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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

32º Encontro Anual da Compós, Universidade de São Paulo (USP). São Paulo - SP. 03 a 07 de julho de 2023
.

CIDADANIA CONTRA DESINFORMAÇÃO: práticas de


educação midiática em desertos de notícias 1

CITIZENSHIP AGAINST DISINFORMATION: media


education practices in news deserts

Elaine Javorski2
Janine de Kássia Rocha Bargas3

Resumo: Este artigo é parte de uma pesquisa-ação desenvolvida na Escola de Ensino Médio Dionísio Bentes de
Carvalho, em Rondon do Pará. Nos meses que antecederam as eleições de 2022, e em fevereiro de 2023, foram
realizadas ações voltadas para o letramento midiático. Duas delas são abordadas neste estudo: a) a aplicação
de um questionário para averiguarmos de que forma a educação midiática está inserida no cotidiano escolar e
como os alunos agem diante da desinformação em um deserto de notícias; e b) a aplicação de um jogo de
cartas sobre desinformação. Os principais achados nos permitem afirmar que: o ecossistema de
(des)informação dos alunos está centrado nas mídias digitais; há uma desconfiança dos jovens em relação a
informações falsas e perfis enganosos, mas, ao mesmo tempo, um baixo nível de formação para a mídia,
expresso, principalmente, na não averiguação de fontes de informações; e uma percepção unânime de que a
educação midiática deveria ser fortalecida em sua formação cidadã.

Palavras-Chave: Desinformação. Educação midiática. Desertos de notícia.

Abstract: This article is part of an action-research developed at the Dionísio Bentes de Carvalho High School,
in Rondon do Pará. In the months leading up to the 2022 elections, and in February 2023, actions aimed at
media literacy were carried out. Two of them are addressed in this study: a) the application of a questionnaire
to find out how media education is inserted in everyday school life and how students act in the face of
disinformation in a desert of news; and b) the application of a card game about misinformation. The main
findings allow us to state that: the students' (mis)information ecosystem is centered on digital media; there is a
distrust of young people in relation to false information and misleading profiles, but at the same time, a low
level of training for the media, expressed mainly in the non-verification of information sources; and a
unanimous perception that media education should be strengthened in their citizenship education.

Keywords: Disinformation. Media education. News deserts.

1. Introdução

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Cidadania do 32º Encontro Anual da Compós.
Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 03 a 07 de julho de 2023.
2
Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Facom/Unifesspa)
e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA/Imperatriz),
doutora em Comunicação, elaine.javorski@unifesspa.edu.br.
3
Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Facom/Unifesspa),
doutora em Comunicação, janinebargas@unifesspa.edu.br.

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Este artigo faz parte de uma pesquisa-ação desenvolvida em uma escola pública de
Ensino Médio, em Rondon do Pará, na Amazônia Oriental. Nos meses que antecederam as
eleições de 2022, entre junho e novembro, e em fevereiro de 2023, foram realizadas ações
voltadas para a educação midiática a partir do projeto Operação Eleições, desenvolvido no
âmbito do iLab - Laboratório de Inovação em Jornalismo Local, da Faculdade de
Comunicação (Facom) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017/2018, prevê a
educação midiática como parte integrante do desenvolvimento intelectual das crianças e
adolescentes que deve perpassar todas as Unidades Curriculares (UC) e seus objetos de
ensino. A proposta representa um grande avanço no reconhecimento sobre a importância das
mídias para o desenvolvimento de competências no decorrer da vida estudantil. A
necessidade do avanço na educação para a mídia em sociedades hiperconectadas em redes
(CASTELLS, 1999) precisa ainda levar em considerção o contexto da (des)infodemia
(UNESCO, 2020; SANTOS-D’AMORIM; MIRANDA, 2021) e o fenômeno da
desinformação (AGUADED; ROMERO-RODRÍGUEZ, 2015; CORREIA, 2019;
DELMAZO; VALENTE, 2018; ESCÓBAR, 2021).
Assim, para compreender de que forma a educação midiática está inserida no cotidiano
escolar dos alunos concluintes do Ensino Médio de Rondon do Pará e como atuam diante de
processos de desinformação é que este artigo se apresenta. Nosso lócus de pesquisa é a
Escola Estadual Dionísio Bentes de Carvalho, única instituição de Ensino Médio de Rondon
do Pará e que oferece 1.200 vagas anuais.
Para o estudo, levamos em consideração o fato de Rondon do Pará ser uma cidade
situada nos chamados desertos de notícias, fenômeno de escassez de informação jornalística
que abrange determinadas regiões (ABERNATHY, 2016; RAFSKY, 2019; NAPOLI et al,
2015), e que tem se intensificado nas últimas duas décadas.
Segundo o relatório do Atlas da Notícia de 2021, do Instituto para o Desenvolvimento
do Jornalismo (Projor), que traça um panorama anual dos desertos de notícias no Brasil, 5 em
cada 10 municípios não possuem veículo de comunicação local, o que abrange 14% da
população brasileira nessa condição, ou seja, 29 milhões de pessoas. Há, também, os quase
desertos, que são municípios que possuem apenas um ou dois veículos de comunicação.
Neste casos, há o problema da pouca concorrência e da vulnerabilidade para interferências
políticas ou empresariais sobre a produção e veiculação de notícias.

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Estados das regiões Norte e Nordeste são os que possuem uma proporção maior de
desertos de notícias. No Pará, segundo a pesquisa, das 144 cidades mapeadas, mais de 60%
são consideradas desertos de notícia, e outros 30%, quase desertos.
Neste contexto, a partir de uma pesquisa-ação (DEMO, 1995; FREIRE, 1984;
THIOLLENT, 2000), desenvolvemos, em 2022, o projeto Operação Eleições. O objetivo foi,
unindo práticas de ensino, pesquisa e extensão, promover informações qualificadas, tanto à
comunidade escolar quanto à população em geral, sobre o processo eleitoral para que os
cidadãos rondonenses pudessem exercer seu direito ao voto de forma consciente.
Dentre as ações, realizamos formação de alunos bolsistas e voluntários do iLab – sobre
educação midiática, jornalismo de dados e checagem de fatos – e professores da escola,
programas de rádio itinerante com temática eleitoral, produção de cards, checagens e vídeos
explicativos sobre as eleições e sobre os riscos da desinformação para circular em perfis de
mídias digitais e aplicativos de troca de mensagens da cidade, além da cobertura
propriamente dita no dia do pleito.
Contamos com a parceria formal da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc),
do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), por
meio da Comarca de Rondon do Pará, entre outros órgãos governamentais e entidades da
sociedade civil, como a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD) e a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB)
Nesse escopo, dois procedimentos por nós desenvolvidos a partir da inserção do projeto
na realidade escolar são abordados neste paper: a) a aplicação de um questionário a fim
conhecer o perfil dos alunos, compreender de que forma a educação midiática está inserida
no cotidiano escolar e como eles agem diante dos processos de desinformação; b) a aplicação
de um jogo de cartas sobre desinformação desenvolvido para ser utilizado como material
didático em sala de aula, seguida de um grupo focal sobre essa experiência.
Buscamos organizar nossa reflexão neste estudo nas seguintes seções: na primeira,
discorremos sobre a existência de desertos de notícias e a sua propensão à desinformação
nesses locais, principalmente, devido ao uso de plataformas de mídias digitais como base
informacional; na segunda seção argumentamos que, diante do cenário de escassez e
desordem informacional e educação midiática emerge como uma possibilidade de dirimir os
efeitos da desinformação, promovendo a leitura crítica das mídias e também a produção e
circulação de informações qualificadas, a partir de habilidades e competências desenvolvidas

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em sala de aula; na terceira seção, descrevemos nossos procedimentos metodológicos,
fundamentados na pesquisa-ação (DEMO, 1995; FREIRE, 1984), com destaque para a
aplicação do questionário junto aos alunos da Escola Dionísio Bentes de Carvalho e do jogo
Real ou fake, seguido de um grupo focal, na quinta seção, apresentamos, de forma conjugada,
os principais achados e a análise, que nos permitem afirmar: a) a partir do questionário, o
perfil básico dos alunos participantes do estudo e os modos de consumo de informações
revela que o ecossistema de (des)informação é altamente centrado em plataformas de mídias
digitais, b) com a aplicação do jogo, vimos que há uma desconfiança dos jovens em relação a
informações falsas e perfis enganosos, mas, ao mesmo tempo, um baixo nível de formação
para a mídia, expresso, principalmente, na não averiguação de fontes de informações; e c)
com o grupo focal, notamos uma percepção unânime entre os alunos de que a educação
midiática deveria ser fortalecida em sua formação.

2. Desertos de notícia e desinformação

Define-se por desertos de notícia as comunidades, rurais ou urbanas, com acesso


limitado a notícias e informações confiáveis e completas, que alimentam a base popular da
democracia (ABERNATHY, 2016). São espaços cujo jornalismo, que alimenta a base
informacional, social, cultural e política, está ausente ou quase assente para determinadas
parcelas da população, especialmente no que se refere ao jornalismo local/regional,
responsável por reportar a realidade mais próxima e, em última instância, a ausência do
protagonismo da população local na circulação e consumo de informação. Trata-se do acesso
limitado a informações confiáveis e notícias, locais e abrangentes, por determinada
comunidade (COUTINHO; MARTINS; MOREIRA, 2022).
Para Abernathy (2016), a existência de mídias com informações locais e regionais está
diretamente relacionada à qualidade de vida de uma comunidade. Nessa perspectiva, a
centralidade da mídia em grandes núcleos urbanos e sua manutenção como as grandes fontes
de informação para a população reproduz as desigualdades sociais e econômicas, revelando,
também, uma geografia da comunicação, que se desdobra em outras variáveis, como o índice
de desenvolvimento humano (IDH) (JAVORSKI; BARGAS, 2022).

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No contexto examinado quando do nascimento da noção de desertos de notícias,
Abernathy (2016) destacou o surgimento de “mídias fantasmas” na Carolina do Norte, por
ocasião da venda de pequenos jornais a grandes conglomerados ou ao esvaziamento da
cobertura local pelos veículos ainda existentes. e o vazio que sobrou com o destacamento
daqueles veículos. Olhando para realidades como a do Brasil, Coutinho, Martins e Moreira
(2022) chamam a atenção para a predominância do rádio como o meio de comunicação que
se esvai em diversas regiões.
Dito de outra forma, o vazio informacional, provocado pelo fechamento, pela compra,
falência, incorporação ou simplesmente ausência de um veículo jornalístico local/regional
gera profundos abalos na “democracia de base”, naquele espaço de emergência da esfera
pública, na periferia do sistema de poder político (HABERMAS, 2003). Espaço onde se
trocam razões e argumentos, confrontam-se realidades, conformam-se temas políticos,
forma-se preferências e constrói-se a vida cívica.
Pela ausência de circulação de informações dotadas de credibilidade, outros espaços e
autoridades epistêmicas são alçadas à condição de fontes informacionais. Para Abernathy
(2016), nesses contextos, pessoas mais pobres e com menor grau de formação tornam-se mais
vulneráveis a informações falsas e às consequências da desinformação.
Em outras palavras, nos casos de ambientes de escassez informacional, observa-se a
forte incorporação de veículos fantasmas, ou de fontes difusas nas mídias digitais como
meios de comunicação, que segue a tendência global de domínio dessas plataformas dos
circuitos culturais e de informação. Os desertos de notícia seguem, portanto, ao encontro de
um ambiente propício à desinformação (BENNETT; LIVINGSTON, 2018; CORREIA, 2019;
COSENTINO, 2020; DELMAZO; VALENTE, 2018), em que conteúdos de qualidade
duvidosa acabam cumprindo o papel do jornalismo, mediando a relação dos cidadãos com os
sistemas cultural, social e político do local, da região e da nação (COOKE, 2018).
Informações falsas, boatos e mentiras, sempre circularam nas redes sociais tradicionais
e nas digitais, mas, é exatamente o potencial de ampliação de sua circulação que faz das
mídias digitais um terreno fértil à desinformação (DELMAZO; VALENTE, 2018). Trata-se
do contexto de uma desordem informacional (WARDLE; DERAKHSHAN, 2017), em que “o
espaço de produção e de compartilhamento relativamente semiestruturado tem se mostrado
propício às manifestações de ordens distintas, em um complexo de sujeitos, conteúdos e
tecnologias” (OLIVEIRA; SOUZA, 2022, p. 77).

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Nesse sentido, o risco de desinformação, apresenta-se nas mídias digitais na própria
interatividade, nas possibilidades de produção e circulação de conteúdos, variadas, intuitivas
e a baixo custo, características natas desses ambientes. Isso faz com que seja quase
impossível que os usuários carentes de níveis de competência digital, informacional e
comunicacional possam distinguir entre informação, rumores e desinformação (AGUADED,
2015).
Em suma, a tecnologia, ao mesmo tempo em que facilitou o acesso à informação
produzida e mediada pelos próprios cidadãos, passou a exigir uma análise crítica ainda mais
apurada. A circulação de informação de qualidade, fundamental para promover a
comunicação participativa, que se define também como uma forma de cidadania, faz-se
imprescindível para a construção de um espaço público deliberativo que discute as
prioridades e necessidades mais primárias da comunidade (CABALLERO, EYZAGUIRRE,
2013).
Isso requer de nossas sociedades uma capacidade de resposta que possa fazer frente às
consequências da desinformação que, como já pudemos observar, são severas e
profundamente negativas à democracia, à saúde, à cidadania e a outros valores cívico-sociais.
A competência crítica em informação (OLIVEIRA; SOUZA, 2022) ou, como defendemos, a
educação midiática, tem o potencial de, pela raiz, promover uma nova condição de
permanência nesse contexto, às atuais e, principalmente, às futuras gerações, seja pela
capacidade de fornecer habilidades críticas das pessoas sobre as informações consumidas, ou
pela possibilidade de oferecer elementos para a produção e circulação de novos e bons
conteúdos, preenchendo os vazios informacionais.
Na próxima seção, trazemos a discussão da educação midiática como essa via possível
de combate à desinformação.

3. Educação midiática no ambiente escolar

A sociedade em rede (CASTELLS 1999) propiciou, entre outras coisas, a possibilidade


de divulgar e acessar informações por meio de grupos formais e informais disponíveis na
internet; a formação de locais de diálogos públicos sobre problemáticas comuns; a
aproximação da sociedade com os órgãos governamentais; a disponibilidade de dados

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necessários para discussões públicas e tomadas de decisão; a reunião de grupos identitários e
a exposição de realidade regionais.
Essa sociedade em rede gerou práticas e fenômenos específicos e a educação formal foi
uma das áreas que precisou se ocupar dessas consequências, seja no nível micro no processo
de ensino-aprendizagem, seja, em última instância, na formação de cidadãos críticos.
No Brasil, dez competências gerais previstas pela BNCC para os alunos da educação
básica, a quinta competência, que trata da cultura digital, diz que, ao longo da formação, os
alunos devem:
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo
as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida
pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 9).

Em contato com as mídias, ao longo da vida escolar, a BNCC orienta que os alunos
devem desenvolver atitudes de interlocução comprometida com o coletivo, a partir de
princípios éticos, postura crítica e reflexiva frente aos diversos contextos permeados por
mídia. Isso exige o desenvolvimento de habilidades para mobilização de conhecimentos
cognitivos e de conceitos éticos frente a situações complexas da vida cotidiana,
especialmente as que envolvem práticas de cidadania. A BNCC também aborda a análise
crítica em relação aos processos de desinformação, como é o caso das Habilidades no 9º ano
no ensino de Língua Portuguesa:
Analisar o fenômeno da disseminação de notícias falsas nas redes sociais e
desenvolver estratégias para reconhecê-las, a partir da verificação/avaliação do
veículo, fonte, data e local da publicação, autoria, URL, da análise da formatação,
da comparação de diferentes fontes, da consulta a sites de curadoria que atestam a
fidedignidade do relato dos fatos e denunciam boatos etc. (BNCC, 2018, p. 173).

A competência midiática proposta pela BNCC abarca, portanto, a caraterística


continuum da educação midiática ao propor que o protagonismo com mídias deve ser
desenvolvido no decorrer de todo o processo de escolarização e nos diversos contextos de
atuação, seja nas atividades escolares, do trabalho ou nas atuações coletivas. Porém, a BNCC
não abrange todos os domínios da característica multidimensional da educação midiática que,
segundo Potter (2008), é formada pelos domínios cognitivo, emocional, estético e moral.
Além disso, embora contemple os princípios norteadores da educação midiática,
professores, gestores escolares e os próprios alunos ainda se confrontam com realidades

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adversas em muitas partes do Brasil para transformar a orientação em prática curricular. De
forma geral, no país, persistem situações de escolas públicas com poucos equipamentos de
informática, especialmente com conexão à internet, a formação – básica e continuada – de
professores e gestores para a mídia é insipiente ou mesmo inexistente.
Como analisa Aguaded (2015), é necessário saber conviver com os meios de
comunicação e todo ônus e bônus que eles carregam consigo. Mas, é fundamental que, a
partir da educação para a "infocidadania" nasçam estratégias pontuais para a aprendizagem de
um correto consumo dos conteúdos.
Segundo o autor, o ecossistema comunicacional e digital atual é sobrecarregado com
conteúdo de supersaturação, midiamorfose e os pseudo-conteúdos (AGUADED, 2015). É
necessário, diante disso, construir barreiras de proteção que auxiliem no enfrentamento, ou
pelo menos na minimização, dos efeitos endêmicos da desinformação.
A educação, ou alfabetização ou letramento midiático, ou ainda educação para as
mídias, surge como uma possibilidade de instruir os cidadãos a consumir a mídia com
responsabilidade, evitando a passividade, a inércia e a ingenuidade quando deparados com
mensagens provenientes das redes digitais.
Lopes e Moreira (2022) listam alguns fenômenos relacionados às sociedades
desenvolvidas tecnologicamente para os quais os cidadãos precisam estar preparados por
meio de uma educação para as mídias:

a) forte adaptação e proliferação dos media no digital; b) a multiplicação de


conteúdos com os mais variados e díspares graus de profissionalismo, ética e
veracidade; c) o imediatismo da informação, atualizada e disponibilizada ao
segundo, de forma maioritariamente aberta e gratuita; d) a expansão do papel do
cidadão agora também repórter da sua realidade, bem como o espaço dos
influenciadores no contexto das já dominantes redes sociais; e) a crescente
importância da comunicação visual na percepção da informação; e f) a influência
dos media nos processos democráticos. (LOPES, MOREIRA, 2022, p. 20).

Uma condição essencial para efetivação da educação para a cidadania é o exercício da


educação midiática. O letramento para a mídia tem a função de orientar os indivíduos para a
ação e para a busca de respostas sobre as questões da vida em sociedade, especialmente
quando mediadas pelos meios de comunicação. Na escola, os professores alfabetizados nestes
domínios podem auxiliar na capacitação dos alunos para que se tornem cidadãos informados,
autônomos e críticos. Espera-se que esses jovens capacitados para a interpretação de

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mensagens midiática possam exigir dos meios de comunicação um serviço de maior
qualidade. O papel da audiência é fundamental na autorregulação da mídia.

Aprender sobre o mundo editado pela mídia, a ler além das aparências, a
compreender a polifonia presente nos enunciados da narrativa jornalística, não é
tarefa fácil, mas desejável para uma leitura crítica da mídia. Discutir a
responsabilidade social da imprensa, do jornalista, compreender as intrincadas
relações de poder que estão por trás da composição dos veículos; capacitar
professores e alunos para entender os sentidos, o significado implícito no discurso
da imprensa não são tarefas fáceis. Exigem muito mais que a competência do fazer
jornalístico e o entendimento claro de que a linguagem utilizada pela mídia encerra
múltiplas interpretações, razão pela qual a leitura da mídia na escola não deve
restringir-se à leitura de um veículo, mas à pluralidade dos meios. É necessário
reconhecer, portanto, que a linguagem é, por natureza, ideológica (CALDAS, 2006,
p. 122).

Em estudo anterior (JAVORSKI; BARGAS, 2020), observou-se que, no caso de


Rondon do Pará, devido ao pouco contato com conteúdo jornalístico, no cenário de desertos
de notícia, o próprio reconhecimento das affordances midiáticas, seja nas linguagens e
conteúdos multimodais ou o que há por trás, no contexto da economia política dos veículos
regionais e locais, é de quase completo desconhecimento.
Assim, como promover a leitura crítica e a capacidade, antes mesmo dos alunos, junto
a professores? Trata-se de uma pergunta para a qual este estudo ainda busca respostas. Até
aqui, no entanto, acreditamos que não há como prescindir de um investimento sobre
processos de educação midiática, sendo imperativa e urgente a adoção de políticas públicas
nesse campo.
A mídia, camada fundamental para a formação da esfera pública e para processos de
formação cívica e politização cada vez mais imbricados e complexificados nas redes de
desinformação, não pode ser uma caixa preta social. O domínio de grandes plataformas sobre
as formas pelas quais nos informamos, com alto grau de opacidade sobre os conteúdos
entregues a cada usuário e sobre o uso de dados pessoais para fins comerciais – ver a
discussão sobre APIs e algoritmos – são questões que precisam ser de domínio público desde
os primeiros anos de formação escolar.
Retomamos Aguaded e Romero-Rodríguez (2015), para reafirmar, portanto, que o
atual ecossistema informacional, com essa predominância das mídias digitais, é
profundamente endógeno e sistematicamente desinformativo. Isso porque além de saturar os
usuários (“infoxicação”) com quantidades enormes de conteúdo, tais conteúdos passam por

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uma “mediamorfose”, advinda da competição pela audiência, que dá espaço a
pseudo-informações. Assim, acreditamos que
a formação de cidadãos, atributo da escola, passa hoje obrigatoriamente pela
habilitação do cidadão para ler os meios de comunicação, sabendo desvelar os
implícitos que a edição esconde; sendo capaz de diferenciar, entre os valores dos
produtores dos meios, aqueles que estão mais de acordo com a identidade de sua
nação; reconhecendo os posicionamentos ideológicos de manutenção do status quo
ou de construção de uma variável histórica mais justa e igualitária. (BACCEGA,
2003, p. 81)

Na seção a seguir, descrevemos nossos procedimentos metodológicos, a partir de


nossa imersão na realidade escolar.

4. Procedimentos metodológicos

Os dados trazidos neste paper são resultados de parte das atividades de um projeto de
pesquisa e extensão desenvolvido no âmbito do iLab - Laboratório de Inovação em
Jornalismo Local e Comunitário da Facom/Unifesspa ao longo de 2022. Intitulado Operação
Eleições, o projeto teve como objetivo esclarecer, tanto a comunidade escolar quanto a
comunidade em geral, sobre o processo eleitoral para que os cidadãos pudessem exercer seu
direito ao voto de forma consciente. Por meio de uma pesquisa-ação (DEMO, 1995),
sedimentada em uma avaliação qualitativa das manifestações sociais, buscamos a construção
de estratégias de enfrentamento prático dos problemas encontrados no ambiente escolar.
Na área da educação, a pesquisa-ação está baseada na obra de Paulo Freire (1984), que
investiga a “realidade concreta” e a partir da qual o pesquisador educa e está, ao mesmo
tempo, sendo educado, colocando sempre em prática os resultados da pesquisa.
Segundo Thiollent (2000), essa metodologia pode ser utilizada de forma: a)
instrumental, com a intenção de resolver um problema prático; b) de tomada de consciência,
quando pleiteia desenvolver a consciência coletiva sobre problemas do grupo; e c) de
produção de conhecimento, que amplie os resultados de forma a abranger não só o grupo
investigado, mas a sociedade como um todo.
As ações aqui apresentadas, que buscaram compreender de que forma a educação
midiática está inserida no cotidiano escolar dos concluintes do Ensino Médio de Rondon do
Pará e como eles atuam diante de processos de desinformação, foi realizada com alunos e
alunas do terceiro ano da escola Dionísio Bentes de Carvalho.

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Optamos por esta série escolar, com jovens na faixa etária em torno dos 17 anos, pela
possibilidade de exercício do direito ao voto nas eleições majoritárias de outubro de 2022, e
por estarem suscetíveis à desinformação desencadeada durante esse processo. A estratégia
abrangeu primeiramente a aplicação de um questionário e, depois, a aplicação de um jogo de
cartas desenvolvido pelo iLab para o projeto Operação Eleições.
O questionário, com questões estruturadas e semi-estruturadas (FLICK, 2014),
elaborado e aplicado com o uso do Google Forms, visou mapear as seguintes questões: a)
identificações básicas, como gênero, idade, escolaridade e renda; b) fontes de informações e
consumo de mídia digitais; c) sobre se e como recebem educação midiática; e d) sobre
desinformação.
Aplicado em sala de aula, com permissão dos professores, nem todos os presentes
responderam ao questionário, seja por ausência no momento, dificuldades com a internet ou
por não possuírem o celular no momento. Foram coletadas, então, 89 respostas dos 271
estudantes matriculados no terceiro ano, ou seja, 32% do total.
Na segunda etapa da investigação foi realizada a aplicação do material didático
produzido especialmente para o projeto, um jogo de cartas denominado Real ou Fake, que
tem como objetivo testar os conhecimentos dos estudantes sobre quais notícias são
verdadeiras ou falsas.
O jogo pode ser aplicado a turmas de até 40 alunos, sendo 20 cartas-pergunta (de cor
azul) e 20 cartas-reposta (de cor laranja), todas numeradas. A carta-pergunta traz uma
indagação acompanhada por uma imagem e a carta-resposta traz, além da indicação de real
ou fake, uma resposta, uma dica sobre como se proteger daquele tipo de desinformação, além
de um QRcode para mais informações em sites de checagem ou portais de notícia
reconhecidos.
A produção das cartas teve como base para a escolha dos tipos de "notícias" o manual
Jornalismo, Fake News e Desinformação da Unesco, que distingue os tipos de desinformação
em: a) desinformação: informação falsa divulgada conscientemente, mentira intencional e
deliberada; b) informação incorreta: informação falsa que a pessoa que está divulgando
acredita ser verdadeira; c) má-informação: conteúdo baseado na realidade, mas usado para
causar danos a uma pessoa, grupo ou instituição.
As cartas abordaram diferentes tipos de desinformação: sátira ou paródia, quando não
tem qualquer intenção de prejudicar, mas tem potencial para enganar; conteúdo enganador,

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que se refere ao uso enganoso de informações para enquadrar uma questão ou indivíduo;
conteúdo impostor, quando fontes genuínas são imitadas; conteúdo fabricado, no caso de
conteúdo novo, 100% falso, criado para ludibriar e prejudicar; conexão falsa, que ocorre
quando manchetes, ilustrações ou legendas não confirmam o conteúdo; contexto falso,
quando conteúdo genuíno é compartilhado com informação falsa; e contexto manipulado, que
acontece quando a informação ou imagem genuína é manipulada para enganar.
A dinâmica inicia com a divisão da turma em dois grupos iguais, em que um fica com
as cartas-perguntas e outro com as cartas-resposta, e a distribuição das cartas. De forma
aleatória, no grupo dos estudantes que estiverem com as cartas-pergunta, o primeiro
participante deve falar o número da sua carta, ler a pergunta em voz alta e dizer se acha que
aquela informação é real ou fake. Quem estiver com a carta-resposta de número
correspondente vai dizer se a pessoa acertou ou errou, ou seja, se é real ou fake. Além disso, o
participante com a carta-resposta deve ler a explicação sobre a notícia com a dica de como
não cair em fake news. E assim, todos devem ler suas cartas, adivinhar se se trata de
informação verídica ou desinformação e, assim, serem instigados a comentar se já viram ou
acreditaram em informações semelhantes.
Todas as intervenções dos estudantes durante a aplicação do jogo foram apontadas em
um diário de campo e, após o término, foi realizado um grupo focal para discussão sobre os
seguintes pontos: a) utilidade do jogo no ensino-aprendizagem; b) discussões sobre as mídias
digitais em sala de aula; c) acesso a computadores, celulares e internet na escola; d) visão
crítica sobre as informações que encontram na internet; e) influência da desinformação na
sociedade.

5. Resultados e análise

5.1. Questionário

A partir das questões elaboradas, obtivemos um perfil básico de nossos respondentes.


Temos, então, os seguintes atributos: a maioria é do gênero feminino (70,8%) e se encontra
na faixa entre 17 e 18 anos (52,3% e 38,6% respectivamente), o restante está acima desta
idade. 69,7% são estudantes do turno matutino e 30,3% do turno vespertino.
No que diz respeito ao perfil econômico, 25,3% dizem ter renda familiar de menos de
um salário-mínimo (R$ 1.212,00 em 2022), 34,5% com um salário-mínimo, 14,9% com dois

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salários-mínimos, e 25,3% com mais de dois salários-mínimos. Importante salientar que essa
é a única escola da cidade com Ensino Médio, o que resulta em uma diversidade social
significativa. As escolas particulares da cidade abrangem apenas o ensino fundamental.
No que tange ao uso das mídias em sala de aula, 74,2% dizem já ter tido algum contato
com material nas aulas por meio da utilização de peças ilustrativas em vídeo, áudio, impresso
ou provenientes da internet, como complemento pedagógico principalmente no Ensino Médio
(66,7%). Essa prática tende a ser inserida na escola, especialmente por meio dos materiais
didáticos que seguem as bases curriculares.
No entanto, como observa Baccega (2003), somente ter acesso aos produtos da mídia
não significa desenvolver leitura crítica sobre eles. É necessário levar em consideração o
ecossistema comunicativo no qual vivem os alunos. Sem um acesso democrático aos meios,
continua-se a operar no sentido da exclusão. Para Zanchetta Jr (2005, p. 1507), "no livro
didático, os textos surgem pasteurizados, ajustados à “cultura do fragmento”, que, mesmo
sendo uma das únicas alternativas para acesso a determinados conteúdos, incentiva o
desprezo pela origem, pela história, pela integridade da informação".
Perguntados sobre o uso ativo de algum meio de comunicação, ou seja, se já foi pedido
para que façam um jornal/informativo, programa em vídeo ou áudio etc., pouco mais da
metade dos respondentes disse nunca ter sido incentivado a fazer esse tipo de atividade
(50,6%). Dos que fizeram, a maioria diz ter sido no Ensino Fundamental (54,2%).
Produzir o próprio material midiático, além de proporcionar a leitura crítica da mídia
em geral, promove o aprendizado e o manuseio das ferramentas necessárias para o processo
de construção de notícias. "Em lugar de meros espectadores ou leitores, descobrem-se como
sujeitos ativos no processo de construção da notícia, contribuindo assim para sua expressão
social e, consequentemente, na melhoria da leitura do mundo e na articulação dos conteúdos
programáticos da escola" (CALDAS, 2006, p. 125).
Sobre o consumo de mídia, em pergunta de múltipla resposta, a maioria diz utilizar
mais as plataformas de mídias digitais (86,5%) e os aplicativos de mensagem instantânea,
como o WhatsApp (73%), para buscar informação; seguido de televisão (39,3%), portais de
notícias (23,6%), rádio (16,95), jornal ou revista (4,5%) e podcasts (1,1).
A plataforma digital mais popular entre os jovens é o Instagram: 97,8% deles dizem ser
usuários, sendo que 80% produzem algum tipo de conteúdo para a plataforma. A segunda
rede mais usada é o TikTok (64%), para a qual 30,8% dos estudantes afirmam criar conteúdo,

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seguido do Facebook (47,2%). Para consumir lives, o canal mais comum entre os jovens
respondentes é o YouTube (54,9%), seguido de Instagram e Facebook (20,7%), TikTok
(14,6%) e Twich TV (9,8%).
Esses dados mostram uma tendência global de utilização das plataformas para produção
e consumo de informação, entendidos como intermediários digitais (NIELSEN; GANTER,
2018). Nestes ambientes, informação e desinformação circulam e medeiam a relação dos
cidadãos com todo o sistema onde estão inseridos (COOKE, 2018).
Perguntados sobre como buscam informação, a maioria dos respondentes (80,2%) diz
não ter em seu celular nenhum aplicativo de notícias, como G1, CNN, O Liberal etc. Dos
respondentes que usam aplicativos de portais informativos (19,8%), todos dizem ter baixado
o G1. Apesar de não terem o costume de se informar nestes canais, 47,7% afirmam seguir
algum veículo de comunicação nas redes sociais, especialmente no Instagram, como CNN
Brasil, G1 e O Globo, que foram os mais citados. Central da Fama, Choquei e outros sites
sobre celebridades também foram citados, assim como perfis como Sidney Pedroso, Nikolas
Ferreira, Luis Bacci.
Essa percepção do que é informação jornalística mostra que informações difusas e
informais ganharam aparência e status de notícia, muitas vezes sendo as únicas fontes de
informação de grandes públicos. Mas, mesmo seguindo esses perfis no Instagram que eles
consideram serem meios de comunicação, nem sempre clicam em links para ler o conteúdo
completo: 52,8% dizem fazer isso raramente, 24,7% dizem nunca fazer e somente 22,5%
afirmam abrir o conteúdo completo.
Prevalece a informação em um nível superficial sem a leitura de um conteúdo com
pluralidade de fontes e pontos de vista que um texto jornalístico deve trazer. Esse acaba se
configurando como um terreno extremamente fértil e para o sistema lucrativo de
desinformação (DELMAZZO, VALENTE 2018).
Na busca por informações sobre Rondon do Pará, os canais mais utilizados também são
as plataformas de mídias digitais (80,2%) e o WhatsApp (54,3%). Sites e blogs são pouco
acessados (6,2%). Nas mídias digitais, o perfil mais acessado pelos jovens para notícias locais
é o Rondon da Depressão (40%), seguido do Rondon Notícias (27%), da Prefeitura Municipal
de Rondon do Pará (19%) e outros, como perfis de vereadores ou de bairros (14%). Também
apareceram veículos locais como o Rondon Oficial e o Rondon Notícias, este último um
produto laboratorial do curso de Jornalismo da Unifesspa.

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Aqui, novamente, percebemos a dificuldade dos jovens em diferenciar canais de
entretenimento e informação. O perfil do Rondon da Depressão, o mais utilizado pelos
respondentes, é um canal de memes, sem critério ou fim jornalístico. Já o perfil da Prefeitura
Municipal é um canal institucional que apresenta informações de interesse do Executivo. Sem
informação local, plural e de qualidade, o exercício da cidadania fica comprometido. Como
observa Dornelles, o jornalismo local possui interesses diferenciados:

Como contribuir para a ampliação da cidadania e favorecer a participação


popular; ocupando-se com questões relativas às desigualdades e
movimentos sociais; às vezes desempenham papéis que extrapolam as
funções tradicionais de um jornal, colocando-se como agente de cobrança e
no papel de protagonista na solução de um problema social".
(DORNELLES, 2008, p.166)

Em cidades de médio e pequeno porte, pouco material jornalístico impresso é


produzido. Em todo Sul e Sudeste do Pará, somente 9% dos veículos de comunicação
mapeados na região são impressos (JAVORSKI, BARGAS, 2022). Esse dado poderia estar
relacionado com o escasso contato dos estudantes com esse tipo de material. 75% deles
dizem não ler jornal nem revista. Em Rondon do Pará não há venda de veículos impressos de
circulação nacional ou local.
Entretanto, o acesso não é problema para o rádio, já que existem duas emissoras na
cidade, uma comercial e outra comunitária, e mesmo assim, mais da metade dos respondentes
(65,2%) afirma não ouvir rádio. Dos que ouvem, 77,5% consomem a rádio comercial Rondon
FM. Já no meio sonoro digital, 81% dizem utilizar plataformas como Deezer, Spotify e
YouTube para ouvir música (73,3%) e podcasts (26,7%). Quando acompanham podcast, a
plataforma mais usada é o YouTube (79,2%); somente 18,2% usam as plataformas exclusivas
de áudio. Parcela significativa dos resultados aponta que os jovens usam essas plataformas de
maneira gratuita (86,2%), 6,9% pagam e 6,9% usam a versão pirata. Os podcasts mais citados
pelos jovens são PodDelas, PodPah, Flow e PrimoCast. Observa-se, assim, a distância dos
meios tradicionais em detrimento das plataformas.
No entanto, existe um veículo de mídia tradicional que ainda não perdeu audiência
entre os jovens como ocorreu com os impressos e o rádio: a televisão. Em termos de
conteúdos televisivos, 71,6% afirmam assistir televisão aberta, e os tipos de programas mais
citados foram os telejornais (28%), filmes/séries (28%) e telenovelas (28%), seguidos de
outros (15%), como futebol e programas de auditório. Os streamings de vídeos ganham da

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televisão em termos de acesso (91,5%) e as plataformas mais usadas são Netflix (80,1%),
seguido de HBO (22,7%), Amazon Prime (19,3%) e Globoplay (11,4%).
Perguntados sobre a influência das mídias digitais no cotidiano, a maioria (57%)
considera-se um pouco influenciada; 38,6% dizem não se deixar influenciar e 11,4%
assumem muita influência. Sobre o consumo de qualquer produto material ou simbólico
apresentado por um influenciador digital há um equilíbrio: 47,7% dizem nunca ter
consumido, 43,2% diz ter consumido e 9,1% não soube responder. Perguntados se poderiam
ter o voto nas eleições 2022 influenciado por personalidades nas redes digitais, 61,4% dizem
que não, enquanto 33% dizem que sim e 5,7% não souberam responder.
Sobre os processos de desinformação, 82,8% dos entrevistados consideram as fake
news um problema social grave, 11,5% não souberam opinar e 4,6% consideram irrelevante.
82,6% dizem não repassar informação de origem duvidosa nas redes sociais e aplicativos de
mensagens instantâneas. Um estudo americano de 2016 (GUESS et al., 2019) mostrou que os
usuários na faixa etária mais velha, acima dos 65 anos, compartilharam sete vezes mais
desinformação do que o grupo de 18 a 29 anos. Nenhuma outra característica demográfica
examinada, como gênero, renda, e educação, teve qualquer relação consistente com a
probabilidade de compartilhamento de notícias falsas quanto a idade.

5.2. Aplicação do jogo

A aplicação do jogo foi realizada no dia 27 fevereiro de 2023, para três turmas do 3°
ano do Ensino Médio, em grupos de 40 alunos. Durante a ação, os estudantes foram
estimulados a comentar sobre o que acharam das questões, se já tinham recebido algum link
ou visto nas redes sociais.
Através dos depoimentos foi possível notar alguns posicionamentos importantes sobre
o que pensam em relação às informações tratadas. Observamos que o público abordado é
mais atento em relação aos conteúdos das plataformas de mídias digitais, inclusive sentem-se
inseguros com determinados meios de divulgação, pois alguns já causam uma desconfiança
prévia. Por exemplo: a carta 1 relata o caso de um vídeo postado nas redes sociais mostrando
ruas cobertas de neve, no interior de São Paulo, durante o outono. Após a pergunta, os
estudantes analisaram rapidamente os fatos e questionaram: “neve? em maio?”, porque é um
acontecimento incomum para a região. Ao ler a carta resposta, que afirmava ser uma notícia

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fake, logo os estudantes comentaram sobre o canal em que o vídeo estava circulando, o Kwai,
uma rede social de vídeos curtos: “só podia ser mentira mesmo, logo no Kwai”.
Para eles, a maioria dos conteúdos que circulam nessa rede são motivo de dúvida sobre
a veracidade dos fatos, porque é comum encontrar desinformação vindo de lá. Além disso, os
vídeos produzidos nessa plataforma podem ser baixados para o aparelho celular e divulgados
em outros espaços digitais, como o Whatsapp e o Instagram, ou seja, não é necessário ter uma
conta no aplicativo para ter acesso a algum conteúdo que circula por lá.
Para os estudantes, quando um acontecimento descrito é algo muito fora da realidade
que vivem, já desconfiam. Esse é o caso da questão 13, que aborda o fato de um morcego
gigante ter sido encontrado no Brasil. Para a turma, que chegou em consenso de que seria
mentira, a imagem pode ser alterada, como uma montagem. A desconfiança vem justamente
dessa relação com a realidade, feita pelos estudantes, que sempre duvidam de acontecimentos
muito estranhos ou "sem lógica", do ponto de vista deles. A foto que circulou com essa
informação foi tirada de contexto. Na verdade, ela trata de uma espécie de morcego que só
pode ser encontrada nas Filipinas, ou seja, algo incomum na realidade local/nacional. Através
do jogo também é possível, portanto, explicar outras questões que envolvem a
desinformação.
Outra carta que fez os estudantes ficarem desconfiados, para alguns a certeza de que era
mentira, foi a de número 7, que pergunta sobre oferta de vagas de emprego no Whatsapp.
Essa prática de aplicar golpes através de links que oferecem emprego é antiga e bem
conhecida pela turma, inclusive comentaram: “salário alto oferecido no Whatsapp? Acho que
não!”. Ou seja, para esses estudantes, já é possível saber que, no cotidiano real, as vagas de
emprego, ainda mais com alto salário, não são ofertadas dessa forma, além de já estarem
acostumados a receber esse tipo de mensagem, que normalmente se trata de algum tipo de
golpe.
No entanto, nem todos os assuntos são unanimidade em relação à veracidade do
conteúdo. Quando envolve algumas questões de política ou saúde é possível notar que as
opiniões divergem, como no caso da vacina contra Covid-19. Na carta de número 3, que
relata o caso que circula nas redes de que uma vacina contém um chip que faz o controle
populacional, todos concordaram ser mentira, embora alguns tenham dito que nunca foram
imunizados por desconfiança sobre seus efeitos. Inclusive, uma aluna relatou que já caiu em

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uma desinformação sobre a vacina, mas logo em seguida descobriu que era mentira ao
pesquisar na internet em sites confiáveis.
A carta que mais deixou os estudantes em dúvida foi a número 5, sobre fraude nas
urnas eletrônicas, assunto muito abordado na internet na última eleição presidencial. Para
alguns estudantes é possível fraudar as urnas. As questões políticas são movidas pela emoção
das pessoas, portanto, às vezes elas têm dificuldade em aceitar certos fatos, como uma aluna
relatou: “às vezes a pessoa prefere acreditar na mentira”.
O jogo de cartas demonstrou ser uma experiência importante para os estudantes, que
nem sempre são levados a refletir sobre desinformação. Muitos já haviam visto algumas
daquelas informações, mas nunca foram procurar saber se eram verdadeiras ou não. Por isso,
eles disseram achar importante esse tipo de dinâmica pedagógica, que os leva a refletir sobre
determinados assuntos e entender mais sobre os tipos de notícias com as quais se deparam no
dia a dia.
Os estudantes utilizaram o espaço da discussão para lamentar a falta de abordagem
sobre as mídias digitais no cotidiano escolar, inclusive para que pudessem conhecer mais seus
direitos e exercer integralmente sua cidadania. Um dos empecilhos seria a falta de suporte
pessoal e tecnológico na escola. Apesar de terem um laboratório de informática com 30
máquinas (para uso de cerca de 1.000 estudantes), o ambiente é pouco usado porque não há
professor, são poucos computadores e nem sempre a internet funciona.
É possível perceber que há uma consciência sobre os processos de desinformação. "Às
vezes temos o senso crítico, mas preferimos ficar quietos para não arrumar confusão", relata
um aluno que, mesmo consciente, sabe dos riscos que corre ao transitar pelos ambientes
digitais. "Provavelmente vamos cair em alguma fake news, pois existem pessoas que não
estão nem aí e simplesmente querem acreditar na mentira, porque a verdade às vezes pode ser
mais cruel".
Esse sentimento de vulnerabilidade é unânime, ainda mais quando unida à cultura do
cancelamento, nos chamando atenção, também, para processos de despolitização (MAIA;
PRUDENCIO; VIMIEIRO, 2018) e esfacelamento da esfera pública advindos do ecossistema
das mídias e dos processos de desinformação. "A mentira pode ser muito prejudicial para
sociedade, se ela for local pode causar mal para muitas pessoas e gerar uma instabilidade na
cidade. Enquanto pode ser ruim para uns, também pode beneficiar outras pessoas", observa
um aluno.

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A opinião do estudante corrobora com o que coloca Rocha e José (2021) quando
observam que a cultura do cancelamento favorece práticas que promovem o ódio e a
intolerância na rede. Essa intolerância muitas vezes é fomentada por interesses egoístas de
alguém ou um grupo que queira prejudicar intencionalmente uma pessoa ou uma empresa,
insuflando os usuários das plataformas a colocarem o cancelado em estado de ostracismo, de
exclusão do convívio social/digital.
Estes depoimentos reforçam o que foi constatado no grupo focal, quando a maioria diz
considerar esse assunto um problema social grave, com a consciência de evitar repassar
informações duvidosas. Os estudantes estão cientes também da ação dos algoritmos, parte
fundamental da arquitetura conectiva das plataformas (VAN DIJCK et al., 2018). Se antes os
estudos sobre internet baseavam-se em conceitos como colaboração, inteligência coletiva e
web 2.0, hoje as pesquisas sobre mídias sociais e as plataformas em geral compreendem que
não se trata apenas de ambientes de interações, mas também de materialidade e de
centralidade no âmbito do regime capitalista. Este contexto precisa também ser levado em
consideração para uma educação midiática que aborde as dinâmicas contemporâneas.

6. Considerações finais

Neste estudo, nos propomos a compreender de que forma a educação midiática está
inserida no cotidiano escolar dos alunos concluintes do Ensino Médio de Rondon do Pará e
como atuam diante de processos de desinformação. A partir de dois procedimentos
específicos – a aplicação de um questionário e de um jogo de cartas sobre desinformação,
seguida de um grupo focal sobre essa experiência – buscamos conhecer o perfil dos alunos,
compreender de que forma a educação midiática está inserida no cotidiano deles e como eles
agem diante dos processos de desinformação e a sua percepção sobre procedimentos e
práticas de educação midiática.
A partir dos questionários foi possível constatar a centralidade das plataformas de
mídias digitais na realidade informacional dos alunos. É em perfis do Instagram, do Facebook
e do TikTok que os jovens interlocutores desta pesquisa buscam as principais as fontes para
conhecer a realidade mais abrangente. No entanto, como vimos, é justamente o ambiente das
plataformas, saturado e com pseudo-informações, o espaço propício para a desinformação,
trata-se, portanto, de um espaço (des)informacional para os jovens.

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Justamente por guardar uma enorme gama de informações e conteúdos de qualidade
duvidosa, face a um contexto de desconhecimento sobre o jornalismo, como é típico nos
desertos de notícia, o cenário de precarização da formação cívica e da cidadã torna-se ainda
mais grave.
O pouco contato com jornalismo, mesmo no ambiente digital, se soma como um
agravante, e o acesso a perfis específicos em plataformas de mídias digitais como únicas
fontes informativas, também são variáveis negativas em nossa análise.
O estudo nos permitiu, também, constatar a incipiência de práticas de educação
midiática na escola Dionísio Bentes de Carvalho, somada a uma infraestrutura restrita de
acesso a equipamentos e conexão de qualidade à internet no ambiente escolar, o que dificulta
possíveis ações nesse campo.
Constatamos, ainda, que embora haja grande desconfiança dos jovens em relação à
circulação de notícias falsas e perfis oportunistas, há pouca qualificação em termos de
educação midiática. Não há leitura de notícias, checagem de fontes, tampouco
problematização da origem das informações.
Na discussão entre os alunos, entretanto, foi possível observar que, de forma unânime,
há uma percepção positiva sobre a relevância de um conhecimento sobre os processos de
produção e circulação de informações, em especial nos ambientes digitais e do jornalismo, e
de que práticas de educação midiáticas os ajudariam no cotidiano e nas tomadas de decisão,
individuais e coletivas, como o voto e em sua vida em comunidade.

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