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EDIÇÃO VERÃO
Co m o d eve 14 contos Co n t o
ser um conto? p a ra c e le b ra r See you soon!
de Cíntia o melhor do destacado por
Moscovich ve rã o R .Ta v a r e s
nota da
ed i t o ra
Foram quarenta inscrições validadas,
quarenta textos de autores de todos os
lugares, com diferentes pontos de vista.
Mariane Lima
Página 2
índice
n o t a d a ed i t o ra
p re fá c i o
R.Tavares
como dever ser um conto
Cíntia Moscovich
o ú l t i m o g i g a n t e d o ve rã o
Gustavo Rosa
a m o r d e ve rã o
Regiane Folter
t rê s M a r i a s
Maria Carminha Pires
dia de sol
Margarete Bretone
see you soon!
Anton Roos
a c a d a u m s e u fa rd o
Rodrigo Domit
escolhas
Marcel Ahless
sibipiruna
Neuceli Maria da Silva Candido
o s e q u e s t ro
Jeff Ferreira
dalit
Marcelo Mendes
fe l i c i d a d e ve rd a d e i ra
Mario Sergio Ribeiro
minhas pernas
R.Tavares
do pampa ao mar
Caroline Rodrigues
a m o re s l í q u i d o s
Mariane Lima
Página 3
p re fá c i o
O verão é uma estação que sempre deixa marcas. Gostem ou não da
estação mais quente do ano, é nela que nossas lembranças buscam as
melhores histórias para serem contadas aos amigos, seja nas conversas
da madrugada, nos bares ou nessa coletânea de contos.
Verões de dias longos e noites quentes são propícios para
brincadeiras noturnas, pique-esconde com os vizinhos, um primeiro
beijo com a prima da amiga, um cinema daqueles que a gente não
lembra nem do nome do filme.
Nos verões temos as grandes marcas das adolescências, diversas
primeiras vezes nas praias, nos centrinhos, encostados nos murinhos
das casas antigas dos balneários, com as bochechas quentes, vermelhas
e com cheiro de pós sol.
Madrugadas inteiras de conversas, as primeiras bebedeiras, roupas
encharcadas com a chuvarada que veio sem avisar, proporcionando
aquele arco-íris para apreciarem abraçados. Verão também é a época de
visitar as famílias, das grandes brigas por causa de política no Natal, e
das pazes feitas à meia-noite, com brindes e salgadinhos.
Página 4
Os contos reunidos nessa coletânea apresentam um pouco desse
rico imaginário dos nossos verões e é interessante notar que todo temos
histórias em comum desses veraneios e férias escolares.
Os autores aqui reunidos demonstram conhecimento das técnicas
da escrita criativa, mostrando mais do que dizendo, todas essas cenas
que permeiam o nosso imaginário.
A editora da revista me convidou para escolher o conto que eu mais
gostasse e, vou confessar, não foi uma tarefa fácil. Amores de verão,
relacionamentos, toplesses, Gigantes escondidos, tudo isso me
emocionou demais.
Mas teve um conto em especial que além de me narrar uma história
interessante de se ler, também apresentou um autor maduro em suas
escolhas, ciente do que mostrar e do que esconder (conhecedor,
portanto, da teoria das duas histórias do conto), para nos surpreender
com um ataque feroz de tubarão e as consequências disso na vida do
narrador. Por isso, meu destaque dessa coletânea é o conto See you
soon!, cuja autoria desconheço até o momento desse texto.
Se me permitem uma menção honrosa, gostaria de citar o conto
Amor de verão, que apesar de tratar de um tema batido e clichê
conseguiu trazer inventividade no modo de narrar, trazendo para mim a
boa lembrança dos filmes Houve uma vez dois verões, de Jorge Furtado,
e 500 dias com ela de Mark Webb.
Vida longa à revista Subtextos!
R. Tavares
Página 5
Cíntia Moscovich
Co m o d eve s e r
um conto?
Página 6
Cíntia Moscovich
personagens.
Página 7
Cíntia Moscovich
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O último gigante do verão Gustavo Rosa
O último gigante
d o ve rã o
noite. Não obteve resposta. Eu não gosto, não! Imagino que você não
deva sentir ela, então nem sabe como é ficar todo molhado e depois
pegar uma gripe.
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O último gigante do verão Gustavo Rosa
ele, ok? Arthur estava mais empolgado do que nunca. Ele é o irmão
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O último gigante do verão Gustavo Rosa
encolhido. Não vejo ele desde que o verão começou. Sempre odiei
férias. Não ver meus amigos é complicado. Pelo menos, dessa vez, eu
conheci você!
Arthur encarou a escuridão. Ela não o encarou de volta, mas ele
continuou olhando até sua visão começar a duplicar e, pouco a pouco,
cansar de se fixar somente em um ponto. Ele começou a sentir falta do
mundo lá de cima. Um mundo sem o gigante; um mundo quente e cheio
de diversão, recheado das cores mais fortes que o calor poderia oferecer,
mas alguma coisa o prendia ali. Ele mesmo, talvez. Questionamentos
que ele não conseguia parar de ter e nada podia fazer a respeito. Seu
corpo pesava como se fosse uma âncora.
Quanto mais próximo do outono, mais inquieto o gigante parecia.
Os rugidos sempre acordavam Arthur no meio da madrugada, fazendo-o
questionar voltar para seu quarto. Seus irmãos imploravam todos os
dias para ele voltar, mas o garoto apenas pegava seu prato de comida e
descia para o lado de Naut. Os primeiros sinais do fim do verão foram o
sumiço dos irmãos, que agora iam para a escola diariamente e deixavam
Arthur ali, sozinho. Uma solidão silenciosa e fria.
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O último gigante do verão Gustavo Rosa
eu ir dormir.
Estações sempre chegam ao fim. Arthur sabia disso. A armadura já
não era mais aconchegante. Era fria como o inverno. “Esse deve ser o
cheiro da morte”, ele pensou. “Amanhã vai ser diferente”, decidiu.
No último dia do verão, Arthur subiu para pegar seu almoço. Ouviu
os ruídos de metal enquanto o chão a sua volta tremia. Até o último
encontro, o garoto ainda se questionava por que o gigante estava no seu
porão; a partir dali, passaria a se questionar por que ele foi embora. O
último gigante do verão se levantou e partiu. Indo embora
repentinamente, igual todas as coisas na vida. Se foi do jeito que
chegou, em silêncio. Da mesma forma que as estações morrem uma
após a outra.
E no fim elas sempre voltam.
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Amor de verão Regiane Folter
Gustavo Rosa t
Escritor de literatura sobrenatural e amigo de todos os monstros.
Graduado em Escrita Criativa pela PUCRS, vivendo na cidade de
Porto Alegre quase toda a minha vida (e eu só quero ir embora
logo). Sei falar sobre fantasmas, aliens e guaxinins, mas não sobre
mim mesmo.
antologias
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Photo by Jake Givens on Unsplash
Amor de verão Regiane Folter
a m o r d e ve rã o
Quando eu te conheci era verão e eu não imaginava que as horas
iam passar tão rápido.
Na primeira hora que passamos juntos você não desviou os olhos
dos meus em nenhum momento, esses olhos tão azuis quanto o céu da
praia ensolarada por onde caminhávamos naquele dia. Na realidade,
nem eu nem você éramos muito chegados a praticar exercício. Mas na
segunda hora do nosso encontro, enquanto nossos sorrisos iam ficando
mais firmes, ao contrário dos sorvetes meio derretidos que você me
convidou para tomar, afirmamos entusiasticamente que todas as
manhãs fazíamos aquele trajeto, como bons esportistas que éramos,
para começar bem o dia. Você parecia tão inocente, mas mentiu tão
cedo. Mentimos cedo demais.
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Amor de verão Regiane Folter
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Amor de verão Regiane Folter
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Amor de verão Regiane Folter
Regiane Folter
oct
Escrevo desde que me entendo por gente e nunca passo muito
tempo longe das palavras. Das 9h às 18h (ou 19h, ou 20h…)
trabalho com comunicação e marketing. No meu tempo livre leio ou
brinco de ser escritora. Também gosto de passar tempo com meus
amores, brincar com meus gatinhos, escutar música e conhecer
lugares novos. Natural de São Paulo, atualmente vivo em
Montevidéu, Uruguai.
Medium https://medium.com/@regianefolter
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Photo by Yoann Boyer on Unsplash
Amor de verão Regiane Folter
t rê s M a r i a s
Era quase meio-dia. Deitadas em esteiras de palha, na praia de
Itararé, as irmãs Maria Ana, Maria Bel e Maria Céu, em seus biquínis
coloridos, esturricavam no sol escaldante, ainda que tivessem o
saudável hábito de lambuzar seus corpos de protetor, como súplica por
uma pele sem manchas marrons.
Do outro lado do guarda-sol, deitada em uma espreguiçadeira, a
mãe das moças vigilante, atenta ao horário de exposição ao Sol.
Escutavam o burburinho das ondas batendo contra a areia fina, as
espumas formadas retornavam para o imenso mar azul.
Os corpos bronzeados das três Marias, em contraste com a brancura
da pele debaixo dos biquínis, incomodou em especial Maria Céu. Sem
mais delongas, ela tirou a parte de cima do biquíni. Seu topless causou
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Três Marias Maria Carminha Pires
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Três Marias Maria Carminha Pires
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Três Marias Maria Carminha Pires
A porta foi pequena para as três irmãs entrarem na casa, cada uma
queria agarrar a maçaneta, engalfinhando-se numa luta sem trégua,
coube à mãe das moças, toda segura de si, tirar a chave da bolsa abrindo
caminho.
Dentro de casa, as irmãs cada qual com seus celulares, acionaram a
rede social que piscava sem parar.
Maria Ana a primeira a clicar na tela negra iluminando com o clarão
seus olhos. O vídeo com milhares de visualizações, publicado “ao vivo”
por um dos turistas exaltados ao ver tanta beleza mostrava as três
Marias fazendo topless e todo alvoroço que causaram.
Maria Bel não pode conter, disparou a gargalhar (de nervoso),
perplexa diante de tanta hipocrisia. Maria Céu estupefata, boquiaberta,
olhos vidrados, paralisou-se.
Assustaram a sociedade conservadora. Exaltaram a comunidade
ativista ao direito de expressar livremente por aquilo que seguir o fluxo
natural de conduta de cada indivíduo.
Em resposta aos comentários que pipocavam em segundos, as três
Marias, em comum acordo entre as partes, organizaram em suas redes
sociais, um manifesto:
Caríssimos seguidores!
Seguindo as regras de boa conduta diante da situação que
causamos, pedimos que cada um de nossos amigos, (virtuais e não
virtuais) preencham o abaixo-assinado por nós digitado.
Colocamos à disposição dos interessados as normas:
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Três Marias Maria Carminha Pires
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Dia de Sol Margarete Bretone
livros
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Photo by Ella Geiser on Unsplash
Dia de Sol Margarete Bretone
dia de sol
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Dia de Sol Margarete Bretone
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Dia de Sol Margarete Bretone
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See you soon! Anton Roos
Margarete Bretone fc
Margarete Bretone é paulistana, caçula em uma família de quatro
irmãs, atriz e tem três livros publicados em formato de e-book na
Amazon, Um emprego para Alice, EntreLaços e Nicole.
livros
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Photo by Jennie Clavel on Unsplash
See you soon! Anton Roos
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See you soon! Anton Roos
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See you soon! Anton Roos
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See you soon! Anton Roos
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See you soon! Anton Roos
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See you soon! Anton Roos
Anton Roos fc
Jornalista, embora não atue na área há três anos. Atualmente, mora
em Dois Irmãos/RS onde é professor de inglês. É autor de alguns
livros independentes, entre eles "A gaveta do alfaiate" (2014) e
"Quando os pelos do rosto não roçam no umbigo" (2016).
Recentemente lançou "Aulas de natação e outros contos", coletânea
de contos anteriormente publicados nas coletâneas "A natureza das
coisas breves" (2017), organizado por Tiago Novaes, "Contos de
Mochila" (2018) e "Banquete" (2019) ambos publicados pela Editora
Metamorfose.
livros
Aulas de natação e outros contos
Quando os pelos do rosto roçam no umbigo
A gaveta do alfaiate
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Photo by Francesco Califano on Unsplash
See you soon! Anton Roos
a cada um seu
fa rd o
O patrão precisava de alguém que estivesse disposto a enfiar-se
naquele macacão felpudo, colocar aquela peruca com forro de espuma e
que, tal qual uma peça de costela embrulhada em papel celofane,
permanecesse ali, na frente da loja, cozinhando por algumas horas.
Demoraram a encontrar um corajoso ― ou louco ― e, em cima da hora,
sem outra opção, o primeiro candidato foi logo efetivado.
Ele, que só estava ali porque também não tinha outra opção, desde
as nove da manhã estava fantasiado, balançando uma placa com o novo
slogan e observando as pessoas passarem indiferentes. Uma ou outra
criança animava-se ao avistá-lo, mas todas se mantiveram de mãos
dadas com as mães; nenhuma criou coragem para largá-las e aproximar-
se um pouco mais. O que não causava surpresa nenhuma, afinal, aquele
rosto vermelho de ressaca, coberto de rugas ― por onde escorriam rios
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A cada um seu fardo Rodrigo Domit
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A cada um seu fardo Rodrigo Domit
tanto justa. Naquele caixote dois por três, o calor era tanto que o suor já
manchava a camisa.
Duas doses depois, o palhaço retornou à loja e já era outro sujeito,
não tremia mais a mão. O vermelho do rosto abria espaço para um
sorriso desalinhado e, além de segurar a placa, agora ele dançava.
Estava tão empolgado ― e, ainda por cima, vestido de palhaço ― que
resolveu animar a plateia. Dirigia-se aos pedestres cantando e contando
piada, tropeçava nas próprias pernas e cambaleava. Perdia a peruca e,
ao tentar recuperá-la, derrubava a placa; e acabava, por fim, lutando
para resgatar ambas e permanecer em pé.
Seria um perfeito Carlitos, não fosse o cheiro de caninha e os gestos
bruscos, desmedidos e um tanto ameaçadores. As mães, assustadas,
atravessavam a rua falando para as crianças não olharem. Os pedestres
passavam com pressa, evitando que fossem abordados. Quando não
podiam evitar, até o empurravam, antes que ele continuasse a borrifar
saliva para todos os lados enquanto falava alto demais, quase gritando.
Os dois seguranças, também cansados, embrulhados em ternos
escuros e suando a bicas, não demoraram a perceber a confusão se
formando, mas só tomaram uma atitude quando o patrão ordenou ao
moço que cuidava das coisas, pelo rádio, que cuidasse daquilo também;
e logo. Mesmo sem ser visto pelo vidro escuro, aquele senhor com nó
duplo na gravata, ainda engomada, conseguia ver tudo lá de sua sala
com ar-condicionado. Sem outra opção, o moço chamou os seguranças,
que pegaram o palhaço pelos braços.
Ao saber que estava dispensado, ele subitamente parou de sorrir,
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A cada um seu fardo Rodrigo Domit
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Minhas Pernas R.Tavares
Rodrigo Domit of
Nascido no Paraná, Rodrigo Domit vive atualmente em Santa
Catarina. É autor dos livros Colcha de Retalhos e Ruínas da
Consciência. Teve contos e poemas publicados em coletâneas e
revistas do Brasil, de Portugal e da Alemanha.
livros
Colcha de Retalhos
Ruínas da Consciência
http://rodrigodomit.blogspot.com
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Photo by Gabriel Ramos on Unsplash
Minhas Pernas R.Tavares
escolhas
Os últimos raios do pôr do sol iluminavam um kitnet do edifício
Copan. Deixavam o ambiente cinza e dourado pela pouca luz da janela.
Na pia, as panelas cheias d’água recebiam os ‘plings’ das gotas que
caíam da torneira. Esse era o único som no pequeno apartamento.
Sobre a mesa de canto os dois pratos ainda estavam cheios de
comida; o almoço ainda esperando.
À beira da enorme janela fechada estava Ana envolta de um
cobertor de estampa infantil. Semblante desfalecido, rosto em lágrimas,
segurando uma caneca de chá. O vapor subia lentamente.
Olhava os carros nas ruas centrais de São Paulo no trânsito do
horário de pico. O mar de lanternas vermelhas lá embaixo serpenteava e
fluía feito corrente de rio feroz. “Ah, paulistanos, por que a pressa em
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Escolhas Marcel Ahless
voltar pra casa? Não tem liberdade maior do que estar fora dela e da
vida que ela dá”, pensou Ana.
Atrás dela, próximo à mesa, a sombra no chão causada pela viga
da janela encobria o corpo sem vida de um homem. Ela não olhava para
ele diretamente. Diversas vezes ameaçava virar para conferir o corpo. A
mistura de sentimentos embrenhava confusão, arrependimento e dor.
O reflexo de Ana na janela lançava um olhar de acusação; julgando
suas ações: “o que você fez?” Sua vida toda era reproduzida no vidro, e
não foi nada legal de ver. Todas as cenas revelaram que nunca estivera
feliz, sequer havia percebido em seus vinte e sete anos que a vida é
realmente um ator ruim caminhando pelo palco de lá para cá, como diria
Skakespeare.
Dúvidas infantis vieram à mente em forma de experiências vividas
nos primeiros anos. Essas lembranças a trouxe de volta às poucas horas
anteriores. Moravam juntos havia um ano no apartamento exíguo.
Naquela tarde Rogério chegou de uma curta viagem de três horas de São
Paulo, quando ela preparava o almoço.
Ela não o amava mais; não sabia como dizer… havia sido criada
para sustentar o casamento a todo custo. Ana se esforçava para amá-lo.
Havia coisas nele pelas quais ela era apaixonada, mas muitas outras a
decepcionavam.
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Escolhas Marcel Ahless
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Escolhas Marcel Ahless
Marcel Ahless c
Eu queria ser Ernest Hemingway, para ter escrito "Paris é uma
Festa"; o agente duplo de Graham Greene em "O Fator Humano" ou
qualquer personagem da cabeça de Gustave Flaubert, só para ter
uma chance com Emma Bovary, mas eu sou apenas eu: dúbio duplo
que, metade de mim vive sonhando, e a outra metade é apenas
uma incerteza…
livros
Escolhas, publicado na Amazon.
Antologia de poesia "Homens Feitos de Letras", Editora Giostri
Antologia de poesia "Além da Terra, Além do Céu", Editora Chiado
Antologia "Contos Brasil", Editora Trevo
Menção Honrosa no "Concurso Internacional de Contos Vicente
Cardoso", publicação de 2019;
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Photo by Sergio Souza on Unsplash
Escolhas Marcel Ahless
sibipiruna
porque tem que ficar aqui sozinha nesse lugar desolado. Foi o que
disse Alice, a filha caçula, quando julgou estar longe o suficiente para
que a mãe não a ouvisse.
casa e o sítio. No fundo, acredita que nosso pai possa voltar e que
precisa estar aqui para recebê-lo.
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Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
Já faz 20 anos, João. Ele não vai voltar. Onde quer que tenha ido.
A mãe precisa compreender, de uma vez por todas, que ele nos
abandonou. Às vezes, eu a odeio por não querer mudar as coisas. Essa
casa, essas lembranças, tudo precisa ser esquecido...Acredita que ainda
diz “boa noite” a ele? Ouvi essa noite ― disse entrando no carro.
dos filhos que começavam uma briga por algum motivo banal.
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Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
lombo do`cês era um deus nos acuda e todos corriam para perto da
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Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
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Sibipiruna
Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
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Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
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Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
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Photo by Niko Photos on Unsplash
Sibipiruna Neuceli Maria da Silva Candido
o s e q u e s t ro
Neno reuniu os outros três na casa do Tonho, uma das poucas de
madeira da rua, o que fazia com que o calor ficasse intenso, mas a única
que tinha um quartinho da bagunça nos fundos que oferecia
privacidade. Neno apresentou a intrigante proposta, e logo vieram os
avessos:
— Não vai dar certo, nem a pau! — reclamou Beleza, suando.
— Tá louco, Neno, pirou de vez? — indagou Serjão limpando a testa
molhada.
— Eu tô com você, brother! Partiu! — para espanto de todos,
afirmou Tonho.
— Outro maluco! — revoltou-se Serjão.
— Não vai dar certo, véio! — insistiu Beleza.
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O sequestro Jeff Ferreira
constatou que a barra estava limpa e deu sinal para os outros três que
adentraram rapidamente no recinto. Numa ação tão rápida quanto uma
piscadela de um olho só, cada um pegou um:, Neno foi no Divino; Tonho,
sem hesitar, pegou o Mestre;. Beleza, morrendo de medo e com seus
pensamentos carregados com a frase “não vai dar certo”, foi no Doutor e,
culpando a si próprio pelo ato criminal, Serjão capturou o Rei. Os quatro
fugiram correndo em trotes usainboltianos, escondendo-se nas sombras
sem deixar rastros. Depois de doze minutos, que mais pareceram doze
meses, estavam no esconderijo nos fundos da casa de madeira de
Tonho, suando cachoeiras. Eles comemoraram efusivamente, se
abraçaram e cumprimentaram-se. De pé, encaravam os sequestrados:
quatro figurinhas raras da série melhores do mundo do futebol,
roubadas do riquinho Jurandir, fã incontestável do esporte, que ao
voltar para a sala após descobrir que o telefonema era fajuto se deparou
com um bilhete com a letra de Neno. Sem dúvida alguma, daria tudo o
que tinha e o que não tinha para reaver suas preciosidades roubadas da
quente sala de geografia do colégio municipal Camilo Sosa, ali mesmo
no bairro de Pirajura, neste solstício de verão.
O sequestro Jeff Ferreira
Jeff Ferreira c
Natural de Umuarama-PR e vive no interior de São Paulo, em
Jaguariúna, há mais de vinte anos. Formado em Engenharia de
Controle e Automação, mas é aficionado pela literatura e pela
música, juntou as duas paixões em seu projeto Submundo do Som,
um site para falar sobre o tema e que resultou na publicação de 3
livros, se tornando um especialista no assunto.
dalit
Ela tem esse mecanismo de defesa que a faz meio que se encolher
passivamente no meu abraço de gigante, em relação ao seu corpo
esguio.
Seus olhos penetram os meus, quando nos separamos. De novo,
aqueles olhos negros, tão gigantes e tristes, que fazem você sentir
vontade de protegê-los.
Mas não sou mais, nem quero ser, um príncipe encantado.
Mesmo assim, sempre nos encontrávamos e dividíamos o
platonismo da nossa relação. Depois da noite daquele abraço, aliás, ela
me agradeceu pelo meu autocontrole, não com todas essas palavras,
mas com muitos subentendidos.
Eu às vezes dizia que não a merecia, que não era adequado para
ela, brincando. Ela sorria toda vez. Mas de um jeito diferente, quase
subentendido. Talvez com um prazer novo, o prazer de ser e se sentir
desejada.
Essa era toda intimidade que a nossa situação permitia.
Num dos nossos encontros, ela me mostrou vídeos online, nos
quais mães ofereciam seus filhos em casamento.
Nos vídeos, os candidatos a marido pareciam todos muito tímidos,
olhando pra baixo, curvados, quase derrotados, por assim dizer.
Dalit Marcelo Mendes
Resignados. As mães falavam por eles, seguras de que eles são a melhor
opção para qualquer moçoila solteira.
Em um deles, talvez o mais memorável, enquanto o rapaz se
retorcia, a mãe descrevia suas qualidade e adicionava que ele só faria
sexo na posição papai e mamãe.
Eu juro.
Era a única posição aceitável para a tradicional família indiana.
Ríamos, mesmo sabendo que também éramos, de alguma forma,
alvo da piada.
Mas parados ali, na porta do seu apartamento, minha mente
repassava toda nossa história em minutos, mas eu vivo por esse
momento como se fossem horas. É aquele momento antes do beijo, do
carinho, da aproximação. Mas essas coisas não vêm. Só o
constrangimento de reconhecer o desejo e reprimi-lo.
Marcelo Mendes ot
Escritor de final de semana que espera resultados de escritor em
tempo integral. Lançou uma coletânea de contos sob o título Poesia
Brasileira e Outras Histórias (Design, 2010) e tem diversos artigos
sobre literatura publicados pelo mundo.
livros
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Photo by Saksham Gangwar on Unsplash
Felicidade Verdadeira Mario Sergio Ribeiro
felicidade
ve rd a d e i ra
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Felicidade Verdadeira Mario Sergio Ribeiro
importado, muito menos pela derrota do seu time, pois ele nem sequer
levava futebol a sério, mas porque a tal felicidade nunca o havia visitado.
Trabalhava duro como garçom em um restaurante mal iluminado,
abafado e quente como vapor de asfalto. Sr. Vinte, o proprietário,
ganhara esse apelido por acender charutos com notas de vinte quando
perto de mulheres bonitas ― quase sempre vinte anos mais novas que
ele. Às vezes ele bebia uma, duas, três, dez, vinte doses de vodka
durante o expediente e desmaiava atrás do balcão, sobrecarregando Ivo
com todo o trabalho, pois além das tripas que ele fazia de coração para
entregar um serviço impecável, precisava fechar as mesas, acelerar as
lesmas da cozinha, e na pior de todas as hipóteses, até ― argh! ― limpar
o vômito do patrão. Ivo, ao fim de seu expediente, deixou o restaurante e
imediatamente praguejou a temperatura infernal que fazia naquele
iluminado e inquisidor dia de extremo calor.
Todos os dias, em sua hora de almoço ou na hora da volta, ele
apostava no bicho, pois tinha a esperança de ganhar um bom dinheiro
para tirar férias de seis meses e ficar em casa assistindo Mazzaropi,
tomando água de coco gelada e jogando dardos. Por ser um rapaz
solitário, costumava jogar dardos sozinho, e até realizou alguns
campeonatos.
Ivo possuía quatro luvas. Uma vermelha, uma verde, uma rosa-
choque e uma preta. Usava-as na mão esquerda, enquanto lançava os
dardos com a outra. Cada luva simbolizava um time, cuja pontuação ele
marcava em uma pequena lousa afixada à parede. Às vezes, Lilo
aparecia e sugeria que ele o convidasse para jogar, mas Ivo nunca
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Felicidade Verdadeira Mario Sergio Ribeiro
permitiu, pois tinha medo que Lilo, por acidente, furasse os próprios
olhos com as pontas agudas dos dardos. Ivo não apreciava agir daquela
forma, mas sabia que era o mais prudente a ser feito.
Perto das sete, nos dias de calor, Ivo sentava-se no meio-fio da
calçada de sua casa com um baralho em mãos e fingia treinar alguns
truques de mágica, quando sua intenção, na verdade, era assistir sua
vizinha Helô passando, na volta do trabalho, desfilando em seus
shortinhos, fazendo com que ele não odiasse o verão por breves
instantes. Esses segundos valiam, para ele, mais que um campeonato de
dardos, e muito, muito mais que “O lamparina”, seu filme favorito.
Aqueles eram os momentos de seu dia que mais se aproximavam
daquilo que costumeiramente chamamos de felicidade.
Antes de dormir, com a sensação de missão cumprida, Ivo tomou
uma xícara de café com leite bem quente, escovou os dentes, vestiu seu
pijama de girafas e foi para a cama. Deitado, com a cabeça apoiada no
antebraço, olhava para o teto com um sorriso abobalhado no rosto,
pensando as melhores coisas possíveis sobre ela, até adormecer.
Todo santo dia, Ivo seguia a mesma rotina: Trabalho, calor, patrão
bêbado, jogo do bicho, dardos, Helô, café com leite, pijama e cama.
Numa segunda-feira tempestuosa, ganhou quarenta mil no jogo do
bicho, porém não exprimiu nenhum esboço de felicidade. No dia
seguinte, utilizou mil reais do prêmio para retirar todos seus dentes do
siso, que haviam nascido bem tortos e frequentemente espetavam a
gengiva. Quando saiu do consultório dentário, tomou um sorvete de
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Felicidade Verdadeira Mario Sergio Ribeiro
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Felicidade Verdadeira Mario Sergio Ribeiro
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Felicidade Verdadeira Mario Sergio Ribeiro
destruiu seu jogo de dardos, ateou fogo em suas luvas e jogou todas as
cartas de seu baralho pela janela.
De pijama e cartola, saiu cedo de casa na manhã seguinte e
comprou um quebra-cabeça de cinco mil peças, decidido a ficar
trancado até montá-lo todo. Oito horas depois, havia menos de trinta
peças encaixadas e, desapontado, abandonou a decisão. À mesma hora
de sempre, Ivo se sentou no meio fio e logo Lilo apareceu. Ivo havia
prometido que o ensinaria a dançar twist e decidiu colocar as aulas em
prática. Naquele dia, Heloísa voltava sozinha para casa e repugnou
aquela cena por completo, pois julgou que Ivo estava embriagado,
dando mau exemplo a uma criança. Furioso consigo mesmo por ter
passado uma má impressão, Ivo chutou seu latão de lixo e entrou, mais
uma vez sem se despedir de Lilo.
Após muitos dias testemunhando a tristeza e o desamparo de seu
amigo, Lilo decidiu convencê-lo a lutar pelo que almejava, ou seja, a ir
até a casa de Heloísa e convidá-la para jantar. Pela manhã, Lilo o
acompanhou a uma loja de roupas, ao cabeleireiro e à loja de perfumes.
À tarde, ficaram ensaiando, de frente para o ventilador, a melhor forma
de se fazer o convite. Às vinte horas, depois de ter ingerido dois ou três
calmantes naturais, Ivo respirou fundo cinco ou seis vezes e pôs-se a
caminhar em direção à casa de sua musa. No momento em que ela
atendeu a porta, ele se pôs a revelar tudo o que sentia, desde o
princípio. Aproveitou a ocasião para se explicar sobre a dança estranha
que ela o vira fazendo na rua, e por fim a convidou para jantar.
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Minhas Pernas… R.Tavares
Minhas pernas
Minhas pernas desacostumadas ao sucesso esqueceram de
pedalar
Era verão de 1993 e mais uma vez eu era a atração da rua Luiz
Mércio Teixeira. Todos já sabiam, deviam estar acostumados, mas
mesmo assim perto das cinco da tarde a gurizada parava de jogar taco e
sentava no meio fio, em frente a Igreja do Sétimo dia não sei de quem,
pra assistir meu suplício.
Todas as tardes, quando o sol já estava um pouco mais fraco, eu
abandonava os quadrinhos e saía de casa com o mesmo objetivo. Ao
lado, sempre estavam meus pais e meu irmão. Será que não estava na
hora de eles desistirem daquilo? Eu colocava uma roupa velha, que
pudesse sujar, umas joelheiras do time de vôlei do colégio e um capacete
Minhas Pernas… R.Tavares
R.Tavares ofc
R. Tavares nasceu em Bagé, em 1986. Reside atualmente em Porto
Alegre e é autor de Ainda que a terra se abra, Andarilhos, Noite
Escura, Contos Sangrentos e A tropeada. É também o idealizador e
curador do FestFronteira Literária, festival de literatura que ocorre
anualmente em sua cidade natal.
livros
Ainda que a terra se abra
Andarilhos
Noite Escura
Contos Sangrentos
A Tropeada
do pampa
ao mar
A porta do refrigerador antigo exibia o cartão postal recebido há
anos atrás, afixado por um pequeno imã cinza escuro. No retângulo
acartonado, a areia branca dividia espaço com dois tons de azul
divisando o mar do céu. À direita, um coqueiro repleto de frutos e do
lado esquerdo letras amarelas informavam o nome da praia, em curva:
“Aracaju”.
Maria Goreti sabia descrever os detalhes daquela imagem, ainda
tão fascinante mesmo depois de tanto tempo. Não se tornara invisível,
como tantos outros objetos pelos quais passamos os olhos no cotidiano;
cada vez que olhava sentia o mesmo impacto. Viu-se inúmeras vezes
correndo de pés descalços sobre o chão fofo e claro até chegar ao mar,
onde a onda bateria de leve em seus pés e ela sentiria uma alegria
imensa. Depois, curvaria o corpo até aquele vai-e-vem para oferecer seus
Do pampa ao mar Caroline Rodrigues
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ter ido com ele conhecer o mar. Passava os dedos sobre a imagem do
cartão postal, que trazia consigo quase o tempo todo.
Dois anos e meio depois do ocorrido, a filha mais velha veio com a
surpresa: ela, o marido e o filho estavam a caminho da praia e a mãe iria
junto. Ela precisaria pegar poucas roupas pois ficariam somente o final
de semana.
― Mas eu não tenho roupa de banho.
Neste momento, o menino entregou para a avó um pacote de
presente. De dentro dele, Maria Goreti retirou um maiô colorido.
Posicionou-o na sua frente e, satisfeita com o que via, abriu um largo
sorriso e abraçou a filha, que recebeu o gesto com estranheza e alegria.
Levantou-se para deixar sua bolsa preparada para a viagem que
começaria na madrugada seguinte.
Dentro do carro, as horas se arrastavam. Maria Goreti tentava se
distrair, olhando pela janela a mudança de relevo. Levou crochê para
fazer durante o trajeto, mas logo nos primeiros quilômetros sentiu-se
enjoada. O menino, ao seu lado, dormiu a maior parte do tempo. Vez que
outra conversavam amenidades.
Viajaram o dia inteiro, entre paradas para banheiro e comida, e
chegaram ao litoral no final da tarde. Cada um que saía do carro
alongava os membros o máximo possível; era o corpo cobrando por
aquela imobilidade inusitada. Os olhos de Goreti buscaram o horizonte
no final da rua e ela viu, ao longe, em um pequeno espaço emoldurado
por dois prédios, o mar. A brisa soprava com força e tinha um cheiro
desconhecido. Os espaços entre os paralelepípedos do calçamento eram
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preenchidos por uma areia tão fina quanto a que ela imaginava.
Depois de deixarem as coisas no hotel, decidiram que ainda dava
tempo para ir até a beira da praia, só para matar a curiosidade da avó.
Maria Goreti levava uma bolsa a tiracolo e usava um vestido comprado
há anos quando achou que acompanharia o marido em uma das
viagens. Conforme caminhava, a brisa ia se transformando em um vento
cada vez mais forte, que vinha de frente para eles. Ao final da rua, havia
dunas dos dois lados e à frente, uma grande extensão de areia até
chegar ao mar. Goreti estranhou aquele tom escuro de areia que deixava
o chão duro. Vez que outra, minúsculos grãos de areia voavam formando
caminhos mais claros que, ao bater nas pernas, pareciam pequenos
chicotes. E os coqueiros, onde estavam? Ali, não havia nenhum.
Avançaram em direção ao mar. Será que estavam no lugar certo? A água
ali não era nem um pouco cristalina. De qualquer forma, ela estava
determinada a fazer o que viera fazer.
Pisou na faixa molhada de areia e esperou a água vir. Estranhou as
cócegas debaixo dos pés e caminhou para trás. Viu a areia se mover e
pequenos bichos brancos desaparecerem para dentro dela. Voltou e
aguentou firme até que a onda bateu em seus pés. Era tão gelada que
sentiu o corpo todo arrepiar. O vento contínuo tornava tudo ainda mais
difícil. Avançou um pouco mais e pegou um copo de dentro da bolsa.
Quando a onda veio, encheu o copo e levou à boca. A filha olhou
espantada e se preparou para avisar, mas ao mesmo tempo, Goreti
cuspiu com força o conteúdo, fazendo uma careta.
― Aquele sem-vergonha nunca me disse que era salgada!
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Do pampa ao mar Caroline Rodrigues
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Photo by Vernon Raineil Cenzon on Unsplash
Do pampa ao mar Caroline Rodrigues
a m o re s l í q u i d o s
Os últimos dias haviam sido maravilhosos.
Se conheceram na praia, apesar de serem da mesma cidade. Ela
tinha recém colocado os pés no litoral e resolveu aproveitar o restinho
de sol à beira-mar. Levou apenas a canga, o celular e a cerveja gelada
comprada pelo caminho. Soltou a canga na areia e se sentou,
observando o mar enquanto ouvia um rock antigo nos seus fones. Por
isso não ouviu ele gritar quando o cachorro se soltou da coleira e passou
correndo por ela, derrubando a cerveja.
Ele passou logo em seguida. Pegou o cachorro pela guia quando já
estava quase entrando na água. Ela ainda tentava, em vão, se limpar da
cerveja e areia jogadas em si e na canga, quando ele voltou pedindo
desculpas pelo estrago. “Não foi nada”, disse embora estivesse
contrariada.
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queria mais perto, queria seus beijos. Depois do segundo copo, foram
para o quarto, ainda tomados pela ansiedade de terem um ao outro. Os
beijos dela arrepiavam o corpo dele inteiro, a língua dele a fazia tremer.
“Valeu adiar a recompensa” ela falou, nua, deitada contra peito
dele antes de se entregar aos sonhos. E era verdade. Passados os
primeiros beijos, ainda nervosos, a noite havia sido maravilhosa.
Dormiram abraçados a noite inteira. E ao acordar, transaram de
novo e de novo até acabarem as camisinhas. Quando acordaram do
último cochilo, já de manhã, ele lhe deu um beijo rápido e pôs-se de pé a
se vestir. Ela queria mais, mas não ousou dizer.
Já vestida, na porta do quarto, o observava enquanto ele se vestia.
Ele colocava o cinto quando seus olhos se cruzaram. Ela sustentou o
olhar como se fosse um desafio. Ele tentou, mas abaixou seus olhos
castanhos escuros para fechar a fivela e ela teve a certeza que jamais os
veria novamente.
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Mariane Lima
Livros
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Photo Mariane Lima
Mariane Lima
Edição
Mariane Lima
Revisão
Caroline Rodrigues
Curadoria
R.Tavares
Um projeto de
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