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Prescilia·na puarte çfe . folm~ida


Da ' Acabemia paulista be · Cetros. ·

. -

Carta, j)reíacio
do

!~ll.J1:t <le. eu ha<la por Bento Bnrbosn.


-- 1 ex to 1llus trarlo por J onns de Bnnos)
Prescl!iana Du arte de ,Almeida
Da Ac oocmia paulista oe Cetros.

'Capa doscnhalla por 13enlo Bal'bosa.


Te xto i ll ust1':1do por Jonas de Barros)
. fRESCIL!ANA puARTE DE }LMEIDA

Da Rcabemia paulista be Cetros

·~

Pagin as Infan tis


~--

Obra approvada pelo Superior ConseliJO be lnstrucção


oe ~. Paulo, oe m inas e bo Districto s eberal

- · - - ·).0('1- -

XI ffiilheitro

5. Paulo
·é:scolas profissionaes 5alesianas
1914
Pa gin as Inf an tis
Juiz.o da Jqpr e'lsa
e Cart as lzonr osas

c Si !.u vcu:~: faire vibrer les cordes


<lu coc ur humain , preu<ls l'accord sur
l cs petits cni'ants > .
Saiute -BeuY e.
sus offer ecia as crianças em exemplo aos homens .
•E tendo to mado uma criança, sentou- se no meio
de seus discípul os, e, abraçan do-a, lhes disse: • Todo
aquelle que em meu nome receber uma criança, me recebe
a
mim'·
. Bemdita seja a exma. sra. d. Presciliafla D. de Almeida, que
t ão carinho samente present êa as crianças com as •Pagina s
In-
fantis », livrinho em que aquella s creaturi nhas encontr am •sua
propria alma•, na feliz express ão que se encontr a no Prologo
>.
Acabam os ele lêr o livro. Vê-se , sente-se que a autora vive
nas crianças, vive com ellas, por ellas, vive nessas creaturi nhas
a cujo simples sorriso se derrete a nossa alma.
No •Prolog o • elo livro que temos á vista, a autora dá a
razão de ser de sua notavcl producç ão, e, na nossa opinião , vae
ser esta o ponto inicial ele novas producç ões congene res, talvez
da mesma autora, que vae gradual mente subindo para o
zenith artístico . seu
Graça e candura , poema realmen te vivo, irradian do a mais
pura ternura da alma e do coração infanti s,- verdade pictural
psychol ogia enterne cedora - linguag em correcta e pura que ,
por
vúes tem o cunho lyrico, - simplic idade despret enciosa que não
exclue a eleganc ia: 'tal é a impress ão que nos deixou a leitura
IV PAGiNAS IN FANT LS

daquellas poesias de onde emana urna certa emoção, emoção


artística que tão raro faz vibrar a alma de um publico solicitado
pela actividade de uma vida positiva . . .
Vemos nesse livrinho não a <revelação• (já firmada pelas
Sombras que o precederam), mas sim a •confirmação• de um
talento poetico de fino jaez , e um assignalado serviço <Í Litera-
tura Infantil da Paulicéa.
Apontaremos entre as 'Paginas Infantis > as poesias que
mais se destacam para justificar eloquentemente o nosso con-
ceito, e vêm ellas a ser:
<Ao ar livre• , <Um ;nodelo >, <A boneca •, <Ca nti ga. , <No
berço>, • Mãe e filho•, Velhaquete • ... sem fa lla r dos <En ig mas>,
em geral, tão proprios para des pertar a intell igencia, a curi osi·
dade, a agudeza do espírito infantil, trabalho esse qu e não pouco
contribttiu para dar realce ás Paginas Infantis.
Ne3tes tempos em que a mulher se te m e levado por si
propria, a uma tào grande altura de pensament o , de estylo c
de talento em todos os generos, é bello ver descer cl:1s alt uras
o poeta a occupar-se com as crianças, as crianças de J esus .. .
E' no coração da mulher, da mãe, qu e d esa brocha mais
admiravelmente a flor da sensibilidade •..
Quantas vez-e s, em nossa vida, re fazemos as nossas forças
nas alegrias de nossos filhinhos, a qu e não t ::- mos para dar sinão
o amor do nosso coração e as lagri mas ele nossos o i h os !
E' sem duvid a nas recordações ele sua infanci:l, nos impu!·
sos· subjectivos dos seus primeiros annos que a autora das
cPaginas Infantis•> foi buscar a doçura ineffavel e essa angelica
ternura que é a alma de seu formoso talento .
Em nome das crianças, em nom e das mães, que se agra-
deça á exma. sra. d. Presciliana de Almeida o livro com que
acaba de enriquecer a literatura da Paulicéa.

S. Paulo, 25 de Março de 1908.

Do São Paulo.
PAGJNAS JNFANTJS
v

. . . do a lacre d as crianças, á ge-


se ma na fo i pro pt ~ t a ao ~l tUn o vi <sima de consoladoras es-
raçiio do fNt!luro, o·a ftl~r~br~ranm a~ portas gloriosas das es-
peranças. em s . ~
fec hada s durante as :trdent.as do verao.
Terrni na ra 111 as férias :
" Féri <1s , qu e as forças activa m,
Corações a mel horar,
Ou e as f1 res qu e o va l:e crivam
S~1hem ta mbe m educa r!>
A natureza e a sociedade, na 11WÍS enca ntadora h ar_mo ~1i a, c~­
lebra ram o g rand e aco nteci men to. Fora m s uaves os pnmetros di-
as do labor esco lar . O s jo rnaes lhe co nsagrara m a lgu m as notas
de in te resse e am or. Sig na l m agnífico d~s te mpos, o u, p~lo 11_1 ~­
nos, ele melho res tempos, qu e se ~n nun ctam . Nem tud o e p~ltb­
ca, a política damninh a em s ua fo rm a . d etes ta ve l. E, co m o !S~O
fosse a ind a pouco, de S. Pa ul o nos ve1u ~1m telegr_a mm a_ gen_h l,
offerecend o a boa nova d o a p p<Heci mento a lt , d e um ltvro dl~rcttco,
um pequ e no livro dedicado ás. cri anç?s, causando_ o mov•tnento
e o s uccesso no meio peda g og tco, ennquece ndo a JOven e a4a ~ha­
da litera tura infa ntil do nosso paiz. E' admiravel e verdadetra-
mente es pantoso.
Celebremos, pois essa victo ria pac ifica. Nem tudo é banco
fallido, nem tudo é accôrdo po lítico, nem tudo é a commoção
e leitoral, em que se debatem a lg uns dos nossos Estados . Pene- .
trando um pouco ma is de pert o a vida intima do paiz, encontram-
se esses pequeninos fa ctos modestos, mas profundamente signi-
ficativos do trabalho, que absorve a geracão do futuro e aquel-
les qu e esponta neamente se votam á missão gloriosa de edu·
cal-a •
. . Eis ahi onde es~á o Brazil novo, o joven Brazil, do qual é
hctto esperar uma onentaçiio tambem nova e melhor nas luctas
pelo prog resso.
O livro de que acima se falou foi escripto por uma ames-
tr~da p enna de mu_lher, d . Prescili_ana l?uarte de Almeida, já van-
ta)o~a mente conhectda, no. mundo ht:rano, pelas suas poesias com-
mo:vtdas, espontaneas e. smc~r~s . Ve-se, assim, em pr~sença de
mats. e~se documento ele sohcttude pela educação, que a mulher
braztle1ra fran_camente vai assumindo a funcção que lhe foi indi-
c_a~a de su_bstttuta do homem na pedagogia infantil, a mais dif-
flctl, a mats nobre, e a mais d ecisiva no preparo das aerações
que remodelam a vida dos povos. "'
VI PAGINA S INFANT IS

Em boa verdade, as Paginas Infantis, de d. Prescilia na Du-


arte de Almeida , estão préviam ente consagra das pelo juizo auto-
rizado de um professo r illustre e pela opinião de dois co nselhos
superior es de instrucçã o publica, o de S. Paulo e o de Minas.
Acrescen tando-se que o professo r em questão t o Sr. J oão Kõp-
ke, não era preciso mais o merecim ento official do li vro. Toda-
via, apezar disso, e apezar .de que S. Paulo e Minas trans forma-
ram o serviço do ensino publico em um a fun cção ho nesta e sé-
ria no organism o adminis trativo, sendo-lh es port anto impossív el
banaliza r elogios e approvaçõ~s, é precis& COillpu lsa r o traba lh o
da distincta escriptor a, para ter-se a sensação p 0 itiva d o log u
que el\e pó de e deve o ccu par.
Não se trata de um livro de leitura, nem ta mpouco de um a
producç ão mérame nte !iteraria que se deseja impôr ás crianças .
Um e outro genero talvez existam já em excesso no mercado
pedagog ico. A fonte extrange ira é abundan tissima. Ahi bebem,
não raro, aquelles que contam com as approva ções bceis.
As Paginas Infantis destinam -se principa lm ente ao ensino
oral das nossas classe primaria s. A illustre autora teve a com-
prehensã o nitida da funcção maternai da esco la mode1 na.
O seu livro parece ser a systemat ização logica do es pontaneo
ensino dome~tico e social, que mais ou menos existe para todas
as crianças e para todos os homens.
O difficil está, no problem a da escola primaria, em não que-
brar o seguime nto natural da educação . Ora, o defeito dos me-
thodos antigos ~~ dos livros ainda os mais moderno s era justa-
mente esse : mostrar ás crianças processo s, coisas, lições e hi s·
torias complet amente diversos daquelle s que offerece a vida do-
mestica e nacional .
O novo livrinho didactico offerece condiÇões admirav eis pa-
ra vencer a mencion:~.da difficuldade. Nelle continua m a falar as
vozes familiare s ás crianças . Não muda o scenario , nem se detur-
pam os costume s brazileir os. Ao contrario , quando na escola, a
criança terá uma verdadei ra impressã o dos nossos campos, ao re-
citar, por exemplo , a seguinte ladainha :

< Minha enxadinh a A terra e as plantas ...


Revolve a terra, Que doce amor !
Ruas alinha, Que vozes santas
Covas aterra •.. Num ramo em flor !
Ergo-a nos ares, Minha enxadin ha
Malho-a no chão, Cava e reson :
Raios solares Pá .. . ladainha
Brilho lhe dão ! Singela e boa !
PAGI NAS INFA NTIS VJI

Pá . . . . I I
Terra rmn
Ergo- a nos ~res, ~a ·
Melh or resp1ro. · · Pá . . . Trabalh~r .
E dos palma res Pá . .. Não defm ha
Ouço o suspi ro. · · Quem me adora r!>

. . d ' so verso s comp rehen siveis , o


Verso s amavets e, ale!~l t'rseql;en te na litera tura sem ob-
.que não é pheno meno mu! o lemb rar tamb em a reno-
jectivo. Elles possuem a vtrt ucl: ·fie recisa
vação econo mica ele qu e o 8~1~1 dp ~ ~ue felizm 'ente j á se
N'ão é
opéra em . alg u_ns dos nosso s s,~u~~ ~os , colon verda de, verda de
boa e alvtça retra, qn~ 05 t; o_vç>s ~s su as escol iaes de Mina s e
as para os filhos
S. Paulo cond\em eles e o ~~~~i~~opr o prios quan
dos traba lha ores e para do as desej em e
'
clella~ s~~~c~so~~~: desce rram um mellio r fut uro c pretphar~m
, . as
'bases elo 1oven B razl'I · E o qu e alegr a' o que en u s tasma ,
·va r enova dora é vêr qu 11 b ·1
e a mu 1er raz1 e1r · a está
nessa espec tatl
' ' d
ao lado do home m, comp rehen den o co mo os qu e . melh or com-
rehendem ent re os pensadores e entre
-~adeir a di;ect riz da nossa democracia e daosnossa estadt_st~~· ::_ ver-
ClVthzaçao.
Curvello de M endouça.
Do Paiz.

lê as Paginas Infantis, collec ção de. ~erso


com que foi enriq uecid a a nossa . de~1C1ente ~ prosa ,
escolar, partic ipa desse suave refng eno, htera tura
que,
cora alanc eados pelo infor tunio , é o melh or dos .para os
a mais tonifi cante de todas as alegr ias. balsa mos,
O . Presc iliana Duar te de Alme ida conve rsa
com essa doce familiaridade, que é a carac com as Musa s
-de escól, das organ izaçõ es privil egiad as no teríst ica dos talen tos
que, por não serem comm uns, despe rtam mund o femin ino, e,
miraç ão. E' uma artist a, porta nto, que sabe semp re a nossa ad-
como é, a emoti vidad e o prime iro dos requi comm over, sendo ,
de toda a obra !itera ria. sitos para o succe sso
Na carta- prefa cio do disli!1ctO mestr e, dr.
que elle, com a respo nsabi lidad e do seu nome João Kõpk e, em
-rito diz o que pensa sobre o traba lho de de educa dor .e me-
que óra nos occup a-
mos, ha uma refer enda ás .obra s de fanca
esper tos arran cam o dinhe no dos cofre s ria, com que. edito res
publi cas, sob prete xto
VIII PAGINAS IN1~ANTIS

de contribuírem para o desenvolvimento do ensino primario,


quando só constituem uma boa empreitada, de res ultados van-
tajosos .
. . Não ha duvida que algumas ve"fes, co mo ponàera aquelle
d1shncto pedagogo, esses trabalhos tem como. autores, conhecidos
homens de letras, mas a quem fallece ap tidão para um aenero
de literatura tão melindroso quanto diffi cil , desd e q ue é"' des ti-
nado a intellige ncias infantis , a cerebros que ma l desabroc ham
para os conhecimentos do mundo exteri o r.
Com a evolução dos processos de e nsino, qu a~ i derrocado
o monumento da velha pedagogia, é natural que se busquem
outras fórmulas para o ensino das cri anças, s ubst itu indo a · im-
prestavel mecanica por alguma coisa qu e vibre e des pert e na
intelligenci a. e no coração da infan cia, esse enthusiasmo qu e cor-
resp11nde ao melhor dos est ímulos, preparando-a para o futuro
em que as forças do seu espírito ga nhem mai o r plas ti cidade, pe·
la affirmação da energia mental.
Obedecendo a essa evolução, que corres pond e a Ulll a neces-
sidade, tendente a snpprimir os obso letos moldf:S do syst ema da
rotina, é que a talentosa escripto ra e delicada poetisa elaborou
o seu beiJo livro ao qual o nosso espírito, suave mente, de licio-
samente, se prendeu, por urn a força de attracção myste ri osa que
nos subjuga, ao depararmos com as form osas locubrações de
um espírito superiormente formado, como aqu elle que se revela
nas obras de d. Presciliana Duarte de Almeida.
Vê-se que a escriptora e poetisa, cuja intelligencia desabro-
chou ao sol fecunda nte da terra mineira, contemplando a orla
azul das serranias, não foi, como bem assignala o dr. Kõ pke.
no substancioso prefacio a que já alludimos, fabricar ( é o ter-
mo ) um livro com intuitos de mercancia, um desses monstren-
gos que o bafejo official redime de todas as culpas e mazellas,
e que por isso mesmo, está destinado ao que se chama - um
successo de livraria.
Não : esses fructos da intelligencia, têm um destino mais
nobre e edificante. Elles visam despertar na intelligencia da cri-
ança os primeiros surtos, ferindo-lhes delicadamente a imagina-
ção, que começa a despertar, como uma promessa de maiores e
mais extensos vôos. E os nossos patrícios ( com orgulho assi-
gnalemos ) são dotados de imaginação fertil, como já o affirmou
em tempos d'antanho, o mais fulgurante vulto da literatura por-
tugueza, do seu tempo, o insigne Alexandre Herculano, no pre-
facio dos Primeiros Cmtlos, de Gonçalves Dias - esse formoso
e imperecível documento das nossas glorias Iiterarias.
Ora, nada mais Lttil do que despertar nos cerebros infantis.
o que s~ acha synthetisado na lição de Friedrich, que a autora
IX
PAGI~A~ 1 "FANTI S

citou no Pro logo e qu e traduz uma verdade flagrante da psy-


chologia infantil. . . .
Realmente, co rn o obse rva o cttaclo escnptor, attenta a sensi-
bilidade elo cora ção ela cre a nç:•. d e ve-se procur ar exercer u.ma
influencia benefi ca na s ua a lma, se1n qu e clla propna o sa1ba;
E accrescenta "a inda • qu e a crea nça tira pro ve ito só do que e
s imples e nat ural>. . .
E' o qu e se dá com os nss um ptos elas Pag was Infantts,
interessantes e nw g nifica me nte seleccio nados ; ell es revelam uma
encantadora na tma liclade, a ll uclettl a co isas qu e po dem e devem
d es pertar nesses p eq uenin os ce rebros um a lvo ro ço bemfazcjo,.
uma preoccu paçiío c ur iosa, o que a autora co nseguiu plenamente,
no seu esfo rço, p ar:~ at ting ir o fi m colimad o.
Qnasi t udo nas Paginas l 11Ja11/is fo i ex presso po r meio da
Poes ia ; e é o caso ele se d ar paí a be n , não s6 ás crea nças co mo
ás boas e ca rinhosas N\ usas, qu e não a ba ndon?.lll os seus eleitos.
Ning uem ig nora q ue a poesia é o ma is delici oso de todos.
os in strum ent os para a co mp re hensão do que é bello e util, e,
por isso mesmo, o tna is segur o e o ma is rapido de todos os
processos pa ra qu e co ns igam os g ra var na mente aquillo, cuja
represe nta ção g raph o lof;i ca se nos a presenta dea nte do olhar.
Quanto ao segun do motivo d e parabens, o reconhecerá quem
ler os versos simples e despretenci osos (co mo os assumptos o
reclamavam) que vê m pô r ainda e m relevo a esthesia de um
temperamento a revelar-se em estrophes de uma suavidade em-
polgante, de uma doçura carici os a, que só a alma da mulher
sobretudo 4uando é mãe carinhosa exprime em toda a su~
admiravel estructura. ' '
. que é que póde mais falar á imaginação do que a fórma
nthmic.a, !ll~sm? quando essa imaginação ainda está num perío-
do de 1nc1p1enc1a e de leve descortino?
?ara prova do que affirmamos, leiam-s~ estes mimosos e
sentidos versos, a pag. 46 v. e que se intitulam-Cantigzz:

Quando cançado de correr tanto


Quero dormir, '
Minha Mãezinha chama-me: santo!
Põe-me no collo, põe-se a sorrir ·
Põe-se a ninar-me, com doce encanto
E esta cantiga começo a ouvir : '

Os noss~s olhos espelhos d'alma


D1zem que são :
s~ isto é verdade, filho, a tu'alma
E o suprasummo da perfeição!
X PAGINAS INFANTIS

O lhos tão lindos, cheios de sombra


Cheios de luz ! '
Têm a frescura de a mena alfombra
E a santidade da vera cruz! '

E eu, pouco a pouco, já nada entendo


Mal posso ou vir, '
De olhos fechados, a voz morre ndo
A repetir :

Dorme, santinho! dorme co m calma,


Dorme, filhinho do coração !
Que esses teus olhos-espelhos d'alina,
Da alma mais linda do mundo 'ão !
O progresso da instrucção publica, no Estado ele S. Piltil o
.Ja passou do domínio das hypotheses para o da evidencia . É
quando falamos em progresso da instrucção, nat uralmente allu-
dimos aos professores, áquelles a quem incum be essa melindrosa
tarefa de inocular no cerebro das creanças as noções de que
·ellas preliminarmente necessitam .
Si o professorado ho je corresponde a esse adeantamento, é
logico attribuir-se-lhe o des ejo de dilatar os horizontes do ensino
a essas creanças, buscando nos fragmentos de pequena literatura,
.do molde das que figuram nas Paginas Infantis, um crileri o
mais de accordo com as exigencias da época qu e at ravessa mos.
Nada póde ser effectivamente mais proveitoso á creança, do
·que essa noção das coisas, sob um prisma seductor como é o
da Poesia, fazendo -a ler, ou escut.tr, pela boca do mestre, a
·l inguagem rithmica que, do cerebro, se dirige suavemente ao
coração.
Fig ura m tambem nas Paginas lnjrwtis d elicadas narrat ivas
em prosa, visando todas um nobre objectivo e obedecendo a
um fim mora l. Taes narrativas não destoam dos assumptos tra-
tados nos versos.
Em todas ellas ha e>sa nota de impressionismo e uma ob-
·servação v ~rd ad ei ra-- f Jctores decisivos p ara um excellente pro-
gramma do ensin:> que deve ser mini strado á infanci a.
São as Paa'inas Infantis um precioso livro I]Ue ha de figu -
<rar, portanto, ;ntre as obras destinadas ao ensino das nossas es-
colas primarias, sabido como é, que os governos de S. Paulo
patrioticamente se têm desvellado naquillo que respeita á instru-
·Cção publica, buscando, por todos os meios, ampliar o campo
já fecundo da sua iniciativa e corrigir as lacunas existentes.
p,\GIN A S INI~ANTIS XI

Assim pensan do, só nos cumpr e d irigir á autora


parabe ns pela sua benemerita obra: e usamo s desse os "?~~ 1
~~ivo porqu~ cem raríssi mas excepç ões, o que se tem qua_hf1
nesse genero 'de literat ura, ~o Brasi!, n~o merec escnt s~
em que se d espend a m ei a duzm de adJect tvos louvam e t~ma. ana Y_
mhetr os, tao
incara cteríst i cos, tão null os, tão contra produ centes
esses produc to>, que se baptisa n1 com o p o mposo se mos1ra~t
nome de - li-
vros escola res.
S . Pa ulo, Março de 19BS.
Rufiro Tavares .
Do Correio da Manh ã.

Acabo ele le r, radi oso ele jubilo , as Pagin as Infant


is de d.
Prescil i ana D uar te de Almeidél.
Em um pai z co mo o n osso , o nde as iniciat ivas
terili za n1 por entre a s ho stilida des da incuri se es ·
a , pere nneme nte
amole ntadas pelas d elicias da perpet ua prim avera
appareci ment o desse livro infanti l, rival d o Cuoreela naturez _a,_o
é indicio mani fe sto de que va e floresc endo e ntre
, de Amtct s,
n ós a lite ratu -
ra para crian ças. Simpl es e cl ara, de clespr etenci
osa arte e in -
nocen te gos to de dicção , a recent e o b rinha despe
sentim ento infanti l, co m a blandi ciosa l ing uagem rta e a viva o
de quem sabe
tra nsport ar para o pa pel todas as palpit antes e
moçõe s da alma
human a.
Tud o quant o, em m ateri .; de litera tura par<~
a infanc ia,
circula por ahi larga mente de mão em mão, sob pomp
si um dia fosse p osto á luz do criteri o d os jurys osos títulos ,
literar
quer receb eria a consag ração das refere ncias banae ios, nem si-
s . Além dos
Contos Patrios, de Coelh o Netto e Bilac, das tentat ivas
Rolim e de algum raro livro clesprote~ido, igno ro d e Zalina
a existe ncia de
opras compa raveis ús que os p ai zes cultos prodig
creanç as, consti tuindo ali uma literat ura tão fecundalizam a suas
a e tão rica
tão civiliz adora e primo rosa que, s i penetr asse em
o nosso meio'
conseg mria remod el ar tudo nl:!sses peque ninos
seres imaainati~
vos e emotiv os, desde as funccõ es do cerebr o
do coraçã o... até as fu~cções
·
Le~ar a cabo e~se intent o não compe te a
mestre s tardig ra-
dos , m anifes tamen te incapa zes e organi camen te
prohib idos das
XII PAG INAS l Nl<'ANrl s

stibtis tarefas mentaes: cabe a escriptoras como Presciliana Du<~r­


t~ ~e Almeid<~: e Ju~ia Lopes d e Almeida ; cabe á poetisa delica-
dtsstm~, gracll, mtm osa; cabe, á privileg iada o rga ni zação psy-
chologtca _da auto_ra d o Lil'ro das N oil'as- bi b lia elo la r, qu e eu
venero, mtmo tect clo pelos a nJ os tu te lares da fe li ciclacle do mesti-
ca, encarnados nos dedos da m:1is perfeita e da nDis ditosa das
escriptoras sul-americanas . .
Quando os nossos profe::s ores co mpre hcncl ere m, co m Car-
los de Esco bar, o Incido in te rpre te d_e Olivet e Bar lel, sy nthe-
tista que se r,~ fugia na m odestia incura vel el as ab neg-adas ded ica -
ções profissionaes-que o a i vo d o e ns in o m odern o deve ser a ins-
trucção integ ral e g radat iva , co m legítimos ma nu aes de li çõ es
de causas dirigidos á intelli ge ncia d os a lumn os e co m livros de
leitura subsidi:tdo res d a c o nsci enci a m o ra l por via da evocação
de todos os fortes senti men tos; qua ndo os profe ssores, emfim,
embraçarem um novo escudo d e idé as fun da me ntaes syste mati-
zadls co m brilho - o ensin 0 prim ar ia obter;.i tri um pho co mp le to ,
ab5oluta e definitiva victo ria, auxi liado pela leitura in fanti l, fo n·
te nnravilhosa de o nde borbo ta rá, talvez, co mo ri:lente a ppari-
ção de oasis, tu do o qu e de am e no e nobre se manifesta neste
tumultuaria e incoherente viver da humanidade.
E as Paginas lnjalltis se rão, nesse temp~ , lidas e relidas
com a sympathia com que eu as leio e rel eio hoje.

A rgymiro Acayaóa
Da Cidade de Santos

livr~ que~ - _Presciliana Du~rte


agtizas Infantis é o titulo do
de Almeida deu ultimamente a pubhctdade para satisfa-
• ção dos mestres e encanto dos discípulos.. , .
O livro de d. Presciliana Duarte de Almelda e um hvro
adoravel, feito carinhosamente por uma mãe afim de as creanças-
encontrarPm nelle sua propria alma. :
Seguindo o conselho de Friedrich Friedridh-evitar na 1!-
teratura destinada á infancia tudo que pareça conselho e predi-
cas de moral mas procurar exercer uma intluencia benefica na
alma da cre;:~ça, sem que ella propria o saiba-d: Presciliana. de
Almeida compóz um primoro;o livro para ser ltdo ou OtlVtdo.
XJH
PAGI NAS fl'\l"A NTIS

por todas as pesso as,


como queir am, por crean ças, ou melh or
cuja alma ainda não se 2paga ram os éco da
moço s e velho s, em
.i nfanc ia. puram ente descr i-
E' um livro, em cujas pagin as, mesm o as
não se sente tão só ment e a suave doçur a, que deixa uma
ptivas ,
as-ha rmon iosas notas do
formo sa paiza gem, mas se ouvem todas
melo dias de um coraç ão de mãe.
amor mater no, toda s as doces
Eis a prova :

C o rn seus brinq uedos bonit os,


Num can to e no utro se em brenh a ,
E só com phos ph'ro e palito s
Ench e o car rinho de ·lenha ,
E sae !)ela c<1sa a os g ritos ...

D e qu<1rt o e m quar~o elle p á ra,


E a bate r pa lm as, a po rta,
Co m s ua vozin ha clara,
Que a legra , e nca nta e confo rta:
<Lenha , freg uez, nã o é cara! '

E engra çadin ho e catita


Re pete arir: Lenha ! Le'nh a!,
Com o carro preso a uma fita
Rubra . Não ha quem não venha
Vê l-o- alma em fl ô r, que palpi ta!

Que lenha do r, que Ienhe iro


Já h ou ve assim tão forrno sb?
Vend e lenha o dia inteir o
Salta ndo alegr e e aarb os;
Vivaz , catita , faceir o! '

os da cançã o da
Mais encan tador es do que esses verso s só
mam an para o lenha dor dorm ir:

Dorm e, santin ho! dorm e com calm a


Dorm e, filhin ho do coraç ão! '
Que esses teus olho s-esp elhos d'alm a
Da alma mais linda do mund o são. '

- • .
. O livro de d. Presc iliana de AlmeI'd a ·unpo e-se a lethtr a, não
so daque lles que se entre gam á t
arefa de apren der, mas ainda
daque lles que se dão ao delica do encar go de ensin ar.
XIV PAGINA S INl<'J\NTI S

_D. Pre~cilian~ de. Almeida consegu iu este mila.gre de pe-


dago~ta:_ um hvro dt?acllco que inte ressa tanto aos mest res quanto
aos dtsctpul os; um h~ro tanto para ser Lido nas bancas de estudo,
quanto para ser ouvido nas horas de recreio.

Artlwr Orlando
Do Diario de Pernambuco.

Graças á gentileza do illustre Re dacto r da Cidade de S.


João, tive a ventura d e ler o ultimo trabn lbo li!erario de d .
Prescilia na Dua rte de Almeida , cuja epigrap he encima estas
linhas.
Desprezei a leitura das duas cartas honrosa s e da carta·
prefacio do illustre educado r Dr. João Kéi pke, não po r est ulta
vaidade, mas pelo desejo ele experim entar si a minh a impressã o
pessoal do livro correspo nderia á d os illus tres prefaciad ores.
Repassa do de ta nta modesti a é o prologo, que mais fo rte
accenluo u-se-me o desejo de ler o tra balho da em inente patricia,
a cujo formoso talento, ha muito, acos tumei-m e a rende r urn
justo preito de admiraç ão.
Em boa hora o fi z.
Quando volvi a ullima pagina e fechei o livro, experi mentei
uma sensação tãc suave como a que em nós desperta o co nví-
vio de uma :1lma boa e bem form ada, e me u espírito voo u pa·
ra esse lar be mdicto, onde vivem d ois corações, unidos po r um
bello capricho do destino, pelos laços d o mnor e d a poesia.
Pensei na · primoro sa edu cação dessas crianças , que se agi-
tam nesse nmho de poetas e que caminha m para o porvir em-
baladas pelas harm o nias desses dois bellos corações afinados pe·
lo mesmo diapazão .
Tudo isso passou-m e em revoa?a pela mente, p ~ rque a_s
Paginas Infantis só poderiam ser :swptas por um htctdo es pt·
rito, guiado por um coração c~ e Mae. . . . .
Foi uma estréa verdadet ramente feltz na ltteratur a dtdactt·
ca infantil.
E' um •livro em que a criança encontra sua propria al-
ma -a ·psychol ogia infantil> .
Foi um • bello e difficil veio> que a autora explorou com
rara felicidad e, veio que nã o deve str só explorad o pelas mulhe·
PAGINAS INJ.<'J\1'\TIS XV

res que escrevem, mas, e muito principalmente, pelas mulheres


que sentem e que pensam. . . .
Atravez das cento e vinte e sde ~agmas do ~tvro sente-se
que ao lado da pens.aclora eminente palptta o coraçao da mulher
-a diluir-se em cannhos por
•Essas po rções pequeninas
Do céo ca hicla s nos lares,
Que tê m azu l nos s orr i ~os,
Q ue trazem sol nos o lhares . •

Oue tn elh ores e 1u a is pe rieitas ps yc holo g as das almas in-


fanti s d~ que as proprias !V\ãe? , max i1ne q~tanclo estas t_ê!n a
fin a cultnra intellcclua l c o sen ttm e nto es th ett co ele cl. Presciltana
Duarte ele Al meida?
Nessas acl o rav~ i s <Paainas Infa ntis-. ve m toda inteira a alma
dessa Senho ra, q ue, da ndo J~ubli cicl ade ao se t: livro, nã o só poz
em relevo u1n a face IIOVa e bri lha nte do seu ta le n t o, co mo ta m-
bem co nqui st o u 11m Joga r sa li ente na litera tu ra didactica nacional.
O que mais enca nta , o qu e 111ai s nos s edu z, o q ue mais
empo lga a nossa a t tE nçiio- é a natura lid ade co m que são
descript as as sce nas da vida do la r, onde é tudo cas to e puro,
co mo a a lm a elas cria nças.
Estas no livro não e nco ntra m um a só ph rase, nem sequer
um a só palav ra que lhes o ffe nda ou irri te a delicada se nsi b ilida de.
O livro parece escripto para ref utar o conceito de Manoel
Bernarcles, para qu em a língua nada ma is é elo que uma feira
de maldades.
To lo e ll e é u m ensin a mento m o ral , que a criança assimi-
la de mod o s ua ve, suggesti vo, attrahente.
T o me mos ao acaso algumas jo ias de sse escrini o precioso.
• U li_! mod_elo·> e •_Triumpho, são a glorificação elo trabalho .
. «Mae e ftlh o · , _c1nco quadras d e lici osas, é um dialogo de-
licado em que se co njugam de m odo e nca ntador o amor de Mãe
~ o amor fili a l.

- Minha Mãe, vem ver a lua!


Como o plenilunio é lindo!
- Mais linda é a bondade tu a
Meu amor! anjo bemvindo ! '

C:>mo é bella aquella licção de caridade na Carta de uma


ve 111a Mae, qua ndo o velho aleijado, depois 'de subjugar um
rapazola que o. apoquentava, em vez de amedronta i-o, tira do
p~scoço uma hnda cruz de ouro, com a effiaie de Ch · t
diz-lhe: "' ns o, e-
.,

XVI PAGINAS JNFANTIS

•Guarda esta cruz para ti, quem sabe si ella te ensinará a


teres caridade com os outros, que venham atraz de mim? Deram-
m'a no dia em que salvei uma criança que ia morrendo no mar
no tempo ainda em que eu era perfeito >. '
. O conto •Sem Ella> é a justa glorificação desse Ente Su-
biJ_rne - Mãe, •que é a riqueza maior deste mund o, ainda que
seja pobre>.
Baniu d. Presciliana de seu livro as his torias ma ra vilhosas
que fazem librar o espírito das c ri a nças em mundos o nde ~
phantasia opprime a verdade - tão necessaria na vida 'rea l.
Nisto está um dos grandes meri tos das <Paginas In fa ntis >.
Seguiu assim a aut o ra a bella clirect riz traçada e m !S78 na
França, pela notavel educadora ,\1'\. mc j uli e Fe rtia ult, que na
cScience de La Jeune Mere> ensina va, qu e é nas sce nas da vida
real e nesta bella nature.w tal qua l fo i criada por Deu ~, qu e se
deparam os ensina me ntos moraes q ue elev<:m o pensa mento e
fortificam a alma.
E' um livro bom, que todos deve mo s ler e qu e devem ler
os nossos filhos.
Sirvam estas linhas de pallida ho menage m á notavel poe-
tisa e illustre educadora .

S. João da Boa Vi;;ta, Março de 1908.

Octaviano Carlos de A zevedo.


Da Cidade de S. João.

m toda a verdade, é um livro para crianças, feito com

111 grande affecto e com grandissimo talento. Encerra ,contos,


poesias, enigmas e até fec~a com uma peça mustcal, de
composição do Snr. José Carlos Otas, para se cantar certa poe-
sia extrahida das Sombras, da ultima collecção de versos de d.
Presci lia na.
Não tem a desauctorisar-lhe pagina alguma a feitiça inge-
nuidade que se observa em geral nas publicações escolares:_sim,
uma sobria e di·crna singeleza, que os menores entenderao e
estimarão, e q:te 'ôs maiores sem duv~da te~ão de louv~r.
Escripto em linguagem 3an, nao fara o desserv•ç?, com-
mettido por outras e fartas edições congeneres, de enst~ar ~os
jovens paulistas um portuguez duvidoso como o da gente 111fenor
.I

PAGI NAS INFANT IS XV li

de Loanda. E co ntendo formosa s producç ões emO vAersao;ia~on;l~ ::


. - M- 'ilho e em prosa, como . doz bom• gosto
mm!ta mal!, e ae e.!' ' . estres· • para' o a•nanho
· . . f f
impô r aos paes e aos m antmos 111 an IS. ,
se 0 f 11 lo dos sentimen tos reaula res nos
e es ~ ~ibiioaraphia esco la r do"' Estado teria a iucrar deveras,
d s a b~anaer desde loao, esse vo lume encantad or, que
se pudest
uma .ect"" l t' ter"at~
ts tn ' fez e a "'q ue a doce c1 1mãe d e familia, que
·e lia é, trouxe todas as g raça s e ternuras o ar.
Valdomiro Silveira.

I Do Cricri.

Prescilia na Duarte de Almeida , a co nsagrad a poetisa dos


oRum orej os • e das <So mb ras • é tam bern, c~mo attest~ a
melhor sociedad e de S. Pau lo, onde e Jia v tve, genuma
~1ae de familia bras ilei ra, qu er dizer-ex tremosa, che ia de des-
velos e cari nhos clelicadis si mos.
Seu es poso, Silvi o de Al me ida, di sting ue-se egualme nte
corno poeta, sobre prosado r e pedagog o. ·
Di rige conceitu ad o estabele cimento de instrucç ão secunda ria
naqu ella capital.
Auxilia-o d. Prescilia na, obrigada a viver ass im, constan te-
mente no meio de crian ças, cuj a subtil psychol ogiJ, m a is com-
plexa e clifficil á co mprehen são d o que parece, fo i estudan do,
.
mão g rad o seu, esquadri nha ndo, enriquec end o de novas obser-
vações os naturaes conhecim entos.
CertJs recantos mys teriosos da a lma infantil, suscepti vel de
largos mergulh os no azul, com o os pequeno s passaros , sómente
a pers picacia feminina os póde visitar e descreve r.
Semelha ntes ás sensitiva s, retrahem -se e fecham- se ao rudo
con tacto d os homens.
Um dia es.creveu d. Prescilia na alguns versos, ern que fi-
gurava um puebnha de dez annos. Leu a composi ção á sua
]oven prole.
fois, um.a
applauso _fe~ ta para o rninus culo auditori o, que, depois dos
extglll:
<fa z'o utra >.
. Co mo recusar, corno não obedece r á doce exigenc ia que
Importav a no maior dos applauso s?
.( D. Prescilia na fez outra:
da («cet age est sans pit.ié~) re-
clamouConcluid
a esta,
ainda: <Faz' m a ais>.pequena

l
XVIJI PAGlxAS HH'ANTIS

E d. Presciliana annuiu e foi fazendo, foi fazendo até que


reunidas todas as producções dess'arte obtidas, dera m materi~
para um livro.
Egoísmo fôra não publicar esse livro, de modo que partil has-
sem outros meninos a satisfação desfructada pel os filh os da autora.
Sob o titulo <Paginas lnfantisi> acaba de appa recer o mi-
moso volume, mimoso pel o aspecto material, mu ito ..:Iara, muito.
br-anco, com a capa desenh ada por Bent o Barbosa e o texto
illustrado por Jonas de Barros, cu idadosa mente im presso na ty-
pographia Brazil de Rotschild & Co.,.da met ro po le pa ulista, que·
em aries graphicas, como em tantas outras ca us as, vae se avan-
tajando ao Rio de janeiro, mimoso, sobretudo, pelos mimoso s
assumptos, mimosamente tratad0s, que as att ractivas paginas
offerecem á curiosidade dos pequeninos.
Mesmo as crianças grandes chamadas homens perco rre m es-
sas paginas, (:0!11 interesse e encanto .
Seguiu d. Presciliana o conselho ela sua em ine nt e collega
d. Maria Amalia Vaz de Carvalho: qui z que em uma obra des-
tinada ás crianças encontrassem estas a prop ria alm a.
Nada, como recommenda Friedri ch Friedrich, citado no pro-
logo, de conselhos e predicas de moral, mas a i mpres:;iin bene-
fica, a influencia salt!tar suavemente exercida, inCf)llScie nt-::mente·
tomada.
Invoca d . Preãciliana a sympathia dos mest res e dos paes.
Bástava a intenção para lh'a a ngariar.
Terá mais que a sympathia: terá agradecimen to e louvor. E
como ensina Camões.

• Da bocca dos pequenos sei com tudo


Que o I ou vor sahe ás vezes acabado>.

Conde de Affonso Celso.


Do jornal do Brazil.

aginas Infantis - Presciliana Duarte de Almeida, S. Paulo•


. S~o palavras do Evangelho : os ultimas serão os
• pnme1ros.
Este formoso livro destinado ás crianças como se depre-
h:nde do tit~lo, só por si faria a reputação cÍa autora, si ella já
nao fosse 1mmensamen te acatada, conhecida e amada pelas
maiores mentalidades contemporan eas.
PAG INAS I~FA NT IS XIX

R · e d11s • Som bras , não preci sa


A poetí sa dos « nm?re
de elogi os, sen nome e JOS .' e além mar devid amen te
aqut con-
s ide~~~~- ha ainda dois anno s, po r occa sião
do apparec~rnento
das < Somb ras ,, que Mari a Ama lia Vaz
_de Ca~v.alho e uerra
Junq u ei ro se expre ssara m relati vame nte
Alme ida de 11111 modo brilh ante, enalt ecend a Presc iltan a J?uar te de
o c s pereg rtn?s dote s
de seu talen to e a delic adeza in co mp arave
l de seu senti r.
0 Bra sil inteir o synth etisaclo na pe
nna ele seus melh o res
escrip tores c poet<>.s r ece beu a fidal ga
quan d o esse livro fo i pu blica~o, co m po~ti sa ~a s << Som bras •
~
qu e é poss ível imag i na r. P o r ~sso, e log rnats , cann hoso a pplau so
ta nd o rran_came nte , a bert~­
men te, a obra d a excel sa escrt ptora , n
ada mm~ taço que r_epet tr
0
juizo unan ime que sobre ella form am as mata r es m
e ntaltd acles
do Brasi l e Po r tugal .
C a be-m e, tocl a vi:~, o direi to de j ogar
sobre ~ua c a beça glo-
ri osa um pu nh ado ele fl o res a rranc adas
d o coraç ao .
Prefaci a o novo livro d a ins pirad a po
etisa o aba lisad o pro-
fesso r dr. J oão Kó pke . Este facto é uma
do li vro . po is que o illus lre m est re j:'im pro va segu ra do valor
ais lhe prest aria o con -
curso ele seu no me, si a obra não fosse
dig na da infan cia, a
quem é desti n ada .
A prova da comp etenc ia em assum ptos
nobre e indep ende nte do exím io profe didac ticos e o carac ter
ssor, dr. João Kopk e, não
perm ittiria m que elle, para ser agrad avel
a quem quer que seja,
reco mmenclasse a adop ção de um livro
que não fosse de reco-
nheci do .nere cime nto.
· As crian ças, não parec endo , são muit
o exige ntes na esco lha
de suas leitur as. Não é tudo que lhes
agrad a.
Quer em livrp s intere ssant es e que ao
ao coraç ão e á phan tasia . As < Pagin mesm o temp o falle m
as Infan tis , preen chem
perfe tlame nte esse ideal,· sen.do, além
disso , um livro boni to,
claro , alegr e, com o texto tll:.ts trado
e a capa dese nhad a por
dois artist as de nome : Jonas de Barro
s e Bent o Barb osa.
Ha pelas pagin as desse livro preci oso
!recho_s de prosa em estyl o infan til, poes ias enca ntado ras
singe
mfan cta e corre ctas como conv ém a todc las como conv ém
s que leem .
ã
~~ luz, alegr ia, raios de sol, exem
plos de amor da fami lia
?e ctvtsmo,_ d~ abne gação , somb ras amad
as e bene ficas , tud~­
tsso nesse ltvnn ho de pagin as suav es
mate rno. e doce s como 0 c · h .
ann o
Das narra livas em
e •frate rnida de>· das pros~ citare i <~Carta de uma velha mãe»
poest as •Nata l>, •lada inha •, clde ah
•feri as >. ' e
XX PAGINA S L\'i".A.~TIS

Intercalado s aos trechos de prosa e ás poesias encontram- se


alguns enigmas interessant íssimos que farão, estou certa, a deli-
cia da criançada, sempre curiosa das advinha ções.
E' no genero o primeiro ensaio qu e se fa z no Brasil. A
moda vem da Allemanha , que é, como se sa be, o pa iz que mais
carinhos dispensa aos leitores infantis .
O livro já está officialmen te ad a ptado pe lo Conselho de
Instrucção de São Paulo e de Minas Oeraes. Espero em breve
vel-o acceito pelo Brasil inteiro onde é sensibilíssi ma a fa lta de
obras didacticas nesse genero.
Em resu mo, direi que o livro infantil de P rescil i:llla é um
modelo: é simples, puro, correcto, re ligioso, n<i.o co ntém em
liUas mimosas paginas o vis lu :nbre de um se nti mento menos
digno. lnstrue e divert e ao mesmo tempo as crianças.
Paginas escriptas por uma mulhe r qu e tão alto te m sabido
elevar o amor e cumprido seu sagrado dever de filha, esposa
e mãe, de um m odo inexcedíve l, era natura l qu e tra duzissem
com precisão e justeza toda a dclicadez:: e mysteri osa ps ychologia
do coração infantil.
Este livro ha de agradar em t odas as épocas e a todos que
se interessam pelas crianças. Tem valor proprio, é fe ito com
carinho por uma poetisa inspirada, correcta, e mais do qu e tudo,
.por uma alma boníssima, privilegiad a, qu e so ube comprehen der
a sublimidad e do amor em todas as suas elevadas 1n a nifestações .
Rio de Janeiro, Março de 1908.
Maria ClaJa da Cunha Santos.
Do Commercio de S. Paulo.
---~

!Llma. e Exma. Snra. D. Presciliana D. de Almeida


S. José do Rio Pardo, 26/3/08.
Dignou-se V. Excia. distinguir-m e, remettencio , com ca~ti­
vantc dedicatoria , um exemplar da mimosa producção didactt~a
"Paginas Infantis", que veio: enriquecer enormeme nte a nossa ht-
teratura pedagogica .
Profundam ente desvanecid o pela immerecida honra com
que tanto me elevou a generosida de de V. Excia., peço licenç_a
·para beijar mui respeitosam ente as adex tradas rnãos que colon·
sam com tão delicados e suaves cambiantes de luz as deliciosas
·"Paginas Infantis" qne de um só folego acabo de lêr. .
· Eu já conhecia e admirava V. Excia. atravez das prun~­
rosas "Sombras" que d es taca ram em luminoso fo co uma ernen·
PAGJNAS INFANTI S XXI

ta escriptora , al liando ás _op_nl_encias de um en_ca~tador esty_lo


as e xquisi tas e inestirnav e1s JOias, ?e ~rn fo rmos17;1mo co~~çao
de mãe a ex halar, no frescor co nv1dat1vo dessas Sombras , os
mais fin os e suavíssi mos perfumes . . .
E agora, nas " Paginas In fanti s" eu en~ontro a l~excedi-
vel ed ucadora a fazer des pertar nos pequenm os coraçoes das
crea nç1 s os mais nobres e puros se ntimentos do Bem e do Bel-
lo, si mpl es ment e so ndando _com d elicadíssi mo t~cto os cerrados
escaninho s d 'aquell es coraçoesm hos c d e lies re!Jrando , e m lllS·
piradas estro phes, para offere cer ás cr~anças , as p reciOsas ge m-
mas que e llas reconhece m como pro p nas.
Ass im com o o a nim oso pescad o r me rg ulha ao fundo do
mar em dem and a das ra ríssimas perolas, V . Excia. presc~u.t a. os
nobres senti men tos da a lma hum a na e os e n ta lha , llablliSSima
gravadora , com inexcedí ve l carinho materno , nos se ns íveis cor:1·
cões infan tis. - Bem haja po is, be mclita seja que m colhe tao
Íinclas e odoríferas flores ,;ara a lcatifar o p rim eiro trecho ela es-
trada ela vida, e m que as crea nças e nsa ia m os p rimeiros vacil-
la ntes passos.
Ainda que completa men te leigo na sciencia difficil da edu-
cação e do ensino, quer me parecer que, se eu e xercesse o no -
bilíssimo sacerd ocio do Mag isterio p rim ari a , encontra ria nas "Pa-
gi nas In fanti s" fe rti lissimo man ancia l para m inh as licções ás
crea:1ças.
Lendo-lhes cada um a dellas o u ouvin do a leitura pelas
creanças, eu procuraria faze r resaltar o pe nsamen to predomi nan-
te na. poesia 0 11 no trech o em prosa, de modo a imprimil- o no
es pm to de meos ouvi ntes, forma ndo ,Jhes o coração e o caracter;
e quando, acabado o li vro, meos discípulos passasse m a outra
classe, eu te ria a g ra ta convi cção do esforço empregad o para
o bo m desempen ho do meo sacerd ocio .
A messe, entretanto , seria incontest avelment e muito mais
abundant e e proveitos a est ando as "Paginali Infantis" em mãos
~e uma Professor a que, por a panagio do sexo, possue os requi-
Sitos precisos para m elhor fallar aos corações das creancas.
Aos. me_stres ? Ois,_ aos paes e á s creanças o mimo.s o livro
c1e V. Exc1a. e um mesbmav el manancia l a fluir o delicioso ne-
ctar do B~m e do _Eel!o. Di g ne-~e. V . Excia. acceitar, de envolta
~.~n ~s rn 1nhas _m a1s s1nceras fehc1t ações pelo apparecim ento das
f adgmas ln~autls", as homenage ns de minha admiraçã o e do pro-
un o respe1to com qu e me subscrevo
De V . Excia.
A· Cand.ido Rodrigues Atto. Vor. e cro. obr
(Sc nnclor pau J"tst a e ex·
Ministro da A gricu1tura)
~ivros e Creanças

Ag rad ecendo :1 offerta dos lh -ros u so m.


b r ~s "
c ' · Paginas infa uus" di rigiu 0
nosso colleg-3. dr. Francisco l;-alc;'io a
scgllinl c carta ::i. illustrc e:scr ipt ora
D. P• cscilia u:l Duarte de Al mc i<b.

Exma. Snra.
Surpresa agradavel e sobremodo confo rlaclcra e honros a
foi a que V. Excia. houve por bem proporci o nar-me co m a re-
messa dos seus clous preciosos livros: <So mbras > e cPaginas
infantis•. Do primeiro, depois de ter haurid o em suas estro phes
cantantes e plenas de belleza as mais suaves em oções , limitar-
me· ei a dizer com o insigne homem de lettras qu e o p refaciou:

Sombras é um livro bom. O ineffave! perfum e


De uma alma delicada embalsama o volume

Ousadamente tomarei agora a liberdade de, com m'l.is demo-


-ra, manifestar nestas linhas a perduravel e grata impressão que
me fiéou no espírito com a leitura do cPag inas infantis». Ainda
não o conhecia e chegou-me numa occasião bem o pportuna.
Poucos dias antes, conversando com um distinclo ·intellectual pa-
trício a proposito da nossa deficiente litteratura didactica e las-
timando a ausencia de livros que despertassem na creança ale-
gria e intere;se, delle recebi a notici1 do valioso escrinio que V.
Excia. generosamente acaba de enviar-me.
Lendo-o como quem desde a!guns annos se vem preoccu·
pando com assumptos escolares, vi que tinha entre as mãos ~tm
trabalho bem distanciado dos que abundam em nossas livranas,
muitos, aliás, sahidos da oenna dos nossos mais fulgurant.es .e
consagrado• escriptores. Vãs tentativas: nota-se-lhes ás pnmet·
ras paginas, no vocabulario rebuscado e na escolha àos tbemas,
a impossibilidade de ferir e interessar a intelligencia dos in·ccn-
PAGI:\ AS 11\ l•'A NTI S xxru

tentavei s leitores a que se des t mam. . A I m n'os incomp rehen-


c Ja -
-siveis, i_m penetra veis.. .
s1 em outros ra mos da, .l'l tteratur a. O principiO da carle t _
ela arte > cada di a por improflcu o,
P ' ' · · d so do 'escript or para ser m ms co nde~nn a ve 1 se c:;tr
na e xwm o- ' bem s ucced1d o qu e mui o
si r; ta 0 "' objecto das s uas ob ras, qu e d 1re. · de
rnos nos . _ quem se
ro õe a escrever para as creança s, nas qu aes as p~1xoes
f r~se ntam turnu ltua n tes, porém ai nda _c?n [usas e _ md ef~ mve1_n~s
_se
p Foi preciso que Edmunc l_o cl~. Aml ClS p or lllllltos dtas e sl~Je- .
zes aco rnp:~ n basse o se u qu enclo tdh o a u ma e~co la d e Tunm,
·e att rabi sse-lhe u ma vez po r outra os co mpanhe 1r<:s, pa ra
_poder
p rod uzir esse livro qu erido e inir n ita vel - O coraçao - l~oJ
nheci do e amado fe brilmen t e pela ~ creanp s do 111 11 _n do 1n
e. co -
re rr o .
: 0 .1 qu elle osser vazione e d a qu ell'afe tt?, _aff1rn! a o pr~n­
teaclo escripto r italiano , é nato il libro que scn ss1 ~er 1 rag:a_
z z l. >
En tre nós, brasile iros, desg raçadam ente, ne nnu m escnpto r
que se prese e tenh a o q ue perder aventu ra r-se -ia a en tra
r em
contado cli recto com a escola e com alu mnos para a f3clura
de
um li vro. Teme m o ridícul o .
Fe li zmente, o li vro de V. Excia. se nos a prese n ta, agora,
como u rna promess a ri so nh a e co nsolad ora. Paginas com o-
aes Lorlainlia, Um modelo, Sou poeta p equeni11o, ; 1 boneca,
!de-
berÇo, Mãe e filho ... são elas qu e fica m , depo is ele ouv idas, No
g ra -
vada s, resoanclo na alm a te nra dos p equ enos escolare s, tal
a en-
cantado ra sirnplez a d e lin g uagem qu e nell as se allia ao carinho
doce e matern al co m qu e fora m se ntidas e escripta s. D os
capítu-
los em prosa, não conheço no ge nero .wda ma is v ivo e chei
o de
encanto s elo qu e- Desgraça, Lucinda e Carzdoca, O Azarias
ta de um interno. O tr echo : · Diga ao Chiquit o que pode ficar co m e Car-
o meu bod oqu e qu e está depend urado no quartin ho do corredo
parece flagrant emente t omado ao natural da corresp ondenc r. ..
ia d e
a lgum _c?lleg ial ausente , tão rea l é a impress ão que deixa em
nos-
so es p1nto. H ~ no entanto , no mim oso li vro, duas paginas
qu e
merec~ m espec1al destaqu e: S em Ella ... em que
os pequen os lei-
tores ficam sabendo q~1e <H a creanci nhas que perdem a mãe
pa-
ra sempre e_ nunca mais p odem vel-as nem de long e .. . • e o
con-
to-Fralenudade. Neste as scenas são pintada s com um co ntraste
de cores tão vivas e impr~ssjona1~tes que, ~ido uma vez,
esquece remos. Toda~ ~s pm xoes boas ou mas, accessi veis jamais
á a lma
-da c~eança,_ como. a vmgança, a ingratid ão, o arrepen d\ment
perdao, ah1 se ag1tam forte e indelev elmente . o, 0
Ahi_ tem, E~ma. Snra ., a impress ão que me deixou
pequen o hvro. Sena para desejar que V. Excia. continu asse 0 seu
<ao
:enos uma v ~z <:_ada anno> a fazer editar outros de naturez
·.,ual. Quem d1spoe de uma penna amestra da assim e alma a i -
trans-
XXIV PAGIN AS INFAN TIS

bordan te de sentime ntos tão delicad os e ternos, não c;e pode


trahir, sem praticar uma injustiç a clamoro sa, a favorec sub-
er de
quando em quando co m outras tantas paginas a alma sequios
a
e mal cuidada da infancia bras ileira .
Estou certo que todas as creança s- das marg ens do Ama-
zonas como do nordest e brasilei ro calcinad o e esqueci do,
serrani as mineira s como dos pa mpas do Ri o Gra nde, d e pois das
de
inebria das com os versos e as hislxJrias entei xadas nesse
livro,
com lagrima s nos olhos, ele longe pedirão , como os filhos
de V.
Excia., <Faz' outro>. E depois qu e, ar ra nca ndo d'a lma ge nerosa
mais uma cles<>as joias raras, lhes der V. Excia . ou tro livro
ig
ao •Pagina s infantis • , ebrias ele prazer ainda se fa rão o uvir ual
te r
nament e ag radecid as, sempre repetind o: cFaz' ma is ... faz '
mais> .

FHA?\C ISCO FAL CÃO


Do Correio do Sul.
c··-·- -.----- ., ~-· ----·
,#, ,; .
Ca rta s ho nro sa s ( .;:.)

E x . ma S 1•• a D. Pre scil ian a D1tm·t


e de Alm eid a.
Ag rad ave lme nte imp ressio nad o
pel a leit ura
·qu e aca bo de faze r do mag nífi co
trab alh o com que
V. Ex. " pre ten de enr iqu ece r a
nos sa lite ratu ra
infantil cabe-me o dev er de feli
cita l-a por ess e
'
(•) Escr ipto que foi este li vrin
rece io apod erou -se de nosso espi ho , uma g rau1l e duYi<l~l, um g rand e
ria elle üe al"u m mo:l o se r apt·orit~: dc Y e ria~n os Pl0) hcal -o ~ P.oll e-
pessoalm ente ~ um disti nctissimovett.a do 1 E 101 e ntao q u c· jJerltmoR
e a uma jove n amig a, prof esso ra membr·o du ensi no em S. Pau lo
.que nos disse ssem , com a mais acat aria pelo s sc~t s raro s dote s,
nosso pequ eno t.rabalho. l~esponrl rude rmn qn oza, o que aoha ;;se ut ele
·tam anha beneYol cnci a, que 1\e vrom e ram amb os por esc ri pto,
pto e co 111
dar para o prelo os :11auuscr ipto s. tom ámo s a l'Cso luçã o de man -
lnse rintl o aqui essa s ca rtas hour osis
seus sign atari os de trazc l-as a lum sima s , pedi mos desc u lpa a os
cede ndo, não sõ proc uram os amp e, na cert eza de que, assi m pro-
as suas opin iões ele profi~si arar o noss o mod e::to livl' inho cont
uma hom enagem m111to smc eonae s illns tres, com o tam
hem
ra ao prof esso rado publ ico brazpres tar
Essa s ~luas..cart as é a . do emiu e nte ileir o .
.Sr. Dr. JO<tO h.op ke, serv u·-u os-ã educ ador e repu tado mest-re
dece pçõe s que nos <tCa tTl\te o a;; o tle cons olo prev ia para toda s as
i~ a:·eci ·" ento rlest e livl' o.
XXVIII PAGINAS lNFA~TlS

facto, congratulando-me, ao mesmo tempo, com a


nossa juventude, e com o professorado deste Es-
tado - do qual sou humilde representante, - por
tal acontecimento.
Escripto numa linguag em que fala á alma e
ao coração, descrevendo scenas e factos por nós
presenciados quotidianamente, o que ji é muito,
quando se trata da confecção ele trabalhos dida-
cticos, seu livro, Ex.m:t S enhora, assim elabora-
do, ha de ser bem recebido forçosamente. co m
amor e sympathia, por todos aquelles que, como
o modesto subscriptor destas despretenciosas linhas,
entregam-se á ardua e difficil missão de ensinar.
Disse um elos nossos mais distinctos educa-
dores que <<a primeira escola é a família e os
primeiros mestres nossos paes - principal77zente as
mães», É o quP. se deprehencle desde logo da lei-
tura de seu livro : um coração de mãe intelligente
e carinhosa a expandir-se nessa linguagem su-
blime, que só pertence áquelles, que como V.
Ex. , sabem manejar ·O verso.
Ora, um livro nessas condições, que é uma
estréa mais que auspiciosa, si se pócle chamar de
estreante a quem, com os f ui gores de seu bello
talento ha muito que se impoz á nossa admira-
ção ; um livro como esse~ é um livro adoravel,.
JNI~ .-\NTJS
XXIX
PAGI NAS

o rlos
faz o enca nto das crea nças e a satis façã
mes tres.
Qua nto á sua cnt1 ca, deix o-a para os mais
subi da
com pete ntes, mes mo porq ue me coub e a
prim ores
honr a de nelle colla bora r, junt ando aos
lavr a,
que ence rra um mod esto cant o ele min ha
iste elle
o qual si tem alg um valo r artís tico, cons
deu mo-
justa men te na bell issim a poes ia que lhe
e nriq ue-
tivo , verd ade ira joia dent re as mui tas q ue
cem seu precioso escr inio !iter a ri a .
Sinceros para bens, pois: ele q uem tem a hon-
. mo
ra ele ser de V . Ex .D- att. v.o e cr.o obg
0

] osÉ C AR LOS DIA s.


Direc tor do Grup o da A. do Trium pho.

S . Paul o, 26 ele Abr il ele r 90 7.

P1-ezadissi1na mn? o·a ~

' d. A
" D tta 7"'-e e lmei da
" •a
D. Pnse t.Fm

Min has affec tuos as saud açõe s.


~ca~o clé lê r o seu mim oso livro .
E Sinc eram ente lasti rnav el que tal . . .
- 1 . pl eclOSl-
dacle aind a não se ache nas
mao s c as crea nças !
XXX PAGL\' AS I NFA NT IS

Creia qne elle fa rá as delicias ela infancia, a qual'


amará o seu nome tanto quanto seus filhinhos
amam o do Conego Schmiclt.
Si as creanças soubessem que O . Prescilia na
Duarte de Almei da tanto te m delei tado com sua
brilhante illustração a mocidade culta brazi leira e
ainda não se havia le mbrado dellas ... clellas, coi-
tadinhas, que tanta sêcle têm de iêr, de estudar,
creia, nunca lhe perdoariam tal silencio !
E si acaso viessem ao conhecim en to ele que
já existe a rara joia de literatura desti nada á in-
fancia, que se in titula « Paginas Infa ntis », tenho
certeza, ellas iriam em bando pedir-lh'a.
Fique certa de que, si o seu bellissimo livro
vier a fazer parte ela nossa bibliotheca escolar, o·
proiessorado paulista a abençoará, como a uma
verdadeira benemerita!
A Sr .a não imagina a falta, a necessidade
urgente que temos de poesias para. as creanças!
Não se acha o que lhes dar para recitarem! As.
aulas de declamação tornam-se horrivelmente mo-
notonas por falta de variedade ! Por vezes nos
vemos obrigadas a fazer traducções de poesias
extrangeiras ou mesmo compôr umas poesias z'n,l·-
pú·adas pela necessidade: Imagine a Sr. a ! as poe-
sias que ha, já estão muito conhecidas.
PAGJN~\S J:IIFAN TIS XXXI

Eu lhe confe sso aqui o meu cnm e: aind a


no mez passa do vi-me na dura conti ngen cia de
-
fabn 'ca7" um clialogozinho em verso para duas alum
nas minh as recit arem ; pois appr ox imav a-se o dia
em qu e havia au la . de decla maçã o e eu nada ha-
via enco nt rado que se rviss e !
Veja que o se u li vro é extre mam ente neces -
··
sa rio! Elle ve m, ele fac to, pree n,che r uma enor
me lacun a.
Esta carti nha é un1a que1xa aos nosso s lite-
ratos e m ge ral, e, muito e m parti cular , á Sr.a
a
tamb em . Não se za:1gue co m a sua e nthu siast
admi rador a e amig a elo co ração .

FLOR JNDA Ron DE MELL O.


Carta- Prefacie>

lU·ma e Kr;.ma Snra,. D. Prescüüc,na Duarte de Almeida


Rio de Jaue.i ro, 3L de Maio de 1907.

Minha Senho1·a e 1Tene1·ada Pat1'icüt.

Nfto era precisa <Í. sua carta de 1. 0 do mez


expirante a escala, que lhe deu, pelo . prezadis-
simo intermeclio de .0 . .Mimosa, cara Amiga com-
mum, a quem V. Ex. fez ele Santa para chegar ás
alturas, onde o seu generoso coração e coro avel
encorajamento se dignam de pôr a minha humilde
e obscura personalidade. Ha captiveiros que são
doces de supportar; e aquelle em que me poz e
tra;/, um esforço, que co m ·prazer, vejo a V. Ex.
PAGil\AS INF.-\ NT!S XXXI[[

sympathic o e por V. Ex. compartilh ado, tradu7.i n-


-do como traduz, a abnegação do co mmoclo pro-
pri'o e m fav or da ca usa humana, nada m_ais é
do que um fru cto rsperado da fórma de s enttmen-
to tão be m difinida e qu a lificada por Kempis na
Imitaçã o, e, portanto, o goso co mpe nsa dor dosa-
cri(i cio e a nnull a dor do a lm ejo, o gmto echo d'essa
« harm onia celes te rl e co rações ig uaes )) ,
em cuj a 111Ll ·ica ouvia Spe nser, travez das ::ma s
.desgraças, a voz do co nfo rto e da espe ra.u ça.
Acce ito, poi s, e b emdi go os o nu s d'esse capti-
veiro, se m o minitu o constntng im enlo, a não ser
qu e o tempo tão escasso me seja pa.ra a ohl3d ie nc ia
á s s uas ordens c para di:l r a. meu modo de ve !·
um dese nv olvim e nto ta l qu e a luz mais clara pe-
netrasse toào o recanto, mos trando a V. Ex., nas
palavras, em que o exponho e na inspiração que
m'o dieta, a convicção, e m que fi co, de que pro-
curei correspond er, por co mpleto, a o intuito de
V. Ex:. , solicitando , em nome da causa, o minis-
.terio si ncero do menos autorisado elos seus ser'Vi-
dores.
Minha opinião sob re o livrinho, que V. Ex.,
me poz entre mãos, permittir- me-á V. Ex., entre-
tanto, que sómente a dê quanto á. sua utilidade
~o _m;io educat_ivo, onde nos encontram os e, pois
as_ rdea~ e prattcas nesse me io predomin antes. A
mtnha .ll?comyet encia para dizer sobre a metrica
~ requtsttos t_mpostos <i composiçã o poetica, justi- ·
ficam a restncção.
XXX LV PAGINAS ! NFA)ITfS

Con10 \ T. E'x. sa be, aqut'll o, qu e se c IH1.ma, na


technica pedagogica, (( c~rtes esc:olnres », constitue
ainda por muito, apezar elas a.pparencias, qu er n~
organização form al publica e parti cul ar, quer no
conceito e aspiraçã.o dos paes, que sii.o natLn<.ll-
mente os primeiros menlores ela edLlCac:io infantil
' '
a. substan cia e esse neia elo progrannna a reger os
passos ini ciaes da. infa ncia.
Lêr, escre,·er e con tar - eis a trilog ia, que,
no limiar da edu cação, aco lh e a alm inha, que
vai pedir ao sol do ens in o o ca lor que lhe
seque as azas ainda humiclas elo frio e ela escuri-
dão ela chrysalicla, e a luz, que lhe mo lt·<· ;1. pers-
pectiva dos campos, por ond e é seu destino <dar os
aclejos. A.ssim, quando, pelos processos inin1itaveis
da natureza, por co mmuni cação prompta e11tre o
espírito, que se molda, e as influ encia s, que o po-
dem molcla.r, trata-se logo de ini ciar a cre nça na
aprendizage m de nova língua, cuja denominac.; ão-
difficil requer longa prati ca, mesmo si a despirem
das incongruenc; ias consagrada s pela tradição e
mantidas contra os protestos do bom se nso. em
vez de lhe abrir pela porla larga, que _Ja se lhe
-f ranqueou na fala, a entrada desimpedida. para o
mundo novo, cujas impressões pondo em activa
funcção as faculdades latentes semi-cles pet'tas, ele·
senvolY!lm, pelo i-mfluxo cia emoção, a moclalidade-
psychica susceplivel de evoluir dos elementos
accumulaclo s no germen a desenvolver.
PAGfi\'AS I N FANTI S XXXV

Felizmente, porém, já e ntre nós, co mo no res to·


elo mundo, pe netrou , aqui e a li, a convic~ão de
qu e, set?u ndaria n o effe ito para a cultura menta~
da primeira infanc ia a l e i~ura cede ? p~sso. a
Jilera lura , co mo a a rilhm e tl CC:t o cede as scJenc1as
naluraes, uma e outra ~em as excluírem. Nos
.Jarclin ~ da Till'a nc.;ia c.;omo na : Jnt·r.·ery dos Saxon ios.
ou no co ll o da s 1namut.ns pretas d e nossos netos e
filh o:·, os ll tesOLHOS g uardado ;~ n a~ lústo1·üts e a
poesia das trovas popu la res co rn eçam a Lrazer ao
esfo rço elo pedagogo moder no a colhe ita preciosa
de s ua fru r. lificação: e a s m<u·avilluls cl <t vida, que•·
no nlll nd o do:.> vege taes, qu er no sempre para as
crean ças fascin ante mundo do s an im a.es - os as-
so mbros da Ten a e dos Astro s - os mys terios da
for ça ela na lure:ta acabramadas ao jugo do homem
pelas scie nc ias, artes e inclusLrias, dando, ela sua
realidade, imagens fieis e in de]eveis, imprimem á.
expressão a facilidade, a largueza e a effi cacia que
se vão ret1ectir, como características preeminentes
110 fahtr e no escrever daquelles, que tiverem a
ve ntura de receber <l s ua ini ciação mental soh
o influxo das novas doutrinas s inceramente postas
em realisaçã.o.
De tempo8 a esta parte, com effeilo a nossa
bibliotheca diclactica tem vi::;to entrar par:a as suas .I
prateleiras, co m destino á primeira educação al-
g~n s livros ele feitio bem differente elos livro~ de
le1turu,. ~x~ressa e exclusivamente elaborados para
a acquiSlÇao e posse desembaraçada da linauaaem
t> t>
XXXVI PA G I.N A S i N FA NTIS

escripta. Desses, uns com ori e nla t.~ ão mel ho r e ou-


tros peior, alg uns correm s ob a res po nsab ilida de
do nome de festejados literat os, e e~ses, j usL<tm e nte,
são · os que, por n ão ex0rce re m a fun cç~to m a,ler n o.l
da primeira educação graças a o in stincto p rov i-
dencial assig naland o por P e8talozzi, ou por não
terem o ponto ele vis t a profiss io nal, só possível
mediante preparaçã o devi da , mais fa ll ta m, na vi-
sada, o alvo, q ue se prop uze ram.
Abra, poré m, V. Ex. u m cl 'esses liv ro::;, a que
alludo: e veja s i, n 'essas o bras fe i La s por e ll co m-
mencla ele editores p ara ex plo ra çrro ele p ro\·entos,
encontra V. Ex. aqnelles age ntes el e va lo r educa-
tivo, que forn ece ao mes tre mode rn o a li LeraLu ra
despreocc upacla de d e.::;tino didactico e que esses
mesmos autores p~·oduz e m co m ad mir·ave l La le nto .
Isto pos to, occ upe mo-nos especia lm en te do de
V. Ex. sob o ponto ele vis ta das va ntage ns, q ue,
por um us o d iscreto, cl'ell e poderão Lirar os mes-
tres, caso se queiram amolda r a os ensin a me ntos
da boa diclr.ctica.
No seu prefa eio diz V. E x. qu e escre ve u u ma
poesia, em que figura va um poetinh a de d ez a n nos
apenas , mostrou-a a se us filh os, e eil-os a p ed ir·
lhe gostosam e nte: «Faz' outra!» e, quando lhes deu
a outra: «lraz' mais!»D'a hi con cluiu V. Ex., e b e m,
que nas suas poesias encontrara m as crean ças a
sua pt·opria alma, r esolve u-se a escre ver as p ag in as.
que houve por bem submetler ao meu juizo . .Mas,
embora V. Ex. pelo « mostr a1' » nfta in culqu e q ue
PAGII\'A S I NFANTIS XXXV H

lh 'as leu, eu es tou que se us filhinho s penetraram


0 encanto elo verso pela melodia terna. ele_ sua
voz, ~ob o olhat· expressivo da s ua r ecJta ç_ao-
não o saborearam trav ez ela le itura das lml:a~
mudas e in ertes elo se u ly poscriplo. A ser ass1m,
co mo co nfio CfLl e o se rá, o uso a dar ás composi-
ções cl 'este genero re ·Lringe- e necessariamente ao
ensino oral; desclass ifica-a dos l ivros destinados
a torn ar ex ped ito a uso da ling u<tge m escripta;
não qu er que cons tit ua m livros de leitura; fa z d' el-
las mais, muito mai s: s ~w notas de um di apasão
qu e convidam ao canto no co nvívio da gra nde ela-
boração a ffecLiva e intellec tuaJ, dando, no timbre,
a afin a.ção pot· ond e, na variedade elos tributos
individuaes, ha ele r esultar a harm o nia do conjun-
cto melodi co, qu e é o id eal pcr e nn e ela vida da
humanidade.
Assim, no nosso meio escolar, onde a leitura
e a escl'ipta são ainda a preoccupação inicial e
supremo, o livro de V. Ex., que é intrinsecamente
um instrumento destinado a. intuito mais elevado
e mai s prolífico em vantagens maiores que a ha-
bilidade em decifrar letras, corre o risco de ser
empregado para fim, que lhe mangrará os fructos,
cap~z de, ~·outro meio, mais bem orientado, pro-
duzJJ'. Ouvtr ler livros assim escritpos - receber
pelos ouvidos ainda só affeitos ao d.oce echo de
voz. de seus familiares, com a musica do metro e
a vtbração penetrante da fala emocionada, a im-
pressão das imagens, que a CJ·eação poetica faz sur-
XXXVlli PAGit\AS INFAl\TIS

gir na imaginação susceptível do espírito a a ccorclar


para as realidades da vida e do sonho, comprehen-
de V. Ex. que é uma cousa; e, cou sa muilo diver·
sa é, com olhos inexpertos na a.pprelle nsão das con-
venções muitas vezes incongru ente ·. d e um ct gra phia
qualquer, arrancar dcts letras o som arbitra ri a mente,
por ellas registre::tdo, juntando a.s le tras em pa la.v ras
que traduzam idéas conhecidas e inle ressan les, e en·
tretecer essas idéas em expan s ões el o co ração o u do
pensamento, que fal e m tão d e promp to á intelli gen-
cia travez ela visla, como o fluir do di scurso fala <i \·i-
bratibiliclade do ouvido habituado a apanbal-o sem
esforço.
Entenderá, poi s , V. Ex., por aqui, na meia li n-
gua que posso, o meu pensame nto: as Pnginas In-
fantis são um livro pctra ser ouviclo mais elo qLl e um
livro pw·a ler - um livro para ser apreciado e me·
morisaclo travez da repetição ouvida ao mestre, co-
mo pela repetição atravez elas palavras ele uma mãe
se decoram as orações primeiras, que a fé nascen-
te das alminha.3 se insinuam e confiam; não um
livro, que agilite na leitum corrente ou mecanica
mercadoria, entretanto, a mais prpcurada no consu-
mo peclagogico. Si assim fôr aproveitado, não po-
nho duvid<-t que representarei elle uma contribuição
modesta, mas efficaz, para a acção elo me~tre,
que se saiba levantar á. altura da pedagogia da epo·
ca.
Terá V. Ex. pensado, com a fina intuição da
mulher-mãe, nesta maneii·a de utilisar a obra, que
PAGINAS Jt':FANTLS
XXXIX

0
seu estremo affectivo e as in sp irações ele sen no-
bre altruísmo levaram a complemento? - Com cer-
t eza. V. Ex. s ab e que as es Lropbes de Homero eram
cantadas na corte dos principes para prender os
co ra ções naqu ell e e nleio in comparave l, que a~Tancu~l
ao pin ce l de Alma '-['adclema um de se us mats admt-
r avP is pain eis; - qne, e m A th e na s os g rand es
poetas, no· vastos a mphi thealro s co b e rto s pelo ve-
1ari o elos azues me ri dionae s, lia.tn ou r e prese ntava m
ao po\·o aqlle lla s obra s primas cor oada:> ele applau-
so;:; es tre pito ·o s, a cuja vibraçü o, tomba\·éull, ua pa _
sage m, a s ave· qu e no se u adej o, po r elles sobre.
voavam; - que, e m H.oma, a e loqu e n c ia ela prac~a
publica abalava a a lm <t nctcional co m o nun ca o fa-
rá a phrase burilada dos no ssos rh e tori cos a toslfio
por folh a nn. l eitura atormentada de um bond; e
<{ue, na Idade M·~üia., os meneslreis e trovadores
quebravam a monotoni a dos lon gos lazeres dos in-
vernos castellãos, desenvolvendo as fórma:::; primiti-
vas da mu sica e da poesia, com o descante das lo-
as. a. que as mancloras e arrabis davam o realce
?o.se.u acompanhamento. Como a especie, assim o
mcltvtduo: .a viela ele um e outro se molda pelas
mesmas lers e a pedagogia elo seculo, que não é
insensível á

«harpa, que um rei, com deleite escutou)) _


rei~indica para o uso da infancia do homem o im-
peno _elos agentes, graças aos quaes a raça infante
evolmu.
xxxx PAGINAS INFANTIS

Grande proveito tr:1.z, pois, aos trabalhos des-


tinados á infancia, a convicção elos autores, que,
como V. Ex. em prefacio o affirma pela a u tor ida-
de de Friederich, sabem qu e os li vros do ge nero
nãú hão de ensinar moral por maximas. E' l'acil
de comprehender porque, laes maximas .só pócl em
falar á cornprehensão e e:í. vontade elo di 'úipulo,
isto é, justamente <iqu illo, que ainda lhe falta e
os primeiros esforços do mestre proc uram dese n-
volver, dirigir e fixar. As narrativ as, p ois, e m q ue
a 'Ímagel"ie claramente desenhada se não ob cure-
ça em meio á pompa elos vocabulos, mu . ica elos
metros e abstruso dos tropos, deixando ás fig uras
em acção a trama de um enredo facilm ente pr.rce-
biclo nas palavras e actos, nas cousas e phenom e-
nos- estas é que ser vem ao fim, que a e ntrada
da lUeratw·ct ent acção na escola moderna tev e em
vista: abalar e pôr em activiclade a imaginação
- aprimorar ao conlaclo de uma arte, que rende
culto á belleza e á perfeiçfLo- temperar com uns
toques de romanti smo as duras realidades da vida
- entbesourar na memoria joias, que, nos se us.
fulgores, inclinem á visão do melhor quando a vi-
são do mau obumbra - mover em afinação normal
e sadia as emoções, que refinam os sentimelltos-
na musica do rhythmo e rima, na riqueza do vo-
cabulario, na memorisação do que é be.llo em si
e se engasta em moldura igualmente bella, final-
mente, apurar, enriquecer e adequar a expressão
da linguagem.
PAGlNA S INFAN TIS X XXXI

Sente- se nas compo sições por · V. Ex. enfeix a-


das nas Pa.gin as ln(an.l'is, que V. E_x. te_m, .como
toda a mulh er mãe, a intuiç ão prov1 denc1a l da n_o-
ta a ferir pa ra, por ta l fó rma, calar no coraç ao
da. creanç a, jus ti fi cando assim o d ito do pensa dor,
qu e a lfirrna v a ter .De us fe ito mães, porqu e quer
qu e o co ração seja. o princi pio dire ctor na educa-
Çc"lO da pro le. . .
Qu em portan to, além do s pred1 cados , por clls-
posi ção provid encial, a panag io do sexo, possú e os
peculi ares qu e V. Ex. rev e la no ensaio e m ques-
t;:-lO, póde, co m estudo ma is demo rado, da es pec ia-
lid ade didac Lica e contem plação de mode lo· de ins-
pira çiio bem o ri entada , escoim ar de todas as jaças
as ge mm a:, qu e o se u Lal e nlo, pelo braço do co-
ração. traz aos th esouro s en canta dos d esse mund o,
em qu e as crea n ças compr ehencle m, sem explic ações
nem dcf·ini ções, o que é demai s marav ilhoso , dema is
transc enden te, d em<'Li s vis inho ela realid ade prime i-
ra, demai s cheio de vida, de bellez a e de alegri a
para que se cle[ina ou expliq ue, segun do o põe
G. W. Cooke nos seus Poetas e Probl emas. Si Sha-
kespea re deixou á. huma nidad e um legado nãJo
menos util que vVat.t, está claro que, neste camp o
comm um, onde a imagi nação vibra ao sopro elo
coraçã o, toda a melod ia que um coraç ão bem for-
mado arranq ue a uma imagi r.ação sensi vel é como.
o dedilh ar que um plectr o habil corre sobre as
cordas de uma lyra ou de uma cithar a: abala
subjug a, beatif ica. Já. Schleg el dizia: «o poder d~
XLII PAGINAS JNI-'ANTI S

crear o que é hello e de re present ai-o <i vista e


ao ouvido é um dom univers al do céo- a exce l-
lencia intima é que é decis iva, e, o nde es ta e xi s-
te, cumpre não nos deix a rm os repellir pela a ppa-
reneia exterio r ; tudo d eve pre nder-se <t n a tureza
human a; si d 'ahi brotou , tem um \'alo r propn o
indiscu tível; porém s i, ·em possu ir genn e n de
vida, só extern a me nte a app axen ta , não medra,
nem adquire vi gor.»
Mestre e artista ao mes mo tem po, o poe ta,
ninguem o póde ::;er melhor elo q ue a mãe, q ue,
no amor, tem a autorid ade para o e ns in o, e, no
mesmo amor, o thema para a arte. 1VIa rD.vilhosa-
mente, porém, entrete cida s na sua individu alid ade
psychic a, esses dons pro vid enciaes , esses mini ste-
rios admirav eis, tão diverso s e t~lO irmãos, um ha
-de celebra r na. intimid ade do outro, porqu e ambos
se ari1para m e se comple tam. Isolar o mes tre é
·deform ar o artista; isolar o artista é deform ar o
mestre. A producç ão peclago giea, pois, de V. Ex.
·é, tanto como as Pctginns lnfnnti s, a s ua obra es-
pontan ea, as So.mbra s, por exempl o , em que, des-
preoccu pada do ensino, traduzi u V. Ex. a realida-
·de de sentime ntos incorpo rados no verso pelo seu
inconte stavel talento artístico , e, portant o, poeti co
ou creador , que outra co usa não vale o q ualifi-
·Cativo.
E cá no fundo deste cantinh o, onde V. Ex. me
lobrigo u para confiar de mim tarefa tão superio r
.á minha compet encia, trouxe- me momen tos de ju-
PAGiNAS INFANTIS XLIII

bilo a. certeza, assim pos ta e m e videncia, de que,


apezar d 'es te mara s mo em que se mergulha a alma
nacional, ainda ha quem pe nse nas creanças e por
.ellas se esfo rce, fala.ndo-lh.es p f)la voz da poesia,
em vez de lhes fallar na pecla nteria da sciencia
vul ga risada. Bemdito sej a , pois, esse esforço e que
a sorte lhe prospere o nobre s urto, d erramando
em graças sobre a cabeça do s pequeninos toda
·essa ubllndancia de <:o ração, que o lev a nta, e h a
de, se m du \'ida, co n d u~ir á victoria.
<< E dizem, o homem, poderoso,
R ege su pre mo a ter ra o o mar ,
E os mais poderes, temeroso ,
Ao se u imperio faz curv ar.
Poder maior se leva ntou
Porém, e o homem s ubjugo u :
A mã.o, que o berço e mbala ,
E' qu e o universo avassalla. »
Retribuindo as saudações obsequiosas de V.
Ex. e Exmo. Snr. seu Esposo, peço-lhe que affe-
·ctuosamente beije por mim seus Filhinhos, que têm
a ventura de possuir uma mãe tão preoccu pada
·de seu bem e da felicidade de seus patriciosinhos
-e sou com o mais alto apreço, · '
De V. Ex.
· · 1o,
Allento venerador e n1e110t' crea d o o b ngac
JoÃo KõPKE
Pagina s Infantis

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Joaquim ~oberto Duarte


•••
L Jmperecivel saudaõe I
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Pro logo
I
I
I
II
I
LivrJs e.n que a creança encontre sua propria
.alma, - a psychologia infanti l! - que bello e diffi-
.cil veio para ser explorado pelas mulheres que escre-
vem.' Estas ideias. luminosamente expostas, ha tempos
.num artigo, por Maria Amalia Vaz de Carvalho, a
grande pensadora que é uma das mais culmin antes
.glorias da literatura portugueza, despertaram-me a
lembrança de ama pequena tentativ a no genero. Es-
.crevi uma poesia na qual figurav a um poetinh a de
dez annos apenas. Mostrei-a a meus Filhos e eil-os
.a pedir-me gostosamente:
« Faz' outra. » E, quando lhes dei a out~·a:
·« Faz' mais! »
6 PAGJNA S TNFAJ'\T lS

Não era inteiramente desanimadora aquella cJ•l-


tica .
As emoções que nossos trabalhos despertam nas-
creanças devem ser levadas em grande conta para 0
nossso julgam ento final. E bem convencirf!l fiquei des-
ta verdade desde o dia em que se deu o seguinte jac-
to: Possuí a o meu Filltin/w mais veL!to. qne finita en-
tão onze annos, muitos livros do Coueo-o Sc!l!nidt, os:
quaes já tüzlzam sido Lidos e relidos. f'fdill-m e cf/c wn li-
vro no11o daqaelle auctor. /Vl alldo f llll mzpre{!mlo rí lil'ra-
ria , dando-Lize a lista dos livros que: ti!!lwm os em casa e·
dizendo -lhe: traga quaLqu er outro livro de chmidf ;
não sendo nenlwm destes, sen ,e. Voltoa o rapaz 11 ·fllllrl
flora em que não me foi pos5i l'el receber o livro, sendo
este entregue directamente a me:t. Filho. D'alü a IIIO -
mentos ouço os seus soluços e corro assustada. Vi-o·
debruçado á mesa de j antar, com o rosto la vado em
pranto e o lit~ro no11o aberto a um Lado, eao avistar-
me, explodia em clamorosa queixa: « Este livro não é
llo!!õ bons! Este Livro niio Jn·esta ! » Surpre/le/1{/ida, .
lanço mão do Livrinho: não era do Conego Schmidt.
Consolei a custo meu Filho e mandei buscar immedia-·
tament e outro livro do auctor desejado. Conje:;so, po-
rém, que aquella scena é das que mais jandv me ca-
laram na alma! Nunca suspeitára até então que as
creanças pudessem com tamanh a intensi dade amar ou·
detesta r um esrriptor. E por isso, tanto quanto a opi·
nião dos mais abalisados criticas, valerá para mim a
espontanea e inconsciente apreciação das creanças de meu
paiz, ás quaes entrego commovidamente estas paginas.
PAGINAS INFANTIS T

Para tomal-as mais variadas, intercalamos as poe-


sias com trechos de prosa e enigmas. Parecem-me es-
tes de vantagem para aguçar a intelligencia infantil,
notando-se ainda que as creanças em geral gostam de·
adivinhações e sentem orande contentamento quando en-
contram a cl!ave do problema com que por instantes
se preoccaparam. E procurei tanto quanto possivel, ter
em consideração, ao compor esta modestíssima obra, as·
palavras de Frlulriclz Friedrich : ((E vitar na literatu-
ra destinada d injancia tudo que pareça conselho e
predicas de moral, mas procurar exercer uma influen-
cia benejica na alma da creança, sem que ella propria
o saiba. A vida, essa admiraveL educadora, nclo esta-
belece normas , obra unicamente pelas impressões que
11ai deixando. O coração infantil é mais sensivel do·
que co11wzummente se pensa, elle assemelha-se ao ges-
so, em que ficam todas as impressões, boas ou más.
Podemos imprimir-lhe um sulco úem assignalado, nun-
ca, porém, jazer parat sobre elle um papelinlzo conten-
do um sabia ensinamento. ·
A creança tira proveito só do que é simples e na
ta ral.»
Pudesse este pobre livrinho merecer a sympathia
dos mestres e dos paes, e sobretudo das creanças, que,.
rza candidez de suas almas transparentes e bellas
chegam muitas vezes a glorificar o mais lzumilde do;
humildes.

f};.escilian..-t fJ uarle de @!!meid".:t

S. Paulo, 22 de janeiro de 1907.


l I

Livr0 bonito I
lj
I
I

- Para mun, livm bonito·


E' aquelle que tem figuras,.
P'ra você não é, Carlito?

- P'ra mim é o que tem doçuras,


E nossas almas retrata
E da terra as formosura s !
10 PAG INA S INF AN TIS

Ma s a mt m tambe-.m é g rat
a
Um a gra vu ra ris onh a ,
Co m ver me lho, azu l e pra ta
..

:Pe rto d'a gu a, um a ceg on ha,


E, no s ver do res da ma tta ,
· Um pas sar inh o qu e son ha
...
!dea es

Quan do e u fô r g rand e, Mãe carin hosa ,


Hei de te dar
Uma casinha mu[to formosa,
Perto do mar.

Carr os bonit os, gran des caval los,


Tudo a luz[r . . .
Quan tos prese ntes! quan to regalo!
Quan to sorri r !

Quan do en fôr gran de, muit a nque za,


Mãe, hei de ter,
Ganh a com toda e toda nobr eza,
Sem um desli se no meu deve r !
12 PAGIN AS INFANT J S
----- ----- ----- ----- ----- ----- ------------------
Hei de ser forte no meu tr;"~ balho ;
Com todo o amor
Darei aos pobre s doce agasa lho ...
Terei aos vícios ·grand e terror.

Quan do eu fôr g ran de , mlll ta c ultu r ~


Certo terei ,
Ganh a na bôa e santa leitura
Que com carinh o se1n pre fa rei.

E nos meus livros , nas minh~s flor es ,


No meu luctar ,
Hei de ver sempr e, Mãe, teus louvores~
Teu rosto . de anjo me abenç oar.
Ladainha

lVIinha enxadinha
Revolve a terra ,
Ruas alinha,
Covas aterra ....
Ergo-a nos ares,
Malho-a no chão,
Raios solares
Brilho lhe dão !
Ergo-a nos ares,
Melhor respiro ....
E dos pai mares
Ouço o suspiro .. _
PA GI NAS I NFAN T IS

A terra e as plant as ...


Que doce amo r!
·Que voze s santas
Num ramo em flôr !

Minh a enxa dinha


C av a e resôa :
Pá ... ladai nha
Sin gela e bôa !

Pá . . . Terr a minh a !
:Pá ... Trab alha r !
.Pá . . . Não defin ha
-Que m me ador ar !
Ao ar livre r

I
Como está claro o luar '
Va mos fazer uma roda · I
Para cantando dançar. i
Cada ,u m cante o que sab
I,I
E sse e o b nnquedo
E
.
da m d
e, I
o canto em o a,
. galope acabe.

I
I
16 PAGINAS INFANTIS

Primeiro deve cantar


Teresa, que é mais crescida
E é tão garbosa no anelar :

«Canto as ferias e a ventura


Do dia àlegre ela viela
Em que não se tem costura !>>

Cante agora Valdemar


O canto napolitano
Q'ue apprencleu á beira-mar:

«Ü canto do marinheiro
E' como o soluço insano
Do mar por um secl 'o inteiro !

Chorar ... chorar ... e chorar ...


E não ter uma esperança
Do pranto um dia seccar. >>

Agora cante a Rosita,


Meneando a loira trança,
Presa na ponta com fita :

«Cantiga para alegrar


Não sei, confesso, nenhuma,
Quem canta quer se queixar.
17
PAG INA S INF ANT JS

Ag ora é a ve,: de Cy n[r a ,


.Já ella tod a se · ap rum a
P' ra os ve rs<;s de cai pir a : I
,
«E u dan ço m es mo se m r:-ar
/:
Co mo não ? NCJsci sóz i nha ,
S óz inh a se i tra bal ha r. Ii
I
Ta mb e m ded ilho a v i o l ~
.t.\o pé ele tninha casi nha
. I
·Co m min ha re nda na go ll a.

Na da t enh o que li) VeJ ar


A's m cci nha s da cid ade
Qu e nào sab em bat uca r ! >>

Ag ora jun tos can tem os,


Viv a! viva a ala cri dad e !
E o ga lop e com ece mo s!

Galopc~mos, gal opa r !


As hor as vag as que tem os
Sej am p ' ra rir e bri nca r·
Ga lop em os ! gal op ar!
Enigm a fl· 1

Eu vou e venho na minha casa .


Quand o prete ndem me e nca rcera r,
Escapa a casa pelas jant::! llas,
E eu na prisão fico a pe nar.
(•) (;:>p;)J u ;:> un1lt? v ' ;)XI;)d O)

I Qual é a casa elos peixes ?


2 Com que é que se apan ha m os peixes ?
Como se chama m aqui as malhas da rede?
4 Qual é a prisão dos peixes ?

(') Para encontra r a decifraçã o de qualquer enigma basta


vo lt ar o livro ele ca beç1 para baixo, conform~ o systema das
obras allemãs.
I
.,

I
Um modelo

(fi ..Ceandro :Õuarfe de fl/meida) .• 11


fi
Aquelle engraxatezinho
I
Tem dez annos, como eu mesmo,.
E anda só pelo caminho
I
Falando e sorrindo a esmo. Il
Não tem mãe e não tem pae,
Si não trabalhar, não come,
I
I

Por isso bem cedo vai t


Luctar contra o frio e a fome.
I
I

I
~
PAGIN AS INFAN TIS

·~ ·· · Senta -se ao canto da esqum a


De caixã ozinh o e de escov a,
Não deixa sua ojjiún a
Aind a mesm 0 que chov a!

!rab alha semp re a sornr ,


Deste mido e satisf eito ;
A' noite, antes de dorm ir,
.Reza com todo o respe ito.

Appr ende a ler aos dom ingos ,


Coníi a em D eus e na sorte,
Nunc a ouviu ralho s nem xing as:
E ' bom, é feli z, é um forte!
pv

Desgr aça

O filho da portugu eza pobre morrer a afogado


no rio da vizinhan ça. Jazia ell e enregel ado sobre
a mesa, com as vestes ainda molhad as agarrad i- l
.!
'
nhas ao corpo, que a mãe allucin adamen te cobria
de beijos e lag rimas, entre g ritos lancina ntes, que i

cortava m os coraçõe s ... i


·j
A um lado a velha avó do desdito so menino !
. I
murmur ava, com os olhos humiclos : <<Üc::. culpado s
~ão apparec em, agora não hão ele vir mais aqui!
II
Desde outro dia que era uma teima constan te
para levarem o Joãozin ho de canôa! Tanto fize-
ram que conse?"u iram arrastai -o ás escondi das,
sem que a mãe de nada suspeit asse! E ' assim
.J

PAGI!\A S D I FANTI S

que elles fazem, os clesabotinaclo s ; são capa zes de


tirar um santo elo altar !
Chegam a conve nce r os outros tle que vão
praticar um acto ele virtude : V amos/ O dia está
lindo/ JVão é preáso ir ai1Wlllentar tua mãe
pm-a dar-te lt'cença / E üa a!d /w :.de ficar contente
qua1Zdo S07tbe1' q7te também nmaste e q7te estás ap-
prendendo a ttadar/ Vanzos/ vamos uão /w; tempo de
ú-es fall,w conz dia/ E' ass im qu e e ll es faz e m ...
e quem nos trará ag o ra o socego e · a paz elo
coração ?)>
O s g ritos da mã e. des es pe rada echo;tva rn lu-
g ubre mente pe b Cclsa e cu , com o co ração co nfra ng i-
elo, davi:l g raças a Deus ele have r voltad o el o cam i-
nho ela varzea. Tambem e u fô ra te ntad o com a
teima dos pequenos canoeiros qu e, inconscientes
de sua resp onsabilicl~ de, queriam reunir aleg re-
mente a meninacla para os seus folga res na oc-
casião ela e nchente. E, sentindo um remorso
profundo, como si h o u vc ~; s c consummaclo o meu
erro ele clesobeclie ncia, corri para casa e, lançan-
do-me nos braços de minha Mãe, desafog uei-me
num pranto a margo e consolaclor.
cr===~

.r~I
11

~
li
li

~=== ~g~===~

Vinte e quatro de Junho

Viva a noite de S. João!


Noite de riso e fol gança!
Vê: vai subindo um balão,
Parec~. que "o céo alcança t
PAGIN AS I t\ 1•' .-\ 1\TlS

E alli naque lla janell a


Vê que chuva de estrel linhas !
Que noite encan ta ela e bel la
Nas casas mais pobre zinha s!

Em todas b rilha a fo .:::>(Yue[ra


Perto d e um mastr o bonito .
E a festa é a media ne ira
Junto do sa nto bemclito.

·Crean ças pela calçad a


-Quei mam fog- ue tes ela China ,
E a menin inha corad a
Procu ra ver sua sma ...

Ah ! noite, noite de luz !


Rodin has rubras g irando ...
Meu dinhei rinho já puz
Nos fogos que estão queim ando!
P. -

Eni_gma n. 2
(j)ieffenbach)>

Na exquis itice ning ue m m e abarba;


Poi s sou mulhe r e te nho barba ;
Mocinha , te nho ca bellos b ra ncos !
S ou sem jui zo 1 pulo e m barra ncos.
Sobre a cabeça te nho uma causa
Em qu e a defesa minha rep ousa.
Si me fizer es te u j a rd ine iro,
Não fica he rvinha num só canteiro.
Quando me bates, salto e te empurro,
Dou cabeçadas, não sei dar murro !
Achando milho, não passo fome ...
Agora dize, dize o m ~:: u nome.
P..' minha Mãe

Minha Mãe, eu gosto de te ver contei1te !·


Minha Mãe, eu gosto de te ver bonita!
Si te vejo triste, si te vejo doente,
A minh'alma inteira ele amargor palpita!

Como. é bella a vida, si de ·manhã cedo


Vou comtigo ao campo para passear !
Animado corro á sombra do arvoredo,
E ouço os passarinho s a cantar ... cantar ...

Quando tenho sêde, vou beber na fonte;


Quando estou cançado, encosto-m e a teu seio;
E depois de novo corro sobre o . monte,
Vendo as borboletas no seu doido anceio !
- - ---- -- - -··-- - -·--·· ··· -----·----
E te trag o fl o t:es q ue acho na ca m pina,
E recebo os beijos que feliz me dás ...
E os cavallos vejo, sacudi ndo as cr!nas,
Pelo pasto ve rd e passeando em paz ...

E de po is, n a vol ta, che io ele alvoroço,


Com pro no ca minh o alg uma fru cta linda ,
E já vo u p ensando e m no sso bom al moço
Que a p resença t ua [az me lho r ainda !

I
O Le11heiro
(fi' ITJeiTJoria do Bolivar)

Com seus brinquedos bonitos,


Num canto e noutro se embrenha,
E só com phosph' ro e pali'tos
Enche o carrinho de lenha,·
E sai pela casa aos gritos ...
PA G fi\'1\:::l INFANTIS

De quarto em quarto elle pára,


E a bater palmas. á porta,
Com sua vozinha clara,
·Que alegra, encanta e conforta :
< Lenha , freguez, não é cara! »

E e ng raçadinho e catita,
R epete, a rir : « Lenha ! Lenha ! »·
Com o carro preso a uma fita
l~ubra. Não ha quem não venha
Vel-o - alm a e m flor , qu~ palpita L

Que lenhador, que le nh c iro,


Já houve assim tão fo rmoso ?
Vende lenha o dia inteiro,
Saltando alegre e ga rboso,
Vivaz, catita, faceiro !
E~igma n. 3
( :!Jiejfenbach)
Em toda a parte te stgo,
Não me conheces, am igo?
Com sol sómente appa reço,
E de ninguem te nho apreço.
Ora· sigo, ora sou g uia :
Pequenina, ao meio d ia,
Cresço á tarde immensamente ...
De mim não ficas ause nte.
·Quando o sol morre , me escondo:
Porém,.
sentido vai. ' pondo :·
D e noite surjo na sala !
Não sei rir, não tenho fala,
Mas quando tu danças, danço,.
. Quando caminhas, ava nço.
·Carta de um intern o de colle gio

S. P a?tlo, I I de Ag·osto de I 907.

ll1útlta querúi a J11ãe.

Estou privad o de sahicla hoj e, domin go. E'


:a primei ra vez que fico de castigo . Já chorei muito ...
Quando vi os ou tros alumnos s~hire m , cada qual
para seu passeio, ti v e até vontad e de fug ir ! Mas
o choro me havia abatid o e deixad o sem corage m
a um canto ... Foi e ntão que me aperta ram as
saudades ela Sra. e ele casa, e que me lembre i de
que ainda não lhé ÍJav ia escript o depois que vol-
tei elas ferias! Tive remors os e parece u-me ouvir
.a sua voz tremul a, recom menda ndo-m e, no dia da
minha partida , qu e lhe escrev esse ao menos wna
32 PJ\GI~AS lNFANTf S

vez por semana. E aqui estou. ha qua~i um mez,.


sem dirigir-lhe uma linha ! e s i nã o fosse minha.
prisão, en estaria no V elodromo, assistindo ao.
(oot-ball, e nem hoje mesmo viria pedir-lhe sua
bençam! Quanto me sinto, no e r11tanto, mais fe-
liz agora ! O meu coração está ai li viado, como si
delle houvesse sahido um g rande peso ! Parece-me·
que estou em casa e que vejo a Sra. tão conten-·
te!
Vou aproveitar o res to d o dia para arranjar
meu bahu e ler aquelle livrinho qu e a Sra. me
deu.
Não hei ele passar mais sem lhe escrever um
só domingo e prometto que nunca mai s hei de fi-
car preso.
Diga ao Chiquito que póde ficar co:-!~ o meu
bodoque, que está dependurado no quartinho do·
corredor, para si ; e conte-lhe que já principiei a .
estudar allemão.
Receba o meu coração saudoso e abençôe O·
seu filho dedicadcl.
RENATO
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Cricri

Cricri é um gato pintado


Mui cheio ele valentia,
Que por cima d o telhado
Costuma dormir de dia.
- - - - --- - - -P A G rN AS .1:-l b' A NTl S

Ho nte m, ele ma nhã cec linh o,


Vi Cri cri lav and o o ros to
Co m cus pe ... Fiq u e i qui etin
ho
Par a vel -o b e m a gos to.

De pois Cri cri sa ti sfe ito


Poz -se a mi a r 11111ÍtP alto,
E foi para r no te rr e iro
Por m eio el e um :.:!:ra ncle salt
o:
Era um rat inh o im pru de nte ,
Qu e do bLJraco sah ira ,
E em que me u gat o val ent e
·pu zer a ele pro mp to a mir a.
I
\

Eni_gma n. 4

D e serl a pre ta o u ele a lpaca, \


Tam be m púde se r ele cô r.
Q ua l peq ue ni na ba r raca.
Evita a chu va e o ca lo r.

S e rve mui to ao p e reg rin o:


F echado é q uas i b e ngala!
F a ze r so mbra é ~ eu des tin o ,
Ning ue m o ab re na sala .
(yos -up.nmo ),
Sou poE:ta peque~1no

Sou poeta pequenino.


Tenho dez annos sómente,
Gosto de ouvir tocar sino,
Amo o barulho estridente!

·Sou doido por cavallinhos!


Acho o palhaço um heróe !
Mamãe cubro de carinhos
Si ao circo vou. . . Quando clóe
.. I
i
l
PAGINAS IN FANTIS 37 I
Ficar em casa em taes dias!
O annuncio passa na rua,
Com pomposas phantasias, II
E o povo atraz tumultua.
I
!
Mas a Mamãe sempre fala I
Que ao circo ire i, sendo bom.
Ah! nada o juizo ig uala!
I
I
II
Dae-me, ó Deus, tão g rande dum!

.•.
ô Carnava l

Clarins e bom bas soan ào ...


Principia o carnaval,
Os mascarado s em bando,
E o enthusia smo é geral !'

Muitos, de seda e VISelra,


Sentam-se em carros brilhantes.
A cidade se emband eirrl.
E põe luzes cambiante s...

Tenho um saquinho ve.rmelho


Só de confettt: doirado,
E uma mascara de coelho,
Com nariz muito engraçado !
PAG I N AS I NFAl'\TI~

Pap ae disse que me dav a


Um rolo de serp enti nas :
Por que eu com gos to es tuda va
E tinha man eira s finas.

E d e u-me por cim a aind a


U m dom in ó de trez côre s •
S ua bon dad e nã o finda ,
Pap rie só mer ece flôr es !
Enigma n. 5
(:V o alletr}ào)

Sou tão pobre a nimalzinho


Quanto eximia caçadora.
Calada, no meu cantinho,
Espero a caça e, aggressora
Sou , não tendo cães nem armas !
Mais : sem tear faço redes,
Que activamente desarmas,
Limpando accaso as paredes.
Minha mesa é sempre farta .. .
Não hei de .pôr
.
mais na carta .. .
( Uijli 1!.1V
fo boneca
(fi ' .BemvindCt F~ifosCt)

Que boneca tão bonita


Aq uella que hontem ganhei!
. Puz-lhe um vestido de chita,
Que eu mesma fiz e cortei.

Seu cabellinho é tão louro


Como cabello de milho.
Minha boneca é um thesouro,
Tem sapatos e espartilho !
PAG INAS l NF ANT f S
-----
Vou lhe faz er uma cama,
Vou lhe bord ar um lençol ,
Par a tão mimosa dam a
Far ei fronhas de molmol.

Dep ois, para o baptizadCJ,


Hei -de arra njar uma festa :
Um alta r mui to enfe itad o,
Em mei o de uma Aoresta .. .

Con vida rei as a mig as


Com que m cost umo brincar,
E muito lind as cantigas
Hei -de com ellas cant ar.

Ha- de hav er pres unto e bala .


Sor vete para a mad rinh a,
E dess e dia de gala
Min ha bon eca é a rain ha!
Enigm a n. 6

Tem folhas, não sendo planta!


Tem ca pa s~ m ser mulhe r!
Si é ele poesia s, e ncanta ,
Mal feito nin g ue m o y ue r .

.)enclo bo m, é consel heiro,


Mestre, a migo, inspira do r !
Ensina histo ri as .. . Fague iro
Enche o tl~ mpo, e ncurta a d ô r!
( O.U!'I)
r --
i
1_ - . •

. ·~ ..

r.f.' . • .
i/

1·.> ; . .

~: . . ···r: - ..--:. ·. . .
. , :_. f

Cantiga

Quand o, cançad o de correr tanto,


Quero dormir ,
Minha Mãezi nha charria-me: - santo
Põe-m e no collo, põe-se a sornr,
Põe-se , a nmar-m e, com doce encant o,
E esta cantig a começ o a ouvir:
i@kL!!22Y - ===~ .

P AGINAS !:'<FAl\Tl S

Os nossos olhos espelhos d'alma


Dizem que são,
Si isto é verdade, filho, a tu 'a lma
E ' o suprasummo da pe rfeição!

O lhos tão lindos, cheios de sombra,


Cheios d e luz!
a
T ê m frescura ela a mena alfombra,
E a santidade da vera cruz! I
.I
E eu, pouco a pouco , já nada entendo,
Ma l posso ouvir, I
I

De olhos fec hados, a voz morrendo, I


A repetir: !
i
I
Dorme, santinho! dorme com calma,
Dorme, fil hinho elo coração!
I
Q ue esses teus olhos-espelhos d' alma,.
Da alma mais linda do mundo são!
II
I

I
I
I
Enigma n. 7
\ 2lo fillefT1ão)

Eu conheço uma casinha


Onde um animal de chifres
Meneia sempre a cabeça . . .
E, ainda que historia pareça.
A cada passo que dá,
A casinha leva ás costas!
Si a mão no chifre lhe encostas,
Elle em casa se afocinha.
Que casinha essa será.
( O fi\Ul \l .l\l:)\
w _3&

Eni -Q.ma
'
n. 8

Pareço ~1m cavallete


Pintado
Ve verde ou de amarellado ...
Nos ares, como um joguete:
Que salta,
E ao qual todo o stso falta.
Ando, e fui praga no Egypto!
lVIeu nome está quasi escri p to ...
\OJOl{ llll,ICf)}
i~-'_ ·.·--~-:~:~--. _
,-·---... . ~ -.-- ' - .__.,""":,,.-·-- •....- --o;,- •~ • -.-· •
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.. .. .:. ~ ' ~ . ,
. :... ~ .. . '·
Anjo

Na procissão, entre fl ores,


E o doirado dos a ndores,
E as virge ns de bra nco, estou.
Po r e ntre as nu vens de incenso,
Em Nossa Se nh ora penso ...
Sacudindo as azas vou ...

E ng rinaldada a cabeça,
Quem ha que n5.o se e nterneça
Lançando os olhos em mim?
Modesto mesmo e sem luxo,
Sou feliz ... ganho cartucho ...
Rescenclo a rosa e a psmtm.
I)

11 (lY
No Berço
Meu irmãozinho,
Tão bonitinho,
Dormita agor·a.
D e leve eu ando,
Que elle acordando,
Por ce rto chora! .

Tem , sobre o peito,


Roto e desreito,
O seu palhaço,
E , na mãozi nha,
De uma rosquinha
Tenro pedaço ...

Dorme tão lindo!


Dorme sorrindo ...
Que bello· somno !
E' mais amado
Que um rei sentado
Sobre seu throno !
O Arabe
(Imitação)

~uvi lêr hontem uma pequenina historia, de


t.fj que nunca mais hei de esquecer-me. Era
um arabe que caminhava por extenso deserto,
·quasi morto ele fome, gemendo ele fraqueza e de
cansaço, e que encontrou ele repente por sobre a
areia esbrazeada um g rande sacco ele couro.
Ao avistai-o extremeceu de contentamento e,
reanimado pela espeBnça, correu para apanhal·o,
julgando que esta(ia cheio àe tamaras e ele no-
zes. Abre-o soffregamente e só encontra perolas, pe·
.rolas eleslümbrantes ele fulgor e de belleza! Re-
-·~
Ou
P ,\ GJ:-.'riS I NFAN TI S

sent indo -
-cahiu de no vo e m a marg urad o pran to,
reri a de fo-
se desf alle cer com a ide ia ele qu e mor
o thes ouro !
me, tend o clea nte d e si aqu elle fab ulos
e mos
- Bem vês, ó filho me u, q ue não sab
ouro s que
ap reciar devida men te os verd adei ros thes
re arab e
-pos suím os. Qua ntas vez es acruelle pob
os ben s re-
não te ria, com o todo s nós, d espr ezad o
a falta de
.aes ela viela, para e ntris tece r-se com
ben s ima gina rias ?

·I
Enigma n. 9

E ' no fogão que mó ro, me us senhores,.


Posso arrasar uma ílo res ta in te ira ~
Porém aquelle que matar-m e q ue ira
Como um bichinho, é só v2le r-se d 'agua ....
Quem me tocar po r ce rto h0- cle t er magua 1
Fujam, pois, ele meus brilhos secluctores !
Mas, quem p ócle v1ver, sem me us ardores?
(oí1o,>))·
Poesia

Nossa . A vózinha é tão bôa !


Me recia uma corôa,
U m sceptro . de ouro na mio !
Vive só elo noss.-) riso ..
Somos o seu paratso,
Luar de seu coração ...

A sua voz, quando canta,


Leva uma ternura santa,
Si canta pensando em nós '
Nunca amaldiçoa : reza.
Quando a amarg ura lhe pesa,
Na oração concentra a vo1..
':'"' - --

56 PAGlNAS 11\l<'ANTlS

A nossa Avó nos ens1na


Que a resigna ção · é a mina
De onde nos vem toda a paz
Que resigna r-se é ser forte,
Buscan do abrand ar a sorte,
Quando ella espinho s nos traz!

I
Enigma n. 10

Toda branca ou toda preta


Posso ser, tambem malhada.
E, tendo mais de uma teta,
Sou de continuo explorada.

O leite, a manteiga, o queijo


Saboroso e o requeijão,
Tudo isso dou ele sobejo,
Si pasto e· milho me dão.

Mastigo uma espiga inteira


De vez, derramando baba.
E lambo e cheiro a cocheira~
Si minha ração acaba. ·
58 PAGI NAS INFA NTIS

Sepa ram- me de meu s filh os ...


Póde m até me mata r !
Con heço muit os novilhos
Sem mãe , no past o a berr a r. ..

Que m sou já sabe s. Em fd a


Com minhfl.s irmãs, cont en te,
Vou bebe r a ag ua tranq uilla
De um rega to tran spar ente !
No Jardim
(fi }llaria Sylva'la elos Sanfos ]>ires)

Nenê sorri venturosa,


Montada no seu carneiro.
Que tiigur.inha formosa!
Que semhhnte feiticeiro !
60 PA G I:"A S f:\ F A NTI S

Os seu s pés inh os de inf ant e


Pen dem , sem me ia ou sap a to.
E a mã e, feli z e r:adian te,
Ma nda tira r-lh e o re tra to.

E m de rre do r b ril ha m flo res,


O cip ó pre nde -se a um gal ho,
E ha som bra , fr esc ura , odo res
7
No ca minho d e casca lho .

Nen~ pap ag uei a rin do,


Mo nta clin ha no car nei ro . . .
E ·a mã e diz , num so nho lind
o:
De min ha viela é o luzeiro!
· -- - - - ---·-··

Enigma n. 11

Não tenho pernas e corro!


Ora sou largo, ora estreito.
A quem te·m sêde soccorro ,
Não paro e vivo no leito!
(OnJ) •
Mãe e Filho

- Eu li num livro que a lua


Tem montanhas, será certo?
- Tão certo como eu ser tua,
Toda tua, lindo Alberto!

- Eu li num livro que a lua


Não tem luz propria, é verdade?
Tão certo como que q tua
iE' a minha f'Jicidade.
..: ~ . .

I'AGIN J\S J~f.Al\"TIS

Eu li num livro que a lua


E ' satellit.e da terra ...
Minh'al ma o é da alma tua ...
Mysteri us que o amor encerra~

-Eu li num livro q ue a lua


Gu ve rn a as o ndas dos mares .. .
Não go verna a imagem tua
.Me us risos e me us c.a nta res?

Minha Mãe. vem ver a lua!


Como o ple nilunio é lindo!
Mais linda é a bondad e tua,
M e u amor! anJo bemvin do!
- -;- --· . .::.:::-:·~..

Cart a de uma v e: Iha mãe·

Na tua cartin ha te queix as de que os colleg as


caçoa m de ti e te apoq uenta m por causa da tua
feiura. Cons ola-te e sê humi lde, ó filho de meu'
coraç ão, que para mim és tão formoso! Não te·
mago es e conti nua a .ser bom, que has de trium -
phar dos máus . Dos máus ? Sim: são máus devé-
ras aquel les que atorm entam algum a creat ura por
causa de suas impe rfeiçõ es physicas, das quaes.
ningu em é absol utam ente culpa do.
Si não pódes , emta nto, ser formoso, sê pe-
lo meno s symp athic o. A symp athia está ao alcan-·
ce de todos . Um semb lante semp re affavel e riso-
nho, uma solici tude de quem é semp re o prime i-
ro a apan har tlm objec to que cahe, e semp re <r
PA G INA5 INFA NTIS 65

mais prompto a offerecer su<t cadeira a quem


.chega cansado ou é velho, o ouvido sempre at-
tento, o olha r distrahido para todas as faltas e
aberto para tudo o que é bello, eis a ·s ym pathia
que se pócle adqu irir e cultivar. N ão te de ixes
ficar ine rte como as pedras nem aspero com o os
espinhos .. . Não a rra nq ues go ttas de sang ue dos
pés que te pisam, mas sê, pelo c ontrario, como
as fl o res qu e pe rfuma m as mãos que as dilace-
ram ... A tua bondade a paziguará os má us. Eu
vi uma vez um me n ino cruel apoque nta r ele tal
modo um velho aleijado, a po nto de fazel-o res-
valar no chão! Qua ndo o po bre hom em ia cahin-
-do , exte ndeu, porém, os se us braços musculosos,
e subjugou o ra pazola junto a si, bradando-lhe:
«Não sej as malvado, menino, mesmo po rque nem
todos soffrem com eg ual pacie ncia o máu tracto
-dos vagabundos!>> E. fi~ando-o severamente: «Na
minha terra uma vez um extra ngeiro apunhalou um
mentno que o quiz derribar na lama! Nã o te arris-
ques á sorte daquella creança sem educação! » O
menino extremece u. como si presentisse naquellas
palavras uma ameaça, mas o velho, sorrindo-se
com g enerosidade, empurrou-o brandamente, acres-
centando-lhe: «Vae , eu não te quero amedrontar.>)
E, tirando do pescoço uma linda cruz de ouro,
--~- .- .. -- ~

66 PAGf~AS HiFA~TI::>

com a effigie de Christo : « G uarda esta cruz.


para ti, quem sabe si ella t e ensinar á a teres ca-
ridaae com outros que venham a traz de mim? De"
ram-m' a no dia em que salvei uma creança que
ia morren do 1:0 mar, no tempo ainda e m que eu
era perfeito . »
O menino abaixou a ca beça e, co m lag rimas
nos olhos, beijou commovicl an·1e nte as mãos do
velho, pedindo -lhe perdão.

Por esse pequ e no facto, que te acabo de


narrar, vês, filho meu, que até um a le ijado, carco-
mido pelos annos, póde sobrep ujar com a sua alti-·
vez e virtude um bonequ inho malcrea clo ... e eu.
sei que és forte e que no teu coração frondej a a ar-
vore do Bem!
Adeus!
Enigma n. 12
Foge elo írio e bu sca a primave ra ...
Jamais tole ra
:-\ inclem encia e o ri go r elas estações ...
Sobre a s torres da Ig reja, inquieta vôa,
Toma .banho nas ag-uas ela hgoa ,
Em poucas horas vê mui~as nações ...

Tra·nspõe os ares ... chilra ... é a mensageira


Do tempo em que Horesce a laranjeira,
Do tempo em que ha nos prados mais sorrir!"
Ave pequena, de azas tão valentes,
Que evitam, previdentes,
'As quadras em que a neve vai ca,hir!
( 'equJ.Iopuv)-
Velh aque :te
(fi :Joaq uiqzin ho Feitos a)

Anda , vem cá, maro tinho ,


Dize- me, que quere s ser ?
Um valen te solda dinho
Para a Patria defen der ?

- Não, t1tta, não : solda do


Morr e na guerr a, a lucta r ~
- Então quere s ser forma do.
,Med ico? vidas sal var ?

Não, senho ra, tenho medo


De bexig as, Deus ! que horro r!
Febr e amar ella é brinq uedo ?
Tenh o á vida muito amor !
PAGIN AS INFA NTIS 69

Então , tens de ser palha ço,


Ç}ue custa saltar e rir ?
- Pócle m queb rar-m e o espin haço ...
P'ra o circo não quero 1r.

-- Serás , então, vagab undo ;


Não achar ás profissão I
H as ele ser se mpre no mund o
D espre sado paspa lhão.

- 1'-lão diga isso, titia,


Já sei o que que ro ser:
Dono ele confe ita ria,
Quan to doce hei ele com er !
Trium pho

Todo o trabalh o é custoso ,


E o trabalh o é o nosso bem !:
Mata o tedio o preguiçoso,
Vadio g lorias não tem.

Só quem trabalh a dt:>scansa!


$ó quem descans a sorri !
Move o trabalh o a esperan ça,
Soffre alli, triumph a aqui !

E a terra se enche ele plantas,.


E as serras ouvem passar,
Da selva pelas gargan tas,
O trem de ferro a silvar.
PAGI NA S I NFANT IS 71

E os na vi os carreg ados
Os mund os lig ando vão,
Cond uzind o os desej ados
Bens, ele nação a nação.

Li ng uas es tra n has se a prend em


Surge e ntre os ho m e ns o amor ,.
Os povos as n:.ãos se ex te ndem ,
T ê m o::; sab ia s mais va lor.

E e m toda a parte os exem plos


D os heroe s acham festin s.
L eva nta m-se a irosos T emplo s
Da terra pelos confin s l
Na Rua
(Chro mo)

Tóca o cegui nho viola ;


Tóca a. filha bando lim,
E, ·com doçu ra sem fim ,
Canta m triste barca rola.

Crea nças que vêm ela escola,


Faze ndo enorm e motim ,
Ao _vel-o s canta ndo assim ,
Param , pensa ndo na esmo la.
P;\Gi i'\AS INFA NTIS
7S

E o cegu inho com mov ido,


Que cant a e toca de ouvi do,
Susp ira e finda a canç ão.

E , ouvi ndo o infan ti l brin qued o,


Pare ce entr ar no folg uedo ,
Mas entr a . .. exte ncle ndo a mão .
Sabbado de folleluia.

Meio dia. Toca o si no,


Romp e a allelui a. l\ia praça
Pula a meninada em massa
E ataca o Judas felino .

Salta prime iro um rabbin o ,


Como chefe da arruaça,
Tira-l he as mãos e a barba ça
E o queim a com desati no.

E para o céu sobe o fumo · . .


Entreg ue ao vento sem rumo,
V ôam as cinzas de Judas...

Fica na praça uma esta.ca,


E o resto de uma casaca
No meio das pedra s mudas .
t.n igma n. 13
(Çüll)

Oh! que t re mendo castig-o:


Descansar j1.mais consigo!
Q uando qu e ro re pousar,
D epressa vê m me aco rdar
De novo para o se rviço.
Parece praga ou feitiço:
Nunca pude achar descanso,
Apeza r de bom e manso!
Ando, ando, sem parar,
E não saio do lug-ar!
Sem Ella ...

Aure liani nho, que tem apen as cinco anno sr


ficou perd ido hont em no Parq ue e arreb entou
em desv airad o pran to ... Sepa rára- se da mãe
distr ahida ment e, e, quan do viu que estav a só,
.
ficou incon solav el, como se estiv esse no meio
de uma flore sta povo ada de onças!
Nu emta nto, perto delle , algum as crean ças
sorri am, !;ent adas nos balan ços, que as mem nas
maio res empu rrava m. c_o m força; pouc o adea nte
outra s creanc:inhas felizes girav am nos cavallinhos.
de páu, emqu anto, para a esqu erda, meni nos
enthu siasm ados desli savam com elega ncia nos
patin s, ao som de uma valsa célde nciada ...
Elle, porém , nada via, a não ser a falta da mãe.
',

PAGINAS JKFA:\TlS
77

Dava ;::,<rritos estridentes attrahindo para si o olhar


elos passeantes curiosos. Afinal , com muito custo,
disse entre lag rimas, a um hom em que lhe
pergun tou o q ue tinha : << Perdi a Ma ... ã . .. ã
... mãe . .. »
O cavalheiro amavel o toma pela mão e
caminha ao accaso para o lado do bambuzal,.
procura ndo a que m entreg-al-o. Avista uma se nho-
ra que vem muito apressach, rind0-se, mas com
os olhos iigeirame nte humiclos ...
O cavalheiro recebe 03 agradecimentos m e ni-
ciclos, e o pequeno travesso, agarrado á sua mãe,
deixa ai nda por larg o espaço d e te mpo fug irem
s:1spiros e soluços ele seu peito ag itado e tremulo,.
qual o ele uma rolinha q ue batesse ele encontro
á parede ...
- Creancinha ditosa que perdeu a mãe e
poucle. em rapiàos mo mentos, encontrai-a ele novo!'
Ha creanci nhas que pe rdem as mães para
sempre e nunca mais p óde m -,êl-as nem de longe . ...
Ah! eu quero ser muito bom para a,s.
creanças que não têm mãe! Pobrezinhas! Quem
tem mãe possúe a riqueza maior deste mund~,.
ainda que seja pobre !
(Do allem ão)
E' mul her e poss úe um pun halzin ho
Agu do, e nve ne nado!
And a sem pre can tand o pelo prad o,
E s6 no inve rno fica em se u cant[nho.

Faz pela s serr as lind os pala cete s


E doc e sabo roso !
O que ella faz se enc ontr a nos ban que
tes
Do ~oceiro tran quil lo e desc uido so.

Qua rtin hos de oiro faz, que ench e de calda


E gua rda para o inve rno.
E - dito sa! - oscu land o uma grin alda ,
Da vida cuida num soce go eter no!

Si os hom ens todo s trab alha ssem tant o,


Não hav ia men digo s sob re a terr a.
Tud o seri a paz . . . riqu eza ... enca nto
. ..
Pois tudo isso o trab alho dese nter ra!
( muaq y)
Temporal

Hontem de tarde o céu escureceu,


Armou-se repentina tempestade,
E --minha cabritinha se escondeu
.Sob um girão com toda a agilidade.
80 PAG I K A S I N J~ANTI S

Fique i olhan do a cabrit inha afflict a


E as folhas ·s eccas qu e o tufão va rna . ..
Achei a tempe stade tão bonita !
Batia no arvor edo a venta nia !

E os relam pagos rapiclo s bril havam ,


E os trovõe s com fragor s repet ia m,
E meus olhos de olhar não se cansavam ,.
E as lavan deiras nos q ui :1taes co rn a m ...
Cahiu por fim a chuva cauda losa,
Que batia e canta va na vidraç a.
Era a chuva de pedra s! Que fo rmosa !
Inda a saraiv a ante meus olhos passa!
Quan do cessou a tempe stade havia
No jardim taritas pe talas cabida s ...
E mesm o assim nas planta s que aleg ria! ..
'Stava m tão bellas e reverd ecidas !
Então achei verga da uma roseir a,
Que dava rosas de um perfum e raro,
E que era a minha planta ção prime ira ...
Puz-lh e uma estaca , como um doce ampar o.
E fique i tão conte nte, porqu e as planta s.
São amiga s benef icas e puras !
Só nos trazem á mente ideias santas ,
Dão-n os aroma , sombr as e doçur as!
v vv
Enig ma n. 15

O uem tem juizo eu faço fica r lo uco !


E faço ficar pobre que m é rico,
P 'ra me sac iar todo o d inhe iro é pouco !

Enven eno em. seu berço a human idade ,


Sou pe rcu rso r de todo o soffri mento ,
De tudo o que é baixeza e enferm idade.

Deixo os home ns cabido s pela rua,


Aos ponta- pés, como anima es nojen tos,
Dorm indo na calçad a expos ta c núa.

Oh! porqu e tenho este destin o escuro ?


Sou peior elo que a peste e do que a morte !
Fujam de mim os home ns do futuro .
(!0 0 0 [\1)
~'0. I•

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~l i l r c iucocn ln. c sris !eguas de costa ('')
])e \·rt!J CS (' :l i' VOrf'dO I'CV('St id a,
T em a tcna bruziJi ca , co mpost a
Dr mo n tcs t! c g rand cz~, cles meclid a .
..: ,u\'1".\ l~rrA Dun:\o (Canw mrú )

Enor me e pode roso qual g ig ante,


Q uem ha que, com justiç a, me deca nte
O céo riclen te e azul?
O e)~trang·e iro que me conh ece me ama,
Por toda a terra corre a minh a fama
De corip heu do S ul !

Astro s no céo ... no solo a prim avera


Etern a, que a aleg ria retem pera
E que a fartu ra dá !
As matta s virge ns cheia s de made ira,
D esde a cheir osa e linda cane lleira
Ao bom jacar andá !

(' ) Sabem todos que o littom l brazileil'O tem agora


muito mais.
do que isso.
84 PAGIN 1\S Jl'\1-'Ai'\TIS

Os rios,. g rande s, cheio s ele casca tas,


E, pelas marg ens, di vinae s sonat as
Do sabiá feliz ...
As briza s carregada s dos odo res
Que se exhal am elos bosqu e ~; e elas flo res
Do mais vivo matiz !

E os fructo s que os poma res meus e ncerr am !


E as aves raras que nos bosqu es erram ,
Com plum as de vaior !
E os indio s passe ando na canôa ?
E os jabur ús á marg em da lagôa ?
E o papag aio alegr e e falad or?

E os filhos meus ? E essas crean ças lindas .


Essas flores do céo á terra vinda s,
Mens ageir as da paz!
No seu peito é que o meu porvi r desca nsa!
Na su 'alma depuz minh a esper ança !
Nas suas mãos o meu destin o jaz !
O Natal

A est rel la do Or ien te a . cam


inh ar co üd uz
Os Re is .M ago s á estanciq.
em qu e nas ceu Jes us ..
E, no divino be rço os rai os
: seu s .po usa nd o,
Jun to ao Me nin o lev a os
an ces tra es em ba nd o
E os pés elo Na zar en o hu
millimo e sem lar
A hu ma nid ade vin ha em ex
tas is beijar!
E a vacca o baf eja va... e
a ov elh a leg en da ria
Balia. .. Er a da Hi ste ria a
ph ase ex tra ord ina ria !
g6, PAGl:-IAS lNFANTlS
~------------------------------------

Abençoado dia o dia do Na tal,


Em que nascia um Deus, para remir o mal!
Em que, baixando á terra o filho de Maria,
Para o perdão e o amor o Céo a porta abriat
fo' en tra da do an no
Mez de Jan eir o, mez de ale
gria,.
De no vid ade ,
Os car tõe zin ho s, em rom ari
a,
Le va m car inh o.. . fra ter nid
ad e ...
Bemdito sej a o me z fag uei
ro
Qu e nos ex ho rta
Pa ra o tra bal ho do an no int
eir o,
Do qual é bella, florida po
rta !
r-fymnq Escolar

Cantamos todos contentes


Do nosso estudo a victoria.
·> . S ão bellas, g randes, · ride ntes~
(.
. :... ·: As esperanças da gloria.

Luctando sempre.'altaneír os,


Tendo' p'o'r 'inirà- subir,
Quei·~irú)~ ·s~~ : dos ·primeiros.
Entre os homens do . porvir! ( ~ ; .
, . -.
r

Semp·re estudando ·afanosos; .·


Coí1i dilig~ticia 'e ' ~o brezà~ · ··
Sejariios bons,· caridosos:
Te r vit'tl\de é ter grandeza!
PAGJ NAS ll'\FA NTIS 89

Luct ando sem pre altan eiro s,


Te~do por mira - subi r,
Que rem os ser .d os pr.im eiro s
Entr e os hom en s do porv ir!

Nos sos mes tres vene rado s


Que rend o cobrir de lour os,
Q uere mos se r prem iado s,
Ter ela scien cia os thes ouro s!

L uctanclo sem p re alta nei ros,


T endo po r mira - subi r,
Que rem os ser elos prim eiro s
Entr e os hom ens do porv ir!

c~minhamos dest emid os


Para um brilh ante futu ro,
Mas cam inhe mos unid os,
Que é o cam inha r ma1s segu ro.

Luc tand o sem pre altan eiro s,


Ten do por mira - subi r,
Que rem os ser dos prim eiro s
Entr e os hom ens do porv ir!
Ferias

Ferias : folguedo, aleg ria ,


Viage ns, banho s de mar.
Canti gas, de noite e dia
Nosso Pae a nos beijar .

Ferias : passe io a cavall o,


Foot- Ball: bolas no ar ...
Carre iras, pulos no vallo,
Pegado1": vou te pegar . ..
91
PAG CNA S lN'I' '.-\N TIS

,
Fe ria s: saud~des da Esc ola
Da infancia o seg un do lar !
la
De on de um per fum e se evo
r!
Qu e nun ca se ha de aca ba

O me str e, qu e pas sa a vid a


No ssa vida a illumin a r,
Cansa do, de ][da em lld a,
Q uem não sab e ido lat ra r ?
m,
F erias, qu e as for ças act iva
Co raç ões a me lho rar .
cnv am
Qu e as flores qu e o val le
Sa be m tam be m edu car !
Sil en cio
Já brin cá mo s tan tas hor as,
De dia já patinei~
Nos cam pos colhi amo ras,
Dep ois fing i-me de rei.

Ag ora , den tro ela sala .


Vam os pre star atte nçã o
Ao que a gen te gra nde fala
Nes te enc<tntado serã o.

Vem , sen ta, não te dem ore s,


Qui etin ho, mo do exe mp lar,
Qu e, de meu s prim os maiores~
His tori as que ro esc uta r.
Frate rnida de
(fi' ..Cucilla de Oliveir a)

Tivera mos uma briga medo nha!


Porqu e ? Sei lá ? A gente, quand o vê, já está
brigan do ... O facto é que fui fazer queix a de meu ir-
mão a meu Pae. Este, depois de procu rar saber qual
era o mais culpad o de nós, mando u-me sahir, dei-
xando Samu el preso ao Ga nto do escrip torio. Reti-
rava-m e triump hante e satisfeito, mas, quasi ao
ga_lga r a porta para o corred or, senti como que
uma setta e nvene nada atrave ssar-m e o coraçã o!
Samue l tinha os olhos lacrim osos, os beiços tre-
mulas , e me lançára um olhar tão queix oso e triste
que me fez abaix ar os olhos dolor osame nte ...
PAGINAS fKJ•'ANTJS

Quando viera para queixar-me tinha vindo


·offegante, certo de que tinha razão e devia desfor-
rar-me ... E depois de conseguida a victoria sahia
.humilhado, como quem commettera um crime. Fui
,para o quintal, buscando espairecer: mas logo en-
·contrei embaixo das laranjeiras a gangorra em que
costumavamos balançar-nos juntos e, não achando
.graça em nada, voltei para den t ro. Fui para
meu quarto lêr. Eu havia terminado dias antes a
leitura de uma 1-fistorz'a Sag-rada, linda e cheia de
{ormosas gravuras. Lembrei-m e de rele r ao acaso
alguns de seus capítulos. Abri o li vro e dei com a
':llistoria de Abel e Cainz, que tanto me havia im-
.pressionado. Instinctivamente fechei o livro para
·procurar outro capitulo que me foss e mais agra-
·davel. Abro-o novamente ao acaso e vejo este
· ,titulo: José vendido aos extrangez'r-os. Decididamen- .
te eu estava em maré de caiporismo! Na semana
-anterior haviamos lido juntos, eu e meu irmão, aquel-
.la bis to ria commovedora, que nos fizera chorar de
1
pena de José. Fui para perto de minha Mãe, que
.docemente me admoestou, pedindo-me que .não
•brigasse mais e mostrando-se penalizada com a
•prisão de Samuel naquellas horas da tarde, destina-
.clas ao brinquedo e ao exercício salutar. D ~alli a
[
r.
i
PAGII\AS INFANTIS 95

l) ·pouco anoitecera. Tive vontade de me deitar


I
1 mais cedü. Fui para a cama e adormeci.
No dia seg uinte, ao despertar, ouvi um ru-
mor desusado no quarto. Minha Mãe e meu Pae ,
á beira do leito de Samue l, esperavam anciosos a
.palavra do Doutor Amancio, que applicava o ther-
mometro e m meu irmão, e, pouco depois, ouvi a sua
voz pausada e g rave: « F e bre alta, symptomas de
typho na lingua. Em fim , va mos ver até amanhã ... »
·O Doutor foi para o escriptorio fa ze r a receita.
Levantei -me pressuroso e, a inda de camisola, fui
abraçar Samu el e perg untar o que lhe doia. Elle
queixava-se de muita cousa ao mesmo tempo.
E sperava eu que elle se lastimasse do castig o que
soffrera na vespera por minha causa, mas elle pare-
cia não se lembrar mais de nossa briga. Affagou-me
docemente as mãos e, tirando um baralho do bolsÇ)
de seu cavo7wzi7Zlto que estava nos pés da cama,
-deu-m'o de presente. S enti uma alegri?- que me
-doeu no coração ... Passei o dia procurando servil-0,
:l evando-lhe agua todas as vezes que tinha sêde e
.ajudando minha Mã~ a dar-lhe o remedio de duas
em duas horas.
Sua enfermidade [Xolono-ou-se
b
e ao-~:rravou-se
b u
·de modo assustador! Quasi que ninguem dormia em
-casa. Minha Mãe não ia á mesa e meu Pae, afflicto

I
I.
!i .
96 PA G I N.'\ S Ti\'FAi'iTlS

e desacompanhado, não tinha appetite. Mais de uma,


vez o surprehendi enxugando as lagrimas por de-
traz do Jonzal, aberto cleante de seu rosto.
Minha Mãe, quando se afastava de Samue1
era para ir chorar lo11ge clelle. Soluça va nalgum.
canto da casa, soluçava e gemia, e depois, antes
ele voltar para o quarto, lavava o rosto e concer-
tava a physionomia para qu e o doente não des-
confiasse que corria pe rigo.
Os meninos de nossas relações não vi nham át
nossa casa, receiando talvez que a fe bre de Samuel
fosse contagiosa e o meu isolam e nto e tristeza eram
taes que chegu~i a julgar-m e a mais infeliz das crea-
turas ... Em certos dias ouvia murmurar em voz·
baixa que era fatal a morte de meu irmão ...

Sómente passados mais ele · dois mezes, que


me pareceram dois longos seculos de martyrio,.
Samuel restabeleceu-se e teve licença de sahir pa-·
ra fóra de casa. E quando, sorridente e venturoso,
como um resuscitado que voltasse á vida, elle sen~
tou-se defronte ele mim, na gangorra elo quintal, p~~~
sou-me o coração num impeto de irreprimível con-·
, tent::1mento e tive a convicção plena de que con-
templava um verdadeiro anjo cahiclo do Céo ...
...
Luc ind a e Can doc a
(fi' f?osa ele Olive ira)

Eu nunc a havi a feito serv iço algu m, pare


ce
incr ível! Aos onze anno s era a men ina mais
igno -
rant e que póde have r de todo s os .peq ueno
s e
dive rtido s trab alho s dom estic as. Tud o em
t •• ~
casa
·Úa feito por min ha Mãe e · pela
. creaq~. _· Eu
a~Í1:ava os di.a s excessivap1ete gran des e não sa~ja
qual era a causa do meu tedio .
· N un~a occasião em q\.1e fazíamos uma via.g
ern:
tivem os de pen.10itar em casa do Corone.l
· Joãc
Anto nio, que era amig o de nossa fami)ia . .
.
98 PAGI~AS I~F'ANTIS

Logo que apeámos e subimos a escada de-


pedra que d~va para o pateo ela entrada., fomos.
recebidos com mostras de grande alegria pelos do-
nos da cas;:,. O fazendeiro, de roupa de algodão e
sem gravata, pedia desculpa ele seu traj e, excla-
mando ao mesmo tempo: ,,E nós que não con-
cavamos hoje r.om esta felicidade rara: bôa prosa
e palestra para a no ite! A gente, na roça. chega
a ter vontade de pagar algum viaja nte pa ra que-
brar-nos a monotonia da vida. · E hoj e são pessoas
de amiza.de que nos vê m prégar uma surpreza.
tão agraclavel ! Sentem-se, sentem-se e não façam
ceremomas.»
Depois de uma bôa meia hora de prosa,
durante a qual eu sózinha contemplava da janella
os arredores da fazenda, pensando que o Coronel
não tinha filhos, chamaram-nos para jantar. En-
trámos e, quando nos approximavamos da mesa,.
appareceu-nos uma menina loira, linda, com os.
olhos azues que pareciam duas g randes turquezas,
·carregando um prato de cheirosas linguiças. Ella
collocou o prato sobre a mesa e o fazendeiro, .
apresentando-a a meus paes, disse rindo: » E' . a
nossa copeira, - Lucinda, minha filha mais velha ..
A segunda está no quarto, tomando -conta do·
irmão pequenino.»
PA GI N A!:) 1:-ll"AN TIS 99·

Aqu ella figuri nha rison ha, que pa recia enver -


cronha da de traba lhar, dei xou-m e um traço de-
.::.
indcle vel symp athia. Acab ado o janta r, ella tirou
a mesa , levou a louça servida para a copa e-
g uardo u no a rman o o doce de cai xeta e o·
ClL!elJO.
. T rouxe depoi s a vasso ura, q ue passo u de·
leve em de rredo r da mesa e, termi nand o os arran -
jos, disse á mãe : «Ag ora eu vou fica r com o Nenê ·
para a Ca ndoca janta r .)>
D 'ahi a pouco sahiu do qua rto a outra me-
nina, tamL em muito conte nte, . com um avent al-
zi nho azul, preso aos homb ros, e chine llinho s de ·
tape te. Estev e alg uns mom entos parad a perto de·
nós, retira ndo-s e e m seg uida, d epois de nos pedir
licença, e eu pude vel-a, pelo vão da porta ,.
janta ndo a uma mesin ha da saleta proxi ma.
De noite ·f~mos todos para a sala. Aque llas.
menm as exerceram verda deira fascin ação em meu,
espírito. Passa do o acanh am e nto das prime iras .
palav ras, ellas desen volve ram a mais cordi al e
encan tador a pales tra. Cont avam casos dos colon os.
e das colhe itas, mostr avam bonec as de pann o,
feitas por uma vizinha velha ; camin has de páu·
e comm oàas de bonec a, fabric adas por um preto ·
que ellas cham avam de tio Elias ; e panel linha s-
·100 PAGINAS l~F A N TJ S

de barro, as _quaes, segundo me informava m,


serviam até para fr[tar ovos ~
Tínhamos de contlnuar a viagem no outro
dia,. mas fugiu um de nossos a nunaes. A té ao
meio dia minha Mãe ainda esperava que elle
apparecesse a te mpo de seg u[rmos, mas, com a
chegada dos camaradas, q ue não hav[am en.:o ntrado
siquer o rastro do cavallo, o Coronel convenceu
meu . Pae de que o melho r e ra resolver-se a íalha r
aquelle dia e tr com elle ver o cafezal e as
outras plantações! Eu bati palmas de co ntente!
As meninas já tinham a rra njado a casa toda
·e-ajudado a mãe a dar banho no pequenmo e
pediram licen ça para falhar ás lições. Sahimos
em passo -d e valsa para o terreiro. Lá embaixo
havia um carrego, e uma preta, com um elos pés
dentro d'agua e a saia arregaçada, batia rou pas
·de creança n' uma taqoa sobre pedras. E ouvi
logo a Cancloca pedrnclo: « Eu . tambem quero
ajudar- a lavar as roupinhas! E puzemo-nos a
enXaCTUar
b
aS Cal11lSOlinhas e as fraldaS e a extenc\el-
,)
as ao :varal. Quando, já cansadas e sentindo caia.r ,
-depois de havermos- colhido laranjas e lima::>,
fomos · para de ntro, ·Lucinda pei-guntoti-me si eu
não gostava elo Robi'nso?t . . Eu não sabia de que se
tratava;
PciGIN ;\S INFA N TfS 101

E' um livro lindo! disse -me ·ella.


N ão gosto de lê r.
Não gosta de lê r ? E' impo ssíve l ! Você
-pens a que não gos ta de lê r porq ue ele certo ten1
1[do só ltvro s e njoad os. Eu j á li o Robú zson duas
vezP.s e ainda o qu e ro lêr nova m ente.
E ell a prin cipio u a co ntar- me as passa gens
mats im po rtant es da vida do celeb rado h e róe.

E u n ~to sei que t ransf or maçã o comp leta se


·oper ou na m inha alma com o conh ecim ento
daquellas ménin as! Os cli::ts, desd e então , parec e-
·ram-me cu rtos e nun ca ma ts mngu em arranJOU
.meu quar to ne m fez certo s ser viços em nossa casa,
a não se r eu. To mava de minh a Mãe toda
a
·costu ra ele mach ina, arran java a mesa ,' ajuda va
a
cuida r elo j a rdim e, quan do uma tarde . term inei
·COmmovida a leiw ra enca ntado ra do R,,bz'lzson
,
aben çoav a carin hosa ment e aque lbs figur inhas riso-
nhas , Luci nda e Cand oca, que me havia m ensin ado
:a traba lhar e amar a leitu ra e das quae s aind a
.ago ra me le mbro com saud ades.

r

ô BE:ija- Flor

Quem mente é sempre apanhado


Na mentira que prégou,
Isso é um velho ditado
Que meu Avô me ensmou.

E seus conselhos tornando,


Só digo aquillo que sei,
Não minto nem mesmo quando
Tenho certeza que errei.

A verdade é que illumiQa


O nosso mundo moral,
E tudo, tudo me ensina
Que a mentira é a mãe do mal.
104 P A G I NA S I Nl<'AN TIS

Muita gente não faria


As coisas feias que faz,
Sem a Dona H ypocrisia,
Velha de tudo capaz !

L embro-me muito da histona


De um rapaz q ue conheci,
Que a panhou de palmatoria,
Por causa cl.e um colibri .

Foi o caso que o tra tante


A a vezinha quiz vender ,
Dizendo: «Canta bastante,
Sabiás póde vencer! »

O comprado r, que de bobu


Nada tinha, replicou:
- «Quem mente assim faz um roubo :
Essa a v e nunca cantou !»

- «Canta, SeQhor. Todo o dia


Hontem passou a cantar !
Quarenta mil réis valia,
Ave assim não é vulgar. >>
I,. :
I
I.
r
!. PAGINA S TNFJINTIS 1Of>..

- << Pois bem, toma o teu dinheiro.


Eu te compro o beija-flor,
Mas um contrac to, primeiro,
H as ele fazer, vendedor :

Aqui , no palacio, ficas,


Até o colibri cantar,
Bem sabes, nas casas ricas
Muita gente pócle estar. »

Salt a ele aleg re o menino,


Bate palmas, ri-se, olé !
P ensava ser muito fino,
lVI<lis elo que todos a té !

E lá coms1go, calado,
Começou a reflectir:
'Stá tudo bem planejado
Meu freguez ha de dormir .. .

E ao comprador vai g-arante;


<<Nesta casa ficarei
Até que a avezinha cante:
Cantará logo, bem sei!
106 PAGr NAS INI~ANTrS

Ama nhã, mal rom pa a auro ra,


Ha de trina r e trina r .
Cost uma , mais de uma hora ,
De man hã cedo cant a r . »

Era á tarde . O rapa zola:


Qua ndo á noite fo i dorm i r,
Dav a mil t racto s á bola
Para da casa fugir.

E mal vm tudo fech ado,


Em com pleta escu ridão ,
Pé por pé, muit o assu stado ,
Em busc a vai do port ão.

Mas o fidal go soffria


De inso mnia , e estav a de pé,
Fita ndo a noite som bria ,
Dan do azas ao sonh o e á fé .. .

Do rapa z pres ente os pass os,


De prom pto deita -lhe a mão !
Eis da n"!e ntira nos laço s
O trafi cant e fujão !
P.-\G l;\ AS fi\'I~ ANTIS
107

«Co mo ..é que te vais emb ora


?
O col ibri já can tou ?
Que ro ir ao t eu bola-/óra ...
Ne m só din hei ro te dou!>>

Pal ma to ri a cles enc a \'.::t


D e ce mpos q ue lá se vão.
E m qu e-: a cre anç a apa nha va,
S i nao s, bi éL a l i cção ~

Ao me nur oso com e lla


Cas tiga a bo m cas tiga r. ..
Deb ald e ell e se reb ella ...
Apa nha e põe -se a cho rar. .

«Be m ~ Já te dei tod a a pag a


De tua acç ão ele trai dor .
Ach aste a noi te azia ga?
Est ás com mui to ran cor ?

Esc uta, bilt re, a mentir~


Qu e me qui zes te pré gar ,
l )e pnn ctp to erro u a mtr a;
Não pod ia circ ular .
tOS
-- PAGIN AS 11\FM<TI::>
------ - - - - - - - . ·---·- - -· -·--

Não póde m os beija -flore s


Em gaiol inhas viyer :
Preci sam do me 1 das flores,
Vreci sam p;ra não mórr er.

D e seu nec tar se alitne nt;:un _


Zumb indo pa ssa m a mel.
Só com 1sso se con teiH:l m.
- Namo rados do ,·erg el ~

A avezi nha que apanh aste,


Nos ares, livre, soltei ...
Que minh a licção te baste :
Não ment ir - supre ma lei !
A Fada de Londre s
( Veridico)

Vivia e m Londres, ha mui tos a nnos, enst-


nanclo francez, urna senhora já idosa e ele cabel-
los grisalhos , de voz tãp musical e doce que en-
cantava.
Sabia ella, como ninguem , todos os contos
ele fadas. Um cl!a, depois ele terminar sua licção
de francez, no meio ele ·um g rupo ele amigas.
narrou casualm ente um daquelle s contos, e o fez
com tal encanto e sugg estão, que o auditório fi.-
cou fascinado! Instantes pedidos fizeram com que
ella contasse mais algumas · historias , que, como a
primeira , desperta ram vivo enthusia smo.
f\ boa senhora com o seu traje simples
ele professo ra pobre, pegando na bolsinha p~ra
110 PAGINAS J N L~Ai'\TIS

·retirar-se, exclamou com a maior naturalidade:


« Sei tanto$ contos de fadas , que poderia passa r
a vida inteira a contai-os! »
. Quando ~ !la se a usen tou ap ressadam e nte,
·como que deixa ndo um g rande vacuo naquella
sala, a dona da casa, q ue g uarclav:J. nos ouvidos o
· timbre daquella voz harmon iosa, narra ndo mara-
vilhas, teve de s ubito es ta phrase: << Podía mos
·COntractal-a para contar histo riao; . . . e na uma
felicidade enorme para as crea nças. »
E, clalli a dias, aquella ideia fo i posta em
pratica.
Nas horas em que a professo ra vinha para
narra r os co ntos d e fadas , via e rn torno ele si não
só as c reanças, mas tod~s os membros da famí-
lia, velhos e moços, com pleta me nte ~m beveci<:los
com a sua palavra magica.
Em pouco tempo era tal a sua fama que
.o dia todo não che.gava para attender aos
chamados para contar historias e, abandonando o
ensino ele franc ez, precisava ainda trabalha r de
noite.
As princip aes fa mílias de Londres, com o
empenho de obte r algumas ele suas horas precio-
sas, augmentavam espontanea mente sua remunera-
ção, cun'lulando-a de honras e sympathia.
I
~
I
li PAGINAS li\I~ANTlS 111
,I
\' Mais tarde lembrou-se ella de fazer uma
excursão pela Ame rica do Norte, percorrendo-a
desde . N•)va York até S. Francisco da California.
Graças aos seu s modos familiares e cheios d e
encanto obteve o mais brilhante dos exitos!
Nas reuniões e festas para que era convidada
via-se rodeada por g rande numero de creanças e
de adultos, que se q uedavam embevecidos, ouvindo
os contos pha ntas ticos , modulados pela sua voz
quecte e insinuante.
Milha res de pessoas ricas concorriam a suas
audições: os mais importantes membros do com-
merci<..l, os g randes industriaes, homens de scien-
cia, p rofessores e jornalistas, todos se sentiam
emocionados com a poesia antiga elos contos popu-
lares.
E o caso é que, ao voltar 2ara a Inglaterra,
voltava rica de celebridade e de dinheiro!
111/iss Slzedlock, que assim se chama a encan-
tadora mulher, vive ainda agora em Lond.res e,
por varias veies temos encontrado na imprensa
interessantes referencias a seu nome. Transfor-
mou-se ella em verdadeira fad::t para as creanci-
nhas. Vai aos mais miseraveis bairros daquella
cidade cheia de miseria, entra pelas mansardas
~-
da pobreza e pelos quartos dos doentes, senta-se,
ll ~ PAGINA S ll'\FA~TIS

conta as histor ias mais bonita s que sabe, e depois,


quand o os peque ninos e as mães a co ntemp lam
embe vecid os, ella, com o seu sorris o de paz,
enlua rada pelos seus cabell os br<mcos, deixa- lhes
nas mãos pallid as não só di nheiro pa ra as neces-
sidade s mais urgen tes, como bonito s brinqu edos
e doces sabor osos.
E' assim que a Fada de Londr es e mp rega
a fortun a que adqui riu na .-\mer ica!
*'l
i
t
\\\ \~ .\\\\\ ' \,I
I '\ \ , \ \ \ \
. ,, ,,,
\\\\ \'
. 1\~
,, \ '
- ~~ti]r::.~J 0
O 5erian€jo
Pacat;.Í... pacatá ... pacatá ... pacatá ...
U m cava llo pa ro u, vamos ve r quem ve m lá.
E a muca ma aiJ re a porta e depressa se avista·.
U m cabocio agitando o seu paia de list(.;..
T raz cacete e garruci1a e, na cinta facão,
V em de esporas tinindo e rangendo no chão •..
T ra z nos dedos seguro um comprido cigarro,
Tem a roupa e o chapéo com r espingos de barro •.
E já se ouve dizer: «Entra e senta, seu Zé,
Traga aqui Mariazinha, a pipoca e o c~ fé .
Todo o povo se· ajunta e procura a viola,
.'\bre a bocca o garboso e chibante ma ri ola:
116 PAGI~A!'> lNfo'i\l'-ITIS
--------- --------- - --------- ---------
Cantigas ele minha terra
Ja cantei co m voz febril ,
Era no tempo ela g ue rra,
Andava em lucta o I3razil.

.Sol ou chuva eu não te1r.i a


Nas hostes do Parag uay,
Caminhav a noite e dia
Co' a moxilla el e m eu p2e.

Voluntari o corajoso.
Muita batal ha ga nhei,
Mas, depois ele victo rio:;o,
Com paraguaya casei !
O Azarias
(Caso ve rdadei ro)
(.fi C:hales ];uar fe de JiV/m eida)

Naq uelle logar zinho não havia casas de alu-


g uel, e um fazen deiro, cons oante ao syste ma esta-
belecido, deu a casa da praça para meu Pae mora r
até que este cons truíss e uma prop ria. Era assim
que os roceiros faziam. Tiravam , poré m, de con-
dição pode r entra r na casa quan do viess em; sós
ou com as fa mílias, aos domi ngos, em occa siões
de festa s, o que e ra d e facto um alugu el, sinão
mais caro, pelo meno s mais incom modo ! Os do-
ming os succe diam -se uns aos outro s. Esta hosp e-
dage m de um dia sóme nte já era um tanto per-
turba dora , mas, afinal, com o cair da tarde , vol-
tavam os hosp edes para a fazen da, deixa ndo que
.t udo entra sse nos seus eixos.
/

1_1_8_______P__::A__::G..::_:J::'\A S J N F AI\ TIS

Quando, porém, a família ele seu F e rreira,.


que era um homem estimadissimo e muito servi-
çal, vinha para alguma· festa demorada, fica va mos.
até certo ponto inteiramente deslocados. O numero·
de pessoas torna.va-se excessivo para o tamanho
da casa; al~m ela filharada ele seu F e rreira, vinha
sempre um grande acompanh8rn ento de negras e·
creoulinhos, que punham tudo e m terrível co nfu-
são, num e?Ztra e sáe constan;:e, com o accesso rio·
de vozes differentes e chô ro de creanças alvas e
pretas ... Por toda a casa apparecia roupa exten-·
dida: num cabide, era um timão ele flan t:l la com
as manguinhas ainda arregaçadas) como sai t·a do·
corpo da creancinha; noutro era um cueiro humi-
decido; alli um babadouro com leite coagulado:.
onde · se locupletavam as moscas !
· E assim ficava tudo numa desordem de ar-
ripiar os cabellos; não que lwuvesse falta de
bondade na família de se7t F erre! ra; era o desaso-
cerro inevitavei em ta e.; circumstancias -- agglo-
::,
meração de pessoal e desegualclades de educação ..
No meio de tanta gente, destacava-se a figurinha·
sympathica do Azarias, menino de seus treze para
quatorze annos, sempre commedido, delicado e
obsequioso. Elle não vinha uma só vez da roça.
que não trouxesse presentes .para este ou para
PAGJ~AS INFA NTIS

aque lle ; ora, um queijinho , em fôrm a de


cora ção;
ora, lindas rom ans e jam bos resc end ente
s; outr as
vezes, uvas pret as e figos bran cos, de
perm eio
com folhas de parr eira , num cest inho arti
stic ame nte
prep arad o . E o Aza rias esta va semtíJre
pro mpt o
pa r:J. qual que r serv iço que pud esse pres
tar: aqui ,.
desc asca ndo cann a pa ra a::< crea nças ; alli,
and and o·
deb aixo ele chuva, á procu ra ele bisc oito
s par a
outr em.
E, n5.o send o in trom etticlo, não se exc ede
ndo
nunca, elle t razia cons tante men te no rost
o a ex-
pres são ela co nfia nça e tinh a uma exp ansi
bilid ade·
de encantar . Não lhe fallecia jam ais
assu mpt o·
para pros as e ng raçadas ! A sua figura aind
a ficava
em mai or dest aqu e dea nte ela carr ancu
da sen e-·
dad e ele seus irmã os mais velh os, já moç
os, mas
acan had os, piza ndo com força e fala ndo
de ar-
ranco, o indí spen save l sóm ente para
ped ir um
lenço ás escr avas , - que era isso aind a
no tem po
da escr avid ão! - ou qua lque r outr a cois
a de que
prec isas sem . Ha esse typo de mat utos inso
ciav e:s,.
os qua es coll ocam o juiz o e a mor alid
ade na
sequiclão elas pab vras e na risp idez dos
mod os!'
A Nat ureza, emt anto , a g rand e mãe prod
igio sa,
faz dess es milag res e apre sent a crea tura
s com o o
Azarias, que pare cem não rese ntir- se abso
luta men -
ao PAGINA :; Ii'\ I"A:\TlS

te do me10 em que vivem ! organi zações superio -


res, que suppre m com o seu instinc to ele delicad eza
e a sua elevaç ão o habito ele socied ade, tão im-
prescin dível ás nature zas vulgar es !
Termi nadas as festas. ao retirar em-se os hos-
pedes, havia como que um suspir o ele allivio em
casa. Tudo ia para seus Jogare s e podia- se já ter
tempo para a contem plação benefi ca elos monte s
verdej antes e das tardes lumino sas ... S ó o Azarias
deixav a saudad es, concor davam todos !
De uma feita , após reitera dos convit es e ins-
tancia s ele seu Ferrei ra, e depois ele minha iVJãe
reluta r muito, ficou resolv ido que iríamo s dar um
passei o á sua fazend a. E fomos. Que incleleveis
impres sões me ficaram daquel las horas revelado-
ras, para mim, de tanta coisa inte ressan te e attra-
hente ! A fazend a possuí a engen ho ele assuca r
fiqu ei marav ilhada , na minha suscep tibilida de in-
fantil, olhand o a moage m, que nunca houver a visto
e na qual nunca houve ra pensad o. A machina,
trabalh ando, deixav a escorr er pela parte inferior
a garapa espum ejante , e mqua ntc por um tubo
lateral sai·a m os bag aços moído s, que eram levado s ·
immed iatame nte para o gado. Eu ficára encan-
tada, repara ndo 11os feixes ele lindas cannas , que
cheaa
b
vam lustros as e colorid as e dali i a pouco
r l'A Gl;\'AS INFANTIS '1~1

estavam transformadas em caldo e em seccos re-


síduos. E a ad miração me acordava -a phantasia e
0 enthusiasmo: o ouvido embalado pelo barulho
regular da roda, o olhar pres0 á agua espada-
nanclo em repuxos deseguaes, nimbados de ful-
gurantes a ljofares ... E apode rava-se de minha
alma profu ndo contentame nto deante das conquis-
tas de nossa for ça triumphal ! Creio que é de
todos os h omens e de todos os tempos esse pra-
zer mudo qu e sentimos na contemplação do tra-
bal ho activo e victo rioso.

Mas fui a rrancada ele meu extasis: chamaram-


me para obsequia r-m e com rapadura quente, que
saia elas fôrmas. Eu não . sei si ainda hoje lhe
acharia aquelle sabor especial que então lhe achei,
mas garanto que nunca rne soubé melhor o mais
fi no e requinta do manjar.
E foram novas revelações para o outro lado
da fazenda : caldeiras muito fundas com garapa fer-
vendo; outras em que a garapa já se transfundira em
melaço; tachos, desmedidamente grandes, em que
as negras torravam farin~1a, arrebitando os bijl!s com
pás de madeira ou. bonecas de palha; emfim, uma
multidão de trabalhos interessantes e de scenas· dig-
nas de um bom pincel nacional.
PAGI NAS JNFA NTI S
-----
Pert o da cerc a tosc a e dese g ual est:1vam
ex-
tend idos mui tos côxo s de cons ider avel com
prim ento
·e prof undi dade , ond e se depo sitav a com ag
ua a man-
-dioc a rala da para ser cort ida; e nós, a exem
plo das
men inas do faze ndei ro, arre gaçá mos as man
g as e,
mer gulh and o os braç os na ag ua fri a, traz
íamo s á
supe rfíci e tijol os de polvilho, sem elha ntes
á coal ha-
-da, tant o pela gran de alvu ra, com o pela
facilida-
-de com que se diss olvi am. E os esbu g a
lha vam os
todo s, faze ndo com que a ag t.:a, a té e ntão
tran spa-
rent e, com o polv ilho asse ntad o no fundo elos
côxo s,
-se torn asse bran ca de leite . E éra uma corr
eria sem
treg uas no meio dess as inno cent es dive rsõe
s!
No dia imm edia to esta vam os de pé mal
se
app roxi már a o alvo rece r. Qua l é a crea nça
que não
mad ruga quan do ador mec eu com o pens
ame nto
nalg uma festa , nalg uma viag em ou em qual
que r
-div ertim ento que a seduza?
Abr iram a port a do qL;arto do faze ndei ro para
.a desg uarn ecid a sala de jant ar e, na hora em
que
soou a sine ta da faze nda, o seu Ferr eira , soer
guen -
do-s e apen as sobr e o leito , defr onte do entr
istec ido
salã o tom ou uma attit ude de com man do.
' aria A num e-
rosa negr vinh a, de um em um pass ando em fren-
te dell e e, exte nden do-l he hum ilde men te a
mão mur-
mur ava: suzmzclzristo, s?tz?tnch1'Ísto, s?tz mzcl
wisto, ao
1ú)•")
•i P ;\O IN AS lK FA NTJ.S _i)

passo ·que elle respond ia invariav elmente , com a


·impone ncia de um rei : ((p'ra sempre , p'ra sempre ,
p'ra sempre>>.
Os neg ros enfileir aram-se no salão e rompeu
.a commo vente prece em côro, onde vozes grossas e
finas, de velhos e creanças, de homens e mulher es,
ligavam -se melanco licamen te na mysteri osa expres -
sao da tristeza e da esperan ça ...
Q ue m podeiia ouvir indiffer enteme nte a har-
monia de dezenas de vozes ·humana s cantand o, no
captive iro, á hora do crepusc ulo matutin o, versos
·Como estes:

« Bemdic tosejaes,
Amoros o Jesus,
Que o mundo remiste s,
Cravad o na Cruz.

Cravad o na Cruz
Para nos salvar,
E nós, tão ingra-tos,
Sempre a peccar!

Sempre
. a peccar,
Sem nunca emenda ter,
Ningue m conside ra
Que ha de morrer!
PAGIN AS LNFAN TIS

Que ha de morr er,


E as conta s q~H~ have mos dar
A'qu eile Senh or,
Que nos ha de julga r. »

E ao morr erem as vozes no suspi ro da derra--


deira firma ta, já se ouvia o seu Ferre ira orde nando:.
« O Manu el qu~ vá conc ertar a cerca
do pasto, que
está caída ; o Jerem ias que mate o porco maio r do
chiqu eiro, aque lle de barri ga amar ella;· Fula no que.,
faça ic;so; Béltr ano que cuide naqu illo; Sicra no que.
faça aquil l'out ro ...))
E os negr os iam-se retira ndo com seus passo s
pesa dos e surdo s, de pés descalços- e e nd urecidos no
pedr egul ho das serra s ...
Nós, como num sonh o enca ntado ,. corrí amos -
para lavar o rosto na bica d'ag ua e para ver tirat~·
o leite das vaccas, que saud avam a chegé:.da do dia.
com seus mugi dos tristo nhos aos quae s não falta va,
1
nunc a a respo sta dos beze rrinh os encu rrala dos.
Volt ámos da roça com <~).:5 pulm ões e a
imag inaçã o em activ idade . As filhas do fazen deiro
-
havia m-no s prom ettid o mundos- e fundos e o·
Azar ias espo ntan eame nte tomá ra o comp romi sso·
de levar -nos ovos de namh ú e: borbol'etas. azues·
PAGIN.o\ S T:\'FAl'TI:-> 1'25·

das grande s, daquel las lindíss imas, que só por si


bastari am para signifi car todo o encant o das-
nossas mattas encipo adas.

Chegá ra a vespera da festa. Estava tudo em


movim ento pela rua. A gente de seu Ferrei ra
não podia ta rdar. De repent e , chega até nós,
entre lastim as e conste rnação, a noticia alarma nte
de que o Azarias havia recebid o na nuca a queda
de um palmit o, q ua ndo aj udava a cortai- o, e
morrer a instant aneam ente. E mostrélvam a comiti va,
qu e de festei ra, se tornár a lugubre! Era uma.
I. fila compr ida ele gente a cavallo, homen s, mulher es,
creanças e negras , que acomp anhava m choran do
a rede em que vinha, na frente. o corpo do,
Azaria s ...
Entre as lag rimas de todos, ouvia- se repeti-
damen te:
Elle não era mesmo para este mundo! Coi-
tadinho! Ai! Que pe na!
Ditosas
( Das Sombras)

Da creancinha loira, alva e formosa,


Eu gosto de escutar o riso fra nco,
Apraz-me ouvir-lhe a fa la clescuidosa
- . Murmurio de briza. em lirio branco ...

.Acho di vi no o bello e transparente


Olhar da pequenina creatura ,
·Que nem por sonhos teve nunca em mente
.,Que ha de sorver o travo da amargura!

Nascemos. Tudo é luz! tudo chim era!


Depois vem a velhice e o desengano.
E a quanta gente abate e desespera
A contingencia do luctJ.r humano!

:Por isso. apraz-me a vista das creanças


E o seu sorrir de angelica bondade :
-;,Elias não perdem nunca as esperanças,
.Não têm maguas no peito, nem saudade!
f
(

Oi tosas

musico be José Carlos Dias


DITOSA S
fi'oes1a áas «Sombras,. ll08ICA D!
IIO(T~ooucçAo
JOSt: CARLOs !liAs

CANTO
..... ...,._ " - ~

-~ ...
O. O"'t - &n ·· d·nha lo1-r.al·•• c ror - - mo - - - - - c.s
(!.u Cct - IOc!c- ea-ai - l:u • r1 - -

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Da. O"t:an d r. ha lot~Y. i'r..a c forw~ou


ew .:o.tG de ncuur o n- tnonCO::
A~ · mt omr - lhc a fala dnc"Oid'o.a
' -{AIIJ'IIIorio de briu. ':!!. ll_!io b'!E~

Adõo dl~t11o ;.- t~iOo c tnnap&n~f(l


O lh1r da ~~~~tnlna crratun1 '
Q u e ntnl por IOIIh- IC" C' 11111'11:11 CIH ftltllll"fll
Q oc i!,f! de ao,.,.rt o tru·o da ·~•rx\lra ~

N'Mâlfto. l T..do i hu t tvdo chlmrn \


Oc-,o:. ~• a wtlhlcc c o dnrr~t.ano.

e . • q o-.nt. ccntc aM.tr c d"n pc-ra


~~.:~"'"'~· du I~ ~U!f'_l:!lo ~
Por ftiio .-,.., · me a ...Uta d"u tnanc-.!
e_ O Mil 1t0rrlr de uccllta bondldt 1
e.n.. 11lo pe-rdem nunca ... nprn~nçaa.
Nl o 1t.. 111&(11U n o peito, nll' ~ Mvol'dc ~
INDICE
Juizo da Imprensa e cartas
Pags.
Hyppoly to P uj o l. . . 111
Curvell p de Mendonça v
Rufiro Tavares . . . ·VII
Argymiro Acayaba . . XI
Arthur Orland o . . . . XII
Octaviano C arlos de Azevedo XIV
Valclomiro Silveira. . . XVI
Conde de Affo nso Celso . . XVII
Maria Clara da Cunha Santos XVlll
A. Candid o Rodrigues . . XX
Francisco f a lcão. . . . . . . XXII
Carta do Snr. José Carlos Dias . . XXVlll
Carta de O. Florinda Roiz de Mello XXIll
Carta-Prefacio do Dr. João Kõpke. xxxx
Prologo . . . . . . . . . . 5
Livro bonito. 9
ldeaes. . . . 11
Ladainha. . . 13
Ao ar livre. . 15·
Enigma n. 0 1. 18-
Um modelo . . . . . 19·
Desgraça . . . . . . 21'
Vinte e quatro ·de junho. 23
Enigma n.o 2. . . . . 25
A' minha Mãe. . . . . 26
O Lenheiro . . . . . 28
Enigma n. 0 3 . . . . . . . . 30
Carta de um interno de collegio. 31
Crirri. . . . . . . . . . . 33
Enigma n . 0 4. . . 35
Sou poeta pequenino 36
O Carnava·l. . . . 38
Enigma n. 0 5 . 40
A- Boneca· . . 41
Enigma n. 0 6 . 43
PAGINAS I NF ANTIS

Pags.
·Cantiga. . 44
.Enigma n. 0 7. 46
Enigma n.O 8. 47
. .A-njo . 49
No Berço . . 51
O Arabe. . . 52
' Enigma n. 0 9. . . 54
Nossa avozinha é tão boa . 55
Enigma n. 0 10. 57
·No. Jardim . . 59
Enigma n. 0 11 61
Mãe e filho. . . . . . 62
··Carta de uma velha mãe. 64
Enigma n .0 12, 67
Velhaquete. 68
Triumpho .. 70
Na Rua. . 72
·sabbado de Alleluia 74
-Enigma n. 0 13 75
·sem Ella. . . 76
Enigma n. 0 14. 78
Temporal . . 80
-Enig ma n. u 15. SI
O Brazil . .
83
O Natal. . • . 85
A' entrada do anno. 87
·Ji:ymnu ·Escolar. ss
90
'Ferias . . 92
Silencio. · . .
·fraterniâade . . .
93
97
Lucinda e Candoca. 103
·O · Beíja:rlor.. 109
.'A fada de Londres. 115
O Se'rtanejo .. 117
O Azarias. 126
'Ditosas. . . . . . . . • .
Ditosas, composição· musical do .Snr. José Carlos Dias. 127

• 4 • •• :
..

....

.I .
~ Livro das
fovés

~
ll
11

~
Cl)restoma tl)ia em prosa e \'er-
li- so, organi3oba por u. l'rcscilia ·,
Dua.rt.e de Ahncicla.
I
I Um grosso volume, abornabo com
bellissimas gravuras e be granbe uti-
libabe para o professora bo· publico.
J:eitura af7]ena e ·iJivertida


.'
,..
J ••

.
~

..

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