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NOVEMBRO DE 2023

Querida Carolina,

Françoise Ega te escreveu tão bem que hesito ao tentar te endereçar


algumas palavras. Creio que a melhor forma de começar uma carta para
você é fazendo menção aos seus escritos. Gosto particularmente destes
versos:

Não digam que eu fui rebotalho,


Que vivia à margem da vida
Digam que eu procurava por trabalho
Mas sempre fui preterida.

Digam ao meu povo brasileiro


Que o meu sonho era ser escritora,
Mas eu não tinha dinheiro
Pra pagar uma editora.

Seu sonho, Carolina, se cumpriu há muito tempo. Ainda bem! Ainda


bem! Ganhamos todos com isso.
Me lembro bem de quando ganhei de presente aniversário, lá na
época do Ensino Médio, Quarto de despejo. Suas palavras me
impactaram! Aliás, não só suas palavras, mas você também. Em 2022, ao
visitar a exposição Carolina Maria De Jesus: um Brasil para os
brasileiros, no IMS Paulista, me senti fascinado de uma maneira
indescritível. Meus olhos brilhavam e eu, atônito, só pensava na minha
felicidade por estar ali. Coisa de professor de Português aficionado por
literatura, talvez. Talvez... É curioso pensar que ainda te associem, quase
exclusivamente, à fome e à miséria. Tão certeira foi Conceição Evaristo ao
dizer que, para além disso, você, Carolina, tinha fome de compreensão da
vida. Não sei, então, se essa fome foi saciada, mas, da minha parte, posso
te dizer que seus escritos me ajudam a saciar a minha fome existencial.
Tanto é que, como professor, vejo a extrema necessidade de te apresentar
aos meus alunos.

Afetuosamente,

José André Souza Silva - Professor


Colégio Estadual Professora Luzia Carvalho Silva (Antas)

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