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Andre Pinacoteca Port Prelo
Andre Pinacoteca Port Prelo
Andre Pinacoteca Port Prelo
documental *
Na primeira década a ISAD(G) é pouco difundida, pouco conhecida pelos arquivistas não
especializados e pouco aplicada nos países externos ao grupo de trabalho inicial. Em 1993,
em Estocolmo, é aprovada a primeira versão oficial da diretriz, com a proposição de ser
analisada, em termos práticos, pela comunidade arquivística – com maior abrangência – e ser
revisada após cinco anos. Em 1999, novamente em Estocolmo, aprova-se a segunda versão, a
qual conta com um grupo de países participantes mais amplo que as versões iniciais
(International Council on Archives, 2000). A divulgação, no entanto, permanece bastante
restrita. A diretriz passa a ter uma efetiva dimensão internacional com a disponibilização on-
line feita em agosto de 2000, às vésperas do congresso de Sevilha ( LOPEZ, 2002a, p.45).
Apesar disso, ainda não é aplicada por um número expressivo de arquivos e instituições no
mundo, devido ao pouco conhecimento sobre a ISAD(G) na comunidade internacional de
arquivistas e a certa dose de desconfiança quanto a sua efetividade por parte de alguns
usuários; há que se considerar também a necessidade de um período natural de adaptação das
velhas práticas.
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A partir de 2000 pode-se notar uma ampliação crescente da difusão da ISAD(G) com a
divulgação de traduções semioficiais em diversos idiomas; não podem ser consideradas
oficiais porque o documento do CIA só foi formalmente aprovado em inglês e francês, a
despeito de trazer exemplos em português e italiano também. Algumas dessas traduções
foram elaboradas por especialistas, membros de arquivos nacionais e, em alguns casos,
integrantes do próprio comitê do CIA responsável pela redação final do documento oficial.
Posteriormente novas traduções não oficiais foram realizadas, ampliando a abrangência da
difusão das diretrizes. Hoje o website do CIA apresenta, sem distinção quanto ao caráter
oficial ou não, a ISAD(G) em 14 diferentes idiomas, alguns recentemente incorporados:
espanhol (2000), francês (2000), galês (s.d.), grego (2002), hebraico (s.d.), holandês (2004),
inglês (2000), polonês (s.d.), português (2000), romeno (s.d.), russo (2011), sérvio (2006) e
tcheco (2009) (INTERNATIONAL COUNCIL ON ARCHIVES, 2011a).
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também por gestores de documentos não arquivísticos, inaugurando a etapa atual do
desenvolvimento da diretriz. Estamos, hoje, vivendo um momento de popularização e
adaptação das diretrizes para outras finalidades, que também pode ser denominado „fase de
contaminação‟, no sentido de que a ampliação da área de influência passa a afetar ambientes
não adequados à sua funcionalidade. Esse processo é, em parte, explicável pela própria
estrutura de algumas instituições de custódia de arquivos, que mantém junto a estes, às vezes
de modo pouco definido, coleções, material de caráter biblioteconômico, peças de museu etc.
A existência de um padrão internacional de descrição de documentos de arquivo converte-se
em ferramenta de potencial interesse para museus, centros de documentação e até mesmo
bibliotecas, responsáveis pelo tratamento de documentos de caráter não arquivístico.
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Figura 1 – Escopo da ISAD(G) no esquema das operações arquivísticas
Fonte: o autor, com base em Miller (1990, p.6), destacando o campo de ação da ISAD(G).
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As atividades arquivísticas apresentam-se como uma rede diversificada, na qual cada
atividade tem características particulares e está interligada com as demais. Miller (1990)
reafirma a dimensão que as atividades de descrição têm no fazer arquivístico, com atuação
restrita à parte final de um complexo sistema. Não se trata aqui de discutir a pertinência ou
não de tal esquema para melhor compreender as operações arquivísticas. Tampouco vem ao
caso a clássica diferença conceitual entre records e archives. O importante é perceber que o
escopo de aplicação da ISAD(G) é bastante específico e liga-se a um rol de atividades
anteriores, também específicas dos arquivos.
Por representar o principal ponto de contato dos não especialistas com os arquivos, a
descrição é a atividade que tem maior visibilidade e, por essa razão, suscita comparações com
outras áreas, responsáveis pela custódia de documentos assemelhados, nas quais ocupa um
locus sistêmico similar, porém não equivalente, ao dos arquivos. O fato de que a parte inferior
do esquema de Miller – a partir do item „depósito/preservação‟ – seja vista como
equivalentemente representativa por outros tipos de instituições que custodiam documentos
não pode implicar em transposição direta de instrumentos e procedimentos.
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subséries); o uso da diretriz, nesses casos, inutiliza os campos destinados à organicidade e
potencializa a descrição dos conteúdos de itens documentais apenas.
A diretriz, por ser destinada a materiais arquivísticos, tem estrutura multinível que visa
possibilitar a representação da organicidade do fundo, facilitando a demonstração da
contextualização arquivística. A estrutura multinível impõe que a descrição de itens
documentais esteja sempre articulada à série documental, que, por sua vez, estará vinculada
ao subfundo (ou classe, grupo) e este ao fundo, refletindo, assim, a organicidade do arquivo.
No entanto, por vezes, a aplicação da diretriz apresenta problemas oriundos do descompasso
com algumas práticas arquivísticas anteriores, não condizentes com o modelo de organicidade
contemplado. Bogdan Popovici (2009) indica que a Romênia, por exemplo, tem tido
problemas em adaptar-se à ISAD(G), sobretudo em relação a conjuntos documentais mais
antigos, uma vez que a lógica de organização anterior dos acervos não é a mesma da estrutura
multinível da diretriz. No Brasil, onde abundam práticas biblioteconômicas nos arquivos, a
descrição exaustiva de itens documentais tem sido frequente. Aqui o fundamento
biblioteconômico da descrição por conteúdo é muito forte, portanto problemático para o
universo dos arquivos. Muitas vezes, documentos que não estão contextualizados e
organizados – em séries, classes, subfundos (grupos) e fundos documentais – são descritos
mesmo assim, em desconformidade com a diretriz e com os princípios teóricos da
Arquivologia.
Há, portanto, um hiato entre a proposta conceitual da diretriz e a sua aplicação, que vai sendo
flexibilizada cada vez mais, seja para atender às próprias demandas de algumas tradições
arquivísticas, seja para que outros tipos de documentos possam ser descritos com a ISAD(G).
A adoção de maior flexibilidade para atrair mais adeptos acaba por permitir a descrição de
conjuntos não arquivísticos, como as coleções contempladas na NOBRADE, por exemplo. Ao
flexibilizar o conceito de série, que passa a poder ser entendida como simples subdivisão por
assunto, portanto, sem organicidade, a diretriz brasileira (BRASIL, 2006, p.16) permite a
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simplificação do produto final que, na prática, torna-se uma mera ficha de descrição de itens
documentais por assuntos. Tal possibilidade acaba por levar à incorreta percepção de que
tratamentos pautados no conteúdo seriam arquivisticamente típicos e corriqueiros,
transformando a exceção em ocorrência hegemônica. Com isso, muitas vezes, são
extrapoladas as fronteiras da descrição e, não raro, dos próprios arquivos.
O quadro The Lackawanna Valley, de George Inness (1856), mencionado por Gombrich
(1986, p.58ss), é um bom exemplo da reconfiguração do documento através da modificação
na atribuição de sentido, distanciando-se do inicial. A obra, pintada por encomenda do então
presidente da estrada de ferro retratada, foi elaborada com intuito publicitário, entre 1855 e
1856. Na época a companhia ferroviária contava com apenas uma linha, porém exigiu que
fossem pintadas linhas adicionais, visando incrementar a publicidade, sob o argumento de que
eventualmente seriam construídas. Inness, apesar de se opor, acabou por cumprir parcialmente
tal exigência, sugerindo a existência de novos trilhos com a presença de colunas de fumaça no
horizonte (GOMBRICH, 1986, p.58).
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Figura 2 – George Inness. The Lackawanna Valley, c.1856.
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museológico da National Gallery of Art, em Washington (D.C.), doado pela herdeira de um
dos diretores da companhia.
Questões de fundo
A adoção de uma determinada ficha, deste ou daquele modelo descritivo, deve ser resultado
de uma detalhada análise anterior, que defina os objetivos a serem alcançados com a
descrição. A ISAD(G), desde a formulação, apresenta um escopo bem definido e específico.
Mesmo assim, para determinadas demandas dos arquivos, a diretriz é insuficiente, em parte
pela desatualização e em parte por seus limites estruturais. A ISAD(G), no âmbito dos
arquivos, só tem eficácia quando utilizada em conjunto com uma série de outras diretrizes
complementares – como ISAAR(cpf), para controle de autoridades; ISDIAH, para controle de
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instituições; e ISDF, para controle de funções (INTERNATIONAL COUNCIL ON
ARCHIVES, 2011b) – e integrada às demais operações técnicas arquivísticas. Isoladamente
representa apenas um formulário de aparência padronizada, mas sem consistência técnica.
No caso dos arquivos, como se pode notar no percurso iniciado há cerca de 25 anos, houve
um processo de análise dos objetivos a serem atingidos, de acordo com as particularidades
desse tipo de documento. Para que se possa optar pela adoção (mesmo que parcial) dessa ou
daquela ferramenta, faz-se necessário, antes, definir uma política de descrição documental (
LOPEZ, 2002b, p.36) que inclua também o planejamento relativo ao que deverá ser
desenvolvido/complementado localmente. No caso de materiais não arquivísticos (mesmo que
custodiados por instituições arquivísticas) é mister que a adoção de um modelo descritivo
contemple uma discussão prévia dos seguintes aspectos, no mínimo:
No caso da ISAD(G), a diretriz está mais voltada para o tópico (d), abrangendo (c) e
parcialmente (e).
Quais são os dados requeridos para atender às conclusões dos dois itens acima?
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A ISAD(G) apresenta uma extensa relação sistematizada de campos, reunidos em áreas de
descrição, em uma estrutura multinível. As diretrizes complementares padronizam o
preenchimento de alguns desses campos. As normas nacionais complementam e padronizam
localmente o preenchimento de outros.
Como se pretende dar acesso aos dados definidos acima e como se pretende, com tais
dados, dar acesso aos documentos?
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É importante reiterar que para a discussão deste item é crucial a clara definição de quem é o
público-alvo. A ISAD(G) opera no primeiro nível, não só pela limitação tecnológica da época
em que foi concebida, mas também pelo conceito de comunicação predominante na
Arquivologia de então.
A agenda é vasta, complexa e dificilmente terá uma conclusão consensual entre as mais
diferentes entidades e instituições dedicadas à custódia de documentos. O fato concreto é que,
hoje em dia, a demanda crescente por modelos prontos para aplicar tem sido responsável pela
ampliação da área de influência da ISAD(G) para além do universo arquivístico, a despeito do
fato de que os documentos e a atividade de descrição estão sendo drasticamente modificados
pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), em velocidade muito maior
do que a capacidade do CIA de revisar e ampliar o escopo deste modo de descrever
documentos, que já dura um quarto de século.
Referências bibliográficas
GOMBRICH, Ernst. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. Trad. Raul Sá
Barbosa. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
_______. Standards. ISAD(G): General International Standard Archival Description – 2.ed. 1. Sept.
2011a. Página web. Disponível em: www.ica.org/10207/standards/isadg-general-international-
standard-archival-description-second-edition.html.
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_______. La clasificación archivística como actividad previa para la descripción de documentos
imagéticos. In: AGUAYO, Fernando; ROCCA, Lourdes (Org.) Imágens y investigación social.
Mexico (DF): Instituto Mora, 2005. p.234-270. Disponível em:
http://www.4shared.com/document/c0_jikXy/IMGENES_E_INVESTIGACIN_SOCIAL.html.
MILLER, Fredric. Arranging and Describing Archives and Manuscripts. Chicago: SAA, 1990.
POPOVICI, Bogdan. ISAD(G) and some aspects of Romanian archival principles: “To be or not to
be”. In: TEHNIČNI IN VSEBINSKI PROBLEMI KLASIČNEGA IN ELEKTRONSKEGA
ARHIVIRANJA: referatov dopolnilnega izobraževanja s področij arhivistike, dokumentalistike in
informatike v Radencih, 8, 2009, Radenci. [Trabalhos apresentados]. Maribor: Pokrajinski Arhiv
Maribor, 2009. p.55-60.
* Versão ajustada da conferência “Usos & desusos da ISAD (G) nas Ciências da Informação”, apresentada no “II
Seminário Internacional Arquivos de Museus e Pesquisa: tecnologia, informação e acesso” em São Paulo, em
novembro de 2011. Agradeço à profa dra Darcilene Sena Rezende pela cuidadosa leitura dos rascunhos e por suas
sugestões, eximindo-a de qualquer responsabilidade sobre eventuais problemas que ainda possam existir no
texto.
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