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1. Histórico
Conhecido inicialmente como “teste por tinido”, por ser utilizado na comparação do som
emitido por uma peça forjada ou fundida quando submetida ao golpe de um martelo. A avaliação
era feita pela comparação com um padrão livre de descontinuidades.
As primeiras experiências com energia ultra-sônica foram realizadas na antiga União
Soviética por Sokolov e na Alemanha por Mulhauser em 1929. A energia ultra-sônica era emitida
por uma face da peça e recebida pela face oposta.
A técnica utilizada hoje de “trens de ondas” foi desenvolvida por Firestone em 1942, sendo
utilizada para detecção de submarinos (SONAR). A partir de 1945 desenvolveu-se como uma
poderosa ferramenta para o controle de qualidade de materiais. Pela sua versatilidade tem aplicação
em várias áreas como: odontologia, medicina, indústria aeronáutica, naval, nuclear, mecânica, de
alimentos, etc.
2. Conceitos
2.1 Onda
Ao atirarmos uma pedra nas águas calmas de um lago, veremos o aparecimento de círculos
concêntricos a partir do local onde a pedra caiu. Se no caminho destas ondas houver uma folha,
verificaremos que a folha ondula com a água, mas que não se afasta do seu local inicial. A
ondulação da folha mostra-nos que ela recebeu energia para se movimentar para cima e para baixo.
Uma corda quando movimentada para cima e para baixo bruscamente provoca uma
perturbação que caminha ao longo da corda.
A perturbação é chamada de pulso e o movimento do pulso constitui a onda.
Onda é uma perturbação que se propaga através de um meio.
Toda onda transmite energia, sem transportar matéria.
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As ondas longitudinais se propagam nos meios sólidos líquidos e gasosos e possuem
velocidade de propagação maior que as ondas transversais.
Exemplos da velocidade de propagação das ondas longitudinais em alguns meios:
Aço - 5920 m/s
Água - 1480 m/s
Ar - 330 m/s
Alumínio - 6230 m/s
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A velocidade de propagação de uma onda depende fundamentalmente do meio que ela
percorre. Para diferentes tipos de materiais temos diferentes tipos de velocidades de propagação.
Estas três características das ondas são relacionadas entre si pela seguinte equação:
V = λ.f
Onde: V = velocidade do som no meio (depende do tipo de onda transversal/longitudinal)
λ = comprimento de onda
f = freqüência de vibração da onda
Com base nas informações sobre o material que estamos ensaiando e o tipo de onde que
utilizamos, podemos determinar o comprimento da onda utilizada. Esta informação tem grande
importância, pois, a capacidade de detecção de descontinuidades num material é função do
comprimento de onda utilizado. As descontinuidades podem ser identificadas até o valor mínimo
de meio comprimento de onda.
Exemplo:
1- Inspeção em chapa de aço com ondas longitudinais e freqüência de 4 MHz.
V = 5920 m/s
f = 4.000.000 Hz
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ONDA V1 V2 V1
INCIDENTE REFLEXÃO
OT
β OL
OL
α α
MEIO 1
OL MEIO 2
ϕ
δ V4
OT
V3
REFRAÇÃO
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O campo distante começa no final do campo próximo. Esta é a região mais confiável para
utilização no ensaio.
No ano seguinte, G. Lippmann descobriu que o inverso do efeito piezelétrico também era
verdadeiro. Aplicando-se cargas elétricas na superfície destes cristais, originavam-se deformações
dos mesmos.
Quando aplicamos uma corrente alternada na superfície de um cristal, há uma vibração do
cristal a uma determinada freqüência. Quando aplicamos uma corrente alternada de alta freqüência
num cristal piezelétrico, ele vibrará na mesma freqüência gerando o ultra-som.
Na recepção, ocorre o inverso: o ultra-som fará vibrar o cristal, gerando um sinal elétrico de
alta freqüência.
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Os materiais mais utilizados na geração/recepção de ultra-som são os cristais de sulfato de
lítio, titanato de bário e o quartzo.
4. Transdutores
São os dispositivos que convertem um tipo de energia em outro. No caso do ultra-som os
transdutores convertem energia elétrica em mecânica, quando estão emitindo as ondas de ultra-
som, e energia mecânica em elétrica, quando estão recebendo as ondas de ultra-som que retornam
da peça inspecionada.
São normalmente conhecidos como cabeçotes e composto de uma carcaça para possibilitar
o manuseio, onde estão montados internamente o cristal piezelétrico num bloco amortecedor e o
conector com os terminais ligado ao cristal. O bloco amortecedor suprime todas as vibrações
indesejáveis do cristal no transdutor. A face de contado com a peça é normalmente confeccionada
em material plástico, existindo transdutores com a superfície de contato protegidos por uma
película plástica, que pode ser substituída.
São identificados pelo ângulo de trabalho, freqüência e tamanho do cristal. Os transdutores
podem variar quanto a freqüência de 0,5 a 25 MHz, sendo os mais encontrados na faixa de 1 a 6
MHz. Quanto ao tamanho, podem varia de 5 a 25 mm de diâmetro.
D = V.T
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4.2 Transdutor Angular
Transdutor composto por um único cristal que emite e recebe ondas na direção oblíqua à
sua superfície. São montados numa cunha que possui uma superfície inclinada em relação a base
do transdutor. A onda que sai do transdutor é refratada no material inspecionado e devido à
mudança do modo de vibração da onda, na peça só existirá onda transversal.
Os transdutores angulares são confeccionados de maneira que a onda longitudinal refratada
tenha um ângulo maior que 90º e somente a onda transversal penetre na peça ensaiada.
Utilizando-se da equação do item 2.5 podemos verificar o menor ângulo de trabalho para
que as ondas longitudinais sejam totalmente refletidas.
Sabendo-se que a cunha onde é montado o cristal é confeccionada em acrílico com
velocidade longitudinal de 2730 m/s e que a peça ensaiada é confeccionada em aço carbono com
velocidade longitudinal de 5920 m/s e velocidade transversal de 3250 m/s, podemos fazer o
seguinte cálculo:
β = 90º
sen α = sen 90º α = arc sen 2730 sem 90º
2730 5920 5920
α = 27,5 º menor ângulo no cabeçote para geração de somente ondas transversais na peça de aço.
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Os cristais são montados em blocos independentes, separados por um elemento isolante
acústico, com a finalidade de impedir que as ondas geradas pelo bloco emissor passem direto ao
bloco receptor.
Os transdutores duplo cristal são indicados para medição de espessuras em peças de paredes
finas, possuem menor sensibilidade quando comparados com os transdutores normais. Estes
transdutores não possuem campo próximo. Também não são aplicados no ensaio de grandes
espessuras devido ao campo útil limitado
5. Acoplante
Para que as ondas de ultra-som geradas no transdutor passem para a peça a ser ensaiada,
devemos evitar que haja interferências. O ar entre o transdutor e a peça impede a transmissão e
recepção das ondas de ultra-som. Também a rugosidade da superfície da peça interferirá no ensaio.
O acoplante tem a finalidade de eliminar a camada de ar entre a peça e o transdutor e
corrigir uma pequena rugosidade da peça. Podem ser utilizados como acoplante: água, óleo,
glicerina, graxa, carbox-metil-celulose, etc.
6. Método de Ensaio
Quanto ao modo de aplicação das ondas de ultra-som, podemos ter o contato direto ou
imersão.
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O transdutor é posicionado diretamente sobre a peça devidamente preparada e limpa,
através de uma pequena quantidade de acoplante, formando uma película.
6.2 Imersão
A peça e o transdutor são mergulhados num líquido, geralmente água obtendo-se um
perfeito acoplamento.
Este método é geralmente utilizado em sistemas automáticos, onde um ou mais transdutores
são previamente posicionados para cobrir toda a superfície de interesse a ser inspecionada.
7. Técnica de Ensaio
Conforme o transdutor utilizado, podemos variar a técnica de ensaio em: transparência,
pulso-eco, duplo-cristal e transdutor angular.
7.1 Transparência
Primeira técnica a ser utilizada, baseia-se no trabalho com dois transdutores, sendo um
emissor e outro receptor das ondas de ultra-som.
Cada transdutor é colocado em uma das superfícies da peça e as ondas de ultra-som
atravessam todo o material.
Caso não haja nenhuma descontinuidade no material, as ondas chegaram no receptor
praticamente sem perda do sinal.
A existência de uma descontinuidade no interior do material, fará com que o sinal recebido
seja menor que no local isento de descontinuidade, ou desapareça totalmente.
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Esta técnica é mais aplicada para processos automáticos que envolvem grandes produções.
Possui algumas limitações quanto ao seu emprego:
- necessidade de acesso as duas superfícies da peça;
- dificuldade manual de manter os transdutores alinhados;
- dificuldade de manusear os dois transdutores e os controles do equipamento.
7.2 Pulso-Eco
É o método mais utilizado para inspeção de equipamentos em operação e caracteriza-se pelo
cabeçote com um único cristal atuando com transmissor e receptor do feixe sônico, requerendo
acesso a somente uma das superfícies da peça.
O transdutor emite pulsos de energia sônica, que são introduzidos na peça em intervalos
regulares de tempo. Ao encontrarem uma interface refletora, o pulso retorna ao transdutor. Em
função da dimensão da interface refletora, o pulso retornará totalmente ou parcialmente. Os pulsos
de energia sônica ao atingirem o cristal piezelétrico são transformados em corrente elétrica que é
interpretada pelo aparelho de ultra-som. O tempo decorrido e a quantidade de energia são medidos
pelo aparelho.
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7.4 Duplo cristal
Esta técnica é empregada para inspeção de chapas de pequena espessura e a região
adjacente a solda onde serão utilizados os transdutores angulares.
8. Aparelhos de ultra-som
Para inspeção com ultra-som são utilizados aparelhos mais simples para medição de
espessura e os aparelhos mais completos e complexos para determinação de descontinuidades no
interior dos materiais.
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A última geração de aparelhos de medição de espessura dispõe de artifício que possibilita a
medição de espessura sobre camada de tinta.
2 6 7 8 11
3
4 9 10
1 5
1 – Tela de visualização.
2 – Ajuste da escala horizontal.
3 – Ajuste do ganho. Ajuste grosso 20 em 20 dB.
4 – Botão de liga/desliga e seleção do tipo de inspeção, duplo cristal ou cabeçote normal/angular
5 – Conexão para os cabos dos cabeçotes.
6 – Ajuste da velocidade, utilizado na construção da escala horizontal
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7 – Indicador de carga da bateria
8 – Ajuste do ponto zero.
9 – Ajuste de ganho. Ajuste fino de 2 em 2 dB.
10 – Conector para carga da bateria ou uso ligado direto a rede elétrica.
11 – Supressor.
Entre os controles normalmente utilizados temos o ajuste de ganho, ajuste de escala, ajuste
de freqüência, ajuste da velocidade, supressor de ruídos.
O ajuste de ganho é dividido em dois controles, sendo um com posições pré definidas de 20
em 20 dB e um outro controle ou ajuste fino que permite ajustar o ganho com intervalos de 1 ou 2
dB. Este controle tem a finalidade de regular a recepção do sinal de uma reflexão. Podemos
compará-lo com o volume de um aparelho de som.
Quanto maior o ganho, maior será a altura do eco na tela do aparelho, que poderá ser
aumentado ou diminuído, simplesmente atuando no controle do ganho.
O ajuste fino permite quantificar as reflexões dos sinais recebidos em função de um sinal
padrão.
O ajuste da escala, possibilita posicionar a reflexão de uma determinada espessura ou
percurso sônico, na tela horizontal do aparelho, ou seja, identificar a distância percorrida pelo feixe
sônico dentro do material. A escala horizontal é composta de uma graduação de 0 a 10 onde
constrói-se a escala desejada de 50, 100, 200 ou 300 mm conforme a necessidade da inspeção.
Ajuste do ponto zero possibilita movimentar os ecos para a direita e esquerda, sem alterar a
distância entre eles. Permite posicionar o eco inicial no zero.
O controle de ajuste de freqüência permite selecionar a freqüência de acordo com o
transdutor utilizado.
Ajuste da velocidade de propagação, altera a distância entre o ponto zero e o eco da
reflexão. Utilizado para construção da escala horizontal.
Supressor de ruídos, tem a função de eliminar da tela do aparelho os ecos de pequenas
reflexões decorrentes do acoplamento e de estruturas com granulação grosseira, conhecidas como
grama. A utilização deste controle deve ser efetuada com muita cautela para evitar de eliminar da
tela reflexões de descontinuidades muito pequenas.
9. Calibração
Para utilização do aparelho de ultra-som para inspeção de chapas, solda, etc., devemos
efetuar a calibração do aparelho para que as leituras efetuadas sejam confiáveis e possam ser
comparadas com padrão conhecido.
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Bloco V1 (DIN 54120)
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verificaremos a amplitude do sinal, na tela do aparelho, aumentar e diminuir. Com o transdutor
posicionado no ponto de maior amplitude, temos o local de saída do feixe posicionado sobre o
entalhe do bloco, faremos então uma marca no transdutor para identificar este ponto.
Ainda no bloco V1 podemos fazer a escala com um cabeçote normal conforme verificamos
na figura abaixo.
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9.2 Bloco de referência
Com a escala do aparelho de ultra-som calibrada, faremos uma curva de referência, que nos
permitirá comparar uma descontinuidade encontrada com um padrão conhecido.
O bloco de referência é confeccionado num material o mais parecido possível com o
material a ser empregado. Na fabricação de equipamentos, costuma-se separar um pedaço da chapa
original para confecção do bloco de referência.
Este bloco possui normalmente dois furos que dependem da espessura da peça a ser
inspecionada.
A partir do bloco de referência construiremos a curva que simula uma descontinuidade
localizada em diversas profundidades ao longo da espessura de uma peça. Esta curva é montada da
seguinte maneira:
a) Na tela do aparelho de ultra-som, coloca-se um acetato transparente que permita a
visualização dos picos na tela do aparelho.
b) Posiciona-se o transdutor de modo a indicar o furo mais próximo da superfície, com a
maior amplitude possível;
c) Ajusta-se no controle de ganho a amplitude até 80% da tela;
d) Marca-se no acetato o ponto de máximo do sinal;
e) Diminui-se o ganho em 6 dB, marcando-se ai outro ponto referente a 50% do sinal do
furo;
f) Retorna o ganho nos 6 dB anteriores e posiciona o transdutor no outro furo do bloco,
repetem-se as etapas c, d, e até a montagem da curva.
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Dimensões padronizadas para bloco de referência
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Com o aparelho de ultra-som calibrado e a curva de referência confeccionada, podemos
então inspecionar a peça em questão.
10. Inspeção
A inspeção por ultra-som pode ser efetuada em regiões soldadas, componentes forjados ou
deposição de materiais.
Tabela 2
Seleção de Cabeçotes Angulares
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Como vimos anteriormente o aparelho de ultra-som fornece o percurso sônico, a distância
até uma interface. Conhecendo a configuração do chanfro utilizado e sobrepondo o feixe,
verificamos a posição em que se encontra a interface e avaliamos se é uma descontinuidade ou não.
Projeção P
Profundidade H
Projeção P
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Sendo S = o caminho sônico, temos:
P = S. sen θ localização da indicação a partir da saída do feixe sônico
H = S . cos θ profundidade da indicação
H´= 2T - S . cos θ profundidade da indicação para o feixe rebatido
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com ultra-som após desbaste, sofrendo o acabamento final somente aqueles que apresentam
aderência satisfatória, sendo refeitos os demais. Para possibilitar o perfeito acoplamento do
cabeçote com a superfície curva da peça, é instalada uma sapata em acrílico com a curvatura da
peça. Caso haja um descolamento do depósito será verificado na tela do aparelho o eco da
espessura do depósito.
Limitações:
• Requer grande atenção e experiência do técnico
• Dificuldade em execução em peças com forma irregular, com superfície rugosa, muito
pequenas e finas
• Necessidade de uso de acoplante
• Necessidade de uso de blocos padrões e de referência para a calibração do aparelho e
para caracterização das descontinuidades
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