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A EDUCAÇÃO COMO FATOR DETERMINANTE PARA O DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONÔMICO: UM OLHAR SOBRE O ASSENTAMENTO SANTO AMARO


II – PALMAS/TO (2014/2)

LEITE, Claudiney & SPADA, Arlenes1; CARDOSO, Alaídes2; GONÇALVES, Isabel3;


HERMÍNIO, Sheila4; PORTO, Silvânia 5

RESUMO

Fundamentado na educação como processo de socialização do indivíduo esse estudo


tem por objetivo conhecer o nível de instrução dos moradores do assentamento Santo Amaro
II, em Palmas/TO e os impactos provocados pela educação informal, ou pela ausência desta,
na vida das pessoas daquela comunidade. Optou-se pelo tema educação, por ser a formação
escolar uma ferramenta de extrema importância para o progresso de todo indivíduo, seja no
aspecto econômico, social ou cultural. O estudo compreende uma pesquisa de campo,
bibliográfica e telematizada, de natureza quanti-qualitativa, que utilizou como ferramenta de
coleta de dados a entrevista semiestruturada com 17 famílias. A entrevista foi composta de 15
perguntas, dez fechadas e cinco abertas. Os resultados revelaram que a comunidade apresenta
um baixo número de indivíduos alfabetizados e, principalmente, de pessoas com curso
superior. Enquanto o Censo de 2010 apresenta uma taxa de analfabetos de 5,0% em Palmas, a
pesquisa revela 37,2%, no Santo Amaro II, o que representa um número 7,4 vezes maior de
analfabetos, comparando com dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013),
para a Capital. Tal realidade aponta para a necessidade urgente de ações com vistas à elevação
desses indicadores. A prática de construir indicadores enriquece muito o aprendizado
acadêmico, principalmente quando percebemos no entrevistado o interesse no repasse da
informação. Os resultados deste trabalho contemplam o objetivo do estudo, pois revelaram
fatores que podem estar contribuindo para a situação que ora se apresenta como também foi
possível apontar sugestões de minimização do problema.

Palavras chave: Educação, Conhecimento, Crescimento, Transformação.

1
Resumo construído a partir do relatório de pesquisa apresentado no 6º período (2014/2) às matérias de
Estatística e Análise de Indicadores Sociais, do Curso de Serviço Social da Unitins – Câmpus Palmas - sob
orientação, respectivamente, dos professores: Arlenes Delabary Spada – Doutoranda em Educação Matemática;
Mestra em educação e Especialista em matemática, ciências e suas tecnologias; Graduação em matemática;
arlenes.ds@unitins.br e Claudiney Leite de Souza - Especialista em Políticas Publicas e MBA em Gestão de
Pessoas; Bacharel em Serviço Social pela Ulbra-TO; Bacharel em Teologia CES- Juiz de Fora/MG;
claudiney.ls@unitins.br.
2
Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) – Unitins; Acadêmica do 8º período de Serviço Social –
Unitins; alaidescd@gmail.com.
3
Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) – Ceulp Ulbra; Acadêmica do 8º período de Serviço Social –
Unitins; isacristina.jornalismo@gmail.com.
4
Especialista em Gestão Pública – UFT; Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) – Unitins; Acadêmica
do 8º período de Serviço Social – Unitins; sheilaherminio.jornalista@gmail.com.
5
Acadêmica do 8º período de Serviço Social – Unitins; silvania-porto@hotmail.com.
REFERÊNCIAS

Nas periferias de toda cidade existem milhares de famílias trabalhadoras. Essas


famílias têm em abundância a escassez de tudo. Em razão disso, estão mais propensas aos
diversos tipos de violência, convivendo também, mais proximamente com o desemprego, as
drogas e a marginalidade. A educação informal, para essas famílias, apesar de existir
consenso de sua importância para transformação da realidade, está no último degrau de
classificação das suas necessidades, porque entre suas urgências, a principal, é a necessidade
de sobreviver.
De acordo com o Portal da Educação os programas federais contemporâneos de
combate ao analfabetismo garantem material escolar, alimentação e transporte. Isso é muito
pouco, pois grande parte dessas pessoas continua indo à escola pela necessidade de garantir a
refeição diária. Por isso é importante frisar a urgência de uma ação mais efetiva, focada,
principalmente, na formação da consciência crítica do indivíduo e na exploração de suas
potencialidades, caminho possível para transformação de sua realidade. Isso é educar. Isso
requer romper com o passado e ir além do simples construir escolas e “passar informação”.
Ao receber educação, automaticamente, uma pessoa absorve informações que se
transformam em conhecimento. Esse processo educativo se materializa em valores e
habilidades, os quais provocam no indivíduo mudanças de ordem emocional, intelectual e
social. De acordo com Gramsci (1979) a educação escolar é um complemento desse processo
de formação. É através da escola que uma sociedade transmite às suas gerações, de forma
ordenada, as informações, ideias e fatos necessários à preservação de sua existência coletiva.
Esta pesquisa tem como objeto de estudo o impacto da educação na vida da população
do Assentamento Santo Amaro II, em Palmas/TO, que por ora, chamaremos apenas de Santo
Amaro II. A comunidade é formada por cerca de 200 pessoas distribuídas em 70 famílias. O
estudo parte do pressuposto que na sociedade contemporânea a educação se configura
condição sine qua non para a renovação, progresso, transformação e mudança dos indivíduos
e suas realidades. Pretende-se como resultado, conhecer a realidade educacional dos
moradores do Santo Amaro II e levantar informações que possam subsidiar estudos
posteriores, relacionados com o tema em questão e que objetivem transformar a realidade
posta. A escolha da temática se deu pela necessidade de trazer para o debate a “educação
transformadora”, que está muito além do simples “ler e escrever”. Entende-se que é
importante fomentar a discussão sobre um tema, ao mesmo tempo, atual, relevante e carente

2
de iniciativas. A pesquisa baseia-se, portanto, no que está disposto na Constituição Federal de
1988 (CF) e utiliza como fundamentação teórica Antonio Gramsci (1979) e suas concepções
para a educação.
O estudo compõe-se de uma pesquisa de campo, bibliográfica e telematizada e optou-
se pela entrevista semiestruturada como ferramenta para a coleta dos dados. A entrevista em
questão continha 15 perguntas, sendo: dez fechadas e cinco abertas. A primeira parte
contribuiu para fazer uma análise da comunidade sob diferentes aspectos. Já com as perguntas
abertas, segunda parte, buscou-se identificar a percepção e à importância dada pelos
entrevistados ao tema educação. A pesquisa bibliográfica e a telematizada foram de
fundamental importância no embasamento do estudo, enriquecimento do debate e alcance dos
objetivos. A natureza qualitativa da pesquisa está presente no levantamento de informação
junto aos participantes, quando se busca conhecer as subjetividades da realidade vivenciada e
o caráter quantitativo, pode ser visto na segunda fase, quando da apuração dos resultados e
exposição destes. A análise dos dados e os resultados obtidos foram transcritos e estão
apresentados, na sequência. Optou-se pela utilização de cálculos percentuais e gráficos, para
melhor compreender a realidade educacional da comunidade pesquisada.

QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS

A entrevista continha 15 questionamentos, que foram condensados na representação.


Os resultados obtidos estão dispostos nos gráficos que seguem:

3
Após a tabulação das informações foi possível obter uma visão geral da educação na
comunidade. Na sequência, a leitura dos gráficos com nível de instrução dos indivíduos:

GRÁFICO 1. MORADORES QUE SABEM LER E ESCREVER: O gráfico mostra que do


total de entrevistados 62,8% lêem e escrevem. 37,2% são analfabetos.

GRÁFICO 2. PESSOAS QUE CONCLUÍRAM OU CURSAM O ENSINO


FUNDAMENTAL: De acordo com o gráfico apenas 29,5% da população concluiu ou está
cursando o ensino fundamental. 70,5% dos assentados não concluíram o 1º grau.

GRÁFICO 3. MORADORES QUE CURSAM OU CURSARAM O ENSINO MÉDIO:


Apenas 15,4% dos moradores do Santo Amaro II concluíram ou estão cursando o ensino
médio. 84,6% não iniciaram o 2º grau.

GRÁFICO 4. PESSOAS QUE CONCLUÍRAM OU ESTÃO CURSANDO O ENSINO


SUPERIOR: De acordo com o gráfico somente 1,3% da população do Assentamento concluiu
ou está cursando o ensino superior. Os outros 98,7% não tiveram acesso à faculdade.

O estudo permitiu saber ainda, que em 23,5% das residências pesquisadas, pelo menos
um morador já frequentou curso profissionalizante. 76,5% das pessoas nunca tiveram acesso a
nenhum curso de aperfeiçoamento e, dos 23,5% que tiveram acesso, o curso resultou em
oportunidade de trabalho para 50,0% destes.
Comparando os resultados e gráficos com os dados da cidade de Palmas/TO, obtidos
no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 - http://www.atlasbrasil.org.br/
2013/pt/perfil/palmas_to, percebemos que o Santo Amaro II está muito aquém da média
municipal. Enquanto, pelo Censo de 2010 a taxa de analfabetos em Palmas é de 5,0%, no
Santo Amaro II o índice apresentado é de 37,2%, o que representa um número 7,4 vezes
maior de analfabetos, comparando com a Capital. Destarte, é possível perceber que as
informações resultantes do estudo estão na contramão do divulgado pela Pesquisa Nacional de
Amostras por Município, revelando um abismo entre a metodologia utilizada pelo governo
para conhecimento da realidade social e o contexto histórico e cultural vivenciado pelas
diversas comunidades, a exemplo do Santo Amaro II. A discussão nos leva a repensar os
métodos utilizados e se eles realmente retratam a realidade.
Observou-se ainda, que se somados os índices de indivíduos que concluíram ou
cursam o ensino fundamental, médio e superior, obtêm-se um percentual de 46,2% da
população do Assentamento, o que mais uma vez, é um índice que está muito abaixo da média

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apresentada pelo Censo 2010 para Palmas. Comparando-se este índice com o de
alfabetizados, podemos ainda inferir que 16,6% da população daquela comunidade, são
aqueles indivíduos considerados alfabetizados funcionais, o que não atende completamente as
definições de acesso à educação, como preconizado pela CF de 1988. Outro ponto que
demonstra uma defasagem muito grande em relação aos números totais de Palmas é o índice
da quantidade de indivíduos com nível superior completo ou em curso. Enquanto para a
capital esse número é de 20,1%, no Assentamento, não passa de ínfimos 1,3%, ou seja, 20,5
vezes menor. De acordo com a Constituição Federal de 1988:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e


incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
(CF, 1988 - Art.205).

Entretanto, dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad),
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012 e divulgada em
setembro de 2013, mostram que a realidade brasileira no quesito educação, está muito longe do
ideal. Segundo essa pesquisa, a população de analfabetos acima de quinze anos no Brasil, supera a
casa dos 13 milhões. (PORTAL BRASIL, 2013).
É fato, que a educação no País, nos últimos anos, tem apresentado melhoras no que
tange a erradicação do analfabetismo. Entretanto, é importante lembrar que o simples saber ler
e escrever não muda a realidade de ninguém. Para que o indivíduo se torne independente e
autor de sua história, é preciso toda uma construção. Nesse sentido, Gramsci (1979) defende a
necessidade de uma escola humanista. Única e igual para todos. Que proporcione
conhecimento, mas um conhecimento crítico. E que dentro das realidades históricas de cada
indivíduo, lhe proporcione também, as condições para se tornar autônomo.

A tendência hoje é a de abolir qualquer tipo de “escola desinteressada” (não


imediatamente interessada) e “formativa”, ou conservar delas tão-somente um
reduzido exemplar destinado a uma pequena elite de senhores e de mulheres que não
devem pensar em se preparar para um futuro profissional, bem como a de difundir
cada vez mais as escolas profissionais especializadas, nas quais o destino do aluno e
sua futura atividade são predeterminados. A crise terá uma solução que,
racionalmente, deveria seguir esta linha: escola única inicial de cultura geral,
humanista, formativa, que equilibre equanimente o desenvolvimento da capacidade
de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das
capacidades de trabalho intelectual. Deste tipo de escola única, através de repetidas
experiência de orientação profissional, passar-se-á a uma das escolas especializadas
ou ao trabalho produtivo. (GRAMSCI, 1979 - p. 118).

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Dessa forma, tendo em vista que a educação é o caminho possível para um indivíduo
emancipado, é preciso que a educação escolar seja transformada em um instrumento de
formação de consciência crítica. Assim, o sistema brasileiro de educação precisa avançar na
efetivação desse direito, ao mesmo tempo, básico e essencial, contribuindo de fato para o
alcance da dignidade do cidadão e para a existência de uma nação melhor.
Os indicadores construídos a partir dessa pesquisa permitiram conhecer o nível de
instrução dos moradores do Assentamento Santo Amaro II, em Palmas/TO e traçar um perfil
da educação naquela comunidade, identificando ainda, dificuldades que afetam diretamente a
realidade daqueles assentados. A partir desse estudo, seria de grande importância que os
governos municipal/estadual formulassem e colocassem em prática ações direcionadas àquela
comunidade, com vistas a minimizar os problemas que separam àquelas pessoas do âmbito
escolar e dos demais grupos sociais necessários a um desenvolvimento saudável. Isso sugere
em caráter imediato a instalação de creches mais acessíveis às crianças e à facilitação do
acesso a cursos profissionalizantes e projetos esportivos, culturais, etc., para adolescentes e
adultos, o que além de tirá-los da ociosidade, contribuiria para o seu progresso pessoal e
social. É preciso evitar que a ampliação desses problemas retorne situações mais graves.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Visitado às 19 horas e 18


minutos do dia 15/11/2014. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil
/palmas_to

BRASIL, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília-DF, 2000.

BRASIL. PNAD 2012: Cai o percentual de pessoas sem instrução. Visitado às 21 horas e 20
minutos do dia 07/11/2014. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/educacao/2013/09/
pnad-2012-cai-o-percentual-de-pessoas-sem-instrucao.

GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro:


Civilização brasileira, 1979.

PORTAL DA EDUCAÇÃO. A educação como fator de transformação. Visitado às 12


horas e 50 minutos do dia 27/11/2014. Disponível em: http://www.portaleducacao
.com.br/pedagogia/artigos/42462/a-educacao-como-fator-de-transformacao.

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