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TAÇA DOS CAMPEÕES 1939

O NORDESTÃO QUE COMEÇOU E NÃO TERMINOU

EWERSON VASCONCELOS
LUCAS BARCELOS

PERNAMBUCO, 2023
APRESENTAÇÃO

Este conteúdo traz a narração sobre a Taça dos Campeões 1939, primeiro certame de
expressão regional com métodos oficiais, profissionais e legais que se tem conhecimento na
história do futebol nordestino. Detalhes sobre sua época, criação, critérios, finalidade, disputa,
fotos, repercussão, contextualização e muito mais.

Seu corpo consta com elementos pesquisados via Hemeroteca Digital Nacional, sendo
extraídos documentos oficiais, análises e relatos da imprensa brasileira dos mais variados
jornais e estados federativos.

 PESQUISA: EWERSON VASCONCELOS DOS SANTOS E LUCAS BARCELOS PIMENTEL


(PESQUISADORES PERNAMBUCANOS)

 TEXTO: LUCAS BARCELOS PIMENTEL

LINHAS DE PESQUISA:

 DA CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÉPOCA
 DA IDEIA PARA CRIAÇÃO DE UM REGIONAL
 DA CRIAÇÃO DA TAÇA DOS CAMPEÕES 1939
 DOS PARTICIPANTES
 DOS MOLDES OFICIAIS DA COMPETIÇÃO
 DOS ANUNCIOS DA CHEGADA DO BAHIA E DO PRIMEIRO JOGO DA FINAL DO
NORDESTÃO
 DO REGULAMENTO, OFICIALIZAÇÃDA EXCURSÃO DO BAHIA EM PERNAMBUCO SENDO
ORGANIZADA PELO SPORT
 O E RECONHECIMENTO DA FEDERAÇÃO
 DA BOLA ROLANDO (SPORT 4x2 BAHIA)
 DA COBERTURA FOTOGRÁFICA DO JORNAL SPORT ILUSTRADO (RJ)
 DO ALMOÇO E JOGO DE BASQUE DO SPORT EM HOMENAGEM AO BAHIA
 A VISITA DO BAHIA À IMPRENSA PERNAMBUCANA
 DA EXCURSÃO DO BAHIA EM PERNAMBUCO SENDO ORGANIZADA PELO SPORT
 OS AMISTOSOS DO BAHIA CONTRA SANTA CRUZ E NÁUTICO
 DA HIPÓTESE DO BAHIA TER FUGIDO DA DISPUTA E DO DEBOCHE DA IMPRENSA
 DA REPERCURSSÃO DO JOGO E DA PASSAGEM DO BAHIA
 DOS PROBLEMAS DO BAHIA COM JOGADORES
 DO JOGO DA VOLTA
 DAS VIAS E FINALIDADE
 DE UMA ESTRELA NA DISPUTA
 DO PREJUÍZO HISTÓRICO

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


 DO RECONHECIMENTO

VEÍCULOS CONSULTADOS VIA HEMEROTECA DIGITAL NACIONAL:

 A Batalha (RJ)
 A Noite (RJ)
 Correio da Manhã (PE)
 Correio da Manhã (RJ)
 Correio da Tarde (SP)
 Correio Paulistano (SP)
 Diário Carioca (RJ)
 Diário da Manhã (PE)
 Diário de Pernambuco (PE)
 Gazeta de Notícias (RJ)
 Jornal do Brasil (RJ)
 Jornal do Commercio (RJ)
 Jornal dos Sports (RJ)
 Jornal Pequeno (PE)
 O Dia (PR)
 O Estado (SC)
 Sport Ilustrado (RJ)

A representação do logo do Sport Club do Recife em 1939 é uma colorização de Marcos, usuário
do Twitter (@MarcosCfn87).

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


1. DA CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÉPOCA

A década de 1930 é uma das mais importantes do futebol, foi nela que a imponência da
modalidade esportiva se fixa no país. Inicialmente a relação entre Federação Brasileira de
Football (FBF) e Confederação Brasileira de Desportos (CBD) não era das melhores, com
cenários como clubes e Federações não conseguirem realizar jogos, excursões e cadastros de
atletas, pois não havia um entendimento entre as entidades, porém, após muitas polêmicas e
negociações, a pacificação aconteceu. Pra se ter uma ideia, o fim da FBF ocorreu por um
decreto presidencial e o clássico Flamengo x Vasco chegou a não ocorrer em alguns anos pelo
motivo de que cada um dos clubes pendia para uma entidade diferente, num imbróglio que
também envolvia a Federação Carioca de Football.

As coisas fluíram e a década também foi marcada por evoluções. Enquanto a CBD
organizada e administrava as ações da Seleção Brasileira, elevando o time para as disputas do
Campeonato Sul-Americano (Copa América), Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, a FBF passou a
comandar os envolvimentos dos clubes. Era ela que cadastrava e regularizava atletas, que geria
as competições, ordenava regulamentos e concedia licenças para os clubes realizarem viagens,
excursões e outros, além de ao lado da CBD, organizar o Campeonato Brasileiro de Seleções.
Essa nova organização nacional gerou a febre do profissionalismo no país e filiações de
Federações Estaduais à FBF e da criação de competições interestaduais, como o Torneio dos
Campeões de 1937, que foi oficialmente o 1° Campeonato Brasileiro, o Torneio Roberto Gomes
Pedrosa, o popular Torneio Rio-SP em 1933 e a Taça dos Campeões do Nordeste de 1939, o
primeiro regional do Nordeste aos moldes oficiais.

Os anos 30 marcava o começo da elevação do profissionalismo e da nacionalização do


futebol brasileiro, onde todos os processos eram evolutivos, ou seja, olhando com os olhos
atuais, alguns podem ter a sensação de injustiça com a ausência de outros estados e clubes,
mas, por exemplo, em 1939, eram passos para o progresso do futebol nordestino e a inclusão
da região num adicionamento do Nordeste ao mapa das grandes disputas interestaduais. Bahia
e Pernambuco já eram as grandes referências nordestinas em diversos setores, como política,
economia, infraestrutura, turismo e história, e no futebol não podia ser diferente, que é um dos
grandes termômetros sociais entre tantas civilizações. Para ter um exemplo futurista, 20 anos
após a Taça dos Campeões, em 1959, os estados tornavam-se os únicos fora do eixo SP-RJ-RS-
MG a representar a Seleção Brasileira, com a Bahia atuando na Taça Bernardo O'Higgins de
1957 e Pernambuco disputando o Sul-Americano (Copa América) de 1959.

Em 2023, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) reconheceu o título do Torneio


dos Campeões de 1937, vencido pelo Clube Atlético Mineiro, como título brasileiro, unificando
com a Série A do Brasileirão, criada em 1971. Apenas quatro estados disputaram o
campeonato, mas pela representação da elevação do esporte no país, do progresso do
profissionalismo, do impacto nas filiações de novas federações e popularização nacional da
modalidade, o peso, valor e status representava o Brasileirão da época, assim como a Taça dos
Campeões 1939 era o “Nordestão” daquele ano.

2. DA IDEIA PARA CRIAÇÃO DE UM REGIONAL

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Em 1939, o Esporte Clube Bahia, um clube jovem, mas já imponente, grande e popular
da cidade de São Salvador pensava alto. Sua direção tinha grandes objetivos naquela
temporada, com vários deles saindo do papel, como o convite para excursões do America
Futebol Clube/RJ, Santos Futebol Clube/SP e Fluminense Football Club/RJ, ali, três das
maiores, mais populares e mais conceituadas instituições do Brasil, além de ter planejado uma
excursão para a Europa, o que sela o nível de grandeza que o esquadrão de aço (como já era
chamado) mentalizava.

Figura 1: Jornal Pequeno (PE): 28 de Março de 1939

No inicio da temporada, o tricolor, que era o atual campeão baiano e colecionava títulos
das edições de 1931, 1933, 1934 e 1936, cogitava propor a disputa de um troféu com o atual
campeão pernambucano, para decidir o título de “campeão do Nordeste”. Houve muitas
negociações e conversas para decidir o formato, a tabela, os mandos de campo e demais
circunstâncias para a formação da taça. Em março, o Bahia enviou um ofício com elogios ao
Sport e a ideia de "disputar um significativo troféu". A princípio, a ideia era começar a disputa
em terras baianas. As negociações foram acontecendo, mas não houve uma rápida decisão,
porém os baianos insistiam na disputa, inclusive com o desejo da taça ser realizada em abril.

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Figura 2: Diário da Manhã (PE) - 9 de Março de 1939

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Figura 3: Diário da Manhã (PE) - 17 de Março de 1939

Figura 4: Jornal do Brasil (RJ) - 18 de Março de 1939

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Figura 5: Diário da Manhã - 14 de Abril de 1939

A possibilidade da competição ganhava popularidade entre os jornais, incluindo veículo


da capital nacional, que desde em seu princípio divulgava a finalidade da competição: “decidir
qual o campeão do Nordeste”.

Figura 6: Correio da Manhã (RJ) – 18 de Março de 1939

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A partida da volta estaria sendo pensada para ser disputada 15 dias após o primeiro
jogo.

Figura 7: Diário da Manhã (PE) - 28 de Março de 1939

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3. DA CRIAÇÃO DA TAÇA DOS CAMPEÕES 1939

Taça dos Campeões, ou Campeonato do Nordeste: Após semanas de negociações e


organização, é confirmada a criação de uma competição para a disputa do título do Nordeste,
sendo os atuais campeões estaduais da Bahia e de Pernambuco lutando para ser o vencedor
regional. Diversos jornais de alguns estados brasileiros anunciavam a competição, que seria em
formato “melhor de três”, confirmando-se dois jogos, onde seria o campeão quem atingisse
primeiro três pontos e em caso de empate em número de pontos, haveria uma terceira e
decisiva partida. Na ocasião, um triunfo valia 2 pontos e não 3 como atualmente. Rapidamente
a crônica esportiva do país anunciava a Taça dos Campeões do Nordeste de 1939.

Figura 8: Correio da Manhã (RJ) - 19 de Março de 1939

Figura 9: Correio Paulistano (SP) - 19 de Março de 1939

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Figura 10: Correio da Tarde (SP) - 21 de Março de 1939

Figura 11: Correio Paulistano (SP) - 22 de Abril de 1939

Figura 12: O Estado (SC) - 22 de Março de 1939

"O local do primeiro jogo seria escolhido por sorteio, assim como o do terceiro, em caso de
empate", com possibilidade de ser disputado em campo neutro, mais precisamente em Maceió-
AL, porém a direção do Bahia discordou, preferindo jogar duas vezes no Recife, sem se
preocupar com campo neutro, como relatado pela direção tricolor ao Diário de Notícias (BA):
"Não queremos campo neutro. Havendo terceiro encontro e sendo escolhido o Recife, o Bahia terá
o maior prazer em jogar, por conseguinte, duas vezes no Recife. Mesmo porque si o terceiro jogo
terminar empatado, teremos direito a disputar a finalíssima na Bahia e o mesmo direito terá o
Sport Club do Recife no caso do local escolhido para a terceira partida ser o Bahia de atuar no
Recife."

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Figura 13: Diário da Manhã (PE) - 18 de Março de 1939

4. DOS PARTICIPANTES

Sport Club Bahia (campeão baiano de 1938)


Salvador, Bahia

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Sport Club do Recife (campeão pernambucano de 1938)
Recife, Pernambuco

5. DOS MOLDES OFICIAIS DA COMPETIÇÃO

Ficou acertado que a arbitragem da competição seria da forma mais cultural e oficial da
época, sendo a Federação Estadual do clube visitante tendo um de seus árbitros oficiais
apitando a partida, neste caso, um árbitro da Federação Baiana de Futebol ministrando as leis
da partida de ida, enquanto um da Federação Pernambucana seria o "juiz" em Salvador.

Figura 14: Diário da Manhã (PE) - 26 de Abril de 1939

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6. DOS ANUNCIOS DA CHEGADA DO BAHIA E DO PRIMEIRO JOGO DA FINAL DO
NORDESTÃO

O Bahia chegava ao Recife com muito cartaz. Aquele elenco que era o mais caro de todo
eixo Norte do país vinha de triunfos sobre o Náutico (3x2), America/RJ (4x1) e Corinthians
(5x2) e empatado com o Santos (3x3). Para receber os baianos, o Sport realizou uma grande
recepção, convidando seus sócios, torcedores comuns, Federação Pernambucana, Associação
de Clubes Suburbanos e a Associação de Cronistas. O anuncio da partida partia da imprensa de
diversos estados.

Figura 15: Diário da Manhã (PE) - 30 de Abril de 1939

Figura 16: Diário da Manhã (PE) - 16 de Maio de 1939

Figura 17: Jornal do Commercio (RJ) - 17 de Maio de 1939

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Figura 18: Jornal do Brasil (RJ) - 19 de Maio de 1939

Figura 19: Diário de Pernambuco (PE) - 21 de Maio de 1939

Figura 20: Diário da Manhã (PE) - 17 de Maio de 1939

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Figura 21: Diario da Manhã (PE) - 17 de Maio de 1939

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Figura 22: Diário de Pernambuco (PE) - 17 de Maio de 1939

Figura 23: Correio Paulistano (SP) - 18 de Maio de 1939

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A “busca pelo título de campeão do Nordeste” era um marco para o futebol local, ao ponto
do Clube Náutico Capibaribe, o maior rival do Sport na ocasião e que fazia o mais importante
clássico do estado, esteve presente para receber o tricolor: “A diretoria do Clube Náutico
Capibaribe está convidando os seus associados a comparecer, para um Carinhoso acolhimento ao
desembarque da embaixada do Esporte Clube Bahia, ora viajado no Araraquara, esperado hoje,
pela manhã, nesta cidade.".

O Sport estabeleceu um alto valor dos ingressos, entre 11.000 e 2.200 mil-réis e
aplausos na entrada dos rivais no campo da Ilha do Retiro.

Figura 24: Diário de Pernambuco (PE) - 18 de Maio de 1939

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Figura 25: Diário da Manhã (PE) - 18 de Maio de 1939

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Figura 26: Jornal Pequeno (PE) - 17 de Maio de 1939

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O Correio da Manhã (RJ) anunciou o embarque do Bahia para Recife, mas cometeu a gafe
em citar o Náutico ao invés do Sport, na disputa pelo título do Nordestão.

Figura 27: Correio da Manhã (RJ) - 02 de Abril de 1939

7. DO REGULAMENTO, OFICIALIZAÇÃO E RECONHECIMENTO DA FEDERAÇÃO

A Taça dos Campeões 1939 ou Campeonato do Nordeste seguiu toda a padronização do


profissionalismo, oficialização e legalidade seguida pela FBF, CBD e federações estaduais. Seu
regulamento era composto pelas regras do Campeonato Brasileiro de Seleções, a única
competição nacional oficial do país em disputa, que em 1937 foi substituída pelo Torneio dos
Campeões de Clubes e que era disputado desde 1922. De norte a sul, os jornais frisavam que o
regional de 1939 seguia o regulamento do certame nacional, ou seja, estava dentro dos
padrões, como exemplo as arbitragens, sendo dos quadros oficiais das respectivas Federações.

Figura 28: A Batalha (RJ) - 17 de Março de 1939

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Figura 29: Correio Paulistano (SP) - 19 de Março de 1939

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Figura 30: Diário da Manhã (PE) - 21 de Abril de 1939

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Figura 31: Gazeta de Notícias (RJ) - 18 de Março de 1939

Figura 32: O Dia (PR) - 23 de Março de 1939

A disputa em “melhor de três” era o modelo oficial do Campeonato Brasileiro de


Seleções, que também tinha na escolha dos árbitros, uma negociação entre os dirigentes.

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Figura 33: Correio da Manhã (RJ) - 21 de Setembro de 1938

Por razões logísticas e financeiras, os clubes diante daquelas realidades da época,


costumavam realizar outras partidas no local onde seriam disputados jogos oficiais e foi o que
o Bahia fez: "além do jogo com o Sport, realizará partidas amistosas". O tricolor realizaria
amistosos contra Náutico e Santa Cruz, mas o que fica nítido é a tratativa da imprensa, que
deixava claro que o confronto entre tricolores e rubro-negros não era amistoso, diferente dos
demais jogos posteriores.

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Figura 34: Diário de Pernambuco (PE) - 16 de Maio de 1939

Para a realização da competição, o Sport buscou a licença da Federação Pernambucana


de Desportos (FPD), sendo assim, o certame foi legalizado pela filiada da FBF.

Figura 35: Diário da Manhã (PE) - 4 de Maio de 1939

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A FPD além de conceder a licença para a disputa da Taça dos Campeões 1939, modificou
uma partida entre Tramways x América, válida pelo Campeonato Pernambucano.

Figura 36: Diário da Manhã (PE) - 17 de Maio de 1939

Figura 37: Diário de Pernambuco (PE) - 17 de Maio de 1939

8. DA BOLA ROLANDO (SPORT 4x2 BAHIA)

Em 18 de Maio de 1939, na Ilha do Retiro, no Recife, foi disputada a primeira partida da


"melhor de três" pelo título de campeão do Nordesta na Taça dos Campeões entre Sport Club do
Recife e Sport Club Bahia.

Os jogadores do Bahia passaram a tarde descansando num hotel antes de partir para o
estádio, onde foram recebidos com aplausos pela torcida rubro-negra e pelos representantes

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da FPD. Os tricolores também receberam uma cesta de flores, presente também retribuído aos
rubro-negros. O árbitro José Fernandes Filho (quadro da Bahia) procedeu ao sorteio, vencido
pelo Bahia, que escolheu o lado da sombra. Às 16:00 horas a bola rolou, com a saída dada pelo
Sport.

Logo aos 3', Caio Mario abre o placar para o Sport, marcando de cabeça. Vianna empata
para o tricolor de aço e o primeiro tempo acaba em 1 a 1. Começa o segundo tempo e às 17:11
horas da tarde, Caio Mario marca o segundo dele e do leão, que chegou a marcar o terceiro com
Djalma (Bezerra). 5 minutos depois, o esquadrão volta a marcar com Vareta, mas Caio Mario
queria mesmo se tornar o craque do jogo e fez o seu hat-trick. Placar final, Sport 4x2 Bahia.

A partida recebeu um bom público e acompanhamento, além de grande cobertura e


repercussão nos principais jornais do país, como por exemplo, o Jornal dos Sports (RJ),
considerando por décadas como o maior veículo esportivo do continente. Os jornais indicavam
o grau de importância da competição pelo amplo detalhamento e grandes referências de ações
e pessoas no pré, durante e pós-jogo.

Escalações:

SPORT: Epaminondas; Comasco e Mulatinho; Orlando; Zago e Gelsomino; Navamuel; Omar;


Caio; Magri e Djalma

BAHIA: Maia; Bahiano e Tarzan; Guga; Munt e Gia; Vianna; Galateo; Varêta; Nelson e Jorge

Números:

4-2
6 TOQUES 1
10 FALTAS 10
2 IMPEDIMENTOS 1
4 ESCANTEIOS 3
10 DEFESAS 11
RENDA: 16.000$000 (mil-réis)

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Figura 38: Diário de Pernambuco (PE) - 19 de Maio de 1939

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Figura 39: Diário de Pernambuco (PE) - 19 de Maio de 1939

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Figura 40: Diário da Manhã (PE) - 19 de Maio de 1939

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Figura 41: Diário da Manhã (PE) - 19 de Maio de 1939

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Figura 42: Jornal Pequeno (PE) - 19 de Maio de 1939

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Figura 43: Correio da Manhã (RJ) - 20 de Maio de 1939

Figura 44: Correio Paulistano (SP) - 21 de Maio de 1939

Figura 45: Diário Carioca (RJ) - 20 de Maio de 1939

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Figura 46: Jornal dos Sports (RJ) - 20 de Maio de 1939

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9. DA COBERTURA FOTOGRÁFICA DO JORNAL SPORT ILUSTRADO (RJ)

O Sport Ilustrado (RJ) é historicamente uma das maiores referências em conteúdo visual
da história do esporte brasileiro. O jornal, que em 1939 já era um dos mais antigos e
tradicionais do país, cobriu a partida Sport 4x2 Bahia, com os times entrando em campo,
perfilados e lances do jogo. Além disto, houve um almoço com música jazz que o Sport
concedeu ao Bahia como homenagem, evento que também contou com a cobertura do Sport
Ilustrado.

Figura 47: Jogadores do Sport antes da partida | Sport Ilustrado (RJ) - 05 de Julho de 1939

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Figura 48: jogadores do Bahia entrando no campo da Ilha do Retiro | Sport Ilustrado (RJ) - 05 de Julho de 1939

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Figura 49: atletas tricolores | Sport Ilustrado (RJ) - 05 de Julho de 1939

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Figura 50: lance da partida Sport 4x2 Bahia | Sport Ilustrado (RJ) - 05 de Julho de 1939

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Figura 51: rivais dividindo bola meio a terra dos altos coqueiros | Sport Ilustrado (RJ) - 05 de Julho de 1939

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Figura 52: almoço de cordialidade na sede da Ilha do Retiro entre pernambucanos e baianos | Sport Ilustrado (RJ) - 5 de Julho de 1939

10. DO ALMOÇO E JOGO DE BASQUE DO SPORT EM HOMENAGEM AO BAHIA

A Taça dos Campeões 1939 era um marco para o futebol do Nordeste e os clubes viviam
todos os momentos conscientes da grandeza daquele acontecimento. Após a primeira partida
da “melhor de três”, o Sport concedeu homenagens ao rival baiano. Na Ilha do Retiro foi realizo
um almoço-dançante de cordialidade, com show de música jazz da banda Acadêmica. Além das

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cúpulas e times de Sport e Bahia, participaram também os presidentes da FPD, Associação de
Esportes Suburbanos e Associação de Cronistas, além de redatores esportivos dos jornais da
cidade e de outros cantos do país. Outra grande homenagem foi o Clássico dos Clássicos no
basquete, quando os times de “cestabol” de Sport e Náutico realizaram um confronto em
homenagem aos baianos.

Figura 53: Diário da Manhã (PE) - 21 de Maio de 1939

Figura 54: Diário da Manhã (PE) - 20 de Maio de 1939

Figura 55: Diário da Manhã (PE) - 23 de Maio de 1939

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Figura 56: Diário de Pernambuco (PE) - 21 de Maio de 1939

Figura 57: Diário da Manhã (PE) - 24 de Maio de 1939

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Figura 58: Jornal Pequeno (PE) - 24 de Maio de 1939

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11. A VISITA DO BAHIA À IMPRENSA PERNAMBUCANA

Recebendo várias homenagens, o Bahia também honrou o povo pernambucano ao


visitar o Diário da Manhã, então um dos maiores jornais do estado. Ito Athayde (chefe da
delegação), Antônio Maltez de Agmar (tesoureiro), Theodoto Viterbo (diretor técnico) e outros
membros da cúpula prestigiaram os serviços da comunicação do estado.

Figura 59: Diário da Manhã (PE) - 21 de Maio de 1939

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12. DA EXCURSÃO DO BAHIA EM PERNAMBUCO SENDO ORGANIZADA PELO
SPORT

Como confirmado pelas direções de Bahia, Sport, Náutico, Santa Cruz e pela imprensa de
múltiplos estados, o esquadrão de aço realizaria outros dois jogos em Pernambuco, um contra
o Santa Cruz e outro contra o Náutico. Os amistosos seriam presididos pelo Sport, que era o
grande administrador da excursão tricolor no Recife. O rubro-negro foi quem providenciou o
local dos jogos (Campo da Jaqueira), arbitragens, preços dos ingressos e ofertas de abatimentos
para sócios.

Figura 60: Diário da Manhã (PE) - 23 de Maio de 1939

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Figura 61: Diário de Pernambuco (PE) - 23 de Maio de 1939

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13. OS AMISTOSOS DO BAHIA CONTRA SANTA CRUZ E NÁUTICO

Havia um planejamento prévio para que a decisiva da Taça dos Campeões fosse
realizada 15 dias após o primeiro jogo da final, mas em meio disso, o tricolor baiano havia
acertado dois amistosos, presididos pelo Sport, contra Santa Cruz e Náutico. Dois dias após a
vitória do leão sobre os baianos, ficou confirmado a partida entre Náutico x Bahia e dois dias
depois, Santa Cruz x Bahia.

Figura 62: Diário da Manhã (PE) - 20 de Maio de 1939

Figura 63: Diário da Manhã (PE) - 21 de Maio de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Em abril de 1939, o Náutico realizou uma excursão à Bahia a convite do Ypiranga e em
uma das partidas, acabou sendo derrotado pelo Bahia por 3 a 2. A imprensa pernambucana
tratava o amistoso como uma revanche, o que fez a partida ganhar um clima de decisão.

Figura 64: Jornal Pequeno (PE) - 10 de Abril de 1939

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Figura 65: Diário da Manhã (PE) - 21 de Maio de 1939

Houve um novo planejamento de escala e o amistoso do Bahia contra os tricolores


pernambucanos ocorreu antes do jogo contra os alvirrubros. O time da boa terra foi goleado
pelo placar de 5 a 0 pela cobra coral, um resultado histórico e massacrante, que repercutiu na
semana esportiva dos estados.

Figura 66: Diário de Pernambuco (PE) - 23 de Maio de 1939

Figura 67: Diário de Pernambuco (PE) - 24 de Maio de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Figura 68: Jornal Pequeno (PE) - 24 de Maio de 1939

A partida contra o Náutico que estava marcada para ser o próximo compromisso
tricolor em Recife foi cancelada e os baianos voltaram para Salvador, segundo eles, pelo motivo
de que a delegação precisaria voltar exatamente naquele dia (25 de maio) e naquele horário
(21:00 horas) por conta do planejamento logístico.

Figura 69: Diário de Pernambuco (PE) - 25 de Maio de 1939

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Figura 70: Diário da Manhã (PE) - 25 de Maio de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


A imprensa pernambucana muito elogiou a passagem dos baianos no Recife e a
despedida do Bahia contou com presença e homenagens de representantes dos clubes, das
associações, FPD e jornalistas. Houve celebração com champagne num salão nobre.

Figura 71: Jornal Pequeno (PE) - 25 de Maio de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Em carta de despedida para a imprensa, o povo pernambucano e os clubes, a delegação
do Bahia deixou de lado a importância do troféu que o próprio clube idealizou desde março e
batalhou para ser conquistado com muito critério e busca para a idealização, para definir um
discurso mais amistoso e tendo na sua visita ao Recife como um momento mais aprazível e
menos competitivo: "termos cumprido o objetivo principal de nossa visita: de unir num abraço
fraternal pernambucanos e baianos".

Figura 72: Diário da Manhã (PE) - 26 de Maio de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


14. DA HIPÓTESE DO BAHIA TER FUGIDO DA DISPUTA E DO DEBOCHE DA
IMPRENSA

Antes do Bahia acertar sua vinda para o Recife, o clube muito planejou, por dois meses, a
criação e disputa da Taça dos Campeões e a excursão. A direção era uma das mais competentes
e políticas do país, ao ponto de em menos de um semestre, realizar amistosos contra
América/RJ, Corinthians e Santos e cogitar sua ida à Europa. O clube vinha com um ótimo e
aparentemente controlado clima e plano logístico e administrativo da sua temporada em terras
maurícias, porém, tudo mudou, coincidentemente, após a vexatória goleada sofrida contra o
Santa Cruz por 5 a 0 após o revés contra o Sport. A imprensa não deixou barato e falou sobre a
hipótese que os baianos possivelmente receberam ordens para voltar para não sair derrotados
novamente, já que havia uma grande possibilidade de ser vice pro Sport, goleado para o Santa
Cruz e ter mais uma má impressão na revanche contra o Náutico: "O clube visitante deixou de
realizar o jogo com o Náutico. Há várias razões acerca dessa deliberação. Para uns, o Bahia
recebera ordens para regressar; para outros, a sua volta resultou do fracasso de terça-feira".

Figura 73: Diário de Pernambuco (PE) - 26 de Maio de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Além de divulgar essa hipótese que poderia estar sendo muito falada entre os
torcedores da região, a imprensa também trazia a gozação contra o Bahia, criando uma paródia
de ‘O Que É que a Baiana Tem?’, canção do baiano Dorival Caymmi e eternizada na voz e
atuação de Carmen Miranda no filme ‘Banana da Terra’, exatamente do ano de 1939.

Figura 74: Diário de Pernambuco (PE) - 26 de Maio de 1939

Nessa época, de fato era comum que os clubes realizassem ações para fugir de derrotas
e de cenários não favoráveis. E existe vários exemplos. Em 1920, foram realizados amistosos
sendo apostados os títulos de honrarias de “campeão do Norte” e em um deles o América/PE
abandonou o campo numa partida contra o Remo, após não concordar com a validação de um
gol paraense O famoso episódio do “Senta pra não perder de mais”, quando os jogadores do
Flamengo sentaram-se no gramado para não levar mais gols do Botafogo, num clássico em
1944. Em 1929 e 1934, o Corinthians abandonou o campo numa partida contra o Santos. Em
1935, houve a não volta para o segundo tempo por parte do América no clássico contra o
Atlético, quando o coelho perdia por 5 a 0 e após o intervalo fugiu da segunda etapa pelas
janelas do vestiário.

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Figura 75: Vida Esportiva (PA) - 09 de Fevereiro de 1920

Figura 76: divulgação do GloboEsporte.com - matéria de 12 de Novembro de 2018

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Figura 77: divulgação do SPFC.NET - matéria de 19 de Março de 2014

Figura 78: divulgação/Twitter Galo Memória - 15 de Maio de 2021

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15. DA REPERCURSSÃO DO JOGO E DA PASSAGEM DO BAHIA

Semanas após a passagem do Bahia por Recife, muito ainda se falava, principalmente do
histórico Sport 4x2 Bahia, do quão grande clube o Sport estava se tornando por seu plano de
elevação da Ilha do Retiro e da grandiosa receptividade dos clubes, imprensa e povo
pernambucano. O triunfo leonino sobre os tricolores evidenciavam o progresso do futebol
pernambucano, inclusive trazendo atratividade para o mercado.

Figura 79: Diário da Manhã (PE) - 7 de Junho de 1939

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Figura 80: Diário de Pernambuco (PE) - 01 de Junho de 1939

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O grande inicio do Sport na caminhada pelo título do Nordeste estava sendo tratado
como métrica para a atuação da equipe durante os demais compromissos, como por exemplo
na semana e no pós-jogo do Clássico dos Campeões contra o América pelo Campeonato
Pernambucano. O rubro-negro empatou com o rival alviverde e a decepção do resultado foi
muito pela expectativa de continuação técnica da atuação contra o Bahia.

Figura 81: Diário de Pernambuco (PE) - 08 de Junho de 1939

Figura 82: Diário de Pernambuco (PE) - 09 de Junho de 1939

16. DOS PROBLEMAS DO BAHIA COM JOGADORES

O esquadrão de aço entre a sua excursão e volta à Salvador, sofreu duros golpes morais.
Primeiro, a imprensa divulgou que para os compromissos no Recife, o tricolor contou com o
zagueiro Carapicú sem permissão e sem satisfação ao clube o qual o atleta pertencia, o Galícia,
que suspendeu o defensor por um ano. E por fim, o argentino Galateo, titular contra o Sport na
Ilha, foi preso após tentar fugir com uma quantia de dinheiro do Bahia.

Figura 83: Diário de Pernambuco (PE): 31 de Maio de 1939

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Figura 84: Jornal Pequeno (PE) - 30 de Maio de 1939

Figura 85: Diário de Pernambuco (PE) - 16 de Junho de 1939

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17. DO JOGO DA VOLTA

Assim como o Sport realizou em todo sistema e dias de expediente envolvendo a


primeira partida, as responsabilidades pelo segundo e decisivo jogo da final da Taça dos
Campeões 1939 eram do Bahia, algo sistemático e cultural daquele futebol.

O grande mistério da Taça dos Campeões de 1939 é o jogo da volta da série “melhor de
três”, sendo esse o que poderia ser a partida final em caso de empate ou triunfo do Sport, que
ficaria com o título. Ou a necessidade de um terceiro jogo, em caso do tricolor vencer por
qualquer placar. Estava sendo noticiado que a partida em Salvador seria duas semanas após o
confronto no Recife, ou seja, em 01 de junho, porém após a volta dos visitantes à boa terra,
nunca foi cogitado, lembrado ou falado sobre a possibilidade da conclusão daquele Nordestão.
Os jornais, até mesmo os mais tradicionais, ainda não contavam com a sessão de opiniões e
colunas dos cronistas, algo que foi tão popularizado a partir do final dos anos 1950 e começo
da década de 1960, assim os jornais continuaram tendo uma função mais informativa e menos
opinativa, onde os cronistas talvez pudessem pensar sobre o jogo da volta, mas sem ter espaço
comunicativo para isto.

Logística, finanças, calendário e outros aspectos, todos esses podem ter sido o motivo do
clube baiano não idealizar a partida de volta, porém as suas ações durante todo o ano de 1939
e até mesmo do rival Sport mostram que nenhum desses fatores atrapalhariam a possibilidade
da realização da decisiva, o que leva ao pensamento já expressado pelo Diário de Pernambuco.

Além das finanças, não houve problema no calendário dos clubes. A FPD ajudou a
organizar a competição e sempre gerava as licenças, sempre sendo presente nas
eventualidades do certame. O Sport continuou sua rotina pelo Campeonato Pernambucano,
mas isso não seria problema, visto que a própria Federação replanejava o estadual de acordo
com as tarefas maiores de seus filiados. Outro detalhe importante é que o Bahia chegou a
convidar um clube pernambucano no mês de junho para uma temporada em terras baianas,
mas não foi o Sport e sim o Santa Cruz, quem o clube havia perdido por 5 a 0 na excursão no
Recife. O esquadrão obtinha um compromisso firmado com o Sport e deixou de disputar uma
partida contra o Náutico, o que logicamente seria pensável que se tivesse clubes a ser
convidados para compromissos em Salvador, seria primeiramente o leão e talvez o timbu,
todavia, aparentemente, a questão da imagem como o Diário de Pernambuco citou na
despedida dos baianos fez sentido, com os tricolores interessados em limpar sua linhagem
perante os corais, não dar margem pra um vice-campeonato encaminhado ante o leão e manter
a impressão considerando o Náutico, no caso, o triunfo no começo do ano.

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Figura 86: Diário de Pernambuco (PE) - 21 de Junho de 1939

Figura 87: Diário de Pernambuco (PE) - 24 de Junho de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Figura 88: Diário de Pernambuco (PE) - 25 de Junho de 1939

O encontro entre tricolores foi adiado por fortes chuvas, mas ocorreu dia depois, com
triunfo baiano por 3 a 2.

Figura 89: Jornal Pequeno (PE) - 05 de Julho de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Em agosto, o Bahia realizou uma excursão no estado do Ceará, onde realizou jogos e foi
muito bem recebido, com passeios turísticos e outros acolhimentos na terra alencarina. Na
volta, a delegação realizou um plano logístico passando por Recife antes de chegar a Salvador, o
que gerou expectativa da imprensa pernambucana numa possibilidade do tricolor realizar ao
menos um jogo no estado.

Figura 90: Jornal Pequeno (PE) - 11 de Agosto de 1939

Figura 91: Diário de Pernambuco (PE) - 06 de Agosto de 1939

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Figura 92: Diário de Pernambuco (PE) - 01 de Setembro de 1939

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Figura 93: Jornal Pequeno (PE) - 31 de Agosto de 1939

O mais interessante é que a excursão do Bahia no Ceará finalizou-se exatamente no


momento em que o Sport estava pronto para realizar uma excursão na Bahia, a convite do
Galícia. Em 31 de agosto, a imprensa noticiava a passagem do tricolor no Recife e sua volta à
boa terra e um dia antes a imprensa confirmava o acerto da ida leonina para Salvador. A
direção do Sport contou que foram extremamente bem recebidos, inclusive contando com a

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


presença de diretor do Bahia em sua passagem, além de realizar uma visita à Rádio Sociedade,
uma das mais tradicionais rádios do Nordeste. A equipe realizou jogos contra o Vitória (derrota
por 6x2), Ypiranga (derrota por 5x1) e Galícia (empate em 1x1).

Figura 94: Correio da Manhã (RJ) - 30 de Agosto 1939

Figura 95: Diário de Pernambuco (PE) - 25 de Agosto de 1939

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Figura 96: Diário de Pernambuco (PE) - 03 de Setembro de 1939

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Figura 97: Diário da Manhã (PE) - 14 de Setembro de 1939

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Figura 98: Diário da Manha (PE) - 20 de Setembro de 1939

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Figura 99: Jornal Pequeno (PE) - 05 de Setembro de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Figura 100: Jornal Pequeno (PE) - 09 de Setembro de 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Figura 101: Jornal Pequeno (PE) - 13 de Setembro 1939

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


No dia 13 de setembro, foi cogitado um possível encontro entre Bahia e Sport, o que de
fato não foi confirmado.

Figura 102: Diário de Pernambuco (PE) - 13 de Setembro de 1939

Em novembro, foi estudada uma temporada internacional na Bahia, onde o esquadrão


convidaria o Independiente, campeão argentino. No mesmo mês o clube negociou a ida do
Fluminense para Salvador. Ficando nítido que a partida final da Taça dos Campeões não seria
um problema financeiro ao Bahia.

Figura 103: Jornal Pequeno (PE) - 14 de Novembro de 1939

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Figura 104: Diário de Pernambuco (PE) - 18 de Novembro de 1939

Figura 105: Diário de Pernambuco (PE) - 23 de Novembro de 1939

É extramente perceptível que nenhum dos fatores lógicos para não ocorrer a finalíssima
atrapalhou o planejamento. O Bahia estava coberto de datas, finanças, logística, técnica e tudo o
que tem direito para articular o segundo e jogo da decisão.

18. DAS VIAS E FINALIDADE

Dois dos principais critérios de uma competição são suas vias criteriosas e a finalidade
de sua disputa, e a Taça dos Campeões 1939 dispõe de ricos e claros detalhamentos
relacionados a esses aspectos. O Torneio dos Campeões de 1937, unificado como Campeonato
Brasileiro em 2023, é didático sobre o cenário esportivo e nacional da década de 1930. O
conceito nacional do futebol brasileiro partia de um mapa entre Federações Estaduais filiadas,
profissionais, estruturadas (cidades, estádios, hotéis, turismo e afins) e políticas. Nele, foi
encontrado apenas quatro estados em todo o país que estaria dentro desses critérios, estando
com a legitimidade de uma competição verdadeiramente nacional, assim como a Taça dos
Campeões, dentro dessas mesmas vias, formava um certame verdadeiramente regional,
contando com os dois estados que formavam a representação nordestina do futebol nos
moldes da FBF/CBD, assim como o Torneio dos Campeões do Nordeste de 1948 (criado pelo
Santa Cruz e vencida pelo Bahia) e o Torneio dos Campeões do Norte-Nordeste de 1952 (criado
e vencido pelo Náutico), disputas dentro desses padrões e que contavam com um baixo número
de estado, porém estabelecendo métodos da realidade das épocas.

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


Desde seu planejamento prévio, criação, disputa e pós-jogo, era trazido um sentimento,
uma tratativa da mídia regional e nacional, dos clubes e das Federações que definia que aquilo
era de fato um regional do Nordeste.

Odir Cunha, jornalista, pesquisador e historiador paulista, autor do Dossiê da Unificação


dos Títulos Brasileiros de 1959-1970, em entrevista para a SporTV em 2010 frisou o conceito
da importância do que é ‘finalidade’:

"Não importa número de participantes, nome, fórmula de disputa, nível técnico nem é tão
importante, o importante é a finalidade."

19. DE UMA ESTRELA NA DISPUTA

Bahia e Sport possuíam grandes jogadores, os quais muitos são ídolos eternos do clube,
mas entre os atletas, um se destaca por sua trajetória de vida futebolística. Reserva no triunfo
leonino, o “ponta-de-lança” Ademir de Menezes fazia parte do elenco. O avançado começou sua
carreira no leão e é considerado um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro.
Era um dos pilares do time do Vasco, vencedor do Campeonato Sul-Americano de 1948, o
primeiro título continental da história de clubes no mundo, eternizado no fantástico ‘Expresso
da Vitória’. Ademir, o Queixada, foi vice-campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1950,
quando foi autor daquela Copa do Mundo com 9 gols, sendo o maior artilheiro sul-americano
em uma edição do taça da FIFA.

Figura 106: Sport Ilustrado (RJ) - 05 de Julho de 1939

20. DO PREJUÍZO HISTÓRICO

O Brasil é um país de dimensões continentais e muitas de suas grandes disputas


esportivas ocorreram em torneios municipais, estaduais, interestaduais e regionais, muito
antes do inicio das competições nacionais continuas, como a Taça Brasil (1959-1968). A Taça

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


dos Campeões 1939 é uma delas, uma copa reunindo a elite do Nordeste brasileiro, nas linhas
oficiais, legais, criteriosas, populares e até mesmo revolucionárias, pois dali partiu a criação de
diversos outros certames regionais nas décadas seguintes.

O Bahia pensava grande e idealizou a Taça dos Campeões desde março de 1939, com
direito a um valoroso troféu, negociando e chegando a demonstrar para mídia a vontade
excessiva de realizar o certame, incluindo ofícios e informações de que ainda em abril chamaria
o Sport para a bola rolar para aquele Nordestão. Tudo foi acordado e os baianos partiram para
Recife, onde foram recebidos de forma aprazível, calorosa, cultural e mais do que tudo, oficial,
por entidades, órgãos, lideranças e claro, a Federação Estadual, entre métodos legais do maior
torneio do país, o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. A Veneza Brasileira parou para
vivenciar tudo aquilo, até mesmo o maior rival do Sport. A disputa ocorreu e um jogo lendário
aconteceu. Foi um passo para a elevação e linguagem nordestina em pró do seu progresso no
esporte nacional, como as próprias coberturas das capitais do país demonstravam, via seus
interesses pela taça.

O Sport, sua torcida, a FPD e o povo pernambucano fizeram tudo que deveria ser feito,
ou talvez muito além, e em campo, os leoninos venceram, precisando apenas empatar em
Salvador para sagrar-se campeão regional, todavia por algum(ns) motivo(os), apresentados em
hipóteses, a partida de volta não ocorreu.

O tempo passou e a autenticidade daquele ciclo permitiu o esquecimento da competição


e da necessidade moral e esportiva da finalização pela taça. O futebol evoluiu, os clubes
cresceram e o cotidiano tomou conta das novas gerações de jornalistas e cronistas, que
estavam muito mais preocupados com as ações contemporâneas das equipes do que as
pendências do passado, assim, toda essa rica história caiu na abstração. Nasceu daí uma
injustiça que vive desde aqueles dias, com personagens, heróis, vilões, amantes da pelota,
profissionais e comuns que vivenciaram tudo aquilo sendo esquecidos, com a narração do
futebol nordestino tendo seu ponto de partida em alguns anos, menos em 1939.

O Sport Club do Recife foi outro imensamente prejudicado, afinal, saiu na frente na
decisão e vivia a expectativa de conquistar o maior título de seus 34 anos e do futebol regional.
O clube escreveu certo por linhas certas, num passo a passo pra gerar um projeto oficial e
belíssimo dentro e fora de campo, no futebol e em outras circunstâncias.

A maior prejudicada em todo esse cenário é a História. A história da Bahia, de


Pernambuco, do Bahia, do Sport, do Nordeste, do Brasil e do futebol. O primeiro confronto em
moldes oficiais de um regional deveria ser o ponta pé de partida ao se falar sobre “Nordestão”.

21. DO RECONHECIMENTO

Fica provado que a Taça dos Campeões 1939 foi uma copa regional nos protótipos e
austeridade oficial, regulamentada, padrão e legal, então é primordial por parte dos clubes e
federações buscarem o reconhecimento dessa disputa junto a CBF. Independente se algum
clube deve ou não ser reconhecido campeão, a competição em si precisa e merece do
reconhecimento, nem que seja reconhecida sem status de um campeão. Afinal, sua trajetória

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939


basta para esse ato. O futebol brasileiro é mais antigo, tradicional e rico do que o senso comum
prega e a ordem cronológica deve ser respeitada.

TAÇA DOS CAMPEÕES DO NORDESTE - 1939

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