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3. Raciocinar, isto é, de vários juízos dados tirar um outro juízo que destes decorre
necessariamente.
A Lógica estuda estas três operações em si mesmas, a saber, enquanto elas são atos do espírito, e nas
suas expressões verbais, que são: para a apreensão, o termo; — para o juízo, a proposição; — para o
raciocínio, o argumento.
Todos os princípios e todas as regras válidas das operações do espírito o são também e da mesma
maneira de suas expressões verbais.
Capítulo Primeiro
A APREENSÃO Ε O TERMO
ART. I. DEFINIÇÕES
1. Apreender significa apanhar, tomar, e a apreensão do ponto-de-vista lógico é o ato pelo qual o
espírito concebe uma idéia, nem nada afirmar ou negar. A apreensão difere então do juízo, que, veremos,
consiste em afirmar ou negar uma coisa de uma outra.
2, A extensão é o conjunto de sujeitos a que a idéia convém. É assim que idéia do homem convém
aos canadenses, aos franceses, aos negros, aos brancos, a Pedro, a Tiago etc.
.3. Relação da compreensão e da extensão.
a) A compreensão de uma idéia está na razão inversa de sua extensão. A idéia de ser, que é a
menos rica de todas, é também a mais universal; a idéia de homem, implicando elementos mais numerosos,
não se aplica senão a uma parte dos seres; a idéia de francês, que acrescenta à idéia de homem novos
elementos, é ainda mais restrita; enfim, a idéia, de tal indivíduo Pedro, Paulo, de que a compreensão é a mais
rica, é também a mais limitada quanto à extensão.
b) O gênero e a espécie. É assim possível ordenar as idéias o, portanto, os seres que elas
representam, segundo uma hierarquia baseada em sua extensão. A idéia superior em extensão se chama
gênero em relação à idéia inferior, e esta espécie em relação à primeira. E!m princípio, chama-se gênero toda
idéia que contém em si outras idéias gerais (animal em relação a homem, pássaro, peixe etc), e espécie toda
idéia que não contém senão indivíduos.
a) A idéia é adequada desde que represente no espírito todos os elementos do objeto. É inadequada
no caso contrário.
b) A idéia é clara desde que seja suficiente para fazer reconhecer seu objeto entre todos os outros
objetos, e obscura no caso contrário.
c) A idéia é distinta ou confusa conforme faça conhecer οι ι não os elementos que compõem seu
objeto. Uma idéia clara pode não ser distinta: um jardineiro tem uma idéia clara, mas não distinta (no
contrário do botanista) das flores que cultiva. Pelo contrário, uma idéia distinta é necessariamente clara.
A idéia singular: a que só pode aplicar-se a um único indivíduo Pedro, esta árvore, este livro.
A idéia particular: a que se aplica de maneira indeterminada a uma parte somente de uma espécie ou
de uma classe dadas. Ela é marcada geralmente pelo adjetivo indefinido algum.
A idéia universal: a que convém a todos os indivíduos de um gênero ou de uma espécie dados: o
homem, o círculo, o animal, a mesa etc.
A idéia singular equivale a uma idéia universal, porque, se ela se restringe a um único indivíduo,
esgota ao mesmo tempo toda a sua extensão.
a) Contraditórias, quando uma é exclusiva da outra sem que haja intermediário possível entre uma e
outra. Por exemplo: ser e não ser; estar em Paris e não estar em Paris; ser avarento e não ser avarento.
b) Contrárias, quando exprimem as notas mais opostas num gênero dado, de tal sorte que haja um
intermediário entre eles: branco e preto; avarento e pródigo; estar em Paris e estar em Roma.
1. Em si mesma, uma idéia não é nem verdadeira, nem falsa, porque não contém nenhuma
afirmação. Ela é o que é e nada mais.
2. Uma idéia pode ser contraditória, isto é, compreender elementos que se excluem mutuamente.
Seja a idéia de círculo quadrado.
As idéias contraditórias só podem ser idéias confusas, porque é impossível conceber claramente e
distintamente uma idéia realmente contraditória (que é, em realidade, um vazio de idéia), ι
É necessário, então, agir de maneira que nossas idéias não contenham elementos contraditórios.
Ora, como a contradição nas idéias provém sempre de sua confusão, é necessário dissipar esta confusão
analisando-as, isto é, é necessário defini-las e dividi-las.
Art. V. A DEFINIÇÃO
2. Divisão. — Distingue-se:
a) A definição nominal, que exprime o sentido de uma palavra. Assim, dizer que a palavra
"definir" significa "delimitar" é dar definição nominal.
b) A definição real, que exprime a natureza da coisa mesma. A definição real pode ser:
Essencial. É a que se faz pelo gênero próximo e a diferença específica. Define-se, assim, o homem:
um animal racional, animal sendo o gênero próximo, isto é, a idéia imediatamente superior, quanto à
extensão, a idéia de homem, e racional sendo a diferença específica, isto é, a qualidade que, acrescentada a
um gênero, constitui uma espécie, distinta como tal de todas as espécies do mesmo gênero.
Descritiva. Ê a que, à falta dos caracteres essenciais (gênero próximo e diferença específica),
enumera os caracteres exteriores mais marcantes de uma coisa, para permitir distingui-la de todas as outras.
(O carneiro é um animal ruminante de cabeça alongada, de nariz recurvado, olho terno etc.) É a definição em
uso nas ciências naturais.
a) A definição deve ser mais clara do que o definido. Portanto, é necessário que ela não contenha o
termo a definir, — que não seja normalmente negativa, pois dizer que o homem não é um anjo, não é
esclarecer a questão da natureza do homem, — enfim, que seja breve.
b) A definição deve convir a todo o definido e apenas ao definido. Quer dizer que ela não deve ser
nem muito sumária (o homem é um animal racional do cor branca), nem muito ampla (o homem é um
animal).
A APREENSÃO E O TERMO
ARΤ. VI. A DIVISÃO
A divisão de idéias em seus elementos é uma das mais necessárias para obter uma boa definição.
1. Definição. —Dividir é distribuir um todo em suas partes. Há, então, tantas modalidades de
divisões quantas de todos.
2. Espécies. Chama-se iodo o que pode ser subdividido fisicamente, ou ao menos idealmente,
em muitos elementos. Donde três modalidades de todo: físico, lógico e moral.
a) Físico. O todo físico é aquele cujas partes são realmente distintas. Este todo pode ser:
quantitativo, enquanto composto de partes homogêneas: um bloco de mármore, — essencial, enquanto
formando uma essência completa: o homem, — potencial, enquanto composto de diferentes faculdades: a
alma humana como composto de inteligência e de vontade, — acidental, enquanto composto de partes unidas
pelo exterior: uma mesa, um monte de seixos.
b) Lógico (ou metafísico). O todo lógico é aquele em que as partes se distinguem apenas pela
razão. Exprime-se por uma noção universal, que contém outras a título de partes subjetivas. Assim, o gênero
contém suas espécies: tal idéia de metal em relação nos diferentes metais (ferro, estanho, cobre, zinco etc.) ou
ainda a idéia de animal em relação a animal racional (homem) e a animal não racional (bruto).
c) Moral. O todo moral é aquele cujas partes, atualmente distintas e separadas, são unidas pelo
elo moral de um mesmo fim: uma nação, um exército, uma escola, uma família, dois amigos etc. É expresso
por um conceito coletivo.
b) Irredutível, isto é, não enumerar mais do que os elementos verdadeiramente distintos entre si,
de maneira que nenhum esteja compreendido no outro. A divisão seguinte: o homem se compõe de um
corpo, de uma alma e de uma inteligência, peca contra esta regra, pois a alma humana compreende a
inteligência.
c) Fundada no mesmo princípio, e, portanto, servir-se de membros verdadeiramente opostos entre si.
A divisão seguinte: minha biblioteca se compõe de livros de Filosofia e de livros de formato in-8°, peca
contra esta regra, porque formato in 8.° não se opõe a Filosofia.