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*** OS SEGREDOS DO MUNDO SWING ***

com SylviamatheuS
*** PARTE UM: UM ESTILO DE VIDA ***
Capítulo 1
Uma lua de mel cheia de swing/1991

A caminhonete vermelha briga contra o mau estado


de conservação da BR101. A placa informa: Balneário
Camburiú, 10 km. Sylvia sorri e apóia a cabeça no
ombro de Matheus. Sua mão procura o colo dele, e
começa a abrir o zíper de sua bermuda. Matheus sorri,
satisfeito. Ele tinha mesmo escolhido a mulher certa
para si. Ele faz um carinho no rosto dela, sem tirar
os olhos da estrada. Um enorme solavanco os sacode: ao
passar por um enorme buraco, a suspensão rebaixada do
carro havia batido no chão. Matheus estaciona o carro
num posto de gasolina à beira da rodovia, respira
fundo por um segundo para que sua ereção se acalme, e
salta do carro. Ele deita no chão para dar uma olhada
no estrago no fundo do carro. Sylvia dá a volta e
também se inclina para saber da extensão do problema.
Um frentista se aproxima solícito, e a pretexto de
saber se podia ser útil em alguma coisa, examina
interessado a bela bunda emoldurada num delicioso
shortinho jeans. De seu ponto de vista, embaixo do
carro, Matheus sorri, satisfeito: esse é o efeito que
o delicioso corpo dela tinha em todos os homens,
independente de raça, credo ou classe social. Essa era
a mulher que ele escolheu para dividir a maior
aventura que um casal pode viver nesse planeta: um
estilo de vida liberal.
Tanto quanto Matheus possa ver, não há vazamento
nem dano algum à suspensão. Decide que podem seguir
caminho. Devagar. Na chegada à modesta pousada de
beira de estrada, perto do município de Laranjeiras, o
jovem casal experimenta sentimentos contraditórios –
se há certa decepção com o estabelecimento “2
estrelas” onde passarão 10 dias, há também uma enorme
expectativa para a sua chegada na praia de nudismo do
Pinho, onde conhecerão os casais liberais mais
elegantes do Brasil, e viverão o primeiro capítulo
dourado da aventura a que se propuseram: praticar o
swing pela primeira vez, em plena lua-de-mel!
Mesmo com o susto e a baixa velocidade nos
últimos quilômetros, fizeram em bom tempo a viagem. Dá
tempo para descansar um pouco antes da praia. Mas
Sylvia tem outra idéia: estrear a cama.
Para a maioria dos casais do universo, uma
rapidinha é um exercício que costuma deixar a mulher
insatisfeita sexualmente. Mas para esses dois jovens,
uma rapidinha é uma mistura de balé com artes
marciais, que é como o programa antigo programa do
Chacrinha: “só acaba quando termina”. A cama é
estreada, sim, mas o chão merece os melhores momentos,
com uma cavalgada magistral de Sylvia sobre um Matheus
enlouquecido de tesão, segurando o gozo para terminar
junto com ela. E terminam mesmo juntos, num abraço
terno. “Isso é só começo!” grita Sylvia entrando no
chuveiro.

Logo à entrada do platô que dá acesso à pequena


enseada semicircular da praia do Pinho, um outdoor
explicita as regras do local: à esquerda da entrada,
os homens solteiros. À direita, apenas as famílias. E
é naturalmente no lado “família” onde as coisas
acontecem. Dois seguranças, completamente nus com
cassetetes presos à cintura, garantem que as regras do
local sejam respeitadas. Tendo pagado os ingressos,
Sylvia e Matheus se despem e se dirigem para o lado
direito como quem entra para uma iniciação, para um
“walk on the wild side”, na terra dos seus sonhos mais
eróticos.
De maneira geral, uma praia de nudismo não tem
nada de sensual - fato, aliás, que os nudistas nunca
cansam de enfatizar. Mas o Pinho é diferente: uma
longa pesquisa em revistas como PRIVATE, FORUM
INTERNACIONAL e BRAZIL MAGAZINE revelou ao casal que é
ali que as pessoas liberais do Brasil se encontram,
que são combinadas as famosas (e infames) festas de
troca de casais.
Como sempre acontece, o corpo de Sylvia atrai a
atenção de todos os adultos na praia, homens e
mulheres. Sua completa nudez torna-se o pólo magnético
daquela seção do litoral catarinense. Um a um, todos
os casais fazem questão de travar conhecimento com
aqueles dois jovens que é uma raridade na cena de
swing da época, que é formada quase exclusivamente por
profissionais bem sucedidos de 35-40 anos em diante. A
forma física do ex-goleiro Matheus também provoca
frisson entre as freqüentadoras, e algumas das
mulheres avaliam seu pênis discretamente com um
sorriso interessado, ainda que ele esteja em repouso,
e mesmo um tanto retraído pela expectativa e
nervosismo pela nova situação.
Mais para o fim da tarde, a abordagem que eles
esperavam: um casal com seus 40 e poucos anos, a
mulher uma loura em boa forma, o homem nem tanto, mas
muito simpático, educado e gentil. Vamos chamá-los
aqui de Charles e Diana, afinal eram os reis da praia.
Eles convidam Sylvia e Matheus para uma festa em
Camburiú. Uma festa de casais liberais.
Até o momento, tudo vai correndo às mil
maravilhas, rigorosamente de acordo com o plano. De
volta à pensão, o casal entra numa merecida ducha
fria. Dizem que água gelada não colabora para a
manutenção de uma boa ereção, mas se você está no
banho com Sylvia, a coisa é bem diferente. Matheus a
imprensa contra o box e a penetra com tudo. Ela grita
de prazer, e Matheus tem um orgasmo intenso, e se
sente como um herói dos romances eróticos de sua
adolescência, aventureiro mergulhado em experiências
sexuais e lugares exóticos.
A festa começa às 22hs, então é o tempo certinho
de tirar uma soneca após a praia, e jantar. Assim que
pega no sono, Matheus é acordado por Sylvia que o
sacudia. Ela “dá para trás” – e não estamos falando de
nenhuma modalidade sexual. Ela amarela, falta na hora
“H” a coragem que ela sempre achou que tinha, desde
que Matheus começou a colocar essas minhocas na cabeça
dela.
Num primeiro momento, Matheus fica frustrado e
chateado. Afinal, é uma época de inflação e
turbulências econômicas, e não existe internet nem
nada disso, então planejar, agendar, reservar e pagar
toda aquela viagem tem um custo que o casal mal pode
pagar, e dá um trabalhão danado. E será que foi tudo
para nada? Será todo aquele sonho e aquele esforço vai
ser em vão?
Matheus engoliu a raiva, porque mesmo iniciante
(ou nem mesmo tendo se iniciado) já conhecia a regra
de outro do swing: quem decide é a mulher.

No dia seguinte, voltam ao Pinho, e repetem-se as


cenas de deslumbramento com a juventude e beleza dos
corpos do casal. No meio da tarde, Charles e Diana
aparecem acompanhados de 5 outros casais. São muito
gentis e carinhosos, dizem que ficaram os esperando, e
que é uma pena que não tenham ido.
Sylvia acha que os homens não são nada demais,
mas ela percebe que há mulheres muito interessantes no
grupo. E isso a deixou mais animada e mais relaxada.
Afinal, isso faz parte da aventura dela. Para não dar
sopa para o azar, a esposa Diana combina que passará
de carro para apanhá-los após o jantar, para levá-los
para a “festa”. Charles e Diana são na verdade donos
de um motel e a festa é a inauguração de uma moderna e
elegante suíte. E Sylvia e Matheus eram a atração
principal daquela celebração liberal.
Como nunca beberam, podem desfrutar em sã
consciência daquilo que tanto esperavam: a orgia.
Matheus é atacado por Diana e levado para um canto. A
rainha da praia chupa seu membro com calma e carinho.
Ele vai ficando mais e mais excitado, e tenta levantá-
la para uma penetração, mas ela se recusou, dizendo:
“Ainda não. Primeiro quero ver você gozar na minha
boca”.
Do outro lado da suíte, Sylvia tem a oportunidade
de conhecer uma mulher pela primeira vez. Geisa é uma
morena gaúcha de Caxias do Sul, descendente de
italianos, bonita e carinhosa, com um fenomenal
apetite pelo sexo oral, e seios capazes de emocionar
qualquer um. Charles se aproxima delicadamente da
dupla, observando discretamente. Sylvia faz um sinal
para que ele se aproxime. Ela segura o pau ereto dele
e o masturba com empenho. É difícil coordenar os
movimentos sendo chupada por uma especialista, mas
Sylvia faz o anfitrião gozar rapidinho.
Por uma fração de segundo, Sylvia fica preocupada
com a possibilidade de Matheus estar com ciúme daquilo
tudo. Ela o procura com o olhar, e percebe que ele
está na extremidade oposta do ambiente, fazendo sexo
anal com Diana que urra de prazer. Nesse momento,
Sylvia relaxa e experimenta o orgasmo mais intenso que
já teve.
Capítulo 2
Matheus e Emmanuelle/1982

O garoto Matheus Hernandez é filho de militar,


nasceu em Santa Maria (RS) e cresceu mudando várias
vezes de cidade, vivendo em Quarai, Santo Amaro e São
Luiz Gonzaga. É um guri tímido e solitário, que adora
esportes e tem uma fértil imaginação de que ninguém à
sua volta parece suspeitar.
Na sua introspecção, gosta muito de ler, e é essa
paixão que leva à grande descoberta de sua vida. Aos
12 anos de idade, em sua cidade natal, vasculha as
ofertas de um sebo localizado nas imediações da Vila
Militar, onde reside com sua família. Em meio a uma
pilha de livros e revistas velhos, encontra o clássico
romance erótico Emmanuelle, sobre uma jovem francesa
que se casa com um diplomata e viaja para Bangkok, na
Tailândia, para viver uma jornada exótica de
descoberta e exploração de sua sexualidade.
O romance foi escrito Marayat Rollet-Andriane,
possivelmente com a ajuda de seu marido, o diplomata
de UNESCO Louis-Jacques Rollet-Andriane. O tórrido
romance foi publicado e distribuído clandestinamente
na França em 1959, sem conter o nome da autora. Com o
sucesso internacional, esse e outros livros da autora
passaram a ser editados sob o pseudônimo de Emanuele
Arsan.
O lançamento do longa-metragem adaptado da obra,
com Sylvia Kristel no papel que lhe daria fama
mundial, levou a saga da insaciável jovem para dentro
da imaginação de milhões de jovens, mundo afora. As
cenas de sexo dentro do avião, particularmente,
municiaram de deliciosas imagens as imaginações de
meio mundo.
Com o jovem Matheus não é diferente. Mas no caso
dele, além de servir como estímulo para longas e
extenuantes sessões de masturbação, aquele romance
também planta a semente de um estilo de vida
alternativo, no qual as convenções sociais aceitas não
se aplicam, no qual a busca pelo desejo e pelo auto-
conhecimento sexual é o norte da existência.
Capítulo 3
Porteira aberta/1988

Sylvia Keller está ardendo por sexo. Sentada numa


poltrona desconfortável da única sala de cinema da
cidade, ela toma a mão do rapazote sentado ao seu
lado, e a coloca em sua coxa. Ele não passa de um
menino – e seu nome não passou para a história. Sua
performance, também não. A testa transpira, e com
muita determinação, ele consegue não retirar a mão da
coxa. Requer muito esforço, mas não é o suficiente.
Sylvia quer muito mais. Quer que o rapaz insinue sua
mão entre suas pernas, por dentro de sua calcinha, de
preferência introduzindo um ou dois dedos em sua
bocetinha. Se fizer isso – e não faz – é certo e
garantido que ela retribuirá massageando o pênis do
felizardo por cima da calça. Um mínimo de negociação
bem sucedida, a essa altura, garante a oportunidade de
colher aquela flor. Mas não: aquela mão na coxa é o
máximo que o rapazote se permite.
Coragem para comer, o rapaz não tem. Mas para
espalhar que tinha comido, ah! - isso ele tem coragem
até demais. E assim toca a banda em Porteirinha, no
semi-árido do norte de Minas Gerais, quase divisa com
a Bahia. Porteirinha já foi retratada, poeticamente,
como uma “pequena clareira no coração das matas”. A
cidade originalmente servia de pouso aos viajantes que
vinham do Nordeste e do Sertão baiano. Foi batizada em
homenagem a uma rústica e pequena porteira, erguida
para guardar os cavalos de um fazendeiro da região,
porteira essa que ficava onde hoje é a igreja Matriz
de São Joaquim. Sentiu o drama?
Na sua adolescência fogosa, com o jovem e lindo
corpo ardendo em desejo, Sylvinha sabe exatamente por
que aquela região é chamada de polígono das secas.
Ela está insatisfeita com os jovens
porteirinhenses, com as noites inocentes na Praça
Odilon Coelho e com a atmosfera social tacanha que
combina com a tradição culinária da pamonha, um
apreciado acepipe local. Some-se a isso o fato de ter
se desentendido com a família, e suas perspectivas não
são lá muito animadoras.
A menina sente-se presa, entre Serra do Espinhaço
e Serra do Caixão Velho, entre as Serras do Tira
Chapéu, da Água Branca e do Rochedo. Essas estruturas
montanhosas a oprimem, e ela sente que precisa partir.
Ela dá adeus ao Caixão Velho, à pamonha, à seca.
Porteirinha nenhuma ia cercar aquela mulher que tinha
um coração selvagem e indomado como o de uma égua
puro-sangue.
Capítulo 4
Duas solidões se encontram/1989

Na sede social de um clube de futebol


profissional, na cidade paulista de Campinas, Matheus
deita pela primeira vez os olhos na jovem Sylvia e
fica tarado. Os cabelos, o corpo escultural, a graça
no andar e falar. Num segundo exame, percebe que tem
muito mais em comum com ela. É o encontro de dois
solitários, dois desterrados de cantos opostos do
Brasil, longe das famílias, tentando construir uma
vida nova e, principalmente: diferente.
Ela é bacharel em Letras, e trabalha como
secretária no clube. Matheus, formado em educação
física, é treinador de goleiros das equipes de futebol
de salão. A essa altura Matheus, mesmo jovem, já é um
homem feito, sabedor das coisas do mundo. Sylvia é uma
moça que “vem da roça” – e ele pretende lapidá-la à
maneira que sua fantasia pede.
O romance se inicia: tórrido, sempre entre quatro
paredes. Raramente saem ou fazem qualquer programa. A
companhia e a intimidade sexual do parceiro são mais
do que suficientes para esses dois jovens.
30 dias depois do começo do namoro, Matheus
começa lentamente o processo de familiarização da
jovem namorada com o entretenimento adulto e com o
estilo de vida dos “casais liberais”. A leitura das
revistas eróticas torna-se um jogo, uma fantasia a
dois. Dormir, trabalhar, transar, conversar, ler e
comer. A isso vai se resumindo a vida.
Não demora para colocarem em prática a ideia de
um swing.
Resolvem contratar, para tanto, um casal
“profissional”, e combinam o encontro num hotel perto
da cidade que estava em promoção.
Grande (e repetida) decepção: os casais
profissionais com que se deparam são, invariavelmente,
feios, mal educados, mal vestidos. Nada atraentes.
Eles dão uma olhada nos tipos, e Matheus tem um
trabalhão para se desembaraçar destes. Tem que pagar o
combinado pelo programa, ainda que esse não se tivesse
consumado; tem que pagar o táxi de volta; tem que
gerenciar egos arranhados e libidos descompensadas.
Maldita fantasia, que está custando um dinheiro
que eles não têm. As mentiras dos anúncios pessoais
chegariam a ser engraçadas, se não fossem tristes. É
uma época em que esse tipo de combinação depende de
cartas pelo correio, fotos em xérox, telefonemas
interurbanos. Tudo muito complicado. Mas, com cada
nova decepção, eles aprendem mais uma lição sobre esse
estilo de vida.
Os anos 80 se encaminham para um final
melancólico com a economia no caos e a sociedade sem
rumo. Sylvia e Matheus resolvem juntar os trapinhos de
vez. Brigados com suas famílias, eles vão forjar
juntos uma existência como nenhuma geração de
brasileiros ainda viu.
Capítulo 5
Casal querendo casal/1992

Estamos no início dos anos 90, em Belo Horizonte.


Uma proposta de trabalho levou o casal para a capital
mineira, onde – cada um em sua área - trabalham em
outro clube de futebol. Turbinados em sua resolução de
viver intensamente o lifestyle do swing, depois da
experiência na lua de mel, o casal tenta encontrar
outros casais interessantes se correspondendo pelo
correio. Anunciam na revista Private: “Casal querendo
casal”. Mas, nos tempos pré-internet, não se trata de
uma proposição banal gerenciar essa comunicação.
O grande chamariz que utilizam são fotos que
reproduzem a deliciosa nudez de Sylvia. Isso levanta
várias questões: em primeiro lugar, o problema da
revelação das fotos. Os atendentes das lojas de
revelação fotográfica não são confiáveis. O risco de
um funcionário distraído abrir as excitantes e
secretas fotos na frente de todos os clientes é algo a
ser evitado a todo custo. A solução se materializa na
figura de uma senhora proprietária de uma loja de
revelação. É uma mulher moderna, liberal, e faz o
atendimento do casal pessoalmente. Carinhosamente
apelidada de “Dona Kodak”, ela providencia também as
cópias xérox que usam para enviar para casais pelo
correio – afinal, o custo das revelações não é nada
baixo, e as cartas e os casais se multiplicam.
Durante todo esse processo, é importante manter a
discrição e sigilo absoluto – principalmente por
estarem trabalhando com crianças, no clube. Há por
parte de Sylvia e Matheus um cuidado enorme com a
separação dos dois mundos.

O cenário é um conhecido posto de gasolina, de


propriedade de um jogador de futebol que é uma
instituição nas Minas Gerais. A noite acabou de cair,
e Matheus está agachado atrás de um automóvel,
controlando quem chega e sai de uma determinada bomba
de combustível desse posto. Uma Brasília branca
maltratada encosta, sua lataria e parte mecânicas
produzindo uma verdadeira batucada, com vários
diferentes barulhos que evidenciavam um carro em
péssimo estado de conservação. Um casal está sentado
na banheira. Matheus apanha um binóculo na mochila e
olha para os dois. Feios, maltratados como o carro. O
motorista faz algumas perguntas para o frentista Joca,
amigo de Matheus. Ao responder, Joca tira o boné e
coça a cabeça. É o sinal: aquele é o casal que ele
espera. Ou melhor, o casal que não é o que eles
esperam. Ele se afasta a passos rápidos, a decepção
estampada no rosto. Os encontros não estão dando
certo. No shopping, no posto de gasolina, em
restaurantes. A decepção é sempre a mesma: só mudava o
endereço. As mentiras que esses casais contavam...
Outras pessoas podiam ter desistido, a essa
altura. Mas não Sylvia e Matheus. Para eles, o
lifestyle do swing é uma escolha de vida. Se não
existe uma cena de swing na cidade, então eles terão
que a criar.
Em 95 compram um celular, um artigo caro, raro.
Resolvem investir ainda mais na formação de uma rede
de casais liberais, com novas e ainda mais ousadas
fotos de Sylvia, e anúncios dominicais no Estado de
Minas. A agradável “Dona Kodak” confidencia em voz
baixa a Matheus: as novas fotos estão sensacionais!
Agora, já aparecem Mercedes Benz para assuntar na
bomba de Joca, gente educada e bonita que merecia um
jantar para se conhecerem – e quem sabe um algo mais,
se rolasse um clima. Sylvia cada vez mais se convence
que o melhor é fazer a seleção pelas esposas.
Nesse meio tempo, uma grave crise financeira
aflige o clube onde os dois trabalham. Os salários
podem atrasar 90 dias para sair, o caos se instala, a
corrupção é total, funcionários vendendo material do
clube para sobreviver, um verdadeiro “salve-se quem
puder”.
Capitulo 6
O Cantinho do Swing

O projeto foi amadurecendo aos poucos na mente de


Sylvia e Matheus: com a rede de casais que eles
começavam a formar, sabiam que havia um público para
os eventos de swing com os quais sonhavam, e que não
existiam.
Agora é hora de botar o time em campo e construir
o seu próprio clube de swing! Começa então a reforma
da casa em que moravam. É uma proposição de risco,
pois nem a dona sabe do que se trata, que tipo de
obras eles estão realizando. Para todos os efeitos,
estão tratando de reformar uma grande infiltração.
Eles organizam um cadastro de casais para agregar
e interagir, pois com os anúncios, gente do Brasil
inteiro passa a escrever. O movimento do swing está
crescendo a olhos vistos em todo o país. É a hora
certa para montar o empreendimento deles, que se
chamará CANTINHO DO SWING. A ideia é fazer um lugar
simples e aconchegante.
O “problema de infiltração” é uma desculpa
adequada, que não levantou suspeita alguma da
senhoria. Na verdade, eles derrubam paredes, e montam
uma big suíte. A obra não se resume a modificações
estruturais, mas contempla preocupações de interior
design: uma parede de pedra que serve para dar uma
sofisticação ao salão, e ao mesmo tempo também
amortecer o som das surubas homéricas que pretendem
promover ali.
Mas, fazer planos é fácil, o difícil é conseguir
os recursos para realizá-los. Com os salários do clube
atrasando de maneira descontrolada, tudo ficava ainda
mais difícil. O casal se vira tentando fazer dinheiro
de todas as maneiras que lhes ocorrem. Matheus passa a
vender pelo correio as novas fotos de Sylvia nua. É
até um bom dinheiro, mas não é o suficiente.
Alguns dos adeptos do lifestyle que eles passaram
a conhecer também se propõem a ajudá-los. Um
empresário de nome Zé Raimundo é um deles. O rico
senhor vai direto ao assunto: “O que posso fazer por
vocês?” Matheus respira fundo e menciona que queriam
comprar um belo refrigerador Visi cooler. No dia
seguinte, o motorista dele leva 2 mil em espécie para
um incrédulo e agrdecido Matheus.
Em Itabrito há um casal com um restaurante
maravilhoso, que se tornam íntimos de Sylvia e
Matheus. Depois de certo tempo de convivência fazem a
mesma oferta: “De que vocês precisam?” Os móveis,
responde Matheus. E os móveis vêm. Assim, pedra a
pedra, móvel a móvel, eles vão montando seu esquema.

Premiere/1998

Finalmente conseguem promover o primeiro


encontro: 17 casais de gente bonita e elegante.
Empresários, artistas, bancários, jogadores
profissionais e até um meio-campista canhoto que veio
a vestir a camisa da seleção brasileira.
Como a dona da casa morava ao lado, programam o
evento para sexta feira, dia em que ela está no sítio.
No sábado é dia de futebol, então Matheus tem que usar
aquela noite com sabedoria. Como o casal nunca bebeu,
não chega a ser um problema intransponível.
A estrutura está pronta, mas ainda precisam da
ajuda dos amigos. Um amigo policial traz as bebidas.
Um micro-sistem emprestado proporciona a música. Não é
a coisa mais fácil de gerenciar: afinal são 17 casais
e um só banheiro. Mas a noite é um enorme sucesso.
Sylvia recebe os convidados de camisolinha camuflada e
sandalhinha, causando enorme frisson. Um monte de
gente imediatamente já está querendo comê-la. Um ótimo
show de strip-tease feminino ajuda a colocar a orgia
em andamento.
O destaque da noite, além da deliciosa e
requisitada Sylvia, é um exótico casal de Barbacena:
um ex-padre e uma ex-freira, por sinal, muito gostosa.
Ele abandonou a batina para casar com ela, que era
insaciável e adorava dar sem parar. Ela puxa a fila, é
a alegria da festa.
De manhãzinha, finda a festa, o casal e seus
parceiros fazem as contas e vêem que tiveram um
excelente retorno em seus investimentos. Matheus vibra
internamente. É possível ganhar a vida com o swing!
Sylvia teria tido o mesmo raciocínio e a mesma
alegria. Mas depois de tanto transar, ela está
exausta, cochilando sentada no sofá.
Uma meia hora depois, ela desperta e vê Matheus
sentado ao seu lado, ainda pensativo, sonhando
acordado e olhando para o teto. Ela sabe que ele
precisa descansar para a viagem com o time de futebol
de salão, que vai jogar em Ipatinga. Sylvia nem pensa
duas vezes: se coloca entre suas pernas e lhe aplica
um boquete do jeito que ela sabe que ele gosta. Essa é
Sylvia: uma potência do sexo, ela nunca nega fogo. Dá
certo: depois de gozar, ele consegue relaxar e dormir
um pouco.

Capítulo 7
Luz, câmera... decepção/1999

A fama de Sylvia e Matheus se espalha ainda mais


pelo Brasil, se tornando uma marca de referência entre
os adeptos do lifestyle.
Pouco tempo depois, uma produtora os convida para
estrelar um filme pornô. Parece uma oportunidade de
ouro, mas é “ouro-de-tolo”. No filme, o casal faz sexo
entre si e com outras duas belas atrizes. Conhecê-las
é talvez a parte mais satisfatória do processo todo.
As filmagens correm sem maiores contratempos, mas na
hora do “vamos-ver”, a empresa não consegue distribuir
o produto. Não é a coisa mais simples do mundo
penetrar no mercado de entretenimento adulto, como o
produtor, um sujeito chamado Sabará, descobre da
maneira mais dura.
O primeiro cheque com que pagou o casal pela sua
participação na produção bate na trave. O segundo
voador bate na outra trave. Como Matheus era bom
goleiro, não deixa cobrar o terceiro pênalti, e
negocia duro com Sabará, que tem que acabar saldando
sua dívida com as roupas do figurino, os lençóis da
cenografia, as fotos eróticas de divulgação feitas em
estúdio, bem como com as fitas máster e os direitos
irrestritos de utilização do filme.
E lá vão eles, utilizando a rede de casais com
quem se correspondem via revistas para distribuir os
produtos. Um sobrinho prestativo da gentil Dona Kodak
trabalhava em uma firma que fazia vídeo, então ele
realiza as cópias à noite, das fitas máster em Betacam
para as cópias em VHS. Detalhe: fatiam o filme nas
vendas. Eles vendem as cenas avulsas em VHS. Logo, as
imagens de Sylvia e Matheus fazendo aquilo que tanto
gostam de fazer juntos se espalham por todo o Brasil.
Capítulo 8
Cidade Maravilhosa

Rio de Janeiro, nos dias de hoje. Num endereço


elegante da Avenida das Américas, no Recreio dos
Bandeirantes, fica situado o Paris Café. Amplamente
considerada a maior e melhor “casa de saliência” da
cidade, o PC sofre, aos sábados, uma metamorfose, se
transformando no centro de referência para a prática
do swing na cidade.
Mais de uma centena de casais elegantes e
liberais da cidade se encontram nesse local, sabedores
que estarão num evento temático realizado pelo casal
número 1 do swing carioca, e que terão acesso ao
melhor entretenimento swing da América Latina. É o
lifestyle, feito com qualidade, respeito e
profissionalismo.
É um enorme clube, com um espaço de 4 andares
onde ninguém é obrigado a nada, mas onde é tudo é
permitido, desde que respeitado o código de
comportamento do swing. São 2 boates, uma cobertura
com piscina, jacuzzi, dark room, bar personalizado. É
um mundo de espaço e diferentes ambientes para viver
intensamente um estilo liberal de vida.
Para chegar a esse patamar profissional,
SylviamatheuS (agora com seus nomes reunidos numa
dupla de sucesso nacional) tiveram que usar todos os
recursos que a tecnologia oferece na comunicação entre
os swingers e entre os clubes e eventos.
Craques em time pequeno.
Em Belo Horizonte, na virada do século, havia apenas
uma cena incipiente do lifestyle. Matheus e Sylvia
trabalhavam, angariavam fama, matéria na revista
Playboy, mas todo esse trabalho não estava sendo
recompensado financeiramente à altura.
Foi Matheus quem sacou a metáfora futebolística
clássica: eram craques jogando em clube pequeno. Ficou
claro que era hora deles crescerem e aparecerem.
Durante um ano inteiro ficaram enviando currículos num
esforço internacional, para casas de todo o Brasil e
da Península Ibérica. Do sul do Brasil ao Swing Clube
Ceará. Em abril e maio de 2004, tocaram a negociação
com o Paris Café, e em junho desembarcaram de mala e
cuia no Rio de Janeiro.
O acordo com o Paris Café envolvia um projeto
completo, com plano de moradia, plano de mídia
mobilizando todas as possibilidades que a tecnologia
proporcionava, e utilizando o enorme banco de dados
que eles armazenaram ao longo de sua carreira. Através
de seus eventos, e dos anúncios da revista Private,
foram formando uma enorme rede de casais adeptos.
Quando chegaram ao Rio de Janeiro, o Paris Café
recebia cerca de 25 casais no sábado – hoje em dia são
mais de 100. Um aumento de 400% na freqüência, muito
significativo para os administradores da casa. Esse
sucesso vem também da robusta estratégia de
comunicação do casal, mas é fruto principalmente do
respeito que angariaram aos olhos dos casais que
conheciam através das revistas.
Os eventos são sempre temáticos. Em sua
estratégia eles nunca pensam na concorrência. Não
olham para trás nem para o lado. Eram famosos nesse
ramo de atividades, e tinham o diferencial. Os elogios
rasgados não tardaram a surgir, por fazerem as coisas
com uma qualidade e um respeito que não aconteciam
antes.

Uma semana típica.

Como os eventos de SylviamatheuS no Paris Café


são sempre aos sábados, isso acaba criando um ciclo
semanal de atividades, centradas ao redor do evento
temático no dia mais nobre da semana.

O domingo é um dia de completo descanso, com


celulares e computadores desligados.
Na segunda de manhã resolvem problemas pessoais
domésticos, celular e computadores ainda desligados,
mas à noite realizam brain-storms para decidir o tema
da próxima festa.
Na terça começam a botar o bloco na rua. Realizam
a produção do Flyer que será enviado aos 80 mil casais
cadastrados. Não se trata de maneira nenhuma de spam,
mas uma mala-direta de participação voluntária
reunindo boa parte dos adeptos do lifestyle. Ainda na
terça, é feita a atualização do site.
Na quarta-feira começa para valer a emissão dos
e-mails, um processo que demanda muito tempo e que se
alonga até a sexta feira. Em paralelo com o envio dos
e-mails, acontece um processo de tele-marketing muito
especial que eles desenvolveram, que mistura a
fidelização dos clientes, com uma forma de obter
feedback para o constante aperfeiçoamento dos eventos,
e – finalmente - com o estabelecimento e a manutenção
de um vínculo de confiança com os casais recém-
chegados e com os mais experientes.
Na manhã de sábado, um pequeno anúncio nos
classificados do jornal O Globo é o único traço na
grande mídia. E nem é preciso, pois desde as suas
origens até hoje em dia, o swing sempre foi uma
atividade regida por redes alternativas de
comunicação.
*** PARTE DOIS: ALMANAQUE DO SWING ***
*1* INTRODUÇÃO

O swing nunca esteve tão em voga, e nunca houve uma


aceitação tão grande na sociedade, bem como uma curiosidade
tão arraigada por parte das pessoas e da mídia. Mas isso
não significa que as informações corretas estejam sendo
disseminadas. De maneira geral, o lifestyle do swing
continua sendo um mistério para a maioria absoluta das
pessoas.
Nessa segunda parte do livro, preparamos uma espécie
de almanaque: uma viagem no tempo e no espaço para contar
tudo aquilo que aprendemos e pesquisamos sobre essa prática
que é tão antiga e ao mesmo tempo tão moderna. Venha
conosco para essa prazerosa jornada. Nós prometemos que vai
valer a pena.

Sylvia Keller & Matheus Hernandez


SylviamatheuS
*2* O SWING ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Quando o profeta Moisés subiu ao Monte Ararat e


falou face a face com seu criador, este lhe deu as
tabuletas da lei com os Dez Mandamentos. Já estava lá,
cravado: “Não cobiçarás a mulher do próximo”. Isso já
dá a ideia do tamanho da questão. Só dez mandamentos
para regulamentar o comportamento humano em relação à
divindade e aos seus semelhantes - e tinham que gastar
um com esse problemão. Porque o fato é que, de maneira
geral, os seres humanos têm mesmo a tendência a
cobiçar mesmo a mulher do próximo. E quando mais
próximo, pior.
Na verdade, imaginar que a união monogâmica seja
a modalidade mais praticada durante a história da
humanidade é um gigantesco equívoco. A troca de
esposas provavelmente acontece desde o início dos
tempos.
Mesmo na época de Jesus era um comportamento
social aceitável para os ricos ter muitas esposas,
concubinas e escravas para seu prazer sexual.
Várias mulheres líderes também utilizaram seu
poder, utilizando escravos masculinos e consortes para
realizar seus desejos sexuais mais lascivos.
Nesse nosso rápido passeio pela história, vamos
examinar o mundo desde a época onde os seres humanos
começaram a trocar filhas em alianças tribais, até e
época onde os casais de vários lugares do mundo
resolveram que a troca de casais era muito mais
interessante.
Nos registros históricos encontráveis nos museus e
bibliotecas encontramos inúmeros exemplos de
comportamento equivalentes ao dos swingers de nossos
dias.
ORGIAS

Na religião antiga grega, uma orgia era uma


congregação noturna para um culto, chamada de orgion
(no plural orgia), que era uma modalidade extática de
adoração característica de cultos de mistério. A
celebração era supervisionada por um orgiofanta, um
professor ou revelador de ritos secretos que eram
praticados em adoração a Demeter, Dionísio, Orpheu ou
Cybele. Esses ritos envolviam atividades sexuais e
eram celebrados com dança, embriaguês, cantos etc.
A orgion era celebrada amplamente na Arcádia,
contendo desinibidas danças mascaradas à luz das
tochas e sacrifícios de animais, com degolas
aleatórias que avocavam o sofrimento do deus Dionísio
nas mãos dos titãs. A orgia que tratava do papel do
titãs no esquartejamento de Dionísio foi composta por
Onomacritus. A arte e a literatura grega sugerem que
durante as orgias havia a manipulação de cobras.

As orgias podem ter sido manifestações mais


primitivas do culto do que os mistérios formais, como
sugerem os violentos ritos extáticos, que são
descritos na mitologia como sendo celebrados por Attis
em honra de Cibele, e que se refletia na auto-
castração de seus sacerdotes, os Galli.
As orgias dos cultos Dionisíacos e de Cibele
pretendiam quebrar as barreias entre os celebrantes e
a divindade através de um estado de exaltação mística,
da dança e do vinho. Esse tipo de misticismo corporal
e psicossomático tinha apenas efeitos temporários – o
período do ekstasis – o êxtase era infinito apenas
enquanto durasse.
A participação das mulheres nas orgias, algumas
das quais exclusivamente femininas, fortaleceram o
movimento que levou a tentativas de supressão dos
ritos. Em 186 A.C. o senado romano tentou banir o
culto a Dionísio, alegando que era moralmente e
politicamente subversivo.

No uso moderno, uma orgia é uma festa sexual na


qual os participantes se engajam em atividades
promiscuas de sexo grupal. Uma orgia difere da
definição clássica de uma festa de swing, pois
nessas muitos swingers estão fazendo sexo de
maneira convencional, ainda que não com seus
parceiros sexuais habituais. Em outras festas
de swing, assim como nas orgias, os casais
fazem sexo com vários outros parceiros –
ninguém é de ninguém - ao invés de apenas
trocarem de parceiros.
BACANAIS

Os bacanais eram selvagens festivais místicos, em


honra ao deus greco-romano Baco. Eram normalmente
realizados em segredo, e apenas mulheres o
freqüentavam. O festival acontecia na gruta de Simila,
perto do monte Aventino, nos dias 16 e 17 de março.
Posteriormente, os homens foram admitidos, e as
celebrações passaram a acontecer 5 vezes por mês.

Quando os caras chegam junto, logo querem que a


suruba coma solta toda hora!

O historiador Lívio comenta que o rápido


crescimento do culto, que ele acusa de todo tipo de
crimes e conspirações políticas nos seus encontros
noturnos, levou ao decreto do senado de 186 A.C. pelo
qual os bacanais eram proibidos em toda a Itália,
exceto em casos especiais que precisariam de
autorização expressa do senado.

Mesmo nós brasileiros, com o nosso poder


legislativo que é aquilo que conhecemos, temos
que rir à menção de bacanais com autorização
expressa do senado. 

A despeito das severas punições aplicadas àqueles


que eram pegos violando esse decreto senatorial, os
bacanais sobreviveram no sul da península italiana
muito além da repressão.
Um investigador do consulado tinha palavras duras
para o culto, em seu relatório ao senado:
“Nenhum crime ou vergonha estava ausente.
Mais sujeiras eram cometidas pelos homens do
que pelas mulheres. Quem se recusasse a ser
conspurcado, ou hesitasse em violar outros, era
sacrificado como vítima. Nada considerar como
ímpio ou criminoso é a soma total de sua
religião. Os homens, tomados de loucura e com o
corpo em frenesi, gritavam profecias; as
matronas, vestidas como bacantes, cabelos
desgrenhados, correram até o rio portando
tochas, mergulharam-nas na água e as retiraram
ainda acesas, por serem feitas de ácido
sulfúrico e cal.”
SATURNÁLIAS

A saturnália era um antigo festival romano


celebrado em honra do deus Saturno. Tronou-se um dos
festivais mais populares, marcado pela irreverência e
pela reversão de papéis sociais, nas quais mestres e
escravos aparentavam trocar de função.

A palavra instrumental aqui é: aparentavam. Era


um festival super irreverente, mas com hora
marcada para terminar, não era um “mundo às
avessas” para valer!

A saturnália foi introduzida em 217 A.C. para


aumentar a moral dos cidadãos depois da devastadora
derrota militar para os Cartagineses.

“Faça amor, não faça guerra!” poderia ser o


slogan, não? Não é um exemplo inédito da
utilização do sexo como válvula de escape das
frustrações da população.

Originalmente celebrada por um dia, em 17 de


dezembro, sua popularidade cresceu até que se tornou
uma extravagância de uma semana que se prolongava até
o dia 23.

É um pouco como o carnaval da Bahia, que não


pára de aumentar, e parece durar meses.

Os esforços para encurtar a festa foram mal-


sucedidos. Augusto tentou reduzi-la para 3 dias, e
Calígula para 5 dias. Essas tentativas causaram
tumultos e revoltas em massa entre os cidadãos
romanos.

Veja só: Calígula, que passou à história como


um ser humano devasso e sem limites, tentou dar
um breque na festinha, e se deu muito mal.

A saturnália envolvia sacrifícios convencionais,


e a estátua de Saturno em seu templo, que passava o
ano inteiro amarrada, era ritualmente desatada.
Um princeps saturnalicus era eleito mestre de
cerimônias dos eventos.

Qualquer semelhança com nosso Rei Momo não é


mera coincidência.

Aléns dos ritos públicos havia uma série de


feriados e costumes celebrados privadamente. Todos,
até os escravos, podiam participar dos jogos de azar.
Era um momento para comer, beber e ficar alegre.
Vestes informais e coloridas eram usadas em detrimento
da toga branca usual. Os chapéus chamados pileus
ornamentavam todas as cabeças.
Os escravos estavam livres de punições, e
tratavam seus mestres com pretenso desrespeito. Os
escravos celebravam um banquete que poderia ser
presenciado, compartilhado ou mesmo servido pelos
mestres.
Sêneca, o jovem, sobre a saturnália em 50 D.C.:
“É agora o mês de dezembro, quando parte
da cidade está em alvoroço. As dissipações
públicas correm com a corda solta; em toda
parte ouve-se os sons de grandes preparativos,
como se houvesse alguma diferença real entre os
dias devotados a Saturno e aqueles em que se
conduzem os negócios.”
Já o poeta Catulo descreve a saturnália como “o
melhor dos dias”. É um dia de celebração, visitas a
amigos, troca de presentes, especialmente de velas de
cera e estatuetas de barro.
O pacto de John Dee e Edward Kelley

Podemos agora avançar na história até os dias


onde nossa civilização ocidental européia já
dominava o mundo. E se você acha que a coisa
vai ficar diferente em termos de liberdades
sexuais, pense de novo.

Um documento formal foi assinado em 22 de abril


de 1587 por John Dee (o astrólogo e conselheiro da
rainha Elisabeth da Inglaterra), sua esposa Jane, seu
vidente Edward Kelley e a esposa deste, Joana. O
acordo previa que as relações conjugais seriam
compartilhadas entre os homens e suas esposas. Isso
aconteceu depois de sessões espíritas que
aparentemente resultaram em espíritos guiando Dee e
Kelley em direção a esse pacto.
Ocultistas e Comunistas

No século XVII, a troca temporária de esposas era


defendida e praticada nos meios ocultistas,
particularmente os alquimistas de Praga, capital da
atual República Tcheca.
Outros destes ocultistas que trocavam esposas
eras os Frankistas, que estabeleceram no século XVIII,
na Macedônia, o culto do Dönmeh. Numa orgia anual, os
membros trocavam esposas numa cerimônia chamada de
“apagar as luzes”, onde as velas eram apagadas no
curso de um jantar, dando início à orgia e à troca de
esposas.
Na Alemanha do século XIX, o termo “comunista”
era às vezes aplicado para pessoas que defendiam a
troca de esposas. Ainda que absurda, a confusão foi
suficiente para que Karl Marx e Friedrich Engels
tenham tomado seu tempo, no Manifesto Comunista de
1848, para rechaçar as acusações, que classificaram
como hipocrisia e projeção psicológica dos burgueses
críticos ao comunismo, que:

“Não contentes em terem as esposas e filhas dos


proletários à sua disposição, sem falar nas
prostitutas, obtém o maior prazer em seduzir as
esposas uns dos outros”.
O nascimento do swing.

Dos dez mandamentos até o manifesto comunista,


a troca de esposas, ou a fantasia envolvendo
essa prática, vai se tornando um assunto
incontornável. O terreno está pronto para o
surgimento do swing em nossa civilização
industrial, no turbulento século XX.

De acordo com o livro de Terry Gould: A Look at


the Erotic Rites of Swingers, o swing começou entre os
pilotos da força aérea dos EUA e suas esposas, durante
a 2ª Guerra Mundial. A taxa de mortalidade entre os
pilotos era muito alta, e estreitos laços acabaram
surgindo entre os pilotos, que fazia com que os
pilotos cuidassem de todas as esposas como se fosses
suas, emocionalmente e sexualmente, se seus maridos
estivessem em missão ou mortos.
Esses homens tinham dinheiro suficiente para
instalar suas mulheres perto da base. A sua alta taxa
de mortalidade levou a um meio social em que a não-
monogamia entre as esposas desses pilotos e outros
pilotos tornou-se aceitável.
Já outras fontes apontam os pilotos de teste da
Força Aérea dos EUA no deserto da Califórnia como os
participantes originais.
Embora o princípio não seja absolutamente certo,
supõe-se que o swing começou nas comunidades militares
norte-americanas nos anos 1940-1950. Na altura do fim
da Guerra da Coréia, a prática tinha se espalhado dos
militares para os subúrbios de classe média.
Havia também os “clubes da chave”, onde os
maridos jogavam suas chaves de casa numa pilha no
centro do salão, onde eram pegas aleatoriamente pelas
esposas. O dono da chave selecionada seria o seu
parceiro sexual da noite.

Esse componente aleatório na seleção de casais


não deixa de ter certo aspecto ritualístico.

A imprensa apelidou o fenômeno de “troca de


esposas”. Desnecessário dizer que esse termo transmite
a idéia de usar as esposas como objetos de troca, e,
portanto, não é um termo que seja apreciado pelos
praticantes de hoje.

Até porque todos os praticantes do lifestyle


sabem: são as mulheres que mandam.

Terry Gould aceitou o desafio de escrever sobre


esse tópico que escapou à atenção dos cientistas
sociais nas últimas 2 décadas: o swing, ou o que
alguns passaram a descrever como “o lifestyle (estilo
de vida)”.
Ele retrata esse fenômeno sexual sem cair na
armadilha de caracterizá-los como desajustados ou
desviantes.
Alguns swingers modernos, ele afirma, recompensam
a ligação sexual com outros tipos de favores.

Se vocês estão pensando nas pessoas que nos


ajudaram a montar nosso “Cantinho do Swing” em
Belo Horizonte, estão corretos. Mas esperem até
ver o que os esquimós Inuit tem a dizer sobre
esse assunto.

O termo “swing” (balançar) foi usado pela


primeira vez por um pastor evangélico norte-americano,
que disse à sua horrorizada congregação que essa gente
estranha “estava balançando de cama para cama, como
macacos”.
*3* O SWING NAS CULTURAS “PRIMITIVAS”

Ninguém precisa ser um Lévi-Strauss, nem


tampouco mergulhar profundamente nos textos
antropológicos e etnográficos, para perceber
que os povos ditos “primitivos” têm, muitas
vezes, práticas bastante sofisticadas no que
concerne à dinâmica do casal.

África

A troca temporária de esposas é praticada como um


elemento de iniciação ritual na sociedade secreta dos
Lemba, no Congo:
“Você deve deitar-se com a esposa-sacerdotisa
de seu pai Lemba, e ele também deverá deitar-se
com sua esposa.”

Convenhamos que o pai Lemba não tinha nada de


bobo, e não era afinal tão diferente de John
Dee ou de tantos adeptos modernos.

Austrália

Na tribo Warramunga, é costume dois casais se


aproximarem do local dos festivais, em meio à
escuridão da noite, e cada homem realizar o coito com
a esposa do outro.

Nova Guiné
Entre os Orya, o chamado “culto da bengala”
encorajava os homens a trocarem as esposas. Essa troca
de favores sexuais ocorria apenas entre pares de
famílias. Os praticantes são hoje em dia muito
reservados no que concerne às suas atividades e
ensinamentos.
Nesse culto, a “bengala” é o termo usado pelos
homens para se referir ao marido da mulher que se
torna sua parceira sexual.
Já entre os Mimika, a troca temporária de esposas
teria se originado com uma mulher que retornou da
Terra dos Mortos. A esposa disse ao seu marido:

“Essa noite eu dormirei na casa do chefe, e sua


esposa virá dormir na sua. Essa noite eu vou
fazer pela primeira vez aquilo que todos
anseiam há tanto: vou instituir a “papisj”, a
troca de esposas.

Veja só que todos já esperavam há tanto tempo


por isso lá em Mimica. Mas a mulher que esteve
na terra dos mortos retornou com uma solução
oposta à de Moisés no monte Ararat: em vez de
proibir, institui a prática livre de estigma.

Esquimós.

Vamos combinar que em matéria de troca de esposas,


ninguém compete com os esquimós. A prática dos Inuit
de troca de esposas tem sido frequentemente descrita.
Várias motivações para a troca temporária de esposas
são praticadas entre os Esquimós:
 quando instigados pelo xamã, como um rito mágico
para alcançar um melhor clima para expedições de
caça;
 como uma atração regular anual no “Festival da
Bexiga”;
 para um homem visitando sem a companhia de sua
esposa, sob promessa de que, no futuro, este irá
retribuir a cortesia disponibilizando sua esposa
quando o anfitrião estiver por sua vez visitando
o seu agora hóspede.

Então vamos lá: para propiciar a caça, para


propiciar um bom clima, em festivais, durante
viagens. Tudo é motivo para essa turma sair
trocando esposas!

Entre os Inuit, uma forma muito especializada e


socialmente proscrita de compartilhamento de esposas
era praticada. Quando os caçadores estavam fora, eles
com frequência acabavam enveredando pelo território de
outras tribos, ficando sujeito à morte pela ofensa.
Mas quando estes podiam demonstrar um “parentesco” com
algum homem ou ancião da tribo que tivesse feito sexo
com sua esposa ou com alguma outra de suas parentes, o
caçador errante era então considerado “família”.

Não, você não entendeu errado: o


compartilhamento de esposas salva vidas, no
círculo ártico. Lá perto do pólo magnético do
planeta, o swing é uma ferramenta indispensável
de sobrevivência.

Os Inuit tinham termos específicos para descrever


as complexas relações que emergiam dessa prática de
compartilhar as esposas. Um homem chamava de “aipak” a
outro homem que tivesse feito sexo com sua esposa.
“Aipak” quer dizer “outro eu”. Então, em sua
concepção, esse outro homem dormindo com sua esposa
era apenas outra manifestação dele mesmo.

América do Sul

Entre os índios Araueté, do Pará, “a permuta de


esposas” é tradicionalmente praticada.
Na tribo Bari, da Venezuela, quando uma mulher
fica grávida, muitas vezes adota outros amantes. Esses
amantes adicionais vão ter a função de pais
secundários para a criança. Se o pai da criança
morrer, os outros homens têm a obrigação social de
apoiar e criar essas crianças. Pesquisas demonstram
que as crianças com esses pais “extras” têm melhores
chances na vida, nessa parte pobre de recursos da
floresta.
*4* O MUNDO EM QUE VIVEMOS

Os dias de hoje.

O swing ou a troca de casais, hoje em dia chamado


de lifestyle, é um tipo de comportamento sexual não-
monogâmico, no qual os parceiros envolvidos num
relacionamento estável concordam, como um casal, que
os dois parceiros vão manter relações sexuais com
outras pessoas, num comportamento às vezes chamado de
sexo recreativo ou social.
O swing acontece em diferentes contextos, desde
atividades sexuais espontâneas em reuniões informais,
até clubes especializados em swing, e pode
ocasionalmente envolver sites de relacionamento que
oferecem a oportunidade para as pessoas se conhecerem.
O fenômeno do swing, a sua discussão aberta e a
prática mais generalizada, são encarados por muitos
como derivados do aumento da atividade sexual durante
a revolução sexual dos anos 60, tornada possível pela
invenção da pílula anticoncepcional e das práticas de
sexo seguro feitas durante essa época.
O termo “troca de esposas” é hoje em dia
criticado por ser androcêntrico – termo erudito que é
uma maneira bonita de dizer: machista. Ele não
descreve acertadamente toda a extensão de atividades
sexuais nas quais os casais adeptos tomam parte. Mas o
termo continua sendo usado, e reflete as origens do
conceito em que os maridos são vistos como iniciadores
da troca informal de parceiros.
O nome que as coisas têm.

De maneira geral, os casais que praticam o swing se


envolvem em atividades sexuais bastante tradicionais,
mas com outros parceiros.

 Sexo com penetração feito com


parceiros de swing é chamado de full swap – ou troca
completa.
 Sexo sem penetração, como sexo
oral ou outras práticas, é referido como soft swap.

Casais iniciantes muitas vezes escolhem o soft swap


até que eles possam ficar confortáveis com um full
swap. Muitos casais permanecem soft swap por motivos
pessoais.

Mas para que fazer swing?

Os casais se dedicam a fazer sexo com outros


casais por uma enorme variedade de motivos, e
nem sempre as mesmas razões se aplicam aos dois
parceiros.
Alguns fazem isso para adicionar variedade à
sua vida sexual convencional, ou então por mera
curiosidade. Outros tratam isso como uma
espécie de interação social. Há quem trate
essas atividades como uma maneira de satisfazer
seus elevados desejos sexuais ou a hiper-
sexualidade de um parceiro.
É uma maneira de ser aberto sobre os seus
sentimentos, e ser aventureiro o suficiente
para agir sobre eles, junto com seu
parceiro(a), sem traição, sem mentira, sem
conversa para boi dormir.

Na mídia.

A primeira declaração pública de troca de esposas


foi publicada em 1957 na revista de Nova York “Mr.”.
Era um pequeno artigo, ilustrado por fotos de modelos
bundudas seminuas, e nesse artigo foi utilizado pela
primeira vez o termo wife swapping (troca de esposas).
O artigo gerou uma verdadeira epidemia de outros
artigos em outras revistas.
“Mr.” fez seguir ao artigo uma seção de
correspondência que surpreendeu, ao revelar vários
aspectos imprevistos desse fenômeno através das
respostas dos leitores. as informações dadas pelos
adeptos incluía informações sobre clubes de sexo
devotados aos trios, aos quartetos, e mesmo a grandes
grupos.
Não demorou até que a revista percebesse a
oportunidade de publicar anúncios de pessoas querendo
contatar outros casais tendo em vista a “troca de
esposas”.
Nos anos seguintes, várias revistas regionais e
nacionais estavam orientadas para o público que
buscava essa prática, batizada agora de swing.
Durante todo esse tempo, a maneira principal de
encontrar outros casais era através de anúncios
pessoais. Muitos desses anúncios traziam fotos de nus
dos casais e solteiros.

E foi assim que nós começamos, também: em


anúncios publicados em revistas desse segmento.
Quando a internet surgiu, nós levamos essa
mesma estratégia de contatos para o ambiente
virtual, com muito sucesso: hoje em dia são
cerca de 80 mil casais cadastrados, recebendo
nosso material sobre as festas mais badaladas
da América do Sul.

Variações sexuais

É como dizia o poeta: João amava Teresa que


amava Raimundo que amava Maria... e por aí vai,
no mundo do swing. Conforme a orientação sexual
dos participantes, o swing pode ser realizado
de várias maneiras:

MFFM: swing entre mulheres bissexuais e homens


heterossexuais. Ou seja: Teresa e Maria, além de se
pegarem, ainda fazem sexo também com João e Raimundo.

MFMF: swing entre mulheres e homens heterossexuais.


Nesse caso, João e Teresa fazem sexo com Maria e
Raimundo, respectivamente.

FMMF: swing entre mulheres heterossexuais e homens


bissexuais. Nesse caso, Teresa e Maria só querem saber
de João e Raimundo, que por sua vez estão interessados
também um no outro.

MMFF: swing entre mulheres e homens bissexuais. Nesse


caso, ninguém é de ninguém. João e Raimundo fazem sexo
com Teresa e Maria, mas tanto os rapazes quanto as
moças também fazem sexo entre si.

Outras terminologias básicas:

 Swing aberto - no qual os parceiros fazem sexo


num mesmo ambiente.
 Swing fechado – no qual os parceiros fazem sexo
em ambientes separados.

Regras de etiqueta básicas do swing:

 Consideração pelo seu marido ou esposa.


 Decência – só se envolva nas atividades para as
quais foi convidado.
 Gentileza e deferência aos desejos da parceira.

Outra forma de swing consiste na troca de parceiros


com alguns seletos casais. Eles formam uma espécie de
clã. Mas poucos parecem praticar algum tipo de
casamento grupal.
Clubes de swing.

Um clube de swing é um local destinado à prática do


swing, normalmente com acesso restrito apenas a
casais. Em algumas festas temáticas pode ser permitida
a entrada de pessoas desacompanhadas com a finalidade
de realizar um menage a trois.
Em termos de estrutura física, os clubes de swing
são normalmente divididos em dois espaços: uma boate,
onde toca música gravada ou ao vivo, e um "espaço
íntimo", que é, via de regra, acessível através de uma
porta discreta.
A estrutura da boate é como a de uma boate comum:
pista de dança, mesas. Os casais dançam e consomem
bebida e petiscos como em qualquer estabelecimento do
gênero.
Há apresentações de striptease e brincadeiras
eróticas, e às vezes shows de casais realizando sexo
explícito.
Os (as) strippers interagem com os espectadores,
desde que haja uma autorização presumida. Ao menos
sinal de incômodo ou desagrado, normalmente se
afastam. Na pista de dança pode haver plataformas ou
um mastro para facilitar as apresentações de dança
erótica.
O espaço íntimo.

Cada clube de swing é diferente. A lista abaixo


cobre as modalidades mais freqüentes de espaço
íntimo.

 Camão, ou tatame: uma enorme cama, na qual vários


casais podem praticar sexo simultaneamente. Ao
seu redor, é comum haver a presença de outros
casais, assistindo e estimulando a atividade
sexual em curso. Às vezes pode também ser um
sofazão.
 Darkroom: um ambiente sem nenhuma iluminação, com
poltronas ou sofás nos quais os casais trocam
carícias ou relacionam-se sexualmente. O estímulo
sexual fica por conta de audição, e permite
grande privacidade.
 Aquário: quarto com parede de vidro, no qual os
casais se relacionam sexualmente a portas
fechadas, enquanto do lado de fora outros
assistem.
 Confessionário: salas com camas ou poltronas
individuais, separadas do ambiente externo por
treliça. Permitem a quem está de fora assistir a
relação sexual
 Labirinto: sala com pouca iluminação, estruturada
no formato de labirinto, e palco de uma
brincadeira cujo objetivo é encontrar a saída. No
trajeto, os casais trocam carícias e encontram
surpresas, como confessionários, espalhados pelo
ambiente.
 Cadeira erótica: cadeira especialmente projetada
para facilitar grande número de posições sexuais

Os solteiros e o swing:

Existem muitos motivos pelos quais os casais


preferem casais. O tema é sempre polêmico no
lifestyle, e merece ser discutido aqui.

Alguns homens solteiros conseguem participar da


cena do swing, uma vez que os clubes costumam ter
noites abertas a solteiros. O objetivo dessas noites é
arrecadar bastante dinheiro, pois são muitos os homens
querendo participar. Essas noites são evitadas pela
maioria dos swingers, com exceção daqueles casais que
gostam de se relacionar com homens solteiros.

Vamos falar claro: infelizmente, são poucas as


mulheres solteiras que participam. Então o
problema é lidar com um monte de caras
solteiros cheios de tesão e com muito pouca
demanda por este desejo.

Alguns homens solteiros se dão bem nesse estilo


de vida, mas são a exceção. Como muitas das mulheres
de casais swingers são bissexuais, existe uma demanda
permanente pela participação de mulheres solteiras
bissexuais.

Mas tecnicamente, um homem ou uma mulher


solteira não são realmente swingers, eles
apenas têm a oportunidade de interagir com os
casais swingers.

As comunidades de swingers.

Existem diversos grupos de pessoas que


acreditam na filosofia swinger, e seguem este
estilo de vida.

 Comunidades físicas: são comunidades físicas ou


presenciais, que organizam eventos privados para
promover o encontro entre casais liberais.
Isso é importante nos países onde os clubes de
swing dão entrada livre a qualquer casal, o que leva
muitas vezes ao aparecimento de “casais de ocasião”
(ou falsos), que não são bem aceitos pelos adeptos do
lifestyle.
 Comunidades virtuais: ajudam os casais liberais a
conhecerem e a se comunicarem com outros casais,
publicarem as suas noticias, divulgarem seus
eventos ou simplesmente compartilharem
experiências. Também é uma boa maneira dos casais
entrarem em contato com a filosofia e os costumes
do swing.
Pesquisa: a vida e a mente de um swinger.

Estudos científicos vêm sendo conduzidos nos EUA


desde os anos 60.
Um estudo, baseado num questionário de internet
enviado a visitantes de sites de swing, demonstrou que
os swingers são mais felizes em seus relacionamentos
do que a média da população.

 60% dos pesquisados disseram que o swing melhorou


seus relacionamentos. Apenas cerca de 2% disse
que tornou a sua vida menos feliz.
 Cerca de 50% daqueles que diziam ter uma relação
“feliz” antes do swing, afirmam que seus
relacionamentos melhoraram ainda mais.
 90% daqueles com relacionamentos menos felizes
afirmaram que o swing melhorou sua relação.
 Quase 70% disseram não ter problema nenhum com
ciúmes.
 Cerca de 60% dos swingers se declararam felizes,
contra uma média de 32% dos não praticantes, uma
margem bastante considerável.

O estudo tem uma utilidade limitada, pois os


usuários elegem voluntariamente participar, e isso
pode comprometer a amostragem, pois casais com
relacionamentos mais fortes podem ter mais motivação
para completar o questionário.
Casais com problemas de ciúme e conflitos causados
pelo swing poderiam não permanecer no lifestyle, e,
portanto, estariam menos propensos a responder ao
questionário.

Investigando a fundo.

O repórter da rede ABC News, John Stossel,


produziu uma reportagem investigativa sobre o
lifestyle dos swingers.
Stossel revelou que, àquela altura, mais de 4
milhões de pessoas faziam swing, de acordo com as
estimativas do Kinsey Institute.
Também citou a pesquisa de Terry Gould, que
concluía que “os casais fazem swing para não terem que
enganar os parceiros”.
Quando Stossel perguntou aos casais do swing se
eles se preocupam com a possibilidade de seus cônjuges
encontrarem alguém de quem gostam mais, um dos homens
respondeu:
“As pessoas fazem swing por um motivo. Não é
para sair por aí e arranjar uma nova esposa.”

Uma das esposas afirmou: “Isso torna as mulheres


mais confiantes, pois elas estão no comando.”
O repórter entrevistou 12 conselheiros
matrimoniais, e nenhum deles disse expressamente que
não se deve fazer swing. Alguns, é claro, lembraram
que emoções sexuais extraconjugais podem ameaçar um
casamento. Os swingers entrevistados, no entanto,
diziam que seus casamentos estavam mais fortes, pois
eles não têm casos e não mentem um para o outro.
Organizações

Algumas atividades do swing são altamente


organizadas. A maioria absoluta das cidades grandes do
mundo ocidental tem ao menos um clube de swing em
local permanente. No mundo todo, são mais de 3 mil.
Mais de mil destes tem um web site ou algum outro tipo
de presença na internet.
Mas há inúmeros pequenos clubes de swing que são
conhecidos pelos membros do lifestyle, mas que não têm
web sites ou anúncios e operam com grande discrição.
Por isso, o verdadeiro número de clubes de swing é
impossível de determinar com precisão.

É claro que essa categoria descreve exatamente


o nosso antigo “Cantinho do Swing” em Belo
Horizonte!

Os swingers normalmente se encontram através de


revistas, anúncios pessoais, festas em boates de
swing, e sites de relacionamento onde os clubes e
promotores postam anúncios de seus eventos vindouros,
além de facilitar apresentações entre as pessoas.
Embora o termo “clube” possa se referir a um
grupo que organiza atividades ligadas ao lifestyle
numa determinada região, também pode se referir a uma
localidade física ou edifício.
Nesse último sentido, os clubes se dividem entre
aqueles que permitem relações sexuais nas dependências
(on-premises club), e aqueles que não o permitem (off-
premises club), mas no qual o sexo pode ser combinado
num local próximo.
Vamos combinar que clubes off-premises são
ótimos para dar uma dor de saco na galera, pois
até chegar no local apropriado para as relações
sexuais é aquele sufoco.

Nos EUA, muitos clubes de swing “off-premises”


seguem um formato de bar ou casa noturna, muitas vezes
alugando um bar existente para os eventos agendados.
Isso normalmente é feito para evitar a interação
com a população que não segue o “lifestyle”, bem como
impedir uma indesejável atenção negativa que a
atividade pode acarretar.
Em conseqüência, nos finais de semana, bares em
grandes distritos industriais, que durante a semana
atraem uma clientela tradicional - e que normalmente
ficariam fechados durante o fim de semana, pois os
escritórios estão fechados - são locais propícios para
a ocupação. É necessário ser membro e seguir as
regras, para participar dessa modalidade de clube.
A maioria dos clubes de swing dos EUA não se
apresenta como tal. A maior associação de swingers dos
EUA é a NASCA International. Trata-se de uma
associação de clubes, websites, publicações, agências
de turismo, e eventos – todos dedicados a atender à
comunidade do swing.
A NASCA foi estabelecida como uma organização com
a intenção de disseminar informações corretas cobre o
lifestyle do swing na América do Norte. Ela publica um
guia listando os clubes e eventos em 43 dos 50 estados
dos EUA, bem como no Canadá e em 25 outros países.
Na Europa, clubes “off-premises” são raros, e a
maioria dos eventos de swing permite contato sexual e
serve bebidas alcoólicas.

Nós nunca bebemos álcool, mas em nossa opinião


esse é o formato adequado, pois a maioria dos
casais iniciantes precisa do álcool como
lubrificante social para armazenar coragem para
participar desse tipo de evento.

3 tipos básicos de formatos são comuns.

 um bar ou casa noturna, centrado


numa pista de dança;
 o SPA, com piscinas, jacuzzis,
saunas seca e a vapor, nas quais as pessoas se
despem ao entrar;
 e o clube campestre, fora dos
centros urbanos, normalmente com bufê liberado,
que pode oferecer elementos dos dois outros
formatos, ao mesmo tempo em que oferece amplos
espaços para a diversão dos adeptos.

Um dos maiores e mais discretos clubes europeus


é o Alternative Lifestyle (AL). Quem não faz
parte dos vários grupos satélites que o
compõem, pouco sabe sobre o AL. Ex-membros
confirmaram que a organização já migrou para a
América do Norte e do Sul.
Para muitos casais, o lifestyle e os clubes são
um tanto um acontecimento social quanto sexual.
Como em muitas outras sub-culturas, existe uma
forte atmosfera de comunidade, promovida em
parte pela maior facilidade de comunicação
permitida pela Internet.

“Esposa quente”
O termo hot wife (“esposa quente”) se refere a uma
mulher que faz sexo com outros homens e/ou mulheres,
com o consentimento de seu marido. Na maioria das
vezes, ele obtém prazer assistindo ao prazer da esposa
com o outro homem, ou homens. Ou então gosta de ver ou
ouvir contar, ou ficar sabendo das aventuras da
mulher.

Se você se lembrou de Emmanuelle, parabéns, é


exatamente isso!

Os maridos também podem participar ao se envolver em


menages a trois, ou arranjando encontros para a
esposa. Com freqüência, se não é participante ativo, o
marido tira fotos ou grava o encontro sexual da
mulher.
Uma variante desse fenômeno da hot wife é quando dois
homens se revezam dando prazer à mulher, cada um
assumindo imediatamente após o outro, tão logo tenha
chegado ao orgasmo.
Na verdade, um homem descansa enquanto o outro está
ativo, mas a mulher efetivamente faz sexo sem parar.
Dessa maneira, principalmente se ela tiver orgasmos
múltiplos, esse método proporciona a ela um ato sexual
prolongado.

Cuckold (colocar chifres)


Uma sub-cultura especial do ménage a trois é o
“cuckolding”, uma variedade onde a relação aberta e o
relacionamento a três se encontram. Numa experiência
dessas, um dos parceiros (normalmente a mulher), faz
sexo com outra pessoa fora da relação por um número
limitado de vezes. A mulher então fala sobre a
experiência com o parceiro, ou apenas o deixa
assistir.
O cuckolding difere de um relacionamento aberto,
pois não envolve um relacionamento emocional que é
comumente encontrado numa relação aberta.
Embora o parceiro não-participante não costuma se
engajar na relação sexual, ele pode se envolver na
preparação e seleção da terceira pessoa.
O cuckolding não é sempre feito em busca de
humilhação sexual, pois:
 pode ser realizado para permitir uma
exploração da sexualidade;
 pela oportunidade de viver uma fantasia; para
satisfazer um desejo;
 ou pela satisfação sexual que normalmente não
é obtida dentro dos limites normais de um
relacionamento.

Cuckold faz referência ao "cuco" - a ave


conhecida por habitar os relógios - cujo macho aceita
em seu ninho uma fêmea promíscua. Assim, uma pessoa
"cuckold" é aquela que gosta de imaginar, de saber ou
de ver, o próprio companheiro tendo prazer com outra
pessoa (ou pessoas). Pode ter origem em diferentes
interesses passando pelo prazer no ciúme (zelofilia),
submissão, humilhação, prazer e medo da traição,
voyeurismo.

Poliamor

O poliamor é o desejo, a prática ou a aceitação


de mais de um amor, de mais de uma relação íntima que
conta com o conhecimento e o consentimento de todos os
envolvidos. Os estilos de vida “poli” são variados,
com algumas relações abertas, e outras são poli-fiéis.

Se é que isso é possível! 

Muitos envolvidos no poliamor não são swingers, e


alguns criticam abertamente o “lifestyle”. Eles
contrastam suas relações comprometidas com o sexo
recreativo dos swingers.
Outros não são críticos, mas não se consideram
parte do mesmo grupo, e se vêem mais focados em
relacionamentos do que encontros sexuais.
Mas afinal: por que?

Essa é a pergunta milenar, que vem ecoando


desde que o mundo é mundo.

Segundo um estudo de 1996, o habito sexual leva a


mudanças na interação entre os parceiros. Na altura
dos 3 a 7 anos de relacionamento, tornam-se necessário
mais estímulos para produzir a excitação sexual antes
obtida com um olhar ou simples toque.
Um casal receptivo a novas e diferentes
experiências sexuais vai começar a explorar diferentes
caminhos de realização sexual para continuarem
crescendo juntos.
Nesse momento difícil a infidelidade aumenta, e
as taxas de divórcio vão às nuvens. Os casais que
encontram uma maneira de re-conectar fisicamente e
emocionalmente têm mais chances de sobreviver a esse
período.
Nesse contexto, o swing pode ser uma solução –
pois oferece variedade sexual, e a oportunidade de
viver fantasias como um casal, sem segredos e
traições. Muitos adeptos dizem que suas relações
ficaram fortalecidas com o swing, e dizem que suas
vidas sexuais são mais íntimas e satisfatórias.
* AS ORIGENS DO SWING NO BRASIL *
As origens do swing no Brasil não são bem
documentadas. Para saber como as coisas se passaram, é
preciso equilibrar as lendas que circulam pelos
adeptos do lifestyle com os escassos depoimentos de
pioneiros. E isso não chega a ser fácil.
Uma coisa, no entanto, parece certa: onde tudo
começou. Foi na praia do Arpoador. Como tantas modas e
tendências da nossa sociedade, o swing também
desembarcou no Brasil no Arpoador. Espremido entre
Ipanema e Copacabana, esse trecho de praia também viu
nascer o rock brasileiro, no Circo Voador, e foi uma
das primeiras mecas do surfe nacional.
Quem vê hoje o metro quadrado mais caro do
planeta, na Vieira Souto, mal pode imaginar que ainda
nos anos 1960, o local não passava de um balneário
remoto.
Nesse local ermo e bucólico, estabeleceu-se a
tradição das corridas de submarino: um casal
estacionava à beira do mar para um amasso ou (cada vez
mais) sexo com penetração, dentro do automóvel.
Entre periscópios empertigados e escotilhas
ouriçadas, a corrida de submarino logo se tornou uma
instituição ipanemense, colocando de uma vez por todas
o automóvel no imaginário dos brasileiros como um
ícone da mobilidade e da liberdade sexual.
Mas toda novidade um dia perde seu ardor
original. E alguns casais mais liberais estavam sempre
empurrando as fronteiras do que era aceitável em
termos de comportamento.
Logo começou a acontecer o seguinte: sinais de
farol eram trocados entre automóveis. Queriam dizer:
vamos juntos? Era um convite para que um segundo casal
viesse dividir o carro. Não demorou muito para que
alguém tivesse a ideia: vamos trocar?
Quem eram esses liberais? Fugitivos da repressão,
bichos-grilos, roqueiros, surfistas e outros tipos
loucos e liberais, ainda em descompasso com o resto da
sociedade.
A cena liberal começa a se estabelecer, com
pessoas na faixa dos 30-40 anos, os ricos e bem-
sucedidos.
Em São Paulo logo foi criado um pólo que se
comunicava através das revistas Fiesta e Ele Ela.
De lá para cá, o swing cresceu e tomou as maiores
capitais brasileiras de assalto, foi estampado na
mídia em manchetes algo escandalosas, e conhece um
período de aceitação cada vez maior em nossa
sociedade.

***FIM***

Para elaboração da segunda parte desse livro


foram utilizadas várias fontes, notadamente a
Wikipédia, em artigos publicados originalmente
em inglês e francês. Muita gente tem
preconceito com a Wikipédia, com o wikileaks,
com o vikivaporub...  Mas para nós, o
importante é trazer informação de qualidade, e
foi isso que procuramos fazer.
Sylvia Keller & Matheus Hernandez
SylviamatheuS

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