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Um repertório vasto
Fique Hábitos positivos, sejam mentais, físicos ou espirituais, são
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alguns dos fatores que contribuem para uma saúde mais
Esperto
plena. Nesta edição do FE, teremos um encontro saudável, a
partir de bons argumentos e análises, do desenvolvimento
de uma boa redação e da prática de exercícios sadios.
O poder das palavras
Analise os cartuns abaixo, que tematizam questões e aspectos referentes à
área da saúde no Brasil:
Texto 1 Texto 2
Disponível em: <www.arionaurocartuns.com.br>;
<www.politicadinamica.com>.
Acesso em: 04 set. 2023.
a) Nos dois quadrinhos, há expressões que afirmam e negam, simultanea-
mente, uma dada circunstância: “[...] foi um sucesso” (texto 1) e “[...]
passa bem” (texto 2). Isso porque as situações retratadas nos cartuns me-
taforizam aspectos contraditórios da realidade. Considerando o contexto
atual da saúde em nosso país, responda: (1) qual o sentido pretendido
e qual o significado da expressão “[...] foi um sucesso” (texto 1)? O que
a ironia, proposta na situação, revela sobre o atendimento médico bra-
sileiro? E mais: trata-se de uma crítica ao SUS? Por quê? (2) Acerca da
conjunção adversativa “mas” (texto 2), como esse operador modela e
altera o conteúdo implícito da frase: “Quebrou, mas passa bem”? O que
esse conteúdo mais sutil dá a entender sobre a realidade vivida no país?
(3) O texto 1 opera com o nonsense, e o texto 2 explora a prosopopeia.
Explique como esses procedimentos ocorrem.
b) Comente como a sátira se relaciona com a antítese nos dois quadrinhos
para produzir humor e sentido crítico.
Pêndulo da argumentação
O número de beneficiários de planos de saúde do Brasil, segundo a Agên-
cia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), corresponde a 50,7 milhões de
pessoas. É uma cifra expressiva, mas ainda modesta para um país com po-
pulação superior a 200 milhões de habitantes. Uma solução para o sistema
de saúde acolher a população majoritária, que é a que não possui condições
financeiras, está no potencial uso da tecnologia. Assim, considere os argu-
mentos a seguir e construa uma minidissertação com o tema proposto.
Questionamento: Sediado nos Emirados Árabes Unidos, o Thumbay
Group planeja lançar em breve o Metaverso Médico, um hospital virtual
e completo cujas interações, consultas e visitas entre pacientes e profis-
sionais são feitas por meio de avatares. Por meio da aplicação tecnoló-
gica na área da saúde, surge a pergunta: a Medicina estará próxima de
resolver as lacunas de países deficitários em atendimento médico, como
é o caso do Brasil?
[Sim] A inteligência artificial consegue ler imagens precisamente e analisá-
-las com exatidão, transformando-se, assim, em uma ferramenta na
prevenção de quadros clínicos delicados e na tomada de decisões.
O monitoramento de sinais vitais, por meio de dispositivos vestíveis,
permitiria uma detecção nítida e simultânea de eventuais problemas.
Tudo isso realizado virtualmente, o que facilita o acesso à saúde para
habitantes de áreas mais remotas e com condições escassas.
As respostas dos exercícios do FE estão disponíveis na internet.
01
11
2019
2023
[Não] O cerne da questão está no fato de a área da saúde (tal como
a da educação) ter uma via dupla: quem oferta e quem recebe
têm de estar em sintonia. Ou seja: de que vale uma medicina
de ponta em regiões sem água encanada e sem fiação elétrica?
Nesse sentido, o SUS atende à demanda nacional de forma mais
realista e notável. Por exemplo, o Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência (SAMU) atende a mais de 130 milhões de pessoas,
cobrindo mais da metade dos municípios brasileiros.
[Talvez] A complexidade do tema e a sua amplitude são marcantes. Países
em que a saúde é precária há décadas devem priorizar soluções
pontuais, factíveis, além de adquirir uma “maturidade tecnológi-
ca” na área médica. Mesmo em regiões com recursos abundantes,
pesquisas apontam que, em média, há 30% de ineficiência digital
no setor da saúde.
Tema proposto:
O QUE É E O QUE NÃO É POSSÍVEL NA COMBINAÇÃO ENTRE A
SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA E A NOVA REALIDADE DIGITAL?
Leia, entenda & comente
Um episódio que gerou enorme alvoroço na internet foi a rapidez com que
o apresentador Fausto Silva, o Faustão, obteve, via SUS, um transplante de
coração. Pelo fato de ele ser famoso e rico, o acusaram de favorecimento e
de “furar” a fila de espera do SUS. Dada a repercussão negativa ao caso, o
Ministério da Saúde divulgou a seguinte nota:
“O Ministério da Saúde informa que, na última semana, entre 19 e 26 de
agosto, foram realizados 11 transplantes de coração no país, sendo sete no
estado de São Paulo [...].
No primeiro semestre de 2023 foram realizados 206 transplantes de coração
no Brasil, o que representa aumento de 16% em relação ao mesmo período
do ano passado.
A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quan-
to para os da rede privada. A lista de espera por um órgão funciona baseada
em critérios técnicos, em que tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e
altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada
órgão determinam a ordem de pacientes a serem transplantados. Quando os
critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja,
a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Pacientes em es-
tado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica.
O Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos no mun-
do [...].”
Disponível em: <http://gauchazh.clicrbs.com.br>.
Acesso em: 04 set. 2023.
a) Esse episódio ilustra como um ruído interfere no processo de comu-
nicação, ou seja, há uma quebra de expectativa no entendimento do
receptor da informação a respeito da realidade. Em outras palavras: se
estamos no Brasil, país da “carteirada” e do nepotismo, alguém famo-
so e rico, como é o caso do Faustão, vai se beneficiar dessa influência,
certo? Não necessariamente. Dito isso, responda: (1) como a exposi-
ção de dados numéricos possui um papel central para o convencimen-
to da mensagem? Como esses dados modelam o repertório de que se
vale o redator? (2) De que maneira a prioridade dada ao Faustão e o
fato de o Brasil possuir “o maior sistema público de transplantes de
órgãos do mundo” se interligam?
b) Exponha a linha de raciocínio adotada pelo Ministério da Saúde para ar-
gumentar e corroborar a tese da imparcialidade. Em seguida, teça um
comentário crítico sobre a tese: ao longo da nota, ela foi bem defendida
e/ou trabalhada? Por quê? O que lhe falta, caso ela seja falha?
 Inspire, transpire & escreva Desafios para
Vários são os agentes que sustentam a constante crise enfrentada pela área da saúde: o governo brasileiro, que não investe suficientemente
no setor; os agentes privados da chamada saúde suplementar – seguros e planos pagos, que lidam com dificuldades devido aos custos
solucionar a crise
elevados de um convênio médico, etc. Além do mais, há fatores culturais que brecam a melhoria efetiva na prevenção de doenças. O do sistema de
cenário, como um todo, é preocupante; no entanto, ele parece melhorar graças à transformação digital. A questão a ser destrinchada
é: a tecnologia atenderá a todos? Ela contribuirá, de fato, para incluir ou servirá como mais um elemento de exclusão?”. Acompanhe saúde no Brasil.
a coletânea de textos a seguir e escreva uma redação dissertativa-argumentativa no padrão da prova do Enem sobre o tema:

Texto I Texto III

Assinada pelo então presidente Getúlio Vargas (1882-1954), em 25 de ju-
lho de 1953, a lei número 1.920 criou o Ministério da Saúde no Brasil. Nas
últimas sete décadas, a pasta enfrentou desafios de um país subdesenvolvi-
do, de dimensões continentais e exposto a doenças tropicais. Mesmo assim,
atestam os especialistas, é preciso reconhecer os avanços decorrentes das
políticas públicas sanitárias. “Certamente, a instituição do Programa Nacio-
nal de Imunizações [em 1973] figura entre as iniciativas mais importantes [do
ministério]”, avalia o médico sanitarista Claudio Maierovitch, pesquisador na
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) [...]. Além da vacinação, o médico elenca
como pontos positivos da pasta diversas políticas, sobretudo implementadas
após a Constituição de 1988: programa de saúde da mulher, transplantes,
atendimento a pacientes com câncer, assistência farmacêutica, vigilância em
saúde e sanitária – a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi
Fonte: SIAFI. Valores reais corrigidos pelo IPCA de dez./2022. Nota: Foram
criada em 1999 – programa de enfrentamento ao HIV, combate ao tabagis-
desconsiderados todos os planos orçamentários que tenham
mo e efetivação do atendimento de urgência – O Serviço de Atendimento
alguma associação de gastos com Covid-19.
Móvel de Urgência (SAMU) foi instituído pelo governo federal em 2004.
“Também vale destacar a política de saúde mental, com o fechamento de Apesar do cenário de estagnação orçamentária nos últimos 10 anos, a deso-
manicômios e a instituição da rede de atenção psicossocial, embora se possa neração fiscal na saúde cresceu 88%. Nesse caso, a desoneração representa
observar certa instabilidade nesse campo ao longo do tempo”, diz o médico. uma redução da carga tributária e, consequentemente, uma renúncia de ar-
Na avaliação dele, contudo, o ponto negativo foi o combate à pandemia de recadação feita pelo Estado, através de subsídios para determinados entes
Covid-19. “Impossível não mencionar a maior tragédia sanitária já ocorrida privados que atuam no setor da saúde. Nesse cenário, os subsídios passaram
no país, com mais de 700 mil mortes conhecidas em cerca de três anos” [...]. de R$ 37,6 bi, em 2013, para R$ 70,7 bi, em 2023. Desse total, R$ 24,5 bi
serão destinados a despesas médicas privadas, beneficiando somente aqueles
Disponível em: <www.dw.com>.
Acesso em: 04 set. 2023.
que não dependem exclusivamente do SUS para acessar serviços de saúde.
Disponível em: <http://ieps.org.br>.
Texto II
2023 será o ano da saúde digital no Brasil Texto IV
A recém-criada Secretaria de Saúde Digital no Ministério da Saúde (MS) abre
as portas para um novo olhar para a transformação digital na saúde [...].
A Prof.a. Dr.a Ana Estela Haddad, professora titular da faculdade de Odon-
tologia da USP, criou e dirigiu o Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes,
instituído em 2007. Com um respeitável currículo de 15 anos de atuação na
área, boa parte deles trabalhando dentro do próprio MS, a nova secretária
de Saúde Digital tem conhecimento e experiência de sobra para alavancar a
telemedicina e a telessaúde ao status de prioridade dentro do Ministério. O
novo órgão conta com três departamentos: Saúde Digital e Inovação, Infor-
mação para o Sistema Único de Saúde (Datasus) e Avaliação e Disseminação
de Informações Estratégicas. Uma estrutura que acerta ao enxergar a saúde
digital essencialmente como inovação, alicerçada em mecanismos de infor-
mação, disseminação e avaliação contínuas. Além da criação da secretaria,
temos, enfim, pela primeira vez, uma Lei Federal Brasileira de Telessaúde,
que regulamenta de maneira definitiva o atendimento à distância, moderni-
zando a lei que instituiu o SUS em 1990. A nova lei revoga o texto aprovado
em 2020, que permitia a aplicação apenas temporária da telemedicina du-
rante a pandemia de Covid-19. A lei federal, sancionada ao final de 2022,
dá ampla autonomia ao profissional de saúde para decidir pelo uso ou não
das tecnologias da informação e da comunicação para acompanhamento
de pacientes e consultas à distância [...]. Todo esse arcabouço regulatório
fornecerá a estrutura básica para a prática remota, preservando a excelência
no atendimento, a adequação aos preceitos éticos, a segurança e a privaci-
dade das informações. A tecnologia torna-se, assim, aliada de profissionais
de saúde e de pacientes [...].
Disponível em: <www.cnnbrasil.com.br>.
Acesso em: 04 set. 2023. Disponível em: <www.bioredbrasil.com.br>.

Navegando no repertório
A dica é: Temas que abrangem áreas como a da saúde, por exemplo, requerem um foco específico e muito bem desenvolvido, sob o risco de caí-
rem em uma inconsistência argumentativa. Na coletânea de textos apresentada acima, duas linhas centrais foram expostas: a da revolução digital e
a dos aspectos orçamentários/de políticas públicas. Elas guiam o tema, ao qual podem e devem ser adicionados outros pontos que lhe interessem.
Respostas do Fique Esperto 11 – 2023

O poder das palavras

a) (1) Em “[...] foi um sucesso”, pretendeu-se noticiar o êxito da cirurgia, ou seja, o paciente foi operado e encontra-se
vivo. Já o significado da expressão é que a saúde no Brasil vai de mal a pior: chamar um estofador, profissional respon-
sável por reparar e trocar partes danificadas de estofamentos de móveis, para fechar um paciente com um grampeador,
em vez de um cirurgião capacitado utilizar uma linha cirúrgica apropriada para costurar as suturas, beira o inverossímil e
metaforiza o que é visto em hospitais brasileiros todos os dias. Isso posto: não há nenhuma crítica ao SUS (ao contrário
do texto 2, que cita o SAMU). A ideia de que essa cena transcorra na rede pública decorre do fato de que as carências e
lacunas são mais comuns nela do que na rede privada. Assim, o título “Caos na saúde” tem valor genérico. (2) A con-
junção “mas”, além do sentido adversativo, traz em si uma inferência de que a realidade na qual vivemos é paradoxal,
pois conjuga opostos. Em outras palavras: ter uma ambulância “em estado terminal” é considerado “o normal” para o
país, e é por isso que se afirma que ela “passa bem”. (3) No texto 1, o nonsense ocorre porque é impossível acontecer a
situação descrita. Já no texto 2, a prosopopeia é perceptível pela humanização ou personificação da ambulância: ela está
com esparadrapos, é levada em uma maca, parece tremer, etc.
b) Nos quadrinhos, o caráter antitético evidencia-se pelo contraste entre o que se diz e o que a imagem mostra: no texto 1,
há um paciente com suturas fechadas por grampos, numa cirurgia considerada “um sucesso”; e, no texto 2, há uma ambu-
lância destroçada: com esparadrapos, vidros quebrados, motor fundido, lataria amassada e riscada, com vazamento de óleo,
etc., e, numa ironia enorme, ela “passa bem”. Essas antíteses geram a sátira, cuja intenção é expor a precariedade do serviço
médico no Brasil (sobretudo, no setor público, conforme indica a ambulância com o logo do SAMU), em que há falta de
infraestrutura, de condições gerais, de insumos, culminando no fato de os profissionais da área da saúde terem de “se virar
com o que têm”.

Pêndulo da argumentação
Dialogue com seus amigos e pessoas próximas (inclusive via redes sociais) sobre o assunto em análise. Acrescente
sua bagagem de leituras e de estudos para dar solidez à sua perspectiva diante do tema, argumentando e contra-
-argumentando.
Uma dica: não tenha vergonha de proferir, em voz alta, sentenças que lhe pareçam poderosas, para, em seguida, montar
com elas um projeto de minidissertação. Daí, é fácil: basta pô-las no papel. Mãos à obra!

Leia, entenda & comente

a) (1) Os números possuem um efeito retórico de natural convencimento, pois costumamos associá-los a uma visão ob-
jetiva da realidade. Eles criam um repertório “robusto”, de aspecto técnico-científico, levando-nos a crer que traduzem
corretamente um dado estado de coisas. Assim, com gráficos, números, tabelas e estatísticas, torna-se mais fácil con-
vencer o receptor, que passa a validar a mensagem (inclusive, esse é um dos principais meios de se difundir e criar fake
news). Outro ponto relevante: ao se falar em “206 transplantes”, dá-se a entender que o do Faustão “foi só mais um”,
ou seja, o sistema é abrangente e é para todos, sem distinção. (2) O argumento da dimensão ou amplitude do sistema
(“maior do mundo”) fortalece a ideia de credibilidade e de funcionamento correto, gerando, indiretamente, a impressão
de que, por ser o maior, é confiável e justo. Esse é um argumento de valor retórico, e que nem sempre se segue (falácia
do non sequitur), ou seja, nem sempre o maior é realmente o melhor.
b) A imagem de “imparcialidade” é construída e sustentada por uma gama de informações: 1) muitos implantes feitos e em
número crescente (“aumento de 16%”); 2) lista única para SUS e rede privada; 3) a espera para se receber o órgão segue
vários critérios: tipo de sangue, genes, peso, altura, estado específico do paciente, ordem de chegada, etc. Todas essas infor-
mações servem para argumentar em prol de uma ideia central: Faustão, por um golpe de sorte ou por uma eventualidade de
fatores positivos, acabou sendo contemplado com o transplante de coração. A justificativa do fato de ele ter sido operado
antes de outros pacientes está no quadro clínico bastante grave do apresentador, que impôs ação urgente.
A respeito do comentário crítico, há várias redações possíveis. No geral, a nota é coerente e coesa e, dessa forma, é con-
vincente. Entretanto, cabe a você avaliá-la, e, se for necessário, você precisará enumerar pontos válidos para uma crítica
contrária a ela. Esses pontos devem mostrar que a nota não provou, de forma categórica, que Faustão não teve uma
“ajudinha” por ser uma pessoa influente e famosa.