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Unidade II

Unidade II
5 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E
SAÚDE (CIF)

5.1 Conceitos, objetivos e componentes

5.1.1 Conceito

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) é um modelo para


a organização e documentação de informações sobre funcionalidade e incapacidade (OMS, 2001).
A CIF procura classificar a funcionalidade de acordo com conceitos atuais nas condições de saúde,
tais como fatores ambientais e fatores pessoais, oferecendo uma linguagem padronizada para a
definição e classificação da incapacidade, com utilização de classificações específicas e códigos.

A CIF oferece uma abordagem biopsicossocial (influência de fatores biológicos, psicológicos, sociais
e ambientais) com múltiplas perspectivas que se refletem no modelo multidimensional. As definições
e categorias da CIF são elaboradas em linguagem neutra, de forma que a classificação possa ser usada
para registrar os aspectos positivos e negativos da funcionalidade. Ao mudar o foco das condições
de saúde para a funcionalidade, ela coloca todas as condições de saúde em posição de igualdade,
permitindo que sejam comparadas entre si, por meio de um modelo comum. Por exemplo, a artrite
acomete grande parte da população em comparação a condições como autismo, demências, síndrome
de Down e paralisia cerebral, classificadas com valores mais altos em termos da probabilidade de
grave incapacidade.

A CIF é utilizada em muitos contextos diferentes e com diversas finalidades em todo o mundo.
Ela pode ser usada como uma ferramenta para estatística, pesquisa clínica e social ou para fins
educacionais. Sua aplicação serve não somente no setor de saúde, mas em setores como seguros,
previdência social, trabalhista, educacional, econômico, desenvolvimento de políticas ou legislação, e
também no meio ambiente.

5.1.2 Objetivos

A CIF é uma classificação com múltiplas finalidades, elaborada para servir a várias disciplinas e
setores diferentes. Seus objetivos específicos podem ser resumidos da seguinte maneira:

• Proporcionar uma base científica para a compreensão e o estudo da saúde, dos estados relacionados
à saúde, dos resultados e dos determinantes.

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AVALIAÇÃO FUNCIONAL

• Estabelecer uma linguagem comum para a descrição da saúde e dos estados relacionados à
saúde, para melhorar a comunicação entre diferentes utilizadores, tais como profissionais
de saúde, investigadores, decisores e o público, incluindo pessoas com incapacidades.

• Permitir a comparação de dados entre países, disciplinas relacionadas aos cuidados de saúde e
serviços, em diferentes momentos ao longo do tempo.

• Proporcionar um esquema de codificação sistemático com aplicação nos sistemas de informação


de saúde.

5.1.3 Utilização na saúde

Saúde é definida na Constituição da OMS (1946) como um estado completo de bem-estar físico,
mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou enfermidade. A saúde e os estados
relacionados a ela, associados com qualquer condição de saúde, podem ser descritos usando a CIF. As
condições de saúde (doenças, transtornos, lesões ou estados relacionados) são classificadas principalmente
na classificação internacional de doenças (CID), que fornece um modelo etiológico (ou seja, da causa
da doença). A CIF e a CID são duas classificações complementares de referência da OMS e ambas são
membros da família das classificações internacionais da OMS. A CIF busca conceituar a funcionalidade
e a incapacidade no contexto da saúde. Por exemplo, se a pobreza resultar em uma condição de saúde
como desnutrição, as dificuldades de funcionalidade relacionadas podem ser descritas usando a CIF.
Uma condição de saúde, seja ela diagnosticada ou não, é sempre entendida como estando presente
quando a CIF é aplicada.

5.1.4 Organização

A CIF organiza as informações em duas partes. A primeira lida com a funcionalidade e a incapacidade;
a segunda aborda fatores contextuais. Cada parte contém dois componentes:

• Funcionalidade e incapacidade:

— Funções e estruturas do corpo.

— Atividades e participação.

• Fatores contextuais:

— Fatores ambientais.

— Fatores pessoais.

A funcionalidade de um indivíduo em um domínio específico reflete a interação entre a condição de


saúde e o contexto, isto é, fatores pessoais e ambientais. É importante coletar dados sobre essas entidades
de forma independente e depois tirar conclusões sobre a classificação da funcionalidade do indivíduo.
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Cada componente da CIF consiste em vários domínios, e cada um consiste em categorias, que são
as unidades de classificação. A CIF fornece definições textuais, além de termos de inclusão e exclusão
para cada classe.

A funcionalidade e incapacidade do indivíduo podem ser registradas selecionando-se a categoria


apropriada e seu código correspondente, acrescentando a seguir os números ou os qualificadores, que
especificam a extensão da funcionalidade ou incapacidade naquela categoria, na medida em que um
fator ambiental torna-se um facilitador ou uma barreira.

O modelo e o quadro conceitual da CIF oferecem a plataforma para uma linguagem comum
e a estrutura de alto nível da classificação que, nos detalhes mais sutis, permite uma descrição e
quantificação específicas.

Condições de saúde
(transtorno ou doença)

Funções e estruturas do corpo Atividades Participação

Fatores ambientais Fatores pessoais

Figura 38 – Modelo da CIF: interação entre os componentes da CIF

Lembrete

A funcionalidade de um indivíduo em um domínio específico é uma


interação ou relação complexa entre a condição de saúde e os fatores
contextuais. Há uma interação dinâmica entre essas entidades; uma
intervenção em um elemento pode, potencialmente, modificar um ou vários
outros elementos. A interação funciona em dois sentidos e a presença da
deficiência pode modificar até a própria condição de saúde.

Inferir uma limitação da capacidade devido a uma ou mais deficiências,


ou uma restrição de desempenho por causa de uma ou mais limitações,
pode parecer muitas vezes razoável. No entanto, é importante colher dados
sobre esses constructos de maneira independente e, então, explorar as
associações e ligações.

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AVALIAÇÃO FUNCIONAL

No contexto da saúde, temos:

• Funcionalidade: termo utilizado para englobar funções e estruturas do corpo, atividades e


participação. Ela denota os aspectos positivos da interação entre um indivíduo (com uma condição
de saúde) e os fatores contextuais daquele indivíduo (fatores ambientais e pessoais).

• Incapacidade: termo utilizado para classificar deficiências, limitações de atividade e restrições


de participação. Ela denota os aspectos negativos da interação entre um indivíduo (condição de
saúde) e os fatores contextuais daquele indivíduo (ambientais e pessoais).

• Funções do corpo: funções fisiológicas dos sistemas do corpo, inclusive funções psicológicas.

• Estruturas do corpo: partes anatômicas do corpo, como órgãos, membros e seus componentes.

• Deficiências: problemas nas funções ou estruturas do corpo, como um desvio significativo


ou perda.

• Atividade: execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo.

• Participação: envolvimento em situações da vida diária.

• Limitações de atividade: dificuldades que um indivíduo pode encontrar na execução de atividades.

• Restrições de participação: problemas que um indivíduo pode enfrentar ao se envolver em


diversas situações.

• Fatores ambientais: ambiente físico, social e de atitude, no qual as pessoas vivem e conduzem
sua vida. São barreiras ou facilitadores para a funcionalidade de um indivíduo.

5.1.5 Utilização

A CIF é o padrão mundial para a conceitualização e classificação da funcionalidade e incapacidade.


Ela oferece um recurso técnico disponível gratuitamente, o quadro internacional de referência para
informações de saúde e incapacidade. Ela também:

• Dá suporte a políticas baseadas em direitos e oferece um quadro e modelo que auxiliam o


planejamento e a comunicação entre o governo e outros setores.

• Fornece linguagem, termos e conceitos comuns para uso de pessoas com incapacidades, prestadores de
serviços relevantes ou pessoas que trabalham com dados e informações sobre incapacidade. Dessa forma,
pessoas com dificuldades funcionais podem interagir com muitos profissionais e sistemas, por exemplo, de
saúde, educação e assistência social. É especificamente atual quando alguns serviços e sistemas humanos
e de saúde fornecem serviços de longo prazo e suporte para o número crescente de pessoas afetadas por
condições crônicas. Uma linguagem comum é essencial para dar suporte ao cuidado integrado.
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• Oferece estrutura organizada de dados que pode dar respaldo a sistemas de informação em
diferentes áreas da política e de serviços, e para dados populacionais relevantes para as políticas.
Se os registros, pesquisas e estatísticas sobre funcionalidade e incapacidade forem baseados
no modelo e quadro da CIF, eles contribuirão de forma mais eficiente para uma compreensão
nacional e internacional coerente da funcionalidade e incapacidade, e de dados comparáveis
entre contextos e épocas.

• Permite uma ampla gama de casos de uso. Pode ser vista como uma linguagem que auxilia
na relação entre dados, informações e conhecimentos, desenvolvendo uma compreensão e
interpretação compartilhada de conceitos. É importante que seja usada para garantir a
consistência da aplicação entre setores e níveis dos sistemas de saúde, social e educacional.

5.1.6 Aplicação

A CIF pode ser usada de várias maneiras em muitos campos de aplicação, como:

• Prática clínica: relevante para muitas atividades na prática clínica, como: consideração de saúde e
funcionalidade; estabelecimento de metas; avaliação de resultados de tratamentos; comunicação
com colegas ou pessoa envolvida. Ela oferece uma linguagem comum entre disciplinas clínicas
e com pacientes ou clientes. A CIF e a CID são complementares e, quando usadas em conjunto,
fornecem uma imagem completa da condição de saúde de um indivíduo. O manual prático da CIF
fornece exemplos de como ela pode ser usada de formas distintas em muitos campos diferentes.

• Serviços de suporte e benefício de prestação continuada: o modelo e a classificação da


CIF podem dar suporte à avaliação de elegibilidade, ao planejamento de serviços e aos dados
baseados em sistemas gerados por processos administrativos. O foco nos fatores ambientais
possibilita articular claramente se as necessidades do indivíduo requerem mudanças
ambientais ou fornecimento de suporte pessoal.

• Estatísticas populacionais: os sistemas de classificação têm sido descritos como os componentes


básicos das informações estatísticas. Quando os dados populacionais, tais como de censos e pesquisas,
além dos dados administrativos e de serviços, são baseados nos mesmos conceitos e modelos,
um conjunto forte e integrado de informações nacionais pode ser desenvolvido. Esse recurso de
informações pode então ser usado para comparar os números de pessoas que requerem vários
serviços com o número das pessoas que estão recebendo esses serviços. Pode indicar também que
áreas do ambiente social são as mais incapacitantes para as pessoas com dificuldades funcionais.

• Educação: as mesmas vantagens gerais se aplicam ao campo da educação como também a outras
áreas de políticas e programas. Como uma linguagem comum, pode auxiliar na integração das
perspectivas da criança, da família, da escola e dos sistemas de serviços.

• Políticas e programas: dá suporte a um pensamento claro e conceitual sobre as políticas


relacionadas à incapacidade e à saúde em um alto nível. A classificação pode ainda dar suporte à
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avaliação de elegibilidade, planejamento de serviços e dados baseados em sistemas gerados por


processos administrativos. Se for usada para esses fins em áreas de políticas e programas, além
da estatística populacional, dados nacionais e internacionais coerentes e interligados podem ser
organizados dentro da população. Isso facilita o planejamento, gerenciamento, cálculo de custos,
alocação de recursos e monitoramento dentro e entre programas.

• Advocacy e empoderamento: o termo pode incluir a advocacy por uma pessoa em seu próprio
nome ou em nome de outra pessoa, além da advocacy mais ampla, que busca influenciar uma
mudança ambiental e de sistema. A CIF, como uma estrutura conceitual para a funcionalidade
e incapacidade relacionada à convenção das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com
deficiências, dá suporte a argumentos lógicos baseados em padrões internacionais, e a informações
e dados relacionados.

Saiba mais

Para saber mais sobre CIF, leia o artigo a seguir:

CASTANEDI, L.; BERGMANN, A.; BAHIA, L. A classificação internacional


de funcionalidade, incapacidade e saúde: uma revisão sistemática de
estudos observacionais. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 17, n. 2,
p. 437-451, 2014.

5.1.7 Diretrizes éticas

Respeito e confidencialidade

• Deve ser sempre usada de forma que respeite o valor inerente e a autonomia dos indivíduos.

• Jamais deve ser usada para rotular pessoas ou identificá-las de outro modo apenas em termos de
uma ou mais categorias de incapacidade.

• Nos contextos clínicos, deve ser sempre usada com conhecimento, cooperação e consentimento
pleno das pessoas cujos níveis de funcionalidade estão sendo classificados. Se limitações da
capacidade cognitiva de um indivíduo impedirem esse envolvimento, o representante do indivíduo
deve ser um participante ativo.

• As informações codificadas usando a CIF devem ser vistas como informações pessoais e
sujeitas a regras de confidencialidade reconhecidas e apropriadas para a maneira como os
dados serão usados.

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Uso clínico

• O médico deve explicar para o indivíduo ou para o seu representante o objetivo do uso da CIF e
responder às perguntas sobre a adequação de seu uso para classificar os níveis de funcionalidade
da pessoa.

• A pessoa cujo nível de funcionalidade está sendo classificado (ou o representante da pessoa) deve
ter a oportunidade de participar e de questionar ou confirmar a adequação da categoria que está
sendo usada e a avaliação designada.

• Como o déficit que está sendo classificado é resultado da condição de saúde de uma pessoa e do
contexto social e físico no qual ela vive, a CIF deve ser usada de forma holística.

Uso social das informações

• As informações devem ser usadas com a colaboração dos indivíduos para aumentar suas escolhas
e o controle sobre suas vidas.

• As informações devem ser usadas para o desenvolvimento de políticas sociais e mudanças políticas
que visem a melhoria e o suporte da participação dos indivíduos.

• A CIF e todas as informações derivadas de seu uso não devem ser empregadas para negar direitos
estabelecidos ou para restringir direitos legítimos e benefícios para indivíduos ou grupos.

• Os indivíduos classificados em conjunto na CIF ainda podem diferir de muitas maneiras. As leis e
regulamentos que se referem às classificações dela não devem pressupor mais homogeneidade
do que o pretendido e devem assegurar que aqueles cujos níveis de funcionalidade estão sendo
classificados sejam considerados como indivíduos.

5.1.8 Estrutura de codificação

A classificação é organizada em duas partes, cada uma com dois componentes:

• Funcionalidade e incapacidade: inclui funções e estruturas do corpo e atividades e participação.

• Fatores contextuais: incorpora fatores ambientais e pessoais, embora os pessoais ainda não
estejam classificados.

Cada componente é subdividido em domínios e categorias em níveis variados de granularidade


(até quatro níveis), cada um deles representado por um código numérico. O prefixo de um código da
CIF é uma letra única (b, s, d ou e) que representa o componente na CIF em que o código aparece.
Por exemplo, o prefixo d representa o componente atividades e participação, embora o usuário possa
optar por usar o a mais granular e opcional (para atividades), ou p (participação), dependendo das
necessidades específicas do usuário. Após essa letra inicial, o número de dígitos que compõe o código
indica a categoria e seu nível. Um total de três dígitos é usado para as categorias de segundo nível;
quatro para as de terceiro nível; e cinco para as categorias de quarto nível.
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AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Lendo os dígitos da direita para a esquerda, é possível olhar para trás de um código específico, para
a categoria mais ampla na qual ele está localizado, movendo-se todo o caminho para o domínio ou
capítulo. Inversamente, ao tentar selecionar a categoria mais apropriada para descrever um aspecto da
funcionalidade, é necessário primeiro alocar o item para o componente apropriado e, a seguir, para o
domínio e capítulo. Por último, dentro de um dado bloco, é necessário selecionar a categoria que melhor
descreve o aspecto da funcionalidade com o nível desejado de detalhe.

Em cada nível da classificação há categorias que terminam com 8 ou 9. Elas podem ser usadas para
sinalizar que o aspecto da funcionalidade não é coberto pelas definições existentes, mas é especificado
de forma suficiente para ser descrito (8: outro especificado); ou que há um aspecto presente para o qual
as informações disponíveis são insuficientes para uma especificação adicional (9: não especificado).

Quadro 2 – Qualificadores da CIF

Componentes Primeiro qualificador Segundo qualificador


Qualificador genérico com a escala negativa, utilizado
para indicar a extensão ou magnitude de uma deficiência.
Funções do Nenhum
corpo (b) Exemplo: b167.3 indica deficiência grave nas funções
mentais específicas da linguagem.
Utilizado para indicar a natureza da mudança
na estrutura do corpo em questão:

0: nenhuma mudança na estrutura.


1: ausência total.
2: ausência parcial.
Qualificador genérico com a escala negativa, utilizado 3: parte suplementar.
para indicar a extensão ou magnitude de uma 4: dimensões anormais.
Estruturas do deficiência. 5: descontinuidade.
corpo (s) 6: desvio de posição.
Exemplo: s730.3 indica uma deficiência grave da 7: mudanças qualitativas na estrutura,
extremidade superior. incluindo retenção de líquidos.
8: não especificada.
9: não aplicável.
Exemplo: s730.32 para indicar a ausência
parcial da extremidade superior.
Desempenho: Capacidade:

Qualificador genérico. Qualificador genérico.


Atividades e Problema no ambiente habitual da pessoa. Limitação, sem ajuda.
participação (d)
Exemplo: d5101.1 indica ligeira dificuldade para tomar Exemplo: d5101.2 indica dificuldade moderada
banho se utilizar dispositivos de auxílio disponíveis no para tomar banho sem recorrer a dispositivo
seu ambiente habitual. de ajuda ou à ajuda de outra pessoa.
Qualificador genérico, com escala negativa e positiva,
para indicar, respectivamente, a extensão das barreiras e
dos facilitadores.
Fatores
Ambientais (e) Exemplo: e130.2 indica que os produtos para a educação Nenhum.
são uma barreira moderada. Inversamente, e130+2
indicaria que os produtos para a educação são um
facilitador moderado.

Fonte: OMS (2001, p. 23).

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Lembrete

A CIF coloca cada indivíduo em um contexto. Funcionalidade e incapacidade


são resultantes da interação entre as condições de saúde da pessoa e seu
ambiente. Por isso, o profissional deve observar os fatores biopsicossociais para
classificar a funcionalidade do paciente no contexto da CIF.

Saiba mais

Para saber mais sobre a CIF, acesse o site:

WORLD HEALTH ORGANIZATION. International Classification of


Functioning, Disability and Health (ICF). mar. 2018. Disponível em:
www.who.int/classifications/icf/en. Acesso em: 3 jun. 2020.

6 EXAME DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

O ATP ou adenosina trifosfato é uma molécula importante presente no corpo humano, atuando
desde a contração muscular até processos de cicatrização, sendo fundamental para a manutenção da
vida. Uma das principais formas de sintetizar o ATP é por meio do oxigênio obtido pela respiração.

O sistema respiratório é composto por diferentes partes, sendo que todas elas possuem sua
importância e podem tanto ser avaliadas quanto estarem comprometidas, prejudicando o indivíduo.

Figura 39 – Sistema respiratório

Lembrete

O sistema respiratório é composto por: porção condutora (nariz externo e


cavidade ou fossas nasais), faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos;
e porção respiratória: pulmões, ductos alveolares, alvéolos e pleura.
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AVALIAÇÃO FUNCIONAL

6.1 Principais sinais e sintomas respiratórios

Qualquer parte do sistema respiratório pode ser infectado e ficar doente. As consequências da doença
podem ter resultados prolongados e gerar uma reação inflamatória. Como qualquer outro sistema do
nosso corpo, a resposta à infecção é uma reação inflamatória que acarreta hiperemia e tumefação
da mucosa, o que dá origem à maior secreção de muco pulmonar e, consequentemente, dificuldade
respiratória.

Distúrbios que afetam os pulmões e as vias aéreas são denominados problemas pulmonares ou
problemas respiratórios. Os sintomas mais frequentes do acometimento desse sistema são mostrados
na figura a seguir.

Hemoptise Tosse

Cianose Dispneia
(falta de ar)

Estridor Dor torácica

Sibilos

Figura 40 – Sintomas frequentes de problemas respiratórios

6.1.1 Tosse

A tosse é um dos sintomas mais comuns observados em pacientes com doença pulmonar. Trata-se de
uma manobra expiratória forçada, a qual expele muco e material estranho contido na via aérea. É ela que
permite que o paciente remova a secreção. A ineficácia da função de tossir cria a necessidade de sucção
para evitar complicações pulmonares.

A tosse ocorre quando os receptores da tosse são estimulados por inflamação, muco, materiais
estranhos ou gases nocivos. Os receptores da tosse estão localizados (em sua grande parte) na
laringe, na traqueia e nos grandes brônquios.

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A eficácia da tosse depende da capacidade de realizar uma inspiração profunda, da retração pulmonar,
da força dos músculos respiratórios e do nível de resistência das vias aéreas. A capacidade de realizar
uma inspiração profunda ou expirar forçadamente é frequentemente comprometida em pacientes com
doenças neuromusculares.

A tosse tem três classificações:

• Eficaz (funcional): forte o suficiente para limpar e remover as secreções.

• Semieficaz (pouco funcional): adequada para forçar a limpeza das secreções do trato respiratório
superior em pequenas quantidades; é necessária assistência de sucção para limpar a secreção
secundária das infecções.

• Ineficaz (não funcional): incapaz de produzir qualquer força de tosse.

Outras características importantes da tosse do paciente que precisam ser identificadas incluem se
ela é seca ou úmida, produtiva ou não produtiva, aguda ou crônica, assim como o momento do dia ou
da noite em que ela ocorre.

Conhecer esses detalhes ajuda a determinar a causa da tosse. Um exemplo de tosse seca (sem
secreção) e não produtiva é típica de doenças pulmonares restritivas, como a insuficiência cardíaca
congestiva ou a fibrose pulmonar. Uma tosse úmida e produtiva (carregada de secreção) é normalmente
associada com doenças pulmonares obstrutivas inflamatórias, como a bronquite e a asma.

A causa mais comum de tosse aguda é uma infecção viral das vias aéreas superiores, como um
resfriado. As causas comuns de tosse crônica incluem a asma, o gotejamento pós-nasal (frequentes em
pacientes com rinite e sinusite), a bronquite crônica e o refluxo gastroesofágico.

Deve-se avaliar a tosse de acordo com:

• Frequência.

• Intensidade.

• Duração (aguda, menor que três semanas; ou crônica, maior que três semanas).

• Tonalidade.

• Tosse com ou sem expectoração (úmida ou seca).

• Relação da tosse com o decúbito (algumas pioram em decúbito dorsal).

• Período do dia de maior intensidade (diurno, noturno ou diuturno).

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AVALIAÇÃO FUNCIONAL

• Fenômenos que podem acompanhar um episódio de tosse: tonturas e desmaios (por diminuição
do fluxo cerebral) ou vômitos.

6.1.2 Dispneia

Esse termo é utilizado quando a respiração está difícil ou trabalhosa. Pacientes com dispneia são
chamados de dispneicos, pois fazem esforço maior e visível para respirar.

Vale ressaltar alguns termos importantes:

• Eupneia: termo utilizado para descrever um padrão respiratório normal de 12 a 20 vezes por
minuto em adultos.

• Ortopneia: dispneia observada quando o paciente está deitado, que melhora quando ele senta
ou levanta. Esse sintoma é característico de insuficiência cardíaca e também pode ser encontrado
em pacientes com asma, enfisema pulmonar avançado e edema pulmonar.

• Taquipneia: frequência respiratória anormalmente rápida, em geral superior a 24 respirações por


minuto. Esse tipo de padrão é normalmente observado na insuficiência respiratória e na febre.

• Bradipneia: frequência respiratória anormalmente lenta, em geral dez respirações ou menos,


associada ao comprometimento do centro de controle respiratório que pode ocorrer devido ao
aumento da pressão intracraniana, narcóticos (ingestão de drogas) ou distúrbio metabólico.

• Apneia: ausência da respiração que geralmente é transitória. Se for sustentada por mais que
alguns minutos, pode haver dano cerebral e óbito.

6.1.3 Dor torácica

As camadas parietal e diafragmática da pleura são sensíveis à dor, enquanto o tecido pulmonar e
a camada visceral da pleura não possuem terminações nervosas sensíveis à dor. A irritação da pleura
causa uma dor aguda. Grande parte das dores torácicas podem ser classificadas como pleurítica ou
não pleurítica.

• Pleurítica: normalmente está localizada lateral ou posteriormente. Piora quando o paciente


inspira profundamente e é descrita como uma dor aguda do tipo pontada. Geralmente está
associada a doenças torácicas que inflamam o revestimento pleural do pulmão (como pneumonia
ou embolia pulmonar).

• Não pleurítica: geralmente está localizada no centro da região torácica anterior e pode irradiar
para o ombro ou para as costas. Ela não é afetada ou alterada pela respiração e é descrita pelo
paciente como uma dor do tipo pressão (como na angina, refluxo gastroesofágico, costocondrite
e colecistopatias).

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Outros tipos de dor torácica:

• Mediastinal: provenientes do miocárdio, do pericárdio, do pneumomediastino e de tumores.

• Pleuropulmonar: pleura, pneumotórax, tumores e pneumonias.

• Digestivas: úlceras, esofagites, colecistite, refluxo gastroesofágico, pancreatite etc.

Lembrete

A dor retroesternal (sentida atrás do esterno) é uma característica de


traqueíte, mas pode ser um sintoma de doença cardíaca. Já a dor torácica
constante e profunda pode ser causada por um tumor.

6.1.4 Sibilo e estridores

Os sibilos e estridores representam o som das vibrações quando o ar flui em alta velocidade por meio
de uma via aérea estreitada.

• Sibilo: som de assobio normalmente ouvido na expiração, causado pelo fluxo de ar por meio das
vias aéreas com luz estreitadas. A extensão de um sibilo está diretamente relacionada ao grau
de estreitamento. O diâmetro das vias aéreas pode ser diminuído por broncoespasmo, edema de
mucosa, inflamações, tumores e corpos estranhos, mas é independente do comprimento da via
aérea. Na asma grave, ele também pode ser ouvido na inspiração.

• Estridor: som vibrante estridente ouvido na inspiração, causado por obstrução da laringe, traqueia
ou brônquios principais.

Sibilos Vibrações Estridores

Figura 41 – Som das vibrações

6.1.5 Cianose

Nome dado à cor azul (ou arroxeada) da pele e das membranas mucosas. Os dedos devem ser examinados
na investigação da cianose (facilmente identificada pela transparência das unhas). A cianose torna-se
visível quando a quantidade de hemoglobina insaturada no sangue capilar ultrapassa 5 a 6 g/dl. Isso pode
ser decorrente da redução do conteúdo arterial ou venoso de oxigênio ou de ambos.

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AVALIAÇÃO FUNCIONAL

A cianose digital é denominada cianose periférica e é resultado do fluxo sanguíneo inadequado


principalmente nas extremidades, e é associado a extremidades frias. A cianose central é devida à
saturação reduzida de oxigênio do sangue arterial. Ela pode ser observada na língua, nos lábios e nos
lóbulos da orelha e está associada com as extremidades quentes.

A cianose tem uma relação considerável com a condição do paciente em vascularização da região,
porém em quadros específicos de condições reumatológicas, como o fenômeno de Raynaud.

Isquemia
Capilares sem fluxo. Cianose
Vasoespasmos da artéria Capilares e vênula dilatam Rubor
com oclusão vascular. em relação à esquemia,
repletos de sangue Capilares seguem
desoxigenado. dilatados, porém com
Vasoespasmos. sangue oxigenado.
Relaxamento do
vasoespasmo.
Aumento considerável
do fluxo.

Figura 42 – Fases da cianose pelo fenômeno de Raynaud

6.1.6 Hemoptise

É a tosse ou escarro com sangue dos pulmões, classificada como: maciça, mais de 300 ml de sangue
em 24 horas, isto é, uma emergência médica; ou não maciça. Ela deve ser diferenciada da hematêmese,
vômito de sangue do trato gastrointestinal.

O sangue dos pulmões é frequentemente observado em pacientes com histórico de doença pulmonar e
pode estar associado ao escarro. O sangue proveniente do estômago pode estar misturado com partículas
alimentares e ocorre mais frequentemente em pacientes com histórico de doença gastrointestinal. Causas
comuns de hemoptise maciça: bronquiectasia, abscesso pulmonar e a tuberculose aguda e crônica.

A hemoptise não maciça é mais observada por infecção das vias aéreas, mas também no câncer
pulmonar. Associada à infecção, normalmente é observada em um escarro purulento com estrias (riscos)
de sangue. A hemoptise do carcinoma broncogênico normalmente é crônica.

6.2 Sinais vitais (FR, FC, PA, T)

Os exames de temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial


fornecem ao fisioterapeuta dados importantes sobre o estado do sistema cardiovascular/pulmonar.
Devido à sua importância como indicadores do estado fisiológico do organismo e de sua resposta a
atividade física, condições ambientais e estressores emocionais, esses parâmetros são chamados
mundialmente de sinais vitais. Podem ser conhecidos também por sinais cardeais.

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Unidade II

As variações nos sinais são indicações claras de que houve alguma alteração no estado fisiológico do
paciente. Essas medidas podem ser registradas em repouso, durante e após o exercício, e são indicadores
que fornecem dados importantes sobre a capacidade aeróbica e a resistência cardiopulmonar.

Na tabela a seguir encontramos dados normativos para as medidas dos sinais vitais.

Tabela 2

Frequência Frequência
Idade Temperatura (ºC) Pressão arterial
cardíaca respiratória
S: 50-52
Recém-nascido 37-37,6 70-190 25-50 D: 25-30
S: 78-114
3 anos 36,9-37,5 80-125 20-30 D: 46-78
S: 90-120
10 anos 36,4-37 70-110 16-22 D: 56-84
S: 104-120
16 anos 36,4-37,1 55-100 15-20 D: 60-84
S: 95-119
Adulto 36-37,5 60-90 12-20 D: 60-79
S: 90-140
Idoso 35,9-36,3 60-90 15-22 D: 60-90
Observação: os valores normais são específicos para cada indivíduo.

Alguns indivíduos apresentam valores diferentes dos normativos e isso mostra a importância da
avaliação/monitoramento dos sinais vitais como processo em série. As medições de sinais vitais fornecem
informações mais úteis quando realizadas e registradas em intervalos periódicos ao longo do tempo,
e não de uma única vez. O registro em série permite o monitoramento do estado do paciente e pode
indicar uma alteração aguda no estado fisiológico em um momento específico, como, por exemplo, em
resposta a um teste de exercício.

Observação

Há situações em que se observa um valor anormalmente alto ou baixo


de um sinal vital. Nesses casos, é importante manter uma postura calma,
profissional e não reagir de forma negativa. Deve-se repetir a medição e
informar o paciente que está apenas confirmando o valor prévio.

6.2.1 Temperatura corporal

A temperatura corporal representa um equilíbrio entre o calor produzido ou adquirido pelo corpo e o
calor perdido. Como seres humanos temos sangue quente, ou seja, somos homeotérmicos, a temperatura
corporal permanece relativamente constante, apesar das mudanças no ambiente externo.

88
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Estabeleceu-se 37 °C como média estatística ou temperatura normal, tomada oralmente, para


a população adulta (variando aproximadamente 0,5 °C). A temperatura corpórea normalmente
varia durante as 24 horas do dia e costuma ser é inferior no início da manhã e mais elevada no
final da tarde. As funções metabólicas ocorrem de forma ideal quando a temperatura corpórea
é normal.

A temperatura corpórea é mantida normal por meio do equilíbrio entre a produção e a perda de
calor. Se o corpo não for capaz de liberar o calor gerado no metabolismo, a temperatura deve aumentar
aproximadamente 1 °C/hora. O hipotálamo possui um papel importante na regulação da temperatura.

A febre (ou pirexia) é uma queixa comum dos pacientes com infecção das vias aéreas ou dos
pulmões. Agentes infecciosos podem elevar a temperatura para além de 37,8 °C (hipertermia), o que
caracteriza febre, mas não se trata de uma doença, e sim uma reação do organismo contra alguma
anomalia. A febre ocorre em resposta a substâncias pirogênicas secretadas pelos macrófagos em
resposta a uma inflamação. Essas substâncias pirogênicas agem de modo a proporcionar a liberação de
prostaglandinas, que atuam no centro termorregulador (localizado no tálamo anterior), promovendo
assim a elevação da temperatura.

A febre pode ocorrer em patologias simples, como uma infecção viral das vias aéreas superiores, ou
graves, como pneumonia bacteriana ou tuberculose. Devido à ampla variedade de doenças que causam
febre, a avaliação para determinação da causa é muito importante. Quando a causa é uma infecção, a
intensidade da elevação da temperatura pode indicar o tipo e a virulência da infecção.

A tosse acompanhada de febre sugere uma infecção respiratória. É mais provável que a infecção
seja a causa da febre se o paciente produzir escarro purulento. No entanto, a ausência de tosse ou de
produção de secreção não descarta a infecção pulmonar.

A temperatura corporal ideal varia entre 36 °C e 36,7 °C. Geralmente é mais baixa de manhã e mais
alta no fim da tarde ou à noite. Porém, existem algumas exceções que são aceitáveis. Nas mulheres, por
exemplo, após a ovulação, durante o ciclo menstrual e também no primeiro trimestre da gravidez, ocorre
uma elevação natural da temperatura. Consideramos hipotermia quando a temperatura corpórea está
abaixo de 35 °C e, se não é tratada rapidamente, pode levar a complicações e até ao óbito.

Saiba mais

Para compreender como a temperatura corporal é regulada durante a


prática de exercício físico, leia o artigo a seguir:

DAMATTO, R. L.; CEZAR, M. D. M.; SANTOS, P. P. Controle da


temperatura corporal durante o exercício físico. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia, v. 112, n. 5, p. 543-544, 2019.

89
Unidade II

6.2.2 Frequência cardíaca

Aferimos a frequência cardíaca por meio da frequência de pulso, uma onda de sangue na artéria
criada pela contração do ventrículo esquerdo durante um ciclo cardíaco (um ciclo completo de
contração e relaxamento do músculo cardíaco). Em cada contração, o sangue é bombeado para a aorta.
A elasticidade das paredes aórticas permite a expansão e a aceitação do novo suprimento de sangue. Em
seguida, o sangue é forçado para fora e passa pelas artérias sistêmicas. O que se sente como um pulso é
essa onda de sangue. A força ou amplitude do pulso representa a quantidade de sangue ejetada a cada
contração do miocárdio (volume do batimento).

Os pulsos periféricos são os que se localizam na periferia do corpo e podem ser sentidos pela palpação
de uma artéria que se encontra sobre uma proeminência óssea ou outra superfície firme. Os pulsos
radial, carotídeo e poplíteo são exemplos de pulsos periféricos, porém a artéria radial é o local mais
comum de palpar o pulso. Deve-se sempre usar a segunda e a terceira polpa digital (não o polegar) para
palpar o pulso digital. A frequência de pulso deve ser contada durante 1 minuto para poder determinar
se a frequência de pulso está normal, aumentada ou diminuída.

Figura 43 – Palpação do pulso radial

Quando a pressão arterial estiver anormalmente baixa, muitas vezes não é possível palpar o pulso
radial. Deve-se então utilizar os pulsos localizados mais centralmente como o carotídeo e o femoral.
Utilizar sempre a segunda e a terceira polpa digital (não o polegar) para palpar o pulso digital. A frequência
de pulso deve ser contada durante 1 minuto para determinar se a frequência de pulso está normal,
aumentada ou diminuída.

A frequência de pulso normal do adulto é de 60 a 100 por minuto e com ritmo regular. Uma condição
na qual a frequência de pulso ultrapassa 100 por minuto é denominada taquicardia. Exercício, medo,
ansiedade, pressão arterial baixa, anemia, febre, níveis reduzidos de oxigênio do sangue arterial ou alguns
medicamentos são causas comuns e frequentes de taquicardia. Uma condição na qual a frequência de
pulso é inferior a 60 por minuto é denominada bradicardia. Ela é menos comum e frequente do que
a taquicardia, mas pode ocorrer na hipotermia, como efeito colateral de medicamentos e em certas
arritmias cardíacas.
90
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Vários fatores como idade, gênero, estado emocional, estresse e nível de atividade física, além da
massa e da estatura, influenciam na frequência de pulso. Indivíduos altos e magros geralmente têm uma
frequência de pulso mais lenta que as pessoas obesas.

Observação

A palpitação é a sensação de uma frequência de pulso acelerada ou


irregular percebida pelo paciente sem a palpação de um pulso periférico.

O ritmo do pulso é o padrão de pulsações e o intervalo entre elas. Em um indivíduo saudável,


é regular e indica que os intervalos de tempo entre os batimentos de pulso são basicamente iguais.
Arritmia ou disritmia designa o ritmo irregular no qual os pulsos não apresentam intervalos uniformes,
estão associadas a anormalidades condutivas ou a um impulso que se origina em um local que não é o
nó sinoatrial.

A qualidade do pulso designa a quantidade de força gerada pelo sangue ejetado contra
a parede arterial durante cada contração ventricular. Ao examinar a qualidade do pulso, o
fisioterapeuta determina a sensação que o sangue causa ao passar por um vaso. A quantidade
(volume) de sangue dentro do vaso produz a força do pulso, que normalmente é igual em todos
os batimentos. A força do pulso é maior quando o volume de sangue é mais alto, e menor quando
ele for mais baixo. O pulso normal é considerado forte e cheio e pode ser palpado com uma
pressão moderada dos dedos sobre um ponto de proeminência óssea. Em volumes mais baixos,
o pulso é fino e denominado pulso fraco. Em volumes maiores (aumentados), o fluxo é grosso e
denominado pulso cheio ou palpitante.

6.2.3 Frequência respiratória

A frequência respiratória normal do adulto em repouso é de 12 a 18 respirações por minuto.


A taquipneia é a frequência respiratória anormalmente elevada. Frequências respiratórias elevadas
estão associadas com o esforço, febre, hipoxemia arterial, acidose metabólica, ansiedade e dor. Uma
frequência respiratória baixa é denominada bradipneia. Embora seja incomum, pode ocorrer em
pacientes que sofreram traumatismos cranianos ou hipotermia, como um efeito colateral de certas
medicações (como os narcóticos), com infarto do miocárdio severo e em caso de overdose de drogas.

A frequência respiratória é contada observando-se o movimento abdominal ou da parede torácica para


dentro e para fora. Com a prática, conseguimos observar até os movimentos superficiais (com paciente em
repouso, por exemplo), porém quando a visualização estiver muito difícil, o fisioterapeuta pode colocar a
mão sobre o abdome do paciente para contar e confirmar a frequência respiratória.

É muito importante não avisar o paciente que está sendo feita a avaliação, a fim de evitar que ele
altere o padrão corporal normal.

91
Unidade II

Observação

O ideal é que o paciente não perceba que a frequência respiratória está


sendo contada. Umas das formas de avaliação dessa frequência é avaliar o
pulso e, após ter passado 1 minuto, manter os dedos, dando a impressão de
que é a frequência de pulso que está sendo contada e começar a contar a
frequência respiratória.

6.2.4 Pressão arterial

A pressão arterial é a força exercida contra a parede das artérias quando o sangue se move através
delas. É medida em milímetros de mercúrio (mmHg) e registrada na forma de fração (110/80, por exemplo).
O primeiro número indica a pressão sistólica (contração ventricular) e o último, a diastólica
(relaxamento ventricular). A pressão é medida nos pontos mais altos e mais baixos da pulsação.
A pressão sistólica é a maior pressão exercida pelo sangue contra a parede das artérias e a diastólica, a
menor (mais baixa).

A pressão arterial é determinada pela interação do ventrículo esquerdo, da resistência vascular


sistêmica e do volume sanguíneo.

Quando a pressão arterial se mantém frequentemente acima de 140/90mmHg denomina‑se


hipertensão, geralmente causada pela resistência vascular sistêmica aumentada. A hipertensão mantida
por um longo período pode provocar anormalidades do sistema nervoso central, como dor de cabeça (cefaleia),
visão borrada e confusão, insuficiência cardíaca congestiva ou acidente vascular cerebral hemorrágico.

A hipotensão é definida como uma pressão arterial inferior a 95/60mmHg. As causas mais comuns
são a insuficiência ventricular esquerda, o volume sanguíneo baixo (caso de hemorragias e desidratação,
por exemplo) e a vasodilatação periférica. Com quadro de hipotensão, os órgãos vitais podem não
receber um fluxo sanguíneo adequado e, consequentemente, a liberação de oxigênio aos tecidos pode
ser prejudicada, possibilitando ocorrer hipóxia tecidual pela diminuição do fluxo sanguíneo adequado.
Portanto, deve-se evitar a hipotensão prolongada.

Normalmente, quando os indivíduos saudáveis ficam em pé ou se sentam, a pressão arterial varia


um pouco. Porém, nos pacientes hipovolêmicos, alterações posturais simples podem gerar uma queda
abrupta da pressão arterial, denominada hipotensão postural. Uma diminuição da pressão arterial
desse modo pode diminuir o fluxo sanguíneo cerebral e levar ao desmaio (ou síncope). Normalmente, o
tratamento é feito com a administração de líquidos ou drogas vasoativas.

A aferição da pressão arterial é feita por meio de esfigmomanômetro e um estetoscópio.


O esfigmomanômetro pode ser elétrico (movido a pilhas) ou manual.

92
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

A leitura da pressão arterial é feita por meio da combinação da escuta com o estetoscópio e da
observação do ponteiro do manômetro. Quando colocamos o esfigmomanômetro no braço e pressurizamos
para ultrapassar a pressão arterial sistólica, o fluxo sanguíneo na artéria radial é interrompido. Conforme
liberamos bem devagar a pressão do manguito, quando atinge um ponto logo abaixo da pressão sistólica, o
fluxo sanguíneo passa de forma intervalada. A obstrução parcial do fluxo sanguíneo gera uma turbulência
e vibrações chamadas de ruídos de Korotkoff. Esses ruídos podem ser ouvidos com um estetoscópio
posicionado sobre a artéria braquial.

Figura 44 – Esfigmomanômetro

Figura 45 – Estetoscópio

93
Unidade II

Os aparelhos elétricos são de fácil utilização, basta pressionar o botão ligar. Deve-se ajustar a
braçadeira na região do punho ou do braço do paciente e ligar o aparelho. Ele insuflará a braçadeira
sozinho e interpretará os sinais, gerando em seguida o valor da pressão arterial do paciente.

Lembrete

As braçadeiras dos esfigmomanômetros têm tamanhos variados,


adaptados de bebês prematuros a pessoas adultas. Utilizar‑se o aparelho
que mais se ajusta ao tamanho do paciente.

Os aparelhos manuais podem ser aneroides (mais frequentes na prática clínica) ou com mercúrio
(mais frequentes em hospitais). A seguir está o passo a passo da utilização:

• Explicar o procedimento ao paciente.

• Envolver o braço do paciente e ajustar a braçadeira desinsuflada (em geral no ventre do músculo
bíceps braquial ou dois dedos acima da prega do cotovelo) de forma que fique firme, porém não
muito apertada.

• Palpar a artéria braquial e posicionar a cabeça do estetoscópio na artéria braquial. Posicionar


adequadamente as olivas do estetoscópio nos condutos auditivos.

• Certificar-se que a válvula do esfigmomanômetro esteja fechada (girando no sentido horário)


e por meio do manguito bombear para insuflar a braçadeira, observando o manômetro até que
ele registre, no máximo, um valor de 200mmHg. Geralmente deve-se bombear até 30mmHg da
pressão sistólica prevista.

• Abrir a válvula no sentido anti-horário, localizada perto do manguito lentamente, liberando o ar


aprisionado na braçadeira, e ficar atento para os sons de Korotkoff.

• Observar atentamente o manômetro e o número no qual se ouve o primeiro som: essa é a pressão
sistólica e representa o ponto em que o sangue começa a fluir na artéria.

• Manter a válvula cuidadosamente aberta e observar o momento no qual o som desaparece: essa
é pressão diastólica.

• Abrir toda a válvula do manguito para que o ar da braçadeira seja liberado totalmente.

Observação

Recomenda-se repetir a aferição da pressão arterial após um intervalo


de, no mínimo, 30 segundos e calcular a média dos dois valores. Além disso,
deve-se limpar a cabeça do estetoscópio no intervalo de atendimento de
um paciente e outro com álcool 70%.
94
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

6.3 Exame físico

6.3.1 Exame físico do tórax

A avaliação do tórax exige o conhecimento anatômico para a realização de inspeção, palpação,


percussão e ausculta.

Antes de aprofundar no exame do tórax, é importante relembrar das diferentes linhas e


regiões torácicas. No tórax estão alguns pontos de referência: ângulo de Louis, ângulo de Charpy
e vértebra proeminente.

• Ângulo de Louis: saliência transversal na junção do manúbrio com o corpo do esterno,


correspondente à articulação da segunda costela. Na região dorsal, encontra-se na altura da quarta
vértebra torácica. A bifurcação da traqueia e a parte mais alta da aorta também correspondem a
esse ângulo.

• Ângulo de Charpy ou ângulo epigástrico: formado pelas duas rebordas costais, serve para
caracterizar o tipo de tórax, também conhecido como biótipo.

• Sétima vértebra cervical: a mais proeminente da região dorsal, marca o local onde os ápices
pulmonares se projetam na parede torácica.

O ângulo de Louis corresponde à segunda costela e abaixo dele está o segundo espaço intercostal.

Parede anterior e lateral:

• Linha esternal, na borda do esterno, prolongando-se até a borda superior do trapézio.

• Linha axilar anterior, iniciando-se na prega anterior da axila.

• Linha axilar posterior, descendo da prega posterior da axila.

Linhas horizontais:

• Ao nível da terceira articulação condroesternal.

• Ao nível da sexta articulação condroesternal.

Linhas anatômicas:

• Linha oblíqua, contornando a borda superior do trapézio.

• Linha oblíqua, contornando a borda superior da clavícula.

95
Unidade II

• Linha oblíqua, contornando a borda inferior da clavícula.

• Linha curva, contornando a fúrcula esternal.

• Linha curva, contornando a borda interna do deltoide.

• Linha curva, contornando a borda interna do gradil costal.

Parede anterior – Coluna central:

• Supra-esternal.

• Esternal superior.

• Esternal inferior.

Parede anterior – Coluna externa:

• Supraclavicular.

• Clavicular.

• Infraclavicular.

• Mamária.

• Inframamária ou hipocôndrio.

Parede lateral:

• Axilar.

• Infra-axilar.

Parede posterior – Linha vertical:

• Linha espondileia ou vertebral, ao nível das apófises espinhosas da coluna vertebral.

Parede posterior – Linhas horizontais:

• Ao nível da borda superior da escápula.

• Ao nível da borda inferior da escápula.

96
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Parede posterior – Linhas anatômicas:

• Linha oblíqua, contornando a borda superior do trapézio.

• Linha curva, contornando a escápula.

• Linha curva, contornando o rebordo costal.

Ficam delimitadas as seguintes regiões:

• Supra-escapular.

• Interescápulo-vertebral.

• Escapular.

• Infraescapular.

Parede anterior:

• Linha médio-esternal, vertical no meio do esterno, entre linhas esternais.

• Linha médio-clavicular, vertical, descendo do meio da clavícula.

• Linha paraesternal, vertical, entre a linha esternal e linha hemiclavicular.

Parede lateral:

• Linha axilar média, vertical, descendo do meio do côncavo axilar, entre a linha anterior e a linha
axilar posterior.

Parede posterior:

• Linha ângulo escapular, vertical, passando pelo ângulo inferior da escápula.

• Linha escapular, vertical, ao nível da borda interna da escápula.

• Linha paravertebral, vertical, entre a linha vertebral e a linha escapular.

6.3.2 Inspeção estática

A inspeção deve ser realizada com o paciente na posição de pé, com o tórax descoberto, alinhado
e evitando as distorções de postura e em relaxamento. O tórax das mulheres deve ser parcialmente
descoberto, respeitando a região mamária (que deverá estar coberta). Quando o paciente não puder
97
Unidade II

ficar em pé, a inspeção deverá ser feita preferencialmente na posição sentada. Para a inspeção lateral, o
paciente deverá flexionar os ombros e apoiar com as palmas das mãos a nuca.

Primeiro deve-se ter uma visão de todo o tórax, comparando-se um lado com o outro para verificar
possíveis assimetrias e anormalidades instaladas. É muito importante observar e anotar as cicatrizes,
escoriações, hematomas, trofismo muscular e coloração da pele.

6.3.3 Formas do tórax

O tórax normal possui as características do biótipo normolíneo, longilíneo ou brevilíneo. As


deformidades do tórax podem ser de origem congênita, por conta das alterações gerais ou por doenças
do aparelho respiratório (asma, por exemplo).

Por sua vez, o tórax patológico pode ser classificado em:

• Tórax em tonel, enfisematoso, inspiratório, em barril ou globoso: ocorre o aumento dos


diâmetros ântero-posterior e transverso. As costelas encontram-se horizontalizadas, assim como
o diafragma, além do apagamento das fossas supra e infraclaviculares, abauladas, e a cifose
torácica. O ângulo de Charpy tem mais de 90°. A impressão é de que ao olhar para o tórax, o
paciente está constantemente inspirando. Esse tipo é frequente no paciente enfisematoso.

• Tórax expiratório, chato, paralítico ou tísico: o oposto do tórax em tonel. A impressão é


de que o paciente está em constante expiração, por isso é também conhecido como tórax em
expiração permanente. Nesse tipo, observa-se uma diminuição do diâmetro ântero-posterior
com predominância do diâmetro longitudinal. O paciente costuma ter pescoço longo, clavículas
saltadas, costelas bem oblíquas, fossas supra e infraclaviculares bem marcadas, espaços intercostais
bem visíveis e normalmente afundados, assim como a borda interna das clavículas e os processos
espinhosos da coluna torácica salientes. O tórax paralítico pode ser de origem congênita ou
adquirida, como ocorre na tuberculose pulmonar extensa.

• Tórax raquítico ou em peito de pombo ou cariniforme (pectus carinatum): caracteriza-se


por alterações dos diâmetros torácicos com achatamento das faces laterais e anteriorização do
esterno, conhecido como peito de pombo. Os pacientes apresentam um afundamento (depressão)
na inserção diafragmática, conhecido como sulco de Harrison e nódulos nas articulações
condrocostais chamado de rosário raquítico.

• Tórax infundibuliforme (pectus excavatum): caracteriza-se por uma depressão/afundamento


da metade inferior do esterno, que se estende até o apêndice xifoide. É frequentemente congênita
e pode ser encontrada no raquitismo. Quanto à deformidade, atinge somente o terço inferior do
esterno, sendo chamado de tórax de sapateiro.

• Tórax cifótico, lordótico e escoliótico: resulta das curvaturas anormais da coluna vertebral. Na
cifose ocorre o exagero da convexidade posterior da coluna dorsal; na lordose há convexidade
anterior da coluna dorsal; na escoliose ocorre o desvio lateral da coluna dorsal. Via de regra, essa
anomalia é congênita, mas pode ser encontrada na osteomalácia e no mal de Pott.
98
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

6.3.4 Inspeção dinâmica

O paciente deve estar tranquilo, sem alteração na frequência respiratória. Os tipos respiratórios são:

• Misto ou toracoabdominal (costoabdominal): expansão abdominal (diafragmática) e costal


ocorre simultaneamente. Esse tipo é melhor observado quando o paciente está em pé ou sentado.

• Torácico ou costal: os movimentos são mais visíveis na parte superior do tórax (pela maior
atividade dos músculos intercostais). Ocorre em lesões parenquimatosas das bases pulmonares,
afecções dolorosas do diafragma ou patologicamente (aumento da pressão abdominal ascite) e
fisiologicamente na gravidez.

• Abdominal ou diafragmático: ocorre uma distensão abdominal devido à ampla excursão


diafragmática. São frequentes em alterações patológicas das regiões apicais, nas afecções
dolorosas do tórax, como pleuris e fraturas. Em pacientes muito emagrecidos, podemos encontrar
o fenômeno de Litten, uma movimentação diafragmática visível.

• Paradoxal: assincronismo entre o movimento abdominal e o torácico com retração abdominal à


inspiração (sinal de Hoover).

6.3.5 Frequência respiratória

A frequência respiratória é o número de respirações por minuto e é contada pela quantidade de vezes
que uma pessoa realiza os movimentos inspiratórios e expiratórios durante 1 minuto. Em condições basais,
normalmente, a frequência respiratória é de 16 a 20 respirações por minuto para homem; de 18 a 24 para
mulher; e de 25 a 30 para criança.

Quando a frequência respiratória aumenta, denomina-se polipneia; e quando os movimentos


respiratórios se tornam superficiais, além do aumento da frequência, denomina-se taquipneia. Algumas
doenças que podem determinar a ocorrência de polipneia são as lesões pulmonares ou pleurais que
restrinjam o campo da hematose, insuficiência cardíaca, alterações gerais (febre, anemia e intoxicações),
lesões do sistema nervoso e estados psiconeuróticos.

Bradipneia é o nome adotado quando a frequência respiratória diminui e pode ser sintoma
de obstruções brônquicas, hipertensão intracraniana, acidoses metabólicas graves (como a da
uremia) e diabetes.

6.3.6 Ritmo respiratório

Normalmente, a inspiração dura quase o mesmo tempo que a expiração, sucedendo-se os dois
movimentos com a mesma amplitude, intercalados por leve pausa. Alterações dessas características
fazem surgir ritmos respiratórios anormais denominados respiração de Cheyne-Stokes, respiração Biot,
respiração de Kussmaul e respiração suspirosa.

99
Unidade II

• Respiração de Cheyne-Stokes: inicia-se por movimentos respiratórios de amplitude pequena,


que aumentam progressivamente até atingir um máximo para, a seguir, diminuir também de
modo progressivo até cessar completamente, surgindo uma fase de apneia, de duração variável.
Isso ocorre devido a variações da tensão de O2 e CO2 no sangue. Assim, o excesso de CO2 durante o
período de apneia obriga os centros respiratórios bulbares a enviarem estímulos mais intensos que
resultam em um aumento da amplitude dos movimentos respiratórios e, com isso, maior eliminação
de CO2, diminuindo sua concentração no sangue. Em consequência, não havendo estímulos
exagerados dos centros respiratórios, diminui a amplitude dos movimentos respiratórios, e assim
sucessivamente. Causas frequentes: insuficiência cardíaca, hipertensão intracraniana, acidentes
vasculares encefálicos, insuficiência respiratória grave e traumatismos cranioencefálicos.

• Respiração de Biot: também denominada ritmo de Biot, a respiração apresenta-se em


duas fases: a primeira, de apneia, seguida de movimentos irregulares e sem nenhum tipo de
periodicidade, podendo ocorrer ampla variação de frequência e profundidade. É comumente
observada em pacientes com traumas cranioencefálicos, hipertensão intracraniana e
insuficiência cardiorrespiratória.

• Respiração de Kussmaul: compõe-se de quatro fases: inspirações ruidosas, gradativamente


mais amplas, alternadas com inspirações rápidas e de pequena amplitude; apneia em inspiração;
expirações e de pequena amplitude; apneia em expiração. São características das acidoses
metabólicas, notadamente no diabetes descompensado.

• Respiração suspirosa: nela, o paciente executa uma série de movimentos inspiratórios de


amplitude crescente, seguido de expiração breve rápida. Outras vezes, os movimentos respiratórios
normais são interrompidos por suspiros isolados ou agrupados. Esse tipo de ritmo respiratório é
encontrado em estados de tensão emocional e ansiedade.

6.3.7 Retração inspiratória fisiológica

Observada durante a inspeção dinâmica está a retração inspiratória fisiológica dos espaços
intercostais, que consiste em uma discreta retração dos espaços intercostais, sobretudo os inferiores, a
qual ocorre apenas no início da inspiração. Essa retração inspiratória é decorrente do vazio pleural que
se processa no intervalo entre a expansão da caixa torácica e a expansão do pulmão, que só aparece no
início da inspiração.

Quando a expansão pulmonar atrasa ou não é efetuada devido a um obstáculo que dificulta ou
impede a penetração do ar nos brônquios, a retração dos espaços intercostais torna-se mais aparente e
é progressiva durante toda a inspiração. Essa depressão inspiratória denomina-se tiragem.

A tiragem é um fenômeno patológico caracterizado por retração inspiratória (afundamento), que


pode ser observada nos espaços intercostais, nas fossas supraclaviculares, infraclaviculares, subesternal,
de grau variável, às vezes muito acentuado, com a particularidade de persistir durante toda a inspiração.
Ela é resultante da predominância da pressão atmosférica em relação à pressão intratorácica, que se
encontra diminuída pela redução do volume de ar inspirado.
100
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Observação

A tiragem é mais visível na face lateral do tórax dos indivíduos longilíneos


e resulta do aumento da pressão negativa, na cavidade pleural, durante a
fase de inspiração.

A tiragem pode ser difusa ou localizada, isto é, supraclavicular, infraclavicular, intercostal ou epigástrica.
A extensão e a intensidade da tiragem dependerão da intensidade e da maior ou menor dificuldade na
passagem do ar pelo brônquio, sendo generalizada se estiver localizada na laringe ou acima da bifurcação
da traqueia. O obstáculo poderá estar localizado em toda a árvore brônquica e, desse modo, produzir uma
tiragem bilateral, como é o caso da asma brônquica e de certos tipos de comprometimento bronquiolar.

Nas retrações unilaterais, as causas que interferem no livre trânsito da corrente aérea por meio da
árvore brônquica decorrem de obstruções tanto intrínsecas (espasmos, tumores, processos inflamatórios
ou corpos estranhos) como extrínsecas (compressões tumorais).

A tiragem ocasionada por obstruções parciais da traqueia é acompanhada de um ruído característico


denominado cornage, uma respiração estridente e ruidosa que pode ser ouvida à distância.

Em condições normais, podemos observar abaulamentos expiratórios das fossas supraclaviculares,


que geralmente ocorre no enfisema pulmonar durante a expiração com a glote fechada ou no decorrer
da tosse, indicando aumento súbito da pressão intrapulmonar.

Outro tipo de abaulamento expiratório é o chamado sinal de Lemos Torres, que é localizado nas
bases pulmonares e na face lateral do hemitórax. Esse sinal desaparece quando o paciente ocupa o
decúbito lateral oposto devido ao deslocamento do líquido por ação da gravidade.

Observação

A verificação do sinal de Torres Lemos é um índice seguro de derrame


líquido na cavidade pleural. Ocorre nos pequenos e médios derrames,
deixando de existir nos volumosos, pois nessa eventualidade o líquido
comprime o parênquima pulmonar subjacente, impedindo a ação da pressão
intrapulmonar, que é um dos fatores determinantes do referido abaulamento.

6.3.8 Palpação

A palpação é realizada com uma ou duas mãos, colocando-se a palma de uma delas sobre a parede
torácica descoberta, mantendo o paciente na posição de pé ou sentado. O maior objetivo é a sondagem
das partes moles e ósseas da parede torácica, suas alterações, a presença de atrofias da pele e do tecido
celular subcutâneo, de edemas e a avaliação da expansibilidade torácica.

101
Unidade II

• Enfisema subcutâneo: essa alteração indica a infiltração de ar no tecido celular subcutâneo, em


maior ou menor extensão. A palpação representa a sensação de crepitação igual àquela que se
obtém quando se aperta entre dois dedos uma esponja úmida. O enfisema subcutâneo aparece
nos casos de pneumotórax com perfuração da pleura parietal (ferimento penetrante do tórax).

• Contraturas e atrofias musculares: nas afecções pleuropulmonares dolorosas, pode aparecer


por um reflexo visceromotor, que é a contratura dos músculos espinhais (longo dorsal e iliocostal)
do lado afetado, caracterizando o chamado sinal de Ramond ou sinal dos espinhais. Esse sinal é
mais evidente abaixo da 12ª costela e pode estar presente nos processos inflamatórios agudos
da coluna vertebral (contusões lombares), cólica renal e processos ósteoarticulares vizinhos. Nas
inflamações agudas, são mais evidentes as contraturas, ao passo que nos processos crônicos
predominam as atrofias musculares, que também são devidas a um mecanismo reflexo.

• Sensibilidade torácica: deve-se pesquisar a existência de pontos dolorosos esparsos pela caixa
torácica. Normalmente não há dor durante a palpação e a presença dela indica sempre processo
patológico dos tecidos moles ou dos ossos.

• Elasticidades torácica: comprimir diferentes regiões do tórax com ambas as mãos, colocando‑se
uma na parede anterior e outra na parede posterior em uma zona diametralmente oposta. A
elasticidade é maior nas porções inferiores e laterais. O tórax da criança é bastante elástico,
enquanto nas pessoas idosas apresenta-se rígido pela ossificação das cartilagens costais.

A diminuição unilateral da elasticidade é causada por alterações pleuropulmonares, como, por


exemplo, os grandes derrames pleurais, as grandes condensações e as sínfises pleurais extensas com
retração. A diminuição bilateral da elasticidade é causada pelo raquitismo e pelo enfisema pulmonar.

6.3.9 Expansão torácica: amplitude respiratória

A amplitude respiratória é avaliada pela palpação bimanual, que permite localizar alterações da
expansão da caixa torácica durante os movimentos respiratórios. Em condições normais, a expansão
torácica respiratória é igual em regiões simétricas. Encontramos maior ou menor amplitude, dependendo
da elasticidade torácica e da eficiência da massa muscular respiratória, e assim é uniformemente
diminuída no enfisema pulmonar. A expansão torácica varia com o sexo, sendo mais nítida nas bases do
tórax nas pessoas do sexo masculino, e nos ápices, nas do sexo feminino.

Deve ser pesquisada de acordo com a devida técnica, fazendo-se isoladamente para os ápices,
bases e regiões infraclaviculares, já que cada uma dessas regiões exige manobra especial. Nos ápices,
é realizada colocando-se o médico atrás do paciente, que deverá estar sentado, e cobrindo com as
palmas das mãos ambas as regiões supraclaviculares, com as pontas dos polegares unidas na altura da
apófise espinhosa da sétima vértebra cervical. A expansibilidade das bases é realizada anteriormente
e posteriormente. Anteriormente, as mãos são colocadas obliquamente, estendendo‑se às porções
laterais, com os polegares em contato na linha esternal, ao nível da 6ª articulação condroesternal.
Posteriormente, as mãos abraçarão as bases obliquamente, nas porções ínfero-laterais. Na face anterior,
nota-se a expansão das regiões infraclaviculares e mamárias, colocando-se ambas as mãos espalmadas
102
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

e ligeiramente oblíquas sobre aquelas regiões, de modo que a ponta do dedo médio atinja as clavículas,
e as pontas dos polegares se unam na linha medioesternal.

Em condições patológicas, a expansão respiratória estará aumentada bilateralmente na parte superior


do tórax, quando da existência de processos abdominais que impeçam uma boa excursão diafragmática.
O inverso ocorrerá nas afecções dolorosas das regiões apicais do pulmão. A causa mais comum de
diminuição da expansibilidade bilateral é representada pelo enfisema pulmonar.

As alterações localizadas na expansão respiratória aparecem em processos pleuropulmonares


localizados. Assim, será perceptível a diminuição da expansão em condensações, atelectasias, pleuris
agudo, derrames pleurais e paquipleuris.

6.3.10 Frêmitos

Denomina-se frêmito torácico uma sensação vibratória que se percebe ao palpar a superfície do
tórax de um indivíduo. Quando a vibração é produzida no momento em que a pessoa fala, chama‑se de
frêmito toracovocal; no momento em que respira, frêmito pleural e frêmito brônquico, que só aparecem
quando há afecções brônquicas ou pleurais. Ainda há o frêmito pericárdico e o catáreo.

Com a fala, as cordas vocais emitem vibrações que se transmitem até a superfície do tórax, por meio
da árvore brônquica, pulmões e pleuras.

De acordo com as leis da acústica, a transmissão do som é facilitada quando sua frequência
se aproxima da frequência específica do corpo que o conduz, sendo dificultada quando diferente.

A frequência específica do pulmão é de 100 vibrações por segundo, razão pela qual o parênquima
pulmonar transmite bem a voz masculina, cuja frequência está em torno de 130 vibrações por segundo,
e transmite mal a voz feminina, cuja frequência está em torno de 260 vibrações por segundo.

Em um indivíduo normal, os sons produzidos pela articulação da palavra chegam à parede torácica
diminuídos de intensidade, em virtude de terem que atravessar meios de densidade diferentes, o que
causa reflexão, refração e dispersão do som.

Toda vez que processos patológicos tornam o meio ainda mais heterogêneo (derrames pleurais,
pneumotórax e enfisema), a transmissão do som será dificultada, o que ocasiona diminuição do
frêmito. A homogeneização do parênquima pulmonar, causada por certas entidades patológicas
(consolidações/condensações pulmonares nas quais o parênquima está hepatinizado, mas com
brônquios permeáveis), favorece a transmissão dos sons tanto graves como agudos, causando assim
um aumento de intensidade do frêmito.

103
Unidade II

Observação

A pesquisa do frêmito toracovocal é realizada colocando-se somente


uma das mãos, sempre a mesma, espalmada sobre a superfície do tórax. Já
o indivíduo pronuncia a expressão trinta e três. Essa pesquisa é feita de cima
para baixo nas regiões anterior, posterior e laterais do tórax, comparando‑se
sempre regiões simétricas entre si, estando o paciente, quando possível, na
posição sentada ou em pé.

O frêmito toracovocal varia com a intensidade e a tonalidade da voz, sendo mais evidente quando
é mais intensa, mais nítido quando a voz for grave (homem) e mais tênue quando for mais aguda
(mulher). Em geral, o frêmito toracovocal é discretamente mais intenso no hemitórax direito, pois o
brônquio principal direito é mais calibroso que o esquerdo.

Além das variações gerais, existem variações locais, apresentando-se o frêmito toracovocal mais
intenso, em que a caixa torácica tiver maior amplitude, como acontece no homem, quando as vibrações
são muito intensas nas bases. Na mulher, o frêmito toracovocal é menos intenso nas bases, porque o
pulmão transmite a voz aguda, e mais nítido nos ápices, devido à proximidade da fonte de vibrações.
Porém, tanto no homem como na mulher, o frêmito é mais intenso na região infraclavicular direita, local
que deve ser considerado como ponto de partida para a comparação com as demais regiões.

Na face posterior, o frêmito toracovocal no homem é mais intenso nas bases do que nas regiões
interescapulovertebrais, e mais intenso nessas do que nos ápices. Na mulher ocorre o inverso, isto é,
maior intensidade de vibrações nos ápices do que nas regiões interescapulovertebrais, sendo que essas,
por sua vez, apresentam maior intensidade do que nas bases.

Nas faces laterais do tórax masculino haverá maior intensidade de vibrações nas regiões axilares
inferiores, e na mulher, nas superiores.

Patologicamente, o frêmito toracovocal pode-se apresentar aumentado, diminuído ou abolido.


O aumento do frêmito aparecerá sempre que o processo patológico homogeneizar o meio a ser percorrido
pelo som emitido, favorecendo sua transmissão e facilitando a percepção das vibrações na superfície do
tórax. Geralmente isso ocorre em duas situações: nas condensações e nas cavidades. Para que o frêmito
aumente nas condensações, é necessário que elas sejam de tamanho relativamente grande, superficiais
e ligadas a brônquios permeáveis de mais de 5 milímetros de calibre. O frêmito toracovocal estará
aumentado nas cavidades pulmonares, quando elas forem de tamanho maior do que 4 centímetros de
diâmetro, localizadas superficialmente, rodeadas de tecido condensado e com brônquios permeáveis.

As causas que originam diminuição de frêmito toracovocal são: defeito na emissão do som (afonia),
deficiência na transmissão das vibrações (estenose dos brônquios), por causas pulmonares propriamente
ditas, como no enfisema e nas cavidades pulmonares não rodeadas por tecido pulmonar condensado,
quando houver interposição entre o pulmão e a parede torácica de um meio estranho, de densidade

104
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

diferente, que provoque reflexão das ondas sonoras, como é o caso dos derrames líquidos, pneumotórax
e grandes espessamentos pleurais e também pode ser encontrado em indivíduos obesos e em anasarca.

O frêmito toracovocal é mais acentuado à direita e nas bases, e se obtém uma melhor sensação
quando se coloca apenas a face palmar.

Para a palpação da face posterior do tórax, o profissional deve colocar-se à esquerda do paciente
usando sua mão direita, que vai sendo deslocada de cima para baixo. Ainda estando atrás do paciente, o
examinador deve pesquisar o frêmito toracovocal nas fossas supraclaviculares. A seguir, passando para
diante e à direita do paciente, o médico apoia sua mão, alternadamente, sobre o hemitórax esquerdo e
o direito, seguindo a linha médio-esternal de cima para baixo.

Para pesquisar as faces laterais do tórax, o profissional deve permanecer à frente do paciente e vai
palpando ora o lado esquerdo, alternadamente, de cima para baixo.

O frêmito pleural é a sensação palpatória de vibrações originadas na pleura. Normalmente, os


folhetos pleurais são lisos, deslizando um sobre o outro sem produzir ruído algum. Quando as pleuras
são acometidas por um processo inflamatório, sua superfície torna-se rugosa, e o contato entre ambas
se torna doloroso durante a respiração, dando lugar às vibrações que produzem o frêmito pleural.
Quando surge derrame líquido, o frêmito pleural desaparece, e pode reaparecer depois da reabsorção do
derrame, quando volta o contato entre os folhetos pleurais inflamados. O frêmito pleural manifesta‑se
nas duas fases respiratórias, porém é mais evidente na inspiração. Localiza-se, de preferência, nas regiões
ântero‑laterais do tórax e aumenta de intensidade com a compressão da parede torácica.

O frêmito brônquico é a sensação palpatória que tem origem nas vibrações das secreções acumuladas
nos brônquios de médio e grosso calibre, durante a passagem do ar na respiração. É percebida tanto na
fase inspiratória como na expiratória. Sempre que há frêmito brônquico há ronco, mas nem sempre o
ronco é acompanhado de frêmito.

Lembrete
Há algumas diferenças entre o frêmito pleural e brônquico:
O frêmito pleural não se modifica com a tosse, ao passo que o brônquico
desaparece, diminui ou muda de localização, em virtude da mobilização das
secreções intrabrônquicas.
O frêmito pleural aparece na inspiração e no início da expiração, quando
o atrito entre as pleuras é mais intenso. Já o frêmito brônquico pode aparecer
em qualquer momento, tanto na fase inspiratória como expiratória.
O frêmito pleural localiza-se, de preferência, nas regiões ântero-laterais,
ao passo que o brônquico pode ser encontrado em qualquer região do tórax.
Além disso, intensifica-se com a compressão da parede torácica pela mão
que palpa, já que o brônquico não sofre alteração com essa manobra.
105
Unidade II

O frêmito catáreo é o equivalente tátil de um sopro do aparelho cardiovascular. Sempre que há


frêmito catáreo há sopro, mas há sopro sem frêmito catáreo.

6.3.11 Percussão

A percussão em executar pequenos baques sobre a superfície corporal, com o objetivo de, por
meio das variações de sonoridade obtidas, deduzir os contornos normais dos órgãos e surpreender
modificações que permitirão diagnosticar alterações do seu estado físico.

A percussão é realizada pelo método dígito-digital, que consiste em colocar o dedo indicador da mão
esquerda nos espaços intercostais, enquanto os demais não mantêm contato com a superfície corporal,
situando-se discretamente elevados e flácidos, para que não haja amortecimento do som obtido pelo
golpe de percussão. Com o dedo médio da mão direita, se realiza o golpe de percussão – dois toques
sucessivos de cada vez na última falange, logo abaixo da unha, com movimento de flexão e extensão da
mão que percute, utilizando-se para isso somente a articulação rádio-carpiana, braço junto ao tronco
e antebraço imóvel. O dedo que percute deve cair perpendicularmente sobre o dedo apoiado no tórax,
devendo o golpe de percussão ser ritmado, sempre na mesma intensidade e breve, a fim de atingir o
máximo de profundidade e o mínimo de extensão.

Podemos encontrar tipos de sons obtidos na percussão do tórax:

• Som claro pulmonar: a percussão do tórax de um indivíduo normal dá origem a um ruído intenso
grave, de longa duração, denominado som claro pulmonar. Esse som, causado pela vibração do ar
contido nos alvéolos pulmonares, é ampliado por ressonância pela caixa torácica.

• Tambor recoberto com um tecido leve de algodão: os locais em que o som claro é mais evidente
são habitualmente as regiões infraclaviculares, seguindo-se as regiões axilares e infraescapulares.

• Som submaciço e maciço: quando o som produzido pela percussão do tórax se torna menos
intenso, mais agudo e de menor duração do que o som claro pulmonar, é denominado som
submaciço; e quando se torna menos intenso, mais agudo e de menor duração que o submaciço,
é denominado maciço.

• Som timpânico: é assim denominado quando o som produzido pela percussão do tórax se
assemelha ao de um tambor, sendo mais ressonante que o som claro pulmonar e tendo caráter
musical. Aparece quando se faz vibrar cavidades contendo ar. A causa mais frequente do
aparecimento do som timpânico, na percussão do tórax, é o pneumotórax. Quando o pneumotórax
for hipertensivo, o timpanismo será substituído por um som de timbre metálico. Ele também pode
aparecer nas cavidades pulmonares de diâmetro maior que 4 centímetros, vazias e superficiais.

• Som hipersonoro: é assim denominado quando o som produzido pela percussão do tórax se
torna mais intenso, grave e duradouro do que o som claro pulmonar. Surge quando percutimos
zonas de parênquima pulmonar com aumento da quantidade de ar normal – ar nos alvéolos
pulmonares (enfisema).
106
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

A percussão bem detalhada do tórax revela uma variação de sons que assim parecem à medida que
se diminui a quantidade de ar e aumenta a quantidade de sólidos. Sendo assim, em condições normais, o
som submaciço será obtido quando for percutida uma região de transição entre o parênquima pulmonar
e um órgão sólido; e o maciço, quando for percutido o próprio órgão sólido.

Inicialmente, a percussão deve ser feita de cima para baixo, na face posterior, anterior e lateral,
primeiro em um hemitórax, depois no outro e, em seguida, a percussão comparada em regiões simétricas
de todo o tórax.

Para a percussão das faces anterior e laterais, o paciente pode estar sentado ou deitado. Já a
percussão da face posterior só é possível de ser realizada se o paciente estiver sentado. Quando se
percutem as faces laterais, o paciente deve colocar suas mãos na cabeça, percutindo a face anterior
do hemitórax direito, de cima para baixo, sobre a linha hemiclavicular, ao som pulmonar, presente
até aproximadamente o quarto espaço intercostal, quando nota-se modificação do som, que passa a
submaciço, resultante da superposição do pulmão ao fígado, através do diafragma (borda superior do
fígado corresponde à transição do som claro para o som submaciço). A partir do quinto ou sexto espaço,
dependendo do biotipo, o som torna-se francamente maciço, pois nessa região não há mais pulmão
interposto entre o fígado e a parede torácica.

A submacicez esplênica é demarcada pela percussão da face lateral esquerda do toráx, de cima para
baixo, seguindo as três linhas da região axilar, estando o paciente em decúbito lateral direito com a mão
esquerda na cabeça. O limite superior da submacicez esplênica encontra-se habitualmente no nível do
11º espaço intercostal.

No hipocôndrio esquerdo há o espaço de Traube, de configuração semilunar, onde se projeta a


câmara de ar do estômago, delimitada assim: linha levemente curva, de convexidade voltada para cima,
iniciando-se na 6ª articulação condroesternal esquerda, dirigindo-se em sentido horizontal até a linha
hemiclavicular esquerda, onde desenha um ângulo arredondado até a linha axilar anterior, por onde
desce até o rebordo costal, que contorna até o ponto inicial, de partida.

Percutindo o hemitórax esquerdo na linha paraesternal, obtém-se, de cima para baixo, o som claro
pulmonar, som submaciço na área em que a lâmina pulmonar recobre o coração, som maciço na área
descoberta do coração, som timpânico no espaço de Traube. Percutindo entre as linhas hemiclavicular
e axilar anterior, superiormente o som será claro e, inferiormente, timpânico. Na região axilar direita e
esquerda, há o som claro pulmonar. Na região infra-axilar direita, o som maciço do fígado. Na região
infra‑axilar esquerda, o som timpânico (câmara de ar do estômago, ângulo cólico esplênico). Dificilmente
o baço normal deixará perceber o som submaciço, envolvendo com a zona timpânica. Na região posterior,
sobre a coluna vertebral, há som claro.

Na face posterior do tórax, a sonoridade é ligeiramente menor nos ápices do que nas
interescapulovertebrais e bases e, de forma geral, é menor do que na face anterior e nas faces laterais. A
percussão da coluna vertebral revela som claro pulmonar desde a 7ª vértebra cervical até a 11ª vértebra
dorsal; acima e abaixo desses pontos, obtém-se som maciço.

107
Unidade II

Os indivíduos obesos, musculosos ou com edema das partes moles do tórax apresentam menor
sonoridade pulmonar, por serem esses fatores obstáculos à penetração do golpe de percussão. A
percussão do tórax de indivíduos idosos produz um som menos intenso do que o adulto jovem, devido
à menor elasticidade torácica.

Nos casos de broncopneumonia, o som que se obtém à percussão é o submaciço, e nunca o maciço,
pois, mesmo que os focos sejam grandes, existe sempre entre eles uma zona de pulmão normal.

A percussão da coluna vertebral dá origem ao som claro pulmonar, substituído, nos casos de derrame
pleural, por submacicez e macicez em toda a extensão ocupada pelo líquido intrapleural. Esse achado,
denominado sinal de Signorelli, tem grande importância no diagnóstico diferencial do derrame pleural,
pois está ausente nos processos de condensações e atelectasia.

6.3.12 Ausculta

Método propedêutico mais útil para a exploração do aparelho respiratório. A ausculta do tórax pode
ser imediata ou direta e mediata ou indireta. A ausculta direta é feita pela aplicação do pavilhão auricular
sobre a parede torácica, e a indireta é realizada com o auxílio do estetoscópio. A direta tem a vantagem de
ser mais rápida, pois a área respiratória explorada a cada aplicação do ouvido é ampla, maior que a atingida
pelo método indireto, assim percebe-se melhor o sopro tubário. Atualmente, a ausculta direta é pouco
utilizada, pois a indireta apresenta maior comodidade tanto para o médico como para o doente.

A ausculta deve ser realizada com o paciente de pé ou sentado, com o tórax parcialmente ou
totalmente descoberto. Não se deve auscultar o paciente com roupa. Na impossibilidade de auscultar o
paciente em pé ou sentado, faz-se o exame em decúbito dorsal e lateral. Para maior facilidade, deve-se
solicitar que o paciente respire com a boca entreaberta, sem fazer ruído. Os movimentos respiratórios
devem ser regulares e de igual amplitude respiratória, evitando-se movimentos respiratórios muito amplos
ou superficiais. Muitas vezes é necessário que o profissional respire para mostrar ao paciente como proceder.

A ausculta, assim como os outros métodos, deve ser realizada de maneira ordenada, na face posterior,
anterior e lateral, primeiramente em um hemitórax e depois no outro e, em seguida, comparativamente.

6.3.13 Ruídos respiratórios normais

A ausculta do aparelho respiratório revela a presença de dois ruídos de características diversas,


de acordo com a região examinada. Assim, sobre a laringe e a traqueia, ouve-se um ruído de grande
intensidade constituído por vibrações de frequência relativamente alta, no qual predomina a fase
expiratória, que é mais aguda, intensa e duradoura do que a fase inspiratória, o ruído soproso inspiratório,
mais ou menos rude, sendo o expiratório mais forte e prolongado.

A respiração brônquica corresponde ao som traqueal audível na zona de projeção de brônquios de


maior calibre, na face anterior do tórax, nas proximidades do esterno. Ela se diferencia da traqueal por
ter componente respiratório menos intenso.

108
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Na superfície torácica, ouve-se um ruído mais suave, onde predomina a fase inspiratória, mais aguda,
intensa e duradoura do que expiratória, o murmúrio vesicular.

Nas regiões infraclavicular direita, supra-espinhosa direita, interescapulovertebrais, no nível da


bifurcação da traqueia e na coluna vertebral, logo abaixo da 7ª vértebra cervical, ausculta-se normalmente
outro tipo de respiração, resultante da soma da respiração brônquica e do murmúrio vesicular, a
respiração broncovesicular. Nela, há apenas um leve predomínio da duração da fase expiatória.

A fase inspiratória do ruído laringotraqueal tem origem nas vibrações produzidas pela entrada
brusca do ar por meio da fenda glótica e pelo choque da corrente aérea contra a bifurcação da traqueia.
Durante a expiração, o ar é expulso com grande velocidade de um brônquio de menor calibre para um
de maior calibre, indo a corrente aérea chocar-se contra a parede do brônquio maior, formando um
rodamoinho que é responsável pelo ruído da fase expiratória. O fato de não ouvir o ruído laringotraqueal
em zonas de parênquima pulmonar normal deve-se à perda considerável da intensidade do ruído, que
é transmitido pelos condutos aéreos apenas até os brônquios de 3 milímetros de diâmetro e, então,
pelo parênquima pulmonar, que, sabidamente, transmite mal os ruídos de frequência superior à sua
frequência específica, que se situa ao redor de cem ciclos por segundo.

Diversos autores divergem no modo de explicar a origem do murmúrio vesicular. Para alguns, a fase
inspiratória se dá por conta das vibrações dos sacos alveolares durante sua distensão sendo, portanto,
autóctone. Para outros, o murmúrio vesicular nada mais seria do que próprio ruído laringotraqueal, que,
ao se propagar através dos brônquios e do parênquima pulmonar, perderia suas características próprias.

Acreditamos que o murmúrio vesicular seja autóctone, já que continua sendo ouvido nos indivíduos
traqueotomizados (condição que perturba a formação do ruído laringotraqueal). A fase expiratória do
murmúrio vesicular parece provir da transmissão da fase expiratória do ruído laringotraqueal através
do parênquima pulmonar, onde sofre diminuição de sua intensidade por refração, reflexão e dispersão.

Em condições normais, o murmúrio vesicular pode apresentar variações de sua intensidade na


dependência da amplitude dos movimentos respiratórios da elasticidade da parede torácica e da região do
tórax. No homem, é mais intenso nas regiões infraclaviculares e infraescapulares; na mulher, predomina
nas regiões ântero-superiores; nas crianças, o murmúrio vesicular é mais intenso e de tonalidade mais
elevada do que no adulto, sendo também chamado de respiração pueril.

Em condições patológicas, o murmúrio vesicular pode se alterar por meio de modificações de sua
intensidade, timbre, tonalidade, continuidade e duração.

O murmúrio vesicular pode estar aumentado, diminuído ou abolido. Sua intensidade aumenta em
relação direta com a amplitude dos movimentos respiratórios. Sua diminuição pode se dar por conta
de lesões dos bronquíolos terminais ou dos alvéolos, que impedem a penetração do ar no seu interior.
É o que acontece nos processos congestivos (transudatos), nas alveolites (exsudatos) e nos processos
obstrutivos (inflamatórios ou tumorais).

109
Unidade II

Outras vezes, a diminuição do murmúrio é ocasionada por obstáculo ao livre trânsito do ar na árvore
brônquica ou pela distensão alveolar permanente, como no enfisema pulmonar, ou pela existência de
meios estranhos interpostos entre a caixa torácica e o pulmão (derrames pleurais ou pneumotórax).
Pode ocorrer, ainda, pela diminuição da expansibilidade do tórax (pleuris, nevralgia intercostal, fratura
de costela) ou mesmo por paralisia do diafragma e dos músculos inspiratórios.

Quando o murmúrio vesicular perde o caráter de ruído suave, tornando-se mais alto e áspero, ganha
o nome de respiração rude, que pode aparecer nas inflamações brônquicas e que, via de regra, precede o
aparecimento dos chamados ruídos adventícios.

Em determinadas condições, o murmúrio vesicular, em vez de ser contínuo, é interrompido por


uma série de pausas, caracterizando a chamada respiração entrecortada. Quando é generalizada, pode
ser por conta de nervosismo, tremores ou afecções dolorosas do tórax. Quando localizada, indica uma
dificuldade na distensão regional do parênquima pulmonar, por processos inflamatórios crônicos do
pulmão ou da pleura.

Por vezes, a fase expiratória do murmúrio vesicular torna-se mais duradoura e mais intensa do que
a fase inspiratória, continuando, porém, de tonalidade mais baixa. É a chamada expiração prolongada.
Essa modalidade de ruído respiratório pode aparecer em indivíduos magros, sendo ouvida nas regiões
próximas aos grandes brônquios (respiração broncovesicular). Em condições patológicas, a expiração
prolongada pode ocorrer em três eventualidades: nos pulmões com perda de elasticidade (enfisema); no
espasmo brônquico difuso (asma brônquica); ou quando existem alterações que favoreçam a propagação
do ruído laringotraqueal (condensação pulmonar).

Sopros

Em condições normais, o ruído laringotraqueal e mal transmitido pelo parênquima pulmonar. Porém,
quando houver condições que favoreçam sua transmissão até a superfície torácica, é possível auscultar
um ruído caracterizado por uma fase expiratória mais aguda, intensa e duradoura do que a inspiratória,
o chamado sopro.

O sopro, portanto, nada mais é do que o próprio ruído laringotraqueal que, devido a especiais
condições de transmissibilidade do parênquima pulmonar, passa a ser ouvido na superfície do tórax.
As alterações pulmonares que favorecem a transmissão do ruído laringotraqueal são constituídas pelas
condensações e cavidades pulmonares.

Para que as condensações possam originar sopros, é necessário que sejam superficiais, tenham certa
extensão e profundidade suficiente para alcançar os brônquios de mais de 3 milímetros de diâmetro e que
haja permeabilidade das vias aéreas. Em relação às cavidades, elas também devem ser superficiais, vazias,
de mais de 4 centímetros de diâmetro, ter tecido condensado ao redor de si e estar em comunicação
com um brônquio.

110
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Os sopros, segundo as variações de sua intensidade, altura e timbre, podem ser classificados em:

• Sopro tubário ou tubárico: ocorre quando o ar passa pelo brônquio pérvio situado no seio da
consolidação parenquimatosa. Aparece nas grandes condensações.

• Sopro cavitário: de tonalidade grave, tem timbre especial devido à presença da cavidade que
funciona como um ressoador (ocorre pelo turbilhonamento do ar ao entrar dentro de uma
cavitação no parênquima).

• Sopro anfórico: constituído por um som fundamental grave sobre o qual se assestam sobretons
agudos, o que lhe confere um timbre musical característico. Pode ser encontrado no pneumotórax
e em grandes cavidades vazias, de mais de 7 centímetros de diâmetro, de paredes lisas e tensas.

• Sopro pleural: ocorre devido à condensação decorrente do colapso pulmonar, causada pelo
líquido pleural e pela compressão dos brônquios que tomam a forma de bico de clarineta.

Os ruídos adventícios são assim denominados porque só aparecem em condições patológicas.


Compreendem os:

Estertores roncantes e sibilantes

Ambos possuem a mesma origem, traduzindo uma obstrução parcial dos brônquios. Quando houver
secreções espessas nos grandes brônquios, ocorrem os roncos. Quando localizadas nos pequenos
brônquios, acompanhadas ou não de espasmo da musculatura, como no caso das bronquites e das
crises asmáticas, ocorrem os sibilos. Quando, porém, a obstrução se localiza na traqueia, há um ruído
bastante intenso, que pode ser ouvido à distância e que ocorre principalmente nos casos de tumores
que diminuem a luz da traqueia.

Os roncos são ruídos intensos, de tonalidade grave, que ocupam as duas fases da respiração,
podendo, por vezes, ser ouvidos à distância, não só pelo médico, como também pelo próprio paciente.
Corresponde às vibrações que, na palpação, são chamadas de frêmito brônquico. Os roncos podem
alterar-se, desaparecer ou mudar de lugar tanto com a respiração como a tosse devido à mobilização
das secreções intrabrônquicas.

Os sibilos são ruídos bastante agudos, muitas vezes também ouvidos à distância, que podem ser
localizados ou generalizados. Nessa última eventualidade, acompanham-se de intensa dispneia, como
ocorre no acesso de asma brônquica. São mais intensos na expiração, por conta da dificuldade que o ar
encontra para sair.

Estertores crepitantes

São ruídos finos, homogêneos, de mesma altura, timbre e intensidade, sendo auscultados apenas na
fase inspiratória. São também denominados estertores alveolares, justamente porque são produzidos
pelo deslocamento das paredes dos alvéolos, causados pela entrada de ar no seu interior. Em virtude
111
Unidade II

do local onde são produzidos, não são modificados pela tosse. O estertor crepitante indica sempre um
comprometimento alveolar, tal como ocorre na pneumonia, no infarto pulmonar e na fase inicial do
edema agudo do pulmão.

Em condições fisiológicas, é possível aparecerem estertores crepitantes nas regiões inferiores do


pulmão de pessoas acamadas, que permanecem muito tempo em uma mesma posição. São chamados de
estertores de decúbito ou marginais, desaparecem rapidamente com a mudança da posição do doente,
não têm significado patológico e ocorrem por conta do colabamento das paredes dos alvéolos, causado
pela prolongada imobilidade respiratória.

Estertores subcrepitantes

São ruídos mais grossos e de tonalidade mais grave do que os estertores crepitantes, assemelhando‑se
ao arrebentamento de pequenas bolas. Diferem entre si quanto à altura, intensidade e timbre, e são
encontrados no fim da inspiração e começo da expiração. Originam-se no conflito entre a corrente aérea
e as secreções líquidas existentes na luz bronquiolar, podendo ser modificados pela tosse.

Podem-se distinguir estertores subcrepitantes de bolhas finas, médias e grossas, conforme o diâmetro
dos brônquios onde têm origem. Assim, o tamanho das bolhas dos estertores subcrepitantes tem
importância para a localização do processo na árvore brônquica e, às vezes, até para o seu prognóstico.

Além da bronquite, o estertor subcrepitante pode ocorrer nas pneumonias, broncopneumonias,


congestão passiva da insuficiência cardíaca e no edema agudo de pulmonar. Nesta última, o número de
estertores subcrepitantes e o nível que alcançam, das bases para os ápices, têm uma grande importância
para a avaliação do processo, que será tanto mais grave quanto mais numerosos forem os estertores e
quanto maior a área de parênquima atingida.

Quando os estertores subcrepitantes têm origem em regiões pulmonares condensadas, em cavidades


ou em sua vizinhança, as condições favoráveis de transmissão fazem com que eles apresentem
maior intensidade e timbre musical. Nesses casos, são denominados estertores consonantes. Quando
produzidos em cavidades ou nas proximidades, os estertores adquirem um timbre particular denominado
cavernoso ou anfórico, dependendo do tamanho da cavidade, exatamente como acontece em relação
aos sopros cavernosos e anfóricos. Os estertores de bolhas grossas formadas dentro de cavernas tomam
a denominação particular de gargarejo.

Quando há abundante secreção na traqueia e nos brônquios grossos, tem origem um ruído intenso,
que pode ser ouvido à distância, constituído por uma mistura de roncos e estertores de bolhas grossas,
conhecido como sororoca. É observado nos estados agônicos de doentes cardíacos e pulmonares crônicos
e, também, no edema agudo de pulmão.

Atrito pleural

Nas inflamações da pleura, por se tornar rugosa, seu deslizamento torna-se doloroso, originando
vibrações que podem ser percebidas pela palpação e pela ausculta. O atrito pleural localiza-
112
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

se comumente nas regiões laterais do tórax, é mais audível no fim da inspiração e no começo da
expiração, acentua-se com a pressão do estetoscópio sobre o tórax e com a inspiração profunda e
não influenciado pela tosse.

Ausculta da voz

A ausculta da voz deve ser realizada comparando-se regiões simétricas do tórax, de maneira ordenada
e sistemática, enquanto o paciente pronuncia, em voz natural, a expressão trinta e três. Em condições
normais, ouve-se um ruído indistinto, não sendo possível identificar a articulação da palavra, ruído
denominado broncofonia normal, que varia a intensidade conforme a região e a tonalidade da voz.
Assim, é mais intenso no homem do que na mulher e em crianças, pelo fato de a voz masculina ser de
baixa frequência e, portanto, mais próxima da frequência específica de vibração do pulmão.

A broncofonia aumentada é reconhecida pela percepção de um ruído mais intenso e agudo, que
ocorre quando o parênquima pulmonar adquire melhores condições de condutibilidade do som, pela
homogeneização do meio, como acontece nas condensações e nas cavidades.

A broncofonia pode estar diminuída ou abolida sempre que houver dificuldade na produção e na
transmissão da voz. É o que acontece nas seguintes eventualidades: afonia, rouquidão, obstrução das
vias aéreas (atelectasias), aumento da heterogeneidade do parênquima pulmonar (paquipleuris) e
aumento da espessura da parede torácica (obesidade, anasarca).

Pectorilóquia

Quando na ausculta da superfície torácica ouvimos a palavra articulada com nitidez e com maior
intensidade, dizemos que há pectorilóquia. Ela indica que há boas condições de transmissão do som,
como ocorre nas condensações pulmonares ou cavidades com condensação pericavitária.

Há dois tipos de pectorilóquia: a pectorilóquia fônica, evidenciada quando o paciente fala com voz
normal; e a pectorilóquia afônica ou áfona, quando as palavras são pronunciadas com voz cochichada.

Resumo

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade


e Saúde (CIF) é um modelo para a organização e documentação de
informações sobre funcionalidade e incapacidade, que atua baseada em
uma abordagem biopsicossocial em perspectiva multidimensional. Ela visa
colocar as diferentes condições de saúde em um patamar de igualdade,
permitindo que sejam comparadas entre si. É utilizada em condições de
estatística, estudos epidemiológicos, organização de prontuários, aspectos
organizacionais, assim como em setores como seguros, previdência social,
trabalhista, educacional, econômico, desenvolvimento de políticas ou
legislação e meio ambiente.
113
Unidade II

Os objetivos da CIF são: proporcionar uma base científica para a


compreensão e o estudo da saúde, dos estados relacionadas a ela, dos
resultados e dos determinantes; estabelecer uma linguagem comum para
a descrição da saúde e dos estados relacionados a ela, a fim de melhorar a
comunicação entre diferentes utilizadores, tais como profissionais de saúde,
investigadores, decisores e o público, incluindo pessoas com incapacidades;
e proporcionar e permitir a codificação e a unificação de estudos globais.

Os exames do sistema respiratório são parte integral de todos os


profissionais clínicos da área da saúde, podendo certamente influenciar
também em estudos e pesquisas. As avaliações de elementos como
frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória são
fundamentais para hipóteses diagnósticas e análises do quadro geral
do paciente. A partir dos diferentes elementos avaliados nos exames do
sistema respiratório, é possível criar uma série de padrões para estudos
de áreas como fisiologia, cardiologia, fisiologia dos exercícios, entre
outras. Sendo ainda uma avaliação mais direcionada às habilidades
cardiorrespiratórias, são comuns alterações no quadro geral de muitos
pacientes, sendo necessários tais conhecimentos.

Exercícios

Questão 1. (Enade, 2010) Quando um indivíduo tem sua rotina alterada por condições que afetam
sua saúde, essas atividades e a participação dele no âmbito social são bastante modificadas. As condições
de saúde são influenciadas pelas estruturas e funções do corpo, assim como pelo nível de atividade
funcional do indivíduo e sua participação na sociedade. O fisioterapeuta deve ter conhecimento acerca
dos modelos de saúde hierarquizados. O pensar desse profissional deve ser voltado para uma visão global
na avaliação e no tratamento. O modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde (CIF) considera os fatores:

A) Sociais e econômicos.

B) Ambientais e pessoais.

C) Individuais e alimentares.

D) Coletivos e organizacionais.

E) Psicológicos e integracionistas.

Resposta correta: alternativa B.

114
AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com a condição social e econômica do indivíduo, uma incapacidade pode
significar reclusão ao lar, ser minimamente restritiva ou em nada restringi-lo.

B) Alternativa correta.

Justificativa: com a CIF, a funcionalidade passa a ser vista como um componente importante da saúde
e para a qualidade de vida, trazendo à tona o contexto no qual o indivíduo está inserido, considerando
os fatores do ambiente onde vive e também os fatores pessoais.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a CIF visa observar as condições funcionais do indivíduo e a incapacidade relacionada


às condições de saúde, identificando as atividades de vida diária possíveis e aquelas que não o são, tendo
em vista as funções anatômicas e fisiológicas, assim como as limitações sociais e do meio ambiente
onde o sujeito vive.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: com a CIF, a funcionalidade passa a ser vista como um componente importante da saúde
e para a qualidade de vida, trazendo à tona o contexto no qual o indivíduo está inserido, considerando
os fatores do ambiente onde vive e também os fatores pessoais. Assim, o contexto não só é levado em
consideração, mas também é visto como facilitador ou barreira para o desempenho de ações e tarefas.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a CIF é baseada em uma abordagem biopsicossocial que incorpora aspectos biomédicos,
psicológicos e sociais. Nesse modelo, cada nível exerce influência e é influenciado pela ação dos demais,
sendo que todos os níveis são influenciados pelos fatores ambientais.

Questão 2. (AOCP/EBSERH, 2015) Uma paciente, 28 anos, é internada com diagnóstico de derrame
pleural à esquerda. O fisioterapeuta, ao realizar a avaliação do tórax, observa que na base do hemitórax
esquerdo o frêmito toracovocal e a percussão se encontram respectivamente:

A) Aumentado e maciça.

B) Normal e submaciça.

C) Diminuído e submaciça.

D) Abolido e timpânica.
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Unidade II

E) Aumentado e com som claro pulmonar.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: processos patológicos ocasionam diminuição do frênulo, aumentado e a percussão submaciça.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o frênulo é diminuído.

C) Alternativa correta.

Justificativa: toda vez que houver processos patológicos, tais como derrames pleurais, pneumotórax
e enfisema, a transmissão do som será dificultada, o que ocasiona diminuição do frêmito. Quando o som
produzido pela percussão do tórax se torna menos intenso, mais agudo e de menor duração do que o
som claro pulmonar, é denominado som submaciço.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o som timpânico, quando produzido pela percussão do tórax, se assemelha a um


tambor, com som ressonante.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o som claro pulmonar ocorre em um indivíduo normal no qual a percussão do tórax
origina um ruído intenso grave, de longa duração.

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