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Citacoes Filosoficas Polemicas
Citacoes Filosoficas Polemicas
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Henri Bergson, “Lettre à Gilles Delleuze”, Lettres, Paris, Ed. PUF, 2015
filosófica pode não ter sido dita por um filósofo, assim como muitas afirmações
ditas por filósofos podem não ter significado ou interesse filosófico.
Um citação filosófica é portanto algo muito abrangente, e embora a nossa
escolha tenha sido sobretudo para citações de filósofos, por vezes incluímos neste
livro também citações de alguns escritores (por exemplo de Vergílio Ferreira, ou
de Fernando Pessoa). Se disséssemos : “Citações em Filosofia”, significaria apenas
e exclusivamente citações de filósofos, mas dado que se trata de “Citações
filosóficas”, incluímos também, por vezes, algumas citações de escritores com
frases de conteúdo filosófico, ou de escritores que estão também ligados à
Filosofia, e ainda de sociólogos, como por exemplo Augusto Comte, ou de
antropólogos, como por exemplo Edgar Morin.
Tratando-se de um livro de citações filosóficas polémicas, além de ser difícil
definir o conceito de filosófico, é também difícil definir o conceito de polémico,
pois aquilo que para algumas pessoas é polémico, para outras pessoas pode não o
ser, sendo antes considerado uma citação cujo conteúdo é normal, vulgar e
incontestável. Há muitas citações filosóficas que não são polémicas, mas antes
evidentes, como por exemplo a famosa afirmação de Descartes : Penso, logo
existo, mas por exemplo as suas afirmações sobre os animais, considerando-os
como máquinas, são polémicas.
O termo polémica provém do termo grego polemikós (relativo à guerra), o
que significa portanto uma disputa, um afrontamento de posições, uma
controvérsia. O significado do termo polémica evoluiu, e tem hoje a ver com uma
atitude crítica acalorada, uma discussão, ou um assunto que está sujeito ao debate,
em que se apresentam posições diferentes e opostas. A polémica é a atitude de
causar disputas ou controvérsias sobre determinado assunto, como por exemplo em
política, ou em religião, ou o próprio assunto, e portanto a polémica pode ser a
forma de tratamento do assunto discutido, ou o conteúdo daquilo que é discutido.
Há que distinguir portanto entre tema polémico e tratamento polémico. Há temas
polémicos, e que são tratados de forma polémica, sendo o seu tratamento polémico
originado pelo facto do tema ser polémico, ou pela tendência para agravar a sua
forma de tratamento; há temas não necessariamente polémicos, mas que podem ser
tratados de forma polémica; há temas vulgarmente polémicos, mas que podem ser
tratados de forma não polémica, mas sim com serenidade, seriedade, e
naturalidade.
Por outro lado, há diversos graus de polémica, isso depende das pessoas,
pois para algumas pessoas determinado tema é quase polémico, enquanto que para
outras é muito polémico, e para outras é mesmo chocante, ou escandaloso.
Embora nem tudo o que é polémico seja chocante ou escandaloso, tudo o que é
chocante ou escandaloso é polémico. Isso tem a ver com o conteúdo daquilo que é
dito, com aquilo que causa polémica de forma intensa, como por exemplo a
corrupção económica ou política, e com a sua forma de abordagem. Um assunto
polémico, embora possa ser tratado com seriedade, e ser alvo de uma reflexão
aprofundada, como é por exemplo o caso da corrupção dos políticos, tende muitas
vezes a ser abordado de forma sensacionalista, o que constitui uma abordagem
que tende para a vulgaridade, para o imediatismo e a superficialidade, suscitando a
especulação pura e simples, como sucede por exemplo em alguns dos meios de
comunicação social, nomeadamente a Imprensa.
Há afirmações ou temas que podem não ser polémicos hoje mas que o foram
no seu tempo, como sucedeu por exemplo com determinadas posições em matéria
de religião, e que fizeram com que alguns autores tivessem sido considerados
hereges, e que fossem até condenados e queimados na fogueira, assim como há
determinadas afirmações ou temas que não foram polémicos no seu tempo (como
por exemplo a defesa e a prática da escravatura), mas que hoje o são. Ao lermos
algumas das citações presentes neste livro poderemos ser levados a pensar que
essas afirmações são simplesmente produto da sua época, e que as consideramos
como polémicas por não terem nada a ver com a nossa época, mas isso não é
inteiramente verdade. Uma afirmação ou um pensamento polémico não são apenas
um produto da sua época, pois houve muitas afirmações ou pensamentos
polémicos contra a mentalidade da sua época. Por outro lado, nos tempos de hoje
também se continuam a proferir afirmações ou a exprimir pensamentos contrários
à mentalidade da nossa época. A relação com o tempo não é linear (uma coisa não
é polémica simplesmente devido à mudança da época), e por outro lado, a relação
com o polémico, em termos de época, ocorre de maneira diferente conforme os
temas. Por exemplo, a arte contemporânea é polémica, e para muitas pessoas até é
chocante, porque não tem nada a ver com a arte do passado (nesta atitude tem-se
como pressuposto um determinado ideal de arte, geralmente associado à arte
figurativa e ao culto da Beleza). O passado é portanto considerado o modelo, e a
arte de hoje é considerada oposta, por se ter afastado do passado, e portanto é
muito polémica. Na Filosofia acontece o contrário : determinada afirmação ou
reflexão filosófica para nós hoje é ou pode ser considerada polémica, e até mesmo
chocante, não por não ter nada a ver com o passado, mas sim por não ter nada a ver
com o presente (por exemplo, a defesa da escravatura nos escritos de alguns
filósofos, a discriminação em relação às mulheres e aos Judeus, nos escritos de
outros filósofos, o racismo nos escritos de outros filósofos, a defesa da pena de
morte nos escritos de outros filósofos, etc., etc.). Em alguns casos os filósofos
pensaram de acordo com a sua época, mas outros pensaram contra a sua época (por
exemplo, os filósofos ateus). Por um lado, aquilo que é considerado como
polémico resulta do facto de uma determinada afirmação do passado ser
considerada como polémica para nós hoje, mas não ter sido polémica para a
mentalidade da sua época. Por outro lado, aquilo que é considerado como
polémico é também uma determinada afirmação que não é polémica para nós hoje,
mas que foi polémica na sua época. Também houve filósofos que não pensaram
de acordo com a sua época, mas sim contra ela, e por isso foram polémicos. Ao
longo da História a Filosofia produziu ímpios, hereges, apóstatas, blasfemos,
ateus, pagãos, agnósticos, e infiéis, que foram por isso alvo de muita polémica.
No século XIX Alfred de Vigny (1797-1863), poeta romântico francês, foi
autor do célebre conceito de poetas malditos, que surge no seu livro Stello, em
1832. A expressão poetas malditos aplicava-se aos poetas do decadentismo, entre
os quais o poeta Verlaine, autor do livro Os poetas malditos. Esta expressão
alargou-se, e hoje utiliza-se também por vezes a expressão filósofos malditos. Mas
independentemente desta designação só ter criada no século XIX, os filósofos
malditos existiram sempre ao longo da História, e é caso para dizer que, quando a
Filosofia não era uma serva da Teologia, como aconteceu durante a Idade Média
(e ainda assim com algumas exceções), a Filosofia foi uma ocupação de livres
pensadores, e portanto de homens que no seu tempo foram alvo de muita polémica,
e portanto foram considerados como filósofos malditos.
Vejamos alguns exemplos de datas importantes : em 432 a. C. Anaxágoras
foi julgado e condenado sob a acusação de ateísmo. Em 399 a. C. Sócrates foi
condenado à morte sob a acusação de corrupção dos costumes, e de impiedade. Em
418 o imperador Honorius elaborou um decreto de expulsão de Pelágio, afirmando
que já não seria possível imaginar-se sábio “porque nega o que crê a comunidade
inteira”. Em 448 a obra de Porfírio foi condenada e destruída pelo fogo, sob ordem
do imperador Teodósio. Em 529 d. C. o imperador Justiniano proibiu o ensino da
Filosofia em Atenas, e a partir daí os filósofos gregos tiveram que se refugiar na
Síria e no Líbano. Em 1150 o Concílio reuniu-se para julgar e condenar o livro do
filósofo e teólogo Abelardo, Theologia Scolarium. Em 1188 o sultão Abu Yusuf ,
sob os reinos mouros de então, proibiu o ensino da Filosofia (nomeadamente o
filósofo Averróis) em Marrocos e em Espanha. Em 1493 Pico della Mirandola foi
condenado e excomungado pelo Papa, devido às suas ideias filosóficas cabalísticas
e teológicas. Em 1600 Giordano Bruno foi condenado e queimado na fogueira,
devido às suas ideias sobre o Universo. Em 1656 Espinosa foi expulso da
comunidade dos Judeus, em Amesterdão, devido às suas ideias religiosas (foi
acusado de panteísmo e de ateísmo), e foi decretada por essa comunidade a
proibição de ler os seus livros. Em 1752, em França, a Enciclopédia de Diderot
foi censurada e proibida, por pôr em causa os fundamentos ideológicos da
sociedade do seu tempo. Em 1849 Karl Marx foi expulso da cidade de Colónia,
devido aos seus artigos políticos na Imprensa. Em 1916 Bertrand Russell publicou
um panfleto em que se solidarizava com um objetor de consciência, que fora
condenado por um Tribunal, o que lhe valeu uma multa elevada, além de outras
ideias que Bertrand Russell defendia, como por exemplo o direito ao voto para as
mulheres, e a não intervenção de Inglaterra na primeira Grande Guerra Mundial.
Tudo isso acabou por acarretar a sua demissão de professor da Universidade de
Cambridge, sendo-lhe ainda recusado o passaporte, e chegou mesmo a ser preso,
em 1918, por delito de opinião. Ao longo da História, houve vários livros de
filósofos que foram alvo de polémica, e que foram colocados no índice dos livros
malditos : o Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdão; O Príncipe, de Maquiavel;
A Revolução das esferas celestes, de Copérnico; os Ensaios, de Montaigne; O
Espírito das Leis, de Montaigne; o Emílio, de Rousseau, etc., etc., todos esses
filósofos com ideias políticas, religiosas, científicas, morais, e pedagógicas,
consideradas perniciosas, malditas, perigosas, chocantes, e portanto polémicas.
Nos tempos de hoje existem também alguns filósofos malditos, como por exemplo
Peter Singer, um dos filósofos atuais mais conhecidos e controversos. A sua ética
aplicada tem sido bastante polémica em temas como o aborto, a libertação animal,
o infanticídio, a eutanásia, e a eliminação da pobreza.
Uma afirmação pode ser polémica em si mesma e ser proveniente de um
autor de quem se espera tal afirmação, havendo portanto aqui uma
complementaridade. Todavia, uma afirmação pode também ser polémica não
apenas devido ao seu conteúdo, mas também - e em alguns casos sobretudo -,
devido ao facto de ser proveniente de um autor do qual não se esperava tal
afirmação. Neste último caso o que é polémico, se não mesmo chocante, é o facto
de algumas das belas e profundas reflexões dos filósofos nada terem a ver com
outras reflexões, em que portanto o espírito idealizado, transcendente, e sublime
dos escritos de alguns filósofos perde muito do seu carater sagrado, ou com ele
contrasta, ao lermos outros escritos que são de autoria do mesmo filósofo, como
por exemplo John Locke, autor da célebre Carta sobre a tolerância, pois apesar
dele defender a tolerância, esta era só em relação às religiões (e não a todas), pois
Locke escreveu contra os Judeus, contra os negros, contra as mulheres, e contra os
homossexuais. Este filósofo, que foi um dos maiores representantes do
Iluminismo, e que portanto foi considerado iluminado, ilustrado, e esclarecido, só
o foi até certo ponto. Um outro exemplo é o de Hegel, que apesar de ser
considerado um grande filósofo, classificava a África como “o país da infância”, e
dizia que o negro era o representante da “natureza no seu estado mais selvagem,
em que no seu caráter não podemos encontrar nada que nos recorde o Homem”.
Também o filósofo Proudhon, por exemplo, dizia que a propriedade é um roubo,
mas considerava as mulheres como uma propriedade, e negava-lhes o direito de
cidadania. Estas atitudes não aconteceram só no passado, mas também nos tempos
de hoje. Por exemplo Heidegger, um grande filósofo contemporâneo, além da sua
conivência com o nazismo, escreveu algumas cartas em que ataca os Judeus.
Há que fazer portanto uma outra distinção: o autor polémico. O autor pode
ser polémico devido à sua Filosofia no seu todo ser polémica, ou devido a
determinadas afirmações suas serem polémicas, ou ainda a determinados aspetos
polémicos da sua vida, em que se nota uma grande incoerência. A polémica pode
suceder não apenas a propósito das obras que os filósofos escreveram, à
incoerência e à contradição naquilo que defenderam nas suas obras, mas também a
propósito das suas próprias vidas, que muitas vezes também não têm nada a ver
com os belos pensamentos e com as ideias morais que defenderam, como por
exemplo o filósofo Séneca, que defendia o desprendimento em relação às riquezas
materiais, mas que era rico e vivia rodeado de muitos bens materiais. Há muitos
mais exemplos de outros filósofos: Francis Bacon, que foi autor dos famosos
Ensaios ou conselhos civis e morais, mas que foi julgado e condenado por
corrupção (devido ao desvio de dinheiros públicos); John Locke, o filósofo da
tolerância, mas que era proprietário de escravos nas colónias norte-americanas;
Jean Jacques Rousseau, que escreveu um famoso tratado sobre a educação (o
Emílio), mas que abandonou os seus cinco filhos, e jamais os educou. Alguns
filósofos falaram sabiamente sobre o amor, como se soubessem muito sobre isso,
mas nunca amaram ninguém. Alguns filósofos pregaram a castidade, mas não
foram nada castos ao longo das suas vidas, antes pelo contrário. Jean Paul Sartre,
defensor do filósofo como homem empenhado, viveu praticamente escondido da
Segunda Grande Guerra Mundial. Simone de Beauvoir, apesar de ser feminista,
escreveu cartas escaldantes ao seu amante Nelson Algren, em que se revela uma
mulher submissa a ele. Michel Foucault deu um curso sobre A coragem da
verdade, escondendo no entanto cuidadosamente estar atingido por uma doença
incurável. Gilles Deleuze teorizou sobre as viagens, mas detestava viajar. Muitos
mais casos poderíamos apresentar. Estes são apenas alguns exemplos. Como já
dizia Séneca, no ano de 65 d. C., na sua Carta a Lucílio, “os costumes dos
filósofos não estão de harmonia com os preceitos; mas se não vivem como
ensinam, ensinam como se deve viver”. Na sua obra Da Vida Feliz, Séneca
também afirmava sobre si mesmo : “Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela
que sei dever ser vivida”.
Mas assim como muitos filósofos disseram coisas boas e tiveram vidas más,
também houve muitos filósofos que disseram coisas más mas as suas vidas não
foram conformes a essas coisas más que disseram, antes pelo contrário, foram
vidas consideradas exemplares, e que portanto, não praticaram as ideias negativas
que defenderam. Por isso, a polémica das citações apresentadas neste livro não se
deve apenas ao facto de virem de quem vêm, que contrastam com a boa imagem
que se tem do seu autor, mas também, e sobretudo, devido ao próprio conteúdo
daquilo que é dito (seja qual for o autor que o diz), e que contrasta sim com a
imagem demasiado idealizada que se tem por vezes da Filosofia.
A Filosofia é geralmente identificada com a Sabedoria, sendo estas duas
muitas vezes utilizadas como sinónimos. No entanto, existe tudo menos Sabedoria,
em muitas das afirmações polémicas que aqui citamos. Encontramos nestas
citações homens humanos, demasiado humanos, que expressam pensamentos que
são semelhantes ao pensar do homem comum, e por vezes o são até pior. A atitude
filosófica é geralmente considerada uma atitude cujas qualidades são a
ponderação, a serenidade, a prudência, o equilíbrio interior, a capacidade de
compreensão e de discernimento, o esclarecimento, a reflexão, e a racionalização.
Ora, essas qualidades não existem quando há reputados filósofos que fazem
afirmações de discriminação contra as mulheres, os negros, os judeus, os
homossexuais, ou contra os animais. Essas qualidades não existem quando há
reputados filósofos que fazem afirmações contra os Direitos do Homem, contra a
Democracia, etc. As virtudes associadas geralmente à Filosofia não existem
quando há reputados filósofos que fazem afirmações contra a Escola e a Educação,
ou contra a ciência a tecnologia. A atitude sábia não existe quando se faz a defesa
da escravatura, da mentira, e da loucura. A atitude sábia também não existe
quando se faz a defesa da pena de morte. As qualidades da sabedoria,
tradicionalmente associadas à Filosofia, não existem ao fazerem-se determinadas
afirmações contra a Pátria e contra o patriotismo, ou contra o amor entre duas
pessoas. As qualidades tradicionalmente associadas à sabedoria da Filosofia
também não existem ao ter-se uma imagem tão negativa e desesperante sobre as
relações entre as pessoas. Muitas destas citações são pessimistas, e muitas delas
não são apenas polémicas, mas também chocantes, como sucede por exemplo
quando Diderot, apesar de ser um filósofo enciclopedista, e portanto um homem
esclarecido e de mente aberta, como seria de esperar de alguém vindo do
Iluminismo, afirma no entanto : “O homem maligno é um homem que é preciso
destruir e não punir. (…) É preciso destrui-lo em praça pública”.
Historicamente, desde os filósofos da Antiguidade Clássica até aos dias de
hoje, houve várias rivalidades e lutas entre as escolas filosóficas, como por
exemplo entre o empirismo e o racionalismo, ou entre a Filosofia analítica e
Filosofia continental. Desde a os filósofos da Antiguidade clássica (por exemplo
Séneca, e Marco Aurélio), passando pela Filosofia Medieval (por exemplo Santo
Agostinho, e Boécio), até à Filosofia Moderna (por exemplo Montaigne, e Pascal),
até aos dias de hoje (por exemplo Alain de Bottom, e Lou Marinoff), a Filosofia é
considerada como uma terapia para a alma, como um consolo,4 e hoje fala-se
mesmo em aconselhamento filosófico, havendo atualmente consultas para
aconselhar as pessoas através da Filosofia, como sempre se fez e se faz através da
Psicologia e da Religião. Ora, pelo contrário, a Filosofia desassossega,
desestabiliza, desconstrói, desconsola, por isso os filósofos são agitadores, e
considerados como subversivos. Ao longo da História muitos filósofos foram
julgados e condenados, ainda hoje em alguns países não existe ensino da Filosofia,
e em alguns países muçulmanos a Filosofia é mesmo proibida. Por isso, assim
como se fala em tolerância em relação às outras religiões, às culturas e etnias
diferentes, às convicções político-partidárias consideradas radicais, e às conceções
de vida consideradas imorais, também se emprega o conceito de tolerância
filosófica, isto é, em relação à Filosofia, e à subversão filosófica. Tem sentido
falar também em tolerância filosófica, considerando-se a tolerância como tal não
por ser baseada em princípios filosóficos (embora também o possa ser), mas sim
por se referir aos próprios filósofos, e a muito do que eles disseram, o que fez com
que desde sempre fossem encarados com polémica. As muitas citações que se
seguem são um bom exemplo.
4
Ver por exemplo as seguintes obras : Lou Marinoff, Mais Platão, menos Prozac, Lisboa, Ed. Presença, 2002; Allain de Botton,
O consolo da Filosofia, Lisboa, Ed. Dom Quixote, 2012.
A FILOSOFIA E O FILOSOFAR
Não há nada de tão absurdo que não saia da boca de algum filósofo.
Para que servem esses píncaros elevados da Filosofia, em cima dos quais
nenhum ser humano se pode colocar, e essas regras que excedem a nossa prática e
as nossas forças ? Vejo frequentemente proporem-nos modelos de vida que nem
quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que
pior é, desejo de o fazer.
Ouso quase dizer que o estado de reflexão é um estado contra natura, e que o
homem que medita é um animal depravado.
A Filosofia está para o mundo real, como a masturbação para o amor sexual.
O calvário do filósofo, o seu “sacrifício pela verdade”, faz sair à luz o que
este ainda possuía de demagogo e de comediante, e por pouco que tenha sido
observado, compreender-se-á que se pode experimentar o desejo de ver, pelo
menos uma vez, em certos filósofos em estado de degenerescência, como
“mártires”, como comediantes, como tribunos. Porém é necessário aperceber-se da
farsa que se representa uma vez caído o pano, prova de que a grande tragédia
propriamente dita terminou, supondo que o conhecimento de toda a Filosofia tenha
sido uma grande tragédia.
A maior parte das proposições e das questões que foram escritas sobre
matérias filosóficas são não apenas falsas, mas desprovidas de sentido. Por essa
razão, não podemos absolutamente responder às questões deste género, mas apenas
afirmar que são desprovidas de sentido.
Com os filósofos não se deve temer não compreender, mas sim temer
compreender.
Quando alguém pergunta para que serve a Filosofia, a resposta deve ser
agressiva, visto que a pergunta pretende-se irónica e mordaz. A Filosofia não serve
nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum
poder estabelecido. A Filosofia serve para entristecer. Uma filosofia que não
entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é uma Filosofia. A Filosofia
serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra
serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as
suas formas.
Os homens são tão necessariamente loucos, que não ser louco seria uma
outra forma de loucura.
Como bem disse o sábio Mémnon, eu não conheço nada tão louco quanto
um grupo de sábios.
Não é encerrando o teu próximo numa casa de saúde que provarás que tens
razão.
Todos têm o seu método tal como todos têm a sua loucura; mas só
consideramos louco aquele cuja loucura não coincide com a da maioria.
Que a loucura seja a nossa sabedoria; que toda a nossa Vida seja um élan
que nos queima febrilmente.
O ser do Homem não seria o ser do Homem se ele não tivesse consigo a
loucura como o limite da sua liberdade.
A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter
consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência
dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser
desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio.
O que aguarda os homens após a morte não é nem o que esperam nem o que
acreditam.
Pois bem, é hora de ir : eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá
para o melhor, é obscuro a todos, menos a Deus.
Nenhuma desgraça pode atingir aquele que deixou de ser ; em nada ele
difere do que seria se jamais tivesse nascido, pois a sua vida mortal foi-lhe
arrebatada por uma morte imortal.
Quem temer a morte jamais fará nada como homem vivo; já quem tiver
consciência de que essa foi a condição fixada quando estava sendo concebido,
viverá segundo esse decreto e, ao mesmo tempo, com idêntica robustez de alma,
fará com que nada do que lhe aconteça seja inesperado.
A morte não nos diz respeito nem vivos nem mortos : vivos, porque ainda o
estamos; mortos, porque já não existimos.
Os homens receiam a morte pela mesma razão que as crianças têm medo das
trevas : porque não sabem do que se trata.
É mais fácil suportar a morte sem pensar nela, do que suportar o pensamento
da morte sem morrer.
Blaise Pascal, Pensamentos, 1670
As meditações sobre a morte (género Pascal) são feitas por homens que não
têm que lutar pela Vida, de ganhar o seu pão, de sustentar filhos. A eternidade
ocupa aqueles que têm tempo a perder. É uma forma de lazer.
Um ser querido, não é ele que nós choramos, mas sim nós mesmos.
Choramos essa parte dele que estava em nós, e que era necessária ao
funcionamento harmonioso do nosso sistema nervoso.
Por seu pecado, os hereges merecem não apenas serem separados da Igreja,
pela excomunhão, mas também do mundo, pela morte.
O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus, ser
infinito, possa ter-se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado ?
É um absurdo pensar que Deus tenha paixões humanas, e uma das mais
baixas das paixões humanas, um incessante apetite de aplausos.
O Homem não inventou Deus senão para poder viver sem se matar.
Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro
da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus
continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós assassinos entre os
assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou
inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água
poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de
inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos
nós mesmo nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve
um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma
história mais elevada que toda a história até então.
Afirmo, pesando as minhas palavras, que a religião cristã tal como está
estabelecida nas Igrejas, foi e continua a ser o principal inimigo do progresso
moral no mundo.
O próprio duma religião é o facto de não ser nem razoável nem credível; é
um remédio da imaginação para males de imaginação. (…) Ora, este crer fanático
é a fonte de todos os males humanos; a pessoa entrega-se e encerra-se no crer até
ao extremo da loucura, onde se ensina que é bom crer cegamente. Tudo isso é
religião, e religião leva à superstição.
Nada existe de mais insocial e sociável do que o Homem : um pelo seu mau
hábito, o segundo pela sua natureza.
O homem que não tiver virtude própria invejará sempre a virtude dos outros.
A razão disso é que a alma humana nutre-se do bem próprio ou do mal alheio, e
quem carece de um, aspira a obter o outro, e quem está longe de esperar obter
méritos de outrem, procurará nivelar-se com ele, destruindo-lhe a fortuna.
Aquilo que os homens chamam amizade não é senão uma mistura recíproca
de interesses, não é senão um comércio em que o amor próprio se propõe sempre
qualquer coisa a ganhar.
Se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria
amigos no mundo.
Nunca vi uma cidade que não desejasse a ruína da cidade vizinha, uma
família que não quisesse exterminar alguma outra família. Por toda parte os fracos
execram os poderosos diante dos quais rastejam e os poderosos os tratam como um
rebanho do qual se vende a lã e a carne. (…) E nas cidades que parecem gozar de
6
Esta citação é atribuída a Hobbes, por ele a ter proferido na sua obra, mas na verdade pertence a Plauto na sua obra Asinaria, II..
paz e nas quais as artes florescem, os homens são mais devorados pela inveja, por
cuidados e inquietudes, do que uma cidade sitiada o é pelos flagelos que suporta.
Falais-nos com uma atitude quimérica de tal natureza, que nos diz para não
fazermos aos outros aquilo que não quereríamos que eles nos fizessem; mas este
absurdo conselho não nos veio jamais senão dos homens, e de homens fracos. O
homem forte não ousa jamais falar uma tal linguagem.
Se algo é justo para mim, é justo. Embora seja justo para mim, é possível
que não o seja para os outros; o problema é deles, e não meu : eles que se
desenrasquem !
Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no
máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre
cujos dotes instintivos deve-se ter em conta uma poderosa dose de agressividade.
Em resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial
ou um objeto sexual, mas também alguém que lhes pode satisfazer a sua
agressividade, a quem pode explorar a sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se das
suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo.
O espírito do Homem é feito de tal maneira que lhe agrada muito mais a
mentira do que a verdade.
Dado que no estado da vida mortal pode acontecer muitas falhas, segue-se
que graves desordens acontecem no mundo quando, não se sendo incapaz de
alterá-las, não se recorre ao expediente de esconder as coisas em que não há mérito
de as deixar ver, ou porque são feias ou porque trazem o perigo de produzir maus
acidentes.
Engulamos de uma vez a mentira que nos adula, e bebamos gota a gota a
verdade, que nos amargura.
Somos todos impostores que nos suportamos uns aos outros. Quem não
aceitasse mentir veria a terra fugir sob seus pés : estamos biologicamente
obrigados ao falso.
Uma mentira pode ser menos mentirosa do que uma verdade bem escolhida.
Dizer a um indivíduo o que se pensa dele e daquilo que ele faz, é assumir
uma superioridade muito abusiva. A franqueza não é compatível com um
sentimento delicado, nem mesmo com uma exigência ética.
Sou homem, não fiz nenhum voto de castidade, e jamais pretendi passar por
mais sábio que os outros homens.
O facto é que ninguém determinou, até agora, o que pode o corpo, isto é, a
experiência a ninguém ensinou, até agora, o que o corpo – exclusivamente pelas
leis da Natureza enquanto considerada apenas corporalmente, sem que seja
determinado pela mente – pode e o que não pode fazer.
Prazer, mestre soberano dos homens e dos deuses, diante de quem tudo
desaparece, até a própria razão, tu sabes quanto o meu coração te adora, e todos os
sacrifícios que te prestei. (…) Se perdi os meus dias na volúpia, ah ! devolvei-os a
mim, grandes deuses, para que eu volte a perdê-los !
Que a mulher se deixe penetrar até pelos dentes, ou consumir pela gravidez
e pela maternidade, que lhe pode ser fatal, ou então que o homem se deixe esgotar
pelas imensas exigências da mulher relativas às suas faculdades sexuais, não há
nisso diferença senão na maneira de obter o prazer, e cada parte está em relação
com a outra neste uso recíproco dos órgãos sexuais, na realidade um objeto de
consumo.
Depois do amor à vida, o sexo é a maior e mais ativa força e ocupa quase
todas as vontades e pensamentos da porção mais jovem da humanidade. Ele é a
meta final de praticamente todos os esforços humanos. Exerce uma influência
desfavorável nos assuntos mais importantes, interrompe a toda hora as ocupações
mais sérias e às vezes inquieta por algum tempo as maiores mentes humanas. (…)
O sexo é realmente o alvo invisível de toda ação e conduta e surge em toda parte,
apesar dos panos que lhe são atirados para cima. Ele é motivo da guerra e objeto
da paz, (…) fonte inesgotável da razão, chave de todas as insinuações e sentido de
todas as pistas misteriosas, de todas as ofertas silenciosas e olhares fortuitos, é nele
que pensam os jovens e, com frequência, os velhos também; é nele que pensam os
impúdicos todas as horas, e é também a fantasia recorrente e constante dos castos,
mesmo contra a vontade deles.
Arthur Schopenhauer, O mundo como vontade e representação, 1819
O amante quer ser amado por uma forma de liberdade, e reclama que essa
liberdade, enquanto liberdade, deixe de ser livre. Quer ao mesmo tempo que a
liberdade do outro se decida ela própria a tornar-se amor – e isso não apenas no
início da aventura, mas a cada momento – e, em simultâneo, que essa liberdade
seja seduzida por si própria, que se vire para si própria, como na loucura, como no
sonho, para desejar a sua submissão.
Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada, 1943
São inúmeros os casais que têm um pacto como o que Sartre e eu temos:
manter por meio de alguns desvios “uma certa fidelidade”. A iniciativa tem os seus
riscos. (…) Se os dois aliados não se permitem mais do que algumas aventuras
sexuais, não há dificuldades, mas a liberdade que eles se concedem também não
merece esse nome. Nós, Sartre e eu, fomos mais ambiciosos; quisemos viver
“amores fortuitos”.
O sujeito apaixonado é atravessado pela ideia de que está ou vai ficar louco.
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, 1977
A ideia dum amor que seria uma fusão entre dois seres, é uma falsa ideia
romântica.
Ser mandado por uma mulher seria para um homem a pior das ofensas.
Não se deve, sob nenhum pretexto, tolerar que as raparigas possam obter por
herança um Estado (...). Do mesmo modo, a democracia deve excluir tanto as
mulheres como os escravos (do poder dos seus maridos ou dos seus senhores),
assim como as crianças e os pupilos. (…) É por natureza, ou em virtude de uma
instituição, que as mulheres estão sob o poder dos seus maridos? (...) Se
meditarmos nas lições da experiência, veremos que a condição da mulher deriva da
sua fraqueza natural (...). Se as mulheres fossem por natureza iguais aos homens, a
experiência política tê-lo-ia proclamado. Como tais situações nunca se produziram
em lugar nenhum, é lícito afirmar sem hesitação que as mulheres não gozam
naturalmente de um direito igual ao dos homens, mas que elas são inferiores por
natureza.
Um homem de letras pode ter uma amante que faça livros, mas precisa que a
sua mulher faça camisas.
Por mais imperfeita que seja ainda a Biologia, ela parece-me poder
estabelecer solidamente a hierarquia dos sexos, demonstrando ao mesmo tempo
anatomicamente e psicologicamente que (…) o sexo feminino é constituído de
uma espécie de infância radical que o torna essencialmente inferior ao sexo
orgânico correspondente. A sujeição das mulheres é necessariamente infinitivo,
porque ela repousa sobre uma inferioridade natural que nada pode destruir.
Pois assim como a natureza equipou o leão com garras e dentes, o elefante
com presas, o javali com colmilhos, o touro com chifres e a siba com tinta, do
mesmo modo equipou a mulher com o poder da dissimulação como seu meio de
ataque e defesa, e transformou nesse dom toda a força que conferiu ao homem na
forma de força física e poder de raciocínio. A dissimulação portanto é inata nela
(…). Fazer uso disso a cada oportunidade é tão natural para ela como o é para um
animal empregar seu meio de defesa sempre que é atacado (…). Uma mulher
inteiramente confiável que não pratica a dissimulação é talvez uma
impossibilidade. Como sexo mais frágil, elas são levadas a se fiar não só na força
como na astúcia; daí sua sutileza instintiva, e sua tendência incorrigível a contar
mentiras.
O que é a verdade para uma mulher? Desde o início, nada foi mais alheio,
repugnante e hostil à mulher do que a verdade – sua grande arte é a mentira, sua
preocupação máxima é a mera aparência e beleza.
OS JUDEUS
Desprezar em nome da coisa pública a multidão de Judeus que rodeia as
nossas assembleias, foi da maior importância.
Sabes bem quão grande é o seu peso (a massa judia), quão grande é a sua
solidariedade, e quanto ela pesa nas nossas assembleias. Há quem os excite contra
mim e contra não importa qualquer cidadão honesto.
Eles são duma disposição diferente da dos Judeus nas outras partes
(subentenda-se, “do mundo”). Dado que os Judeus odeiam o nome de Cristo e têm
um rancor secreto contra os povos entre os quais vivem, estes pelo contrário
concedem altos atributos ao Nosso Salvador e amam extremamente a nação de
Bensalem.
Se Deus tivesse ouvido todas as orações do povo judeu, não restariam senão
judeus sobre a Terra; dado que eles detestavam todas as nações, eram por elas
detestados; e pedindo sem cessar que Deus exterminasse todos os que eles
odiavam, eles pareciam pedir a ruína da Terra inteira.
É com desgosto que falo dos Judeus : esta nação é, em muitas coisas, a mais
detestável que desde sempre manchou o mundo.
A escravatura é uma pena necessária, e foi imposta pela lei que manda
observar a ordem natural, como meio de defesa face a quem a perturba, pois se
nada tivesse sido feito contra a lei, a escravatura não teria nada a punir.
Não compreendo como é que Deus, que é um ser sábio, tenha posto uma
alma, sobretudo uma alma boa, num corpo todo negro. (…) É impossível supor
que essas pessoas sejam homens, sob pena de começarmos a crer que nós próprios
não somos cristãos.
Os seus olhos redondos, o seu nariz achatado, os seus lábios sempre grossos,
as suas orelhas de formatos diferentes, a lã das suas cabeças, a própria medida da
sua inteligência, colocam entre os negros e as outras espécies de homens
diferenças prodigiosas. E o que prova que eles não devem de maneira nenhuma
estas diferenças ao seu clima, é o facto que os negros e as negras transportados
para os países mais frios continuam a produzir animais da sua espécie, e que os
mulatos não são senão uma raça bastarda de um negro e de uma branca, ou de um
branco e uma negra.
A principal característica dos negros é que sua consciência ainda não atingiu
a intuição de qualquer objetividade fixa, como Deus, como leis, pelas quais o
homem se encontraria com a própria vontade, e onde ele teria uma ideia geral de
sua essência (…) O negro representa, como já foi dito o homem natural, selvagem
e indomável. Devemo-nos livrar de toda reverência, de toda moralidade e de tudo
o que chamamos sentimento, para realmente compreendê-lo. Neles, nada evoca a
ideia do caráter humano (…) A carência de valor dos homens chega a ser
inacreditável. A tirania não é considerada uma injustiça, e comer carne humana é
considerado algo comum e permitido (…) Entre os negros, os sentimentos morais
são totalmente fracos – ou, para ser mais exato, inexistentes.”
Os seus sacrifícios não são tidos como cruentos, pois pensam que Deus não
se compraz no sangue e na morte, pois deu a vida às criaturas para que a vivessem.
Nos animais não há nem inteligência, nem alma, ao contrário do que se ouve
ordinariamente. Eles comem sem prazer, gritam sem dor, crescem sem saber, não
desejam nada, não temem nada, não conhecem nada; Deus formou o seu corpo de
tal maneira que eles evitam maquinalmente e sem dor tudo o que é capaz de os
destruir.
Com raciocínios vagos prova-se tudo o que se quer e por consequência não
se prova nada. Dizem alguns autores que Deus reduziu os animais ao puro
mecanismo, mas será que é assim ? (…) Há outra coisa nos animais para além do
movimento. Eles não são puros autómatos, eles sentem.
Não tenho nenhuma dúvida de que faz parte do destino da raça humana, na
sua evolução gradual, deixar de comer animais, tão certo como as tribos selvagens
deixaram de se comer umas às outras.
Não vos esqueçais de que, por mais distante e escondido que esteja um
matadouro, há sempre cumplicidade.
O homem não é mais, nem melhor, do que o animal, ele próprio provém do
animal, e aparenta-se de maneira mais próxima com certas espécies, e de maneira
mais distante com outras. As suas conquistas exteriores não conseguiram apagar os
vestígios desta equivalência, que se manifesta tanto na conformação do seu corpo
como das suas disposições psíquicas. É essa a segunda humilhação do narcisismo
humano : a humilhação biológica.
Desde há cerca de quinze anos que o etólogo toma cada vez mais
consciência de que os problemas levantados pelos preconceitos raciais refletem, à
escala humana, um problema muito mais vasto e cuja solução é ainda mais urgente
: o das relações entre o homem e os outros seres vivos; e não servirá de nada
pensar resolvê-lo no primeiro plano se não atacarmos também no segundo,
porquanto é verdade que o respeito que desejamos obter do homem para com os
seus semelhantes não é senão um caso particular do respeito que aquele deveria
experimentar por todas as formas de vida.
A única coisa que distingue o bebé do animal, aos olhos dos que alegam ter
ele “direito à vida”, é ele ser, biologicamente, um membro da espécie Homo
sapiens, ao passo que os chimpanzés, os cães, os porcos não o são. Mas, usar essa
diferença como base para conceder direito à vida ao bebê e não a outros animais é,
naturalmente, puro especismo. É exatamente esse tipo de diferença arbitrária que o
racista mais grosseiro e declarado usa, na tentativa de justificar a discriminação
racial.
Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que possui.
Tal como os poetas amam os seus próprios versos, e os pais os filhos, assim
também os homens de negócios se interessam pelas suas riquezas como obra sua, e
também devido à sua utilidade, como os demais. Por isso é difícil o convívio com
eles, pois nada mais querem exaltar senão as suas riquezas.
A maior parte das coisas que fazemos e temos não é necessária; quem as
eliminar da própria vida será mais tranquilo e sereno.
“Meu..., teu...”, “Este cão é meu”, diziam aquelas pobres crianças; “é ali o
meu lugar ao sol”; Eis o começo e a imagem da usurpação de toda a terra.
A propriedade é um roubo.
O dinheiro, tornado fim em si mesmo, não deixa nem mesmo os bens que
por natureza são exteriores à economia; não apenas vem-se colocar como outra
finalidade da existência, no mesmo lugar que a sabedoria e a arte, a força pessoal,
e mesmo a beleza e o amor, mas além disso adquire uma tal força ao ponto de
engolir estes últimos, colocando-os como meios ao seu serviço.
A sociedade de consumo tem necessidade dos seus objetos para ser, e mais
precisamente, tem necessidade de os destruir.
No mundo tal como ele é agora, não vejo nenhuma forma de escapar à
conclusão de que cada um de nós que tenha uma riqueza excessiva para as suas
necessidades essenciais, deveria oferecer a maior parte dela para ajudar as pessoas
que sofram de uma pobreza tão terrível que ponha a sua vida em risco. É isso
mesmo : estou a dizer que você não devia comprar aquele carro novo, embarcar
naquele cruzeiro, redecorar a casa, ou adquirir aquele fato novo e caro. Afinal, um
fato de mil dólares poderia salvar a vida de cinco crianças.
O Homem não nasceu para trabalhar, nasceu para criar, para ser o tal poeta à
solta.
É muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das
duas. Porque dos homens se pode dizer duma maneira geral, que são ingratos,
volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são
inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos quando, como
acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. E perde-se
aquele príncipe que por ter acreditado as suas palavras se encontra nu de qualquer
outra defesa.
Mesmo no mais elevado do trono do mundo, não se está sentado senão sobre
o seu próprio cú. Os reis e os filósofos defecam, e as damas também.
Nada do que o soberano faz pode ser considerado injúria para qualquer
súbdito, e nenhum deles pode acusá-lo de injustiça.
O Estado é o mais frio de todos os monstros frios. Ele mente friamente; e eis
a mentira que escapa da sua boca : Eu, o Estado, sou o Povo.
Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra, 1883
O filósofo Zenão deu chicotadas no seu escravo, que tinha roubado. Dado
que este se justificou dizendo : “estava no meu destino roubar”, Zenão respondeu-
lhe : “ também estava no teu destino ser castigado”.
Um espírito sábio não condenará jamais alguém por ter usado de um meio
fora das regras ordinárias para regular uma monarquia e fundar uma república. O
que é de desejar é que se o facto é condenável, o resultado desculpa-o; se o
resultado é bom, ele é aceite.
Nicolau Maquiavel, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, 1531
Ora, as leis mantém-se em crédito, não porque sejam justas, mas porque são
leis. É esse o fundamento místico da sua autoridade, elas não têm nenhum outro.
Michel de Montaigne, Ensaios, 1580-1595
Pode-se destruir o homem que vos faz a guerra, ou que se revelou o inimigo
da vossa existência, pela mesma razão que se pode matar um lobo ou um leão.
John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo Civil, 1690
Todo o criminoso atacando o corpo social, torna-se pelos seus atos rebelde e
seu traidor, ele cessa de ser seu membro violando as suas leis, e a conservação do
Estado é incompatível com a sua, por isso é necessário que um dos dois pereça, e
quando se faz morrer o culpado não é como cidadão mas como inimigo.
Jean Jacques Rousseau, O contrato social, 1762
A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por
ela, mesmo os mais bem intencionados, transformam-se diariamente em agentes da
injustiça.
Rejeitar o direito natural significa dizer que todo o Direito é positivo, isto é,
que o Direito é determinado exclusivamente pelos legisladores e os tribunais dos
diferentes países. Ora, é evidente que é perfeitamente sensato e por vezes mesmo
necessário falar de leis ou de decisões injustas.
Leo Strauss, Direito Natural e História, 1953
O Homem não é o mais velho nem o mais constante problema que se tenha
colocado ao saber humano. (…) O Homem é uma invenção cuja recente data a
arqueologia de nosso pensamento mostra facilmente. E talvez o fim próximo.
Michel Foucault, As palavras e as coisas, 1966
Quando eles não são úteis, faz-se o mesmo que pessoas caridosas fazem
com as suas roupas velhas. Elas são dadas aos pobres. Aqueles direitos que
parecem inúteis em seu lugar são mandados para o exterior, junto com remédios e
roupas, a pessoas desprovidas de remédios, roupas e direitos.
Não nasci para ficar fixo num único canto. A minha pátria é o mundo
inteiro.
Séneca, Cartas a Lucílio, 65 d. C.
Se eu conhecesse alguma coisa que fosse útil à minha pátria, mas que fosse
prejudicial à Europa, ou que fosse útil à Europa, mas que fosse prejudicial ao
género humano, considerá-la-ia um crime.
É triste que geralmente para se ser bom patriota se seja inimigo do resto dos
homens. (…) Tal é portanto a condição humana, em que desejar a grandeza do seu
país é desejar mal aos seus vizinhos. Aquele que quisesse que a sua pátria não
fosse nunca nem maior, nem mais pequena, nem mais rica, nem mais pobre, seria o
cidadão do Universo.
O espírito patriótico é um espírito exclusivo, que nos faz ver como inimigos
todos os que não são nossos concidadãos. Tal era o espírito de Esparta e de Roma.
O tipo mais barato de orgulho é o orgulho nacional. Ele trai naquele que por
ele é possuído a ausência de qualidades individuais, das quais ele se poderia
orgulhar, caso contrário, não recorreria àquelas que compartilha com tantos
milhões. Quem possui méritos pessoais distintos reconhecerá antes, de modo mais
claro, os defeitos da sua própria nação, pois sempre os tem diante dos olhos. Mas
todo o pobre diabo, que não tem nada no mundo de que se possa orgulhar, agarra-
se ao último recurso, o de se orgulhar da nação à qual pertence.
Em lado algum encontrei pátria, nunca fui senão aquele que passa, em todas
as cidades; em todos os limiares, aquele que parte (...) Só amarei pois o país dos
meus filhos, a ilha desconhecida no coração dos mares longínquos; e para ela,
incansavelmente, dirigirei a minha rota.
Não se habita um país, habita-se uma língua. Uma pátria é isso e nada mais.
Émil Cioran, Confissões e anátemas, 1987
Dado que o seu propósito não é o trono – nem a púrpura – o filósofo pode
bem falar como só um homem livre pode fazer : o trabalho é uma coerção, a
família uma maneira de espantar a solidão e a penúria sexual, a Pátria uma retórica
de belicistas incultos.
A HISTÓRIA
O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo facto de o
primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um
escreveu o que aconteceu, e o outro o que poderia ter acontecido.
Quando se tem demasiada curiosidade acerca das coisas que se faziam nos
séculos passados, fica-se quase sempre na ignorância das que têm lugar no
presente.
À vaidade das nações, acrescentai a dos sábios; eles querem que o que eles
sabem seja tão antigo como o próprio mundo.
A História de toda a sociedade até aos nossos dias nada mais é do que a
História da luta da classes.
A História pura, a que não seria composta senão por factos, por factos
incontestáveis de que falei, seria totalmente insignificante, dado que os factos, não
têm significado.
“Os povos felizes não têm História” – de onde se infere que a supressão da
História tornaria os povos mais felizes. O menor olhar sobre os acontecimentos
deste mundo reencontra essa mesma conclusão. O esquecimento é o benefício que
a História quer corromper. Nada, na História, serve para ensinar aos homens a
possibilidade de viverem em paz. É o ensino oposto que dela se destaca – e se faz
acreditar.
A História, assim como a Natureza, não nos pode indicar o que é necessário
fazer. Somos nós que lhe damos uma finalidade e um sentido.
Há mais honestidade e rigor nas ciências ocultas do que nas filosofias que
atribuem um “sentido” à História.
O ser humano já não tem História, ou antes, dado que ele fala, trabalha e
vive, encontra-se no seu próprio ser completamente emaranhado em histórias que
não lhe são subordinadas nem homogéneas.
A História, querendo ser exato, não se repete, mas visto que as ilusões de
que o Homem é capaz são limitadas em número, elas retornam sempre com um
disfarce diferente, dando assim a uma porcaria ultra decrépita um ar de novidade e
um verniz trágico.
Não se trata portanto de saber onde vamos, nem de sondar as leis imanentes
do desenvolvimento histórico. Não vamos a parte nenhuma; a História não tem
sentido. Não há nada a esperar dela e também nada a sacrificar-lhe. Já não se trata
de nos devotarmos a uma Causa transcendente que resgataria os nossos
sofrimentos e nos pagaria o preço das nossas renúncias. Trata-se antes de saber o
que é que desejamos.
Mandam-se as crianças à Escola não tanto para que aprendam alguma coisa,
mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente
o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em
prática as suas ideias.
Nas Escolas de hoje o que fazemos é criar cabeças cúbicas. E nós como
perdemos essa memória do cúbico, a maior parte das vezes a pessoa sai da Escola
sendo uma besta quadrada.
Nem sequer sei que não sei nada; conjeturo, porém, que nem eu nem os
outros. De divisa me servirá essa proposição, à qual se seguirá estoutra : nada se
sabe. Se eu a souber provar, com razão concluirei que nada se sabe; se não souber,
tanto melhor, pois isso afirmava eu.
O que se afirma da existência absoluta das coisas não pensantes, sem relação
com o facto de serem percebidas, parece totalmente ininteligível. O seu ser é ser
percebido, e é impossível que elas tenham uma existência fora dos espíritos ou das
coisas pensantes que as percebem.
Se as nossas ciências são inúteis no objeto que se propõem, são ainda mais
perigosas pelos efeitos que produzem.
Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre as ciências e as artes, 1749
Não nego a utilidade das ideias abstratas e gerais, assim como não contesto
o valor das notas de banco. Mas assim como as notas de banco não são senão uma
promessa de ouro, também uma conceção não vale senão pelas perceções
eventuais que ela representa.
Uma teoria que não seja refutável por nenhum acontecimento, seja ele qual
for, é desprovida de carater científico.
Objeção contra a ciência: este mundo não vale a pena ser conhecido .
Acontece que o saber, que torna possível a ação e a regra, já não é o saber da
Vida, mas o da Ciência : tal é a revolução radical que veio subverter a humanidade
do homem, fazendo pairar sobre a sua essência a mais grave ameaça ocorrida
desde o início dos tempos.
A TÉCNICA
Convém recusar com empenho toda a máquina e toda a invenção que pode
abreviar o trabalho, diminuir a mão de obra, e produzir o mesmo efeito com menos
esforço.
Não é somente o mundo físico que agora está organizado pela máquina, mas
também o nosso mundo interior espiritual (…), os nossos modos de pensar e a
nossa sensibilidade. Os homens tornaram-se mecânicos através do seu espírito e do
seu coração como através das suas mãos.
O operário não sabe o que produz, e por consequência não tem o sentimento
de ter produzido, mas de se ter esgotado até ao vazio. Ele consome na fábrica, por
vezes até ao limite extremo, o que ele tem de melhor nele, a sua faculdade de
pensar, de sentir, de se mover; ele consome-as, pois é esvaziado delas; e no entanto
ele não pôs nada dele mesmo no seu trabalho, nem pensamento, nem sentimento,
nem mesmo, senão numa fraca medida, movimentos determinados por ele,
ordenados por ele em vista de um fim. A sua própria vida sai dele sem deixar
nenhuma marca à volta dele.
Seja qual for o país, capitalista ou socialista, o homem foi em todo o lado
arrasado pela tecnologia, alienado do seu próprio trabalho, feito prisioneiro,
forçado a um estado de estupidez.
Valerá a pena falar dos artistas de profissão? Cada um deles tem o seu amor-
próprio e, sem dúvida, preferiria ceder o seu património a desistir da sua reputação
de talento. É este, sobretudo, o caso do comediante, do cantor, do orador e do
poeta. Quanto menos talento têm, mais pretensões e impertinências ostentam, mais
se envaidecem e vangloriam. E todos conseguem vender as suas obras, porque é
sempre o mais inábil o que mais admiradores encontra. O pior agrada
necessariamente à maioria, porque esta é dominada pela loucura. É também o mais
inábil o mais satisfeito consigo mesmo e o mais admirado pelos outros.
Que vaidade existe na pintura, que atrai a admiração por semelhança com as
coisas, que enquanto coisas não são de modo nenhum admiradas !
Para que haja arte, para que a arte tenha uma ação ou uma qualquer
contemplação estética, é indispensável uma condição psicológica preliminar : a
embriaguez.
A Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida. Isto resulta não
apenas do instinto imitativo da Vida, mas do facto do fim confesso da Vida ser o
de encontrar expressão, e de a arte lhe oferecer algumas formas belas através das
quais poderá realizar a sua energia.
A arte pode ser boa, má, ou indiferente, mas seja qual for o adjetivo
empregue, devemos chamar-lhe arte, e uma obra de arte má continua a ser arte,
assim como uma má emoção continua a ser uma emoção.
Toda a obra de arte, mesmo quando é uma forma acabada e fechada na sua
perfeição, é aberta no sentido em que pode ser interpretada de diferentes maneiras,
sem que a sua irredutível singularidade seja alterada. Desfrutar de uma obra de arte
significa dar-lhe uma interpretação, uma execução, fazê-la reviver numa perspetiva
original.
A primeira invenção da palavra não veio das necessidades, mas sim das
paixões.
Jean-Jacques Rousseau, Sobre a origem das línguas, 1781
Comparadas entre si, as diferentes línguas mostram que não se chega jamais
pelas palavras à verdade, nem a uma expressão adequada, se não, não haveria
tantas línguas.
Quem escreve de modo claro tem leitores. Quem escreve de modo obscuro
tem comentadores.
Abelardo utilizava o exemplo do enunciado nulla rosa est (não há rosa) para
mostrar até que ponto a linguagem podia tanto falar das coisas existentes como das
coisas inexistentes.
Há realmente livros que são apenas “bem escritos”. São os livros banais,
com palavras trabalhadas ao torno, frases que se pretendem “despojadas”,
reduzidas ao “essencial”, e cruas. Mas como o que nelas está não representa um
sentir originário, nem uma observação imprevista, nem uma reflexão que nos
surpreenda pela justeza e profundidade, o que delas resulta é uma construção
pretensiosa, estéril, e quase sempre irritante.
Escrever bem, escrever mal. Assentemos neste princípio : nem todo o tipo
que escreve mal é estúpido, mas todo o tipo que é estúpido escreve mal.
- A Filosofia e o filosofar
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- A loucura
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- A morte
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- Deus e a religião
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- As relações humanas e a interação social
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- A mentira
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- O amor e a sexualidade
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- As mulheres
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- Os judeus
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- Os negros e a escravatura
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- Os animais
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- As riquezas monetárias e a propriedade privada
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- O trabalho
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- O regime político e o Estado
---------------------------------------------------------
- O Direito e a aplicação da Justiça
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- Os Direitos do Homem
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- A Pátria e o patriotismo
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- A História
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- A educação e a Escola
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- O conhecimento e a ciência
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- A técnica
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- A arte --------------------------------------------------------------------------------
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