Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MANAUS/AM
2019
2
3
RESUMO
1
Graduanda em Psicologia do Grupo Wyden Educacional na Faculdade Martha Falcão. Contato: (92) 99120-1420.
E- mail: jessicaalmeida3@hotmail.com.
2
Professor Orientador Msc. Gutemberg Jailson Rocha de Carvalho, Psicólogo CRP 20/1134. E-mail:
gutemberg.carvalho@fmf.edu.br.
4
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO
caracterizada como um episódio patológico no qual existe a perda de interesse, de prazer, de apetite,
de sentimento de culpa, de inutilidade, de falta de energia e de pensamento de morte (FUREGATO,
2008).
No que tange à etiologia da depressão na adolescência, sabe-se que ela é influenciada por múltiplos
fatores biológico-genéticos, psicológicos e sociais. De acordo com Bahls e Bahls (2002), grande
parte dos estudos sugerem componentes genéticos e salientam que a presença de depressão familiar
aumenta o risco de depressão na infância ou adolescência em pelo menos três vezes.
O objetivo deste artigo é discutir a problemática da depressão na adolescência, com ênfase nas
características e transformações do processo de adolescer.
2. O PROCESSO DEPRESSIVO
A palavra depressão origina-se do latim e é composta de duas outras palavras: baixar (premère) e
pressionar, isto é, “deprimère” que, literalmente, significa “pressionar para baixo”. O termo
depressão foi, inicialmente, usado em inglês para descrever o desânimo, em 1660, e entrou para o
uso comum em meados do século XIX (SANTOS, 2009).
descrever fisiologicamente a sua origem. A essência da visão tradicional da melancolia foi mantida
durante a idade média e por muito tempo depois. Areteus, Galeno e outros se aprofundaram no
estudo de sintomatologia, causas e na definição de transtornos relacionados (DOMINGUES, 2011).
O termo depressão pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios emocionais,
sem ser exclusivo de nenhum deles; como também uma síndrome traduzida por muitos e variáveis
sintomas somáticos; ou ainda, uma doença caracterizada por marcantes alterações afetivas
(BALLONE, 2005). No que diz respeito à psicopatologia, os quadros depressivos têm a tristeza
como elemento central. Entretanto, eles caracterizam-se por uma diversidade de sintomas afetivos,
instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relacionados à autovaloração, à volição e à
psicomotricidade. Além destes, podem estar presentes sintomas psicóticos e fenômenos biológicos
associados (DALGALARRONDO, 2000 apud SANTOS, 2009).
De acordo com Avanci, Assis e Oliveira (2008), etiologicamente a depressão é fruto de fatores
genéticos, bioquímicos, psicológicos e sócio-familiares, sendo, então, estudada sob diferentes
abordagens. Ao sofrer de depressão o indivíduo depara-se com sentimentos e pensamentos de
pessimismo, desamparo, tristeza profunda, apatia, falta de iniciativa, descontentamento físico,
dificuldade na organização e fluidez das ideias, comprometimento do julgamento cognitivo, dentre
outros sintomas.
Uma das áreas que tem contribuído para a compreensão desse tema é a neuropsicologia, por meio
dos modelos neurocognitivos básicos e clínicos, com base nesse ponto de vista associado ao estudo
neurobiológico pacientes deprimidos apresentam uma diminuição na atividade da área região
subgenual pré-frontal cortical. Nesses pacientes, essa área tem seu volume anatômico reduzido,
tornando-se hiperfuncionante nas fases maníacas ou depressivas e retornando a um funcionamento
básico quando o humor volta ao normal. Essa região é normalmente relacionada com a geração de
7
palavras por associação e é ativada em indivíduos normais quando solicitados a gerar pensamentos
tristes. O que pode ocorrer em pacientes deprimidos é uma hiperatividade associativa quando
experimentam pensamentos negativos incessantes (FELICIANO e MORETTI, 2015).
Várias são as queixas neurocognitivas presentes durante o estado depressivo, incluindo redução
das habilidades atentiva e mnêmica e lentidão do pensamento, tanto na fase clínica como no período
assintomático. Tais dificuldades interferem nas habilidades e, consequentemente, resultam em
limitação significativa em todos os aspectos da vida dessas pessoas: autocuidado, trabalho, lazer,
relações sociais. Entretanto, é importante ressaltar que nem todos os pacientes deprimidos
apresentam estes déficits, pois a disfunção neuropsicológica associada ao Transtorno Depressivo
Maior parece depender de diferenças individuais (FELICIANO e MORETTI, 2015).
Segundo Murphy et al (2001 apud Feliciano e Moretti, 2015) pacientes deprimidos são mais lentos
no processo de deliberação e, quando solicitados a "confiar" em suas decisões (para avaliar o
quanto estão seguros das mesmas), usam estratégias alteradas (mais conservadoras), com menos
confiança. Os pacientes também apresentaram percepção distorcida do feedback ambiental,
respondendo anormalmente quando este é negativo e sugerindo uma desregulação dos sistemas de
reforço. Em deprimidos, essa resposta comportamental anormal ao feedback de desempenho está
associada a uma resposta neural anormal na região implicada com mecanismos de recompensa o
caudado medial e o córtex órbito-frontal ventro-medial.
Estudos dirigidos sobre a temática do suicídio referem que uma das razões para uma pessoa
desenvolver ideação suicida e tentativas de suicídio, diz respeito à inflexibilidade cognitiva e à
dificuldade na resolução de problemas que apelem ao funcionamento adaptado dos lobos frontais
(FELICIANO e MORETTI, 2015).
A adolescência é caracterizada por modificações hormonais e físicas por meio das quais as crianças
se tornam sexualmente maduras. Nessa fase, chamada puberdade, os adolescentes enfrentam
desafios adaptativos como o novo corpo em formação. Consequentemente, a partir dessa mudança,
questões como imagem corporal, autoestima, sexualidade e identidade são colocadas em evidência
8
Os adolescentes se deparam com várias situações novas e pressões sociais, favorecendo condições
próprias para que apresentem flutuações do humor e mudanças expressivas no comportamento.
Alguns mais sensíveis, e sentimentos podem desenvolver quadros depressivos (BALLONE, 2008).
Compreendemos que durante a adolescência, período marcado por sucessivas perdas que implicam
um processo de luto normativo, desenvolve-se simultaneamente uma reativação da posição
depressiva. A evolução do luto no sentido normal ou no sentido patológico, depende da capacidade
de reparação que o Eu do adolescente é capaz de experimentar (SANTOS, 2009).
Os sintomas depressivos de crianças e adolescentes podem não ser percebidos nos ambientes que
frequentam, em casa ou escola. Portanto, é desejável que familiares e educadores estejam atentos
para identificar os sintomas, a fim de encaminhar os suspeitos para avaliação. O diagnóstico
precoce é essencial para que se possa realizar um tratamento efetivo, pois há risco evolutivo de se
agravarem os transtornos depressivos (MARQUES, 2014).
Segundo Neinstein & Lawrence (1991 apud Santos, 2009) os fatores envolvidos na depressão do
adolescente são os seguintes:
• Baixa auto-estima;
• As conquistas reais feitas pelo adolescente estão abaixo das suas aspirações;
9
• Perda significativa;
• Morte ou rejeição;
• Separação ou divórcio dos pais;
• Perda de objetivos (definições dentro da família);
• Perda da normalidade (p.e doença física);
• Inaptidão para realizar as tarefas normais comuns ao desenvolvimento do adolescente;
• Depressão dos pais ou abuso de substâncias;
• Conflitos familiares ou comunicação pobre;
• Incapacidade de aprendizagem;
• Elevadas expectativas por parte dos pais;
• Problemas nas relações com os pares.
Estudos afirmam que fatos traumáticos ocorridos na infância, como perda de vínculos afetivos
devido a morte, separação dos pais, abandono são fatores pré disponentes a depressão. Os fatores
de risco para depressão em crianças e adolescentes, no qual, podem ser levados em consideração
como mais importante é a presença de depressão em um dos pais, sendo que a existência de
histórico familiar para depressão aumenta o risco em pelo menos três vezes, seguido por estressores
ambientais, como abuso físico e sexual e perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo
(MARQUES, 2014).
Se os conflitos próprios dessa fase da adolescência forem malconduzidos, podem contribuir para o
surgimento de transtornos do humor e, em particular, da depressão. A depressão nessa fase é difícil
de ser diagnosticada, porém, quando se torna prolongada e incapacitante, a intervenção e o
10
Conforme Bahls (2003), em jovens depressivos o índice de suicídio é maior do que em adultos.
Esses dados confirmam que a adolescência é considerada um fator de risco, principalmente se o
jovem estiver em um quadro depressivo.
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste estudo, foi realizada uma busca eletrônica nas bases de dados Pepsic,
Scielo e Lilacs. Foram utilizados os seguintes descritores em inglês: “adolescence” (adolescência)
e “depression” (depressão), com o termo booleano “AND” e o campo de busca “abstract”,
incluindo todos os artigos que contivessem as palavras no resumo. Foram consideradas para efeito
deste estudo, as publicações produzidas em artigos e periódicos publicados nos últimos 15 anos.
A seguir faz-se uma análise dos estudos selecionados para a pesquisa. Com relação ao material
científico vale ressaltar a importância de estudos que tenham como tema os assuntos discutidos
neste artigo, pois só dessa forma, conhecendo e debatendo as implicações advindas da depressão,
é que se viabiliza uma assistência específica e diferenciada.
A pesquisa também identificou que para estes autores a depressão, apesar de ser um adoecimento
bastante discutido e estudado, é um fenômeno ascendente da sociedade contemporânea,
principalmente entre os adolescentes, sendo ainda objeto de grandes pesquisas em vários níveis. A
depressão na adolescência é um problema a ser considerado por diversos saberes como a Psicologia,
a Psiquiatria, a Psicopatologia e a Saúde Mental, dentre outros, e entendemos que há a necessidade
de uma postura reflexiva crítica, na qual o profissional pode analisar criticamente os múltiplos
contornos que constituem a experiência vivida da depressão. Pesquisas fenomenológicas, ainda
muito escassas, contribuiriam para a compreensão da depressão e do sujeito adolescente no seu
mundo vivido, com implicações para a prática de cuidado com esse público.
17
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os adolescentes procuram se firmar através de comportamentos que chamam a atenção das pessoas,
com as quais convivem, tais como: preocupação com o físico, roupas chamativas, internet e na
prática de esportes. A participação da família no tratamento dos distúrbios afetivos, e muito
significativa no envolvimento do adolescente na vida da família para ele sentir-se amado e
valorizado. À medida que se trabalha a autoestima do adolescente, melhores condições ele tem de
ser ajustado.
Falar sobre a depressão no adolescente é falar sobre uma depressão diferenciada, com causas e
efeitos específicos, que requerem uma compreensão e um modelo de intervenção também
específicos. A causa disto é que a adolescência representa um período de construção de uma nova
identidade, em que é exigido que o sujeito abandone as referências que antes sustentavam a sua
imagem infantil, submetendo-as a um processo de reconstrução que dê conta dessa nova
subjetividade. Diante disto, será necessário que esse jovem vivencie uma nova separação dos pais,
a fim de que consiga reordenar o seu sistema representacional, reconstruir sua identidade e
conquistar sua autonomia. Eis aqui uma das tarefas mais complexas da adolescência: buscar um
afastamento dos pais para se diferenciar deles e ao mesmo tempo manter certa proximidade que
lhe permita encontrar as semelhanças que sustentem suas identificações.
Os estudos confirmam uma elevada prevalência no quadro depressivo vivenciados por essa
população, onde se manifestam com maior frequência no sexo feminino. Nesse sentido, tristeza,
humor deprimido, solidão, desânimo e sentimento de culpa, falta de apoio e desarranjos familiares
possuem forte ligação com o comportamento suicida e podem levar ao suicídio.
A partir desse cenário, o método psicanalítico nos mostra que a saída para a depressão na
adolescência está no desejo. Nessa perspectiva, a quantidade de diagnósticos de depressão na
adolescência que caracteriza os dias de hoje não podem ser considerados apenas como um erro
diagnóstico, mas sim como uma resposta do sujeito que só pode ser pensada a partir da dinâmica
libidinal instaurada pela irrupção do desejo.
18
REFERÊNCIAS
AVANCI, R.; PEDRÃO, L.J.; COSTA JÚNIOR, M.L. Perfil do adolescente que tenta suicídio em uma
unidade de emergência. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília. 2008. v.58, n.5, p. 535-539, set./out.
BARBOSA, Alice de Souza; COSTA, Aline Gomes da; SILVA, Graciele Cristina da; ALVES, Lorraine
Micaele; SILVA, Mirian Gabriella Gomes da. Depressão na adolescência com intervenção da terapia
cognitivo comportamental. Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 8 nº 1 Janl/Jun 2018 ISSN 2359-3938.
Disponível em: https://unijipa.edu.br/wp-content/uploads/Revista%20Saberes/ed8/4.pdf. Acesso em: 19 de
setembro de 2019.
BIAZUS, Camilla Baldicera; RAMIRES, Vera Regina Röhnelt. Depressão na adolescência: uma
problemática dos vínculos. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 17, n. 1, p. 83-91, jan./mar. 2012.
CAMPOS, Josiane Rosa; DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Depressão na
adolescência: habilidades sociais e variáveis sociodemográficas como fatores de risco/proteção. Estud.
pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 408-428, ago. 2014 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812014000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 09 de novembro de 2019.
FUREGATO, A. R. F.; et. al.. Depressão entre estudantes de enfermagem relacionada à auto-estima, à
percepção da sua saúde e interesse por saúde mental. Revista Latino-americana de Enfermagem,
Ribeirão Preto, v. 16, n.2, p. 1-3, mar./abr. 2008.
GROLLI, Verônica; WAGNER, Marcia Fortes; DALBOSCO, Simone Nenê Portela. Sintomas
Depressivos e de Ansiedade em Adolescentes do Ensino Médio. Rev. Psicol. IMED, Passo Fundo , v.
9, n. 1, p. 87-103, jun. 2017 . Disponível em:
19
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
50272017000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 09 de novembro de 2019.
RESENDE, Catarina et al . Depressão nos adolescentes: mito ou realidade?. Nascer e Crescer, Porto , v.
22, n. 3, p. 145-150, set. 2013 . Disponível em
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-
07542013000300003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 09 de novembro de 2019.
SANTOS, Edileuza Ferreira dos. Prevalência de indicadores de depressão entre adolescentes e sua
relação com o nível de apoio e suporte familiar. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 2009. Disponível em: http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/EdileuzaFerreiradosSantos.pdf. Acesso
em: 19 de setembro de 2019.
SILVA, A.B.B. Bullying: mentes perigosas na escola. Revista Nova Escola, n. 233, p. 67-73, jun./jul.
2010.