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Santo André
2019
CLEBER CARAMATTI MACHADO
Santo André
2019
V
DEDICATÓRIA
Primeiramente a Deus, por me iluminar, me dar forças e me guiar em mais uma jornada.
Aos meus pais, Helci da Silva Machado e Maria Alessandra Machado, por acreditar e
sempre incentivar os estudos.
VI
AGRADECIMENTO
Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Triveño Rios pela competência, acompanhamento
técnico, paciência e oportunidade de realizar este trabalho.
À Arcelor Mittal e, em especial, ao amigo Fábio Luiz Gouvea dos Santos, pelo
fornecimento dos materiais para estudo e pelas informações para o desenvolvimento deste
trabalho.
Aos meus colegas de trabalho pela ajuda e incentivo para a execução deste trabalho, em
especial ao Márcio Batista, Luiz Cláudio, Valdir Berloffa, Júlio César, Carolina e Juliano.
RESUMO
ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the microstructure, mechanical and corrosive
behavior of DP-780 and TRIP-780 steel plates welded by resistance spot welding in the
welding diagram. The plates were welded with control of the parameters: welding time and
welding current, using a constant force of the electrodes. The welding diagram was
determined by preliminary peel tests. The mechanical characterization was performed by
Vickers microhardness measurements and shear tensile tests. Microstructural analysis was
performed by X-ray diffraction, optical microscopy and scanning electron microscopy.
Characterization of corrosive behavior was performed by potentiodynamic polarization. The
results of resistance spot welding showed that the welded joints had good weld quality, with
weld nugget diameter values above 4,8 mm and shear forces above 9,9 kN. It was observed
that the weld nugget consists of the thermally affected zone and the fused zone. The base
metal of the DP-780 sheet as received surrounds the ferrite and martensite and the TRIP-780
sheet surrounds the ferrite, bainite and retained austenite. The fused zone, in both plates,
consists predominantly of martensite. The thermally affected zone has a more complex
microstructure because it involves phase transformations. The microhardness in the base
metal for both sheets was considerably lower than in the melt zone. In the thermally affected
zone a hardness decrease was observed in relation to the base metal and a gradual increase of
hardness. Corrosion results showed that weld nuggets had lower corrosion resistance than
base metal for both DP and TRIP plates. The failure modes around the weld nugget were by
complete and partial interfacial fracture. The fracture surfaces after pullout test were
predominantly by fragile fracture and after shear tensile fracture test.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 19
1.1 Justificativa ................................................................................................................ 19
1.2 Objetivos .................................................................................................................... 22
1.3 Objetivos específicos ................................................................................................. 22
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 23
2.1 Aços avançados de alta resistência, AHSS ................................................................ 23
2.2 Aços DP (aços bifásicos) ........................................................................................... 23
2.2.1 Processamento dos aços DP ....................................................................................... 25
2.2.2 Comportamento mecânico dos aços DP ..................................................................... 27
2.3 Aços TRIP (Plasticidade induzida por transformação) .............................................. 30
2.3.1 Processamento dos aços TRIP .................................................................................... 31
2.3.2 Comportamento mecânico dos aços TRIP ................................................................. 32
2.4 Aplicações dos aços DP e TRIP no setor automotivo ............................................... 34
2.5 Microconstituintes presentes nos aços DP e TRIP .................................................... 35
2.6 Influência dos elementos de liga nos aços DP e TRIP .............................................. 40
2.7 Resistência à corrosão em aços TRIP e DP ............................................................... 42
2.8 Soldagem por resistência elétrica............................................................................... 44
2.8.1 Física de soldagem ..................................................................................................... 45
2.8.2 Soldagem por resistência a ponto ............................................................................... 46
2.8.3 Variáveis do processo de soldagem............................................................................ 47
2.8.4 Diagrama de soldabilidade e Diagrama de faixa de corrente ..................................... 51
2.8.5 Eletrodos utilizados no processo ................................................................................ 53
2.8.6 Metalurgia de soldagem ............................................................................................. 54
2.8.7 Carbono equivalente ................................................................................................... 58
2.8.8 Defeitos e modo de fratura ......................................................................................... 59
3 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 63
3.1 Materiais .................................................................................................................... 64
3.2 Equipamento de soldagem, eletrodos e sistema de fixação ....................................... 64
3.3 Métodos ..................................................................................................................... 66
3.3.1 Caracterização química .............................................................................................. 67
3.3.2 Ensaio de arrancamento e determinação do diâmetro mínimo da pepita (dp) ........... 67
XIII
18
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Justificativa
Figura 1 – Comparação de propriedades mecânicas entre os aços de baixa resistência, aços de alta
resistência e baixa liga e aços AHSS de primeira geração. Adaptado de [DEMERI, 2013].
1.2 Objetivos
CAPÍTULO 2
2 REVISÃO DA LITERATURA
martensita, se tem aumento na resistência mecânica, permitindo alcançar faixas entre 400 e
1100 MPa, o que também é influenciado pelo modo de processamento e composição química
do aço DP (DEMERI, 2013).
Figura 3 – Micrografia do aço DP mostrando uma matriz de ferrita e ilhas de martensita em: (a)
microestrutura esquemática, adaptado de [KEELER et al., 2017] e (b) microestrutura real do aço DP-
780, adaptado de [DENGPENG et al., 2017].
Figura 4 - Esquema de obtenção do aço DP pelas rotas A e B representado em um diagrama TTT. “A”
representa austenita; “F”, ferrita; “M”, martensita. Adaptado de [KRAUSS, 2006].
Geralmente os aços DP são classificados por sua máxima resistência à tração (LRT)
ou pela relação entre o limite de escoamento (LE) e máxima resistência à tração separada por
uma barra, tal como mostrado na figura 6, que mostra curvas típicas de tensão-deformação de
engenharia de aços DP e de um aço de baixo carbono com presença de escoamento nítido. Na
tabela 2, se observa variações nos valores de LE, LRT e deformação para corpos de prova
submetidos a ensaio de tração no sentido de 0º e 90º em relação ao sentido de laminação,
sugerindo a existência de anisotropia. Segundo Cheng et al. (2017), isso está relacionado à
orientação preferencial dos grãos que são alongados no sentido da laminação. Entretanto, o
coeficiente de encruamento (n) mede a capacidade de endurecimento por deformação de um
material. Elevados valores de coeficiente de encruamento sugerem maior endurecimento e,
portanto, influencia na conformabilidade de peças, aumentando a resistência local à estricção
durante processos de conformação, favorecendo a utilização de aços DP em peças mais
complexas da indústria automobilística. Esses valores são baixos em relação aos aços TRIP e
são devido às diferenças de dureza entre os microconstituintes ferrita/martensita formados
durante o processamento termomecânico (ZHAO, JIANG, 2018).
28
2
0o 389,1 645 21,9 -
DP-590 o
90 393,1 638 22,6 -
o
0 541,5 830 14,7 -
DP7802 o
90 565,9 863 15,7 -
[ARCELOR MITTAL, 2018] 1; [CHENG et al., 2017] 2.
Figura 7 - Efeito do aumento da temperatura de recozimento intercrítico na resistência dos aços DP.
Adaptado de [MATLOCK et al., 1982].
A primeira exploração prática dos aços TRIP foi introduzida no final da década de 60,
desenvolvendo aços com alongamento aprimorado, como consequência da transformação
martensítica induzida por deformação plástica (GERBERICH et al., 1970). Pesquisas mais
aprofundada iniciaram a partir da década de 70, onde foi verificado o efeito TRIP em aços
com grandes concentrações de soluto (Cr = 8,8%, Ni = 7,6 a 24,4%, Mo = 3,5 a 4,0%, em
peso), além de C, Mn e Si, tornando os primeiros aços TRIP de alto custo (HONGLIANG,
2010; BLECK et al., 2017). Na tabela 3 é mostrada a composição de algumas grades de aços
TRIP. Observa-se que o teor de C e da mistura Al + Si é relativamente maior que dos aços DP
(ver tabela 1). Também são desenvolvidos aços TRIP-δ, que utilizam o silício no mínimo,
enquanto a estabilidade da austenita retida é otimizada com teores mais altos de carbono e de
alumínio (CHATTERJEE, 2011).
Tabela 3 - Grades de aços TRIP mais comuns e respectivas composições químicas (% p).
Figura 8 - Micrografia do aço TRIP formada por ferrita, bainita, austenita retida e martensita: (a)
microestrutura esquemática, adaptado de [DEMERI, 2013] e (b) microestrutura real de um aço TRIP-
780, adaptado de [SHAH, LIU, 2019].
A figura 9 (a) ilustra a rota de processamento para produzir o aço TRIP pelo processo de
laminação a quente e a figura 9 (b) ilustra a produção pelo processo de laminação a frio
seguido de recozimento intercrítico.
Pelo processo de laminação a quente, a produção do aço TRIP inicia com uma
deformação plástica entre rolos laminadores para formar seções transversais mais finas em
temperaturas acima de Ac3 (acima da temperatura de recristalização). Esse processo reduz o
tamanho médio dos grãos. Em seguida, um resfriamento controlado é iniciado até uma
temperatura entre Ac1 e Ac3 (faixa de temperatura intercrítica), permanecendo constante
durante o tempo de encharque a fim de obter aproximadamente 50% de austenita e 50% de
ferrita pró-eutetóide (alotriomórfica). No entanto, o carbono dissolvido na austenita entre a
faixa de temperatura intercrítica é insuficiente para estabilizá-la a temperatura ambiente e,
portanto, é necessário o uso de um tratamento isotérmico após resfriamento controlado na
temperatura um pouco acima da temperatura de início de transformação martensítica (Ms).
Permanecendo nesta temperatura, parte da austenita é transformada em bainita-αb e a outra
parte permanece como austenita retida enriquecida com carbono. Para assegurar a
microestrutura final o material é resfriado ao ar até a temperatura ambiente (LI, 2011).
Pelo processo de laminação a frio, o aço ferrítico-perlítico é laminado acima de Ms, e
posteriormente sofre um tratamento de recozimento intercrítico em duas etapas para produzir
32
Figura 9 - Esquema do processo de obtenção do aço TRIP: (a) processo de produção a partir de
laminação a quente e (b) processo de produção a partir de laminação a frio.
Adaptado de [BLECK et al., 2017].
A classificação dos aços TRIP é similar ao dos aços DP devido à relação entre tensão
de escoamento (LE) e máxima resistência à tração (LRT) separada por uma barra, conforme
mostrado na figura 10 ou por sua máxima resistência à tração, como mostrado na tabela 4.
A fase ferrita-α de estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) exibe alta energia de
empilhamento e atrito reticular de Peierls-Nabarro, responsáveis pela alta ductilidade, maior
que os aços DP. A bainita contribui para a alta resistência e tem alta densidade de
discordâncias e morfologias complexas de ripas de tamanho pequeno. A austenita retida
desempenha o efeito TRIP (plasticidade induzida por transformação), sua transformação é
gradual em martensita na forma de ripas durante a deformação plástica, o que permite um
atraso no início de formação da estricção e a obtenção de alta ductilidade mantendo elevados
níveis de resistência. Além disso, a transferência de carga sobre os grãos de martensita
durante a deformação plástica ocorre com maior dificuldade devido ao seu tamanho reduzido,
33
Devido aos resultados de propriedades mecânicas para cada classe de aços DP e TRIP,
estes se tornam favoráveis à utilização na fabricação de peças e/ou conjuntos submetidos aos
variados tipos de solicitações mecânicas (BHATTACHARYA, 2011).
Aços DP com limite de resistência a tração de até 500 MPa, por apresentarem
excelente conformabilidade e boa resistência mecânica, são utilizados principalmente na
fabricação de portas, tampas dianteiras e traseiras. Essas características contribuem para a
diminuição de espessura e, consequentemente, redução de peso. Aços DP que apresentam
limite de resistência à tração entre 500 e 980 MPa são utilizados na fabricação de
componentes estruturais que requerem alta absorção de energia, como por exemplo, as zonas
de deformação. Para garantir esta característica, os componentes possuem baixo valor de
limite de escoamento, contribuindo com possíveis deformações plásticas decorrentes de
eventual colisão. Aços DP com limite de resistência à tração superior a 980 MPa são
normalmente utilizados em aplicações que exigem alta resistência à deformação plástica,
como por exemplo, componentes da gaiola de segurança dos passageiros. Estes componentes
dependem do limite de escoamento elevado para evitar possíveis deformações plásticas
(BHATTACHARYA, 2011).
Para os aços TRIP, devido aos microconstituintes resultantes do processo de
fabricação, possuem maior conformabilidade em relação aos aços DP ou similar. Por isso, são
adequados para fabricação de peças estruturais de geometria complexa de baixa espessura e
que necessitam corresponder aos itens relacionados à segurança automotiva, ou seja, onde há
necessidade de absorção de energia (BLECK et al., 2017). Também, por apresentarem limite
35
Figura 12 - Morfologia da bainita: (a) bainita superior em um aço médio carbono; (b) bainita inferior
em um aço baixa liga. Adaptado de [PORTER et al., 2009].
Segundo Radwanski (2016), além da bainita superior e inferior, existem mais três tipos
de bainita que podem ser formadas em aços com baixo teor de carbono: bainita granular,
bainita superior degenerada e bainita inferior degenerada, diferenciando-se com base no tipo e
nas características morfológicas do constituinte complementar. A bainita granular é uma
microestrutura composta pela distribuição de segundas fases entre os grãos de ferrita,
carecendo de carbonetos na microestrutura. Em vez disso, pode conter qualquer produto de
transformação que se possa formar a partir da austenita enriquecida de carbono. A bainita
superior degenerada ocorre quando a formação de cementita é impedida, promovendo uma
microestrutura consistindo de ripas de ferrita e austenita residual enriquecida de carbono (ou
martensita-austenita) nos contornos da ferrita. Na bainita inferior degenerada, a
microestrutura consiste de ripas de ferrita e austenita residual enriquecida de carbono (ou
martensita-austenita) no interior da ferrita.
Segundo Abdalla (2006), pesquisas indicam que em aços TRIP com teor de C =
0,11%, Si = 0,01%, Mn = 0,51%, Al = 0,031% e Nb = 0,0024%, em peso, a bainita formada é
predominantemente do tipo bainita superior, que pode ser formada por tratamento isotérmico
entre 370º C e 500º C. Parish (2003), também indica que em aços TRIP, a austenita instável
durante o resfriamento controlado e recozimento isotérmico, pode se transformar em ferrita
37
epitaxial, bainita-αb e austenita retida (γR), como mostrada na figura 13. Observando-se uma
evolução microestrutural no aço: a) presença de frações volumétricas de ferrita-α e austenita-γ
durante o recozimento intercrítico; b) a austenita-γ decompõem-se parcialmente em ferrita
epitaxial (TF) e é enriquecida parcialmente em carbono; c) parte da austenita-γ é transformada
em bainita-αb e a austenita-γ enriquecida em carbono se torna austenita retida (R), ganhando
estabilidade contra a transformação martensítica. O enriquecimento de carbono ocorre devido
à ferrita-α possuir baixa solubilidade de carbono (< 0,022% p) na solução sólida intersticial.
Figura 14 - Morfologia da martensita: (a) martensita em ripas formada em aços baixo carbono,
adaptado de [ASM HANDBOOK, 2004]; (b) martensita lenticular formada em aços médio carbono,
adaptado de [BHADESHIA, HONEYCOMBE, 2006]; (c) martensita em placas lenticulares maiores
formada em aços alto carbono, adaptado de [ASM HANDBOOK, 2004].
39
A austenita retida (γR) é uma fase considerada como indesejável em muitos aços
convencionais, sugerindo que a transformação → α’ não tenha sido completa, encontrando-
se retidas entre as ripas e placas de martensita-α’. A austenita retida (γR) pode causar
degradação nas propriedades mecânicas, uma vez que esta fase pode tornar-se metaestável
durante o processo de revenimento, por trabalho a frio ou por envelhecimento à temperatura
ambiente, podendo gerar trincas e impedindo a obtenção da dureza desejada (HONGLIANG,
2010).
Entretanto, em aços AHSS a austenita retida (γR) pode estar presente como grãos
equiaxiais, em placas ou filmes lamelares, presente no interior das microestruturas
(COOMAN, 2004). Bhadeshia & Edmonds (2013) descobriram que austenita retida (γR), cuja
morfologia se apresenta em forma de filmes lamelares, possui maior resistência à
transformação martensítica. Sugimoto et al. (1992) mostraram resultados de maior
estabilidade da austenita retida (γR) com morfologia em placas ou filmes lamelares quando
comparada com aquela que apresentou morfologia em grãos equiaxiais no aço TRIP. Xiong et
al. (2013), descobriram que austenita retida (γR) em placa com alto teor de carbono se
transformava rapidamente em martensita-α’ já no início da deformação plástica, ao passo em
que austenita retida (γR) com morfologia em filme lamelar com baixo teor de carbono, não se
transformou com deformação plástica até 12%.
A estabilidade da austenita retida (γR) também pode ser afetada pela influência dos
elementos de liga, visto que eles retardam a precipitação de carbonetos durante a
transformação bainítica (SRIVASTAVA et al, 2006; ZHAO et al, 2019). Sua estabilidade
também pode ser afetada pelos microconstituintes adjacentes (HONGLIANG, 2010). Caso a
austenita retida (γR) esteja cercada por microconstituintes macios, a deformação plástica
provocada por uma tensão fornecida promove o efeito TRIP, transformando a austenita retida
(γR) em martensita-α’. No entanto, se a austenita retida (γR) estiver cercada por
microconstituintes duros, a transformação γR → α’ progride de forma lenta ou com
possibilidade de não ocorrer (ZHAO, JIANG, 2018).
No resfriamento contínuo, a partir da zona de austenitização, enquanto são formados
os microconstituintes ferrita-α e bainita-αb, o carbono segregado enriquece a austenita retida
(γR), aumentando sua estabilidade e evitando condições que favoreçam a transformação
martensítica. O controle do teor de carbono é considerado o parâmetro mais importante para a
estabilização da austenita retida (γR) na temperatura ambiente.
40
Para realizar a fusão de uma junta soldada é necessário o fornecimento de uma fonte
de energia térmica (aporte térmico) de alta densidade de potência (Dp) às superfícies de
contato. Segundo Groover (2010), a Dp em processos de soldagem por resistência para fundir
o metal deve estar próximo de 1000 W/mm2. Na prática, valores mais baixos de Dp podem ser
encontrados e, para isso, necessitam de tempos mais longos para garantir a fusão localizada,
pois o calor é conduzido tão rapidamente que a fusão pode não ocorrer. Por outro lado,
valores elevados de Dp, faz com que a temperatura localizada vaporiza o metal na região
afetada. Por razões metalúrgicas, é desejável fundir o metal com energia mínima e Dp dentro
do esperado para cada processo. A Dp pode ser calculada a partir da equação 2.1 e, devido ao
uso eficiente da energia fornecida, se faz necessário o uso do fator de potência (Fp) específico
para cada equipamento de soldagem (GROOVER, 2010).
Fp. Pa (2.1)
Dp =
A
Quanto à energia fornecida para fundir o metal, parte desta é perdida durante o
processo. Existem dois mecanismos de transferência de calor, os quais reduzem a quantidade
de calor gerado. Conforme mostrado na figura 16, o primeiro mecanismo envolve a eficiência
da transferência de calor (f1) entre a fonte e a superfície do metal, sendo determinado pelo
processo de soldagem e pela capacidade de converter a fonte de energia em calor utilizado na
superfície a ser soldada. O segundo mecanismo envolve a eficiência de fusão (f2) que depende
das propriedades térmicas do metal, espessura a ser soldada e do processo de soldagem,
envolvendo também a condução de calor transferido para áreas adjacentes à região soldada.
Portanto, o efeito combinado de f1 e f2 é reduzir o aporte térmico disponível para soldagem
(GROOVER, 2010).
46
É comum o uso do processo de soldagem por resistência a ponto nas indústrias devido
a uma combinação de velocidades de soldagem e eletrodos de auto-fixação que satisfazem
requisitos de automação e qualidade (SUBRAMANIAM et al., 2006). O processo necessita
do uso de uma fonte de alimentação (CA) na qual uma corrente controlada deve ser aplicada,
dois eletrodos opostos que, além de aplicar pressão para unir as chapas, possibilitam a
passagem da corrente elétrica para que ocorra a fusão na junta, além das chapas a serem
soldadas. A resistividade elétrica (resistência ao fluxo de corrente) também influencia no
processo de soldagem por resistência a ponto. Em baixas temperaturas, a resistividade do aço
é baixa, porém, aumenta com aumento da temperatura. Devido a essa característica, as chapas
de aço são mais aquecidas do que os eletrodos (fabricados com ligas de cobre). Durante o
processo ocorre, portanto, uma fusão localizada devido ao aquecimento provocado pela
passagem de corrente (KEELER et al., 2017). A operação resulta em uma zona fundida
chamada “pepita de solda”, como mostrada na figura 17 (GROOVER, 2010).
O aporte térmico (H) gerado durante o processo de soldagem por resistência a ponto
depende do fluxo de corrente, da resistência do circuito e do período de tempo em que a
corrente é aplicada. Pode ser calculado a partir da equação 2.2.
H = I2 Rt (2.2)
Da equação 2.2 se observa que o aporte térmico gerado pode ser modificado por três
parâmetros. A resistência elétrica presente no circuito depende da resistência interfacial das
superfícies de contato e da resistência dos materiais, sendo ambas as resistências constantes
(RWMA, 2003). Uma pequena alteração na corrente de soldagem (I) durante um intervalo de
tempo (t) resulta em uma mudança significativa na entrada de calor. Essa corrente de
soldagem influencia diretamente no diâmetro da pepita de solda que, também, é influenciado
pela força aplicada aos eletrodos. Assim, a corrente de soldagem, o tempo de soldagem e o
diâmetro de contato determinados pela força dos eletrodos são parâmetros importantes na
determinação da condição e da qualidade da solda (OIKAWA et al., 2007).
Figura 18 - Sequência do processo de soldagem por resistência a ponto: (a) etapas do ciclo de
soldagem; (b) representação da força dos eletrodos e da corrente durante o ciclo de soldagem.
Adaptado de [GROOVER, 2010].
TS 0,5 (2.3)
P = 2,45t ( )
300
onde: P = força dos eletrodos (kN); t = espessura da chapa metálica (mm); TS = resistência à
tração do material (MPa) (OIKAWA et al., 2007).
De acordo com a equação acima, aços mais resistentes exigem maior força dos
eletrodos. Caso a força seja insuficiente para juntar as duas chapas de metal, formará um
diâmetro subdimensionado ou ocorrerá fusão de apenas algumas pontes de contato, podendo
ocasionar expulsão durante a soldagem. Com o aumento da força dos eletrodos, mais pontes
de contato são estabelecidas, resultando na fusão de áreas maiores e uniformes, minimizando
ou eliminando a ocorrência de expulsão durante a soldagem. Se houver excesso desta força,
um aumento da profundidade de impressão na região da junta ocorrerá, provocando um
afinamento na espessura na região da junta (POURANVARI, MARASHI, 2013). Geralmente,
a força utilizada para várias grades de aços TRIP e DP encontram-se entre 3,5 e 5,5 kN
(KHAN et al., 2008; NAYAK et al., 2012; LIANG et al., 2015; PHILLIPS, 2016; ONAR,
ASLANLAR, 2017).
50
Entretanto, Sun et al., (2008) sugere que o diâmetro mínimo da pepita de solda para a classe B
seria insuficiente para garantir a soldabilidade por ponto em aços avançados de alta resistência
com resistência à tração superiores a 800 MPa. Em função disso, Marya & Gayden (2005),
sugere um novo critério, mais rigoroso, para determinar o diâmetro mínimo da pepita de
solda, determinada pela expressão dp 2,7t + 1,6 (t é a espessura da chapa em mm).
Entretanto, a American Welding Society (AWS), a Society of Automotive Engineering
(SAE) e o American National Standards Institute (ANSI) recomendam um diâmetro mínimo
da pepita de solda dado pela equação 2.4:
dp = 4√𝑡 (2.4)
Figura 24 - Macroestrutura típica de solda por resistência a ponto mostrando as três regiões
características do processo com indicações referentes as transformações metalúrgicas em um aço
TRIP-780. Adaptado de [KHAN et al, 2008].
O metal base (MB) não sofre nenhuma transformação de fases durante o aquecimento
até temperaturas logo abaixo da linha crítica de transformação (Ac1). Existe um balanço
microestrutural entre a ferrita-α e a cementita (Fe3C) e/ou perlita. Os valores de dureza nesta
região dependem principalmente da composição química da liga e dos métodos de
processamento (KHAN et al., 2008).
56
A zona afetada pelo calor subcrítico (CS) ou zona revenida ocorre em temperaturas
acima de ~ 550º C até Ac1. Esta zona não sofre transformações de fases, porém, o metal base
sofre revenimento e qualquer tensão residual é relaxada. Entretanto, atingindo temperaturas
acima de 600º C, podem ocorrer certos fenômenos como esferoidização da cementita lamelar,
recristalização de produtos encruados e envelhecimento. Em aços DP e TRIP os
microconstituintes metaestáveis bainita e martensita sofrem revenimento e, por consequência,
se observa nesta zona uma redução de dureza, fenômeno conhecido como amolecimento
(NAYAK et al., 2012).
A zona intercrítica (IC) ou zona parcialmente transformada se encontra entre as
linhas críticas Ac1 e Ac3. Durante o aquecimento, a ferrita-α e a cementita (Fe3C) se
transforma parcialmente em austenita-γ, coexistindo com a ferrita pró-eutetóide. Durante o
resfriamento da solda, dependendo da taxa de resfriamento, a austenita pode ser transformada
em ferrita, bainita e martensita (NAYAK et al., 2012; POURANVARI, MARASHI, 2013).
A zona de grãos finos (GF) ou zona recristalizada ocorre em temperaturas acima de
Ac3 até ~ 1100º C para aços com 0,15% p de C. A microestrutura transforma-se totalmente
em austenita, substituindo qualquer traço de microestrutura ferrítica. Em períodos curtos nesta
zona, o crescimento de grãos austeníticos se limita até algumas dezenas de micrometros e,
durante o resfriamento rápido, se produz uma microestrutura fina composta por martensita-α’,
podendo estar acompanhada de bainita e perlita (NAYAK et al., 2012).
A zona de grãos grosseiros (GG) ou zona de crescimento de grão ocorre em
temperaturas elevadas de ~ 1100º C até ~ 1495º C. Os grãos austeníticos podem crescer até
alguns centos de micrometros. Devido à elevada taxa de resfriamento experimentada nesta
região, a martensita se apresenta com tamanho um pouco reduzido em comparação àquela
encontrada na zona fundida (ZF). A dureza geralmente se encontra igual ou superior à
encontrada na zona fundida (ZF) (POURANVARI, MARASHI, 2013).
A zona de transição sólido-líquido ou zona parcialmente líquida, onde coexiste a
fase líquida e a fase ferrita- sólida, é uma zona muito estreita de difícil observação por
análise metalográfica. Nesta zona, que corresponde ao intervalo de temperatura solidus-
liquidus, podem ocorrer alguns fenômenos como descarbonetação local devido ao
enriquecimento do líquido por solutos, formação de microestruturas de baixo ponto eutético
como impurezas, etc (GRANJON, 1995).
Na zona de fusão (ZF), o metal encontra-se no estado líquido e, normalmente,
apresenta composição diferente do MB devido às reações que ocorrem com o meio
circundante ou por enriquecimento de elementos externos (como revestimentos de Zn).
57
Figura 25 - Esquema do perfil de dureza típico resultante do processo de soldagem por resistência a
ponto característico dos aços DP-780. Adaptado de [POURANVARI, MARASHI, 2013].
Mn Cu + Ni Cr + Mo + V (2.5)
CE = C + + +
6 15 5
59
Mn Si Ni Cr (2.6)
CE = C + + + +
6 24 40 5
O processo de soldagem por resistência a ponto não está livre de defeitos. Esses
defeitos podem ser agrupados em descontinuidades externas e internas. Os defeitos de
descontinuidades externas aparecem na superfície da região de solda, podendo ser observados
visualmente ou com auxílio de microscópios. Alguns defeitos são: sobreposição de pepitas de
solda; penetração excessiva; separação excessiva; expulsão; trincas de superfície. A sua
prevenção, geralmente, é realizada por ajustes nos parâmetros de soldagem (ZHANG,
SENKARA, 2006). Os defeitos de descontinuidades internas, obviamente, são encontrados no
interior da região de solda e apenas podem ser observados por preparação metalográfica e
ensaios não destrutivos. Alguns defeitos são: aprisionamento de bolhas de gás no estágio de
fusão com o aparecimento de microporosidades, especialmente na interface entre as chapas;
microtrincas resultantes de tensões internas devido à solidificação rápida e por presença de
inclusões (ZHANG et al., 2001).
A forma de superfície de fratura da região soldada determina o modo de fratura da
solda, tal como observado na tabela 6. Os modos de fratura são resultados observados após a
realização do ensaio de arrancamento ou após o ensaio de tração cisalhante. Fratura em botão
sem evidência de fratura interfacial significa que as chapas metálicas foram bem soldadas e
são suficientemente adequadas para resistir cargas em serviço. Se a fratura for interfacial com
fratura parcial do botão, a solda não apresenta boa qualidade, porém, em alguns casos, pode
ser tolerável. Regiões soldadas que apresentam fratura interfacial completa em ensaio de
arrancamento não exibem resistência adequada em serviço, podendo estar relacionado ao
tamanho insuficiente da pepita de solda ou fusão insuficiente, devendo ser evitada (YI et al.,
2010.
60
Sem fusão.
Tabela 7 - Modos de fraturas mais comuns que ocorreram em aços DP e TRIP, segundo a literatura.
CAPÍTULO 3
3 MATERIAIS E MÉTODOS
- Controle de parâmetros:
Soldagem por resistência a ponto Força;
e definição do Diagrama de Corrente de soldagem;
Soldabilidade. Tempo de soldagem.
- Ensaio de arrancamento.
Figura 26 - Fluxograma das etapas para caracterização dos aços TRIP-780 e DP-780.
64
3.1 Materiais
Para a realização do presente trabalho foram utilizadas amostras de chapas de aço DP-
780 e TRIP-780, ambas laminadas a frio e galvanizadas por imersão a quente. Estas amostras
foram fornecidas pela Arcelor Mittal – São Francisco do Sul - SC, com dimensões de 210 x
297 mm (padrão de folha A4) e 1,46 mm de espessura. A seta da figura 27 mostra o sentido
de laminação utilizado no processo. As composições químicas dos aços DP-780 e TRIP-780
são fornecidas na tabela 8.
Sentido de
laminação
A soldagem por resistência a ponto foi realizada em uma pinça de solda tipo “CB” do
fabricante DURING, conforme mostrado na figura 28, onde são mostradas as principais partes
do equipamento. Na tabela 9 são apresentadas as especificações mais detalhadas do
equipamento.
Os eletrodos utilizados no processo de soldagem pertencem a classe 1 (RWMA),
fabricado de Cu-Zr com dureza de 70 HRB e condutividade de 90%. Foi preparado um total
de três pares de eletrodos para a pesquisa (cada par de eletrodos solda aproximadamente 200
pontos sem perda de dureza e resistência).
65
Punho
Braço do eletrodo superior
Rolamento
Descrição Especificação
Equipamento Pinça de solda tipo “CB” (DURING)
Potência nominal 54 kVA
Potência ativa 38 kW
Tensão primária 380 V
Tensão secundária 7,1 V
Frequência 60 Hz
Fator de potência 0,7
Tipo de corrente Corrente alternada (CA)
Sistema para acionar a força e
Pneumático
movimentação dos eletrodos
Para executar os pontos de solda, as extremidades dos eletrodos foram faceadas a fim
de garantir um contato plano com as superfícies das juntas. Para isso, foi utilizada uma fresa
modelo RFRW P8 fabricado pela RAVITEX para facear a extremidade com 7,0 mm de
diâmetro de acordo com a norma AWS D8.9M (2012). A figura 29 mostra um par de
eletrodos utilizados no experimento.
A força entre os eletrodos foi calibrada e monitorada por um dinamômetro digital
modelo CROW DAC com capacidade de leitura de 1000 kgf fabricada pela FILIZOLA. A
tabela 10 mostra os parâmetros utilizados no experimento na qual foram determinados em
função da espessura da chapa para aços com resistência à tração entre 500 a 800 MPa,
segundo a norma AWS D8.9M (2012).
66
Tabela 10 - Parâmetros de soldagem por resistência a ponto recomendado para aços com resistência a
tração entre 500 e 800 MPa [AWS D8.9M, 2012].
Local da solda
Figura 30 - Sistema de fixação das chapas sobrepostas para soldagem por resistência a ponto.
3.3 Métodos
ensaio de tração cisalhante, difração de raios-X (DRX) e estudo de corrosão por ensaio de
polarização potenciodinâmica.
Figura 31 - Amostras dos aços DP-780 e TRIP-780 utilizadas para determinar a composição química.
De acordo com a norma AWS B4.0 (2007), o ensaio de arrancamento é utilizado para
determinar o diâmetro mínimo da pepita e o modo de fratura. O ensaio consiste em separar as
chapas soldadas até o rompimento na região soldada por ponto utilizando ferramentas
adequadas. A figura 32 (a) mostra uma talhadeira que possui um rasgo central que evita o
contato direto com o botão de solda, a figura 32 (b) apresenta um esquema de puxamento que
pode ser utilizado em máquina de tração e a figura 32 (c) mostra o ensaio de arrancamento
com talhadeira, realizado nas amostras soldadas no presente trabalho.
68
Figura 32 - Esquema do ensaio de arrancamento por: (a) uso de uma ferramenta tipo “talhadeira”; (b)
esquema de tração do ponto de solda, adaptado de [POWELL et al., 1996] e (c) ensaio de
arrancamento realizado nas amostras soldadas no presente trabalho.
De acordo com a norma AWS B4.0 (2007), as amostras foram cortadas em uma
guilhotina em dimensões padronizadas conforme mostrado na figura 33. Tais amostras foram
utilizadas para soldagem e definição do diagrama de soldabilidade.
Figura 34 - Ilustração do método de medição dos botões de solda após o ensaio de arrancamento.
Adaptado de [AWS D8.9M, 2012].
et al., 2019). Para aços DP-780, o limite mínimo e máximo de tempo de soldagem foi de 16 e
27 ciclos e corrente de soldagem de 8,5 e 11,5 kA (TUMULURU, 2015). A partir dessas
observações, o limite mínimo e máximo de tempo de soldagem foi estabelecido em 12 e 20
ciclos para ambos os aços.
Já o limite mínimo e máximo de corrente de soldagem foi determinado
experimentalmente e, para isso, a soldagem foi iniciada a partir de baixos valores de corrente
(a partir de 6,0 kA) e com aumento gradativo, em intervalos de 200 A, até encontrar a
corrente mínima de soldagem (Imin), ou seja, o limite mínimo onde pelo menos três amostras
apresentassem um botão de solda sem evidência de fratura interfacial e com diâmetro mínimo
da pepita (dp) aceitável através do ensaio de arrancamento. A partir da corrente mínima de
soldagem, a mesma foi aumentada em intervalos de 100 A até encontrar um excesso de
corrente (corrente extrapolada), que é determinada pela observação de expulsão do metal
líquido no ponto de solda. Com o objetivo de reduzir esta extrapolação, se faz a subtração de
200 A do excesso de corrente. Dessa forma, se estabelece a corrente máxima de soldagem
(Imax) sem que ocorra a expulsão de metal líquido dentro do diagrama de soldabilidade. De
acordo com Batista (2015), o “ponto otimizado” de soldagem no diagrama de soldabilidade
foi estabelecido a partir de valores médios entre tempo e corrente de soldagem para cada
material.
A resistência elétrica é um parâmetro difícil de controlar por envolver a resistência dos
materiais e a resistências de contato. No entanto, para aço de baixo carbono, a resistência total
de soldagem é de ~ 0,00005 Ω para aços jateados com granalha metálica e de ~ 0,00015 Ω
para aço com jateamento abrasivo, desde baixas ou elevadas forças dos eletrodos (PHILLIPS,
2016). Groover (2010), também indica que a resistência elétrica total é constante e muito
baixa (em torno de 0,0001 Ω), sendo este valor assumido para o presente trabalho.
cancelam, produzindo uma interferência destrutiva. Entretanto, quando esses feixes difratados
em determinadas direções estão em fase, se produz uma interferência construtiva, podendo ser
expresso pela lei de Bragg segundo a equação 3.1, que relaciona as posições angulares dos
feixes difratados construtivos em função do comprimento de onda (SURYANARAYANA,
NORTON, 1998).
nλ = 2dsenθ (3.1)
mm/min. A confecção dos corpos de prova seguiu as dimensões estabelecidas pela norma
AWS B4.0 (2007), conforme mostrado na figura 36 (a). A figura 36 (b) mostra o esquema de
montagem para o ensaio de tração cisalhante. Para este ensaio foram confeccionados três
corpos de prova para cada ponto parametrizado definido no Diagrama de soldabilidade. O
esforço aplicado foi crescente na direção axial, levando-o a romper. Para o ensaio foi utilizado
calços nas extremidades das amostras para evitar dobra próximo as garras (AWS D8.9M,
2012).
Figura 36 - (a) Esquema e dimensões do corpo de prova para ensaio de tração cisalhante de acordo
com a norma AWS B4.0 (2007) e (b) Esquema de montagem para teste de tração cisalhante. Adaptado
de [AWS D8.9M, 2012].
impressões foram realizadas segundo a norma ASTM E384 (2016). As amostras foram
previamente polidas e atacadas com reativo Nital 3%. Cada valor médio de dureza
corresponde a um total de três medições, no mínimo. Os perfis de dureza para as amostras
conforme recebido e para as juntas soldadas foram realizadas de acordo com a figura 37 (a) e
(b), respectivamente. O valor da dureza pode ser determinado pela equação 3.3, que
correlaciona a carga (F) com a média das diagonais (D) impressas na amostra.
1,8544 F
HV = (3.3)
D2
Figura 37 - Esquema para avaliação do perfil de dureza: (a) para materiais conforme recebidos; (b)
para juntas soldadas, adaptado de [AWS D8.9M, 2012].
corrosão nos materiais conforme recebido foi de 70,36.10-2 cm2; e para as amostras de juntas
soldadas foi de 22,83.10-2 cm2. Na figura 38 (a) se observa o embutimento das amostras em
contato com o fio de cobre de aços TRIP-780 e DP-780 e na figura 38 (b) se observa a
montagem do eletrodo de referência e auxiliar em uma célula.
a) b)
Figura 38 – Estudo de corrosão: (a) amostras embutidas e preparadas para o ensaio e (b) montagem da
amostra e dos eletrodos dentro da célula.
CAPÍTULO 4
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Material C Mn Si Cr Mo Nb Al Fe
DP-780 0,156 1,920 0,258 0,256 0,114 0,005 0,029 Bal.
TRIP-780 0,204 1,830 0,229 0,171 0,084 0,017 1,970 Bal.
a) b)
α
γR
SL
γR
α´
Figura 40 – (a) Micrografia do aço DP-780 mostrando o sentido de laminação (DL) e (b) Micrografia
ampliada mostrando: matriz de ferrita-α e martensita-´.
79
a) b)
α
γR
SL
αb
Figura 41 - (a) Micrografia do aço TRIP-780 mostrando o sentido de laminação (SL) e (b) Micrografia
ampliada mostrando: matriz de ferrita-α, bainita-b e austenita retida (R).
80
Ensaios de tração nas amostras dos materiais conforme recebido foram realizados a
fim de conferir limite de escoamento (LE), limite de resistência à tração (LRT) e deformação.
A figura 42 mostra as curvas tensão-deformação de engenharia para os aços DP-780 e TRIP-
780 correspondente ao sentido longitudinal (sentido de laminação) e sentido transversal.
Observa-se que as curvas tensão-deformação não apresentaram escoamento nítido para ambos
os materiais, porém, essa característica é mais comum nos aços DP. De acordo com Zhao &
Jiang (2018), isso pode estar relacionado à presença de elevada fração de volume de ferrita-α
que absorve tensões geradas por deformação plástica em torno das ilhas de martensita-α’,
permitindo alongamento único. No aço DP-780, a fração de volume de ferrita-α encontrada
foi de aproximadamente 64% e no aço TRIP-780, a fração encontrada foi de
aproximadamente 60% em volume. As curvas também mostram que o aço TRIP-780 possui
melhor limite de resistência à tração e melhor deformação que o aço DP-780. De acordo com
Nasser et al., (2010), isso está relacionado com a transformação da austenita retida (γR) em
martensita-α’ decorrente do fornecimento de uma determinada tensão.
Em relação aos valores de ductilidade para as amostras ensaiadas no sentido
longitudinal (0º) e transversal (90º), para ambas as ligas foram observadas que as diferenças
se encontram dentro do desvio padrão, sugerindo a existência de uma mínima anisotropia de
chapas metálicas, razão pela qual podem ser utilizadas em operações de conformação
(KEELER et al., 2017).
Tabela 12 – Resultados de propriedades mecânicas por ensaio de tração dos aços estudados.
Figura 43 - Valor encontrado de microdureza Vickers nas amostras dos aços DP-780 e TRIP-780.
Camada de
Camada de revestimento revestimento de Zn
de Zn
Interface 15 m
10 m 8,5 m
Interface
Substrato - MB
Substrato - MB
a) b)
Figura 44 - Micrografias mostrando a camada revestida de zinco: (a) aço DP-780 e (b) aço TRIP-780.
Figura 45 - Resultado da composição química da camada revestida do aço DP-780 realizada por EDS.
Figura 46 - Resultado da composição química da camada revestida do aço TRIP-780 realizada por
EDS.
O calor produzido pela equação H = I2Rt (equação 2.2) (ZHANG, SENKARA, 2006;
GROOVER, 2010) para soldar as juntas metálicas sobrepostas deve ser o suficiente para
superar a resistividade das duas chapas, a resistência na interface chapa/chapa e a resistência
entre chapa/eletrodo, porém, não deve produzir um calor excessivo, o que pode levar a
expulsão de metal líquido. Por outro lado, a força dos eletrodos, o tempo de soldagem e a
84
corrente de soldagem têm efeito direto sobre as propriedades mecânicas da junta, no diâmetro
da pepita de solda, na tensão de cisalhamento e no modo de fratura da região soldada. No
entanto, antes de obter o diagrama de soldabilidade, foi necessário realizar uma série de testes
preliminares de soldagem para definir a faixa de corrente de soldagem dentro dos limites de
tempo de 12 e 20 ciclos para ambos os aços. As análises preliminares foram realizadas por
medição do diâmetro do ponto de solda e por análise do modo de fratura da pepita de solda
após testes de arrancamento. O efeito da força dos eletrodos constante de 4,4 kN e da variação
da corrente de soldagem em relação ao diâmetro da pepita de solda para ambos os aços
utilizando 12 e 20 ciclos são mostrados na figura 47 e 49 e os modos de fratura são
observados nas figuras 48 e 50.
Figura 47 - Efeito da corrente de soldagem no diâmetro da pepita de solda para o aço DP-780
utilizando: (a) 12 ciclos (200 ms) e (b) 20 ciclos (333 ms).
85
Nas figuras 47 (a) e (b) e 49 (a) e (b) observa-se que, para tempos constantes, o
diâmetro da pepita (botão) de solda aumenta com o aumento da corrente de soldagem. No
gráfico, o diâmetro mínimo da pepita (dp) está representado por uma linha horizontal
(vermelha) com a descrição “Ø min” e, segundo a norma AWS D8.9M (2012), não deve ser
menor do que 4,8 mm, determinado através da equação dp = 4t (equação 2.4).
Para os aços DP-780, se observa que em níveis de corrente de soldagem abaixo de 8,4
kA / 12 ciclos e 7,2 kA / 20 ciclos, foram produzidas pepitas de solda com diâmetro menor do
que 4,8 mm.
Figura 48 - Amostras de aços DP-780 mostrando diferentes modos de fratura após o ensaio de
arrancamento em diferentes níveis de corrente de soldagem e diferentes tempos de soldagem (12, 16 e
20 ciclos; (c = ciclos)).
contrapartida, Liang et al., (2015), sugere que a expulsão de metal fundido tem pouco efeito
sobre a resistência da junta soldada, porém que pode afetar a qualidade da superfície e
diminuir a vida útil do eletrodo. Também foi observado que o diâmetro da pepita de solda,
com excesso de corrente de soldagem, permanece quase que constante com tempo de
soldagem de 12 ciclos e com redução no diâmetro no uso de tempo de soldagem de 20 ciclos.
Isso pode estar relacionado com o calor (H) gerado na formação da pepita de solda,
provocando expulsão de metal líquido entre as interfaces das chapas, podendo manter ou
diminuir o diâmetro da pepita. Tal comportamento não concorda com o trabalho de Geunsu
(2011), que observou um aumento no diâmetro da pepita de solda com excesso de corrente de
soldagem referente a aços TRIP.
Figura 49 - Efeito da corrente de soldagem no diâmetro da pepita de solda para o aço TRIP-780
utilizando: (a) 12 ciclos (200 ms) e (b) 20 ciclos (333 ms).
88
Figura 50 - Amostras de aços TRIP-780 mostrando diferentes modos de falha após o ensaio de
arrancamento em diferentes níveis de corrente de soldagem e diferentes tempos de soldagem (12, 16 e
20 ciclos; (c = ciclos)).
O diagrama de soldabilidade para ambos os aços foi determinado com base nos
ensaios preliminares de soldagem e na relação entre os três parâmetros do processo: força dos
eletrodos, tempo de soldagem e corrente de soldagem. O diagrama de soldabilidade é obtido
somente com pontos de solda considerado aceitáveis, ou seja, com diâmetro mínimo da pepita
(dp) acima de 4,8 mm exigido pela norma AWS D8.9M (2012), com botão sem evidência de
fratura interfacial após o ensaio de arrancamento e sem evidência de expulsão de metal
líquido. Assim, o diagrama de soldabilidade obtido é apresentado nas figuras 51 (a) e (b) para
os aços DP-780 e TRIP-780, respectivamente.
89
(a)
(b)
Figura 51 - Diagrama de soldabilidade: tempo de soldagem versus corrente de soldagem: (a) para o
aço DP-780 e (b) para o aço TRIP-780, utilizando força constante de 4,4 kN.
A fim de comparar o processo de soldagem por resistência a ponto nos aços DP-780 e
TRIP-780, o calor produzido para unir as juntas sobrepostas foi estimado utilizando a equação
H = I2Rt (equação 2.2) (ZHANG, SENKARA, 2006; GROOVER, 2010), sendo apresentados
na tabela 13. Observa-se que o aço DP-780 consome mais calor do que o aço TRIP-780 para
produzir pontos de solda de boa qualidade. Porém, esse tipo de comparação não é usual na
literatura devido à resistência elétrica ser um parâmetro difícil de controlar por envolver a
resistência interfacial entre chapas/chapa, chapa/eletrodo, chapa/revestimento e também por
envolver a resistividade de todos os materiais envolvidos no processo de soldagem a ponto
(material a ser soldado e eletrodo) (RWMA, 2003).
MB
ZTA
ZF
α
α’
b
cd α
e f g h α’
a) Botão de solda b) MB
α pró
α’
α
α pró α’ α pró
α’
α
c) ZTA - CS d) ZTA - IC
α´
α´
α´
αb
e) ZTA - GF f) ZTA - GG
α´ αb
α´
αb
α´
α´
g) ZF h) ZF
Figura 52 - Imagens de MEV para aço DP-780 (16 ciclos / 9,6 kA) mostrando diferentes
microestruturas em torno do ponto de solda: (a) botão de solda (parcial); (b) MB (Metal base); (c)
ZTA-SC (zona subcrítica); (d) ZTA-IC (zona intercrítica); (e) ZTA-GF (zona de grãos finos); (f) ZTA
- GG (zona de grãos grosseiros); (g) e (h) ZF (zona de fusão).
93
MB
ZF ZTA
γR
αb
d α
g
h f e cb
α
a) Botão de solda b) MB
α
αb
α
γR
α pró
c) ZTA - CS d) ZTA - IC
α’
α’
e) ZTA - GF f) ZTA - GG
αb αb
α’
α’ α’
γR
α’
g) ZF h) ZF
Figura 53 - Imagens de MEV para aço TRIP-780 (16 ciclos / 9,0 kA) mostrando diferentes
microestruturas em torno do ponto de solda: (a) botão de solda (parcial); (b) MB (metal base); (c)
ZTA-SC (zona subcrítica); (d) ZTA-IC (zona intercrítica); (e) ZTA-GF (zona de grãos finos); (f) ZTA
- GG (zona de grãos grosseiros); (g) e (h) ZF (zona de fusão).
96
MEV e por MO nas amostras atacadas pelo reagente Nital 3%. Outras características
reveladas após o ataque com o reagente LePera é a presença de microporosidades no centro da
pepita de solda, na interface chapa/chapa, como observado na figura 55 (f), assim como a
observação de crescimento epitaxial que ocorrem nas ilhas de fusão da pepita de solda
(figuras 55 (g), (h) e (i)). No entanto, o reagente LePera não demonstrou eficiência para
analisar presença de martensita-α’, bainita-αb e austenita retida (γR) nas microestruturas
resultantes do processo de soldagem por resistência a ponto.
Figura 54 - Microestruturas do aço TRIP-780 (12 ciclos / 9,4 kA) atacado com Nital 3% / 20 s.
Figura 55 - Microestruturas do aço DP-780 (16 ciclos / 9,6 kA) atacado com LePera / 60 s.
Figura 56 - Padrões de difração de raios-X para o aço DP-780 (16 ciclos / 9,6 kA).
99
Figura 57 - Padrões de difração de raios-X para o aço TRIP-780 (16 ciclos / 9,0 kA)
Os resultados dos padrões de DRX para os aços estudados no presente trabalho não
apresentaram presença de austenita retida (γR) nas zonas ZTA e ZF, apesar de terem sido
observadas nas análises microestruturais com MO e MEV. Isso pode estar relacionado ao
fenômeno de fluorescência, onde comprimentos de onda dos tubos de ânodo de Cu usados no
DRX são muito próximos ao do Fe, resultando no mascaramento de picos de difração nas
amostras de aço. Isso também pode estar relacionado à baixa fração de volume da austenita
retida (γR) que, possivelmente, se encontra abaixo do limite de detecção do equipamento de
DRX (~ 2%).
Figura 60 - Força máxima de tração cisalhante em função da corrente de soldagem para diferentes
tempos de corrente de soldagem: (a) aço DP-780 e (b) aço TRIP-780.
a)
DP-780
b)
TRIP-780
Figura 61 - Superfícies típicas de fratura interfacial após realização de ensaio de tração cisalhante para:
(a) aço DP-780 (16 ciclos / 9,6 kA) e (b) aço TRIP-780 (16 ciclos / 9,0 kA).
Nas figuras 62 e 63 observa-se a relação entre o diâmetro médio dos pontos de solda
com a máxima força de tração cisalhante para cada condição de soldagem. Nas condições
apresentadas, todas as amostras foram capazes de satisfazer o diâmetro mínimo da pepita (dp),
apresentar requisitos mínimos de força de cisalhamento (FT) (linha em vermelho no gráfico) e
fornecer resistência mecânica à junta soldada. De acordo com os resultados obtidos, a força de
tração cisalhante superou de 52 a 90% os requisitos mínimos de acordo com a norma AWS
D8.1M (2013), para ambos os aços. Também pode ser observado que os valores mais
elevados de força de cisalhamento correspondem aos maiores diâmetros da pepita de solda
para as condições de soldagem: DP-780 (12 ciclos / 10,6 kA, 16 ciclos / 9,6 kA e 20 ciclos /
9,8 kA); TRIP-780 (12 ciclos / 9,8 kA, 16 ciclos / 9,0 kA e 20 ciclos / 9,0 kA). Essas
103
dp
Figura 62 - Relação entre diâmetro médio da pepita e força de tração cisalhante para aços DP-780.
dp
Figura 63 - Relação entre diâmetro médio da pepita e força de tração cisalhante para aços TRIP-780.
104
Os resultados de dureza nas juntas soldadas dos aços estudados podem ser
visualizados nas figuras 64, 65 e 66. Essas figuras mostram os perfis de microdureza Vickers
a partir do metal base (MB) em direção à zona de fusão (ZF) e ao longo da linha diagonal,
conforme mostrado de modo esquemático na figura 37 (b) e nas figuras 54 (a) e 55 (a). O
valor médio de dureza encontrado na região do MB para o aço DP-780 e para o aço TRIP-780
é de 285 ± 4,3 HV e 262 ± 5,4 HV, respectivamente, concordando com os valores
encontrados nos materiais conforme recebido.
Figura 64 - Perfil de microdureza Vickers em torno da pepita de solda envolvendo o metal base (MB),
zona termicamente afetada (ZTA) e a zona de fusão (ZF) para todas as condições de soldagem do
diagrama de soldabilidade para o aço DP-780.
Em relação ao aço DP-780, foi observada na zona afetada pelo calor subcrítico (ZTA-
SC) uma queda no perfil de dureza em comparação com aquela encontrada no MB, para todas
as condições de soldagem dentro do diagrama de soldabilidade. O valor médio de dureza
nesta região foi de 265 HV e representa um percentual de queda no perfil de dureza de
aproximadamente 7%. Essa queda de dureza, também conhecida como fenômeno de
amolecimento, se deve principalmente ao engrossamento microestrutural (martensita-α’ e
ferrita-α) que ocorre nesta zona. Segundo Pouranvari & Marashi (2013), esse fenômeno é
comum em várias grades de aços DP por conta da elevada fração de volume de martensita-α’.
Durante o ciclo de soldagem (aquecimento e resfriamento) a ZTA-SC, sofre um revenimento
105
em temperaturas abaixo da linha crítica Ac1 (aproximadamente 600º C), onde pode ocorrer
difusão de carbono e precipitação de carbonetos auxiliados por presença de Si. Também
ocorre redução de densidade de discordâncias nos microconstituintes ferrita-α e martensita-α’
(GUZMAN-AGUILERA et al., 2018). Segundo Nayak et al. (2012), Mn e Cr, na composição
química dos aços DP também afetam o grau de amolecimento da ZTA-SC. Por consequência,
essa região se torna mais suscetível ao modo de falha sem evidência de fratura interfacial.
Varbai et al. (2019), afirma que tempos de soldagem mais longos influenciam o amolecimento
na ZTA-SC. Tal afirmação é observada nas pepitas soldadas com os parâmetros: 20 ciclos /
8,6 kA e 20 ciclos / 9,8 kA no aço DP-780, nas quais sofreram quedas de dureza mais
acentuadas, como observadas na figura 66. Adjacente a esta zona, a ZTA-IC apresentou
valores de dureza média em torno de 296 ± 10 HV. O aumento de dureza nesta zona se deve
principalmente à presença de uma microestrutura sem morfologia definida em torno de uma
baixa fração de volume de ferrita pró-eutetóide. De acordo com Khan et al. (2008), a
morfologia não definida está associada à transformação da austenita-γ que, dependendo da
taxa de resfriamento, pode se transformar em martensita-α’, bainita-αb e até perlita. As zonas
ZTA-GF e ZTA-GG apresentam valores de dureza entre 471 e 493 ± 12,2 HV. Esses valores
elevados se devem, principalmente, a microestrutura que é constituída preferencialmente por
martensita-α’ refinada na ZTA-GF e por martensita-α’ um pouco mais grosseira na ZTA-GG.
Na ZF foram observados valores de dureza entre 444 e 460 ± 10,4 HV, na qual são menores
do que aqueles observados na ZTA-GF e ZTA-GG. Esse comportamento está em
concordância com o trabalho de Pouranvari & Marashi (2013), quem observaram valores de
dureza em torno de 1 a 6% menores quando comparado com a ZTA-GG em aços TRIP-780 e
DP-780. Isso pode estar relacionado com a microestrutura mais grosseira de martensita-α’,
acompanhada de bainita-αb e austenita retida (γR). Segundo Shah & Liu (2019), as flutuações
(picos e vales) observadas em todas as amostras na ZF podem ser atribuídas a possíveis
distribuições de elementos de liga em diferentes microconstituintes de durezas diferentes,
como na bainita-αb, assim como presença de defeitos como segregações e microporosidades.
Em relação ao aço TRIP-780, o perfil de dureza de todas as amostras do diagrama de
soldabilidade pode ser observado na figura 65. O metal base (MB) apresentou quase a mesma
dureza do material conforme recebido. A ZTA-SC também sofreu queda na dureza em
comparação ao MB. O valor médio de dureza nesta região foi de 251 ±8,5 HV e representa
uma queda de dureza em torno de 4,1%. Essa queda de dureza (fenômeno de amolecimento)
também ocorre no aço TRIP, porém, em menor grau que nos aços DP. Esse amolecimento
pode estar associado a um amaciamento dinâmico provocado pela presença de austenita retida
106
Figura 65 - Perfil de microdureza Vickers em torno da pepita de solda envolvendo o metal base (MB),
zona termicamente afetada (ZTA) e a zona de fusão (ZF) para todas as condições de soldagem do
diagrama de soldabilidade para o aço TRIP-780.
107
Figura 66 – Comparação de microdureza Vickers para cada condição de soldagem dos aços DP-780 e
TRIP-780, mostrando a dureza de diferentes regiões: MB, ZTA-CS, ZTA-GG e ZF.
Figura 67 - Curva de polarização na solução aquosa de NaCl a 3,5% (em peso) para amostras de aço
DP-780 e TRIP-780 conforme recebido e soldados por resistência a ponto.
Tabela 15 – Parâmetros eletroquímicos de Ecorr e icorr obtidos por polarização potenciodinâmica para os
aços DP-780 e TRIP-780 conforme recebido e soldados por resistência a ponto.
Ecorr icorr
Material (µA.cm-2)
(mVAg/AgCl)
DP-780 - 0,77 ± 0,03 12,5 ± 1,2
(conf. recebido)
TRIP-780 - 0,85 ± 0,06 0,3 ± 2,3
(conf. recebido)
DP-780 - 0,96 ± 0,02 83,2 ± 1,1
(16c / 9,6 kA)
TRIP-780 - 0,82 ± 0,04 18,6 ± 3,8
(16c / 9,0 kA)
Figura 68 – Imagens de MEV para um aço DP-780 (12 ciclos / 7,8 kA): (a) superfície de fratura
interfacial completa do botão de solda; (b) interface entre ZTA e ZF com presença de
microporosidade; (c) presença de inclusões que fragilizam a ZF; (d) fratura do tipo clivagem nas
proximidades de defeitos e presença de microporosidades; (e) fratura mista de clivagem (frágil) e
dimples (dúctil) em regiões afastadas de defeitos.
111
Na figura 68 (b) (região 1), observa-se uma pobre ligação interfacial entre a ZF e ZTA
devido à presença de microporosidades, o que contribui para uma baixa resistência mecânica
da pepita de solda. Na figura 68 (c) (região 2), se observa a presença de inclusões não
metálicas acompanhada de trincas ao seu redor, sugerindo que as inclusões se comportam
como nucleantes de trincas, agindo como concentradores de tensão interna e, provavelmente,
sejam regiões de início de crescimento de trincas. Na figura 68 (d) (região 3), se observa a
presença de microporosidades em regiões interdentríticas na ZF. Em torno dessas
microporosidades se observa uma fratura predominantemente frágil por clivagem. A
microporosidade é proveniente da forma de solidificação de dendritas colunares desde a linha
de fusão até a região central da ZF que, neste caso, corresponde à superfície de fratura
interfacial relacionada à interface chapa/chapa. Durante a solidificação, na região central da
ZF (última a solidificar), existe restrições ao fluxo de metal líquido, na qual se produz
microcavidades por rechupe de solidificação (POURANVARI, MARASHI, 2013). A figura
68 (e) (região 4) se encontra mais afastada de defeitos como microporosidades e inclusões,
porém, além da fratura frágil por clivagem, observa-se também fratura dúctil devido a
presença de cavidades equiaxiais denominadas “dimples”, sugerindo que a falha nessas
regiões foi devido a esforços de tração (POURANVARI, MARASHI, 2012). Os dimples
também são observados na figura 68 (b). A fratura frágil por clivagem é caracterizada por
superfícies planas com padrões de fratura totalmente transgranular atribuído ao estado instável
devido à presença de microporosidades, inclusões e a metaestabililidade da microestrutura
predominantemente martensítica na ZF. De acordo com Tumuluru (2006), regiões formadas
por martensita-α’, normalmente apresentam fratura por clivagem, tendo como característica, a
rápida propagação de trinca através de caminhos orientados que apresentam menor
resistência. No entanto, fraturas por clivagem geralmente são precedida quando uma
deformação plástica é restringida.
A figura 69 (a) mostra o espectro da análise de EDS na ZTA (anel em torno da ZF)
referente à figura 68 (a), sugerindo que essa zona exibe frações elevadas de Zn (9,8% p),
porém, em teores bem inferiores à camada revestida referente ao material conforme recebido.
Isso sugere que a superfície da ZTA ainda exibe uma camada revestida de Zn com espessura
muito menor do que o material conforme recebido. Sugere também que, parte da camada de
Zn sofre evaporação e deposição em algum ponto da interface chapa/chapa devido ao maior
aquecimento envolvido na ZTA-IC, ZTA-GF e ZTA-GG, que é superior à temperatura da
linha crítica Ac3, quando comparado à temperatura de fusão do zinco (aproximadamente 419º
C). Por outro lado, o aspecto plano da superfície da ZTA confirma que a mesma não sofre
112
Figura 69 - Espectro de análises de EDS-MEV para um aço DP-780: (a) da ZTA referente à figura 68
(a) e de inclusões na superfície de fratura interfacial referente à figura 68 (b).
De acordo com Emre e Kaçar (2016) e Finlay (1995), aços AHSS revestidos com Zn
causam um efeito negativo sobre a resistência da solda, indicando também que a soldabilidade
é reduzida pelo aumento da espessura do revestimento. Durante o aquecimento envolvido no
processo de soldagem, a camada revestida de Zn na interface chapa/chapa é a primeira a
fundir, deslocando parte do Zn em direção à periferia externa da área de contato da pepita de
solda, formando anéis de camadas de Zn, tal como observado nas figuras 70 (a), (b), (c), (d) e
(e). Esses anéis com diferentes percentuais de Zn, desviam a corrente de soldagem,
promovendo uma redução da resistência do circuito de soldagem e uma menor entrada de
calor na região do ponto de solda, resultando em menores resistências sob tração cisalhante. A
largura da ZTA, também pode ser ligeiramente maior em aços revestidos com Zn devido à
maior condutividade térmica dos aços galvanizados (EMRE, KAÇAR, 2016).
113
Figura 70 – Imagens de MEV: (a) camadas de revestimento de zinco em torno da ZF, e, espetros de
análises de EDS-MEV: (b) na ZTA, e, (c-d) no MB.
A figura 71 (a) apresenta outro modo de falha com fratura interfacial completa após
ensaio de tração cisalhante do ponto de solda do aço DP-780 (16 ciclos / 9,6 kA) e
corresponde a pepita de solda de qualidade aceitável (dentro do diagrama de soldabilidade).
No centro da pepita de solda na ZF, a figura 71 (b) (região 1) mostra uma área formada
totalmente por dimples grosseiros e alongados, típicos de fratura dúctil cisalhada,
diferentemente da característica de fratura interfacial realizada por ensaio de arrancamento.
114
b) Região 1 c) Região 2
a)
1 2
3
Anéis em torno
do pepita de
4 solda
d) Região 3 e) Região 4
dimples
inclusões
Figura 71 – Imagem MEV para um aço DP-780 (16 ciclos / 9,6 kA): (a) superfície de fratura
interfacial completa da pepita de solda após ensaio de tração cisalhante; (b) dimples alongados
grosseiros na região central da ZF; (c) dimples finos na ZF próximos à ZTA; (d) presença de defeito
(inclusões) na ZF; (e) dendritas colunares em microporosidades na ZF.
Figura 72 – Imagens MEV para um aço TRIP-780 (12 ciclos / 8,4 kA): (a) superfície de fratura
interfacial parcial de pepita de solda com 4,7 mm de diâmetro (figura “inset”) e ampliada após ensaio
de arrancamento; (b) ZTA; (c) defeitos (trinca, microporosidades e inclusões) na ZF.
a)
1 2
b) Região 1 c) Região 2
ZF
dimples
ZTA
clivagem microporosidade
Figura 73 – Imagens MEV para um aço DP-780 (20 ciclos / 7,4 kA): (a) superfície de fratura com
falha interfacial parcial após ensaio de arrancamento do ponto de solda; (b) superfície de fratura mista
de clivagem e por dimples; (c) interface entre ZF e ZTA com presença de microporosidade.
De forma geral, observa-se que as pepitas de solda para ambos os aços, fraturam com
modo de falha interfacial completa após o ensaio de tração cisalhante, porém, com fratura
dúctil e com deformação plástica. Já através do ensaio de arrancamento, as fraturas ocorrem
por falha interfacial parcial ou sem evidência de fratura interfacial. Entretanto, as pepitas de
solda que apresentaram características de expulsão de metal líquido, também falharam sem
evidência de fratura interfacial. Nesta última condição, a expulsão do metal líquido ocorre em
direção à superfície das chapas, tal como observado na figura 74 (a) e (b) e confirmado por
análises de DRX, mostradas nas figuras 75 (a) e (b). Os resultados mostram presença bem
acentuada de Zn na superfície das chapas. Para Gedeon & Eagar (1986), o Zn quando
fundido, é expulso da zona de contato do eletrodo na ZF, fornando um “selo” na periferia do
ponto externo, assim como na interface chapa/chapa. De acordo com Batista (2015), esse
defeito é devido à extrapolação do uso de corrente de soldagem, causando perda de material
líquido e comprometendo a qualidade do ponto de solda, porém, sem perda de resistência
mecânica da junta soldada.
118
a) b) zona de
expulsão
Figura 74 – Expulsão causada por extrapolação de corrente de soldagem: (a) imagem mostrando a
ocorrência de expulsão no ponto de solda após a realização do ensaio de tração cisalhante; (b) imagem
MEV da expulsão de metal líquido de Zn sobre a superfície da chapa de aço.
a) b)
Figura 75 - Padrão de difração de raios-X (DRX) de amostras com expulsão de metal líquido sobre as
superfícies: (a) aço DP-780; (b) aço TRIP-780.
119
CAPÍTULO 5
5 CONCLUSÕES
aço TRIP-780; ii) zona intercrítica (ZTA-IC) constituída por ferrita pró-eutetóide e provável
martensita-α’ para ambos os aços; iii) zona de grãos finos (ZTA-GF) e de grãos grosseiros
(ZTA-GG) constituída por martensita-α’ fina e grosseira, respectivamente, para ambos os
aços; e uma zona de fusão (ZF) constituída principalmente por martensita-α’ acompanhado
por bainita-αb e austenita retida (γR) para ambos os aços.
6. Em relação às medidas de microdureza, observou-se na ZTA-SC um amolecimento
significativo no aço DP-780 e menos significativo no aço TRIP-780, em relação ao MB.
Desde a ZTA-IC até a ZTA-GG houve um aumento gradativo da dureza até atingir picos de
dureza em torno de 482 HV superior à da ZF (452 HV) para o aço DP-780 e picos de dureza
em torno de 509 HV superior à da ZF (487 HV) para o aço TRIP-780. O maior valor de
dureza no aço TRIP-780 é atribuído ao maior refino da martensita-α’.
7. Os resultados relacionados ao comportamento de corrosão mostraram que o aço
TRIP-780 conforme recebido apresentou menor densidade de corrente (icorr) frente ao aço DP-
780, podendo estar relacionado a um processo de corrosão mais lento. Em relação às juntas
soldadas, o aço DP-780 apresentou menor valor de potencial de corrosão (Ecorr) e alta
densidade de corrente de corrosão (icorr) quando comparado ao aço TRIP-780, indicando que o
aço TRIP-780 em ambas as condições apresenta maior resistencia à corrosão que do aço DP-
780.
8. Com base nas análises de falha após o ensaio de arrancamento, foi observado que,
com parâmetros de soldagem subdimensionados, os botões de solda falharam por fratura
interfacial parcial e completa favorecidos pela presença de defeitos (inclusões,
microporosidades e presença de Zn na superfície de fratura) e baixo aporte térmico. No
entanto, com parâmetros de soldagem dentro do campo de soldabilidade e extrapolados, os
botões de solda falharam sem evidência de fratura interfacial, porém, com comprometimento
da qualidade superficial das juntas soldadas na condição extrapolada. Em fraturas interfaciais
na ZF, o mecanismo de fratura frágil por clivagem é predominante após ensaio de
arrancamento e o mecanismo de fratura dúctil por “dimples” é predominante após ensaio de
tração cisalhante.
121
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