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Copyright © 2017 por Desiring God Foundation

Traduzido do original em inglês: The Dawning of Indestructible Joy: Daily Readings for Advent
Publicado por Crossway
a publishing ministry of Good News Publishers
Wheaton, Illinois 60187, U.S.A.

As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do
Brasil, salvo indicação contrária. Citações bíblicas com a indicação (NVT) foram retiradas da Nova
Versão Transformadora, da Editora Mundo Cristão. Citações bíblicas com a indicação (NVI) foram
retiradas da Nova Versão Internacional, da Biblica, Inc.

É proibida a reprodução deste livro sem prévia autorização da editora, salvo em breve citação.

1a edição: novembro de 2021

Edição
Yuri Freire
Tradução
Alan Cristie
Revisão
Jean Probst
Josemar de Souza Pinto
Projeto gráfico, diagramação e capa
Pedro Henrique Pereira de Carvalho

Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477

P665a Piper, John, 1946-


O alvorecer da alegria indestrutível : leituras diárias para
o Advento / John Piper ; [tradução: Alan Cristie]. – Niterói,
RJ: Concílio, 2021.

Tradução de: The dawning of indestructible joy : daily


readings for Advent.
ISBN 9786587263083 (brochura)
9786587263090 (epub)

1. Bíblia. N.T. – Uso devocional. 2. Advento – Meditações.


I. Título.

CDD: 242.332
Publicado no Brasil por Editora Concílio
Copyright © 2021 Editora Concílio
www.editoraconcilio.com.br
contato@editoraconcilio.com.br
Para Sam Storms,
parceiro no hedonismo cristão,
amigo precioso da alegria indestrutível.
SUMÁRIO

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

Orando pela plenitude neste Natal • JOÃO 1.14-16


1O DE DEZEMBRO

A missão de busca e salvação • LUCAS 19.10


2 DE DEZEMBRO

Prepare o seu coração para Cristo • JOÃO 5.44


3 DE DEZEMBRO

Aproxime-se do Salvador • HEBREUS 13.20-21


4 DE DEZEMBRO

O sentido do Advento • MARCOS 10.45


5 DE DEZEMBRO

Por que o Natal aconteceu • 1JOÃO 3.5,8


6 DE DEZEMBRO

A paixão de Deus por Deus no Natal • JOÃO 12.27-28


7 DE DEZEMBRO

Ele vem para nos abençoar • ATOS 3.22-26


8 DE DEZEMBRO

Podemos confiar em Deus • ATOS 3.22-26


9 DE DEZEMBRO

Por que o Filho do Homem? • JOÃO 1.51


10 DE DEZEMBRO

O que o Natal veio destruir • 1JOÃO 3.8


11 DE DEZEMBRO

A celebração do amor de Deus • JOÃO 3.16


12 DE DEZEMBRO

A glória do Verbo encarnado • JOÃO 1.1


13 DE DEZEMBRO

O Natal dividiu a história • ATOS 3.24


14 DE DEZEMBRO

A misericórdia que ele promete • ROMANOS 15.8-9


15 DE DEZEMBRO

Nosso mais verdadeiro tesouro • MATEUS 2.10


16 DE DEZEMBRO

Libertos para sermos parte da família de Deus • MARCOS 10.45


17 DE DEZEMBRO

Ele veio para servir • MARCOS 10.44


18 DE DEZEMBRO

Graciosa e ternamente frustrante • ROMANOS 3.25-26


19 DE DEZEMBRO

O presente que você não pode comprar • ATOS 17.24-25


20 DE DEZEMBRO

Receba a sua reconciliação • ROMANOS 5.11 (NVT)


21 DE DEZEMBRO

Prepare os seus olhos para o Natal • MATEUS 16.15-17


22 DE DEZEMBRO

Algo digno de ser cantado • HEBREUS 8.4-10 (NVT)


23 DE DEZEMBRO

Nossa mais profunda necessidade no Natal


24 DE DEZEMBRO

Desfrute de todas as promessas de Deus • MIQUEIAS 5.2-4


25 DE DEZEMBRO

Graça: a nota dominante do Natal • JOÃO 6.51


CONCLUSÃO
Nasceu o Salvador! Deus recebe a glória, e você recebe a paz
UMA PALAVRA DE AGRADECIMENTO
P R E FÁC I O

Sinto-me como o apóstolo Pedro no final de sua vida ao escrever sua


segunda carta. Por duas vezes, ele disse aos seus leitores o motivo de sua
escrita. No primeiro capítulo, disse: “considero justo, enquanto estou neste
tabernáculo, despertar essas lembranças em vocês” (2Pe 1.13). Depois, no
último capítulo, disse novamente: “procuro, com lembranças, despertar a
mente esclarecida de vocês” (2Pe 3.1).
Seu objetivo era, primeiramente, lembrá-los. E então, ao lembrá-los,
despertá-los. É para isso que serve este pequeno livro de leituras do
Advento: lembrar e despertar.
O termo grego para “despertar”, assim como em português, é utilizado
mais frequentemente para acordar alguém que estava dormindo. É dessa
maneira que o termo é usado, por exemplo, em Marcos 4.39: “[Jesus]
despertando, repreendeu o vento”. Pedro pressupõe que seus leitores cristãos
precisam ser despertados. Estou certo de que eu mesmo, continuamente,
preciso ser despertado. Especialmente quando o Natal se aproxima.
Sou propenso a ser insensível, apático, morno e espiritualmente letárgico.
Os seres humanos são assim, inclusive os cristãos, até mesmo com relação a
grandes coisas. Pedro sabe disso e está escrevendo para despertar seus
leitores a fim de que eles não apenas saibam, mas também sintam a
maravilha da verdade.
Foi por isso que escrevi estes devocionais. O que você e eu precisamos
normalmente não é de um ensino totalmente novo. Verdades totalmente
novas provavelmente não são verdades. Precisamos ser lembrados da
grandiosidade das antigas verdades. Precisamos que alguém nos diga uma
antiga verdade de uma nova maneira. Ou, às vezes, que apenas nos digam a
verdade.
O que Pedro realmente quer dizer (e o que eu quero dizer) com ser
despertado é sentir alguma medida da alegria que Deus quer que o Natal
traga. “Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande
alegria” (Lc 2.10). Não é pequena alegria. Não é modesta alegria. Mas
“grande alegria”. Se não sentimos isso quando ponderamos sobre a
encarnação do Filho de Deus, precisamos ser despertados.
Eu chamei o Natal — e este livreto — de “o alvorecer da alegria
indestrutível” porque a alegria que Jesus estava trazendo ao mundo era
singular na história. Uma vez que a temos, ela não pode ser destruída. Jesus
disse: “ninguém poderá tirar essa alegria de vocês” (Jo 16.22).
A alegria que Jesus veio trazer não pertence a este mundo. É a mesma
alegria que o próprio Jesus tem em Deus Pai — alegria essa que ele tem
desde a eternidade e terá para sempre. Não existe alegria maior que a alegria
que Deus tem em Deus, porque Deus é o maior objeto de alegria e tem os
maiores poderes para desfrutar.
Jesus disse: “Tenho lhes dito estas coisas para que a minha alegria esteja
em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15.11). A alegria dele era a
própria alegria de Deus, e ele promete colocá-la em nós. É isso que o
Espírito Santo faz. Ele derrama o amor de Deus em nosso coração (Rm 5.5),
e com isso a alegria de Deus em Deus. “Mas o fruto do Espírito é: amor,
alegria […]” (Gl 5.22). Isso é “grande alegria”. E ela não pode ser retirada. É
indestrutível.
Ah, mas ela pode adormecer. É por isso que Pedro diz: “considero justo,
enquanto estou neste tabernáculo, despertar essas lembranças em vocês”
(2Pe 1.13). Sim, isso é muito importante. Pois quão errado e quão triste é
quando estamos diante de grandes maravilhas e não sentimos nada. É
importante, portanto, que ele escreva — e eu escreva — para despertar
nossas afeições para a maior maravilha de todas: a chegada, a obra e a pessoa
de Jesus Cristo, o Filho de Deus, neste mundo.
Que o Espírito de Deus use estas palavras para abrir os seus olhos mais
uma vez para as glórias de Cristo e dar-lhe uma nova porção de sua alegria
indestrutível.
INTRODUÇÃO

O rand o pel a plenitude neste


Natal
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito do Pai. […] Porque todos nós temos recebido
da sua plenitude e graça sobre graça.
JOÃO 1.14-16

Foi um momento arrebatador para mim naquele Advento. Um homem em


nossa igreja tinha acabado de orar as palavras de João 1.14-16 em uma
reunião de oração antes do culto. Deus permitiu naquele momento que a
palavra “plenitude” me preenchesse. Foi uma experiência extraordinária.
Havia uma espécie de imersão no Espírito Santo.
Senti alguma medida do que a palavra realmente carrega — a plenitude de
Cristo. Senti um pouco da maravilha de ter de fato recebido graça sobre
graça de sua plenitude. E eu estava naquele momento recebendo graça sobre
graça. Senti então que nada teria sido mais doce do que simplesmente sentar
aos seus pés — ou ler minha Bíblia — a tarde inteira e sentir a sua plenitude
transbordar.
Por que essa plenitude teve tamanho impacto em mim? E por que ela
continua me afetando extraordinariamente até hoje? Em parte porque:
aquele de cuja plenitude estou sendo revestido com graça é o Verbo que
estava com Deus e era Deus (Jo 1.1-2), de maneira que a sua plenitude é
a plenitude de Deus — uma plenitude divina, uma plenitude infinita;
esse Verbo tornou-se carne e assim era um de nós e estava nos
buscando com sua plenitude — portanto, é uma plenitude acessível;
quando esse Verbo surgiu em forma humana, a sua glória foi vista —
sua plenitude é gloriosa;
esse Verbo era o “unigênito do Pai” para que a plenitude divina fosse
mediada a mim não apenas da parte de Deus, mas por meio de Deus —
Deus não enviou um anjo, mas sim seu único Filho, para entregar a sua
plenitude;
a plenitude do Filho é uma plenitude de graça — eu não me perderei
em sua plenitude, mas serei abençoado de toda maneira por sua
plenitude;
essa plenitude não é apenas uma plenitude de graça, mas também de
verdade — não estou sendo agraciado com bajulações que ignoram a
verdade; essa graça está arraigada numa realidade sólida como a rocha.

Ao saborear essa revelação da plenitude de Cristo, escuto Paulo dizer:


“Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9).
Eu o ouço dizer: “Porque Deus achou por bem que, nele, residisse toda a
plenitude” (Cl 1.19). E novamente: “em quem estão ocultos todos os tesouros
da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3).
Paulo ora para que experimentemos a plenitude de Cristo — não que
apenas saibamos sobre ela, mas que sejamos cheios dela. Eis como ouço
Paulo orando por mim: ele ora para que eu possa, com todos os santos,
“compreender qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e
conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que [eu
fique] cheio de toda a plenitude de Deus” (Ef 3.18-19).
A “plenitude de Deus” é experimentada, ele diz, quando compreendemos
o amor de Cristo em sua altura, profundidade, comprimento e largura. Isto
é, em sua plenitude. Isso é extraordinário: a plenitude de Deus é a
compreensão (experiência) espiritual da plenitude do amor de Cristo. Ela
enche o Filho de Deus e é derramada sobre nós.
Assim, quando ouço Paulo falar aos romanos da “plenitude da bênção de
Cristo” (Rm 15.29), eu o ouço descrevendo a minha experiência. Como eu
anseio que vocês experimentem isso!
Dê a si mesmo tempo e quietude nesta época do Advento e busque essa
experiência. Ore por si mesmo a oração de Paulo em Efésios 3.14-19 —
“para que vocês fiquem cheios de toda a plenitude de Deus” — e assim, “com
todos os santos, vocês possam compreender qual é a largura, o
comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que
excede todo entendimento”.
Essa é a minha oração por você neste Natal — que você experimente a
plenitude de Cristo; que você conheça em seu coração o derramar de graça
sobre graça; que a glória do Filho unigênito do Pai brilhe em seu coração
para iluminar o conhecimento da glória de Deus na face de Cristo; que você
fique maravilhado ao saber que Cristo pode ser tão real para você.
1O DE DEZEMBRO

A missão de busca e salvação


O Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido.
LUCAS 19.10

A palavra “advento” significa “vinda”. Nessa época do ano, nos concentramos


no significado da vinda do Filho de Deus ao mundo. E o espírito da nossa
celebração deveria ser o espírito em que ele veio. O espírito dessa vinda está
resumido em Lucas 19.10: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o
perdido”.
A vinda de Jesus era uma missão de busca e salvação. “O Filho do
Homem veio buscar e salvar o perdido.”
Assim, o Advento é uma época para pensar sobre a missão de Deus de
buscar e salvar pessoas perdidas da ira que há de vir. Deus o ressuscitou
dentre os mortos, “Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10). É uma
época para apreciar e adorar essa característica de Deus — que ele é um
Deus que busca e salva, que ele é um Deus em missão, que ele não é
indiferente, ou passivo, ou indeciso. Ele nunca está em modo de
manutenção, cabotando ou à deriva. Ele está enviando, perseguindo,
buscando, salvando. Esse é o significado do Advento.
O livro de Atos é uma celebração desse coração do advento de Deus —
um coração ativo para buscar e salvar os perdidos. É uma narração do
contínuo advento de Jesus para cada vez mais povos do mundo. Atos é a
história de como a igreja primitiva entendeu as palavras: “Assim como o Pai
me enviou, eu também envio vocês” (Jo 20.21). É a história de como o
advento vertical de Deus na missão de Jesus se desdobra e se torna o
advento horizontal de Jesus na missão da igreja. Em nós.
Jesus veio ao mundo no primeiro Advento, e todo Advento desde então é
um lembrete de seu contínuo advento para mais e mais vidas. Esse advento
é, na verdade, o nosso advento — a nossa vinda, o nosso mover na vida
daqueles ao nosso redor e aos povos do mundo.

˜ ˜
2 DE DEZEMBRO

P repare o seu c oração para C risto


Como podem crer, vocês que aceitam glória uns dos outros e não procuram a
glória que vem do Deus único?
JOÃO 5.44

Deus é o dono e controlador de todas as coisas, e não há nada que ele


poderia dar a você de Natal este ano que atenderia mais às suas necessidades
e desejos do que a consolação de Israel e a redenção de Jerusalém, a
restauração de perdas passadas e o livramento de futuros inimigos, perdão e
liberdade, misericórdia e poder, cura do passado e garantia do futuro.
Se existe um desejo em seu coração neste Advento por algo que o mundo
não tem sido capaz de satisfazer, será que esse desejo não é o presente de
Natal de Deus preparando você para ver Cristo como consolação e redenção
e para recebê-lo por quem ele realmente é?
Como o coração se prepara para receber Cristo por quem ele realmente
é? É muito simples.
Em primeiro lugar, o coração deve ser liberto da ilusão do louvor dos
homens. “Como podem crer, vocês que aceitam glória uns dos outros e não
procuram a glória que vem do Deus único?” (Jo 5.44; 7.17-18).
Em segundo lugar, o coração deve ser liberto da ilusão da suficiência do
dinheiro e das coisas para satisfazer a alma. “Os fariseus, que eram
avarentos, ouviam tudo isto e zombavam de Jesus” (Lc 16.14).
Em terceiro lugar, junto com a liberdade da ilusão do louvor dos homens
e do poder do dinheiro, deve entrar no coração um desejo por consolação e
redenção além do que o mundo pode dar.
Em quarto e último lugar, deve haver uma revelação do Deus Pai, abrindo
os olhos do coração para que ele clame como um homem que tropeça em
um tesouro incrível: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo, a consolação do
meu passado, a redenção do meu futuro. Agora te vejo. Agora te recebo por
quem tu realmente és”.
Que Deus faça isso por você neste Advento. Que este seja o seu presente e
testemunho, e o testemunho de muitos neste Advento.

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3 DE DEZEMBRO

Aproxime-se d o Salvad or
Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o
grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, aperfeiçoe vocês em
todo o bem, para que possam fazer a vontade dele. Que ele opere em nós o que é
agradável diante dele, por meio de Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o
sempre. Amém!
HEBREUS 13.20-21

Uma das coisas agradáveis aos olhos de Deus é que o seu povo continue a se
aproximar dele para todo o sempre. Assim, ele está realizando em nós
exatamente isso.
Hebreus 13.21 diz que ele faz isso “por meio de Jesus Cristo”, o que
significa, no mínimo, que Jesus comprou essa graça para nós com sua morte
e que Jesus ora e pede ao Pai por isso com base nessa morte.
Em outras palavras, quando o autor de Hebreus nos diz que aproximar-se
de Deus é o que nos qualifica para a eterna obra salvífica do nosso Sumo
Sacerdote, ele não quer dizer que o nosso Sumo Sacerdote nos deixa
sozinhos em nossa disposição pecaminosa e resistência natural, como se
pudéssemos nos aproximar de Deus por conta própria. Pelo contrário, nosso
Sumo Sacerdote intercede por nós e pede ao Pai para fazer exatamente o que
Hebreus 13.21 diz que ele fará — operar em nós o que é agradável diante
dele — “por meio de Jesus Cristo”.
Deixe-me ilustrar isso da forma como isso parecia quando o nosso Sumo
Sacerdote estava na terra. Em Lucas 22.31-32, Jesus diz a Pedro: “Simão,
Simão, eis que Satanás pediu para peneirar vocês como trigo! Eu, porém,
orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E você, quando voltar para
mim, fortaleça os seus irmãos”. Então, Jesus já estava intercedendo pelos
seus quando estava na terra, e ele orava para que a fé de Pedro — a fé dele/a
nossa fé — não desfalecesse.
Além disso, ele estava tão confiante em sua oração por Pedro que disse
“quando [você] voltar para mim”, não “se você voltar para mim”. Portanto,
ainda que Pedro tenha tropeçado na negação, sua fé não desfaleceu por
completo. Essa é a oração do Senhor por nós. Essa é mais uma peça da nossa
grande segurança e esperança nessa grande epístola de garantia.
Não é maravilhoso saber nesta época do Advento que Deus ordena que
nos acheguemos a ele? Não é maravilhoso saber que esse grande e santo
Deus de justiça e ira diz: “Aproximem-se de mim por meio do meu Filho, o
seu Sumo Sacerdote. Aproximem-se de mim. Aproximem-se de mim”?
Este é o seu convite nestas leituras do Advento: “Aproxime-se de mim por
meio do seu Sumo Sacerdote. Aproxime-se de mim em confissão, oração,
meditação, confiança e louvor. Venha! Jamais o lançarei fora”. Pois Cristo
“pode salvar totalmente os que por ele se aproximam de Deus, vivendo
sempre para interceder por eles” (Hb 7.25).

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4 DE DEZEMBRO

O sentid o d o Advento
Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate por muitos.
MARCOS 10.45

O Natal é sobre a vinda de Cristo ao mundo. É a respeito do Filho de Deus,


que existiu eternamente com o Pai como “o resplendor da glória de Deus e a
expressão exata do seu Ser”, assumindo natureza humana e se tornando
homem (Hb 1.3).
É sobre o nascimento virginal de uma criança concebida milagrosamente
pelo Espírito Santo, sendo o Filho de Deus, não da forma que você e eu
somos filhos de Deus, mas de uma maneira completamente singular (Lc
1.35).
É sobre a vinda de um homem chamado Jesus em quem “habita
corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9).
É sobre a chegada da “plenitude dos tempos” que foi profetizada pelos
profetas antigos de que um governante nasceria em Belém (Mq 5.2); uma
criança nasceria e seria chamada de Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; e viria um Messias, um ungido, um ramo
do tronco de Jessé, um Filho de Davi, um Rei (Is 11.1-4; Zc 9.9).
De acordo com Marcos 10.45, o sentido do Natal é a vinda do Filho do
Homem, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos”. Essas palavras de Marcos 10.45, como breve expressão
do Natal, são o que eu espero que Deus fixe em nossa mente e coração neste
Advento.
Abra o seu coração para receber o melhor presente imaginável: Jesus
entregando a si mesmo para morrer em seu favor e servir a você por todo o
resto da eternidade. Receba isso. Desvie-se da autoajuda e do pecado. Torne-
se como uma criancinha. Confie nele. Confie nele. Confie a sua vida a ele.

˜ ˜
5 DE DEZEMBRO

Por que o Natal ac onteceu


Vocês sabem que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe
pecado. […] Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do
diabo.
1JOÃO 3.5,8

Por duas vezes em 1João 3.1-10, nos é dito o motivo do Natal, isto é, a razão
pela qual o eterno e divino Filho de Deus veio ao mundo como um ser
humano.
No versículo 5, João diz: “Vocês sabem que ele se manifestou para tirar os
pecados, e nele não existe pecado”. Assim, a não pecaminosidade de Cristo é
afirmada (“nele não existe pecado”), e a razão para a sua vinda é afirmada
(“ele se manifestou para tirar os pecados”).
Depois, na segunda parte do versículo 8, João diz: “Para isto se
manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo”. E o foco
específico que João tem em mente quando diz “obras do diabo” é o pecado
que o diabo promove. Vemos isso na primeira parte do versículo 8: “Aquele
que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde
o princípio”. Assim, as obras do diabo que Jesus veio para destruir são as
obras do pecado.
Então, duas vezes João nos diz que o Natal — o Filho de Deus se tornar
humano — aconteceu para tirar os nossos pecados ou para destruir as obras
do diabo, isto é, o pecado. Jesus nasceu de uma virgem, por obra do Espírito
Santo (Mt 1.18-20), cresceu “em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e
dos homens” (Lc 2.52) e foi perfeitamente obediente e sem pecado em toda
a sua vida e ministério, até a morte, e morte de cruz (Fp 2.5-8; Hb 4.15) — a
fim de destruir as obras do diabo, ou seja, tirar os nossos pecados.
Nossos pecados. Tome isso de forma pessoal e ame Jesus por isso. Receba
as palavras bem pessoais do apóstolo Paulo e torne-as as suas palavras: “Esse
viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou
e se entregou por mim” (Gl 2.20). Foi assim que ele destruiu as obras do
diabo e nos resgatou dos nossos pecados. Não deixe o Natal no abstrato.
Seus pecados. Seu conflito com o diabo. Sua vitória. Ele veio para isso.

˜ ˜
6 DE DEZEMBRO

A paixão de D eus p or D eus no


Natal
Foi precisamente com este propósito que eu vim para esta hora. Pai, glorifica o
teu nome.
JOÃO 12.27-28

Uma das cenas mais famosas do Natal na Bíblia é o anúncio feito pelos anjos
aos pastores de que o Salvador nascera. E depois diz: “E, de repente,
apareceu com o anjo uma multidão do exército celestial, louvando a Deus e
dizendo: ‘Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens,
a quem ele quer bem’” (Lc 2.13-14).
Glória a Deus, paz ao homem. Os anjos são enviados para deixar algo
muito claro: o Filho de Deus veio à sua criação para manifestar a glória de
Deus e reconciliar as pessoas, da alienação, à paz com Deus. Para
demonstrar a grandeza de Deus na salvação e tornar o homem alegre em
Deus.
Assim, quando chegamos em João 12, não nos surpreende quando
ouvimos Jesus em sua oração dizer que isso aconteceria no ponto mais
importante de sua vida terrena, a saber, sua morte e ressurreição. Que Deus
seria, de fato, glorificado no resgate de pecadores. Observe João 12.27-30:

— Agora a minha alma está angustiada, e o que direi? “Pai, salva-me desta hora”? [Sabemos
que ele se refere à hora de sua morte, pois no versículo 24 ele diz: “se o grão de trigo, caindo na
terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”.] Não, pois foi precisamente
com este propósito que eu vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome.
Então veio uma voz do céu:
— Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei.
A multidão que ali estava e que ouviu aquela voz dizia ter havido um trovão. Outros diziam:
— Foi um anjo que lhe falou.
Então Jesus explicou:
— Não foi por minha causa que veio esta voz, e sim por causa de vocês.

No versículo 27, Jesus diz: “foi precisamente com este propósito que eu
vim para esta hora”. E qual é este propósito? Resposta: versículo 28, “Pai,
glorifica o teu nome”. É por isso que a minha morte se aproxima.
O Pai ouve a oração de Jesus e responde: “Eu já o glorifiquei e ainda o
glorificarei”. Ele acabara de glorificar o seu nome por meio de Jesus na
ressurreição de Lázaro (Jo 11.4,40) e agora o glorificaria na morte e
ressurreição de Jesus.
Não perca a ênfase no comprometimento de Deus em glorificar a Deus.
Não só Jesus ora para que Deus glorifique Deus, “Pai, glorifica o teu nome”
(v. 28), mas o próprio Deus diz: “Eu já glorifiquei o meu nome e ainda o
glorificarei”. Deus enviou anjos para dizer isso em Lucas 2, e o próprio Deus
diz isso em João 12.28: “Eu já o glorifiquei [o meu nome] e ainda o
glorificarei”.
A razão mais profunda pela qual vivemos para a glória de Deus é que
Deus age pela glória de Deus. Somos apaixonados pela glória de Deus
porque Deus é apaixonado pela glória de Deus.
O que faz disso tamanha boa-nova, especialmente no Evangelho de João,
é que a glória de Deus é cheia de graça e verdade. “E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória
como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
O que há de mais glorioso em Deus é que ele é tão plenamente
autossuficiente que a glória da plenitude do seu ser transborda em verdade e
graça por suas criaturas. Ele não precisa de nós. E, portanto, em sua
plenitude, ele transborda por nós. Tamanha é a graça que recebemos no
Natal.

˜ ˜
7 DE DEZEMBRO

E le vem para nos abenç oar


Moisés disse: “O Senhor Deus fará com que, do meio dos irmãos de vocês, se
levante um profeta semelhante a mim; a esse vocês ouvirão em tudo o que ele lhes
disser. Quem não der ouvidos a esse profeta será exterminado do meio do povo.”
E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos os que falaram
depois dele, também anunciaram estes dias. Vocês são os filhos dos profetas e da
aliança que Deus estabeleceu com os pais de vocês, dizendo a Abraão: “Na sua
descendência, serão abençoadas todas as nações da terra.” Tendo Deus
ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês para abençoá-los, no
sentido de que cada um abandone as suas maldades.
ATOS 3.22-26

O que essa passagem nos ensina é que Deus colocou Jesus no cenário da
história para abençoar pessoas. “Na sua descendência, serão abençoadas
todas as nações da terra.”
Deus disse ao seu Filho no céu: “É chegada a hora; eu prometi bênção, e
agora é a hora de cumprir a minha promessa. Você será o emissário da
minha bênção. Eu quero que a bênção chegue ao mundo; tenho tanto para
compartilhar! Vá agora e abençoe o meu povo! Abençoe-os! Sim, abençoe
todos os povos da terra por meio do meu povo! Abençoe-os! Abençoe-os!”.
Você pode ver isso nos versículos 25 e 26, quando a bênção de Deus é
mencionada duas vezes. O versículo 26 diz explicitamente que Deus enviou
Jesus ao povo de Israel para abençoá-los. E, quando ele diz que Deus o
enviou primeiramente a Israel, significa que ele enviará a bênção a outros
depois disso. O versículo 25 deixa claro que esse era o objetivo de Deus na
aliança que fez com Abraão: “Na sua descendência, serão abençoadas todas
as nações da terra”. Bênção para os judeus e, depois, por meio deles — por
meio do Messias judeu —, bênção para todos os povos, o que inclui você.
Assim, eu digo a você que, nesta época do Advento, Deus está se
movendo em sua direção com bênção. Você está no versículo 25. Não
importa que dois milênios tenham passado. Com Deus, mil anos são como
um dia (2Pe 3.8). Com ele, é como se essa promessa tivesse sido feita dois
dias atrás. É por isso que a bênção ainda é atual para você. Se você se
aproximar dele em fé, receberá a bênção. É disso que se trata o Natal — a
maior bênção de todas.

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8 DE DEZEMBRO

Podemos c onfiar em D eus


Moisés disse: “O Senhor Deus fará com que, do meio dos irmãos de vocês, se
levante um profeta semelhante a mim; a esse vocês ouvirão em tudo o que ele lhes
disser. Quem não der ouvidos a esse profeta será exterminado do meio do povo.”
E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos os que falaram
depois dele, também anunciaram estes dias. Vocês são os filhos dos profetas e da
aliança que Deus estabeleceu com os pais de vocês, dizendo a Abraão: “Na sua
descendência, serão abençoadas todas as nações da terra.” Tendo Deus
ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês para abençoá-los, no
sentido de que cada um abandone as suas maldades.
ATOS 3.22-26

Da mesma passagem, aprendemos agora que parte da bênção é a


demonstração da honestidade de Deus.
Pedro acumula as promessas. No versículo 24, ele diz que todos os
profetas de Samuel em diante predisseram esses dias — os dias de Jesus. No
versículo 25, ele diz que Deus fez uma promessa a Abraão sobre esses dias.
O ponto é que, quando Jesus vem, ele confirma a verdade de todas essas
promessas. Ele mostra que Deus é fidedigno; ele cumpre a sua palavra.
Veja como Paulo fala em Romanos 15.8: “Pois digo que Cristo foi
constituído ministro da circuncisão [isto é, dos judeus], em prol da verdade
de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais”. Então, aí está,
claro como a água: Cristo veio para provar que Deus diz a verdade, que
Deus cumpre as suas promessas. O Natal significa que podemos confiar em
Deus.
Isso é parte da bênção que ele traz — e que ele oferece a você nesta época
do Advento. É uma bênção porque, onde isso é deixado de lado, a vida
espiritual e moral se desintegra. O fundamento da vida moral é a
honestidade de Deus. Uma sociedade que abandona a centralidade da
absoluta honestidade de Deus abandona o fundamento da verdade, da
moralidade e da beleza.
O Natal é a reafirmação do fundamento de toda a verdade, bondade e
beleza, pois o Natal significa: Deus é verdadeiro.
A honestidade de Deus é a constante em um universo de mudanças. A
honestidade de Deus é o absoluto inabalável. Se abandonamos a honestidade
de Deus, a âncora sobe, o leme é solto, a quilha quebra e o navio da vida
(política, social, educacional, científica, familiar) fica simplesmente à mercê
do vento dos desejos humanos.
Assim, eu digo de todo o coração: demonstrar a honestidade de Deus é
uma grande bênção. Conceda essa bênção a seus filhos. Conte à próxima
geração vez após vez: Deus é verdadeiro; Deus cumpre a sua palavra; Deus
não mente; podemos confiar em Deus! Essa é uma bênção do Advento.
Receba-a como um maravilhoso presente de Natal e dê esse presente para o
maior número de pessoas possível.

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9 DE DEZEMBRO

Por que o Filho d o Homem?


Em verdade, em verdade lhes digo que vocês verão o céu aberto e os anjos de
Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.
JOÃO 1.51

Por que Jesus é chamado o Filho do Homem no versículo 51 e em outros


lugares nos Evangelhos? Isso tem tudo a ver com o Advento.
Não é simplesmente porque ele é humano. É porque a figura de “um filho
do homem” em Daniel 7.13 é humana e muito mais que humana. Essa era a
designação favorita de Jesus para si mesmo — Filho do Homem. Ela é usada
mais de oitenta vezes nos Evangelhos, e só Jesus a usa para referir a si
mesmo.
Ele tirou o título “Filho do Homem” de Daniel 7.13-14:

“Eu estava olhando nas minhas visões da noite. E eis que vinha com as nuvens do céu alguém
como um filho do homem. Ele se dirigiu ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe
dado o domínio, a glória e o reino, para que as pessoas de todos os povos, nações e línguas o
servissem. O seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será
destruído”.

Essa é a linguagem de reino, glória e soberania (Jo 3.13; 5.27; 6.62). Mas
esse título tem um tom diferente dos títulos Filho de Deus e Rei de Israel. Ele
soa mais inferior e ordinário. Assim, quando ele o usava, suas reivindicações
de reino, glória e soberania não soavam tão explícitas. Apenas aqueles que
tinham ouvidos para ouvir chegavam ao significado exaltado do termo
“Filho do Homem” quando Jesus o usava.
Assim, dessa vez não foram os líderes judeus que usaram o título para
levá-lo à cruz. O próprio Jesus o usou dessa maneira. O versículo-chave é
João 3.14-15: “E assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o
que nele crê tenha a vida eterna”.
Pode-se, então, dizer que a maior glória que Natanael, ou você e eu, pôde
ver é a glória do Filho do Homem, o Senhor dos céus, cujo domínio não tem
fim, levantado numa cruz para morrer por pecadores.
Assim, quando você o vir nesta época do Advento como Filho de Deus,
Rei de Israel e Filho do Homem, certifique-se de que esteja vendo a morte
dele para dar-lhe a vida eterna e, portanto, veja-o de uma forma gloriosa.

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10 DE DEZEMBRO

O que o Natal veio destruir


Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.
1JOÃO 3.8

A vinda do eterno Filho de Deus ao mundo como o Deus-homem Jesus


Cristo é um fato da história. Ainda assim, milhares de pessoas dizem
acreditar nesse fato, mas continuam vivendo como todo o resto do mundo.
Têm as mesmas ansiedades de que coisas boas serão perdidas e as mesmas
frustrações de que coisas ruins não podem ser mudadas. Evidentemente,
não há muito poder em dar respostas certas em pesquisas religiosas sobre
fatos históricos.
Isso porque a vinda do Filho de Deus ao mundo é muito mais do que um
fato histórico. Foi uma mensagem de esperança enviada por Deus a
adolescentes, pais solteiros, maridos rabugentos, esposas carrancudas,
mulheres acima do peso, homens impotentes, vizinhos deficientes, pessoas
com atração pelo mesmo sexo, pregadores, amantes — e você.
Visto que o Filho de Deus viveu, morreu, ressuscitou, reina e está vindo
novamente, a mensagem de Deus por meio dele é mais do que um fato
histórico. É um presente de Natal para você com a voz do Deus vivo.
Assim diz o Senhor: o significado do Natal é que o que é bom e precioso
na sua vida nunca seja perdido, e o que é mau e indesejável na sua vida
possa ser mudado. Os medos de que as poucas coisas boas que o fazem feliz
estejam escapando pelos seus dedos, e as frustrações de que as coisas ruins
que você odeia a respeito de si mesmo ou da sua situação não podem ser
mudadas — esses medos e essas frustrações são aquilo que o Natal veio
destruir.
É a mensagem de esperança de Deus neste Advento de que o que é bom
nunca precisa ser perdido e o que é ruim pode ser mudado. O diabo opera
para tomar o que é bom e trazer o que é mau. E Jesus veio para destruir as
obras do diabo.

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11 DE DEZEMBRO

A celebração d o amor de D eus


Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
JOÃO 3.16

Em João 3.16, Jesus nos ensina que o Deus que existe ama. Absorva essa
informação por um momento. O Deus que absolutamente é. Ama. Ele ama.
De todas as coisas que você pode dizer a respeito de Deus, não se esqueça de
dizer isto: ele ama.
O mesmo autor de João 3.16 diz em 1João 4.8: “Deus é amor”. O que
penso que significa pelo menos o seguinte: dar o que é bom e servir pelo
benefício dos outros está mais próximo da essência de Deus do que receber
e ser servido. Deus é alguém que não tem necessidade de nada. Deus se
inclina para atender às necessidades. Deus é um doador. Deus é amor.
Assim, Jesus nos diz mais especificamente o que ele quer dizer com amor
em João 3.16. “Deus amou o mundo de tal maneira […].” De “tal maneira”
aqui não significa uma quantidade de amor, mas uma forma de amar. Ele
não quer dizer “Deus amou muito”, mas “Deus amou desse jeito”. “Deus
amou de tal maneira” significa “Deus amou desse modo”.
Como? De qual maneira Deus amou? Ele amou a ponto de dar “o seu
Filho unigênito”. E sabemos que essa entrega foi uma entrega à rejeição e à
morte. “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Em
vez disso, eles o mataram. E Jesus disse a respeito de tudo isso: “Eu te [Pai]
glorifiquei na terra, realizando a obra que me deste para fazer” (Jo 17.4).
Assim, quando o Pai deu o seu Filho unigênito, ele o entregou para morrer.
Esse é o tipo de amor que o Pai tem. É um amor que doa. Que dá o seu
mais precioso tesouro — o seu Filho.
Medite nisso neste Advento. Foi um amor muito custoso. Um amor muito
poderoso. Um amor rude e doloroso. O significado do Natal é a celebração
desse amor. “Deus amou o mundo de tal maneira […].” E o que é mais
espantoso: Deus dá esse custoso amor a um mundo de pecadores indignos
como nós.

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12 DE DEZEMBRO

A gl ória d o Verb o encarnad o


No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
JOÃO 1.1

Sempre existiram grupos sectários que resistiram ao mistério decorrente


destas duas frases: “o Verbo estava com Deus” e “o Verbo era Deus”. Dizem,
em sua escravidão à mera conceitualidade humana, que não se pode ter as
duas coisas. Ou ele era Deus, ou ele estava com Deus. Se ele estava com
Deus, ele não era Deus. E se ele era Deus, ele não estava com Deus.
Para escapar da verdade dessas duas frases, eles às vezes mudam a
tradução. Mas o que esse versículo ensina é que aquele que conhecemos
como Jesus Cristo, antes de ter encarnado, era Deus, e que o Pai também era
Deus. Existe uma pluralidade de pessoas e um Deus singular. Isso é parte da
verdade que conhecemos como a Trindade. É por isso que adoramos Jesus
Cristo e fazemos coro com Tomé em João 20.28: “Senhor meu e Deus meu!”
João 1.1 afirma: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus”.
Por que ele foi chamado de “o Verbo”? Uma maneira de responder a isso é
ponderando que outro nome ele poderia ter recebido e o motivo desse nome
ser inadequado quando comparado com “o Verbo”.
Por exemplo, ele poderia ter sido chamado de “o Feito”. Uma das
diferenças entre um feito e uma palavra é que um feito é mais ambíguo. Se
pensarmos que nossas palavras às vezes são pouco claras e sujeitas a
variadas interpretações, nossos feitos são muito menos claros e mais
ambíguos. É por isso que frequentemente nos explicamos com palavras.
Palavras capturam o significado do que fazemos com mais clareza do que os
feitos em si. Deus realizou muitos feitos poderosos na história, mas ele deu
certa prioridade à Palavra. Uma das razões, penso, é que ele coloca um alto
valor na clareza e na comunicação.
Outro exemplo é que João poderia tê-lo chamado de “o Pensamento”. No
princípio era o Pensamento. Mas uma das diferenças entre um pensamento
e uma palavra é que uma palavra é geralmente concebida como se movendo
para fora do pensador com o fim de estabelecer comunicação. Penso que
João queria que nós entendêssemos o Filho de Deus como existindo pelo
bem da comunicação entre ele e o Pai e pelo bem de aparecer na história
como a comunicação de Deus conosco.
Um terceiro exemplo é que João poderia tê-lo chamado de “o
Sentimento”. No princípio era o Sentimento. Mas, novamente, eu diria que
sentimentos não carregam uma clara concepção, intenção ou significado.
Sentimentos, assim como feitos, são ambíguos e precisam ser explicados —
com palavras.
Assim, me parece que chamar Jesus de “o Verbo” é a maneira de João
enfatizar que a própria existência do Filho de Deus é pelo bem da
comunicação. Primeiramente, ele existe e sempre existiu, desde a eternidade,
pelo bem da comunicação com o Pai. Em segundo lugar, mas infinitamente
importante para nós, o Filho de Deus se tornou a comunicação divina
conosco. Resumindo, pode-se dizer que chamar Jesus de “o Verbo” significa
dizer que ele é “Deus expressando-se a si mesmo”. Para nós.

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13 DE DEZEMBRO

O Natal dividiu a história


E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos os que falaram
depois dele, também anunciaram estes dias.
ATOS 3.24

Há algo tremendamente importante que precisamos compreender aqui para


entender o ensino bíblico sobre profecia e cumprimento.
Costumamos pensar na profecia como algo que ainda está no futuro ou
que está começando a acontecer agora no mundo. Mas facilmente
esquecemos que o que é passado para nós era futuro para os profetas.
O que precisamos lembrar é que, com a vinda de Jesus Cristo ao mundo,
os dias de cumprimento, proclamados por todos os profetas, começaram. E
desde o primeiro Natal temos vivido esses dias. Os “últimos dias” preditos
pelos profetas não são o século XXI. Os últimos dias começaram no ano 1
d.C.
Esse é o testemunho uniforme do Novo Testamento. Paulo disse em
1Coríntios 10.11 que os eventos do Antigo Testamento “aconteceram com
eles para servir de exemplo e foram escritas como advertência a nós, para
quem o fim dos tempos tem chegado”. Para Paulo, o fim dos tempos não era
dois mil anos depois, no século XXI.
Não. O princípio do fim já estava presente no primeiro século. O tão
aguardado Messias havia chegado. Assim, o autor de Hebreus (1.1-2) diz:
“Antigamente, Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, mas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho”. Quando Deus
enviou o seu Filho ao mundo, os últimos dias começaram.
É um grande privilégio viver nos últimos dias, pois Joel profetizou que
nos últimos dias Deus derramaria o seu Espírito sobre toda a humanidade
(Jl 2.28). Todos os profetas aguardavam ansiosamente o dia da vinda do
Messias, o Filho de Davi, o Rei de Israel, pois esse seria um dia de grande
bênção para o povo de Deus. E agora ele veio, seu reino foi inaugurado e nós
vivemos em uma era de cumprimento.
O que antecipamos no futuro na segunda vinda de Cristo não é algo
completamente novo, mas a consumação das bênçãos que já desfrutamos,
visto que as promessas começaram a ser cumpridas em nossa vida.
O Natal dividiu a história em duas eras: a era da promessa e a era do
cumprimento. Assim, quando Pedro diz em Atos 3.24: “Todos os profetas
[…] anunciaram estes dias”, vemos que ele quer dizer “nestes últimos dias”
(Hb 1.2), nos quais Deus falou a nós pelo seu Filho, os dias desde o primeiro
Natal até o momento da consumação vindoura.
É nesse momento que vivemos. O já do cumprimento é gigantesco — a
encarnação, a crucificação, a expiação, a propiciação, a ressurreição, a
ascensão, o reino celestial, a intercessão, o derramamento do Espírito Santo,
as missões globais, a reunião das nações, a igreja, as Escrituras do Novo
Testamento, a oração em nome de Jesus, a alegria inenarrável e a segurança
obtida.
Contudo, o ainda não é real e maravilhoso e está esperando o seu
momento: a segunda vinda, a ressurreição dos mortos, os novos e gloriosos
corpos, o fim do pecado, a glorificação, o juízo sobre toda a incredulidade,
os galardões, a entrada na alegria do Mestre, os novos céus e a nova terra,
Jesus presente entre o seu povo face a face, o fim do sofrimento, eterno
prazer.
O Natal dividiu a história. Vislumbres do futuro estão por toda parte.
Beba profundamente daquilo que Jesus conquistou para nós e seja cheio da
esperança de tudo o que há por vir.
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14 DE DEZEMBRO

A miseric órdia que ele promete


Pois digo que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade
de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais e para que os gentios
glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia.
ROMANOS 15.8-9

Não há como expressar quão preciosos são os presentes de Deus, e por toda
a eternidade cantaremos sobre eles. Mas os presentes mais preciosos que
você consegue imaginar não são um fim em si mesmos. Todos eles levam ao
próprio Deus. Em última análise, esse é o propósito de todos os seus
presentes.
Veja o perdão, por exemplo. Quando Cristo se tornou o nosso servo
como resgate, ele retirou a maldição da lei e a ameaça de castigo de todos
aqueles que creem. Mas para qual propósito? Para que pudéssemos desfrutar
do pecado com impunidade? Não. Para que pudéssemos desfrutar de Deus
pela eternidade! O perdão é precioso porque ele nos leva ao nosso lar: a
Deus.
Por que queremos ser perdoados? Se a resposta é simplesmente por alívio
psicológico, ou somente para escapar do inferno, ou apenas para ter mais
prazeres físicos, então Deus não é honrado. Romanos 15.9 diz que o objetivo
de Cristo nos servir é para que os gentios “glorifiquem a Deus” por causa da
sua misericórdia. Mas, se exploramos a misericórdia de Deus como um
pretexto para desfrutar do pecado — ou até mesmo para desfrutar de coisas
inocentes —, Deus não recebe a glória devida. Deus recebe glória por
demonstrar misericórdia quando a sua misericórdia nos liberta para vê-lo
como o melhor presente da sua misericórdia — como a pessoa mais
aprazível do universo.
Assim, é bom para nós que Cristo tenha vindo em nome da verdade de
Deus, pois ele mesmo é a essência da misericórdia que prometera. E é bom
para nós que Cristo tenha vindo em nome da verdade de Deus, pois a sua
vinda mostra que Deus é fiel sobretudo a si mesmo; e ele confirma as
promessas de Deus e que tais promessas são promessas de misericórdia; e ele
nos mostra que ele mesmo é a essência da misericórdia que prometera.
Esse é o significado da sua vinda. Esse é o significado do Natal. Oh, que
Deus desperte o seu coração para uma profunda necessidade de
misericórdia como pecador! E que arrebate o seu coração com um grande
Salvador, Jesus Cristo. E que, então, liberte a sua língua para louvá-lo e
liberte as suas mãos para que a misericórdia dele brilhe por meio de você.

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15 DE DEZEMBRO

Nosso mais verdadeiro tesouro


E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo.
MATEUS 2.10

Adorar a Jesus significa atribuir autoridade e dignidade alegremente a Cristo


com presentes sacrificiais. Nós atribuímos a ele, não adicionamos a ele. Deus
não é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa (At
17.25).
Assim, os presentes dos magos não são dados como uma forma de
assistência ou de atender a uma necessidade. Um monarca seria desonrado
se visitantes estrangeiros chegassem com pacotes de mantimentos reais.
Esses presentes também não têm o propósito de servir como suborno. Deus
diz em Deuteronômio 10.17 que ele não aceita suborno.
Bom, então o que significam esses presentes? Como eles são adoração?
Os presentes são intensificadores do desejo pelo próprio Cristo de uma
forma muito semelhante ao jejum. Quando você dá um presente como esse
a Cristo, é uma maneira de dizer algo assim:

A alegria que eu busco não é a esperança de ficar rico com coisas que vêm de ti. Eu não vim a ti
pelas tuas coisas, mas por ti mesmo. E esse desejo eu agora intensifico e demonstro ao entregar
coisas na esperança de desfrutar mais de ti mesmo, não das coisas. Ao entregar a ti coisas das
quais tu não precisas e que eu posso desfrutar, estou dizendo mais sincera e autenticamente: “Tu
és o meu tesouro, não essas coisas”.

Penso que isso é o que significa adorar a Deus com presentes de ouro,
incenso e mirra.
Que Deus use a verdade desse texto e desperte em nós um desejo pelo
próprio Cristo. Que digamos do fundo do coração:
Senhor Jesus, tu és o Messias, o Rei de Israel. Todas as nações virão e se prostrarão diante de ti.
Deus governa o mundo a fim de que tu sejas adorado. Sendo assim, qualquer oposição que eu
possa encontrar, eu alegremente atribuo autoridade e dignidade a ti e trago os meus presentes
para dizer que só tu podes satisfazer o meu coração, não essas coisas.

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16 DE DEZEMBRO

L ibertos para sermos parte da


família de D eus
Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate por muitos.
MARCOS 10.45

A razão pela qual precisávamos que um resgate fosse pago em nosso favor é
porque nos entregamos ao pecado e fomos separados de um Deus santo.
Quando Jesus deu a sua vida em resgate, nossos mestres escravizadores — o
pecado, a morte e o diabo — tiveram que desistir de sua reivindicação sobre
nós. O resultado foi que nós podíamos ser adotados como família de Deus.
Paulo diz isso da seguinte forma em Gálatas 4.4-5: “quando chegou a
plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a
adoção de filhos”. Em outras palavras, a redenção, ou o resgate, nos liberta
para sermos parte da família de Deus. Nós tínhamos fugido e nos entregado
à escravidão. Mas Deus paga um resgate e nos redime da escravidão para
que retornemos à casa do Pai.
Para isso, o Filho de Deus teve que se tornar humano, de modo que
pudesse sofrer e morrer em nosso lugar para pagar o resgate. Esse é o
significado do Natal. Hebreus 2.14 apresenta isso da seguinte forma: “Visto,
pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, também
Jesus, igualmente, participou dessas coisas, para que, por sua morte,
destruísse aquele que tem o poder da morte”.
Em outras palavras, Cristo revestiu-se da nossa plena humanidade para
que pudesse morrer e, ao morrer, pagar o resgate e nos libertar do poder da
morte. E, assim, nos libertar para sermos incluídos em sua própria família.
O significado último do resgate é relacionamento. Seu relacionamento com
Deus, seu Pai misericordioso.

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17 DE DEZEMBRO

E le veio para servir


Quem quiser ser o primeiro entre vocês, que seja servo de todos.
MARCOS 10.44

Jesus espera que seus discípulos vivam radicalmente diferente da maneira


que as pessoas normalmente vivem. Eles devem servir uns aos outros e aos
incrédulos. Nesse serviço, devem beber o cálice de qualquer sofrimento,
custe o que custar. E, de fato, vai custar.
Contudo, se essa fosse a única mensagem do cristianismo, não haveria
boas-novas. Não haveria evangelho. Preciso mais do que alguém para me
dizer o que eu deveria fazer e quem eu deveria ser. Preciso de ajuda para ser
e fazer. É por isso que Jesus diz o que diz em Marcos 10.45: “o próprio Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir”. Que horrendo
engano seria se ouvíssemos o chamado de Jesus no versículo 44 para sermos
servos de todos como um chamado a servi-lo.
Não é.
É um chamado a aprender como ser servido por ele. Não se engane
quanto a isso. Esse é o coração do cristianismo. É isso que separa a nossa fé
de todas as outras principais religiões. Nosso Deus não precisa do nosso
serviço, nem é glorificado por recrutas que querem ajudá-lo. Nosso Deus é
tão pleno e autossuficiente, é tão transbordante em poder, vida e alegria que
ele glorifica a si mesmo ao servir-nos.
Ele faz isso assumindo forma humana, nos buscando e dizendo que ele
não veio para receber nosso serviço, mas para ser nosso servo.
Eis uma verdade geral para ponderarmos e crermos: toda vez que Jesus
ordena que façamos algo, é a maneira de ele nos dizer como quer nos servir.
Deixe-me dizer isso de outra maneira: o caminho da obediência é o lugar
onde Cristo nos encontra como nosso servo para carregar nossos fardos e
nos dar o seu poder.
Quando você se torna um cristão — um discípulo de Jesus —, não se
torna o ajudador dele; ele se torna o seu ajudador. Você não se torna o
benfeitor dele; ele se torna o seu benfeitor. Você não se torna o servo dele;
ele se torna o seu servo. Jesus não precisa da sua ajuda; ele ordena a sua
obediência e oferece ajuda.
Natal. Ele veio para servir, não para ser servido. Ele veio para nos ajudar a
fazer tudo o que ele nos chama a fazer.

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18 DE DEZEMBRO

Graciosa e ternamente frustrante


Deus apresentou [a Cristo] […] tendo em vista a manifestação da sua justiça no
tempo presente, a fim de que o próprio Deus seja justo e o justificador daquele
que tem fé em Jesus.
ROMANOS 3.25-26

A história da conversão de Martinho Lutero ilustra um ponto. Ele quase


tinha sido acertado por um raio e fez um voto a Deus de se tornar um
monge. Mas, como monge, ele era completamente incapaz de encontrar paz
com Deus. Ele buscou a Deus de todas as maneiras que a igreja daquela
época lhe ensinara — nas boas obras, nos méritos dos santos, no processo de
confissão e absolvição, na escada do misticismo. Além disso, eles o
indicaram para a universidade para estudar e ensinar a Bíblia.
Ouça o que Lutero mais tarde descreveria como seu grande marco. Como
ele estava preparado para ver e receber Cristo por quem ele realmente é?

Eu ansiava grandemente por entender a epístola de Paulo aos romanos, e não havia empecilhos
senão aquela única expressão, “a justiça de Deus”, pois eu pensava que significava aquela justiça
pela qual Deus é justo e age justamente ao castigar o injusto. Minha situação era que, embora
fosse eu um monge impecável, estava diante de Deus como um pecador com a consciência
atormentada, e não tinha confiança de que meu mérito seria satisfatório para ele. Portanto, eu
não amava um Deus justo e irado, mas o odiava e murmurava contra ele. Ainda assim,
agarrava-me ao querido Paulo e tinha um grande desejo de entender o que ele quis dizer.
Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a declaração de que
“o justo viverá pela fé”. Então, compreendi que a justiça de Deus é aquela justiça pela qual, por
meio da graça e da absoluta misericórdia, ele nos justifica pela fé. Logo, senti-me renascido,
atravessando portas abertas no paraíso.

No monastério, Lutero chegou ao fim de si mesmo. Ele havia perdido a


esperança de salvar-se com as suas próprias mãos. Mas, pela graça de Deus,
ele não desistiu de seu desejo e esperança. Direcionou sua atenção ao único
lugar onde esperava encontrar ajuda: a Bíblia. Ele disse: “Eu ansiava
grandemente”. Disse: “Tinha um grande desejo” de saber o que significava. E
disse: “Noite e dia eu ponderava”.
Em outras palavras, Deus preparou Lutero para ver o real significado de
Cristo e aceitá-lo, ao estimular um profundo e poderoso desejo em seu
coração por consolação e redenção que só poderiam vir de Cristo.
É isso que Deus faz vez após vez. Ele pode estar fazendo isso por você
nesta época do Advento — graciosa e ternamente frustrando você com a
vida que não é centralizada em Cristo e enchendo você de anseios e desejos
que não podem ser satisfeitos naquilo que este mundo oferece, mas somente
no Deus-homem.
Que presente de Natal podemos ter! Deixe que todas as suas frustrações
com este mundo o lancem na Palavra de Deus. Ela se tornará doce, como
entrar no paraíso.

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19 DE DEZEMBRO

O presente que vo cê não p ode


c omprar
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da
terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas; nem é servido por
mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, pois ele mesmo é quem a
todos dá vida, respiração e tudo mais.
ATOS 17.24-25

Deus não quer ser servido de nenhuma maneira que dê a entender que
estamos suprindo uma necessidade dele, ou auxiliando-o, ou oferecendo a
ele algo que já não possua por direito. “Quem primeiro deu alguma coisa a
Deus para que isso lhe seja restituído?” (Rm 11.35). “Se eu tivesse fome, não
teria necessidade de dizê-lo a você, pois meu é o mundo e a sua plenitude”
(Sl 50.12).
Portanto, de maneira alguma podemos negociar com Deus. Não temos
nada de valor que já não seja dele por direito. Não podemos oferecer-lhe
serviço. Seu carro nunca quebra. Nunca fica sem gasolina. Nunca fica sujo.
Ele nunca se cansa. Ele nunca fica deprimido. Ele nunca fica preso no
trânsito sem poder chegar aonde deseja. Ele nunca fica solitário. Ele nunca
tem fome.
Em outras palavras, se você quer o que Jesus tem para dar, você não pode
comprar. Você não pode oferecer nada em troca. Você não pode trabalhar
para ganhar. Ele já possui o seu dinheiro e tudo o que você tem. E, se você
trabalha, é apenas porque ele lhe deu a vida, o fôlego e tudo o mais. Tudo o
que podemos fazer é nos submetermos à sua espetacular oferta para ser o
nosso servo.
Essa submissão é chamada de fé — uma disposição a deixá-lo ser Deus.
Confiar nele como o Provedor, o Fortificador, o Conselheiro, o Guia, o
Salvador. E estarmos satisfeitos com isso — com tudo o que Deus é para nós
em Jesus. Isso é fé. E tê-la é o que significa ser cristão.
Natal significa: o Deus infinitamente autossuficiente veio não para ser
ajudado, mas para ser desfrutado.

˜ ˜
20 DE DEZEMBRO

R eceba a sua rec onciliação


Agora, portanto, podemos nos alegrar em Deus, com quem fomos reconciliados
por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
ROMANOS 5.11 (NVT)

De maneira prática, como recebemos a reconciliação e nos alegramos em


Deus? Resposta: por meio de Jesus Cristo. O que significa, pelo menos em
parte, fazer do retrato de Jesus na Bíblia — a obra e as palavras de Jesus
apresentadas no Novo Testamento — o conteúdo essencial da sua alegria em
Deus. Alegrar-se sem o conteúdo de Cristo não honra a Cristo.
Em 2Coríntios 4.4-6, Paulo descreve a conversão de duas maneiras. No
versículo 4, ele diz que é ver a “glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. E
no versículo 6 ele diz que é ver “glória de Deus na face de Jesus Cristo”. Em
ambos os casos, você consegue ver o ponto. Nós temos Cristo, a imagem de
Deus, e nós temos Deus na face de Cristo.
Assim, de maneira prática, para alegrar-se em Deus, você deve alegrar-se
naquilo que vê e conhece de Deus no retrato de Jesus Cristo. E isso chega à
sua mais plena experiência quando o amor de Deus é derramado em nosso
coração pelo Espírito Santo (Rm 5.5).
Não só Deus comprou a nossa reconciliação por meio da morte do nosso
Senhor Jesus Cristo (Rm 5.10), e não só Deus nos capacitou a receber essa
reconciliação por meio do nosso Senhor Jesus Cristo, mas mesmo agora
exultamos no próprio Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus comprou a nossa reconciliação. Jesus nos capacitou a receber a
reconciliação e a abrir o presente. E o próprio Jesus resplandece de dentro
do embrulho — o presente indescritível — como Deus encarnado,
despertando toda a nossa alegria em Deus.
Olhe para Jesus neste Natal. Receba a reconciliação que ele comprou. Não
guarde o presente sem abrir, nem abra-o para depois transformá-lo em um
meio para outros prazeres. Abra e desfrute do presente. Alegre-se nele. Faça
dele o seu prazer. Faça dele o seu tesouro.

˜ ˜
21 DE DEZEMBRO

P repare os seus olhos para o Natal


Ao que Jesus perguntou:
— E vocês, quem dizem que eu sou?
Respondendo, Simão Pedro disse:
— O senhor é o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Então Jesus lhe afirmou:
— Bem-aventurado é você, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que
revelaram isso a você, mas meu Pai, que está nos céus.
MATEUS 16.15-17

A obra absolutamente indispensável de Deus ao revelar o Filho — tanto para


Pedro como agora para você e para mim — não é o acréscimo ao que vemos
e ouvimos do próprio Jesus, mas o abrir dos olhos do nosso coração para
provar e ver a verdadeira glória divina do que realmente há em Jesus.
Quando as pessoas têm dúvidas sobre a verdade de Jesus, não as mande
buscar mensagens especiais de Deus. Aponte-as para Cristo. Diga a elas o
que você viu e ouviu na vida e nos ensinos de Jesus. Por quê? Porque é aí que
Deus entra com seu poder revelador. Ele ama glorificar o seu Filho! Ele ama
abrir os olhos dos cegos quando eles estão olhando para o seu Filho!
Deus não revela o seu Filho vindo até mim e dizendo: “Olhe, John. Eu sei
que você não vê nada de magnífico em meu Filho. Você não o vê como
plenamente glorioso, divino e atrativo acima de todos os bens do mundo.
Você não o vê como o seu tesouro plenamente satisfatório, nem o vê em sua
santidade, sabedoria, poder, amor e beleza além de toda medida. Mas,
acredite em mim, ele é tudo isso. Só acredite”. Não mesmo!
Uma fé assim não honraria o Filho de Deus. Essa fé não pode glorificar o
Filho. A fé salvífica é baseada em uma visão espiritual de Jesus como ele é
em si mesmo, o todo-glorioso Filho de Deus. E essa visão espiritual é dada a
nós por meio de sua Palavra inspirada, as Escrituras. Os olhos do nosso
coração são abertos para reconhecê-lo e recebê-lo não pela sabedoria de
carne e sangue, mas pela obra reveladora do seu Pai celestial.
O apóstolo Paulo escreveu: “Porque Deus, que disse: ‘Das trevas
resplandeça a luz’, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para
iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo”
(2Co 4.6).
Como você deve preparar o seu coração neste Natal para receber Cristo?
Fite os olhos nele através da Bíblia. Olhe para Cristo! Considere Jesus. Ore.
Olhe para além de sua própria carne e sangue e peça que Deus lhe dê olhos
para ver e ouvidos para ouvir, de modo que você clame juntamente com
Pedro: “O senhor é o Cristo, o Filho do Deus vivo”!

˜ ˜
22 DE DEZEMBRO

Al go digno de ser cantad o


Existem sacerdotes que apresentam as ofertas exigidas pela lei. O serviço
sacerdotal que eles realizam é apenas uma representação, uma sombra das coisas
celestiais. […] Jesus, nosso Sumo Sacerdote, recebeu um ministério superior, pois
ele é o mediador de uma aliança superior, baseada em promessas superiores. […]

E esta é a nova aliança que farei […]:


Porei minhas leis em sua mente
e as escreverei em seu coração.
Serei o seu Deus,
e eles serão o meu povo.
HEBREUS 8.4-10 (NVT)

Aqui vemos que o Natal significa duas coisas. Primeiro, significa a


substituição das sombras do Antigo Testamento pela realidade. O templo, os
sacrifícios, o sacerdócio, as festas e as leis dietéticas eram apenas sombras e
cópias da realidade no céu. Tal realidade é Jesus Cristo e a sua obra como
nosso Sumo Sacerdote, nosso sacrifício e nosso foco de adoração. Jesus
cumpre e substitui as sombras do Antigo Testamento.
Segundo, significa que Deus torna a realidade de Cristo real para nós
pessoalmente por meio da obra da nova aliança, no momento em que ele
escreve a sua verdade em nosso coração. Deus entra poderosamente em
nosso coração e em nossa mente para vencer a nossa resistência à beleza da
sua realidade. Ele escreve o seu testamento — a verdade da realidade de
Jesus — em nosso coração, a fim de que o vejamos por quem ele realmente é
e estejamos dispostos e ansiosos a confiar nele e segui-lo — livremente, de
dentro para fora, não servilmente mediante coação externa.
Deus é justo, santo e separado de pecadores — pecadores como você e eu.
Este é o nosso principal problema no Natal e em qualquer outra época: como
podemos nos sentir confortáveis diante de um Deus justo e santo? Não
obstante, Deus é misericordioso e prometeu em Jeremias 31 (quinhentos
anos antes da vinda de Cristo) que um dia faria algo novo. Ele substituiria as
sombras com a realidade do Messias e entraria poderosamente em nossa
vida, escrevendo o seu testamento em nosso coração para que não fôssemos
coagidos externamente, mas dispostos internamente — a amá-lo, confiar
nele e segui-lo.
Essa seria a maior salvação imaginável — se Deus nos oferecesse a maior
realidade do universo para o nosso deleite e depois entrasse em nós para se
certificar de que pudéssemos desfrutar dela com a maior liberdade e o maior
prazer possível. Esse seria um presente de Natal digno de ser cantado. E foi
exatamente isso que ele fez.

˜ ˜
23 DE DEZEMBRO

Nossa mais profunda necessidade


no Natal
Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do Senhor, na majestade
do nome do Senhor, seu Deus;
e eles habitarão seguros, porque, agora, ele será engrandecido até os confins
da terra.
E ele será a nossa paz.
MIQUEIAS 5.4-5

“Ele será engrandecido até os confins da terra”, Miqueias profetiza. Não


haverá núcleos de resistência que não tenham sido vencidos. Nossa
segurança não será ameaçada por nenhuma força externa. Todo joelho
dobrará e toda língua confessará que ele é Senhor. Toda a terra será cheia da
sua glória.
E “ele será a nossa paz”. Sim, nesse contexto que inclui paz definitiva,
política e terrena. Miqueias já falou sobre isso no capítulo 4, versículo 3:

Ele julgará entre muitos povos e corrigirá nações poderosas e distantes. Estas transformarão as
suas espadas em lâminas de arados e as suas lanças, em foices. Nação não levantará a espada
contra nação, nem aprenderão mais a guerra.

Um dia o governante — o Rei dos reis e Senhor dos senhores — retornará


e fará disso uma realidade. O grande cântico de Natal finalmente será
cumprido:

Cristo governa com amor


Os povos provarão
Que é justo e bom o Salvador
E lhe obedecerão.1
Há, porém, outra paz ainda mais profunda — uma paz que deve
acontecer antes de haver paz na terra. Deve haver paz entre nós e Deus.
Nossa incredulidade e a ira dele devem ser removidas. Essa é a nossa paz
mais profunda — e a nossa mais profunda carência no Natal.
Miqueias sabia que ela estava chegando. Ele a tinha experimentado
pessoalmente (Mq 7.8-9). Ele a descreve maravilhosamente bem no final de
seu livro, em Miqueias 7.18-19:

Quem é semelhante a ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do


remanescente da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer
na misericórdia. Ele voltará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e
lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.

Essa era a grande obra do Messias ainda a ser concluída. Sim, há inimigos na
terra que devem ser derrotados se queremos ter paz. Mas o grande inimigo
chamado pecado e juízo — esse é o maior e pior inimigo. O evangelho no
Natal é: Cristo colocou esse inimigo debaixo dos seus pés na cruz para que
todos que confiam nele tenham seus pecados atirados nas profundezas do mar.
Portanto, nós não dizemos “glória a nós”, mas: “Glória a Deus nas maiores
alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”.

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1. Hino 106 do Hinário para o culto cristão. (N. do E.)


24 DE DEZEMBRO

D esfru te de todas as promessas de


D eus
“E você, Belém-Efrata, que é pequena demais para figurar como grupo de
milhares de Judá, de você me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas
origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.” Portanto, o
Senhor os entregará até o tempo em que a que está em dores tiver dado à luz;
então o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. Ele se manterá firme e
apascentará o povo na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, seu
Deus.
MIQUEIAS 5.2-4

Cristo é o sim de todas as promessas de Deus, de maneira que, se você


confiar nele, todas elas serão a sua herança. Miqueias já deixou claro que
Cristo garantirá para nós as promessas de Deus. Como Miqueias mostrou
isso?
Qualquer judeu daquela época, ouvindo Miqueias predizer a vinda de um
governante de Belém que alimentaria o seu rebanho na força do Senhor,
pensaria imediatamente em duas pessoas: o rei Davi e o vindouro Filho de
Davi, o Messias.
Há pelo menos três ligações com Davi nesse texto: 1) Davi era de Belém
— é por isso que ela era chamada “cidade de Davi”. 2) Davi foi um
governante em Israel — ele foi o maior governante, um homem segundo o
coração de Deus. 3) Davi era um pastor quando criança, e mais tarde ele foi
chamado de pastor de Israel (Sl 78.71).
O ponto dessas três ligações com Davi é o seguinte: Miqueias está
reiterando a certeza da promessa de Deus a Davi. Lembre-se do que Deus
disse a Davi em 2Samuel 7.12-16:
Farei surgir depois de você o seu descendente, que procederá de você, e estabelecerei o seu
reino. Este edificará um templo ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu
reino. […] Quanto a você, a sua casa e o seu reino serão firmados para sempre diante de mim;
o seu trono será estabelecido para sempre.

O que é incrível a respeito de Miqueias é que ele reitera a certeza dessa


promessa não num momento em que Israel está ascendendo ao poder, mas
num momento em que Israel está afundando em direção ao esquecimento.
O Reino do Norte está destruído, e o Reino do Sul será colocado sob o juízo
de Deus. As promessas de Deus pareciam impossíveis.
O ponto de Miqueias era o seguinte: a vinda de Cristo era a confirmação
das promessas de Deus. Aqui está como Paulo disse isso em Romanos 15.8:
“Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus,
para confirmar as promessas feitas aos nossos pais”. Ou como ele disse em
2Coríntios 1.20: “todas as promessas de Deus têm nele o ‘sim’”.
Se você está “nele” pela fé, herdará todas as promessas de Deus. A
predição de Miqueias se tornou verdadeira em Jesus. Assim, todas as
promessas foram confirmadas. Deus disse a verdade. O Natal é a grande
confirmação de Deus de todas as suas promessas. Se Cristo veio, Deus falou
a verdade. E, se Deus falou a verdade, todas as promessas se tornarão
verdade para todos aqueles que confiam nele. Receba esse inefável presente.

˜ ˜
25 DE DEZEMBRO

Graça: a nota d ominante d o Natal


Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá
eternamente. E o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.
JOÃO 6.51

Não temos a história tradicional do Natal sobre o nascimento de Jesus no


Evangelho de João. Você se lembra como ele começa: “No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Em vez de
inserir a história do Natal no início com sua explicação, João tece a história
do Natal e o seu propósito através do evangelho.
Por exemplo, após dizer que o Verbo “era Deus”, João diz: “E o Verbo se
fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua
glória, glória como do unigênito do Pai. […] Porque todos nós temos
recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.14-16).
Assim, o Verbo eterno de Deus tornou-se carne humana, e dessa maneira
o divino Filho de Deus — que nunca teve origem e que nunca veio a existir e
era Deus, mas também estava com Deus — se tornou homem. E, ao fazer
isso, ele tornou a glória de Deus visível de uma maneira completamente
nova. Essa glória divina, manifestada de maneira singular no Filho de Deus,
era cheia de graça e verdade, e dessa plenitude recebemos graça sobre graça.
Esse é o significado do Natal no Evangelho de João. O Deus Filho, que é
Deus, e que está com Deus, veio para revelar Deus de uma maneira que
nunca havia sido revelada. Nessa revelação, a nota dominante tocada é a
graça: da plenitude dessa revelação da glória divina, recebemos graça sobre
graça.
Ou como diz João 3.16-17: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito [ou seja, Natal e Sexta-feira Santa de uma só
vez], para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o
mundo [o Natal não é para condenação], mas para que o mundo fosse salvo
por ele [o Natal é para salvação]”.
Ao fim de sua vida, Jesus estava diante de Pilatos, e Pilatos disse a ele:
“Então você é rei?”, Jesus respondeu: “O senhor está dizendo que sou rei. Eu
para isso nasci e para isso vim ao mundo [este é o propósito do Natal], a fim
de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha
voz” (Jo 18.37).
Qual foi o efeito da verdade da qual Jesus testemunhou com suas palavras
e com toda a sua pessoa? Ele nos disse em João 8.31-32: “Se vocês
permanecerem na minha palavra, são verdadeiramente meus discípulos,
conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”. Assim, o significado do
Natal é este: o Filho de Deus veio ao mundo para testemunhar da verdade de
uma maneira que nunca havia sido testemunhada.
Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6). E o objetivo de entregar a si
mesmo como a verdade ao mundo é liberdade. Você conhecerá a verdade, e
a verdade o libertará. Libertará da culpa e do poder do pecado. Libertará da
morte, da cegueira e do juízo.
Como essa libertação acontece? Lembre-se de João 6, que, ao descer do
céu, Jesus planejava morrer. Ele veio para morrer. Ele veio para viver uma
vida perfeita e sem pecado e depois morrer no lugar de pecadores. Em João
6.51, ele diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste
pão, viverá eternamente. E o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha
carne”.
O Verbo se tornou carne e habitou entre nós a fim de entregar a sua carne
pela vida do mundo. Nós, pecadores, podemos receber graça sobre graça da
sua plenitude porque ele veio para morrer por nós. O Natal, desde o início,
foi uma preparação para a Sexta-feira Santa.
Assim, ao longo do Evangelho de João, o significado do Natal se torna
claro. O Verbo se tornou carne. Ele revelou a glória de Deus como nunca
antes. Ele morreu de acordo com o seu próprio plano. Por causa da sua
morte em nosso lugar, ele é pão para nós. Ele é a fonte do perdão, da justiça
e da vida. Esse é o grande significado do Natal no Evangelho de João e no
mundo. Hoje.

˜ ˜
CONCLUSÃO

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Nasceu o Salvador! Deus recebe a
glória, e você recebe a paz
U M S E R M Ã O D E N ATA L

Um dos textos mais conhecidos e felizes do Natal é este:

Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto servirá a vocês
de sinal: vocês encontrarão uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E, de
repente, apareceu com o anjo uma multidão do exército celestial, louvando a Deus e dizendo:

“Glória a Deus
nas maiores alturas,
e paz na terra entre os homens,
a quem ele quer bem.” (Lc 2.11-14)

Exultemos juntos sobre as maravilhas desse texto. No caminho para a glória


e a paz do versículo 14, há maravilhas a se ver.
“Hoje […] lhes nasceu […].” Isso aconteceu em determinado dia. Um dia
na história. Não um dia em alguma história mitológica imaginária, mas
num dia em que César Augusto era o imperador de Roma e “Quirino era
governador da Síria” (v. 2).
Foi um dia planejado na eternidade antes da criação do mundo. De fato,
todo o universo — com incontáveis anos-luz de espaço e bilhões de galáxias
— foi criado e feito glorioso para esse dia e o seu significado para a história
humana.

Pois nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam
tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e
para ele. (Cl 1.16)

Para ele! Para a sua aparição. Para o dia da sua aparição. “Quando chegou a
plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei” (Gl 4.4). Isso aconteceu em um dia. O dia perfeito. Na plenitude do
tempo. O tempo perfeito marcado por Deus antes da fundação do mundo.
“Hoje lhes nasceu!”
“[…] na cidade de Davi […].” Isso aconteceu em uma cidade. Não em
Nárnia. Não na Terra Média. Não em uma galáxia muito, muito distante.
Aconteceu em uma cidade a cerca de dez mil quilômetros do Rio de Janeiro.
A cidade existe até hoje. Minha mãe morreu em um acidente de ônibus bem
perto dessa cidade. Essa cidade é real.
O nome da cidade é Belém (Lucas 2.4: “José também saiu da Galileia […]
até a cidade de Davi, chamada Belém”). Belém, a cerca de nove quilômetros
de distância de Jerusalém. Belém, a cidade onde Jessé viveu, pai de Davi, o
grande rei de Israel. Belém, a cidade sobre a qual Miqueias profetizou:

“E você, Belém-Efrata, que é pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de
você me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos,
desde os dias da eternidade”. (Mq 5.2)

Isso aconteceu em uma cidade. Uma cidade real, como a cidade onde você
mora.
Salvador, Messias, Senhor
“[…] o Salvador […].” “Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador.”
O Salvador. Se você já pecou contra Deus alguma vez, precisa de um
Salvador. O anjo disse a José: “você porá nele o nome de Jesus, porque ele
salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Só Deus pode perdoar
pecados cometidos contra Deus. É por isso que Deus enviou o eterno Filho
de Deus ao mundo, porque ele é Deus. Foi por isso que Jesus disse: “o Filho
do Homem tem autoridade sobre a terra para perdoar pecados”. Portanto,
nasceu o Salvador.
“[…] que é Cristo […].” “Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador,
que é Cristo.” Cristo é a versão em português de Christos, que significa “o
ungido”, que é também o significado de “Messias” (Jo 1.41; 4.25). Ele é
aquele há muito predito, há muito aguardado, o ungido acima de todos
(Sl 45.7). O último rei ungido. O último profeta ungido. O último sacerdote
ungido. Nele todas as promessas de Deus são “sim” (2Co 1.20)! Ele
cumpriria todas as esperanças e sonhos da piedosa Israel. E mais, muito
mais. Porque ele também é…
“[…] o Senhor.” “Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é
Cristo, o Senhor.” O governante, o soberano, o poderoso Deus, o Pai eterno.
O Senhor do universo.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu. O governo está sobre os seus ombros, e o
seu nome será: “Maravilhoso Conselheiro”, “Deus Forte”, “Pai da Eternidade”, “Príncipe da
Paz”. Ele estenderá o seu governo, e haverá paz sem fim. (Is 9.6-7)
O Natal em resumo
O Senhor do governo infinito, universal, soberano. O Senhor de todos os
senhores.

Em um dia — na história real.


Em uma cidade — no mundo real.
O Salvador — para levar toda a nossa culpa.
O Cristo — para atender a todas as nossas esperanças.
O Senhor — para derrotar todos os nossos inimigos e nos deixar
seguros e satisfeitos para sempre.

Assim, eu exulto com você neste Natal por termos um grande Salvador,
Jesus, o Cristo, o Senhor, nascido em um dia numa cidade para nos salvar
dos nossos pecados — nossos muitos pecados.
Dois grandes propósitos para essas boas-novas
Quando o anjo anunciou essas novas aos pastores (Lc 2.11) e os direcionou
ao estábulo onde o bebê dormia, de repente um exército de anjos apareceu
no céu. Evidentemente, um anjo pode trazer as novas, mas um anjo não é o
bastante para reagir às novas. O significado dessas novas, o resultado último
dessas novas — isso exige um exército de anjos.

E, de repente, apareceu com o anjo uma multidão do exército celestial, louvando a Deus e
dizendo:

“Glória a Deus
nas maiores alturas,
e paz na terra entre os homens,
a quem ele quer bem.” (2.13-14)

As alegres novas de que naquele dia, na perfeita plenitude do tempo, na


perfeita cidade profetizada, nascera o Salvador, que era Cristo, o Senhor —
essas novas tinham dois grandes resultados. Dois grandes propósitos.
“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem
ele quer bem.”
A glória de Deus e a nossa paz
A chegada dessa criança será a maior revelação da glória de Deus mesmo
nos mais altos céus, e a vinda dessa criança trará paz ao povo de Deus —
que um dia encherá toda a terra com justiça e paz. “Ele estenderá o seu
governo, e haverá paz sem fim” (Is 9.7).
Em primeiro lugar, Deus é glorificado porque essa criança nasceu. E, em
segundo lugar, a paz é irradiada por todo lugar onde essa criança é recebida.
Estes são os grandes propósitos da vinda de Jesus: glória para sempre
subindo do homem para Deus; paz para sempre descendo de Deus para o
homem. A glória de Deus cantada entre os homens por amor do seu nome.
A paz de Deus vivida entre os homens por amor do seu nome.
Essa é uma das melhores maneiras de resumir a vontade de Deus ao criar
o mundo, ou quando ele veio para reivindicar o mundo em Jesus Cristo —
sua glória, nossa paz. Sua grandeza, nossa alegria. Sua beleza, nosso prazer.
O ponto da criação e da redenção é que Deus é glorioso e deseja ser
conhecido e louvado pela sua glória por uma nova humanidade cheia de
paz.
Para experimentarmos a paz que ele traz
“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem
ele quer bem.” A versão Almeida Revista e Corrigida traduziu o versículo
14b assim: “paz na terra, boa vontade para com os homens”. Praticamente
todas as traduções modernas concordam que essa não era uma tradução
precisa. A NVI diz: “e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu
favor”. A NVT diz: “e paz na terra àqueles de que Deus se agrada”. E a NAA
diz: “e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”.
O ponto é que mesmo que a oferta de paz se estenda a todos, apenas o seu
povo escolhido — as pessoas que recebem Cristo e confiam nele como
Salvador, Messias e Senhor — experimentará a paz que ele traz.
Temos um vislumbre desse significado em Lucas 10.5-6, onde Jesus diz
aos discípulos: “Ao entrarem numa casa, digam primeiro: ‘Paz seja nesta
casa!’ [esta é a oferta de paz a todos] Se houver ali uma pessoa que ama a
paz, sobre ela repousará a paz de vocês; se não houver, a paz voltará sobre
vocês”.
A paz de Deus em Cristo é oferecida ao mundo. Mas apenas as “pessoas
que amam a paz” a recebem. Como você sabe se você é uma “pessoa que
ama a paz”? Como você sabe se você é parte da promessa do anjo, “paz na
terra entre os homens, a quem ele quer bem”? Resposta: você recebe o
Pacificador; você recebe Jesus.
O ponto principal da paz
O propósito de Deus é dar a você paz ao ser a mais gloriosa pessoa na sua
vida. Cinco vezes no Novo Testamento, ele é chamado de “Deus da paz”
(Rm 15.33; 16.20; Fp 4.9; 1Ts 5.23; Hb 13.20). Jesus disse: “a minha paz lhes
dou” (Jo 14.27). E Paulo disse: “[Jesus] é a nossa paz” (Ef 2.14).
Isso significa que a paz de Deus, ou a paz de Cristo, nunca pode ser
separada do próprio Deus e do próprio Cristo. Se queremos que a paz
governe a nossa vida, Deus deve governá-la. Cristo deve governar a nossa
vida. O propósito de Deus não é lhe dar paz separada dele mesmo. Seu
propósito é lhe dar paz ao ser a pessoa mais gloriosa na sua vida.
Assim, o segredo para a paz é não separar o que os anjos não separaram:
glória a Deus e paz ao homem. Um coração comprometido com mostrar a
glória de Deus conhecerá a paz de Deus.
O que une essas duas coisas — Deus recebendo a glória e nós recebendo a
paz — é crer ou confiar nas promessas de Deus obtidas por Jesus. Romanos
15.13 é um desses textos fundamentais apontando para essa função crucial
da fé: “E o Deus da esperança encha vocês de toda alegria e paz na fé”. Na fé.
Em outras palavras, a maneira pela qual as promessas de Deus se tornam
reais para nós e produzem paz em nós é por meio da fé. Quando cremos
nelas. Isso é verdade quer estejamos falando sobre paz com Deus, quer sobre
paz com nós mesmos, quer sobre paz com os outros.
Três relacionamentos de paz
Meu grande desejo para você neste Natal é que você desfrute dessa paz.
Sabemos que existem aspectos globais dessa paz que aguardam no futuro
quando “a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as
águas cobrem o mar” (Hc 2.14). Quando, como Isaías diz, “Ele estenderá o
seu governo, e haverá paz sem fim” (Is 9.7).
Jesus, porém, veio inaugurar essa paz entre o povo de Deus, e há três
relacionamentos nos quais ele quer que você busque essa paz e desfrute dela.
Paz com Deus. Paz com a sua própria alma. E paz com as outras pessoas, no
que depender de você.
Por paz, quero dizer não apenas a ausência de conflito e animosidade,
mas também a presença de alegre tranquilidade e a maior quantidade de
riqueza de comunicação interpessoal que você for capaz de ter.
Então, observemos cada um desses três relacionamentos de paz
rapidamente e nos certifiquemos de que você está desfrutando deles tanto
quanto pode. O segredo para cada um deles é não separar o que os anjos
uniram: a glória de Deus e a paz pela qual você anseia. “Glória a Deus nas
maiores alturas, e paz na terra.”

PAZ COM DEUS


A necessidade mais básica que temos é de paz com Deus. Isso é fundamental
para todas as nossas buscas de paz. Se não alcançamos isso primeiro, todas
as outras experiências de paz serão superficiais e temporárias.
A passagem-chave aqui é Romanos 5.1: “Justificados, pois, mediante a fé
[eis o ato crucial de crer], temos paz com Deus por meio do nosso Senhor
Jesus Cristo”. “Justificados” significa que Deus declara que você é justo aos
olhos dele ao imputar-lhe a justiça de Cristo.
Ele faz isso mediante a fé somente: “Justificados, pois, mediante a fé” (Rm
5.1). Não pelas obras. Não pela tradição. Não pelo batismo. Não por ser
membro de igreja. Não pela piedade. Não por parentesco. Mas pela fé
somente. Quando cremos em Jesus como o Salvador, o Senhor e o supremo
tesouro da nossa vida, somos unidos a ele e a sua justiça é contada por Deus
como sendo nossa. Nós somos justificados pela fé.
O resultado é paz com Deus. A ira de Deus contra nós por causa do nosso
pecado é afastada. Nossa rebelião contra ele é vencida. Deus nos adota como
sua família. E de agora em diante sua relação conosco é para o nosso bem.
Ele nunca estará contra nós. Ele é nosso Pai e nosso amigo. Nós temos paz.
Não precisamos mais temer. Isso é fundamental para qualquer outra paz.

PAZ COM NÓS MESMOS


Porque temos paz com Deus por termos sido justificados pela fé, podemos
começar a crescer no deleite da paz com nós mesmos — e aqui eu incluo um
sentimento de culpa ou ansiedade que tende a nos paralisar ou nos
desesperar. Aqui o segredo novamente é crer nas promessas de Deus com o
objetivo de glorificar a Deus em nossa vida.
Filipenses 4.6-7 (NVI) é uma das passagens mais preciosas a esse respeito:
“Não andem ansiosos por coisa alguma [o contrário de ansiedade é paz],
mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus
pedidos a Deus [em outras palavras, lancem suas ansiedades sobre Deus]. E
a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a
mente de vocês em Cristo Jesus”.
O cenário aqui é o de que o nosso coração e a nossa mente estão sob
ataque. Culpa, preocupações, ameaças, confusões, incertezas — tudo isso
ameaça a nossa paz. E Paulo diz que Deus quer “guardar” o nosso coração e
a nossa mente. Ele os guarda com a sua paz. Ele os guarda de uma maneira
que vai além do que o entendimento humano pode imaginar — “que excede
todo o entendimento”.
Não limite a paz de Deus por aquilo que o seu entendimento pode ver.
Ele nos dá paz inexplicável, paz suprarracional. E ele o faz quando lançamos
as nossas ansiedades sobre ele em oração e confiamos que ele as carregará
para nós (1Pe 5.7) e nos protegerá.
Quando fazemos isso, quando chegamos a ele — e lembre-se que nós já
temos paz com ele! — e confiamos nele como nosso amoroso e todo-
poderoso Pai celestial para nos auxiliar, a sua paz vem a nós e nos acalma,
nos protege dos efeitos incapacitantes do medo, da ansiedade e da culpa. E
então somos capazes de prosseguir, e o nosso Deus recebe a glória por
aquilo que fazemos porque confiamos nele.
Faça isso neste Natal. Leve as suas ansiedades a Deus. Converse com ele
sobre elas. Peça que ele o ajude, o proteja e restaure a sua paz. E então que
ele use você para promover a paz.

PAZ COM OS OUTROS


O terceiro relacionamento no qual Deus quer que desfrutemos da sua paz é
o nosso relacionamento com outras pessoas. Esse é aquele sobre o qual
temos o menor controle. Assim, precisamos falar claramente como Paulo
fala em Romanos 12.18. Ele diz: “Se possível, no que depender de vocês,
vivam em paz com todas as pessoas”.
Para muitos de vocês, quando se reunirem com a família para o Natal,
haverá alguns relacionamentos constrangedores e dolorosos. Alguns com
dores muito antigas. Alguns com dores novas. Em alguns relacionamentos,
vocês sabem o que devem fazer, não importa quão difícil seja. Em outros,
vocês estão desconcertados e não sabem qual caminho a paz exige.
Em ambos os casos, o segredo é confiar nas promessas de Deus com uma
consciência sincera de como ele o perdoou por meio de Cristo. Penso que o
texto que diz isso mais poderosamente para mim, vez após vez, é Efésios
4.31-32: “Que não haja no meio de vocês qualquer amargura, indignação,
ira, gritaria e blasfêmia, bem como qualquer maldade. Pelo contrário, sejam
bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, perdoou vocês”.
Cultive uma sensação de perplexidade por, apesar de todos os seus
pecados, Deus tê-lo perdoado por meio de Cristo. Fique perplexo por você
ter paz com Deus. É essa sensação de perplexidade de que eu, um pecador,
tenho paz com Deus, que faz meu coração sensível, bondoso e
misericordioso. Estenda isso aos outros setenta vezes sete.
Você pode ser rejeitado. Jesus certamente foi rejeitado na cruz. Isso é
doloroso e pode torná-lo amargurado se você não tiver cuidado. Não deixe
que isso aconteça. Continue mais perplexo por seus erros serem perdoados
do que por você ser ofendido. Fique perplexo por você ter paz com Deus.
Você tem paz com a sua alma. Sua culpa foi removida.
Continue confiando em Deus. Ele sabe o que está fazendo. Que a glória
dele — não o seu sucesso ou a sua eficácia em pacificar ou os seus
relacionamentos — seja suprema no baú do tesouro do seu coração.
Então você será como os anjos: glória a Deus nas alturas em primeiro
lugar. Paz entre o seu povo em segundo lugar.
“Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor.”
Foi para isso que ele veio — naquele dia, em uma cidade, como o Salvador,
Messias e Soberano. Para que Deus recebesse a glória e você conhecesse a
paz. Que o Deus da paz lhe dê paz e receba a sua glória.
U M A PA L AV R A D E A G R A D E C I M E N T O

Preparei a maioria destes textos devocionais como sermões para a igreja na


qual servi ou como devocionais para os leitores do desiringGod.org. David
Mathis, editor executivo do Desiring God, com a ajuda de Jonathan Parnell e
Tony Reinke, os escolheram para a inclusão aqui e os condensaram para este
formato. Depois, eu os li novamente e fiz as mudanças finais. Sou
profundamente grato pela iniciativa de David e pela excelência de seu
trabalho. Este livro não existiria sem ele. Se existirem erros ou coisas
inapropriadas, existem por minha omissão.
Sou grato a toda a equipe de conteúdo do Desiring God (David, Jonathan
e Tony, com Stefan Green e Marshall Segal). Não só eles nos ajudaram a
reunir as coisas que escrevi ao longo dos anos e disponibilizá-las de novas
maneiras, mas eles mesmos produzem conteúdo, o que mantém o blog
desiringGod.org vivo e útil. Sou privilegiado por ter parceiros tão
extraordinariamente talentosos.
Todos nós declaramos a nossa absoluta dependência da graça de Deus
para cada vez que respiramos, cada pensamento que temos, cada afeição que
sentimos e cada palavra que escrevemos. Somos felizes por sermos
devedores à graça. Nosso objetivo é servir na força que Deus provê para que
em tudo Deus possa receber a glória por meio de Jesus Cristo. A ele sejam a
glória e o poder para todo o sempre. Amém (1Pe 4.11).
— JOHN PIPER —

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