisioterapia para a qualidade de vida do idoso.

O exercício físico pode aumentar a aptidão física de idosos e as suas funções


essenciais. A Fisioterapia trabalha estimulando a realização de exercícios
físicos para a parte motora e respiratória. O aumento das capacidades físicas
promove uma melhora significativa nas atividades de vida diária, reduzindo
a fadiga a pequenos esforços com exercícios de força, flexibilidade, potência
aeróbia, equilíbrio e coordenação.
A Fisioterapia também é benéfica em relação aos riscos de quedas e aciden-
tes. Além de reduzir a vulnerabilidade e a fragilidade causada pela inatividade,
ela minimiza as mudanças biológicas decorrentes do envelhecimento e ajuda
no controle de doenças crônicas, favorecendo e estimulando o idoso a ter uma
Avaliação nos diferentes ciclos da vida: adultos 13

qualidade de vida muito melhor (AVEIRO et al., 2011; BENETTI et al., 2008;
ACIOLE; BATISTA, 2013).

Para saber mais sobre a CIF, acesse o link a seguir para ler um manual prático.

https://qrgo.page.link/Aqzg

ACIOLE, G. G.; BATISTA, L. H. Promoção da saúde e prevenção de incapacidades funcio-


nais dos idosos na estratégia de saúde da família: a contribuição da fisioterapia. Saúde
em Debate, v. 37, no. 96, p. 10-19, jan./mar. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/
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