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X SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA

IMAGENS GEOCOVER E MODELO NUMÉRICO DO TERRENO SRTM 90


APLICADAS AO MAPEAMENTO DE DOMÍNIOS LITOESTRUTURAIS DO
CINTURÃO OROGÊNICO AGUAPEÍ: CASO DA SERRA RICARDO FRANCO-MT

Auberto José Barros Siqueira (1) (ajsiqueira@ufmt.br);


Amarildo Salina Ruiz (1);
Anderson Rodrigues Delguíngaro (2); Felipe Almeida de Medeiros (2);
Allan Jhone Ferreira França(2)
Departamento de Geologia Geral - ICET/UFMT(1), Curso de Geologia UFMT/VIC(2)

Geotecnologias
INTRODUÇÃO (Bolívia) até a região do Rio Novo, próximo à divisa
entre Mato Grosso e Rondônia. Ao lado da Faixa Móvel
Este estudo é parte do projeto “Evolução Geológica Sunsás e do Terreno Nova Brasilândia em Rondônia, o
do Domínio Tectônico Paraguá no extremo ocidente COA é considerado como um dos cinturões orogê-
do Brasil – Mato Grosso”. O objetivo deste trabalho é nicos do sudoeste do Cráton Amazônico/ oriente
avaliar a aplicabilidade da análise de imagens geocover boliviano, que se desenvolveram após a amalgamação
da área, associadas com o modelo numérico do e consolidação do supercontinente Rodínia, entre
terreno (SRTM 90) como uma ferramenta auxiliar ao 1100 – 900 Ma (Ruiz, 2005). Suas feições morfotectô-
mapeamento em semidetalhe dos domínios litoestru- nicas em megaescala são prontamente reconhecíveis
turais e estratigráficos das rochas do Cinturão em imagens de satélites, principalmente devido ao
Orogênico Aguapeí (COA) situado no sudoeste de forte contraste de relevo entre cristas residuais e blocos
Mato Grosso / oriente boliviano. Para tanto, a região da alinhados de planaltos residuais isolados do COA (400
Serra Ricardo Franco/ Huanchaca foi escolhida como a 1000 m de altitude) e os terrenos aplainados do
área-teste devido à relativa facilidade de acesso na Cráton Amazônico e/ou planícies sedimentares (<100
parte ocidental e a existência de dados de campo já – 400 m de altitude) nos quais encontram-se inseridos.
coletados pela equipe do projeto que permite avaliar a Tais blocos formam grandes morfoestruturas (planaltos
acurácia da fotointerpretação. Além da sua impor- residuais) as quais, em território brasileiro, são
tância para o estudo da evolução geotectônica do regionalmente reconhecidas como as serras de Santa
sudoeste do Cráton Amazônico, o COA é ainda Bárbara, Cágado, Monte Cristo, São Vicente e Ricardo
conhecido pelas suas importantes mineralizações Franco (Figura 1). Estratigraficamente, as unidades que
auríferas, apresenta notáveis sítios de conservação da compõem essas morfoestruturas formam o Grupo
biodiversidade (transição cerrados de altitude / Aguapeí (Saes e Leite, 1993) o qual, tanto em Mato
florestas tropicais úmidas / área úmidas) e de recursos Grosso quanto em território boliviano, constitui-se de
hídricos. Este caso é ilustrado pelas unidades de uma seqüência tripartite, formada por uma unidade
conservação existentes como o Parque Estadual da basal areno-conglomerática (Formação Fortuna), um
Serra de Santa Bárbara, Parque Estadual de Ricardo pacote intermediário pelítico (Formação Vale da
Franco e seu equivalente boliviano, o Parque Nacional Promissão) e uma unidade superior arenosa (Formação
Noel Kempfi. Morro Cristalina).
A Serra Ricardo Franco situa-se no extremo oeste
GEOLOGIA DA ÁREA DA SERRA RICARDO do Estado de Mato Grosso, estendendo-se ao território
FRANCO/ HUANCHACA NO CONTEXTO DO COA boliviano onde recebe o nome de Huanchaca. Nessa
região a cartografia geológica vem registrando a
O COA é definido como uma megaestrutura presença das três formações que compõem o Grupo
tectônica alinhada na direção N20 - 40W, com cerca Aguapeí, embora em trabalhos anteriores apenas se
de 150 a 200 km de largura. Ela se prolonga por cerca reconhecia a formação Fortuna. Na contraparte
de 500 km, desde a região de Rincón Del Tigre boliviana da Serra Ricardo Franco, essas rochas são
descritas como parte do Grupo Sunsás, mais especifi-

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camente, como a Formação Cuatro Carpas que Saes e liderada pela NASA, constituiu-se de um sistema radar
Leite, (1993), correlacionam à Formação Vale da a bordo do ônibus espacial Endeavour que imageou a
Promissão do Grupo Aguapeí, caracterizada por terra em uma missão de 11 dias em fevereiro de 2000.
variada associação de fácies, resultado da diferenci- Foi utilizada a tecnologia de interferometria SAR
ação paleogeográfica da bacia. Observa-se que tais (InSAR) de passagem única, composta por duas
rochas formam um relevo cuestiforme com centenas antenas de radar (SAR) separadas 60 metros entre si,
de metros de desnível, formando os contrafortes por meio de uma haste projetada para fora do corpo
ocidentais da serra Ricardo Franco, em território do ônibus espacial. Os dados altimétricos têm
boliviano. Aí encontram-se mapeadas unidades de resolução radiométrica de 16-bit e resolução espacial
soleiras de rochas básicas alojadas entre planos de original de 1 arc sec (~ 30 m). Para América do Sul,
estratificação da Formação Vale da Promissão. Tais esses dados foram reamostrados pela NASA para 3 arc
rochas ainda não foram mapeadas no lado oriental da sec (~ 90 m). A SRTM operou simultaneamente com
serra, em território brasileiro, embora suas ocorrências duas antenas, respectivamente nas bandas C e X. Do
já tenham sido descritas na forma de soleiras máficas, mesmo modo que as imagens Geocover, os dados
métricas, constituídas por diabásios e micrograbos SRTM foram também georeferenciados utilizando-se o
(Ruiz et al. 2007). elipsóide WGS 1984. O SRTM 90 também é disponibi-
lizado gratuitamente desde o portal http:/-
BASE DE DADOS E MÉTODOS /srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/inputCoord.asp.
A interpretação desses dados digitais ocorreu
Os dados digitais georeferenciados utilizados utilizando-se o programa ARCGIS da ESRI, no qual foi
correspondem a um recorte da área de estudo da criado um projeto com o mesmo sistema de projeção
imagem geocover S-20-10_2000 e ao Modelo dos dados digitais. A extração de informações ocorreu
Numérico do Terreno (MNT) SRTM 90 cobrindo a através de análise visual, seguindo-se os princípios do
mesma área. Método Lógico Sistemático. Primeiramente procedeu-
Imagens geocover são disponibilizadas gratuita- se a extração detalhada da rede de drenagem através
mente pela NASA a partir do servidor ZULU da agência da vetorização dos canais a partir da imagem Geocover
espacial americana - NASA (National Aeronautics and e, subsidiariamente, o MNT. Em seguida foram
Space Administration) que podem ser baixadas a partir identificados os elementos lineares do relevo com base
de https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid/. Os dados são na interpretação das mesmas imagens. Analisando-se
produzidas pelo sensor ETM do satélite Landsat 7, as camadas vetorizadas de drenagem e do relevo, foi
correspondendo às bandas 7, 4 e 2. São imagens possível identificar e vetorizar os principais lineamen-
ortoretificadas de modo que podem ser consideradas tos, delimitar as quebras negativas de relevo indicativas
como um mapa, sem as distorções geométricas de contato geológico, bem como a vetorizar os limites
produzidas pela geometria de visada e variações de das zonas homólogas em função dos diferentes
altitude. O sistema de projeção utilizado é o sistema padrões de arranjos espaciais dos elementos lineares
UTM, utilizando-se o elipsóide WGS/1984 como de drenagem e relevo as quais indicam a presença de
modelo da terra. Tais imagens são disponibilizadas em possíveis unidades litoestruturais.
um mosaico contínuo onde cada imagem cobre uma
área com 5° de latitude e 6° de longitude, cobrindo, RESULTADOS E DISCUSSÃO
neste caso, a largura de um fuso UTM. O tamanho do
pixel da imagem é de 14,25 x 14,25 m e os arquivos Até o momento, os resultados da análise conduzida
são comprimidos através da tecnologia MRSID, de na área-teste destacam a potencialidade dos dados
modo que cada imagem, apresenta-se apenas com digitais utilizados para o mapeamento das unidades
cerca de 250 Mb.Informações adicionais sobre o litoestruturais no COA em semidetalhe. A análise dos
processamento das imagens Geocover podem ser lineamentos mostrou tratar-se de um domínio de
adquiridas em http://glcf.umiacs.umd.edu- deformação relativamente de baixa intensidade,
/portal/geocover/index.shtml. dentro do contexto do COA, predominantemente
Através dos dados obtidos pela missão SRTM rúptil, com padrões de lineamentos alinhados prefe-
(Shuttle Radar Topography Mission) foi elaborado o rencialmente para N40-60W e secundariamente para
MNT de alta resolução abrangendo cerca de 80% do WNW-ESE. Em termos gerais, tais rochas formam
planeta terrestre. A missão, de natureza internacional essencialmente uma morfoestrutrura monoclinal, com

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suave inclinação geral para E-ENE, e, possivelmente


suaves megadobras muito abertas e blocos basculados
por tectônica tracional. A imagem Geocover, em
função do tamanho de pixel de 14,5m, permite
observar com grande acurácia a estratificação das
rochas da área-teste. Em associação com o MNT foi
possível inferir, através de quebras negativas de relevo,
limites de possíveis contatos entre as formações
Fortuna (base), Vale da Promissão (intermediária) e
Morro Cristalina (topo). As quebras negativas também
puderam inferir a ocorrência de massas rochas entre os
planos de estratificação, compatíveis com a descrição
prévia dos doleritos. Além dessas unidades, o detalha-
mento das unidades permite inferir a ocorrência de
possíveis novas litologias e/ou fáceis como a presença

Geotecnologias
de formações ferríferas. A confirmação dessas uni-
dades e dos padrões de deformação, através de
levantamentos em campo poderão acrescentar novas
informações à cartografia geológica na Serra Ricardo
Franco e contribuir para ampliação do conhecimento
da sua geologia.

BIBLIOGRAFIA
Saes, G., Leite, J, A.D. 1993. Evolução tectono-
sedimentar do Grupo Aguapeí, Proterozóico Médio na
porção meridional do Cráton Amazônico: Mato
Grosso e oriente boliviano. Rev.Bras. Geoc., 23:31-37.
Ruiz, A.S., Simões, L.S.A., Araújo, L.M.B., Godoy, A.
M., Matos, J.B., Souza, M.Z.A. 2007. Cinturão
orogênico Aguapeí (1025-900 MA): um exemplo de
faixa móvel intracontinental no SW do Cráton
Amazônico. In: XI SNET, Simp. Nac. Est. Tect.,Natal,
Anais, p. 116-117.
Ruiz, A. S. 2005. Evolução geológica do sudoeste do
Cráton Amazônico região limítrofe Brasil – Bolívia,
Mato Grosso. Tese de Doutorado, Instituto de
Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro 250p.

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