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13 nudes
Adelaide Ivánova

13 NUDES
pós-fax de
Érica Zíngano

A
macondo
treze nudes
para cinco meninos amados
para italo
a língua

Quebro aqui, menino, este silêncio, que


dez burocráticos anos já dura, evitando até
esta noite memória vazia de doçura,
mas que agora só me impediria de falar

contigo. E já que és tão poeta e tão bonito,


reavivo do trauma e do algoz a língua
materna, não porque tenho algo a te dizer
mas porque a carne que lembra também

sofre de amnésia. Hoje eu quero desarticular


medo, tristeza e regra, afinar com o meu o
teu desejo, falar putaria na cama naquele

idioma que há muito abandonei, pois se a língua


do inimigo é a única que dominas que seja essa
minha vingança: treparei contigo em português.

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para italo, no seu aniversário, um
poema cheio de rimas pobres

não sei o quanto pesa o destino


mas prefiro acreditar que tu aparecesse
para me apresentar à coragem

para me aproximar de coisas que eu devia


há tanto ter começado finalizado
ou dito

te usar não como desculpa


e sim como gatilho
para silêncios melhores
e mais incômodos
para mais fogos, mais artifícios

te celebrar
hoje
já que és o último terrorista
com tua capacidade infinita
de encantamento e tédio

celebro hoje todos teus abismos


teu nome dito no umbral
pois não tendo empleo fijo podemos

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virar mil noites juntos
e o que me interessa é te olhar
te ouvir e me sentar nos parques
para te leer ou leer
contigo te dizer “feliz aniversário, italo”
mas em vez de oferecer-te um
fazer de ti el regalito
tornando-me eu mesma
en contrario
um igual
ser
teu menino
teu amigo

13
você

você fodeu a cidade


todo lugar que eu passo
te vejo
a feira a livraria
duas pontes a beira do canal
pegar ônibus sem pagar
e nada de você
todo mundo já escreveu
sobre isso
e esse poema já nasce velho
antes mesmo de ser terminado
batizo essa dor
que nem dor é
de Você
amanhã eu vou acordar
como sempre se acorda
eu não tô mal não é o fim
do mundo
eu tenho afinal tanta coisa
pra fazer
mas que graça tem
sem você
vou pra feira
mamão morango luis
pimenta sal

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vou comer
em sua homenagem
o que você comeu
não vou te comer
vou sentar ali com os hippies
vai me dar raiva de mim
ritualizando o impossível
o mar é incontornável
não
vai me dar raiva de você
você fodeu a casa
cada prato cada espelho
o colchão velho
as fronhas o travesseiro
a varanda a luminária
por você até cigarros
na cama liberei
o inventário inteiro
até o teto tem
você
não sei nem por que
em vez de tu
tô usando “você”
que vontade de escrever
esse poema
pra tu (agora sim)
mas que porra ele não sai
você fodeu a cidade a casa
o poema e
o pronome que eu mais gosto

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para ewout
metalinguagem

antes de dormir olho as 207 fotos da sua


conta no facebook porque as memórias
que tenho de você já não são mais suficientes
e porque você não manda nudes não importa
o quanto eu peça já não bastam mais as fotos
que consegui stalkear em contas de tumblr
desativadas nem me bastam as fotos da sua cara
que juntei arqueóloga de tweets de 2002 e em posts
de blogs mortos me bastam menos ainda
as 26 fotos que fiz de você enquanto você escovava
clandestino os dentes na minha casa na minha
cara nada me basta eu quero testemunhar sua
[existência
em tempo real quero ver sua cara a cinco
[centímetros
da minha fazer fotos disso você tão perto ilegal
você aqui.

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o cavalo #1

I look
at you and I would rather look at you than all the
portraits in the world
except possibly for the Polish Rider
frank o'hara

menino há dias tento desenrolar esse fio esse laço


desatar essa corda do meu pescoço e escrever
essas mal domadas linhas ofertá-las a ti menino
[e potro
surgido nesta estepe sem ferradura e assilvestrado
tirando os cowboys da sela e do sério: tu
menino poeta cavalo

e eu repetitiva nos poemas obcecada na vida


me embaralho feito cego em faroeste
ofereço-te meu açúcar meus torrões mais
pra pangaré ou mula que pra égua e relincho,
amolestada e paleolítica, ao sacudir do teu galope
e ao balanço da tua crina

em repouso do topo da tua cabeça à minha


há um côvado de distância já em galope gallardo
é inútil a antropometria pois da tua glande a meu
[chanfro
de equina não há côvado que nos meça yoctômetros

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talvez aquela medida imaginária que nunca foi usada
pois mede lonjuras que não existem de tão mínimas

escrever um poema pra ti é domar um mustang


de santuário quando pra mim santo és tu menino
vishnu que me batizas de aminoácidos, precário
e matutino, potro poeta e menino a quem dedico
[horas
de trabalhos não forçados: pousar a fuça exausta
em tua soldra, levemente triste

de não poder ver tua cara enquanto gozas na minha


para depois admirar tuas quartelas bordo e casco,
tuas estrias no lombo de potro bem alimentado
[crescido
mais rápido que o previsto. pulaste as cercas do
[estábulo
para chegar, poeta e cavalo, nestas paragens onde
me encontras pronta de sela, esporas postas

para mais uma doma nesta sodoma aos avessos


sem cabresto nem gamarra deito-me devota em teu
[garrote
de puro-sangue belga e muda diante dos músculos
do teu costado aguardo brião e tala e entendo
o poema alemão que diz: toda a sorte que há
no mundo vem no lombo de um cavalo.

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o cavalo #2

tu vai embora
e leva tudo o que é
meu e teu a galope
contigo
o que sobra é
writer’s block
e as camisinhas pra jogar
fora que deixo no chão
como se fossem filhos
que não quero expulsar
de casa pra lembrar do pai
e se eu não tivesse mil anos
e fosse fértil seria linda
a linhagem de puro-sangue
seus filhos os potros
que eu-égua teria parido

você vai embora e


não fica nada além
do cheiro de estábulo
limpo um misto empoeirado
de saudade e alívio

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pro meu amante, quando atinge a maioridade

meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
belchior

saiba que você chegou no dia


que belchior morreu e que eu
dei pausa no ‘coração selvagem’
pra te ouvir falar – e deus
você fala mais do que o homem
da cobra – e que isso se chama
amor, de certo modo

você saía de dentro da sua mãe


enquanto eu cheirava loló
e ouvia chico science nas ruas
de uma cidade latino-americana
da qual você nunca ouviria falar
até me conhecer, 20 anos depois

que bom que você está aqui


e posso testemunhar esse ano
a mais nos seus ossos
que parecem continuar crescendo,
como sua crina, o mato que
eu mais amo, e que bom que sou
eu quem vai cortá-lo, porque
você me deu a honra

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é seu aniversário de 21 anos
eu te olho abismada
não fico exatamente feliz
e você deve sentir
pena de mim também
talvez

mas não é isso que une todos


os amantes, a tristeza?

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para lukas
o guepardo

para lukas, em seu aniversário

o guepardo macho é parecido com o leopardo


(ou seja é um gato)
as patas têm ranhuras
para se mover melhor em alta velocidade
a cauda é longa e serve
para lhe dar estabilidade nas curvas
ao contrário dos outros felinos não ruge
ronrona
tem na cara duas linhas pretas
(parecem lágrimas)
que protegem os olhos da claridade
(ele caça à luz do dia)
cada guepardo tem padrão exclusivo de anéis
em seu rabo
costuma marcar território mijando
(mata qualquer intruso)
adota os filhotes perdidos ou órfãos
fazendo o papel de pai e mãe
tem uma cabeça pequena e aerodinâmica
uma coluna incrivelmente flexível
(para ele correr mais rápido)
é um animal predador de estratégia simples
não usa táticas complexas como a emboscada
caça em perseguições em alta velocidade

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matando sua presa de cansaço e asfixia
(termina a caçada com uma mordida na garganta)
consegue atingir velocidades de 115 quilômetros
por hora sendo portanto
de todos os animais terrestres
além de o mais bonito
o mais rápido

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rosa luxemburgo

passei a maior vergonha


no dia que tu viesse me buscar
usando uma camiseta
rosa-choque
tu só usa preto
e eu sempre reclamo
digo “aff lukas que tédio”
e eu adoro rosa-choque
a cor o nome
não sei o que deu em mim
certeza que não foi inveja
foi outra coisa mais feia
olhei pra tu e disse
“oxe que cor é essa menino?”
e tu
oito anos mais novo
millennial
anos-luz à frente
dissesse
“qual o problema? só quem pode usar rosa é tu?”
e eu não soube responder
porque de fato
não há problema
algum

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cores são uma invenção
e não têm dono
“pertencem à vida”
(não fui eu quem disse, foi goethe)

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o presente do terremoto

teu pénis
meu pão tão cedo
maria teresa horta

teu corpo
que não domino
tu tão homem tão velho
(pra mim)

teus pelos
cor de caramelo
fazendo cócega no meu nariz
antes que eu pegue no sono

te acordo porque
me acordo com medo
pensando
meu deus e se eu perder o controle

te olho
porque tu és tão bonito
e és tão velho

tu tua velhice
e teu tamanho
gostam de mim

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e eu não sei o que fazer
quando não sou eu que
mando

daqui de onde
te olho vejo deus
a um banquinho
de distância

desapareço nos teus hectares


tuas mãos de adam smith
por toda parte
hoje cedo com elas na minha
nuca me dissesse
o presente do terremoto
menina (ele disse menina sendo que eu tenho mil anos!)
é perder o medo das ruínas

32
para arthur
albert camus

se alguém tivesse me dito que seria assim


eu não teria acreditado
guerras civis
crise econômica
fim do mundo
eu e você
sobrevivemos a tudo isso
entre as nossas guerras
civis
as nossas crises
econômicas
os fins
dos nossos mundos
as separações
eu
no meu mundo
você
algures
se alguém tivesse me dito que seria assim
eu não teria acreditado
vinte anos
algumas guerras
aquecimento global
um golpe

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outro golpe
eu e você no mundo

e ainda assim eu não teria acreditado:


sobrevivemos à adolescência
a maior das guerras
pais mortos mães
e eu não teria acreditado

se alguém tivesse me dito que seria assim


eu teria pensando
essas coisas só acontecem nos filmes
nas novelas
e nas novelas

eu nunca teria acreditado que apesar dos silêncios


desse dedo indicador na boca
sobreviveríamos
aos golpes
um
e outro
e um
ao outro

perdemos os melhores amigos


nossos melhores amantes
e apesar de tudo
ficamos
eu e você

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no mundo
inabaláveis
inconcebíveis

sobrevivemos à morte
ao exílio
e nem isso
por abstração
ou vontade
nos termina

eu e você
existimos
um projeto impossível
incompleto e,
ao que parece, eterno

vinte anos é o tempo


de vida dos castores
dos porcos-espinhos
dos pardais
e de outros projetos que desconheço
e como eles
aqui estamos
na cidade
vinte anos depois
esvaziando copos
sem conseguir pagar a conta
perdendo o último metrô

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mas aqui estamos
e não desistimos

apesar de tudo

você vai pro mundo


eu vou pra casa
separados por uma bússola
uma cidadania
um passaporte que não compartilho
mas unidos pelo desejo de não morrer
nem de estar
separados

eu te celebro
tua juventude
a que aparentas e a que trazes
contigo
a doçura da qual nunca fui destinatária
mas na qual confio:

eu sei que ela está aí

te levo comigo
como sempre te trouxe
nunca não estiveste
numa tatuagem que não era pra você
mas que devia ter sido

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te celebro
como nunca te deixei de celebrar
e te agradeço
todos os dias
por tudo

foste o primeiro homem


e ainda és

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para jakob
os anos noventa

você não estava lá nas coisas mais decisivas da minha vida


mas é assim mesmo: historiadores e arqueólogos
nunca estiveram presentes pra testemunhar
os acontecimentos isso fazem os jornalistas e os

videntes você era apenas um menino quando


kurt cobain morreu nem poderia ainda saber o dano
que causaria sua existência de crisálida taurino e
primaveril quando meu destino cruzasse com o seu

e andaríamos de mãos dadas e suando verão afora


como se fosse o primeiro (e era) berlim não era
tão esplendorosa quanto seu cachos jakob mas você
nunca soube o que foi ter 16 anos em recife na década

de noventa fhc presidente desemprego torneiras secas


filariose cólera sem vale do rio doce mas tinha chico science
abril pro rock o pior é agora não tem berlim não tem recife
não tem chico science não tem kurt cobain nem você mas fhc
ainda tem

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desobediência do estado civil

que se faça essa reforma


meu deus que me importa
e se tanto te importa vai
faz aí tuas revoluções
aproveita e faz também por mim
as minhas malas que eu não consigo
que tô de ressaca enfia por mim
minhas coisas nas caixas
faz teus votos de cassação
ou castidade que pra mim
dá no mesmo eu não ligo

vai muda o nome no contrato


um nome é só o que se gasta
da tinta da caneta: um mililitro
um papel não muda muito
a vida a casa
vamos e venhamos
quanto mais você quer
apagar meus rastros
mais você confirma
que eu existo

pode brigar sozinho pelos


pratos pelos impostos

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sonegados ninguém
vai me vaiar anyways
quando eu sair pela porta
da frente com uma mão atrás
e outra fumando

eu só fico
impressionada com uma coisa:
tudo se ajeita a vida segue
com golpe ou sem golpe
com ou sem sete de setembro
jajá estaremos acostumadíssimos
que horror
já saber se a vida segue
sem você isso eu
não sei
mas hoje não vou protestar
vou dormir

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uma escovada
“Como revolucionarios, no tenemos el derecho a de-
cir que estamos cansados de explicar. Nosotros nun-
ca debemos dejar de explicar. Nosotros sabemos que
cuando la gente entienda, no podrá más que seguir-
nos.”

thomas sankara
(num screenshot de instagram recebido por dm)
politização roleira

eu não sei escrever esse poema


porque esse poema não nasce da raiva
eu não tô com raiva de ninguém e
“só tô triste porque tô cansada”
eu não sei escrever esse poema
porque eu não sei escrever da casa da minha mãe
escrever de recife da casa da minha mãe parece ser
profanar esse lugar que é ninho (e mágoa)
sendo que poesia é desespero
é um homem frevando sobre um chão em brasa
eu estou bem, eu não morri, e estamos tão mal
que isso já é bastante coisa
eu não sei escrever esse poema mas devia
eu devo satisfação às minhas amigas
mas eu também não quero biscoito
perguntei à bela:
tá certo escrever um livro
tão heterocêntrico
em 2019?
e ela
mal respondeu
disse que não era obrigação dela me explicar
parou de falar comigo
com os boys até dá pra falar disso
mas vão dizer claro que sim

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e não sei se a resposta é essa
uma resposta assim tão rápida
na real nunca presta
talvez não tenha resposta alguma
me lembro daquele poema de june jordan
“poem about my rights” em que ela se lembra
que o pai dela reclamava dizia pra ela
não ser tão namoradeira tinha uma época que ser
[raparigueira
era resistência mas isso, adelaide, era nos 70
o que eu faço então comigo e minha politização
roleira? mas voltando ao assunto do poema
(como dedicar poemas
a boys que não fizeram nada
mas que só andam com boy lixo
quer dizer em si isso não é um problema
mas eu posso fazer isso depois de ter sido
politizada?)
eu queria publicar um livro de amor em 2019
aliás nem livro isso é
eu postava esses poemas no feice meio bêbada
de madrugada
e taggeava os remetentes
isso se chama recibo
a esperança era receber de volta um nude
(ninguém nunca mandou nenhum)
mas o máximo que eu ganhava era uns likes
no outro dia de manhã você apaga o poema
e a vida segue

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só bela continua sem falar comigo
e os boys continuam falando mal dela
eu não sei escrever esse poema
ser feminista e heterossexual não é uma contradição
[secundária
é meio síndrome de estocolmo
eu nunca fui em estocolmo nem tenho interesse
dizem que é bem caro
na suécia as mulheres denunciam quando são
[estupradas
os índices de denúncia são altos
queria saber por que
as mulheres denunciam
e por que síndrome na qual uma vítima se apaixona
[pelo seu algoz
leva um nome de cidade
uma “síndrome de recife” seria o quê?
writer’s block?

esses dias eu aprendi que o nome correto do termo


não é “violência sexual” e sim “violência
sexualizada” porque tem gente que gosta e consente
violência no sexo
e eu achei que faz muito sentido
até tentei fazer uma matemática
pra entender quão violento pode ser
dedicar um poema a um menino amigo de estuprador
fiz as contas pensando assim:
filipe era amigo de marcelo

51
marcelo me estuprou
(gente plmdds esses nomes foram todos alterados)
anos depois alguém
que sabe da história
mas que não me conhece e não me deve nada
compõe uma música pra filipe
(preste atenção: a música não é pro estuprador)
essa pessoa
a que compôs a música
ela é uó?
ela tá errada?
eu acho que tá e que não tá
hoje essa pessoa sou eu
e eu não sei o que fazer comigo
não quero biscoito
até porque livro vai sair (eu podia não ter publicado,
[certo?)
bela vai continuar com raiva e
ela existe e
eu existo

eu não sei escrever esse poema


pra explicar essa busca simples por algum alívio
[existencial
eu queria publicar um livro de amor em 2019
porque provavelmente será o último
pelo menos por um bom tempo
mas do mesmo jeito que não existe
consumo ético no capitalismo

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não existe poema de amor
inocente, adelaide
porque inércia é também agente
ativo
o papel das mulheres é fundamental no
[desmantelamento do capitalismo
tal qual é o dos homens no desmantelamento do
[patriarcado
eu não sei escrever esse poema
mas que conste aqui nos autos
que recibo não é cheque em branco
que ouvir não é passar pano
que não basta não estuprar
e que o dever de todo boy politizado
é politizar os seus amigos
boa noite e obrigada

53
continua...
1o instantâneos pra ivi
– à guisa de pós-fax

Érica Zíngano
01

eu não sei se o isbn


deste livro
foi gerado automaticamente
por uma máquina ou
por uma pessoa humana
cujo gênero poderia fazer
alguma diferença
ainda que mínima
no balanço final
de contas deste livro

eu também não sei se


onde este livro foi impresso
a maioria é de homens
trabalhando me poupe

mas eu sei que


o projeto gráfico deste livro
foi feito por um homem
a revisão foi feita por um homem
os poemas são endereçados
para cinco homens
e o convite que a mim me foi feito
foi feito por um homem

depois dessa matemática básica


de escola primária
você ainda tem a cara de pau

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de vir até aqui tentar me convencer
de que este livro é um livro 100%
feminino
só porque foi escrito por uma mulher?
essa capinha rosinha de florzinha
bonitinha não me convence
você tá me falando de contas ou
de cotas?
você não tava pensando em feminista
e trocou as bolas?
o que você entende por feminino
mesmo?

feminino é meu cu
meu chapa
e olha que teoricamente
cu nem tem gênero

pra tentar tirar um pouco


o meu da reta
depois de ter dito isso
“feminino é meu cu
meu chapa”
vou dizer apenas que

“o cu é poético”
depois dessa quero ver todo mundo
fazendo o dever de casa
reler aquele texto beeem introdutório

58
“funções da linguagem” daquele formalista
russo que a gente leu no primeiro semestre
da faculdade aquele mesmo que escreveu
a geração que esbanjou seus poetas
mas isso aí só pra começar a descascar
o poético agora com essa velha novidade
nova girando e articulando a chave-mestra
do cu o cu como t universal porque
como quer nos fazer acreditar o piva
“o coito anal derruba o Kapital”

mas se vocês acharem meio boring


o que estamos propondo como atividade
recreativa entre uma clicada e outra
no celular
podem sempre tentar fazer outra coisa
mais sofisticada mais audaciosa
por que não algo como “alexandra kollontai
e o espírito revolucionário de uma geração
que…”

quero ver todo mundo dr. do abc!

“Ivánova ou Ivanova?
Esse nome aí é russo né?
Não gosto de literatura comunista.
Não gosto de literatura em geral.
Poesia então nem se me derem de graça.

59
Pra quê que eu vou perder meu tempo com isso?
Prefiro revista de mulher pelada.
Pelo menos serve pralguma coisa.”

02

sinceramente
não sei o que estamos fazendo aqui
a sensação que eu tenho
é que estamos no meio de uma linha cruzada
onde escutamos sem querer conversas
que já estavam acontecendo antes
conversas de cunho privado
entre duas ou mais pessoas
que não nos dizem muito respeito
mas aí deu uma interferência qualquer
o tempo fechou e a gente caiu de paraquedas
nesse bate-papo papo-reto onde todo mundo
e mais alguém podem ler as mensagens
da @comunadeusa com os @boybabado
que bafo tô passada

imagino que esses poemas não nasceram


assim do nada
eles nasceram do cruzamento da vida privada
com a via pública
quer dizer ninguém sabe de nada
só o google sabe de tudo

60
quer dizer o google o facebook o whatsapp
o instagram o twitter a apple etc.
é tudo literatura licença poética e
especulação adoooro

arthur ewout italo jakob lukas


seriam eles seres humanos reais
ou só pura imaginação falaciosa?
i.e. fake news da última hora?
mas no fundo quem se importa?
o mundo mental também é real
é tudo real
é duplo do real
(a mesma faca que corta
o pão também corta o real
duplica) continua o real
quase como quem diz
“ela também serve pra passar
requeijão no pão”
mas não sei se ela serve pra nos explicar
o que nós estamos fazendo aqui
nesse real que é de papel e letras impressas
nesse real publicado e passado pra frente
como um presente para o futuro
– e haverá “futuro” pós-bolsonazi?
atenção essa não é uma pergunta retórica –
é o que eu continuo me perguntando
eu continuo lendo e me perguntando
procurando fazer sentindo

61
dar um match
encontrar a outra banda da laranja
já cortada sobre a pia
porque algo aqui me diz
aí tem coisa

algo com o voyeur


o prazer do voyeur
em nos colocar na posição de voyeur
só pode

ou vocês têm outra hipótese?

03

tem aquele poeminha da ana


que a gente quase sabe de cor
mas é melhor copiar da internet
mesmo pra não fazer confusão

“nestas circunstâncias o beija-flor vem sempre aos


milhares”

este é o quarto augusto. avisou que vinha. lavei os


sovacos e os pezinhos. preparei o chá.
caso ele me cheirasse... ai que enjoo me dá o açú-
car do desejo.

62
(fim do poema da ana)

por via das dúvidas tente memorizá-lo


de cabo a rabo
nunca se sabe a vida é traiçoeira

o desejo também

04

ivanova não é sobrenome


é nome composto
perguntei pra adelaide
daonde vinha o nome dela
ela me disse que
uma parte vem da avó materna
adelaide e a outra vem
de um romance do dostoiévski
que a mãe dela tava lendo
na época

eu li os irmãos karamázov
faz tempo
não me lembro da ivánova
eu me lembro parcamente
do pai do nome do pai fiódor
fiódor pavlovitch karamázov
(fui procurar na internet)

63
e dos seus filhos
o primogênito dmitri fiodorovitch
karamázov o ivan e o aliêksei
(aliócha) fiodorovitch karamázov
quatro homens
bastante diferentes entre si

o verbete do wikipédia (consultado


em 24 de novembro de 2018)
não faz nenhuma menção à ivánova
mas se vocês se lembram dela e
quiserem contribuir pra construção
e inclusão da ivánova na nossa
memória coletiva universal
dos grandes clássicos
de ontem e sempre
escrevam pro site da editora
contando a sua versão dos fatos
edicoesmacondo.com.br

promoção válida até janeiro


de 2079 quando então em novembro
de 2080 em meio aos festejos e
celebrações do bicentenário da publicação
d’os irmãos karamázov serão finalmente
reveladas as treze melhores versões
sobre esta que por nós quase foi
neglicenciada

64
os ganhadores dessa promoção
receberão 01 (hum) exemplar grátis
dos treze nudes reimpressos especialmente
no louvor da ocasião e autografados
pela autora que a contar pela sina
de sua afortunada avó
terá igualmente uma vida longeva

adelaide já tem mil anos


– foi ela mesma quem disse –
quer apostar?

05

tem também um poema


do alberto caeiro
em que ele discute
nossas habilidades de ver
“o que nós vemos das coisas
são as coisas”

e ele aponta para “uma aprendizagem


de desaprender”
uma necessidade praticamente imperativa
de desaprendermos a ver

podemos pensar com esse poema


sobre o real as distorções as projeções

65
sobre as posições (flexíveis) do sujeito e
do objeto também
sobre os buracos da linguagem

e por extensão sobre o próprio fazer poético


sobre aquilo que é próprio do fazer poético
a questões relativas ao ato de nomear
ao emprego da analogia e/ou da metáfora
aquilo que “os poetas dizem que as estrelas são
as freiras eternas e as flores as penitentes
convictas de um só dia”

mas o que me chama mais a atenção


nesse poema
não é exatamente isso quer dizer
é a forma com que alberto caeiro justifica
ou tenta justificar o por quê de a linguagem
operar assim ou de nós operarmos a linguagem
operarmos na linguagem assim
“triste de nós que trazemos a alma vestida!”

a essa assertiva somaria uma outra de llansol


que está no “aestheticum convivium”
parte do livro onde vais, drama-poesia?
não me lembro mais se a mesma foi dita por rilke
(colocada na sua boca) ou se foi pro rilke
(pra que ele engolisse) num certo tom de
advertência (e infelizmente não tenho mais o livro
pra poder conferir) “não basta estar nu

66
para poder amar”

em movimentos completamente dicotômicos


porém diametralmente complementares
poderíamos apontar assim um certo paralelismo
“se caeiro diz que nossa corruptela se dá
porque até nossa alma já nasce vestida
(pobre portugal católico) por outro lado
llansol assinala que nem toda a nudez do mundo é
por si só suficiente para alcançarmos
[o amor
(ou seja há ainda algo que deve se desnudar
[para além
da máscara da nudez da nudez como
[uma máscara)...”

exatamente como formula catherine millet


num livro que estou lendo agora sem ainda
[ter sido
capturada por ele “mon habit véritable,
c’était ma nudité, qui me protégeait” (“minha
[verdadeira roupa
era minha nudez, que me protegia”)

pensando sobre tudo isso que foi dito antes


como se deveria então entrar
nos treze nudes de adelaide ivánova?

penso que é simples

67
“sem coisa alguma que nos cobrisse
nossas vergonhas”

p.s. este livro é um livro muito bem comportado


a única vez que a palavra pênis aparece porque
neste livro não tem pau nem rola explícitos
é pela mão de uma poeta portuguesa
que escreveu pão e depois pénis

“Eu ainda não li esse livro, mas já conhecia


o trabalho da Adelaide na internet. Eu gosto
muito dos poemas dela. Sempre leio o blog
dela, o vodca barata. Mas foi meu namorado
quem me deu O Martelo no dia dos namorados.
Não sei se ele chegou a ler. Eu gosto muito de
literatura, especialmente poesia. Eu tento seguir
um pouco a produção contemporânea. O último
livro de poesia que eu li? Esse com poemas de
revolta, que saiu pela Companhia das Letras.”

06

vejam só
eu avisei
o desejo é uma praga
pior que as 10 pragas do egito
fodeu ewout

68
vejam só
esse trechinho
retirado do poema “o cavalo #1”
para ewout

“ofereço-te meu açúcar meus torrões mais


pra pangaré ou mula que pra égua e relincho,
amolestada e paleolítica, ao sacudir do teu galope
e ao balanço da tua crina”

esse açúcar do poema de adelaide


é o mesmo açúcar do poema da ana?
quais as semelhanças? e as diferenças?

disserte também sobre as partes do corpo


e a utilização da figura de linguagem
personificação/proposopeia às avessas

07

lembrei agora de um prof. de lit.


portuguesa que eu tive
na universidade
ele gostava do saramago
estudava as heroínas dele
o papel delas no romance
português contemporâneo etc.
lembrei agora de quando

69
o saramago ganhou o nobel
a gente ali depois da aula
como sempre
naquele bar
na av. da universidade
a mesa cheia de gente
a gente falando de poesia
bebendo cerveja
como sempre
todo mundo falando
ao mesmo tempo
uns falando por cima
dos outros
mas em algum momento
alguém solta uma sobre
a ana cristina
esse prof. se vira assim
meio sério
um silêncio na mesa

vem cá me diz uma coisa


como você pode gostar
dessa poesia aí de mulher
que se escreve a teus pés?
que se escreve nessa posição?
a partir desse lugar?

fala sério
filho da mãe

70
08

tem um livro que eu gosto mto


de que eu gosto mto
é do barthes

qd eu digo isso
vc fica sabendo mais sobre mim
sobre o barthes ou só sobre o livro
mesmo?
eu ainda nem disse o nome do livro
vou recomeçar

isso é importante?
isso não é importante?
o que é importante?
nda? caguei
vou recomeçar

tem um livro que eu gosto mto


é do barthes
o livro se chama fragmentos
de um discurso amoroso
do discurso amoroso
eu li faz mto tempo vendi
não procurei o pdf pra checar
me corrijam se eu tiver errada
são notas de aula
ele tá analisando um livro russo

71
um romance não me lembro qual
mas essa é só uma desculpa
dele eu acho não minha
porque a meu ver
ele fala desse romance
pra falar de outras coisas
tal hora ele fala que o amor
começa na fofoca

daí ele menciona uma cena


numa carruagem dois amigos
conversando conversando
sobre uma terceira pessoa
que não tá na carruagem
mas no final das contas tá né
quem puxa a conversa cresce
o interesse de quem escuta
conclusão:
o amor começa na fofoca

e ele diz assim mesmo


fofoca mas depois
eu acrescentaria
tem a parte da pipoca
da piroca e da xoxota
daí tem a parte muito intensa
da soca – da coca como vício –
até chegar na parte horrível
da troca as consequências

72
são igualmente terríveis
sova e depois cova foda né
amor? que amor?

amor é uma ova

mas amigxs não fiquemos


com sono
foi barthes mesmo quem disse
“eu decepciono”

“Esse livro é um fiasco. O título promete 13 nudes


daí a pessoa abre o livro assim, meio de lado,
tentando disfarçar na livraria pra ninguém perceber
e não tem nenhuma foto de mulher pelada.
Porra de metáfora. Licença poética é meu ovo direito.
Fiquei puto. Ivánova é uma piada sem graça.
Não recomendo nem pro meu pior inimigo.”

09

sabe aquele meu prof. de lit.


portuguesa que falou mal
da ana cristina?

a mulher dele também é profa. de lit.


portuguesa na universidade

73
eu também fiz uma disciplina
com ela
e sabe o que foi que aconteceu?

eu fui reprovada

e vocês querem saber por quê?

vou resumir bastante os fatos tá


porque eu assoviei e tirei
os sapatos

não foi exatamente por isso


mas foi exatamente por isso
ou vocês acham que eu não teria
a capacidade intelectiva cognitiva de
dar um seminário sobre os lusíadas?
vocês acham que eu cresci ontem?

agora imaginem o que eles diriam


se tivessem lido esse poema da
adelaide pro arthur “albert camus”
onde adelaide ivanova celebra
o seu antigo amante
o primeiro dos seus homens
com quem juntos “eu e você”
viveram e sobreviveram
muitas vidas “eu e você”
atravessaram juntos

74
muitos mares e tempestades
“vinte anos/ algumas guerras/
aquecimento global/ um golpe/
outro golpe/ eu e você no mundo”

sim ela celebra “eu te celebro”


“te celebro/ como nunca te deixei
de celebrar” um pouco à maneira
do poeta ucraniano andriy lyubka
trad. sei lá como (o poema completo
tá no blog da revista modo de usar
& co.) “essa mulher em seu banheiro,
depilando-se, celebrará o vigésimo-
-quarto aniversário amanhã.
talvez ‘celebrar’ seja palavra ruidosa
demais, ela simplesmente telefonará
para pai e mãe e fará suas orações
antes de ir para a cama.” e de um jeito
beeem diferente do renato russo
cantando “perfeição” num gesto de
celebração irônica que nos convida
a todos a celebrar o mundo onde
vivemos “vamos celebrar a estupidez
humana a estupidez de todas as nações…”

sim ela celebra e celebra


com todas as letras
com que alguém pode celebrar
o amor uma passagem

75
uma aprendizagem
e ela não só celebra o arthur
como também celebra o italo
“celebro hoje todos os teus
abismos”

e se ela quer celebrar os boys


quem sou eu meu deus
pra questionar o que ela tá fazendo?
boi-zebu?
se ela quer pagar pau pra eles
que ela pague quantos paus ela quiser
pra um pro outro
pra torcida do flamengo inteira
se ela quiser
foi ela quem quis
(do mesmo jeito que eu também
assumo os riscos de ter trazido
o renato russo pra cá só porque
eu adoro legião urbana não quer dizer
que estamos vivendo num estado
democrático de direito)

num outro poema


ela até virou homem
mudando o disco
da cantiga
“tornando-me eu mesma
en contrario

76
um igual
ser
teu menino
teu amigo”
por quê?

essa é a história de boa parte


da escola de poesia
onde nós aprendemos a ler
e a escrever
ah, a poesia! sim ela
e suas idiossincrasias
só que agora quem escreve
reescreve essa história
mudando o lado
do disco
tem diferença?
qual é a diferença?

tem a parte da lírica rica


mas tem também a parte
da lírica pobre
mas eu prefiro pedir
poesia pão com ovo
ao invés de sanduíche
gourmet por exemplo
mas uma coisa é certa
e vale pra todo mundo
a causa é tão nobre

77
quanto chula
na aritmética amorosa
se confunde sempre
o amador com a cousa
amada
que coisa louca né cabrões
até porque sabemos
é muito difícil delimitar
onde começa um corpo
e termina o outro
e o poema
ele nunca acaba
ele continua
sem nenhuma garantia

estamos aqui nos inscrevendo


pro debate
levantando o braço
se não sabiam disso ainda
já deveriam estar carecas

ele continua
sem nenhuma garantia

que ele saiba então defender


a parte dessa história
que lhe cabe
que lhe diz respeito

78
“Alerta”, Oswald de Andrade
(In: Cântico dos cânticos para flauta e violão)

Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira
Eles querem matar todo amor
Corromper o polo
Estancar a sede que eu tenho d’outro ser
Vem de flanco, de lado
Por cima, por trás
Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade

10

a primeira vez que ouvi falar


da sharapova
foi um ex-namorado meu argentino
um equívoco no meio do caminho
que disse que eu gritava na cama

79
como a sharapova nas quadras1
como bom virginiano ele jogava tênis
gostava de esportes individuais
e além disso amansava cavalos
só que fui eu quem caiu do cavalo
e da sua cama literalmente
mas acabei aprendendo a lição
é verdade é mentira
é fake news
é só autobiografia tá
ou vocês querem com mais brio
ou só com bombril mesmo já tá valendo?
infelizmente hoje não falaremos mais
de pênis nem de tênis porque esta que
vos escreve não reúne as habilidades
necessárias para comparar tênis e poesia
i.e. as performances de sharapova
nas quadras e de sua quase xará
ivanova nas páginas

1
pra quem quiser ouvir os gritos da maria sharapova, que
podem chegar a medir mais de 100 decibéis [https://www1.
folha.uol.com.br/esporte/818289-gritos-de-sharapova-e-
outras-tenistas-chegam-a-100-decibeis-e-incomodam-ri-
vais-ouca.shtml] eu selecionei 2 vídeos: 1) “Maria Shara-
pova. One Minute of Grunting (2000-2016)” [https://www.
youtube.com/watch?v=CwR05t154W0], que é uma mon-
tagem que compila seus gritos ao longo de sua carreira; e
2) “Sharapova scream compilation” [https://www.youtube.
com/watch?v=XOe3dLF38sU], que é uma montagem real-
izada pelo jornal russo Лента.Ру [Lenta.ru].

80
mesmo que eu tenha me empenhado
um pouco e até descobri que a sharapova
é uma espécie de pequeno grande monstro
do tênis em forma de modelo capa de revista
acumulando milhões em patrocínios
e prêmios que a fizeram ser a número um
do mundo em cinco ocasiões diferentes
isso não é suficiente pra terminarmos
esse texto post-faxina de domingo
ao som de mc loma e seu envolvimento
diferente com 47.870.826 visualizações
no youtube2 (valeu fabiana!) eu sei que
em relação a sharapova a ivanova não deixa
passar barato – guardando as devidas pro-
porções é claro até porque a poesia é uma arte
menor
em todos os sentidos
tanto em termos comerciais
quanto em termos sociais (status sociais) –
eu também tentei pesquisar um pouco
em sites de paparazzi e celebridades
a vida amorosa da sharapova
mas continuo achando que não é por aí
a linha de produtos sugarpova
iria nos fazer reincidir outra vez

2
no momento em que este livro foi para a gráfica, o vídeo de
mc loma [https://www.youtube.com/watch?v=pOpyq-T4f-
nQ] contava com 48.530.351 visualizações.

81
sobre os mesmos erros
(aquele filho da puta chamado desejo)
e a rivalidade contra serena williams
“o tabu de já não ganhar nenhum jogo
contra serena williams há 9 anos”
talvez pudesse dar algum caldo pra manga
(pra pensar questões núcleo duro como
sororidade etc.) visto que a mesma
foi recentemente envolvida
numa polêmica classificada como sexista
num jogo cujo árbitro era um português
mas mc loma continua cantando
envolvimento diferente no meu computador
me fazendo pensar em voz alta
“por que ela repete no meio da música
esta frase quase nonsense?”
“e aê, DêJei? escama é só de peixe”
e depois dá um grito tipo uuaaarrr
que só reforça o nonsense anterior
para muitos especialistas
os gritos de sharapova fazem parte
de uma estratégia de jogo uma tática de guerra
porque ao gritar 1) ela desconcentraria
a sua adversária 2) evitando que a mesma
pudesse apreender dados informações
sobre o lance em questão a sua previsibilidade
a força da jogada a sua intensidade etc.
mas e a ivanova será que ela também grita?
será que podemos nos perguntar

82
como naquele poema foda da susana thénon
¿por qué grita esa mujer?
¿por qué grita?
¿por qué grita esa mujer?
andá a saber

83
Sumário

para italo

A língua 11
Para Italo, no seu aniversário, um poema
cheio de rimas pobre 12
Você 14

para ewout

Metalinguagem 19
O cavalo #1 20
O cavalo #2 22
Pro meu amante, quanto atinge a maioridade 23

para lukas

O guepardo 27
Rosa Luxemburgo 29
O presente do terremo 31

para arthur

Albert Camus 35
para jakob

Os anos noventa 43
Desobediência do estado civil 44

uma escovada

Politização roleira 49

dez instantâneos pra ivi 55


Érica Zíngano
© Adelaide Ivánova, 2019

Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Projeto gráfico
Otávio Campos

Revisão
Fred Spada

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

I93t Ivánova, Adelaide, 1982 - .


13 nudes / Adelaide Ivánova
– Juiz de Fora: Edições Macondo, 2019.

isbn 978-85-93715-15-0

1. Poesia Brasileira I. Título


cdd: B869.1

Índice para catálogo sistemático:


1. Poesia: Literatura brasileira 869.1

[2019]
edições macondo
Rua Dom Silvério, 302/302a
Alto dos Passos – Juiz de Fora – mg
36026-450
www.edicoesmacondo.com.br
contato@edicoesmacondo.com
Acabam de ser impressos
150 exemplares de 13 nudes
com miolo em Pólen 80 g/m²
e capa em Cartão 250 g/m²
para as Edições Macondo
em fevereiro de 2019

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