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Pesquisa e Ação V5 N3: Dezembro de 2019 ISSN 2447-0627

ANEMIA FERROPRIVA EM CRIANÇAS


ANEMIA FERROPRIVA IN CHILDREN
Sara Ferreira Lima 1; Eliane Bezerra da Silva 1; Alesandro Lima Rodrigues 2

RESUMO
Introdução: A anemia é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. E é definido pelos valores de hemoglobina no
sangue abaixo do normal para idade e sexo. Na infância, as deficiências de ferro estão entre as deficiências mais prevalentes
nesta fase, o que pode causar sérios danos ao desenvolvimento humano. Objetivo: Relatar os principais fatores, consequências e
prevalência da anemia ferropriva em crianças, por meio de uma revisão de literatura. Métodos: Trata-se de uma revisão de
literatura, básica-descritiva, sobre o tema anemia ferropriva em crianças. Para a seleção dos estudos, foram realizadas pesquisas
online nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Literatura
latino-americana e do caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Os critérios de seleção foram: Artigo cientifico em língua
portuguesa, de acesso gratuito, com período de publicação entre 2011 e 2018, utilizando as palavras-chave “anemia ferropriva
em criança” e “anemia ferropriva”. Sendo a amostra final, composta por 16 publicações. Resultados: A ocorrência de anemia
ferropriva em crianças está relacionada a baixos níveis socioeconômicos, ausência de aleitamento materno exclusivo e
introdução precoce de alimentos (alimentação inadequada). Quanto às consequências, provoca mudanças nas alterações
cognitivas, comportamentais, imunológicas (baixa imunidade - maior chance de infecções), baixo rendimento escolar, redução
do crescimento e desenvolvimento psicomotor, fadiga intensa e desatenção. Conclusão: Assim, conclui-se que o
desenvolvimento da anemia ferropriva em crianças, provoca várias consequências no organismo, e que os fatores estão ligados à
alimentação e ao baixo poder aquisitivo.

Palavras-chave: Deficiência de ferro. Anemia em crianças. Anemia ferropriva.

ABSTRACT
Introduction: Anemia is one of the major public health problems worldwide. And is defined by below-normal blood
hemoglobin levels for age and sex. In childhood, iron deficiencies are among the most prevalent deficiencies at this stage, which
can cause serious damage to human development. Objective: To report the main factors, consequences and prevalence of iron
deficiency anemia in children, through a literature review. Methods: This is a basic, descriptive literature review on the subject
of iron deficiency anemia in children. For the selection of the studies, we conducted online surveys in the databases of the
Virtual Health Library (VHL), Scientific Electronic Library Online (SciELO) and Latin American Literature and the Caribbean
in Health Sciences (LILACS). The selection criteria were: Scientific article in Portuguese language, free of charge, with
publication period between 2011 and 2018, using the keywords "iron deficiency anemia in children" and "iron deficiency
anemia". Being the final sample, composed of 16 publications. Results: The occurrence of iron deficiency anemia in children is
related to low socioeconomic levels, absence of exclusive breastfeeding and early introduction of food (inadequate feeding). As
for the consequences, it causes changes in cognitive, behavioral, immunological changes (low immunity - greater chance of
infections), low school performance, reduced growth and psychomotor development, intense fatigue and inattention.
Conclusion: Thus, it is concluded that the development of iron deficiency anemia in children have several consequences in the
body, and that the factors are linked with food and low purchasing power.
Keywords: Iron deficiency. Anemia in children. Iron deficiency anemia.

INTRODUÇÃO
A anemia é definida por valores de hemoglobina no sangue abaixo do normal para idade e gênero. É
um dos principais problemas de saúde pública mundial, podendo afetar mais de um quarto da população do
planeta, ou seja, mais de dois bilhões são afetados no mundo (PICON; GADELHA; ALEXANDRE, 2014).

1 Graduadas em Biomedicina pelo Centro Universitário Unimeta (UNIMETA), Brasil, 2018.


2
Enfermeiro Monitor do Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes, especialista em Enfermagem em Clínica Médica-
Cirúrgica pela Universidade Braz Cubas, (BrazCubas), Brasil.
E-mail: alesandrorodrigues.ac1@gmail.com
2

Nos seres humanos o ferro é menor que o peso de uma moeda de 5 centavos, 3,5 g em
homens e 2,5 em mulheres. Sendo repartido em: ferro funcional presente na hemoglobina,
mioglobulina e enzimas, e ferro de estoque em forma de ferritina, hemossiderina e transferrina
(LIRA; FERREIRA, 2007).
Quando o estoque de ferro do corpo acaba, o organismo sofre consequências, dentre
elas a insuficiência do transporte de oxigênio, acarretando prejuízo no metabolismo oxidativo,
no metabolismo nuclear, e na transcrição gênica, resultando em anemia (BRIGIDE et al.,
2011).
Fisiologicamente, a anemia se inicia com uma diminuição das reservas de ferro,
passando pela queda do ferro circulante e terminando na redução do ferro funcional,
ocasionando desse modo anemia clínica (ALMEIDA et al., 2012).
O ferro está envolvido em diversas reações metabólicas e de oxidação e é essencial
para a mitose. Sua deficiência/falta se instala na infância e permanece a longo prazo, com
graves consequências para a saúde do indivíduo (LISBOA et al., 2015).
No primeiro ano de vida, essa deficiência tem consequências preocupantes, por ter o
seu papel na neurogênese e na diferenciação de certas células e regiões do cérebro (GARCIA;
GRANADO; CARDOSO, 2011).
Na infância as deficiências de ferro e vitamina A estão entre os tipos de carência de
maior prevalência para a saúde pública. Crianças com menos de 1 ano são as mais suscetíveis,
o que pode acarretar prejuízos em seu desenvolvimento físico e intelectual (SILVA et al.,
2015).
Assim, a explanação/abordagem desse tema auxilia no entendimento sobre essa
doença que afeta principalmente as crianças, esclarecendo sobre as possíveis causas-
consequências e, consequentemente, alertando para as formas de prevenção.
Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo relatar os principais fatores,
consequências e prevalência da anemia ferropriva em crianças, por meio de uma revisão de
literatura.

MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de literatura, básica-descritiva, sobre o tema anemia ferropriva
em crianças. Para a seleção dos estudos, foram realizadas pesquisas online nas bases de dados
da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e
Literatura latino-americana e do caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
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Os critérios de seleção foram: Artigo cientifico em língua portuguesa, de acesso


gratuito, com período de publicação entre 2011 e 2018, utilizando as palavras-chave “anemia
ferropriva em criança” e “anemia ferropriva”.
Com os critérios de inclusão e as palavras-chave aplicadas, obteve-se 54 artigos, que
após a leitura seletiva, foram dispensados 41 estudos devido estarem repetidos e não
abordarem as causas-consequências; por fim, resultou em 13 artigos científicos selecionados.
Além disso, outros estudos (01 monografia, 01 livro e 01 manual clínico terapêutico), também
foram incluídos para embasar no desenvolvimento do trabalho; sendo assim, a amostra final
foi composta por 16 publicações (Figura 1).

Figura 1 - Passos desenvolvidos para seleção dos artigos e amostra final.

Fonte: Própria, 2018.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia é o estado onde a


concentração de hemoglobina está anormalmente baixa, causada pela deficiência de um ou
mais nutrientes essenciais para o organismo, sendo a anemia ferropriva mais prevalente
(CASTRO et al., 2011).
O que a torna um importante problema de saúde pública, tanto nos países em
desenvolvimento como nos desenvolvidos, que pode afetar principalmente as crianças
menores de 5 anos de idade e as mulheres em idade reprodutiva (CINTRA, 2018). A anemia
durante a gestação, representa um alto risco de mortalidade materna e perinatal (LÍCIO;
FÁVARO; CHAVES, 2016).
Estima-se que a anemia ferropriva acometa 24,8% da população mundial, tendo uma
prevalência de ocorrência de 47,4% em crianças na faixa etária pré-escolar (FERRAZ, 2011).
Ainda segundo o autor, em seu estudo em São Paulo, na década de 1970, a anemia era
prevalente em crianças menores de cinco anos, com uma proporção de 23%, e na década de
1980 chegava a 35%.
Segundo Silva et al. (2015), o aumento do percentual de anemia descrito na década de
1980 ocorreu devido à deficiência de ferro na dieta das crianças, o que pode ser explicado
pelo baixo nível socioeconômico da maioria das famílias brasileiras naquele momento do
país. Atualmente, acredita-se que as crianças menos favorecidas (econômica, social e
nutricionalmente) tendem a apresentar vários déficits cognitivos em seu desenvolvimento. O
que vem sendo comprovado nos últimos anos.
Estudos realizados no Brasil, constataram que a anemia ferropriva pode ser
considerada a mais importante carência nutricional do país, com prevalência sempre superior
em população de condições precárias (LÍCIO; FÁVARO; CHAVES, 2016). Onde os
principais indicadores identificados em pacientes com anemia ferropriva são: baixo nível
socioeconômico (falta de alimentação) e alimentação inadequada (deficiência de nutrientes)
(PESSOA et al., 2011).
No caso de alimentação inadequada, o desenvolvimento de anemia por falta de ferro
em crianças, pode estar ligado a um maior risco de ocorrência de alergias alimentares,
desnutrição e menor absorção de nutrientes (SILVA et al., 2015). Por isso, a OMS recomenda
o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida da criança, sem nenhuma
complementação de outros alimentos. Ao fim desse período, o leite materno não será mais
suficiente, sendo necessário a complementação com outros alimentos e líquidos, todavia, o
aleitamento materno deve continuar até os 2 anos de idade ou mais (GARCIA; GRANADO;
CARDOSO, 2011).
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Além disso, a ausência do aleitamento materno exclusivo e a introdução


incorreta/precoce de alimentos, contribui para o desenvolvimento da anemia (GOTIJO et al.,
2017). De acordo com Ferraz (2011), a deficiência de ferro no organismo da criança, pode
trazer alterações no seu desempenho cognitivo, comportamental, alterações imunológicas
(baixa imunidade) e maior chance de infecções.
Nas crianças-adolescentes, a anemia interfere no aproveitamento escolar-
aprendizagem, no crescimento e desenvolvimento psicomotor, na imunidade celular, bem
como na diminuição do apetite e aumento da sensação de fadiga e desatenção (LÍCIO;
FÁVARO; CHAVES, 2016).
Um estudo feito em Belém do Pará -PA, com 365 crianças, entre 6 a 24 meses de
idade com atendimento em rede pública, revelaram uma prevalência de anemia de 55,1%
(CINTRA, 2018). Em Rio Branco-Ac, pesquisa realizada por Souza et al. (2012) verificou
que a prevalência geral da anemia foi de 51,8% em crianças de 6 até os 59 meses (amostra de
622 crianças), onde a faixa etária mais prevalente foi em crianças entre 6 a 11 meses.
Já na pesquisa de Castro et al. (2011), na área urbana dos municípios de Acrelândia e
Assis Brasil, ainda no Estado do Acre, constatou-se que na amostra de 617 crianças de 6 a 60
meses, que 20,9% apresentavam o diagnóstico de anemia ferropriva.
Em Alagoas, um estudo realizado por Viera et al. (2010), observou-se que a
prevalência de anemia foi de 45% numa amostra de 666 crianças-participantes. A
porcentagem de 34,4% das crianças tinha uma leve anemia, 9,4% uma anemia moderada e
1,2% uma anemia grave.
A Tabela 1, apresenta de forma sumarizada os dados relativos dos estudos
selecionados, no quesito (objetivo – prevalência) da anemia ferropriva em crianças.

Tabela 1 – Descrição e distribuição das pesquisas de acordo o quesito (objetivo – prevalência)


utilizadas no presente estudo.
Autores Amostra Crianças anêmicas
Cintra (2018) 365 55,1%

Souza et al. (2015) 622 51,8%

Castro et al. (2011) 617 20,9%


Vieira et al. (2016) 666 45%

Fonte: Dados de pesquisa, 2018.


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Diante desses dados, pode-se verificar que a ocorrência de deficiência de ferro em


crianças e adolescentes das regiões norte e nordeste do Brasil está relacionada a áreas menos
desenvolvidas, além de outros fatores, como baixa ingestão de alimentos ricos em ferro e
curto período de aleitamento materno (SILVA et al., 2015).
Portanto, a fim de mudar este cenário e evitar a ocorrência e os efeitos a curto e a
longo prazo da anemia por deficiência de ferro, adotou-se no Brasil como estratégia de
prevenção a suplementação de sulfato ferroso na estratégia pré-natal e no acompanhamento da
criança de 0 a 10 anos, sendo um grande avanço na prevenção da anemia ferropriva em
crianças e no período gestacional (CEMBRANEL; DALLAZEN; CHICA, 2013).

CONCLUSÃO

Dessa forma, conclui-se que o desenvolvimento da anemia ferropriva em crianças


provoca várias consequências no organismo. E que os principais fatores que contribuem para
a ocorrência estão ligados à suspensão do aleitamento materno nos primeiros 6 meses, com as
questões socioeconômicas (baixa renda familiar) e o consumo alimentar inadequado
(alimentação deficiente).
Além do mais, pontua-se que a principal limitação desta revisão foram os poucos
artigos nacionais identificados que abordam essa temática.

REFERÊNCIAS

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Acrelândia, Acre, Amazônia Ocidental Brasileira. Cad. Saúde Pública, v. 27, p. 305-316,
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