Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
em face de:
(5) ROGÉRIO CUNHA DE OLIVEIRA, Diretor de Óleo e Gás da Mendes Júnior Trading
e Engenharia S.A., brasileiro, divorciado, CPF 214.981.134-00, residente na
Avenida Boa Viagem, 3854, apto. 101, Boa Viagem, CEP 51021-000, Recife/PE;
Página 2 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
(12) SOG ÓLEO E GÁS S/A (SETAL), sociedade comercial, devidamente inscrita no
CNPJ 07.639.071/0001-88, com sede na Rua da Assembleia, nº 10, 41º andar,
sala 4104, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP. 20.011-901;
(14) UTC ENGENHARIA S/A, sociedade comercial, devidamente inscrita no CNPJ sob
o nº 44.023.661/0001-08, com sede na Avenida Alfredo Egídio de Souza Aranha,
nº 374, Chácara Santo Antonio, São Paulo/SP, CEP. 04.726-170;
Página 3 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
I – PUBLICAÇÕES E INTIMAÇÕES.
Página 4 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
5. Os contratos de que tratam esta Ação Civil Pública por Ato de Improbidade
Administrativa são os especificados na tabela abaixo:
6. Portanto, a presente ação não tem por objeto e não discute atos praticados pelos
réus que tenham fulminado de ilicitude outros contratos que não sejam aqueles
expressamente referidos no quadro acima. Eventuais ilegalidades observadas em
outros contratos, uma vez verificadas, poderão ser objeto de ação própria, em
outra oportunidade, a partir dos levantamentos internos feitos pela PETROBRAS
e na própria investigação no Judiciário, Ministério Público ou Polícia Federal. Do
mesmo modo, contratos celebrados por outras empresas do “CLUBE” —
Página 5 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
9. Além da identidade parcial no polo passivo da demanda, são comuns os fatos que
sustentam ambas as ações, ou seja, ambas têm como causa de pedir:
i) pagamento de propina no âmbito da Diretoria de Abastecimento da
PETROBRAS e ii) as fraudes concorrenciais, os atos de improbidade e as
consequentes nulidades contratuais decorrentes do cartel de empreiteiras que
dominou as grandes contratações da empresa. Portanto, e inclusive pela
necessidade de haver juízo único para ambos os processos como garantia de
tratamento uniforme pela Justiça em relação aos fatos e aos réus, impõe-se o
reconhecimento da conexão entre as ações em referência e da prevenção do
Página 6 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
juízo da 3ª Vara Federal de Curitiba, o que se requer com base nos artigos 103 e
105 do CPC.
10. Finalmente, importante deixar evidenciado que o pedido formulado pela UNIÃO,
muito embora detenha a mesma origem fática, é mais abrangente que o
apresentado pelo parquet na ação da qual esta é dependente, uma vez que não
se limita apenas à propina paga ao senhor PAULO ROBERTO COSTA, eis que inclui
pedido de recomposição integral do enriquecimento ilícito e dos danos
decorrentes da ilicitude, o que promove uma proteção mais amplificada dos
indisponíveis interesses da UNIÃO e da própria PETROBRAS. De toda forma,
embora o pedido seja mais amplo, por deter a mesma origem fática, remanesce
a conexão.
Página 7 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
14. Portanto, pelo que se observa, a UNIÃO dedica valores de seu próprio orçamento
para viabilizar os investimentos necessários à PETROBRAS. Em suma, além de
riquezas que a própria PETROBRAS gerava com sua atividade empresarial, é certo
Página 8 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
IV – DOS FATOS.
IV.1. DO ESCOPO INICIAL DA OPERAÇÃO.
16. Embora a ação judicial sob análise trate de um aspecto específico das
investigações empreendidas por aquela que ficou nacionalmente conhecida
como Operação Lava Jato da Polícia Federal Brasileira, consistente das relações
ilegais que PAULO ROBERTO COSTA (então Diretor de Abastecimento da
PETROBRAS) mantinha com os grupos empresariais integrantes do polo passivo
desta ação, importante delinear em linhas gerais o modus operandi desvelado
pela investigação, especialmente no condizente à participação do ex-diretor da
companhia.
Página 9 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 10 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 11 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 12 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
28. Os encontros não produziam uma ata ou relatório, mas não raras vezes os
próprios participantes faziam anotações sobre as deliberações adotadas. Nesse
sentido, dentre as provas da existência do cartel e dos encontros estão as
anotações manuscritas da reunião havida no 29 de agosto de 2008, anotações
estas feitas por MARCO BERTI, representante da ré SOG OLEO E GAS (SETAL), as
quais foram voluntariamente entregues pelo investigado colaborador
AUGUSTO RIBEIRO MENDONÇA NETO. No documento, acostado aos autos
(OUT8), foram anotadas as reclamações, pretensões e ajustes de várias
empresas em relação às grandes obras da PETROBRAS. As anotações referem-
se a um encontro ocorrido em 29 de agosto, tendo sido, inclusive, registrado
que a próxima reunião dar-se-ia no dia 25 de setembro, evidenciando a
periodicidade e regularidade dos encontros. No mesmo sentido apontam as
anotações constantes em outros documentos (OUT9 e OUT11).
29. Em 2011, a atuação do cartel elevou-se a tal nível que seus participantes
criaram um “roteiro” ou “regulamento” para o seu funcionamento, intitulado
dissimuladamente de “Campeonato Esportivo”. Esse documento, que se
encontra acostado aos autos sob a legenda OUT9, também foi voluntariamente
entregue por AUGUSTO RIBEIRO DE MENDONÇA NETO, representante da
SETAL. Trata-se, em outras palavras, das “regras do jogo” sujo praticado pelas
Página 13 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 14 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
35. PAULO ROBERTO COSTA ao ser ouvido pelo MM. Juízo da 13ª Vara Federal de
Curitiba afirmou claramente:
Página 16 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
37. Cabe aqui destacar que a ação do “CLUBE”, muito mais que violar normas legais
e gerar benefícios obtidos ilicitamente pelas empresas a ele pertencentes,
certamente, teve como consequência a produção de efeitos nocivos de
características difusas como (a) a redução do dinamismo do mercado, (b) a
inibição ao surgimento de outros players e de investimentos no país, (c) a
obstrução da ampliação do mercado de trabalho, (d) o prejuízo ao processo de
inovação e ao surgimento de novas tecnologias, (e) a criação de preços
artificiais e o prejuízo à concorrência. Assim, os prejuízos não se resumem à
PETROBRAS, mas à toda população brasileira e ao desenvolvimento nacional,
em total afronta ao artigo 170 da Constituição Federal.
38. Por todo o dano que gera à economia, à comunidade e ao Estado a cartelização,
por si só, é considerada uma prática ilegal, de modo que todo e qualquer
negócio jurídico idealizado e gestado no âmbito de um cartel afigurar-se-á
juridicamente viciado e, portanto, ilícito. A ilegalidade, outrossim, ganha maior
relevância quase se constata o cartel operou no âmbito de licitações realizadas
por uma Estatal, cujo pilar central e razão de ser é a concorrência, para, de
forma intencional e preconcebida, fatiar e direcionar as contratações.
Página 17 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
IV.3. O “CLUBE” E O PAGAMENTO DE PROPINA, COM ÊNFASE NO PAPEL DE PAULO ROBERTO COSTA.
41. Por óbvio, para o perfeito alcance dos propósitos do “CLUBE” de grandes
empreiteiras, afigurava-se necessário cooptar agentes públicos do alto escalão
da PETROBRAS. Assim, consorciaram-se ao cartel os então Diretores de
Abastecimento e de Serviços, PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE, que,
mediante o recebimento de vultuosas propinas, direcionavam as licitações e
seus objetos às empresas indicadas pelo Cartel. Segundo apontam as
investigações, outras diretorias também estariam envolvidas.
42. Para viabilizar a concretização dos ilícitos e, também, a lavagem de ativos, foi
convocado o doleiro ALBERTO YOUSSEF, bem como outros grandes operadores
e doleiros do mercado negro brasileiro e internacional, cuja participação na
Página 18 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
45. Conforme descrito por PAULO ROBERTO COSTA e por ALBERTO YOUSSEF nos
interrogatórios havidos no âmbito da Ação Penal 5026212-82.2014.404.7000, a
partir de 2005, em todos os contratos firmados pelas empresas cartelizadas
com a PETROBRAS no interesse da Diretoria de Abastecimento, houve o
pagamento de vantagens indevidas aos empregados corrompidos da Estatal e
pessoas por eles indicadas no montante de ao menos 3% do valor total dos
contratos. A propina também era paga nas hipóteses de aditivos contratuais,
ou seja, o percentual era calculado sobre o valor total dos contratos e aditivos
celebrados por empreiteiras com a PETROBRAS.
Página 19 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
1
Ele confessa haver sido indicado pelo PP para assumir a Diretoria de Abastecimento.
2
Embora o valor total da propina paga fosse de 3% do valor do contrato, apenas o montante de 1% era assenhorado por
Paulo Roberto Costa e seus consociados. Os 2% restantes tomavam outro caminho.
3
Para maiores detalhes desse procedimento, veja-se o depoimento em referência, acostado à esta petição inicial.
Página 20 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
3º. Após esta reunião o nome da escolhida era apresentado aos Diretores
4
da PETROBRAS, como PAULO ROBERTO COSTA , que atuavam
4
A esse respeito, veja-se o teor do depoimento de ALBERTO YOUSSEF prestado perante o juízo criminal (autos nº
5026212-82.2014.404.7000), conforme documento anexo.
Página 21 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 22 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
III.4. A RECEPÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA PROPINA POR EMPRESAS DE FACHADA, COM ÊNFASE NOS PAPEIS
DE PAULO ROBERTO COSTA E ALBERTO YOUSSEF.
50. De fato, a investigação apurou que um dos principais métodos utilizados para
operacionalizar, com aparência de regularidade, o repasse dos valores
indevidos consistia na celebração de contratos simulados, especialmente
relativos a serviços de consultoria, com a consequente emissão de notas fiscais
frias por meio de empresas puramente de fachada, operadas pelo senhor
ALBERTO YOUSSEF.
51. É importante destacar que ALBERTO YOUSSEF era responsável pela lavagem e
distribuição dos recursos provenientes das propinas arrecadadas por PAULO
ROBERTO COSTA, sendo que contratos realizados no âmbito de outras
diretorias da PETROBRAS podiam ter os recursos ilícitos lavrados por outros
agentes e caminhos. Assim, tendo em conta que os contratos aqui tratados
foram celebrados no interesse da Diretoria de Abastecimento, tem-se que a
sistemática revelada neste tópico foi utilizada para lavrar, ocultar ou dissimular
propinas que foram pagas durante a execução dos mesmos, ou, ao menos, de
parte delas.
Página 23 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 24 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
57. O próprio ALBERTO YOUSSEF confirma esses fatos (OUT14). No âmbito da ação
penal nº 5026212-82.2014.404.7000, ele (i) confessou que se utilizava das
empresas MO CONSULTORIA, EMPREITEIRA RIGIDEZ e RCI SOFTWARE para
operacionalizar o repasse de propinas oriundas de empreiteiras contratadas
pela PETROBRAS; (ii) afirmou que efetuava o pagamento de 14,5% do valor da
transação para WALDOMIRO DE OLIVEIRA, responsável formal pelas empresas
Página 25 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
“Mendes Júnior foi uma troca que eu fiz de reais que eu tinha, pessoal meu, e
que acabei emitindo uma nota contra ela, pra colocar dinheiro na GFD, pra fazer
investimentos. Mas os reais vivos foi repassado à agentes públicos e o Paulo
Roberto Costa.” (transcrição idêntica ao original)
59. Desta feita, diante dos diversos fundamentos acima referidos, podemos
afirmar, sem titubear, que todos os contratos firmados pelas empreiteiras que
prestavam serviços à PETROBRAS com as empresas MO CONSULTORIA,
EMPREITEIRA RIGIDEZ, RCI SOFTWARE e GFD INVESTIMENTOS, assim como as
Notas Fiscais deles derivadas, são fraudulentos, falsos e foram utilizados para
dar aparência de licitude aos recursos provenientes de suborno com o fim de
que fossem distribuídos a malfeitores.
60. Como será demonstrado adiante, o grupo MENDES JUNIOR celebrou contratos
com as empresas de fachada acima referidas, que revela o efetivo pagamento
de propina no âmbito dos contratos aqui referidos. O mesmo ocorreu com a
SOG OLEO E GAS S/A, demandada nesta ação, que também celebrou contratos
Página 26 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
61. Em outras palavras, fica claro que o mecanismo acima referido, em verdade, foi
utilizado por ALBERTO YOUSSEF, única e exclusivamente para, de forma oculta
e simulada, viabilizar o repasse do valor do suborno pago pelas empreiteiras
aos reais destinatários das propinas. Nesse sentido, cabe citar o seguinte trecho
do depoimento que ALBERTO YOUSSEF prestou à Justiça Federal (OUT14):
Página 27 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
5
A esse respeito, veja-se especialmente a tabela constante da página 18 da petição inicial do MPF.
Página 28 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 29 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
69. Com tais operações, os clientes de MEIRELLES, que lhe entregavam dinheiro em
espécie, conseguiriam fazer pagamentos no exterior com dinheiro advindo de
empresas controladas por YOUSSEF, diretamente e por intermédio de
WALDOMIRO DE OLIVEIRA. Por outro lado, ALBERTO YOUSSEF recebia dinheiro
em espécie de outros clientes de LEONARDO MEIRELLES, como retribuição
Página 30 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
70. Nesse cenário, os valores recebidos pelas empresas controladas por YOUSSEF
eram diluídos em seu caixa e, a partir daí, eram realizados os pagamentos a
PAULO ROBERTO COSTA e aos agentes públicos por ele indicados.
72. Ora, tendo em vista a incompatibilidade destes valores e de seu patrimônio com
sua renda declarada, fica evidenciada a prática de ato de improbidade a partir
do esquema até aqui decifrado pela Operação Lava Jato.
Página 31 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
IV.5. O PAGAMENTO DE PROPINA A PAULO ROBERTO COSTA APÓS A SUA SAÍDA DA DIRETORIA DE
ABASTECIMENTO DA PETROBRAS.
73. O pagamento de propinas a PAULO ROBERTO COSTA não se encerrou com a sua
saída da Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS. Provas dos autos
demonstram que mesmo na condição de ex-Diretor, ele continuou recebendo
propinas em decorrência de contratos firmados durante sua gestão,
especialmente nos casos em que a execução dos contratos —e dos pagamentos
realizados pela Estatal— se estendeu para período posterior à sua saída do
cargo. (ver OUT14, OUT26, OUT17 e OUT18)
75. Prova cabal nesse sentido advém de uma planilha apreendida na residência de
PAULO ROBERTO COSTA. Este documento indicava os contratos assinados e
“em andamento” com a COSTA GLOBAL e nelas estão relacionados contratos
com as empreiteiras integrantes do cartel e os valores pagos. De seu teor
constam menções a contratos simulados para pagamentos de propina a PAULO
ROBERTO COSTA por, pelo menos, as seguintes empresas (i) CAMARGO
CORRÊA, empresa líder do Consórcio CNCC, no valor de R$ 3.000.000,00; (ii)
QUEIROZ GALVÃO, no valor de R$ 600.000,00; (iii) IESA OLEO & GÁS, no valor
Página 32 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 33 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Interrogado: - Perfeito.
Juiz Federal: - Mas esses valores eram relativos aos valores que lhe eram
devidos anteriormente.
Interrogado: -Perfeitamente.
Juiz Federal: - Decorrentes desse...
Interrogado: -Dessa participação.
Juiz Federal: - Esquema que o senhor mencionou...
Interrogado: -Isso.
79. Por outro lado, provou-se, também, que as pessoas jurídicas (i) MO
CONSULTORIA, (ii) EMPREITEIRA RIGIDEZ, (iii) RCI SOFTWARE e (iv) GFD
INVESTIMENTOS nada mais eram do que empresas de fachada, utilizadas por
ALBERTO YOUSSEF para operacionalizar o pagamento da propina viabilizada por
PAULO ROBERTO COSTA, e que todos contratos, e suas correspondentes
transferências financeiras, eram fraudados para dar aparência de legalidade aos
valores proveniente do suborno.
80. Pois bem, relembradas tais premissas, a investigação detectou que a MENDES
JUNIOR TRADING E ENGENHARIA firmou pelo menos quatro contratos
(fraudulentos) com as empresas GFD INVESTIMENTOS e EMPREITEIRA RIGIDEZ,
tendo efetivado, ao menos, onze transferências bancárias em favor das mesmas
em um valor final de R$ 7.534.278,00 (sete milhões, quinhentos e trinta e quatro
mil, duzentos e setenta e oito reais).
Página 34 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
2º Contrato
Contratantes GFD Investimento e Mendes Junior
Identificação Contrato MITE – AEG 005 – A/2011
Inicio 10.08.2011
Fim 10.08.2012
Prestação de serviços técnicos especializados para elaboração da proposta
Objeto e apoio a suprimentos do projeto da Petrobras para a construção de
módulos
Valor Final R$ 1.000.000,00
Assinam pela Ângelo Alves Mendes
Mendes Jr Rogério Cunha de Oliveira
Nota Fiscal Emitida Nº 17 (R$ 1.000.000,00) – 02.05.2012
Transferência 16.05.2012 – R$ 938.500,00
Valor
Total R$ 938.500,00
Repassado
Página 35 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
3º Contrato
Contratantes Empreiteira Rigidez e Mendes Junior
Identificação N/D
Data Assinatura 10.08.2011
Validade 12 meses
Prestação de serviços técnicos especializados para elaboração da proposta
Objeto e apoio a suprimentos do projeto da Petrobras para a construção de
módulos
Valor Final R$ 2.108.000,00
Assinam pela Ângelo Alves Mendes
Mendes Jr Rogério Cunha de Oliveira
Nota Fiscal Emitida Nº 23 (R$ 2.108.000,00) – 02.05.2012
1ª) 25.05.2012 – R$ 989.179,00
Transferências 2ª) 25.06.2012 – R$ 494.589,50
3ª) 16.07.2012 – R$ 247.294,75
4ª) 07.06.2013 – R$ 247.294,75
Valor
Total R$ 1.978.358,00
Repassado
4º Contrato
Contratantes GFD Investimentos e Consórcio CMMS
Integrantes do Mendes Junior
Consórcio MPE Montagens
SOG Óleo e Gas (Sucedida por Toyo Setal)
Identificação CMMSSE/065/2010
Data Assinatura 23.08.2011
Validade 8 meses
Prestação de serviços de consultoria em gestão empresarial atinentes a
Objeto obras a cargo do Consórcio na Refinaria de Paulínia – UM – REPLAN, em
Paulínia/SP
Valor Final R$ 2.700.000,00
Assinam pelo José Humberto Cruvinel Resende (Mendes Jr)
Consórcio Luiz Domingos de Prince (MPE)
Ricardo Teixeira Fontes (SOG)
Nota Fiscal Emitida Nº 9 (R$ 2.700.000,00) – 02.01.2012
Transferência 05.01.2012 – R$ 2.533.950,00
Valor
Total R$ 2.533.950,00
Repassado
Página 36 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 37 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
87. Ora, é evidente que o valor dos repasses aqui detalhados estão longe de
representar o total de propina paga nos contratos assinados no interesse da
Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS, que segundo PAULO ROBERTO
COSTA equivalia a cerca 3% de cada contrato. No entanto, é certo que as provas
aqui destacas comprovam a ilegalidade, eis que demonstram a assinatura e
repasse de valores milionários a empresas que sabidamente são de fachada e
eram utilizadas, tão-somente, para proceder a lavagem do dinheiro relativo à
propina arredada por PAULO ROBERTO COSTA.
89. PAULO ROBERTO COSTA admitiu que, durante a sua gestão, em todos os
contratos celebrados no âmbito da Diretoria de Abastecimento com as
empresas integrantes do “CLUBE”, houve o pagamento de propina em
percentual próximo a 3% do valor dos contratos e seus aditivos. Assim, é correto
concluir que em todos os contratos tratados nesta ação, por terem sido
assinados durante a gestão de PAULO ROBERTO COSTA, geraram pagamento
de propinas ao então Diretor de Abastecimento da PETROBRAS e a seus
Página 38 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
90. Nesse contexto, não há dúvida de que: (i) a MENDES JÚNIOR era uma das
empresas integrantes do cartel; e (ii) os contratos referidos nesta petição, que,
em comum, têm a participação da MENDES JÚNIOR – como contratante
solitária ou em consórcio – foram maculados pela ação do cartel e pelo
pagamento de propinas a PAULO ROBERTO COSTA. Portanto,
indubitavelmente, os contratos possuem vício jurídico em sua formação e
retratam benefícios ilicitamente outorgados à MENDES JÚNIOR e suas parceiras
em cada um dos negócios, que são as demais rés pessoas jurídicas aqui
referidas.
91. Neste ponto, é importante destacar que ressalvada a empresa KTY ENGENHARIA,
todas as demais integrantes do polo passivo desta ação integravam o Cartel de
empreiteiras autodenominado “CLUBE”.
Página 39 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
93. Diante a tudo o que foi exposto, não há dúvida de que todos os parágrafos
anteriores, e as provas a eles vinculadas, comprovam todas as etapas típicas de
grandioso esquema de ilicitudes que, por anos, lesou a UNIÃO e a PETROBRAS.
Página 40 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
95. Assim, não há dúvida de que, por se encontrarem inseridos na mecânica acima
referida e brilhantemente desvelada pelas investigações já realizadas, todos os
contratos referidos nesta Petição Inicial, desde sua gênese, são nulos de pleno
direito, de modo que a sua execução, nutrida por pagamentos e aditivos
suportados pela Estatal, caracteriza inexorável ato de improbidade
administrativa a justificar a propositura da presente ação em relação aos réus.
96. Como público e notório, a apuração dos fatos relacionados à Operação Lava
Jato e à PETROBRAS são de extrema relevância para o Estado e a sociedade
brasileira. Não é sem razão que diversas autoridades da UNIÃO têm se
manifestado sobre o caso, inclusive Ministros de Estado e a própria Presidência
da República, especialmente sobre a necessidade de apuração e atuação dos
órgãos e instituições públicas. Assim, não apenas a sociedade, como o Estado
brasileiro e a própria PETROBRAS são vítimas e diretamente interessadas na
apuração e persecução judicial dos ilícitos aqui narrados. Os efeitos nefastos
causados pelos ilícitos em questão são de ordem econômica, política, jurídica e
social a não apenas justificar como impor a propositura da presente ação.
Página 41 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
97. É importante destacar que a atuação da UNIÃO não se limita à presente ação,
havendo ainda a possibilidade de outras medidas judiciais na esfera
administrativa. Na esfera administrativa caberá à Controladoria-Geral da União
atuar com base nos artigos 6º e 8º da Lei 12.846/2013 —contando com a
atuação da Advocacia-Geral da União nos termos do § 2º do artigo 6º do mesmo
diploma legal—. Na esfera judicial cível6, poderá a Advocacia-Geral da União
representar o Estado brasileiro em duas frentes (i) como autor de ação de
improbidade —o que é feito neste ato—7; e (ii) como autor de ação cível para
responsabilização de empresas em virtude da prática de atos enquadráveis no
artigo 5º da Lei 12.846/2013 8 . É nesse contexto que se insere e justifica a
necessidade propositura da presente ação.
6
O que não exclui a possibilidade de a União atuar como assistente do Ministério Público Federal em ação penal.
7
A esse respeito, vejam-se os artigos 1º e 17 da Lei 8.429/1992 c.c. o artigo 23, I, da Constituição da República.
8
A esse respeito, veja-se o artigo 19 da Lei 12.846/2013.
Página 42 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
“Art. 3º As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato
de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”.
100. A MENDES JUNIOR TRADING E ENGENHARIA S/A, que se encontra presente como
contratante em todos os contratos aqui referidos, certamente se beneficiou do
esquema corrupção na Estatal.
101. No entanto, sabemos que a empresa, por se tratar de ficção jurídica, não possui
uma atuação dissociada das pessoas físicas que a controlam, que, portanto,
devem, também, ser penalizadas com fundamento na Lei 8.429/92.
Página 43 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
104. ROGÉRIO CUNHA DE OLIVEIRA era Diretor da área de Óleo e Gás da MENDES
JUNIOR TRADING E ENGENHARIA S/A, responsável pelo gerenciamento dos
contratos firmados com a PETROBRAS. Também era um importante interlocutor
de ALBERTO YOUSSEF e PAULO ROBERTO COSTA, tendo reconhecido que
realizou reuniões com os dois, pelo que está intimamente ligado ao mecanismo
de oferecimento e pagamento de propina ao Diretor de Abastecimento da
Estatal.
Página 44 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
105. Ressalte-se que ROGERIO CUNHA DE OLIVEIRA assinou os contratos fictícios com
a GFD INVESTIMENTOS e a EMPREITEIRA RIGIDEZ na qualidade de representante
da MENDES JUNIOR, tendo reconhecido que os mesmos tinham por finalidade
efetuar o repasse da propina a PAULO ROBERTO COSTA através das empresas
operadas por ALBERTO YOSSEF. Reconheceu que passou a quantia de R$ 8,1
milhões por essa sistemática.(OUT36)
108. A MENDES JÚNIOR PARTICIPAÇÕES S/A é ré desta ação pelo fato de ser a
pessoa jurídica controladora da MENDES JUNIOR TRADING E ENGENHARIA S/A.
Nesse sentido, deve ser penalizada não apenas porque, na qualidade de holding
do grupo, auferiu benefícios econômicos a partir dos contratos fraudulentos
aqui tratados, mas também como forma de dar plena efetividade à pena
de proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente.
109. Todas as demais empresas, inclusive a KTY ENGENHARIA LTDA, que em tese não
era participante do “CLUBE” acabaram por se beneficiar das ilegalidades aqui
referidas, uma vez que os contratos dos quais tomaram parte como
consorciadas, embora ilícitos e nulos de pleno direito, por valiosíssimos e
desejados, certamente redundaram em significativas recompensas financeiras
para cada uma delas e, por gestados com fundamento em fraude e corrupção de
agentes da estatal, indubitavelmente causaram prejuízos às PETROBRAS.
111. Examinando a questão, EMERSON GARCIA E ROGÉRIO PACHECO ALVES10 assinalam que
a ação do terceiro passível de ser sancionada nos termos da LIA pode se
desenvolver em três ocasiões distintas, a saber: (a) o terceiro desperta no
agente público interesse em praticar o ato de improbidade, induzindo-o a tanto;
(b) o terceiro concorre para a prática do ato de improbidade, participação esta
que pode consistir na divisão de tarefas com o agente público ou na mera
prestação de auxílio material, o que importa em atividade secundária que visa
facilitar o atingimento do fim buscado pelo agente; ou, (c) o terceiro não exerce
qualquer influência sobre o animus do agente ou presta qualquer contribuição
à prática do ato de improbidade, limitando-se em beneficiar-se, de qualquer
forma direta ou indireta, do produto do ilícito.
112. Nesse sentido, quanto aos administradores das empresas rés arrolados como
réus, que, por livre e desimpedida vontade, utilizaram as pessoas jurídicas que
controlavam para, além de compor um cartel de empreiteiras, corromper o
agente público e com isso alcançar benefício para si e para a organização que
dirigiam, mediante o direcionamento de contratos de grandes obras da
PETROBRAS, não há dúvidas de que devem ser responsabilizados com
fundamento na Lei 8.429/92.
9
A esse respeito, veja-se MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade administrativa. p. 320-321.
10
A esse respeito, veja-se GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. p. 234.
Página 47 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
113. O mesmo ocorre com as empresas rés, que na qualidade de terceiras pessoas se
beneficiaram, e muito, dos contratos fraudados assinados com a PETROBRAS. A
responsabilidade delas, no entanto, há de ser interpretada de forma
consentânea com o disposto no artigo 942 do Código Civil, na Lei Geral de
Licitações e no Decreto regulamentador das licitações da PETROBRAS. Nesse
sentido, assim expressa o artigo 33, inciso V, da Lei 8.666/1993:
114. Do mesmo modo, o item 4.10.1, alínea “e”, do Decreto 2.745/1998, estabelece
que:
115. Assim, inegavelmente todas as pessoas jurídicas integrantes dos consórcios dos
quais a MENDES JÚNIOR fez parte devem responder com fundamento nos
artigos 3º e 6º da Lei de Improbidade Administrativa, devendo arcar com o seu
patrimônio, e de forma solidária, pelos danos que causaram à PETROBRAS e pelo
Página 48 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
enriquecimento ilícito que auferiram a partir das práticas ilícitas aqui relatadas.
Nesse ponto, importa transcrever trecho dos ensinamentos dos já mencionados
doutrinadores EMERSON GARCIA E ROGÉRIO PACHECO ALVES11, ao discorrerem acerca
da inclusão da pessoa jurídica de direito privado no polo passivo de demandas
desta natureza, verbis:
11
Ob cit. p. 643.
Página 49 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
V.3. DOS ATOS DE CORRUPÇÃO E IMPROBIDADE E A VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS PELOS RÉUS.
“Durante el debate, todos los oradores hicieron hincapié en los vínculos entre
la corrupción y los derechos humanos, desde los efectos negativos de la
corrupción en una amplia gama de derechos humanos hasta la importancia
de los derechos humanos en el fortalecimiento de las actividades
anticorrupción. Muchos reconocieron que la corrupción afectaba a todos los
países y subrayaron la necesidad de combatirla en los planos nacional e
internacional con un enfoque integral y una mayor cooperación. La corrupción
generaba injusticia y obstaculizaba el ejercicio de los derechos humanos, la
consecución del desarrollo y de los ODM, entre otras cosas, la erradicación de
la pobreza y del hambre y la prestación de servicios básicos. También limitaba
gravemente la capacidad de la administración pública para garantizar el
disfrute de los derechos humanos. La lucha contra la corrupción era un
aspecto importante para la garantía de los derechos humanos y se
necesitaban esfuerzos concertados para combatir la corrupción y sus
manifestaciones.”
14 A esse respeito, veja-se ONU. Asamblea General. Consejo de Derechos Humanos. Informe resumido acerca de la
mesa redonda sobre las consecuencias negativas de la corrupción en el disfrute de los derechos humanos. Mesa
redonda celebrada en Ginebra el 13 de marzo de 2013 (A/HRC/23/26).
Página 51 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
122. Como resultado dessa pesquisa, o Comitê Assessor do CDH da ONU elaborou o
Relatório Final A/HRC/28/73, de 05 de janeiro de 2015. Este documento foi
elaborado com base nas respostas a um questionário por 73 instituições, sendo
37 países, 16 instituições de Direitos Humanos, 14 organizações não
governamentais ou sociedade civil, e 6 organizações internacionais ou regionais
e instituições acadêmicas. No referido Relatório, o Comitê Assessor do CDH da
ONU afirma que:
“18. Esta visão é apoiada por muitas das respostas ao questionário, por
diferentes partes interessadas. As respostas deixam claro que a corrupção
tem um impacto negativo sobre o gozo dos direitos humanos. Eles
mencionam uma ampla gama de direitos humanos que podem ser violados
pela corrupção. Estes incluem os direitos econômicos e sociais, tais como o
direito ao trabalho, o direito à alimentação, o direito à moradia, o direito à
saúde, o direito à educação, bem como o direito aos serviços públicos; o
direito ao desenvolvimento; o princípio da não-discriminação; e direitos civis
e políticos, como o direito a um julgamento justo e o direito à participação do
público. Esta visão geral ilustra a tese acima referida, que quase todos os
direitos humanos podem ser afetados por corrupção;” (tradução livre)
15 A esse respeito, veja-se CIPDH. La Corrupción y los Derechos Humanos: Estableciendo el Vínculo. Disponível em:
http://www.ichrp.org/files/reports/52/131_report_es.pdf. 2009: Consultado dia 20/01/2015.
Página 52 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
124. Portanto, dada a magnitude da ação e os vários esquemas ilícitos criados pelos
envolvidos, que vão desde o suborno de agentes públicos até a lavagem de
dinheiro, os atos praticados pelos réus violaram os Direitos Humanos de todo um
povo; de toda uma nação. Foram atos extremamente graves, devendo as
instituições públicas e, de modo especial, ao Judiciário —a quem cabe a palavra
final sobre as sanções aplicáveis ao caso— a correta aplicação das normas e
princípios jurídicos a fim de recompor minimamente os direitos violados a partir
das condutas dos réus.
125. Não há dúvida, portanto, que as condutas aqui referidas portaram-se contra o
valor Dignidade da Pessoa Humana, tal como esculpido pelo artigo 1º da
Constituição. Certamente toda sociedade brasileira espera uma resposta justa e
efetiva no caso em questão.
Página 53 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
127. Nesse ponto urge destacar que, os seis contratos tratados nesta ação, desde sua
gênese, são nulos de pleno direito, eis que a sua formação foi maculada por, no
mínimo, dois vícios legais absolutamente insuperáveis: (i) foram fraudados em
sua origem por ação do cartel que se autodenominava como “CLUBE”, que
direcionou os mesmos a empresas predefinidas, em verdadeira inobservância à
indispensável concorrência, e (ii) foram formados e executados mediante
suborno de agente público, in casu, o senhor PAULO ROBERTO COSTA que era o
Diretor do setor da Estatal ao qual os contratos estavam vinculados.
128. No entanto, é verdade que embora nulos os negócios jurídicos e inválidos os seus
atos, as contratações geraram serviços, bens e benefícios em geral que foram
incorporados ao PATRIMÔNIO da estatal, cujos custos, portanto, podem ser
excluídos do cômputo do valor a ser ressarcido, desde que regularmente
comprovados pelas empresas rés. Assim, as margens de lucro havidas em cada
contrato, incluindo-se os eventuais sobrepreços praticados — que nada mais
são do que aumento artificial e ilegal do lucro —, bem como os valores relativos
às propinas que foram repassados aos agentes públicos corruptos — por não
importarem em uma contraprestação à PETROBRAS—, devem compor o
montante do ressarcimento devido.
Página 55 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
135. Assim, o somatório dos valores que se situarem dentro da das margens de
lucro praticadas, bem como os 3% relativos às propinas, pagas compõem o
ressarcimento devido pelos réus em relação aos contratos aqui tratados.
136. Por óbvio, caberá às empresas rés fazer a efetiva demonstração e comprovação
dos custos lícitos necessários à execução de cada um dos seis contratos aqui
referidos, sob pena do ressarcimento se dar pelo valor integral pago pela Estatal,
que é o ponto de partida objetivo a orientar o ressarcimento pleiteado na
presenta ação.
Página 56 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
138. Nele são apresentados os dois marcos teóricos para a identificação dos efeitos
econômicos do ato corrupto ou ímprobo, que abrangem os valores
correspondentes ao enriquecimento ilícito e aos danos causados às vítimas do
ilícito. Se tratam das teorias “do produto bruto” e do “produto líquido”. Sobre
elas assim diz o estudo:
“En ese sentido, por cuestiones de justicia y como forma de prevenir el crimen, la
teoría del producto bruto entiende que se debe diferenciar el negocio lícito del ilícito.
Es cuestión de justicia porque si no se parte del principio del producto bruto, el
Estado de Derecho —lo que incluye su Sistema Judicial, que prima por la legalidad
como principio—, (i) daría el mismo tratamiento a negocios de distintas naturalezas
—el lícito y el ilícito—; (ii) generaría desigualdad entre las personas y empresas que
actúan en la economía, pues aquellos que lo hacen lícitamente están sometidos a
mayor rigor contable, fiscal, contractual y hasta de ética empresarial, porque su
“buen nombre” será su mayor patrimonio para conquistar nuevos negocios en un
mercado de libre y justa competencia; (iii) impondría sobre el mismo Estado ya
lesionado por el ilícito practicado todo el cargo de la prueba de los posibles costes
del negocio ilícito, y; (iv) impondría sobre la sociedad todo el riesgo por eventual
fracaso del autor del ilícito16. Además, es una cuestión de prevención general, pues,
en la peor de las hipótesis, el autor perdería lo mismo que si actuase lícitamente —
eso si el Estado lograse probar los costes efectuados y sólo en ese máximo—, es
decir, en un análisis de coste-beneficio siempre se concluiría que la práctica ilícita
compensaría a la lícita17. En fin, como dicho, sin la adopción de la teoría del producto
bruto todo el riesgo de la actividad ilícita recaería sobre la sociedad ya perjudicada
por la propia práctica de la actividad delictuosa.
...
16 En ese sentido, doctrina AGUADO CORREA (2000, 101) que la adopción de la teoría del producto neto impondría al Estado
“hacer un esfuerzo y ralentizar su actividad para averiguar cuáles son las ganancias netas derivadas del delito, evitando que
el sujeto pierda aquello que ha invertido para llevar a cabo el delito, [es decir,] para el autor del hecho delictivo la comisión
del mismo y la eventualidad de ser descubierto no implica ningún riesgo de pérdida económica, al poder recuperar y
conservar los valores patrimoniales que ha invertido para la comisión del delito, arriesgándose únicamente, en el supuesto
de que sea descubierto, a no obtener ganancias, pero no a sufrir una pérdida económica”.
17 En ese sentido, véase BLANCO CORDERO (2011, 2).
Página 57 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
139. Diante desses dois marcos teóricos, o estudo aponta que o marco legislativo
brasileiro impõe a adoção da teoria do produto bruto, conforme segue:
19 En ese sentido, véase BLANCO CORDERO (2011, 6), que, después de consignar que la comisión del delito puede demandar
no sólo la realización de gastos ilícitos, como de naturaleza lícita, concluye que la adopción del “principio de ganancias
netas” impondría la deducción de eses gastos funcionales.
20 A ese respecto, la Convención de las Naciones Unidas contra la corrupción ha sido ratificada por el país en 15 de junio de
2005, vigora desde 14 de diciembre de 2005, y ha sido promulgada por medio del Decreto 5687/2006, de 31 de enero.
Página 59 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
En el contexto de las Naciones Unidas los convenios sobre drogas, crimen organizado y
corrupción utilizan el término productos para referirse al objeto del decomiso. Constituyen
productos, según estos convenios, los bienes obtenidos o derivados directa o indirectamente
de la comisión de un delito. Parece, como indican algunos jueces de los Tribunales Supremos,
que los Convenios de Naciones Unidas optan por asignar un significado muy amplio al
concepto de productos, claramente dirigido a asumir el principio de ganancias brutas.
(...)
En definitiva, el término productos a nivel internacional es lo suficientemente amplio para
comprender las ganancias brutas.”23
Así, la incorporación de la Convención de Mérida en el sistema normativo brasileño,
refuerza la adopción del concepto de producto según la teoría del producto bruto.
Por lo tanto, en el contexto jurídico brasileño, sea por razones de justicia y legalidad,
sea por los parámetros de perdimiento expresos en la nueva redacción de ley de
lavado de activos, sea por la disposición de la ley de improbidad administrativa, sea
por la propia definición asumida a partir de la ratificación y promulgación de la
Convención de Mérida con status de ley ordinaria, la definición de producto sigue la
teoría del producto bruto”. (alguns dos destaques não constam do original)
21En ese sentido, véase ZAVASCKI (2010, 15). Del mismo modo, CAMARGO (2011, 97).
22En ese sentido, véase STF, Tribunal Pleno, Acción Directa de Inconstitucionalidad – ADI 1480, poniente Ministro CELSO
DE MELLO, sentencia de 4 de septiembre de 1997, publicada día 18 de mayo de 2001.
23 A ese respecto, véase BLANCO CORDERO (2013, 136). En el mismo sentido, véase BLANCO CORDERO (2011, 6).
Página 60 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 61 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
141. No depoimento prestado por PAULO ROBERTO COSTA ao Juízo da 13ª Vara
Federal, ele assevera que um percentual de 3% relativo à propina paga a agentes
públicos e políticos era acrescido na planilha de custos da empresa, acima dos
custos indiretos e da margem de lucro (BDI):
Página 62 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
“Essa cartelização obviamente que resulta num delta preço excedente, não é? Na
área de petróleo e gás, essas empresas, normalmente, entre os custos indiretos e
o seu lucro, o chamado BDI, elas normalmente colocam algo entre 10% a 20%,
então, dependendo da obra, do risco da obra, da... condição do projeto, então de
10% a 20% pra esse, pra esse, esse BDI. O que acontecia especificamente nas obras
da Petrobras? Por hipótese, o BDI era 15%? Então se colocava, normalmente, em
média, em média, 3% a mais. E esses 3% eram alocados a agentes políticos”
142. Assim, por óbvio, embora seja inconteste que os 3% de cada contrato relativos à
propina paga a agentes da Estatal representem dano a ser ressarcido pelos réus,
já que se trata de custo ilícito indevidamente inserido e dissimulado na planilha
de valores pagos pela PETROBRAS, é importante destacar que, de acordo com o
modus operandi descortinado pela Operação Lava Jato, tais montantes devem
acrescer ao valor equivalente ao benefício econômico auferido pelas empresas
contratadas.
143. Nesse contexto, tem-se que a MENDES JÚNIOR TRADING E ENGENHARIA S/A
(conjuntamente como a sua controladora MENDES JUNIOR PARTICIPAÇÕES S/A
e os executivos SÉRGIO CUNHA MENDES, ROGÉRIO CUNHA DE OLIVEIRA, ÂNGELO
ALVES MENDES, ALBERTO ELÍSIO VILAÇA GOMES e JOSÉ HUMBERTO CRUVINEL
RESENDE) é solidariamente responsável (conjuntamente com empresas com as
quais se consorciou) pelo ressarcimento devido em todos os contratos acima
listados, pois, seja na condição de contratante unitária, seja na condição de
consorciada, de todos eles fez parte.
Página 63 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
145. Assim, as rés CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/A e KTY ENGENHARIA LTDA
responderão solidariamente pelo ressarcimento relativo ao contrato
0800.0031362.07.2 (REGAP).
146. As corrés SOG OLEO E GÁS S/A e MPE MONTAGENS E PROJETOS ESPECIAIS S/A
responderão solidariamente pelo ressarcimento devido em relação aos contratos
0800.0038600.07.2 (REPLAN) e 0800.00433363.08.2 (REPAR);
147. E, por fim, as demandas ODEBRECHT S/A e UTC ENGENHARIA S/A deverão
responder solidariamente pelo ressarcimento relativo ao contrato
0858.0069023.11.2 (COMPERJ).
Página 64 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
VI. DO PEDIDO.
Página 65 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 66 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 67 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 68 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
RELAÇÃO DE DOCUMENTOS
Página 69 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 71 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 72 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 73 de 80
Advocacia-Geral da União
Procuradoria da União no Estado do Paraná
Grupo Permanente de Atuação Proativa
Página 80 de 80