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FRATURA DE MONTEGGIA EM GAVIÃO CARIJÓ (Rupornis magnirostris)

Monteggia Fracture in carijó hawk (Rupornis magnirostris)

Vanja de Andrade Gueiros¹; Jacinta Eufrásia Brito Leite¹; Angélica da Costa Ferreira de Souza¹; Géssica
Giselle Almeida Silva Araújo¹

1-Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco,


vanja.gueiros@gmail.com

Resumo
A fratura de Monteggia caracteriza-se pela presença de linha de fratura do terço proximal da ulna e luxação
anterior da epífise radial. É uma fratura pouco descrita em veterinária, havendo poucos relatos em aves. O
presente trabalho tem como objetivo descrever radiologicamente o caso de uma fratura de Monteggia em um
gavião carijó (Rupornis magnirostris), fato não encontrado na literatura.
Palavras-chave: animais silvestres, radiografia, ave de rapina

Abstract
The fracture Monteggia is characterized by the presence of proximal third of the ulna fracture line and anterior
dislocation of the radial epiphysis. It's rarely described described in veterinary, with few reports in birds. This
paper aims to describe the case of a radiologically Monteggia fracture in a Carijó Hawk (Rupornis
magnirostris), which was not found in the literature.
Key words: Wild animals; radiography; bird of prey

Introdução prevalência4 e grande parcela destas são devido a


O gavião-carijó (Rupornis magnirostris) acidentes com barreiras físicas impostas pelo
pertence ao gênero Accipitriformes e à família homem, que impedem o vôo de aves de vida livre5.
Accipitridae, pode ser encontrado em toda a A ossificação nas aves é diferente da que
América Latina inclusive em todo o território ocorre nos mamíferos. Nos mamíferos ossificação
brasileiro. É também conhecido como indaié, epifisária se faz a partir das diáfises e das aves os
gavião-pega-pinto e gavião-indaié. Tem em média núcleos epifisários independentes são ausentes
36 cm de comprimento, pesa entre 250 e 300 durante a osteogênese. Além disso, os ossos das
gramas, possui dorso escuro e peito estriado, a aves possuem baixo peso, formato aerodinâmico,
cauda tem 4-5 faixas claras em contraste às faixas sendo finos e com corticais quebradiças, a própria
cinza escuro ou negras, as asas são relativamente composição do osso é diferente, já que nos ossos
curtas e arredondadas, onde as penas da ponta das aves a proporção mineral é superior, o que os
estão levemente separadas entre si, além da torna mais susceptíveis a fraturas6.
cauda longa e estreita1. A fratura-luxação de Monteggia foi descrita
Sua alimentação consiste principalmente de por Giovanni Battista Monteggia, em 1814, como
artrópodes, pequenos lagartos, cobras, pássaros e fratura do terço proximal da ulna e luxação anterior
roedores, portanto desenvolve um papel da epífise radial. Em 1967, José Luis Bado
importante na natureza, por ser predador de topo. complementou esta descrição original e foram
Possui hábitos diurnos e habitam campos abertos, descritos quatro tipos, de acordo com local e
bordas de matas, capoeiras, margens de rios, angulação da fratura e o sentido da luxação 7. Em
lagos, brejos, cerrado, matas ciliares e em áreas humanos é uma situação rara, que compreende
arborizadas do interior das grandes cidades2. menos de 2% de todas as fraturas do antebraço.
É uma das aves de rapina mais bem Na clínica veterinária também é pouco frequente e
adaptadas às ações antrópicas, podendo ser foram encontrados poucos relatos desta lesão em
facilmente encontrada habitando os centros aves8.
urbanos3. Isso faz com que, entre os problemas O objetivo desse trabalho é descrever
cirúrgicos das aves, as fraturas sejam os de maior radiograficamente a fratura de Monteggia em um
Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem.
19 a 21 de Novembro de 2015 Bonito, Mato Grosso do Sul, Brasil
gavião carijó, visto que essa fratura é rara em aves habitarem regiões das grandes cidades2, enfim,
e não foi encontrada na literatura descrição dessa serem bem adaptados a ações antropicas3.
lesão em Gaviões Carijó. Infelizmente, o paciente em relato vem a engrossar
as estatisticas da literatura4, quando afirma que as
Relato de caso fraturas são o problema de maior prevalência
Foi radiografado um gavião carijó, nesses animais. Embora já tenha sido afirmado na
apresentando instabilidade em região umero radio literatura que a maior razão de fratura nesses
ulnar, edema local e ausência de movimento da pacientes sejam barreiras físicas impostas pelo
asa esquerda. A técnica utilizada para obtenção da homem5, não podemos corroborar com essa idéia
imagem foi 45Kv / 5,0 mAs. Realizou-se a projeção pela ausência de informação, a esse respeito, na
mediolateral, com o foco primário centrado na ficha clínica do paciente, que foi casualmente
região radio ulnar da asa esquerda. A imagem encontrado e conduzido para exame radiográfico,
radiográfica obtida foi posteriormente interpretada por ação humanitária.
em negatoscópio e os achados detalhadamente Na radiografia obtida desse paciente pôde-
descritos. se visibilizar linha de fratura no terço médio-distal
da ulna esquerda, e linha de fratura no terço
Discussão e conclusões medio-proximal do ulna esquerda apresentando
Por ser uma ave encontrada em todo desvio de eixo, com luxação proximal do rádio
território brasileiro1, não é infrequente o esquerdo, caracterizando Fratura de Monteggia,
encaminhamento de Gavião Carijó para realização tipo I7, (Figuras 01 e 02). Tratando-se de uma
de exames radiográficos na nossa rotina, condição rara em aves8, optou-se pela publicação
especialmente por apresentarem hábitos diurnos, desse caso inédito em Gaviões Carijó na literatura.

Figura 01: Fratura de Monteggia tipo I em Gavião Carijó. Fonte: Imagens


gentilmente cedidas por Jacinta Eufrásia Brito Leite

Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem.


19 a 21 de Novembro de 2015 Bonito, Mato Grosso do Sul, Brasil
Figura 02: Fratura de Monteggia tipo I em Gavião Carijó em detalhe: tênue linha
de fratura no terço médio-distal da ulna esquerda (seta fina), e linha de fratura no
terço medio-proximal do ulna esquerda apresentando desvio de eixo (seta
cheia), com luxação proximal do rádio esquerdo (seta vazada). Fonte: Imagens
gentilmente cedidas por Jacinta Eufrásia Brito Leite
http://www.projetodiretrizes.org.br/ans/diretrizes
Referências /fratura_de_monteggia.pdf. Acesso em: 31 julho
1 Sick, H. Biologia. In: SICK, H. Ornitologia 2015
Brasileira 2004; 1 ed. p. 98-118. 8 Surita, L. et al. Redução de fratura de
2 Frisch, et al. Gaviões. In: Aves Brasilerias e monteggia com pino intramedular em papagaio-
Plantas que as atraem 2005; 3 ed. 480p. verdadeiro (Amazona Aestiva) - relato de caso.
3 Menq, W. Portal aves de rapina Brasil – Gavião JBCA v.5, n.10., 2012 p 642-645.
carijó, 2015. Disponível em:
<http://www.avesderapinabrasil.com/>. Acesso
em: 13 de agosto de 2015
4 Gouvea, A. Avaliação de microplacas de titânio
em fraturas de tibiotarso em pombos
domésticos (Columba lívia), 2010; Tese de
Mestrado. Faculdade de Veterinária,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre. 60 p.
5 Bolson, J. et alli. Osteossíntese em aves -
revisão da literatura. Arquivos de Ciências
Veterinárias e Zoologia da Unipar, 2008; 11
(1):55-62.
6 Stocker L. Fracture Management. In: Practical
Wildlife Care; Second Edition. 2005 p. 67-87.
7 Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia (2011). Fratura de Monteggia.
Diretrizes Clínicas na Saúde Complementar.
Disponível em:
Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem.
19 a 21 de Novembro de 2015 Bonito, Mato Grosso do Sul, Brasil

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