Classificação Internacional de Funcionalidade,

Incapacidade e Saúde (CIF): Aplicação Prática

Professores: Cláudio Guimarães – Msc

Viviane Morais – Msc
 Historicamente, as intervenções em reabilitação têm sido guiadas pelo modelo biomédico.

 Esse modelo define saúde como a ausência de doenças e, por conseguinte, focaliza a avaliação e o
tratamento nos sinais e nos sintomas da patologia, considerando apenas o nível físico.

 Na atualidade, os modelos de reabilitação refletem uma mudança de paradigma e definem saúde em

termos mais amplos, indicando que fatores sociais, psicológicos e ambientais contribuem para a saúde e a
qualidade de vida.

Sampaio et al., 2005

 A fisioterapia necessita de um modelo teórico que guie sua prática e sua pesquisa, demarcando seu papel
na sociedade.

 Ao longo dos últimos anos foram propostos alguns modelos para nortear as discussões e as pesquisas sobre
o tema da incapacidade.

 Por incapacidade entende-se o(s) impacto(s) que as condições agudas e crônicas têm nas funções corporais
e na habilidade de o indivíduo atuar de modo esperado e pessoalmente desejável na sociedade.

 O primeiro modelo foi desenvolvido na década de 1960 por Saad Nagi, baseado na teoria sociológica, para
descrever o processo de incapacidade, tendo como ponto central quatro conceitos: patologia ativa,
disfunção, limitação funcional e incapacidade (Relação Linear)

Sampaio et al., 2005

 Perspectiva histórica dos principais modelos de função e disfunção humana

Versão
modificada do
modelo de Nagi
proposta
pela OMS em
1980 - ICIDH

Sampaio et al., 2005

  Em 2000, após diversas revisões, a ICIDH-2 foi aprovada.

 Essa nova versão engloba o chamado modelo biopsicossocial, uma síntese das
abordagens médica e social ao processo de incapacidade.

 Cada dimensão desse processo é conceitualizada como uma interação dinâmica entre
os fatores intrínsecos ao indivíduo e o seu ambiente físico e social.

 As três dimensões descritas previamente na ICIDH foram então definidas como:

disfunção, limitação de atividade e restrição da participação.

Uma pessoa que apresenta uma disfunção não necessariamente terá limitações
de atividade ou restrições na participação social, assim como uma pessoa pode
vivenciar limitações de atividade e restrição na participação sem apresentar
nenhuma disfunção.

Sampaio et al., 2005

 A OMS aprovou, em 2001, o sistema de classificação definitivo para o entendimento da funcionalidade
e da incapacidade humana: a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF).

 Abordagem que prioriza a funcionalidade como um componente da saúde e considera o ambiente

como facilitador ou como barreira para o desempenho de ações e tarefas.

 Funcionalidade engloba todas as funções do corpo e a capacidade do indivíduo de realizar atividades e

tarefas relevantes da rotina diária, bem como sua participação na sociedade.

 Incapacidade abrange as diversas manifestações de uma doença, como: prejuízos nas funções do
corpo, dificuldades no desempenho de atividades cotidianas e desvantagens na interação do indivíduo
com a sociedade.

Sampaio et al., 2005

A FAMÍLIA DE CLASSIFICAÇÕES INTERNATIONAIS DA OMS

 A CIF pertence à família de classificações internacionais da OMS, cujo membro mais

conhecido é a CID-10 (a Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde).

 A CID-10 fornece aos usuários uma estrutura etiológica para a classificação, através
de diagnósticos, de doenças, distúrbios e outras condições de saúde.

 CIF classifica funcionalidade e incapacidade associadas com estados de saúde;

 CID-10 e CIF são complementares, e os usuários são encorajados a usá-las em

conjunto para criar um quadro mais amplo e significativo da experiência de saúde
dos indivíduos e populações.

 CID-10 é principalmente usada para classificar causas de morte, mas a CIF classifica
saúde.
Quais as finalidades da CIF?

 Base Científica;

 Linguagem padrão (comum);

 Motivar e influenciar a produção científica da área.

A CIF é um modelo de estrutura da OMS para saúde e incapacidade.

CIF

 É a base conceitual para a definição, mensuração e formulações de políticas para saúde e

incapacidade.

 É uma classificação universal para incapacidade e saúde para uso em saúde e áreas relacionadas à
saúde.

 O mais importante uso é como uma ferramenta de planejamento e política para tomada de decisões.

 Seu foco se concentra especialmente sobre saúde e funcionalidade, mais que sobre a incapacidade.
A Avaliação Fisioterapêutica no Contexto da CIF

 Considerar um perfil funcional específico para cada indivíduo;

 Identificar as capacidades e as limitações nos três níveis que envolvem a saúde;

 Desenvolver um plano de tratamento centrado no paciente.

Conceito ampliado de saúde na avaliação fisioterapêutica  uma mesma patologia,

diagnosticada em diferentes indivíduos, não causará o mesmo impacto, e este não
se restringe ao nível de estrutura e função do corpo.

Avaliação deve ser voltada para o paciente, considerando com o mesmo grau de
importância todas as dimensões da saúde, incluindo as atividades e a participação
social.

Sampaio et al., 2005

Conceituações e terminologias dos componentes relatados na CIF

Farias; Buchalla, 2005

Definições

 As funções do corpo são as funções fisiológicas dos sistemas orgânicos (incluindo as funções
psicológicas);

 As estruturas do corpo são as partes anatômicas do corpo, tais como, órgãos, membros e
seus componentes;

 Deficiências são problemas nas funções ou na estrutura do corpo, tais como, um desvio
importante ou uma perda;

 Atividade é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo;

 Participação é o envolvimento numa situação da vida.

Definições

 Limitações da atividade são dificuldades que um indivíduo pode encontrar na execução de

atividades;

 Restrições na participação são problemas que um indivíduo pode experimentar no

envolvimento em situações reais da vida.

 Fatores ambientais constituem o ambiente físico, social e atitudinal no qual as

pessoas vivem e conduzem sua vida.

 Fatores pessoais são o histórico particular da vida e do estilo de vida de um indivíduo

e englobam as características do indivíduo que não são parte de uma condição de
saúde ou de um estado de saúde.
 Funcionamento, ação,
fisiologia das estruturas
do corpo
Anatomia do corpo, por
exemplo, órgãos, membros e
seus componentes
Fatores externos do meio
ambiente onde a pessoa vive
Envolvimento em uma situação
da vida social
Execução de tarefas realizadas no
dia a dia de um indivíduo
Gênero, idade, estilo de vida,
condição social, educação, profissão,
experiências passadas e presentes
Farias; Buchalla, 2005
Uma visão geral da CIF
 Qual das opções abaixo se refere à condição de saúde?

A – Acidente vascular encefálico

B - Limitação para caminhar
C - Restrição para ir à igreja
D - Limitação para subir escada
A qual dimensão da CIF se refere o seguinte achado da avaliação: Para acessar a
horta em sua casa, é necessário subir alguns degraus

A Estrutura e função do corpo

B Atividade
C Participação
D Fatores ambientais
E Fatores pessoais
A qual dimensão da CIF se refere o seguinte achado da avaliação: Limitação
para subir escada

A Estrutura e função do corpo

B Atividade
C Participação
D Fatores ambientais
E Fatores pessoais
A qual dimensão da CIF se refere o seguinte achado da avaliação: Edema em
joelho e pé

A Estrutura e função do corpo

B Atividade
C Participação
D Fatores ambientais
E Fatores pessoais
A qual dimensão da CIF se refere o seguinte achado da avaliação: aumento da
espasticidade do membro superior

A Estrutura e função do corpo

B Atividade
C Participação
D Fatores ambientais
E Fatores pessoais
A qual dimensão da CIF se refere o seguinte achado da avaliação: Restrição da
dorsiflexão ativa do tornozelo

A Estrutura e função do corpo

B Atividade
C Participação
D Fatores ambientais
E Fatores pessoais
 Na abordagem da CIF, deficiência se refere a

A problemas nas funções ou nas estruturas do corpo

B dificuldade para executar atividades
C dificuldade para se envolver em situações da vida
Na abordagem da CIF, restrições de participação se refere a

A - problemas nas funções ou nas estruturas do corpo

B - dificuldade para executar atividades
C - dificuldade para se envolver em situações da vida
Na abordagem da CIF, limitações de atividades se refere a

A - problemas nas funções ou nas estruturas do corpo

B- dificuldade para executar atividades do dia dia
C - dificuldade para se envolver em situações da vida
Aplicabilidade da CIF

 Ferramenta Estatística

 Pesquisa

 Clínica

 Política Social

 Pedagógica
Lista completa de capítulos na CIF
Lista completa de capítulos na CIF
Utilização da CIF

A CIF utiliza um sistema alfanumérico:

 b (body) = função do corpo

 s (structure) = estrutura do corpo
 d (domain) = atividade e participação
 e (environment) = fatores pessoais e ambientais

Essas letras são seguidas por um código numérico que começa com o número do capítulo
(um dígito), seguido pelo segundo nível (dois dígitos) e o terceiro e quarto níveis (um dígito
cada).
Os códigos da CIF só estão completos com a presença de um qualificador, que
indica a magnitude do nível de saúde (por exemplo, gravidade do problema).
Utilização da CIF

Os números seguem a seguinte referência:

 Um número ou primeiro nível: referente ao capítulo no qual o classificador se encontra;

 Dois números após o primeiro número: classificação de segundo nível, classificador mais
específico;

 Um número após os três primeiros: classificação de terceiro nível, classificador ainda

mais específico;

 Um número após os quatro primeiros: classificação de quarto nível, maior grau de

especificação do classificador.
Qualificadores da CIF, exemplo:
Exemplo

b7502

 b = domínio de função do corpo

 7 = capítulo (Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas com o movimento )

 50 = subcapítulo (Funções de reflexos motores )

 2 = especificação (Reflexos gerados por outros estímulos exteroceptivos)

 Classificação de terceiro nível

Qualificadores da CIF

 Os códigos da CIF requerem o uso de um ou mais qualificadores que denotam a magnitude ou gravidade do
problema em questão;

 O problema se refere a uma deficiência, limitação, restrição ou barreira quando usado em combinação com os
códigos b, s, d ou e, respectivamente;

 Os qualificadores são codificados como um ou mais números após um ponto decimal.

Exemplo

 O indivíduo B relatou dor constante iniciada há cerca de dois anos, após acidente de trabalho.
 No momento da avaliação, a dor foi graduada como 4, segundo a Escala Analógica da Dor.

 Durante e após o trabalho.

 A sensação dolorosa torna-se quase insuportável, sendo graduada como 9, pois sua demanda ocupacional
exige movimentos repetitivos de tronco (flexão e rotação).
 Esse indivíduo apontou como principais limitações de atividade:
• calçar sandálias
• higiene dos pés
• lavar o cabelo no tanque
• carregar a filha
 O impacto da lombalgia crônica na participação social caracterizou-se pela restrição no lazer (passear de
bicicleta).
 Esse indivíduo encontra-se levemente insatisfeito com sua vida.
Sampaio et al., 2005
Sampaio et al., 2005
Número de qualificadores em cada domínio

 Funções do corpo = 1 qualificador

 Indica a extensão ou magnitude da deficiência.

 A deficiência de uma pessoa com hemiparesia pode ser descrita com o código
b7302 "Força dos músculos de um lado do corpo":
Exemplo

b28013.2

 b = domínio de função do corpo

 2 = 1° nível (Funções sensoriais e dor)

 80 = 2° nível (Sensação dor)

 1 = 3° nível (Dor localizada)

 3 = 4° nível (Dor nas costas)

 .2 = dor moderada

 Classificação de quarto nível

Número de qualificadores em cada domínio

 Estruturas do corpo = 3 qualificadores

 O primeiro qualificador descreve a extensão ou grau da deficiência;

 O segundo qualificador é utilizado para indicar a natureza da mudança;
 O terceiro indica a localização da deficiência.
Número de qualificadores em cada domínio

 Estruturas do corpo = 3 qualificadores

 O primeiro qualificador descreve a extensão ou grau da deficiência;

 O segundo qualificador é utilizado para indicar a natureza da mudança;
 O terceiro indica a localização da deficiência.
Exemplo

s76002.2

 s = Estruturas do corpo

 7 = 1° nível (Estruturas relacionadas com o movimento)

 60 = 2° nível (Estrutura tronco)

 0 = 3° nível (Coluna vertebral)

 2 = 4° nível (Segmento vertebral lombar)

 .2 = deficiência moderada

 Classificação de quarto nível

Exemplo

s75000.452

 s = Estruturas do corpo

 7 = 1° nível (Estruturas relacionadas com o movimento)

 50 = 2° nível (Estrutura do membro inferior)

 0 = 3° nível (Estrutura da coxa)

Fratura de fêmur E
 0 = 4° nível (Ossos da coxa)

 .4 = deficiência completa
 5 = descontinuidade
 2 = lado esquerdo
Número de qualificadores em cada domínio

 Atividades e Participação = 2 qualificadores;

 O qualificador de desempenho ocupa a posição do primeiro dígito após o ponto;
 O qualificador de capacidade ocupa a posição do segundo dígito após o ponto.
Número de qualificadores em cada domínio

 Atividades e Participação = 2 qualificadores;

 O qualificador de desempenho ocupa a posição do primeiro dígito após o ponto;

 O qualificador de capacidade ocupa a posição do segundo dígito após o ponto.

Desempenho = ambiente habitual

Capacidade = ambiente padrão (pouco frequentado)
Exemplo

d4102.2

 d = Atividade e Participação

 4 = 1° nível (Mobilidade)

 10 = 2° nível (Mudar a posição básica do corpo)

 2 = 3° nível (Ajoelhar)

 .2 = problema moderado
Exemplo

d4500.13

 d = Atividade e Participação

 4 = 1° nível (Mobilidade)

 50 = 2° nível (Andar)

 0 = 3° nível (Andar distâncias curtas)

 .1 = dificuldade leve ao andar no ambiente habitual (ex: casa)

 3 = dificuldade grave ao andar no ambiente padrão (ex: rua para ir ao supermercado)
Número de qualificadores em cada domínio

 Fatores ambientais = 1 qualificador

 A utilização de um ponto sozinho (.) denota barreira enquanto que a utilização

do sinal + denota um facilitador como indicado abaixo:
Exemplo

e1509.+1

 e = Fatores ambientais

 1 = 1° nível (Produtos e tecnologia)

 50 = 2° nível (Arquitetura, construção, materiais e tecnologias arquitetônicas em prédios

para uso público)

 9 = 3° nível (Arquitetura, construção, materiais e tecnologias arquitetônicas em prédios

para uso público, não especificados)

 .+1 = facilitador leve

ESTUDO DE CASO