Você está na página 1de 36

TERMO E FOTOTERAPIA

Unidade II
5 MICRO-ONDAS E MAGNETOTERAPIA

5.1 Micro-ondas

A diatermia por micro-ondas é uma modalidade terapêutica de espectro eletromagnético,


com onda na faixa entre 300 MHz e 300 GHz, chamada de micro-onda, com comprimento entre
1 m e 1 mm.

Para o uso terapêutico da radiação por micro-ondas, é determinada uma faixa padrão nos
equipamentos de:

• Frequência: 2.456 MHz.

• Comprimento: 12,25 cm.

• Frequência: 915 MHz.

• Comprimento: 327 mm.

Em comparação com as ondas curtas estudadas anteriormente, temos uma elevação de frequência
com a redução do comprimento de onda, o que resulta em um aquecimento profundo, mas inferior se
comparado com as demais modalidades de diatermia profunda estudadas.

Para compreender melhor por que a micro-onda produz calor profundo, porém mais superficial
que aquele produzido pelas ondas curtas, precisamos notar que o comprimento e a frequência de uma
micro-onda causam maior absorção das ondas, o que evita a sua passagem.

Dependendo do tempo de exposição à radiação, da frequência e do comprimento de onda, a exposição


dessa radiação ao tecido biológico em seres humanos pode ser lesiva. Por esse motivo, existem diversas
entidades e órgãos reguladores de padrões para a utilização da radiação em seres humanos, como:
Canadian Department of Health and Welfare; Australian National Health and Medical Research Council
e National Radiation Protection Board.

73
Unidade II

Figura 38 – Interface de um aparelho de micro-ondas da marca KLD® com painel analógico

5.1.1 Características físicas

Veremos, a seguir, que a diatermia por micro-ondas possui características físicas específicas.
É importante que o fisioterapeuta entenda como ocorre a interação das ondas eletromagnéticas com
o tecido biológico. Essas características e sua interação com o tecido biológico podem influenciar
diretamente nos efeitos desejados pelo fisioterapeuta – por exemplo, no posicionamento correto do eletrodo.

As principais características físicas que ocorrem assim que as ondas eletromagnéticas atingem o
tecido biológico são:

• Absorção.

• Refração.

• Reflexão.

O fenômeno de absorção da onda eletromagnética ocorre quando um tecido com afinidade às


características da onda emitida captura sua energia, diminuindo a amplitude da onda e a distância que
essa onda poderia penetrar nos tecidos.

Tal fenômeno justifica a diferença de profundidade entre as ondas curtas e as micro-ondas,


pois, mesmo se tratando de duas ondas eletromagnéticas, as características como a frequência e o
comprimento específicos de cada onda podem interferir diretamente na absorção do tecido biológico e,
assim, na profundidade atingida.

A refração da onda eletromagnética ocorre quando, ao penetrar o tecido biológico, o ângulo de


incidência da onda é alterado, assim como acontece com a luz ao passar pela água.

74
TERMO E FOTOTERAPIA

Quando falamos em reflexão, o ângulo de incidência da onda é mantido, e o tecido biológico ou


meio não é ultrapassado, sendo, assim, a onda refletida (lei dos cossenos).

A figura a seguir demonstra o comportamento das ondas ao incidirem na superfície de um meio


diferente daquele pelo qual elas trafegavam.
N

Ângulo
incidente

θ
Feixe Refletido

Transmitido Refratado
Tecido

Absorvido

Figura 39 – Demonstração de refração e reflexão

É importante salientar que apenas radiações absorvidas possuem função terapêutica, uma vez que
muita energia se perde pela refração e reflexão do tecido cutâneo.

Quanto maior a reflexão da onda eletromagnética pelo tecido biológico, menor é a penetração
e a absorção da energia que essa onda carrega, o que irá interferir diretamente no efeito desejado.
A reflexão é indesejada na aplicação das micro-ondas.

A diatermia gerada por micro-ondas ocorre pelos mesmos princípios biofísicos da diatermia por
ondas curtas, que são a vibração de íons, a rotação de dipolos e a distorção molecular.

Os tecidos com baixa condutividade elétrica permitem maior penetração das ondas
eletromagnéticas, enquanto os tecidos com elevada condutividade elétrica permitem maior absorção
dos campos eletromagnéticos.

São tecidos de alta condutividade elétrica:

• Vasos sanguíneos.

• Músculos.

• Pele úmida.

75
Unidade II

• Órgãos e vísceras.

• Olhos.

Os tecidos fibrosos e adiposos sofrem distorção molecular; porém, estes são incapazes de promover
aquecimento clinicamente significativo.

Direcionamento de transmissão

Diferentemente das ondas curtas, temos, nas micro-ondas, um cabo unido com uma única válvula
para o direcionamento das ondas eletromagnéticas, com correntes que oscilam em relação à velocidade
de elétrons.

Lembrete

Aparelhos emissores de micro-ondas ou ondas curtas podem sofrer


interferências ou causá-las no ambiente.

5.1.2 Posicionamento do refletor

O refletor é o dispositivo que transmite ou emite a energia que foi criada por correntes oscilatórias e
pode ser retangular ou circular. Existe uma diferença no modo pelo qual o aquecimento ocorre em cada
uma dessas correntes, como podemos ver na figura a seguir.

Vista anterior Perfil

Figura 40 – Refletor de micro-ondas

As características mais encontradas em cada modalidade de eletrodos são:

• Circulares:

—― Diâmetro: 10 cm a 15 cm de diâmetro.

—― Temperatura: periferia para o centro.

76
TERMO E FOTOTERAPIA

• Retangulares:

—― Dimensões: 11,25 cm × 12,5 cm ou 12,52 cm × 52,5 cm.

—― Temperatura: centro para a periferia.

50%

50%

Figura 41 – Aquecimento do eletrodo circular

50%

Figura 42 – Emissor retangular e aquecimento de cada região

Ação principal

Os efeitos que ocorrem frente à aplicação da diatermia por micro-ondas se dividem em efeitos
térmicos e não térmicos, assim como efeitos fisiológicos e terapêuticos.

Efeitos não térmicos

Os efeitos não térmicos possuem relação direta com as ondas eletromagnéticas e suas influências
biológicas. Estas ocorrem com ou sem os efeitos térmicos agregados.

A duração do pulso, o comprimento de onda, a frequência e a potência total possuem relação


direta com a presença dos efeitos não térmicos ao tecido biológico, mas ainda existem poucos estudos
relacionados à dosimetria de micro-ondas.

Entre os efeitos, está o chamado colar de pérola, que prediz o alinhamento de moléculas nos tecidos.
Outro efeito importante é a alteração na excitabilidade neural, o que pode influir no contexto de manejo
do quadro álgico.

O aumento da estabilidade dos tecidos de colágenos é citado em repetidos artigos científicos.

77
Unidade II

Observação

Efeitos não térmicos são importantes para os pacientes que estão com
processo inflamatório agudo na região a ser tratada e que não podem se
beneficiar dos efeitos térmicos das micro-ondas.

Efeitos térmicos

Os efeitos fisiológicos que ocorrem devido ao aumento da temperatura estão dispostos na figura a seguir.

Vasodilatação

Redução dos Aumento do


catabólitos metabolismo

Micro-ondas

Redução da Aumento do
viscosidade dos aporte de O2
líquidos

Figura 43 – Efeitos fisiológicos da diatermia por micro-ondas

A somatória dos efeitos fisiológicos pode justificar os efeitos terapêuticos (figura a seguir) promovidos
pelas micro-ondas.

Analgesia

Redução
Micro-ondas Reparação
do espasmo tecidual
muscular

Recuperação
pós-exercício
(recovery)

Figura 44 Efeitos terapêuticos da diatermia por micro-ondas

78
TERMO E FOTOTERAPIA

Indicação

As indicações da utilização terapêutica das micro-ondas devem ser relacionadas aos efeitos
terapêuticos e fisiológicos, contribuindo em casos como:

• Sintomas de artrites.

• Tenossinovites.

• Tendinite.

• Sequela de lesões fibrosas.

• Pós-operatório tardio de lesões articulares ou fraturas.

• Período prolongado de imobilização.

• Processo inflamatório crônico.

• Rigidez articular.

• Qualquer dor do sistema musculoesquelético com espasmo muscular associado.

Dosimetria

A sensação térmica relatada pelo paciente é vital durante a irradiação das micro‑ondas, pois a
intensidade do campo eletromagnético, que é um dos parâmetros dosimétricos das micro‑ondas, será
ajustada de acordo com a elevação da temperatura.

Dessa forma, é preciso utilizar a escala de Schliephake que veremos a seguir.

Nível I: débil
Calor imperceptível, abaixo do limiar de sensibilidade de aquecimento

Nível II: calor leve


Imediatamente perceptível, é o início da sensação de aquecimento

Nível III: calor moderado


Sensação mais clara do calor, é um calor agradável

Nível IV: calor elevado


No limite da tolerância, é um calor desconfortável

Figura 45 – Escala de Schliephake

79
Unidade II

Durante a aplicação, o terapeuta deve escolher o tempo e a dose e observar sempre a resposta do
paciente. Esses parâmetros podem ser ajustados no display do equipamento.

Escolha da intensidade Escolha do tempo

Ligar e desligar Resetar

Figura 46 – Parâmetros dosimétricos que podem ser alterados no dispositivo de diatermia por micro-ondas

O parâmetro dosimétrico de intensidade deve, como citado, ser ajustado de acordo com a sensação
térmica relatada pelo paciente. De modo geral, podemos usar:

• Inflamações crônicas recentes: o paciente deve sentir um leve aquecimento tecidual.

• Inflamações crônicas tardias: o paciente deve sentir um aquecimento agradável.

O tempo de aplicação para realizarmos um tratamento adequado em nosso paciente é de 20 a 30 minutos.


Em aplicações com tempo inferior a 20 minutos, não teremos todas as respostas fisiológicas desejadas do
calor, e, em aplicações de mais de 30 minutos, não existirá incremento dos efeitos desejados, aumentando
a chance de queimaduras.

Protocolo de aplicação

O primeiro passo para uma adequada aplicação terapêutica da diatermia por micro-ondas é a
explicação ao paciente sobre essa terapêutica e sua necessidade no tratamento. É preciso orientar
quanto à sensação térmica esperada e à necessidade de relato do paciente para o fisioterapeuta.

O segundo passo é a realização de um teste de sensibilidade térmica e doloroso, pois, caso o paciente
tenha um déficit na sensibilidade, não será possível utilizar nele o equipamento de micro-ondas.

80
TERMO E FOTOTERAPIA

Em seguida, é necessário posicionar o paciente de forma adequada e confortável, além de orientá‑lo


sobre a necessidade de não se mover durante a terapia, ou, quando o fizer, alertar o fisioterapeuta.
É necessário manter o local da aplicação desnudo.

Em áreas de aplicação menores, como nas articulações interfalangianas, o refletor deve estar a
uma distância de 5 cm. Em área maiores, como ombro ou joelho, o refletor deve estar a uma distância
de 10 cm.

O fisioterapeuta deve elevar a intensidade do aparelho de forma lenta e gradual enquanto questiona
sobre a sensação do paciente, até atingir a intensidade desejada.

Não podemos esquecer que o ângulo de incidência do feixe da onda eletromagnética deve estar a
90° da superfície da pele do paciente. Quanto mais se altera o ângulo de 90°, maior a reflexão e menor
a energia oferecida ao tecido biológico.

Veremos, a seguir, os métodos de aplicação da diatermia por micro-ondas em regiões distintas do


corpo humano.

Aplicação na região torácica

Para aplicar a diatermia por micro-ondas na região torácica, é necessário que o paciente esteja
deitado ou sentado, podendo utilizar um apoio em uma maca (não metálica) para evitar que se
movimente constantemente.

Figura 47 – Aplicação da diatermia por micro-ondas na região torácica do paciente. Perceba que existem regiões
nas quais a anatomia topográfica não permite que as ondas sejam emitidas de forma perpendicular por
toda a estrutura, o que pode promover algumas alterações de absorção em cada região

É importante que o posicionamento do paciente seja o mais confortável possível durante o tempo
da aplicação, período no qual o terapeuta não pode se afastar, devendo acompanhar todo o processo.

81
Unidade II

Observação

Posicione o paciente de forma confortável para que ele consiga se


manter estável durante toda a terapia.

Aplicação na região do ombro

Para aplicar a diatermia por micro-ondas na região do ombro, diferentes áreas podem ser escolhidas,
como: anterior, superior, posterior e lateral.

Durante a aplicação, é necessário um cuidado extra para que as regiões dos olhos ou da face não
sejam afetadas.

O terapeuta pode posicionar o paciente deitado ou sentado, em ambos os casos apoiado em uma
cadeira ou maca que não seja metálica.

Figura 48 – Aplicação da diatermia por micro-ondas na região do ombro (lateral)

Oriente sempre o paciente a não realizar movimentos durante a sessão e, sempre que necessário,
chamar ou avisar que algo não está de acordo com o que foi explicado.

Aplicação na região do joelho

A diatermia por micro-ondas na região do joelho pode ser realizada com o paciente deitado (decúbito
dorsal) ou sentado.

82
TERMO E FOTOTERAPIA

Figura 49 – Aplicação da diatermia por micro-ondas na região do joelho com o paciente deitado

Não existe uma região perfeita descrita na literatura para a aplicação da técnica. Por isso, é possível
escolher o melhor posicionamento para o seu paciente, de acordo com o relato de conforto ou mesmo com
a região que o terapeuta acredita ser necessário tratar. Dessa forma, a flexão de joelho com a perna suspensa
poderia aumentar a área articular a ser tratada e favorecer, assim, algumas regiões, como os meniscos.

Os pacientes que optarem por ficar deitados devem, sempre que possível, utilizar o coxim na região
do joelho, mantendo a perna fletida.

Observação

É importante encontrar uma posição na qual o paciente não esteja com


nenhuma região desconfortável, evitando muito movimento.

Cuidados e precauções na aplicação

É essencial ter cuidado com pacientes que utilizam materiais sintéticos. Nenhum outro equipamento
de eletroterapia deve ser utilizado no mesmo recinto e no mesmo momento que o de micro-ondas.

Também deve-se ter cuidado com relógios e celulares próximos à área de aplicação.

Contraindicação

A aplicação da diatermia por micro-ondas é contraindicada nos casos a seguir:

• Pacientes que apresentam disfunções de sensibilidade.

• Pacientes gestantes.

83
Unidade II

• Pacientes portadores de implantes metálicos.

• Pacientes que não cooperam.

• Pacientes piréxicos.

• Pacientes que não têm condições de oferecer informações seguras quanto ao aquecimento tecidual.

• Áreas hemorrágicas.

• Áreas com disfunções vasculares.

• Tecidos neoplásicos.

• Lesões tuberculosas ativas.

• Doença cardíaca grave.

• Distúrbios infecciosos.

• Região das gônodas.

• Região dos olhos.

5.2 Magnetoterapia – campo eletromagnético pulsado ou contínuo

A magnetoterapia é uma modalidade terapêutica que utiliza imãs, bobinas ou correntes elétricas
para gerar campos magnéticos que interagem com os tecidos biológicos do paciente. Atualmente, esse
recurso ainda é pouco utilizado no Brasil.

Os campos eletromagnéticos (CEM) são criados ao redor de correntes elétricas; já o magnetismo


pode ser definido como a movimentação de partículas carregadas em uma determinada direção.

Figura 50 – Aparelho de magnetoterapia (MAGNETHERP® 330)

84
TERMO E FOTOTERAPIA

A utilização do aparelho de magnetoterapia teve início no Japão, após a Segunda Guerra Mundial,
sendo difundida para a Europa após o ano de 1960. Em 1982, Todorov publicou o primeiro livro sobre a
magnetoterapia, relatando o tratamento de 2.700 pacientes com 33 tipos de doenças.

A interação biofísica permite que sinais de frequência eletromagnética sejam reconhecidos pelas
células, resultando em: aumento da atividade celular local; orientação das fibras de colágeno; aumento
do teor de oxigênio no tecido e vasodilatação dos vasos sanguíneos (sem aumentar a temperatura
local); neoangiogênese; estimulação do efeito piezoelétrico e aumento da síntese de proteoglicanos e
condrócitos, emitindo ondas assimétricas, bifásicas e senoidais.

Estudos experimentais têm sugerido efeitos terapêuticos em várias condições patológicas, com
evidências de que o recurso é seguro e eficiente para doenças relacionadas a ossos e cartilagens, dor
aguda e crônica, com promoção de analgesia e efeito anti-inflamatório. Na OA de joelho, por exemplo,
a magnetoterapia é um recurso de fácil utilização que apresenta vantagens em relação aos fármacos,
pois sua aplicação é local, atingindo diretamente o problema, sem efeitos colaterais.

Observação

A OA é uma condição reumatológica que gera disfunções


musculoesqueléticas crônicas e pode levar o indivíduo a um quadro álgico
elevado associado à perda de função e, assim, à necessidade cirúrgica.

Em sua dissertação de mestrado apresentada em 2019, Oliveira Silva afirma:

O uso do [campo eletromagnético] é relevante para afecções do aparelho


musculoesquelético, regeneração de tendões, ligamentos, cartilagens e é eficaz
para alívio da dor. Com isso, ocorre também melhora da função, mostrando ser uma
ferramenta importante para pacientes que são intolerantes ao uso prolongado de
medicações. A utilização do CEMP no tratamento da OA de joelho ainda permanece
controversa, pois os estudos apresentam diferentes métodos de aplicação
relacionados ao tempo de exposição do paciente ao aparelho e seus parâmetros,
dificultando a comprovação de sua eficácia (OLIVEIRA SILVA, 2019, p. 7-8).

Saiba mais

Para saber mais, leia:

OLIVEIRA SILVA, H. C. Eficácia do campo eletromagnético pulsado


na osteoartrite de joelho: ensaio clínico randomizado. 2019. Dissertação
(Mestrado em Ciências da Saúde) – Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, 2019. Disponível em: http://
fcmsantacasasp.edu.br/wp-content/uploads/2017/07/2019-Hugo-Cesar-
Oliveira-Silva.pdf. Acesso em: 25 jun. 2020.
85
Unidade II

5.2.1 Magnetismo

O magnetismo é uma ciência da física que encanta muitas pessoas e participa de diferentes
brincadeiras, além de ser a origem de termos usados até os dias atuais, como “nortear”. Esse termo
surgiu a partir da bússola – criada na China em 1100 A.C., utilizando os campos magnéticos –, objeto
que define onde está o norte e, assim, guia os navegantes e exploradores.

Já na época dos antigos filósofos, foram propostos contextos até hoje aplicados sobre o magnetismo,
que são importantes para o entendimento da formação de calor dentro do tecido biológico. René
Descartes propôs que o magnetismo não emanava, mas “enroscava” energias que penetravam de um a
outro polo terrestre.

O termo “campo eletromagnético” foi utilizado pela primeira vez por um grande conhecido
fisioterapeuta na eletroterapia, o cientista Michael Faraday, que determinou a lei da indução e entendeu
o comportamento de materiais magnéticos.

Maxwell foi o primeiro cientista a realizar os cálculos do magnetismo, contribuindo ainda mais para
a utilização das micro-ondas atualmente, no que se refere à dosimetria.

Apenas posteriormente, quando Curie desenvolveu estudos no campo da termodinâmica, o efeito


dos campos magnéticos em relação à produção de calor foi descoberto, aliado a teorias como a de
Van Leeuwe, as quais afirmam que a qualquer temperatura, nos campos magnéticos e elétricos, a
magnetização total de um conjunto de elétrons em equilíbrio térmico é identicamente nula.

Atualmente, o magnetismo é utilizado para diferentes finalidades, como:

• Geração de energia.

• Distribuição de energia.

• Conversão eletromecânica (eletrodomésticos, automóveis e aviões).

• Eletrônica.

• Telecomunicações:

—― Transdutores.

—― Sensoriamento.

—― Prospecção geológica.

86
TERMO E FOTOTERAPIA

• Medicina e engenharia biomédica:

—― Eletrônica.

—― Informática.

—― Automação industrial.

A energia é definida pela física como tudo o que é capaz de realizar trabalho. Há diferentes tipos de
energia: cinética, magnética, mecânica, potencial etc. Cada tipo de energia é capaz de converter‑se em
outro tipo; sabemos, por exemplo, que é possível que a energia eletromagnética do sol se converta
em energia elétrica por meio dos aquecedores solares.

Do mesmo modo, as plantas são capazes de gerar energia química a partir também da energia
eletromagnética do sol, na chamada fotossíntese. A onda eletromagnética transporá sua energia de
forma diretamente relacionada ao seu comprimento e à sua frequência.

Vamos, então, entender alguns conceitos.

• Polos magnéticos: são cargas elétricas que surgem sempre aos pares, chamados de polo norte e
sul. São conceitos não experimentais estabelecidos de forma separada. Cada polo é capaz de criar
uma força ao seu redor que influi sobre o outro campo. Tal força é proporcional ao campo ou à
intensidade de campo.

• Momento magnético: são os polos criados pelas extremidades de um cilindro. Estão relacionados
ao torque e ao potencial energético. A somatória de suas forças magnéticas é chamada de magnetização.

• Campo magnético: é um campo solenoidal influenciado pela densidade linear de espiras, medido
no sistema internacional por Ampère/m. É representado por indução magnética por meio de
linhas de força.

• Susceptibilidade magnética: é a grandeza que demonstra o quanto cada material responde


a um determinado campo magnético, estático ou dinâmico. Ela é utilizada, geralmente, para a
mensuração da função térmica.

• Diamagnetismo: relacionado à lei de Lenz, pelo qual um corpo tenta responder ao fluxo magnético
de forma a tentar anulá-lo. A forma geométrica e a resistência do material em questão têm
influência direta na temperatura.

• Paramagmetismo: está relacionado a quanto um tecido ou material é suscetível (em maior ou


menor grau) a uma fonte magnética dependente ou não de sua temperatura. Está associado
também à existência de momentos magnéticos.

87
Unidade II

• Eletromagnetismo: é a condução de corrente elétrica por meio de um fio, capaz de gerar ao seu
redor um campo eletromagnético em círculos de características concêntricas.

Positivo

Negativo

Figura 51 – Campo concêntrico envolto a um fio condutor elétrico

O campo magnético se forma como um solenoide e, assim, cria um campo de característica uniforme.

Ondas eletromagnéticas

O aparelho televisor e o de rádio funcionam a partir da presença de ondas eletromagnéticas, sendo


esses dois campos perpendiculares – um elétrico e o outro puramente magnético.

Distintas das ondas sonoras, as ondas eletromagnéticas podem ser propagadas em diferentes
metrarias, como no vácuo. São exemplos de ondas eletromagnéticas:

• Ondas de rádio.

• Ondas de televisão.

• Ondas luminosas.

• Ondas curtas.

• Micro-ondas.

Observação

Uma característica curiosa das ondas eletromagnéticas é que, no vácuo,


sua propagação ocorre a uma velocidade de 300.000 km/s.

O conjunto de luzes que existem no universo, assim como aquele que sai do controle remoto
(infravermelho), pode ser chamado de radiação eletromagnética. A porção visível da radiação
eletromagnética é chamada de luz. No caso da radiação eletromagnética por micro-ondas, a energia
carregada pelas ondas é de enorme importância para a geração térmica.
88
TERMO E FOTOTERAPIA

Perceba que as ondas eletromagnéticas são distintas das ondas mecânicas, uma vez que estas
necessitam de um meio, como a água, para ser propagadas, e a primeira não depende de nenhum tipo
de material, pois o campo eletromagnético existe mesmo sem a presença de uma matéria como a água.

As ondas podem, ainda, ser classificadas em:

• Sonoras (características longitudinais).

• Eletromagnéticas (características transversais).

• Estacionárias.

O comprimento de onda é a distância entre dois picos, vales, ou quaisquer que sejam os pontos
eleitos na representação gráfica da emissão das ondas, e é nomeado por Lambda (λ).

Como vimos, o número de vezes que a onda atinge picos e vales é determinado como frequência,
a qual é medida em Hertz (Hz). Hertz é a unidade de medida que significa “número de repetições da
variável envolvida por segundo”, ou seja, no campo em pauta, o número de ondas emitidas por segundo.

As características das ondas eletromagnéticas estão resumidas na figura a seguir.

Formadas por
campo elétrico e
magnético

Estes
Característica de Ondas eletromagnéticas campos são
onda transversal perpendiculares
entre si

Propagam no
vácuo

Figura 52 – Características das ondas eletromagnéticas

5.2.2 A física na magnetoterapia

O biomagnetismo surgiu após descobertas feitas por Michael Faraday no final de 1700. Em seguida,
o médico e físico Luigi Galvani mostrou, em patas de sapo, a íntima conexão entre a corrente elétrica e
a contração muscular.

89
Unidade II

Anos depois, Alessandro Volta trouxe à tona uma polêmica a respeito dos experimentos de Galvani,
afirmando que eram os eletrodos que geravam os campos elétricos, e não os tecidos musculares em si.
Hoje, sabemos que cada um tinha a sua parcela de razão.

No ano 850 A.C., iniciaram-se as descobertas a respeito da ação dos CEM no corpo humano. Portanto,
define-se biomagnetismo como o estudo da interação entre os CEM e os sistemas.

Na literatura, tem-se dado muita ênfase à aplicação dos CEM no tratamento de diversas patologias,
tais como: neoplasias, redução de quadros álgicos (alguns autores fazem uso da expressão “dor
intratável”, aceleração da regeneração tissular de tecidos moles, como a cartilagem) e regeneração de
tecidos ósseos e nervosos.

Na área da saúde, a aplicação mais difundida dos CEM relaciona-se aos seus efeitos atérmicos.
Contudo, essa expressão tem seu significado alterado quando se pensa no aspecto médico e físico.

Biologicamente, “efeitos atérmicos” se referem a “não estar ocorrendo o aumento da temperatura”;


para os físicos, significa “abaixo dos limites de ruídos térmicos necessários para se elevarem as
temperaturas fisiológicas dos tecidos biológicos”. Universidades e institutos científicos do mundo todo
tendem a pesquisar os efeitos terapêuticos dos CEM.

A aplicação da magnetoterapia pode ser realizada de duas formas: na primeira, com contato direto
dos eletrodos na região ou no próprio tecido alvo; na segunda, apenas de forma indutiva, sem contato
direto com a pele.

5.2.3 Campos eletromagnéticos naturais

A biologia da vida ainda carrega uma marca de sua origem no fato de que a atividade elétrica é
intrínseca a todos os processos vivos, e todo tecido biológico tem alguma forma de reação elétrica sob
tensão mecânica.

Células e tecidos respondem a uma vasta gama de energias elétricas e magnéticas externamente
aplicadas e são fracos emissores de energia eletromagnética. Essa interação eletromagnética forma a
base para as modalidades eletroterapêuticas utilizadas na fisioterapia.

Os CEM ao redor do planeta Terra tendem a sair do polo norte geográfico (polo sul magnético) e
convergir para o polo sul geográfico (polo norte magnético). Tal fator leva a Terra a ser um circuito
fechado para esses CEM.

5.2.4 O que saber para realizar a magnetoterapia?

É de vital importância o conhecimento aprofundado a respeito da fisiologia do eletromagnetismo no


corpo humano. Os CEM são utilizados para o tratamento de uma ampla rede de patologias; portanto, por
razões didáticas, separaremos a fisiologia eletromagnética por patologias e efeitos fisiológicos gerais.

90
TERMO E FOTOTERAPIA

Vale ressaltar que a posição dos eletrodos da magnetoterapia segue o mesmo roteiro de aplicação
dos eletrodos das ondas curtas.

Observação

A correta avaliação dos pacientes é sempre necessária antes da aplicação


de toda e qualquer técnica. Logo, assim como em demais condutas, é
preciso realizar uma minuciosa avaliação clínica.

5.2.5 Efeitos fisiológicos, terapêuticos e indicações

Nas últimas duas décadas, tem-se descoberto uma variedade de efeitos fisiológicos gerados pelos
campos magnéticos atérmicos, entre os quais merecem destaque:

• Estímulo da produção de condrócitos e proteoglicanos.

• Aumento do efeito piezoelétrico.

• Produção de colágeno.

• Neoangiogênese.

• Estímulo do fluxo de ânions e cátions.

• Revascularização.

• Ativação dos sistemas vascular e linfático.

• Angiogênese.

Recentemente, foram apresentadas evidências na literatura de que o CEM possui efeitos satisfatórios
no tratamento de patologias do sistema musculoesquelético.

A seguir, vamos entender o uso do CEM em algumas condições clínicas bastante frequentes na
prática fisioterapêutica.

Síndrome do impacto do ombro (SIO)

Aproximadamente, 20% dos casos de SIO levam o paciente a um estado de incapacidade em suas
atividades da vida diária. A literatura sugere que a maioria desses pacientes deveria, primeiramente,
passar por um tratamento conservador, sendo o tratamento cirúrgico uma opção somente quando o
conservador falhar.

91
Unidade II

Sabe-se que o tratamento para essa patologia, especificamente, deveria basear-se na melhora do
fluxo sanguíneo, na restauração celular e no alívio da dor, componentes que podem ser alcançados
através da utilização dos CEM pulsados, por exemplo.

Um estudo duplo-cego, randomizado e controlado, realizado por Aktas, Akgun e Cakmak (2007)
tinha como objetivo avaliar a eficácia dos CEM no tratamento da SIO. Assim, 46 pacientes foram
divididos em dois grupos, nos quais eram realizados exercícios pendulares, crioterapia e magnetoterapia
durante 25 minutos (sendo um dos grupos placebo), além da oferta de 15 mg de meloxicam durante
três semanas (cinco sessões por semana). Ao término do tratamento, foram avaliadas a EVA e a escala
de Constant, não sendo encontrada diferença significativa entre os grupos. No entanto, o trabalho
optou por utilizar tratamento medicamentoso em ambos os grupos, o que pode ter levado a uma
alteração dos resultados. Além disso, o tempo utilizado pelos autores foi muito curto. Considerando-se
que determinados tempos de aplicação levam a diferentes efeitos biológicos, a opção dosimétrica feita
nesse estudo pode ter influenciado os resultados.

Osteoartrose (OA)

O interesse na utilização de magnetismo no tratamento da OA de joelho surgiu após se observar


o efeito piezoelétrico em ossos submetidos a esse tratamento. Sabe-se que os proteoglicanos e os
condrócitos necessitam também de um estímulo mecânico para se formar. Assim, teoricamente,
deveriam ocorrer melhoras nos quadros de pacientes com OA.

A sobrecarga em uma cartilagem normal ou anormal e a queda do número de condrócitos e


proteoglicanos são as causas mais comuns para o surgimento da OA. No caso da OA de joelhos, os CEM
poderiam trazer efeitos benéficos, considerando-se as alterações fisiológicas promovidas pelo recurso
em tela.

No estudo realizado por Nicolakis et al. em 2002 (duplo-cego, controlado e randomizado),


35 pacientes foram divididos em dois grupos (placebo e aplicação de CEM). Ao término de seis semanas
(duas aplicações por dia por 30 minutos), ocorreu uma melhora significativa no grupo magneto
quanto ao impacto nas atividades de vida diária e à função do joelho. Quando comparados os dados
da dinamometria, não se observou diferença significativa entre os grupos, mas foi avaliado um alcance
mais rápido do pico de torque nos pacientes tratados com a terapia magnética.

Nesse trabalho (NICOLAKIS et al., 2002), 15 de 17 pacientes do grupo placebo precisaram


de intervenções medicamentosas nos primeiros dois meses, enquanto oito de 15 pacientes no
grupo magneto tiveram a mesma necessidade. Isso nos permite dizer que os CEM parecem gerar
um alívio do quadro álgico duradouro de pacientes com OA de joelho. São possíveis explicações
para a melhora do quadro desses pacientes: redução do número de morte celular (pelo equilíbrio
fisiológico promovido às células), estímulo da migração de fatores de crescimento para o local
(facilitando a comunicação intercelular), estímulo do RNA celular (facilitando a atividade dos receptores
de condrócitos) e inibição da formação da interleucina‑1 (secretada pelos macrófagos e indicativa de
inflamação). Talvez esses fatores possam explicar os motivos de tratamentos com longos períodos
apresentarem melhores resultados do que tratamentos com menores períodos de aplicação.
92
TERMO E FOTOTERAPIA

Modulação do processo inflamatório (ação anti-inflamatória)

O mecanismo pelo qual os CEM auxiliam o corpo humano a combater o processo inflamatório
ainda não é totalmente esclarecido; porém, sabe-se que esse fator ocorre após a exposição aos
campos magnéticos.

A literatura relata que o principal parâmetro a ser avaliado quando se trata do efeito anti-inflamatório
dos CEM é o tempo de exposição. A partir de 6 horas de aplicação, a magnetoterapia tem a capacidade
de estimular a proliferação dos linfócitos, controlando, assim, os quadros inflamatórios.

Estudos demonstram que, após 56 dias de aplicação, por 90 minutos, ratos com osteoartrite induzida
apresentaram completa regressão do quadro inflamatório.

Uma possível explicação para o tratamento anti-inflamatório promovido pela magnetoterapia


seria que os CEM inibem a liberação da fosfolipase A2, que, no corpo humano, converte-se em ácido
araquidônico, o qual, por sua vez, causa a liberação de prostaglandinas.

Magnetoterapia

↓ Liberação da
fosfolipase-A2

↓ Produção de ácido
araquidônico

↓ Produção de
prostaglandinas

Controle do processo
inflamatório

Figura 53 – Hipótese dos efeitos da magnetoterapia para a modulação do processo inflamatório

Revascularização

A revascularização (neoangiogênese) é um processo altamente complexo e diretamente dependente


da migração de células tubulares endoteliais, além de ser parte integrante do processo de cicatrização
dos tendões, por exemplo.

A revascularização sempre se torna parte dos objetivos terapêuticos a serem alcançados, uma vez
que, em diversos tipos de patologias, ela tende a ser perdida.

93
Unidade II

Hoje, já existem evidências de que 30% a 50% das lesões em práticas esportivas se dão por meio
de tendinopatias que, quando analisadas histopatologicamente, apresentam-se com uma falha na
circulação sanguínea local.

Em média, 25% a 45% dos casos de tratamento conservador em tendinopatias tendem a ser
insatisfatórios, fazendo com que os pacientes necessitem de evolução para tratamento cirúrgico. Nesse
momento, os CEM podem ser utilizados, uma vez que já existem evidências na literatura, em estudos
in vitro, de que as células tubulares endoteliais tendem a ter sua síntese estimulada durante a aplicação,
quando comparadas ao grupo controle.

Cabe ressaltar que essas células são muito importantes para a formação de novos vasos sanguíneos.
Ainda, foi observada a estimulação do fator de crescimento fibroblástico-2 (FGF-2), que atua na
diferenciação celular no momento de uma neoangiogênese.

Consolidação óssea

Casos de pseudoartrose e consolidação viciosa são as maiores complicações nos tratamentos de


fraturas, afetando 5% a 10% de todas as fraturas que ocorrem nos Estados Unidos (7,9 milhões/ano).
Clinicamente, os CEM são utilizados há muito tempo para gerar a consolidação óssea.

Estipula-se que esse fator de consolidação se dê através da leve corrente elétrica que acompanha
os campos magnéticos. Sabe-se que os CEM têm a tendência de estimular a formação de osteoblastos
e a apoptose de osteoclastos a partir de 6 horas de exposição, além de melhorar o transporte de cálcio
através da membrana celular, levando a um aumento da concentração de cálcio e melhorando, assim,
os casos de pseudoartrose.

Além disso, os CEM parecem apresentar uma consolidação da fibrocartilagem que se forma entre os
fragmentos ósseos e um aumento da vascularização local, fatores que irão auxiliar no reparo ósseo.
De acordo com a literatura, aproximadamente 90% dos casos de fraturas tratadas com CEM se consolidam.

Analgesia

Pesquisas têm demonstrado que os CEM podem induzir efeitos analgésicos não apenas em animais,
mas em seres humanos. Portanto, da perspectiva clínica, os CEM são uma alternativa no tratamento da dor.

Com o advento da ressonância nuclear magnética dinâmica, tornou-se possível observar as áreas
cerebrais que se encontram hiperativadas durante o quadro álgico.

No trabalho realizado por Robertson et al. (2010a), foi observada uma diminuição na atividade
cerebral do cíngulo anterior, da ínsula ipsilateral e do hipocampo bilateral, regiões que estão intimamente
ligadas ao processo de dor. Porém, não houve diminuição significativa nas escalas subjetivas de dor, fato
que pode ser explicado pelo tempo de aplicação do aparelho (15 minutos) escolhido ser bem menor
do que aqueles sugeridos para a prática clínica.

94
TERMO E FOTOTERAPIA

Na literatura, já se encontram trabalhos citando que 60 Hz e 200 mT seriam os parâmetros ideais


para o tratamento dos quadros álgicos. A diminuição na ativação de regiões cerebrais ligadas à dor já
nos leva a crer que os CEM podem e devem ser utilizados para o tratamento de quadros álgicos.

Cicatrização tecidual

Estudos demonstram que os CEM promovem a cicatrização acelerada de feridas (MARKOV, 2007b).
Tal desfecho poderia ser justificado pelo aumento do fluxo sanguíneo local na área estimulada,
melhorando o status do tecido isquêmico.

Existem estudos in vitro sugerindo alterações significativas na divisão ou diferenciação celular, que
são importantes para a cicatrização de feridas (BASSETT et al., 1989; DUNN et al., 1988; MARKOV, 1994).

A estimulação magnética tem sido associada ao aumento da deposição de colágeno, ao aprimoramento


do transporte de íons, à captação de aminoácidos, à migração de fibroblastos e à síntese de proteínas
e ATP, incluindo um significativo aumento da taxa de síntese de proteínas e DNA após a estimulação
de fibroblastos humanos na cultura de tecidos (DINI; ABBRO, 2005; LUBEN, 1994; OKANO; MASUDA;
OHKUBO, 2005; ROSCH; MARKOV, 2004; SISKEN; WALKER, 1995).

Uma área de interesse é o efeito do CEM na proliferação celular. A maioria das células
normalmente se diferencia pela morfologia e função específicas. Em condições patológicas, a
proliferação celular é geralmente suprimida (em condições de feridas crônicas) ou aumentada (no
caso de crescimento neoplásico).

Foi relatada estimulação de fibroblastos cutâneos pelo CEM, resultando em aumento significativo na
secreção de colágeno e na concentração de proteínas. Esses resultados sugerem uma alteração favorável
na capacidade proliferativa e migratória das células epiteliais e do tecido conjuntivo envolvidas na
regeneração e no reparo tecidual.

5.2.6 Contraindicações

Em todas as técnicas utilizadas, o terapeuta deve sempre estar atento a uma gama de contraindicações
que são geradas pelos diversos tipos de tratamento. No caso dos CEM, a literatura não é clara a respeito
das contraindicações, uma vez que dificilmente são achados artigos sobre o aparelho do CEM em si.
Em geral, são encontrados relatos sobre celulares, fornos micro-ondas e afins.

Assim, chamamos a atenção para as contraindicações apresentadas na literatura para diversos tipos
de aparelhos que emitem ondas eletromagnéticas.

Os CEM são usados para tratamentos de diversos tipos de condições clínicas patológicas, mas esses
tratamentos utilizam parâmetros maiores do que os usados domesticamente; isso pode vir a ser um
fator de risco para a saúde de quem os utiliza.

95
Unidade II

A maioria dos trabalhos considera a leucemia infantil como a principal contraindicação. Porém,
outras patologias também devem receber a atenção dos terapeutas.

Normalmente, os CEM gerados em uma residência são mais baixos do que os gerados pelo aparelho
terapêutico (os campos residenciais variam entre 0,01 e 1 millitesla) e, a partir de 1 metro de distância,
já não causam mais efeitos.

Até o momento, não existem na literatura trabalhos com metodologia fidedigna o suficiente que
comprove qualquer relação da exposição dos CEM com o aumento de casos de leucemia infantil,
proliferação de células tumorais e complicações para mulheres gestantes.

Há artigos que confrontam os citados e relatam uma ligação direta das áreas que possuem CEM
elevados com os índices de tumores, principalmente cerebrais, em crianças e adultos. Porém, nesses
mesmos trabalhos, os autores citam que qualquer lugar se encontra exposto aos CEM; portanto, não se
pode afirmar que essa relação realmente existe.

6 TERAPIA DE ONDAS DE CHOQUE (TOC)

A terapia de ondas de choque (TOC) é uma técnica não invasiva que promove estimulação mecânica
por ondas e/ou impulsos acústicos de alta intensidade de energia. Essa terapia tem sido indicada para o
tratamento de muitos distúrbios físicos dolorosos.

A TOC é marcada por um pulso de alta pressão (80 MPa), em um intervalo de tempo extremamente
curto (da ordem de nanossegundos), que produz ondas mecânicas de pressão que podem aumentar a
temperatura local e, em meios líquidos, promovem a cavitação (microbolhas gasosas em meio fluido).

A primeira investigação da aplicação de ondas de choque ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial,
quando se observou que o pulmão de náufragos estava lesionado devido à explosão de bombas na água,
embora não houvesse sintomas externos de violência. Foi a primeira vez que foi observada a influência
das ondas de choque nos tecidos.

A partir dessas investigações, surgiu a ideia de desintegrar cálculos renais com ondas de choque
extracorpóreas. Inicialmente, a realização dessa técnica era exclusivamente médica e trazia fundamentos
mais claros.

Em 1971, Haeusler e Kiefer relataram a primeira desintegração in vitro de cálculos renais com ondas
de choque, sem contato direto. A partir daí, seguiram-se outros estudos acerca da eficiência da TOC
na desintegração de cálculos renais sem contato in vitro. Na década de 1980, foi realizado o primeiro
tratamento de cálculos renais em humanos.

Observação

O tratamento de cálculos renais é de grande importância, uma vez que


uma elevada porcentagem da população sofre com essa condição.

96
TERMO E FOTOTERAPIA

Em 1985, foi realizado o primeiro tratamento clínico de vesícula biliar utilizando a TOC. Na década de
1980, esse recurso deixou de ser analisado apenas em estudos experimentais e passou a ser investigado
em pacientes com quadros de dores osteomioarticulares, principalmente no quadril, o que levou à
conclusão de que ele ativava os osteoblastos.

Em 1988, foi realizada a primeira abordagem para pacientes com pseudoartrose, com sucesso. Já na
década de 1990, pesquisas foram publicadas para o tratamento da tendinite calcária de ombro.

Posteriormente, surgiram estudos para o tratamento de epicondilite lateral e esporão de calcâneo,


demonstrando que a liberação de óxido nítrico e de prostaglandinas foi elevada, assim como foi possível
observar a promoção de analgesia.

O profissional, além de apresentar o interesse pelo aparelho, precisa entender as suas indicações e
contraindicações e saber explicar ao paciente os efeitos adversos que podem ocorrer após a utilização
desse recurso.

Apesar de existir a necessidade de melhores evidências, a eficiência da TOC tem sido testada em
ensaios clínicos para uma infinidade de aplicações além da ortopedia (área em que hoje é mais utilizada
na fisioterapia). São encontrados estudos nas áreas de ginecologia, disfunção erétil, neurologia e
dermatofuncional.

Lembrete

A TOC gera pulsos de som de alta pressão que viajam através da pele,
estimulando processos de cura do próprio organismo.

6.1 O equipamento

Atualmente, há no mercado brasileiro equipamentos de produção nacional e internacional.

6.2 A física na TOC

Do ponto de vista físico, uma onda de choque é definida por uma mudança abrupta, quase
descontínua na pressão. Essas ondas têm velocidade maior que a velocidade do som no meio em que
se propaga.

Geralmente, uma onda de choque pode ser descrita como um pulso com uma ampla faixa de
frequências (de, aproximadamente, 150 kHz a 100 MHz), amplitude de alta pressão (até 150 MPa),
onda de baixa tração (até -25 MPa), pequena largura de pulso e um curto tempo de subida de algumas
centenas de nanossegundos.

97
Unidade II

Pressão

0
-10

0 0,2 3 Tempo

Figura 54 – Perfil esquemático da pressão de uma onda de choque focalizada

Existem três tecnologias diferentes de gerador de ondas de choque usadas atualmente.

O primeiro gerador usa o princípio eletro-hidráulico. Um eletrodo é colocado no primeiro ponto


focal F1 de um refletor semielipsoide cheio de água, e a alta tensão é aplicada nas pontas do eletrodo.
Assim, uma faísca elétrica é gerada entre essas pontas, e uma onda de choque esférica é liberada pela
rápida vaporização da água entre as pontas. A onda de choque se espalha do aplicador, levando a uma
onda primária radial de baixa intensidade.

O segundo gerador é o eletromagnético, que utiliza uma bobina eletromagnética e uma membrana
metálica oposta a ela. Um pulso acústico de baixa pressão é gerado pela aceleração da membrana longe
da bobina devido a forças eletromagnéticas.

Existem dois tipos de construção de geradores de ondas de choque eletromagnéticas. O primeiro cria
uma onda plana focada por uma lente acústica, e o ponto focal é definido pela distância focal da lente.
O segundo tipo de construção utiliza uma fonte cilíndrica que cria uma onda de pressão em forma de cilindro
– neste caso, o foco é alcançado pela reflexão da onda em um refletor de metal em forma de hipérbole.

O terceiro gerador forma ondas acústicas usando o efeito piezoelétrico, que é a capacidade de
alguns materiais se deformarem quando a tensão é aplicada. Algumas centenas de cristais piezoelétricos
são montados em uma superfície esférica. Quando um pulso de alta tensão é aplicado aos cristais, eles
se expandem imediatamente, gerando um pulso de baixa pressão na água circundante.

Enquanto o gerador eletro-hidráulico produz uma onda de choque durante a explosão entre os
eletrodos, as fontes eletromagnéticas e piezoelétricas produzem uma onda sonora comum. A onda de
choque é formada no caminho em direção ao ponto focal devido aos efeitos não lineares da propagação
do som na água.
98
TERMO E FOTOTERAPIA

Esses efeitos não lineares levam ao aumento da onda (encurtamento dos tempos de subida) e ao
aumento da pressão máxima, uma vez que pressões mais altas se movem mais rápido que baixas pressões.

Ao contrário dos geradores de ondas de choque focados, que podem produzir ondas de choque pelo
menos no ponto focal, os geradores radiais de ondas de choque produzem ondas sonoras comuns, com
pressões de até 30 MPa e tempos de subida muito mais altos, de cerca de 3 µs.

Atualmente, existem duas tecnologias diferentes que produzem ondas de choque radiais. Ambas
usam o princípio balístico e consistem em uma peça de mão com um projétil que é acelerado em direção
a um aplicador.

Após o impacto, é produzida uma onda que se propaga na direção radial do aplicador, razão pela
qual a energia e as pressões mais altas estão localizadas diretamente na superfície do aplicador.

A diferença entre as duas tecnologias radiais é o processo de aceleração do projétil, que pode
ser realizado pela aplicação de pressão de ar ao projétil (princípio pneumático) ou por aceleração
eletromagnética.

O princípio da geração de ondas de choque radiais é mostrado na figura a seguir.

Aplicador

Projétil acelerado

Figura 55 – Princípio da geração de ondas de choque radiais

Como qualquer outra onda, a onda de choque está sujeita às leis físicas de reflexão, refração,
difração e absorção. Portanto, a amplitude da onda e a forma do campo sonoro podem ser alteradas
pela interação com diferentes camadas de tecido dentro do corpo do paciente ou pela configuração
usada para experimentos in vitro.

Especialmente a reflexão no ar causa influências perturbadoras. Como 99% da onda é refletida em


qualquer bolha de ar, o transdutor de ondas de choque deve ser acoplado, por exemplo, com gel de
ultrassom ao corpo do paciente.
99
Unidade II

Se o acoplamento for perturbado por bolhas, a energia que chega ao corpo do paciente diminui
significativamente, e a eficácia terapêutica é reduzida. Além disso, a tensão mecânica nas interfaces
aéreas é aumentada à medida que a onda refletida é revertida (pressões positivas tornam-se negativas
e vice-versa).

Devido aos efeitos físicos pelas interfaces dos tecidos, a onda de choque dentro do paciente
provavelmente será alterada significativamente. Portanto, os parâmetros das ondas de choque
que descrevem as características delas serão inválidos no local do tecido tratado dentro do
paciente e in vitro.

6.3 O que saber para realizar a TOC?

Para evitar tratamento inadequado, é necessário conhecer os pré-requisitos mínimos e os exames


padrão que realizam a TOC:

• Exame clínico.

• Testes neurológicos, de diagnóstico laboratorial e/ou outras investigações podem ser necessárias
para corroborar o diagnóstico.

Somente um profissional qualificado pode usar a TOC no tratamento de patologias, que são
identificadas por testes de diagnóstico. Para o tratamento dos ossos, é necessário usar uma onda de
choque focal.

6.4 Efeitos fisiológicos e terapêuticos

A onda de pressão consegue penetrar no tecido, aproximadamente, de 2 mm a 8 mm, podendo gerar


efeitos diretos e indiretos.

As ondas de choque viajam através de um tecido e chegam a uma estrutura (interface com outro
tipo de tecido biológico). Nesse local, parte da onda será refletida e parte transmitida.

Os mecanismos fisiológicos e terapêuticos ainda não foram bem definidos, mas alguns estudos
apresentam informações que indicam que eles estão relacionados a um aumento no fluxo sanguíneo
local (claramente evidenciado), mesmo em tecidos relativamente avasculares.

Os efeitos benéficos acontecem devido a um estímulo de uma resposta inflamatória, gerando um


reparo do tecido, observados em tendinopatias crônicas e pseudoartrose.

A TOC aplicada sobre um tecido com lesão crônica gera um estímulo de reparo. Por isso, às vezes,
essa técnica é confundida com algumas intervenções da termofototerapia (ultrassom ou laser).

Apresentaremos, a seguir, os efeitos do tratamento mais ligados aos efeitos da TOC:

100
TERMO E FOTOTERAPIA

• Estimulação mecânica.

• Aumento do fluxo sanguíneo local.

• Aumento da atividade celular (liberação de substância P, prostaglandina E2, NO, TGF β, VEGF e
provavelmente outras citocinas inflamatórias).

• Efeito analgésico transitório nos nervos aferentes.

• Quebra dos depósitos calcificados.

Observação

Muitas são as condições patológicas e disfuncionais que podem se


encaixar na utilização das ondas de choque. Assim, é de extrema importânica
o terapeuta conhecer a fisiopatologia de cada condição do paciente.

6.5 Indicações

Com base nos efeitos fisiológicos e terapêuticos apresentados, a TOC tem sido indicada por
clínicos do mundo todo para o tratamento de muitas condições clínicas patológicas, as quais são
indicadas adiante.

Saiba mais

Conheça a revisão sistemática que analisou os efeitos das ondas de choque


e do laser em pacientes com fascite plantar e um complemento do artigo:

DA SILVA, D. R. et al. Terapia por ondas de choque extracorpórea


e laser na redução da dor de indivíduos com fascite plantar: revisão
sistemática. ConScientiae Saúde, v. 15, n. 4, p. 671-678, 2016.

LEÃO, R. G. et al. Effectiveness of shockwave therapy in the treatment


of plantar fasciitis. Acta Ortopédica Brasileira, v. 28, n. 1, p. 7-11, 2020.

Indicações padrão aprovadas

• Tendinopatias crônicas.

• Tendinopatia calcificante do ombro.

101
Unidade II

• Epicondilopatia lateral do cotovelo (cotovelo de tenista).

• Síndrome da dor do trocânter maior.

• Tendinopatia patelar.

• Tendinopatia de Aquiles.

• Fascite plantar, com ou sem esporão do calcanhar.

• Patologias ósseas:

—― Cura óssea retardada.

—― Não união óssea (pseudoartrose).

—― Fratura por esforço.

—― Necrose óssea avascular sem desarranjo articular.

—― Osteocondrite dissecante sem desarranjo articular.

• Patologias da pele:

—― Feridas atrasadas ou que não cicatrizam.

—― Úlceras cutâneas.

—― Ferimentos por queimadura não circunferencial.

Usos clínicos comuns empiricamente testados

• Tendinopatias:

—― Tendinopatia do manguito rotador sem calcificação.

—― Epicondilopatia medial do cotovelo.

—― Síndrome da tendinopatia adutora.

—― Síndrome de tendinopatia de pes anserinus.

—― Tendinopatia peroneal.

—― Tendinopatias do pé e do tornozelo.
102
TERMO E FOTOTERAPIA

• Patologias ósseas:

—― Edema da medula óssea.

—― Doença de Osgood-Schlatter (apofisite do tubérculo anterior da tíbia).

—― Síndrome do estresse tibial (tala para canela).

—― Patologias musculares.

—― Síndrome miofascial.

—― Entorse muscular sem descontinuidade.

• Patologia da pele:

—― Celulite.

Indicações experimentais

• Isquemia do músculo cardíaco.

• Lesões do nervo periférico.

• Patologias da medula espinhal e cérebro.

• Calcinose cutânea.

• Doença periodontal.

• Patologias dos maxilares.

• Síndrome da dor regional complexa (SDRC).

• Osteoporose.

Surace et al. (2020) investigaram a terapêutica por ondas de choque em indivíduos com lesão no
manguito rotador, com ou sem calcificação, e concluíram:

Com base nas evidências de baixa a moderada certeza atualmente


disponíveis, havia muito poucos benefícios clinicamente importantes
da terapia por ondas de choque e incerteza em relação à sua segurança.
A ampla diversidade clínica e os diferentes protocolos de tratamento
significam que não sabemos se alguns ensaios testaram doses subterapêuticas,
103
Unidade II

possivelmente subestimando quaisquer benefícios potenciais. Ensaios


adicionais da terapia extracorpórea por ondas de choque para a doença do
manguito rotador devem se basear em uma forte justificativa e considerar
se elas alterariam ou não as conclusões desta revisão. Uma dose padrão e
um protocolo de tratamento devem ser decididos antes da realização de
novas pesquisas. O desenvolvimento de um conjunto principal de resultados
para ensaios de doença do manguito rotador e outros distúrbios do ombro
também facilitaria nossa capacidade de sintetizar as evidências (SURACE
et al., 2020, p. 32).

Saiba mais

Leia o artigo na íntegra:

SURACE, S. J. et al. Shock wave therapy for rotator cuff disease with or
without calcification. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 3, n. 3,
mar. 2020.

Dosimetria

A maioria das pesquisas clínicas utilizou entre três e cinco sessões com baixos níveis de energia
(aplicação típica de terapia), sendo que podem ser sugeridas até sete sessões necessárias em alguns
tipos de lesões.

Ainda não há ensaios clínicos randomizados que determinem o número de sessões de terapia
maximamente eficaz. Sugere-se que ocorra uma sessão por semana, para que se tenha uma estimulação
metabólica correta.

6.6 Contraindicações

Ondas radiais e focadas com baixa energia são contraindicadas nos casos a seguir:

• Tumor maligno na área de tratamento (não como doença de base).

• Feto na área de tratamento.

Ondas focadas em alta energia são contraindicadas em:

• Tecido pulmonar na área de tratamento.

• Tumor maligno na área de tratamento (não como doença subjacente).

104
TERMO E FOTOTERAPIA

• Placa epifisária na área de tratamento.

• Cérebro ou coluna vertebral na área de tratamento.

• Coagulopatia grave.

• Feto na área de tratamento.

O futuro da TOC

Estudos devem ser realizados a fim de termos evidências sobre a eficiência da TOC nas
variadas condições clínicas para as quais não tem sido incomum encontrarmos clínicos usando.
Além disso, precisamos de mais dados para sugerir a dosimetria mais eficiente e segura nessas
diferentes condições.

Ainda, é necessário termos uma visão mais clara acerca da interação das ondas de choque com os
tecidos (moles e ossos), de forma a esclarecer quais os possíveis mecanismos de ação e os efeitos da
terapia, para que possamos fazer melhores indicações desse recurso.

Estudos que apresentem a eficiência da TOC para pacientes com osteocondrite dissecante, tendinite
patelar e tendinite de Aquiles serão de grande valia, pois são indicações ortopédicas cujos resultados
preliminares parecem ser bem promissores.

Resumo

Nesta unidade, aprendemos sobre micro-ondas, terapia de ondas de


choque (TOC) e magnetoterapia.

Micro-ondas é um método de diatermia similar ao de ondas curtas, que


pode auxiliar com seus efeitos térmicos ou mesmo não térmicos, utilizados
nos pacientes em processos inflamatórios agudos.

A TOC é uma estimulação mecânica baseada em impulsos acústicos


de alta intensidade de energia. Esses impulsos possuem alta pressão em
intervalos de tempo curtíssimos, que foi inicialmente utilizada para o
tratamento de cálculos renais.

Cada aparelho, atualmente, possui uma diferente interface; no entanto,


poucos são os parâmetros necessários para serem selecionados, tornando
a aplicação prática de rápida aprendizagem. O número de disparos é uma
escolha importante, variando entre 1 e 9999, sendo garantido até 3.000.000
com eficiência.

105
Unidade II

Hoje, existem duas tecnologias diferentes que produzem ondas de


choque radiais. Ambas usam o princípio balístico e consistem em uma peça
de mão com um projétil que é acelerado em direção a um aplicador

Antes da realização de ondas de choque, é necessário o exame clínico,


assim como os testes musculoesqueléticos e neurológicos.

Entre os efeitos da TOC, podemos elencar como principais: estimulação


mecânica; aumento do fluxo sanguíneo local; aumento da atividade celular;
quebra de depósito de calcificados e até analgesia.

A magnetoterapia se baseia em campos magnéticos que são criados ao


redor de correntes elétricas, sendo utilizados de forma pulsada atualmente
no tratamento de condições como osteoartrose (OA) de joelho.

O campo eletromagnético pulsado (CEMP) é uma forma de tratamento


fisioterapêutico pouco utilizada no Brasil. Os efeitos do CEMP atuam
diretamente nas desordens musculoesqueléticas, ajudando nas regenerações
da pele, do tendíneo, muscular e dos ossos, refletindo no efeito
piezoelétrico dele.

Entre os efeitos da magnetoterapia, destacam-se a melhora do quadro


álgico, a neoangiogênese, a ação anti-inflamatória etc.

Exercícios

Questão 1. (Vunesp 2015, adaptada) Diatermia é a aplicação de ondas curtas ou micro-ondas


para produzir calor e outras mudanças teciduais. Considerando o método de aplicação e os efeitos da
diatermia, assinale a alternativa correta.

A) O aquecimento com aplicadores de diatermia de placa capacitiva é conhecido como aquecimento


pelo método do campo magnético, pois se forma entre as duas placas um campo magnetizado.

B) O aquecimento com a bobina indutiva aplicadora de diatermia é conhecido como aquecimento


pelo método de campo magnético, porque a corrente elétrica que gera o aquecimento é induzida
nos tecidos por um campo magnético.

C) O aplicador de diatermia de ondas curtas ioniza as camadas superiores e provoca uma corrente
elétrica entre elas.

D) As bobinas indutivas aplicadoras de diatermia produzem maior temperatura nos tecidos que
possuem baixa condutividade elétrica, como os músculos.

106
TERMO E FOTOTERAPIA

E) As placas capacitivas produzem mais calor nos tecidos profundos do que na pele, quando
comparadas às bobinas indutivas.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o campo eletromagnético é um campo gerado pela passagem de uma corrente


elétrica. Uma placa capcitiva não permite a corrente elétrica, e, portanto, não existe o aparecimento
de um campo.

B) Alternativa correta.

Justificativa: o aquecimento com uma bobina indutiva aplicadora de diatermia é conhecido como
aquecimento pelo método de campo magnético (ou eletromagnético), porque a corrente elétrica que
gera o aquecimento é induzida nos tecidos por um campo magnético.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: o método de indução de calor por meio de ondas curtas ocorre a partir de uma radiação
não ionizante.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: são tecidos de alta condutividade elétrica: vasos sanguíneos, músculos, pele úmida
e olhos.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: as placas capacitivas produzem mais calor nas camadas superficiais.

Questão 2. (FGV 2013, adaptada) A diatermia por micro-ondas produz calor através da conversão de
energia eletromagnética de alta frequência. Sobre essa modalidade terapêutica, analise as afirmativas
a seguir:

I – Os tecidos superficiais tendem a se aquecer mais que os mais profundos em consequência da


absorção de energia.

II – A radiação das micro-ondas não consegue penetrar na camada adiposa, como ocorre com as
ondas curtas.

III – Quanto maior a energia absorvida pelo tecido, maior será sua temperatura.
107
Unidade II

Assinale:

A) Se somente a afirmativa I estiver correta.

B) Se somente a afirmativa II estiver correta.

C) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

D) Se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

E) Se todas as afirmativas estiverem corretas.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: considerando que os tecidos absorvem parte da energia induzida, a intensidade que
atinge os tecidos mais profundos é menor do que a que atinge os tecidos superficiais. Isso significa
que os tecidos superficiais serão mais aquecidos que os profundos.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: os tecidos fibrosos e adiposos sofrem distorção molecular e são incapazes de produzir
aquecimento clinicamente significativo pela ação das micro-ondas.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: é importante notar que apenas radiações absorvidas possuem função terapêutica.
Assim, o aquecimento necessário para o tratamento terapêutico é maior quanto maior for a
energia absorvida.

108

Você também pode gostar