Você está na página 1de 2

Análise literária

Característica presentes no Conto:

● Narrativa curta
● Apresenta apenas um conflito: a morte
● Poucos personagens: O vizinho, o pintor e Vicente Pereira
● Espaço ou cenário limitado: O jardim de sua casa
● Narrador-personagem
● Figuras de linguagem: “pá!” “cráu!” “Egun”, etc.
● Referência a religião de matriz africana: Oxum
● Linguagem simples (não literária)
● Verossimilhança
● Enredo.
● Narrativa psicológica: o convencimento.
● Hibridismo: mistura de prosa com a poesia e vice-versa.
● “Superstição oriental”: a recuperação do girassol na presença do buda.

O conto “A morte dos girassóis” publicado no Jornal Zero hora, em 1995, escrito
pelo escritor contemporâneo Caio Fernando Abreu, leva consigo, como no título
propriamente dito, uma sutil reflexão a respeito da morte. Não se trata apenas da
morte de girassóis ou de outras plantas. Esta é, também, destinada a nós ao
pisarmos na terra. Temida, desconhecida e repelida pelo pulso.

Caio se inicia no conto como narrador-personagem. Logo nas primeiras linhas, sua
aparição é como um “fantasma”. Ele se encontra no jardim de sua casa cuidando
das suas plantas, já que antes de sua morte havia se interessado pela jardinagem, o
que o levou a estudá-la e a passar mais tempo cuidando do jardim.

No trecho abaixo, o autor narra o momento em que o seu vizinho se depara com a
sua aparição:

“Eu disse oi, ele ficou mais pálido. Perguntei que-que foi, e ele enfim suspirou: “Me
disseram no Bonfim que você morreu na Quinta-feira.” Eu disse ou pensei em dizer
ou de tal forma deveria ter dito que foi como se dissesse: “É verdade, morri sim. Isso
que você está vendo é uma aparição, voltei porque não consigo me libertar do
jardim, vou ficar aqui vagando feito Egum até desabrochar aquela rosa amarela
plantada no dia de Oxum”.

O uso da palavra “Egun” que o autor empregou como figura de linguagem diz
respeito à religião de matriz africana. Eram nomeados de Eguns pessoas ou grupos
que pertenciam às classes marginalizadas da sociedade, como: escravos,
indígenas, imigrantes, crianças, mulheres e malandros. Nos terreiros, esses grupos
se tornaram os Pretos-velhos, Exus, Pombas-giras, Caboclos, Baianos, etc.
Quando Abreu diz que vai ficar ali vagando até que a rosa amarela, que foi plantada
no dia de Oxum desabroche, ele quis dizer que a flor foi plantada dia 02 de
Fevereiro, data comemorativa que saúda a Orixá Oxum, rainha da água doce, dona
dos rios e cachoeiras. Na Igreja Católica ela é sincretizada como Nossa Senhora da
Conceição.

Seguindo a linha do tempo em que Caio Fernando Abreu esteve presente


publicando as suas obras e vivendo uma vida intensa de afetos, trabalhos e
estudos, ele descobre uma complicação pelo vírus HIV em 1994, e não é por acaso
“a morte dos girassóis”, publicado em 1995. O autor, de certa forma, pode ter se
inspirado no destino que lhe foi concedido e se apegou à jardinagem para aprender
com a terra e com as plantas a cuidar e a se cuidar e, também, para ser paciente,
pois é uma surpresa o que acontece com o processo de nascimento e morte de uma
planta. O autor narra sobre os cuidados com as plantas como alguém que
compreende muito bem como se deve cuidar das coisas.

O autor termina o conto com o seguinte parágrafo:

“Ah, pede-se não enviar flores. Pois como eu ia dizendo, depois que comecei a
cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte
de um girassol antes do tempo, compreendeu? Algumas pessoas acho que nunca.
Mas não é para essas que escrevo.”

Para encerrar, Abreu deixa esse parágrafo como um aviso para os seus leitores,
querendo dizer que o que aprendeu com o “renascimento” de um girassol,
decretado por ele mesmo, morto, nos diz respeito ao tempo; entre a vida e a morte.

Você também pode gostar