Você está na página 1de 6

Conto: o que é, características e tipos (com

exemplos)
Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras  
Salvar

O conto é um texto curto em que um narrador conta uma história desenvolvida em torno de
um enredo - uma situação que dá origem aos acontecimentos de uma narrativa.

Há poucos personagens e poucos locais, pois como a história é breve não é possível incluir
vários lugares e personagens diferentes.

Há vários tipos de contos: realistas, populares, fantásticos, de terror, de humor, infantis,


psicológicos, de fadas.

A estrutura desse gênero textual é composta por quatro partes: apresentação do enredo,
desenvolvimento dos acontecimentos, momento de tensão - clímax, e solução - desfecho.

Alguns exemplos de contos escritos pelos maiores contistas brasileiros são:

A Cartomante, de Machado de Assis


O Gato Vaidoso, de Monteiro Lobato
Presépio, de Carlos Drummond de Andrade
Feliz Aniversário, de Clarice Lispector
A Caçada, de Lygia Fagundes Telles
Conto de Verão n.º 2: Bandeira Branca, de Luis Fernando Verissimo
O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan

Características doa conto


Usar Toda Matéria com Google

O conto apresenta as seguintes características:


Gildo Ronaldo Gildo
gildoronaldogildo87@gmail.com
Espaço delimitado;
Tempo marcado; Continuar como Gildo Ronaldo

Presença de narrador;
Para criar a sua conta, a Google partilha o seu nome, o endereço de email e a imagem do perfil com a
Poucos
aplicação personagens;
Toda Matéria. Consulte a política de privacidade e os termos de utilização da app Toda Matéria.

E d
Enredo.

Espaço delimitado: o local em que se desenvolve a história é delimitado, como uma


determinada casa, rua, parque, praça. Isso acontece pelo fato de o conto ser uma narrativa
breve, em que não é possível se falar em muitos espaços diferentes.

Tempo marcado: o tempo do conto é marcado. Isso quer dizer que é possível saber em que
momento a história acontece. Esse tempo pode ser:

cronológico - quando as coisas acontecem numa sequência normal, de horas, dias, anos.

psicológico - quando as coisas não acontecem numa sequência normal, mas de acordo com a
imaginação do narrador ou de um personagem.

Narrador: a história do conto é contada por um narrador, que pode ser:

narrador observador, aquele que conhece a história, mas não participa dela.
narrador personagem, aquele que além de narrar a história, também é um dos seus
personagens.
narrador onisciente, aquele que conhece a história e todos os personagens envolvidos
nela.

Personagens: o conto contém poucos personagens, porque como é um texto breve, não é
possível incluir muitos participantes na história. Os personagens podem ser principais ou
secundários.

Enredo: o conto apresenta sempre um enredo, que é um problema ou situação que dá origem
aos acontecimentos de uma história. Ele pode ser:

linear - quando os fatos seguem uma sequência lógica, ou seja: apresentação,


desenvolvimento, momento de tensão - clímax, e solução - desfecho.

não linear - quando os fatos não seguem uma sequência lógica, ou seja, em vez de começar
pela apresentação do problema ou da situação, pode começar pela sua solução e os
acontecimentos são narrados ao longo do conto.

Tipos de contos
Dependendo da temática explorada, há diversos tipos de contos, do qual se destacam:
Contos realistas, os que narram situações realistas e não imaginárias.
Contos populares, os que narram histórias transmitidas de uma geração para outra.
Contos fantásticos, aqueles em que as histórias apresentam mistura de realidade com
cção e confundem os leitores com acontecimentos absurdos.
Contos de terror, os que narram histórias cheias de mistérios, suspense e medo.
Contos de humor, os que narram histórias que têm como objetivo divertir os leitores.
Contos infantis, os que narram histórias para crianças e que têm a intenção de transmitir
uma lição moral.
Contos psicológicos, os que narram histórias que envolvem lembranças e sentimentos, e
têm a intenção de levar o leitor a re etir.
Contos de fadas, os que narram histórias que envolvem príncipes e princesas, e se
desenvolvem em torno de um acontecimento trágico, mas que têm um nal feliz.

Os minicontos, microcontos ou nanocontos são subcategorias do conto, chamados de "contos


minimalistas".

Eles são bem menores que o conto, uma vez que podem ocupar meia página, uma página, ou
ser formado por poucas linhas.

Mesmo que não compartilhem da estrutura básica dos contos, esse tipo de texto tem
adquirido diversas formas na atualidade, sobretudo após o movimento modernista.

Dessa forma, ele deixa de lado a estrutura xa narrativa, privilegiando assim, a liberdade
criativa dos escritores.

Estrutura do conto
A estrutura do conto é fechada e objetiva, na medida em que esse tipo de texto é formado por
apenas uma história e um con ito.

Sua estrutura está dividida em três partes:

Introdução: nesse momento inicial, há uma breve ambientação do espaço, tempo,


personagens e enredo.
Desenvolvimento: aqui se desenrolam os acontecimentos da história, relacionados com o
problema ou a situação apresentados na introdução.
Clímax: quando acontece o momento de maior tensão da história.
q
Desfecho: encerramento da narrativa, em que se apresenta uma solução para o enredo.

Exemplos de conto
Trecho do conto Missa do Galo, de Machado de Assis
“NUNCA PUDE entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu
dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do
galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.

A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras
núpcias, com uma de minhas primas A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-
me bem quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar
preparatórios. Vivia tranquilo, naquela casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros,
poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas
escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e
meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses
que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e
as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte.
Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores
com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição
padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas a nal, resignara-se, acostumara-se, e
acabou achando que era muito direito.

Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os
esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem
grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria
um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e
passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa
simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não
soubesse amar.

Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia
estar em Mangaratiba, em férias; mas quei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A
família recolheu-se à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali
passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma
estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira cava em casa.

— Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.

— Leio, D. Inácia.
Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio.
Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto
a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras.
Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do
que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas,
um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns
passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi
assomar à porta da sala o vulto de Conceição.

— Ainda não foi? perguntou ela.

— Não fui, parece que ainda não é meia-noite.

— Que paciência! (...)”

Trecho do conto Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector


"Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um
busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os
dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança
devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho
barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de
paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás
escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com
barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas,
esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na
minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a
implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se car vivendo com ele, comendo-o, dormindo-
o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia
seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava
devagar num mar suave as ondas me levavam e me traziam
devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e
sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia
emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta,
saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a
andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí:
guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha
vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí
nenhuma vez.

Mas não cou simplesmente nisso. O plano secreto da lha do dono de livraria era tranquilo e
diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração
batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no
dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com
ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo inde nido, enquanto o fel
não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para
eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me
fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra."

Leia também:

Contos brasileiros que você tem que conhecer

Crônica

Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde
2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino
Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).

Como citar?

FERNANDES, Márcia. Conto: o que é, características e tipos (com exemplos). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/conto/. Acesso em:

Você também pode gostar