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Leia:
Olhei pelo espelho e o passageiro continuava chorando, de mansinho, uma garoa nos olhos; aliás,
quando vim pra cá, São Paulo era a terra da garoa, hoje quase nem chove mais... E, quando chove, é
enchente na certa. Mas aí eu percebi que ele também não era daqui, a gente se reconhece, sabe, não dá pra
esconder que esse não é o nosso mundo... A corrida era pra Congonhas, então eu tive certeza, ele estava
indo embora, ia pegar o seu voo, voltar pra casa, era o fim da viagem, retornava com o coração dolorido, a
saudade já machucando... Sim, era isso. […]
João Anzanello Carrascoza. Espinhos e alfinetes. Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 108-109.
2) Releia o trecho da questão anterior. A respeito do tipo de narração presente no conto, responda:
a) Qual é o foco narrativo desse texto: em primeira ou em terceira pessoa? Justifique com um trecho do conto.
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FURTO DE FLOR
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e
coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber e flor não é para
ser bebida. Passei-a para o vaso e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição.
Quantas novidades há numa flor se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de
conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao
jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer. Já murcha, e com a cor particular da
morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e
repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
APELO
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti
falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda
no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de
jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o
canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se
iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade,
Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa.
Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os
outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
Dalton Trevisan.
Queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como matá-las. Que misturasse
em partes iguais: açúcar, farinha e gesso. A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de dentro
delas. Assim fiz.
Morreram.
6) Embora muito pequeno, esse texto contém os elementos essenciais de uma narrativa.
Encontramos no trecho do conto acima
a) Narrador-personagem.
b) Narrador-observador.
c) Narrador-onisciente.
d) Narrador-testemunha.
d) Essa substância não só alivia os sintomas, mas também auxilia em sua prevenção.
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8) Relacione as colunas de acordo com a classificação das orações coordenadas.
Leia:
10) Os versos apresentados foram transcritos tal como cantados por Luiz Gonzaga na versão original
da canção “Asa-branca”. As palavras brasêro, fornaia, prantação e farta revelam a
a) adaptação da pronúncia à letra da canção.
b) invenção vocabular como recurso composicional.
c) influência da cultura popular sobre a erudita.
d) variedade linguística típica de uma região do país.
e) crítica ao uso das normas urbanas de prestígio.