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FICHA TÉCNICA :

Título: Quem tem medo dos filósofos? – Citações filosóficas polémicas


Autor: Victor Correia
Editoras: Maria João Mergulhão, e Maria da Graça Dimas
Revisão: José Eduardo Didier
Design de capa: DesignGlow.com
Paginação: Helena Gama
Impressão e acabamentos: Tipografia Lousanense, Lda.
1.a edição, Março de 2017
ISBN: 978-989-8816-51-1
Depósito Legal N.o 422842/17
© 2017, Verso da Kapa e Victor Correia
Verso da Kapa • Edição de Livros, Lda.
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PREFÁCIO
A palavra citação provém da palavra latina citatio, que por sua vez provém
da palavra latina citare, que significa convocar, solicitar, reunir. Segundo Pierre
Larousse, “ uma “boa” citação é a que “o moralista, o filósofo, o contador ou o
historiador colocam nas suas obras, não tanto para as ornamentar, mas sim para
lhes dar um valor maior” (Grande Dicionário Universal do século XIX, 1869). As
citações são pensamentos curtos, não quanto ao seu conteúdo, mas quanto à sua
forma, isto é, ao tamanho do que é escrito. As citações podem ter diversas formas
de expressão, e diferentes designações : aforismos, apotegmas, máximas, preceitos,
sentenças, ditos espirituosos, provérbios, ditados, lemas de vida de grandes
personalidades, slogans escritos, etc. Os aforismos são a forma mais consagrada e
reputada das citações. A palavra aforismo provém da palavra grega aphorismos ,
que significa definição, que por sua vez provém da palavra aphorizein , que
significa delimitar, separar, de apó, isto é, afastado, separado, ou proveniente,
derivado de, em conjunção com a palavra horos, que significa fronteira, limite.
Todavia, os aforismo são geralmente preceitos de carater moral, que têm em
comum com as citações apenas o facto de serem ditos de forma sintética, pois nem
todas as citações são de carater moral.
Uma outra forma de pensamentos muito conhecida são os provérbios,
semelhantes aos aforismos por serem de forma curta, mas nem todos os provérbios
são de natureza moral, como por exemplo provérbios sobre o tempo climatérico.
Por outro lado, os provérbios baseiam-se no senso comum, são expressões da
sabedoria popular, e não têm autor, enquanto que os aforismos e todo o tipo de
citações têm autor, e não um autor qualquer, pois há nas citações o culto do autor,
isto é, o facto de aquilo que é citado ter sido dito por uma personalidade célebre e
importante, o que aumenta a importância daquilo que é dito na citação.
Citar significa referir, aduzir, mencionar, e pode ser feito de forma direta ou
indireta. Uma citação direta é aquela que é retirada diretamente do autor, e que é a
reprodução integral daquilo que o autor disse, incluindo a pontuação. Uma citação
indireta, isto é, uma citação de citação, é aquela que é feita a partir de outro autor,
como faz por exemplo Platão em relação a Sócrates, que nada escreveu, e Platão
cita. Pode também acontecer conhecermos e referirmos citações a partir de autores
que escreveram, como sucede por exemplo em Fernando Pessoa, que nos seus
textos cita alguns autores. Uma citação é geralmente uma frase, ou um texto curto.
Todavia, nem toda a frase, ou nem todo o texto curto, é uma citação, enquanto
que toda a citação é uma frase ou um texto curto (no significado que lhe damos no
presente livro). Em si mesmos, a frase ou o texto curto são apenas uma frase ou um
texto curto. Até mesmo passando para o leitor, continuam a ser uma frase ou um
texto curto. Só passa a ser uma citação na medida em que são comunicadas pelo
leitor a terceiros, em que se transmite a alguém determinada afirmação feita por
um autor. Do ponto de vista académico, uma citação é utilizada para fundamentar,
ou justificar uma ideia ou uma tese que se pretende defender, a partir de um autor
reputado, para conferir maior credibilidade à ideia ou à tese que se pretende
defender. Mas uma citação (uma pequena frase), pode também ser algo muito
corrente, utilizada no dia a dia, semelhante aos provérbios. Embora não sejam
citações da sabedoria popular, como acontece com os provérbios, são por vezes
utilizadas coloquialmente (por exemplo no discurso de um orador), apesar de
serem citações de reputados autores. Temos por exemplo Óscar Wilde, que é um
dos autores estrangeiros mais citados, ou Fernando Pessoa, um dos autores
portugueses mais citados, nas mais diversas circunstâncias.
Algumas citações são delimitações de textos maiores, são portanto excertos,
mas há outras citações que foram assim mesmo escritas : são simples frases, em
forma de fragmentos, pois um fragmento não é apenas algo que resta, ou que não
chegou a ser terminado. Um fragmento é também, por vezes, um modo específico
de escrita, um estilo, uma forma própria de escrever, concisa mas concluída, e que
foi cultivada por alguns escritores, como por exemplo Novalis, August Schlegel,
Friedrich Schlegel, ou Stendhal. A escrita em forma de pequenos pensamentos,
frases, aforismos, máximas, sentenças, epigramas, fragmentos, foi também
cultivada por vários filósofos, como por exemplo pelos pré-socráticos, ou por
outros filósofos como Marco Aurélio, Montaigne, La Rochefoucauld, Pascal,
Francis Bacon, Helvétius, Gracián Y Morales, Nietzsche, Walter Benjamin,
Wittgenstein, Adorno, etc. La Rochefoucauld foi um dos maiores praticantes desta
forma de escrita, no seu livro Reflexões ou sentenças máximas morais, surgido em
1664, e de que apresentamos alguns exemplos ao longo do presente livro. Alguns
dos autores não escreveram apenas em forma de pensamentos ou pequenas frases,
mas eram também eles próprios colecionadores de pensamentos ou pequenas
frases, como por exemplo Hannah Arendt, ou Walter Benjamin, guardando nas
suas notas aquilo a que Vico denominava dictons d’or (“ditados de ouro”).
No que diz respeito a autores portugueses, temos por exemplo Fernando
Pessoa, que foi também um colecionador de citações, e de citadores a partir de
outros citadores, reconhecendo a sua importância ao afirmar o seguinte : “A
cultura é um resultado, não uma soma. É possível mostrar que se conhece os
gregos num poema onde nem se fala deles nem se é influenciado por eles. A
experiência é uma forma de cultura. Hegel, ao criticar Goethe, disse numa das suas
grandes frases, que ele tinha “toda a pobreza da juventude”. 1 A frase “Navegar é
preciso; viver não é preciso”, é uma citação muito conhecida em Fernando Pessoa,
que lhe é atribuída, mas que foi escrita por Plutarco, que por sua vez citava
Pompeio. Muitos mais exemplos poderíamos dar de frases e de pequenos excertos
de textos que o próprio Fernando Pessoa também citou, e em que comentou outros
autores, e por vezes de um outro citador. Através dessa tarefa Fernando Pessoa
condensou em algumas palavras-chave o pensamento de determinados autores que
lhe interessavam, pois como ele próprio afirma : “Entendamo-nos bem. Ninguém
pode ler tudo, sequer sobre um só assunto. É, pois necessário, muitas vezes, citar
em segunda-mão, quando não ainda mais translatamente”. 2
Nos autores que cultivaram a citação, enquanto forma de escrita concisa, a
concisão faz parte da sua própria estética literária, ou da sua forma de reflexão
filosófica, autores esses que tinham a capacidade de aprimorar um pensamento
numa única frase ou num pequeno parágrafo, e que é uma tarefa mais complexa do
que à primeira vista pode parecer, pois é difícil dizer muito em poucas palavras.
Uma citação, um pensamento, um aforismo, uma pequena frase, podem ter em si
mesmos uma força persuasiva maior do que um longo texto. Assim como uma boa
imagem vale mais do que mil palavras, também em muitos casos uma boa frase
vale mais do que mil palavras. Por vezes o leitor perde-se no emaranhado de um
1
Aforismos e afins, org. Richard Zenith, Lisboa, Ed. Assírio & Alvim, 2005, p. 62.
2
Pessoa Inédito, org. Teresa Rita Lopes, Lisboa, Ed. Livros Horizonte, 1993, p. 91.
texto, tanto aquele que argumenta filosoficamente, como aquele que contém
muitos floreados literários (não obstante a sua qualidade). Ora, o objetivo de uma
citação é focarmo-nos no essencial, na ideia base do autor, independentemente das
muitas justificações ou argumentações para desenvolver e apoiar a sua ideia, ou
das ornamentações estilísticas do texto. O objetivo de uma citação é fixar a atenção
sobre algo específico, concentrarmo-nos, fazer-nos parar sobre algo determinado,
e pensar. Conforme afirma o filósofo Schopenhauer, “usar muitas palavras para
comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade;
em contrapartida, o sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos pensamentos
em poucas palavras. (Arthur Schopenhauer, A arte de escrever, 1850).
As citações têm também um valor didático, pois chamam a atenção para
algo, é a partir delas que se pode partir para o autor, despertam melhor o desejo de
se ler os autores ou de os conhecer melhor. A propósito do seu didatismo,
conforme relata numa carta o filósofo francês Henri Bergson, a uma senhora que
um dia lhe pedia para ele expor a sua Filosofia em algumas palavras, que ela
pudesse compreender, Bergson respondeu-lhe numa frase, num pensamento, e
sobre esta sua atitude afirma Bergson : “Considero muito salutar este tipo de
exercício de contração filosófica que obriga a pôr a nu e a captar através de uma
fórmula simples e sugestiva a intuição geradora de uma doutrina ou de um sistema
de pensamento. É pena que não seja mais frequentemente praticado nas Escolas.” 3
No que diz respeito ao conteúdo das citações, estas podem ser de diverso
tipo, mas as citações literárias ou filosóficas são as mais conhecidas, não
simplesmente o seu conteúdo literário ou filosófico, mas por serem frases que
foram ditas por escritores e por filósofos. Porém, esta última distinção nem
sempre é fácil, pois por um lado há escritores que foram também filósofos, e há
filósofos que foram também escritores, e por outro lado há frase de escritores
carregadas de profundo significado filosófico, e que por vezes mais parecem ter
sido ditas ou escritas por filósofos. O que é uma citação filosófica ? é o facto de ter
sido dita por um filósofo ? ou é o seu conteúdo que a define enquanto tal,
independentemente de ter sido dita ou não por um filósofo ? Uma citação

3
Henri Bergson, “Lettre à Gilles Delleuze”, Lettres, Paris, Ed. PUF, 2015
filosófica pode não ter sido dita por um filósofo, assim como muitas afirmações
ditas por filósofos podem não ter significado ou interesse filosófico.
Um citação filosófica é portanto algo muito abrangente, e embora a nossa
escolha tenha sido sobretudo para citações de filósofos, por vezes incluímos neste
livro também citações de alguns escritores (por exemplo de Vergílio Ferreira, ou
de Fernando Pessoa). Se disséssemos : “Citações em Filosofia”, significaria apenas
e exclusivamente citações de filósofos, mas dado que se trata de “Citações
filosóficas”, incluímos também, por vezes, algumas citações de escritores com
frases de conteúdo filosófico, ou de escritores que estão também ligados à
Filosofia, e ainda de sociólogos, como por exemplo Augusto Comte, ou de
antropólogos, como por exemplo Edgar Morin.
Tratando-se de um livro de citações filosóficas polémicas, além de ser difícil
definir o conceito de filosófico, é também difícil definir o conceito de polémico,
pois aquilo que para algumas pessoas é polémico, para outras pessoas pode não o
ser, sendo antes considerado uma citação cujo conteúdo é normal, vulgar e
incontestável. Há muitas citações filosóficas que não são polémicas, mas antes
evidentes, como por exemplo a famosa afirmação de Descartes : Penso, logo
existo, mas por exemplo as suas afirmações sobre os animais, considerando-os
como máquinas, são polémicas.
O termo polémica provém do termo grego polemikós (relativo à guerra), o
que significa portanto uma disputa, um afrontamento de posições, uma
controvérsia. O significado do termo polémica evoluiu, e tem hoje a ver com uma
atitude crítica acalorada, uma discussão, ou um assunto que está sujeito ao debate,
em que se apresentam posições diferentes e opostas. A polémica é a atitude de
causar disputas ou controvérsias sobre determinado assunto, como por exemplo em
política, ou em religião, ou o próprio assunto, e portanto a polémica pode ser a
forma de tratamento do assunto discutido, ou o conteúdo daquilo que é discutido.
Há que distinguir portanto entre tema polémico e tratamento polémico. Há temas
polémicos, e que são tratados de forma polémica, sendo o seu tratamento polémico
originado pelo facto do tema ser polémico, ou pela tendência para agravar a sua
forma de tratamento; há temas não necessariamente polémicos, mas que podem ser
tratados de forma polémica; há temas vulgarmente polémicos, mas que podem ser
tratados de forma não polémica, mas sim com serenidade, seriedade, e
naturalidade.
Por outro lado, há diversos graus de polémica, isso depende das pessoas,
pois para algumas pessoas determinado tema é quase polémico, enquanto que para
outras é muito polémico, e para outras é mesmo chocante, ou escandaloso.
Embora nem tudo o que é polémico seja chocante ou escandaloso, tudo o que é
chocante ou escandaloso é polémico. Isso tem a ver com o conteúdo daquilo que é
dito, com aquilo que causa polémica de forma intensa, como por exemplo a
corrupção económica ou política, e com a sua forma de abordagem. Um assunto
polémico, embora possa ser tratado com seriedade, e ser alvo de uma reflexão
aprofundada, como é por exemplo o caso da corrupção dos políticos, tende muitas
vezes a ser abordado de forma sensacionalista, o que constitui uma abordagem
que tende para a vulgaridade, para o imediatismo e a superficialidade, suscitando a
especulação pura e simples, como sucede por exemplo em alguns dos meios de
comunicação social, nomeadamente a Imprensa.
Há afirmações ou temas que podem não ser polémicos hoje mas que o foram
no seu tempo, como sucedeu por exemplo com determinadas posições em matéria
de religião, e que fizeram com que alguns autores tivessem sido considerados
hereges, e que fossem até condenados e queimados na fogueira, assim como há
determinadas afirmações ou temas que não foram polémicos no seu tempo (como
por exemplo a defesa e a prática da escravatura), mas que hoje o são. Ao lermos
algumas das citações presentes neste livro poderemos ser levados a pensar que
essas afirmações são simplesmente produto da sua época, e que as consideramos
como polémicas por não terem nada a ver com a nossa época, mas isso não é
inteiramente verdade. Uma afirmação ou um pensamento polémico não são apenas
um produto da sua época, pois houve muitas afirmações ou pensamentos
polémicos contra a mentalidade da sua época. Por outro lado, nos tempos de hoje
também se continuam a proferir afirmações ou a exprimir pensamentos contrários
à mentalidade da nossa época. A relação com o tempo não é linear (uma coisa não
é polémica simplesmente devido à mudança da época), e por outro lado, a relação
com o polémico, em termos de época, ocorre de maneira diferente conforme os
temas. Por exemplo, a arte contemporânea é polémica, e para muitas pessoas até é
chocante, porque não tem nada a ver com a arte do passado (nesta atitude tem-se
como pressuposto um determinado ideal de arte, geralmente associado à arte
figurativa e ao culto da Beleza). O passado é portanto considerado o modelo, e a
arte de hoje é considerada oposta, por se ter afastado do passado, e portanto é
muito polémica. Na Filosofia acontece o contrário : determinada afirmação ou
reflexão filosófica para nós hoje é ou pode ser considerada polémica, e até mesmo
chocante, não por não ter nada a ver com o passado, mas sim por não ter nada a ver
com o presente (por exemplo, a defesa da escravatura nos escritos de alguns
filósofos, a discriminação em relação às mulheres e aos Judeus, nos escritos de
outros filósofos, o racismo nos escritos de outros filósofos, a defesa da pena de
morte nos escritos de outros filósofos, etc., etc.). Em alguns casos os filósofos
pensaram de acordo com a sua época, mas outros pensaram contra a sua época (por
exemplo, os filósofos ateus). Por um lado, aquilo que é considerado como
polémico resulta do facto de uma determinada afirmação do passado ser
considerada como polémica para nós hoje, mas não ter sido polémica para a
mentalidade da sua época. Por outro lado, aquilo que é considerado como
polémico é também uma determinada afirmação que não é polémica para nós hoje,
mas que foi polémica na sua época. Também houve filósofos que não pensaram
de acordo com a sua época, mas sim contra ela, e por isso foram polémicos. Ao
longo da História a Filosofia produziu ímpios, hereges, apóstatas, blasfemos,
ateus, pagãos, agnósticos, e infiéis, que foram por isso alvo de muita polémica.
No século XIX Alfred de Vigny (1797-1863), poeta romântico francês, foi
autor do célebre conceito de poetas malditos, que surge no seu livro Stello, em
1832. A expressão poetas malditos aplicava-se aos poetas do decadentismo, entre
os quais o poeta Verlaine, autor do livro Os poetas malditos. Esta expressão
alargou-se, e hoje utiliza-se também por vezes a expressão filósofos malditos. Mas
independentemente desta designação só ter criada no século XIX, os filósofos
malditos existiram sempre ao longo da História, e é caso para dizer que, quando a
Filosofia não era uma serva da Teologia, como aconteceu durante a Idade Média
(e ainda assim com algumas exceções), a Filosofia foi uma ocupação de livres
pensadores, e portanto de homens que no seu tempo foram alvo de muita polémica,
e portanto foram considerados como filósofos malditos.
Vejamos alguns exemplos de datas importantes : em 432 a. C. Anaxágoras
foi julgado e condenado sob a acusação de ateísmo. Em 399 a. C. Sócrates foi
condenado à morte sob a acusação de corrupção dos costumes, e de impiedade. Em
418 o imperador Honorius elaborou um decreto de expulsão de Pelágio, afirmando
que já não seria possível imaginar-se sábio “porque nega o que crê a comunidade
inteira”. Em 448 a obra de Porfírio foi condenada e destruída pelo fogo, sob ordem
do imperador Teodósio. Em 529 d. C. o imperador Justiniano proibiu o ensino da
Filosofia em Atenas, e a partir daí os filósofos gregos tiveram que se refugiar na
Síria e no Líbano. Em 1150 o Concílio reuniu-se para julgar e condenar o livro do
filósofo e teólogo Abelardo, Theologia Scolarium. Em 1188 o sultão Abu Yusuf ,
sob os reinos mouros de então, proibiu o ensino da Filosofia (nomeadamente o
filósofo Averróis) em Marrocos e em Espanha. Em 1493 Pico della Mirandola foi
condenado e excomungado pelo Papa, devido às suas ideias filosóficas cabalísticas
e teológicas. Em 1600 Giordano Bruno foi condenado e queimado na fogueira,
devido às suas ideias sobre o Universo. Em 1656 Espinosa foi expulso da
comunidade dos Judeus, em Amesterdão, devido às suas ideias religiosas (foi
acusado de panteísmo e de ateísmo), e foi decretada por essa comunidade a
proibição de ler os seus livros. Em 1752, em França, a Enciclopédia de Diderot
foi censurada e proibida, por pôr em causa os fundamentos ideológicos da
sociedade do seu tempo. Em 1849 Karl Marx foi expulso da cidade de Colónia,
devido aos seus artigos políticos na Imprensa. Em 1916 Bertrand Russell publicou
um panfleto em que se solidarizava com um objetor de consciência, que fora
condenado por um Tribunal, o que lhe valeu uma multa elevada, além de outras
ideias que Bertrand Russell defendia, como por exemplo o direito ao voto para as
mulheres, e a não intervenção de Inglaterra na primeira Grande Guerra Mundial.
Tudo isso acabou por acarretar a sua demissão de professor da Universidade de
Cambridge, sendo-lhe ainda recusado o passaporte, e chegou mesmo a ser preso,
em 1918, por delito de opinião. Ao longo da História, houve vários livros de
filósofos que foram alvo de polémica, e que foram colocados no índice dos livros
malditos : o Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdão; O Príncipe, de Maquiavel;
A Revolução das esferas celestes, de Copérnico; os Ensaios, de Montaigne; O
Espírito das Leis, de Montaigne; o Emílio, de Rousseau, etc., etc., todos esses
filósofos com ideias políticas, religiosas, científicas, morais, e pedagógicas,
consideradas perniciosas, malditas, perigosas, chocantes, e portanto polémicas.
Nos tempos de hoje existem também alguns filósofos malditos, como por exemplo
Peter Singer, um dos filósofos atuais mais conhecidos e controversos. A sua ética
aplicada tem sido bastante polémica em temas como o aborto, a libertação animal,
o infanticídio, a eutanásia, e a eliminação da pobreza.
Uma afirmação pode ser polémica em si mesma e ser proveniente de um
autor de quem se espera tal afirmação, havendo portanto aqui uma
complementaridade. Todavia, uma afirmação pode também ser polémica não
apenas devido ao seu conteúdo, mas também - e em alguns casos sobretudo -,
devido ao facto de ser proveniente de um autor do qual não se esperava tal
afirmação. Neste último caso o que é polémico, se não mesmo chocante, é o facto
de algumas das belas e profundas reflexões dos filósofos nada terem a ver com
outras reflexões, em que portanto o espírito idealizado, transcendente, e sublime
dos escritos de alguns filósofos perde muito do seu carater sagrado, ou com ele
contrasta, ao lermos outros escritos que são de autoria do mesmo filósofo, como
por exemplo John Locke, autor da célebre Carta sobre a tolerância, pois apesar
dele defender a tolerância, esta era só em relação às religiões (e não a todas), pois
Locke escreveu contra os Judeus, contra os negros, contra as mulheres, e contra os
homossexuais. Este filósofo, que foi um dos maiores representantes do
Iluminismo, e que portanto foi considerado iluminado, ilustrado, e esclarecido, só
o foi até certo ponto. Um outro exemplo é o de Hegel, que apesar de ser
considerado um grande filósofo, classificava a África como “o país da infância”, e
dizia que o negro era o representante da “natureza no seu estado mais selvagem,
em que no seu caráter não podemos encontrar nada que nos recorde o Homem”.
Também o filósofo Proudhon, por exemplo, dizia que a propriedade é um roubo,
mas considerava as mulheres como uma propriedade, e negava-lhes o direito de
cidadania. Estas atitudes não aconteceram só no passado, mas também nos tempos
de hoje. Por exemplo Heidegger, um grande filósofo contemporâneo, além da sua
conivência com o nazismo, escreveu algumas cartas em que ataca os Judeus.
Há que fazer portanto uma outra distinção: o autor polémico. O autor pode
ser polémico devido à sua Filosofia no seu todo ser polémica, ou devido a
determinadas afirmações suas serem polémicas, ou ainda a determinados aspetos
polémicos da sua vida, em que se nota uma grande incoerência. A polémica pode
suceder não apenas a propósito das obras que os filósofos escreveram, à
incoerência e à contradição naquilo que defenderam nas suas obras, mas também a
propósito das suas próprias vidas, que muitas vezes também não têm nada a ver
com os belos pensamentos e com as ideias morais que defenderam, como por
exemplo o filósofo Séneca, que defendia o desprendimento em relação às riquezas
materiais, mas que era rico e vivia rodeado de muitos bens materiais. Há muitos
mais exemplos de outros filósofos: Francis Bacon, que foi autor dos famosos
Ensaios ou conselhos civis e morais, mas que foi julgado e condenado por
corrupção (devido ao desvio de dinheiros públicos); John Locke, o filósofo da
tolerância, mas que era proprietário de escravos nas colónias norte-americanas;
Jean Jacques Rousseau, que escreveu um famoso tratado sobre a educação (o
Emílio), mas que abandonou os seus cinco filhos, e jamais os educou. Alguns
filósofos falaram sabiamente sobre o amor, como se soubessem muito sobre isso,
mas nunca amaram ninguém. Alguns filósofos pregaram a castidade, mas não
foram nada castos ao longo das suas vidas, antes pelo contrário. Jean Paul Sartre,
defensor do filósofo como homem empenhado, viveu praticamente escondido da
Segunda Grande Guerra Mundial. Simone de Beauvoir, apesar de ser feminista,
escreveu cartas escaldantes ao seu amante Nelson Algren, em que se revela uma
mulher submissa a ele. Michel Foucault deu um curso sobre A coragem da
verdade, escondendo no entanto cuidadosamente estar atingido por uma doença
incurável. Gilles Deleuze teorizou sobre as viagens, mas detestava viajar. Muitos
mais casos poderíamos apresentar. Estes são apenas alguns exemplos. Como já
dizia Séneca, no ano de 65 d. C., na sua Carta a Lucílio, “os costumes dos
filósofos não estão de harmonia com os preceitos; mas se não vivem como
ensinam, ensinam como se deve viver”. Na sua obra Da Vida Feliz, Séneca
também afirmava sobre si mesmo : “Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela
que sei dever ser vivida”.
Mas assim como muitos filósofos disseram coisas boas e tiveram vidas más,
também houve muitos filósofos que disseram coisas más mas as suas vidas não
foram conformes a essas coisas más que disseram, antes pelo contrário, foram
vidas consideradas exemplares, e que portanto, não praticaram as ideias negativas
que defenderam. Por isso, a polémica das citações apresentadas neste livro não se
deve apenas ao facto de virem de quem vêm, que contrastam com a boa imagem
que se tem do seu autor, mas também, e sobretudo, devido ao próprio conteúdo
daquilo que é dito (seja qual for o autor que o diz), e que contrasta sim com a
imagem demasiado idealizada que se tem por vezes da Filosofia.
A Filosofia é geralmente identificada com a Sabedoria, sendo estas duas
muitas vezes utilizadas como sinónimos. No entanto, existe tudo menos Sabedoria,
em muitas das afirmações polémicas que aqui citamos. Encontramos nestas
citações homens humanos, demasiado humanos, que expressam pensamentos que
são semelhantes ao pensar do homem comum, e por vezes o são até pior. A atitude
filosófica é geralmente considerada uma atitude cujas qualidades são a
ponderação, a serenidade, a prudência, o equilíbrio interior, a capacidade de
compreensão e de discernimento, o esclarecimento, a reflexão, e a racionalização.
Ora, essas qualidades não existem quando há reputados filósofos que fazem
afirmações de discriminação contra as mulheres, os negros, os judeus, os
homossexuais, ou contra os animais. Essas qualidades não existem quando há
reputados filósofos que fazem afirmações contra os Direitos do Homem, contra a
Democracia, etc. As virtudes associadas geralmente à Filosofia não existem
quando há reputados filósofos que fazem afirmações contra a Escola e a Educação,
ou contra a ciência a tecnologia. A atitude sábia não existe quando se faz a defesa
da escravatura, da mentira, e da loucura. A atitude sábia também não existe
quando se faz a defesa da pena de morte. As qualidades da sabedoria,
tradicionalmente associadas à Filosofia, não existem ao fazerem-se determinadas
afirmações contra a Pátria e contra o patriotismo, ou contra o amor entre duas
pessoas. As qualidades tradicionalmente associadas à sabedoria da Filosofia
também não existem ao ter-se uma imagem tão negativa e desesperante sobre as
relações entre as pessoas. Muitas destas citações são pessimistas, e muitas delas
não são apenas polémicas, mas também chocantes, como sucede por exemplo
quando Diderot, apesar de ser um filósofo enciclopedista, e portanto um homem
esclarecido e de mente aberta, como seria de esperar de alguém vindo do
Iluminismo, afirma no entanto : “O homem maligno é um homem que é preciso
destruir e não punir. (…) É preciso destrui-lo em praça pública”.
Historicamente, desde os filósofos da Antiguidade Clássica até aos dias de
hoje, houve várias rivalidades e lutas entre as escolas filosóficas, como por
exemplo entre o empirismo e o racionalismo, ou entre a Filosofia analítica e
Filosofia continental. Desde a os filósofos da Antiguidade clássica (por exemplo
Séneca, e Marco Aurélio), passando pela Filosofia Medieval (por exemplo Santo
Agostinho, e Boécio), até à Filosofia Moderna (por exemplo Montaigne, e Pascal),
até aos dias de hoje (por exemplo Alain de Bottom, e Lou Marinoff), a Filosofia é
considerada como uma terapia para a alma, como um consolo,4 e hoje fala-se
mesmo em aconselhamento filosófico, havendo atualmente consultas para
aconselhar as pessoas através da Filosofia, como sempre se fez e se faz através da
Psicologia e da Religião. Ora, pelo contrário, a Filosofia desassossega,
desestabiliza, desconstrói, desconsola, por isso os filósofos são agitadores, e
considerados como subversivos. Ao longo da História muitos filósofos foram
julgados e condenados, ainda hoje em alguns países não existe ensino da Filosofia,
e em alguns países muçulmanos a Filosofia é mesmo proibida. Por isso, assim
como se fala em tolerância em relação às outras religiões, às culturas e etnias
diferentes, às convicções político-partidárias consideradas radicais, e às conceções
de vida consideradas imorais, também se emprega o conceito de tolerância
filosófica, isto é, em relação à Filosofia, e à subversão filosófica. Tem sentido
falar também em tolerância filosófica, considerando-se a tolerância como tal não
por ser baseada em princípios filosóficos (embora também o possa ser), mas sim
por se referir aos próprios filósofos, e a muito do que eles disseram, o que fez com
que desde sempre fossem encarados com polémica. As muitas citações que se
seguem são um bom exemplo.

4
Ver por exemplo as seguintes obras : Lou Marinoff, Mais Platão, menos Prozac, Lisboa, Ed. Presença, 2002; Allain de Botton,
O consolo da Filosofia, Lisboa, Ed. Dom Quixote, 2012.
A FILOSOFIA E O FILOSOFAR

Não há nada de tão absurdo que não saia da boca de algum filósofo.

Cícero, Sobre a adivinhação, 44 a. C.

Se desejas ser filósofo, prepara-te para ser ridicularizado e escarnecido pela


multidão, e ouvires dizer : “Então este indivíduo tornou-se assim de repente
filósofo ?” E ainda : “De onde lhe vem estar ar tão orgulhoso ?”
Epicteto, Manual, 130 d. C.

Os costumes dos filósofos não estão de harmonia com os preceitos; mas se


não vivem como ensinam, ensinam como se deve viver.

Séneca, Cartas a Lucílio, 65 d. C.

O tempo da vida humana não é mais do que um instante; a sua substância,


mutável; o sentido que ela tem, obscuro; a massa do seu corpo, putrefação; a alma,
um torvelinho; o seu destino, um enigma; a fama, pura fumaça. A vida é um
combate perpétuo e uma parada que se faz em terra estranha, onde tudo é fadado
ao esquecimento... O que é, então, que pode tornar mais fácil a nossa passagem
pelo mundo ? Uma coisa apenas : a Filosofia.

Marco Aurélio, Pensamentos, 121-180 d. C.

Os homens que se entregam à sabedoria são de longe os mais infelizes.


Duplamente loucos, esquecem que nasceram homens e querem imitar os deuses
poderosos, e a exemplo dos Titãs, armados com as ciências e as artes, declaram
guerra à Natureza. Ora, os menos infelizes são aqueles que mais se aproximam da
animalidade e da estupidez.

Erasmo de Roterdão, Elogio da loucura, 1511

Para que servem esses píncaros elevados da Filosofia, em cima dos quais
nenhum ser humano se pode colocar, e essas regras que excedem a nossa prática e
as nossas forças ? Vejo frequentemente proporem-nos modelos de vida que nem
quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que
pior é, desejo de o fazer.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1588


Os filósofos não concebem de maneira nenhuma os homens tais como eles
são, mas como eles desejariam que fossem. Por consequência, a maior parte dos
filósofos (…) jamais teve em política visões que possam ser postas em prática.
Baruch Espinosa, Tratado teológico político, 1677

Procuremos tornar a Filosofia popular. Se queremos que os filósofos vão à


frente, aproximemos o povo do ponto onde estão os filósofos.

Denis Diderot, Pensamentos sobre a interpretação da Natureza, 1754

Ouso quase dizer que o estado de reflexão é um estado contra natura, e que o
homem que medita é um animal depravado.

Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da


desigualdade entre os homens, 1755

A Filosofia está para o mundo real, como a masturbação para o amor sexual.

Karl Marx, e Friedrich Engels, A ideologia alemã, 1846

Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; o que


importa, porém, é transformá-lo.

Karl Marx, Teses sobre Feuerbach, 1846

Para muitas pessoas, os filósofos são noctívagos inoportunos que as


perturbam durante o sono.

Arthur Schopenhauer, Aforismos para a sabedoria de vida, 1851


Quando perceber que o seu adversário é superior e que você acabará por
perder a razão, torne-se ofensivo, ultrajante, grosseiro, isto é, passe do objeto da
contestação (dado que aí a partida está perdida) ao contendor e ataque de algum
modo a sua pessoa.

Arthur Schopenhauer, A arte de ter razão , 1831

A vileza é uma qualidade que, nas questões de honra, supera e suplanta


qualquer outra. Se, por exemplo, durante uma discussão filosófica ou um colóquio,
o outro indivíduo demonstra um conhecimento de causa mais exato, um amor mais
rigoroso à verdade e um juízo mais sadio do que nós, ou uma superioridade
intelectual que nos faça sombra, podemos logo eliminar essa e qualquer outra
superioridade, para não dizer a nossa própria inferioridade assim posta a nu, e por
nossa vez sermos superiores, tornando-nos vis: uma vileza prevalece e leva a
melhor sobre qualquer argumento e, a não ser que o nosso adversário não replique
com uma vileza ainda maior, somos nós os vencedores, a honra fica connosco, e a
verdade, o conhecimento, o espírito e o engenho devem cair fora, derrotados e
encurralados pela vileza.

Arthur Schopenhauer, A arte de se fazer respeitar, 1830-1831

O calvário do filósofo, o seu “sacrifício pela verdade”, faz sair à luz o que
este ainda possuía de demagogo e de comediante, e por pouco que tenha sido
observado, compreender-se-á que se pode experimentar o desejo de ver, pelo
menos uma vez, em certos filósofos em estado de degenerescência, como
“mártires”, como comediantes, como tribunos. Porém é necessário aperceber-se da
farsa que se representa uma vez caído o pano, prova de que a grande tragédia
propriamente dita terminou, supondo que o conhecimento de toda a Filosofia tenha
sido uma grande tragédia.

Friedrich Nietzsche, Para além do bem e do mal, 1886


O truque da Filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache
digno de nota, e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda.

Bertrand Russell, Problemas da Filosofia, 1912

A maior parte das proposições e das questões que foram escritas sobre
matérias filosóficas são não apenas falsas, mas desprovidas de sentido. Por essa
razão, não podemos absolutamente responder às questões deste género, mas apenas
afirmar que são desprovidas de sentido.

Ludwig Wittgenstein, Tratado lógico filosófico, 1921

A essência da filosofia é o espírito de simplicidade. Quer consideremos o


espírito filosófico em si mesmo, quer em suas obras, quer comparemos a filosofia
à ciência, quer uma filosofia a outras filosofias, sempre descobrimos que a
complicação é superficial, a construção um acessório, a síntese uma aparência:
filosofar é um ato simples.

Henri Bergson, O Pensamento e o movente, 1934

Com os filósofos não se deve temer não compreender, mas sim temer
compreender.

Paul Valéry, Tal e qual, 1941

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a


vida merece ou não ser vivida é responder a uma questão fundamental da Filosofia.

Albert Camus, O Mito de Sisífo, 1942


O filósofo é o homem que desperta e que fala, e o homem contém
silenciosamente os paradoxos da Filosofia dado que, para ser completamente
homem, é preciso ser um pouco mais e um pouco menos que homem.

Maurice Merleau-Ponty, Elogio da Filosofia, 1953

A Filosofia é uma reflexão para a qual toda a matéria estranha é boa.

Georges Canguilhem, O normal e o patológico, 1966

A desmedida é a medida de toda a sabedoria filosófica.

Maurice Blanchot, A amizade, 1971

O primeiro pensador foi sem dúvida o primeiro maníaco do porquê.

Émil Cioran, Do inconveniente de ter nascido, 1973

Quando alguém pergunta para que serve a Filosofia, a resposta deve ser
agressiva, visto que a pergunta pretende-se irónica e mordaz. A Filosofia não serve
nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum
poder estabelecido. A Filosofia serve para entristecer. Uma filosofia que não
entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é uma Filosofia. A Filosofia
serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra
serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as
suas formas.

Gilles Deleuze, Nietzsche e a Filosofia, 1976


A sabedoria deve saber que traz em si uma contradição : é louco viver muito
sabiamente. Devemos reconhecer que, na loucura que é o amor, há a sabedoria do
amor. O amor da sabedoria – ou filosofia – tem falta de amor.

Edgar Morin, Pode haver uma sabedoria moderna ?, 1996

A história oficial da Filosofia constrói-se geralmente com pensamentos cuja


carga explosiva, real na sua época, foi entretanto desativada, e que subsistem hoje
em pensamentos inofensivos. Aqueles pensamentos que poderiam ter conservado a
sua virulência metafísica, política, social, ou ética, permanecem hoje na poeira das
bibliotecas.

Michel Onfray, Antimanual de Filosofia, 2001

A Filosofia é a lucidez intelectual levada até à loucura.

Fernando Pessoa, Escritos sobre génio e loucura, (s/d.)


A LOUCURA
Não se pode ser poeta sem alguma loucura.

Demócrito, Fragmentos, séc. V-IV a. C

Não existe um grande génio sem um certo grau de loucura.

Aristóteles, Poética, 335-323

Se me apetecer rir de um louco, não preciso de ir procurar muito longe; rio


de mim mesmo.

Séneca, Cartas a Lucílio, 65 d. C.

A loucura é a origem das façanhas de todos os heróis.

Erasmo de Roterdão, Elogio da loucura, 1511

Quanto mais louco o indivíduo é, mais feliz ele é.

Erasmo de Roterdão, Elogio da loucura, 1511

A mais subtil loucura é feita da mais subtil sabedoria.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580

A sabedoria tem os seus excessos, e não tem menos necessidade de


moderação do que a loucura.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580


Quem vive sem loucura não é tão sábio como crê.

La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1664

A loucura segue-nos em todos os momentos da nossa vida. Se alguns


parecem sábios, é apenas porque as suas loucuras são proporcionais à sua idade e à
sua fortuna.

La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1664

Os homens são tão necessariamente loucos, que não ser louco seria uma
outra forma de loucura.

Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

Como bem disse o sábio Mémnon, eu não conheço nada tão louco quanto
um grupo de sábios.

Jean-Jacques Rousseau, Carta a Voltaire, 10 de Agosto de 1775

Não é encerrando o teu próximo numa casa de saúde que provarás que tens
razão.

Fiódor Dostoiévski, Bobók, 1873

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na


loucura.

Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra, 1883


Louco não é o homem que perdeu a razão, louco é o homem que perdeu
tudo menos a razão.

Gilbert Chesterton, Ortodoxia, 1908

Todos têm o seu método tal como todos têm a sua loucura; mas só
consideramos louco aquele cuja loucura não coincide com a da maioria.

Miguel de Unamuno, Do sentimento trágico da Vida, 1913

Que a loucura seja a nossa sabedoria; que toda a nossa Vida seja um élan
que nos queima febrilmente.

Émil Cioran, O livro das ilusões, 1936

Um louco jamais faz senão realizar à sua maneira a condição humana.

Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada, 1943

A Psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura


que detém a verdade da Psicologia.

Michel Foucault, Doença mental e Psicologia, 1954

De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco.

Michel Foucault, História da loucura na idade clássica, 1972

O ser do Homem não seria o ser do Homem se ele não tivesse consigo a
loucura como o limite da sua liberdade.

Jacques Lacan, Escritos, 1966


Dado que chamamos loucura à conjunção da ilusão, da desmesura, da
instabilidade, da incerteza entre o real e o imaginário, da confusão entre o
subjetivo e o objetivo, do erro, da desordem, somos obrigados a ver o Homo
Sapiens como Homo Demens.

Edgar Morin, O paradigma perdido, 1973

Se não apreenderes o pequeno grau de loucura numa pessoa, não a podes


amar. Se não apreenderes o seu ponto de demência, passas ao seu lado. O ponto de
demência de alguém é a fonte do seu charme.

Gilles Delleuze, Abecedário, 1988

A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter
consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência
dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser
desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio.

Fernando Pessoa, Escritos sobre génio e loucura (s/d.)


A MORTE
Deve-se sair da vida como de um banquete : numa atitude decente.

Pitágoras, Escritos pitagóricos, séc. VI-V a. C.

O que aguarda os homens após a morte não é nem o que esperam nem o que
acreditam.

Heraclito, Fragmentos, séc. VI-V a. C.

Só é verdadeiramente livre quem está sempre pronto para morrer.

Diógenes de Sinope, in Diógenes Laércio, Vida dos filósofos ilustres, séc.


V-IV a. C.

Os homens, ao fugir da morte, perseguem-na.

Demócrito, Fragmentos, séc. V-IV a. C

Pois bem, é hora de ir : eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá
para o melhor, é obscuro a todos, menos a Deus.

Sócrates, citado em Platão, Apologia de Sócrates, séc. V a. C.

Ao filosofarmos como convém, não se faz outra coisa senão procurar a


morte e o estado que se lhe segue.

Platão, Fédon, séc. IV a. C.


A morte não é nada para nós, pois quando existimos não existe a morte, e
quando existe a morte, já não existimos mais.

Epicuro, Cartas, Máximas, e Sentenças, séc. III a. C.

O medo da morte é mais cruel do que a própria morte.

Públio Siro, Sentenças, séc. I a. C.

A morte não é um tormento, é o fim de um tormento.

Caio Salústio, Guerra catilinária, séc. I a. C.

Nenhuma desgraça pode atingir aquele que deixou de ser ; em nada ele
difere do que seria se jamais tivesse nascido, pois a sua vida mortal foi-lhe
arrebatada por uma morte imortal.

Lucrécio, Da Natureza, séc. I a. C.

Quem temer a morte jamais fará nada como homem vivo; já quem tiver
consciência de que essa foi a condição fixada quando estava sendo concebido,
viverá segundo esse decreto e, ao mesmo tempo, com idêntica robustez de alma,
fará com que nada do que lhe aconteça seja inesperado.

Séneca, Sobre a tranquilidade da alma, 63 d. C.

Não percebes que aquilo que para o Homem é o princípio de todos os


males, da sua baixeza de alma, e da sua cobardia, não é a morte, mas muito mais o
temor da morte ?

Epicteto, Manual, 130 d. C.


Não desprezes a morte ; dá-lhe bom acolhimento, como uma das coisas que
a Natureza quer.

Marco Aurélio, Pensamentos, 121-180 d. C.

Morrer é mudar de corpo, como o ator muda de roupa.

Plotino, Enéadas, 270 d. C.

Os homens recusam-se a pensar na hora da morte e, quando ela chega,


encontra-os despreparados. Surpresos, não conseguem escrever os seus
testamentos, e segundo as palavras de Demócrito, são forçados a carregar um
duplo fardo.

Proclo, Comentário a Parménides, séc.V

A morte não nos diz respeito nem vivos nem mortos : vivos, porque ainda o
estamos; mortos, porque já não existimos.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580

Os homens receiam a morte pela mesma razão que as crianças têm medo das
trevas : porque não sabem do que se trata.

Francis Bacon, Ensaios, 1597

Nem o sol nem a morte se podem olhar fixamente.

La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1664

É mais fácil suportar a morte sem pensar nela, do que suportar o pensamento
da morte sem morrer.
Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

O homem livre pensa em tudo menos na morte, e a sua sabedoria é uma


meditação não sobre a morte, mas sobre a Vida.

Baruch Espinosa, Ética, 1677

Estou para realizar a minha última viagem, um grande salto no escuro.

Thomas Hobbes, Cartas, 1679

Devemos chorar as pessoas à nascença, e não aquando da sua morte.

Charles Montesquieu, Os meus pensamentos, 1726-1727

Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis


têm o mesmo destino.

Voltaire, Cartas, 1775

A morte, ninguém pode experimentá-la em si mesmo (pois experimentar é


da alçada da Vida), só é possível percebê-la nos outros.

Emmanuel Kant, Antropologia do ponto de vista pragmático, 179

A morte é o génio inspirador, ou a musa da Filosofia, e por isso Sócrates a


definiu como "preparação para a morte". Sem ela ter-se-ia dificilmente filosofado.

Arthur Schopenhauer, As dores do mundo, 1850


Os homens vivem juntos, porém cada um morre sozinho, e a morte é a
suprema solidão.

Miguel de Unamuno, Do sentimento trágico da Vida, 1913

A crença na necessidade interna da morte não é talvez senão uma das


numerosas ilusões que nós criámos, para tornarmos suportável o fardo da
existência.

Sigmund Freud, Ensaios de Psicanálise, 1923

O ser humano desde que nasce é já bastante velho para morrer.

Martin Heidegger, Ser e Tempo, 1927

As meditações sobre a morte (género Pascal) são feitas por homens que não
têm que lutar pela Vida, de ganhar o seu pão, de sustentar filhos. A eternidade
ocupa aqueles que têm tempo a perder. É uma forma de lazer.

Paul Valéry, Pensamentos maus, 1942

Estar morto é estar entregue aos vivos.

Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada, 1943

A morte é, em primeiro lugar, uma imagem, e permanece uma imagem. Só


pode ser consciente em nós caso se exprima, e só se pode exprimir por metáforas.

Gaston Bachelard, A terra e os devaneios da vontade, 1948

Não se cessa de pensar na morte senão cessando de pensar.


Marcel Conche, A morte e o pensamento, 1973

Um ser querido, não é ele que nós choramos, mas sim nós mesmos.
Choramos essa parte dele que estava em nós, e que era necessária ao
funcionamento harmonioso do nosso sistema nervoso.

Henri Laborit, Elogio da fuga, 1976


DEUS E A RELIGIÃO
Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode mas não quer. Se quer mas
não pode, é impotente. Se pode mas não quer, é malévolo. Mas se Ele quer e pode,
de onde vem então o mal ?

Epicuro5 , séc. III a. C.

A tantos males pode a religião persuadir.

Lucrécio, Da natureza das coisas, séc. I. a.C.

Se queremos defender a verdade, reconheceremos que a perseguição injusta


é a dos ímpios contra a Igreja de Cristo, e que a perseguição justa é a da Igreja de
Cristo contra os ímpios. A Igreja de Cristo persegue por amor, as outras por ódio.
(…) A Igreja de Cristo persegue os seus inimigos e não os deixa até que a mentira
pereça neles e a verdade triunfe.

Santo Agostinho, Carta 185 a Bonifácio, 417

Por seu pecado, os hereges merecem não apenas serem separados da Igreja,
pela excomunhão, mas também do mundo, pela morte.

São Tomás de Aquino, Suma Teológica, 1264

Todos conhecem o direito que os teólogos têm de estender o céu, isto é, a


interpretação das Sagradas Escrituras, como se fosse uma pele que eles esticam à
sua vontade (…), os teólogos arrancam, às vezes, quatro ou cinco palavras de um
5
Apesar de atribuído a Epicuro por David Hume e outros autores, trata-se das palavras de Lactâncio (240-320 d.C.), na sua obra A
Ira de Deus, que as atribui a Epicuro. Porém, não se sabe se esta frase é realmente de Epicuro.
lugar e alteram-lhes o sentido para o acomodar ao seu discurso. Pouco lhes importa
que o que precede e o que se segue não tenha qualquer relação entre si, ou que haja
mesmo contradição.

Erasmo de Roterdão, Elogio da loucura, 1511

O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus, ser
infinito, possa ter-se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado ?

Giordano Bruno, A Causa, o Princípio e o Uno, 1584

Deus é um mecanismo imanente da Natureza e do Universo. Deus e


Natureza são dois nomes para a mesma coisa.

Baruch Espinosa, Ética , 1677

Os homens são extremamente levados a esperar e a temer, e uma religião


que não tivesse nem Inferno nem Paraíso, não lhes poderia agradar muito.

Charles Montesquieu, Do espírito das leis, 1748

Admitir qualquer conformidade entre a razão do homem e a razão eterna,


que é Deus, e pretender depois disso que Deus exige o sacrifício da razão humana,
é estabelecer que Deus quer e não quer de uma só vez.

Denis Diderot, Posfácio aos pensamentos filosóficos, 1762


Enquanto houver canalhas e imbecis, haverá religiões. A nossa é sem dúvida
a mais ridícula, a mais absurda, e a mais sanguinária que alguma vez existiu sobre
o mundo.

Voltaire, Carta a Frederico II da Prússia, 1767

A ignorância e o medo, são os dois pilares de toda e qualquer religião.

Paul d’Holbach, Sistema da Natureza, 1770

É um absurdo pensar que Deus tenha paixões humanas, e uma das mais
baixas das paixões humanas, um incessante apetite de aplausos.

David Hume, Diálogos sobre a religião natural, 1779

O desprezo pelas ciências humanas foi uma das primeiras características do


Cristianismo. (…) O triunfo do Cristianismo foi o sinal da inteira decadência das
Ciências e da Filosofia.
Marquês de Condorcet, Esboço de um quadro histórico dos progressos do
espírito humano, 1795

A grande viragem da História será quando o Homem tomar consciência de


que o Deus do Homem é o próprio Homem.

Ludwig Feuerbach, A essência do Cristianismo, 1841

O fundamento da crítica irreligiosa é a seguinte : foi o Homem que fez a


religião, não foi a religião que fez o Homem. (…) A religião é o suspiro da criatura
oprimida, a alma de um mundo sem coração, o espírito da situação sem espírito. A
religião é o ópio do povo.

Karl Marx, Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1844


Se há um ser que, antes de nós, e mais do que nós, tenha merecido o Inferno,
bem necessário é que eu o nomeie : Deus.

Pierre-Joseph Proudhon, Filosofia da miséria, 1846

Não há senão uma máxima absoluta : é que não há nada de absoluto.

Auguste Comte, Catecismo Positivista, 1852

O Homem não inventou Deus senão para poder viver sem se matar.

Fiódor Dostoiévski, Os Demónios, 1872

Jamais, nem diretamente nem indiretamente, nem sob a forma de dogma


nem sob a forma de parábola, uma religião tem conteúdo de verdade, pois toda a
religião nasceu do medo e da necessidade.

Friedrich Nietzsche, Humano, demasiado humano, 1878

Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro
da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus
continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós assassinos entre os
assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou
inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água
poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de
inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos
nós mesmo nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve
um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma
história mais elevada que toda a história até então.

Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência, 1882


As pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão à taberna: para
estupefazerem-se, para esquecerem-se da sua miséria, para imaginarem-se de
algum modo livres e felizes.
Mikhail Bakunin, Deus e o Estado, 1882

A religião não é apenas um sistema de ideias, ela é antes de mais um sistema


de forças.

Émile Durkheim, A divisão do trabalho social, 1893

Acreditar em Deus é antes de mais, e sobretudo, querer que ele exista.

Miguel de Unamuno, Do sentimento trágico da vida, 1913

Se Deus conhecia de antemão os pecados de que a humanidade seria


culpada, Ele foi então claramente responsável por todas as consequências desses
pecados quando decidiu criar o homem.

Bertrand Russell, Porque não sou cristão, 1927

Afirmo, pesando as minhas palavras, que a religião cristã tal como está
estabelecida nas Igrejas, foi e continua a ser o principal inimigo do progresso
moral no mundo.

Bertrand Russell, Porque não sou cristão, 1927

A religião é a neurose obsessiva da Humanidade, tal como a neurose


obsessiva das crianças, que decorre do complexo de Édipo, na relação com o Pai.
Sigmund Freud, O futuro de uma ilusão, 1927
A religião é uma tentativa de obter controle sobre o mundo sensorial, em
que somos colocados, por meio de desejo do mundo, que temos desenvolvido
dentro de nós, como resultado de necessidades biológicas e psicológicas. (…) Uma
tentativa de atribuir à religião o seu lugar na evolução do homem, ao que parece,
não é tanto para ser uma aquisição duradoura, como um paralelo à neurose que o
indivíduo civilizado deve passar no caminho da infância à maturidade.

Sigmund Freud, Moisés e o Monoteísmo, 1939

O próprio duma religião é o facto de não ser nem razoável nem credível; é
um remédio da imaginação para males de imaginação. (…) Ora, este crer fanático
é a fonte de todos os males humanos; a pessoa entrega-se e encerra-se no crer até
ao extremo da loucura, onde se ensina que é bom crer cegamente. Tudo isso é
religião, e religião leva à superstição.

Alain, Os Deuses, 1933

Chego a sentir uma espécie de estupefação à ideia de que possam existir


“loucos de Deus” que tudo lhe sacrificaram, a começar pela sua própria razão.
Frequentemente me acontece pensar como é que a pessoa se pode destruir por
Deus, num élan mórbido, numa desagregação da alma e do corpo. Há algo de
absurdo na ideia de Deus.

Emil Cioran, Sobre as lágrimas e os santos, 1937

O existencialismo ateu (…) declara que se Deus não existe, há no entanto


um ser cuja existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser
definido por qualquer conceito e que esse ser é o homem.

Jean Paul Sartre, O Existencialismo é um humanismo, 1946


O existencialista (…) sabe que é perturbador que Deus não exista, dado que
com isso desaparece toda a possibilidade de encontrar valores num céu inteligível.
Deixa de poder haver então bem à priori, dado que não há consciência infinita e
perfeita para o pensar.

Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo, 1946

Tu dizes : Deus existe, porque alguém há de ter feito isto. E eu pergunto: e


quem fez o que fez isto ? Tu respondes : se alguém o fizesse a ele, outro alguém
teria feito este. Ora, há de haver um termo, um fim para esta cadeia sucessiva.
Muito bem. Fico à espera de que pares. E nessa altura pergunto : quem fez esse?
Tu dizes : ninguém. Mas nesse caso eu economizo tempo e fico-me logo pelo
Universo. E digo : o Universo existe por si.

Vergílio Ferreira, Alegria Breve, 1965

Ao longo de A origem das espécies Darwin insiste sobre as imperfeições de


estrutura e de funcionamento do mundo vivo. Ele não cessa de sublinhar as coisas
bizarras, as soluções estranhas que um Deus razoável jamais teria utilizado. Um
dos melhores argumentos contra a perfeição da criação divina vem da extinção das
espécies. Pode-se estimar em vários milhões o número das espécies animais
vivendo atualmente. Mas o número das espécies que desapareceram após terem
povoado a Terra deve, segundo um cálculo de G.G. Simpson, elevar-se a 500
milhões.

François Jacob, O jogo dos possíveis, 1981

A religião torna-se portanto a prática da alienação por excelência : ela supõe


o corte do Homem consigo próprio e a criação dum mundo imaginário no qual a
verdade se encontra ficticiamente investida.

Michel Onfray, Tratado de ateologia, 2005


AS RELAÇÕES HUMANAS E
A INTERAÇÃO SOCIAL
Pode-se dizer dos homens, de modo geral, que são ingrato uns para com os
outros, volúveis, dissimulados ; procuram-se esquivar dos perigos e são
gananciosos.

Nicolau Maquiavel, O Príncipe, 1513

Nada existe de mais insocial e sociável do que o Homem : um pelo seu mau
hábito, o segundo pela sua natureza.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580

O homem que não tiver virtude própria invejará sempre a virtude dos outros.
A razão disso é que a alma humana nutre-se do bem próprio ou do mal alheio, e
quem carece de um, aspira a obter o outro, e quem está longe de esperar obter
méritos de outrem, procurará nivelar-se com ele, destruindo-lhe a fortuna.

Francis Bacon, Ensaios, 1597


O homem é o lobo do homem.6

Thomas Hobbes, Do cidadão, 1642

Assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e


irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a morte.

Thomas Hobbes, Leviatã, 1651

Aquilo que os homens chamam amizade não é senão uma mistura recíproca
de interesses, não é senão um comércio em que o amor próprio se propõe sempre
qualquer coisa a ganhar.

La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1664

Se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria
amigos no mundo.

Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

Os homens nascem todos em estado de guerra, e a primeira lei natural é a


guerra de todos contra todos.

Charles Montesquieu, Do espírito das leis, 1748

Nunca vi uma cidade que não desejasse a ruína da cidade vizinha, uma
família que não quisesse exterminar alguma outra família. Por toda parte os fracos
execram os poderosos diante dos quais rastejam e os poderosos os tratam como um
rebanho do qual se vende a lã e a carne. (…) E nas cidades que parecem gozar de
6
Esta citação é atribuída a Hobbes, por ele a ter proferido na sua obra, mas na verdade pertence a Plauto na sua obra Asinaria, II..
paz e nas quais as artes florescem, os homens são mais devorados pela inveja, por
cuidados e inquietudes, do que uma cidade sitiada o é pelos flagelos que suporta.

Voltaire, Cândido, 1759

O quadro da natureza só me oferecia harmonia e proporções, e o do gênero


humano só me oferece confusão e desordem ! a concórdia reina entre os seus
elementos, enquanto que os homens estão no caos. Os animais são felizes, só o seu
rei é miserável.

Jean Jacques Rousseau, Emílio, 1762

A vida selvagem ou estado de natureza, à qual os especuladores quiseram


conduzir os homens, a idade de ouro tão cantada pelos poetas, não é realmente
senão estados de miséria, de imbecilidade, e de desrazão.

Paul d’Holbach, O sistema social, 1773

O homem é o maior inimigo do homem. A opressão, a injustiça, o desprezo,


os ultrajes, as violências, as rebeliões, as guerras, as calúnias, as traições, as
perfídias, quantos males os homens fazem nascer para se atormentarem uns aos
outros !

David Hume, Diálogos sobre a religião natural, 1779

O meio que a Natureza utiliza para levar a bom termo o desenvolvimento de


todas as suas disposições é o antagonismo no interior da sociedade, na medida em
que este é, no entanto, no final de contas, a causa de uma organização regular
dessa sociedade. Entendo aqui por antagonismo a insociável sociabilidade dos
homens, ou seja, a sua inclinação para entrar em sociedade, inclinação que é
contudo acompanhada de uma repulsa geral a entrar em sociedade, que ameaça
constantemente desagregá-la.

Emmanuel Kant, Ideia de uma História universal do ponto e vista


cosmopolítico, 1784

Todo o ato de bondade é uma demonstração de poder.

Jeremy Bentham, Introdução aos princípios da moral e da legislação,


1789

Falais-nos com uma atitude quimérica de tal natureza, que nos diz para não
fazermos aos outros aquilo que não quereríamos que eles nos fizessem; mas este
absurdo conselho não nos veio jamais senão dos homens, e de homens fracos. O
homem forte não ousa jamais falar uma tal linguagem.

Marquês de Sade, A Filosofia na alcova, 1795

Se algo é justo para mim, é justo. Embora seja justo para mim, é possível
que não o seja para os outros; o problema é deles, e não meu : eles que se
desenrasquem !

Max Stirner, O único e a sua propriedade, 1845

A necessidade da sociedade, que nasce do vazio e da monotonia do próprio


íntimo, aproxima os homens uns dos outros. No entanto, as suas inúmeras
características repulsivas e os seus erros insuportáveis voltam a afastá-los. A
distância intermediária que, por fim, conseguem encontrar e que possibilita uma
coexistência está na cortesia e nas boas maneiras. Àquele que não mantém essa
distância, diz-se na Inglaterra: keep your distance ! Com ela, a necessidade de
calor recíproco é satisfeita de modo incompleto, porém não se sentem os espinhos
alheios. Entretanto, quem possui muito calor interno prefere renunciar à sociedade
para não provocar nem receber achaques.

Arthur Schopenhauer, Parerga e Paralipomena, 1851

O crescimento da comunidade frutifica no indivíduo um interesse novo que


o aparta da sua pena pessoal, da sua aversão à sua própria pessoa. Todos os
doentes aspiram instintivamente a organizar-se em rebanhos, o sacerdote ascético
adivinha este instinto e alenta-os onde quer que haja rebanhos, o instinto de
fraqueza forma-os, a habilidade do sacerdote organiza-os. Não nos enganemos: os
fortes aspiram a separar-se e os fracos a unir-se.

Friedrich Nietzsche, Genealogia da moral, 1887

O homem é déspota por natureza, e a mulher, tirana.

Fiódor Dostoiévski, O jogador, 1888

Quanto mais gosto da Humanidade em geral, menos aprecio as pessoas em


particular, como indivíduos.

Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov, 1889

Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no
máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre
cujos dotes instintivos deve-se ter em conta uma poderosa dose de agressividade.
Em resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial
ou um objeto sexual, mas também alguém que lhes pode satisfazer a sua
agressividade, a quem pode explorar a sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se das
suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo.

Sigmund Freud, O mal estar na civilização, 1930

A coesão social é devida, em grande parte, à necessidade para uma


sociedade de se defender contra outros, e (…) é antes de mais contra todos os
outros homens que se gosta dos homens com quem se vive.

Henri Bergson, As duas fontes da moral e da religião, 1932

Se o olhar pudesse matar, e se pudesse fecundar, a rua estaria cheia de


cadáveres e de mulheres grávidas.

Paul Valéry, Tal e qual , 1941

Garcin : “Não é necessário grelha, o inferno são os outros”.

Jean Paul Sartre, Entre quarto paredes, 1944

O mal que apenas um homem sentia torna-se peste coletiva. Na nossa


provação diária, a revolta desempenha o mesmo papel que o cogito na ordem do
pensamento: ela é a primeira evidência. Mas essa evidência tira o indivíduo da sua
solidão. Ela é um território comum que fundamenta o primeiro valor dos homens.
Revolto-me, logo existimos.

Albert Camus, O homem revoltado, 1951

O outro enquanto outro revela-se na máxima : “Não cometerás homicídio”


inscrita no seu próprio rosto.
Emmanuel Levinas, Totalidade e Infinito, 1961

Uma das formas mais universais de irracionalidade é a atitude tomada por


quase toda a gente em relação às conversas maldizentes. Muito poucos indivíduos
sabem resistir à tentação de dizer mal dos seus conhecidos, e mesmo, se a ocasião
se proporciona, dos seus amigos; no entanto, quando sabem que alguma coisa foi
dita em seu desabono, enchem-se de espanto e indignação. Certamente nunca lhes
ocorreu ao espírito que, da mesma forma que dizem mal de não importa quem,
alguém possa dizer mal deles.

Bertrand Russell, A conquista da felicidade, 1966


A MENTIRA

Se compete a alguém mentir, é aos líderes da cidade, no interesse da própria


cidade, em virtude dos inimigos ou dos cidadãos ; a todas as demais pessoas não é
lícito este recurso.

Platão, República , 380 a. C.

O espírito do Homem é feito de tal maneira que lhe agrada muito mais a
mentira do que a verdade.

Erasmo de Roterdão, Elogio da loucura, 1511


Com a mistura da mentira mais cresce o prazer. Haverá alguém que duvide
de que, tirando ao espírito humano as opiniões vãs, as esperanças lisonjeiras, as
falsas valorações, as imaginações pessoais, etc., para a maior parte das pessoas
tudo o mais não seria senão uma espécie de pobres coisas contraídas, cheias de
melancolia e de indisposição, enfim, desagradáveis ?

Francis Bacon, Ensaios, 1597

Dado que no estado da vida mortal pode acontecer muitas falhas, segue-se
que graves desordens acontecem no mundo quando, não se sendo incapaz de
alterá-las, não se recorre ao expediente de esconder as coisas em que não há mérito
de as deixar ver, ou porque são feias ou porque trazem o perigo de produzir maus
acidentes.

Torquatto Acetto, Da dissimulação honesta, 1641

As paixões são as seteiras do espírito. O mais prático consiste em


dissimular. Corre o risco de perder quem joga o jogo aberto.

Baltasar Gracián Y Morales, A arte da prudência, 1647

O verdadeiro e o falso são apenas atributos da linguagem, e não das coisas.


Onde não há linguagem, não há verdade nem falsidade.

Thomas Hobbes, Leviatã, 1651

Os homens não viveriam muito tempo em sociedade, se não fossem


enganados uns pelos outros.

La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1664


A mentira é apenas um vício quando faz mal; é uma grande virtude quando
faz bem. Sede portanto mais virtuoso do que nunca. É preciso mentir, não
timidamente, não por um tempo determinado, mas duramente e sempre.

Voltaire, Carta a Thiriot, 21 de Outubro de 1736

Engulamos de uma vez a mentira que nos adula, e bebamos gota a gota a
verdade, que nos amargura.

Denis de Diderot, O sobrinho de Rameau, 1762-1773

Alguns moralistas defenderam que jamais era permitido mentir, mesmo


quando se tratasse da salvação do Universo. Mas uma moral mais sábia não pode
adotar esta máxima insociável. Uma mentira que salvasse o género humano, seria a
ação mais nobre de que o Homem fosse capaz; uma mentira que salvasse a Pátria
seria uma ação muito virtuosa e digna de um bom cidadão; uma verdade que a
fizesse pôr em perigo, seria um crime detestável.

Paul d’Holbach, A moral universal, 1776

A mentira bem intencionada pode também por um acaso ser passível de


penalidade, segundo as leis civis. Porém, o que simplesmente por acaso se subtrai
à punição pode também julgar-se como injustiça, segundo leis externas. Se, por
exemplo, mediante uma mentira, a alguém ainda agora mesmo tomado de fúria
assassina, o impedisses de agir és responsável, do ponto de vista jurídico, por todas
as consequências que daí possam surgir.

Emmanuel Kant, A paz perpétua e outros opúsculos, 1795

Dizer a verdade é um dever. Mas o que é um dever ? a ideia de dever é


inseparável da de direitos : um dever é o que, num ser, corresponde aos direitos
dum outro. Onde não há direitos, não há deveres. Dizer a verdade não é portanto
um dever senão em relação àqueles que têm direito à verdade. Ora, nenhum
homem tem direito à verdade que prejudique o outro.

Benjamin Constant, As reações políticas, 1797

Assim como tenho o direito de previamente contrapor, quando há perigo de


dano, à vontade malvada de outrem e, pois, à violência física presumida uma
resistência física e, portanto, de guarnecer o muro de meu jardim com pontas
aguçadas e de soltar cães bravos no meu quintal e, mesmo, sob certas
circunstâncias, de pôr armadilhas e armas que disparam sozinhas, cujas más
consequências o invasor tem de atribuir a si próprio, também tenho o direito de
manter de todo modo em segredo aquilo cujo conhecimento me poria a nu diante
da agressão do outro e também tenho causa para isto, porque admito aqui como
facilmente possível a vontade má do outro e tenho de encontrar antes as
providências contrárias.

Arthur Schopenhauer, Sobre o fundamento da moral, 1840

A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais. (...)


Mente, que vais acabar atingindo a verdade.

Fédor Dostoieveski, Crime e castigo, 1866

Há uma inocência na mentira que é sinal de boa fé.

Friedrich Nietzsche, Para além do bem e do mal , 1886

Existe um ódio à mentira e à simulação nascido de um conceito irritável de


honra; existe um ódio similar nascido da cobardia, dado que a mentira está
“proibida” por um mandamento divino. Demasiado cobardes para mentir...

Friedrich Nietzsche, O crepúsculo dos ídolos, 1889


Por vezes a mentira exprime melhor do que a verdade o que se passa na
alma.
Máximo Gorki, Os vagabundos, 1892

O verdadeiro consiste simplesmente no que é vantajoso para o nosso


pensamento, assim como o justo consiste simplesmente no que é vantajoso para a
nossa conduta.

William James, O Pragmatismo , 1907

Na verdade, a verdade e a mentira são propriedades que possuem as crenças


e as afirmações; por consequência, num mundo puramente material, que não
conteria nem crenças nem afirmações, não haveria lugar nem para a verdade nem
para a mentira.

Bertrand Russell, Os problemas da Filosofia, 1912

A humildade consiste em transigir com a mentira.

Miguel de Unamuno, Vae Victoribus, 1913

Toda a criação é ficção e ilusão. A matéria é uma ilusão para o pensamento;


o pensamento é uma ilusão para a intuição; a intuição é uma ilusão para a ideia
pura; a ideia pura é uma ilusão para o ser. O ser é essencialmente ilusão e
falsidade. Deus é a mentira suprema.

Fernando Pessoa, Textos filosóficos, 1916

Gosto da verdade, acredito que a Humanidade precisa dela. Mas precisa


ainda mais da mentira que a lisonjeia, a consola, lhe dá esperanças infinitas. Sem a
mentira, a Humanidade pereceria de desespero e de tédio.
Anatole France, A vida em flor, 1922

A mentira é essencial à Humanidade. Nela desempenha porventura um papel


tão importante como a procura do prazer, e de resto é comandada por essa mesma
procura. Mentimos para proteger o nosso prazer, ou a nossa honra se a divulgação
do prazer for contrária à honra. Mentimos ao longo de toda a nossa vida, até, e
sobretudo, e talvez apenas, àqueles que nos amam. Só estes, com efeito, nos fazem
temer pelo nosso prazer e desejar a sua estima.

Marcel Proust, Em busca do tempo perdido (“A fugitiva”), 1927

O erro consiste na excessiva sinceridade. Quem mente envergonha-se,


porque em cada mentira deve experimentar o indigno da organização do mundo,
que o obriga a mentir, se ele quiser viver, e ainda lhe canta : “Age sempre com
lealdade e retidão”.

Theodor Adorno, Minima Moralia, 1946-1947

Somos todos impostores que nos suportamos uns aos outros. Quem não
aceitasse mentir veria a terra fugir sob seus pés : estamos biologicamente
obrigados ao falso.

Émil Cioran, Silogismos da amargura, 1952

Uma mentira pode ser menos mentirosa do que uma verdade bem escolhida.

Jean Rostand, Pensamentos dum biologista, 1954

A verdade é como a luz : cega. A mentira, pelo contrário, é um belo


crepúsculo, que dá a cada objeto um valor.
Albert Camus, A Queda, 1956

O segredo do sucesso, nos negócios como no amor, é a dissimulação. É


preciso dissimular o desejo que se sente, e é preciso simular o desejo que não se
sente. É preciso mentir.

René Girard, Mentira romântica e verdade romanesca, 1961

Dizer a um indivíduo o que se pensa dele e daquilo que ele faz, é assumir
uma superioridade muito abusiva. A franqueza não é compatível com um
sentimento delicado, nem mesmo com uma exigência ética.

Émil Cioran, Do inconveniente de ter nascido, 1973

É necessário portanto julgar o verdadeiro e o falso não segundo a sua


simples enunciação, mas segundo a disposição daquele que fala.

Alain, A teoria do conhecimento dos estoicos, 1991

Quando se apanha um mentiroso, ele pode perguntar-nos - e o que é verdade


? E o mais provável é termos de o deixar seguir.

Vergílio Ferreira, Escrever, 1996

O relevante na mentira não é nunca o seu conteúdo mas sim a


intencionalidade daquele que mente. A mentira não é algo que se oponha à
verdade, mas situa-se antes na sua finalidade : no vetor que separa o que alguém
diz do que pensa na sua ação discursiva referida aos outros. O decisivo é, portanto,
o preconceito que ocasiona no outro, sem o qual não existe mentira.

Jacques Derrida, História da mentira, 1997


O AMOR E A SEXUALIDADE

Apercebo-me de que uma forte paixão te empurra para os prazeres do amor.


Ora, se não violas a lei, se não perturbas de modo nenhum o que está estabelecido
pelo uso, se não afliges o teu próximo, se não fatigas o teu corpo, nem desperdiças
os meios necessários à existência, segue à vontade a tua inclinação.

Epicuro, Máximas, séc. III a. C.


Catão dizia que a alma de um homem apaixonado vivia num corpo estranho.

Plutarco, Vidas de homens ilustres, séc. I

Sou homem, não fiz nenhum voto de castidade, e jamais pretendi passar por
mais sábio que os outros homens.

René Descartes, Cartas, 1635

Considerando as diversas alterações que o corpo sofre e que a experiência


mostra quando a alma está agitada por diversas paixões, noto que no amor, quando
é sozinho, isto é, quando não é acompanhado de qualquer forte alegria, desejo ou
tristeza, o bater do pulso é compassado, e muito maior e mais forte que de
ordinário, um brando calor se sente no peito e a digestão dos alimentos se faz
muito rapidamente no estômago; de modo que esta paixão é útil à saúde.

René Descartes, As paixões da alma, 1649

O prazer, o amor, o apetite, ou o desejo, são palavras diversas de que nos


servimos para designar uma mesma coisa vista diversamente.

Thomas Hobbes, Da natureza humana, 1650

Acontece com o verdadeiro amor o mesmo que com a aparição dos


espíritos : toda a gente fala disso, mas poucas pessoas o viram.

François de La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas


morais, 1664

O facto é que ninguém determinou, até agora, o que pode o corpo, isto é, a
experiência a ninguém ensinou, até agora, o que o corpo – exclusivamente pelas
leis da Natureza enquanto considerada apenas corporalmente, sem que seja
determinado pela mente – pode e o que não pode fazer.

Baruch Espinosa, Ética, III, 1677

Prazer, mestre soberano dos homens e dos deuses, diante de quem tudo
desaparece, até a própria razão, tu sabes quanto o meu coração te adora, e todos os
sacrifícios que te prestei. (…) Se perdi os meus dias na volúpia, ah ! devolvei-os a
mim, grandes deuses, para que eu volte a perdê-los !

Julien Offray de La Mettrie, A arte de desfrutar, 1751

Encontrei sempre no sexo uma grande virtude consoladora, e nada adoça


mais as minhas aflições nos meus problemas do que sentir que uma pessoa amável
se interessa por ele.

Jean-Jacques Rousseau, Confissões, 1782

Em que classe de delitos situaremos essas irregularidades do espírito


venéreo que são consideradas como contranatura ? Torturei o meu espírito durante
anos a fim de encontrar, se possível, uma razão para as tratar tão severamente
como o são nos dias de hoje por todas as nações europeias, mas segundo o
princípio da utilidade, não encontrei nenhuma.

Jeremy Bentham, Defesa da liberdade sexual : escritos sobre a


homossexualidade, 1785

O puritanismo do cínico e a castidade do anacoreta, que se privam dos


prazeres da sociedade, são deformações da virtude que não incitam de forma
alguma à sua prática; abandonados um e outro pelas Graças, eles não podem
almejar o ideal da humanidade.
Emmanuel Kant, Antropologia do ponto de vista pragmático, 1798

Que a mulher se deixe penetrar até pelos dentes, ou consumir pela gravidez
e pela maternidade, que lhe pode ser fatal, ou então que o homem se deixe esgotar
pelas imensas exigências da mulher relativas às suas faculdades sexuais, não há
nisso diferença senão na maneira de obter o prazer, e cada parte está em relação
com a outra neste uso recíproco dos órgãos sexuais, na realidade um objeto de
consumo.

Emmanuel Kant, A Metafísica dos Costumes, “A Doutrina do Direito”,


1797
Quis-se atribuir a honra por inteiro ao amor exclusivo, mas a experiência
prova o contrário, produzindo a civilização apenas, no mundo galante dos homens,
tiranos e lorpas sob o manto da cortesia e da finura, e entre as mulheres, as abjetas
e as pérfidas, sob a capa do pudor e da sinceridade. (…) Abjeta civilização, que só
soube retirar da mais bela das paixões, ou seja, do amor, o último dos laços, o laço
forçado, o do casal.
Charles Fourier, O novo mundo amoroso, 1816
Toda a inclinação amorosa, com efeito, por mais elevada que ela seja, tem a
sua raiz unicamente no instinto sexual, e não é mesmo senão o instinto sexual mais
nitidamente determinado, mais especializado e, rigorosamente falando, mais
individualizado.
Arthur Schopenhauer, Metafísica do amor , 1818

Depois do amor à vida, o sexo é a maior e mais ativa força e ocupa quase
todas as vontades e pensamentos da porção mais jovem da humanidade. Ele é a
meta final de praticamente todos os esforços humanos. Exerce uma influência
desfavorável nos assuntos mais importantes, interrompe a toda hora as ocupações
mais sérias e às vezes inquieta por algum tempo as maiores mentes humanas. (…)
O sexo é realmente o alvo invisível de toda ação e conduta e surge em toda parte,
apesar dos panos que lhe são atirados para cima. Ele é motivo da guerra e objeto
da paz, (…) fonte inesgotável da razão, chave de todas as insinuações e sentido de
todas as pistas misteriosas, de todas as ofertas silenciosas e olhares fortuitos, é nele
que pensam os jovens e, com frequência, os velhos também; é nele que pensam os
impúdicos todas as horas, e é também a fantasia recorrente e constante dos castos,
mesmo contra a vontade deles.
Arthur Schopenhauer, O mundo como vontade e representação, 1819

O casamento não está fundado sobre o amor, mas sobre o instinto da


espécie, sobre o instinto da propriedade (a mulher e os filhos como propriedade),
sobre o instinto da dominação que sem cessar se organiza na família como uma
pequena soberania.

Friedrich Nietzsche, O crepúsculo dos ídolos, 1889

O sexo é uma necessidade humana natural, assim como a comida e a bebida.

Bertrand Russell, O casamento e a moral, 1929

A homossexualidade não é, certamente, nenhuma vantagem, mas não é nada


de que se tenha de envergonhar; ela não é nenhum vício, nenhuma degradação, e
não pode ser classificada como doença; nós a consideramos como uma variação da
função sexual.

Sigmund Freud, Carta a uma mãe americana, 1935

O amante quer ser amado por uma forma de liberdade, e reclama que essa
liberdade, enquanto liberdade, deixe de ser livre. Quer ao mesmo tempo que a
liberdade do outro se decida ela própria a tornar-se amor – e isso não apenas no
início da aventura, mas a cada momento – e, em simultâneo, que essa liberdade
seja seduzida por si própria, que se vire para si própria, como na loucura, como no
sonho, para desejar a sua submissão.
Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada, 1943

A miséria atual da juventude é um problema essencialmente sexual, surgido


da exigência de castidade imposta pela sociedade conservadora. Todos os
fenómenos conflituosos e neuróticos da puberdade tem idêntica origem : o
conflito entre o facto de que um adolescente alcance a sua maturidade sexual, e
com ela a necessidade fisiológica de relações sexuais, e o facto da impossibilidade
económica e sociológica de a realizar.

Wilhelm Reich, A revolução sexual , 1945

Se a história sexual dum homem fornece a chave da sua vida , é porque na


sexualidade do homem se projeta a sua maneira de ser a respeito do mundo, isto é,
a respeito dos outros homens.

Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da Perceção, 1945

Estar apaixonado não é necessariamente amar. Estar apaixonado é um


estado; amar é um ato. Sofre-se um estado, mas decide-se um ato.

Denis de Rougemont, O amor e o Ocidente, 1948

Começar como poeta e acabar como ginecologista ! De todas as condições


possíveis, a menos invejável é a de amante.

Emil Cioran, Silogismos da Amargura, 1952

Entre todos os problemas, o erotismo é o mais misterioso, o mais geral, o


mais à distância.
Georges Bataille, O Erotismo, 1957

São inúmeros os casais que têm um pacto como o que Sartre e eu temos:
manter por meio de alguns desvios “uma certa fidelidade”. A iniciativa tem os seus
riscos. (…) Se os dois aliados não se permitem mais do que algumas aventuras
sexuais, não há dificuldades, mas a liberdade que eles se concedem também não
merece esse nome. Nós, Sartre e eu, fomos mais ambiciosos; quisemos viver
“amores fortuitos”.

Simone de Beauvoir, A força das coisas, 1963

Amar é essencialmente querer ser amado.


Amar é dar aquilo que não se tem a alguém que não o quer.

Jacques Lacan, Seminário XI, 1964

O sujeito apaixonado é atravessado pela ideia de que está ou vai ficar louco.
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, 1977

A sedução é da ordem do ritual, o sexo e o desejo são da ordem do natural.


O que está em confronto no masculino e no feminino são estas duas formas
fundamentais, e não qualquer diferença biológica ou rivalidade ingénua do poder.

Jean Baudrillard, A sedução, 1980

A ideia dum amor que seria uma fusão entre dois seres, é uma falsa ideia
romântica.

Emmanuel Levinas, Ética e infinito, 1982

No sadomasoquismo há uma espécie de criação, uma atividade criativa de


que uma das principais características é o que eu chamo a des-sexualização do
prazer. A ideia de que o prazer físico provém sempre do prazer sexual e a ideia de
que o prazer sexual é a base de todos os prazeres possíveis, penso que é algo
verdadeiramente falso.

Michel Foucault, Ditos e escritos, 1982

A separação da sexualidade em relação ao amor não exclui a existência do


sentimento, do afeto, ou da ternura. Não querer empenhar-se para a vida numa
história de longa duração não impede a promessa duma doçura amorosa.

Michel Onfray, O poder de existir – manifesto hedonista, 2006

Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de


alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos que amamos.

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego (s/d.)

Existe na nossa civilização um preconceito e um juízo comum, de que a


homossexualidade é imoral, e de que, portanto, deve ser combatida e extirpada.
Esse preconceito é injusto, a homossexualidade não é imoral, e portanto não há
mister que se combata, ou que se promova a sua extirpação.

Fernando Pessoa, Espólio da BNP, 55 D-21 (s/d.)


AS MULHERES
Há um princípio bom, que criou a ordem, a luz, e o homem, e um princípio
mau, que criou o caos, as trevas, e a mulher.

Pitágoras, Escritos pitagóricos, séc. V a.C.

Ser mandado por uma mulher seria para um homem a pior das ofensas.

Demócrito, Fragmento 111, séc. V-IV a. C.

Entre os homens que receberam a existência, todos os que se mostraram


covardes e passaram a sua vida a praticar o mal, foram segundo toda a
probabilidade, transformados em mulheres na segunda encarnação.

Platão, Timeu, 90 , 360 a. C.

Conheces alguma profissão humana em que o género masculino não seja


superior, em todos os aspetos, ao género feminino ?

Platão, República, X, 380 a. C.

A mulher é um macho mutilado. (…) Um macho é um macho em virtude


duma capacidade particular. A mulher é mulher em virtude duma incapacidade
particular.

Aristóteles, Geração dos Animais, I, 72 8a ; 82 f

É preferível para todos os animais domésticos serem dirigidos por seres


humanos. Da mesma maneira, a relação entre o homem e a mulher é, por natureza,
uma relação em que o homem é superior, e a mulher inferior, em que o homem
dirige, e a mulher é dirigida.
Aristóteles, Política, 1254 b, 330-323 a.C.

Homem, tu és o mestre, e a mulher é a tua escrava, é Deus quem o quis.


Sim, as vossas mulheres são as vossas servas, e vós sois os mestres das vossas
mulheres.

Santo Agostinho, Sermão 322, verso 405

Considerada quanto à natureza específica, a mulher é algo defeituoso, uma


vez que a força ativa do sêmen masculino tende a produzir uma imagem perfeita
de si mesma no sexo masculino. Se é porém gerada uma fêmea, ela o é em
decorrência duma fraqueza da potência ativa, ou por causa de alguma má
disposição da matéria.

São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, Q 92,1

Uma mulher é já bastante sábia quando sabe reconhecer a diferença entre a


camisa e o casaco do seu marido. (…) Quando vejo uma mulher ligada à retórica,
às leis, à lógica, entro em pânico. (…) Na verdade, segundo a lei que a Natureza
lhes concedeu, não compete propriamente a elas querer e desejar, o seu papel é
sofrer, obedecer, e consentir.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580

Não se deve, sob nenhum pretexto, tolerar que as raparigas possam obter por
herança um Estado (...). Do mesmo modo, a democracia deve excluir tanto as
mulheres como os escravos (do poder dos seus maridos ou dos seus senhores),
assim como as crianças e os pupilos. (…) É por natureza, ou em virtude de uma
instituição, que as mulheres estão sob o poder dos seus maridos? (...) Se
meditarmos nas lições da experiência, veremos que a condição da mulher deriva da
sua fraqueza natural (...). Se as mulheres fossem por natureza iguais aos homens, a
experiência política tê-lo-ia proclamado. Como tais situações nunca se produziram
em lugar nenhum, é lícito afirmar sem hesitação que as mulheres não gozam
naturalmente de um direito igual ao dos homens, mas que elas são inferiores por
natureza.

Baruch Espinosa, Tratado Teológico Político, 1670

A dignidade de uma mulher é permanecer desconhecida. A sua única glória


reside na estima do seu marido e no serviço da sua família. Deus criou-a para
suportar as injustiças do homem e para o servir. Toda a educação das mulheres
deve ser relativa aos homens. Agradar-lhes, ser lhes úteis, fazer-se amar e honrar
por eles, educá-los quando são jovens, cuidar deles quando são grandes, aconselhá-
los, consolá-los, tornar-lhes a vida agradável e doce: estes são os deveres das
mulheres de todos os tempos, e aquilo que se lhes deve ensinar desde crianças.

Jean Jacques Rousseau, Emílio, 1762

Estudos laboriosos e reflexão penosa, mesmo que uma mulher aí contribua


com algo elevado, anulam as vantagens próprias do seu sexo, e, ainda que possam
ser objeto de uma fria admiração, pela raridade do acontecido, ainda assim ao
mesmo tempo enfraquecem aquilo que há nela de atraente e com o qual exerce seu
grande poder sobre o homem. Numa mulher com a cabeça cheia de grego, como a
senhora Dacier, ou que entra em disputas radicais sobre mecânica, como a
marquesa de Châtelet, só falta mesmo uma barba, pois esta talvez exprimisse mais
claramente os ares de profundidade à qual aspiram.

Emmanuel Kant, Observações sobre o sentimento do belo e do sublime,


1764
Em geral, ela é bem menos forte do que o homem, menos capaz de trabalhos
prolongados; o seu sangue é mais aquoso, a sua carne menos compacta, os seus
cabelos mais compridos, os seus membros mais arredondados, os braços menos
musculosos, a boca mais pequena, as nádegas mais levantadas, as ancas mais
volumosas, o ventre mais largo. Estes caracteres distinguem as mulheres em toda a
terra, em todas as espécies, desde a Lapónia até à costa da Guiné, na América ou
na China (...). Não é de admirar que em todo o lado o homem se tenha tornado
senhor da mulher, sendo tudo fundado na força. Ele tem, de um modo geral, mais
superioridade pelo corpo e mesmo pelo espírito.

Voltaire, Dicionário Filosófico, 1769

Um homem de letras pode ter uma amante que faça livros, mas precisa que a
sua mulher faça camisas.

Denis Diderot, Jacques, o fatalista e o seu amo, 1783

A diferença que há entre o homem e a mulher é a mesma que há entre um


animal e uma planta. O animal corresponde mais ao temperamento masculino, a
planta mais ao da mulher, pois o seu desenvolvimento é mais tranquilo, tendo
como princípio a unidade indeterminada da sensibilidade. Se as mulheres
estiverem à frente do governo, o Estado está em perigo, pois elas não agem
segundo as exigências de universalidade, mas segundo as inclinações e as opiniões
contingentes. A formação das mulheres ocorre, não se sabe ao certo como, mais
por meio (…) das circunstâncias da vida do que pela aquisição de conhecimentos.
Os homens, ao contrário, só se impõem pela conquista do pensamento e pelos
numerosos esforços de ordem técnica. (…)
As mulheres são passíveis de educação, mas não são feitas para atividades
que demandam uma faculdade universal, tais como as ciências mais avançadas, a
Filosofia e certas formas de produção artística. As mulheres podem ter idéias
felizes, gosto e elegância, mas não podem atingir o ideal.
Georg Hegel, Princípios da Filosofia do Direito, 1821

A mulher é uma estátua viva da estupidez. O Criador, fazendo-a dum resto


de argila, esqueceu-se da inteligência. (…) Nunca encontrei uma mulher que
estivesse em estado de seguir um raciocínio durante um quarto de hora.

Hugues de Lamennais, A religião considerada nas suas relações com a


ordem política e civil, 1825

Por mais imperfeita que seja ainda a Biologia, ela parece-me poder
estabelecer solidamente a hierarquia dos sexos, demonstrando ao mesmo tempo
anatomicamente e psicologicamente que (…) o sexo feminino é constituído de
uma espécie de infância radical que o torna essencialmente inferior ao sexo
orgânico correspondente. A sujeição das mulheres é necessariamente infinitivo,
porque ela repousa sobre uma inferioridade natural que nada pode destruir.

Auguste Comte, Carta a Stuart Mill, 18 de Julho de 1843

A mulher é produtiva pela sua influência sobre o homem, tanto no ideal


como no real. Mas o seu pensamento raramente atinge uma realidade sólida; e é
por isso que ela tem criado tão pouco.

Jean Michelet, Do padre, da mulher e da família, 1844

Idéias desconexas, raciocínios ilógicos, ilusões tomadas por realidade,


analogias vazias transformadas em princípios, uma disposição de espírito
fatalmente inclinada à destruição: esta é a inteligência da mulher (…). A mulher
não generaliza de modo algum, não sintetiza. A sua mente é antimetafísica. (…) A
mulher não filosofa.
Pierre-Joseph Proudhon, A Justiça na Revolução e na Igreja, 1858

Pois assim como a natureza equipou o leão com garras e dentes, o elefante
com presas, o javali com colmilhos, o touro com chifres e a siba com tinta, do
mesmo modo equipou a mulher com o poder da dissimulação como seu meio de
ataque e defesa, e transformou nesse dom toda a força que conferiu ao homem na
forma de força física e poder de raciocínio. A dissimulação portanto é inata nela
(…). Fazer uso disso a cada oportunidade é tão natural para ela como o é para um
animal empregar seu meio de defesa sempre que é atacado (…). Uma mulher
inteiramente confiável que não pratica a dissimulação é talvez uma
impossibilidade. Como sexo mais frágil, elas são levadas a se fiar não só na força
como na astúcia; daí sua sutileza instintiva, e sua tendência incorrigível a contar
mentiras.

Arthur Schopenhauer , Parerga e Paralipomena, 1851

O que é a verdade para uma mulher? Desde o início, nada foi mais alheio,
repugnante e hostil à mulher do que a verdade – sua grande arte é a mentira, sua
preocupação máxima é a mera aparência e beleza.

Friedrich Nietzsche, Para além do bem e do mal, 1886

Vais ter com mulheres ? Não te esqueças do chicote !

Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra, 1883

O destino da mulher deve permanecer o que ele é : na sua juventude, o de


uma deliciosa e adorável coisa; na idade madura, o de uma esposa amada (…). A
vontade de triunfar, numa mulher, é uma nevrose, o resultado de um complexo de
castração de que ela não se cura senão por uma total aceitação do seu destino
passivo.

Sigmund Freud, A feminilidade, 1932

OS JUDEUS
Desprezar em nome da coisa pública a multidão de Judeus que rodeia as
nossas assembleias, foi da maior importância.

Cícero, Por Flaco, 54 a. C.

Sabes bem quão grande é o seu peso (a massa judia), quão grande é a sua
solidariedade, e quanto ela pesa nas nossas assembleias. Há quem os excite contra
mim e contra não importa qualquer cidadão honesto.

Cícero, Por Flaco, 54 a. C.

Seria melhor forçar os Judeus a trabalhar (como o fazem os príncipes


italianos), em vez de os deixar enriquecer na ociosidade através dos empréstimos
com juros. Se o não fizerem, os príncipes ficam sem o seu dinheiro, tolerando que
os Judeus enriqueçam pelo roubo.

São Tomás de Aquino, Do governo dos Judeus (carta à duquesa de


Brabante), 1267
Um judeu, um coração judaico, são tão duros como a madeira, a pedra, o
ferro, como o próprio diabo. Em suma, são filhos do demónio, condenados às
chamas do Inferno. Os judeus são pequenos demónios destinados ao inferno.

Martinho Lutero, Sobre os Judeus e as suas mentiras, 1543

Eles são duma disposição diferente da dos Judeus nas outras partes
(subentenda-se, “do mundo”). Dado que os Judeus odeiam o nome de Cristo e têm
um rancor secreto contra os povos entre os quais vivem, estes pelo contrário
concedem altos atributos ao Nosso Salvador e amam extremamente a nação de
Bensalem.

Francis Bacon, Nova Atlântida, 1626

Entrando numa presunção impertinente, quer-se ser do conselho de Deus


(deliberar ou disputar com Deus como o fazem os judeus), e tomar com Ele o
cargo de conduzir o mundo, o que causa uma multidão de inquietações e de
querelas.

René Descartes, Carta à princesa Elisabete, 15 Setembro 1645

Se os Judeus possuíssem verdadeiramente uma centelha da luz divina, não


seriam tão orgulhosos na sua insensatez, mas pelo contrário aprenderiam a honrar
a Deus com mais sabedoria, e não perseguiriam com uma tão áspera hostilidade
aqueles que não partilham as suas opiniões, mas teriam antes piedade deles.

Baruch Espinosa, Tratado teológico-político, 1670

Perguntas-me se há Judeus em França ? Fica sabendo que, onde quer que


haja dinheiro, há Judeus. Perguntas-me o que é que eles fazem ? Precisamente o
que fazem na Pérsia : nada se parece mais a um judeu da Ásia do que um judeu
europeu.

Charles Montesquieu, Cartas Persas, 1714

Assim, os Judeus da Europa e os Arménios do Oriente possuem uma


característica particular : os primeiros são tão fortemente conhecidos pela sua
fraude como os últimos pela sua probidade.

David Hume, Sobre as raças humanas , 1740

Se Deus tivesse ouvido todas as orações do povo judeu, não restariam senão
judeus sobre a Terra; dado que eles detestavam todas as nações, eram por elas
detestados; e pedindo sem cessar que Deus exterminasse todos os que eles
odiavam, eles pareciam pedir a ruína da Terra inteira.

Voltaire, Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, 1756

É com desgosto que falo dos Judeus : esta nação é, em muitas coisas, a mais
detestável que desde sempre manchou o mundo.

Voltaire, Dicionário Filosófico, 1769

Vítima desde todos os tempos do seu fanatismo, da sua religião insociável,


da sua lei insensata, o povo judeu está agora disperso por todas as nações, para as
quais é um marco contínuo dos efeitos terríveis da cegueira supersticiosa. (…)
Ousa portanto, ó Europa, sacudir o jugo insuportável dos preconceitos que te
afligem ! Deixa aos Hebreus estúpidos, aos frenéticos imbecis, aos asiáticos
covardes e degradados, essas superstições tão humilhantes como insensatas !

Paul d’Holbach, O espírito do Judaísmo, 1770


A próxima geração da nobreza francesa assemelhar-se-á a gente hábil e a
palhaços, a traficantes de moeda, a usurários, e aos Judeus, os quais serão sempre
os seus companheiros, por vezes os seus mestres.

Edmund Burke, Reflexões sobre a Revolução Francesa, 1790

Desde há milhares anos, mesmo a partir da sua origem, o povo de Deus,


tendo como sua pátria o próprio céu, anda numa roda viva vegetando como um
parasita sobre o troco vivo das nações estrangeiras; raça astuciosa e sórdida, jamais
foi movida por uma ardente paixão para defender ou recuperar a sua honra, e a
opressão mais obstinada não pôde armá-la de forma a construir um refúgio e uma
pátria independente.

Johann Gottfried von Herder, Ideias sobre a Filosofia da História da


Humanidade, 1791

Reconhecemos, portanto, no judaísmo, um elemento anti-social universal


presente que, pelo desenvolvimento histórico em que os judeus colaboraram
zelosamente nesta ligação má, foi levado ao seu extremo atual, a um extremo que
necessariamente se tem que dissolver.

Karl Marx, A Questão Judaica, 1843

No seu significado último, a emancipação dos Judeus é a emancipação da


Humanidade a respeito do Judaísmo.

Karl Marx, A Questão Judaica, 1843

A nação judaica não é civilizada, não tendo nenhum soberano, nem


reconhecendo nenhum em segredo, e acreditando que qualquer astúcia é louvável
quando se trata de enganar aqueles que não praticam a sua religião. Não afixam os
seus princípios, mas são bastante conhecidos. O erro mais grave nesta nação, é o
de se dar exclusivamente ao tráfego, à usura, e às depravações mercantis. Todo o
Governo que cuide dos bons costumes deveria insistir com os judeus, obrigando-os
ao trabalho produtivo. (…) Mas o nosso século filosófico admite
inconsideravelmente legiões de judeus, todos eles parasitas, mercadores, usurários,
etc.

Charles Fourier, Obras completas, 1848

Sou portanto o primeiro a reconhecer que a raça semítica, comparada com a


raça indo-europeia, representa realmente uma combinação inferior da natureza
humana.

Ernst Renan, História geral e sistema comparado das línguas semíticas,


1855

O Judaísmo da nossa cultura e das nossas Universidades é terrível.

Martin Heidegger, Carta à sua mulher Elfrida, 18 de Outubro, 1916

Tudo está submergido pelos Judeus e pelos traficantes.

Martin Heidegger, Carta à sua mulher Elfrida, 12 de Agosto, 1920

Existe uma perigosa aliança internacional dos Judeus.

Martin Heidegger, Carta a Karl Jaspers, 1920

A peculiar predeterminação da judaidade para a criminalidade planetária.


Martin Heidegger, Cadernos negros, 1889-1976
OS NEGROS E OS ESCRAVOS

É escravo por natureza quem pode pertencer a um outro (e de fato lhe


pertence) e quem participa da razão na medida em que pode percebê-la mas não
possuí-la; os outros animais não são sujeitos à razão, mas às impressões. Porém,
quanto à utilidade, a diferença é mínima: escravos e animais domésticos prestam
ajuda com o seu corpo para as necessidades da vida.

Aristóteles, Política, 330-323 a. C.

A arte de adquirir escravos é como uma forma da arte da guerra ou da caça.


(...) Por isso, também a arte da guerra será, por natureza, e num certo sentido, arte
de aquisição (e, com efeito a arte da caça constitui uma sua parte) e ela deve ser
praticada contra as feras selvagens e contra aqueles homens que, nascidos para
obedecer, se recusarem a isso, e esta guerra é, por natureza, justa.

Aristóteles, Política, 330-323 a. C.

A escravatura é uma pena necessária, e foi imposta pela lei que manda
observar a ordem natural, como meio de defesa face a quem a perturba, pois se
nada tivesse sido feito contra a lei, a escravatura não teria nada a punir.

Santo Agostinho, A Cidade de Deus, 426

Há uma outra categoria de servidores, a que damos o nome particular de


escravos, que, sendo cativos aprisionados em uma guerra justa, estão pelo direito
natural sujeitos à dominação absoluta e ao poder absoluto de seus senhores. Estes
homens tiveram suas vidas capturadas, e com elas suas liberdades, perderam seus
bens - e estão, no estado de escravidão, privados de qualquer propriedade - e não
podem nesse estado ser considerados parte da sociedade civil, cujo principal fim é
a preservação da propriedade.

John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo Civil , 1690

Os brancos são superiores aos negros, assim como os negros o são em


relação aos macacos, e os macacos o são em relação às ostras.

Voltaire, Tratado de Metafísica, 1734

Suspeito que os negros, e em geral as outras espécies humanas, são


naturalmente inferiores aos brancos. Nunca houve uma nação civilizada de outra
cor, senão a de cor branca, nem indivíduo ilustre pelas suas ações ou pela sua
capacidade de reflexão. Não existem engenhosas manufaturas entre eles, nem arte,
nem ciência. Não apenas nas nossas colónias, mas também nos negros escravos
dispersos através da Europa, jamais se descobriu entre eles o menor sinal de
inteligência.

David Hume, Sobre as raças humanas, 1740

Não compreendo como é que Deus, que é um ser sábio, tenha posto uma
alma, sobretudo uma alma boa, num corpo todo negro. (…) É impossível supor
que essas pessoas sejam homens, sob pena de começarmos a crer que nós próprios
não somos cristãos.

Charles Montesquieu, Do espírito das leis, 1748

Os seus olhos redondos, o seu nariz achatado, os seus lábios sempre grossos,
as suas orelhas de formatos diferentes, a lã das suas cabeças, a própria medida da
sua inteligência, colocam entre os negros e as outras espécies de homens
diferenças prodigiosas. E o que prova que eles não devem de maneira nenhuma
estas diferenças ao seu clima, é o facto que os negros e as negras transportados
para os países mais frios continuam a produzir animais da sua espécie, e que os
mulatos não são senão uma raça bastarda de um negro e de uma branca, ou de um
branco e uma negra.

Voltaire, Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, 1756

Nós não compramos escravos domésticos senão entre os Negros. Censuram-


nos por este comércio, mas um povo que trafica as suas crianças é ainda mais
condenável. Este negócio demonstra a nossa superioridade.

Voltaire, Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, 1756


Os negros da África carecem por natureza de uma sensibilidade que se eleve
acima do trivial. O senhor David Hume desafia quem lhe apresente um único
exemplo de um negro que tenha revelado talentos, e afirma que entre as centenas
de milhares de negros levados para longe do seu país, apesar de muitos terem
obtido a liberdade, não se encontrou um único que tenham criado alguma coisa de
grande, seja na arte, nas ciências, ou em qualquer outra atividade honrosa,
enquanto entre os brancos é frequente isso suceder. Tão fundamental é a diferença
entre estas duas raças humanas, que parece ser tão grande a respeito das faculdades
intelectuais como a respeito da cor. (…) Os negros são muito vaidosos, e tão
faladores que até chega a ser preciso dispersá-los à paulada.

Emmanuel Kant, Observações sobre o sentimento do belo e do sublime,


1763

A principal característica dos negros é que sua consciência ainda não atingiu
a intuição de qualquer objetividade fixa, como Deus, como leis, pelas quais o
homem se encontraria com a própria vontade, e onde ele teria uma ideia geral de
sua essência (…) O negro representa, como já foi dito o homem natural, selvagem
e indomável. Devemo-nos livrar de toda reverência, de toda moralidade e de tudo
o que chamamos sentimento, para realmente compreendê-lo. Neles, nada evoca a
ideia do caráter humano (…) A carência de valor dos homens chega a ser
inacreditável. A tirania não é considerada uma injustiça, e comer carne humana é
considerado algo comum e permitido (…) Entre os negros, os sentimentos morais
são totalmente fracos – ou, para ser mais exato, inexistentes.”

Georg Hegel, A razão na História, 1830

O primeiro que atrai os olhares, o primeiro em saber, em força, em


felicidade, é o homem branco, o europeu, o homem por excelência; abaixo dele
surgem o negro e o índio. Essas duas raças infelizes não têm em comum nem o
nascimento, nem a fisionomia, nem a língua, nem os costumes. Ocupam ambas
uma posição igualmente inferior no país onde vivem (…) O escravo moderno não
difere do senhor apenas pela liberdade, mas ainda pela origem. Pode-se tornar livre
o negro, mas não seria possível fazer com que não ficasse em posição de
estrangeiro perante o europeu. E isso ainda não é tudo: naquele homem que nasceu
na degradação, naquele estrangeiro introduzido entre nós pela servidão, apenas
reconhecemos os traços gerais da condição humana. O seu rosto parece-nos
horrível, a sua inteligência parece-nos limitada, os seus gostos são vis, pouco nos
falta para que o tomemos por um ser intermediário entre o animal e o homem.

Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América, 1835

Porque é que a raça branca possui, de modo tão pronunciado, o privilégio


efetivo do principal desenvolvimento social, e porque é que a Europa tem sido o
lugar essencial dessa civilização preponderante? Sem dúvida já se percebe, quanto
ao primeiro aspeto, na organização característica da raça branca, e sobretudo
quanto ao aparelho cerebral, alguns germes positivos da sua superioridade.

Auguste Comte, Curso de Filosofia Positiva, 1830-1842


OS ANIMAIS

Queridos companheiros, não profaneis os vossos corpos com alimentos


pecaminosos. Nós temos o milho, temos maçãs que curvam os galhos com seu
peso e uvas crescendo nos vinhedos. Há ervas de sabor doce e legumes que podem
ser cozidos e abrandados no fogo, nem se nos nega o leite ou mel perfumado com
menta. A terra proporciona um suprimento exuberante de riquezas, de alimentos
inocentes e oferece-nos banquetes que não envolvem derramamento de sangue ou
matança; somente as feras satisfazem sua fome com a carne.

Pitágoras, Fragmentos, séc. VI-V a. C.

(…) abstendo-se esses povos da carne como se fosse impiedoso comê-la, ou


como se o sangue maculasse os altares dos deuses; em substituição a isto, os
homens que como nós existiam, então viviam o que é chamado vida órfica,
sustentando-se totalmente de alimento de seres inanimados e abstendo-se
totalmente de alimento oriundo de seres animados.

Platão, As Leis, séc. 429-327 a. C.

As plantas são feitas para os animais, e os animais para o Homem : os


animais domésticos servem para o seu uso e para a sua alimentação; os animais
selvagens, se não todos, pelo menos a maior parte, servem para as outras
necessidades do Homem, para que sejam o seu instrumento. (…) Quanto à sua
utilidade, a diferença é mínima : o escravo e os animais domésticos trazem ajuda
ao corpo do homem, para as suas necessidades indispensáveis.

Aristóteles, Política I, 330-323 a.C.

O animal é tão ou mais sábio do que o homem : conhece a medida da sua


necessidade, enquanto que o homem a ignora.

Demócrito, Fragmento 198, séc. IV a. C.

É que varões não medíocres, mas insignes e doutos, Pitágoras e Empédocles,


declararam que só existe uma condição jurídica para todos os seres animados, e
proclamaram que penas inexpiáveis impendem sobre aqueles que tenham
maltratado um animal.

Cícero, Tratado da República, III, 54 a. C.

Sótion costumava explicar as razões porque Pitágoras, e mais tarde Sêxtio,


se recusavam a comer carne de animais. As razões de um e de outro eram distintas,
mas ambas dignas de admiração. Sêxtio entendia que o homem dispõe de
alimentos suficientes sem precisar de causar mortes; além disso, quando se cria o
prazer de dilacerar a carne dos animais, facilmente a crueldade se torna um hábito.
(…) Pitágoras, por seu lado, afirmava o parentesco absoluto entre todos os seres
vivos, a ligação entre todas as almas e a respetiva transmigração de corpo para
corpo.

Séneca, Cartas a Lucílio, 65 d. C.

Podeis realmente perguntar que motivo tinha Pitágoras para se abster de


carne. Da minha parte, não entendo através de que acidente e em que estado de
espírito foi que a primeira pessoa sujou a sua boca com sangue e levou os seus
lábios em direção à carne de uma criatura morta, pôs mesas de corpos de animais
despedaçados e ousou chamar alimento e nutrição às partes que pouco antes
haviam bramido e chorado, movimentavam-se e viviam. Como poderiam os olhos
suportar a matança em que as gargantas eram perfuradas, a pele esfolada e os
membros arrancados?... Certamente não são leões e lobos que comemos para
defesa pessoal; pelo contrário, ignoramos estes e chacinamos criaturas dóceis e
inofensivas sem presas ou dentes para nos atacar. Por um pouco de carne lhes
tiramos o sol, a luz e a duração de suas vidas em evolução.

Plutarco, Obras morais, 46-120 d. C.


Uma aranha toda se ufana de ter capturado uma mosca; aquele homem, uma
lebre; outro, um robalo à linha; outro, um porco-bravo na ratoeira; aqueles, ursos;
aqueloutro, sármatas. Ora, toda essa populaça, bem vistas as coisas, em que difere
dos salteadores ?

Marco Aurélio, Pensamentos, X, 121-180

Os sacrifícios de animais com pretexto religioso foram inventados pelos


homens como um pretexto para comer carne.

Clemente de Alexandria, O pedagogo, 205

Com esta assídua perseguição às feras de que se alimentam com gosto, os


homens acabam por degenerar em feras, embora julguem levar uma vida régia.

Erasmo de Roterdão, Elogio da loucura, 1511

Os seus sacrifícios não são tidos como cruentos, pois pensam que Deus não
se compraz no sangue e na morte, pois deu a vida às criaturas para que a vivessem.

Thomas More, Utopia, 1516

Existe mais distância de certos homens em relação a outros, do que dos


homens em relação aos animais.

Michel de Montaigne, Ensaios I, 1580

Não parecerá absolutamente estranho àqueles que, sabendo quantos diversos


autómatos, ou máquinas moventes, a indústria dos homens pode fazer, sem para
isso empregar mais do que algumas poucas peças, em comparação com a grande
multidão de ossos, músculos, nervos, artérias, veias, e de todas as outras partes
que estão no corpo de cada animal, considerarão este corpo apenas como uma
máquina, mas que, tendo sido feito pelas mãos de Deus, é incomparavelmente
melhor ordenada e tem em si movimentos mais admiráveis que qualquer uma
daquelas que podem ser inventadas pelos homens.

René Descartes, Discurso do Método, 1637

Nos animais não há nem inteligência, nem alma, ao contrário do que se ouve
ordinariamente. Eles comem sem prazer, gritam sem dor, crescem sem saber, não
desejam nada, não temem nada, não conhecem nada; Deus formou o seu corpo de
tal maneira que eles evitam maquinalmente e sem dor tudo o que é capaz de os
destruir.

Nicolas Malebranche, A busca da verdade, 1674-1675

Com raciocínios vagos prova-se tudo o que se quer e por consequência não
se prova nada. Dizem alguns autores que Deus reduziu os animais ao puro
mecanismo, mas será que é assim ? (…) Há outra coisa nos animais para além do
movimento. Eles não são puros autómatos, eles sentem.

Étienne de Condillac, Tratado dos animais, 1755

Ponho em questão se os homens ganharam com o costume de comer carne


dos animais, em vez de se alimentarem do seu leite e dos frutos da terra. Estou
persuadido de que a saúde dos homens diminuiu com isso. Se o homem se
alimentasse do fruto da terra, um mesmo país alimentaria muitos homens.

Charles Montesquieu, Os meus pensamentos, 1726-1727

A natureza trata todos os animais entregues a seus cuidados com uma


predileção tal que parece querer mostrar o quanto é zelosa deste direito. O cavalo,
o gato, o touro, o próprio asno têm, em sua maioria, uma estatura maior, uma
constituição mais robusta, mais vigor, força e coragem nas florestas do que em
nossas casas. Perdem a metade dessas vantagens tornando-se domésticos, e poder-
se-ia dizer que todos os nossos cuidados em tratar bem e alimentar esses animais
resultam na sua degeneração. Assim é, para o próprio homem: fazendo-se sociável
e escravo, torna-se fraco, medroso, servil, e sua maneira de viver, frouxa e
afeminada, termina por minar a um tempo sua força e sua coragem.

Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da


desigualdade entre os homens, 1755

Que néscio é afirmar que os animais são máquinas privados do


conhecimento e do sentimento, agindo sempre de igual modo, e que não aprendem
nada, não se aperfeiçoam, etc. ! Pode lá ser !... Então esse pardalico que constrói o
ninho em semicírculo quando o prende a uma parede, que o constrói num quarto
de círculo quando o faz num ângulo e em círculo num ramo de árvore – faz tudo
de igual modo ? O cão de caça que ensinaste a obedecer-te durante três meses, não
estará a saber mais ao cabo desse período do que sabia no início das lições ? O
canário a quem tentas ensinar uma melodia, repete-a logo no mesmo instante, ou
não levarás um certo tempo a fazer-lha decorar ? E não reparaste como se engana,
com frequência, e vai corrigindo depois ?

Voltaire, Dicionário Filosófico, 1764

Os nossos deveres em relação aos animais são apenas deveres indiretos em


relação à humanidade. (…) Se um homem abater o seu cão por este já não ser
capaz de o servir, ele não infringe o seu dever em relação ao cão, pois o cão não
pode julgar, mas o seu ato é desumano e fere em si essa humanidade que ele deve
ter em relação aos seres humanos. Para não asfixiar os seus sentimentos humanos,
tem de praticar a generosidade em relação aos animais, pois aquele que é cruel
para os animais depressa se torna rude também no modo de lidar com os homens.
Podemos julgar o coração de um homem pelo modo como ele trata os animais .
Emmanuel Kant, Lições de Ética, 1775-1780

Um cavalo adulto é, para lá de toda a comparação, um animal mais


racional , assim como mais sociável que um recém nascido de um dia, de uma
semana, ou mesmo de um mês. Mas suponhamos que não era assim; de que
serviria ? A questão não está em saber se eles podem pensar ou falar, mas sim se
podem sofrer.

Jeremy Bentham, Introdução aos princípios da moral e da legislação,


1789

Pretende-se que os animais não têm direitos, e que não há deveres em


relação aos animais : doutrina revoltante, doutrina grosseira e bárbara própria do
Ocidente, e que tem a sua raiz no Judaísmo.

Arthur Schopenhauer, Sobre os fundamentos da moral, 1837

Não tenho nenhuma dúvida de que faz parte do destino da raça humana, na
sua evolução gradual, deixar de comer animais, tão certo como as tribos selvagens
deixaram de se comer umas às outras.

Henry David Thoreau, Walden ou a vida nos bosques, 1854

Não vos esqueçais de que, por mais distante e escondido que esteja um
matadouro, há sempre cumplicidade.

Ralph Emerson, A conduta para a Vida, 1863

Se, ao menos fosseis perfeitos como os animais ! Mas do animal é própria a


inocência.
Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra, 1883

O homem nunca poderá ser igual a um animal : ou se eleva e torna-se


melhor, ou se precipita e torna-se muito pior.

Vladimir Soloviev, A justificação do bem, 1897


O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o
que precisam saber. Nós não.

Fernando Pessoa, Textos filosóficos, 1916

O homem não é mais, nem melhor, do que o animal, ele próprio provém do
animal, e aparenta-se de maneira mais próxima com certas espécies, e de maneira
mais distante com outras. As suas conquistas exteriores não conseguiram apagar os
vestígios desta equivalência, que se manifesta tanto na conformação do seu corpo
como das suas disposições psíquicas. É essa a segunda humilhação do narcisismo
humano : a humilhação biológica.

Sigmund Freud, Uma dificuldade da Psicanálise, 1917

Unicamente a ética universal dos sentimentos da responsabilidade ampliada,


extensiva a todos os seres vivos, pode-se fundamentar em termos de pensamento.
A ética do comportamento do homem para com os humanos não passa de um
fragmento da ética.

Albert Schweitzer, A minha vida e o meu pensamento, 1931

Tendes razão. Aquele que atormenta os animais sob o pretexto de


investigação científica é perfeitamente capaz de torturar os homens. Atormentar,
torturar : isso responde ao instinto sádico. O célebre Dr. Mengle, o atroz vampiro
alemão de Auschwitz fazia também “investigação científica”.
Vladimir Jankélévitch, Carta a uma Associação de defesa animal, 1930

Desde há cerca de quinze anos que o etólogo toma cada vez mais
consciência de que os problemas levantados pelos preconceitos raciais refletem, à
escala humana, um problema muito mais vasto e cuja solução é ainda mais urgente
: o das relações entre o homem e os outros seres vivos; e não servirá de nada
pensar resolvê-lo no primeiro plano se não atacarmos também no segundo,
porquanto é verdade que o respeito que desejamos obter do homem para com os
seus semelhantes não é senão um caso particular do respeito que aquele deveria
experimentar por todas as formas de vida.

Claude Lévi-Strauss, Discurso pronunciado na UNESCO, 1971

A única coisa que distingue o bebé do animal, aos olhos dos que alegam ter
ele “direito à vida”, é ele ser, biologicamente, um membro da espécie Homo
sapiens, ao passo que os chimpanzés, os cães, os porcos não o são. Mas, usar essa
diferença como base para conceder direito à vida ao bebê e não a outros animais é,
naturalmente, puro especismo. É exatamente esse tipo de diferença arbitrária que o
racista mais grosseiro e declarado usa, na tentativa de justificar a discriminação
racial.

Peter Singer, Libertação animal, 1975

O racista viola o direito de igualdade ao dar uma maior importância aos


interesses dos membros da sua própria raça quando há algum conflito entre os seus
interesses e os de outra raça. O sexista viola o mesmo princípio ao favorecer os
interesses do seu próprio sexo. Da mesma forma o especista permite que os
interesses da sua própria espécie predominem sobre os interesses dos membros de
outras espécies. O modelo é idêntico nos três casos.

Peter Singer, Libertação animal, 1975


Os conceitos de certo e de errado são completamente estranhos aos animais,
não sendo concebível que estejam ao seu alcance ou que lhes sejam aplicáveis.
Quando usamos animais em investigação devemos, pois, proceder humanamente –
mas nunca poderemos violar os direitos dos animais porque, para falar sem
rodeios, eles não têm nenhum direito. Os direitos não se lhes aplicam.

Carl Cohen, Os direitos dos animais em debate, 2001

Os animais carecem de muitas das capacidades que os seres humanos


possuem. Não podem ler, fazer matemática avançada, construir uma estante ou
fazer baba ghanoush. Mas muitos seres humanos também não, e mesmo assim não
dizemos (nem devemos fazê-lo) que esses seres humanos têm menos valor
intrínseco, ou menos direitos a serem tratados com respeito do que outros.

Tom Reagan, Em defesa dos direitos dos animais, 2001

Da figura do genocídio não se deveria nem abusar nem se desembaraçar


rápido demais, porque ele se complica aqui : o aniquilamento das espécies, de
facto, estaria em marcha, porém passaria pela organização e a exploração de uma
sobrevida artificial, infernal, virtualmente interminável, em condições que os
homens do passado teriam julgado monstruosas, fora de todas as normas supostas
da vida própria aos animais assim exterminados na sua sobrevivência ou mesmo
na sua superpopulação. Como se, por exemplo, em vez de deitar um povo nos
crematórios e nas câmaras de gaz, os médicos e os geneticistas (por exemplo, os
nazis) tivessem decidido organizar por inseminação artificial a superprodução e a
supergeração de judeus, de ciganos, e de homossexuais. Que cada vez mais
numerosos e mais nutridos, tivessem sido destinados, num número sempre
crescente, ao mesmo inferno, o da experimentação genética imposta, o da
exterminação pelo gaz ou pelo fogo, nos mesmos matadouros.

Jacques Derrida, O animal que logo sou, 2006


AS RIQUEZAS MONETÁRIAS E A
PROPRIEDADE PRIVADA
O rico nem sempre é sábio, mas o sábio é sempre rico.

Tales de Mileto, Fragmentos, séc. VII-VI a. C.

Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que possui.

Demócrito, Fragmentos, 231, séc. V-IV a.C.

As coisas necessárias custam pouco, as coisas supérfluas custam muito.

Diógenes de Sinope, in Diógenes Laércio, Vida dos filósofos ilustres, séc.


V-IV a. C.

Tal como os poetas amam os seus próprios versos, e os pais os filhos, assim
também os homens de negócios se interessam pelas suas riquezas como obra sua, e
também devido à sua utilidade, como os demais. Por isso é difícil o convívio com
eles, pois nada mais querem exaltar senão as suas riquezas.

Platão, República , 380 a. C. (diálogo entre Sócrates e Céfalo)

As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para


sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã.

Aristóteles, Política, 330-323 a. C.


Muitos que alcançaram a riqueza não conseguiram um remédio contra os
seus males, mas apenas os trocaram por males ainda piores.

Epicuro, Cartas, máximas e sentenças, séc. III a. C.

Para quem vive segundo os verdadeiros princípios, a grande riqueza seria


viver com pouco, serenamente : o que é pouco nunca é escasso.

Lucrécio, Da Natureza das Coisas, séc. I a. C.

Quem tiver um jardim e uma biblioteca, tem tudo o que precisa.

Cícero, Dos deveres, 44 a. C.

As riquezas são uma grande escravidão.

Séneca, Consolação a Políbio, séc. I d. C.

As esplêndidas fortunas são como os ventos impetuosos, provocam grandes


naufrágios.

Plutarco, Vidas paralelas, séc. I d. C.

A maior parte das coisas que fazemos e temos não é necessária; quem as
eliminar da própria vida será mais tranquilo e sereno.

Marco Aurélio, Pensamentos, 121-180

O rico enche a bolsa de moedas e a alma de preocupações.

Santo Agostinho, A Cidade de Deus, 426


Os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do
património.

Nicolau Maquiavel, O Príncipe, 1513

A propriedade privada é a essência das mazelas do Homem, que deveria


subordinar os interesses individuais aos coletivos.

Thomas More, Utopia, 1516

A riqueza é uma boa serva, mas a pior das amantes.

Francis Bacon, Da dignidade das ciências, 1623

“Meu..., teu...”, “Este cão é meu”, diziam aquelas pobres crianças; “é ali o
meu lugar ao sol”; Eis o começo e a imagem da usurpação de toda a terra.

Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

Não poderia haver injúria onde não houvesse nenhuma propriedade.

John Locke, Ensaio sobre o entendimento humano, 1689

A aparente simplicidade da propriedade privada dissimula, assim como a


sua transferência, uma infinita complicação, e repousa sobre as sinuosidades mais
delicadas da imaginação em luta com a utilidade.

David Hume, Investigação sobre os princípios da moral, 1751


O primeiro que, tendo murado um terreno, se lembrou de dizer : “Isto é
meu”, e encontrou pessoas simples que o acreditaram, foi o verdadeiro fundador da
sociedade civil. Quantos crimes, quantas guerras, quantos assassínios, quantas
misérias e horrores não teria evitado ao género humano aquele que, arrancando as
pedras ou tapando o fosso, gritasse para os seus semelhantes : “Tende cuidado, não
escuteis esse impostor, estais perdidos se esqueceis que os frutos são de todos e a
terra não é de ninguém.

Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da


desigualdade entre os homens, 1755

A propriedade é um roubo.

Pierre-Joseph Proudhon, O que é a propriedade ?, 1840

A propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais


perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos
antagonismos de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste sentido, os
comunistas podem resumir a sua teoria nesta fórmula única: a abolição da
propriedade privada. (…) A ação comum do proletariado, pelo menos nos países
civilizados, é uma das primeiras condições para a sua emancipação. Suprimi a
exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação
por outra. Quando os antagonismos de classes, no interior das nações, tiverem
desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações.

Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto comunista, 1848

Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas, na nossa


sociedade, a propriedade privada já foi abolida para nove décimos da população;
se ela existe para alguns poucos é precisamente porque não existe para esses nove
décimos. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade cuja
condição de existência é a abolição de qualquer propriedade para a imensa maioria
da sociedade. Em suma, acusai-nos de abolir a vossa propriedade. Pois bem, é
exatamente isso o que temos em mente.

Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto comunista, 1848

A ignorância degrada os homens somente quando se encontra associada à


riqueza. O pobre é sujeitado pela sua pobreza e necessidade; no seu caso, os
trabalhos substituem o saber e ocupam o pensamento. Em contrapartida, os ricos
que são ignorantes vivem apenas em função dos seus prazeres e assemelham-se ao
gado, como se pode verificar diariamente. Além disso, ainda devem ser
repreendidos por não usarem a sua riqueza e o seu ócio para aquilo que lhes
conferiria o maior valor.

Arthur Schopenhauer, Sobre a leitura e os livros, 1850

O dinheiro, tornado fim em si mesmo, não deixa nem mesmo os bens que
por natureza são exteriores à economia; não apenas vem-se colocar como outra
finalidade da existência, no mesmo lugar que a sabedoria e a arte, a força pessoal,
e mesmo a beleza e o amor, mas além disso adquire uma tal força ao ponto de
engolir estes últimos, colocando-os como meios ao seu serviço.

Georg Simmel, Filosofia do dinheiro, 1900

Dinheiro, maquinismo, álgebra. Os três monstros da civilização atual.


Analogia completa.

Simone Weil, A gravidade e a graça, 1947

As pessoas reconhecem-se nas suas mercadorias; encontram a sua alma no


seu automóvel, no seu aparelho de alta fidelidade, na sua casa, no seu equipamento
de cozinha. O mecanismo que une o individuo à sociedade mudou, e o controlo
social enraizou-se nas novas necessidades que produziu.

Herbert Marcuse, O homem unidimensional, 1964

A sociedade de consumo tem necessidade dos seus objetos para ser, e mais
precisamente, tem necessidade de os destruir.

Jean Baudrillard, A sociedade de consumo, 1970

No mundo tal como ele é agora, não vejo nenhuma forma de escapar à
conclusão de que cada um de nós que tenha uma riqueza excessiva para as suas
necessidades essenciais, deveria oferecer a maior parte dela para ajudar as pessoas
que sofram de uma pobreza tão terrível que ponha a sua vida em risco. É isso
mesmo : estou a dizer que você não devia comprar aquele carro novo, embarcar
naquele cruzeiro, redecorar a casa, ou adquirir aquele fato novo e caro. Afinal, um
fato de mil dólares poderia salvar a vida de cinco crianças.

Peter Singer, Ética Prática, 1979


O TRABALHO
Todos os trabalhos pagos absorvem e degradam o espírito.

Aristóteles, Política, 330-323 a. C.

É demasiado difícil pensar nobremente, quando se pensa só em ganhar a


Vida.

Jean Jacques Rousseau, Confissões, 1782

O que constitui a alienação no trabalho? Primeiramente ser o trabalho


externo ao trabalhador, não fazer parte de sua natureza e, por conseguinte, ele não
se realizar em seu trabalho, mas negar a si mesmo, ter um sentimento de
sofrimento em vez de bem estar, não desenvolver livremente suas energias físicas
e mentais, mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido. O trabalhador,
portanto, só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se
sente contrafeito.

Karl Marx, Manuscritos económico-filosóficos, 1844


A devoção perpétua ao que o homem considera o seu trabalho só pode ser
sustentada negligenciando todas as outras coisas. E não é de forma alguma uma
certeza que o trabalho de um homem seja a coisa mais importante. De uma
perspetiva imparcial, parece evidente que muitos dos papéis mais sábios, virtuosos
e proveitosos no Teatro da Vida, são desempenhados gratuitamente, e são vistos
pelas pessoas em geral, como produtos do ócio.

Robert Louis Stevenson, Apologia do ócio, 1877

Os filósofos da Antiguidade ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa


degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos
Deuses.

Paul Lafargue, O direito à preguiça, 1880

Na glorificação do trabalho, nos infatigáveis discursos sobre a bênção do


trabalho, vejo a mesma segunda intenção que existe no louvor dos atos impessoais
e conformes ao interesse geral : o receio de tudo o que é individual. Damo-nos
agora conta do que encobre o duro labor de manhã à noite : é a melhor polícia que
tem cada um sob rédeas e que se empenha vigorosamente em entravar o
desenvolvimento da razão, dos desejos, do gosto pela independência. O trabalho
usa a força em proporções extraordinárias, e subtrai-a à reflexão, à meditação, aos
sonhos, aos cuidados, ao amor e ao ódio, ele coloca sempre diante dos olhos um
fim mínimo, e dá satisfações fáceis e regulares. Assim, uma sociedade onde se
trabalha duramente sem cessar, gozará de maior segurança : e é essa segurança que
se adora agora como divindade suprema.

Friedrich Nietzsche, Aurora, 1881

Não há indivíduo mais fatalmente infeliz do que aquele que consome a


maior parte do tempo a ganhar a vida.
Henry Thoreau, Uma vida sem princípios, 1894

A disciplina militar é o modelo ideal da fábrica no capitalismo moderno.

Max Weber, Economia e Sociedade, 1922

A fragmentação dos processos de produção e da divisão do


trabalho significa a fragmentação do indivíduo, a sua inserção fragmentada nesta
realidade condu-lo a uma posição contemplativa diante do processo de produção
mercantil.

Georg Lukács, História e consciência de classe, 1923

A grande maioria das pessoas trabalha só por necessidade, e desta natural


aversão humana pelo trabalho nascem os problemas sociais mais graves.

Sigmund Freud, O mal estar na civilização, 1929

A moral do trabalho é a moral de escravos, e o mundo moderno não precisa


da escravidão.

Bertrand Russell, Elogio ao ócio, 1932

O trabalho é uma maldição que o Homem transformou em voluptuosidade.


Trabalhar com todas as suas forças por único amor ao trabalho, procurar alegria
num esforço que não conduz senão a tarefas sem valor, pensar que a pessoa não se
pode realizar senão pelo labor incessante – eis uma coisa revoltante e
incompreensível. O trabalho permanente e embrutecedor, banaliza e torna o
indivíduo impessoal. O centro de interesse do indivíduo desloca-se do seu meio
subjetivo para uma objetividade monótona : o homem desinteressa-se então do seu
próprio destino, da sua evolução interior, para se prender a não importa o quê.

Émil Cioran, Nos cumes do desespero, 1933

Não há punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.

Albert Camus, O mito de Sisífo, 1942

É próprio do trabalho ser forçado.

Alain, Preliminares à mitologia, 1943

As condições concretas do trabalho na sociedade forçam o conformismo.

Theodor Adorno, e Max Horkheimer, Dialética do esclarecimento, 1944

É precisamente esta apoteose do trabalho o que me inquieta. Uma noção que


significa tudo já não significa nada.

Paul Ricoeur, “Travail et Parole”, revista Esprit, 1953

O amor pelo trabalho bem-feito e o gosto da promoção no trabalho são hoje


a marca indelével da fraqueza e da submissão mais estúpidas.

Raoul Vaneigem, A arte de viver para as novas gerações, 1967

Chamo trabalho a todo o esforço isento de prazer, ou antes : um esforço que


vos diminui aos vossos próprios olhos.
Émil Cioran, Cadernos, 2 de Julho de 1970

Hoje, em que os produtos, todos os produtos, e o próprio trabalho, estão para


além do útil e do inútil, já não há trabalho produtivo, não há senão trabalho
reprodutivo.

Jean Baudrillard, A troca simbólica e a morte, 1976

Chamo “trabalho fantasma” a toda a atividade pela qual um consumidor


transforma a mercadoria num bem utilizável.

Ivan Illich, O género vernacular, 1983

Nunca ninguém deveria trabalhar. O trabalho é a génese de grande parte da


miséria no mundo, é causa de muito do mal que acontece. Somos obrigados a viver
sob o seu desígnio. Para acabar com o sofrimento, temos que parar de trabalhar.

Bob Black, A abolição do trabalho, 1985

O Homem não nasceu para trabalhar, nasceu para criar, para ser o tal poeta à
solta.

Agostinho da Silva, Citações e pensamentos, 1990

A reconquista do Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho,


lavá-lo-ia dessa mancha de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao
que é o seu essencial carácter: o ser pensante.

Agostinho da Silva, Ir à Índia Sem Abandonar Portugal, 1994


O REGIME POLÍTICO E O ESTADO

A democracia é um regime de consentimento desprovido de autoridade,


distribuidor de igualdade indiferentemente a iguais e a desiguais.

Platão, República, 380 a. C.

A democracia é a mais severa forma de despotismo.


Aristóteles, Política, 330-323 a. C.

É muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das
duas. Porque dos homens se pode dizer duma maneira geral, que são ingratos,
volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são
inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos quando, como
acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. E perde-se
aquele príncipe que por ter acreditado as suas palavras se encontra nu de qualquer
outra defesa.

Nicolau Maquiavel, O Príncipe , 1513

A monarquia de direito divino é a melhor encarnação da soberania (…) e é


critério de validade do poder, o título em virtude do qual este dita as suas leis e
exige a obediência por parte daqueles a quem se dirigem, os quais por sua vez se
consideram obrigados a isso.

Jean Bodin, Seis livros da República, 1576

Mesmo no mais elevado do trono do mundo, não se está sentado senão sobre
o seu próprio cú. Os reis e os filósofos defecam, e as damas também.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580-1588

Nada do que o soberano faz pode ser considerado injúria para qualquer
súbdito, e nenhum deles pode acusá-lo de injustiça.

Thomas Hobbes, Leviatã, 1651

Se remontarmos à primeira origem de cada uma das nações, é certo que


descobriremos que é raro que uma linhagem de reis ou uma confederação não se
tenham fundado primitivamente pela usurpação e a rebelião, e que os seus títulos
não sejam duvidosos e incertos.

David Hume, Tratado da natureza humana, 1738

As Repúblicas acabam pelo luxo; as Monarquias pela pobreza.

Charles Montesquieu, Do espírito das leis, 1748

Todo o Governo civil é na realidade instituído para defender o rico contra o


pobre.

Adam Smith, Sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, 1776

Aqueles que tentam nivelar nunca igualam. Em todas as sociedades


compostas de diferentes classes de cidadãos, é necessário que algumas delas se
sobreponham às outras.
Edmund Burke, Reflexões sobre a Revolução Francesa, 1790

A democracia é necessariamente um despotismo, dado que ela estabelece


um poder executivo, em que todos decidem sobre e contra um só (que não dá o seu
consentimento) e em que por consequência a vontade de todos não é a de todos, o
que é uma contradição da vontade geral consigo mesma e com a liberdade.
Emmanuel Kant, A paz perpétua e outros opúsculos, 1795

Todas as nações têm o Governo que merecem.


Joseph de Maistre, Considerações sobre a França, 1796

A Democracia e o Socialismo não têm nada em comum, exceto numa


palavra : a igualdade. Mas notai a diferença : enquanto que a Democracia procura
a igualdade na liberdade, o Socialismo procura a igualdade na restrição e na
servidão.
Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América, 1835

O Estado não tem mais do que uma finalidade: a de limitar, subordinar


e subjugar o indivíduo.
Max Stirner, O único e a sua propriedade, 1845

A grande maioria dos homens serve o Estado não como homens


propriamente, mas como máquinas, com os seus corpos.
Henry David Thoreau, A desobediência civil, 1849

Ser governado significa ser observado, inspecionado, espionado, dirigido,


legislado, regulamentado, cercado, doutrinado, admoestado, controlado, avaliado,
censurado, comandado, e por criaturas que para isso não têm o direito, nem a
sabedoria, nem a virtude.
Pierre-Joseph Proudhon, Ideia geral da Revolução no século XIX, 1851

Um Estado que reduz os seus sujeitos, de modo a fazer deles os dóceis


instrumentos dos seus projetos, mesmo que estes sejam benéficos, não encontrará
na realidade senão pequenos homens com os quais não pode fazer grandes coisas.
John Stuart Mill, Sobre a liberdade, 1859

O Estado é o autor da religião política em face da qual a sociedade natural é


sempre imolada : um Estado devorador, vivendo de sacrifícios humanos.
Mikhail Bakunin, Deus e o Estado, 1882

O sufrágio universal não é senão uma ficção e uma odiosa mentira.


Mikhail Bakunin, Deus e o Estado, 1882

O Estado é o mais frio de todos os monstros frios. Ele mente friamente; e eis
a mentira que escapa da sua boca : Eu, o Estado, sou o Povo.
Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra, 1883

O Estado tem o monopólio da violência física legítima.


Max Weber, O Sábio e a Política, 1917

Todo o poder é militar. (…) Quando o poder não é resolvido à força de


obediência, deixa de haver poder.
Alain, Proposição do 12 de Julho, 1930

Todo o Estado está fundado na força.


Leon Trotsky , A revolução permanente, 1931

A democracia é essencialmente um meio, um processo utilitário para


salvaguardar a liberdade individual. Em tanto que tal, ela não é de maneira
nenhuma infalível. Não esqueçamos também que existiu frequentemente mais
liberdade cultural e espiritual sob um poder autocrático, do que sob certas
democracias, - e que é pelo menos concebível que sob o governo de uma maioria
homogénea e doutrinária a democracia seja tão tirânica como a pior das ditaduras.
Friedrich Hayek, O caminho para a servidão, 1943

A corrupção e a perversão são mais perniciosas e, ao mesmo tempo, mais


suscetíveis de ocorrer, numa república igualitária do que em qualquer outra forma
de governo. Falando esquematicamente, esses males passam a ocorrer quando os
interesses particulares invadem o domínio público, isto é, quando eles vêm de
baixo, e não de cima.
Hannah Arendt, As origens do totalitarismo, 1951

O facto de se poder eleger livremente mestres não suprime nem os mestres


nem os escravos.
Herbert Marcuse, O homem unidimensional , 1964

A inveja é a base da Democracia.


Bertrand Russell, A conquista da felicidade, 1966

O imposto é equivalente aos trabalhos forçados.


Robert Nozick, Anarquia, Estado e Utopia, 1974

Face a todo o poder que exige submissão e sacrifícios de toda a espécie, a


tarefa do filósofo é o desrespeito, o afrontamento, a impertinência, a indisciplina, e
a insubmissão. Rebelde e desobediente, embora convencido do caráter desesperado
da sua tarefa, ele deve encarnar a resistência perante o Leviatã.
Michel Onfray, Cinismos, 2000
O DIREITO E A APLICAÇÃO DA JUSTIÇA

Todo o Governo estabelece sempre as leis no seu próprio interesse, a


democracia, as leis democráticas; a monarquia, leis monárquicas, e os outros
regimes a mesma coisa; depois, feitas estas leis, proclamam como justo para os
governados o que é o seu próprio interesse e, se alguém as transgride, castigam-no
como violador da lei e da justiça. Eis, meu excelente amigo, o que pretendo dizer
sobre a justiça uniforme em todos os estados: é o interesse do governo constituído.
Ora, é este poder que tem a força; donde se segue que para todo o homem que sabe
raciocinar, que por todo o lado é a mesma coisa que é justa, quero dizer, o
interesse do mais forte.

Trasímaco, República (Platão), 380 a. C.

Se sofrer uma injustiça, console-se. A única infelicidade é cometê-la.

Demócrito, Fragmentos, séc. V a.C.

O filósofo Zenão deu chicotadas no seu escravo, que tinha roubado. Dado
que este se justificou dizendo : “estava no meu destino roubar”, Zenão respondeu-
lhe : “ também estava no teu destino ser castigado”.

Diógenes Laércio, Vidas e doutrinas do filósofos ilustres, séc. III

Um espírito sábio não condenará jamais alguém por ter usado de um meio
fora das regras ordinárias para regular uma monarquia e fundar uma república. O
que é de desejar é que se o facto é condenável, o resultado desculpa-o; se o
resultado é bom, ele é aceite.
Nicolau Maquiavel, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, 1531
Ora, as leis mantém-se em crédito, não porque sejam justas, mas porque são
leis. É esse o fundamento místico da sua autoridade, elas não têm nenhum outro.
Michel de Montaigne, Ensaios, 1580-1595

A justiça é sujeita à disputa. A força é reconhecida e sem disputa. Não se


pôde dar força à justiça, porque a força contradiz a justiça, e não se podendo fazer
com que aquilo que é justo fosse forte, fez-se com que aquilo que é forte fosse
justo.
Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

Pode-se destruir o homem que vos faz a guerra, ou que se revelou o inimigo
da vossa existência, pela mesma razão que se pode matar um lobo ou um leão.
John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo Civil, 1690

O homem maligno é um homem que é preciso destruir e não punir. (…) É


preciso destrui-lo em praça pública.
Denis de Diderot, Carta a Landois, 1756

Todo o criminoso atacando o corpo social, torna-se pelos seus atos rebelde e
seu traidor, ele cessa de ser seu membro violando as suas leis, e a conservação do
Estado é incompatível com a sua, por isso é necessário que um dos dois pereça, e
quando se faz morrer o culpado não é como cidadão mas como inimigo.
Jean Jacques Rousseau, O contrato social, 1762

Toda a punição é maldade. Toda a punição em si é má.


Jeremy Bentham, Introdução aos princípios da moral e da legislação,
1789

Se o criminoso matou, então deve morrer.


Emmanuel Kant, “A Doutrina do Direito”, A Metafísica dos Costumes,
1797

A repressão do crime pela pena de morte é uma devolução, pois é uma


violência à violência, quando o crime tem uma certa magnitude, que pode-se
encontrar na sua negação como existência.
Georg Hegel, Princípios da Filosofia do Direito, 1821

A guerra preserva a saúde moral dos povos.


Georg Hegel, Princípios da Filosofia do Direito, 1821
É difícil que haja uma só nação que viva sob boas leis. As leis foram
estabelecidas em quase todos os Estados pelo interesse do legislador, pela
necessidade do momento, pela ignorância, pela superstição. Elas foram feitas à
medida de cada circunstância, por acaso, irregularmete, como se constroiem as
vilas.

Voltaire, “Leis”, Questões sobre a enciclopédia, 1771

A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por
ela, mesmo os mais bem intencionados, transformam-se diariamente em agentes da
injustiça.

Henry Thoreau, A desobediência civil, 1849

Deve o cidadão desistir da sua consciência, ainda que por um instante ou em


último caso, e dobrar-se ao legislador? Porque razão estará então cada homem
dotado de uma consciência? Na minha opinião devemos ser em primeiro lugar
homens, e só depois súditos.

Henry Thoreau, A desobediência civil, 1849

A justiça é humana, toda humana, nada mais do que humana; é um erro


referi-la, direta ou indiretamente, a um princípio superior ou anterior à
Humanidade.

Pierre Joseph Proudhon, A Justiça na Revolução e na Igreja, 1858

A prisão, e os trabalhos forçados não recuperam o criminoso; eles punem


pura e simplesmente e preservam a sociedade contra os atentados que ele poderia
ainda cometer.
Fiódor Dostoiévski, Recordações da casa dos mortos, 1862
O castigo tem por finalidade tornar melhor aquele que castiga.
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência, 1883

Rejeitar o direito natural significa dizer que todo o Direito é positivo, isto é,
que o Direito é determinado exclusivamente pelos legisladores e os tribunais dos
diferentes países. Ora, é evidente que é perfeitamente sensato e por vezes mesmo
necessário falar de leis ou de decisões injustas.
Leo Strauss, Direito Natural e História, 1953

Os dois tipos de poder estão presentes em outra instituição do Estado


moderno: a polícia, numa relação muito mais contrária à natureza que a pena de
morte, numa mistura por assim dizer espectral. (…) “Por questões de segurança”, a
polícia intervém em inúmeros casos, em que não existe situação jurídica definida,
sem falar dos casos em que a polícia acompanha ou simplesmente controla o
cidadão, sem qualquer referência a fins jurídicos, como um aborrecimento brutal
ao longo de uma vida regulamentada por decretos. Ao contrário do Direito que, na
“decisão” fixada no espaço e no tempo, reconhece uma categoria metafísica,
graças à qual ele faz jus à crítica, a instituição da polícia não encontra nenhuma
essência. Seu poder é amorfo, como é amorfa sua aparição espectral, inatacável e
onipresente na vida dos países civilizados.

Walter Benjamin, Documentos de cultura, documentos de barbárie, 1958

Uma teoria positivista do Direito, isto é, realista, não pretende – é preciso


insistir sempre sobre isto – que não há justiça, mas que de facto um grande número
de normas de justiça diferentes e contraditórias são pressupostas.
Hans Kelsen, “Justiça e direito natural”, Anais de Filosofia Política,
1959
Aquele que obedece à lei, apesar de tudo, não se sente justo. Pelo contrário,
ele sente-se culpado, ele é antes de mais culpado, e tanto mais culpado quanto
mais lhe obedece estritamente.
Gilles Deleuze, Apresentação de Sacher-Masoch, 1967

O Direito não é justiça. O Direito é o elemento do cálculo, é justo que haja


um Direito, mas a justiça é incalculável, ela exige que se calcule o incalculável; as
experiências aporéticas são experiências tão improváveis quanto necessárias da
justiça, isto é, momentos em que a decisão entre o justo e o injusto nunca é
garantida por uma regra.

Jacques Derrida, Força de lei, 1994

Desobedecer à lei é não é uma tentativa de exercer coerção sobre a maioria.


Pelo contrário, a desobediência tenta informar a maioria. (…) A desobediência
civil é um meio adequado quando os meios legais se revelam ineficazes, porque
apesar de ser ilegal, não ameaça a maioria nem tenta coagi-la.
Peter Singer, Ética Prática, 2002
OS DIREITOS DO HOMEM
Não existe na natureza uma igualdade de direitos, e não existe jamais uma
igualdade de facto.

Guilherme Raynal, História Filosófica e Política, 1770

Um instrumento tão eficaz do despotismo pode-se encontrar nesse grande


arsenal de armas ofensivas que se chama os Direitos do Homem. (...) Se o destino
o tivesse reservado para nossa época, quatro termos técnicos lhe bastariam,
evitando-se todo trabalho; não teria necessitado mais que uma breve fórmula –
Filosofia, Luz, Liberdade, Direitos do Homem.

Edmund Burke, Reflexões sobre a Revolução Francesa, 1790

Ao longo de toda a minha vida conheci franceses, italianos, russos, etc.


Também sei, graças a Montesquieu, que se pode ser persa. Mas quanto ao Homem,
afirmo que, em toda a minha vida, jamais o encontrei.

Joseph de Maistre, Considerações sobre a França, 1796

Nos Direitos do Homem apenas se encontram falácias, e para além da letra


nada mais se encontra. (…) Os direitos naturais são um simples disparate: direitos
naturais e imprescritíveis, um retórico disparate – um disparate sobre rodas.

Jeremy Bentham, Sofismas Anárquicos, 1796


Os direitos ditos do Homem, os direitos do Homem por oposição aos
direitos do cidadão, não são nada mais que os direitos do membro da sociedade
burguesa, isto é, do homem egoísta, do homem separado do Homem e da
coletividade.

Karl Marx, Sobre a questão judaica, 1843

Que se proclamem os Direitos da Preguiça, milhares de vezes mais nobres e


sagrados do que os tísicos Direitos do Homem; que as pessoas se obrigue a
trabalhar apenas três horas por dia, a mandriar e a andar no regabofe o resto do dia
e da noite.

Paul Lafargue, O direito à preguiça, 1880

Os direitos : graus de poder reconhecidos e garantidos.

Friedrich Nietzsche, Aurora, 1881

A desigualdade dos direitos é a primeira condição para que haja direitos.

Friedrich Nietzsche, O Anticristo, 1888

Temos em particular uma tendência para inflacionar e tornar absolutos, sem


limites, sem restrições de qualquer tipo, os direitos de que temos consciência e
ficamos cegos em relação a qualquer outro direito que os contrabalance.
Consequentemente ao longo da história humana nenhum “novo direito”, quero
dizer nenhum direito a respeito do qual a consciência comum se esteja a
consciencializar, foi de facto reconhecido sem ter tido que lutar e vencer a
oposição penosa de alguns “direitos antigos”. Esta foi a história do salário justo e
direitos semelhantes perante a liberdade contratual e o direito de propriedade.
Jacques Maritain, O Homem e o Estado, 1951

O conceito de direitos humanos, baseado na suposta existência de um ser


humano em si, desmoronou-se no mesmo instante em que aqueles que diziam
acreditar nele se confrontaram pela primeira vez com seres que haviam realmente
perdido todas as outras qualidades humanas e relações específicas – exceto que
ainda eram humanos. O mundo não viu nada de sagrado na abstrata nudez de ser
unicamente humano.

Hannah Arendt, As origens do totalitarismo, 1951

Nenhum destino é mais desesperante do que este jogo fatal em que os


direitos são usados como arma.

Ernst Jünger, Tratado do rebelde, 1951

Não há nem pode haver civilização universal no sentido absoluto que se dá a


este termo, dado que a civilização implica a coexistência de culturas que
apresentam o máximo de diversidades entre elas.

Lévi-Strauss, Raça e História, 1952

Os direitos chamados universais não merecem esse qualificativo mais que a


condição de ser formulados numa linguagem a tal ponto vaga que perdem qualquer
conteúdo definido.

Raymond Aron, O ópio dos intelectuais, 1955

O Homem não é o mais velho nem o mais constante problema que se tenha
colocado ao saber humano. (…) O Homem é uma invenção cuja recente data a
arqueologia de nosso pensamento mostra facilmente. E talvez o fim próximo.
Michel Foucault, As palavras e as coisas, 1966

Os Direitos do Homem não aparecem senão em períodos históricos


particulares e em circunstâncias sociais peculiares. Não são em absoluto
características universais da condição humana. (…) Tais direitos, assim como as
bruxas e os unicórnios, são apenas uma ficção.

Alaisdair MacIntyre, Depois da virtude, 1981

A Declaração dos Direitos do Homem teve o mérito de dizer “todo o


Homem”, mas teve a fraqueza de pensar : “apenas os Homens” ou “os Homens
apenas”.
Michel Serres, O contrato natural, 1990

A política dos Direitos do Homem tem como efeito uniformizar a sociedade


numa tentativa de homogeneização abusiva, dado que nega aos indivíduos o
reconhecimento da sua identidade cultural.

Charles Taylor, Multiculturalismo, 1992

Quando eles não são úteis, faz-se o mesmo que pessoas caridosas fazem
com as suas roupas velhas. Elas são dadas aos pobres. Aqueles direitos que
parecem inúteis em seu lugar são mandados para o exterior, junto com remédios e
roupas, a pessoas desprovidas de remédios, roupas e direitos.

Jacques Rancière, O ódio à democracia, 2005

Os Direitos do Homem são uma invenção do Ocidente.

Lynn Hunt, A invenção dos Direitos do Homem, 2007


A PÁTRIA E O PATRIOTISMO
Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.

Sócrates, séc. V-IV a. C. citado por Cícero, Tratado da República

O mundo inteiro está aberto ao homem sábio, pois a pátria de um espírito de


escol é o universo.

Demócrito de Abdera, Fragmentos, séc. V-IV a. C.

Em qualquer lugar onde eu esteja bem, é aí a minha pátria.

Cícero, Discussões tusculanas, 50 a. C.

Não nasci para ficar fixo num único canto. A minha pátria é o mundo
inteiro.
Séneca, Cartas a Lucílio, 65 d. C.

Como Antonino a minha pátria é Roma, mas como homem é o mundo


inteiro.
Marco Aurélio Antonino, Pensamentos, 121-180 d. C.
O saber adquirido num país estrangeiro pode ser uma pátria, e a ignorância
pode ser um exílio vivido no seu próprio país.

Averróis, A incoerência da incoerência , 1165

Se eu conhecesse alguma coisa que fosse útil à minha pátria, mas que fosse
prejudicial à Europa, ou que fosse útil à Europa, mas que fosse prejudicial ao
género humano, considerá-la-ia um crime.

Charles Montesquieu, Cadernos, 1726

É triste que geralmente para se ser bom patriota se seja inimigo do resto dos
homens. (…) Tal é portanto a condição humana, em que desejar a grandeza do seu
país é desejar mal aos seus vizinhos. Aquele que quisesse que a sua pátria não
fosse nunca nem maior, nem mais pequena, nem mais rica, nem mais pobre, seria o
cidadão do Universo.

Voltaire, Dicionário Filosófico, 1764

O espírito patriótico é um espírito exclusivo, que nos faz ver como inimigos
todos os que não são nossos concidadãos. Tal era o espírito de Esparta e de Roma.

Jean-Jacques Rousseau, Carta a Paul Usteri, 1764

O patriotismo e a teofobia são as fontes de grandes tragédias e de quadros


assustadores.

Denis Diderot, Posfácio aos Pensamentos Filosóficos, 1770

Os moralistas entram em contradição quando criticam o egoísmo e aprovam


o patriotismo, pois o patriotismo não é senão outra coisa que o egoísmo nacional, e
este egoísmo faz cometer entre as nações as mesmas injustiças que o egoísmo
pessoal entre os indivíduos.

Saint-Simon, Obras escolhidas, 1839

Os operários não têm pátria.

Karl Marx, Manifesto comunista, 1848

Pereça a pátria e salve-se a Humanidade.

Pierre-Joseph Proudhon, A Federação e a unidade na Itália, 1862

O tipo mais barato de orgulho é o orgulho nacional. Ele trai naquele que por
ele é possuído a ausência de qualidades individuais, das quais ele se poderia
orgulhar, caso contrário, não recorreria àquelas que compartilha com tantos
milhões. Quem possui méritos pessoais distintos reconhecerá antes, de modo mais
claro, os defeitos da sua própria nação, pois sempre os tem diante dos olhos. Mas
todo o pobre diabo, que não tem nada no mundo de que se possa orgulhar, agarra-
se ao último recurso, o de se orgulhar da nação à qual pertence.

Arthur Schopenhauer, Aforismos para a sabedoria de vida, 1851

Em lado algum encontrei pátria, nunca fui senão aquele que passa, em todas
as cidades; em todos os limiares, aquele que parte (...) Só amarei pois o país dos
meus filhos, a ilha desconhecida no coração dos mares longínquos; e para ela,
incansavelmente, dirigirei a minha rota.

Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra, 1883


Patriotismo é o convencimento de que um país é superior a todos os demais
porque se nasceu nele. Nunca se terá um mundo tranquilo até que se extirpe o
patriotismo da raça humana.

Bernard Shaw , Homem e super homem, 1903

Para vocês, saudosistas, pacatamente instalados na pátria amada, vivendo


todos uma vida sem grandes lutas nem paixões, de que raio têm saudades vocês
todos, santo Deus ?

António Sérgio, Epístola aos saudosistas, 1913

O patriotismo é a disposição de matar e deixar-se matar por razões triviais.

Bertrand Russell, Educação e Sociedade, 1932

A honra nacional é como uma espingarda carregada.

Alain, Propostas de política, 1934

O nacionalismo é a nossa forma de incesto, é a nossa idolatria, é a nossa


loucura. O patriotismo é o seu culto.

Eric Fromm, O medo à liberdade, 1941

O reino da igualdade no seu país não impede de ser esclavagista ou


colonialista em relação ao exterior : tal é a lógica do patriotismo.

Tzvetan Todorov, Nós e os outros, 1986

Não se habita um país, habita-se uma língua. Uma pátria é isso e nada mais.
Émil Cioran, Confissões e anátemas, 1987

Dado que o seu propósito não é o trono – nem a púrpura – o filósofo pode
bem falar como só um homem livre pode fazer : o trabalho é uma coerção, a
família uma maneira de espantar a solidão e a penúria sexual, a Pátria uma retórica
de belicistas incultos.

Michel Onfray, Da sabedoria trágica, 1988

Alguém disse que o patriotismo é o último refúgio do cobarde; aqueles que


não têm princípios morais normalmente enrolam-se numa bandeira, e esses
bastardos falam sempre na pureza da raça.
Umberto Eco, Cemitério de Praga, 2010

A HISTÓRIA
O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo facto de o
primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um
escreveu o que aconteceu, e o outro o que poderia ter acontecido.

Aristóteles, Poética, 335-323

Quando se tem demasiada curiosidade acerca das coisas que se faziam nos
séculos passados, fica-se quase sempre na ignorância das que têm lugar no
presente.

René Descartes, Discurso do Método, 1637

A História, que nos ensina o que acontece no mundo, mostra-nos tanto os


grandes acontecimentos como os medíocres; esta confusão de objetos impede-nos
frequentemente de discernir com bastante atenção as coisas extraordinárias que
estão presentes no decurso de cada século.

François de La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas


morais, 1664

À vaidade das nações, acrescentai a dos sábios; eles querem que o que eles
sabem seja tão antigo como o próprio mundo.

Giambattista Vico, Princípios da Filosofia da História, 1725

Só a História não pode verdadeiramente tomar lugar no seio das outras


ciências, dado que ela não pode ter a mesma vantagem que as outras : o que lhe
falta, com efeito, é o caráter fundamental da ciência, a subordinação dos factos
conhecidos, de que ela não pode oferecer-nos senão a simples compilação.

Arthur Schopenhauer, O Mundo como vontade e representação, 1818

A História universal é a manifestação do processo divino, da marcha gradual


pela qual o Espírito conhece e realiza a sua verdade.

Georg Hegel, A Razão na História, 1830

Diz-se aos governantes, aos homens de Estado, e aos povos, para se


instruírem principalmente pela experiência da História. Mas o que ensinam a
experiência e a História, é que governantes e povos nunca aprenderam nada da
História, e nunca agiram seguindo as máximas que dela teriam podido retirar.

Georg Hegel, Lições sobre a Filosofia da História, 1837


A verdadeira História não é senão uma recolha da biografia dos grandes
homens.
Thomas Carlyle, Os Heróis, 1841

A História de toda a sociedade até aos nossos dias nada mais é do que a
História da luta da classes.

Karl Marx, Manifesto comunista, 1848

Odeio os sistemas absolutos que fazem depender todos os acontecimentos


da História de grandes causas primeiras ligando-se umas às outras por uma cadeia
fatal, e que suprimem, por assim dizer, os homens da História do género humano.

Alexis de Tocqueville, Lembranças de 1848, 1851

Os vivos são sempre, e cada vez mais, governados necessariamente pelos


mortos : tal é a lei fundamental da ordem humana.

Auguste Comte, Catecismo positivista, 1852

A História trata quase exclusivamente de homens maus, que mais tarde


passam a ser chamados homens bons.

Friedrich Nietzsche, Aurora, 1881

A História só é tolerável para personalidades fortes, ela sufoca as


personalidades fracas.

Friedrich Nietzsche, Considerações intempestivas, 1873-1876

A História que serve, é uma História serva.


Lucien Febvre, “A História no mundo em ruínas”, Revista de síntese
histórica, 1920

A História pura, a que não seria composta senão por factos, por factos
incontestáveis de que falei, seria totalmente insignificante, dado que os factos, não
têm significado.

Paul Valéry, “Discurso da História”, Variedade IV, 1938

“Os povos felizes não têm História” – de onde se infere que a supressão da
História tornaria os povos mais felizes. O menor olhar sobre os acontecimentos
deste mundo reencontra essa mesma conclusão. O esquecimento é o benefício que
a História quer corromper. Nada, na História, serve para ensinar aos homens a
possibilidade de viverem em paz. É o ensino oposto que dela se destaca – e se faz
acreditar.

Paul Valéry, Pensamentos maus, 1942

A História, assim como a Natureza, não nos pode indicar o que é necessário
fazer. Somos nós que lhe damos uma finalidade e um sentido.

Karl Popper, A sociedade aberta e os seus inimigos, 1945

O fim da História não é servir de exemplo e de aperfeiçoamento. Ela é um


princípio de arbitrariedade e de terror.

Albert Camus, O homem revoltado, 1951

Há mais honestidade e rigor nas ciências ocultas do que nas filosofias que
atribuem um “sentido” à História.

Émil Cioran, Silogismos da amargura, 1952


A História é um diálogo entre o passado e o presente, no qual o presente
toma e conserva a iniciativa.

Raymond Aron, Dimensões da consciência histórica, 1961

A História não está ligada ao Homem, nem a nenhum objeto em particular :


ela consiste inteiramente no seu método.

Claude Lévi-Strauss, O pensamento selvagem, 1962

O ser humano já não tem História, ou antes, dado que ele fala, trabalha e
vive, encontra-se no seu próprio ser completamente emaranhado em histórias que
não lhe são subordinadas nem homogéneas.

Michel Foucault, As palavras e as coisas, 1966

A História, como o sonho, é uma realização do desejo; é por isso que os


homens nela entram e, segundo os velhos mitos, nela caem.

Alain Besançon, “Para uma História psicanalítica”, Anais, 1969

A História, querendo ser exato, não se repete, mas visto que as ilusões de
que o Homem é capaz são limitadas em número, elas retornam sempre com um
disfarce diferente, dando assim a uma porcaria ultra decrépita um ar de novidade e
um verniz trágico.

Émil Cioran, Do inconveniente de ter nascido, 1973


Os acontecimentos humanos prestam-se à explicação científica nem mais
nem menos do que os da Natureza : eles prestam-se a isso por uma pequena parte
que apresenta um caráter necessário, geral, infalível.

Paul Veyne, “A História concetual”, Fazer a História, 1974

Talvez a maior lição da História seja a de que ninguém aprendeu as lições da


História.

Aldous Huxley, Sobre a democracia e outros estudos, 1978

Não se trata portanto de saber onde vamos, nem de sondar as leis imanentes
do desenvolvimento histórico. Não vamos a parte nenhuma; a História não tem
sentido. Não há nada a esperar dela e também nada a sacrificar-lhe. Já não se trata
de nos devotarmos a uma Causa transcendente que resgataria os nossos
sofrimentos e nos pagaria o preço das nossas renúncias. Trata-se antes de saber o
que é que desejamos.

André Gorz, Adeus ao proletariado, 1980

O fim da História, infelizmente, é também o fim dos caixotes de lixo da


História. Já não há mais nenhuns caixotes de lixo onde se possam deitar fora as
antigas ideologias, os antigos regimes, os antigos valores. (…) A própria História
tornou-se um caixote de lixo. Tornou-se o seu próprio caixote de lixo, tal como o
planeta se está a tornar o seu próprio caixote de lixo.

Jean Baudrillard, A troca simbólica e a morte, 1983


A EDUCAÇÃO E A ESCOLA

Trabalhamos apenas para encher a memória, deixando o entendimento e a


consciência vazias. Uma cabeça bem feita vale mais do que uma cabeça cheia.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580-1588


Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio
que não tenha algo a aprender.

Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

Recebemos três educações diferentes : a dos nossos pais, a dos nossos


mestres, e a do mundo. O que aprendemos nesta última, destrói todas as ideias das
duas primeiras.

Charles de Montesquieu, Os meus pensamentos, 1726-1727

A educação desenvolve as faculdades, mas não as cria.

Voltaire, Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, 1756

Nunca se conseguirá ser sábio se primeiro não se foi traquinas.

Jean Jacques Rousseau, Emílio, 1762

Mandam-se as crianças à Escola não tanto para que aprendam alguma coisa,
mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente
o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em
prática as suas ideias.

Emmanuel Kant, Sobre a Pedagogia, 1785

Os livros e as Escolas são instituições artificiais, pois estão muito distantes


do plano da Natureza. Por isso, é muito útil que, na sua juventude, um homem seja
um dedicado aluno da instituição de ensino da Natureza.

Arthur Schopenhauer, Aforismos para a sabedoria de vida, 1851


A educação deve formar seres aptos para se governarem a si mesmos, e não
para serem governados pelos outros.

Herbert Spencer, A educação intelectual, moral e física, 1861

A educação atua essencialmente como um meio que arruína a exceção em


proveito da regra. Por sua vez, a cultura é essencialmente o meio de revigorar o
gosto contra a exceção, em proveito da mediania.

Friedrich Nietzsche, A Vontade de Poder, 1880

A tragédia da educação moderna é que nos deixou perigosamente ignorantes


de quem somos, onde estamos, de onde viemos e para onde vamos. Estamos
perdidos e alegremente ignorantes de que caminhamos para o abismo. Este é o
preço que estamos condenados a pagar pela nossa fé cega em nada em particular.

G. K. Chesterton, Disparates do mundo, 1910

Não vos canseis com os problemas de compêndios e programas : cumpre


revolucionar os próprios métodos, o ambiente social em que o adolescente vive,
apelar para as ações e para os hábitos pelas ações instituídas. Uma carneirada
escolar dá uma carneirada administrativa, e um decorador de compêndios, um
amanuense.

António Sérgio, Educação cívica, 1915

A educação é tudo o que resta depois de se ter esquecido tudo o que se


aprendeu na Escola.

Albert Einstein, Como vejo o mundo, 1949


As Escolas transformaram-se em fábricas enormes para a produção de robôs.
Já não mandamos os nossos filhos à Escola para serem ensinados e para que lhes
sejam dadas ferramentas para pensar; nem sequer para serem informados ou
adquirirem conhecimentos, mas para serem "socializados" - o que, na semântica
atual significa serem submetidos ao sistema e forçados a se conformar.

Robert Lindner, Devemo-nos conformar ? 1956

A função da Escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las


na arte de viver.

Hannah Arendt, A crise na educação 1957

Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo; os homens educam-se


entre si, mediatizados pelo mundo.

Paulo Freire, Pedagogia do oprimido, 1968

A atividade que assegura a aprendizagem e a aquisição de aptidões ou de


tipos de comportamento desenvolve-se através de todo um conjunto de
comunicações reguladas (lições, questões e respostas, ordens, exortações, signos
codificados de obediência, marcas diferenciais do “valor” de cada um e dos níveis
de saber) e através de toda uma série de procedimentos de poder
(enclausuramento, vigilância, recompensa e punição, hierarquia piramidal).

Michel Foucault, A arqueologia do saber, 1969

É a partir do momento em que há a disciplina escolar que se vê aparecer


algo como o débil mental. O irredutível à disciplina escolar só pode existir em
relação a essa disciplina; aquele que não aprende a ler e a escrever só pode
aparecer como problema, como limite, a partir do momento em que a Escola segue
o esquema disciplinar.

Michel Foucault, O poder psiquiátrico, 1973-1974

O hospital, primeiro, depois a Escola, mais tarde a oficina (...) foram


aparelhos e instrumentos de sujeição. Foi a partir desse laço, próprio dos sistemas
tecnológicos, que se puderam formar no elemento disciplinar a medicina clínica, a
psiquiatria, a psicologia da criança, a psicopedagogia, a racionalização do trabalho.

Michel Foucault, Vigiar e Punir, 1975

Além de permitir à elite se justificar de ser o que é, a ideologia do dom,


chave do sistema escolar e do sistema social, contribui para encerrar os membros
das classes desfavorecidas no destino que a sociedade lhes assinala, levando-os a
perceberem como inaptidões naturais o que não é senão efeito de uma condição
inferior, e persuadindo-os de que eles devem o seu destino social (cada vez mais
ligado ao seu destino escolar) à sua natureza individual e à sua falta de dom .

Pierre Bordieu, A reprodução, 1970

A Escola parece estar destinada a ser a igreja universal da nossa cultura em


decadência.

Ivan Illich, Sociedade sem Escolas, 1971

A Escola é um rito iniciático que introduz o neófito na carreira sagrada do


consumo progressivo.

Ivan Illich, Sociedade sem Escolas, 1971


A nossa política educacional baseia-se em duas enormes falácias. A primeira
é a que considera o intelecto como uma caixa habitada por ideias autónomas, cujos
números podem aumentar-se pelo simples processo de abrir a tampa da caixa e
introduzir-lhes novas ideias. A segunda falácia, é que, todas as mentes são
semelhantes e podem lucrar como o mesmo sistema de ensino. Todos os sistemas
oficiais de educação são sistemas para bombear os mesmos conhecimentos pelos
mesmos métodos, para dentro de mentes radicalmente diferentes.

Aldous Huxley, Sobre a Democracia e outros estudos, 1978

Nas Escolas de hoje o que fazemos é criar cabeças cúbicas. E nós como
perdemos essa memória do cúbico, a maior parte das vezes a pessoa sai da Escola
sendo uma besta quadrada.

Agostinho da Silva, Namorando o amanhã, 1988


O CONHECIMENTO E A CIÊNCIA
Se me perguntarem pelo princípio sobre o qual o ceticismo se fundamenta
para duvidar de tudo, é este : que toda a razão pode ser contradita por uma razão
oposta. Este princípio conduz-nos a reconhecer que não há nenhum dogma, que
não há nada que não se possa afirmar ou negar com segurança.

Sexto Empírico, Hipotiposes pirrónicas, séc. II- III

A coisa mais perfeita que um homem muito estudioso poderá conseguir na


sua doutrina é a total consciência da sua própria ignorância, e quanto mais douto
for mais se saberá ignorante.

Nicolau de Cusa, A douta ignorância, 1440

Quanto mais se sabe mais se duvida.

Michel de Montaigne, Ensaios, 1580

Nem sequer sei que não sei nada; conjeturo, porém, que nem eu nem os
outros. De divisa me servirá essa proposição, à qual se seguirá estoutra : nada se
sabe. Se eu a souber provar, com razão concluirei que nada se sabe; se não souber,
tanto melhor, pois isso afirmava eu.

Francisco Sanches, Que nada se sabe, 1581

Quantas vezes me aconteceu pensar, durante a noite, que eu estava neste


lugar, que eu estava vestido, que eu estava junto à lareira, embora eu estivesse
despido, na minha cama, e a dormir ?

René Descartes, Meditações Metafísicas, 1641


Não sei se o que se chama vigília não será talvez uma parte mais excitada
dum sono profundo, se vejo coisas reais, ou se estou apenas atormentado por
fantasias e por vãos simulacros.

Jacques Bossuet, Sermão sobre a morte, 1662

Metade da vida passa-se a dormir, em que não temos nenhuma ideia do


verdadeiro, e em que todos os nossos sentimentos são ilusões. Quem sabe se essa
outra metade da vida em que pensamos vigiar, não é um outro sono um pouco
diferente do primeiro, do qual acordamos quando pensamos dormir ?

Blaise Pascal, Pensamentos, 1670

O que se afirma da existência absoluta das coisas não pensantes, sem relação
com o facto de serem percebidas, parece totalmente ininteligível. O seu ser é ser
percebido, e é impossível que elas tenham uma existência fora dos espíritos ou das
coisas pensantes que as percebem.

George Berkeley, Princípios do conhecimento humano, 1710

O contrário de toda a questão de facto é possível, porque jamais pode


implicar uma contradição, e é concebido pela mente com a mesma facilidade e
nitidez como se fosse idêntico à realidade. Que o sol não se há de levantar amanhã,
não é uma afirmação menos inteligível e não implica maior contradição do que a
afirmação de que ele se levantará. Por conseguinte, em vão tentaríamos
demonstrar a sua falsidade.

David Hume, Investigação sobre o entendimento humano, 1748

Se as nossas ciências são inúteis no objeto que se propõem, são ainda mais
perigosas pelos efeitos que produzem.
Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre as ciências e as artes, 1749

A Ciência tira a sabedoria das pessoas e costuma convertê-las em fantasmas


carregados de conhecimentos.

Miguel de Unamuno, Do sentimento trágico da Vida, 1913

As matemáticas podem ser definidas como o domínio no qual não se sabe


jamais do que é que se fala, nem se aquilo que se diz é verdadeiro.

Bertrand Russell, Misticismo e Lógica, 1918

Toda a conceção moderna do mundo tem como fundamento a ilusão de que


as chamadas leis da Natureza sejam as explicações dos fenómenos naturais.

Ludwig Wittgenstein, Tratado lógico filosófico, 1921

O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de


dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas.

Bertrand Russell, Mortais e outros, 1931-1935

Não nego a utilidade das ideias abstratas e gerais, assim como não contesto
o valor das notas de banco. Mas assim como as notas de banco não são senão uma
promessa de ouro, também uma conceção não vale senão pelas perceções
eventuais que ela representa.

Henri Bergson, O pensamento e o movimento, 1934


A Ciência não é senão uma perversão de si mesma, a menos que tenha como
objetivo final o melhoramento da Humanidade.

Nikola Tesla, Mecânicas e invenções modernas, 1934

Quando se apresenta à cultura científica, o espírito já não é jovem. Ele é


mesmo muito velho, dado que já tem a idade dos seus preconceitos.

Gaston Bachelard, A formação do espírito científico, 1938

A Ciência explica o que funciona, e não o que é.

Albert Camus, Cadernos , 1942

A Ciência não pensa.

Martin Heidegger, Ensaios e Conferências, 1954

Uma teoria que não seja refutável por nenhum acontecimento, seja ele qual
for, é desprovida de carater científico.

Karl Popper, Conjeturas e refutações, 1963

A Ciência, por causa do seu método, e dos seus conceitos, promoveu um


universo no qual o domínio da Natureza ficou ligado ao domínio do Homem.

Herbert Marcuse, O Homem Unidimensional, 1964

O método da Ciência é um método de conjeturas audaciosas e de tentativas


engenhosas e severas para as refutar.
Karl Popper, O conhecimento objetivo, 1972

Um grande cientista fareja a verdade até mesmo em provas parciais e


frequentemente insuficientes.

Hans Jürgen Eysenck, A desigualdade do homem, 1973

Objeção contra a ciência: este mundo não vale a pena ser conhecido .

Émil Cioran, Do inconveniente de ter nascido, 1973

Acontece que o saber, que torna possível a ação e a regra, já não é o saber da
Vida, mas o da Ciência : tal é a revolução radical que veio subverter a humanidade
do homem, fazendo pairar sobre a sua essência a mais grave ameaça ocorrida
desde o início dos tempos.

Michel Henry, A barbárie, 1987

As armas materiais e intelectuais fornecidas pela Ciência contemporânea,


constituem os mais eficazes instrumentos de dominação social.

Paul Feyerabend, Adeus à razão, 1987

Duvidar de tudo, ou crer em tudo, são duas soluções igualmente cómodas


que nos evitam , tanto uma como a outra, de ter que refletir.

Henri Poincaré, A Ciência e a Hipótese, 1988

O conhecimento, no fundo, não faz parte da natureza humana. É a luta, o


combate, o resultado do combate, e por consequência o risco e o acaso é que dão
lugar ao conhecimento. O conhecimento não é instintivo, ele é contra-instintivo; o
conhecimento não é natural, ele é contra-natural.
Michel Foucault, Ditos e Escritos, 1976-1988

A TÉCNICA
Convém recusar com empenho toda a máquina e toda a invenção que pode
abreviar o trabalho, diminuir a mão de obra, e produzir o mesmo efeito com menos
esforço.

Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a economia política, 1755

No progresso da divisão do trabalho, o emprego da maior parte do tempo


daqueles que vivem do seu trabalho (…) vem limitar-se a um muito pequeno
número de operações simples, geralmente a uma ou duas. (…) O homem que passa
toda a sua vida a realizar um pequeno número de operações simples (…) torna-se
geralmente a mais besta e ignorante criatura que um ser humano pode ser.

Adam Smith, Sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, 1776

Não é somente o mundo físico que agora está organizado pela máquina, mas
também o nosso mundo interior espiritual (…), os nossos modos de pensar e a
nossa sensibilidade. Os homens tornaram-se mecânicos através do seu espírito e do
seu coração como através das suas mãos.

Thomas Carlyle, A era mecânica – sinais dos tempos, 1829

A extensão do maquinismo e da divisão do trabalho fizeram perder no


trabalho dos proletários todo o carater de independência e toda a atração. O
produtor torna-se um simples acessório da máquina, a quem não se pede senão o
gesto manual mais simples, mais monótono, mais rápido.

Karl Marx, e Friedrich Engels, Manifesto Comunista, 1848


Na manufatura e no oficio, o operário serve-se do seu instrumento; na
fábrica ele serve a máquina. Ali o movimento do instrumento de trabalho parte
dele; aqui ele não faz senão segui-lo.

Karl Marx, O Capital, 1867

O maquinismo é agressivo. O mecânico torna-se uma máquina. Se não vos


servirdes dos instrumentos, são eles que se servem de vós.

Ralph Emerson, Sociedade e solidão, 1870

Todas as coisas vivas agonizam no estado da organização. Um mundo


artificial penetra o mundo natural e aprisiona-o. A própria civilização tornou-se
uma máquina fazendo ou procurando fazer tudo mecanicamente. Já não pensamos
mais senão em termos de “cavalos a vapor”. Não podemos olhar uma cascata sem
a transformar mentalmente em energia elétrica.

Oswald Spengler, O homem e a técnica, 1931

O operário não sabe o que produz, e por consequência não tem o sentimento
de ter produzido, mas de se ter esgotado até ao vazio. Ele consome na fábrica, por
vezes até ao limite extremo, o que ele tem de melhor nele, a sua faculdade de
pensar, de sentir, de se mover; ele consome-as, pois é esvaziado delas; e no entanto
ele não pôs nada dele mesmo no seu trabalho, nem pensamento, nem sentimento,
nem mesmo, senão numa fraca medida, movimentos determinados por ele,
ordenados por ele em vista de um fim. A sua própria vida sai dele sem deixar
nenhuma marca à volta dele.

Simone Weil, Experiência da vida de máquina, 1937


A técnica é na sua essência um destino histórico ontológico da verdade do
Ser na medida em que repousa no seu esquecimento.

Martin Heidegger, Carta sobre o humanismo, 1947

Quanto mais as técnicas progridem, mais a reflexão recua.

Gabriel Marcel, Os Homens contra o Homem, 1951

A essência da técnica não é nada de humano. A essência da técnica não é,


antes de mais, nada de técnico. A essência da técnica tem o seu lugar no que desde
sempre, e antes de qualquer outra coisa, dá a pensar. (…) A essência da técnica
penetra e domina a nossa existência duma maneira que não conseguimos ainda
pressentir.

Martin Heidegger, O que se chama pensar ? , 1951-1952

Não há autonomia possível do homem em face da autonomia da técnica.

Jacques Ellul, A técnica ou o desafio do século, 1954

Conceber objetos para a capacidade operacional da máquina em vez de


conceber máquinas para a produção de certos objetos, seria o reverso perfeito da
categoria do fim e dos meios, se essa categoria tivesse ainda um sentido.

Hannah Arendt, A condição humana, 1958

Seja qual for o país, capitalista ou socialista, o homem foi em todo o lado
arrasado pela tecnologia, alienado do seu próprio trabalho, feito prisioneiro,
forçado a um estado de estupidez.

Simone de Beauvoir, A Força das coisas, 1963


O problema não está apenas na utilização da técnica, é a própria técnica que
é já em si mesma dominação (sobre a natureza e sobre os homens), uma
dominação metódica, científica, calculada e calculadora.

Herbert Marcuse, Cultura e Sociedade, 1965

A promessa da técnica moderna tornou-se uma ameaça.

Hans Jonas, O princípio da responsabilidade : uma ética para a


civilização tecnológica, 1979

A técnica ameaça tornar-se o tirano da sociedade humana.... Uma atividade


que, por sua essência, deveria ser "meio" para chegar a um objetivo tornou-se fim
em si mesma.

Konrad Lorenz, O declínio do Homem, 1983

A tristeza da inteligência artificial é que ela é sem artifício, e portanto sem


inteligência.

Jean Baudrillard, Memórias, 1980-1985

A técnica é a alquimia; ela é a autorrealização da natureza em vez da


autorrealização da vida que nós somos. Ela é a barbárie, a nova barbárie do nosso
tempo, que se colocou no lugar da cultura.

Michel Henry, A barbárie, 1987

Com o triunfo da técnica, o homo artifex (o homem artifício) vem destronar


definitivamente o homo sapiens (o homem pensador). A escravatura dizia respeito,
antigamente, ao corpo, mas hoje diz respeito às almas.
Michel Onfray, Antimanual de Filosofia, 2001

Hoje há mais conexões entre os próprios computadores do que entre os


computadores e os seus utilizadores humanos; poderia parafrasear-se a fórmula de
Marx e dizer que neste caso as relações entre as coisas-computadores substituíram
as relações entre as pessoas.
Slavoj Zizek, Viver o fim dos tempos, 2010
A ARTE
Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devido à sua
arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, (…) mandá-lo-íamos
embora para outra cidade.

Platão, República , 380 a.C.

Valerá a pena falar dos artistas de profissão? Cada um deles tem o seu amor-
próprio e, sem dúvida, preferiria ceder o seu património a desistir da sua reputação
de talento. É este, sobretudo, o caso do comediante, do cantor, do orador e do
poeta. Quanto menos talento têm, mais pretensões e impertinências ostentam, mais
se envaidecem e vangloriam. E todos conseguem vender as suas obras, porque é
sempre o mais inábil o que mais admiradores encontra. O pior agrada
necessariamente à maioria, porque esta é dominada pela loucura. É também o mais
inábil o mais satisfeito consigo mesmo e o mais admirado pelos outros.

Erasmo de Roterdão, Elogio da Loucura, XLII, 1511

Que vaidade existe na pintura, que atrai a admiração por semelhança com as
coisas, que enquanto coisas não são de modo nenhum admiradas !

Blaise Pascal, Pensamentos, 1670


Pode-se dizer de um modo geral que querendo rivalizar com a Natureza por
imitação, a arte ficará sempre aquém da Natureza, e poderá ser comparada a uma
minhoca fazendo esforços para se igualar a um elefante.

Georg Hegel, Estética, 1832

Para que haja arte, para que a arte tenha uma ação ou uma qualquer
contemplação estética, é indispensável uma condição psicológica preliminar : a
embriaguez.

Friedrich Nietzsche, Crepúsculo dos ídolos, 1889

Eu nunca considerei a literatura e as artes senão como prosseguindo um


objetivo estranho à moral, e a beleza e a conceção de estilo bastam-me. Sei que,
nas regiões etéreas da verdadeira poesia, o mal não existe, nem o bem, e esse
miserável léxico de melancolia e de horror poderia legitimar as reações da moral
tal como o blasfemador confirma a religião.

Charles Baudelaire, O pintor da vida moderna, 1863

A Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida. Isto resulta não
apenas do instinto imitativo da Vida, mas do facto do fim confesso da Vida ser o
de encontrar expressão, e de a arte lhe oferecer algumas formas belas através das
quais poderá realizar a sua energia.

Óscar Wilde, Intenções : quatro ensaios sobre Estética, 1879

A moral é a doutrina dos valores no campo da atividade social. Na arte,


como arte, não há atividade social, a sua doutrina de valores é, não moral, mas
outra. A arte é a forma mais elevada e subtil da sensualidade. As relações entre o
artista e o seu público são análogas às do homem e da mulher na cópula. A criação
artística é uma prova de posse, de força; a contemplação artística é um prazer de
passividade. Por isso o esteta agudo é em geral invertido sexualmente.

Fernando Pessoa, Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão


pessoal , s./d. (org. de escritos dispersos)

A homossexualidade não é imoral à luz de nenhum conceito que


cientificamente se possa fazer da moralidade. Demonstrado isso, ficará
demonstrado que (…) a expressão literária e artística da homossexualidade
também não é imoral. E o corolário natural é que nada há que moralizar, onde nada
há de imoral.

Fernando Pessoa, Espólio da BNP, 55 D-36 (s./d.)

As criações, as obras de arte, são satisfações imaginárias de desejos


inconscientes, do mesmo modo que os sonhos, e tanto como eles, são no fundo
compromissos, dado que se vêem forçadas a evitar um conflito aberto com as
forças de repressão.

Sigmund Freud, A minha vida e a Psicanálise, 1925

É próprio das democracias preferir na arte os valores imperfeitos aos


genuínos, que são aristocráticos e anti utilitários.

Benedetto Croce, Poesia e não poesia, 1926

O que se perde com a reprodução técnica da obra de arte é a sua aura. O


caso mais sintomático: o seu significado aponta para além do próprio domínio da
arte. Pode dizer-se, de um modo geral, que a técnica da reprodução liberta o objeto
reproduzido do domínio da tradição. Na medida em que multiplica a reprodução,
substitui a sua existência única pela sua existência em massa.

Walter Benjamin, A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica,


1955

A arte pode ser boa, má, ou indiferente, mas seja qual for o adjetivo
empregue, devemos chamar-lhe arte, e uma obra de arte má continua a ser arte,
assim como uma má emoção continua a ser uma emoção.

Marcel Duchamp, O processo criativo, 1957

Toda a obra de arte, mesmo quando é uma forma acabada e fechada na sua
perfeição, é aberta no sentido em que pode ser interpretada de diferentes maneiras,
sem que a sua irredutível singularidade seja alterada. Desfrutar de uma obra de arte
significa dar-lhe uma interpretação, uma execução, fazê-la reviver numa perspetiva
original.

Umberto Eco, A obra aberta, 1962

Todo o ser humano é um artista, um ser livre, chamado a participar na


transformação e na reorganização das condições do pensamento e das estruturas
que dão forma e informam as nossas vidas.

Joseph Beuys, Todo o homem é um artista, 1972

A arte e o dinheiro : nunca se falou tanto deste assunto, e pode parecer


escandaloso que uma obra de arte, que é única no seu género, que é a encarnação
de um ideal de beleza desinteressado, possa ter um preço comercial, ser objeto de
uma troca e de um negócio. (…) E, todavia, a obra de arte não escapa à regra : só
tem valor de troca porque se presta a uma determinada forma de consumo.

François Warin, A Arte, 2002

A experiência estética é uma experiência cognitiva. A diferença entre arte e


ciência não é a que existe entre sentimento e facto, intuição e inferência, deleite e
deliberação, síntese e análise, sensação e cerebração, concreção e abstração, paixão
e ação, mediação e imediação, ou verdade e beleza, mas é antes apenas uma
diferença de dominância de certas características específicas de símbolos.

Nelson Goodman, Linguagens da arte, 2006

Uma obra de arte é um qualquer artefacto criado para ser apresentado a um


público do mundo da arte. (…) O mundo da arte é a totalidade de todos os sistemas
do mundo da arte. Um sistema do mundo da arte é um enquadramento para a
apresentação de uma obra de arte por um artista a um público do mundo da arte.

George Dickie, Introdução à Estética, 2008

Grande parte do público das inaugurações de exposições de arte têm como


objetivo, mais do que ver, ser visto, e são inaugurações frequentadas por mero
snobismo.

Nigel Warburton, A Arte, 2009


A LINGUAGEM E A ESCRITA
Esta língua universal será um recurso maravilhoso, sobretudo para apagar as
controvérsias nas matérias que dependem do raciocínio, dado que então raciocinar
e calcular serão a mesma coisa.

Gottfried Leibniz, A harmonia das línguas, 1714

A primeira invenção da palavra não veio das necessidades, mas sim das
paixões.
Jean-Jacques Rousseau, Sobre a origem das línguas, 1781

Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal


inconfundível da mediocridade; em contrapartida, o sinal de uma cabeça eminente
é resumir muitos pensamentos em poucas palavras.

Arthur Schopenhauer, A arte de escrever, 1850

A abolição do latim como língua erudita universal e a introdução, em seu


lugar, do espírito pequeno-burguês das literaturas nacionais, são uma verdadeira
desgraça para as Ciências na Europa.
Arthur Schopenhauer, A arte de insultar , 1860

Comparadas entre si, as diferentes línguas mostram que não se chega jamais
pelas palavras à verdade, nem a uma expressão adequada, se não, não haveria
tantas línguas.

Friedrich Nietzsche, O livro do filósofo, 1904

Os limites da minha linguagem significam os limites do meu próprio mundo.

Ludwig Wittgenstein, Tratado lógico-filosófico, 1921

Sobre aquilo de que não se pode falar, deve fazer-se silêncio.

Ludwig Wittgenstein, Tratado lógico-filosófico, 1921

A linguagem humana saiu do grito dos animais, e guarda daí as suas


caraterísticas. Ela exprime as paixões, as necessidades, a alegria e a dor, o ódio e o
amor. Ela não foi feita para dizer a verdade.

Anatole France, A Vida em flor, 1923

Existe algo de inconsciente, ou seja algo da linguagem que escapa ao sujeito


na sua estrutura e nos seus efeitos, e há sempre no nível da linguagem alguma
coisa que está além da consciência. É aí que pode se situar a função do desejo .

Jacques Lacan, Seminário, 1926


O signo linguístico é meramente arbitrário. Assim, a ideia de irmã não está
ligada por nenhuma relação interior com a sequência de sons i-r-m-ã que lhe serve
de significante.

Ferdinand de Sausurre, Curso de linguística geral, 1926

Quem escreve de modo claro tem leitores. Quem escreve de modo obscuro
tem comentadores.

Albert Camus, Cadernos, 1942

A devastação da linguagem que se estende por todo o lado e com rapidez,


não tem a ver somente com a responsabilidade de ordem estética e moral em cada
um dos usos que se faz dela. Ela provém do pôr em perigo a essência do Homem.
Martin Heidegger, Carta sobre o humanismo, 1947

No período da vitória do socialismo no mundo inteiro, quando o socialismo


se afirmar e entrar nos hábitos, as línguas nacionais deverão infalivelmente fundir-
se numa só língua comum (…), que será uma nova língua.

Joseph Estaline, Dois Balanços, 1953

A língua, como performance de toda a língua, não é nem reacionária nem


progressista, ela é pura e simplesmente fascista, dado que o fascismo não visa
impedir de dizer, mas de obrigar a dizer.

Roland Barthes, Lição inaugural no Colégio de França, 1977


Não há língua-mãe, mas tomada de poder por uma língua dominante numa
multiplicidade política. A língua estabiliza-se em torno de uma paróquia, de um
bispo, duma capital.

Gilles Deleuze, Mil Planaltos – capitalismo e esquizofrenia, 1980

Abelardo utilizava o exemplo do enunciado nulla rosa est (não há rosa) para
mostrar até que ponto a linguagem podia tanto falar das coisas existentes como das
coisas inexistentes.

Umberto Eco, Apostilha ao Nome da Rosa, 1985

Há realmente livros que são apenas “bem escritos”. São os livros banais,
com palavras trabalhadas ao torno, frases que se pretendem “despojadas”,
reduzidas ao “essencial”, e cruas. Mas como o que nelas está não representa um
sentir originário, nem uma observação imprevista, nem uma reflexão que nos
surpreenda pela justeza e profundidade, o que delas resulta é uma construção
pretensiosa, estéril, e quase sempre irritante.

Vergílio Ferreira, Conta Corrente IV , 1990

Escrever bem, escrever mal. Assentemos neste princípio : nem todo o tipo
que escreve mal é estúpido, mas todo o tipo que é estúpido escreve mal.

Vergílio Ferreira, Conta Corrente IV, 1990

A palavra falada é um fenómeno social, a escrita um fenómeno cultural; a


palavra falada um fenómeno democrático, a escrita um fenómeno aristocrático.

Fernando Pessoa, A língua portuguesa (s/d.)


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ÍNDICE
- Prefácio
---------------------------------------------------------------------------------

- A Filosofia e o filosofar
---------------------------------------------------------------
- A loucura
--------------------------------------------------------------------------------
- A morte
---------------------------------------------------------------------------------
- Deus e a religião
------------------------------------------------------------------------
- As relações humanas e a interação social
------------------------------------------
- A mentira
--------------------------------------------------------------------------------
- O amor e a sexualidade
---------------------------------------------------------------
- As mulheres
-----------------------------------------------------------------------------
- Os judeus
--------------------------------------------------------------------------------
- Os negros e a escravatura
-------------------------------------------------------------
- Os animais
-------------------------------------------------------------------------------
- As riquezas monetárias e a propriedade privada
-----------------------------------
- O trabalho
--------------------------------------------------------------------------------
- O regime político e o Estado
---------------------------------------------------------
- O Direito e a aplicação da Justiça
---------------------------------------------------
- Os Direitos do Homem
-----------------------------------------------------------------
- A Pátria e o patriotismo
-----------------------------------------------------------------
- A História
---------------------------------------------------------------------------------
- A educação e a Escola
-------------------------------------------------------------------
- O conhecimento e a ciência
------------------------------------------------------------
- A técnica
------------------------------------------------------------------------------------
- A arte --------------------------------------------------------------------------------
- A linguagem
-------------------------------------------------------------------------------

- Bibliografia

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