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PERÍODO DE REALIZAÇÃO:

22 a 27 de março de 2023

TRECHO:
Cerca de 45 km (quarenta e cinco quilômetros).

MUNICÍPIOS:
Goiânia, Goianira, Santo Antônio de Goiás, Senador
Canedo e Aparecida de Goiânia.

REALIZAÇÃO:
Câmara Municipal de Goiânia, Universidade Federal de
Goiás (UFG), Instituto Federal de Goiás (IFG) e Saneamento
de Goiás (Saneago).

ORGANIZAÇÃO:
Mandato da Vereadora Kátia Maria.

EQUIPE PRECURSORA:
Kátia Maria, José Márcio Margonari, Luiz Celso Teixeira,
César Augusto, Matheus Alves Cadete, Rafaela Wolf de Pina
e Márcio Manoel Ferreira

APOIO:
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, Agência Municipal de Meio Ambiente de Goi-
ânia (AMMA), Comando do Corpo de Bombeiros do estado
de Goiás, Batalhão Ambiental da Polícia Militar do
Estado de Goiás

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:
Centro de Zoonoses de Goiânia, Companhia de Urbanização
Goiânia - COMURG, Secretaria de Estado do Meio Ambien-
te e Desenvolvimento - SEMAD, Agência Municipal de Meio
Ambiente - AMMA, Federação do Comércio do estado de
Goiás (FECOMERCIO), Secretaria Estadual da Educação (SE-
DUC), Secretaria Municipal da Educação, Movimento Na-
cional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis,
Guardiões do Meia Ponte, Agrodefesa de Goiás e Sindicato
de Condomínios e Imobiliárias de Goiás (SECOVI).
AGRADECIMENTOS
A Deus que nos concedeu a vida, saúde, disposição, sabedoria
e capacidade para realizarmos com segurança e saúde física,
emocional e mental a proposta de projeto voltado para a
manutenção da qualidade dos recursos hídricos e de uma
sociedade ambientalmente sustentável;

Ao valoroso Grupo de Expedicionários que de forma


voluntária, qualificada, profissional, competente e
comprometida, participaram e contribuíram efetivamente
na realização dos trabalhos práticos e teóricos durante os
seis dias da “1ª Expedição Científica do Rio Meia Ponte”;

Aos poderes constituídos, às instituições de ensino superior,


aos sistemas de educação municipal e estadual de educação,
à sociedade civil organizada, às empresas parceiras e às
mídias escrita, falada e televisada, que compreenderam a
importância do trabalho e contribuíram de forma
institucional, material, com a logística e as divulgações, tão
necessárias à realização desse estratégico e fundamental
trabalho político-socioeducativo-ambiental;

Aos proprietários e moradores ribeirinhos que nos


receberam de forma atenciosa, cordial e acolhedora,
participando inclusive das atividades desenvolvidas pelas
comissões, contribuindo efetivamente para a coleta de
dados, a logística e permanência temporária dos
expedicionários em suas propriedades;

À equipe do Gabinete da vereadora Kátia Maria pelas


articulações e essencial suporte em termos de planejamento
e execução dos trabalhos propostos;

Aos membros do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de


Goiás, da Polícia Militar Ambiental por conduzir em
segurança a equipe que realizou o levantamento de
informações navegando nas águas do Rio Meia Ponte e
Polícia Militar do Estado de Goiás pela segurança em terra.

Agradecimento especial a todos que direta ou indiretamente


colaboraram para a realização de um trabalho inicial que
deverá gerar inúmeros outros que contribuirão para a
qualidade de vida dessa e das futuras gerações!

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CARTA DAS ÁGUAS DO
RIO MEIA PONTE
Num sopro de esperança eu me alegrei novamente.
Pensei que haviam desistido, me abandonado.
Minhas dores são muitas, sempre sofro bastante
quando lembro que a cidade virou as costas para esse
velho amigo aqui. Dor maior é quando me olham
como lugar de descarte de tudo aquilo que não serve
mais, jogam esgoto e até sofá velho já lançaram sobre
esse que vos fala. Meu ouvido dói quando alguém em
tom de ironia diz: isso não presta, joga no Meia
Ponte!

Ah como a 1ª Expedição pelo Rio Meia Ponte renovou


minhas energias! Eu vivia bem, mas trouxeram um
modo de vida que me tiraram esse direito. Eu gosto
das possibilidades que a cidade me traz, mas a boa
vizinhança depende de boas parcerias, muito
respeito e consciência. Tenho saudades daquele
tempo em que eu era querido, quando as pessoas
vinham me visitar, gostavam de me olhar, banhar em
meus braços, sentir o meu cheiro. Teve até um bairro
em minha homenagem: Balneário Meia Ponte!

Ninguém me conhece mais do que eu e posso afirmar


a vocês que essa lembrança pode voltar a ser uma
realidade, só preciso da ajuda de vocês. Preciso que
garantam o meu direito de existir, recuperem
minhas margens, cuidem de meus afluentes, das
minhas amigas fauna e flora, sem elas eu não
consigo sobreviver.

Passo por 39 municípios e me entristece saber que é


em nossa Capital o percurso que sou mais
maltratado. Quero melhorar minha relação com
vocês, tenho buscado fazer a minha parte, estou
fraco, sobreviver até aqui não foi fácil. É preciso que
vocês façam a parte de vocês com uma gestão de
forma consciente e que garantam o meu direito de
existir. Não sou de dar conselhos, mas preciso avisar
que a minha sobrevivência é a sobrevivência de
vocês.

Quero voltar a ser um rio com água limpa e


abundante. Meu sonho é jogar água de qualidade na
torneira da sua casa, irrigar a plantação do alimento
que chega na sua mesa. É ser um lugar bonito onde
as famílias possam ter momentos de contemplação,
descanso e lazer.

Você pode me dar um abraço?!!

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INTRODUÇÃO

Esta carta das águas apresenta informações preliminares sobre o Rio Meia Ponte no trecho
localizado em Goiânia, na Região Metropolitana, com apontamento de ações para o melhor uso
e conservação de um manancial de fundamental importância para o abastecimento de água
potável para o município que evidentemente tem passado por inúmeros desafios.
O conteúdo que será apresentado no decorrer do documento, traz informações ob�das a
par�r de a�vidades in loco da “1ª Expedição Cien�fica do Rio Meia Ponte” realizada no período
de 22 a 27 de março de 2023, que envolveu o trabalho voluntário de pesquisadores e
profissionais de diferentes áreas do conhecimento e setores da sociedade civil, que realizaram
deslocamento pela água e solo, percorrendo cerca de 45 km (quarenta e cinco quilômetros),
para realizar estudo diagnós�co sobre as condições do Rio Meia Ponte, desde a captação na
Estação de Tratamento de Água – ETA – Engenheiro Rodolfo José da Costa e Silva – Bairro
Floresta), até a região do Vale das Pombas.

Como proposta do mandato da vereadora Ká�a Maria, e aprovada por unanimidade pelo
Plenário da Casa, a “1ª Expedição Cien�fica do Rio Meia Ponte”, cons�tuiu-se de um estudo
preliminar das condições em que o manancial e as suas margens se encontram, no perímetro
urbano da cidade de Goiânia e sua região metropolitana.

A Expedição foi organizada em duas frentes de trabalho: embarcada e por terra. Para a
realização dos levantamentos de dados, os expedicionários formaram equipes para a obtenção
de informações nas seguintes áreas: recursos hídricos, resíduos sólidos, flora, fauna, uso e
ocupação do solo, educação ambiental, serviço social e vigilância sanitária, sabendo que outras
surgiriam como: economia solidária, gerenciamento de recursos hídricos, geopolí�ca,

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assistência social e cultura dentre outras. As equipes contaram com apoio de transporte e
logís�ca, alimentação, segurança (Corpo de Bombeiros, Polícia Ambiental e Polícia Militar) e
comunicação bem como de proprietários civis e ins�tuições que cederam os espaços �sicos
para realização das refeições e pernoites dos expedicionários que vieram de cidades do
interior.

O principal objetivo da Expedição era realizar uma ação que possibilitasse um diagnóstico do
Rio Meia Ponte, priorizando os limites do município de Goiânia, e a partir dos resultados,
oferecer aos gestores públicos e parlamentares, informações adequadas à criação e a
implementação de políticas públicas de proteção e recuperação do manancial que contribua
para o abastecimento sustentável da população. Entre os objetivos específicos, podemos
destacar:

Articular e estabelecer parcerias com as autoridades constituídas, empresa


concessionária de água e esgoto (Saneago), segmentos organizados, instituições
de ensino e pesquisa, entidades ambientais, proprietários rurais, proporcionando
estudos e ações que garantam a sustentabilidade quantitativa e qualitativa da
água do Rio Meia Ponte, utilizada de forma difusa, especialmente para o
abastecimento público da região Metropolitana de Goiânia, dessedentação de
animais, equilíbrio da fauna aquática, produção de alimentos, dentre outros;
Conhecer e mapear o acervo natural (nascentes/vasão, fauna, flora, ictiofauna), as
intervenções e o grau de impactos causados pelas pessoas ao longo do trecho
percorrido no manancial;
Estabelecer diálogo com os proprietários rurais/moradores, orientando quanto à
importância da preservação e do uso racional e sustentável do manancial, com
ênfase nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), num processo de Educação
Ambiental;
Identificar os pontos de maiores impactos que apresentem riscos à
sustentabilidade quantitativa e qualitativa do Rio Meia Ponte, a saber:
lançamentos de poluentes, ausência de matas ciliares, pontos de erosões e
assoreamentos, ocupações irregulares, concentração de resíduos sólidos, dentre
outros;
Elaborar um acervo ambiental do manancial, que sirva de fontes de estudos e
pesquisa para os estudantes dos ensinos básico e superior;
Apresentar os resultados do trabalho às autoridades gestoras, instituições de
ensino superior, sociedade civil organizada, órgãos de segurança pública, mídias e
à população em geral, sempre com o objetivo de conscientizar e proporcionar os
usos sustentáveis da água;
Levantar as condições do leito do manancial e das Áreas de Preservação
Permanente (APPs), identificando os pontos e as causas de assoreamento,
especialmente provenientes das estradas vicinais, áreas erosivas e de plantios
convencionais;
Identificar a realidade quanta à geração, acondicionamento e destinação de
resíduos domésticos e de agrotóxicos, gerados pelos produtores, ao longo do
manancial;

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Elaboração de um relatório substanciado para que os gestores públicos criem e
implementem políticas públicas que em parceria com a iniciativa privada possam
utilizar dessa ferramenta, e assim, minimizar e mitigar os inegáveis impactos
nocivos ao meio ambiente, como as erosões/assoreamentos, contaminações,
desmatamentos, causadores da redução dos índices pluviométricos, o que
provocam o agravamento das crises hídricas sazonais;
Instigar e incentivar estudos e pesquisas nas Instituições de Ensino Superior (IES)
e nos Sistemas de Educação Básica Públicos (SME/SEE) e privadas, proporcionando
aos docentes e discentes a oportunidade de estudarem e conhecerem os aspectos
físicos, sociais, econômicos e culturais do Rio Meia Ponte, em Goiânia. Esse
conhecimento/saber proporcionará efetivas ações de preservação, condição
essencial à perenidade desse que é o principal manancial de abastecimento da
população de Goiânia;
Potencializar, dando maior divulgação e visibilidade com ações práticas e que
representem o desenvolvimento de consciências sustentáveis no campo
ambiental, a partir dos objetivos propostos e comemorativos propostos para o dia
22 de março: “Dia Mundial da Água”;
Possibilitar e incentivar o intercâmbio entre o Poder Público, segmentos da
sociedade civil organizada, empresas, e em especial as instituições de ensino
superior e de ensino básico, proporcionando a troca de experiências entre os
docentes e assim, perenizar de forma acadêmica, ações teórico-práticas,
assegurando, coletivamente, benefícios ao meio ambiente e recursos hídricos;
Estabelecer um diálogo permanente com as lideranças comunitárias, em particular
as comunidades ribeirinhas, onde possam, poder público e moradores, garantir a
sustentabilidade econômica, social e ambiental das áreas sob influência direta do
manancial;

Vale ressaltar que os resultados dos estudos e pesquisas realizados por essa Expedição não
tiveram caráter punitivo e deverão ser utilizados pelos órgãos públicos, instituições de ensino,
pesquisa e extensão, sociedade civil organizada e empresas privadas, com a precípua
finalidade de implantação de políticas públicas e de parcerias que sejam pautadas no diálogo,
na orientação, na formação e na cooperação entre os parceiros envolvidos. Assim, passamos
a partir de agora a um breve histórico de Goiânia, os desafios ambientais que estão apontados
para os gestores, legisladores, instituições e à sociedade goianiense e da Região
Metropolitana de Goiânia.

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RESUMO DO HISTÓRICO DE GOIÂNIA

A história de Goiânia começa com as primeiras ideias de mudança da Capital em 1753, proposta
pelo, então governador da Província de Goiás, Dom Marcos de Noronha, que ambicionava
transferir a capital de Vila Boa para a atual Pirenópolis. Em 1830, o Marechal de Campo Miguel
Lino de Morais, segundo governador de Goiás Império, propôs a mudança da Capital para a
região do Tocantins, próximo de Niquelândia. A Capital de Goiás, no início do século XIX, convivia
com a estagnação econômica, provocada pelo término do ciclo do ouro na região. Outro
governador da província de Goiás, José Vieira Couto de Magalhães, retoma o assunto em 1863,
exposto em seu livro Primeira Viagem ao Rio Araguaia. “Temos decaído desde que a indústria
do ouro desapareceu. Ora, a situação de Goiás era aurífera. Hoje, porém, está demonstrado que
a criação do gado e agricultura valem mais do que quanta mina de ouro há. Continuar a capital
aqui, é condenar-nos a morrer de inanição, assim como morreu a indústria que indicou a escolha
deste lugar”.

A discussão sobre a necessidade de mudança da capital prosseguiu. A constituição do Estado de


1891, inclusive sua reforma de 1898 e a de 1918, previa taxativamente a transferência da sede
do governo, havendo disposto esta última em seu Artigo 5º: “A cidade de Goiás continuará
sendo a capital do estado, enquanto outra coisa não liberar o Congresso”. Mas foi somente com
o advento da revolução de 30, em 1933, que o interventor Federal, Pedro Ludovico Teixeira,
tomou providências a respeito da edificação da cidade, tornando realidade um sonho que já
durava 180 anos.

O objetivo político de Pedro Ludovico Teixeira seguiu em conformidade com a Marcha para o
Oeste, movimento criado pelo governo de Getúlio Vargas para acelerar o progresso e a
ocupação do Centro-Oeste incentivando as pessoas a migrarem para o centro do país, onde
havia muitas terras desocupadas. A implantação de tal projeto só seria possível com a garantia
de uma infraestrutura básica ligando o Centro-Oeste ao Sul do País. As medidas adotadas pelo
interventor foram: a mudança da capital, construção de estradas internas e a reforma agrária.
Criou-se, em 20 de dezembro de 1932, uma comissão encarregada de escolher o local no qual
seria construída a nova capital. O relatório da comissão apontou um sítio nas proximidades do
povoado de Campinas, local do atual bairro de Campinas, como lugar ideal para a edificação
da futura capital.

Em 6 de julho do ano seguinte, Pedro Ludovico baixou um decreto, encarregando o urbanista


Atílio Corrêia Lima da elaboração do projeto da nova capital. Outro urbanista, Armando de
Godói, formado na Suíça e na França de onde acabara de voltar, reformulou o antigo projeto,
inserindo o parcelamento do Setor Oeste e fortes mudanças no arruamento do Setor Sul. Em
1935, Armando assinou o plano diretor da cidade. A pedra fundamental da cidade de Goiânia
foi lançada em 24 de outubro de 1933 por Pedro Ludovico Teixeira, como homenagem aos três
anos do início da Revolução de 1930, em pleno altiplano, onde se encontra atualmente o Palácio
das Esmeraldas, na Praça Cívica. O local foi determinado pelo urbanista Atílio Corrêia Lima.

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DESAFIOS AMBIENTAIS E PROPOSTA
PARA OS GESTORES, LEGISLADORES, INSTITUIÇÕES E
À SOCIEDADE DE GOIÂNIA E REGIÃO METROPOLITANA

Após mais de oito décadas, desde a sua construção, Goiânia passou de uma população de poucos
milhares, para cerca de 1,5 milhão de habitantes (densidade de 357 hab/km², em uma área de
728,841 km² do município), sendo a sua Região Metropolitana constituída por 20 (vinte) municípios,
o que soma uma população de aproximadamente 2,3 milhões de habitantes. Dessa forma, são
inquestionáveis os significativos impactos ambientais e seus desafios para uma gestão sustentável
do ponto de vista ambiental, social e econômico.

A proposta de realização da 1ª Expedição pelo Rio Meia Ponte, demonstra o comprometimento com
a sustentabilidade socioambiental do município e toda Região Metropolitana, propondo um trabalho
que contribua efetivamente para a solução dos problemas e enfrentamento dos desafios
relacionados ao saneamento básico, em especial, à questão do abastecimento hídrico, em termos
de quantidade e da qualidade disponibilizadas para cerca de 2,3 milhões de pessoas. Consideramos
ser fundamental a realização desse amplo e substancioso trabalho de campo, que resultou em um
diagnóstico que pode subsidiar tecnicamente a elaboração de prognósticos que visem à elaboração
e efetivação de políticas públicas que garantam a sustentabilidade hídrica da Bacia do rio Meia Ponte,
que representa a principal fonte de abastecimento de mais de dois milhões de pessoas residentes
em toda Região Metropolitana de Goiânia.

Outro aspecto a ser considerado, está no fato de que o Rio Meio Ponte, representa um essencial
indutor de desenvolvimento socioeconômico para 50% de toda população do estado de Goiás,
representando ainda, um grande valor ambiental agregado ao longo de seus 472 km, desde a sua
nascente principal, no município de Itauçu (GO), passando pela Região Metropolitana de Goiânia, e
seguindo em direção ao sul de Goiás, desembocando no Rio Paranaíba, nos municípios de Itumbiara
e Cachoeira Dourada (GO).

Durante todo trajeto, o Rio Meia Ponte é explorado de forma difusa, especialmente para o
abastecimento humano, dessedentação de animais, irrigação para a produção de alimentos, geração
de energia (Usina Rochedo), mineração, pesca, turismo e lazer. O rio Meia Ponte requer e merece a
efetivação de políticas públicas e um trabalho efetivo dos beneficiários ao longo do manancial, pois
representa um dos mais importantes e estratégicos rios de Goiás.

Considerando ser fundamental que nossas ações, especialmente na questão ambiental, devam se
pautar na preservação e na possível recuperação dos danos já constatados, a Câmara Municipal de
Goiânia, por meio da coordenação do mandato da vereadora Kátia, vem propor e trabalhar por um
grande pacto socioambiental, envolvendo gestores, parlamentares, instituições de ensino e
pesquisa, órgãos de controle e fiscalização, sociedade civil, empresas e a população em geral, com o
objetivo primordial de cuidarmos efetivamente da Bacia do Rio Meia Ponte, sempre de forma
responsável, equilibrada e sustentável, para que tenhamos hoje e para as gerações futuras, água em
quantidade e qualidade para toda essa crescente população.

Para esse desafiador trabalho, contamos com a participação e o apoio de órgãos governamentais,
instituições de ensino e pesquisa, sociedade civil organizada, comunidades ribeirinhas e da
população em geral.

Vamos juntos (as) com destemida disposição, trabalhar de forma qualificada e comprometida pela
sustentabilidade hídrica. Nas páginas seguintes, serão apresentados os resultados do trabalho de
campo realizado durante a 1ª Expedição pelo Rio Meia Ponte, que guiará o trabalho de prognóstico
na próxima fase do projeto. Abrace o Meia Ponte!!!

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USO DO SOLO E IMPACTOS AMBIENTAIS
EQUIPE LABOGEF
Profª. Drª. Karla Maria Silva de Faria- Coordenadora
Cristinei de Faria Nunes - Mestrado em Geografia
Aline Bentes Pinto - Mestrado em Geografia

EQUIPE LAPIG
Prof. Dr. Manuel Eduardo Ferreira
João Vitor Silva Costa - Doutorando em Ciências Ambientais
Giovanna Dias Oliveira - Graduanda em Ciências Ambientais
Sara Fernandes Martins dos Santos - Graduanda em Ciências Ambientais
Prof. Dra. Andrelisa Santos de Jesus

A Bacia Hidrográfica do Meia Ponte tem enorme importância para a região Centro-Sul do estado
de Goiás, interligando 39 municípios, numa área aproximada de 12.180 km2 (SEMAD, 2023). O
seu principal leito, o rio Meia Ponte, percorre da nascente (Itauçu) até a foz (Itumbiara) cerca de
471,6 km (CALIL et al., 2012), quando deságua no rio Paranaíba, divisa entre os estados de Goiás
e Minas Gerais.

Mas é na Região Metropolitana de Goiânia (RMG) que este rio exerce fundamental papel no
abastecimento público de água, ao atender uma população superior a 2,5 milhões de habitantes,
juntamente com o seu principal afluente, o rio João Leite. É também onde este rio se transfigura,
especialmente ao cortar inúmeras zonas urbanas, numa extensão de 40 km (linear),
percorrendo, no sentido Noroeste-Sudeste, seis regiões administrativas: Região Noroeste,
Região do Vale do Meia Ponte, Região Norte, Região Central, Região Leste e Região Sudeste.
Forma-se, assim, uma rede de drenagem com contribuição de escoamentos superficiais de
outras sub-bacias urbanas, como a dos rios Cascavel, Anicuns, Botafogo e Macambira.

Vários pesquisadores, a citar Araújo, Rubin e Silva (2006), Barrera e Nucada (2011), Goularte,
Marcuzzo e Macedo (2013), Sakai (2015), Ribeiro, Oliveira e Vila Verde (2021), entre outros,
tratam o Meia Ponte como um rio, em área urbana de Goiânia e região metropolitana, marcado
pela elevada poluição em decorrência de intensa ocupação antrópica, onde lançamentos diários
de esgoto e resíduos sólidos são a regra. Tal fato propicia enorme contraste ambiental e social,
pois Goiânia é a maior beneficiada pelo abastecimento proveniente da bacia do Meia Ponte,
porém comprometendo municípios a 150 km à jusante, com uma água de péssima qualidade
(ANA, 2011).

A atual discussão sobre responsabilidades socioambientais exige que a sociedade adote


posturas mais adequadas e mitigadoras aos impactos promovidos nos ambientes urbanos, o que
demanda permanente diagnóstico e prognóstico da realidade e dos ambientes afetados.

A dimensão da problemática socioambiental do Rio Meia Ponte em Goiânia analisada pelas


equipes durante a expedição em campo, e também em atividades pós-campo, nos permite
apresentar as impressões preliminares de cada comissão.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Visitas em campo para coletas de dados in loco sobre a temática de uso do solo e
impactos ambientais;
Aplicação do Protocolo de Avaliação Rápida (PAR) em diversos pontos amostrais;
Definição de buffer de 3 km para análise de atividades impactantes ao Rio Meia Ponte,
considerando o entorno dos canais de primeira ordem e delimitação de Área de
Preservação Permanente (APP) de 50 metros e 100 metros;
Identificação do uso e ocupação do solo nas áreas de APP, com base em dados históricos
do projeto MapBiomas;
Identificação de pontos de impactos ambientais relacionados à erosão linear e fluvial,
bancos de assoreamento, aterramento de APP e atividades de mineração;
Validação do Mapa de Impactos Ambientais com dados coletados em campo.

CARACTERIZAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E IMPACTOS AMBIENTAIS


NO TRECHO URBANO DO RIO MEIA PONTE

A identificação dos impactos ambientais (Figura 01) aponta a existência de 31 pontos de


assoreamentos; 2 aterramentos; 9 erosões lineares; 04 erosões fluviais; 1 rompimento de
manilha e duas atividades impactantes não coincidentes com usos urbanos (pivôs de irrigação e
mineradora).

Figura 01 - Localização dos pontos de impactos ambientais localizados às margens do Rio Meia Ponte,
em trecho urbano na capital Goiânia, referente a março de 2023.

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A espacialização dos pontos de impactos indica forte concentração de bancos de assoreamento
na região de confluência da sub-bacia do Rio Botafogo e Anicuns (Figura 02) e da sub-bacia do
Água Branca. Este fato evidencia a forte contribuição de sedimentos provenientes das sub-
bacias afluentes do Meia Ponte na área urbana de Goiânia.

Figura 02 - Banco de areia contaminado com efluentes, lixo doméstico e entulhos diversos, localizado na
confluência da sub-bacia do Rio Botafogo e Anicuns, próximo ao encontro
do Rio Meia Ponte, trecho Goiânia

A referenciação a sedimentos urbanos busca destacar que não se trata de bancos de areia, mas
sim de material arenoso associado com resíduos de construção civil ou outros resíduos, que não
são utilizados em práticas de aterramento em APP.

Os processos erosivos lineares, bem como os fluviais, foram observados também concentrados
na confluência das redes de drenagem. Tais impactos também contribuem com a produção de
sedimentos para o leito do canal e tornam-se passivos ambientais da bacia. Tais processos estão
associados a problemas no sistema de drenagem urbana como rompimento ou ausência de
sistema de drenagem e lançamento concentrado e acima da capacidade de resistência do corpo
hídrico (Figura 03).

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Figura 03 - Exemplos de processos erosivos lineares (voçorocas, foto à esquerda) e fluviais (foto à
direita), observados em redes de drenagem de afluentes do Rio Meia Ponte, trecho Goiânia.

Em conformidade com a lei complementar Nº 349, de 04 de março de 2022, foi considerada APP
a faixa bilateral de 100 metros para o Rio Meia Ponte e 50 metros para os demais cursos hídricos.
A classificação de uso e cobertura do solo (MapBiomas Brasil, https://mapbiomas.org/) indicou
que quase metade da área analisada (47,66%) é composta por classes de uso antrópico (figura
04). Mesmo nas áreas com vegetação nativa, é notória a presença de atividades irregulares, tais
como currais e galinheiros (criação porcos, bovinos e aves), depósito de entulhos (ferro-velhos),
captação irregular de água ou o lançamento irregular de efluentes, especialmente nos trechos
mais urbanizados.

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Figura 04 - Mapa de uso e cobertura do solo ao longo das APPs do Rio Meia Ponte e afluentes, ilustrando
a ocupação destas faixas no ano de 2021, trecho Goiânia.

Apesar de não ser a maior representação em área, a ocupação urbana na faixa de APP foi a
principal causa de degradação do trecho observado por conta do acúmulo de lixo e de

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lançamentos da rede pluvial, os quais por vezes trazem esgoto clandestino e água servida de
milhares de habitações próximas ao Rio Meia Ponte ou de seus afluentes.

Quadro 1. Área das classes de uso antrópico ao longo das APPs na bacia do Rio Meia Ponte (trecho
Goiânia), com base nos dados do projeto MapBiomas referentes ao ano de 2022.

Classes MapBiomas Área Área agrupada %


Classes agrupadas (2021) (ha) (ha)

Área urbana 450,2

Área urbana 456,02 13,04


Outras áreas não 5,82
vegetadas

Campo alagado e área 85,3


pantanosa

Formação florestal 1711,35


Área natural 1830,55 52,34

Rios e lagos 33,9

Mosaico de usos 815,02

Outras lavouras 6,69

Outras áreas
1211,02 34,62
antropizadas
Pastagem 388,81

Silvicultura 0,5

Dos 9 pontos avaliados com a aplicação do Protocolo de Avaliação Rápida (PAR) durante a
expedição, a deposição de sedimentos foi observada em 8 deles. A deposição de sedimentos
causa assoreamento, gerando pontos de estrangulamento. Quanto às margens do Rio Meia
Ponte, 8 destes pontos foram classificados como instáveis. Em todos os 9 pontos (100% das áreas
amostradas), foi possível observar a ausência de vegetação ou modificação desta nas margens
do Rio Meia Ponte; quando havia vegetação, esta era composta predominantemente por
espécies exóticas e/ou invasoras. Ao todo, foram observados 4 pontos com lançamento de águas
pluviais, 2 pontos com lançamento de esgoto, 2 pontos com lançamento de água servida e 1

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ponto com possível lançamento de efluente industrial. Ainda nestes pontos, em 4 foi possível
verificar forte odor e em outros 5 a presença de espuma na água. Foram observados 4 pontos
com sinais de alagamento. Materiais flutuantes foram observados em 5 pontos, sendo que em
todos os pontos com análise PAR, foi observado grande quantidade de lixo acumulado. Também
foi observada a presença de animais em 6 pontos (bovinos, suínos e aves), com animais mortos
em pelo menos 2 pontos (dentro de cursos d`água). Foi flagrada também a extração de areia em
1 ponto, na confluência da sub-bacia do Rio Botafogo e Anicuns, com deságue no Rio Meia Ponte.
O quadro 2 resume o estado de qualidade do Rio Meia Ponte nos 9 pontos onde o método PAR
foi aplicado, o qual poderia assumir 5 classes: péssima, ruim, razoável, boa e ótima.

Quadro 2. Qualidade do Rio Meia Ponte nos pontos amostrados com o método PAR.

PAR_1 Ruim PAR_6 Razoável

PAR_2 Razoável PAR_7 Razoável

PAR_3 Ruim PAR_8 Ruim

PAR_4 Ruim PAR_9 Ruim

PAR_5 Ruim

CONSIDERAÇÕES FINAIS - COBERTURA E USO DO SOLO

As análises preliminares da temática Uso e Cobertura do Solo para o Rio Meia Ponte,
especialmente na RMG, apontam para um intenso processo de ocupação das APPs ao longo
deste canal hidrográfico e também para os seus afluentes, com a presença de processos erosivos
Lineares e Fluviais, especialmente nos canais de 1ª ordem, que contribuem, portanto, com a
produção de sedimentos direcionada para o Rio Meia Ponte.

Existe a necessidade de avaliação das atividades de alto impacto instaladas na área de entorno
do Rio Meia Ponte (tais como mineração e indústrias), bem como a elaboração de mapa de uso
do solo em nível de detalhe para calcular o índice de impermeabilização, visando correlacionar
com outros dados de infraestrutura.

Além dos vários diagnósticos, a realização desta expedição propiciou um positivo estreitamento
entre as instituições participantes (universidades, agências governamentais e ONGs), com
elevado potencial para o desenvolvimento de pesquisas, programas de monitoramento e
políticas públicas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANA. Panorama da Qualidade das águas superficiais no Brasil: Agência Nacional das Águas –
Brasília, 2012.

ARAUJO, E. S.; RUBIN, J. C. R. de; SILVA, R. T. da. Patrimônio natural de Goiânia: ontem e hoje.
In - Formas e Tempos da Cidade. Goiânia; Cânone Editorial, Ed UCG, 2007

BARRERA, C.C.M. A.; NUCADA, M. K. Rio Meia Ponte e córregos que serpenteiam a cidade de
Goiânia. Revista Mosaico, v1. n.2, p. 206-214, jul.,dez./2008.

Calil, P. M.; Oliveira, L. F. C. de; Kliemann, H. J.; Oliveira, V. A. de. Caracterização


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em: <https://www.meioambiente.go.gov.br/noticias/1592-bacia_meiaponte.html>. Acesso
em: 22 de maio de 2023

17
FAUNA, ENTOMOFAUNA E FLORA

Prof. Dr. Carlos de Melo e Silva Neto


Prof. Dr. Herick Soares de Santana

O método de registro de fauna utilizado foi por identificação visual em cada um dos pontos
visitados. A definição dos pontos amostrais considerou tanto regiões à montante (acima) da
cidade de Goiânia, como ao longo da região de influência da cidade. Em cada local foram
realizados registros dos animais e de situações que envolvem a conservação da biota que vive
no rio Meia Ponte, em seus afluentes e às margens desses locais. A fim de complementar a
amostragem de peixes, foram realizados arrastos em locais com menor profundidade e vazão
do rio. Dados indiretos obtidos por meio de outras amostragens também foram utilizados a fim
de demonstrar a riqueza de espécies existentes no rio Meia Ponte.

RESULTADOS

Ao longo dos percursos foram realizados registros de diferentes grupos animais: insetos,
répteis, aves, peixes e mamíferos. A identificação da maioria dessas espécies é difícil devido à
dificuldade de captura para visualizar características distintivas entre as espécies, contudo, cabe
destacar que os registros colaboram para o conhecimento popular e técnico da fauna que habita
a área de influência do rio Meia Ponte.

Seguem imagens com os registros realizados e uma breve descrição de cada uma:

Figura 1. Imagens que destacam um ponto focal de mortandade de peixes próximo a uma saída de água
pluvial. Não foi possível identificar qual o poluente causou a morte dos peixes, mas há indícios de
produtos de limpeza/lavagem.

18
(A) (B)

Figura 2. (A) Foram registrados macacos-prego e também guaribas em locais próximos às casas/bairros
localizados às margens do rio Meia Ponte. Destacamos que havia macacas “brincando” com garrafas pet
e lixo doméstico, fatos desencadeados pela alta densidade populacional e pelo descarte inadequado de
lixo. (B) Iguana registrada em um ponto de extração de areia na confluência dos córregos Anicuns e
Botafogo.

Figura 3. Macroinvertebrados bentônicos (larvas de insetos aquáticos) e peixes amostrados em um


tributário do rio Meia Ponte.

19
Figura 4. Registro de cágado realizado no mesmo ponto amostral dos macroinvertebrados
bentônicos e dos peixes.

Figura 5. Ao longo das amostras foram realizados diversos registros de fezes de capivaras. Nota-se que
há grandes grupos que vivem às margens do rio.

Ao longo das amostras foram realizados diversos registros de fezes de capivaras. Nota-se que há
grandes grupos que vivem às margens do rio.

Na tabela (Tabela 1) abaixo estão registros de peixes amostrados em tributários do Meia Ponte
no ano de 2009. Essas amostras foram realizadas por meio de pesca elétrica e estão depositados
no Centro de Biologia Aquática da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GOIÁS), em
Goiânia, GO.

20
Tabela 1. Espécies de peixes amostradas em
tributários do rio Meia Ponte no ano de 2009.

Espécie Nome popular

Astyanax altiparanae Lambari

Psalidodon Eigenmanniorum Lambari

Psalidodon jequitinhonhae Lambari

Astyanax scabripinnis Lambari

Piabarchus stramineus Lambari

Piabina argentea Lambari

Serrapinnus sp. Lambari

Characidium fasciatum Canivete

Characidium gomesi Canivete

Characidium zebra Canivete

Apareiodon ibitiensis Canivete

Poecilia reticulata Barrigudinho

Gymnotus carapo Carapó

Aspidoras fuscoguttatus -

Hypostomus ancistroides Cascudo

21
Hypostomus plecostomu Cascudo

Hypostomus sp. 4 Cascudo

Cetopsorhamdia iheringi -

Cetopsorhamdia sp. -

Rhamdia quelen Jundiá

CONSIDERAÇÕES / RECOMENDAÇÕES

A partir das amostras e visualizações realizadas foi possível verificar que a fauna associada ao
Rio Meia Ponte está gravemente ameaçada por questões antrópicas. Seguem pontos
importantes que merecem atenção:

A quantidade exorbitante de resíduos domésticos e industriais que chegam ao rio Meia Ponte
faz com que a comunidade aquática seja restrita a espécies que toleram condições ambientais
mais agressivas, ou seja, espécies sensíveis tendem a se tornar cada vez mais raras na região.

Em alguns pontos, mesmo utilizando rede de arrasto, nenhum espécime de peixe foi amostrado,
indicando uma clara dificuldade na persistência de animais desse grupo.

A ausência de mata ciliar tem agravado muito as erosões e o assoreamento do rio. Implementar
ações de reconstrução e preservação das nascentes e matas ciliares se faz urgente, pois é um
fator fundamental para a estruturação dos ecossistemas aquáticos.

O acúmulo de aves e até mesmo répteis em pontos como a confluência dos córregos Botafogo
e Anicuns não é um sinal de área conservada, mas sim a consequência de um grande acúmulo
de lixo, atraindo esses animais para se alimentarem desses resíduos.

Relatos de moradores indicam que algumas pessoas pescam em locais poluídos para se
alimentar ou mesmo vender em feiras de Goiânia. Esse relato indica a necessidade de trabalhos
junto à população visando, para além da preservação ambiental, a segurança alimentar, já que
não sabemos as consequências para a saúde humana da ingestão de peixes provenientes de
áreas com alta concentração de lixo e esgoto.

Estas constatações reforçam a necessidade de realizar amostragens com maior rigor e de forma
contínua. Amostragens contínuas possibilitarão um levantamento fidedigno da fauna da região,
realização de diagnósticos em relação à toxicidade e impactos do lançamento de esgotos sobre
as comunidades aquáticas. Para concretizar esta ação, é necessário que o poder público,
juntamente com as instituições de pesquisa, se organizem e tomem frente, tanto em relação à
manutenção das áreas de preservação, quanto da averiguação e fiscalização das diferentes
fontes de poluição, bem como a realização de pesquisas.

22
ENTOMOFAUNA

Biólogo Welington Tristão da Rocha

O aumento da consciência ambiental da sociedade em geral em relação aos impactos e


alterações causadas ao meio ambiente, tem estimulado uma procura maior de promover a
sustentabilidade na utilização dos recursos naturais.

De acordo com Berti (2015), esta alteração advinda das atividades antrópicas, fez com que
houvesse no Brasil, a implementação de uma série de medidas com o objetivo de avaliar o
impacto do ser humano sobre o meio ambiente, dentre elas, cita-se, por exemplo, o estudo de
novas formas de gestão ambiental e de exigências mais criteriosas nos processos de avaliação.

A importância dos inventários da Entomofauna apresenta grande relevância ambiental, pois é


possível identificar ao longo de um determinado período de amostragem variações
populacionais das diversas espécies que compõe um determinado grupo ecológico estudado. O
monitoramento torna-se necessário para identificar possíveis variações sazonais das principais
espécies vetoras, principalmente aquelas definidas como chave, ou que já apresentaram
constantes ao longo do ano.

O monitoramento das populações de insetos vetores em seus habitats é essencial para o


planejamento e efetivação de ações que visam minimizar os impactos, além de ser uma forma
muito eficaz de mostrar a resposta de uma população às mudanças causadas em seu ambiente.
Deve-se destacar ainda que o Cerrado é considerado um hotspot da biodiversidade, que são
áreas de grande relevância ecológica em função da grande diversidade de espécies, alta
proporção de espécies endêmicas e alto grau de ameaça, devendo ser estudado e conservado
em relação à toda a sua diversidade biológica.

A partir das informações obtidas nos monitoramentos pode-se, realmente, propor planos de
contingências, manejo e desta forma utilizar o monitoramento como forma de compensação
nas alterações ambientais que surjam ao longo do processo.

ÁREA DE ESTUDO

23
Tabela 1. Unidades Amostrais da 1ª Expedição pelo Rio Meia Ponte. UA – Unidades Amostrais.

ÁREAS DATUM SIRGAS 2000 (UTM) MARGEM

UA1 22K 679288 / 8166368 Direita

UA2 22K 681920 / 8164028 Esquerda

UA3 22K 686000 / 8159150 Esquerda

UA4 22K 686813 / 8158346 Direita

UA5 22K 691390 / 8157239 Direita

UA6 22K 691443 / 8157352 Direita

UA7 22K 696033 / 8149501 Direita

FEBRE AMARELA

A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por
mosquitos vetores, e possui dois ciclos de transmissão: silvestre (quando há transmissão em
área rural ou de floresta) e urbano. O vírus é transmitido pela picada dos mosquitos
transmissores infectados e não há transmissão direta de pessoa a pessoa. A febre amarela tem
importância epidemiológica por sua gravidade clínica e potencial de disseminação em áreas
urbanas infestadas pelo mosquito Aedes aegypti.

É uma doença de notificação compulsória imediata, ou seja, todo evento suspeito (tanto morte
de primatas não humanos, quanto casos humanos com sintomatologia compatível) deve ser
prontamente comunicado, em até 24 horas após a suspeita inicial, às autoridades locais
competentes pela via mais rápida (telefone, fax, email, etc). Às autoridades estaduais de saúde

24
cabe notificar os eventos de febre amarela suspeitos ao Ministério da Saúde. Atualmente, a
febre amarela silvestre (FA) é uma doença endêmica no Brasil (região amazônica).

Na região extra-amazônica, períodos epidêmicos são registrados ocasionalmente,


caracterizando a reemergência do vírus no País. O padrão temporal de ocorrência é sazonal,
com a maior parte dos casos incidindo entre dezembro e maio, e com surtos que ocorrem com
periodicidade irregular, quando o vírus encontra condições favoráveis para a transmissão
(elevadas temperatura e pluviosidade; alta densidade de vetores e hospedeiros primários;
presença de indivíduos suscetíveis; baixas coberturas vacinais; eventualmente, novas linhagens
do vírus), podendo se dispersar para além dos limites da área endêmica e atingir estados das
regiões Centro.

No ciclo silvestre da febre amarela, os primatas não humanos (macacos) são os principais
hospedeiros e amplificadores do vírus e os vetores são mosquitos com hábitos estritamente
silvestres, sendo os gêneros Haemagogus e Sabethes os mais importantes na América Latina.
Nesse ciclo, o homem participa como um hospedeiro acidental ao adentrar área de mata.

As leishmanioses são um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero


Leishmania e da família Trypanosomatidae. De modo geral, essas enfermidades se dividem em
leishmaniose tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e leishmaniose visceral,
que ataca órgãos internos.

Não há vacina contra as leishmanioses humanas. As medidas mais utilizadas para a prevenção
da doença se baseiam no controle de vetores e dos reservatórios, proteção individual,
diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, manejo ambiental e educação em saúde.

As principais orientações são o uso de repelentes, evitar os horários e ambientes onde esses
vetores possam ter atividade, a utilização de mosquiteiros de tela fina e, dentro do possível, a
colocação de telas de proteção nas janelas. Outras medidas importantes são manter sempre
limpas as áreas próximas às residências e os abrigos de animais domésticos; realizar podas
periódicas nas árvores para que não se criem os ambientes sombreados; além de não acumular
lixo orgânico, objetivando evitar a presença de mamíferos próximos às residências, como
marsupiais e roedores, que são prováveis fontes de infecção.

FEBRE MACULOSA

Doença infecciosa com uma erupção característica, muitas vezes transmitida pela picada de um
carrapato.

A febre maculosa é uma doença possivelmente fatal que costuma ser causada pela picada de
um carrapato infectado com bactérias da família Rickettsia.

Os sintomas incluem febre, dor de cabeça e dores musculares. Pode haver erupções, geralmente
com pele escura ou crosta no local da picada de carrapato.

No Brasil, os principais vetores são os carrapatos do gênero Amblyomma, tais como A.sculptum
(A. cajennense) conhecido como carrapato estrela. Entretanto, potencialmente, qualquer
espécie de carrapato pode albergar a bactéria causadora da Febre Maculosa, como por exemplo,
o carrapato do cachorro.

ENTOMOFAUNA VETORA

25
O monitoramento de insetos (díptera/Culicidae) vetores de agentes patogênicos foi realizado
em todas as unidades amostrais relacionadas na Tabela 1. Ao longo da execução da Expedição
foi abordada a metodologia de coleta ativa do tipo Amostragem Humana Protegida com a
utilização de aspirador bucal e rede entomológica.

Figura 1. Método de captura utilizando puçá entomológico na área de influência


direta do Rio Meia Ponte.

ISCA HUMANA

Para captura, empregou-se a técnica da “isca humana”, onde o coletor ficou exposto para servir
de atrativo e coletar os insetos com um aspirador bucal. As coletas contemplaram o período
crepuscular-noturno.

ASPIRADOR BUCAL

O aspirador bucal consiste de um frasco de vidro de 10 cm de comprimento e 3 cm de diâmetro,


com a abertura fechada com rolha traspassada por dois tubos de vidro ou plástico. Um dos tubos
apresenta a extremidade protegida por uma tela fina e conectada a um garrote de borracha,
com 40 cm de comprimento, pelo qual o coletor realiza aspiração bucal, promovendo no
segundo tubo uma pressão suficiente para sugar os insetos, os quais ficam retidos no interior
do frasco.

26
RESULTADOS

Durante a realização da 1ª Expidição do Rio Meia Ponte foram registrados 25 espécimes,


distribuídas em 1 ordem (Díptera), 2 famílias (Cullicidade e Psychodidae) e 4 Gêneros (Aedes,
Anopheles, Culex, Brumptomyia).
As espécies com maior abundância relativa, entre os 25 espécimes capturados foram o Aedes
albopictus, que apresentou a maior entre elas com 34,6% do total amostrado e logo em sendo
seguida pela espécie Psorophora ferox.
O Ae.albopictus são indicados como agentes responsáveis pela transmissão da dengue e febre
amarela urbana (Fundação Nacional de Saúde, 1994). A espécie P. ferox foi a segunda mais
representativa e assume papel significativo na dispersão de Miías.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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estratégica no contexto da fronteira agrícola brasileira. 2015. 327 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Engenharia Urbana, Centro de Ciências Exatas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos,
2014.

https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/febre-amarela-sintomas-transmissao-e-prevencao

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa

Fundação Nacional de Saúde, 1994. https://portal.fiocruz.br/doenca/leishmaniose

FLORA
Prof. Dr. Carlos de Melo e Silva Neto
Prof. Dr. Herick Soares de Santana

Para o estudo da vegetação nas áreas adjacentes e áreas de preservação permanente do Rio
Meia Ponte na região metropolitana de Goiânia foram definidos três locais prioritários para a
amostragem. Os pontos foram definidos como a montante na entrada de Goiânia (Área externa;
coordenadas geográfica: -16.579665, -49.320497), área mais adentro da cidade, ainda com
vegetação de proteção (Área intermediaria; coordenadas geográfica: -16.624835, -49.272006)
e área dentro da cidade com pouca ou nenhuma proteção por vegetação (Área central;
coordenadas geográfica - 16.643435, -49.265204), sendo essas áreas definidas de acordo com a
entrada do rio dentro da cidade, no intuito de avaliar o impacto da cidade sob o rio.

Em cada localidade foi utilizado o método de caminhamento para amostragem da vegetação


(Filgueiras et al., 1994). Nesse método, toda nova espécie que foi encontrada na localidade foi
anotada e fotografada, especialmente quando apresentada estrutura reprodutiva. Quando a
espécie foi desconhecida, foram coletadas material para identificação a posteriori utilizando
guias botânicos e comparação com material de herbário. Os principais guias utilizados para
comparação foram Silva-Junior e Pereira (2009) e Kuhlmann e Fagg (2012). As espécies foram
classificadas segundo classificação do Angiosperm Phylogeny Group IV (APG, 2016).

27
A partir da lista de ocorrência de espécies nos diferentes pontos amostrados foram estruturados
em comparação da riqueza de espécies, número de espécies invasoras (espécies exóticas ao
Cerrado de dispersão agressiva), além do hábito de crescimento de cada espécie, usos pela
comunidade e síndrome de polinização e dispersão. Por último, foram destacadas as espécies
que apresentam algum status de proteção e/ou ameaça de extinção segundo critérios estadual,
internacionais (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás
- SEMAD, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e
International Union for Conservation of Nature - IUCN). Para registro, fotos das espécies e dos
locais foram inseridos ao longo deste documento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No estudo foram encontradas ao todo 152 espécies botânicas de um total de 50 famílias


botânicas. Todas as espécies estão descritas na tabela 1 com registro da família botânica, nome
comum e nome científico.

Tabela 1. Lista de espécies e famílias botânicas encontradas nas áreas adjacentes


ao Rio Meia Ponte em Goiânia, GO.

FAMÍLIA BOTÂNICA NOME COMUM NOME CIENTÍFICO

Alstroemeriaceae Flor vermelha Alstroemeria sp.

Amaranthaceae Caruru de porco Amaranthus spinosus L.

Amaranthaceae Ginsen-brasileiro Pfaffia tuberosa (Spreng.) Hicken

Anacardiaceae Caja-manga Spondias dulcis Parkinson.

Anacardiaceae Cajueiro Anacardium occidentale L.

Anacardiaceae Mangueira Mangifera indica L.

Anacardiaceae Seriguela Spondias purpurea L.

Anacardiaceae Aroeira-branca Lithraea brasiliensis Marchand

Astronium urundeuva (M.Allemão)


Anacardiaceae Aroeira Engl.

Anacardiaceae Gonçalo Alves Astronium fraxinifolium Schott.

28
Annonaceae Ata Annona squamosa L.

Annonaceae Pindaiba do brejo Xylopia sericea A.St.-Hil.

Apocynaceae Serralha tropical Asclepias curassavica L.

Araceae Nhame Colocasia esculenta Schott

Araceae Sigonio Syngonium angustatum Schott

Arecaceae Coqueiro da bahia Cocos nucifera L.

Arecaceae Gueroba Syagrus oleracea Becc.

Arecaceae Bacuri Attalea phalerata Mart. ex Spreng.

Arecaceae Palmeira Imperial Roystonea oleracea (Jacq.) O.F. Cook.

Buva Conyza bonariensis (L.) Cronquist

Vernonanthura polyanthes (Sprengel)


Assa peixe Vega & Dematteis

Vernonanthura condensata (Baker) H.


Boldo baiano Rob.

Margaridão Tithonia diversifolia. (Hemsl)

Asteraceae Mucuna preta Mucuna aterrima (Piper & Tracy)

Ipê amarelo caraiba Handroanthus caraiba (Mart.) Mattos

Handroanthus ochraceus (Cham.)


Ipê amarelo ochracea Mattos

Handroanthus serratifolius (Vahl)


Ipê amarelo serrati S.Grose

Handroanthus heptaphyllus (Vell.)


Bignoniaceae Ipê roxo Mattos

Boraginaceae Louro branco Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Cham.

29
Caricaceae Mamoeiro Carica papaya L.

Cecropiaceae Embauba Cecropia pachystachya Trécul

Cleomaceae Cleome Cleome sp.

Combretaceae boca boa Buchenavia tomentosa Eichler

Combretaceae Sete-copa Terminalia catappa L.

Commelinaceae Commelina comum Commelina communis Dalz & Gibs.

Convolvulaceae Corda de viola Ipomoea purpurea (L.) Roth

Convolvulaceae Ipomea vermelha Ipomoea quamoclit L.

Cucurbitaceae Melão de são Caetano Momordica charantia L.

Cucurbitaceae Bucha Luffa cyllindrica (L.) Roem.

Dioscoreaceae Caramoela Dioscorea bulbifera L.

Eleocharaceae Eleocharis comum Eleocharis sp.

Mandioca Manihot esculenta Crantz

Mamona Ricinus communis L.

Alchornea triplinervia (Sprengel).


Tanheiro Mueller

Erva de mosquito Euphorbia hirta L.

Euphorbiaceae Sangra d'água Croton urucurana Baill.

Inga Inga vera Willd.

Fabaceae Ingá bola Inga cylindrica (Vell.) Mart.

30
Ingá-banana Inga laurina (Sw.) Willd.

Jatoba-da-mata Hymenaea courbaril L.

Guapuruvu Schizolobium parahyba (Vell.) Blake

Fedegoso Senna alata (L.) Roxb.

Fedegoso Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby

Senna occidentalis (L.) H.S. Irwin &


Fedegoso R.C. Barneby

Senna martiana (Benth.) H.S. Irwin &


Fedegoso Barneby

Fedegoso Senna alata (L.) Roxb.

Leucena Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit

Banha de galinha Swartzia cf. oblata R.S. Cowan

Dormideira Mimosa pudica L.

Pata de vaca folha miuda Bauhinia brevipes Vogel.

Piptadenia gonoacantha (Mart.)


Pau-jacaré J.F.Macbr.

Sombreiro Clitoria fairchildiana R.A.Howard

Angelim rosa Andira vermifuga (Mart.) Benth.

Angelim Andira fraxinifolia Benth.

Albizia polycephala (Benth.) Killip ex


Angico branco Record.

Anadenanthera macrocarpa (Benth.)


Angico vermelho Brenan

Feijão cru Platymiscium floribundum Vogel

31
Garapa Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr.

Jacarandá bico de pato Machaerium hirtum (Vell.) Stellfeld

Jacarandá-branco Machaerium paraguariense Hassl.

Senna multijuga (Rich.) H.S.Irwin &


Pau-cigarra Barneby

Enterolobium contortisiliquum (Vell.)


Tamboril Morong

Copaiba Copaifera langsdorffii Desf.

Mulungu Erythrina mulungu Mart. ex Benth.

Flamboyant Delonix regia (Hook.) Raf.

Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.)


Pau-ferro L.P.Queiroz

Sansão do campo Mimosa caesalpiniifolia Benth.

Feijão vermelho Macroptilium lathyroides. (L.) Urb.

Indigofera Indigofera suffruticosa Mill.

Mimosa Mimosa invisa Mart. ex Colla

Mimosa grande Mimosa sp.

Crotalaria sp Crotalaria sp

Gesneriaceae Lanterninha vermelha Sinningia sp.

Icacinaceae Sobre Emmotum nitens (Benth.) Miers

Mesosphaerum suaveolens (L.)


Lamiaceae Mata mato Kuntze

Lamiaceae Mentrasto Ageratum conyzoides L.

32
Lauraceae Abacateiro Persea americana Mill.

Lecythidaceae Jequitiba Cariniana rubra Gardner ex Miers

Malpighiaceae Acerola Malpighia glabra L.

Malvaceae Chicha Sterculia striata A.St.-Hil. & Naudin

Malvaceae Mutamba Guazuma ulmifolia Lam.

Malvaceae Quiabo Abelmoschus esculentus (L.) Moench

Malvaceae Açoita cavalo Luehea grandiflora Mart. & Zucc

Malvaceae Açoita cavalo folha miúda Luehea candida (DC.) Mart.

Malvaceae Açoita cavalo rosa Luehea divaricata Mart. & Zucc.

Malvaceae Pente de macaco Apeiba tibourbou Aubl.

Malvaceae Munguba Pachira aquatica Aubl.

Malvaceae Malva branca Sida cordifolia L.

Malvaceae Malva rosa Melochia tomentosa L.

Malvaceae Pavonia amarela Pavonia sp.

Malvaceae Turnera Turnera subulata Sm.

Meliaceae Marinheiro Guarea guidonia (L.) Sleumer

Meliaceae Pau pombo Tapirira guianensis Aubl.

Meliaceae Mogno brasileiro Swietenia macrophylla King

Meliaceae Cinamomo Melia dubia Cav.

Moraceae Jaqueira Artocarpus heterophyllus Lam.

33
Moraceae Figueira fina Ficus cf. rubiginosa Desf. ex Vent.

Moraceae Figueira branca Ficus guaranitica Chodat

Moraceae Amora branca Maclura tinctoria (L.)

Moraceae Carapia Dorstenia sp.

Muntingiaceae Calabura Muntingia calabura L.

Musaceae Bananeira Musa spp.

Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem.


Myrsinaceae Capororoca & Schult.

Myrtaceae Goiabeira Psidium guajava L.

Myrtaceae Jamelão Syzygium cumini (L.) Skeels.

Myrtaceae Eucalipto Eucalyptus urograndis

Myrtaceae Eucaliptus grandis Eucalyptus grandis Hill ex Maiden

Onagraceae Cruz de malta Ludwigia longifolia (DC.) H.Hara

Piperaceae Pimenta Piper arboreum Aubl.

Piperaceae Pimenta Piper aduncum L.

Piperaceae Pimenta Piper arboreum Aubl.

Piperaceae Pimenta folha fina Piper sp.

Poaceae Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L.

Poaceae Bambu gigante Dendrocalamus giganteus Munro

Bambusa vulgaris Schrad. ex


Poaceae Bambu verde amarelo J.C.Wendl.

34
Poaceae Guadua Guadua sp.

Poaceae Capinzinho Olyra sp.

Poaceae Capim braquiária brizanta Urochloa brizantha

Poaceae Capim colonião Panicum maximum

Poaceae Capim rabo de burro Andropogon sp

Polygonaceae Pau-formiga Triplaris americana L.

Pteridaceae Samambaia Pteris sp.

Rhamnaceae Cafezinho Rhamnidium elaeocarpum Reissek.

Rubiaceae Jenipapo Genipa americana. L.

Rubiaceae Veludo vermelho Guettarda pohliana. Müll.Arg.

Rubiaceae Arbusto de espinho Rhandia sp.

Rubiaceae Erva de rato Psychotria carthagenensis Jacq.

Rutaceae Limão Citrus x limon

Rutaceae Mamica de porca folha fina Zanthoxylum rhoifolium Lam.

Mamica de porca folha


Rutaceae larga Zanthoxylum riedelianum Engl.

Sapindaceae cipó uva Serjania erecta Radlk.

Sapindaceae Sabão de macaco Sapindus saponaria L.

Sapotaceae Guapeva Pouteria torta (Mart.) Radlk.

Selaginellaceae Folhinha d'água Selaginella sp.

35
Solanaceae Jua bravo Solanum viarum (Dunal)

Solanaceae Jurubeba Solanum paniculatum L.

Talinaceae Major gomes Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.

Urticaceae
Urtiga Laportea aestuans (L.) Chew

Verbenaceae Milho de grilo Lantana trifolia L.

Verbenaceae Tamanqueiro Aegiphila sellowiana Cham.

Verbenaceae Louro babão Cordia superba Cham.

Zingiberaceae Açafrão da terra Curcuma longa L.

Figura 1. Espécies botânica encontradas no ponto externo de amostragem da vegetação. A. Dorstenia sp.;
B. Ludwigia longifolia; C. Pouteria torta; D. Guarea guidonia.

36
Figura 2. Diferentes ambientes do ponto externo da área de APP do rio Meia Ponte. A. Presença de
vegetação ciliar com presença de capim associado a área úmida; B. Presença de herbáceas e sub-bosque
em formação florestal de Mata Ciliar; C. Vista do encontro de afluente do rio Meia ponte com o leito
principal do rio.

Figura 3. Espécies botânicas encontradas na APP do Rio Meia Ponte no ponto mediano. A. Luffa
cyllindrica; B. Turnera subulata; C. Machaerium hirtum; D. Piper aduncum.

37
Figura 4. Vista geral de afluência do rio meia ponte na região mediana da amostragem. Presença de
muito capim, assoreamento, espécies botânicas exóticas e coloração da água barrenta.

Figura 5. Espécies botânicas encontradas no ponto central da amostragem. A. Laportea aestuans; B.


Guazuma ulmifolia; C. Asclepias curassavica; D. Mucuna aterrima.

38
Figura 6. Vista geral do ponto central de amostragem com ilha formada com sedimentos arenosos e
resíduos sólidos dentro do rio no encontro das águas do córrego Botafogo e córrego Anicuns.

ASPECTOS ECOLÓGICOS

Em relação à riqueza de espécies de cada local amostrado, a área de APP mais externa
apresentou cerca de 78 espécies botânicas, sendo a localidade com maior número de espécies.
Na região mediana foram encontradas 47 espécies e na região mais central foram encontrados
um total de 65 espécies (Figura 07).
Em relação ao número de espécies botânicas exóticas ao Cerrado, o resultado foi inverso,
encontrando mais espécies exóticas na região mais central da cidade e menos nas regiões mais
externas. O ponto mais externo apresentou apenas nove espécies exóticas, seguido de 15
espécies na região mediana e cerca de 42 espécies exóticas na região mais central (Figura 07).

Figura 7. Riqueza de espécies botânicas e espécies vegetais exóticas ao Cerrado nos diferentes pontos de
amostragem da APP do Rio Meia Ponte.

39
HÁBITOS DE VIDA

A maior parte das espécies encontradas na área de estudo são espécies arbóreas, seguidas de
herbáceas e arbustivas. Porém, isso é uma tendência comum dentro do método de
caminhamento, sendo as arbóreas mais visualizadas no método. O maior número de arbóreas
foi encontrado nas áreas mais externas, sendo também as áreas mais conservadas, além do que
o número de trepadeiras aumentou na área central em relação a área mais externa (Figura 08).
O aumento do número de trepadeiras também pode refletir uma alteração, sendo esse grupo
de plantas mais oportunistas em áreas mais impactadas. Os outros hábitos não variaram. De
qualquer forma, é evidente nas áreas impactadas, especialmente mediana e central a presença
de herbáceas/arbustiva exóticas e predomínio de capim. Espécies como leucena (Leucaena
leucocephala) mamoneira (Ricinus communis), e capim Andropogon sp. e braquiária (Urochloa
spp.) ocorrem amplamente na área dominando a vegetação.

Figura 8. Hábitos vegetacionais das espécies encontradas nos diferentes nos diferentes pontos de
amostragem da APP do Rio Meia Ponte.

UTILIZAÇÃO DAS ESPÉCIES

Ao longo da variação das áreas mais conservadas para as áreas mais impactadas é evidente a
alteração do perfil das espécies, variando dos maiores percentuais de espécies com relevância
ecológica para espécies de interesse humano diretamente associado, sendo inclusive comum a
troca de espécies nativas por espécies de interesse na alimentação humana. A presença de
espécies de interesse na alimentação ou até econômico não é ruim para o meio ambiente, o que
não pode acontecer é a substituição de espécies nativas por espécies de interesse, como o
encontrado neste estudo.

No ponto mais conservados a finalidade ecológica das espécies representava cerca de 29% das
espécies, caindo apenas para 7,6% na área mais degradada, em contraposição, as espécies
utilizadas na alimentação humana eram de quase 9% na área mais conservada e passam para
40% das espécies nas áreas mais degradadas (Tabela 02).

40
Tabela 2: Percentual de tipos de usos, aproveitamentos ou aspecto relevante das espécies botânicas nos
diferentes nos diferentes pontos de amostragem da APP do Rio Meia Ponte.

Rótulos de Linha Externo Mediano Centro

Alimentação 8,97 8,51 40,00

Dispersão agressiva 8,97 10,64 6,15

Ecológico 29,49 14,89 7,69

Epífita 0,00 0,00 3,08

Forragem 3,85 2,13 1,54

Madeira 25,64 21,28 15,38

Medicinal 8,97 14,89 10,77

Ornamental 2,56 10,64 9,23

Ruderal 8,97 12,77 3,08

Uso agrícola 2,56 2,13 1,54

Usos diversos 0,00 2,13 1,54

POLINIZAÇÃO E DISPERSÃO

As síndromes de polinização e dispersão das espécies são relevantes do ponto de vista ecológico
pois contribui para entender a dinâmica ecológica e interações da vegetação com a fauna no
local. Neste estudo, a síndrome de polinização não apresentou grandes alterações, mas nota-se
uma concentração de espécies com síndromes de entomofilia, ou seja, dependendo apenas de
insetos para sua polinização, e não permanecendo espécies que são polinizadas por aves ou por
morcegos. Já em relação a dispersão há uma modificação do perfil de espécies, alterando o perfil
de espécies para maior número de espécies que são dispersas por fauna e/ou espécies que
fazem sua reprodução de forma vegetativa, não dependendo de dispersores (Tabela 03).

41
A alteração do perfil de espécies com diferentes síndromes de polinização e dispersão refletem
a alteração da comunidade vegetal que se adapta a condição de não encontrar mais
polinizadores e dispersores dentro da cidade, sendo beneficiada apenas espécies que fazem sua
reprodução por meios abióticos ou de forma vegetativa. Algumas dessas espécies são
tipicamente espécies de dispersão e crescimento agressivo, associado ao comportamento de
espécies invasoras que ocupam os locais e alteram a paisagem, não deixando que a vegetação
nativa se restabeleça, como capins exóticos.

Tabela 3. Número de espécies nas diferentes síndromes de polinização e dispersão nos


diferentes pontos de amostragem da APP do Rio Meia Ponte.

Polinização Externo Mediano Centro

Anemofilia 6 1 3

Entomofilia 67 42 62

Ornitofilia 1 1 0

Quiropterofilia 2 2 0

Dispersão Externo Mediano Centro

Anemocoria 23 12 12

Barocoria 23 15 13

Ornitocoria 7 2 5

Vegetativa 5 3 9

Zoocoria 19 14 26

42
GRAU DE AMEAÇA OU PROTEÇÃO DAS ESPÉCIES

Dentre as espécies botânicas encontradas no estudo, oito espécies são protegidas por lei
estadual/federal. A garapa (Apuleia leiocarpa) é considerada vulnerável pela Portaria MMA n°
148 de 7/06/2022 e por isso passa a ser protegida. Já angico (Anadenanthera macrocarpa),
Gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium), aroeira (Astronium urundeuva) e todos os ipês
(Handroanthus spp). são protegidos pelo órgão estadual (SEMAD). A maior parte dessas espécies
foram encontradas apenas no ponto mais externo, sendo o ponto com maior conservação da
vegetação, o que reforça ainda mais a necessidade da conservação desses fragmentos florestais.

Tabela 4: Espécies botânicas encontradas no estudo que apresentem algum


grau de ameaça ou proteção legal.

Nome Status
comum Nome científico

Vulnerável –

Portaria MMA n° 148 de 7/06/2022

Apuleia leiocarpa (Vogel)


Garapa J.F.Macbr.

Angico Anadenanthera macrocarpa


vermelho (Benth.) Brenan
Anexo I do Manual de licenciamento da
Astronium fraxinifolium origem dos produtos florestais da SEMAD/GO
Gonçalo-alves Schott.

Astronium urundeuva
Aroeira (M.Allemão) Engl.

Ipê amarelo Handroanthus caraiba


caraiba (Mart.) Mattos

Handroanthus heptaphyllus
Ipê roxo (Vell.) Mattos

Handroanthus ochraceus
Ipê amarelo (Cham.) Mattos

Handroanthus serratifolius
Ipê amarelo (Vahl) S.Grose

RECOMENDAÇÕES (FAUNA E FLORA)

As alterações na vegetação no entorno do rio Meia Ponte em relação a proximidade e com a


cidade de Goiânia claramente é indicativo do impacto ambiental da cidade sob o rio. Quanto
mais na borda da cidade, melhor a qualidade da vegetação, com maior quantidade de espécies

43
nativas e menos espécies exóticas ao Cerrado, apresentando espécies com funções e
características ecológicas condizentes com o ambiente mais natural. Quanto mais dentro da
cidade, mais impactada é essa vegetação, menos características originais ela apresenta,
refletindo assim em impacto direto ao rio e meio biótico que sobrevivem neste ambiente.

Para minimizar os impactos da cidade na vegetação que protege o rio Meia Ponte deve-se definir
com critérios objetivos o que são as áreas de preservação permanentes, seja por força da lei
municipal/estadual/federal e ou por aspectos estruturais da vegetação. Essa área definida como
APP deve ter finalidade específica para a conservação das espécies vegetais. As áreas que já não
apresentarem vegetação natural ou nativa, devem ser revegetadas a partir de métodos de
plantios de mudas e sementes, utilizando espécies já encontradas na região (algumas das nativas
originárias podem ser encontradas no levantamento das áreas mais conservadas, vide tabela do
resultado com espécies nativas). As espécies ameaçadas ou protegidas encontradas nas áreas
devem ser utilizadas de matriz de sementes para produção de mudas e serem utilizadas para
recomposição das áreas.

As áreas com maior degradação devem ser observadas de perto com monitoramento periódico
da vegetação (recomendação de 4 vezes ao ano, ao menos). Nos locais de intervenção para
restauração, a vegetação exótica deve ser retirada, à medida que for sendo substituída por
vegetação nativa (em especial capim exótico e espécies de crescimento muito agressivo como
leucena).

O poder público deve repensar as áreas de preservação permanente das quais a comunidade
necessita ou demanda por utilização. Em vários pontos da APP do rio foram encontrados a
comunidade utilizando de alguma forma os recursos naturais das áreas, mesmo que em
condições insalubres. Com isso, é relevante que seja feito um trabalho que envolva a
comunidade, focado na conservação, mas permitindo usos alternativos da área, como áreas de
lazer de baixo impacto, pequenas hortas agroecológicas, pomares enriquecidos com frutíferas
comuns e nativas, além de locais para praça, mirantes para o rio ou similares para apreciação da
natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Angiosperm Phylogeny Group, Chase, M. W., Christenhusz, M. J., Fay, M. F., Byng, J. W., Judd,
W. S., ... & Stevens, P. F. (2016). An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification
for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical journal of the Linnean
Society, 181(1), 1-20.

Filgueiras, T.S.; Nogueira, P.E.; Brochado, A.L. & Guala II, G.F. 1994. Caminhamento: um
método expedito para levantamentos florísticos qualitativos. Cadernos de Geociências 12: 39-
43.

Silva Júnior, M. D., & Pereira, B. D. S. (2009). 100 árvores do cerrado–Matas de Galeria: guia de
campo. Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, 150, 151.

Kuhlmann, M., & Fagg, C. W. (2012). Frutos e sementes do Cerrado: atrativos para fauna: guia
de campo. Rede de Sementes do Cerrado.

44
RECURSOS HÍDRICOS
A análise dos Recursos Hídricos foi dividida em duas frentes de trabalho, uma coordenada pelo
Instituto Federal de Goiás – IFG, que percorreu os 45km de percurso do rio fazendo a coleta de
dados in loco e outra pela SANEAGO, responsável pelas amostras e resultado laboratorial. A
metodologia de múltiplas análises se deu no intuito de explorar ao máximo o levantamento dos
dados realizados em campo e em laboratório.

RECURSOS HÍDRICOS – SANEAGO

Warle Ribeiro Neto - Téc. em Saneamento


Patrícia Pimentel Santos – Téc. em Saneamento
Rafaela Wollf Pina- Bióloga
Rui Ramos Lopes –Engenheiro Agrônomo
Credinei Faleiro da Silva – Agente de Sistemas
Odair Alves Portes – Técnico em Meio Ambiente
Renata Galdino - Bióloga

EQUIPE DO LABORATÓRIO:
Keyle Borges
Cássio Elias

Atender a solicitação via Ofício 76/2023 do Gabinete da Vereadora Kátia que solicitou a
cooperação da Saneago para elaboração de um diagnóstico da realidade socioambiental do leito
das áreas que margeiam o manancial Rio Meia Ponte. Para isso, a equipe técnica da Gerência de
Apoio à Conservação de Mananciais (P-GCM) acompanhou a “1ª Expedição do Rio Meia Ponte”
no município de Goiânia-GO. A Saneago S/A, junto com vários parceiros, teve o objetivo de
realizar um diagnóstico ambiental do Rio Meia Ponte, manancial de abastecimento na zona
urbana do município de Goiânia-GO. O Laboratório Central da Saneago – P-SBA em Goiânia,
realizou as análises de Metais, Agrotóxico, físico-químicas e bacteriológicas.

PONTOS VISTORIADOS:

No Quadro 01 abaixo, são relacionados os pontos vistoriados obtidas in loco, através do


aplicativo TimeStamp Camera Rio Meia Ponte e seus afluentes, município de Goiânia – GO.

45
Fonte: Saneago, P-GCM, Google Earth Pro, de 22 a 27 de Março de 2023.

LOCAL DE ESTUDO E PESQUISA

O Rio Meia Ponte faz parte do complexo hidrográfico da Bacia do Rio Paraná, localizando-se na
região superior (norte) do Rio Paranaíba. A bacia do Meia Ponte é considerada a mais importante
do estado de Goiás, nesta bacia concentra aproximadamente 48% da população goiana. Sua
nascente está localizada na Serra dos Brandões em Itauçu e sua foz na usina de Cachoeira
Dourada, no Rio Paranaíba, percorrendo cerca de 471 km. A bacia do Rio Meia Ponte é formada
por cerca de 85 mananciais, sendo que na sua maior parte apresenta algum tipo de degradação.

A bacia do Meia Ponte é dividida em cinco sub-bacias:

I) Alto Meia Ponte: que engloba a região das nascentes até a foz no ribeirão João Leite;
II) Ribeirão João Leite: que abrange sete municípios e é delimitada como Área de Proteção
Ambiental;
III) Rio Caldas, que abrange parte de nove municípios goianos;
IV) Rio Dourados: que também engloba nove municípios;
V) Baixo Meia Ponte: que possui a maior área territorial, abrigando quinze municípios.

Rio Meia Ponte tem passado por vários problemas, tanto em áreas urbanas como rurais. Nas
áreas urbanas podemos citar o crescimento desordenado das cidades, causando problemas de
Saneamento Básico, muitos dos municípios não possui um sistema eficiente de coleta de lixo e
aterros sanitários, várias indústrias implantadas, que utilizam os mananciais como corpo
receptores para descarte de seus efluentes industriais, muitas vezes sem um tratamento prévio.
E ainda há vários pontos de retirada de areia de seus tributários e no próprio Rio Meia Ponte.

46
Nas áreas rurais pode-se citar como grandes problemas o esgotamento do solo, desmatamento
de matas ciliares para utilização de pastagens e lavouras, queimadas, mal uso de defensivos
agrícolas, erosão, e utilização de pivôs para irrigação.

DESCRIÇÃO GERAL DOS PONTOS VISTORIADOS

Figura 01: Mapa dos pontos de amostragem no Rio Meia Ponte

DESCRIÇÃO DE CADA PONTO VISTORIADO – AVALIAÇÃO DE APPS


PONTO 01 (ABAIXO DA CAPTAÇÃO DA SANEAGO)

Neste primeiro ponto vistoriado pode-se observar quantidade razoável de vegetação em ambos
os lados, tendo a presença de árvores nativas características de mata ciliar. Tendo apenas uma
pequena faixa sem vegetação para assegurar a integridade de uma adutora de 700 mm, utilizada
pela Saneago para transferir água tratada da estação de tratamento João Leite até ao
reservatório da ETA – Floresta. O restante da APP tanto abaixo, quanto acima se encontra bem
preservada (Figuras 02 -04).

47
Figura 02: Trecho entre os Pontos 01 e 02

Figura 03: Ponto de encontro inicial, Figura 04: Início da vistoria


abertura do evento

PONTO 02 HORTALIÇA – AS MARGENS DO RIO MEIA PONTE

Neste Ponto 02 foi visitado um conjunto de chácaras que são utilizadas para plantio de
hortaliças, que para sua irrigação é utilizado água de um poços artesianos. Nesta área observou-
se a presença de APPs parcialmente preservadas (Figuras 05).

48
Figura 05: Localização das hortaliças em relação ao Rio Meia Ponte

Figura 06: Visita as hortaliças

PONTO 03 - (PIVÔ UFG) - AGRONOMIA

O ponto 03 foi o último ponto do vistoriado no primeiro dia de expedição. Sendo observado que
as APPs estão parcialmente preservadas. Não foi encontrado a presença de lixo neste ponto

49
vistoriado, no entanto, no trecho entre os pontos 02 e 03 foi relatado pela equipe que estava
nas embarcações a visualização de muito lixo nas margens e leito do Rio (Figura 07-09).

Figura 07: Pivô UFG – Agronomia

Figura 08: Margens do Rio Meia Ponte – Figura 09: Margens do Rio entre os pontos 02 e 0
Agronomia UFG

PONTO 04: MONTANTE DA ETE (PONTE DA PERIMETRAL NORTE)

50
Neste ponto foi verificado de um dos lados a quantidade parcial de vegetação em sua APP (lado
direito), na sua margem esquerda a mata ciliar se encontra parcialmente preservada. Mas de
ambos os lados há a presença de muitas plantas de espécies exóticas. Foi encontrado também
no local e entre os pontos 04 e 05 grandes quantidades de lixo (Figura 10 -1)

Figura 10: Ponte da Perimetral Norte Figura 11: Trecho próximo a Ponte
da Perimetral Norte

Figura 12: Trecho entre os pontos 03 e 04

PONTO 05: PONTO DE EXTRAÇÃO DE AREIA

Nesta área observou-se a presença de invasão da APP, um emissário de efluente, a presença de


muitos resíduos sólidos vindo da água pluvial, evidências de retirada de areia por caminhões,
bem como um forte odor proveniente dos afluentes do Rio Meia Ponte. Foram encontradas aves

51
Jaburi, Socó e Maria Faceira. Neste ponto é a intersecção de dois importantes afluentes do Rio
Meia Ponte: o Córrego Botafogo (após receber contribuição do Córrego Capim-puba) o qual
observou-se uma coloração enegrecida, e o Córrego Anicuns com uma coloração marrom. Uma
faixa da APP está sendo utilizada para plantio de mandioca e bananeiras, e quase que na
totalidade das plantas encontradas em suas margens são invasoras.

Figura 13: Trecho entre os pontos 04 e 05.

Figura 14: Área próxima a extração de areia Figura 15: Equipe via embarcação

52
Figura 16: Área próxima a Figura 17: Encontro dos Córrego
extração de areia Anicuns com Botafogo

PONTO 06: JUSANTE ETE (BOMBEIROS)

Nesta área ao fundo da área de treinamento do corpo de bombeiros observou-se a APP bem
preservada, muita presença de resíduos sólidos e no rio um forte odor de efluente (Figuras 18-
20).

Figura 18: Trecho entre os pontos 05 e 06

53
Figura 19: Ponto 04 resíduos sólidos Figura 20: APP preservada –
encontrados no Rio Meia Ponte ponto 04 pouso 02

PONTO 07: PONTO PRÓXIMO AO COMANDO DO CORPO DE BOMBEIROS

Local (ponte) onde o Rio Meia Ponte passa, foi localizado muitos sacos de lixos, possui galeria
de água pluvial, sendo lançada dentro da APP do rio sem dissipador, o que poderá ocasionar
erosões. Possui espécies arbóreas e arbustivas nativas e exóticas encontradas na APP: jatobá,
leucena, mutamba, sansão do campo, pau formiga, tamboril, banha de galinha, pau ferro,
angico-vermelho, ipê-amarelo, mamona, margaridão, ingá de brejo, marinheiro, sombreiro,
bambu, goiabeira, abiu roxo, pitanga, mangueira, espatódea, guapuruvu, embaúba, angico-
branco, canafistula, jaborandi, pau jangada (Figura 21-23).

Figura 21: Trecho entre os pontos 06 e 07 – Próximo a Academia do Corpo de Bombeiros

54
Figura 22: Ponte do Goiânia 2 – Figura 23: Ponte do Goiânia 2 –
Próximo ao Corpo de Bombeiros Próximo ao Corpo de Bombeiros

PONTO 08: VILA MONTECELLI – ÀS MARGENS DO RIO MEIA PONTE

Neste ponto visitado, uma moradora foi abordada a Sra Maria Nazareth Cruz, disse ser moradora
há cerca de 25 anos relatou não concordar com o modo que seus vizinhos tratam o lixo no local,
dispersando de qualquer maneira e criam animais na mata ciliar. Nos informou que sua rua
possui sistema de coleta de esgoto e água tratada. Sobre as cheias do Rio Meia Ponte informou
que a última enchente que extravasou foi há cerca de 17 anos. Sobre as condições encontradas
na margem do rio e mata ciliar: Detectamos casas na APP além de uma pocilga, um galinheiro e
cavalos às margens do rio (Figura 24-26).

Figura 24: Vila Monticelli – As margens Figura 25: Vila Monticelli – As margens
do Rio Meia Ponte do Rio Meia Ponte

55
Figura 26: Trecho entre os pontos 07 e 08 – Entre a Academia do Corpo de Bombeiros e Vila Monticelli

PONTO 09: AGRODEFESA – AS MARGENS DO RIO MEIA PONTE

Local de embarque e desembarque de barcos no Rio Meia Ponte, ponto de apoio da expedição
para almoço. Mata ciliar preservada e recuperada, foi realizada plantio recentemente. (Figura
27-29).

Figura 27: Agrodefesa – As margens Figura 28: Agrodefesa – As margens


do Rio Meia Ponte do Rio Meia Ponte

56
Figura 29: Trecho entre os pontos 08 e 09

PONTO 10: PONTE PRÓXIMO A ITAMBÉ

Outra ponte por onde o rio Meia Ponte passa próximo a Itambé, foi localizado muitos sacos de
lixo ao longo do leito e lixos nas margens da BR-457. Possui APPs em quantidade parcial, mas
com grande quantidade de plantas invasoras (Figura 30-32).

Figura 30: Ponte próximo a Itambé Figura 31: Ponte próximo a Itambé

57
Figura 32: Trecho entre os pontos 09 e 10 – Entre Agrodefesa e Itambé

PONTO 11: VIVEIRO DA PREFEITURA DE GOIÂNIA

Ponto com quantidade mediana de plantas nas APPs, no entanto foi verificado grande
quantidade de bambus que substituíram as árvores nativas (Figura 33-35).

Figura 33: Viveiro da Prefeitura – Figura 34: Viveiro da Prefeitura –


As margens do Meia Ponte As margens do Meia Ponte

58
Figura 35: Trecho entre os pontos 10 e 11 – Ponte da Itambé e Viveiro da Prefeitura

PONTO 12: DIVISA DE GOIÂNIA COM SENADOR CANEDO

Último ponto visitado pela equipe terrestre, este local apresenta pouca vegetação nas APPs.
Com grande presença de plantas invasoras e pouca vegetação nativa. Possui um pequeno
afluente bem próximo a este ponto, este se apresenta com alto grau de degradação e com
presença de animais de grande porte caminhando dentro do manancial (Figura 36-38).

Figura 36: Último ponto vistoriado Figura 37: Último ponto vistoriado

59
Figura 38: Trecho entre os pontos 11 e 12 – Entre Viveiro da Prefeitura e o
Ponto final de vistoria terrestre.

AVALIAÇÃO GERAL DAS MARGENS DO RIO MEIA PONTE

Avaliando toda a faixa do Rio Meia Ponte, desde o início da expedição em seu primeiro ponto
vistoriado até o último ponto, totalizando mais de 45 km do rio. Sendo verificado a quantidade
e qualidade das APPs, presença de lixo, construção às margens do rio. Tendo como resultado
destas observações o conhecimento profundo dos problemas que afetam toda essa região do
Rio Meia Ponte, que atravessa a cidade de Goiânia. E a perspectiva é das piores, praticamente
toda essa faixa avaliada estão degradadas, com baixa quantidade de APPs e que na sua maior
parte é composto por plantas invasoras. E a presença dessas plantas invasoras representa uma
ameaça para a biodiversidade existente, já que, são espécies dominantes e que acabam
modificando as condições em que todas as outras plantas se desenvolvem.

A quantidade de APPs também se mostrou muito pequena em praticamente toda a faixa


avaliada, já que no plano diretor da cidade de Goiânia cita em seu Art. 143 inciso I “as faixas
bilaterais, com largura mínima de 100 m (cem metros), contíguas ao Rio Meia Ponte e aos
Ribeirões Anicuns e João Leite, a partir da borda da calha do leito regular, ainda que em
intermitência”.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA

Entre os dias 22 de março e 26 de março, foram coletadas pelo laboratório central da Saneago
(Goiânia) amostras em vários pontos do Rio Meia Ponte, abrangendo todo o percurso proposto
para ser realizado pela 1ª Expedição do Rio Meia Ponte, que se iniciou a jusante do ponto de
captação da Saneago (ETA – Meia Ponte), já ocorrendo a primeira coleta no ponto de partida da
expedição e durante todo o percurso foram coletadas dezenas de amostras, distribuídas até o
ponto final que se encerrou na ponte da GO-020. Gerando centenas de resultados com 42
laudos, sendo realizados testes físico-químicos, bacteriológicos, metais e agrotóxicos. Com
todos estes testes nos permitiu conhecer melhor a qualidade da água bruta em toda esta faixa.

60
I) Avaliando os resultados obtidos entre o ponto de partida a jusante da ETA meia Ponte até o
ponto 03 (Pivô – Agronomia da Universidade Federal de Goiás UFG). Houve uma pequena
melhora em alguns parâmetros físico-químicos. Mas ainda sim apresenta vários resultados
acima do valor máximo permitido.

II) Faixa entre o ponto a montante da ETE Dr. Hélio Seixo de Britto e Jusante deste ponto, os
resultados apresentaram algumas variações com a diminuição de alguns valores e aumento de
outros resultados. Apresentando vários valores acima do valor máximo permitido, praticamente
nos mesmos parâmetros da faixa inicial.

III) Avaliando os resultados a Jusante da ETE Dr. Hélio Seixo de Britto com pontos de coleta
distribuídos até a ponte da BR 153, passando pela captação de água da ETA João Leite. Houve
uma melhora significativa em vários parâmetros físico-químicos. Mas ainda sim apresenta
resultados fora do limite máximo permitido, principalmente análises bacteriológicas.

IV) Entre os pontos de coleta da BR 153 e da ponte da GO-020, passando pelos pontos do viveiro
da Prefeitura de Goiânia e a ponte da divisa entre os municípios de Goiânia e Senador Canedo.

Os resultados se mantiveram muito parecidos com as faixas anteriores avaliadas. Apresentando


uma leve melhora em parâmetros físico-químicos. Mas ainda assim apresentou vários
resultados acima do valor máximo permitido. Em suma, avaliando todos o conjunto de dados
dos resultados gerados de parâmetros físico-químico, bacteriológico, metais e agrotóxicos,
pode-se inferir que durante toda a faixa percorrida, a qualidade da água do Rio Meia Ponte se
encontra em condições muito ruins. Apresentando alto grau de poluição, decorrente de todos
os problemas levantados durante a expedição.

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Acesso em: 12 de maio de 2023.

62
RECURSOS HÍDRICOS POR ANÁLISE LABORATORIAL
E TRABALHO IN LOCO – IFG

Profª. Drª Juliana Moraes Franzão


Prof. Dr. Renato Welmer Veloso

A Terra é abundante em água, com aproximadamente 71% de sua superfície coberta por esse
líquido vital, equivalente a uma impressionante quantidade de 1,4 bilhão de quilômetros
cúbicos. Nosso planeta se destaca como o único que possui água em todas as suas formas físicas:
gasosa, líquida e sólida.

Apesar da abundância hídrica, a maior parte da água não atende aos critérios de potabilidade,
com apenas 2,5% da água sendo classificada como disponível para o consumo. Atualmente, o
maior problema enfrentado pela humanidade é garantir que a água continue a ser um recurso
universal, acessível a todas as nações e em condições adequadas para o consumo humano
(UNESCO, 2021). A água e o homem sempre caminharam juntos. Desde os primórdios das
civilizações, a água foi o pilar centralizador para o estabelecimento das principais civilizações
(AZATEGUI, 2021).

Desde o início da humanidade, os recursos hídricos têm sido utilizados para atender às
necessidades básicas de sobrevivência. No entanto, durante muito tempo, a preocupação com
a preservação desses recursos e o impacto causado pelo seu uso não foi levada em consideração.
Com o passar do tempo, percebeu-se que a necessidade de preservar e gerir eficientemente os
recursos hídricos vai além da quantidade de água disponível. A qualidade da água também
desempenha um papel crucial nos seus usos potenciais, tais como: irrigação, abastecimento
público, atividades industriais, geração de energia e extração mineral (ANA, 2023).

A contaminação e a poluição de rios, lagos e aquíferos têm sido desafios persistentes que exigem
atenção e ação imediata. Além disso, a distribuição desigual da água ao redor do mundo agrava
ainda mais a questão da acessibilidade, tornando essencial o desenvolvimento de estratégias
sustentáveis e cooperativas para enfrentar esse problema global. Enquanto existir o esforço
para garantir a preservação dos recursos hídricos e a garantia de sua universalização em
condições adequadas para consumo humano. Nesse contexto pode-se destacar a Bacia
Hidrográfica do Rio Meia Ponte em Goiás, Brasil, para entender melhor os desafios e as soluções
relacionadas à gestão de recursos hídricos.

A Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte é uma importante região hidrográfica localizada em
Goiás. Ela abrange uma extensa área no centro-sul do estado, limitando-se ao norte com a Bacia
Hidrográfica do Rio das Almas, a oeste com a Bacia Hidrográfica do Rio dos Bois, a nordeste com
a Bacia Hidrográfica do Rio Corumbá e ao sul deságua no Rio Paranaíba[3].

A bacia do Rio Meia Ponte abriga cerca de 50% da população goiana em sua área de influência
(SEMAD, 2023). Ela abrange 39 municípios, concentrando aproximadamente 40% da população
estadual em apenas 4,2% do território do estado.

O Rio Meia Ponte, ao passar pelo município de Goiânia, desempenha um papel fundamental no
abastecimento de água, sendo utilizado para diversos fins. Além disso, ele possui importantes
afluentes ao longo de seu curso na região, que contribuem para o seu volume e qualidade hídrica
(CBH-MEIAPONTE, 2023).

63
METODOLOGIA

A expedição cien�fica realizou a coleta de amostras de água ao longo do Rio Meia-Ponte em


dez (10) pontos diferentes. Sendo um ponto coletado a jusante do perímetro urbano, oito (8)
pontos no perímetro urbano e um (1) ponto após o perímetro urbano de Goiânia, na divisa
com a cidade de Senador Canedo. As coletas foram realizadas entre os dias 22 e 26 de março
de 2023.

No local da coleta, foram realizadas leituras de temperatura e pH. As coletas e as análises das
amostras foram realizadas nos laboratórios da SANEAGO, onde foram avaliados os seguintes
parâmetros:

Parâmetros físico-químicos: Nitrogênio, Fósforo, Oxigênio dissolvido, Atrazina,


Turbidez, Cor (aparente e verdadeira), Condutividade elétrica e Sólidos dissolvidos totais
e Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5 a 20ºC)

Parâmetros microbiológicos: Coliformes Totais, Escherichia Coli e Cianobactérias


(identificação de espécies e total observado)

Concentração de metais e metalóides em água: As, Ba, Be, Cd, Cr, Co, Cu, Pb, Hg, Ni,
Se, V e Zn.

As análises foram realizadas seguindo a metodologia adequada para cada parâmetro avaliado,
conforme descrito no Handbook of Water Analysis (NIOLLET e MORETTO, 2013). Isso incluiu a
coleta adequada das amostras, sua preservação até o momento da análise e a u�lização de
técnicas específicas para a determinação �sico-química dos parâmetros avaliados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Descrição dos pontos vistoriados

A Tabela 1 apresenta informações sobre os pontos de coleta, incluindo suas descrições e


coordenadas geográficas. As coordenadas estão no sistema UTM (Universal Transversa de
Mercator) e utilizam o datum WGS84 (World Geodetic System 1984).

Tabela 1. Dados dos pontos de coleta das amostras


de águas e as coordenadas de localização para cada ponto

64
O primeiro ponto de coleta foi real izado próximo ao local de captação de água para tratamento
e distribuição da cidade de Goiânia (figura 1). Neste ponto ocorre o monitoramento pela
empresa responsável (SANEAGO).

No momento da coleta, a vazão do Rio Meia-Ponte estava alta e suas águas estavam bastante
turvas.

Figura 1. Jusante da captação para a Estação de tratamento de água da SANEAGO

O segundo ponto de coleta foi realizado dentro da área do campus da Universidade Federal de
Goiás, próximo ao pivô central (figura 2). Este local foi escolhido para avaliar a influência da UFG
sobre a qualidade das águas do Rio Meia-Ponte.

Figura 2. Ponto de coleta dois, dentro da UFG e próximo ao pivô central.

65
Os próximos dois pontos foram selecionados para avaliar o efeito do lançamento de efluentes
tratados pela ETE - Dr. Hélio Seixo de Brito sob a qualidade das águas do Rio Meio-Ponte,
sendo coletado um ponto 3 (figura 3), a montante, e o ponto 4 (figura 4), a jusante da ETE.

Figura 3. Ponto três localizado a montante da ETE Dr. Hélio Seixo de Britto

Figura 4. Ponto quarto a jusante da ETE Dr. Hélio Seixo de Britto, próximo ao Corpo de Bombeiros

66
O ponto 5 está localizado a jusante do encontro do Rio Meia-Ponte com o Ribeirão João Leite,
usando-se de ponte referência uma ponte adutora. Nesse ponto foi observado o acúmulo de
resíduos sólidos na margem esquerda de coleta.

Figura 5. Ponto cinco, localizado a jusante do Ribeirão João Leite e próximo a uma ponte adutora

O Ponto 6 foi colocado abaixo da ponte sobre a BR 153, nas proximidades de um antigo
represamento que promove um efeito de cascata com as águas do Rio Meia Ponte (figura
6). Próximos a ponte foram encontrados restos de carcaças de animais e resíduos sólidos.

Figura 6: Ponto seis, localizado sob a ponte da BR-153.

Foram coletadas um total de dez pontos dentro do município de Goiânia- GO (figura 7). E como
mencionado anteriormente, o ponto 1 representa a qualidade da água antes dos efeitos do
perímetro urbano de Goiânia.

67
Figura 7. Localização da Expedição Científica do Rio Meia-Ponte e os locais de amostragem de água.

A partir dos resultados obtidos, observou-se o efeito do aumento da vazão sobre os parâmetros
avaliados no estudo. A vazão aumentou em razão das fortes chuvas ocorridas na região antes
do período da coleta. Assim, as discussões realizadas sobre a qualidade das águas do Rio Meia
Ponte devem ponderar o efeito da vazão do rio durante o período de coleta sobre as
concentrações dos parâmetros avaliados. Assim sendo, é importante destacar que os resultados
que serão discutidos adiante não necessariamente indicam uma degradação dos poluentes ou
uma diminuição na fonte de poluição. Uma vez que, a diminuição ou aumento da concentração
de poluentes será resultante do efeito de diluição dessas substâncias devido à elevada vazão do
Rio Meia Ponte.

Após esse esclarecimento, observou-se que os resultados de metais e metalóides avaliados (As,
Ba, Be, Cd, Cr, Co, Cu, Pb, Hg, Ni, Se, V e Zn) geral apresentaram baixos valores ao longo do curso
do rio, com a exceção do Alumínio e Ferro, sendo as maiores concentrações observadas de 0,31
(ponto 1) e 35, 5 mg/L (ponto 5), respectivamente. O manganês também apresentou
concentrações mais elevadas que os demais elementos avaliados, com um valor médio de 0,14
± 0,2 mg/L.

Dessa forma, parâmetros como turbidez apresentaram valores na chegada do município (ponto
1), 200 uT, e decresceram ao longo do curso d’água. O ponto 7 apresentou o meio valor de
turbidez e cor (aparente e verdadeira) por estar localizado em uma área de sedimentação e
formação de bancos de areia. Contudo, apresentou elevados valores dos seguintes parâmetros:
fósforo, nitrogênio amoniacal, condutividade elétrica, sólidos dissolvidos totais, DBO5 e
cianobactérias. Esses resultados poderiam indicar algum tipo de contaminação orgânica.

Foi observada a presença de Coliformes Totais em todos os pontos amostrados, e também


houve o aumento nos valores de Escherichia Coli a partir do ponto 3 (Montante da ETE). Este
aumento de Coli pode ser um indicativo de lançamento recente de efluentes nesse local, o que
pode representar um risco para a saúde pública, já que essa bactéria é uma importante
indicadora da presença de matéria orgânica de origem fecal.

Além disso, foi observado um aumento nas concentrações de nitrogênio amoniacal no ponto 4
(Jusante da ETE), o que pode indicar uma contaminação por efluentes domésticos e industriais

68
recentes nesse ponto. A presença de nitrogênio amoniacal pode afetar negativamente a
qualidade da água e a sua oxigenação, além de diminuir a vida aquática. Houve também nitritos,
nitratos e fósforo a partir do ponto 3 (Montante da ETE) e a maior concentração de Nitrogênio
total ocorreu a jusante da ETE (ponto 4), com 3,45 mg/L. Os nitratos e nitritos podem ser
encontrados em águas de rios devido à contaminação por esgotos domésticos e industriais
(ATSDR, 2023; Shrimali and Singh, 2001), além de fontes naturais como decomposição de
organismos aquáticos e vegetais que compõem as matas ciliares. O excesso de fósforo em rios
e lagos pode levar à proliferação de algas e outros organismos aquáticos que consomem o
oxigênio da água, causando a morte de peixes e outros animais aquáticos. O excesso destes
nutrientes em corpos d’água é o responsável pelo processo de eutrofização. Isso pode levar ao
aumento do crescimento de algas e outras plantas aquáticas, que podem consumir o oxigênio
na água e causar a morte de peixes e outros animais aquáticos (SMITH, 2009).

Foi observada a presença de cianobactérias em amostras de água, a partir do ponto 3, foram


identificadas as seguintes espécies: Aphanocapsa sp, Pseudanabaena sp e outros gêneros. As
cianobactérias são um grupo de bactérias fotossintéticas que podem ser encontradas em
ambientes aquáticos e terrestres. Algumas espécies de cianobactérias são capazes de produzir
toxinas que podem ser prejudiciais para a saúde humana e animal.

Houve um aumento na demanda bioquímica de oxigênio, do ponto 3 até o ponto 9 (viveiro da


prefeitura), o que indica o lançamento de esgoto doméstico. No entanto, os valores foram
baixos, refletindo em baixas concentrações de matéria orgânica neste trecho do rio, com média
de 5,2 mg/L. Um motivo que poderia explicar esses valores seria a elevada vazão do rio durante
o período de coleta, o que aumenta a turbulência das águas e a oxigenação das mesmas. Isso
justificaria os altos valores de oxigênio dissolvido (OD) observados, com média de 6 mg/L. Um
exemplo dessa oxigenação é o maior valor de oxigênio dissolvido registrado no ponto 6, com 7
mg/L. Essa amostra de água foi obtida após uma estrutura de barramento do rio (Figura 8), que
criou uma cachoeira artificial e promoveu a oxigenação das águas do Rio Meia-Ponte.

Figura 8. Estrutura de barramento do Rio Meia-Ponte, próximo à ponta da BR-153.

69
A Atrazina é um herbicida amplamente utilizado na agricultura, que foi detectada em todos os
pontos amostrados do Rio Meia-Ponte, variando entre 0,100 e 0,258 µg/L, sendo que essa faixa
de concentração é considerada abaixo dos valores máximos aceitáveis de Atrazina em água de
rio e água potável, que são de 2,0 µg/L, estabelecida pela legislação brasileira (BRASIL, 2005;
BRASIL, 2011). Apesar dos baixos valores, a concentração deste herbicida deve ser
constantemente monitorada. Uma vez que a exposição crônica à Atrazina em humanos tem sido
associada a problemas de saúde, incluindo o aumento do risco de câncer, desregulação
hormonal e disfunção reprodutiva (USEPA, 2023).

RECOMENDAÇÕES

Com base nos resultados, podemos entender a importância da coleta de amostras de água para
avaliar a qualidade da água do Rio Meia-Ponte também ocorra durante a estação seca, a fim de
reduzir o efeito da diluição causado pelas altas vazões no período chuvoso. A coleta de novas
amostras de água durante a estação seca é recomendada para obter uma avaliação mais precisa
da qualidade da água do Rio Meia Ponte. Durante o período chuvoso, as vazões podem
aumentar significativamente, diluindo os contaminantes presentes na água. Portanto, coletar
amostras durante a estação seca permitirá uma análise mais precisa dos níveis de poluentes
presentes e sua influência na qualidade da água.

Com base nos resultados, recomenda-se também uma análise do impacto dos afluentes, como
o Ribeirão João Leite, Córrego Botafogo e Anicuns, sob a qualidade das águas do Rio Meia Ponte.
É crucial incluir no monitoramento o efeito desses tributários nas futuras coletas, a fim de
identificar e compreender as fontes de poluição e seus efeitos no ecossistema aquático. Essas
avaliações permitirão uma análise abrangente das características físico-químicas e biológicas
das águas afluentes, fornecendo dados essenciais para a implementação de medidas
preventivas e corretivas.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO. Usos da água. [S.l.], [s.d.]. Disponível
em: htps://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/gestao-das-aguas/usos-da-agua. Acesso em: 14
maio 2023.

AZATEGUI, J. Water and civiliza�on: learning from the past. We Are Water, 2021. Disponível
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Acesso em: 12 maio 2023.

BRASIL. Resolução CONAMA n° 357, de 17 de março de 2005. Alterada pela Resolução


410/2009 e pela 430/2011. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011a. Dispõe sobre os


procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade. Disponível em:
htp://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html.
Acessado em 11 de maio de 2023.

70
CBH MEIA PONTE. Caracterís�cas. Disponível em:
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NIOLLET, L.; MORETTO, H. Handbook of Water Analysis. 3. ed. Boca Raton: CRC Press, 2013.
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UNESCO. Água potável. 2021. Disponível em: htps://en.unesco.org/themes/water-


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em: 12 de maio de 2023.

RESÍDUOS SÓLIDOS E EFLUENTES

Juliana Moraes Franzão


Kátia Maria Santos
Márcio Manoel Ferreira
José Iramar Araújo de Souza
Nair Rodrigues Vieira

A produção de conhecimento é estratégica para formulação de políticas públicas e a


estruturação de planos de saneamento básico que consiste no “conjunto de serviços,
infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais
urbanas, de acordo com a Lei 11.445/07 (BRASIL, 2007).

Para que água potável e de qualidade possa chegar à população, anterior à captação e
tratamento, é necessário a existência de um manancial com volume suficiente para o
abastecimento populacional.

Despejos de efluente bruto ou tratado (com de baixa eficiência) juntamente com resíduos
provenientes de distintas origens, como da drenagem urbana, contribuem para a contaminação
dos mananciais. Diante desse aspecto, é necessário que os resíduos sólidos possuam um
programa de redução na fonte, coleta, tratamento e destinação adequada de todo o volume
produzido pela população.

71
O Rio Meia Ponte requer atenção com urgência assim como a população que vive à sua
margem quando são observadas elevada quantidade de resíduos descendo diariamente no rio
e ou retidos às margens, no solo ou em estruturas formadas pelas próprias espécies vegetativas.
Sacolas plásticas penduradas nas galhadas das árvores dão uma imagem semelhante ao de “um
varal de sacolinhas”, diversas embalagens plásticas como garrafas de refrigerantes, água,
energéticos, produtos de higiene pessoal, limpeza, bem como isopor proveniente
principalmente de embalagens de marmitex e de caixas térmicas. Tais materiais, por possuírem
baixa densidade, ficam na superfície e são arrastados por quilômetros.

Portanto, é necessário um investimento maior em infraestrutura e tecnologias que permitam


uma gestão eficiente e segura dos resíduos gerados, com ênfase em programas de redução,
reutilização e reciclagem. É importante também que governos, empresas, instituições de ensino,
pesquisa e extensão trabalhem juntos em soluções que ofereçam condições nas quais a
população se integre ao ambiente e contribuam na promoção de ações da sua qualidade.
Investir em um ambiente preservado, limpo e seguro resulta diretamente na qualidade saúde
humana, animal e vegetal favorecendo a manutenção da vida.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada baseou-se no levantamento de dados de forma qualitativa com o


registro fotográfico e anotações das observações realizadas. As análises quantitativas para
resíduos sólidos e efluentes lançados em natura serão realizadas na 2ª etapa da expedição,
prevista para o mês de setembro, período de seca, para se fazer o contraste com a cheia do rio.

RESULTADOS

A realidade do gerenciamento dos resíduos sólidos nas grandes cidades é historicamente


desafiadora. O aumento do consumo associado ao elevado número de habitantes resulta no
crescente volume de lixo produzido diariamente o qual contribui para que cidades de todo o
mundo venham a enfrentar problemas de gestão e disposição final de resíduos, situação
semelhante à observada no município de Goiânia.

A urbanização acelerada desse grande centro urbano do estado de Goiás, associado ao


crescimento populacional de forma desorganizada reflete na ocupação do solo em áreas de
preservação permanente (APPs), resultando na perda da sua importante função ambiental, que,
de acordo com a Lei 12.651/2012 consiste em “preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar da população”.

Uma vez que as APPs estão localizadas ao longo dos cursos d’agua, é possível constatar que
tanto o Rio Meia Ponte quanto afluentes evidenciam grande perdas dessas áreas para
construções de imóveis residenciais (figura 1) e industriais, práticas agrícolas (figura 2), criação
de animais (figura 3).

72
Figura 1: Residência construída com tubulação para lançamento direto no rio Meia Ponte

Figura 2: Região de pastagem à margem rio Meia Ponte

73
Figura 3: Criação de suínos às margens do Rio Meia Ponte.

Diante desse contexto, constatou-se que gerenciar os resíduos sólidos de maneira eficiente e
sustentável é um grande desafio para a manutenção de Goiânia e sua região metropolitana.
Entre os principais problemas enfrentados, a destinação inadequada dos resíduos (figuras 4, 5 e
6) ocasiona a poluição das águas, do solo, do ar bem como impacto de forma negativa na saúde
pública.

Figura 4: Resíduos sólidos retidos às margens do Rio Meia Ponte no período de cheia.

74
Figura 5: Resíduos sólidos retidos na saída das manilhas de água pluvial.

Figura 6: Sacolas plásticas retidas nas árvores e raízes expostas das árvores.

Diante essa realidade, apesar de Goiânia possuir Programa de Coleta Seletiva é evidenciado a
necessidade de infraestrutura e políticas públicas que visam o gerenciamento dos resíduos de
forma adequada bem como a implementação de ações de educação ambiental que promovam
tanto a redução da quantidade de resíduos e acondicionamento seguro, quanto a realização da
disposição final de forma adequada em aterros ou cooperativas de catadores de materiais
recicláveis.

Outras constatações como a ausência de mata ciliar, principalmente em regiões que passam
rede de alta tensão, que contribuem para processos erosivos do solo (figura 7) e consequente

75
assoreamento (figura 8) do rio. Os processos de lixiviação do solo em decorrência dessa falta de
proteção contribuem por conseguinte no aumento dos resíduos nas águas durante o período de
chuvas.

Figura 7: Área com rede de alta tensão e processo erosivo.

Figura 8: Área de assoreamento do rio Meia Ponte

76
Em síntese, ao observar os inúmeros lançamentos no rio, tanto de resíduos quanto de efluente
bruto (figura 9), é possível diagnosticar que trata-se do distanciamento na relação entre homem
e natureza exigindo a efetividade de ações que promovam soluções sustentáveis e efetivas para
a gestão dos mesmos.

Figura 9: Lançamento de efluente bruto em área com processo erosivo.

CONCLUSÕES

Ao navegar no período de seis dias, na extensão de aproximadamente 45 km, durante a I


Expedição Científica do Rio Meia Ponte, e considerando que tratou-se de um levantamento de
dados preliminar, pode-se concluir que:

A quantidade de resíduos que descem o rio ou que estão retido à margem dos rios é
altíssima;

A característica dos resíduos que encontram-se na superfície da água ou em suas


margens consiste em produtos de baixa densidade que podem ser carregados à longas
distâncias como: sacolas plásticas, embalagens de isopor utilizadas para marmitex,
garrafas do tipo pet (água, refrigerante, sucos), produtos de higiene pessoal, fraldas
descartáveis, embalagens de defensivos agrícolas.

Além da quantidade de resíduos, há inúmeros pontos de lançamentos de efluente bruto,


residências construídas nas APPs do Rio Meia Ponte evidenciando um elevado índice de
poluição do rio o qual se torna impróprio para inúmeras atividades.

É necessário elaborar um plano estratégico que visa o envolvimento do poder público e


de toda a população para a realização de ações que promovam a despoluição do rio
como: o recolhimento do efluente lançado in natura e posterior deslocamento para
estação de tratamento; melhora na eficiência do efluente tratado lançado no rio pela
companhia de saneamento; retirada dos resíduos sólidos existentes no rio e ações para
que outros não voltem a aparecer.

77
A inexistência de mata ciliar nativa ou a presença de espécies exóticas na pouca área
que existe contribuem para os processos erosivos à margem do rio e consequente
assoreamento de forma de o volume de água produzido esteja cada vez mais
comprometido. Locais em que há rede de alta tensão os processos erosivos são de
grande impacto podendo ser sugerido ações de recuperação de mata ciliar com espécies
nativas.

Condomínios construídos próximo à margem tem usado a barreira natural e visual de


bamboo como justificativa para redução do processo de erosão.

A existência de atividade de pesca e produção agrícola como possível geração de renda


é preocupante visto que o peixes e hortaliças podem estar sendo oferecido à população,
oferecendo riscos à saúde;

O Rio Meia Ponte percorre inúmeros bairros do município de Goiânia e região


metropolitana, o qual em condições ambientalmente adequadas poderiam oferecer
espaços para realização de lazer, pesca e turismo.

A implantação de ecobarreiras no Rio Meia Ponte para retenção de resíduos pode ser
uma estratégia de diagnóstico e avaliação das características dos resíduos que chegam
até as águas do Rio Meia Ponte.

É necessário o reconhecimento da importância do rio para toda a população,


desenvolvendo dessa forma, ações que promovam o envolvimento e a integração do
homem com esse ecossistema que requer melhoria na qualidade tanto de sua água
quanto das margens. Recuperar este manancial que é de suma importância para o
abastecimento é de vital importância.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Presidência da República. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política


Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm
Acesso em 10 de abril de 2023.

BRASIL. Presidência da República. Lei N° 11.4455, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as


diretrizes nacionais para o saneamento básico, cria o Comitê Interministerial de Saneamento
Básico(...). Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11445.htm
Acesso em 10 de abril de 2023.

78
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL
Rodolfo Barros Kirsteim
Divina Lúcia Nascimento Santos
Michelle Ribeiro dos S. Silva
Andrea Araújo Gouveia Godoi
Bias Barreira Neto
Emivaldo Silva
Fabíola, Rosa de O. Soares
Gabriela Silva Cruvinel
Humberto Mesquita de Carvalho
Maria, Augusta de Castro Souza
Samuel Gomides
Vinícius José Olimpio Rodrigues
Wesley Junio Nunes
Lucas Nakamura
Isabela Straioto
Ana Carolina Cavalcante
Maria Menezes
Benedito Borges
Raflesia Coelho
Tarcísio do Carmo

A bacia do Rio Meia Ponte encontra-se de um modo geral, bastante antroponizada,


apresentando situações graves de degradação que exaurem a cada dia seus recursos naturais:
meio ambiente, fauna, flora e os recursos hídricos.

Os usos e ocupações dos solos nessa bacia, de forma desordenada comprometem qualitativa e
quantitativamente as águas desse rio, reduzindo sua vida útil e prejudicando severamente a
todos os seus usuários em seus processos produtivos: industriais, agropecuários, a agricultura,
o saneamento, o lazer, a paisagem e a saúde dos próprios proprietários e/ou trabalhadores
rurais, elevando-se também os custos operacionais de produção de água potável e de alimentos,
somados aos prejuízos ambientais e à possível e decrescente disponibilidade desses recursos
para todos os seus usuários, com prejuízo final maior, para o abastecimento público, atual e
futuro, de Goiânia e municípios da bacia.

Urge, pois, que se concilie a produção de alimentos, a expansão urbana com a proteção da bacia
hidrográfica e de seus cursos hídricos, com base nos princípios da sustentabilidade: a produção
limpa e a expansão urbana controlada, para que todos os usuários da bacia tenham
disponibilidade desse insumo imprescindível, em qualidade e quantidade, principalmente a
cidade de Goiânia.

79
Figura 1: Margens do Rio Meia Ponte degradadas.
Fonte: Registros da equipe da 1ª expedição do Meia Ponte

A Expedição do Rio Meia Ponte realizou ações socioambientais por meio de atividades
educativas, panfletagem e levantamento socioambiental com a população ribeirinha no trecho
do Rio Meia Ponte que permeia Goiânia com a finalidade de detectar o nível de consciência
ambiental da população bem como sensibilizá-la da importância do rio para os próprios
ribeirinhos e a comunidade goiana.

RESUMO DAS AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DURANTE A EXPEDIÇÃO

Diretor de produção da Saneago Marco Túlio de Equipe da Gerência de Educação ambiental e Ações
Moura Faria e demais participantes da Sociais da Saneago.
expedição.

Fonte: Registros próprios. Fonte: Registros próprios.

Foram desenvolvidas ações socioambientais em duas frentes: visitas socioeducativas


domiciliares e atividades em instituições de ensino.

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Nas escolas agendadas foram ministradas palestras e atividades lúdicas destacando a
importância da conservação do Meia Ponte e do uso consciente da água.

As visitas domiciliares foram realizadas com a população ribeirinha do manancial nos seguintes
setores: Vila Monticelli, Brisas da Mata, Urias Magalhães, Vila Flores e Crimeia Leste. Em cada
domicílio visitado foi aplicado um questionário socioambiental (Anexo 1) levantando quantidade
de pessoas na casa, nível de escolaridade do entrevistado, renda familiar mensal situação
empregatícia e tempo de moradia no local.

O questionário ambiental levantou questões como: uso do solo na propriedade, conhecimentos


dos problemas ambientais que afetam a qualidade da água do rio Meia Ponte, avaliação do
morador da qualidade da água do rio, se o morador usa a água do manancial para fins
domésticos e se ele possui consciência ambiental em relação ao rio.

Superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Saneago Camila Roncato.


Fonte: Registros próprios.

Durante a realização do trabalho foram levantadas as principais demandas apontadas pelos


moradores envolvidos, nas ações socioambientais das áreas próximas ao Rio Meia Ponte aos
órgãos e instituições municipais.

Promover coleta de lixo regularmente nos bairros que margeiam o rio;

Recolher e castrar os animais doméstico (cachorros e gatos) e fazer campanhas de


adoção;
Fazer a roçagem de forma periódica para evitar a invasão de animais peçonhentos nas
casas dos moradores;

Fiscalizar o lançamento de entulhos às margens do rio e autuar os responsáveis.

Conscientizar a população por meio de ações socioeducativas sobre a questão


ambiental e como cuidar de forma precisa do local onde vivem.

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DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES

Equipe socioambiental da Saneago no CMEI Brisas da Mata


Fonte: Registros próprios.

Um dos moradores visitados no primeiro dia das visitas, a Senhora Liene Tavares, residente na
Chácara Caveiras localizada no setor Brisas da Mata ressaltou que um dos maiores problemas às
margens do rio é a sujeira deixada pelos moradores ao tomarem banho no manancial. Enfatizou
também a questão de incêndios nas matas ciliares, pois frequentadores do local acendem
fogueira a noite e depois não apagam o fogo, ocasionando focos de incêndio e trazendo
insegurança às casas próximas.

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No dia 22 de março, data que é lembrada sendo o dia mundial da água, foram realizados eventos
educativos em duas escolas de áreas próximas do trecho da expedição: a Escola Nossa Senhora
Aparecida no bairro São Domingos e Nossa Senhora da Terra localizada no Setor Jardim Curitiba.
Nessas instituições foram realizadas palestras de sensibilização sobre a importância da
conservação do Rio Meia Ponte, teatro de fantoche, além da presença dos mascotes da Saneago
Banja e Sato que incentivaram o uso consciente da água.

Os participantes das escolas previamente selecionadas também receberam explicações sobre a


importância dos trabalhos realizados na expedição do Rio Meia Ponte para a população
goianiense, inclusive a peça teatral de fantoche (Anexo 2) destacou a história e relevância do
curso d’água para o estado de Goiás.

Estudantes das escolas Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Terra.


Fonte: Registros próprios.

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No segundo dia (23), as visitas contemplaram residentes do setor Urias Magalhães e Balneário
Meia Ponte.

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No terceiro dia (24), a visita contemplou residentes da Vila Monticelli.

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No decorrer das visitas foram observados problemas ambientais graves como lixo às margens
do rio com depósito de materiais recicláveis, desmatamento, assoreamento e esgoto ao céu
aberto.

No quinto dia (26) da expedição a equipe visitou moradores para obter relatos sobre a
percepção a respeito da situação do Rio Meia Ponte e demandas da população quanto aos
cuidados com a preservação do manancial.

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No sexto e último dia (27) do cronograma da expedição, a equipe social realizou atividades na
escola municipal Maria da Terra no Bairro Floresta e na escola Orientar setor Balneário Meia
Ponte.

Na ocasião, também foram realizados palestras, teatro e sensibilização sobre a situação da bacia
hidrográfica do Rio Meia Ponte.

Um dos destaques durante os eventos nas escolas foi referente a apresentação do mapa da
bacia de abastecimento público do Rio Meia Ponte com a localização de onde o manancial nasce,
suas principais nascentes e classificação. Os alunos visualizaram que as nascentes são
classificadas em degradadas, perturbadas, levemente perturbadas e preservadas. Viram que as

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nascentes degradadas são aquelas que não apresentam vegetação com um raio de até 50m em
torno delas; já as perturbadas e levemente perturbadas são as que possuem algum fator
antrópico que influencia sua qualidade além de pouca vegetação e as ditas preservadas, são
aquelas que possuem uma área de proteção permanente dentro dos limites da lei municipal
e/ou estadual, ou seja, vegetação completa num raio de 50m.

MAP A DA BACIA DO RIO MEIA P ONTE

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RESULTADOS E CONCLUSÃO

Foram entrevistados 63 moradores. De acordo com as questões perguntadas foram obtidos os


seguintes resultados:

Os dados apresentados acima sugerem que a maioria das famílias entrevistadas tem um grupo
familiar grande. Cerca de 34% dos entrevistados possuem mais de 4 pessoas no núcleo familiar.
Quanto a escolaridade cerca de 30% dos entrevistados possuem ensino médio completo o que
é considerado importante para conhecimento e análise das questões ambientais observadas ao
seu redor.

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Os dados apresentados sugerem que a maioria das famílias entrevistadas tem uma renda mensal
relativamente baixa. Cerca de 35% das famílias entrevistadas vivem com até um salário mínimo,
o que é considerado insuficiente para atender às necessidades básicas de uma família. Outros
30% vivem com uma renda de um a dois salários mínimos, o que também é considerado baixo.

A falta de saneamento básico e a falta de consciência ambiental são problemas que afetam a
população brasileira em geral, independentemente de sua renda. No entanto, é possível que
esses problemas sejam mais acentuados nas camadas sociais mais pobres. Isso ocorre porque
essas famílias geralmente vivem em condições precárias de habitação, sem acesso adequado a
água potável e saneamento básico, o que aumenta a exposição a doenças e agravos à saúde.

Além disso, a falta de consciência ambiental pode ser mais comum entre as camadas sociais
mais pobres, que muitas vezes têm outras prioridades e preocupações mais urgentes do que o
meio ambiente. Isso pode levar a práticas inadequadas de disposição de lixo e poluição,
afetando a qualidade do ar e da água, bem como a saúde e o bem-estar da população em geral.

Portanto, é importante que as políticas públicas e os programas de conscientização ambiental


levem em consideração as diferentes realidades das camadas sociais e trabalhem para fornecer
infraestrutura adequada de saneamento básico e educação ambiental para todos os cidadãos,
independentemente de sua renda. Isso pode contribuir para reduzir as desigualdades sociais e
melhorar a qualidade de vida e saúde da população brasileira como um todo.

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Os dados apresentados indicam que a maior parte das pessoas entrevistadas reconhece que a
disposição inadequada de esgoto e lixo doméstico são os principais problemas ambientais que
afetam a qualidade da água do Rio Meia Ponte. Isso é preocupante, pois a disposição
inadequada de resíduos pode causar contaminação da água, impactando a saúde humana e a
biodiversidade local.

Apenas um número muito pequeno de pessoas entrevistadas mencionou desmatamento e


erosão do solo como problemas ambientais que afetam a qualidade da água. Esses problemas
também são preocupantes, pois o desmatamento e a erosão do solo podem causar o
assoreamento do rio e aumentar a quantidade de sedimentos e nutrientes, levando à
eutrofização e morte de espécies aquáticas.

Embora a educação ambiental seja importante para conscientizar as pessoas sobre os problemas
ambientais e incentivar mudanças de comportamento, é importante reconhecer que as
abordagens devem ser diferentes para diferentes públicos e contextos. Por exemplo, para as
pessoas que disseram "Não conheço" o problema, a abordagem pode ser mais informativa e
com divulgação das informações em meios de comunicação de massa, já para aqueles que já
conhecem os problemas, pode ser mais efetivo um trabalho de sensibilização e conscientização
para a mudança de hábitos.

Para as pessoas que reconhecem que a disposição inadequada de esgoto e lixo doméstico é um
problema, a abordagem pode ser focada em como melhorar a gestão de resíduos e o
engajamento comunitário em práticas de reciclagem e compostagem. Para as pessoas que
mencionaram poluição industrial, pode ser necessário abordar questões regulatórias e de
fiscalização, bem como incentivar a adoção de tecnologias mais limpas.

Em resumo, a educação ambiental pode desempenhar um papel fundamental na


conscientização e mudança de comportamento, mas é importante adaptar a abordagem às
diferentes realidades e contextos. É fundamental que haja uma participação ativa dos
moradores na busca de soluções para os problemas ambientais locais e que as políticas públicas

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e as empresas privadas trabalhem em conjunto para a melhoria da qualidade ambiental e da
qualidade de vida da população.

Os dados apresentados revelam que a maioria das pessoas entrevistadas realiza alguma ação
para conservar ou recuperar o meio ambiente na região da bacia do rio Meia Ponte, com 48 das
61 pessoas respondendo positivamente. É uma boa notícia, pois o engajamento dos cidadãos é
fundamental para a conservação e recuperação do meio ambiente.

Entre as ações realizadas pelos entrevistados, evitar jogar lixo no rio ou na margem é a ação
mais comum, com 27 pessoas mencionando-a. Isso é muito importante, pois a disposição
inadequada de lixo é um dos principais problemas ambientais que afetam a qualidade da água
do rio Meia Ponte.

Outra ação mencionada por 10 pessoas é a de plantar árvores nativas. Esta é uma prática
importante para a recuperação de áreas degradadas e a conservação da biodiversidade. No
entanto, é necessário avaliar a escolha das espécies e o local de plantio para garantir que as
árvores nativas sejam adequadas para a região e não causem impactos negativos.

Apenas duas pessoas mencionaram denunciar atividades ilegais ou prejudiciais ao meio


ambiente. Isso pode indicar uma falta de informação sobre como denunciar essas atividades, a
falta de confiança nas autoridades ou a falta de capacidade de perceber atividades ilegais.

É importante ressaltar a importância da educação ambiental e políticas públicas de


conscientização para engajar mais pessoas em ações de conservação e recuperação do meio
ambiente. As políticas públicas podem incentivar ações sustentáveis por meio de incentivos
financeiros, capacitação, campanhas de conscientização, dentre outras abordagens.

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Em conclusão, os dados mostram que muitos dos entrevistados estão engajados em ações de
conservação e recuperação do meio ambiente na região da bacia do rio Meia Ponte, mas é
necessário intensificar a conscientização sobre a importância de denunciar atividades ilegais,
além de promover ações de plantio de árvores nativas e incentivar ações mais sustentáveis. O
engajamento dos cidadãos é fundamental para a construção de um ambiente mais saudável e
sustentável.

Os moradores fizeram pontuações e reclamações sobre a situação na região. A reclamação mais


observada foi a questão do lixo. Eles pontuaram a demora da coleta do lixo/ausência de
varredores na rua e o lançamento de lixo e animais mortos em lotes baldios e próximo ao rio.
Moradores de outros bairros distantes laçam entulhos nas áreas próximas ao rio. A falta de
roçagem do mato e a grande quantidade de animais soltos (cachorros, cavalos) na região
incomoda muito a população. Devido ao mato, o aparecimento de animais peçonhentos como
cobras e aranhas é constante. Em período chuvoso, ocorre alagamento nas áreas próximas ao
rio e muitos moradores tem que evacuar a área.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O documento aqui apresentado mostrou a importância da realização da 1ª Expedição Científica
pelo Rio Meia Ponte, no perímetro urbano de Goiânia, trecho caracterizado pela maior taxa de
degradação do manancial que com sua bacia abastece quase 50% da população do Estado de
Goiás.

Queremos reconhecer e valorizar as várias iniciativas que buscam recuperar e preservar o Meia
Ponte, mas vale destacar que é a primeira vez que juntamos em um único documento, o
levamento e análises de todos os seus componentes: recursos hídricos, uso do solo, fauna, flora
e atividades socioambientais.

Ainda como dados preliminar, posto que o plano de trabalho assegura uma 2ª etapa de coleta
de dados e análise em tempo de seca para o contraste das informações com a cheia do rio,
podemos dizer que os dados já são suficientes para mostrar a gravidade da situação do Meia
Ponte e seus usos. Seguem algumas constatações e apontamentos de ações futuras que foram
organizados a partir do trabalho de cada comissão temática.

CONSTATAÇÕES

De acordo com o índice pluviométrico ocorrido no período antecedente e durante a Expedição,


observamos grandes alterações do nível de vazão do rio Meia Ponte;

Um dos mais graves problemas levantados ao longo do trabalho foi o grande e variado volume
de resíduos descartados de forma irregular nas margens e no leito do rio (Áreas de Preservação
Permanente - APPs);

Existem diversos processos erosivos, de vários níveis, ao longo do manancial, contribuindo de


forma significativa para o agravamento de processos de assoreamento, especialmente nas
proximidades da foz dos afluentes e em áreas de descarte de resíduos de construção civil e de
empreendimentos imobiliários em implantação;

Foram mapeados dezenas de pontos de lançamento irregular de efluentes industriais e


domésticos no Meia Ponte e em vários mananciais afluentes, especialmente no Anicuns,
Botafogo e Água Branca, causando significativos impactos ambientais e hídricos, caracterizados
pela turbidez da água, forte e desagradável odor, desconforto e riscos aos moradores
ribeirinhos;

Durante os diálogos realizados com as pessoas sob influência direta do Meia Ponte, foi
observado um baixo nível de pertencimento da população em relação ao rio, sendo as
edificações residenciais e comerciais construídas de “costas” para o rio, servindo o manancial
como ponto de descartes variados e compreensível falta de usos para pesca, lazer e
contemplação;

Durante os trabalhos realizados na fauna aquática, levantou-se uma pequena variedade,


especialmente de peixes, seguramente proveniente do processo de poluição das águas
constatado nas análises realizadas;

Mesmo o rio apresentando baixa piscosidade, tivemos relatos de moradores e presenciamos


algumas pessoas pescando em locais poluídos para se alimentar ou mesmo vender em feiras
livres de Goiânia. Esse relato é preocupante, pois indica a necessidade de trabalhos

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conscientizadores junto à população visando, para além da preservação ambiental, a segurança
alimentar, já que diversos estudos comprovam graves consequências para a saúde humana pela
ingestão de peixes provenientes de áreas com alta concentração de esgoto, lixo e poluentes
industriais (parâmetros físico-químico, bacteriológico, metais e agrotóxicos acima do aceitável);

Em termos imobiliários, foram observadas diversas e impactantes ocupações irregulares e


ilegais das margens (APPs), por meio de construções residenciais, comerciais e até industriais,
como também, plantios de hortaliças, criação de suínos e equinos, dentre outros;

Baixo índice de cobertura vegetal, inclusive das matas ciliares, além de um grande número de
plantas exóticas e/ou invasoras, o que de certa forma, “maqueia” a realidade vegetal nas
margens do manancial, onde esses fatores combinados, contribuem para a baixa diversidade e
presença de animais silvestres;

Mesmo sendo o trecho percorrido, em sua grande maioria realizado em áreas urbanizadas, na
pequena área rural trabalhada, foi identificado processos de degradação do solo, o que torna
esses locais quase improdutivos e ainda, vulneráveis às erosões;

Durante todo o itinerário, observamos uma grande deficiência de informações importantes e


necessárias para a população usuária dos processos de mobilidade urbana, tais como: placas de
sinalização informando ser um manancial de abastecimento (BRs e GOs) e também alertando
sobre os riscos de afogamento e de contaminação por contato direto com água poluída;

Enorme deficiência de medidas de proteção das nascentes localizadas ao longo do manancial


como cobertura vegetal, cercas de proteção, contenção de águas pluviais, dentre outros;

Ausência dos poderes públicos constituídos, junto à população, especialmente ribeirinha, para
orientar, conscientizar e coibir as múltiplas agressões ao Meia Ponte e a seus afluentes;

Exploração irregular de material arenoso que é comercializado, sendo que a sua qualidade,
seguramente, não atende às especificações exigidas pelas Normas da ABNT para usos na
construção civil;

Mesmo nas áreas com vegetação nativa, é notória a presença de atividades irregulares, tais
como currais e galinheiros, criação de porcos, bovinos e aves, depósito de entulhos (ferro-
velhos), captação irregular de água ou o lançamento irregular de efluentes (despejos líquidos
provenientes de atividades humanas e industriais), especialmente nos trechos mais
urbanizados.

Aplicação de agrotóxicos em hortaliças existentes nas proximidades do Meia Ponte, causando a


contaminação do solo, lençol freático e as águas do manancial;

Constatamos uma grande cobrança da população, em especial nos bairros com menor
infraestrutura, em relação à falta/deficiência: à manutenção das vias, limpeza pública,
fiscalização de descarte de entulhos e lixo em áreas verdes e de APPs, roçagem de lotes baldios,
esgotamento sanitário e drenagem urbana, controle de vetores de doenças, gestão adequada
(identificação, vacinação, castração) de cães e gatos em situação de rua.

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APONTAMENTOS PARA AÇÕES FUTURAS

Que seja realizada uma ampla e consistente articulação entre os poderes constituídos,
a academia e a sociedade civil organizada, evidenciada por meio de um “Pacto pelo Meia
Ponte”, onde possam, de forma cooperativa, eficiente e participativa, implementar a
preservação, a conservação e a recuperação da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte,
garantida pelos recursos orçamentários e financeiros necessários, à elaboração e a
implementação de políticas públicas que protejam seus ecossistemas e a
biodiversidade;

Necessidade de uma considerável e premente alteração do Plano Diretor de Goiânia,


por apresentar, como ferramenta de gestão pública, diversas lacunas e inconsistências,
tão essenciais às condições que protejam, conservem e até recupere os passivos
ambientais e hídricos na capital;

Elaboração e aplicação continuada de um consistente “Plano de Educação Ambiental”,


que seja trabalhado no conjunto da sociedade goianiense, tendo como prioridade a
aplicação nos Sistemas Municipal, Estadual e Federal de Educação;

Proposta para que a empresa concessionária de saneamento básico (Saneago), com a


devida suplementação de recursos financeiros, provenientes dos entes federativos, faça
os investimentos suficientes à universalização dos sistemas de água e de esgotamento
sanitário da região metropolitana de Goiânia;

Elaboração/atualização, aprovação e implementação do Plano Municipal de


Saneamento Básico de Goiânia (PMSB), estabelecendo um cronograma de
investimentos, com Plano de Metas, que possa efetivamente prevenir os descartes
irregulares e ilegais de resíduos domésticos, de construção civil, bem como os
lançamentos irregulares e clandestinos de esgotos no Meia Ponte e a seus afluentes;

Criação do “Observatório do Rio Meia Ponte” como forma de agregar conhecimento e


ações, contribuindo efetivamente para a realização de trabalhos coletivos, articulados
e cooperativos entre os Poderes Públicos, as Instituições de Ensino Superior, Empresas
Privadas, Sociedade Civil Organizada, objetivando a implementação de programas e
projetos de monitoramento e executivos, que previnam e recuperem passivos
ambientais e hídricos, como: áreas degradadas, matas ciliares, nascentes, erosões,
assoreamentos, explorações/ocupações irregulares, corpos hídricos contaminados,
dentre outros;

Que os trabalhos e resultados obtidos na “1ª Expedição Científica do Rio Meia Ponte - Região
Metropolitana de Goiânia” inspire a reedição de novas expedições, não apenas nesse trecho,
como também a montante, região das nascentes, e a jusante, onde em um trecho de cerca de
300 km, mesmo com a depuração, a qualidade da água ainda é comprometida em termos
qualitativos, pelas pesadas cargas de poluentes, provenientes de forma significativa, pelo maior
adensamento urbano do estado de Goiás, região metropolitana de Goiânia.

Realização de novas expedições, em particular no período de estiagem, onde os trabalhos


expressem a realidade do rio em sua menor vazão, o que seguramente, comprovará os mais
graves e amplos problemas, como: volume, resíduos e efluentes, erosões, assoreamento, odor,
extração de material arenoso, dentre outros.

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Proposta para que esse grupo de expedicionários, consciente, qualificado e comprometido,
“adote” verdadeiramente o Meia Ponte, em suas pesquisas e ações, como um rio natural e de
suma importância hídrica, ambiental e socioeconômica. Diante de tudo que foi constatado em
termos de problemas e impactos ambientais nesse trecho de maior concentração urbanística e,
consequentemente de sobrecarga, ainda assim, podemos seguramente afirmar que existe real
possibilidade de revigoramento ambiental e hídrico da Bacia Hidrográfica do Meia Ponte, mas
para que isso ocorra, serão necessárias medidas pautadas em planejamento, investimentos e no
comprometimento de políticas públicas eficientes e coletivas a serviço dos ecossistemas e da
biodiversidade resistentes às ações degradadoras do ser humano.

Abrace o Meia Ponte!!

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