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GÊNERO

CONTO Professora: Francione Brito


9º ano
OBJETIVO
Compreender o gênero conto como um texto curto que pertence ao universo ficcional,
considerando suas propriedades formais, com ênfase nos elementos estruturadores do
enredo e nas formas como são construídos os discursos de personagens e narradores.
Certa vez, um garoto foi passear no shopping,
quando resolveu parar na livraria. Seus olhos
deslizaram sobre as imagens coloridas das
capas e sobre as letras chamativas dos títulos,
até que se deparou com um livro que
continha o conto da Chapeuzinho Vermelho.
CHAPEUZINHO VERMELHO (RESUMO)
Uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho foi visitar sua avó que morava distante
e estava doente. Sua mãe queria notícias da velha senhora e mandou a filha fazer-lhe
uma visita, levando alguns doces. O caminho era longo e passava por uma floresta.
Matreiro o Lobo-Mau, dizendo ser o guarda da floresta abordou a menina no caminho,
fingindo ser amigo, pois sua intenção era comer a neta e a avó. Ao chegar à casa da
avó Chapeuzinho Vermelho foi tomada de surpresa, pois achou-a um tanto diferente
de como a conhecia. O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua roupa,
metendo-se em sua cama esperava para dar o bote final na menina. Você vai ter
momentos de ternura, medo, alegria e muita diversão ao ler este clássico da
literatura infantil.
Afinal, o que são os contos? Qual é o enredo do conto?
Quem são os personagens do conto? Qual o ponto de vista
do conto?
Conto é uma narrativa curta e que se
diferencia dos romances não apenas pelo
tamanho, mas também pela sua estrutura:
há poucas personagens, nunca analisadas
profundamente; há acontecimentos breves,
sem grandes complicações de enredo; e há
apenas um clímax, no qual a tensão da
história atinge seu auge.
AGORA VAMOS ANALISAR
ALGUNS CONTOS
FURTO DE FLOR
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a para
casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a
beber e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso e notei que ela me agradecia,
revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor se a
contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a
água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim.
Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer. Já murcha, e com a cor
particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O
porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. RJ, José Olympio, 1985. p. 80

1. Leia as afirmativas abaixo e em seguida assinale a alternativa correta

A) O texto Furto de Flor é predominantemente narrativo.


B) O autor ao longo do texto vai construindo um misto de narrativa e texto objetivo.
C) O autor usou a 1ª pessoa para, supostamente, aproximar-se do personagem da
narrativa.
D) Apenas pela leitura do título do texto, pode-se afirmar que o texto é narrativo.
A) Resposta correta. O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor
extensão.
B) Resposta incorreta. Ao longo do texto o autor vai construindo um
texto subjetivo.
C) Resposta incorreta. O autor usou a 1ª pessoa para, o personagem
principal contar sua história.
D) Resposta incorreta. Para afirmar que o texto é narrativo precisa-se
saber que o conto é uma narrativa breve; desenrolando um só incidente
predominante e um só personagem principal, contém um só assunto,
cujos detalhes são tão comprimidos e o conjunto do tratamento dado à
temática é tão organizado, que produzem uma só impressão.
FURTO DE FLOR
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a
para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo
destina-se a beber e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso e notei que ela me
agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor
se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.
Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-
la ao jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer. Já murcha,
e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde
desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. RJ, José Olympio, 1985. p. 80

2. Segundo o texto de Drummond, a condição para haver novidade em uma


flor, sem agredi-la, é apenas admirá-la. O trecho do conto que satisfaz esta
condição é
A) “Furtei uma flor daquele jardim”.
B) “Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia”.
C) “Quantas novidades há numa flor se a contemplarmos bem”.
D) “Não adiantava restituí-la ao jardim".
A)Resposta incorreta. Ao furtar a flor, ele agride a mesma.
B) Resposta incorreta. Não adiantaria renovar a água se ele
havia agredido a flor e a mesma estava morrendo.
C) Resposta correta. Ao contemplar a flor sem mexer nela, ele
não a agrediria.
D)Resposta incorreta. Já não adiantava mais restituí-la ao
jardim, uma vez que ele a havia agredido.
FURTO DE FLOR
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a
para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo
destina-se a beber e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso e notei que ela me
agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor
se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.
Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-
la ao jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer. Já murcha,
e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde
desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. RJ, José Olympio, 1985. p. 80

3. Ao longo do texto, o personagem vai gradativamente buscando


manter a flor viva, mas não é feliz no seu intento, pois a
A) colocou num copo com água.
B) depositou no jardim onde desabrochara.
C) colocou no vaso com terra.
D) furtou do jardim.
A) Resposta incorreta. Colocá-la num copo com água não traria à flor
sua vitalidade.
B) Resposta incorreta. Já não adiantava devolver a flor ao seu jardim,
uma vez que a mesma já havia morrido.
C) Resposta incorreta. Não adiantava replantá-la pois ali não era o seu
habitat.
D) Resposta correta. A partir do ato de furtar a flor de seu habitat
natural ele condenou a mesma a morte.
Muitos teóricos discutem, até hoje, quais são os limites do conto,
onde termina e começa a novela ou o romance, o que o diferencia da
crônica, quais os aspectos que fazem dele um conto e não outro tipo de
narrativa. 
Em um movimento cíclico, com momentos de auge e outros de puro
ostracismo, o conto tem acompanhado, desde os primórdios, o avanço
da humanidade através do tempo, num meio que, na maioria das vezes,
é hostil e nada propício para criar, ouvir ou ler esse tipo de narrativa. 

• O conto é a forma narrativa, em


prosa, de menor extensão (no
sentido estrito de tamanho).
CARACTERÍSTICAS
• Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a
densidade, a unidade de efeito ou impressão total – o conto
precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e
emotividade.
• Ao escritor de contos, dá-se o nome de contista.
• O conto quase nunca é publicado isoladamente. Geralmente, ele faz
parte de uma obra maior. Como por exemplo, o conto "Uma
Galinha", de Clarice Lispector, faz parte do livro "Laços de Família”.
Clique na figura e leia este conto.
AGORA VOCÊ VAI LER O CONTO

Uma Galinha
de Clarice Lispector
Uma Galinha
Clarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da
manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para
ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua
intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. 
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e,
em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o
tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado,
hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada
viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla
necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos
alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo.
A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um
quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha
que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O
rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito
de conquista havia soado.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e
penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare­cia
uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e
desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas,
enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a
tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do
chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum
tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de
galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.


Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina,
de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez
em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha
tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço
dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma
pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando
atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se
rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra
o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga,
no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que
fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30.
Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do
Século”.
O ENREDO COMO COLUNA VERTEBRAL DO CONTO

O enredo é o fio condutor de qualquer narrativa, mostrando uma sequência de fatos, ações e elementos que
vão construindo o corpo do relato. É um encadeamento de episódios que tecem a teia daquilo que está
sendo narrado. 
No conto, o enredo funciona como espinha dorsal, como estrutura que sustenta e direciona. Nos contos que
privilegiam o enredo, podemos distinguir claramente as partes que vão se encaixando com perfeição, até
chegar ao desfecho ou desenlace.
Veremos, então, as partes que formam o enredo:

Apresentação (ou introdução ou exposição);

Complicação;

Clímax;

Desenlace (ou desfecho).

Defina as partes que formam o


enredo. Responda em seu
caderno.
Narrativa em 1ª ou 3ª pessoa?
• Terceira pessoa: O texto é narrado em
3ª pessoa e neste caso podemos ter:
A) Narrador observador: o narrador limita-
se a descrever o que está acontecendo,
"falando" do exterior, não nos
• Primeira pessoa: personagem colocando dentro da cabeça da
principal conta sua história; este personagem; assim não sabemos suas
narrador limita-se ao saber de si emoções, ideias, pensamentos. O
próprio, fala de sua própria narrador apenas descreve o que vê, no
vivência. mais, especula.
B) Narrador onisciente é aquele que conta
a história; o narrador tudo sabe sobre a
vida das personagens, sobre seus
destinos, ideias, pensamentos. Como se
narrasse de dentro da cabeça delas.
VAMOS LER OUTRO CONTO!
APELO

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a
verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi
ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a
imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos
poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a
casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah,
Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o
perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem.
Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas
murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-
rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas
mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

Dalton Trevisan.
APELO

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade,
não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma
semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos:
a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um
corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com
os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz
na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é
saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho
botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a
Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por
favor.
Dalton Trevisan.

4. Qual o tema central do conto que você leu

A) Um homem que narra e descreve sua rotina após ser abandonado.


B) Um homem que narra e descreve sua sede de amar.
C) Um homem que narra e descreve a briga pelo sal no tomate.
D) Um homem que narra e descreve a primeira vez que o leite coalhou.
A) Resposta correta. Um homem que narra e descreve sua rotina após ser abandonado. Ao que
tudo indica pelas pistas textuais, por sua esposa ou alguém que mantém um laço afetivo
amoroso.
B) Resposta incorreta. Ele não tem sede de amar, mas ao que tudo indica, que ele foi
abandonado.
C) Resposta incorreta. O fato de não haver mais briga pelo sal no tomate, indica uma pista
textual para a sensação de abandono.
D) Resposta incorreta. Como ele foi abandonado por sua esposa ou por alguém com que
mantém um laço afetivo amoroso, o leite coalha.
APELO

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade,
não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma
semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos:
a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um
corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com
os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz
na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é
saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho
botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a
Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por
favor.
Dalton Trevisan.

5. A narrativa do conto acontece em

A) 3ª pessoa narrador onisciente.


B) 2ª pessoa.
C) 1ª pessoa.
D) 3ª pessoa narrador observador.
A) Resposta incorreta. O conto não é narrado em 3ª pessoa narrador onisciente, visto que o
narrador não narra como se falasse de dentro da cabeça dos personagens.
B) Resposta incorreta. Não existe narrativa de conto em 2ª pessoa.
C) Resposta correta. O personagem principal conta sua história.
D) Resposta incorreta. O conto não é narrado em 3ª pessoa narrador observador, visto que ele
não narra limitando-se ao que está acontecendo.
APELO

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade,
não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma
semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos:
a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um
corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com
os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz
na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é
saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho
botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a
Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por
favor.
Dalton Trevisan.
6. O trecho abaixo que confirma que a narração do conto acima está em 1ª pessoa, narrador-
personagem é
A) “(...) o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho
(...)”
B) “(...) E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero da salada – o meu
jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? (...)”
C) “(...) Uma hora da noite, eles se iam e eu ficava só. (...)”
D) “(...)Amanhã faz um mês(...)”
A) Resposta incorreta. “(...) o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de
relance no espelho (...)” . O trecho nada mais traz do que a ideia de abandono que é o tema
central do conto.
B) Resposta incorreta. “(...) E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero
da salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? (...)”. O trecho nada mais
traz do que a ideia de abandono que é o tema central do conto.
C) Resposta correta. “(...) Uma hora da noite, eles se iam e eu ficava só. (...)”. O personagem
principal conta sua história; este narrador limita-se ao saber de si próprio, fala de sua própria
vivência.
D) Resposta incorreta. “(...)Amanhã faz um mês(...)”. Este tempo apenas situa o conto no
espaço temporal.
E os diálogos?

Dentre os componentes da linguagem do conto, o diálogo é o mais importante de todos. Está


em primeiro lugar; por ser dramático, o conto deve ser tanto quanto possível dialogado. Os
conflitos, os dramas residem na fala das pessoas, nas palavras ditas, não no resto. Sem diálogos
não há discórdia, desavença, e sem isso, não há conflito, nem ação.

1) Discurso Direto: As personagens conversam entre si; usa-


se travessões. Além de ser o mais conhecido é, também,
predominante no conto.
2) Discurso Indireto: Quando o escritor resume a fala da
personagem em forma narrativa, sem destacá-la. Vamos dizer
que a personagem conta como aconteceu o diálogo, quase
que reproduzindo-o.
3) Discurso Indireto livre: É a fusão entre autor e
personagem (primeira e terceira pessoa narrativa); o
narrador narra, mas no meio da narrativa surgem diálogos
indiretos da personagem como que complementando o que
disse o narrador.
4) Monólogo interior (ou fluxo de consciência): É o que se
passa “dentro” do mundo psíquico da personagem; “falando”
consigo mesma.
Acompanhe um trecho do conto “A quinta história” de Clarice Lispector. Utilize-o para
responder as questões 1 e 2.

Queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de


como matá-las. Que misturasse em partes iguais: açúcar, farinha e gesso.
A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de dentro delas. Assim fiz.
Morreram.

In: A legião estrangeira. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1964.


7. Embora muito pequeno, esse texto contém os elementos essenciais de uma narrativa.
Encontramos no trecho do conto acima

A) Narrador-personagem.
B) Narrador-observador.
C) Narrador-onisciente.
D) Narrador-testemunha.
A) Resposta correta. Narrador-personagem. Além de contar a história em primeira pessoa,
faz parte dela, sendo por isso chamado de personagem.
B) Resposta incorreta. Narrador-observador. Não comporta-se como uma testemunha dos
fatos relatados. 
C) Resposta incorreta. Narrador-onisciente. Não é  aquele que sabe de tudo.
D) Resposta incorreta. Narrador-testemunha. Ele não é o personagem secundário da trama.
Queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de
como matá-las. Que misturasse em partes iguais: açúcar, farinha e gesso.
A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de-dentro delas. Assim fiz.
Morreram. In: A legião estrangeira. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1964.

8. O foco narrativo da história é

A) Foco narrativo impessoal.


B) Foco narrativo em 3ª pessoa.
C) Foco narrativo em 1ª pessoa.
D) Foco narrativo em 2ª pessoa.
A) Resposta incorreta. Não existe foco narrativo em impessoal, mais sim foco narrativo em 1ª
ou 3ª pessoa.
B) Resposta incorreta. No foco narrativo em 3ª pessoa o narrador é onisciente. Ele nos oferece
uma visão distanciada da narrativa, além de dispor de inúmeras informações que o narrador
em 1ª pessoa não oferece.
C) Resposta correta. No foco narrativo em 1ª pessoa o narrador é um dos personagens,
protagonista ou secundário. Nesse caso, ele apresenta aquilo que presencia ao participar dos
acontecimentos.
D) Resposta incorreta. O texto não foi narrado em 2ª pessoa, mais sim como narrador em 1ª
pessoa participando da ação percebendo que quem conta o conto é um “eu” participante.
9. O tipo de tempo empregado no
conto acima foi

A) Cronológico com narrativa não


linear.
B) Psicológico com narrativa linear.
C) Psicológico com narrativa não
linear.
D) Cronológico com narrativa
linear.
A) Resposta incorreta. O tempo é Cronológico, mas a narrativa é linear, pois tem começo –
meio – fim – e os acontecimentos são contínuos.
B) Resposta incorreta. O tempo não é Psicológico, pois obedece à cronologia com narrativa
linear.
C) Resposta incorreta. O tempo não é Psicológico, pois obedece à cronologia e à narrativa é
linear.
D) Resposta correta. O tempo é Cronológico, marcado objetivamente pelo tempo dos relógios,
com narrativa linear representada por começo – meio – fim – e os acontecimentos são
contínuos.
Acompanhe um trecho do conto “Missa do
Galo” de Machado de Assis. Utilize-o para
responder o que se pede.

 - Talvez esteja aborrecida, pensei eu.


 E logo alto:
 - D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...
 - Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia.
Tem tempo. Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?
 - Já tenho feito isso.
 - Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e,
meia hora que seja, hei de passar pelo sono. Mas também estou
ficando velha.
 - Que velha o quê, D. Conceição?

10. O tipo de discurso empregado no trecho do conto acima foi

A) Discurso Direto.
B) Monólogo.
C) Discurso Indireto.
D) Discurso Indireto Livre.
A) Resposta correta. Discurso Direto, ocorre quando o narrador apresenta a própria
personagem falando diretamente, permitindo ao autor mostrar o que acontece em lugar de
simplesmente contar.
B) Resposta incorreta. Não ocorre no trecho o que se passa "dentro" do mundo psíquico da
personagem; "falando" consigo mesma, que é o Monólogo.
C) Resposta incorreta. Não ocorre no trecho o narrador interferindo na fala da personagem,
que é o Discurso Indireto.
D) Resposta incorreta. Não ocorre no trecho a combinação do Discurso Direto com Discurso
Indireto confundindo as intervenções do narrador com as dos personagens que é o Discurso
Indireto Livre.
CRÉDITOS:
Material organizado por Francisco Maurício Araújo
Para o Blog Tudo Sala de Aula em 26 de Setembro de 2017.
Apoio do Educopédia e do Wikipédia
2017

Revisto e reeditado pela


Professora Francione Brito 😉

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