Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
006 Dogmática Católica - Cardeal Müller - P. 477-500
006 Dogmática Católica - Cardeal Müller - P. 477-500
006 Dogmática Católica - Cardeal Müller - P. 477-500
Dogmática
Católica
Teoria e prática da Teologia
do Espírito como força do poder de resposta. O Espírito ratifica nossa fé em Deus, no senhorio salvífico de Deus
no ser humano histórico Jesus de Nazaré. Por conseguinte, ao lado da relação teológico-trinitariamente fundada
e cristologicamente condensada com Jesus, o Filho encarnado, tal como de modo especial se apresenta no batis
mo, existe também uma relação especial própria, teológico-trinitariamente fundada, mas pneumatologicamente
específica com a pessoa do Espírito Santo, o qual conduz os fiéis a Cristo e ao Pai, e permite participar de sua co
munhão com o Pai e com o Filho (cf. Jo 16,13s.).
A irreversibilidade do Batismo e da Confirmação reflete ainda a impermutabilidade das missões do Filho e do
Espírito.
Na medida em que a Igreja, sob o impulso do Espírito Santo, reconheceu sua própria missão sacramental e expri-
miu-a nos ritos sacramentais concretos, ela também chegou ao firme reconhecimento da sacramentalidade própria
da Confirmação. Certamente esta se encontra em uma íntima e inseparável ligação com o batismo.
"Mas, quando a bondade e o amor de Deus, nosso Salvador, se manifestaram, Ele salvou-nos [...] lavando-nos pelo poder rege-
nerador e renovador do Espírito Santo, que Ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de
que fôssemos justificados pela sua graça, e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna" (Tt 3,4-7).
"O Nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico de seu Corpo e Sangue para
perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o sacrifício da cruz, confiando t Igreja, sua Esposa amada, o memorial da sua
morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a
alma se enche de graça e nos t■ concedido o penhor da glória futura" (SC 47).
1) A fundamentação cristológica: Jesus Cristo, o Filho encarnado do Pai eterno e o mediador do Reino de Deus
(no anúncio, na cruz e na ressurreição), instituiu a Eucaristia na Última Ceia, como uma memória real (anamnesis/
memória) de toda a sua atividade salvífica, do sacrifício de sua vida na cruz e de sua ressurreição dos mortos. Ele
é o sujeito do sacrifício da cruz e da atualização sacramental de seu sacrifício no modo da ação litúrgica da Igreja =
presença atual). Por esta razão, todos os aspectos característicos do sacrifício da cruz são dados também, sacra
mentalmente, na Eucaristia: louvor de Deus, ação de graças, pedido e expiação como aceitação da graça do agir
pactício de Deus na obediência humana.
2) A dimensão eclesial: Esta comemoração foi confiada à Igreja por Jesus até o fim dos tempos, quando Ele, com;
juiz e aperfeiçoador do universo, completar sua ação salvífica histórica. Quando a Igreja, por mandato de Jes us,
celebra a Eucaristia, por meio deste gesto ela é edificada para o que é: comunhão de vida com Cristo, sinal da uni
dade entre a Cabeça e o Corpo e dos membros do corpo entre si. Em obediência à instituição de Cristo e realizada
pela presença do Espírito Santo, a Eucaristia é autorrealização da Igreja que, por sua vez, representa o sacramento
geral do desígnio salvífico de Deus.
3) 0 aspecto teológico de gratuidade: nos sinais eucarísticos do pão e do vinho, e em todo o procedimento du
rante a refeição, o próprio Cristo comunica ao fiel a comunhão com sua divindade e com sua total humanidade fl
presença real), com sua “carne e seu sangue”. Aquele que, na fé, admite a presença de Cristo nos sinais sacramen
tais, é incluído no amor entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Nisto consiste a íntima realidade do sacrameri:
Quanto ao efeito, diz o Concilio de Florença (1439): “0 efeito que este sacramento opera na alma de quem o receie
dignamente é a união do homem ao Cristo. E como, pela graça, o homem é incorporado a Cristo e unido a seus
membros, segue-se que este sacramento, naqueles que o recebem dignamente, aumenta a graça e produz na vi4i
espiritual todos os efeitos que o alimento e a bebida materiais produzem na vida do corpo, alimentando-o, fazes-
do-o crescer, restaurando-o e deleitando-o” (DH 1322).
4) A perspectiva escatológica: na Eucaristia, a autocomunicação universal de Deus no Filho encarnado e no Es
pírito Santo permanece oferecida concretamente ao ser humano e presente no mundo até à vinda de Cristc as
final dos tempos.
5) A propósito dos sinais sacramentais, o Concilio de Florença (1439) diz, no Decreto para os armênios:
"O terceiro sacramento é a Eucaristia, cuja matéria é o pão de trigo (panis triticeus) e o vinho de uva (vinum de vite), ao qual a
da consagração se deve acrescentar alguma gota de água A forma deste sacramento são as palavras com as quais o Salx.
o produziu. O sacerdote, de fato, produz este sacramento falando in persona Christi. E em virtude dessas palavras, a substã
do pão se transforma no Corpo de Cristo e a substância do vinho em sangue. Isto acontece, porém, de modo tal que o Cristo
contido inteiro sob a espécie do pão e inteiro sob a espécie do vinho" (DH 1320-1321).
6) Ministro e receptor: o sujeito da celebração sacramental da Eucaristia é a Igreja como um todo, correspoa-
dentemente à sua forma sacramental: na medida em que o sacerdote age na pessoa de Cristo, como Cabeça :
Igreja; na medida em que os leigos, no exercício do sacerdócio comum da Igreja, representam a atitude de rece:
ção da Igreja como Corpo de Cristo em relação a Cristo-Cabeça; portanto, na medida em que a Igreja apreseol
simbólica e eficazmente a autodoação sacrifical de Jesus Cristo ao Pai e sua amorosa união com Ele.
Somente “o sacerdote legalmente ordenado segundo o poder das chaves da Igreja” possui o poder de pres
dir à celebração da Eucaristia e realizar este sacramento (DH 794; 802; 1771; 4541). Verdadeiros concelebrantej
cossacrifícantes são todos os participantes da Eucaristia (SC 48; DH 3851). Concelebrar e receber só pode exclua
vamente aquele que é batizado e se encontra em plena comunhão com a Igreja. Excluídos também estão aqueà
que perderam a graça santificante através de pecados graves.
■ \o dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião [...]. Aí se leem, enquanto o tempo o permite as Memórias dos apóstolos ou
os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos.
Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces (intercessões). Ter ninadas as orações, nos damos mutuamente
c óculo da paz. Depois, àquele que preside aos irmãos é oferecido pão e uma vasilh i com água e vinho; pegando-os ele louva e
g orifica ao Pai do universo através do nome de seu Filho e do Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças (Eucaristia),
aor ter-nos concedido esses dons que dele provêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, todo o povo
:-esente aclama, dizendo: 'Amém' [...]. Depois que o presidente deu ação de graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se
-amam ministros ou diáconos dão a cada um dos presentes parte do pão, do vinho e da água sobre os quais se pronunciou a
ação de graças e os levam aos ausentes. Este alimento se chama entre nós Eucaristia da qual ninguém pode participar, a não ser
:_e creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração e vive
::ntorme o que Cristo nos ensinou. De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira
: :mo Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos
e-sinou que, por virtude da oração ao Verbo que precede de Deus, o alimento sobn ■ o qual foi dita a ação de graças - alimento
: :m o qual, por transformação se nutrem nosso sangue e nossa carne - é a carne e > sangue daquele mesmo Jesus encarnado. Foi
que os apóstolos nas Memórias por eles escritas, que se chamam evangelhos, noi transmitiram que assim foi mandado a eles,
arando Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: 'Fazei isto em memória de mim, este é o meu corpo'. E igualmente, tomando
:álice e dando graças, disse: 'Este é o meu sangue' [...]" (1 apol. 65-67).
0 Concilio Vaticano II resume, portanto, justificadamente: “As duas partes, de que consta de certa forma a missa,
a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, estão tão estreitamente unidas, que formam um único ato de culto” (SC 56).
"Preocupai-vos em participar de uma só Eucaristia. De fato, há uma só carne de Nosso Senhor Jesus Cristo e um só cálice na
unidade do seu sangue, um único altar, assim como um só bispo com o presbitério e os diáconos, meus companheiros de serviço.
Desse modo, o que fizerdes, fazei-o segundo Deus" (Filad. 4).
Da dimensão eclesial da Eucaristia como sinal e meio da unidade da Igreja resulta também uma ligação com
o ministério que representa a unidade da Igreja, isto é, o ministério pastoral do bispo que, por esta razão, preside
à Eucaristia:
"Considerai legítima a Eucaristia realizada pelo bispo ou por alguém que foi encarregado por ele. Onde aparece o bispo, aí esteja
a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica. Sem o bispo não é permitido batizar, nem realiza'
o ágape" (Esmirn. 8,1-2).
Justino Mártir (t por volta de 165 d.C.) compreende a Eucaristia como ápice da encarnação do Logos (cf. Jo 1,14
com 6,57) e como celebração da memória da Paixão e da Ressurreição de Jesus (1 apol. 66; dial. 117,3). A Eucaristia
é sacrifício espiritual (hóstia spiritualis) da Igreja. Todos os outros sacrifícios são resumidos e sobrepujados pelo
único sacrifício de Cristo.
Irineu de Lião (haer. IV, 19,1; 18,6s.; 38,1) coloca a Eucaristia em um horizonte de teologia geral da criação. O
evento salvífico começa com a criação e visa a uma geral “restauração de todas as coisas” (cf. At 3,21) mediante
a encarnação do Logos. Portanto, uma vez que a presença de Deus na carne e no sangue de Jesus Cristo é consti
tutiva para o processo de salvação, por esta razão também o é sua apresentação simbólica nos dons eucarísticos
do pão e do vinho. Estes dons comunicam a comunhão com o Logos: a redenção. Eles são prova da bondade da
criação. Deste modo, todo princípio dualista e hostil à matéria recebe uma negação:
"Quando, pois, o cálice misturado e o pão preparado recebem o Verbo de Deus e a Eucaristia se torna Corpo de Cristo, com o
qual a substância de nossa carne ganha aumento e estabilidade, como podem dizer (os gnósticos) que nossa carne não seria capaz
de acolher o dom de Deus, que é a vida eterna, visto que tal carne, no entanto é alimentada com o corpo e o sangue do Senhor
e feita membro dele?" (haer V, 2s.)
No começo do século III, Hipólito de Roma resume, em seu modelo de oração eucarística, a práxis eucarística
dos dois primeiros séculos. Deve-se destacar, antes de tudo, a estrutura trinitária da oração (ao Pai, por Jesus Cris
to, no Espírito), o horizonte teológico-criacional e histórico-universal do acontecimento salvífico, o lugar central
de Cristo como mediador da redenção e sumo sacerdote. A Eucaristia é uma ação de graças na qual a Igreja une
a celebração da memória real dos atos salvíficos de Deus em Jesus Cristo com a própria auto-oferta responsorial
com Cristo, sua Cabeça, e unificadora no Espírito Santo, ao Pai. Elementos essenciais da celebração eucarística são,
por conseguinte: anamnese (= memória dos atos salvíficos), prosphora (= apresentação) e epiklese (= invocação do
Espírito Santo):
"Damos-te graças, ó Deus, por teu amado servo Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos enviaste como salvador, redentor e
mensageiro de tua vontade; Ele, que é teu Verbo inseparável, por quem fizeste todas as coisas e que, na tua complacência enviaste
do céu ao ventre de uma virgem; e Ele, tendo sido concebido no seio, se encarnou ■ se manifestou como teu Filho, nascido do
Espírito Santo e da Virgem. Ele, querendo cumprir tua vontade e adquirir-te um povo santo, estendeu as mãos, enquanto sofria,
para libertar do sofrimento os que creram em ti. Ele, quando se entregava ao sofrimento voluntário para destruir o poder da morte
[...] e manifestar a ressurreição [. .]. Celebrando (memores; anamnesis), pois, o memorial de sua morte e ressurreição, nós te ofere
cemos o pão e o cálice (offerimus; Prosphora), dando-te graças (eucharisteiri) porqu ■ nos tornaste dignos de estar diante de ti e de
sacerdotalmente te servir. E te pedimos que envies (Epiklese) teu Espírito Santo sobr > i oblação da tua Igreja [...]" (trad. apost. 4).
Esta identidade, vista diferentemente, do corpo histórico do homem Jesus com o corpo eucarístico ocorre
mediante a mudança dos dons do pão e do vinho na carne e no sangue de Jesus. Os termos específicos para a
transformação são metaballein/convertere.
Como, porém, elementos materiais naturais podem conter e revelar uma realidade sobrenatural? Isto só é
possível quando o Espírito criador de Deus se apossa das coisas naturais, reorienta-as e preenche-as, de modo que
o sabor físico destes dons mostre e opere a comunhão sobrenatural com o homem Jesus e com sua divindade. Isto
acontece apesar de os dons permanecerem visíveis na forma natural do pão e do vinho.
As grandes controvérsias cristológicas tiveram também efeito sobre a compreensão da Eucaristia. A funda
mentação cristológica da Eucaristia, já reconhecível em João e em Inácio de Antioquia, leva a uma comparação da
união hipostática com a unio sacramentalis do pão e do vinho com o Corpo e o Sangue de Cristo. Esta paralelização
pode dar ensejo a mal-entendidos. A unidade hipostática de duas naturezas autônomas não corresponde à trans
formação mediante a qual pão e vinho tornam-se sinais nos quais Cristo se torna presente em sua divindade e em
sua humanidade.
A fim de ir de encontro a uma elevação monofisista da humanidade de Jesus à divindade de Cristo, nos círcu
los que seguiam Nestório chegou-se a uma negação da transformação eucarística. Permanece inalterada e imutá
vel a humanidade em sua unidade com o Logos; igualmente permanecem inalterados pão e vinho em sua unidade
com a carne e o sangue de Cristo. Assim como ambas as naturezas, em Cristo, estão unidas mediante a vontade,
do mesmo modo pão e vinho também só podem estar unidos à carne e ao sangue históricos de Jesus mediante o
laço da graça (cf. GELÁSIO, P. De duabus naturis in Christo, tr. VI; Leôncio de Bizâncio, Nest. et Eut. 53). Contudo, não
se duvida de que pão e vinho sejam preenchidos pelo Espírito de Deus, que os dons, simbolicamente, comunicam
realmente uma comunhão comjesus Cristo.
Quanto à patrística oriental, João de Damasco traça um resumo. A transformação eucarística acontece median
te a descida do Espírito Santo sobre os elementos naturais, fazendo deles sinal sacramental da carne e do sangue
de Cristo. Por conseguinte, já não temos diante de nós pão ordinário, que unicamente nos oferece um apoio para
a fé subjetiva no Jesus histórico. Ao contrário, por meio dos próprios dons transformados é que Deus oferece a
presença de Cristo no Espírito. Em representação simbólica e antitípica, os dons sacramentais são idênticos ao
Corpo de Cristo, que nasceu da Virgem, jazeu na gruta de Belém, morreu na cruz e ressurgiu do túmulo.
João de Damasco explica, porém, a unio sacramentalis segundo o critério da unio hypostatica. Em sua opinião,
para atingir a ideia da transformação, ele deveria servir-se da visão alexandrina. Segundo esta, o Logos apro
pria-se imediatamente do pão e do vinho, de modo que estes dons (independentemente de sua forma física)
subsistem e inerem no Logos como o corpo histórico e físico de Jesus está verdadeíramente no Logos.
"[...] toda esta cidade resgatada, isto é, a assembléia e a sociedade dos santos, [é] oferecida a Deus como um sacrifício universal
[...] pelo Magno Sacerdote que, para de nós fazer o corpo de uma tal cabeça, a si mesmo se ofereceu por nós na sua paixão soo
a forma de escravo. Foi, efetivamente, esta a forma que Ele ofereceu, foi nela que Ele se ofereceu, porque é graças a ela que Ele
é mediador, é nela que é sacerdote, é nela que é sacrifício [...]. Assim nós, que muitos somos, constituímos em Cristo um sc
corpo [...]. Tal é o sacrifício dos cristãos: muitos somos um só corpo em Cristo. E este sacrifício a Igreja não cessa de o reproduzir
no sacramento do altar bem conhecido dos fiéis: nele se mostra que ela própria é oferecida no que oferece" (De civ. Dei, 10,6 .
No final da patrística ocidental, Isidoro de Sevilha tenta uma síntese (Etymol. 6,19,38). Infelizmente ele separa
o sacriflcium, ou seja, a presença atual do sacrifício de Cristo na liturgia sacrifical da Igreja, do sacramentam, por
tanto, da presença real do corpo e do sangue de Cristo. Assim, desenvolveu-se na Idade Média ocidental a visão
distorcida de que o sacerdote apresentaria o sacrificium para o povo, que não participava da realização litúrgica, e
que os leigos recebem simplesmente o fruto da Eucaristia na recepção do sacramento.
Aqui se encontra o início da crítica posterior de Lutero de que a Eucaristia seria um dom salvífico de Deus
(testamentum) e não uma ação de reconciliação realizada por um med1 ador salvífico humano, na forma de um sa
crificiam que colocaria em questão a suficiência do sacrifício de Cristo na cruz, Ele, que é o único sumo sacerdote
da Nova Aliança.
"que o pão e o vinho que são postos sobre o altar não são, depois da consagração, somente sacramento [= mero sinal], mas o
verdadeiro corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que podem de modo sen* ível - não só no sacramento [= como símbolo
esvaziado], mas de verdade -, ser tocados e partidos pelas mãos dos sacerdotes ou mastigados pelos dentes dos fiéis" (DH 690).
A nítida demarcação em relação a Berengário teve também como consequência uma mudança no tradicional
uso da linguagem. Até então, designava-se o corpo sacramental de Cristo como Corpus Christi mysticum, porque só
pode ser reconhecido espiritualmente na fé, ao passo que a Igreja, como comunidade visível, era chamada de Cor
pus Christi verum. Em contraposição a Berengário, agora a Eucaristia passou a ser chamada de Corpus Christi verum,
enquanto a Igreja se chamava Corpus Christi mysticum.
"[...] que o pão e o vinho que são postos sobre o altar, em virtude do mistério da santa oração e das palavras de nosso Redento-
são transformados, quanto à substância (substantialiter convertí), na verdadeira e própria vivificante carne e sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo; e que, depois da consagração, são o verdadeiro Corpo de Cristo (verum corpus Christi), que nasceu da V --
gem [...] e o verdadeiro sangue de Cristo, que foi derramado do seu flanco; não só pelo sinal e pela força do sacramento, mas na
propriedade da natureza e na verdade da substância (non tantum per signum et virtutem sacramenti, sed in proprietate naturae et
veritate substantíae)" (DH 700).
0 IV Concilio lateranense também descreve no Caput firmiter a presença real na linha da doutrina da substar-
ciação:
"Ora, existe uma Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva, e na qual o mesmo Jesus Cristo é sacerdo
te e sacrifício, cujo corpo e sangue são contidos verdadeiramente fveraciter cont nentur) no sacramento do altar, sob as espécies
do pão e do vinho, pois que pelo poder divino, o pão é transubstanciado no coipo e o vinho no sangue ftranssbustantiatis par~
in corpus, et vino in sanguinem potestate divina); de modo que, para realizar plenamente o mistério da unidade (mysterium uni-
tatis), nós recebemos dele o que Ele recebeu de nós" (DH 802; cf. DH 794).
"A Ceia do Senhor nos testemunha que temos completo perdão de todos os nossos p >cados, pelo único sacrifício de Jesus Cr stt
que Ele mesmo, uma única vez, ealizou na cruz; e também que, pelo Espírito Santo. ■ omos incorporados a Cristo, que agora, cora
seu verdadeiro corpo, não está ia terra, mas no céu, à direita do Pai e lá quer ser adorado por nós. A missa, porém, ensina que
Cristo deve ser sacrificado todo dia, pelos sacerdotes na missa, em favor dos vivos e dos mortos, e que estes, sem a missa, não têm
perdão dos pecados pelo sofrimento de Cristo; e, também, que Cristo está corporalmente presente sob a forma de pão e vinho e
por isso, neles deve ser adorado A missa, então, no fundo, não é outra coisa senão a negação do único sacrifício e sofrimento de
Cristo e uma idolatria abominável" (STEUBING, H. (org.). Bekenntnisse der Kirche. Wuppertal, 1970, p. 146).
Depois que Lutero, em 1519, em alguns sermões, havia desenvolvido uma teologia da Eucaristia de orientaçãc
completamente agostiniana, sob a ideia de uma comunhão real com a vida, o sofrimento e a ressurreição de Jesus
e da comunhão dos cristãos entre si, daí subsequente, a partir de 1520, em seus grandes polêmicos escritos refor
madores, ele fala de um antagonismo intransponível à compreensão sacramental católica e do papel da Igreja na
intermediação da salvação.
Em seu escrito Do cativeiro babilônico da Igreja, ele fala de três aprisioriamentos a que a cúria romana levou o
Sacramento da Eucaristia:
O primeiro confinamento consiste na recusa do cálice aos leigos. A comunhão sub una specie contradiría não
apenas a clara instituição de Jesus; deste modo, os sacerdotes tiranizariam também os leigos e os tornariam de
pendentes de sua pretensão de domínio. Os sacerdotes humanos, porém, não seriam mediadores da salvação. Me
diante o sacerdócio comum (lPd 2,9), estaria aberto um acesso imediato a todos os cristãos às espécies sagradas.
O segundo cativeiro consistiría na doutrina da transubstanciação, pela qual a fé estaria entregue à filosof.s
do pagão Aristóteles.
A terceira servidão seria a mais medonha. A missa como dom de Deus para nós (testamentum seu sacramenturr.
passou a ser dom do ser humano para Deus (sacrificium seu bonum opus). A Igreja teria invertido literalmente o
caminho da salvação, o qual parte de Deus para o ser humano. O ser humano faria de suas obras e méritos a base
de uma subida autônoma para Deus. Isto conduziría à autojustificação ou à autobem-aventurança. Batismo e
Eucaristia seriam, porém, sinais da bondade de Deus para conosco, confinados em formas sensíveis, não um dom
do ser humano a Deus, a fim de coagir Deus à reconciliação e ao perdão dos pecados (WA 6,520). O dom sagrado
de Deus nos sinais sacramentais só poderia ser recebido na fé pessoal e não poderia ser oferecido por outrem.
Por este motivo, o sacrifício da missa pelos mortos seria impossível; a missa seria um anúncio e, por conseguinte,
deveria ser celebrada na língua materna, e não na língua dos eruditos - o latim. A missa não seria sacrifício para
Deus, mas suma e compêndio do Evangelho do perdão gratuito dos pecados apenas (WA 6,525).
Segundo Lutero, a teologia da missa sacrifical repousa, portanto, sobre uma confusão de dom divino com
resposta humana na oração e no sacrifício:
"Por esta razão, estas duas coisas não devem ser confundidas. A missa e a oraçã > o sacramento e a obra, o testamento e o sacri
fício; efetivamente, um vem de Deus até nós mediante o ministério do sacerdote < exige a fé; o outro vem de nossa fé para Deus
mediante os sacerdotes e pede para ser atendido. Aquele desce, este sobe" (WA 6 526).
A Confessio Augustana, de 1530, resume a crítica à doutrina da missa como sacrifício (cf. CA 24).
1) Os reformadores atribuem aos católicos a doutrina de que Cristo teria morrido na cruz antigamente apenas
para a redenção do pecado original, ao passo que teria instituído a missa como sacrifício adicional mediante
o qual os sacerdotes deveríam oferecer a Deus satisfação para os pecados atuais cometidos posteriormente.
A missa diária seria necessária, portanto, para o apaziguamento cotidiano do Deus sempre de novo ofendido,
a fim de dissuadi-lo da execução de seu justificado juízo. Daí resultaria todo o feixe de inconvenientes na
práxis: a celebração mecânica e o mais frequente possível de missas, missas encomendadas e missas privadas,
missa das almas para defuntos no purgatório, a fim de abreviar-lhes os tormentos. A isto se opõe a afirmação
bíblica de que Cristo, mediante seu sacrifício na cruz, teria efetuado, uma vez por todas, a satisfação por todos
os pecados.
2) Porque Cristo teria morrido, uma vez por todas, pelos pecados de todas as pessoas, não deveria haver ne
nhum sacrifício adicional ao da cruz. A missa não podería ser uma repetição ou um complemento do sacrifício
da cruz. Contudo, visto que o perdão dos pecados seria recebido pela fé e não mediante a obra das pessoas, a
doutrina da eficácia dos sacramentos ex opere operato deveria também ser rejeitada.
3) A missa não seria nenhum sacrifício expiatório. O corpo e o sangue de Cristo não seriam dados à Igreja a fim
de que ela oferecesse Cristo como uma oferta sacrificial a Deus, entendida reificantemente, para a reconcilia
ção. A Eucaristia teria sido instituída a fim de corroborar em nós a certeza do perdão dos pecados, que teria
acontecido definitivamente na cruz, que nos teria sido eficazmente prometida na palavra do anúncio e na fé,
e recebida como puro dom de Deus.
4) Uma vez que a missa não seria nenhum sacrifício, mas um sacramentam e testamentum, todos os termos
sacrificiais deveríam ser cancelados do cânone da missa.
A divisão intrarreformadora por causa da presença real
A reforma suíça e do sudoeste alemão ensinava, com Zwínglio, uma simples graciosa-externa presença de
Cristo nas espécies eucarísticas e negava uma presença substancial (cf. .OCHER, G.W. Die Zwinglische Reformation.
Gõ, 1979, 283-343). Os sacramentos não seriam meios da graça, mas sinais da fé e marcas distintivas da confissão
cristã. Eles confirmam primeiramente não os receptores, mas a comunidade que realiza o batismo como cerimô
nia de entrada e a Eucaristia como compromisso pessoal da fé e do agir cristãos (cf. ZWÍNGLIO. De vera et falsa reli-
gione, 7III, 773-820). A missa, como memória exterior, estimularia apenas a fé subjetiva, na medida em que o fiel,
agora, no Espírito Santo, recebería a força salvífica da cruz. Depois da ascensão, o Corpo de Cristo habitaria locali-
ter no céu. Não poderia, ao mesmo tempo, tornar-se presente sobre o altar. Segundo as palavras de Jesus, “a carne
para nada” serviría (jo 6,63; Rm 14,17). Por conseguinte, o comer da carne de Cristo outra coisa não significaria
senão crer em Cristo. O est deveria ser traduzido simbolicamente por: “O pão significa (= significai) meu corpo”.
No Diálogo sobre a Religião, de Marburgo, 1529 (WA 30, II, 110-144), contra Zwínglio, Lutero insistiu em uma
interpretação fiel ao texto das palavras institucionais de Jesus. Contra uma concepção de fé idealística e espiri-
tualizante, ele enfatiza que o “é” deveria ser compreendido como uma dentidade real do pão e do vinho com o
corpo e o sangue de Cristo.
Posto que Lutero rejeite também a doutrina da transubstanciação e se aproxime mais do modelo da cor-
substanciação ou da impanação, em estreita oposição a Zwínglio, ele não deixa nenhuma dúvida quanto a uma
presença real sacramental (cf. Vom Abendmahl Christi. Bekenntnis, 1528). A Fórmula de Concórdia, de 1580, diz na
clássica formulação, que Cristo, “cum, in et sub pane” (com, no e sob o pão) estaria presente (Solida declaratio VIL
De coena Domini: BSLK 970-1016, 984, entre outras).
Contra o argumento de Zwínglio, de que o Cristo que habita o céu não poderia ao mesmo tempo estar pre
sente na forma do pão e do vinho, Lutero responde com a doutrina da ubiquidade: apoiando-se na comunicação
cristológica dos idiomas (que resulta da união hipostática), ele diz que o corpo natural de Cristo no céu, cheio da
onipresença de Deus, ligar-se-ia com o pão e com o vinho sobre o altar. Destarte, em virtude da unio sacramentalis.
o Cristo poderia estar presente em toda parte, também na celebração eucarística. E a natureza humana, cheia da
onipresença divina, estaria presente na Eucaristia por vontade de Deus contanto que a Eucaristia seja recebida
na fé (doutrina da onipresença voluntária).
Por mais que a fé, com vistas à recepção da Eucaristia, deva ser acentuada, visto que o sacramento visaria ac
despertar e ao fortalecimento da fé salvífica, seja, no entanto, mantido que não é a fé que instituiría a presença de
Cristo nas formas sacramentais. Daí se segue que tanto os fiéis quanto os infiéis usufruem sacramentaliter do Corre
e do Sangue de Cristo, uns para a salvação, outros para o juízo (cf. ICor 11,29).
Esta consequência opõe-se a Calvino (inst. chr. rei. IV, 17). Em razão da doutrina da predestinação, somente
os cristãos verdadeiramente predestinados ao céu poderíam ter autenticamente comunhão com o Corpo de Cristo
na Eucaristia. No caso da unidade das substâncias do Corpo e do Sangue de Cristo com as substâncias do pão e
do vinho em virtude da unio sacramentalis, os infiéis receberíam também, de fato, o Corpo de Cristo (manducar:
impiorum).
Por certo, Calvino, influenciado por Agostinho, pretende ver o sinal sacramental e o conteúdo do sacrament :
mais próximo um do outro do que Zwínglio. Para ele, o sacramento não é apenas um meio subjetivo de estímulo
para a fé. Mas é menos que um meio da graça, ou seja, não é nenhum sinal com o qual estaria ligado indissoluvel-
mente um dom salvífico.
A Eucaristia intermedeia a comunhão com o Corpo de Cristo no céu, mas uma presença deste corpo sobre a
terra seria impossível. As palavras da instituição teriam intenção simbólica. Contudo, o Espírito Santo faria com
que os fiéis, ao tomarem os sinais eucarísticos, realmente participem do corpo e do sangue do Cristo celestial. Por
conseguinte, o Espírito Santo realizaria um tipo de presença real que, aliás, deveria ser diferençada de uma pre
sença real sacramental. O Espírito de Deus operaria a salvação exclusivamente nos predestinados à vida eterna,
de modo que somente eles teriam comunhão com o Corpo de Cristo. Os infiéis e os predestinados à condenação
receberíam, durante a liturgia eucarística, simplesmente pão natural e vinho natural, ao passo que, de acordo
com a compreensão católica e luterana, o cristão carregado de pecados graves recebería o corpo e o sangue de
Cristo - embora para a perdição.
"As crianças que não têm o uso da razão não são obrigadas por nenhuma necessidade à comunhão sacramental da Eucaristia,
já que, regeneradas pelo banho do batismo e incorporadas a Cristo, não podem perder naquela idade a graça de filhos de Deus
anteriormente recebida" (DH 1 730; 1 734).
"Participando do sacrifício eucarístico, fonte e ápice de toda a vida cristã, [= os fiéis] oferecem a Deus a Vítima divina e com ela
si mesmos. Assim, quer pela oblação, quer pela Sagrada Comunhão, todos - cada im segundo sua condição - exercem na ação
litúrgica a parte que lhes é própria. Reconfortados pelo Corpo de Cristo na Sagrada Comunhão, mostram de modo concreto a
unidade do povo de Deus, apropriadamente significada e maravilhosamente reali/ada por este augustíssimo sacramento" (LG 11 >.
No período anterior e no posterior ao concilio, havia na teologia uma ampla discussão que queria difundir
uma melhor compreensão da presença real.
Durante muito tempo, a noção de substância causou problema devido à sua mudança de significado no final
da idade Média e começos da Modernidade. No personalismo moderno, ademais, foi criticada a metafísica clássica
da substância, orientada para a materialidade do ente. A fim de explicar o mistério da fé da presença real nesta
nova compreensão da realidade, desenvolveu-se a concepção de uma transignificação e de uma transfinalização (E.
Schillebeeckx, J. Powers, P. Schoonenberg, entre outros).
O discurso da mudança de significado e da mudança de fim, porém, não podia reproduzir completamente
a intenção declaratória da doutrina da transubstanciação, pois a transubstanciação significa uma mudança na
constituição das coisas e não apenas uma mudança do significado que o ser humano atribui às coisas. Por esta ra
zão, o Papa Paulo VI, na Encíclíca Mysterium Fideí, de 1965, reforçou a indispensabilidade da noção de transubstan
ciação, a fim de que se pudesse conservar a identidade das espécies simbólicas do pão e do vinho com a realidade
do corpo e do sangue de Cristo (DH 4410-4413).
Deve-se considerar, porém, que a mudança na constituição das espécies eucarísticas não é considerada como
físíco-sensitiva, mas ontológica. Somente o reconhecimento humano tem acesso ao ser transformado do pão e
do vinho, ainda que o ser humano não possa produzir independentemente tal mudança. Se, consequentemente,
as proposições da transfinalização e da transignificação são desenvolvidas no âmbito de uma teoria geral do sím-
bolo-real, elas podem tornar compreensíveis tanto a mudança de ser, realizada por Deus, quanto a mudança de
sentido, acessível somente pela fé. Na medida em que Deus faz dos sinais do pão e do vinho meios realistas da pre
sença da corporeidade de Cristo, eles se tornam símbolos reais que mostram e comunicam realmente a presença
de Cristo como Senhor glorioso, em sua humanidade gloriosa e em sua divindade. O portador do ser das espécies
simbólicas é o próprio Deus, que torna presente e comunicável sua singular presença na palavra eterna encarnada,
de maneira ímpar, em mediação sacramental.
"Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens vindouros. Ele atravessou uma tenda maior e mais perfeita, que não é ob'=
de mãos humanas [...]. Ele entrou uma vez por todas no santuário, não com o sangue de bodes e de novilhos, mas com o próprio
sangue obtendo uma redenção eterna [...]. Quanto mais o sangue de Cristo que, por um Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo
a Deus como vítima sem mancha, há de purificar a nossa consciência das obras mortas para que prestemos um culto ao Deus
vivo. Eis por que Ele é mediador de uma nova aliança" (Hb 9,11-15; cf. Jr 31,31; Is 24; 42,6; 52,13.15; Is 49,8: "Modelei-te e te
pus por aliança do povo [...]").
Quando o Concilio de Trento designa a Eucaristia também como sacrifício de intercessão e de expiação não
está dando a entender um acréscimo humano ao sacrifício expiatório de Cristo. Visto que a Eucaristia, como pre-
sentificação sacramental, atualiza todos os aspectos do sacrifício da cruz, nela Cristo concede aos fiéis a graça da
reconciliação. Assim, como membros do Corpo de Cristo e do novo povo da aliança, eles podem receber o dom da
reconciliação e impregná-lo em si em uma vida de seguimento de Cristo e de conformação em seu sofrimento e
em sua ressurreição (F13,20, entre outros).
Expiação, na vida cristã, não significa uma atuação que visa primeiramente à reconciliação com Deus, mas
uma ligação consciente, por meio da graça de Cristo, dos que foram reconciliados em Jesus. Ele morreu por todos,
“a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por ele” (2Cor
5,15). Deste modo, eles completam para o Corpo de Cristo, a Igreja, na vida terrena deles, “o que falta ao sofri
mento de Cristo” (Cl 1,24), isto é, a plenitude do desígnio salvífico de Deus no amor responsorial e na unificação
da cabeça e do corpo (Ef 4,13-16).
A Igreja também é designada como Corpo de Cristo (Rm 12,5; ICor 12,12-31a; Ef 1,23; Cl 1,18). Corpo significa,
falando de modo geral, a presentificação de uma pessoa espiritual e livre. Ao se falar, portanto, da Igreja como
Corpo de Cristo, expressa-se: ela é a constante presença do Senhor glorioso na comunidade visível de pessoas que
estão reunidas em seu nome Na medida em que Jesus Cristo, como cabeça, está unido à Igreja, age por meio dela
e por meio das ações simbólicas prescritas por Ele, torna-se o princípio de vida de sua Igreja. Ao celebrar a Eu
caristia, em obediência à vontade instituidora de Jesus, ela se deixa sempre de novo reconstruir, por sua Cabeça,
como Corpo de Cristo.
A fruição do corpo sacramental reúne os muitos fiéis na unidade do corpo eclesial de Cristo (ICor 10,16s.).
Igualmente os fiéis que já morreram e que foram plenificados em Cristo pertencem ao único Corpo de Cristo (Rm
10,8s.; ITs 5,9; Hb 12,22-24; Ap 6,9; 8,3).
A partir desta intuição, no curso da crescente veneração dos santos e da solidariedade com os membros de
funtos da comunidade que ainda carecem da perfeição de sua contrição e de sua conformação interior a Cristo
(Igreja padecente no processo de purificação/purgatório), resulta a concepção de que em cada celebração euca-
rística toda a Igreja, com todos os seus membros é, em Jesus Cristo, sujeito da memória sacramental. A práxis das
missas em honra dos santos e em socorro dos mortos no purgatório não surgiu de uma iniciativa própria da Igreja,
ao lado da mediação salvífica de Cristo, mas acentuava a acolhida e implementação do infinito valor do sacrifício
da cruz na subjetividade individual e coletiva da comunidade dos fiéis (veneração e solidariedade intercessora).
A dimensão eclesial da Eucaristia expressa-se também no cuidado pelo bem-estar físico do próximo, por uma
organização social, econômica e constitucional e pela justiça. Lucas via a comunhão de bens da Igreja primitiva
em estreita ligação com a Eucaristia (At 2,42; cf. ICor 11,21).
"O quarto sacramento é a Penitência, do qual são como que a matéria os atos do penitente, distintos em três grupos: o primeiro
é a contrição do coração, que consiste na dor do pecado cometido acompanhado do propósito de não pecar para o futuro. O
segundo é a confissão oral, na qual o pecador confessa integralmente ao seu sacerdote todos os pecados de que tem memória.
O terceiro é a penitência pelos pecados, segundo o arbítrio do sacerdote, à qual se satisfaz especialmente por meio da oração,
do jejum e da esmola. A forma deste sacramento são as palavras da absolvição que o sacerdote pronuncia quando diz: 'Eu te
absolvoü. O ministro deste sacramento é o sacerdote, que pode absolver com autoridade ordinária ou por delegação do superior.
O efeito deste sacramento é a absolvição dos pecados" (DH 1323).
"Os que procuram o Sacramento da Penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa E ele infligida e ao mesmo
tempo se reconciliam com a Igreja, que feriram com seu pecado, mas que pela caridade, exemplo e oração trabalha por sua con
versão" (LC 11; cf. PO 5).