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GUIA DO FUTURO DOSSIÊ

A UNIFICAÇÃO DO TORNEIO NORTE-NORDESTE DE 1968


AO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL

Fevereiro de 2023, Pernambuco - Brasil


APRESENTAÇÃO

O conteúdo traz a narração factual do Torneio Norte-Nordeste da Confederação


Brasileira de Desportos de 1968, disputa paralela e com mesma finalidade para a
respectiva temporada do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ou simplesmente Taça de
Prata, também conhecido como Robertão, o qual foi unificado ao Campeonato Brasileiro
de Futebol (1971-).

O material tem como propósito, somar todas as informações para a comprovação


da legitimidade desta tese, sendo o guia para futuro Dossiê da Unificação do Torneio
Norte-Nordeste de Futebol da Confederação Brasileira de Desportos de 1968 ao
Campeonato Brasileiro de Futebol. Seu corpo consta com elementos pesquisados via
Hemeroteca Digital Nacional, sendo extraídos documentos oficiais, análises e relatos da
imprensa brasileira dos mais variados jornais e estados federativos que comprovam a
divisão do Brasil no mapa do futebol e no novo plano de disputa de certames nacionais
da temporada 1968 da CBD, que indicava propósitos igualitárias dos campeonatos na
respectiva época, com o Torneio Norte-Nordeste sendo o Campeonato Nacional do eixo
Norte do país e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa indicando o campeão nacional do
eixo Sul do Brasil.

Este material passará por uma análise técnica de profissionais com referência em
textualização de gramática e jurisdição idealizada para as pastas julgadoras da CBF, as
Comissões de História, Justiça e Técnica.

Observação: os apontamentos abordados neste Guia traz consigo peculiaridades


da época pelo processo de aportuguesamento dos jornais brasileiros no século 20,
incluindo até mesmo nomes próprios como “Esporte”, referindo-se ao Sport.

● PESQUISA: EWERSON VASCONCELOS DOS SANTOS (PESQUISADOR E


HISTORIADOR PERNAMBUCANO E LUCAS BARCELOS PIMENTEL (PESQUISADOR
E HISTORIADOR PERNAMBUCANO)

● TEXTO: LUCAS BARCELOS PIMENTEL

Fevereiro de 2023, Pernambuco - Brasil


LINHAS DE PESQUISA:

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1. Do Torneio Norte-Nordeste de 1968, o Campeonato Brasileiro do Norte
2. Dos participantes
3. Do regulamento
4. Do período prévio a criação do Campeonato Brasileiro
5. Do conceito ‘nacional’ no futebol brasileiro
6. Dos Brasis no Brasil
7. Do Robertão e poder político
8. Da nacionalização e paralelismo ao Robertão
9. Dos Campeonatos Brasileiros Regionalizados
10.Da finalidade
11.Das influências fora do futebol
12.Da unificação ao Campeonato Brasileiro
13.Do simbolismo do eixo Norte para o Brasil em 1968
14.Da campanha do campeão brasileiro do Norte de 1968

VEÍCULOS CONSULTADOS VIA HEMEROTECA DIGITAL NACIONAL:

● A Nação (SC)
● A Tribuna (SP)
● Correio da Manhã (RJ)
● Diario da Manhã (PE)
● Diario da Tarde (PR)
● Diario de Natal (RN)
● Diario de Notícias (RS)
● Diario de Pernambuco (PE)
● Diario do Paraná (PR)
● Diario Popular (RS)
● Estadão (SP)
● Jornal do Brasil (RJ)
● Jornal do Commercio (AM)
● Jornal do Maranhão (MA)
● Jornal dos Sports (RJ)
● O Estado de Florianópolis (SC)
● O Jornal (RJ)
● O Poti (RN)
● Revista PLACAR (Nacional)
● Tribuna da Imprensa (RJ)

1. DO TORNEIO NORTE-NORDESTE DE 1968, O CAMPEONATO BRASILEIRO DO


NORTE

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O Torneio Norte-Nordeste foi uma competição de futebol criada e administrada
pela CBD em 1968, sendo o campeonato nacional do eixo Norte do Brasil, disputa
paralela ao Torneio Roberto Gomes Pedrosa, popularmente conhecido como Robertão e
oficialmente de Taça de Prata. Foi disputado entre 28 de Setembro de 1968 e 02 de
Março de 1969. O campeonato indicava o campeão brasileiro do eixo Norte do país, que
jogaria contra os campeões nacionais dos certames Torneio Centro-Sul, Taça de Prata e
Torneio de Campeões Estaduais (ex-Taça Brasil), para definir o campeão do Brasil de
1968 e o representante brasileiro na Copa Libertadores da América. Foi formado por
clubes de todos os estados do eixo Norte do Brasil com futebol profissionalizado e
filiados à CBD: AL, AM, BA, CE, MA, PA, PB, PE, PI, RN e SE. Todos estados eram os
mesmos que participaram da Taça Brasil entre 1959 e 1967 e do Torneio de Campeões
Estaduais (ex-Taça Brasil) de 1968.

Os estados foram representados por seus campeões estaduais, com exceção de


Pernambuco, pois o Clube Náutico Capibaribe foi convidado para o Robertão. No
Maranhão, o Moto Club, mesmo campeão estadual, disputou o Triangular Maranhense
para o Torneio Norte-Nordeste com Ferroviário Esporte Clube e Sampaio Corrêa Futebol
Clube, onde os dois melhores representariam o estado.

O Torneio Norte-Nordeste de 1968 sempre contou com uma posição muito justa
das federações, que não se curvaram aos clubes, como exemplo a Federação Cearense
que trabalhava as possibilidades de indicações dos seus representantes, se seriam
diretamente pelos estaduais ou por um torneio eliminatório, porém, Ceará e Fortaleza
gostariam que fosse a dupla os dois representantes do estado no certame com indicação
direta, causando um choque de egos. Mas a posição pró-técnica fez com que os rivais
não disputassem, assim, a FCF inscreveu seus dois melhores representantes sem ser a
dupla, inclusive, a equipe campeã cearense da temporada, que não foi nem um, nem
outro, mas sim o Calouros do Ar.

3
Diario de Pernambuco, 04 de Setembro de 1968

O certame não foi uma Taça/Copa e sim um Campeonato/Liga, que definia o


campeão daquele eixo. O formato era constituído pela divisão de duas chaves, cada uma
representando a disputa de duas regiões, a Nordeste e a Norte do país, que também
valiam títulos regionais, o Torneio do Nordeste, o Nordestão e o Torneio do Norte, o
Nortão. Cada chave regional contou com dois grupos onde os 2 melhores avançavam
para um quadrangular final ou semifinal, para daí definir os dois campeões regionais, os
quais se enfrentam na final do campeonato nacional regionalizado, para definir o
campeão brasileiro do eixo Norte do Brasil.

Assim como a Taça de Prata foi chamada de Robertão, o Torneio Norte-Nordeste


também contava com uma maneira informal de ser chamado, ganhando a nomenclatura
“Nordestão”, termo esse que se tratava também a fase regional Nordeste do certame.

2. DOS PARTICIPANTES

Região Nordeste

Alagoas:

Centro Sportivo Alagoano (campeão alagoano de 1968)


Clube de Regatas Brasil (vice-campeão alagoano de 1968)

4
Bahia:

Galícia Esporte Clube (campeão baiano de 1968)


Fluminense de Feira Futebol Clube (vice-campeão baiano de 1968)

Ceará:

Ferroviário Atlético Clube (campeão cearense de 1968)


Calouros do Ar Futebol Clube (3º colocado cearense de 1968)

Paraíba:

Botafogo Futebol Clube (campeão paraibano de 1968)


Campinense Clube (3º colocado paraibano de 1968)

Pernambuco:

Sport Club do Recife (vice-campeão pernambucano de 1968)


Santa Cruz Futebol Clube (3º colocado pernambucano de 1968)

Rio Grande do Norte:

Alecrim Futebol Clube (campeão potiguar de 1968)


ABC Futebol Clube (vice-campeão potiguar de 1968)

Sergipe:

Associação Desportiva Confiança (campeão sergipano de 1968)


Club Sportivo Sergipe (vice-campeão sergipano de 1968)

Região Norte

Amazonas:

Nacional Futebol Clube (campeão amazonense de 1968)


Nacional Fast Clube (vice-campeão amazonense de 1968)

Maranhão:

Moto Club (campeão do Triangular para o N-NE de 1968)


Ferroviário Esporte Clube (vice-campeão do Triangular para o N-NE de 1968)

5
Piauí:

Piauí Esporte Clube (campeão piauiense de 1968)


Esporte Clube Flamengo (vice-campeão piauiense de 1968)

Pará:

Clube do Remo (campeão paraense de 1968)


Paysandu Sport Club (vice-campeão paraense de 1968)
Tuna Luso Brasileira (4º colocado paraense de 1968)

3. DO REGULAMENTO

O regulamento do Torneio Norte-Nordeste foi organizado pela CBD em conjunto


com todas as 11 federações estaduais participantes. Foi constituído detalhadamente nos
moldes de um Campeonato e com criação, patrocínio e domínio da entidade máxima do
Brasil e que de forma clara, expõe a sua finalidade, também vista nas atas de reuniões. O
campeão do Campeonato Brasileiro do Norte disputaria o título de campeão nacional
com os vencedores dos demais campeonatos nacionais daquele temporada, na
competição Torneio dos Campeões da CBD, que foi chamado pela mídia como ‘Torneio
dos Campeões Brasileiros’. Seu formato seguia os padrões logísticos e de datas da Taça
Brasil, com alguns participantes atuando em fases preliminares ou já estando em fases
posteriores, mas que no fim todos possuíam o mesmo peso de seu estado/região, com a
finalidade de vencer sobre todos.

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Diario de Pernambuco, 20 de Dezembro de 1968

7
Diario de Pernambuco, 25 de Julho de 1968

4. DO PERÍODO PRÉVIO DA CRIAÇÃO DO CAMPEONATO BRASILEIRO

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A CBD (Confederação Brasileira de Desportos), fundada em 1914 e a FBF
(Federação Brasileira de Football), fundada em 1933, foram entidades oficiais dos
esportes e futebol brasileiro que realizaram diversas ações em pró a profissionalização e
nacionalização. Desde a década de 1920, houve competições entre clubes e seleção
estaduais com intuitos de apresentar o campeão nacional e uma integração do esporte
em todo país. Os órgãos nacionais produziam estudos em várias regiões para poder
convocar a Seleção Brasileira e também organizava torneios com intuitos nacionais,
como os certames entre campeões estaduais em 1920 e 1937, vencidos respectivamente
por Paulistano-SP e Atlético Mineiro.

As federações chegaram até a revezar a organização de um mesmo torneio, o


Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, disputado entre 1922 e 1987, sendo até
1959, o único campeonato nacional além dos outros dois já citados, até que em 1959 a
grande revolução no futebol brasileiro começou. O Real Madrid, ‘cansado’ de vencer
tudo e sobrar na Europa, trata junto à UEFA pela criação de uma competição que reúne
clubes de fora do continente, nascendo assim a Copa Intercontinental, entre os
campeões da Europa (a Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada desde 1955) e
da América do Sul, que até então não contava com um certame sul-americano, até ser
fundada a Copa Libertadores da América, que obrigou o Brasil a ter um torneio que
definisse o seu campeão, consequentemente sendo criada a Taça Brasil, que era um
espelho do Campeonato entre seleções estaduais, todavia sendo de clubes. Por sinal, o
país enfim teria um certame nacional, diferente da Argentina que já tinha o seu desde
1891 e o Uruguai, desde 1900.

A Taça Brasil foi criada com um rico e justo critério, o qual fez que a competição
fosse legitimamente nacional para contextos financeiros, logísticos e culturais da época.
16 estados filiados a CBD e dentro dos padrões mínimos de profissionalismo tiveram
seus campeões estaduais como representantes, entre eles alguns nordestinos como
ABC-RN, Auto Esporte-PB, Bahia, Ceará, CSA-AL, Ferroviário-MA e Sport Recife. Houve
na época uma certa pressão para que o representante do Brasil viesse nos embates
entre RJ e SP, mas a própria CBD reconhecendo que o Brasil não é somente do Cristo
Redentor até as águas que molham a Terra da Garoa, colocou o que o país tinha de mais
profissional e legal para decidir a vaga continental do ano seguinte e a primeira taça
brasileira, a qual o Bahia venceu diante do Santos.

Na edição de 1960, o impacto da Taça Brasil já elevou o esporte nacional e de 16,


o torneio passou a ter 17 estados participantes, era o Sergipe desenvolvendo seu
profissionalismo. Em 1961, continuou com o número de estados participantes, porém
com uma vaga a mais, onde o campeão do ano anterior garantia seu lugar no ano
posterior, abrindo vaga para o melhor colocado do estadual referente ao estado do

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campeão da Taça Brasil melhor colocado sem ser o mesmo. Em 1962, mais um estado
entrou na disputa, o Piauí. Eram 18 estados participantes via critério técnico. Tudo só
melhorou em 1963, quando as federações de Goiás e o Distrito Federal com seu
campeão brasiliense também participaram, junto com os campeões: fluminense (Rio de
Janeiro) e carioca (Guanabara). Simplesmente o Brasil após ser bicampeão mundial, ver
seu torneio nacional agregar valores em fazer que mais estados elevem seus níveis de
profissionalismo e seu status nacional fique legitimamente firme. Em 1964, mais um
impacto, com o campeão do estado do Amazonas participando. E assim foi se
desenvolvendo a Taça Brasil, até entrar mais um estado, o Mato Grosso, em 1968, a
última edição deste belíssimo e verdadeiro torneio nacional.

5. DO CONCEITO ‘NACIONAL’ NO FUTEBOL BRASILEIRO

O conceito "nacional" no futebol não deve ser tratado da mesma forma que o
conceito "nacional" da República, onde, para exemplificar, um projeto do Governo
Federal para ser nacional deve ser ampliado para todas regiões e estados independente
de qualquer fator. No futebol é diferente, algo pra ser nacional não precisa contar
tecnicamente dentro um torneio com representantes de todas regiões e/ou estados, mas
sim ser um torneio formalizado via consulta de todos os representantes das tais
federações estaduais filiadas e dentro de um método apto na profissionalização,
legalização e padronização, essa consulta seguindo o mapa nacional oficial do futebol.

A Taça Brasil quando surgiu, teve o intuito de dar ao Brasil o seu primeiro
campeão nacional e para isso teve que criar (ou seguir) um mapa nacional do futebol,
nele todas as federações estaduais brasileiras filiadas e que tinham seus campeões
estaduais definidos foram consultadas e as que cumpriam e estavam dentro das
aptidões necessárias da legalidade e profissionalização foram representadas, via critério
técnico. Isso é verdadeiramente e legitimamente algo nacional, assim como o torneio
vencido pelo Grêmio Maringá em 1969, quando houve o encontro entre os campeões
dos torneios que na sua somatória, reunia a representação legal e legítima de todas
federações filiadas a CBD, que por Robertão, Norte-Nordeste e Centro-Sul, era a garantia
que no Santos, Sport e Grêmio Maringá, todo o país teve sua representação legitimada.

O conceito "nacional" não é voltado a técnica, a prestígio e a finanças, mas sim a


um seguimento criterioso dentro da geografia e legalizações do mapa da República junto
ao mapa do futebol. A Taça de Prata, popularmente chamada de Robertão foi um sucesso
dentro e fora de campo, porém, diferente da Taça Brasil, não foi nacional de forma total,
pois, além de seu critério de participação ser via convite e por peso político e influência
de federações e clubes, baseado no aspecto político, sem respeitar resultados esportivos,
não seguiu o mapa nacional profissional da época, mapa esse que a própria CBD,
coordenadora do Robertão a partir de 1968, revolucionou pela Taça Brasil, o qual

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impactou para o profissionalismo e filiações em diversos estados ao longo das 10
temporadas do torneio nacional, portanto, diversos estados profissionais, inclusive o do
Ceará, vice-campeão da Taça Brasil, não teve chance de disputar o que era tratado como
nacional pelo fato de ser descartado e mesmo assim foi efetivado em 2010 pela CBF.
Paralelo ao Robertão, tiveram dois torneios, o Norte-Nordeste e o Centro-Sul, que assim
como o Robertão de forma legítima, eram interestaduais que também foram embriões
do Brasileirão, porém, seguindo critérios técnicos. Inclusive, assim que surgiu o
Campeonato Nacional de Clubes em 1971, houve o fim dos conceitos dos campeonatos
Robertão e Norte-Nordeste. O detalhe está que em 1968, o conceito ‘nacional’ ganhou
uma nova perspectiva, com o Brasil de fato tendo uma temporada nacional entre os
clubes, pois todos estados e regiões profissionais e afiliadas à CBD disputaram o
‘Campeonato Brasileiro’, que foi dividido em eixos, o Centro, Norte e Sul, onde cada um
deles eram campeões brasileiros regionalizados.

Para exemplificar o conceito:

O Brasil tem 27 federações de futebol profissionais e filiadas, imagine o cenário


onde a CBF cria um torneio com 26 delas e a que falta não foi consultada, não foi
informada e por uma irresponsabilidade da entidade nacional ficou de fora. O torneio foi
um sucesso de cobertura, técnica, público e renda. Ele deve ser considerado nacional?
Não. Ele precisaria ter ao menos a consulta da 27ª federação profissional filiada e assim,
poder de fato, via mapa nacional do futebol, ser tratado como campeonato nacional. Mas
em qual categoria ele se encaixaria? Interestadual. Não estamos falando de sensação do
senso comum e sim de oficialização.

Agora vamos para outro cenário: a CBF ganha mais uma vaga para a Libertadores
e quer definir seu representante através de um torneio nacional entre os 27 campeões
estaduais de 2021. Todas as federações recebem o ofício com todos os requisitos, datas e
demais detalhes para inscrever os seus representantes. Algumas federações em comum
com seus campeões, vices e demais clubes dos estaduais abrem mão da vaga e de
maneira formal informam a CBF, cada uma por sua razão específica e apenas 4 estados
participarão representados pelos seus campeões: Alagoas (CSA), Minas Gerais
(Atlético-MG), Pernambuco (Náutico) e Rio de Janeiro (Flamengo) e 1 estado participará
com o seu vice, após o campeão se negar a jogar: Ceará (Ceará). No total dos 27 estados
e 5 regiões com direito a disputa informados pela CBF, apenas 5 estados de 2 regiões
participaram. Seria um inter-regional? Não, é um torneio nacional, pois é um
campeonato que reúne todos os representantes legais via critério técnico de todas
federações estaduais vinculadas à CBF e que inscreveram seus clubes, sendo que todas
receberam a consulta e o ofício e algumas delas abriram mão por conta própria junto a
seus clubes. Foi seguido o mapa nacional profissional do futebol brasileiro de forma
legítima e legal.

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Exemplos atuais:

O Brasil hoje tem 27 federações e 9 delas disputaram a Série A de 2022, são elas:
SP, MG, MT, RS, SC, RJ, PR, CE e GO. Sabe quantos estados ficaram de fora? 18, o dobro da
representação, mas isso quer dizer que o torneio não é nacional? Lógico que não.

O Campeonato Brasileiro é formado por 4 divisões, as Séries A, B, C e D, ou seja,


em sua totalidade, o Brasileirão se torna legitimamente nacional pois ele, assim como a
Copa do Brasil, é um torneio ligado a todos os campeonatos estaduais, a todos 26
estados + Distrito Federal. Se apenas 9 estados disputam a elite, isso é por mérito
próprio, mas as vias de chegada são justas e seguem o mapa oficial do futebol brasileiro.
Pode até não ter 27 federações na elite, mas existem 27 federações no Campeonato
Brasileiro como um todo. É possível até ter uma Série A só com um estado, por exemplo,
imagine clubes de São Paulo partindo da Série D para C, depois para B e chegando para
A, ao mesmo tempo que clubes de outros estados sendo rebaixados. A nacionalização
legítima de uma competição não é definida pelo número de estados ou totalidade de
estados participantes e sim de suas vias. O Cuiabá Esporte Clube é um grande exemplo
de como o Mato Grosso sempre esteve representado. O MT não começou a disputar o
Brasileirão assim que seu principal clube disputou a elite e sim quando seu estadual
teve direito a ter uma vaga na última divisão do Brasileiro.

A Supercopa do Brasil de 2022 contou com 2 estados: MG e RJ, ambos da mesma


região, a sudeste. Por que esse torneio é nacional? Pois suas vagas vieram de critério
técnico por dois torneios que seguem o mapa nacional do futebol brasileiro de forma
legítima, o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Outro exemplo foi a Copa dos
Campeões, aquela disputada entre 2000 e 2002, muitos estados não disputaram, mas
todos tiveram chance de disputar, através de torneios estaduais e regionais caso fossem
vencidos por seus representantes.

Levando em conta o Torneio Norte-Nordeste e o Robertão, de forma total não


foram torneios nacionais, porém, por ser um país dividido futebolisticamente em eixo
Norte e eixo Sul, forjaram-se como nacionais regionalizados.

6. DOS BRASIS NO BRASIL

Por qual motivo a Taça Brasil teve fim? Por que um torneio tão importante, tão
nacional, criado por conta da Libertadores, que seguia um verdadeiro mapa profissional
brasileiro teria fim? Se acabou em 1968 e o Brasileirão oficialmente começou em 1971,
o que houve nesse período entre o fim de um e o início de outro certame? Entre 1933 e
1966, era disputado nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, o Torneio Rio-São

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Paulo, organizado pelas federações paulista e a carioca, oficialmente denominada de
Torneio Roberto Gomes Pedrosa, homenageando o ex-jogador, dirigente e político que
nasceu no RJ e faleceu em SP.

Em 1967, paulistas e cariocas convidam clubes dos estados de Minas Gerais,


Paraná e Rio Grande do Sul para participarem daquela edição. E o Roberto Gomes
Pedrosa que tinha apenas clubes dos dois principais estados, passou a se chamar
popularmente de 'Robertão' pela amplitude de mais 3 estados no torneio. Como de se
imaginar, foi um sucesso, com imprensa, clubes, torcidas e tudo mais prestigiando
aquele que foi um espetáculo financeiro, chamando atenção também por não ser uma
competição de mata-mata e sim de grupos e quadrangular final. Paralelo a ele, os clubes
do eixo Norte organizaram o Torneio Hexagonal do Norte-Nordeste, que era um certame
que envolvia equipes do Nordeste e Norte do país. Ambos torneios foram sucessos e
impulsionaram para que a CBD tomasse outros rumos.

O sucesso do Robertão em 1967 fez que os clubes se interessassem pelo novo


certame, deixando de lado os interesses pela Taça Brasil e isso também chamou a
atenção da CBD, que para a temporada de 1968, lançou um novo planejamento para o
futebol brasileiro. A entidade passou a cuidar do Robertão, que ganhou a nomenclatura
oficial de Taça de Prata, já a Taça Brasil mudou em dois aspectos, o nome, passando a se
chamar de Torneio de Campeões Estaduais e a finalidade, deixando de indicar o
campeão brasileiro e sim sendo ponte para um futuro torneio que definiria este título.
Com a ex-Taça Brasil, assim chamada pela mídia do sul do país tendo sua última edição
disputada e o futebol brasileiro passando por uma transição de novos modelos de
disputa, a CBD criou outras duas competições interestaduais para que junto ao
Robertão, desse ao Brasil um calendário nacional: o Torneio Norte-Nordeste e o Torneio
Centro-Sul. De fato, eram criadas competições nacionais de disputas regionalizadas,
sendo certames nacionais com as ideias de Campeonato Brasileiro do Norte (Torneio
Norte-Nordeste), Campeonato Brasileiro do Centro (Torneio Centro-Sul) e Campeonato
Brasileiro do Sul (Taça de Prata, o Robertão). Cada eixo teria o seu ‘campeão brasileiro’
regionalizado, para ao fim ter o campeão nacional no embate entre os campeões dos
quatro certames.

É importante lembrar que um dos grandes fatores para que a CBD criasse a
divisão nacional do país para a disputa dos torneios nacionais foi e realidade da época
relacionada à logística e seus fatores inclusivos, como tempo para viagens, calendário de
outros certames dos clubes, seleções estaduais e seleção brasileira e os altos custos.

Em 1967, ao planejar a temporada 1968, a CBD reuniu-se com todas as


federações estaduais profissionais e filiadas, as mesmas que participavam da Taça
Brasil, para criar um torneio em formato mais parecido um Campeonato do que uma

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Copa. Essas reuniões foram galgando até chegar ao acerto sobre o planejamento de
1968, quando não foi criado um torneio totalmente nacional em formato de uma Liga,
mas sim vários torneios nacionais regionalizados em formatos de Liga, no caso, os
Campeonatos Brasileiros do Norte e Sul, por exemplo.

Diario Popular (RS), 21 de Julho de 1967

Em 1965, três anos antes do estabelecimento do novo modelo de disputa, o Clube


de Regatas do Flamengo desejava um novo formato de disputa de torneios nacionais,
não tendo apenas o campeão estadual, como acontecia na Taça Brasil, mas sim com mais
integrantes do estado além do vencedor, garantindo ainda mais qualidade ao certame e
outro ponto que os cariocas citaram, era que os problemas dos deslocamentos
interestaduais seriam resolvidos e as rendas seriam melhores. Foi uma visão assertiva
do clube rubro-negro, pois com a criação dos Campeonatos Brasileiros regionalizados,
as disputas ficaram logisticamente mais pertos, garantindo ao torcedor maior
possibilidade de ir a mais jogos dentro do seu próprio estado, pois na Taça Brasil, o
torcedor não tinha adversários do seu estado e sim de outros, diferente de por exemplo,
o Robertão e o Norte-Nordeste. Com uma disputa de pontos corridos e não só apenas
mata-mata, os clubes tiveram mais jogos nos certames e os torcedores foram para mais

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partidas, assim, os clubes se elevaram nas finanças e isso só foi possível por conta da
divisão nacional, pois esse modelo implantado num só Campeonato Brasileiro, geraria
custos e problemas de datas, visto os problemas logísticas da realidade da época.

Diario Popular (RS), 01 de Dezembro de 1965

A sensação da formação de ‘Brasis’ no futebol brasileiro existia. Foi articulado


inclusive uma possível final entre os campeões do Hexagonal Norte-Nordeste e o
Robertão de 1967. O empresário e ex-membro do Diario de Pernambuco Hélio Pinto
tratou a possibilidade do embate que, segundo ele, seria “os campeões do norte x sul”.

15
Diario de Pernambuco (PE), 11 de Março de 1967

Diario de Pernambuco (PE), 12 de Março de 1967

16
Diario de Pernambuco (PE), 04 de Abril de 1967

Diario da Tarde (PR), 15 de Abril de 1967

O jornal potiguar Diario de Natal frisou que o Torneio Norte-Nordeste geraria o


estímulo do futebol da “região setentrional do país”, ou seja, o eixo Norte do Brasil, que
via no certame o seu ‘lado’ de uma espécie de Campeonato Brasileiro.

17
Diario de Natal (RN), 09 de Agosto de 1968

Em 1966, antes mesmo do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ser estendido e virar
o Robertão, foi publicado um texto opinativo no Diário Popular (RS), citando os
problemas do país em realizar torneios nacionais por o Brasil ser um país com
dimensões continentais e sugerindo uma disputa em divisão de grupos. E foi o que
aconteceu em 1968, com o país dividido em grupos regionais.

18
Diario Popular (RS), 04 de Setembro de 1966

E não foi apenas a CBD que realizou novos métodos de disputas em suas
competições com divisão geográfica em meio a transição de competições. Entre 1998 e
2001, a Conmebol criou competições divididas em eixos Norte e Sul para chegar a um
modelo ideal da totalidade da região continental. A Libertadores já era com muito
sucesso o certame de primeiro escalão da América, porém a entidade sul-americana
realizava mudanças em seu sistema de disputa no segundo escalão. Assim como a Taça
Brasil para a CBD, a Copa Conmebol vinha sendo disputado com tradição e antes do seu
fim, houve a disputa de duas competições divididas por eixo, a Copa Merconorte e a
Copa Mercosul, ambas com a mesma finalidade: gerar o título sul-americano de segundo
escalão para o campeão de cada eixo, algo extremamente similar no Brasil, onde o
Torneio Norte-Nordeste e o Robertão davam o título brasileiro para os eixos Norte e Sul

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do Brasil. Enquanto a Merconorte e a Mercosul eram disputadas, a Copa Conmebol
também era jogada paralelamente e assim que a Conmebol criou a Copa Sudamericana,
tanto o antigo torneio secundário quanto os dois certames divididos por eixos foram
extintos, cenário extremamente igual ao Brasil, que deu fim a Taça Brasil e
posteriormente assim que foi criado o Campeonato Brasileiro, as disputas dos
Brasileirões do Norte e do Sul foram extintos.

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7. DO ROBERTÃO E O PODER POLÍTICO

O Robertão foi um interestadual do eixo Sul do país e definia o campeão do lado


de inferior do país. Foi um torneio onde o critério de participação era via convite e os
convidados eram os clubes e marcas que paulistas e cariocas entendiam como ideais
para seus níveis, além de interesses políticos, sem vínculo algum com ranqueamento ou
campeões estaduais e anos anteriores. Sua segunda edição seria dos mesmos moldes da
primeira, com participantes apenas dos estados de SP, RJ, MG, RS e PR, mas as
federações de Bahia e Pernambuco entraram em atrito com a CBD para que tivessem
representantes no Campeonato Brasileiro do Sul, chegando até a ameaçar de não
inscreverem seus representantes na outra competição nacional, o Campeonato
Brasileiro do Norte. Osório Villas-Boas, folclórico, poderoso e contraditório dirigente do
Esporte Clube Bahia e Rubem Moreira, presidente da Federação Pernambucana de
Desportos e presidente da CBD no eixo Norte do país, articularam nos bastidores e após
muito jogo político, a garantia da presença dos estados no Robertão, sendo apenas 1
vaga para cada, uma espécie de ‘cota’. Vale lembrar que a força política dos dois
principais estados do Norte do país eram imensas, pois tinham forte ligação com a CBD,
ambas chegando a ter suas seleções estaduais representando o Brasil em torneios de
1957 e 1959, sendo essa última. É importante ter a ciência que a disputa de BA e PE no
Robertão não foi uma integração nacional de um torneio que já tinha progredido de 2
para 5 estados, mas sim uma articulação política.

21
Diario de Pernambuco (PE), 15 de maio de 1968

22
Diario Popular (RS), 23 de Setembro de 1967

As possibilidades do então atual campeão pernambucano, o Náutico, e o


representante da Bahia, o EC Bahia participarem do Robertão chegou a ter zero chances
de acontecer, pois os problemas políticos ultrapassaram os limites das organizações.

23
Diario de Pernambuco (PE), 11 de Maio de 1968

O jornalista Adonias de Moura, do Diario de Pernambuco (PE), escreveu suas


opiniões no quadro “Dentro e Fora das Quatro Linhas” sobre os cenários futebolísticos
do estado e do Brasil e deixou suas visões sobre os planejamentos da CBD para a época
1968. Em maio de 1967, quando o Robertão da temporada estava sendo disputado, já
haviam relatos do esvaziamento e fim da Taça Brasil e do status de torneio nacional para
o Torneio Rio-São Paulo ampliado. O cronista chegou a criticar bastante os dirigentes,
tratando o planejamento como “ofensiva aos clubes desta região (eixo Norte)” porém, não
sabia ele que a entidade máxima viria com a revolução de criar outros torneios
nacionais, com status de campeões por eixos e no fim todos no embate para definir o
campeão nacional nacionalizado.

24
Diario de Pernambuco (PE), 04 de Maio de 1967

Adonias lembrava que o regulamento do Torneio Rio-São Paulo reformulado


determinava que seus participantes disputavam via convite e que mesmo com a CBD
patrocinando o certame, não seria necessariamente ela que controlava o torneio. O
jornalista chegou a chamar os dirigentes do eixo Sul de “inimigos declarados do futebol
do Nordeste”, por ter apenas no fato do seu eixo disputar um certame nacional, dando ao
vencedor um título de “campeão de araque, sem nenhuma finalidade”. Porém, a
finalidade do campeão nacional foi garantida de forma justa, pois os campeões
brasileiros seriam regionalizados, com todos os eixos do país tendo seu status e ao fim, o
campeão final com o intuito de ser o representante continental.

25
Diario de Pernambuco (PE), 09 de Setembro de 1967

Em Outubro de 1967, Adonias de Moura opinou sobre o Robertão de 1968, onde


a CBD mesmo passando a ser a organizadora do que era o antigo Torneio Rio-São Paulo,
dava margem para as decisões apenas dos cartolas cariocas e paulistas, que ficaram
enfurecidos só de ser questionados sobre a possibilidade de outros representantes na
Taça de Prata, que teriam nos seus participantes, aqueles onde os clubes e federação do
eixo RJ-SP gostariam, independente de critérios técnicos. Ou seja, de fato foi um
Campeonato Brasileiro do eixo Sul do país com dois participantes de BA e PE por
questões políticas.

26
Diario de Pernambuco (PE), 14 de Outubro de 1967

Pernambuco contava com três clubes de relevância nacional, grandes torcidas,


tradições e pesos esportivos e políticos e a FPD teve que criar um critério para não se
envolver em problemas, disponibilizando sua vaga ao campeão estadual, já na Bahia, o
tricolor de aço participou de todas edições do Robertão, inclusive até mesmo quando
não foi campeão, vice ou até G3 do Campeonato Baiano, tendo sua vaga assegurada pelo
poderio político de seu forte dirigente. O aspecto político se aplicada em todos
contextos, inclusive aos clubes do eixo sul, como no caso do Athletico-PR - que estava
muito longe de ser o que é hoje - que participou mesmo ficando em 12º no estadual de
1967 e estando num jejum de 10 anos sem título e 10 anos fora do G4 paranaense, tendo
disputado a Taça Brasil apenas 1 vez, logo na 1ª edição, ou seja, nem mesmo o contexto
de grandeza nacional ou estadual foi levado em conta, era de fato convites articulados.

27
8. DA NACIONALIZAÇÃO E PARALELISMO AO ROBERTÃO

Embora as disputas dos Campeonatos Brasileiros do Norte (Torneio


Norte-Nordeste), Sul (Robertão) e Centro (Torneio Centro-Sul) sejam praticadas em
âmbitos interestaduais, a CBD, imprensa, clubes e torcedores tratavam como certames
nacionais. As competições eram paralelas, envolvidas nos mesmos períodos e
planejadas da mesma forma, em relação a calendários e arbitragens. Em 1968, a CBD
criou o Quadro Nacional de Arbitragem para padronizar os três torneios, que suas
existências paralelas foram primordiais para o fim da Taça Brasil. Já a Imprensa carioca
destacou o início do Torneio Norte-Nordeste, sendo mais uma “competição
interestadual” da CBD, assim como Robertão e Taça Brasil. E também traz o paralelismo
dos certames, os quais a entidade nacional contrata árbitros com o intuito de apitar os
jogos dos Campeonatos Brasileiros do Norte e do Sul.

28
Jornal dos Sports (RJ), 31 de Setembro de 1968

29
O Jornal (RJ), 22 de Maio de 1970

Diario de Pernambuco (PE), 12 de Julho de 1968

30
Diario de Pernambuco (PE), 05 de Julho de 1968

O jornal pernambucano traz detalhes sobre os planejamentos do calendário


nacional da CBD, pondo o Norte-Nordeste, Centro-Sul e Robertão num mesmo plano, e
relembrando que o título nacional da temporada sairá do confronto entre os vencedores
dos campeonatos.

Diario de Pernambuco (PE), 31 de Julho de 1968

31
Diario de Pernambuco (PE), 29 de Dezembro de 1968

A imprensa maranhense compartilhava da ideia que o novo plano da CBD para


1968, em especial com as disputas dos Campeonatos Brasileiros do Norte e do Sul, a
Taça Brasil estava chegando ao seu fim.

Jornal do Maranhão (MA), 27 de Outubro de 1968

Francisco de Souza Ferreira, o Gradim, então técnico no Santa Cruz e com


passagens por Bangu, Fluminense e Vasco, cita o Torneio Norte-Nordeste entre “as
competições nacionais que a CBD pensa em organizar”. O técnico também destacou que o
Torneio Norte-Nordeste proporcionaria “ao campeão a oportunidade de se reunir com
vencedores de outras competições nacionais, num torneio final”, destacando que o
Campeonato Brasileiro do Norte era nacional e os demais também, além de citar a
finalidade.

32
Diario de Pernambuco (PE), 04 de Julho de 1968

Diario de Pernambuco (PE), 21 de Agosto de 1968

Ao tratar sobre os certames nacionais, a imprensa gaúcha destacou que clubes


além da dupla Gre-Nal teriam a chance de disputar um “certame de tão alta
envergadura”, relacionado ao Torneio Centro-Sul. Outro detalhe é que a crônica realizou
um comparativo entre o Norte-Nordeste, o Robertão e o Centro-Sul, destacando que o
Campeonato Brasileiro do Norte estava empolgando o eixo do país e inclusive tendo
mais inscritos que o Robertão.

33
Diario de Noticias (RS), 09 de Novembro de 1967

Diario de Noticias (RS), 17 de Agosto de 1968

Jornal brasiliense informa que a CBD pretende iniciar o ano de 1969 com os
certames mais importantes do país sendo iniciados mais cedo, os certames são os três
campeonatos brasileiros regionalizados.

34
Correio Braziliense (DF), 07 de Janeiro de 1969

Em 1968, além do Torneio Norte-Nordeste e o Robertão serem paralelos e com a


mesma finalidade nacional, foram planejados da mesma forma em relação aos detalhes.
Eram competições espelhadas, uma para cada eixo.

Diario de Pernambuco (PE), 29 de Setembro de 1968

E não era só no bom! Os problemas que atingiam o Norte-Nordeste também


atingiram a Taça de Prata. A CBD contou com efeitos negativos no Quadro Nacional de
Arbitragem, constituído pelo novo planejamento nacional dos torneios de 1968. Outro
ponto a ser destacado era a impossibilidade de clubes que participavam dos três
Campeonatos Brasileiros regionalizados não podiam disputar amistosos e realizar
excursões para o exterior, ou seja, regras da entidade máxima criadas especialmente
para os três torneios de finalidades iguais.

35
Diario de Pernambuco (PE), 26 de Setembro de 1968

36
Jornal dos Sports (RJ), 15 de Setembro de 1968

Ao criar a seleção dos melhores do ‘Campeonato Brasileiro’ de 1968, o jornal


aborda de forma conjunta os certames Norte-Nordeste e Robertão.

37
Diario de Pernambuco (PE), 19 de Dezembro de 1969

O planejamento revolucionário da CBD para a temporada 1968 trouxe para os


torneios nacionais regionalizados um grande sucesso e a disputa de certames de pontos
corridos e com garantias de grandes calendários nacionais garantiram o fortalecimento
para as temporadas seguintes. A imprensa pernambucana citava o Torneio
Norte-Nordeste e a Taça de Prata como grandes trunfos para o fim do torneio com
formato de Copa, na ocasião, a Taça Brasil, que em 1968, foi o Torneio de Campeões
Estaduais. Simplesmente os campeonatos brasileiros regionalizados gerando efeitos no
cenário nacional, como torneios nacionais propriamente ditos.

38
Diario de Pernambuco (PE), 20 de Março de 1969

Esses valores trazidos pelo novo calendário nacional do futebol brasileiro junto a
criação de Brasis já tinha sido elogiada pela crítica carioca, que ainda em 1967, quando a
CBD já divulgada o planejamento pelo manutenção da Taça Brasil, que mudaria nome e
finalidade e criação do brasileiros regionalizados, deu seu parecer positivo pelas novas
plenitudes.

Jornal dos Sports (RJ), 19 de Maio de 1967

O Torneio Norte-Nordeste além de ser paralelo e ter a mesma finalidade do


Robertão, chegou a ser inclusive chamado de forma idêntica pela crônica, como o jornal
Diario da Manhã (PE), que trata o termo “Taça de Prata” relacionado aos Campeonatos
Brasileiros regionalizados e não apenas o Robertão.

39
Diario da Manhã (PE), 25 de Novembro de 1968

Em 1970, a imprensa catarinense indicava que o Torneio Centro-Sul, o


Campeonato Brasileiro do Centro, que era equivalente ao N-NE e Robertão, porém para
seu específico eixo, não seria disputado e ao citá-lo, aborda que o campeonato foi criado
pela CBD “visando movimentar os clubes brasileiros em torneios nacionais”, dando
ênfase que o certame foi um nacional regionalizado.

O Estado de Florianópolis (SC), 14 de Outubro de 1970

Os catarinenses também destacaram que o Torneio Centro-Sul, paralelo com o


Norte-Nordeste e Robertão, seria uma “disputa nacional”.

40
O Estado de Florianópolis (SC), 15 de Novembro de 1968

9. DOS CAMPEONATOS BRASILEIROS REGIONALIZADOS

Os Torneios Norte-Nordeste, Centro-Sul e o Robertão não eram apenas certames


nacionais, mas também Campeonatos Brasileiros dos Eixos Norte, Centro e Sul do país e
foi o que enfatizou a imprensa brasileira.

Em 2001, 9 anos antes da unificação da Taça Brasil e do Robertão ao Campeonato


Brasileiro, a Revista Placar realizou um artigo sobre os diversas competições da história
do futebol brasileiro e ao citar o Torneio Norte-Nordeste, a revista frisou no título “O
Brasileirão do Norte” e que era um campeonato paralelo ao Robertão. A ideia de ser o
Campeonato Brasileiro do Norte ultrapassou gerações.

Revista Placar, 09 de Novembro de 2001

41
O jornal paranaense Diario da Tarde citava o Torneio dos Campeões da CBD como
“Torneio entre campeões brasileiros”, que de fato seria o encontro nacional entre os
campeões brasileiros de cada respectivo eixo.

Diario da Tarde (PR), 23 de Abril de 1969

Por ser campeão do Torneio Centro-Sul, o Grêmio Maringá passou a ser chamado
de “campeão brasileiro”, sustentando ainda mais o aspecto objetivo que os campeões
dos certames nacionais regionalizados eram campeões brasileiros. Com destaque para o
clube sendo chamado de “campeão brasileiro do Torneio Centro-Sul” e de “campeão
brasileiro”.

Diario do Paraná (PR), 02 de Abril de 1969

42
Jornal do Paraná (PR), 09 de Outubro de 1969

Diario do Paraná (PR), 02 de Outubro de 1969

43
A imprensa também destacava as vitórias nacionais do Grêmio Maringá, campeão
brasileiro do Centro no Torneio Centro-Sul e no embate contra o Sport, campeão
brasileiro do Norte, para definir o adversário do campeão brasileiro do Sul, o Santos. De
forma ampla, um dos mais tradicionais jornais do estado trabalhava bem o termo
“campeão brasileiro”.

Diario do Paraná (PR), 23 de Março de 1969

44
Diario do Paraná (PR), 25 de Março de 1969

45
Diario do Paraná (PR), 01 de Abril de 1969

Diario do Paraná (PR), 08 de Outubro de 1969

10.DA FINALIDADE

Como já visto, a CBD em 1968 realizou 4 ações: criou o Torneio Norte-Nordeste,


passou a gerir o Robertão, criou o Torneio Centro-Sul e transformou o status e
importância da Taça Brasil, tudo isso com uma única finalidade: criar um novo

46
planejamento nacional, com subdivisões de eixos, onde os clubes teriam mais chances
de garantirem títulos para no fim poder buscar o título maior através do embate entre
os 4 torneios, para também garantir a vaga brasileira na Libertadores. E isso foi
amplamente relatado por todo o Brasil.

A Nação (SC), 25 de Setembro de 1968

Diario da Tarde (PR), 22 de Março de 1969

47
Diario de Pernambuco (PE), 31 de Julho de 1968

Diario do Paraná (PR), 24 de Setembro de 1968

Ainda em 1967, os jornais dos mais variados estados relataram que a CBD e
federações estaduais de diversas regiões, além de dirigentes de clubes como América,

48
Bangu, Botafogo e Flamengo concordaram com o novo planejamento para 1968,
divulgando detalhes de reuniões e artigos pré-estabelecidos.

Tribuna da Imprensa (RJ), 23 de Maio de 1967

49
Diario de Notícias (RS), 06 de Dezembro de 1967

50
Correio da Manhã (RJ), 24 de Novembro de 1967

Em reunião sobre o acordo do Robertão 1968, o presidente da Federação Paulista


de Futebol, João Mendonça Falcão, explanou as finalidades dos torneios, que se
enfrentam para apurar o “melhor time do futebol do Brasil”

Estadão (SP), 24 de Novembro de 1967

51
Jornal brasiliense divulga o planejamento de datas e confrontos nacionais, com os
campeões dos certames Torneio Norte-Nordeste, Robertão, Torneio Centro-Sul e a Taça
Brasil se encarando para definir o campeão maior entre eles.

Correio Braziliense (DF), 16 de Dezembro de 1967

Em 1967, o Robertão encerrou-se em 8 de Junho, já a Taça Brasil em 29 de


Dezembro e antes mesmo do fim das disputas, o país já articulava o modelo de
calendário e disputa da temporada 1968. Presidente da FPD e da CBD no Norte do país,
Rubem Moreira, voltava a Pernambuco de viagem à sede da entidade máxima contente
por decisões já acertadas na CBD, que seriam os quatro certames disputados para
decidir o “campeão brasileiro” maior.

52
Diario de Pernambuco (PE), 28 de Maio de 1967

Diario de Pernambuco (PE), 01 de Junho de 1967

Após os títulos de campeão brasileiro do Norte do Sport, de campeão brasileiro


do Centro, do Grêmio Maringá-PR e de campeão brasileiro do Sul, do Santos, os jornais
de todo país destacavam que os campeões brasileiros das disputas interestaduais
disputavam agora o título campeão do Brasil (nacionalizado) e a vaga na competição
sul-americana.

53
Diario do Paraná (PR), 16 de Março de 1969

Diario de Pernambuco, 14 de Março de 1969

O torcedor do Sport Recife vivia dias de glórias após o título brasileiro do Norte e
após ter tanto o que comemorar em 1968, buscava o algo a mais na temporada, como
aponta o jornal pernambucano “depois de ganhar o “Nordestão, o “Nortão” e (o clássico)
do Santa Cruz, o rubro-negro pode ganhar também o “Brasilão””. O termo “Brasilão” é um
sinônimo da época para o que hoje chamamos de “Brasileirão”, dando ênfase a um título

54
brasileiro. A finalidade daquela temporada também se instalava no cotidiano dos
torcedores.

Diario de Pernambuco (PE), 15 de Março de 1969

Diario da Tarde (PR), 27 de Março de 1969

55
Diario de Notícias (RS), 25 de Março de 1969

O Torneio dos Campeões da CBD reunia os campeões do Torneio Norte-Nordeste,


Taça de Prata, Torneio Centro-Sul e o Torneio de Campeões Estaduais (ex-Taça Brasil) e
em sua primeira fase, o campeão brasileiro do Centro venceu o campeão brasileiro do
Norte, passando a encarar o campeão brasileiro do Sul na busca pelo título nacional
maior, como exibiu os mais variados jornais do país. Inclusive, o certame foi chamado de
“Campeonato Brasileiro”.

A imprensa carioca destacou a violência da torcida do Sport após derrota contra


o Grêmio Maringá, na partida que “classificou (o Grêmio) para disputar com o Santos o
título pelo torneio nacional de clubes” e junto com a mídia paranaense, destacava a
finalidade.

56
Jornal do Brasil (RJ), 23 de Março de 1969

57
Diario do Paraná (PR), 10 de Maio de 1969

58
Diario do Paraná (PR), 24 de Abril de 1969

59
Diario do Paraná (PR), 07 de Maio de 1969

60
Diario do Paraná (PR), 09 de Maio de 1969

61
Diario do Parana (PR), 04 de Setembro de 1969

62
Jornal dos Sports (RJ), 24 de Março de 1969

63
Jornal dos Sports (RJ), 10 de Maio de 1969

Jornal dos Sports (RJ), 08 de Dezembro de 1968

A imprensa potiguar deixava claro como o Torneio Norte-Nordeste seria algo


“semelhante ao Robertão”, como eram paralelos e possuíam as mesmas finalidades.

64
O Poti (RN), 11 de Agosto de 1968

Após ser campeão brasileiro do Centro-Sul, o Grêmio Maringá realizou um


amistoso preliminar de uma partida da Seleção Brasileira no Maracanã contra o
Nacional-AM e a imprensa amazonense citou a então atual disputa que o clube
paranaense disputava.

65
Jornal do Commercio (AM), 06 de Agosto de 1969

11.DAS INFLUÊNCIAS FORA DO FUTEBOL

O Torneio Norte-Nordeste de 1968 foi a continuidade para o desenvolvimento e


integração do futebol no eixo Norte do Brasil para o cenário nacional, mas além de
benefícios para a sociedade esportiva, o certame também foi um gigante impulsionador
da logística, tendo o Santa Cruz, o mais popular clube do lado inferior do Brasil, a
realizar parceria com empresas de serviços de transportes rodoviários.

66
Diario de Pernambuco, 06 de Outubro de 1968

12.DA UNIFICAÇÃO AO CAMPEONATO BRASILEIRO

Em 2010, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) acatou o pedido de Bahia


Esporte Clube, Botafogo de Futebol e Regatas, Cruzeiro Esporte Clube, Fluminense
Football Club, Santos Futebol Clube e Sociedade Esportiva Palmeiras pela unificação dos
títulos da Taça Brasil (1959-1967), Torneio de Campeões Estaduais (1968) e Robertão
(1967-1970) ao Campeonato Brasileiro (1971-). O material produzido pelo jornalista
paulista Odir Cunha embasou os fatores que foram vistos de forma positiva pelas
comissões julgadoras da entidade máxima. O dossiê da unificação destes três certames
contribuíram imensamente para a memória da história do futebol brasileiro, fazendo
que gerações mais novas pudessem entender contextos da época e conhecer os
conceitos, os cenários, as realidades e mais do que tudo, os ídolos do período.

O conteúdo foi grandioso e para engrandecer ainda mais, este guia traz muitas outras
informações do período, especificamente da temporada 1968, onde não tivemos uma ou

67
duas competições nacionais, e sim quatro. Fica provada a legitimidade do paralelismo e
das igualitárias finalidades do Torneio Norte-Nordeste e da Taça de Prata em 1968, com
cada um dando o título de campeão de um eixo do país para definir em seu embate o
campeão maior do Brasil e representante do país na Libertadores. O Robertão de 1967
tinha o intuito de gerar o título de campeão do Sul do Brasil, assim como o de 1968 daria
o título de campeão do eixo Sul do país e a finalidade de que o campeão sul-brasileiro
representasse o eixo num torneio maior posterior, aspectos igualitários ao Torneio
Norte-Nordeste de 1968, que dava ao seu vencedor o título de campeão brasileiro do
Norte e possuía o mesmo propósito final. Se o Robertão de 1967 e de 1968 foi unificado
ao Brasileirão, então nada mais justo que o torneio interestadual do outro eixo do país,
com os mesmos intuitos nacionais da temporada e inclusive com um sistema bem mais
criterioso também ser unificado, inclusive, de forma responsável, sendo tratados como
campeões brasileiros do Norte e do Sul pela criação dos Brasis e hoje, sendo tratados
como campeões brasileiros, após olhar o passado com olhos do passado, sem
anacronismo.

O jornalista e autor do dossiê proferiu falas importantes em entrevista para o


canal SporTV na cerimônia da unificação dos títulos

"Todos os clubes brasileiros tiveram a oportunidade de ganhar a Taça Brasil


através do campeonato estadual, não houve nenhuma injustiça. Então das muitas críticas
que nós vimos e vemos, citaram como é que pode o Siderúrgica representar MInas Gerais
ou Comercial representar o Paraná? Ora, Siderúrgica superou Cruzeiro, Atlético e América.
E nada mais justo do que o Siderúrgica representar Minas Gerais, isso mostra, provava
lisura da competição, a ética que na Taça Brasil foi levada ao extremo. Nenhum time que
não fosse campeão estadual participou da Taça Brasil, a não ser que o campeão estadual
fosse campeão da Taça Brasil, que dava vaga ao vice-campeão daquele estado."

Fica claro que um dos aspectos relevantes para a unificação da Taça Brasil, assim
como o Torneio de Campeões Estaduais de 1968 foi a justiça dos critérios, o mesmo que
foi extremamente seguido do Campeonato Brasileiro do Norte.

"Não importa número de participantes, nome, fórmula de disputa, nível técnico


nem é tão importante, o importante é a finalidade."

Essa outra fala banca ainda mais a legitimidade para a unificação do Torneio
Norte-Nordeste ao Brasileirão, pois independente de quaisquer detalhes, a finalidade do
certame especificamente em 1968 era a mesma do Robertão na temporada.

"Há vários precedentes sobre isso. Só em São Paulo tivemos 11 anos com 2
campeões, no Rio de Janeiro, oito anos. Em Minas Gerais, três. (Torneio) Rio-São Paulo já

68
teve mais de 2 anos com mais de um campeão, inclusive 1 ano com quatro campeões, em
1966. Vários países tem Apertura e Clausura, ou seja, tem dois campeões por ano. Como é
uma fase na qual uma competição está se extinguindo, está se exaurindo na sua forma e
outra está surgindo, como é que você poderia punir um campeão de uma competição e
privilegiar a outra?"

Antes da criação do Brasileirão em 1971, os Campeonatos Nacionais foram


disputados de várias formas e nesse período houve transição de uma competição para a
outra e de um modelo para outro, portanto, como o autor diz, não se pode punir o
campeão de uma competição para privilegiar a outra, além do mais sendo ambas com
finalidades iguais para a temporada.

"É o respeito a situações, as condições da história. Por exemplo, em 1959 foi o


primeiro ano da Ponte Aérea Rio-São Paulo, a primeira ponte aérea. Como é que você
queria em 1959 que nem havia um transporte aéreo viário decente, fazer uma competição
de pontos corridos? A não ser que você usasse trens, navios, ônibus. Os clubes eram pobres,
os clubes mal tinham dinheiro para passagem de avião, tanto é que numa enquete que
fizeram a época para um campeonato melhor, se eu não me engano Gentil Cardoso, acho
que ele mesmo, sugeriu que o transporte aéreo fosse feito por aviões da FAB. Não havia
meios de você fazer uma competição com mais jogos e aí eu posso lembrar outro país que
tem uma tradição muito grande no futebol que eu acho que serviu de exemplo pro nosso
trabalho. Você tem que se basear também no que se faz lá fora. A Itália, país
reconhecidamente com uma cultura mais antiga que a nossa, o seu primeiro campeão
italiano, o Genoa, ganhou este título em 1898. (jogou) duas vezes, no mesmo dia e com
campo de dimensões irregulares. Não tinham chuteiras ainda, eles usavam botas, (título)
super reconhecido. Nenhum outro clube quis apagar as conquistas do Genoa, apesar de
serem em condições precárias.”

Odir também referencia a situação logística do país na época como um forte


motivo para as formas de disputas dos torneios nacionais da época, o que de fato
influenciou diretamente para o novo modelo da CBD para a temporada 1968, com
Campeonatos Brasileiros Regionalizados.

O Sport Club do Recife, clube campeão brasileiro do Norte de 1968, deve receber
um troféu idêntico ao de campeão brasileiro na atualidade, faixa e medalha, assim como
os campeões do Robertão de 1967 e 1968 receberam em 2010. E assim como os atuais
vices campeões brasileiros, o Club do Remo, vice-campeão brasileiro do Norte de 1968
deve receber sua medalha de vice-campeão brasileiro.

13.DO SIMBOLISMO DO EIXO NORTE PARA O BRASIL EM 1968

69
O futebol das regiões Nordeste e Norte formam o eixo Norte do Brasil e em 1968,
além de ter um grande torneio para definir o campeão brasileiro do lado de cima do
país, o eixo colecionava grandes marcas atemporais e globais no futebol. Alguns
cronistas de hoje podem realizar anacronismo achando que o país poderia ser taxado
apenas por um eixo, quando na verdade o outro lado obtinha de referências e pesos que
também sustentaram a força do futebol brasileiro a ser o “país do futebol”. A seguir, será
apontado algumas delas:

Sede da Copa do Mundo: O Sport Recife, campeão brasileiro do Norte de 1968


teve o prazer de ter o seu estádio, a Ilha do Retiro, como sede da Copa do Mundo de
1950, ou seja, quando o clube foi campeão nacional, já possuía 18 anos de um selo
global.

Pioneirismo e exclusividade mundial: O Sport Recife até a última Copa do Mundo


disputada, edição 2022, é o único clube do mundo a ter revelado dois artilheiros de
mundiais e esse registro já existia em 1968. O clube rubro-negro revelou os atacantes
Ademir de Menezes, artilheiro em 1950 com 9 gols e Vavá, artilheiro em 1962, com 4
gols.

Título, vices e grandes campanhas no Campeonato Brasileiro de Seleções


Estaduais: Até 1968, o eixo Norte do país acumulava sucessos contra os demais estados
brasileiros, com destaque para o título da Bahia contra São Paulo em 1934, com o
detalhe do Rio Grande do Norte tendo sido o 3º colocado, além dos vices da Bahia em
1922 e de Pernambuco em 1959. O eixo também figurou o pódio com a Bahia em 1923,
1924, 1925, 1931 e 1941 e o Pará em 1926, 1928 e 1929. E por 12 oportunidades, Bahia,
Ceará, Pará e Pernambuco disputaram outras semifinais.

Revelações para Copas do Mundo: O eixo Norte do Brasil sempre produziu e/ou
revelou atletas que contribuíram para a Seleção Brasileira em mundiais. Até ali, foram
disputadas 8 edições de Copas, e o lado superior do Brasil ou revelou ou teve jogadores
nascidos nas regiões que disputaram e até mesmo foram campeões pela amarelinha.
Foram campeões: Dida (meia alagoano revelado pelo CSA, campeão em 1958 e maior
ídolo do Flamengo pré-Zico), Vavá (atacante pernambucano revelado pelo Sport,
bicampeão em 1958 e 1962) e Zequinha (meia pernambucano revelado pelo Auto
Esporte-PB, campeão em 1962). Disputaram Copas e foram revelados por clubes do eixo
Norte: Velloso (goleiro sul-matogrossense revelado pelo Clube Bahiano de Tênis-BA,
disputou em 1930), Ademir de Menezes (atacante pernambucano revelado pelo Sport,
disputou o mundial de 1950), Maneca (atacante baiano revelado pelo Galícia-BA,
disputou em 1950), Dequinha (volante potiguar revelado pelo Atlético de Mossoró-RN,
disputou em 1954), Rildo (lateral-esquerdo pernambucano revelado pelo Sport,
disputou em 1966) e Manga (goleiro pernambucano revelado pelo Sport, disputou em

70
1966). Vale destacar também os atletas que representaram o Brasil em Copas do Mundo
FIFA e que nasceram no eixo: Fausto (volante maranhense, disputou em 1930), Ivan
Mariz (meia paraense, disputou em 1930), Pamplona (volante paraense, disputou em
1930) e Índio (atacante paraibano, disputou em 1954),

Títulos, vices e grandes campanhas nacionais: O eixo Norte do país disputou


todas as edições da Taça Brasil (1959-1967) e sua nova versão em 1968, o Torneio de
Campeões Estaduais, com grandíssimas campanhas e feitos. Logo na primeira edição,
em 1959, o Bahia conquistou o título e ainda viria a ser vice por duas oportunidades, em
1961 e 1963. Fortaleza em 1960 e 1968 e o Náutico em 1967, também ficaram com o
troféu de prata. Completando o pódio, tivemos o Ceará em 1964 e o Náutico em 1965 e
1966. Disputando outras semifinais tivemos o trio de ferro pernambucano, com o Santa
Cruz em 1960, Sport Recife em 1962 e Náutico em 1961 e 1968. Léo Briglia, do Bahia
em 1959 com 8 gols, Bececê, do Fortaleza, em 1960 com 7 gols, Bita, do Náutico com 9
gols em 1965 e 10 gols em 1966 e Chicletes, do Treze-PB em 1967 com 6 gols, foram os
artilheiros da Taça Brasil atuando pelo eixo Norte do país, em vários anos superando
ícones como Pelé, Ademir da Guia, Tostão e Garrincha em número de gols. Em 10
edições, o eixo Norte conquistou 4 vagas para representar o Brasil na Libertadores,
sendo o Bahia em 1960, 1962 e 1964 e o Náutico em 1968, destaque para o clube baiano
que foi o primeiro representante brasileiro do certame da Conmebol.

Representações estaduais da Seleção Brasileira: Em toda história, foram poucas


seleções estaduais que tiveram o peso e a honra de representar o país de forma oficial
vestindo a amarelinha. No eixo Norte do país isso ocorreu por duas oportunidades.
Primeiro em 1957, quando a Seleção Baiana representou o Brasil com atletas de Bahia,
Botafogo, Fluminense de Feira, Galícia, Vitória e Ypiranga, indo ao Chile disputar a Taça
O’Higgins. Na época, a CBD costumava indicar seleções estaduais de alto nível para as
representar em torneios de segundo escalão ou de primeiro em caso de choque de datas
em disputas paralelas. Os selecionados baianos foram derrotados no primeiro jogo por 1
a 0 e no segundo até venceram também por 1 a 0, porém foram derrotados na
prorrogação, ficando com o vice do certame.

Já em 1959, estava sendo inaugurado o Estádio Modelo Alberto Spencer, em


Guayaquil, no Equador. Para celebrar esta eventualidade, a Confederação Equatoriana
solicitou à Conmebol para realizar um Campeonato Sul-Americano de Seleções, hoje
conhecido como Copa América. Naquele ano já havia sido disputado na Argentina, com
os donos da casa vencendo os arquirrivais brasileiros. A entidade acatou o pedido e foi
disputada uma edição extra. A CBD convidou a Seleção Pernambucana para representar
o seu país, que foi representado por atletas de Náutico, Santa Cruz e Sport. Na disputa,
os pernambucanos ficaram na 3ª colocação, abaixo apenas de Uruguai e Argentina, que

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venceram o Brasil respectivamente por 3 a 0 e 4 a 1, porém, os
pernambucanos-brasileiros venceram o Paraguai por 3 a 2 e os donos da casa por 3 a 1.

Excursões e amistosos internacionais: Antes dos grandes torneios nacionais, o


eixo Norte brasileiro realizou diversas excursões fora do país e que ficaram marcadas
para a história do futebol brasileiro. Na década de 1950, Bahia, Náutico, Vitória, Santa
Cruz e Sport realizaram e/ou receberam clubes em algumas excursões, com o tricolor de
aço chegando a vencer o Benfica por 4 a 1 e outros clubes tradicionais da Alemanha,
Bélgica e Rússia. O timbu jogou em gramados franceses e alemães, tendo conquistado
grandes vitórias com grandes exibições, como contra o Olympique de Marseille e
Hamburgo, ademais que, em 1955, o alvirrubro foi derrotado pelo Peñarol por 6 a 0. Já o
colossal baiano desfrutou bem dos solos alemães, espanhóis e turcos, com destaque
para o triunfo sobre o Fenerbahçe por 2 a 1. O tricolor do Arruda realizou amistosos na
década, como contra o Sporting, Independiente e Benfica em 1957. O Sport se destaca
por um grande feito. Em excursão pela Europa em 1957, o leão pernambucano encarou
clubes e seleções de países, como Sporting, Olympique de Marseille, Beşiktaş, Atlético
Osasuna, Stade de Reims e as seleções de Turquia e Jerusalém. Mas o maior destaque
fica para o jogo contra o Real Madrid, que foi a partida de inauguração da nova
iluminação do Estádio Santiago Bernabéu. O clube merengue já era o bicampeão
europeu e contava com suas lendas. A partida acabou em 5 a 3 para os madrilenhos, que
tiveram o francês Raymond Kopa como estrela da partida, o mesmo que seria Bola de
Ouro no ano seguinte.

Na década de 1960, houve grandes resultados a nível mundial, como o Bahia


aplicando uma imensa goleada pra cima do Bayern de Munique por 6 a 1 e empatando
com o Milan em 1 a 1, ambos em 1960 por sua excursão internacional pós-título da Taça
Brasil. Em 1965, o Peñarol em excursão pelo Brasil realizou jogos contra o Santos, de
Pelé e o Paysandu. O clube uruguaio chegou a vencer o alvinegro praiano, mas não teve a
mesma sorte em terras norte-brasileiras, sendo derrotado pelo Paysandu por 3 a 0 no
Estádio da Curuzu.

5 anos antes de conquistar o Norte, o Sport Recife havia conquistado uma marca
internacional para o eixo Norte. A International Soccer League foi um certame
intercontinental organizado pela antiga Associação Estadunidense de Futebol, que era
filiada à FIFA e contava com a autorização e aval da entidade global para sua realização.
Disputava entre 1960 e 1965, recebeu a presença de diversos clubes como o Bayern de
Munique, Everton, West Ham, Monaco, Nice, Palermo, Sporting, Werder Bremen, entre
outros. O Sport em 1963 foi convidado para participar, sendo o primeiro brasileiro fora
do eixo RJ-SP a disputar a competição, chegando a encarar o West Ham do lendário
Bobby Moore, considerado por muitos o maior zagueiro da história do futebol britânico
e campeão mundial em 1966 pelo English Team. Em 1964, foi a vez do Bahia representar

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o Brasil no certame e elevar ainda mais o peso do eixo Norte do país para o cenário
internacional.

Pernambuco vencendo a Alemanha: Em 1965, a Seleção da Alemanha Ocidental


estava em preparação para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Os alemães
realizaram amistosos e certames na Europa e pela América. A seleção europeia realizou
um amistoso contra a Seleção Brasileira no Maracanã, sendo derrotada por 2 a 0.
Aproveitando que os alemães estavam em terras brasileiras, o presidente da Federação
Pernambucana de Futebol articulou um amistoso entre os alemães e a Seleção
Pernambucana de Futebol. Com a força política do presidente da CBD, João Havelange, o
jogo foi marcado. Então em 10 de Junho de 1965 a bola rolou na Ilha do Retiro e com um
combinado entre jogadores de Náutico, Santa Cruz e Sport, inclusive alguns que
disputariam e/ou seriam campeões brasileiros do Norte de 1968, a seleção estadual
venceu os alemães por 1 a 0 com gol do rubro-negro Gojoba.

Esses feitos exibem a força do eixo Norte do Brasil desde os primórdios de sua
história. O quão os clubes, atletas, torcidas e todos os demais envolvidos inclusive no
Torneio Norte-Nordeste de 1968 possuíam uma imensa colaboração para o
desenvolvimento do futebol brasileiro que ali já era bicampeão e vice-campeão do
mundo, tendo nessas conquistas esplêndidas influências de clubes que disputaram o
Campeonato Brasileiro do Norte.

14.DA CAMPANHA DO CAMPEÃO BRASILEIRO DO NORTE DE 1968

Chave Nordeste - Grupo 1 (Sport líder do grupo)

Sport 3x0 Ferroviário - 28 de Setembro de 1968


Sport 1x0 Calouros do Ar - 06 de Outubro de 1968
Sport 4x1 Campinense - 10 de Outubro de 1968
ABC 1x2 Sport - 13 de Outubro de 1968
Botafogo 0x2 Sport - 16 de Outubro de 1968
Alecrim 1x5 Sport - 25 de Outubro de 1968
Ferroviário 0x0 Sport - 06 de Novembro de 1968
Calouros do Ar 2x1 Sport - 10 de Novembro de 1968
Sport 2x1 ABC - 13 de Novembro de 1968
Sport 5x1 Botafogo - 17 de Novembro de 1968
Sport 1x1 Alecrim - 21 de Novembro de 1968
Sport 2x0 Campinense - 28 de Novembro de 1968

Quadrangular Final - Chave Nordeste (Sport campeão regional do Nordeste)

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CSA 3x0 Sport - 01 de Dezembro de 1968
Sport 2x0 Calouros do Ar - 05 de Dezembro de 1968
Sport 2x1 Santa Cruz - 08 de Dezembro de 1968
Sport 4x1 CSA - 11 de Dezembro de 1968
Sport 1x0 Calouros do Ar - 15 de Dezembro de 1968
Sport 4x1 Santa Cruz - 22 de Dezembro de 1968

Final do Torneio Norte-Nordeste - Chave Nordeste x Chave Norte (Sport campeão


brasileiro do Norte)

Remo 1x3 Sport - 23 de Fevereiro de 1969


Sport 2x1 Remo - 02 de Março de 1969

Sport Recife (campeão regional do Nordeste e campeão brasileiro do Norte) | 20 jogos,


16 vitórias, 2 empates, 2 derrotas, 46 gols marcados, 16 gols sofridos, saldo positivo de
30 gols

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