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DAS
MINAS
RS
Agatha S. Rolim • Andressa Ribas Pereira • Crua • Fátima Farias
Fernanda Maiara Escoval • Haydée • Júlia Roberta Santana Cordeiro
Juliana Barros • Juliana Luise • Lella Alves • Natália Luísa Escouto
Natália Pagot Xavier • Natália Prat • Nathália Luísa Giraud Gasparini
Renata de Aquino Medeiros dos Santos • Verte
Victória Rodrigues Faustino • Viviana Zorzi
POESIAS Agatha S. Rolim
Andressa Ribas Pereira
Crua
Fátima Farias
Fernanda Maiara Escoval
Haydée
Júlia Roberta Santana Cordeiro
Juliana Barros
Juliana Luise
Lella Alves
Natália Luísa Escouto
Natália Pagot Xavier
Natália Prat
Nathália Luísa Giraud Gasparini
Renata de Aquino Medeiros dos Santos
Verte
Victória Rodrigues Faustino
Viviana Zorzi
INTRODUÇÃO
ONOMATOPEIA NOSSAS VOZES | Fátima Farias
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SOMOS LUTA
CALMA SOCIEDADE | Agatha S. Rolim
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NÃO! | Verte
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RATA | Crua
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SOMOS AMOR
SECULAR | Natália Pagot Xavier
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TUDO VAI BEM MAS SEM VOCÊ NÃO TENHO TUDO | Natália Prat
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SOBRE AS AUTORAS
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Nossas histórias são atravessadas por luta e amor dentro e fora
de casa. Escrevemos sobre nós mesmas para, assim, também
conversarmos com outras mulheres.
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INTRO-
DUÇÃO
ONOMATOPEIA
NOSSAS VOZES
FÁTIMA FARIAS*
aconchego e afeto. Esses sons que se negam calar, essas vozes que
A praça é o palco.
A poesia é a cena.
Pois é, parece que eu vou ter que bater continência, “pra” esse povo
Mas calma meu senhor, não atira por favor! Sou trabalhador. Mas
favor não atira! Sou poeta, sou artista, por favor não atira!
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querem só “tacar o terror” mas tenho que lhes dizer que das lições
algumas verdades, sei que agora vocês vão dizer que, essa
poesia foi toda encomenda pelo PT, que sou petista, socialista,
esquerdista, comunista.
não saber perder, pra quem como eu, que na luta contra a
A luta aqui é por igualdade, afinal somos todos irmãos, não quero
Vou pedir em oração, proteção, aos meus orixás, pois sei que irei
precisar, muito aqui não vão gostar do que tenho “pra” falar, mas
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vocês acreditarem, que seus preconceitos são as maiores
Eu não sei o que vocês vão dizer, quando o amor vencer, pois
Mas calma sociedade, tenho algo pra lhes dizer que talvez não lhes
resistência!
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EU SÓ QUERO
DESCANSAR JÚLIA ROBERTA SANTANA CORDEIRO
Pra ver o mundo real, como sempre foi, sem distinguir o agora do
depois.
acordar,
escada dormente,
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disseram não.
refrão.
mansões armadas.
condomínio.
Um extermínio.
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“Brasil acima de todos, Deus acima de nós” é o seu discurso,
Se somos todos filhos Dele, porque deixa seu irmão morrer, mudo?
seguro.
fim de persuadir”
Não sei se aprendi direito, mas foi isso que entendi, então decidi
agir.
Vai descer. O povo vai sair do morro pra competir com você,
Nos deixaram tanto tempo vivendo com o resto que agora vamos
fazer descer,
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trabalho de nos unir.
tem coração.
Vai ser tarde pra voltar atrás quando vocês sentirem o peso da
nossa mão:
mas vai
Nós vamos fazer valer que nenhum pobre chorará pelo seu pai,
não mais.
manifestar,
Vamos fazer sangrar o patriarcado, uma facada vai ser pouca bol...
Dessa vez não vamos errar, vamos atingir cada canto que nos
Voa neguinho, voa, que a classe executiva também vai ser o seu
lugar.
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ONOMATOPEIA
DA DOR
RENATA AQUINO MEDEIROS DOS SANTOS
Rá-tá-tá-tá.
Bum.
Chin-chin-chin-chin...
os passos arrastados,
raptado,
humilhado,
subjugado,
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Entre gemidos, murmúrios e orações,
almas destruídas.
jogado ao mar.
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minutos
agora dizimados
pelo Estado.
Não há descanso.
Não há paz.
há muita treta
na Cidade Maravilhosa
AAAAAAAAAAHHHHHH!
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É o grito de dor
e chora
direito de existir.
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NÃO!
VERTE
Nem na cara,
Nem na bunda,
Eu vou reagir!
É minha e é delas,
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Não merecemos respeito só quando acompanhadas,
Mesmo embriagadas,
Não é não,
Não é não,
Não é não!
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CADEIA PRODUTIVA
LELLA ALVES
submundo
imundos
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A indústria que mais emprega no mundo, é a mais poluidora do
mundo
produção.
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LIMBO NATÁLIA LUÍSA ESCOUTO
dormir.
encaixo.
me acho e resido onde coração está. tocar meu sangue é saber que
ele já foi derramado e pra quem morre todo dia não precisa ser
lembrado.
escravos
quero estar ao teu lado, não mais aturo gente que acha que isso é
passado.
mais acuado.
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Não quero te ver mais com medo
enegrecer o presente e
Lá e cá eu estou
incomodada
inquieta
presente
consciente
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ODE HAYDÉE
não senhora não sou louca tenho diagnósticos mas quem não
que antes eu teria que almoçar mas eu odeio almoço e não consigo
engolir mais nada a não ser essas pílulas rosas e verdes e amarelas
parece muito difícil ser funcional hoje em dia ser tão jovem sem
no chão e o trem vai passar por cima por que minha senhora até
quando a loucura vai ser o pulo da janela pra nunca mais voltar
até quando vai ser preso o grito que nunca vai embora e se aloja
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música velha que é sempre um clássico até quando a loucura vai
ser o que fica vazio e branco e nada demais e nada demais e nada,
até mais.
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FILHA DE
UMA LEOA ANDRESSA RIBAS PEREIRA
Ela acordava
Sabia que esse era o preço pra poder ser uma mulher estudada
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Cansada de chegar em casa cansada
Toda lanhada
Sabia que cada grão de arroz que ela levasse pra dentro de casa
Ela se escondeu
E essa é a parada
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pelos maridos
Mãe, obrigada
Mãe, obrigada
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Mãe, eu sei que no meu rosto nunca nenhum homem bateu
Me chamando de gatinha
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RATA CRUA
a rata
ela mesma
transbordando do esgoto
embaixo do viaduto
na linha do trem
mata
ela, marginalizada
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renasce a cada luta travada.
pandemias
praga da civilização.
rata poeta
vida insurrecta.
inspiração.
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SOMOS
AMOR
SECULAR NATÁLIA PAGOT XAVIER
Tudo instantâneo
tipo miojo
eu crente na verdade
E quando olhou
não me viu
me subestimou
Eu errei em te querer
nunca te tive
tive só sonhos
ilusões
real só a dor
a falta de amor
Próprio
Amor próprio
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sempre privada
seguem presos.
É secular
É secular
É Secular
E eu rodei,
rodei
rodei
atravessei
Amor capitão
Amor engenho
Amor negreiro
Amor sinhá
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amor que não liberta
atos?
Quanto há de ruir?
a mulher homem
a Caboatá
Chegará o dia
dia da alforria
Livre
Cidadã
Mulher negra
Livre
Cidadã
Para amar
e ser sã.
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CARTA DE AMOR ANDRESSA RIBAS PEREIRA
espremidas.
que eu consigo.
espelho,
Que tu visse que não vai ir pra frente enquanto não me encarar de
frente.
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contigo.
E que tu tens que tratar a mim com o mesmo carinho que trata as
tuas amigas,
De: mim
Para: mim
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PARA MIM
E PARA AS OUTRAS JULIANA LUISE
simplifica, irmã.
chora afu se for preciso
bota o som no volume mais alto
tu sabe que tu é muito maior que isso
que te aflige, que te desnorteia
só por hoje desce do salto
se quiser eu sou parceira de jogar uma bomba no Palácio do
Planalto.
joga uma água na cara e recomeça
dança alguma mpb
recria aquela cena daquela peça
rebola até o chão no 150bpm, sei lá
deixa esse teto ruim ir embora
e só para quando cansá
é que desde que eu entendi que minha vida não é um admirável
musical, eu deixei de ser musa inspiradora pra compor minhas
próprias poesias.
agora eu sou minha musa. e entendi que todo aquele meu anseio,
eu posso juntar em cifras acordes
em cada parágrafo de cada linha
e tocá-los perfeitamente
sozinha.
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AMAR SE AMAR JULIANA BARROS
E a si mesmo um abraço
Disfarçada de cortejo
Em ruínas reergueu-se
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Um amor sem pecúlio
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SI NO ERES FIEL
A TU ALMA FERNANDA MAIARA ESCOVAL
Mas por ver a diversas facetas e ainda assim sentir que tudo bem
Quando digo que não sou o que você tenta enxergar e nem o que
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E o dançar ainda se faz um grande duvidar de questões supérfluas
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TUDO VAI BEM
MAS SEM VOCÊ
NÃO TENHO TUDO NATÁLIA PRAT
que eu soube que perdi você, achei que era mentira mas depois
que nunca vamos saber, mas eu não acredito que pra ver isso eu
tive que te perder. Ser uma garota sem mãe não é moleza mas
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A saudade nunca vai embora mas se eu não sair da minha cama
a minha mão mas eu disse não! Sou forte e disso nunca vou
Acho que isso era tudo o que eu tinha pra dizer, mãe por favor ore
por mim, aqui eu estou orando por você, sei que daí de cima está
desvie o olhar porque o que eu fizer daqui pra frente vai ser
pra te orgulhar!!
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FLOR DE PEDRA VICTÓRIA RODRIGUES FAUSTINO
Eu sou resistência.
Como a flor que brota no peito da pedra
Como o grito que ecoa no meio da selva
O mar se agita e a maré se eleva
Lua cheia e rua deserta, terra desperta
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Eu sou profundeza.
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AI SE SÊSSE
ANOS 2000
NATHÁLIA LUÍSA GIRAUD GASPARINI
E se a gente se visse
Mais tarde ele não sumisse
Se a gente transasse e eu um pouco me abaraçasse
Mas depois de um tempo
Finalmente
A gente junto gozasse…
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Se de repente as brigas principassem
Ele ciúme tivesse
Se eu começasse a evitar o estresse
Se devagarinho percebesse
Que seria melhor que mais
Não me envolvesse
E dele eu duvidasse...
Ai ai…O amor?
Amor é...
Impasse?
E se…
E se…
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E se...
Ai, ai…
O amor? O amor é…
DESASTRE!
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BISSEXUALIDADE VICTÓRIA RODRIGUES FAUSTINO
escada
mina
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Nós colecionávamos figurinhas e não valiam as repetidas
Eu pensava que não amaria mais ninguém e que ficaria com ele
2013.
sacrificada.
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2015 eu quebrei uma das correntes que me prendia
Apostei todas as fichas, estar com ela era a melhor parte do dia
NÃO!
passar doença.”
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E você deve estar pensando “o que eu tenho a ver com isso?”
disputa
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AINDA NADA VIVIANA ZORZI
tempo.
Existia.
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Estava numa sacada no centro duma cidade, rodeada de outras
ninguém vê.
Já nada pesa.
Anos Luz.
Ainda nada.
Ainda.
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SOBRE AS AUTORAS
Agatha S. Rolim (Porto Alegre/RS)
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Fernanda Maiara Escoval (Viamão/RS)
A poesia foi como se meu coração abrisse para tudo o que minha alma
estava pedindo para eu enxergar... uma porta de luz. Meu sonho é
levar essa luz para as pessoas, em forma de cuidado como a terapia,
quero fazer com que elas se sintam de forma livre consigo para
assim conseguir chegar mais longe... A Psicologia para mim é um dos
passos, e sei que a poesia vai me ajudar muito nesse caminho. Entrei
na minha 1ª profissão como Auxiliar Administrativa, não é o que quero
e no meio disso tudo me perdi, mas com a ajuda das deusas da vida,
estou retomando meu caminho e espaço. Ahoooo
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quis apresentar minhas poesias em um Slam, recitar para que mais
pessoas consigam ver as coisas da maneira como eu vejo. Esse é um
sonho particular.
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sanidade, normalmente escrevo sobre relacionamentos, momentos
presentes e saudades. Sem dar aulas de culinária desde março
escrevi o Ebook da Preta, e acho que sinto mais vontade de escrever
sobre gastronomia brasileira e veganismo e poesia. São textos,
pensamentos, ideias... Geminiana, eu gosto muito de brincar com as
palavras e usar referências das vivências como se fossem pequenos
códigos para os personagens da história. Toda poesia é endereçada,
às vezes a mim mesma.
Meu nome é Natália Prat, tenho 16 anos. O certo seria eu escrever uma
biografia, mas para mim o que mais resume uma poeta é uma de suas
criações, então... Eu havia pesquisado um tal feitiço que arrancasse
de meu peito essa imensurável dor, tinha em mente que o que estava
fazendo era uma tolice. Tentando enganar meu subconsciente e meus
aprendizados de bruxa, procurei por anos na religião qual tu tanto
amavas um conforto em relação a tua partida. Sei que não foste como
os outros, sei que tu não queres que eu faça como tu fizeste, sei que
sabes que não sou como tu, sou apenas um rosto consolador para
eles. Hoje tenho a lembrança do primeiro livro que tu lestes para mim,
aquele livro não me influenciou só me despertou. Ainda deito em
teu túmulo e leio para ti, odiava tanto aquele lugar e hoje é uma das
poucas coisas que me conforta, se eu pudesse te dizer pela última vez
o quanto eu ainda te amo, já estaria grata pelo resto de minha vida,
tudo vai bem mas sem você eu não tenho tudo.
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Nathália Luísa Giraud Gasparini (Porto Alegre/RS)
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podia imaginar que um dia colocaria minha poesia no mundo através
da minha voz e de um livro. Eu não sabia que alguém se interessaria
por isso tanto quanto eu, que haviam poetas em outras escolas,
na minha escola. Numa das minhas poesias eu falo que quero ser
dentista, professora e artista, e é isso que eu estou fazendo todos os
dias da minha vida, estou correndo atrás dos recursos necessários e
da força interior para me tornar o aquilo que nasci pra ser. E essas três
versões de mim mesma conversam e se complementam, meu maior
sonho tem sido harmonizá-las para que eu consiga ser tão boa para o
mundo quanto ele tem sido pra mim.
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Foto: Maira Vilella
SLAM DAS MINAS/RS
Da necessidade de recuperar e fomentar espaços de construções
coletivas e trocas de experiências, mulheres poetas da cidade de
Porto Alegre e região metropolitana começaram a construir juntas
através da poesia e dos encontros mensais do Slam das Minas/RS.
Inspirado pelo movimento de Slams no Brasil e, principalmente,
pelo Slam das Minas de São Paulo e do Distrito Federal, no dia 10
de dezembro de 2016 aconteceu na Praça da Matriz em Porto Alegre
a primeira edição do Slam das Minas/RS. A partir de fevereiro de
2017, o Slam das Minas/RS na Praça da Matriz passou a acontecer
todo segundo sábado do mês.
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Os Slams também costumam ser espaços de convergência de
outras artes, como artesanato e gastronomia, assim como espaço
de visibilidade para artistas.
Veja o histórico
completo do
Slam das Minas/RS