Você está na página 1de 71

poesia contamina

SLAM
DAS
MINAS
RS
Agatha S. Rolim • Andressa Ribas Pereira • Crua • Fátima Farias
Fernanda Maiara Escoval • Haydée • Júlia Roberta Santana Cordeiro
Juliana Barros • Juliana Luise • Lella Alves • Natália Luísa Escouto
Natália Pagot Xavier • Natália Prat • Nathália Luísa Giraud Gasparini
Renata de Aquino Medeiros dos Santos • Verte
Victória Rodrigues Faustino • Viviana Zorzi
POESIAS Agatha S. Rolim
Andressa Ribas Pereira
Crua
Fátima Farias
Fernanda Maiara Escoval
Haydée
Júlia Roberta Santana Cordeiro
Juliana Barros
Juliana Luise
Lella Alves
Natália Luísa Escouto
Natália Pagot Xavier
Natália Prat
Nathália Luísa Giraud Gasparini
Renata de Aquino Medeiros dos Santos
Verte
Victória Rodrigues Faustino
Viviana Zorzi

ORGANIZAÇÃO Coletivo Slam das Minas/RS


Crua
Juliana Luise
Lella Alves
Paula Moizes
Verte

DIAGRAMAÇÃO Paula Moizes

FOTOS DA CAPA Carol Ferraz


Maira Vilella
Este e-book foi idealizado para ser distribuído de forma gratuita
na internet.

Você tem a liberdade de compartilhar, copiar, distribuir e


transmitir esta obra, desde que cite a autoria e não faça uso
comercial. Licença Creative Commons de atribuição, uso não
comercial e não a obras derivadas.
(CC BY-NC-ND 2.0 BR)
poesia contamina
SLAM
DAS
MINAS
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
8

INTRODUÇÃO
ONOMATOPEIA NOSSAS VOZES | Fátima Farias
10

SOMOS LUTA
CALMA SOCIEDADE | Agatha S. Rolim
14

EU SÓ QUERO DESCANSAR | Júlia Roberta Santana Cordeiro


17

ONOMATOPEIA DA DOR | Renata Aquino Medeiros dos Santos


21

NÃO! | Verte
24

CADEIA PRODUTIVA | Lella Alves


26

LIMBO | Natália Luísa Escouto


28
ODE | Haydée
30

FILHA DE UMA LEOA | Andressa Ribas Pereira


32

RATA | Crua
36

SOMOS AMOR
SECULAR | Natália Pagot Xavier
39

CARTA DE AMOR | Andressa Ribas Pereira


42

PARA MIM E PARA AS OUTRAS | Juliana Luise


44

AMAR SE AMAR | Juliana Barros


45

SI NO ERES FIEL A TU ALMA | Fernanda Maiara Escoval


47

TUDO VAI BEM MAS SEM VOCÊ NÃO TENHO TUDO | Natália Prat
49

FLOR DE PEDRA | Victória Rodrigues Faustino


51
AI SE SÊSSE - ANOS 2000 | Nathália Luísa Giraud Gasparini
53

BISSEXUALIDADE | Victória Rodrigues Faustino


56

AINDA NADA | Viviana Zorzi


60

SOBRE AS AUTORAS
62

SLAM DAS MINAS/RS


69
APRESENTAÇÃO
Até outubro de 2019, foram 32 edições do Slam das Minas/RS.
Cada uma reuniu de 30 a mais de 100 pessoas de todos os cantos.
Então o ano de 2020 chegou, trazendo com ele uma pandemia e
o isolamento social que suspendeu qualquer tipo de aglomeração.
Assim, uma das alternativas que encontramos para seguir juntas e
manter nosso projeto vivo foi a criação deste e-book que reúne 20
poemas escritos por mulheres artistas do Rio Grande do Sul.

A chamada foi feita pelas redes sociais do Slam das Minas/RS em


20 de maio de 2020, com prazo para envio de poesias até 31 de
agosto do mesmo ano.

Parte dessas poesias foram declamadas em edições passadas do


Slam, e a outra parte é fácil de imaginar sendo proferida em uma
de nossas junções na Praça da Matriz. Palavras que abraçam as
dores e as delícias do “ser mulher”.

Aqui estão organizadas criações de mulheres que encontram na


poesia um espaço para olharem e expressarem sua luz e sombra,
abraçarem sua sexualidade, nesse processo constante de (re)
encontro com nós mesmas.

São poesias que também abrem portais para gritos ancestrais


por mais liberdades e oportunidades. Palavras que levam consigo
a transformação de uma realidade que esmaga e descarta as
mulheres, principalmente negras, indígenas, lésbicas, bi, trans, com
deficiência ou que foram colocadas em qualquer outra situação de
vulnerabilidade social.

8
Nossas histórias são atravessadas por luta e amor dentro e fora
de casa. Escrevemos sobre nós mesmas para, assim, também
conversarmos com outras mulheres.

Agradecemos imensamente às poetisas que nos enviaram suas


criações tão íntimas e corajosas, tornando possível a existência
desse e-book. Convidamos a todes para se deixarem levar pelas
águas desse mar de poesias. As mulheres sabem o caminho.

Também somos profundamente gratas à poetisa Fátima Farias, que


aceitou nosso convite e nos presentou com a poesia que inaugura
nosso e-book, abrindo os caminhos para as poesias que vêm a seguir.

COLETIVO SLAM DAS MINAS/RS


Porto Alegre, outono de 2021

9
INTRO-
DUÇÃO
ONOMATOPEIA
NOSSAS VOZES
FÁTIMA FARIAS*

Em confinamento, consequência da Pandemia que assola o

mundo, sem perspectiva ou luz no fim do túnel a escrita tem sido

aconchego e afeto. Esses sons que se negam calar, essas vozes que

jamais aceitaram as mordaças, mesmo sufocadas pelo sistema

ousam registrar em versos e rimas seus desagrados.

Um enfrentamento através da literatura, um livro,

qualquer formato é um livro e tem um grande significado

principalmente nesses tempos de ataque a cultura.

Usaremos máscaras de proteção contra o vírus, não máscaras

que nos façam mudas.

Somos sons em vozes humanas, mulheres “desamordaçadas” ,

jovens que não aceitam a prisão das palavras, trazemos poemas

e versos em espaços ocupados por direito.


As ruas pertencem ao poema, é das ruas a liberdade,

é libertária nossa voz.

A praça é o palco.

A poesia é a cena.

*Fátima Farias é poeta, compositora e atua como profissional da


Gastronomia. Ativista social, tem projetos literários e livros publicados.
Seu primeiro livro-solo, “Mel e Dendê”, foi lançado em março de
2020 pela editora Libretos. Para encomendar seu exemplar, entre em
contato pelo e-mail fatimareginafarias2011@hotmail.com.

Fátima é moradora da zona leste de Porto Alegre e mesmo na


pandemia está atenta para a cultura nas comunidades. Está
trabalhando em mais dois títulos autorais ainda para este ano.
SOMOS
LUTA
CALMA SOCIEDADE AGATHA S. ROLIM

Queria começar, pedindo que não me levem a mal, a critica aqui

é social, não pessoal.

Pois é, parece que eu vou ter que bater continência, “pra” esse povo

sem consciência, que elege fascista “pra” presidência.

A aula de história você cabulou, sessenta e quatro de nada te

adiantou, e o seu mito você aplaudiu, quando o mesmo saudou

coronel torturador, mas tortura mesmo por aqui é saber quantas

travestis, morrem por dia nesse país.

Mas calma meu senhor, não atira por favor! Sou trabalhador. Mas

calma meu senhor, a mais de cento e trinta anos a escravidão já

acabou, sessenta e quatro já passou. Mas calma “seu polícia” por

favor não atira! Sou poeta, sou artista, por favor não atira!

Mais um corpo dos meus ali na esquina, como Marcos Vinicius,

que sina, ontem em SP mais uma chacina. E essa é uma história

que vemos tantas vezes repetida, que me pergunto mais de uma

ver por dia, se perdemos a capacidade de sentir empatia e eu só

vejo vocês pedirem a volta de Ustra e companhia.

E o que dizer do político de estimação que você adotou, que paga

de revolucionário, progressista, mas só faz discurso do século

passado e ainda é extremista.

Tudo bem o plano foi revelado, a gente já entendeu que vocês

14
querem só “tacar o terror” mas tenho que lhes dizer que das lições

de setenta e quatro, que Médici deixou, só sinto pavor!

Por favor “xô”!

Mas calma sociedade, por favor fica suave!

A gente tá sabendo que vocês não gostam de quem lhes diz

algumas verdades, sei que agora vocês vão dizer que, essa

poesia foi toda encomenda pelo PT, que sou petista, socialista,

esquerdista, comunista.

Mas calma sociedade, por favor fica suave!

A poesia não tinha intenção de ofender, nem as amizades

desfazer, isso até poderia ser falta de maturidade,

de esportividade. Vocês não vão mesmo querer falar, sobre

não saber perder, pra quem como eu, que na luta contra a

desigualdade sempre perdeu?

“Pra” quem vai resistir comigo até o fim, um salve!

Pois é vocês sabem sou persistente, Mariele Franco, presente!

Nunca se esqueçam que somos sementes.

Mas calma sociedade, por favor fica suave!

A luta aqui é por igualdade, afinal somos todos irmãos, não quero

ser eu a dividir, ainda mais nossa nação.

Vou pedir em oração, proteção, aos meus orixás, pois sei que irei

precisar, muito aqui não vão gostar do que tenho “pra” falar, mas

eu não podia deixar o medo me calar.

Mas calma sociedade, por favor fica suave!

Eu sou apenas mais um dos tantos gritos de liberdade, e enquanto

15
vocês acreditarem, que seus preconceitos são as maiores

verdades, estarão enchendo meu coração de coragem, para

expressar através da minha arte tudo aquilo que sinto de verdade.

Eu não sei o que vocês vão dizer, quando o amor vencer, pois

tenho fé que o ódio, não irá prevalecer.

Mas calma sociedade!

Peço um pouquinho de paciência, deveria pedir menos violência,

um pouco mais de consciência.

Mas calma sociedade, tenho algo pra lhes dizer que talvez não lhes

deixe ficar assim, tão suave.

Mas enquanto ferir nossa existência, seremos “pra” sempre

resistência!

16
EU SÓ QUERO
DESCANSAR JÚLIA ROBERTA SANTANA CORDEIRO

Eu só quero descansar, sei lá, dormir um pouco.

Poder sonhar, se afastar desse mundo louco

Poder sonhar, estar no topo e, se Deus quiser, acordar de novo

Pra ver o mundo real, como sempre foi, sem distinguir o agora do

depois.

Estou cansada de tentar iluminar conhecimento: essencial para

acordar,

Sabendo que o preço que vale não é o que vamos pagar.

Nem todo o valor do mundo é o bastante ao acabar.

A vida vai cobrar seu próprio preço, independente do endereço,

sua conta vai chegar.

Estou cansada de perder meu tempo ao tentar, e perceber que só

perdi o suficiente pra acabar.

Contando as horas no relógio: tic-tac, sem parar.

Sem conseguir perceber o óbvio: ele nunca vai parar,

E que o suficiente depende da gente, o uso consciente é uma

escada dormente,

O único caminho possível é o da frente, enfrente aqueles que

17
disseram não.

Que não enxergam que a vida é uma canção e cada verso é um

universo sempre sozinho, as possibilidades estão sempre no

refrão.

Estou cansada de um governo cego,

Políticos blindados dependentes de seu próprio ego;

De uma cultura rica sendo sucateada, enquanto a isenção mantém

mansões armadas.

Sempre no modo avião quando são nossas chamadas.

E no jato particular a corrupção tá engasgada.

Proletário trabalha pra pagar o seu salário,

Não estamos te pedindo nada.

E se minha casa é minha vida, cadê minha morada?

Utópica, tipo a de Adão e Eva.

Paraíso... fiscal: uma bela ilha, uma bela erva.

Milhões e milhões em uma única leva.

Enquanto o povo trabalha de segunda a segunda, quase sem

tempo pr’aquela “ceva”.

Aquela que ajuda a engolir

As responsabilidades de quem tem uma casa pra suprir,

Vivendo com um salário, mas sem o mínimo!

Enquanto a riqueza que produzimos fica dentro do seu

condomínio.

Seu discurso bonito chega a ser exímio,

Mas cada palavra sem ação é um tiro

Um extermínio.

18
“Brasil acima de todos, Deus acima de nós” é o seu discurso,

Mas e cada filho de Deus morando embaixo do seu viaduto?

Se somos todos filhos Dele, porque deixa seu irmão morrer, mudo?

Sua voz sendo apagada e seu silêncio construindo um muro

Te separando da realidade, como se o mundo fosse um lugar

seguro.

Na escola tentaram me ensinar Filosofia,

Desculpa aí Aristóteles, mas meu pensamento é poesia.

Ainda assim, com pouca base histórica, tentei entender a retórica:

”A capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o

fim de persuadir”

Não sei se aprendi direito, mas foi isso que entendi, então decidi

agir.

Minha voz é retórica aristotélica

Tipo Adélia Prado eu peço licença poética

Agradeço minha inteligência, capacidade de refletir a experiência.

E não virar mais um gado sem ética nessa vivência.

Favela, todos somos filhos dela.

Onde o crime organizado é quem organiza o estado.

Crianças brincando na rua em meio caos,

O local onde o preto é mais forte, tipo aquele halls.

Vai descer. O povo vai sair do morro pra competir com você,

Nos deixaram tanto tempo vivendo com o resto que agora vamos

fazer descer,

vocês vão ter que nos engolir, nossa literatura já tá fazendo o

19
trabalho de nos unir.

Vamos libertar nossas amarras, cada chibatada que vocês nos

fizeram levar nas costas,

cada humilhação por sua falta de percepção que a gente também

tem coração.

Vai ser tarde pra voltar atrás quando vocês sentirem o peso da

nossa mão:

Vamos se unir e fazer valer nossa canção.

Pátria amada, idolatrada, um filho teu não foge a luta, na labuta,

Pátria amada, uma grande filha da puta.

Já dizia Racionais, 500 anos de Brasil e o Brasil aqui nada mudou,

mas vai

Nós vamos fazer valer que nenhum pobre chorará pelo seu pai,

não mais.

O nosso tempo é hoje, não podem mais nos calar,

Vamos dar voz a todos os nossos que nunca puderam falar, se

manifestar,

Vamos fazer sangrar o patriarcado, uma facada vai ser pouca bol...

Dessa vez não vamos errar, vamos atingir cada canto que nos

disseram não ser nosso lugar.

Vamos encher as universidades, pisar no seu desprezo

Educação de qualidade sempre foi nosso desejo

Voa neguinho, voa, que a classe executiva também vai ser o seu

lugar.

20
ONOMATOPEIA
DA DOR
RENATA AQUINO MEDEIROS DOS SANTOS

Rá-tá-tá-tá.

Um corpo preto cai ao chão.

Bum.

O baque surdo de um sujeito sem vida,

sem nome e sem sobrenome,

apenas mais um número nas estatísticas.

Chin-chin-chin-chin...

É só fechar os olhos e consigo ouvir

o barulho das correntes consigo sentir

os passos arrastados,

a dor do preto que foi amarrado,

raptado,

humilhado,

subjugado,

retirado de sua vida,

forçado a ficar em correntes,

perdendo seu status de gente,

coisificado no papel de servente.

21
Entre gemidos, murmúrios e orações,

almas destruídas.

Entre rajadas de vento e ação de engrenagens,

não é possível abafar

o barulho de um corpo preto

jogado ao mar.

520

anos de genocídio ao povo preto nesse país.

23

minutos

é o tempo que contabiliza as mortes

dos nossos jovens cheios dos sonhos,

agora dizimados

pelo Estado.

Governados por uma necropolítica

onde vidas pretas viram estatística.

Não há descanso.

Não há paz.

há muita treta

enquanto um povo sente a dor

de mais uma mãe preta

que enterra seu filho inocente;

na Cidade Maravilhosa

que joga corpos pretos em valeta.

AAAAAAAAAAHHHHHH!

22
É o grito de dor

de ser preta na “pátria amada”,

onde dor é tudo o que consigo sentir

enquanto meu povo implora

e chora

pelo “simples” - ai ai! -

direito de existir.

23
NÃO!
VERTE

Por nenhuma mulher eu dou minha cara a tapa,

Nesse bando de mulheres não vai ter nenhum tapa.

Nem na cara,

Nem na bunda,

Nem lugar que sem concepção alguém colocar a mão.

Não justifica ser piada ou ser ironia,

Com machismo e misoginia não se brinca.

Pode ser no fim na noite,

Poder ser em uma festa,

Pode ser no ônibus,

Havendo abuso, eu vou reagir.

Não importa se é comigo,

Não importa o meu tamanho,

Eu vou reagir!

Sou pequena e sou magrinha

Mas tu não sabe aqui dentro da raiva que não é só minha,

É minha e é delas,

É por mim e é por elas.

Tem haver comigo sim,


Tem haver com a minha luta

Reagir quando alguém chamar mulher de puta.

24
Não merecemos respeito só quando acompanhadas,

Merecemos mesmo sozinhas,

Mesmo embriagadas,

Mesmo longe de casa.

Mesmo na sua cama,

Mesmo na sua cama

Não é não,

Não é não,

Não é não!

Insistência é desconfortante quando se trata de um corpo

Julgado por olhos nojentos na rua a todo instante.

E a todo instante já me diziam os muros:

“Seja barraqueira, seja heroína”

Pode ser a heroína de ti mesma.

Por nenhuma mulher eu dou minha cara a tapa

Mas dou minha boca a gritos e minhas mãos a socos.

Essa poesia esteve


na 8ª edição do Slam
das Minas/RS.

Ouça essa poesia


no podcast
Slam Rotina.

25
CADEIA PRODUTIVA
LELLA ALVES

Atrás da roupa exclusiva, alguém trabalha

ouro em alta, qual tendência, para a próxima temporada?

Mão calejada, mão de obra barata que ganha migalhas

a cada ponto de linha, uma vida é apagada

Varejo, importação aumenta produção, liquidação

quem fez? quem vende? quem compra?

Não é sobre identidade, cultura, nem sobre diversidade

é sobre luxúria, é sobre a mão que acumula

Egoísmo, centralização, isso é uma crítica à monopolização

à desvalorização, sobre a produção, sobre a globalização

Que enrique poucos e empobrecem alguns milhões!

Enquanto desfilam absurdos, geram lucros, mascaram o

submundo

A etiqueta não conta o que tem atrás das máquinas, em porões

imundos

26
A indústria que mais emprega no mundo, é a mais poluidora do

mundo

Fast fashion, consumo, apropriação, extinção

Não é roupa que te muda, o que muda é a tua conscientização

mas a tua roupa pode expressar diversidades, identidades e

formas de mudança e resistência

Contra toda forma de exploração, podemos ser uma nova opção

Pensar que nossas atitudes podem impactar toda a cadeia de

produção.

27
LIMBO NATÁLIA LUÍSA ESCOUTO

Limbo - nem lá, nem cá

o lá eu sobrevivo, disfarço e vivo uma certa paz que não faz

dormir.

cá eu assisto, revisito e faço lar, lar e cá é onde eu quero estar.

se minha pele eu tenho branca, minha consciência se faz negra e

dentro por essência navego mar, um corpo no mundo onde não

encaixo.

me acho e resido onde coração está. tocar meu sangue é saber que

ele já foi derramado e pra quem morre todo dia não precisa ser

lembrado.

conversar mais eu quero, saber as histórias do passado

de quem é o nome que eu herdei, provavelmente senhor de

escravos

um mapa breve fazer, que os meus estão do meu lado e próximo,

eu sei, há um futuro pra nós guardado.

nem lá nem cá estarei e sim somente ao teu lado

lá eu faço diferente e vejo o todo, essa gente.

quero estar ao teu lado, não mais aturo gente que acha que isso é

passado.

Cá aqui contigo, eu honro nosso legado, te quero vivo, forte e não

mais acuado.

28
Não quero te ver mais com medo

Não quero te ver se escondendo

Quero te ver alegre contando a tua história

Cá eu sinto a tua dor, e sei que eu fiz parte dela também

Levei um tempo para aprender que de lá essas marcas levei

Não tenho base, lá estrutura quebrarei, quebro e não calo

construo aqui algo novo, que preciso conhecer o passado,

enegrecer o presente e

fortalecer um futuro. Preta

Lá e cá eu estou

incomodada

inquieta

presente

consciente

atenta e com raiva

29
ODE HAYDÉE

não senhora não sou louca tenho diagnósticos mas quem não

tem hoje em dia não é mesmo hehehe sim eu contei já disse

duas tentativas de suicídio e uma tentativa frustrada de uma

internação que resultou numa fuga dentro de um uno branco

e o médico perplexo com suas referências psiquiátricas, hum

olha só você apresenta uma certa paranoia esquizóide mas tem

funcionamento bipolar e me tratou como uma criança mimada

enquanto explicava que agora eu não ia poder comer sorvete por

que antes eu teria que almoçar mas eu odeio almoço e não consigo

engolir mais nada a não ser essas pílulas rosas e verdes e amarelas

e brancas que deixam tudo etéreo como uma procissão pisciana

ou uma odisseia sonhada onde tudo é de cetim, sabe senhora

parece muito difícil ser funcional hoje em dia ser tão jovem sem

perspectiva nenhuma a não ser a loucura em espiral que vai bater

no chão e o trem vai passar por cima por que minha senhora até

quando a loucura vai ser silenciada e silenciada. presa. silenciada.

maluca. cala a boca! doida de pedra. silenciada. fragilizada.

silenciada em manicômios confortáveis com cheiro de café até

quando a loucura vai ser o pulo da janela pra nunca mais voltar

até quando vai ser preso o grito que nunca vai embora e se aloja

na garganta e fica assim faltando o ar fica feito compasso de

30
música velha que é sempre um clássico até quando a loucura vai

ser o que fica vazio e branco e nada demais e nada demais e nada,

até mais.

Ouça essa poesia


no podcast
Slam Rotina.

31
FILHA DE
UMA LEOA ANDRESSA RIBAS PEREIRA

Quando o galo cantava

Ela acordava

Escolhia a calcinha menos furada

Pegava a condução lotada

Tomava o seu lugar na fábrica

Seu rosto de menina pouco importava

"a revista íntima é igual pra todas" - o patrão afirmava

Assistia aflita e calada

Dia após dia a sua dignidade sendo violada

Respirava fundo e aguentava

Sabia que esse era o preço pra poder ser uma mulher estudada

Seu pai via tudo isso com espanto e indignação

Não queria a filha na fábrica, nem na escola

Queria a filha bem casada, a barriga encostada no fogão

No fundo, o pai tinha vergonha da filha

No fundo, a filha tinha orgulho da vergonha do pai

Não que ela fosse assim subversiva

Ela só sabia que ao contrário da sua mãe não seria submissa

32
Cansada de chegar em casa cansada

E encontrar a sua mãe com a cara afundada

Toda lanhada

Escondida em baixo da escada

As pernas tremendo de mais uma vez ter sido espancada pelo

marido “Mas isso não faz nenhum sentido

Se meu pai nos ama

Por que ele faz isso com a minha mãe e comigo???”

A cada tapa que a sua mãe levava

Mais ela trabalhava

Sabia que cada grão de arroz que ela levasse pra dentro de casa

Era menos um motivo pra sua mãe ser violentada

Até que seu pai resolveu se livrar desse tormento

Chega dessa guria ficar me desafiando trabalhando e estudando

Vou lhe arranjar um casamento

"Pai, escuta aqui

O único homem que encosta em mim sem eu conceder é você

E só porque eu não pedi pra nascer"

Assim, durante três dias

No meio do mato sem comida e sem bebida

Ela se escondeu

Até que aquilo marido arranjado se convenceu de que não teria

aquele corpo que não era seu

E essa é a parada

Voltamos uma geração atrás e temos mulheres sendo comidas

33
pelos maridos

Pra poder dar comidas pros filhos

Vemos mulheres sendo proibidas de estudar

Mas ensinadas a abrir as pernas e aceitar

Mas oh, vou falar

Essa menina que o pai proibiu de estudar

Hoje é uma rainha da porra toda

Se formou na faculdade, é contadora

Mãe de uma advogada, um administrador e uma professora

Mãe, desculpa pelo o meu poema de amor

Não ser assim um chameguinho

É que eu não posso falar da minha rosa

Sem falar dos seus espinhos

Mãe, obrigada

Por me criar assim insubordinada

Porque num mundo onde todas as regras fazem a mulher perder

A gente tem que ser muito forte pra saber desobedecer

Mãe, obrigada

Por me mostrar que eu sou feita de carne que corta

Osso que quebra

Mas coração que não se entrega, Mãe

Quando a vida me chama na responsa eu não corro

Quando os boy tentam me enterrar eu não morro

Sou planta da tua semente

Renasço dez e dez vezes de novo

34
Mãe, eu sei que no meu rosto nunca nenhum homem bateu

Porque tu pegou pra ti todos os tapas que eram meus

Sei que tu sofreu pra caramba

Pra fazer de mim essa mulher

Que hoje cai, mas levanta

E hoje em dia até parece piadinha

Quando um boy vem na minha

Me chamando de gatinha

Meu querido, numa boa

Eu não sou gatinha

SOU FILHA DE UMA LEOA

Essa poesia esteve


na 18ª edição do
Slam das Minas/RS.

35
RATA CRUA

a rata

ela mesma

come do lixo, esgueira

não por capricho, mas por sobrevivência

anda por aí atenta

transbordando do esgoto

embaixo do viaduto

na linha do trem

observa a vida humana passar

sem receber um sinal positivo ou um carinho de alguém

mas não precisa

na sua autossuficiência aprendeu que a mão que bate, explora e

mata

não tem que acariciar sua cabeça

ela, marginalizada

enxerga nos olhos o ódio, a coisa azeda

escapole das pisadas,

armadilhas de dentro das casas

que querem matá-la

mas ela é muito rápida

36
renasce a cada luta travada.

se junta à outras, e juntas, proclamam uma vida de aventuras

correndo, estreitando, ocupando as ruas mesmo que não queiram

dizem que essa gangue de ratas trás doenças, epidemias,

pandemias

mas quem foi que trouxe afinal primeiro a enfermidade?

quem foi que se organizou em uma bizarrice chamada cidade?

ela essa rata, é mais que esperta, inteligente, insubmissa

não conhece a linguagem das palavras, mas observa na malícia

sua vida é a prática de novas descobertas de insubordinação

desobedece, e a desobediência é a sua meta

praga da civilização.

rata poeta

vida insurrecta.

inspiração.

Essa poesia esteve


na 2ª edição do Slam
das Minas/RS.

Ouça essa poesia


no podcast
Slam Rotina.

37
SOMOS
AMOR
SECULAR NATÁLIA PAGOT XAVIER

Tudo instantâneo

tipo miojo

eu crente na verdade

e você nem olha no meu olho

E quando olhou

não me viu

me subestimou

pra não ver que você tinha tantos erros quanto eu

Eu errei em te querer

tu errou em abusar do meu querer

E como querer não é poder

nunca te tive

tive só sonhos

ilusões

Você nunca foi real

real só a dor

a falta de amor

Próprio

Próprio de uma menina negra que não sabe o que é

Amor próprio

Só o que sabe é propriedade

39
sempre privada

privada de soltar o cabelo,

privada de soltar o verbo

privada para esfregar enquanto,

o cabelo, o verbo e o peito

seguem presos.

Privada de soltar as correntes

as algemas do último século

É secular

amar sem ser amada é secular

chorar e não poder cair as lágrimas é secular

desmoronar e se manter forte é secular

andar em círculos na tentativa frustada de esquecer quem amou

É secular

É Secular

E eu rodei,

rodei

rodei

Sem olhar em frente

atravessei

nevoeiro de amor sorrateiro

Amor capitão

Amor engenho

Amor negreiro

Amor sinhá

Que prende, adoece, suga

40
amor que não liberta

Quantas princesas Isabel hei de amar?

Quantos capitão do mato falam de amor e não correspondem nos

atos?

até encontrar a Firmina que mora em mim

Quanto há de ruir?

até me deparar com a sete saias

a mulher homem

a Caboatá

a que ponto minha dor há de chegar?

Chegará o dia

dia da alforria

dia de ter direito

como livre cidadã

Livre

Cidadã

Mulher negra

Livre

Cidadã

Que luta, que corre, que é livre

Para amar

e ser sã.

41
CARTA DE AMOR ANDRESSA RIBAS PEREIRA

Às vezes eu queria que tu conversasse comigo que nem tu

conversa com as tuas amigas,

Que tu também me enxergasse bonita,

Que tu visse no meu rosto além das olheiras e das espinhas

espremidas.

Às vezes eu queria que tu entendesse que eu tô tentando,

Nem sempre consigo, mas tô sempre me esforçando,

Que o meu melhor nem sempre é o melhor possível, mas o melhor

que eu consigo.

Às vezes eu só queria que tu enxergasse beleza no meu sorriso,

Que tu deixasse um pouco de lado o lado crítico,

Que por um dia tu fosse o meu ombro amigo.

Às vezes só queria que tu não negasse a minha imagem no

espelho,

Que tu percebesse que sou eu quem corre pelos teus sonhos e

pelos teus desejos

Que tu visse que não vai ir pra frente enquanto não me encarar de

frente.

Tu já percebeu que eu sou a que de ti nunca cansa?

Todos vão embora, só eu fico

E por mais que tu mesma me dê as costas, sou eu quem fica

42
contigo.

Eu só queria que tu entendesse que nós duas somos uma só,

Que eu sou parte de ti e tu nunca estás só.

E que tu tens que tratar a mim com o mesmo carinho que trata as

tuas amigas,

Afinal sou eu a tua única companheira de toda vida.

De: mim

Para: mim

43
PARA MIM
E PARA AS OUTRAS JULIANA LUISE

simplifica, irmã.
chora afu se for preciso
bota o som no volume mais alto
tu sabe que tu é muito maior que isso
que te aflige, que te desnorteia
só por hoje desce do salto
se quiser eu sou parceira de jogar uma bomba no Palácio do
Planalto.
joga uma água na cara e recomeça
dança alguma mpb
recria aquela cena daquela peça
rebola até o chão no 150bpm, sei lá
deixa esse teto ruim ir embora
e só para quando cansá
é que desde que eu entendi que minha vida não é um admirável
musical, eu deixei de ser musa inspiradora pra compor minhas
próprias poesias.
agora eu sou minha musa. e entendi que todo aquele meu anseio,
eu posso juntar em cifras acordes
em cada parágrafo de cada linha
e tocá-los perfeitamente
sozinha.
44
AMAR SE AMAR JULIANA BARROS

Vestiu seu traje de transparência

Lhe deu todas as faces para especular

Aboliu o peso da consciência

Que a moral a sentenciva carregar

Empoderou-se dos pronomes femininos

Perdeu o medo de ocupar espaço

Tirou o pano do espelho

Deu bom dia

E a si mesmo um abraço

Encontrou a chave das algemas

Libertou-se dos amores hediondos

Aprendeu o fruir de cada palavra a essência

Que o autoconhecimento estava propondo

Consciente descobriu que não amou o bastante seu semelhante

Pois era incapaz de amar a si mesmo

Contentava-se com migalhas do mundo

Disfarçada de cortejo

Em ruínas reergueu-se

Com paredes sólidas para lutar

E na solidão de mulher livre

Sentiu-se pronta para amar

45
Um amor sem pecúlio

Sem formas e sem vestes

Um amor colorido, preto, branco, retinto

O amor que quisesse.

46
SI NO ERES FIEL
A TU ALMA FERNANDA MAIARA ESCOVAL

"Si no eres fiel a tu alma, no puedes serte a ti mismo "

Gosto dessa frase por me remeter que até nos momentos de

dúvidas, podemos ser fiel

Pois é em você olhar com outros olhos, sem a falsa identificação de

que sou algo por ser obrigada

Mas por ver a diversas facetas e ainda assim sentir que tudo bem

não se identificar com nenhuma

Mesmo que depois ouse se identificar

Mistério que nem de longe é difícil de decifrar

Quando digo que não sou o que você tenta enxergar e nem o que

eu mesma tento encaixar

Porque é na maestria da minha alma conduzindo minha vida

E ela quer sentir o que veio para aprender.

Eu escrevo na ansiedade de você me entender e assim resolver

alguma parte tua

Eu procuro isso também fora. Eu percebo isso dentro

Então tudo fica claro, não quero mais esse peso

Já está tudo entendido

Mas a busca nunca para, porque nela o caminhar é linear

47
E o dançar ainda se faz um grande duvidar de questões supérfluas

Pois buscamos para sentir, aprender com esse sentir

Você consegue entender? Buscamos para suprir, mesmo que não

exista mais nada

É às vezes incansável, mas cansa

E se de alguma forma a gente sinta o doer por perceber que a

personalidade é também uma máscara

Deixamos tudo se esvair-se

Foda-se. É isso aí. Entenda por si. ENTENDA DENTRO DE SI.

Ouça essa poesia


no podcast
Slam Rotina.

48
TUDO VAI BEM
MAS SEM VOCÊ
NÃO TENHO TUDO NATÁLIA PRAT

eu nunca vou me esquecer, foi na madrugada de uma quinta-feira

que eu soube que perdi você, achei que era mentira mas depois

de um tempo vi que aquela merda era verdade, fiquei suave na

minha me fiz de forte, as lágrimas que caíram foi de nervosismo e

ansiedade porque puta merda mãe o que eu seria sem você?

E hoje a vida me fez entender que tudo acontece por um motivo

que nunca vamos saber, mas eu não acredito que pra ver isso eu

tive que te perder. Ser uma garota sem mãe não é moleza mas

nunca deixei que de mim sentissem pena porque eu sou filha

de uma guerreira, disse pra você que orgulho eu ia te dar e hoje

no Hip Hop eu pude me encontrar e agora posso me expressar,

mãe que se fodam os rótulos, que se fodam os hipócritas e que se

fodam aqueles que acham que eu mereço preferência na minha

mente eu tenho inteligência e sei sobreviver agora que eu entendi

que vou ter que viver sem você.

49
A saudade nunca vai embora mas se eu não sair da minha cama

como vou viver? A ansiedade e a depressão quiseram segurar

a minha mão mas eu disse não! Sou forte e disso nunca vou

esquecer, vou mostrar para todos que isso é possível, vencer

ansiedade e vencer a depressão e meu único psicólogo é o rap

então está suavão.

hoje tenho orgulho em dizer sou uma feminista e na senhora eu

me inspiro, vou defender as mulheres até o meu último suspiro!

Em todas as batalhas que eu vou, eu deixo o meu recado as

mulheres vão dominar o mundo haha, esse é o meu legado!

Acho que isso era tudo o que eu tinha pra dizer, mãe por favor ore

por mim, aqui eu estou orando por você, sei que daí de cima está

a me proteger então eu peço continue a me ver e se puder não

desvie o olhar porque o que eu fizer daqui pra frente vai ser

pra te orgulhar!!

50
FLOR DE PEDRA VICTÓRIA RODRIGUES FAUSTINO

Foi entre pedras e espinhos


Que a aprendi a ser mais forte
Foi entre escolhas e caminhos
Que inventei minha própria sorte

Foi entre flores e perfumes


Que descobri minha essência
Entre alcatéias e cardumes
Reconheci minha existência

Eu sou resistência.
Como a flor que brota no peito da pedra
Como o grito que ecoa no meio da selva
O mar se agita e a maré se eleva
Lua cheia e rua deserta, terra desperta

Como as cicatrizes que se encaixam e complementam a si mesmas


Como elas pertencem a nossos corpos cheios de incertezas
Vidas que se cruzam para redescobrir as belezas
De entregar-se aos seus desejos e mergulhar nas profundezas.

51
Eu sou profundeza.

É sobre olhos que se encontram no caos dessa cidade


E em segundos se reconhecem na mesma intensidade
É sobre lábios pelos quais passeia e dança a poesia
E quando se aproximam dos meus, formam um campo magnético
De forte energia.

52
AI SE SÊSSE
ANOS 2000
NATHÁLIA LUÍSA GIRAUD GASPARINI

Se um dia eu tivesse cabisbaixa, contando formiga


E encontrasse o amigo do conhecido da minha melhor amiga
Se pouca ideia trocasse, mas no whats se adicionasse...

E se a gente se visse
Mais tarde ele não sumisse
Se a gente transasse e eu um pouco me abaraçasse
Mas depois de um tempo
Finalmente
A gente junto gozasse…

Se enfim eu dele gostasse


Se em amor ele falasse
Se a minha família eu lhe apresentasse
E sozinha eu suspirasse:

Ai, ai… O amor?


Amor é...
Enlace!

53
Se de repente as brigas principassem
Ele ciúme tivesse
Se eu começasse a evitar o estresse
Se devagarinho percebesse
Que seria melhor que mais
Não me envolvesse
E dele eu duvidasse...

Ai ai…O amor?
Amor é...
Impasse?

Se enfim um fim eu pusesse


Colocasse os pingos nos is,
Declarasse que ele,
Ele não me merece!
E se na festa eu chorasse

E tivesse contando formiga


Quando de repente cruzasse
Com a amiga do conhecido da minha oooutra melhor amiga...
E mais tarde a gente se encontrasse E se tudo de novo
recomeçasse…

E se…
E se…

54
E se...
Ai, ai…

O amor? O amor é…
DESASTRE!

Essa poesia esteve


na 23ª edição do
Slam das Minas/RS.

55
BISSEXUALIDADE VICTÓRIA RODRIGUES FAUSTINO

O que eu sou e o que eu não sou

Nesse poema hoje pra vocês eu vou falar

É pra começar, vou pegar leve vou devagar

Acompanha minha caminhada:

Meu primeiro beijo foi lésbico escondida de baixo de uma

escada

Foi com a minha prima que também queria descobrir

Qual o sentido de beijar e por que tentavam nos proibir?

Mas de fato, a primeira vez que me apaixonei foi por uma

pessoa do sexo masculino

Ele era mais novo, meio deslumbrado...

Ah! Como eu sofri por esse menino

Sofria por 1 mas tava beijando outros 3

É que eu pensava que a vida passava rápido

E eu não podia deixar passar a vez

E daí eu conheci a tão famigerada rivalidade feminina

Se os boy faziam as apostas e pensavam que enganavam as

mina

56
Nós colecionávamos figurinhas e não valiam as repetidas

E assim também nos tornávamos territorialistas, possessivas...

Se a miga namorava o boy ele tava pra sempre fora da lista.

Então eu comecei a namorar

Era um menino da minha idade, “bom moço”, tipo pra casar.

E de fato com ele eu fui praticamente casada,

Foram 3 anos de uma certeza todo dia alimentada.

Eu pensava que não amaria mais ninguém e que ficaria com ele

pra sempre Mas naquele dia tudo mudou... Era 07 de setembro de

2013.

Foi quase como ter um insight

Abri os olhos e enxerguei a verdade

Esmiucei e percebi a minha realidade

Tomei noção de opressão

Tomei porrada da repressão

Conheci gente corajosa que me inspirava

Aos poucos me descobri e saí da caixa

A heteronormatividade agora era muito chata

Eu raspei o cabelo e a minha família ficou chocada

Eu ainda estava naquele relacionamento

Mas podia sentir que a sintonia já não estava tão afinada

Então propus um novo formato pra que a relação não fosse

sacrificada.

57
2015 eu quebrei uma das correntes que me prendia

Livrei-me de uma vez por todas da droga da monogamia

Fui lá depois de tanta espera e fiz o que tanto queria

Parecia a primavera, florescer de uma utopia.

E então pela primeira vez eu me apaixonei por uma menina,

Apostei todas as fichas, estar com ela era a melhor parte do dia

E daí em diante me reconheci e assumi pro mundo

Sou bissexual com muito orgulho

O B do LGBT não é de biscoito

E eu cansei de ter minha existência desacreditada pelos outros

Na verdade todo mundo sabe

A única privilegiada é a heterossexualidade

Eles acham que as bi é bagunça e confusão

Que serve pra fetiche, diversão, alguém dá uma sugestão

“Dá um beijo na sua amiga, isso dá o maior tesão”

NÃO!

Ser bissexual é ser colocado em cima de um muro sem querer,

Você tomar tiro dos dois lados e fica difícil se defender.

Já ouvi e li muitas coisas que me machucaram

Mas estas aqui foram, com certeza, as que mais me marcaram:

“Bissexuais são nojentas elas transam com os caras e depois vem

passar doença.”

“As Bi, na real, são só depósito de esperma, não entendo porque

elas fazem questão de colocar um p** no meio das pernas.”

58
E você deve estar pensando “o que eu tenho a ver com isso?”

É que eu preciso de você pra assumir comigo esse compromisso

Usar a nossa voz pra somar e fortalecer a nossa luta

Criando mais espaços de fala e também de escuta,

Eliminando a lógica do capital que tenta sempre nos colocar em

disputa

A LGBTfobia vai assombrar a espreita no movimento

Mas cabe a cada um de nós erguer a voz e exigir respeito

Essa poesia esteve


na 24ª edição do
Slam das Minas/RS.

59
AINDA NADA VIVIANA ZORZI

Era um silêncio... Um silêncio a dois. O espaço era preenchido por

dois corpos parados, sentados de frente um para o outro. Hora ou

outra se olhavam profundamente. Estava escuro e o rosto uma da

outra ficava já confuso após o olhar permanecer fixo durante um

tempo.

Quando surgia uma frase a rasgar o silêncio invariável a noção do

tempo parecia tremer, a noção do dia, das horas.

Tremia o tempo e tremia a vida a dois.

A vida a dois que existia na memória, existia no estar e no ser.

Existia.

Mas mesmo com as mãos dadas e os beijos na testa, no nariz, na

bochecha, queixo, boca, pescoço... Escorria, escorria, escorria...

Quanto mais as mãos se apertavam, mais escorria... A vida a dois

escorria e as mãos apertadas e suadas se soltavam, para secar.

Lado a lado... E o pensamento longe. Pensamentos que não

voavam com o vento. Pois não havia vento e a cidade de Santa

Maria oferecia um clima úmido e quente. As longas noites

com a lua escondida mal permitiam a chegada da melancolia

inspiradora e os dias eram cinzas, mesmo com sol.

No alto duma montanha ela se encontrava pensando. Vivia o

instante desconectada da materialidade do lugar onde estava.

60
Estava numa sacada no centro duma cidade, rodeada de outras

tantas sacadas, de tantos outros indivíduos..., mas não estava ali.

Estava sentada no alto duma montanha deixando o vento levar

seus pensamentos e respirando o ar que ali havia, o ar que ali, no

seu pensamento, tinha vida.

Era um silêncio nesta montanha...

De repente surge a voz do silêncio. Faz-se a luz no escuro, mas

ninguém vê.

Ela desce da montanha e chega na sacada.

Ouve. Nada pensa.

Já nada pesa.

Pois é o próprio peso.

As palavras soltas no ar dizem algo, mas não traduzem.

Cada uma habitando sua caixa de pandora, extraindo dela alguns

raios de claridade que não iluminam. Momento que não termina.

Momento que nunca terminou.

Anos Luz.

Ainda nada foi dito.

Ainda nada foi entendido.

Ainda nada foi.

Ainda nada.

Ainda.

61
SOBRE AS AUTORAS
Agatha S. Rolim (Porto Alegre/RS)

Comecei a escrever poesias com 14 anos, ao longo desses últimos


anos a poesia me ajudou a superar problemas como a ansiedade e
a depressão e foi cada vez mais se tornando protagonista na minha
vida. A poesia e a História, profissão que planejo seguir, se tornaram
minhas paixões, foi através da poesia que eu me encontrei, que eu
encontrei minha voz, a poesia é uma maneira de contar a minha
história, de defender meus ideais.

Andressa Ribas Pereira (Porto Alegre/RS)

Oi, gurias! Sou a Dessa Ribas! Feminista, ativista do direito das


mulheres e dos trabalhadores, poeta, advogada, pesquisadora de
gênero e atleta! Escrevo poesia desde que me conheço por gente,
mas encontrei no slam um espaço para fortalecer a luta por meio da
arte a partir da coletivização. Mais do que isso, encontrei no slam um
espaço de acolhimento e cura coletiva. O slam é aonde eu compartilho
as sementinhas do meu coração e recebo tantas outras pra plantar
aqui dentro <3

Crua (Porto Alegre/RS)

Andarilha, não tenho moradia fixa. Eu comecei a fazer poesias desde


pequena, desde que eu sei escrever. Ela me acalentava, e dava
um sentido pra minha vida. Um dia, eu mostrei um dos escritos
para uma professora, e ela disse que era poesia. Aí eu comecei a
ver dessa forma, mas sempre expressando o sentir, o que via do
mundo. A primeira vez que eu declamei foi no Slam das Minas/
RS, e foi quando percebi que a poesia tinha mais que um sentido,
tinha voz, expressão, tinha propósito, objetivo, tinha as marcas e as
revoluções de todas as corpas que ali eu vi falar.

62
Fernanda Maiara Escoval (Viamão/RS)

A poesia foi como se meu coração abrisse para tudo o que minha alma
estava pedindo para eu enxergar... uma porta de luz. Meu sonho é
levar essa luz para as pessoas, em forma de cuidado como a terapia,
quero fazer com que elas se sintam de forma livre consigo para
assim conseguir chegar mais longe... A Psicologia para mim é um dos
passos, e sei que a poesia vai me ajudar muito nesse caminho. Entrei
na minha 1ª profissão como Auxiliar Administrativa, não é o que quero
e no meio disso tudo me perdi, mas com a ajuda das deusas da vida,
estou retomando meu caminho e espaço. Ahoooo

Haydée (Novo Hamburgo/RS)

Sou estudante de Licenciatura em Artes, escrevo desde os 13 anos


mas há pouco tempo comecei a deixar fluir a poesia e tomar ela como
partida pra poder existir, expressar e encontrar um acolhimento no
meio desse caos total. Meu sonho é ser arteterapeuta, publicar um
livro, vender umas artes e poder viver disso. Carrego comigo várias
marcas de traumas advindos de abusos e acho que minha maior
dificuldade é conseguir fazer as pazes comigo mesma, mas o caminho
se é feito pela caminhada. A arte me abraça muito nesse sentido e
eu acabo produzindo muito material relacionando esses fatos com
ficção. Meu projeto é chamado de Fritassões e me acompanha entre
arte e poesia desde 2016. Meu trampo é divulgado e postado no
Instagram, @fritassoes.

Júlia Roberta Santana Cordeiro (Porto Alegre/RS)

Eu conheci o Slam, ou poesia marginal, no ano de 2019, quando uma


professora de literatura mostrou para a turma. Como eu venho
do interior, não conhecia o movimento, mas a professora Nathália
Gasparini abriu essa porta na minha vida e eu percebi que o gosto
que eu tinha por escrever poesia poderia ser compartilhado como
forma de resistência. Eu sempre escrevi poesias fortes, com temas
que alguns diriam ser ""afrontosos"", eu fazia isso porque o papel não
julga e a caneta dá voz aos meus pensamentos ferozes. Eu sempre

63
quis apresentar minhas poesias em um Slam, recitar para que mais
pessoas consigam ver as coisas da maneira como eu vejo. Esse é um
sonho particular.

Juliana Barros (Gravataí/RS)

Sou humorista, escritora e musicista, escrevo a coluna MALDITO


RISO para o blog da Rádio Armazém, reunindo meu arsenal criativo
de poesias malditas, contos e textos.

Juliana Luise (Porto Alegre/RS)


Eu recitei pela primeira vez em um slam em 2017, antes disso só
recitava para mim mesma. Desde aquele dia mudei a forma de como
eu me via, me descobri poeta, e as pessoas que me ouviram e foram
falar comigo lá atrás foram essenciais para eu estar nessa caminhada
hoje. ouvir aquelas outras pessoas recitando também foi essencial
para mim, a troca de vivências e o espaço de escuta me ensinou
muito. o Slam me abriu muitas portas, a poesia me levou a lugares que
eu nem tinha pisado e nem imaginava pisar. Sou grata a tudo que vem
da arte e do encontros. Hoje ministro oficinas de poesia em escolas
e centros da juventude e sou uma das organizadoras do Slam das
Minas/RS.

Lella Alves (Porto Alegre/RS)

Sou natural da cidade de Passo Fundo. Minha experiência com a


escrita vem desde a infância, através das brincadeiras na rua e na
escola, trabalho atualmente como produtora cultural e audiovisual,
busco nestas áreas jeitos para expressar a arte presente em meu
cotidiano e nas experiências que participo.

Natália Luísa Escouto (Porto Alegre-Santa Cruz/RS)

Eu sou gastrônoma e cozinheira, trabalho com culinária vegana na


Preta Cozinha Vegana, sou do interior, e morei em Poa por 5 anos até a
pandemia chegar e me impossibilaitar de dar aulas e ter meus freelas.
Escrevo desde de pequena, tive vários hiatos e outras formas de arte
vieram à tona. Desde 2019 tenho escrito como uma forma de manter a

64
sanidade, normalmente escrevo sobre relacionamentos, momentos
presentes e saudades. Sem dar aulas de culinária desde março
escrevi o Ebook da Preta, e acho que sinto mais vontade de escrever
sobre gastronomia brasileira e veganismo e poesia. São textos,
pensamentos, ideias... Geminiana, eu gosto muito de brincar com as
palavras e usar referências das vivências como se fossem pequenos
códigos para os personagens da história. Toda poesia é endereçada,
às vezes a mim mesma.

Natália Pagot Xavier (Porto Alegre/RS)

Sou mulher negra, formada em Ciências Biológicas - Licenciatura


pela UFRGS. Sou poeta, angoleira, estudante de teatro. Escrevo
desde nova e com minha entrada no Coletivo Poetas Vivos segui
minha jornada de produção artística. Sou educadora, trabalho com
educação antirracista e libertária. Sonho em criar um espaço de
educação não formal em alguma comunidade nesse país a fora.

Natália Prat (Sapucaia do Sul/RS)

Meu nome é Natália Prat, tenho 16 anos. O certo seria eu escrever uma
biografia, mas para mim o que mais resume uma poeta é uma de suas
criações, então... Eu havia pesquisado um tal feitiço que arrancasse
de meu peito essa imensurável dor, tinha em mente que o que estava
fazendo era uma tolice. Tentando enganar meu subconsciente e meus
aprendizados de bruxa, procurei por anos na religião qual tu tanto
amavas um conforto em relação a tua partida. Sei que não foste como
os outros, sei que tu não queres que eu faça como tu fizeste, sei que
sabes que não sou como tu, sou apenas um rosto consolador para
eles. Hoje tenho a lembrança do primeiro livro que tu lestes para mim,
aquele livro não me influenciou só me despertou. Ainda deito em
teu túmulo e leio para ti, odiava tanto aquele lugar e hoje é uma das
poucas coisas que me conforta, se eu pudesse te dizer pela última vez
o quanto eu ainda te amo, já estaria grata pelo resto de minha vida,
tudo vai bem mas sem você eu não tenho tudo.

65
Nathália Luísa Giraud Gasparini (Porto Alegre/RS)

Sou professora e slammaster do Slam Peleia e Slam do Trago.


Acredito em transmitir o potencial da literatura de transformar o
modo como a gente vê o mundo e espero conseguir fazer isso nas
minhas aulas e através dos slams. <3

Renata de Aquino Medeiros dos Santos (Rio Grande/RS)

Sou uma jovem preta carioca que está estudando História/


Licenciatura na FURG. Comecei a escrever há 11 anos como uma forma
de me salvar da depressão que me acompanha desde esse período. A
escrita me salvou e eu vivo para tentar salvar outras pessoas através
dos meus escritos. A dificuldade maior - além de todas as outras - é
vencer a timidez para expor meus escritos, o que sempre me travou.
Espero (sobre)viver para continuar escrevendo e me aprofundar em
Libras e Cultura AfroBr a fim de me sentir completa enquanto ser.

Verte (Novo Hamburgo/RS)

Poeta, slammer, artista visual, educadora, tatuadora e artesã.


Em 2016, passou a participar como poeta e organizadora do Slam
das Minas/RS, batalha de poesias de mulheres e primeiro Slam do
Rio Grande do Sul. Na universidade pesquisou a poesia marginal/
periférica como expressão e reflexão da violência contra as mulheres
e adolescentes na periferia.

Victória Rodrigues Faustino (Eldorado do Sul/RS)

Eu encontrei a poesia numa época difícil, escrever funcionava como


uma terapia na minha adolescência. Mesmo estudando em escola
pública a vida inteira, nunca faltou incentivo, bons professores
e apoio familiar pra estudar. Com o passar do tempo eu acabei
perdendo muita coisa que tinha escrito em cadernos e computadores
antigos que não tinham acesso a internet, lembro de ter escrito um
livro com 6 contos, 86 páginas. Eu perdi muita coisa... E também
muitas pessoas importantes, a arte veio somar num momento em que
eu estava perdendo o chão. O slam não existia nessa época, eu nem

66
podia imaginar que um dia colocaria minha poesia no mundo através
da minha voz e de um livro. Eu não sabia que alguém se interessaria
por isso tanto quanto eu, que haviam poetas em outras escolas,
na minha escola. Numa das minhas poesias eu falo que quero ser
dentista, professora e artista, e é isso que eu estou fazendo todos os
dias da minha vida, estou correndo atrás dos recursos necessários e
da força interior para me tornar o aquilo que nasci pra ser. E essas três
versões de mim mesma conversam e se complementam, meu maior
sonho tem sido harmonizá-las para que eu consiga ser tão boa para o
mundo quanto ele tem sido pra mim.

Viviana Zorzi (Santa Maria/RS)

Me chamo Viviana Zorzi, tenho 22 anos. Transito entre a escrita


autônoma e intimista desde 2014, quando comecei um processo
de expor meus sentimentos de uma forma criada por mim mesma
que me trouxe muita liberdade, mas com isso também muitas
inseguranças. Desde que me lembro de pensar, já escrevia minha
vida de forma biográfica.... Recentemente tenho brincado com os
sentidos diversos da ficção, e inventei algumas histórias assim
como uma personagem central. Além do trânsito e do compromisso
mental com a escrita livre, sou uma escritora do sentimento,
daquilo que muitas vezes nem precisa ser verbalizado, mas ouso.
Estudo Ciências Sociais Bacharelado na UFSM e me interesso
pelas interações entre as pessoas, mas só conheço o meu íntimo de
forma profunda... E é sobre isso que escrevo.

67
Foto: Maira Vilella
SLAM DAS MINAS/RS
Da necessidade de recuperar e fomentar espaços de construções
coletivas e trocas de experiências, mulheres poetas da cidade de
Porto Alegre e região metropolitana começaram a construir juntas
através da poesia e dos encontros mensais do Slam das Minas/RS.
Inspirado pelo movimento de Slams no Brasil e, principalmente,
pelo Slam das Minas de São Paulo e do Distrito Federal, no dia 10
de dezembro de 2016 aconteceu na Praça da Matriz em Porto Alegre
a primeira edição do Slam das Minas/RS. A partir de fevereiro de
2017, o Slam das Minas/RS na Praça da Matriz passou a acontecer
todo segundo sábado do mês.

No Slam das Minas/RS, cada edição é planejada de forma autônoma


pelas manas, prezando um espaço de acolhimento e fortalecimento
para as outras manas que estarão presentes. De forma plural, o
Slam das Minas/RS recebe diversas realidades, extratos sociais
e de gênero, classes e etnias vindas de todos os cantos da cidade
e da região metropolitana e toda essa diversidade não pode ser
encaixada em uma só nomenclatura.

Assim, queremos criar espaços de produção, de trocas, de diversidade


e de autonomia a partir de cada diferença, mas também contribuir
para a construção de uma sociedade mais justa e com equidade,
onde possam existir, de fato, representatividades de mulheres
reais que exprimem esses múltiplos pensamentos em espaços que
historicamente lhes foram negados. O Slam das Minas/RS também
é um exercício de expressão da fala, que subverte uma cultura do
silêncio moldada para oprimir.

69
Os Slams também costumam ser espaços de convergência de
outras artes, como artesanato e gastronomia, assim como espaço
de visibilidade para artistas.

Além dos nossos encontros mensais na Praça da Matriz, em Porto


Alegre, o Slam das Minas/RS por meio do Pocket Poesia tem como
objetivo levar para diversos outros espaços - escolas, eventos,
mostras culturais, feiras literárias - a experiência da poesia popular
escrita por mulheres.

Poesia contamina. SLAM DAS MINAS!

Siga o Slam das Minas/RS no Instagram e no Facebook.

Manda um e-mail pra gente: poesiacontamina@gmail.com.

Veja o histórico
completo do
Slam das Minas/RS

Você também pode gostar