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ARTIGO REVISÃO

Deficiência de Ferro: resistência ou


suscetibilidade a infecções?
Iron deficiency: resistance or susceptibility against infections?
Guilherme Malafaia Pinto1

RESUMO

A deficiência do elemento Ferro é um dos maiores e mais graves problemas de nutrição/ 1


Biólogo, Laboratório de Imunoparasitologia, Instituto de
Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de
saúde pública em todo o mundo, principalmente em países em desenvolvimento, como Ouro Preto(UFPO), Ouro Preto-MG
o Brasil, atingindo especialmente crianças em idade pré-escolar, adolescentes e mulhe-
res grávidas. No entanto, a relação entre Ferro e infecções ainda não está completamen-
te compreendida e muitos autores apresentam, inclusive, resultados controversos. Este
estudo tem como objetivo apresentar, a partir de uma revisão da literatura, os aspectos
mais importantes e atuais sobre o tema. Tanto a carência de Ferro como as infecções são
problemas freqüentes nos dias atuais e, na medida em que novos estudos são desenvol-
vidos sobre o tema, torna-se imprescindível que toda a sociedade os conheça.
Palavras-chave: Deficiência de Ferro; Ferro/deficiência; Infecção, Anemia Ferropriva;
Compostos Ferrosos.

ABSTRACT

Iron element deficiency is one of the major severe nutrition / public health problems in
the whole world, mainly in the developing countries, such as Brazil, affecting specially
children in pre-school age, adolescents and pregnant women. However, the relation be-
tween Iron and infections has not been completely understood yet and many authors even
present controversial results. This study purpose is to present, starting from a literature
review, the most important and current aspects on the theme. Iron privation as much as
the infections are frequent problems nowadays, and as far as new studies are developed
on the theme, it is indispensable that the whole society learn about them.
Key words: Iron/deficiency; Iron Deficiency; Infection; Anemia, Iron-Deficiency; Ferrous
Compounds

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a deficiência de Ferro é o


distúrbio nutricional mais prevalente no mundo.1 Considerada um dos proble-
mas de saúde mais sérios em diversos países, essa a deficiência afeta principal-
mente crianças com idade inferior a quatro anos, lactantes, gestantes e mulheres
em idade fértil.2,3 Estima-se que em países em desenvolvimento, a prevalência
de anemia causada por deficiência de Ferro, em crianças com idade inferior a Endereço para correspondência:
quatro anos, seja de 46 a 66%.3 Rua Alfa, 238/06
Bairro: Bauxita
Entre as causas da deficiência de Ferro destacam-se a ingestão inadequada deste Ouro Preto – MG
CEP: 35400-000
elemento, absorção deficiente, falhas no metabolismo, aumento das necessidades E-mail: Guilherme@nuped.ufop.br

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do mineral como ocorre na infância, adolescência Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo
e gravidez ou perda sanguínea provocada por infec- trazer ao leitor uma criteriosa revisão da literatura
ções parasitárias.4 na qual são apresentados estudos recentes que tra-
Um estudo recente desenvolvido por Lozoff et al.5 tam da relação existente entre a resistência e sus-
indicou que a deficiência de Ferro pode causar sérias cetibilidade a infecções, proporcionada pela defi-
conseqüências no desenvolvimento infantil, resultan- ciência de Ferro. Tanto a carência de Ferro como
do em aumento nas taxas de mortalidade e morbi- as infecções são problemas freqüentes no nosso
dade, prejuízos no desenvolvimento motor e neuro- meio, sendo necessário que a sociedade conheça
fisiológico, além de afetar todo o desenvolvimento um pouco mais sobre este assunto tão paradoxal.
cognitivo e emocional da criança. Mesmo na forma
moderada, representa considerável agravo à saúde,
estando associada a prejuízos tanto na resposta imu- DEFICIÊNCIA DE FERRO
ne inata quanto na resposta imune adaptativa.6
Embora mais prevalente em populações de bai- O Ferro é um dos micronutrientes mais estuda-
xo nível socioeconômico, a deficiência de Ferro é dos e melhor descritos na literatura, o qual desem-
uma das poucas carências nutricionais que está penha importantes funções no metabolismo hu-
presente em todas as categorias sociais. Guzmán- mano, tais como transporte e armazenamento de
Maldonado et at.7 relataram que a porcentagem de oxigênio, reações de liberação de energia na cadeia
indivíduos anêmicos por deficiência de Ferro em de transporte de elétrons, conversão de ribose a de-
países em desenvolvimentos é de 26%, mais alta soxirribose, co-fator de algumas reações enzimáti-
do que a observada na Europa (10,9%) e nos Es- cas e inúmeras outras reações metabólicas essen-
tados Unidos (8%). No Brasil, tem sido reconheci- ciais.9 A maior quantidade de Ferro do organismo
da como importante causa de anemia há mais de encontra-se na hemoglobina; o restante distribui-se
duas décadas e, atualmente, o Ministério da Saúde8 na composição de outras proteínas, enzimas e na
estima que a atinja cerca de 50% das crianças com forma de depósito (ferritina e hemossiderina).10
idade inferior a dois anos e 35% das gestantes, sen- A deficiência de Ferro no organismo acontece
do considerada o problema nutricional de maior em três estágios de desenvolvimento seqüenciais,
magnitude no país. podendo haver sobreposição dos mesmos. O pri-
Vários são os estudos que revelam prejuízos à meiro corresponde ao esgotamento das reservas,
saúde em decorrência das deficiências nutricio- definido pela baixa concentração de ferritina séri-
nais, no entanto, os mecanismos pelos quais essas ca (< 12 μg/L) refletindo perda nos estoques de Fer-
deficiências proporcionam resistência ou susce- ro do baço, fígado e da medula óssea. O segundo
tibilidade a infecções ainda não estão completa- estágio é conhecido como eritropoese da deficiên-
mente esclarecidos. Em relação à deficiência de cia de Ferro, em que os eritrócitos em desenvolvi-
Ferro, existem muitas controvérsias sobre a admi- mento têm mais necessidade de Ferro. Este estágio
nistração deste elemento para os grupos de risco, é caracterizado pelo aumento na capacidade de
como gestantes e crianças. Muitos estudos relacio- ligação de Ferro e diminuição da concentração de
nando Ferro e infecções têm apresentado resulta- Ferro sérico. E o terceiro e mais grave estágio, e o
dos muitas vezes contraditórios; alguns revelando mais grave, conhecido como anemia Ferropriva, é
que a carência de Ferro aumenta a suscetibilidade desenvolvido quando a quantidade de Ferro é ina-
aos processos infecciosos, outros que o excesso dequada para a síntese da hemoglobina, resultan-
de Ferro é muito mais prejudicial ao organismo hu- do em concentrações de hemoglobina abaixo dos
mano e que a carência desse elemento teria até pa- valores de referência estabelecidos.11
pel protetor contra determinadas infecções. Assim De acordo com Klevay12, a conseqüência mais
sendo, a suplementação de Ferro para populações óbvia da deficiência de Ferro é a anemia, com to-
carentes tornou-se objeto de intensos debates, dos os sintomas clínicos e seqüelas extensamente
uma vez que tanto a deficiência de Ferro quanto as descritos na literatura, destacando-se: fraqueza,
doenças infecciosas são comumente encontradas palidez, tontura, irritação, cansaço, falta de ar e
nessas populações e a suplementação poderia re- perda de apetite. Fisiologicamente, a anemia com-
solver um problema e agravar o outro. promete inúmeras funções orgânicas, tais como: o

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transporte de oxigênio aos tecidos, as reações de natural killer (NK). No entanto, a resposta à questão
oxidação e redução, a imunidade humoral e celu- se a carência de Ferro tem efeito sobre a imunocom-
lar, a síntese de ácido desoxirribonucléico (DNA), petência e, assim, sobre a suscetibilidade ou à resis-
a síntese de neurotransmissores e, possivelmente, tência a infecções ainda não está bem esclarecida.
da mielina, entre outras atividades vitais.13 Dados da literatura relativos à deficiência de
A OMS1 afirma que a carência de Ferro acome- Ferro e à resistência a infecções têm levado alguns
te diferentes grupos da população. Nos estudos re- investigadores a sugerir em duas diferentes hipó-
vistos por Allen et at.14, a deficiência de Ferro, em teses. Alguns defendem que a carência de Ferro
termos globais, afeta 50% das mulheres grávidas ou predispõe o indivíduo a infecções, enquanto ou-
crianças com idade entre um e dois anos; 25% das tros sugerem proteção contra microorganismos in-
crianças em idade pré-escolar; 40% das crianças fecciosos acarretada pela deficiência de Ferro. De
com idade escolar; 30-55% dos adolescentes; e 35% qualquer forma, é possível encontrar na literatura
das mulheres em idade fértil. Os dados da OMS esti- vários estudos que revelam que muitos problemas
mam que o número de pessoas anêmicas no mundo relacionados com a deficiência de Ferro já foram
aproxima-se de 2 bilhões e que a maioria dos casos reduzidos com a suplementação desse elemento.
de anemia seja causada por deficiência de Ferro.1 No Brasil por exemplo, país onde a deficiência de
Ferro e a anemia Ferropriva são prevalentes – afe-
INFLUÊNCIA DA DEFICIÊNCIA DE FERRO tando mais de 50% das crianças de seis a 24 meses
NA RESISTÊNCIA E SUSCETIBILIDADE A de idade, principalmente em regiões pobres8 –, a
INFECÇÕES suplementação de Ferro tem sido usada com su-
cesso, como mostram alguns estudos.
Dutra-de-Oliveira e Marchini17, após realizarem
Considerada por Dallman11 um “quebra-cabeça um trabalho com adição de Ferro na água potável
com dados conflitantes e resultados paradoxais”, a oferecida nas creches a crianças em idade pré-es-
deficiência de Ferro e sua relação com a resistên- colar, obtiveram resultados muito promissores após
cia ou suscetibilidade a infecções vem sendo estu- oito meses de intervenção. Nesse estudo o grupo
dada desde a década de 1970. No estudo pioneiro suplementado com Ferro apresentou aumento con-
desenvolvido por Weinberg15, em 1978, observou- siderável dos níveis de hemoglobina, diminuindo a
se que em muitas doenças infecciosas ocorre ajus- incidência da anemia entre as crianças estudadas.
te no metabolismo de Ferro caracterizado pela Um outro trabalho, também realizado no Brasil,
hipoferremia, em que há redução dos níveis de sa- comprovou a eficácia da fortificação do leite fluido
turação da transferrina. Neste estudo foi verificado com 3 mg de Ferro aminoácido quelato, no com-
que a hipoferremia pode ser considerada um fator bate à carência de Ferro em crianças menores de
de proteção contra patógenos extracelulares ou in- quatro anos. Nesse estudo, foram acompanhadas
tracelulares, principalmente por reduzir considera- 269 crianças, que receberam, por dia, durante 12
velmente a biodisponibilidade desse elemento no meses, um litro de leite fortificado. Antes do início
organismo, o qual é essencial a esses patógenos. do trabalho, a anemia estava presente em 62,3% das
Vários estudos têm associado a deficiência de crianças e, no final de 12 meses, em apenas 26,5%,
Ferro a defeitos tanto na resposta imune adaptati- mostrando, assim, a viabilidade e a eficácia da forti-
va quanto na resposta imune inata do organismo, ficação do leite fluido como medida de intervenção
acarretando alterações significativas nas funções no combate à carência de Ferro em pré-escolares.18
protetoras do organismo. No estudo de revisão No Chile, realizou-se um estudo usando-se também
desenvolvido por Hughes e Kelly16, os defeitos na leite fortificado com 15 mg de sulfato Ferroso por
resposta imune adaptativa incluem a redução da litro, ministrado a 266 crianças com mais de três
proliferação, diferenciação e do número células T, meses de idade. Essas crianças foram comparadas
bem como a redução da produção de citocinas por com outras 278 que receberam leite não fortifica-
essas células. Já os defeitos na resposta imune inata do e, após 15 meses de intervenção, 25,7% das que
incluem a redução da capacidade fagocitária dos receberam leite não fortificado tinham anemia, en-
neutrófilos, provavelmente devido à baixa atividade quanto apenas 2,5% continuaram anêmicas após
mieloperoxidase e falhas na atividade das células receberem leite fortificado.19

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Um estudo recente, desenvolvido no estado do suplementação de Ferro e ácido fólico apresenta-


Pernambuco, que analisou o impacto do tratamento vam maior probabilidade (11 a 15%) de morte ou
semanal com sulfato Ferroso sobre o nível de hemo- necessidade de tratamento hospitalar, associada
globina, morbidade e estado nutricional de lacten- ao risco de complicações relacionadas à malária,
tes anêmicos, acabou intensificando ainda mais a pneumonia, sepse, meningite, sarampo e coque-
polêmica em relação à exacerbação de doenças luche.27 Apenas o subgrupo de crianças com ane-
infecciosas causada pela suplementação de Ferro.20 mia teve algum benefício, resultando em menos
Em relação à morbidade, os autores mostraram que hospitalizações ou mortes; e as crianças com de-
níveis mais baixos de hemoglobina estavam asso- ficiência de Ferro sem anemia não foram afetadas
ciados à duração mais longa da diarréia. Devido ao negativamente. Contudo, no estudo desenvolvido
desenvolvimento da anemia em crianças não sub- por Tielch et al.28, em Nepal, que inclui também
metidas à suplementação de Ferro no grupo estuda- um expressivo número amostral (25.490 crianças
do, foi sugerida suplementação preventiva de Ferro. de um a três anos de idade), os resultados se mos-
A pesquisa sugere que pacientes com deficiência traram contraditórios em relação aos achados de
de Ferro apresentam prevalência mais alta de infec- Sazawal et al.27. Nenhuma diferença significativa
ções devido aos efeitos adversos da deficiência de foi encontrada nas taxas de incidência de diarréia,
Ferro no sistema imunológico. Além disso, eles acre- disenteria ou infecções respiratórias entre as crian-
dita-se que a redução da morbidade por diarréia nas ças que receberam suplementação e as que não
crianças anêmicas ao final do tratamento poderia foram suplementadas com Ferro.
ser conseqüência da suplementação com Ferro nas No que tange à suscetibilidade ou resistência à
crianças com carência desse micronutriente. malária, Bate et al.29 e Smith et al.30 preconizam que
A polêmica justifica-se pelo fato de que em ou- a suplementação de Ferro é responsável pela alta
tros estudos envolvendo suplementação de Ferro parasitemia encontrada em indivíduos de áreas en-
os resultados se mostram controversos. No traba- dêmicas. Estudos como estes indicam maior susce-
lho desenvolvido por Iannotti et at.21, no qual os tibilidade à malária em indivíduos suplementados
autores realizou-se criteriosa revisão e metanálise com Ferro, no entanto, outros mais recentes têm
de 26 ensaios randomizados controlados, pôde-se apresentados resultados convergentes quanto à re-
constatar um misto de evidências para a incidên- sistência à malária proporcionada pela deficiência
cia, duração ou gravidade de diversas doenças de Ferro. No estudo de revisão realizado por Oppe-
infecciosas em associação com a suplementação nheimer6, por exemplo, é possível observar que a
de Ferro. Enquanto os estudos de Angeles et al.22, suplementação com Ferro aumentou os episódios
Dewey et al.23 e Domellof et al.24 demonstram que a de malária clínica em seis dos sete ensaios anali-
suplementação de Ferro diminui significativamen- sados, em todos os grupos etários. E nas investiga-
te a incidência de febres, infecções respiratórias ções recentes de Nyakeriga et al.31 e Sazawal et al.27,
e diarréia em crianças, outros apresentam efeito os dados comprovam que a incidência de malária
negativo da suplementação de Ferro.25,26 No estudo é significativamente menor em crianças deficientes
de van den Hombergh et al.25, por exemplo, eles de Ferro, o que de certa forma corrobora os estu-
estudaram o efeito da suplementação com sulfato dos revistos por Oppenheimer6 e instiga a busca de
Ferroso em crianças com idade inferior a 2,5 anos conhecimentos que esclareçam esta questão.
e constataram que a incidência de pneumonia foi
significativamente maior no grupo suplementado.
Em Bangladesh, a suplementação de Ferro provo- CONSIDERAÇÕES FINAIS
cou aumento de 49% no número de casos de di-
senteria em crianças com idade inferior a um ano, Diante do exposto, fica evidente a existência de
o que não foi observado em crianças maiores (en- um cenário conflitante, onde se destacam diversos
tre um e quatro anos).26 E em Pemba (Tanzânia), estudos com resultados contraditórios sobre a re-
um ensaio randomizado controlado por placebo lação entre Ferro e infecções. Alguns relatam uma
que incluiu 24.076 crianças com e sem anemia, maior suscetibilidade às infecções na carência do
os trabalhos tiveram que ser interrompidos preco- elemento, enquanto outros a associam à suplemen-
cemente, uma vez que as crianças que recebiam tação. De acordo com Bricks32, parte dessas contro-

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vérsias diversas vezes pode ser explicada por falhas REFERÊNCIAS


no critério de seleção, exclusão e randomização das 1. World Health Organization (WHO). Iron deficiency
populações estudadas e as eventuais falhas no con- anaemia: assessment, prevention, and control. A gui-
trole dos fatores de erro na interpretação dos resulta- de for programme managers. Geneva: World Health
dos, principalmente nos que apresentam correlação Organization; 2001. WHO/NHD/01.3.
entre outras deficiências nutricionais e infecções. 2. Baltussen R, Knai C, Sharan M. Iron fortification and
Também se pode constatar que alguns estu- iron supplementation are cost-effective interventions
to reduce iron deficiency in four subregions of the
dos, aqui apresentados, se incluem no elenco de
world. J Nutr. 2004; 134:2678-84.
questões científicas acordadas na literatura sobre
3. Stoltzfus RJ, Mullany L, Black RE. Iron deficiency
a anemia, que buscam alternativas de tratamento anaemia. Comparative quantification of health risks:
medicamentoso sem, no entanto, prejudicar a saú- global and regional burden of disease attributable to
de do paciente. Dessa forma, fica claro que a reco- selected major risk factors. Geneva: World Health Or-
mendação geral de suplementação de Ferro para ganization; 2005. v. 1, p.163–209.
todas as crianças em uma população com alta pre- 4. Brasil. Ministério da Saúde. Área técnica de Alimenta-
valência de anemia Ferropriva e de doenças infec- ção e Nutrição. [Citado em fev 2002]. Disponível em
http://www.saude.gov.br/sps/areastecnicas/caren-
ciosas deve ser realizada com cautela e com base
cias/ index/html
em diversas pesquisas na região. De acordo com
5. Lozoff B, Beard J, Connor J, Felt B, Georgieff M, Schal-
Idjradinata33, apenas crianças com anemia Ferro-
lert T. Longlasting neural and behavioral effects of
priva comprovada se beneficiam da suplementa- iron deficiency in infancy. Nutr Rev. 2006; 64: S34-43.
ção de Ferro e quando crianças sem deficiência 6. Oppenheimer SJ. Iron and its relation to immunity and
recebem a suplementação, não só estão sujeitas a infectious disease. J Nutr. 2001; 131(2S-2):616S-33S.
complicações mais graves de doenças infecciosas, 7. Guzmán-Maldonado SH, Acosta-Gallegos J, Paredes-
como também a apresentarem baixo crescimento. López O. Protein and mineral content of a novel col-
É legítima a preocupação no que diz respeito à lection of wild and weedy common bean (Phaseolus
administração de Ferro e o aumento de processos vulgaris L.) J Sci Food Agricult. 2000; 80: 1874-81.
infecciosos. No Brasil, em áreas não endêmicas de 8. Brasil. Ministério da Saúde. Anemia é a maior defi-
malária, a prevalência de anemia atinge mais de ciência nutricional do Brasil. [Citado em fev. 2002].
Disponível em: http://portal.saude.gov.br
2/3 da população de lactentes de seis a 24 meses
9. Cook JD, Baynes RD, Skikne BS. Iron deficiency and
e a maioria dos casos de anemia é devida à defici-
the measurement of iron status. Nutr Res Rev. 1992;
ência de Ferro.1 O Ministério da Saúde recomenda, 5:189-202.
neste caso, a suplementação semanal para o refe- 10. Yip R, Dallman PR. Hierro. In: Organización Panamerica-
rido grupo de risco. na de la Salud. International Life Sciences Institute. Co-
Nesse sentido, parece que a melhor condição é a nocimientos actuales sobre nutrición. 7th ed. Washing-
de uma homeostasia que proporcione ao organismo ton (DC); 1997. OPAS – Publicación Científica, 565.
um balanço normal de Ferro, evitando-se assim, ele- 11. Dallman PR. Iron deficiency in the wealing: a nutritio-
vações acentuadas de Ferro sérico e de saturação da nal problem on the way to resolution. Acta Paediatr
Scand Suppl. 1986; 323: 59-67.
transferrina. Esta condição estaria aliada à obtenção
suficiente de Ferro para uma resposta imune adequa- 12. Klevay LM. Clinical signs of iron deficiency. Eur J Clin
Nutr. 1992; 46: 607-8.
da e, ao mesmo tempo, à baixa elevação do Ferro dis-
13. Olivares MG, Tomás WK. Consecuencias de la defici-
ponível aos eventuais microrganismos infecciosos.
ência de hierro. Rev Chil Nutr. 2003; 30:226-33.
Por fim, percebe-se que a busca do conhecimen-
14. Allen L, Benoist B, Dary O, Hurrell R, editors. Guideli-
to dessa relação tão paradoxal e fascinante continua. nes on food fortification with micronutrients. Genove:
É necessário que existam políticas de saúde pública World Health Organization, Food and Agriculture Or-
que incentivem os estudos que se enquadram nesse ganization of the United Nations; 2006.
elenco científico e que os pesquisadores envolvidos 15. Weinberg ED. Iron and infection. Microbiol Rev. 1978;
se comprometam incessantemente a buscar mais 42:45-66.
entendimentos sobre este assunto. Atualmente, a 16. Hughes S, Kelly P. Interactions of malnutrition and im-
deficiência de Ferro e as variadas doenças infeccio- mune impairment, with specific reference to immuni-
sas espalhadas pelo mundo são consideradas dois ty against parasites. Parasite Immunol.2006; 28:577-88.
grandes fatores ameaçadores à humanidade.

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Deficiência de Ferro: resistência ou suscetibilidade a infecções?

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