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PROCEDIMENTOS

EM ESTÉTICA
CORPORAL

Claudia Stoeglehner Sahd


Inovações tecnológicas
no manejo de afecções
cutâneas corporais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as inovações tecnológicas e seu mecanismo fisiológico na


estética corporal.
 Descrever protocolos utilizados nas inovações tecnológicas.
 Relacionar recursos estéticos com as inovações tecnológicas.

Introdução
A pressão externa, por meio dos padrões de mídia e beleza, mobilizou a
percepção do indivíduo sobre si mesmo e a autoestima que se seguiu.
Atualmente, a relação entre as pessoas está se tornando cada vez mais
curta, ou seja, aparência e impressão corporal são elementos importantes
de julgamento na interação social. O comportamento está estruturado
para ser considerado mais ou menos bonito. Portanto, a beleza se torna
um valor social que pode garantir sucesso ou fracasso nas relações in-
terpessoais e na vida profissional.
Também é importante notar que há uma grande demanda por
aparelhos com alta inovação tecnológica e procedimentos de beleza
com vários ativos agregados, o que pode trazer felicidade e bem-estar
aos consumidores. Esse interesse não está apenas no público feminino,
mas também no masculino, e cada vez mais indústrias da estética estão
investindo em mecanismos que incentivam os indivíduos a comprar
esses bens ou serviços.
Neste capítulo, você reconhecerá as inovações tecnológicas, seu
mecanismo fisiológico na estética corporal e protocolos utilizados nos
tratamentos. Além disso, discutirá a relação entre os recursos estéticos
com as inovações tecnológicas.
2 Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais

1 Inovações tecnológicas e mecanismos


fisiológicos
As inúmeras inovações tecnológicas desenvolvidas nos últimos anos pela
indústria são empregadas em tratamentos de disfunções estéticas corporais,
como lipodistrofia localizada (gordura localizada), fibroedema geloide, flacidez
tissular e estrias. Entre essas inovações tecnológicas empregadas no tratamento
dessas disfunções corporais, temos: laser fracionado (fototermólise fracio-
nada), terapia por ondas de choque, tecarterapia, endermoterapia vibratória,
radiofrequência microagulhada e intradermoterapia pressurizada.

Laser fracionado (fototermólise fracionada)


Surge a opção de tratamento baseado em tecnologia a laser (luz por emissão
estimulada pela radiação) na busca por tratamentos que proporcionem efeitos
positivos e com menor número de atendimento. A energia do laser tem ca-
racterísticas físicas que liberam a emissão de radiação com grande potencial
de energia, empregado em um comprimento de onda específico baseado no
objetivo terapêutico.
Na década de 1990, iniciou-se a prática clínica dermatológica com o uso de
lasers ablativos de CO2 (10.600 nm) e Erbium (2.940 nm) para fins terapêuticos
(RAMSDELL, 2012). Lasers ablativos são aqueles que removem a epiderme e
a derme superficial, podendo até alcançar a derme profunda e gerar um calor
residual acentuado, promovendo um aquecimento da água contida na derme
profunda, podendo chegar a uma temperatura de até 100°C e, com isso, ocorre
uma redução na elastose actínica e a promoção da neocolagênese. Embora essa
técnica possa ser considerada eficiente, notaram-se efeitos colaterais recorren-
tes e acentuados, como cicatrizes hipertróficas e queloideanas e hipocromia
transitória ou definitiva, por consequência, seu uso entrou em declínio.
Com o objetivo de reduzir os efeitos colaterais decorrentes do uso de lasers
ablativos, foram criados os lasers fracionados não ablativos, como o Erbium
modificado (1.540–1.550 nm) e o YAG laser (1.440 nm). Eles têm uma baixa
afinidade pela água e, por não serem ablativos, não podem remover a epiderme.
Embora não haja efeitos colaterais desses lasers, observa-se que, devido ao seu
curto comprimento de onda, a capacidade de produção de colágeno é limitada,
obtendo resultados satisfatórios (MANSTEIN et al., 2004).
Em decorrência a esses fatos, em 2004, foi desenvolvido um novo
conceito de tratamento a laser que não apresenta os efeitos colaterais do
laser ablativo contínuo de CO2 e do Erbium, e que proporciona o estímulo
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 3

da neocolagênese. Dessa maneira, foi criada a fototermólise fracionada


(Fractional Photothermolysis), com o intuito de proporcionar eficácia e
recuperação tecidual rápida, levando em consideração o caráter estético
da intervenção.
A ampliação da luz por emissão de radiação estimulada é uma sigla que
forma a palavra laser (light amplification by stimulated emission of radiation).
Essa radiação tem propriedades físicas específicas que permitem emitir grandes
quantidades de energia com comprimentos de ondas específicos.
Qualquer laser tem quatro componentes: sistema de transmissão de energia
(composto por um braço articulado com fibra óptica ou espelhos, que garante
a emissão correta de luz na direção do alvo), meio (líquido, sólido ou gasoso),
fonte de energia (onde os átomos são excitados e há a inversão de polari-
dade) e cavidade óptica onde o meio se encontra (local onde a amplificação
é processada).
Existem três propriedades únicas que divergem o laser de outras fontes
de energia luminosa: colimação — a emissão do feixe luminoso ocorre de
maneira alinhada, sem divergências, atingindo uma longa distância, para que
a energia possa ser aplicada de forma pontual; monocromática — a luz tem o
mesmo comprimento de onda e é absorvida seletivamente por alvos de tecido
específicos, denominados cromóforos (hemoglobina, melanina, água, etc.);
e coerência — as ondas de luz se propagam juntas no tempo e no espaço.

Comprimento de onda é um dos fatores que determinam a profundidade de pe-


netração do tecido-alvo, ou seja, diferentes comprimentos de onda têm diferentes
coeficientes de absorção para o mesmo tecido.
Fluência ou dose é definida pela energia que se transmite de um feixe luminoso por
unidade de área, medida em J/cm2 (AGNE, 2011). A fluência ideal para uso é determinada
com base nas características do tecido a ser irradiado e no objetivo a ser alcançado.
Além disso, o tempo e o tamanho da área de tratamento são ajustados de acordo com
a energia absorvida por cada tecido.

Dentro do mecanismo fisiológico que envolve o laser fracionado temos a


molécula que absorve a luz, chamada de cromóforo, que se transforma em um
fotoproduto e desencadeia uma série de respostas bioquímicas que podem ser
observadas de forma clínica. Com a absorção da luz, o cromóforo emite calor,
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desencadeando uma reação térmica com capacidade de promover a destruição


do tecido. Este é o princípio da fototermólise seletiva. Concluiu-se com essa
teoria que o laser realiza a preservação das estruturas circunvizinhas ao seu
alvo, podendo ser empregado no tratamento de cicatrizes atróficas — como
nas estrias.
A radiação exerce grande influência sobre o cromóforo água e colunas de
lesão dérmica são geradas por feixes de laser que se alternam com o tecido
íntegro, chamadas de zonas microtérmicas (microthermal treatment zone). No
tecido íntegro ocorrerá a migração dos queratinócitos para as microthermal
treatment zone (caminho mais curto) derivadas de uma rápida reepitelização
com menor risco de cicatrizes inestéticas e discromias (BODENDORF et al.,
2009; MANSTEIN et al., 2004). Estipula-se que a temperatura estimulada da
derme seja de 60 a 100°C em 640 microssegundos e, decorrente ao aqueci-
mento, ocorre uma vaporização das células com desnaturação do colágeno.
Esse processo gera um estímulo à reorganização e à contração da derme.
Também acontece a dissipação de energia por meio da formação de radicais
livres que se ligam a células íntegras, lesionando-as. Na camada córnea há
pouca presença de água, por isso, permanece funcionalmente íntegra sobre
a coluna de lesão, minimizando o risco de efeitos adversos e infecções. Veja
a seguir a Figura 1.

Figura 1. Comparação entre os lasers ablativo (a), não ablativo (b) e ablativo fracionado (c).
Fonte: Borges e Scorza (2016, p. 429).
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 5

Terapias por ondas de choque


Na década de 1980, a técnica de terapias por ondas de choque era aplicada
em tratamentos médicos para o tratamento de cálculos renais e, a partir da
década de 1990, começou a ser aplicada em patologias ortopédicas com ótimos
resultados (SEMS; DIMEFF; IANNOTTI, 2006).
A terapia por ondas de choque é uma das mais recentes inovações tec-
nológicas usadas no tratamento da lipodistrofia localizada. Refere-se a uma
energia mecânica com alta potência (onda sonora) emitida por um disposi-
tivo específico e, ao penetrar no tecido adiposo, promove um forte efeito de
cavitação instável (ruptura de microbolhas), causando efeitos microscópicos
no tecido tratado. A aplicação no campo da beleza está aumentando e muitos
estudos estão sendo realizados para verificar o efeito real na derme e no tecido
subcutâneo (BORGES; SCORZA, 2016).
O aparelho de ondas de choque emite ondas mecânicas de alta pres-
são que apresentam curta duração (5 microssegundos), alta densidade de
energia (0,07–1,2 mJ/m 2) e baixa frequência (1–15 Hz) (SEMS; DIMEFF;
IANNOTTI, 2006).
De acordo com Sems, Dimeff e Iannotti (2006), os geradores de ondas
de choque funcionam baseados em quatro sistemas, que variam conforme o
fabricante:

 sistema eletro-hidráulico: ondas de choque focal;


 sistema eletromagnético: ondas de choque focal;
 sistema piezoelétrico: ondas de choque focal;
 sistema eletropneumático: ondas de choque radial.

As ondas de choque radial são superficiais e têm a propriedade de se pro-


pagar radialmente a partir do aplicador. Quando penetram no tecido, perdem
energia e ocorre a cavitação perto do aplicador, indicado na estética para
tratamento de flacidez tissular, fibroedema geloide e aspecto celulítico. As
ondas de choque focal são mais profundas e concentram toda a energia gerada
em um ponto distante da fonte. O pico de energia desse foco pode variar de
baixo a alto. A onda desfocada é uma onda ampla, não tem foco e não se
propaga radialmente, ideal para tratamentos muito superficiais, como úlceras
na pele e celulite (SEMS; DIMEFF; IANNOTTI, 2006).
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O mecanismo de ação fisiológica da terapia de ondas de choque se baseia


na ação mecânica, que proporciona a formação de microbolhas que eclodem,
fragmentando a estrutura tecidual local; ação analgésica por estimulo intenso
local, que libera enzimas locais de atuação na fisiologia da dor; e ação vascular
decorrente da liberação de mediadores como fator de crescimento endotelial
vascular, que aumentam a circulação local e a angiogênese.

O equipamento de terapia por ondas de choque auxilia também no processo de


reabilitação por meio dos seguintes mecanismos de ação:
 Liberação de óxido nítrico: o óxido nítrico é um importante vasodilatador formado
nos neurônios do corno posterior da medula espinal. Ele promove um efeito inibi-
tório nas vias nervosas aferentes da dor, o que causa a modulação da dor.
 Liberação de fator de crescimento vascular endotelial, síntese de óxido nítrico
endotelial e proteínas ósseas morfogênicas.
 Liberação de fator de crescimento vascular endotelial, síntese de óxido nítrico
endotelial e proteínas ósseas morfogênicas: estes fatores auxiliam na cicatrização
das tendinopatias em inserções tendíneas, além de estimularem a liberação de
fatores angiogênicos e a neovascularização, o que melhora o fluxo sanguíneo
local, promovendo a cicatrização de tendões e ossos.

Tecarterapia
O termo tecarterapia estabelece um dos tipos de radiofrequência que provêm
da transferência elétrica capacitiva e resistiva e da terapia, sendo, na realidade,
um retorno aperfeiçoado de um equipamento antigo de Arséne D’Ansorval,
que estudou o objetivo da excitação neuromuscular produzida pelas correntes
de alta frequência, obtendo uma corrente com efeito principal no aquecimento
em profundidade. A corrente principal, na qual a frequência é de 50 Hz, aceita
alguns miliamperes, ao passo que em frequências de 1 MHz, a utilização da
corrente pode levar centenas de miliamperes.
Sabe-se também que a corrente com frequência superior a 10 KHz não
causa contração muscular, mas promove o aumento da temperatura do
tecido pelo qual passa devido ao efeito joule, ou seja, a corrente alternada
é o meio de conversão da termoterapia e gera corrente de deslocamento no
corpo. Os efeitos biológicos das correntes de alta frequência se desenvolvem
por meio da bioquímica, em que aumentam o metabolismo, restauram o
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 7

potencial da membrana, aumentam o fluxo sanguíneo e induzem efeitos


terapêuticos, promovendo, assim, a recuperação precoce do processo de
reabilitação.
A frequência atual usada em tecarterapia pode variar de 0,45 a 0,6
MHz. O uso de frequências que aproximam a ressonância humana promove
efeitos térmicos devido à absorção de energia. Essa tecnologia tem dois
sistemas: resistivo (calor de fora para dentro, com ação profunda, atingindo
os tecidos fibróticos e mais resistentes) e capacitivo (calor de dentro para
fora, ação mais superficial, efeito localizado sobre o tecido). Entre os seus
benefícios de aplicação, estão: a melhora no aspecto da pele, o aumento
da quantidade de oxigênio e nutrientes no tecido, além da redução da
lipodistrofia localizada.
A tecarterapia representa hoje uma forma de onda uniforme e segura, pois
evita todo e qualquer tipo de lesão cutânea. Trata-se de um procedimento
seguro e não invasivo, que tem como efeito primordial a produção de calor
ao atravessar o organismo humano.
Dentro do seu mecanismo de ação no corpo humano, exerce efeito atérmico
(bioestimulação) com mobilização iônica (Na+, K+, Ca2+) através da membrana
do meio intracelular para o extracelular, melhora a resposta celular e, com
isso, o funcionamento das células, além de drenagem linfática local; efeito
térmico (vascularização) proporciona aumento da microcirculação, oxigenação
intracelular, metabolismo celular e promove um leve aquecimento do tecido
(37–38°C), ideal para tratar fibroses; e efeito hipertérmico (hiperativação)
propicia aumento no metabolismo celular, oxigenação intracelular, fluxo
sanguíneo e aquecimento do tecido (39–42°C), ideal para tratar lipólise ter-
moinduzida, termolesão tecidual e termocontração de colágeno.

Terapia vibro-oscilatória (Vibrocell®; Modellata®;


Cellutec®)
A primeira aplicação da terapia vibro-oscilatória surgiu em 1968, quando
Hagbarth e Eklund usaram vibração oscilatória em alta frequência (150 Hz)
para tratar pacientes com espasticidade, rigidez e doença cerebelar, e conclu-
íram que a terapia também pode causar o relaxamento muscular antagonista
avaliado. Estudos realizados com a terapia vibro-oscilatória de 100 Hz no
tríceps de oito pacientes adultos com sequelas de acidente vascular cerebral
por 15 minutos consideraram a terapia benéfica, porque a amplitude de movi-
mento dos pacientes foi melhorada, o espasmo foi reduzido e o controle motor
foi aprimorado. Em outro estudo realizado, foi feita a avaliação dos efeitos
8 Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais

da vibração oscilatória em pacientes que portavam a doença de Parkinson e


foi concluído que com frequências baixas (75 Hz) ocorria um relaxamento
importante da musculatura.
Vários estudos realizados no decorrer dos anos apontam a eficiência das
vibrações mecânicas sobre a circulação sanguínea periférica e concluem que a
vibração, tanto local como sistêmica, acarreta no aumento do fluxo sanguíneo
e proporciona relaxamento da musculatura.
Sobre o seu mecanismo de ação no organismo, este gera um efeito mecâ-
nico que combina forças verticais e paralelas sobre os tecidos e as estruturas
adjacentes de interesse sem causar danos. A ação fisiológica decorrente desse
efeito promove aumento da vascularização tecidual, com melhora da oxigena-
ção cutânea, nutrição celular e eliminação de toxinas; favorece o aumento da
permeabilidade de ativos; otimiza as trocas metabólicas; gera ação descon-
gestionante e fibrinolítica; e estimula mecanorreceptores da pele, auxiliando
na redução do fibroedema geloide e na modelação corporal.

Radiofrequência pulsada microagulhada


A regeneração dérmica na interface papilar-reticular se deve ao uso de energia
fracionada randômica de alta frequência disparada sobre a pele, proporcionando
estímulo de fibroblastos com consecutiva síntese de fibras elásticas e colágenas,
assim como regeneração epidérmica devido à migração de queratinócitos.
Apresenta-se, dessa maneira, uma abordagem totalmente inovadora para o
rejuvenescimento cutâneo, por meio da energia subablativa, mediante o uso de
eletrodos, com várias agulhas, conectados a um aparelho de radiofrequência
(LIMA, 2016). Realizada de forma precisa e pontual, essa técnica não implica
em comprometimento do tecido adjacente aos micropontos vaporizados e
proporciona significativo impacto no tecido, favorecendo o estímulo para a
síntese do novo colágeno.
Os eletrodos que contêm as agulhas são compostos, respectivamente, de
duas, quatro ou oito agulhas de tungstênio, com diâmetro de 200 milésimos de
milímetro, com peso e comprimento idênticos e dispostos de forma paralela,
tendo como objetivo atingir o mesmo plano de profundidade. As agulhas com
comprimento de 1,5 mm ultrapassam a epiderme e agem na derme, estimulando
a contração e a renovação do colágeno (Figura 2).
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 9

Figura 2. Esquemas da aplicação, regeneração e resultado da radiofrequência pulsada


microagulhada.
Fonte: Adaptada de Lima (2015).

De acordo com Min et al. (2015), a radiofrequência fracionada propicia


uma corrente entre as microagulhas, gerando uma lesão térmica diretamente
na derme e, assim, demonstrando a sua eficácia no aumento da deposição de
colágeno em tratamentos de cicatrizes. Foram observados em seu estudo uma
grande expressão de fatores de crescimento no decorrer da primeira semana
após o início do tratamento, além do aumento nos colágenos tipo I e III. Por-
tanto, a radiofrequência pulsada microagulhada leva à ativação de fibroblastos
dérmicos, melhorando a formação de colágeno e resultando em melhora da pele.

Confira a seguir a importância da manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos


estéticos.
 Alguns equipamentos necessitam de constante calibração, variando conforme o
modelo do fabricante, por isso é importante sempre estar atento a essa informação.
 Caso seja observado algo de diferente no equipamento ou se gerar sensações
anormais no paciente, fique atento e encaminhe-o para que seja feita a manutenção
necessária. O equipamento deverá ser encaminhado diretamente ao departamento
de assistência técnica do fabricante.
 Os fabricantes recomendam manutenção preventiva anual dos equipamentos,
pois assegurará a vida útil e mais duradora do equipamento, minimizando falhas
devido ao uso excessivo.
 Em caso de dúvidas, é sempre importante contatar o fabricante ou o representante
do equipamento.
10 Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais

Intradermoterapia pressurizada
A intradermoterapia pressurizada é uma tecnologia sem agulha que visa a
liberar medicamentos na pele usando força mecânica, pressão de gás e ondas
de choque sem a necessidade de injetar agulhas, permitindo o tratamento de
diferentes aspectos estéticos, como gordura localizada, flacidez e celulite,
promovendo maior conforto ao paciente durante a aplicação (AL-KAF; OTH-
MAN, 2017). Esse sistema de entrega sem agulha foi descrito pela primeira
vez em 1936 por Marshall Lockhart e, em 1940, Higson e outros pesquisadores
desenvolveram dispositivos de alta pressão que usavam jatos finos de fluido para
penetrar na pele e depositar o fármaco no tecido subjacente. Isso permitiu a
administração de medicamentos altamente viscosos que as agulhas tradicionais
geralmente não conseguiam gerenciar, tornando a aplicação menos dolorosa
(AL-KAF; OTHMAN, 2017; RAVI et al., 2015).
Em 1964, na França, a intradermoterapia pressurizada recebeu mais aten-
ção, e foi então fundada a Sociedade Francesa de Mesoterapia. A técnica de
intradermoterapia se espalhou pelo mundo, descrita como a injeção na derme
de fármacos altamente diluídos sem necessidade de agulhas perfurocortantes.
O uso da intradermoterapia para o tratamento da lipodistrofia localizada
envolve a utilização de fármacos, reagentes e extratos de plantas nas camadas
de gordura e tecido conjuntivo da pele. Eles consistem em uma ampla gama
de agentes usados para dilatar vasos sanguíneos, como enzimas, nutrientes,
antibióticos e hormônios. Esse tratamento é indicado para pequenas áreas
com excesso de gordura ou depósitos de gorduras localizadas, ou correção de
irregularidades ou assimetria do contorno corporal após qualquer procedimento
cirúrgico (MOHAMED; EL-DESOKY; MOHAMED, 2015).
Mohamed, El-Desoky e Mohamed (2015) utilizaram aplicações de in-
tradermoterapia em seis sessões semanais combinadas com dieta. Foram
utilizados durante as aplicações os ativos fosfatidilcolina e desoxicolato para
uma efetiva redução da adiposidade abdominal. Como resultado foram ob-
servadas a diminuição do volume e da espessura de gordura, entretanto, não
foi possível identificar o aumento da circulação, os marcadores inflamatórios
ou as alterações no metabolismo da glicose e dos lipídios.
Embora ainda existam algumas lacunas nos mecanismos de ação da intra-
dermoterapia pressurizada, alguns estudos mostraram resultados promissores
para o tratamento da adiposidade localizada sem grandes efeitos adversos
(MOHAMED; EL-DESOKY; MOHAMED, 2015).
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 11

A intradermoterapia pressurizada tem como vantagem ter sua aplicação


liberada para qualquer profissional da saúde, inclusive os da área da estética,
sendo um tratamento revolucionário, não cirúrgico e sem agulhas, garantindo
um tratamento indolor, eficaz e confortável.
Na técnica de intradermoterapia pressurizada, a aplicação de ativos acontece
para dentro do tecido subcutâneo devido a uma caneta pressurizada capaz
de disparar jatos com alta velocidade e assim causar o rompimento do tecido
epitelial, reduzindo significativamente as contaminações causadas pelo uso
de agulhas. Em relação à profundidade que os ativos podem chegar, isso varia
de acordo com o tipo de equipamento utilizado e o ativo administrado.
Os ativos para uso na intradermoterapia pressurizada são associados, por
isso recebem o nome de mescla, em que se tem o conjunto de ativos específicos
para tratamento de afecções estéticas diferentes. Dentre essas mesclas, temos
associações para tratamentos de lipodistrofia localizada, fibroedema geloide
e flacidez tissular.
Veja a seguir as mesclas para tratamento de lipodistrofia localizada e
fibroedema geloide.

 Lipoxyn: peptídeo que promove ação antiadipogênese (impede o re-


crutamento de células que armazenam gordura).
 Cafeína: inibe a enzima fosfodiesterase, atuando no processo de degra-
dação dos triglicérides armazenados nos adipócitos.
 Actigym: de origem marinha e obtido por biotecnologia, auxilia na
definição do abdômen e aumenta o tônus muscular, evitando flacidez.
 Planta carnívora: extrato da planta carnívora responsável pela eliminação
da gordura que favorece a lipólise.

As mesclas para tratamento de flacidez tissular são as seguintes:

 DMAE: atua diretamente na flacidez.


 Silício orgânico: combinação de antioxidantes que hidratam profun-
damente a pele e promovem a luminosidade, devolvendo a jovialidade
ao tecido.
 Hialuronato de sódio: combinação de antioxidantes que hidratam profun-
damente a pele e promovem a luminosidade, devolvendo a jovialidade
ao tecido.
12 Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais

2 Protocolos utilizados nas inovações


tecnológicas
A anamnese sempre deve ser o início de todo e qualquer tratamento, buscando
nela compreender qual disfunção o paciente apresenta, se está em um grau
inicial ou avançado e quais serão os melhores recursos empregados na busca
da obtenção de um melhor resultado ao final. Algumas das inovações tecnoló-
gicas têm sido mais empregadas nas clínicas de estética corporal, dentre elas,
temos: tecarterapia, terapia vibro-oscilatória e terapias por ondas de choque.

Passo a passo para a aplicação da tecarterapia


(LOW; REED, 2001)
1. Examine de forma minuciosa a pele do paciente e limpe a área de
tratamento com solução de clorexidina alcóolica.
2. Programe o equipamento e escolha a melhor ponteira de acordo com
a disfunção estética e o tratamento desejado.
3. Aplique gel neutro como meio de contato do aparelho com a pele.
4. Observe se a superfície do cabeçote está em contato com a pele do
paciente.
5. Movimente o cabeçote de forma uniforme e circular.
6. Pode ser aplicado em região de coxas, glúteos, abdômen e braços.
7. Após o término da aplicação, retire o gel neutro e limpe a região.
8. Ao final do tratamento, a região pode apresentar hiperemia, sensação
de calor, desconforto e estiramento cutâneo.

Passo a passo para a aplicação da terapia vibro-oscilatória


(WANNER; AVRAM, 2008)
1. Examine de forma minuciosa a pele do paciente.
2. Limpe as ponteiras de aplicação antes e depois de cada sessão.
3. Sugestão para a escolha da ponteira ideal:
■ Ponteira multipontas: auxilia na redução temporária da aparência do
fibroedema geloide, modela o contorno corporal, melhora a circulação
sanguínea local e alivia as dores musculares.
■ Ponteira côncava para drenagem: como o nome já diz, auxilia na
drenagem linfática.
■ Ponteira quatro pontos e ponto central: melhora a circulação san-
guínea local e alivia as dores musculares.
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 13

4. Esfolie a pele do paciente.


5. Programe o equipamento de acordo com a disfunção estética e o tra-
tamento desejado.
6. Aplique creme ou óleo vegetal como meio de contato do aparelho com
a pele.
7. Pode ser aplicado em região de coxas, glúteos, abdômen e braços.
8. Após o término da aplicação, retire o excesso do creme ou óleo vegetal.
9. Ao final do tratamento, a região pode apresentar hiperemia e aumento
da temperatura local.

Passo a passo para a aplicação da terapia por ondas


de choque (ADATTO et al., 2011)
1. Examine de forma minuciosa a pele do paciente e limpe a área de
tratamento com solução de clorexidina alcóolica caso contenha creme
na pele.
2. Programe o equipamento de acordo com a disfunção estética e o tra-
tamento desejado.
3. Aplique gel neutro como meio de contato do aparelho com a pele.
4. Observe se a superfície do cabeçote está em contato com a pele do
paciente.
5. Realize uma aplicação estática pontual ou movimentos lentos com o apli-
cador sobre o local de tratamento, dependendo do objetivo terapêutico.
6. Posicione o aplicador do cabeçote de forma vertical sobre a área tratada
e inicie os disparos.
7. Pode ser aplicado em região de coxas, glúteos, abdômen e braços.
8. Após o término da aplicação, retire o gel neutro e limpe a região.
9. Ao final do tratamento, a região pode apresentar hiperemia e discreto
quadro de petéquias e/ou equimose. O paciente deve ser orientado a
não se expor ao sol.

3 Recursos estéticos com inovações


tecnológicas
Nas clínicas de estética e saúde, vem sendo demonstrado um crescente aumento
na associação de recursos estéticos com inovações tecnológicas para tratamento
de afecções estéticas corporais. Essa união de procedimentos permite alcançar
resultados mais rápidos e evidentes. Na lipodistrofia localizada ou gordura
14 Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais

localizada, temos o excesso de adipócitos localizados de forma desordenada


em regiões específicas do corpo. Nessa disfunção existe uma hipertrofia das
células adiposas uniloculares encontradas em uma região específica do corpo.
Para alcançar um tratamento eficaz, são necessárias associações entre
recursos estéticos e inovações tecnológicas que proporcionem a lipólise,
dentre elas, temos: a tecarterapia com efeito hipertérmico (hiperativação), que
propicia aumento no metabolismo celular, oxigenação intracelular, estímulo
de fluxo sanguíneo e aquecimento do tecido (39–42°C), que são ideais para
tratar lipólise termoinduzida, termolesão tecidual e termocontração de colá-
geno. Esse tratamento pode ser associado com o recurso manual da massagem
modeladora, que melhora a circulação, auxilia na redução de edemas, melhora
a aparência da pele e do metabolismo celular e, além disso, pode-se associar
aos dois tratamentos o recurso da terapia por ondas de choque, que é uma das
mais recentes inovações tecnológicas usadas no tratamento da lipodistrofia
localizada, na qual a energia mecânica com alta potência (onda sonora), emitida
por um dispositivo específico, penetra no tecido adiposo promovendo um forte
efeito de cavitação instável (ruptura de microbolhas), acarretando em efeitos
microscópicos no tecido tratado.
O fibroedema geloide está relacionado a uma infiltração edematosa do
tecido conjuntivo subcutâneo, de característica não inflamatória, seguida de
polimerização da substância fundamental amorfa presente no espaço inters-
ticial da derme. Esse edema se infiltra no tecido conjuntivo e produz uma
reação fibrótica consecutiva. Desse modo, podem ser encontrados a fibrose
e o edema que acometem o tecido conjuntivo da derme e o tecido subcutâneo
(BORGES; SCORZA, 2016).
Na procura por um tratamento eficaz que melhore o aspecto fibrótico do
fibroedema geloide, existe a busca por recursos que incrementem o sistema
circulatório, diminuam o edema, eliminem toxinas e melhorem, assim, a
oxigenação e a nutrição tecidual. Dentre a associação de recursos estéticos
e inovações tecnológicas que obtenham esses efeitos, temos: a tecarterapia
com seu efeito atérmico (bioestimulação) com mobilização iônica (Na+, K+,
Ca2+) através da membrana do meio intracelular para o extracelular, que visa a
melhorar a resposta celular e, com isso, o funcionamento das células, além da
drenagem linfática local e o efeito térmico (vascularização), proporcionando o
aumento da microcirculação, levando à oxigenação intracelular, estimulando o
metabolismo celular e promovendo um leve aquecimento do tecido (37–38°C),
sendo ideal para tratar fibroses. Pode ser associado à intradermoterapia pres-
surizada utilizando ativos específicos para o fibroedema geloide e recursos da
drenagem linfática manual, que auxiliam no metabolismo celular, na excreção
Inovações tecnológicas no manejo de afecções cutâneas corporais 15

de toxinas e no equilíbrio hídrico dos espaços intersticiais, mantendo em


equilíbrio a pressão tissular e hidrostática.
A flacidez tissular ou cutânea é causada pela redução das fibras de susten-
tação da pele (elastina e colágeno), acarretando uma hipotonia, ou seja, um
baixo tônus dérmico. As fibras do tecido conjuntivo sofrem alterações com a
flacidez, e a elastina perde gradualmente a sua característica de elasticidade,
enquanto o colágeno se torna rígido.
O tratamento para essa disfunção com radiofrequência pulsada microagu-
lhada segue como objetivo para o aumento da atividade nervosa parassimpática
com diminuição da simpática, elevação da elasticidade dos tecidos com abun-
dância de colágeno, neoelastogênese e neocolanogênese. Pode ser associado
aos recursos cosméticos estéticos, que têm ativos específicos para flacidez,
como: seiva da Pistacia grega, sacarídeos da Peonia, Dmae, gluconolactona,
silício orgânico, extrato de chá verde, Matrixyl®, entre outros.
É sempre importante observar cada peculiaridade existente nas disfunções
e entender de maneira correta como funciona cada recurso, a fim de fazer
uma associação que agregue melhorias, pois, se feita de maneira errônea, pode
desencadear uma piora no quadro da afecção do paciente.

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