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Rei Leproso - Zofia Kossak
Rei Leproso - Zofia Kossak
Fontes digitais
Tradução base
O Santo Sepulcro
Isa Silveira Leal e Miroel da Silveira
Coleção Saraiva
= 23 =
Maio 1950 - Tiragem: 45.000 exemplares
“Título do original inglês: The Leper King”
Edição eBooksBrasil
— Diga!
— Não.
Ri amargamente.
— Quanto é?
— Na verdade o é.
***
— Ibelin de Ramlah.
— Já não vos via há muito, meu rapaz, mas rezo por vós
todos os dias.
— Vovó! Vovó!
Deus e Jó.
...Filho do Homem.
E então? Então?
— Vossa Graça!
— Escuta...
— Então escuta...
— Compreendi.
— Repete.
— Não esquecerás?
— De... de caçadas.
— O Profeta.
— Sim.
Ficaram de novo em silêncio. O céu se estendia lá em
cima numa claridade cristalina, vasto, infinito.
— Como sabes?
— Querido... querido...
***
***
Ele jurou.
— Aproxima-te.
Ela quase rompeu em choro. Por que não lhe havia dito
antes? Um amargo arrependimento a envolveu toda. Ali tinha
dirigido pacificamente, senhora de seus direitos. E mesmo que
aquele terceiro casamento fosse indispensável? O Rei e o
Príncipe de Trípoli podiam ter escolhido algum bravo e nobre
cavaleiro que a teria honrado e respeitado. A vida com Reinaldo
seria amarga — amarga, certamente, e sem as doçuras do amor.
— Ele já não tinha dessas tolices. Quem teria imaginado? Sua
única consolação era que, provavelmente, viveria mais do que
ele, e no declínio da vida ainda conheceria o amor. De acordo
com as leis do Reino de Jerusalém, uma herdeira nobre podia
aceitar marido até os sessenta anos, desde que ele tivesse
capacidade para guerrear. E tinha apenas quarenta e cinco. As
mulheres, quando têm a sorte de ultrapassar a idade da
maternidade, vivem mais do que os homens. Não se expõem à
guerra, não desperdiçam a saúde, não brigam com os outros por
causa de qualquer palavra azeda. Reinaldo, o fanfarrão
barulhento, o roncador de vantagens, morreria na primeira
grande batalha. O cativeiro, apenas, lhe dera oportunidade para
viver tanto.
***
— Certo.
— Que me importa.
— Às ordens.
— A quem amas?
— E depois de amanhã?
***
— Dos mortos?
— Por que?
Para quem passa por essa terra, Deus nunca está ausente
do pensamento. Como o oceano, o deserto é um elemento, e
todos os elementos falam de Deus. Nada existe, além da
presença de Deus. Assim pensava o Emir al Bara, voltando de
sua peregrinação. Apesar de que seus muitos criados
conduzissem camelos ricamente carregados, o velho emir
seguia a pé com o resto dos peregrinos. Mergulhado em
profunda meditação, não sentia o cansaço. Seu corpo
cambaleava de fadiga, seus olhos sofriam intoleravelmente com
o resplendor do sol, mas sua alma estava leve, preparada para a
Libertação... — Que me prende, ainda, a esta terra? Haverá
alguma coisa que eu não tenha experimentado? Meu tempo está
cumprido.
***
— Lede.
***
***
— Assim seja.
***
***
***
— Quem sugeris?
— Plebanus de Boutron!
— Amalrico de Lusignan!
— Que é? Que é?
***
***
— Que me importa!
— À vossa frente.
— Que procuras?
— A flor da acácia.
— Como sabes?
— O Velocino de Ouro.
— Que é o Velocino de Ouro?
— Por que? Por que? Ela detesta vir. Sabeis quanto ela é
sensível. Desde a infância, sempre foi delicada. Eu lhe direi
tudo que ordenardes. Além do mais, que mais pode ela
contar-vos? Eles se amam e...
— Salvá-lo de que?
***
— Não sei.
— Estais apaixonado por ela e não sabeis seu nome?
— E se... se ela?
Gritou até ficar rouco. Bateu nas portas até ficar com as
mãos inchadas e entorpecidas. Exausto, sentou-se, desanimado.
A sensação de que tudo quanto lhe acontecia era um feio
pesadelo lhe vinha de vez em quando. Oh, por que alguém não
o despertava, para que pudesse sair daquele país? Sem saber
como, dormitou, mas não tão profundamente que não saltasse
quando as portas se abriram docemente. Afinal! Alguém tinha
entrado. Uma fragrância leve e um sussurro:
Ele já se aproximara.
***
— Ficarei.
— Alegra-te!
— Dono? De que?
— Não basta.
— Mas isso não lhe diz respeito! Ele devia ter mandado
outra pessoa qualquer.
Sibila bocejou.
— Sobre quem?
— Para que dizer essa tolice, se sabe que irás? Não ir!
Eu me preparei para isto durante meses! Minhas roupas estão
prontas! Os músicos e cantores já foram todos chamados.
Dançaremos durante um mês inteiro. Não ir? Ah! Mas é claro
que iremos. Que a embaixada leve de volta o que trouxe.
— Para que?
***
Ridefort escarnecera:
Guy ponderou:
— Compreendi, alteza.
***
A madrugada se insinuava na tenda do Rei adormecido
quando o Grão Mestre empurrou violentamente a entrada.
— Senhor! Traição!
— Eu já dei a ordem.
O estandarte caiu!
***
***
FIM
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