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Aula 10

Leis de Newton

Lei 1: Todo corpo continua em seu estado de repouso, ou


de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que
seja compelido a mudar esse estado por forças aplicadas
sobre ele.

Lei 2: A mudança do movimento é proporcional à força


motriz impressa, e ocorre na direção da linha reta em que
essa força é impressa.

Interpretando estritamente as palavras de Newton


temos que a segunda lei nos diz F=Δ mv . Essa expressão se
aproxima de F = ma no limite em que Δt →0 . Alguns
autores modernos dizem que ao usar o termo “força
motriz”, Newton estava se referindo ao que agora
chamamos de “impulso”. A evidência para isto, segundo
eles, é óbvia. Ao tratar problemas dinâmicos Newton
visualizava uma sequência de golpes (forças funções
delta) aplicada a um corpo, provocando uma sequência de
mudanças abruptas no movimento. Ao passar para o caso
contínuo, ele visualizava os golpes se aproximando uns
dos outros, produzindo mudanças menores e invocando
uma passagem para o limite. (Somente em uma referência
breve à estática, onde o tempo não é importante, Newton
ignora o acúmulo da força motriz com o passar do tempo e
usa o termo no mesmo sentido em que ele é usado hoje).

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Como foi dito antes, Newton nunca escreveu uma
equação.

Comentário
Alguns autores afirmam que a primeira lei é uma
consequência da segunda lei, pois se a força é nula um
corpo descreve movimento retilíneo uniforme.
Ou seja:
Premissa 1: Se não há força não há aceleração.
Premissa 2: Se não há aceleração então não há mudança de
velocidade.
Conclusão: Se não há força não há mudança de
velocidade.
A conclusão é que uma mudança de velocidade só pode
ocorrer se uma força está presente. Mas isto é o que a
primeira lei diz. Em outras palavras, parece que a primeira
lei pode ser derivada da segunda. Mas o argumento acima
é uma falácia. A verdade é que a primeira lei limita o
escopo da segunda lei: é uma regra independente. A chave
para entendermos o que está errado com o argumento é
entendermos o que Newton quis dizer com “força”.
Para Newton, força estava intimamente ligado ao sistema
de referência. (Newton não usou sistema de referência
como hoje o fazemos e o que vou discutir mais tarde) no
qual a aceleração era medida. Isto leva a uma assimetria
importante: uma força causa aceleração mas aceleração
pode não necessariamente ser causada por uma força. Um
objeto pode parecer estar acelerado quando na realidade é
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o sistema de referência que está acelerado. A primeira lei
define o sistema de referência no qual o conceito de força
é válido.
Para entendermos Newton precisamos entender o que ele
quis dizer no contexto dos Principia. Fazer afirmações fora
de contexto pode levar a erros.
Mas erro pior comete aqueles que dizem que a segunda lei
é apenas uma definição de força. Força pode ser definida
como, por exemplo, o esticamento causado em uma mola.
Definimos força desse modo, medimos aceleração e
verificamos que a constante de proporcionalidade é a
massa.

Lei 3: Para cada ação existe sempre uma reação igual e


contrária, ou seja, as ações recíprocas de dois corpos, um
sobre o outro, são sempre iguais e dirigidas para partes
contrárias.
Essa é a única lei para a qual Newton deu evidências
experimentais explícitas. Ele mencionou experimentos
quantitativos usando colisões entre corpos rígidos de
várias massas e o equilíbrio de um sistema. Fica óbvio que
essa lei exige a propagação instantânea das interações.

No corolário I Newton escreveu:

Se um corpo em um dado tempo, pela força M aplicada no


ponto A, é levado em movimento uniforme de A até B, e
pela força N aplicada no mesmo ponto levado de A até C,
completemos o paralelogramo ABCD, e se ambas as
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forças atuam juntas, o corpo no mesmo tempo será levado
na diagonal de A até B.

Newton fala aqui de um movimento uniforme como


resultante de uma dada força. Mas de acordo com a
segunda lei uma força aplicada causa um movimento
acelerado. Essas duas ideias contraditórias podiam ser
reconciliadas na mente de Newton, segundo Jammer,
somente sob uma condição: Newton concebia a ação de
aceleração de uma força como uma serie de ações
sucessivas que forneciam ao objeto em movimento
incrementos sucessivos de velocidades.

Euler diz em seu livro Mechanica que o teorema não podia


ser provado analiticamente sem suposições
complementares.
A demonstração de Newton supõe que a ação de uma
força em um corpo é independente da ação de outra força,
uma suposição que não é de todo evidente. De fato, essa
suposição foi questionada por vários teóricos.

No corolário III das suas leis do movimento Newton


discute a colisão de corpos elásticos escrevendo:
A quantidade de movimento, que é obtida pela soma dos
movimentos direcionadas para o mesmo local e a
diferença daqueles direcionados ao contrário, não mudam.

Ao discutir o corolário ele escreve “se um corpo tiver uma


velocidade = 2...” o que mostra que ele não dava unidades
para a velocidade.
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Corolário 4: O centro comum de gravidade de dois ou
mais corpos não muda seu estado de repouso ou
movimento pela ação dos corpos entre eles; e portanto o
centro de gravidade comum de todos os corpos interagindo
entre eles mesmos (excluindo ações externas e
impedimentos) está ou em repouso, ou movendo
uniformemente em uma linha reta.

Neste corolário Newton defende o princípio do centro de


gravidade proposto por Huygens.

Corolário 5: Os movimentos de corpos em uma dada


região do espaço são os mesmos entre eles se o espaço
está em repouso ou se move uniformemente em uma linha
reta sem qualquer movimento circular.

Em outras palavras, Newton quer dizer que as leis da


Física são as mesmas em qualquer sistema que hoje
chamamos de inercial. Como prova da afirmação citou o
caso da experiência feita em um navio, onde os
movimentos ocorrem do mesmo modo, quer o navio esteja
parado ou se movendo uniformemente em linha reta. Ele
está aqui reafirmando o “princípio da relatividade da
Galileu

Newton depois de apresentar os corolários de 1 a 6,


menciona que os princípios apresentados foram
confirmados por vários experimentos. Ele menciona
5
resultados obtidos por Galileu e por Wren, Wallis e
Huygens. Depois ele indica como fazer correções para
levar em conta a resistência do ar nas medidas de um
pêndulo balístico para verificar com mais precisão as
teorias de colisões e então acrescenta que correções
similares podem ser feitas para elasticidade imperfeita de
corpos em colisões.

As demonstrações das proposições e teoremas de Newton


são complicadas porque ele usa a geometria em uma
linguagem antiga. Vou apresentar a demonstração apenas
da proposição 1.

Proposição 1: As áreas que os corpos em revolução


descrevem pelos raios desenhados em direção a um
centro de força imóvel permanecem nos mesmos planos
imóveis, e são proporcionais aos tempos em que são
descritas.

Embora a proposição seja apresentada como uma


afirmação puramente matemática, Newton estava
pensando nos movimentos planetários. O movimento de
um planeta é o resultado da competição entre a tendência
do planeta para se mover com velocidade constante em
uma linha reta, se nenhuma força age sobre ele, e o
movimento devido à força que atua nele, isto é, a força
gravitacional dirigida para o Sol. Esses efeitos combinados
produzem uma curva suave, mas para o propósito da
análise geométrica, Newton representa-os por uma série de

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segmentos de reta devido à inércia, interrompidos por
mudanças súbitas de direção por causa das aplicações
impulsivas instantâneas da força do Sol. A técnica usada
na demonstração da proposição 1 é típica da apresentação
de Newton. Ele frequentemente tratava uma força, que
variava continuamente, atuando em um corpo, como o
limite de uma sequência, ou de impulsos sucessivos ou de
forças constantes finitas, cada uma atuando durante um
intervalo de tempo pequeno. A demonstração é simples e
eu vou apresentá-la, nas palavras de Newton, para ilustrar
o método. O diagrama que a demonstração se refere é
mostrado na figura 6.4.

Demonstração: Suponhamos que o tempo seja dividido em


partes iguais e, na primeira parte desse tempo,
consideremos que o corpo, por sua força inata, descreva a
reta AB. Na segunda parte desse tempo (pela Lei 1), se
não fosse impedido, ele continuaria diretamente para c, ao
longo da linha Bc igual à AB, tal que os raios AS, BS e
cS, desenhados no sentido do centro, descreveriam as
áreas iguais ASB e BSc. Mas quando o corpo chega em B,
suponhamos que uma força centrípeta atue
instantaneamente com grande impulso e, fazendo o corpo
virar para o lado a partir da reta Bc, o obrigue a continuar
seu movimento ao longo da reta BC. Desenhando cC
paralela à BS e encontrando BC em C, no final da segunda
parte do tempo, o corpo (pelo corolário 1 das Leis) será
encontrado em C, no mesmo plano do triângulo ASB.
Unindo SC, e como SB e Cc são paralelas, o triângulo
SBC será igual ao triângulo SBc, e portanto, também ao

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triângulo SAB. Pelo mesmo argumento, se a força
centrípeta atuar sucessivamente em C, D, E, etc., e fizer o
corpo, em cada ponto isolado do tempo, descrever as retas
CD, DE, EF, etc., todas elas ficarão no mesmo plano, e o
triângulo SCD será igual ao triângulo SBC, e SDE igual a
SCD, e SEF igual a SDE. E, desse modo, em tempos
iguais, áreas iguais são descritas em um plano imóvel; e,
por composição, qualquer soma SADS, SAFS dessas áreas
estarão uma para a outra como os tempos nos quais elas
são descritas. Agora, suponhamos que o número desses
triângulos seja aumentado, e suas larguras diminuídas in
infinitum; então (corolário 4, Lema 3) seu perímetro final
ADF será uma linha curva; e portanto a força centrípeta,
pela qual o corpo é continuamente arrastado a partir da
tangente dessa curva, agirá continuamente, e quaisquer
áreas descritas SADS, SAFS, que são sempre
proporcionais aos tempos de descrição serão, também
nesse caso, proporcionais a esses tempos.
Notemos que quando Newton fala que o triângulo SBC
é igual ao triângulo SBc ele quer dizer que eles têm a
mesma área. Ele provou, assim, a segunda lei de Kepler.
Na demonstração usou as suas duas primeiras leis e a ideia
de que a força da gravidade no planeta é dirigida para o
Sol. Notemos que ele não usou o fato de que a força da
gravidade varia com o inverso do quadrado da distância. A
segunda lei de Kepler implica apenas que a força sobre o
planeta está dirigida para o Sol (Essa lei é uma
consequência da conservação do momento angular).

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Movimento de um corpo sob ação de uma força central.

Proposição 4: As forças centrípetas dos corpos que descrevem


círculos diferentes em movimentos uniformes, tendem para os
centros desses mesmos círculos e estão umas para as outras
como os quadrados dos arcos descritos em tempos iguais
divididos pelos raios dos círculos.

Em linguagem moderna, isso quer dizer que a força centrípeta é


proporcional ao quadrado da velocidade dividido pelo raio.

Corolário 6: Se os períodos são proporcionais às potências 3/2


dos raios, e portanto, as velocidades são proporcionais aos
inversos das raízes quadradas dos raios, as forças centrípetas
são inversamente proporcionais aos quadrados dos raios, e vice-
versa.

Newton afirmou que o corolário 6 se aplica no caso dos corpos


celestes, como Wren, Hooke e Halley observaram e por essa
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razão, no que se segue, tratará principalmente de forças
centrípetas que variam com o inverso do quadrado da distância
Na proposição 10, Newton mostrou que se um corpo revolve
em uma elipse, a força centrípeta dirigida para o centro da elipse é
diretamente proporcional à distância ao centro e vice-versa. Por
outro lado, na proposição 11, indicou que se um corpo se move
em uma órbita elíptica sobre a influência de uma força dirigida
para um dos focos, então a força deve variar com o inverso do
quadrado da distância (notemos a diferença entre centro e foco
nas duas proposições). Na proposição 12, ele fez o mesmo para
uma órbita hiperbólica e na proposição 13, considerou uma órbita
parabólica. No manuscrito apresentado para a Royal Society e na
primeira edição dos Principia Newton apresentou, sem provar, no
Corolário 1 da proposição 13 a afirmação de que, se um corpo se
move sob a ação de uma força centrípeta que varia com o inverso
do quadrado da distância ao centro da força, então o corpo
descreverá uma trajetória que é uma seção cônica.
Na proposição 17, ele mostrou que condições levam a um
círculo, uma elipse, uma parábola ou uma hipérbole para uma
força variando com o inverso do quadrado.

Interessante é a proposição 19 onde enuncia:

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Na seção 8, Newton apresentou o cálculo de órbitas
para corpos sofrendo a ação de qualquer tipo de força
centrípeta. Na seção 9, estudou o movimento de corpos
em órbitas móveis e na seção 10, o movimento de corpos
em superfícies e o movimento oscilatório de um pêndulo.
Na seção 11, comentou que até então tratou a atração de
corpos para um centro imóvel, embora tal coisa não exista
na Natureza. Mencionou que as atrações acontecem entre
corpos e as ações do corpo que atrai e do corpo que é
atraído são recíprocas e iguais pela terceira lei. Estudou
então o movimento de dois corpos que revolvem em torno
do centro de gravidade do sistema. Newton estava ciente
de que uma órbita elíptica só acontece para um “planeta”
girando em torno de um centro fixo

Galileu estabeleceu o princípio de que um corpo


rolando por um plano inclinado (sob ação da gravidade
constante) tinha uma velocidade final que dependia apenas
da altura do plano, independente do ângulo de inclinação.
Na proposição 40 (Teorema 13) Newton mostra que este
princípio vale para o caso geral de movimento sobre ação
de forças centrípetas de qualquer tipo:

Se um corpo, sob a ação de uma força centrípeta, move-


se de qualquer modo, e outro corpo sobe e desce em uma
linha reta (sob a ação da mesma força), e as velocidades
desses dois corpos são iguais em uma mesma altura, suas
velocidades serão iguais também em quaisquer outras
alturas.

Na seção XII ele trata da força de atração entre corpos


esféricos. Claramente o objetivo dele é preparar o caminho
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para a força gravitacional estudada no livro III. Aqui em
vez de tomar força proporcional à massa ele considera um
conjunto de partículas discretas, a força é então
proporcional ao número de partículas.

Proposição 70: Se cada ponto de uma superfície esférica


está sujeito a uma força centrípeta que varia com o inverso
do quadrado da distância desse ponto, então uma partícula
colocada dentro da superfície não será atraída por essas
forças.

Para demonstrar ele usa a figura abaixo, onde P é um


ponto no interior da superfície. Ele diz que o triângulo HPI
é igual ao triangula LPK e que, portanto, os arcos
subtendidos pelas linhas que cruzam em P são
proporcionais às distâncias HP e LP. A força varia com o
inverso do quadrado da distância, mas o número de
partículas no arco depende da distância ao quadrado.
Temos assim um cancelamento e as forças são iguais,
como elas têm sentidos opostos elas se anulam.

Proposição 73: Se para os pontos de uma dada esfera


existem forças centrípetas diminuindo com o quadrado das
distâncias desses pontos, então um corpúsculo colocado
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dentro da esfera é atraído por uma força proporcional a sua
distância do centro.
A demonstração é feita usando a proposição 70. Só a
massa dentro de uma esfera com raio igual a distância ao
centro contribui. Mas essa massa é proporcional ao cubo
do raio. Assim o raio ao cubo dividido pelo raio ao
quadrado leva a uma relação linear.

Proposição 74: Aqui ele diz que para um corpo fora de


uma esfera (com o mesmo tipo de força considerado
acima) podemos considerar todas as partículas no centro
da esfera.

Livro II
Newton estuda entre outras coisas:
- Corpo movendo em um meio homogêneo com uma resistência proporcional à velocidade.
- Nas condições acima um corpo subindo e descendo em linha reta sobre a ação da força de
gravidade considerada constante.
- Movimento de um projétil.
- Resistência proporcional ao quadrado da velocidade.
- Resistência com um termo proporcional à velocidade e outro proporcional ao quadrado da
velocidade.
- Movimento circular de um corpo em um meio resistivo.
- Movimento em um fluido. Ele define: Um fluído é um corpo cujas partes cedem a qualquer
força aplicada nele, e em assim o fazendo são facilmente deslocadas entre elas.
- Pêndulo em um meio resistivo.
- Globo movendo em um fluído.
- Movimento da água escorrendo de um vaso cilíndrico através de um furo feito no fundo do
vaso.
- Ondas em um fluído.
- Movimento circular de fluídos.
No final ele escreve:
Corpos levados em um vórtice e voltando na mesma órbita são da mesma densidade do vórtice e movem-
se de acordo com a mesma lei que as partes do vórtice, tais como a mesma velocidade e direção do
movimento.

Em seguida ele mostra que a teoria de vórtices de Descartes para o movimento planetário está
em desacordo com as leis de Kepler.

Neste livro é de interesse a proposição abaixo

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Proposição 24. Teorema 19.

As quantidades de matéria em pêndulos, cujos centros de oscilação estão igualmente distantes


do centro de suspensão, são proporcionais à razão composta dos pesos e do quadrado dos
tempos de oscilações no vácuo.

A velocidade que uma dada força pode gerar em uma dada matéria em um dado tempo é
diretamente proporcional à força e ao tempo, e inversamente à quantidade de matéria. Isto
resulta da segunda lei do movimento (nota em notação moderna: F = mv/t, então v é
proporcional à Ft/m). Agora se os pêndulos são de mesmos comprimentos, a razão entre as
forças motivas em lugares igualmente distantes da perpendicular são proporcionais à razão entre
os pesos: portanto se dois corpos oscilando descrevem arcos iguais, e estes arcos são divididos
em partes iguais; como os tempos em que os corpos descrevem cada parte correspondente dos
arcos são proporcionais ao tempo total de oscilação, as velocidades nas partes correspondentes
estão uma para a outra como às forças motivas e ao tempo total da oscilação e inversamente às
quantidades de matérias (v ¿ FT/m). Portanto as quantidades de matéria são proporcionais às
forças e aos tempos de oscilação, e inversamente proporcionais às velocidades (m ¿ FT/v). Mas
velocidades são inversamente proporcionais aos tempos (v¿ 1/t) e, portanto, os tempos são
diretamente e as velocidades inversamente proporcionais aos quadrados dos tempos. Portanto,
as quantidades de matéria são proporcionais às forças motivas e aos quadrados dos tempos (m
¿ Ft2), isto é, aos pesos e aos quadrados dos tempos.

Corolário 1: Se os tempos (períodos) são iguais, a razão entre as quantidades de matéria em


cada corpo é igual à razão entre os pesos.

Medida da aceleração da gravidade.


Antes de passar para o livro III vou fazer alguns comentários que vão ser úteis.
Até a época de Newton não se falava em aceleração da gravidade g. O efeito da
gravidade era levado em conta dizendo a distância que um corpo em queda percorria na
unidade de tempo a partir do repouso. Notemos que nos cálculos naquela época sempre
se comparavam distâncias.

As medidas de Galileu usando o plano inclinado foram muito imprecisas. Note que ele
usava batidas de pulso para medir o tempo.

Huygens foi o primeiro a fazer uma determinação precisa da aceleração da gravidade


usando pêndulos.

Podemos fazer uma medida do tempo através do movimento do Sol. Colocamos um


pêndulo para oscilar. Ele faz várias oscilações enquanto o Sol vai de um ponto a outro.
O erro na medida do Sol fica assim diminuído e podemos obter uma boa precisão para o
tempo de uma oscilação.

Huygens demonstrou a seguinte proposição:

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O período de movimento de um pêndulo cônico (pêndulo simples em pequenas
oscilações) é igual a πt, onde t é o tempo que ele cai livremente de uma altura duas
vezes o comprimento do pêndulo.

Fazendo uma discussão em linguagem moderna:

Temos que o período do pêndulo é .

Se ele cai em queda livre temos: .

Se temos

Huygens fez cálculos usando o período igual a dois segundos.

o que implica .
Um corpo caindo de uma altura h em 1 segundo:

ou

Newton usando o resultado acima escreve:

A altura que um corpo pesado atravessa, ao cair durante o tempo de um segundo, está
para a metade do comprimento desse pêndulo, assim como, na razão dupla, a
circunferência do círculo está para seu diâmetro.
Newton diz um pêndulo com l = 3,059 pés parisienses tem o período de 2 segundos.
Então h= 15,0956 pés parisienses.

Note o cuidado de Newton. O pé como medida de comprimento naquela época variava


de local para local (hoje ele é definido como 30,48 cm). Ele usou o valor do pé em
Paris.

Livro III
Newton começa o livro 3 com as seguintes regras:

Regra 1: Não devemos admitir mais causas para coisas naturais do que aquelas que são
verdadeiras e suficientes para explicar o fenômeno.

Regra 2: A efeitos naturais da mesma espécie, as mesmas causas devem ser assinaladas, tanto
quanto possível.

Observação: No que se segue vou resumir, mas Newton escreve por extenso sem usar a palavra
“leis de Kepler”.

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Fenômeno 1: Diz que os planetas em torno de Júpiter satisfazem às segunda e terceira leis de
Kepler e apresenta dados de observações.

Fenômeno 2: Diz o mesmo para cinco satélites de Saturno (descobertos entre 1665 e 1684).

Fenômeno 3: Diz que os cinco planetas, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno giram em
torno do Sol. Usa o argumento de fases para Mercúrio e Vênus, e argumento parecido para os
outros planetas (Face completa próximo de conjunção com o Sol e face gibbous (equivalente a
lua nova) em quadratura). Aqui ele não faz menção a Terra girando em torno do Sol.

Fenômeno 4: Diz que os planetas satisfazem a terceira lei de Kepler e apresenta dados de
observação.

Fenômeno 5: Diz que os planetas satisfazem à segunda lei de Kepler.

Fenômeno 6: Diz que a Lua satisfaz à segunda lei de Kepler.

Proposição 1: Diz que as forças pelos quais os planetas giram em torno de Júpiter são
proporcionais ao inverso do quadrado da distância. Diz que isto decorre do fenômeno 1 e da
segunda ou terceira proposição, e do sexto corolário da quarta proposição do livro I.
Nas proposições 2 e 3, ele diz o mesmo para os planetas e a Lua.

Na proposição 4 Newton escreveu:

A Lua gravita para a Terra, e pela força da gravidade é continuamente desviada de um


movimento retilíneo e mantida em órbita.

Para demonstrar essa proposição ele, a partir de medidas astronômicas, tomou a


distância média da Lua à Terra como 60 raios terrestres, um período de revolução para a
Lua (em relação às estrelas fixas) de 27 dias 7 horas e 43 minutos, a circunferência da
Terra como 123.249.600 pés de Paris (uma medida antiga). A seguir, ele fez uso do
corolário 9 da proposição 4 do livro 1 onde está que: o arco que um corpo, movendo-se
em um círculo com uma dada força centrípeta, descreve em um dado tempo é igual à
raiz quadrada do produto do diâmetro do círculo pela distância que o corpo cairia sob a
ação da mesma força, no mesmo tempo. A demonstração usando linguagem moderna é
trivial: o arco, de comprimento l, descrito no tempo t é l = vt, onde v é a velocidade do
corpo;. a aceleração centrípeta é dada por a = v2/r , onde r é o raio do círculo. Das duas
relações acima obtemos a = l2/t2r. No tempo t um corpo com a aceleração a cairia, a
partir do repouso, numa distância x, dada por x = ½ at2 = l2/d (onde d = 2r). Assim
l= √ xd .
Newton concluiu que, se a Lua fosse desprovida de seu movimento circular e caísse
em direção à Terra sob a ação da força que a mantém em órbita, ela cairia (a partir do
repouso) 15 1/12 pés de Paris em 1 minuto. É interessante observar que ele não falava da
aceleração como falamos hoje (em metros por segundo ao quadrado, por exemplo), mas
dava a distância que o corpo caía (ou era acelerado), a partir do repouso, na unidade de
tempo. Como x = ½ at2, isso fornece, em números, a aceleração dividida por dois.
Como a força sobre a Lua varia com o inverso do quadrado da distância, na
superfície da Terra essa força é maior por um fator de 6060 do que aquela na órbita da

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Lua. Assim, um corpo na superfície da Terra caindo sob a ação daquela força deveria,
em um minuto, cair (a partir do repouso) 606015 1/12 pés de Paris, ou seja, cair 15 1/12
pés de Paris em um segundo. Das experiências feitas por Huygens utilizando o pêndulo,
(discutida antes) Newton deduziu que (na latitude de Paris) um corpo, na superfície da
Terra, caía a partir do repouso quase que exatamente a distância acima em um segundo.
A partir desse resultado, concluiu que era a força da gravidade terrestre que mantinha a
Lua em sua órbita.

(veja texto em anexo em pdf para um cálculo em mais detalhes)

A seguir, usando a regra de que “aos mesmos efeitos naturais devemos, tanto quanto
possível, atribuir as mesmas causas”, generalizou a sua proposição afirmando que os
satélites de Júpiter e Saturno eram atraídos para esses planetas, e os planetas para o Sol,
por uma força gravitacional. Escreveu que, a força que mantém os corpos celestes em
órbitas, que até então ele havia chamado de força centrípeta, passaria a se chamar
gravidade.

Na proposição 5 ele diz que a força de atração para os satélites de Júpiter e Saturno e para os
planetas do sistema solar é a força da gravidade. Diz que são fenômenos da mesma espécie que
a rotação da Lua em torno da Terra e usa a regra 2. Ele comenta que os planetas atraem uns aos
outros. Diz que a força que até aqui ele chamou de centrípeta, ele vai passar a chamar de
gravidade.

A proposição 6 diz:

Todos os corpos gravitam para cada planeta e os pesos dos corpos dirigidos para cada
um desses planetas, a distâncias iguais do centro do planeta, são proporcionais à
quantidade de matéria que o corpo contém.

Nessa proposição, Newton afirmou a generalidade da ação da gravidade para todos os


corpos. Para provar essa afirmação partiu do fato experimental de que os corpos
(levando em conta uma pequena diferença devido à resistência do ar) caem da mesma
altura em tempos iguais. Ele diz que realizou experiências com ouro, prata, chumbo,
vidro, areia, sal, água, madeira e trigo, usando duas caixas de madeira, redondas e
iguais. De início encheu uma com madeira e outra com o mesmo peso de ouro. As
caixas, suspensas por cordas de mesmo comprimento (da ordem de 3,5 m), constituíam
um par de pêndulos perfeitamente iguais em peso e comprimento. Como as caixas eram
idênticas, a resistência do ar era a mesma para ambas. Ele observou que os dois
pêndulos oscilavam com os mesmos períodos. O mesmo acontecia quando usava
quaisquer outros dois dos materiais mencionados. Ele mostrou matematicamente que a
igualdade do período de oscilação implicava que o peso era proporcional à quantidade
de matéria. Finalmente diz que a natureza da gravidade em direção aos planetas é a
mesma daquela em direção à Terra. Pois, ao imaginar um corpo terrestre levado até a
órbita da Lua, e lá, juntamente com a Lua, privado de todo movimento e deixado cair
em direção à Terra, é certo pelo que foi demonstrado antes que cairiam juntos. Portanto,
escreveu, a razão entre a massa do corpo e a massa da Lua é igual à razão entre os seus

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pesos. Por outro lado, se os satélites de Júpiter caíssem para o planeta a partir da mesma
distância eles percorreriam distâncias iguais em tempos iguais, da mesma forma como
aconteceria com os planetas em relação ao Sol. Mas forças que aceleram igualmente
corpos diferentes devem estar umas para as outras como as massas dos corpos. Ou seja,
os pesos dos planetas em relação ao Sol devem ser proporcionais à quantidade de
matéria dos planetas. Caso contrário, se algum desses corpos fosse mais fortemente
atraído para o Sol em proporção à sua quantidade de matéria, o movimento seria
perturbado pela desigualdade da atração. O peso de cada parte de um planeta dirigido
para qualquer outro planeta é proporcional à quantidade de matéria da parte, pois se
uma parte gravitasse mais e outras menos (em relação as suas quantidades de matéria) o
planeta como um todo, dependendo do tipo de partes que mais abunda, gravitaria mais
ou menos do que em proporção à quantidade de matéria do todo, conclui.

No corolário 1, Newton mostrou que os pesos dos corpos não dependem de suas
formas ou texturas. No corolário 2, afirmou que, universalmente, todos os corpos na
Terra gravitam para ela e os pesos desses corpos, a distâncias iguais do centro da Terra,
estão uns para os outros na mesma razão que as quantidades de matéria que eles contêm.
Ele acreditava que todos os corpos eram altamente porosos e que os poros eram
esvaziados de ar. No corolário 3, escreveu:

Corolário 3: Os espaços não estão igualmente preenchidos; pois se todos os espaços


estivessem igualmente preenchidos, então a gravidade específica do fluído que
preenche a região do ar, levando em conta a densidade extrema da matéria, teria uma
gravidade específica próxima da prata, ou ouro, ou qualquer um dos materiais mais
densos; e, portanto, nem o ouro, nem qualquer outro corpo, cairia no ar, pois os corpos
não caem em um fluido, a menos que eles sejam especificamente mais pesados que o
fluido. E se a quantidade de matéria em um dado espaço puder ser diminuída, através
de uma rarefação qualquer, o que haveria para impedir uma diminuição até o infinito?

Corolário 4: Se todas as partículas sólidas de todos os corpos fossem da mesma


densidade, e não pudessem ser rarefeitos sem poros, então um espaço vazio deve
existir. Por corpos da mesma densidade quero dizer aqueles cujas inércias estão em
proporção a seus vultos.

Como a ação da força centrípeta nos corpos atraídos é, a distâncias iguais,


proporcional às quantidades de matéria desses corpos, devemos concluir que ela
também é proporcional à quantidade de matéria do corpo que exerce a atração. Isso
porque toda ação é recíproca e faz com que os corpos se aproximem uns dos outros e,
portanto, deve ser a mesma em ambos os corpos. Na proposição 7, onde finalmente é
formulada a lei da gravitação universal, Newton afirmou que todos os corpos têm uma
força gravitacional proporcional às suas quantidades de matéria. Na proposição 8

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encontramos o resultado importante de que, duas esferas homogêneas atraem uma à
outra com uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância entre os seus
centros, ou seja, a lei de atração do inverso do quadrado aplica-se não somente aos
corpos celestes, mas também às partículas que os compõem. Na proposição 9, Newton
escreveu que a força da gravidade diminui da superfície de um planeta para dentro em
proporção direta à distância do centro. Desse modo, concluiu que a gravidade é uma
força completamente universal, mas não apresentou uma equação matemática para os
seus resultados. Foi somente no séc XVIII que Laplace escreveu a equação na forma
como hoje a conhecemos:

F=GMm /r 2 .
O valor numérico da constante G foi calculado, em 1798, por Henry Cavendish (1731-
1810) usando uma balança de torsão.

Na proposição 12 Newton diz que o Sol se move em um movimento incessante, mas nunca se
afasta do centro comum de gravidade de todos os planetas. Na proposição 13 ele diz que os
planetas movem em elipse com o Sol ocupando um dos focos. Ele comenta que é o centro do
sistema Terra-Lua que move em elipse, exceto por pequenas perturbações devidas aos outros
planetas. Ele comenta também na ação de Júpiter sobre Saturno e fornece alguns valores para
correções.
Na proposição 19 Newton mostra que a Terra não é uma esfera, mas um esferoide oblato. Nas
proposições 24 a 38 lida com o movimento da Lua e explica as marés. Na proposição 39 explica
a precessão dos equinócios e em seguida faz um longo estudo do movimento de cometas.

No escólio Geral Newton diz que a hipótese de vórtices apresenta muitas dificuldades e ele
mostra as inconsistências quando aplicada ao movimento dos planetas. Ele diz que não foi capaz
de deduzir as propriedades da gravidade a partir de fenômenos e não faz hipóteses. Aquilo que
não é deduzido de fenômenos deve ser chamado de hipótese, e hipóteses, sejam físicas ou
metafísicas, sejam qualidades ocultas ou mecânicas, não tem lugar na filosofia experimental.
Nesta filosofia, proposições são deduzidas dos fenômenos, e tornadas gerais pela indução.
Newton em uma carta para Richard Bentley em 1692 comentando sobre a força da gravidade:

Que a gravidade deve ser inata, inerente e essencial à Matéria, tal que um corpo possa agir sobre outro à
distância através de um Vacuum, sem a mediação de uma outra coisa, e através do qual sua Ação ou
Força possa ser levada de um ao outro é para mim um absurdo tão grande, que eu penso que nenhum
homem que tem em matérias filosóficas uma faculdade competente de raciocínio pode acreditar nisso.
Gravidade deve ser causada por um agente agindo constantemente de acordo com certas Leis; mas se este
agente é material ou imaterial eu deixo para a consideração de meus leitores.

Sistemas inerciais

Um sistema de referência é um padrão relativo ao qual repouso e movimento


podem ser medidos. É um dispositivo puramente cinemático para a descrição
geométrica do movimento sem levar em conta as forças envolvidas. Uma consideração

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dinâmica do movimento leva à ideia de um “sistema inercial”, ou seja, a um sistema de
referência relativo ao qual movimentos têm propriedades dinâmicas distintas. Por esta
razão um sistema inercial é um sistema de referência espacial junto com um meio para
medir o tempo, tal que movimento uniforme possa ser distinguido do movimento
acelerado.
Newton escreveu no Corolário 5 do livro I:

Quando corpos estão confinados em um dado espaço, seus movimentos em relações uns aos outros são os
mesmos se o espaço está em repouso ou se ele está se movendo uniformemente em linha reta sem
movimento circular.

Tendo em vista o corolário 5, parece estranho que a noção de um sistema inercial só apareceu
um século e meio depois da morte de Newton. Ele identificou uma classe distinta de “espaços
relativos” dinamicamente equivalentes, em qualquer um dos quais forças verdadeiras e massas,
acelerações e rotações, teriam os mesmos valores medidos. No entanto estes espaços, embora
empiricamente indistinguíveis, não eram equivalentes em princípio. Newton os imaginava como
movendo com várias velocidades no espaço absoluto, embora essas velocidades não pudessem
ser conhecidas. Ele não conseguiu concluir que esses espaços indistinguíveis empiricamente
deviam ser equivalentes em todos os sentidos, tal que nenhum deles merecia, mesmo em
princípio, ser considerado como um “espaço absoluto”.
É interessante observar que de certa forma Newton teve um vislumbre do princípio de
equivalência de Einstein quando ele escreveu no Corolário VI das leis de movimento:

Se corpos estão movendo de algum modo uns em relação aos outros e eles sofrem a ação de forças
aceleradoras ao longo de linhas paralelas, eles continuarão a se mover em relação uns aos outros da
mesma forma que eles o faziam na ausência das forças.

Ele aplicou esta ideia ao sistema solar com o objetivo de justificar seu tratamento dele como um
sistema isolado. Se houvesse forças externas atuando sobre ele, elas deveriam estar agindo mais
ou menos igualmente e em direções paralelas em todas as partes do sistema.

O ponto de partida para o desenvolvimento do conceito de sistema inercial começou com


uma questão sobre a lei de inércia. Relativo a que é o movimento de uma partícula livre
uniforme e retilíneo? A resposta não podia ser “espaço absoluto”, pois não temos como
observar a trajetória de uma partícula em relação ao espaço absoluto.
Notemos que uma escala temporal é de suma importância. A lei da inércia define uma escala
de tempo: intervalos iguais de tempo são aqueles nos quais uma partícula livre percorre
distâncias iguais. Mas esta definição é arbitrária, pois na ausência de uma definição a priori de
tempos iguais, qualquer movimento pode ser estipulado como uniforme. Não podemos apelar
pela inexistência de forças externas, pois sabemos que uma partícula é livre quando ela tem
movimento uniforme.
Em 1885, Ludwig Lange introduziu o conceito de sistema inercial. Um sistema de
coordenadas inercial deve ser um no qual partículas livres se movem em linhas retas. Mas

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qualquer trajetória pode ser estipulada retilínea, e um sistema de coordenadas pode sempre ser
construído onde ela é retilínea. E assim, como no caso de uma escala de tempo, não podemos
definir adequadamente um sistema inercial pelo movimento de uma partícula. Da mesma forma,
para duas partículas quaisquer um sistema de coordenadas pode ser encontrado onde ambas as
trajetórias são retilíneas. Devemos definir um sistema inercial como um sistema onde pelo
menos três partículas livres não colineares movem em linhas retas não coplanares. Então
podemos enunciar a lei de inércia como a afirmação de que, relativo a um sistema inercial assim
definido, o movimento de uma quarta partícula qualquer, ou de muitas partículas arbitrárias,
será retilíneo. A noção de um sistema inercial no dizer de Lange fica, portanto:

Um sistema inercial é um sistema de coordenadas em relação ao qual três partículas livres, projetadas de
um ponto único e movendo em direções não coplanares, movem em linha reta e viajam distâncias
mutuamente proporcionais. A lei da inércia estabelece então que relativo a qualquer sistema inercial, uma
quarta partícula moverá uniformemente.

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