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Geraldo Pires de Souza, C.SS.R.

MUNDO S
ENTRE BERÇOS

Irradiação na Rádio Nove de Julho

São Paulo

I
EDITORA VOZES LIMITADA
PETRóPOLIS, RJ.
1965
*

Mundos entre Berços


Os povos se preocupam com
os problemas de Lar e de Fi­
lhos. A própria Igreja não
menos. No célebre esquema
treze do Concílio Vaticano II
"A Igreja e o Mundo Contem­
'
porâneo" toma posição. E' ne­
cessário meditar sôbre tais
problemas. O Papa Paulo VI,
valorizando o Movimento Fa­
miliar Cristão, convida um
Casal dêste movimento para
tomar parte na última sessão
do Concílio. Fato extraordi­
nário!
A massa, o povo dos cris­
tãos, bem o sente. Neste sen­
tido o livro do Pe. GeraldJ
Pires de Souza presta ótima
colaboração. Não se trata de
exposição científica ou mora.­
lizante. "Não comento a his­
tória. Deixo-a para o seu co­
ração e sua fé" (p. 266).
O Padre Pires, homem que
conhece a alma brasileira, mis­
sionano de inúmeras prega­
ções em todos os recantos do
Interior e das Cidades, de
palestras na Rádio 9 de Ju­
lho, por seus livros "Três
Chamas do Lar" - "Muito
entre Nós" - e outros já tra­
duzidos também para o espa­
nhol, sabe falar. E o faz nu­
ma linguagem simpIes e
fluente.

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"Mundos entre Berços" são
138 palestras feitas na Rádio
9 de Julho e aqui apresenta­
das ao leitor para meditação �

reflexão. "Mundos entre Ber­


ços"? "Os grandes vultos que
abalaram o mundo, que o me­
lhoraram ou pioraram, foram
embalados em seus berços co­
mo crianças" (p. 7).
A importância do Lar e da
Família é o que o Pe. Pires
quer mostrar nesta obra. Além
disso procura orientar. Não
se limita a abordar temas da
natalidade. Fala da vida re­
ligiosa ("Pão rezado", p. 180),
da vida política, (Família po­
litizada, p. 163).
Para meditação cotidiana,
para leitura, para palestras
em Rádios, o livro é precioso
tesouro. Sua leitura anima e
eleva.

Outras obrw; do 1/Ws'mo auto1·:


Audi, Filia.
Muito entre Nós.
Na Escolha do Futuro.
Perante a Môça.
Professôra no meu Batismo.
As Três Chamas do Lar.
Vigílias e Alvoradas.
Esquemas Missionários.

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"IMPRIMI PO TEST.

Sll.o Paulo, 1• de maio de 1964


P. José Ribolla CssR.,
Superor Provincial

IM P R IM A T U R

POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. REVMO. SR.


DOM MA NUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA
BISPO DE PETRóPOLIS.
F REI WALTER WA RNKE, O.F.M.
PETRóPOLIS, 27-2-1965.
ÀS FAMÍLIAS OUVINTES E AGORA LEITORAS.

Durante vários anos, ao m eio-dia das quintas-feiras,


irradiei um p rograma intitulado LAR E FAMILIA,
na Rádio 9 de Julho, nesta capital. O que as ondas
levara m para os lares ouvintes apresento hoje em
linhas i mp ressas, com o título de MUNDOS ENTRE
BERÇOS. E' uma referência às profecias dos berços.
As irradiações passaram, mas aqui ficam os pen­
samentos que transmitiram.
Continua em vigor a m esma intenção: orientar,
alertar, animar, entusiasmar as famílias a respeito
de seus ideais. op tem eram ouvintes e hoj e são lei­
toras. Os berços precisam encontrar o clima cristão
para garantias de mundos de amanhã.
De outro lado viça uma p rimavera consoladora
de espiritualidade conjugal. Querem os esposos vi­
ver o seu sacramento do qual.. já percebem as ener­
gias, o simbolismo, os programas e as esperanças
para um mundo melhor. Querem viver e realizar o
sacramento no roteiro que o coração de Deus lhe
traçou. Venho ao encontro desses lares.
Na festa de S. José, o g rande Chefe
da Sagrada Família e sob sua proteção, vai êste li­
vro bater às portas dos lares e corações.

São Paulo, 19 de março de 1964

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I

1. QUEM BALANÇA UM BERÇO


balança o mundo, afirma certa sentença do Tal­
mud. Os g randes vultos que abalaram o mundo, que
o melhoraram ou pioraram, foram embalados em
seus berços como crianças. Santos e malfeitores, sá­
bios e transviados, tiranos e benfeitores de seus ir­
mãos eram ainda uma incógnita nos berços.
Sabemos de berços p roféticos que tiveram certas
criaturas. Rodà, poeta u ruguaio, sabe descrevê-los
num êxtase comovente. Ora é uma rosa formada
sôbre o peito, ora um enxame de abelhas, ora u ma
tocha acesa na bôca de u m cão, que estão prelu­
diando o futuro de u m ser inconsciente.
As mãos, portanto, que embalam u ma criança no
seu bercinho, podem balançar destinos do mundo.
A sentença quer afirmar a importância dos lares
na formação de um filho. Não poderá êle mudar a
rota de m uitas existências a seu lado, quando g ran­
de e responsável por seus atos? Bem pode sua in­
teligência, aprimorada mais tarde, descobrir segre­
dos da natureza, da a rte e da ciência em benefício de
seus contemporâneos e vindouros. Fortalecido na
vontade, enobrecido no coração, poderá ser uma bên­
ção imperecível.
Há pelo mundo casas com placas contando que
nelas nasceu u m santo, u m sábio, u m artista, u ma

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criat!Jra abençoada enfim. N o plano de Deus os
pais receberam o poder de transmitir a vida, ao la­
do da missão de aperfeiçoá-la, enriquecê-la para o
presente e o futuro . Qu ando planeja uma coisa, Deus
dá também os recursos para sua execução. As fa­
mílias que cooperam com E:le nunca são logradas
em suas esperanças.
Certo aforismo sustenta que é fácil pôr no mundo
um filho, mas que é difícil formá-lo para um ho­
mem. Lares cristãos sabem que não trabalham a
escoteiro, entregues a si mesmos. Sobretudo quan­
do vivem de modo cristão, na exploração prudente
do sacramento que lhes trouxe g raças de estado.
E ainda por cima contam com a experi ência peda­
gógica da Igreja, cujos Pastôres ensinam as verda­
des sempre a molde das precisões do tempo. Sa­
bem que o batismo coopera com suas fôrças invi­
síveis quando da formação cristã dos fil hos.
Tudo depende das mãos, ou melhor, da mentalida­
de com que elas balançam os berços com os p rogra­
mas da Divina Providência. Berços e destinos do
mundo, quanta responsabilidade para pais cristãos!
Ajunto ainda outra responsabilidade tremenda : a
eterna salvação. A vida do século vindouro, após
esta passageira, prende-se a um berço que mãos hu­
manas balançaram, mas em nome de Deus, de acôr­
do com Ele e para E:.le.
Há m undos entre berços, e os céus permitam se­
jam m undos abençoados por muitas gerações. Cien­
tes de tal entrosamento, lutam os maus pela profa­
nação, laicização, esterilidade, dissipação dos ber­
ços. Mais u m pouco ainda, e nem teremos mais es­
paço vital para os pequenos, que reclamam uns pal­
mos para seus corpinhos recém-nascidos.

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Família ouvinte, sejam teus berços balançados no
programa dos céus ! Balançarás mundos melhores
com êles.

2. ELA ESPERAVA
o nascimento de seu primeiro filho, aquecida a
alma por m onólogos com a esperança. Sentada jun­
to à mesa, a jovem mãe tricotava os casaquinhos
para seu bebê. Jovens mães ficam então monologan­
do, mas em verdade já estão conversando com o
filhinho. E dizia assim a mãezinha do caso:
- Filhinho, você vai me desculpar muita coisa.
Não tenho caminha rica para você. Nem vestidos
mu ito bonitos. Mas a lã que eu escolhi para fazê-los
é a mais m acia que encontrei. Não quero que seu
corpinho fique maltratado. Escute, bem pode ser
que um dia da torneira continue correndo a água
porque não temos quem venha consertá-la. Tam­
bém não tenho telefone para chamar depressa o
médico quando você adoecer. Suas roupinhcs ma­
mãe é que lavará. Não posso ter lavadeira. Contudo,
filhinho, uma coisa eu tenho para lhe dar, para em-
be;lezar sua infância. Tenho . . . .
. .meu tempo. Meu
.

tempo, ouviu , bem? Será todo seu . . .

Família ouvinte, quanta criança tem tudo e não


tem o tempo de sua mãe, traduzido em presenças e
carinhos ! Hoje muitas mães correm cedinho para
seus empregos. Querem trazer mais um ordenado
para a casa. Nem sempre êsse ordenado faz falta.
Para outras a presença, as ocupações em casa l hes
parecem insignificantes e vazias. Confiam os fi-

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l hos a pajens, a jardins de infância. Pouco contado
existe com êles.
E aquela mãezinha não enveredou por êste ca­
minho no seu monólogo. Prometeu ao nascituro que
jamais iria correr, de u m lado para o outro, em
busca de ordenados. E até assegurou-lhe restrições
na modesta casa, para em nada roubar o tempo
ao filho. Garantiu-lhe que, já crescido, de volta para
a casa sempre a encontraria esperando-o. Perto
dêle sentar-se-ia, quando tivesse que preparar as
tarefas para a escola.
"O primeiro Pai-Nosso você aprenderá de meus
l ábios - prometeu a cristã. Se você fôr m enina,
terá suas amiguinhas e poderá trazê-las à nossa
casa. Saberei recebê-las com alegria, com um prato
a mais. Se fôr u m menino, traga-me seus compa­
nhei rinhos. Haverá lugar para brinquedos. Eu não
me zangarei, se entrarem com sapatos barrentos
nos pés. Pois não tenho tapêtes em casa para m e
enervarem. Podem j untos fazer barulho à vontade.
Papai não está em casa e não tenho cozinheira para
dizer-me que não agüenta vocês. E nas férias po­
derá você convidar um coleguinha para ficar aqui"
A tarde, ao voltar o marido, disse-lhe a espôsa:
- Nosso filhinho vai ser m uito rico . . .
- Mas com a riqueza que temos? Com o pouco
ordenado que recebo?
- Meu bem, riqueza não depende de dinheiro.
Depende do coração . . .
Aí está u m monólogo que pede resposta a muita
mãezinha, remissa em vários pontos. Dar tempo
ao filho . . . Que moeda valiosa, mas tão rara, hoje!
Família ouvinte, sejamos francos. O tempo parece

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que existe mais para os de fora, para a vida social,
divertimentos, compromissos secundários. Para os
filhos, sobretudo pequenos, em mu itos casos apenas
as sobras. Tudo isso é contra os planos do Criador
e da representação d e sua paternidade e providên­
cia confiada aos pais e às mães . . .

3. E A MÃE REVIVEU

na lembrança dos homens daquela aldeia isolada


do mundo pela tempestade de n eve. Foi assim o
caso. Uma parturiente da aldeia precisava de assis­
tência médica, sob pena de morrer juntamente com
a criança. Mas a neve cobria os caminhos, à altu ra
de metro e meio. Impossível era o trânsito. E então
a mãe reviveu na alma de quarenta homens sacudi­
dos. Lembrados de suas mães, respeitavam a vida
ameaçada de morte naquele parto. Aconteceu o ines­
perado. Reunidos, puseram-se a abrir uma passagem
de dois metros de largura, na extensão de dois quilô­
metros e meio . Veio a ambulância e l á se foi a partu­
riente dar à luz o fil ho, assistida por competente
médico numa maternidade .
Família ouvinte, tal solidariedade " familiar" está
recordando as mãos de mães que formaram êsses
quarenta homens. Pouco se lhes dava a posição hu­
milde da parturiente. Tratava-se de uma outra mãe,
repetição de maternidade. E foi o suficiente para
o gesto ousado que tiveram . Exaustos, mas conten­
tes, viram passar a vida na brancura da neve a mon­
toada à beira da estrada.

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Sempre repito às famílias que me ouvem a pre­
sença do sacrifício na vida dos filhos. Sacrifícios no
interêsse próprio e alheio. Os homens devem ser,
desde pequeninos, formados para colmeias e nunca
para alcatéias de lôbos, que se devoram mutua men­
te. Poupar as renúncias na vida dos pequenos, culti­
var-lhes o egoísmo, vedando-lhes a visão das pre­
cisões alheias, não é formar sêres humanos e muito
menos ainda cristãos batizados.
O que outros chamam de a ltruísmo, sol idarieda­
de humana tem um nome mais nobre na visão da
fé. Chama-se caridade, quando no próximo vemos
a Deus. Um ateu escreveu uma blasfêmia, afirmando
que o inferno são os outros. Nós, cristãos, responde­
mos que Deus são os outros. "Deus nos outr05, por·
qu e é origem do seu ser, o princípio da sua grande­
za . Deus pelos outros, pois êles são a imagem de
Deus e o caminho para o alcançar. Deus para oo ou­
tros, pois o apostolado e o verdadeiro amor consistem
menos em darmo-nos aos outros do que em dar-lhes
Deus" (Pierre Blanchard) .
E quem negará que a bondade humana acaba
dando Deus aos outros? Fique em teu lar, família
ouvinte, o fato com suas lições

4. VESTIDOS E MODAS
Hoje, na companhia de Pio XII, vamos falar dos
vestidos, das modas que os orientam. O Papa é bem
claro e bem compreensível. Não exige o absurdo,
mas o que é digno e possível. Diz êle à Delegação
da Juventude feminina italiana palavras que m ere­
cem ser bem meditadas:
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"O movimento da mcda nada tem de mau em si
mesmo. Nasce espontâneamente da sociabilidade
humana, seguindo o impulso que leva uma pessoa
a pôr-se em harmonia com seus semelhantes e com
os hábitos daqueles que a cercam. Deus não vos
pede viver fora do vosso tempo, indiferentes às exi­
gências da moda, a ponto de vos tornardes ridí­
culas. E isto vestindo-vos contra o gôsto e os usos
comuns de vossas contemporâneas, despreocupadas
de agradar-lhes . S. Tomás afirma que o orna men­
to feminino pode ser ato meritório de virtude, quan­
do está conforme ao uso, ao estado da pessoa e à
boa intenção. Ato meritório quando as mulheres ves­
tem ornamentos decentes segundo o seu estado
e dignidade, moderadas conforme o uso da terra.
Deus pede lembrar-vos sempre não ser a moda
a regra suprema de vossa conduta. Nem pode ser
isso. Acim a de suas leis há outras exigências que
são leis mais imperiosas, princípios superiores e
imutáveis que em caso algum podem ser sacrifica­
dos ao gôsto, ao capricho perante o í dolo da moda.
Dirão algumas j ovens que tal moda é mais cômoda
e mais higiênica. Mas tornando-se um perigo grave
e próximo para a alma, já não é higiênica para vosso
espírito. Tendes o dever de renunciar a ela"

E o Papa deduz u ma conclusão incontestável quan­


do sústenta que ninguém pode pôr em risco a saúde
física do p róximo, só por um prazer. E menos ainda
se poderá fazer isso quando se trata da saúde de
sua alma. Algumas, continua o Papa, dizem que
modas audaciosas não l hes causam má impressão
alguma. Mas poderão dizer, se causam ou não más
impressões sôbre os outros? Que garantia têm dis-

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so? Conclui que muitas se espantariam sôbre suas
responsabilidades, caso ficassem conhecendo o mal
feito a outros pelas modas indecentes que usam
(22 de maio de 1 941 ) .
Não está exposto todo pensamento de Pio XII.
E m outra ocasião, falando às modistas católicas,
mencionou o seguinte : o vestido, na sua finalidade
de proteger o corpo contra as intempéries, deve orná­
lo sem lhe ferir o pudor. Não vacila em citar em cer­
ta alocução a sentença de Sêneca, filósofo pagão,
ao referir-se aos ornamentos femininos. Não sabia
o filósofo se de fato se trata de um vestido, quan­
do êle nada protege, não defende o corpo nem o
pudor. Quer o Papa que os bispos " recomendem
a beleza do pudor", embora reconheça o direito re­
lativo de certas modas decentes. Acha q u e o assun­
to é muito sério. Refere-se não somente à virtude
cristã como também à saúde corporal, ao vigor e de­
senvolvimento da sociedade humana.
Família ouvinte, respeitado o pudor, a condição
social de estado, pode o corpo feminino ser enfei­
tado, ornado para agradar castamente. Pio XII diz
poeticamente : "Cristo mandou certo dia admirar a
delicada veste das flôres, dizendo que nem Salo­
mão andava tão ricamente vestido. Se pois as plan­
tas e os animais se revestem de maravilhosas côres
que atraem o olhar e impõem a admiração, não
poderá então o homem imitar o artista divino?"
( Aloc. aos modistas, setembro de 1 954) .
Portanto está bem claro o pensamento da Igreja.
Flôres do campo, l indas e viçosas, encantam e não
perturbam. Imitem-nas as flôres humanas dos lares
que estão me ouvindo.

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5. DIAS NA LITURGI A

Não é d e hoje a tendência pelo movimento l itúr­


gico. Procura-se levar os fiéis a maior compreensão
e participação no que diz respeito à l iturgia. última­
mente o próprio Concílio Ecumênico Vaticano 11 deu
maior impulso ao movimento. Hoje já vemos nossas
igrejas com mais vida, tomando os fiéis parte ativa
nas cerimônias. Já são muitos os que acompanham
a Missa com seus Missais.
O que nesta alocução visamos não é a simples
aprovação ou recomendação do movimento. E' an­
tes de tudo a liturgia da vida, ao longo do ano. Sa­
be a família ouvinte que a Igreja reparte o ano li­
túrgico em domingos d o Advento, da Epifania, da
Quaresma, da Páscoa, de Pentecostes. Para cada
período há u m grande mistério, uma g rande festivi­
dade que deve ser preparada. Cada p eríodo exige
uma menta l idade adequada, um clima para a alma
cristã e a família cristã. Sobretudo o tempo da Qua­
resma , com suas mortificações, suas austeridades.
Os lares que sabem respeitar essas épocas de
recolhimento, lastrá-las com alguns sacrifícios, es­
tão contribuindo vivamente para a formação cristã
de seus filhos. Seria engano localizar a liturgia só­
m ente nas igrejas. Não. Ela precisa acompanhar
nossa vida com seus altares e suas imolações. Colo­
ca-nos assim na companhia de Cristo, centro do
ano l itúrgico, cuja vinda é p reparada, é festejada.
Suas dores e seus triunfos atravessam meses do
ano. Não falta hoje l iteratura ao alcance da família
desejosa de instruir-se.

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Mas o que está faltando é o interêsse por essa li­
turgia do ano. Ora com tal omissão está a família
perdendo um grande meio para a educação religio­
sa dos filhos. O valor pedagógico da l iturg ia, com
seus ritos, suas côres, seus hinos, suas leituras e
suas festas, é indiscutível. Lembro apenas o Natal,
convertido infelizmente em permuta d e presentes.
E' verdade, os deserdados são lembrados nessa data,
com organização do Natal dos pobres, dos doentes,
etc. Mas nem sempre a lembrança tem orientação
cristã, não passando de um filantropismo vazio . En­
tretanto o maior presente, que é Cristo incorporado
à família humana, fica sem a devida correspondência.
Está escrito que nossa vida há de ser u ma l itu r­
gia, isto é, serviço de Deus perante os altares do
dever na existência terrestre, até à hora da morte.
Justamente na família " com sua comunhão de amor,
sua simples e austera beleza, seu caráter sagrado
e inviolável, sua doce e insubstituível p edagogi a,
sua fundamental e insuperável sociologia" , não pode
faltar a alma litúrgica para os dias e meses do ano.
Como é comovente recordar aquela mãe cristã, extre­
mamente sobrenatural e carinhosa, combinando com
a filhinha única : na quaresma fariam ambas o sa­
crifício dos carinhos e beijos!

6. MEUS OLHOS PELOS TEUS OLHOS

- Por favor, dizia o môço sinistrado, por favor


tirem de meus olhos esta faixa. Quero ver, preciso
enxergar. Não suporto esta noite diante de meus
olhos.

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Médicos e Irmãs ouvia m o pedido que se repetia,
mas lhes faltava a coragem de dizer tôda a verdade
ao infeliz. Nunca mais veria a luz do dia, a beleza
das flôres, o encanto das estréias, o rosto das pes­
soas levadas no nicho do coração. Só na outra vida
iria ver outras realidades.
Mas chega, entra n o quarto u ma senhora de
feição aflita. Era a mãe do cego. No corredor do
hospital lhe haviam interceptado os passos, pondo-a
ao par do desastre que roubara a vista ao filho.
Queria o médico dissesse ela a dura realidade. Mo­
mentos cruéis para a pobre mãe. Ei-la junto à cama
do filho, tomando-lhe a mão. E' i mediatamente
reconhecida n esse apêrto de mãos.
- Mamãe, diga-me: filho, você vai ver, vai enxer­
gar outra vez.
Há um silêncio constran gedor. A interpelada le­
·
vanta os olhos para o Crucifixo sôbre a cama do
filho. Reza, pede a frase certa para aquela hora tão
terrível. Uma pausa. E por fim diz, com voz em­
bargada, forrada de ternura com o só as mã �s
sabem ter:
- Filho, mamãe i rá ver por você de hoje em dian­
te. Meus olhos . . serão seus olhos. E:les verão por
você.
Agora o môço está sabendo de tudo. Uma vida
nas trevas vai começar. Mas havia tanta doçura na
frase materna, tanta p romessa de ver u m mundo
diferente através dos olhos da mãe, que a calma
lhe volta ao coração.
E' sempre assim, família ouvinte, que no meio do
sofrimento surge o confôrto da resignação, ao la­
do de outros horizontes desconhecidos. Filho feliz
Mundos Entre Berços - 2
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aquêle que vê tudo pelos olhos maternos. A mãe
vê o mal e avisa a sua presença. Vê o bem e louva
sua entrada. Vê o nobre ·e canta-lhe a beleza. Dá com
as chagas de Cristo e adora-as .E com ela o filho
.

vê e aprecia tudo isso. Pobre filho, quando aos pais


falta a visão cristã do mundo e do tempo, das coi­
sas e dos homens. Há pais cegos para os cenários
que fogem da visão dos olhos. Não enxergam o
eterno, " a vida do outro lado, do outro século"
Nesse caso não estão enxergando para os filhos e
omitem indicar-lhes paisagens despercebidas. Bem­
aventurado o filho quando a mãe vê de longe os
perigos, as culpas, as ciladas e o previne. Seria
lamentável se os olhos maternos vissem apenas fal­
tas contra as normas de urbanidade nos meios so­
ciais e não enxergassem as deselegâncias cristãs en­
tre fil hos de Deus. A fidalguia do batismo reclama
nobreza de modos desde os pensamentos até às
mais insignificantes ações. Ora tudo entra no pro­
grama de visão para olhos m aternos.
Job, o heróico justo, confessa que foi "ol hos
para o cego e pés para o aleijado". Tôda mãe sabe
que os fil hos são cegos para mu itos valores e alei­
jados para muitas caminhadas do dever.
Mães, nunca sejais cegas ou aleij adas no mundo
moral e sobrenatural. Faltariam nesse caso olhos e
pés para vossos filhos.

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7 EM CASA A METADE

Uma senhora viajava num trem com um bando


de crianças. Estas vivem e movem-se. Incomodam
também. Outros passageiros acham demais o es­
paço conquistado pelos pequenos. As tantas u m
dêles, mais idoso, reclama e aconselh a :
- Quem tem tantos fil hos devia deixar a metade
em casa, minha senhora.
- Pois foi justamente isso o que eu fiz. Levo
comigo apenas esta metade que o senhor está vendo,
m eu cidadão .
Quem negará generosidade a esta mãe que soube
ser delicada e p rudente, não carregando todo o ban­
do de filhos? Mas soube aceitá-los para seu lar. Não
andou com avarezas reprovadas. Sendo árvore para
as vidas, aceitou-as tantas quantas Deus quis que
pendessem como frutos amadurecidos.
Número de flihos ! Problema de consciência, pro­
blema de coração, p roblema social e religioso. A
família ouvinte já conhece com certeza o pensamen­
to da Igreja sôbre o assunto. Pio XII falou clara­
m ente no caso. Lembra a comparação do salmista,
apontando no lar do justo a espôsa como videira
e oliveira carregada de frutos. Rasga o horizonte da
fé, ao recorda r o aparecimento de almas e cristãos
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batizados, de cidadãos para o reino de Deus. A pró­
pria Igreja, ao abençoar a n oiva, pede-lhe a bênçã:>
da fertilidade.
Contudo a Igreja não é natalista, em sentido abso­
luto. O próprio Pio XII avisa que também o ambiente
e os recursos e as possibilidades físicas entram com
suas pretensões razoáveis. Pois não se trata de ape­
nas pôr filhos no mundo, mas também de criá-los,
educá-los, formá-los para pessoas dignas e caracte­
res abençoados. Poderá haver contra-indicações em
vários casos, tornando-se um êrro impor mais uma
maternidade.
Isto pôsto, família ouvinte, recordo que não fal­
tam livros com mais pormenores no assunto. O que
pretendo acentuar é a p roibição de errar, d e pecar,
de viola r uma lei sagrada quando entre ela e as con­
tra-indicações surge u m conflito. Pode um médico
ter tôda a razão, desaconselhando tal ou tal mater­
n idade. Mas nunca lhe assiste autoridade para permi­
tir o pecado na violação da lei divina . Quem viaja
com muitos filhos, deixando a outra metade em
casa, não incorre nos reparos e condenações que
faço .

8. CRIANÇAS E METROS QUADRADOS

Um jornal de Colônia, na Alemanha, fêz uma


pergunta que relaciona os substantivos supracitados.
Indaga então se temos verdadeiro amor às crian­
ças, dando a razão no caso. Constatou que há mais
metros quadrados reservados ao estacionamento de
automóveis do que para parques infantis. Tomou-se

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o trabalho d e apresentar estatísticas sôbre o pro­
blema. Fêz bem. Qualquer tratado de avicultura dá,
por exemplo, quantos metros quadrados formam
espaço vital para determinado número de aves.
Nosso articulista conta-nos que na Suíça tocam
seis metros quadrados para cada criança. Na In­
glaterra, vinte metros quadrados. Na Alemanha Fe­
deral apenas . . . um metro e meio. Termina assi m :
" Infelizmente a petizada não pode organizar uma
greve, exigindo mais espaço para pular, correr
e brincar".
E aqui em nossa terra, em nossa cruel São Paulo?
Avenidas com umbrosas árvores, fruteiras e parques
vão desaparecendo. Algum especulador descobriu
que, derrubando tudo, comendo o espaço livre com
prédios de apartamentos, haverá mais juros pelo
capital empatado. Hoje em avenidas outrora arbo­
rizadas, por exemplo a Avenida Angélica, uma ár­
vore . . . é uma paisagem.
E nossos pequenos ficam sem espaço, sem ar, sem
luz. Mu itos pais dão-lhes tudo, menos espaço, ar,
sol, brisa, grama, sombra das árvores, areia. Todo
êsse mundo encantado, lindo presente de Deus, co­
locado em a natureza, só é visto em l ivro de figu­
ras. Até hoje recordo com saudade as árvores que
encontrava à minha espera quando nossa família
mudava de casa. Certos terrenos de tios e tias, então,
ficaram como cenários de fadas até hoje. Tenho
sôbre a mesa um quadro representando enorme ár­
vore e um petiz à sua sombra, olhando encantado
para os desenhos que o sol, filtrando-se pelos ra­
mos, projeta sôbre o solo.
Fala-se tanto do planejamento humano das cidades
com ruas, pa rques e habitações. Ando à procura

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dêsse humanismo e ainda não o encontrei. Pelo
contrário, o que se vê nas plantas aprovadas pela
Prefeitura é a negação de tal humanismo. Já benzi
vários apartamentos e fiquei triste com o quartinho
sem luz e pouco a r, destinado às empregadas. E os
pequenos? Sem nada em casa, sem nada nas ruas
e nas praças da cidade! Justamente aqui é que
MAF e outras associações semelhantes deveriam
agir. Tôdo gasto em melhorar o espaço para o mun­
do infantil é gasto de antemão justificado e aplaudido.
Penso que as famílias se estão omitindo neste
assunto. Calam-se, vão aceitando tudo naquele i rri­
tante derrotismo de quem diz: "não adianta recla­
mar". Urge reagir, reclamando espaço para as crian­
ças. Deus traçou largo espaço para as aves do céu ,
para os lirios dos campos. Não quer que aves, flôres
do campo, com vida p recária, ten ham mais valor do
que seus filhos. Confiou aos pais o interêsse e a de­
fesa de tudo quanto se refere aos pequ enos . Vales,
planu ras, montanhas, rios, florestas o Criador plan­
tou no mundo para seus filhos, grandes e pequenos.
E vamos tolerar que máquinas, automóveis, pré­
dios, ganâncias ocupem tudo? O primeiro valor no
mundo é e será sempre . o homem, desde sua
infância. Para o leitor da Bíblia é programa a sen­
tença com que Deus o colocou no mundo, onde de­
via ser rei e soberano. Mas quando Deus não impera
nas idéias e nas leis, perdendo o seu lugar, também
o perde o homem, a quem se recusa espaço para
viver e crescer. Então sobram metros quadrados
para automóveis e não para crianças.

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9. UMA LISTA ACUSA
Na escola fôra feita uma sondagem sôbre os de­
sejos das crianças, por ocasião da festa do Natal.
Apareceu então o seguinte relatório. Queriam bi­
cicletas completas, bolas de futebol, chuteiras, re­
lógios-pulseiras, carros com bonecas, casas para elas
com iluminação completa, máquinas fotográficas e
d e filmagem, etc. Uma ou outra criança menciona­
va um par de sapatos, uma boneca qualquer. A g ran·
de maioria d escreveu cuidadosamente as qualida­
des dos presentes desejados.
Dirão os pais que isso prova a m entalidade moder­
na e técnica da infância atual. E também pode pro­
var como anda exigente essa infância moderna. A
razão está na m ania de m uitos pais, sempre desejo­
sos de atender às vontades mais contra-indicadas
pela situação financeira da família. Saem prejudica­
das as finanças e também os filhos. Uma criança
que não sabe moderar seus desejos, ou melhor, os
tem sempre atendidos p elos pais, está sendo edu­
cada para uma fracassada na vida .
Longe de mim advogar o método de recusar pre­
sentes aos pequenos. E:les precisam dessas provas d e
afeto. Mas o exagêro em entupir o s filhos com pre­
sentes é igualm ente funesto na vida. Não há dúvi­
da, hoje requ er-se muita coragem dos p ais n este
particular. A m oda anda por aí: muitos e belos e
caros presentes aos fil hos. E' claro, também a vaida­
de ou exibicão falam neste assunto. Querem brilhar
perante ou Úos p ela forma dos presentes que fazem.
Vivem saturadas nossas crianças. Já não reagem
perante presentes menores, mais singelos. E cada

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vez mais alto vão colocando suas ex1gen cias. Vão
perdendo, ou já perderam, aquela delicada sensibi­
lidade da alegria com coisas p equenas e simpl es.
Será vantagem cultivar tal doença? A vida dá coisas
pequenas. Raramente é fada encantada com ré­
g ios regalos de alegrias, felicidades e surp rêsas. Se
alguém desensinasse uma criança a matar sua sêde
com água fresca e pura de u ma fonte, lhe p restaria
porventura um benefício? Certamente que não. Por
que vamos contudo adotar outro método, quando
se trata de saciar a sêde de u m coração infantil?

1 Ü. UMA CARTA-PROGRAMA
escreveu Dostoievsky a certa senhora, em res­
posta a u m a pergunta. A consulente queria ouvir, co­
mo mãe e educadora, uma palavra do g rande escri­
tor. Digo ouvir, porque há cartas que reproduzem a
voz de quem as escreve. Essa mãe queria saber o
que era bom e o que era mau. Assim respondeu o
consultado :
"Todos os que têm o dom de perceber a verdade,
todos êles sabem na consciência o que é bom e
mau. Seja boa, minha senhora, e que seu filho
compreenda que a senhora é boa, e que se lembre
que foi boa. Isto feito, pode acreditar em mim que
assim cumprirá seu dever para com êle pelo resto
da vida. Ao longo da vida o filho evocará a senhora
com grande respeito e talvez com um enterneci­
mento. Mesmo no caso de ter a senhora procedido
muitas vêzes com leviandade, causando sofrimen­
tos aos outros, tornando-se ridícula, - êle l he per-

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doará com certeza, mais cedo ou mais tarde. Isto
fará ao lembrar sua bondade. Suas más ações em­
palidecerão diante das boas ações, recordadas por
êle. A lembrança do bem praticado pelos pais, digo
o bem da verdade, da honestidade, da compaixão,
da ausência d e falsa vergonha e, na medida do pos­
sível, também da mentira - tudo isso fará dêle,
cedo ou tarde, um outro homem. Pode dar-me
crédito. Numa árvore robusta enxertam um ramo
pequenino e os frutos da árvore são diferentes. Eis
seu filho com três anos. Faça-o conhecer o Evan­
gelho, crer em Deus conforme todo rigor dos man­
damentos. E' condição indispensável. Do contrário
não será um homem de bem. Não pode a senhora
imaginar-se nada melhor do que Cristo "
Surpreendo a f amília ouvinte com u ma pergun·
ta. Tem em casa o livro dos Evangelhos, com os
comentários exigidos pela lei eclesiástica, com a
aprovação canôn ica? Não tem êsse livro, céu estre­
lado com frases de Deus? Então trate de o adquirir
em qualquer l ivraria católica. E' o l ivro que ilumi­
na a casa tôda, que serve para tôdas as horas, que
avalia e resolve os problemas e classifica infalivel­
mente os valo res da vida.
As palavras do escritor consultado reclamam apli­
cação corajosa. Lembro que Cristo, descrito nos
Evangelhos, foi anunciado, desejado por milhares
de séculos. Quando nasceu anjos inundaram de ful­
gores os céus. Hoj e repete-se o m ilagre. Quando
êle entra na inteligência com as frases do Evangelho,
"uma grande alegria, vozes de anjos, clarões deslum­
brantes" acompanham-no.
Mais. As palavras do Evangelho, sendo palavras
de Deus, têm fôrça germ inativa. Encontrando cora-

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ção disposto germinam, dão frutos até de cem por
um. Pode tardar a germinação. Mas virá certamente.
Sobretudo quando o coração é como cêra mole
nos anos da infância dos fil hos. Contaram-me de
uma mãe que vivia inculcando princípios do Evan­
gelho na alma dos filhos, Hoje êles repetem os
mesmos p rincípios e vivem-nos. Até hoje ninguém
achou coisa melhor do que Cristo .
Minhas famílias ouvintes, não queiram perder seu
tempo procurando acertar longe de Cristo.

1 1. EU VEJO
aqui, a meu lado, uma fotografia sugestiva. Uma
velhinha, sentada no degrau de uma escada, trico­
tando e sorrindo. A seu lado, segurando-lhe a ben­
gala, um garôto, calmo e atento. Certamente a
velhinha - a vó - está contando uma das belas
histórias do " era u ma vez" O cenário ajuda e pa­
rece escutar a história. Pois representa um fundo
de casa modesta, com sua chaminé fu megando e
uma árvore atenta e silenciosa.
O articul ista comenta o quadro, dizendo : " Hoje
não há mais tempo para nossos velhinhos . . . Mal
se tolera em casa gente velha. Compreensão para
com êles? Quase nenhuma. Nos apartamentos não
lhes sobra um cantinho onde possam guardar seus
sonhos e histórias. Muitas são �s famílias que os
internam num pensionato e não os visitam depois.
Ao menos nem sempre com a freqüência que me­
receriam"

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Entretanto a i nfância teve sempre a mor aos ve­
lhos. Qual de nós não se lembra com saudades da
vovózinha que sabia contar histórias tão bonitas?
Que tinha sempre qualquer doce para os netinhos?
Ou então arrumava um salvo-conduto quando o ne­
to, fugindo ao castigo m aterno, precisava retorna r
garantido a casa, medroso d o encontro c o m a justiça?
A criança que não chega a privar com seus avós
sofre uma perda insubstituível na sua educação. Per­
de a recordação, famoso caminho que leva a gente
para dentro de si m esmo, como um trilho convidati­
vo entrando por um bosque sombreado.
Sempre os Livros santos acentuam o respeito para
com os vel hos. Pio XII na sua a locução aos casais
novos menciona os velhinhos do lar. Quer para êles
o calor da afeição humana. Convém recordar que
nêles os mais moços ou m enos idosos estão pagan­
do uma divida. Suas mãos feriram-se, ajuntando ou
conservando para os netos.
Muito eu sentiria, se a família ouvinte andasse
considerando seus velhinhos apenas como entra­
ves e desmanch a-prazeres. Os sacrifícios que im­
põem estão longe dos sacrifícios que se impuseram
em benefício da família formada. Com boa vontade
e coração cristão é possível ajustar os interêsses d e
idades diferentes. Não reúne a natu reza a tarde e o
crepúscu lo, daqui, com a aurora em outro lugar do
mundo?
Como se torna delicado e compreensivo o tempe­
ram ento da criança que passa horas ao lado de
uma vel hinha a lhe ensinar deveres, a lhe contar
histórias, com tôda aquela ternura que a vida com
suas lágrimas lhe pôs na alma!

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1 2. EM TEU LUGAR
Dois mocinhos passavam 'não longe do capelão e
u m diz ao outro que achava enjoada a missa. Mas
infelizmente o regulamento do colégio obrigava-o
a estar p resente. Tinha contudo um recu rso para
distrair-se. Punha-se a pensar na fita de cinema
que mais o impressionara na semana. Ou então no
último jôgo de futebol que acompanhara .
Felizmente o capelão escutou êsse comentário e
desabafo do rapazola. Resolveu servir-se do que ou­
vira para uma aplicação moral na pregação . E en­
tão nosso irreverente rapaz ouviu contar o seguinte:
- Certa vez um rapazola disse a outro que a
missa o enjoava mu ito. Por isso procu rava distrair­
se, p ensando em jogos e divertimentos. Pergunto
a todos como pode alguém ser indiferente quando
um amigo morre em seu lugar? Ouçam êste caso.
No ano de 1 943 deu-se a fuga de um prisioneiro
num campo de concentração dos cruéis nazistas.
Incontinenti escolheram dez outros prisioneiros que,
findo o p razo para o reaparecimento do fugitivo,
deviam morrer na caverna da fome. Entre os marca­
dos para a morte estava um sargento, pai de famí­
lia. Pôs-se êle a lamentar-se e dizer adeus à mulher
e filhos. Nisso outro prêso adianta-se e oferece-se
para morrer em lugar do pai infeliz. E ra o heróico
franciscano padre Maximiliano Kolbe. E' aceito seu
heroísmo e com outros nove o herói é trancado na
caverna. Lá tem de morrer de fome. Enquanto a
morte não vem, êsse homem exerce seu apostolado
preparando os companheiros para a morte. Quando
abriram a porta, após quinze dias, Kol be era um

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agonizante. Uma injeção de ácido muriático apres­
sou-lhe a morte.
Digam, meus ouvintes : que andaria pensando o
pai libertado da morte ao ouvir os g ritos dos pobres
condenados? Ao pensar: lá na caverna alguém está
morrendo em meu lugar?
E' o que devemos p ensar quando assistimos à
missa. Cristo, meu Redentor, morre em meu lugar.
Como poderá u m cristão, disso compenetrado, pen­
sar propositalmente em outras coisas?
O capelão foi em seguida pondo côres vivas, des­
tacando contrastes e apelando para o coração . E
as palavras calaram nas a lmas dos ouvintes, pela
atenção e comoção . que d emonstravam. Sobretudo
o j ovem pecador caiu em si e reconheceu seu êrro.
Para todos a história tem aplicação, família ou­
vinte. Pois é realidade da fé a morte mística do Re­
dentor em nosso lugar. S. Paulo individualizava o sa­
crifício de Cristo, escrevend o que Cristo o " amara e
por êle se entregara à morte" . Portanto é Alguém
- Senhor e Soberano - que morre em teu lugar.

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]]]

1 3. ASSINATURA FALSA
Um fato que aqui relato pode muito bem acordar
pensamentos bem sérios e salutares, sempre opor­
tu nos na vida. Tratava-se de um testamento com
uma assinatura impugnada. Alegava u m a parte q u e
era falsificada por interessados na herança. U m
técnico no assunto foi consultado policialmente. E
então as coisas assim se passaram. O documento
é colocado n u m grande m icroscópio. Acendem as
luzes. A lente é assestada e aparecem os riscos re­
petidos, incertos, vacilantes, com interrupção de
continuidade nos traços. Via-se bem como a pena
depois de cada risco parava e recomeçava, melho­
rava, corrigia. Tudo indicando o esfôrço para imitar
perfeitamente a assinatura alheia. Colocada esta
sob a lente o contraste era evidente. E o técnico
diz ao interessado que ali estava u m a assinatura
falsificada .
Podem as famílias i maginar o resultado dêste
exame. Há, porém, uma falsificação a inda mais pre­
judicial do que esta assinatura. E' a falsificação da
vida. Vida falsificada, fidelidade falsificada, religião
falsificada, educação falsificada - q uanta tragédia!
E as lentes q u e contam tais falsificações estão nos
olhos de Deus. O juízo final nada mais será do que
a exibição de tais falsificações. O mundo tem de

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saber o que foi falso na vida do cristão, do cidadão,
do profissional.
Certa vez perguntou uma criança para onde ia o
que a gente fazia ou pensava a vida tôda.
- Para a m emória de Deus ! - respondeu-lhe acer­
tadamente a mãe interrogada.
Os ol hos vivos e parados da criança davam a en­
tender que a resposta a impressionara. Isso m esmo,
famílias. Tudo que se passa no lar, desde os pensa­
m entos e ações das pessoas que o compõem, até ao
que vem de fora, tudo vai para a m emória de Deus.
Falando em m emória é comovente lembrar que
Deus faz questão de ter boa memória, melhor do
que a memória das mães a respeito dos filhos. Per­
gunta, por exemplo, se pode u m a mãe esquecer-se
dos filhos de suas entranhas. E mesmo que isto acon­
tecesse, assegura-nos que não se esquecerá de Is­
rael, de nós, portanto.
Há neste pensamento - olhos de Deus lentes de
microscópios, lembranças de Deus carinho de co­
ração - u m lado sério e grave e outro, comovedor
e animador. Até o copo d'água, dado por amor a
êle, será lembrado para prêmio. O que i mporta é
viver a família a vida genuinam ente cristã, na sua
nova dimensão. Nada de falsificar o programa do
batismo, mudar-lhe os padrões. Falei de padrões.
Quais são êles? Ei-los : a alma antes do corpo, a eter­
nidade antes do tempo, o céu antes da terra.
Tudo vai para a m emória de Deus. Os homens,
os próprios filhos falham em suas memórias, dei­
xando no olvido benefícios recebidos e mesmo cora­
ções maternos. Logo o program a há de ser guerra
às falsificações na vida pessoal e na educação dos
filhos. Lembro a palavra de Pio XII, assegu rando-nos

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q ue tôda educação que não conta com a realidade
do pecado original e o poder da graça é sem base,
é falsa.

1 4. CRUZES AO CHAO

Numa prisão foi p regado um retiro para encar­


cerados, dos quais eram alguns condenados à morte.
Perto de 622 receberam os santos sacramentos. N o
fi m das pregações foram distribuídos crucifixos aos
presos. Dos p resenteados três quebraram as cru­
zes e atiraram tudo ao pátio, pelas grades da p ri­
são. Rejeitaram a graça e cederam lugar ao mal
em suas almas.
Em muitos lares a cruz não jaz atirada ao solo,
mas não figu ra em quarto algum. O Crucificado
vive rejeitado. Nem as paredes o conhecem como
nem o amam os corações. E' uma rejeição do Cria­
dor e do Redentor. Daqui repito : é preciso voltar
aos costumes cristãos, como seja a veneração das
cruzes em nossos lares.
A presença de uma cruz com sua Vítima divina é
pregação contínua. E' aviso que está preparando
a família para os dias de cruzes na vida . O hábito
cristão de saber enfrentar o sofrimento com fé,
confiança e resignação é confortado pela presença
de uma cruz e seu Crucificado. Sei e l amento u m
fato. Refiro-me a o costume d e muita família rejei­
tar a cruz, revoltando-se contra provações e sofri­
mentos. Atiram para fora de seus corações essas
cruzes.
Mundos Entre Berços - 3
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Semanalmente vai ao ar e entra nos lares êste
programa como convite de Deus. Fala, por exem­
plo, da oração à mesa, porque o pão que sôbre ela
está não é apenas questão financeira. E' providên­
cia do Pai do céu . Antes de ser aquisição numa pa­
nificadora ou expediente da cto na de casa, é anteci­
pação do coração paterno de Deus. O apêlo para
a volta a tal costu me cristão j á tem sido feito várias
vêzes. E' convite acompanhado de u m a g raça. Em
tôda graça que recebemos há algo do sangue do
Redentor, portanto parcelas de sua cruz. Contud o
mu itos lares ouvem e n ã o atendem ao convite. Ati­
ram fora a graça, como os encarcerados o fizeram
com as cruzes.
Há muita responsabilidade na aceitação ou rejei­
ção do convite vindo de Deus. Mesmo em coisas
aparentemente insignificantes. Nunca sabemos o que
se prende às insignificâncias, quando entram nos
planos do céu. Podem ser enormes as conseqüên­
cias. E' assi m : ausência de cruzes nas paredes, à
cabeceira dos leitos; ausência de oração à mesa e
ausência da presença do Senhor com sua paz. Nesse
ambiente crescem os filhos e reproduzem-no mais
tarde, na fundação de seus lares. De geração em
geração repete-se a ausência, que acaba por nem
ser notada ou sentida. E os males não se farão ro­
gados, como conseqüências dolorosas.

1 5. DESCOBRINDO O BATISMO
Não posso deixar de expor às famílias o que li em
Rimaud, a respeito do batismo. E' uma linda des­
coberta para os pais. Diz êle em livre citaçã o :
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- "E' muito consoladora a verdade que nos asse­
gura a cooperação de Deus na obra da educação,
através do batismo. Os educadores têm a seu al­
cance a fôrça de Deus na formação de u m a criança
batizada. Esta recebe uma vida sobrenatural, que
vem a ser vida e presença de Deus. A influ ên cia dos
pais corresponde uma infl uência infinitamente mais
doce, e mais eficaz també m : a do Espírito Santo.
Vou expl icar-me com mais detalhes. Sabem as
famílias que graça santificante, vida sobrenatural,
participação da vida divina são expressões que deno­
tam a m esma real idade. A criança recém-batizada
é, entretanto, incapaz de ter u m a vida psíquica d e
consciência clara e distinta. Parece q u e só tem vida
animal. J:.rro, contudo, seria ficar nessa idéia. A
criança que nada sabe está vivendo a vida de Deus.
Muito nos custa penetrar nesse mistério de fé. Di­
go mais: teimosamente pensamos que e m nós há
duas vidas separadas e como que paralelas. Uma,
a vida sobrenatu ral , para horas e dias d e atividade
relig iosa, de oração, de sacrifício, de apostolado. A
outra, a vida humana, simplesmente tal. Essa não
é muito diferente da vida de u m pagão qualquer,
einda não j ustificado pelo batismo.
Para muita gente parece realismo exagerado de
S. Paulo o tal " comamos ou bebamos, vivamos ou
morramos . . . , somos de Cristo" Entretanto é ver­
dade. Os santos não eram menos santos, quando
comiam ou se distraíam honestamente, do que quan­
do rezavam ou se flagelavam. O que importa é vi­
ver em Deus, estando onde êle quer, ocupado no
que êle quer.
Então a criança batizada, mesmo ainda inconscien­
te, está vivendo a vida sobrenatural. Pouco a pouco
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essa vida irá impregnando e compenetrando-lhe a
existência. Deus presente trabalha na a lma.
Mas urge que os educadores cooperem. Deus tra­
balha com êles, dispondo a alma da criança a ou­
vi-los. Poderá haver choques da vontade, dos sen­
timentos entre pais e filhos. E' doloroso, sem dú­
vida. Está aí a hora de lembrarem-se aquêles de que
não estão sós, nem o filho o está. O Espírito, mes­
tre interior, é também mestre do filho. Está presen­
te nas almas dos educadores e educandos.
Esta ação do Espírito Santo, começada no batis­
mo, tem um efeito conhecido pelo Catecismo:. fé,
esperança, caridade. São virtudes infusas, com o q u e
plantadas n a alma. Quando a criança chega ao de­
sabrochamento da inteligência, da vontade e do co­
ração j á é impulsionada por essas vi rtudes"
Portanto é bem-aventurada a criança que encon­
tra a seu lado pais ansiosos pela m esma luz, ricos
das mesmas virtudes. Haverá ecos de almas para
almas. Abençoada aquela que é guiada por pais des­
cobridores do batismo na alma com que lidam,
assistidos por Deus e seus Anjos.

1 6. DE REPENTE ACHARAM TEMPO


Foi assim a história com suas lições. Um casal
lutou tanto pela vida a ponto de não lhe sobrar tem­
po para os dois filhos. O menor .chorava dizendo-se
doente. Mas os pais tinham tudo por fingimento.
O chôro foi se repetindo e com êle a desculpa dos
pais. Certo dia o m enino chorou mais, com mais
desespêro .

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- Está redobrando o fingimento, disseram pai
e mãe. Por fim resolveram atender ao pranto. O
motivo era sério, muito g rave. O caso foi parar nas
mãos de um médico. Era tarde demais para u m a
operação, n a opinião do consultado. E o pequeno
morreu. Muitos m eses depois a mãe encontrou o
caderno de escola do falecido. Leu com espanto o
seguinte : "Ando fingindo-me de doente para que
meus pais se ocupem um pouco comigo"
Tempos após o fil ho mais velho informava de seus
planos : queria ser músico e estudar a arte, a fundo.
Já dono de uma fábrica de calçados, o pai achou o
plano descabido. Iria contrariar seus projetos para
o futuro. Não tarda e o último desaparece de casa,
deixando um bilhete, junto ao caderno do irmão
falecido. Informava que fugia de casa para seguir
sua preferência . I ria ser músico.
Então os pais caíram em si. De repente acharam
tempo para os fil hos dos outros. Os remorsos pun­
giam . Instalaram um orfanato bem delineado, mo­
bilhado a dedo por êles mesmos. Construção e ma­
nutenção corriam por conta do casal. Diàriamente
os dois eram vistos no meio das crianças, por sinal
sadias, fortes e contentes. Declaravam abertamente :
queriam reparar o êrro cometido contra os dois
filhos. De repente acharam o tempo sonegado aos
seus.
Foi essa história que ouviu o senhor enviado para
estudar a organização de u m orfanato-modêlo. Ou­
viu-a da bôca dos culpados, tão avaros do tempo
outrora .
Família ouvinte, nunca é demais insistir n este
assunto. Haja tempo para os filhos ! Deus tem tem­
po para pensar nêles e quer que os pais, que o re-

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presentam na terra, façam o mesmo. E' o pecado
de muitos lares. E' a causa de tantos filhos desajus­
tados na família, convertidos em heróis de ruas e
desordens. Não há por onde. Pão, vestido, confô rto,
presença e tempo - hão de ser dados pelos pais.
E' crueldade condenar os pequenos à solidão. Sei
que a vida moderna escorraça m uitos pais do lar.
Mas que êstes não escorracem seus fil hos do coração.

17. A GLúRIA DE UMA URNA


Hoje os direitos políticos atingiram a mulher, por­
tanto a espôsa e mãe de família. O voto é um direito
e dever sagrado para tôda cristã. A glória de u ma urna
será o voto dado de acôrdo com a consciência de
uma cristã esclarecida, militante, empenhada na or­
dem divina no mundo.
O voto do cidadão deve representar seu pensa­
mento político na mais ampla e sã aceitação do têr­
mo. Partido político condenado pela religião, ou com­
prometido com outro nessa condição, não pode ter
preferências de uma consciência cristã.
De outro lado o voto deve representar a consciên­
cia religiosa da votante. A u rna não pode converter­
se em acusadora dessa consciência. Há de ser uma
glória para tal consciência religiosa. Família ouvinte,
i mporta mu ito ponderar o voto que não se vende,
não se troca por promessas ou favores. Nem sequer
deve prevalecer a solidariedade com o partido, com
a classe quando há motivos contra-indicando-a. Um
voto representa um ato de pensamento e de vontade.
Logo um ato de liberdade. Nada de vender a l i-

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herdade a quem com vosso voto pode mais tarde
causar danos à religião, à causa de Deus.
Pio X, o santo de nossos altares, escrevia : "O
principal esfôrço dos católicos há de ser mandar
para os Municípios e Assembléias aquêles homens
que, de acôrdo com as particularidades de cada elei­
ção e as circunstâncias do tempo e do lugar, pare­
cem os mais aptos para zelar pelos interêsses da re­
ligião e da pátria, na administração dos n egócios
públicos"
Confesso que neste momento faço mau j uízo de
muitas ouvintes. Talvez pensem lá consigo: tudo isto
é para o marido, pois os homens é que fazem a po­
lítica. Não, minha senhora. Tenha paciência e es­
cute o que d isse Pio XII à mocidade feminina de
Roma, em maio de 1946:
" Entre vós u m bom número j á tem os direitos po­
líti cos, direito de voto. A êsses direitos correspondem
deveres outros. Ao direito de votar o dever de vo­
tar, o dever de só votar em candidatos ou em listas
de candidatos que apresentem, não apenas pro­
messas vagas e ambíguas, mas garantias seguras
de que respeitarão os direitos de Deus e da religião.
Pensai-o bem ! E:.sse dever é sagrado para vós. Obri­
ga em consciência. Obriga perante Deus. Pois com
vosso títu lo eleitoral tendes entre as mãos os interês­
ses superiores de vossa pátria. Trata-se de garantir
e conservar para vosso povo a civilização cristã.
Para suas jovens e suas mulheres, a diginidade. Para
suas famílias, suas mães cristãs. A hora é grave.
Tornai consciência de vossas responsabilidades. Ide,
ide, tôdas para frente, môças e adolescentes. Ide
e esclarecei as consciências ignorantes, incertas, va­
cilantes. Ide e ensinai de casa em casa . de fa-

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mília em família . . . , d e rua e m rua . . . , de reg1ao
em região . . . Que ninguém vos leve a palma no
zêlo e no fervor, no espírito de verdade, de j ustiça,
de amor . . .
"

Família ouvinte, é ou não é bem claro, positivo,


i nsistente o aviso de Pio XII? Em breve teremos
eleições e vamos apl icar as normas pontifícias. Na
Itália trouxeram vitória para a causa de Deus. Nada
de abstenção, nada de apatia ou derrotismo. Zêlo,
apostolado, trabalho i ntenso para convencer e orien­
tar depois de bem orientada também.
As urnas, que a família encontra na vida, sejam
depositárias de glória para u m a aguerrida consciên­
cia cristã. E nunca acusadoras de uma traição no
programa do batismo.

1 8. CONFORMISMO ERRADO
há de sobra em nossa terra, perante situações
que podem e devem ser m udadas. N este particu lar do
campo religioso, ao lado do êrro, temos g raves pre­
juízos para os filhos e pais. Cito um exemplo, entre
outros. A lei p erm ite o ensino religioso nas escolas
quando os pais ou responsáveis pelo aluno o pedem .
O que esta lei concede é uma migalha que assim
mesmo é um reconhecimento de um direito. Apenas
meia hora de ensino rel igioso por semana !
E então pergunto : por que apenas meia hora?
Por que não pode ser mais longo êsse período? Por
razão muito simples. Os pais conformam-se com
êle. Como eleitores enviaram para as Câmaras e
Assembléias deputados e vereadores. E:.stes pode­
ria m secundar, forçados 19elos eleitores, um movi-
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menta em favor de período mais longo. Está aí uma
possibilidade, ao alcance dos pais. O direito de edu­
car l hes pertence com o também lhes cabe o direito
de reclamar mais doutrinação rel igiosa nas escolas.
O Estado não pode desconhecer tão sério direito.
Pois tem obrigação de suplementar o ensino dos
pa is. Logo, abaixo o conformismo perante essa m i­
serável meia hora d e ensino! Vamos pedir mais
tempo.
Enquanto essa meia hora não se alonga, há u m
outro dever muito sério no caso. J á o temos lembra­
do mais vêzes nesta rádio. Famílias ouvintes, por
favor, m u ita atenção. Entendo o dever de não deixar
a família desaproveitada essa concessão de meia
hora. Ao matricular o filho, devem os pais declarar
que exigem o ensino religioso para o matriculado.
E então a Diretoria do estabelecimento tem autori­
dade para mandar o aluno à aula. O refratário não
escapa à aula. Mas se os pais nada impõem, nada
exigem, pode o educando faltar à aula religiosa, sem
que ninguém o possa obrigar a ela. Quem ficará no
caso com a responsabilidade da omissão? Natu ral­
m ente os pais. E' coisa por demais séria para ficar
assim à mercê de u m a veleidade infantil. Pais, é
vosso dever grave, inegável, usar do direito que a
lei confere. E' assunto de consciência. Omiti-lo é pe­
car contra a alma do filho, contra seu futuro, contra
os direitos da Igreja a quem os fil hos pertencem
pelo batismo.
Aqui nada vale a desculpa de que outros pais não
se incomodam com o caso. O dever é individual,
não depende do exemplo alheio. Ainda voltaremos
sôbre o assunto. Acabemos com tal conformismo
errado.

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IV
1 9. BATISMO ATRASADO
As vêzes ouvimos u m a pergunta ou uma objeção
sôbre a época do batismo. Não seria melhor esperar
com o batismo, até a pessoa saber e entender o
que vai receber? Passemos a resposta a Rimaud :
"Não negamos tenha, por assim dizer, o batismo
de um adulto uma ressonância distinta. Sentimos
mesmo a tentação de afirmar tenha também um
valor distinto. Mas nós é que estamos errando. Cer­
ta anda a Igreja. Que pretende ela com o batismo
o mais cedo possível? Quer pôr em garantia a eter­
nidade da criança. Pretende, além disso, outra coisa.
Quer que a g raça trabalhe na criança, desde seus
primeiros dias. N essa época a vida da criança não
passa de uma sonolência. Contudo a Igreja almeja
vá sendo purificada a natureza pecadora naquela
criaturinha. E isso pela presença de Deus. Não me­
çamos a sabedoria divina pelos milímetros da nossa
razão. Nem tão pouco o seu amor e pqder, por nós
mesmos .
Aí está, família ouvinte, por que a pressa em le­
var um filho ao batismo. Quem não gostará de
contar com o trabalho de Deus na alma dos filhos
o mais cedo possível? Em vários países da Europa
a criança é batizada logo no dia do nascimento, ou
no dia seguinte. Nossas famílias abusam pela es­
pera demasiada. Querem acertar· a presença dêste

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padrinho, daquela madrinha, etc. Ou então alegam
promessa a respeito da igreja e lugar onde deve
ser batizada a criança. E ficam à espera da conjun­
ção de circunstâncias.
Ora, está errado tal procedimento. O dever está
acima de tudo isso. A Igreja insiste e manda seja
o batismo realizado no prazo máximo de vinte dias.
Assim m esmo requer, nesse caso, um motivo grave.
C-hega a ser culpa grave a espera por um mês.
Batizada a criança, sua alma j á está orientada
para Deus pela esperança infusa. Diga-se o mesmo
a respeito de seu destino sobrenatural, de seu flo­
rescim ento na graça. E' com o um botão que se vai
abrindo. Também a caridade (amor d e Deus) já
é outra orientação para Deus Pai e o próximo. Por
enquanto é amor inconsciente, digamos com Ri­
maud. Hoje com o progresso da psicologia não se­
rá tão difícil tirar as conseqüências de tal afirmação.
Ganha novos horizontes a p resença do batismo
na alma infantil. Refiro-me à sua incorporação à
Igreja . O nome da criança é inscrito no livro dos
batizados. Sua alma é inscrita, incorporada à Ig rej a.
Torna-se membro do Corpo Místico de Cristo.
Quanta riqueza traz de volta do batismo I

20. REPETIÇÃO INúTIL?

Aquela senhora, espôsa de um industrial, costu­


mava dizer à noite: Mais u m dia ao encon tro da
morte. A frase não i mp ressionava o m a rido, que
na mocidade perdera a fé. Era um p a nte l s ta , fazen­
do de Deus e do mundo uma co i sa s6, A i nda por

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cima a vizinhança tôda conhecia-o como u m dos es­
candalosos caçadores em dia santo. Domingo, j á
de madrugada, lá s e tocava ê l e com a alegre com­
panhia de outros para suas ruidosas caçadas.
- Marido, tome ao menos cuidado para não es­
candalizar o povo, repetia-lhe a espôsa, lembrando
a profanação do domingo.
Mas a queixa da mulher mal batia à porta daquela
alma. Depressa, entre risadas e bom-humor dos co­
· legas, lá se tocava nosso pecador pelas matas aden­
tro. O ar era puro, saturado de ozônio; muitas era m
a s prêsas. Naquele domingo trágico houve n ova
repetição do aviso da espôsa, dos latidos dos cães,
da alegria pela prêsa, pelo contentamento dos com­
panheiros. Uma bela caçada, enfim.
Mas a paciência de Deus não se repetiu e acon­
teceu o que ninguém esperava. O caçador, avisado
e rebelde, feriu-se g ravemente com sua própria ar­
ma. Acabou tudo na amputação de um braço. S ó
então ê l e tomou pela direita na vida, j á que a per­
dera no corpo. Voltou-se para a fé, reviveu para a
espôsa e para sua Igreja católica.
Não sei seL na família ouvinte, há caçadores, pes­
cadores, turistas, etc., que p rofanam os domingos
e dias santos do Senhor. Ignoro se imita m o prota­
gonista do fato contado, oferecendo ouvidos moucos
aos conselhos da sua auxiliar na vida. E' assim o
caso? Então, espôsa ouvinte, continue repetindo os
avisos. Varie apenas a moldura : voz, rosto, olhar, sor­
riso e mesmo vestido. Mude os horários dos avisos.
Mas .vá repetindo-os. As tantas, Deus unir-se-á a essa
. repetição, que nunca é inútil.

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O marido, por sua vez, não espere por um tiro,
por um revés. Seja dócil . Pois a missão da m u l her é
ajudar sempre, também a alma nos seus deveres.
Com freqüência são encontrados, em hospitais e
casas de saúde, doentes providenciais. Isto é, Deus
mandou-lhes um sofrimento para convertê-los. Não
será melhor ter essa "providência" em casa, nas
palavras e reclamações d e uma espôsa? E ' êrro
m uito lamentável reduzir a p resença da mulher, no
lar, só para esferas do corpo e dos sentidos. Unam.
se as almas na mesma espiral de ascensão para
Deus e seu reino.
E a espôsa que me ouve j amais perca a fé na re­
petição do m esmo conselho. Mostrar u m a estrêla
levanta sempre a cabeça de alguém para o céu.

2 1. PEÇO LICENÇA

para voltar a u m assunto, do qual Pio XII des­


creveu a sorte. Na sua opinião é u m problema que
deve contar com a incompreensão dos maus, indi­
ferença e oposição dos assim chamados bons. E' o
problema das decaídas. Para muita família o assunto
parecerá contra-indicado. Há no caso um esqueci­
mento . Das fa mílias saem os fregueses dessas in­
felizes. Peço licença e atenção às ouvintes. Temos
aqui u m problema cristão. Erram os revoltados
quando o classificam de problema policial, apenas.
Não. E' problema humano e cristão. A solidariedade
cristã obriga, impõe um interêsse pelo assunto.
Primeiramente, u rge ver claro no quadro. As de­
caídas dividem-se em três categorias. Temos aque-

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las que livrem.:mte atuam, sem lucros para interme­
diários. A seu lado figuram as organizadas, agindo
controladas, escravizadas por uma terrível aparelha­
gem de corretores, cujos nomes são nojentos e co­
nhecidos. Finalmente aí está a prostituição oficiali­
zada, atuando num plano privado, mas sob regula­
mentação protetora das autoridades administrativas
e policiais.
São muitas e várias as causas dêsse mal. Salários
miseráveis, habitações e aluguéis caríssimos, mães
solteiras abandonadas pelo sedutor, maus cinemas,
revistas e agentes da escravatura branca. Não falta
a culpa da autoridade pública, desgostosa de tomar
medidas de exceção, sobretudo n o que se refere aos
bons costumes. - O público tem sua culpa pelo
seu derrotismo, conformidade p erante o mal . Nem
faltam p rincípios errados. Dizem que a praga é in­
curável. Advogam a existência na sociedade d e u m
"abscesso d e fixação. E ainda s e alega o instinto
masculino, chamado de incoercível.
Mas está p rovado que os cri mes contra a fideli­
dade conjugal não diminuíram, apesar do falso re­
médio i ndicado. N úmeros provam que não houve
transbordamento, recrudescimento d e crimes sexuais
onde a tolerância não foi admitida. De 100 culpados
de tais crimes, vinte apenas viviam sem facilidade
de acesso às casas de tolerância. De outro lado é
sabido propagar-se o mal mais depressa numa to­
lerância. E isso com moléstias do corpo e da alma,
com atentados e crimes favorecidos pelo ambiente
de perdição.
Assim, família ouvinte, urge uma coisa : ter idéia
clara no caso e colaborar de um m odo ou outro na

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recuperação das perdidas. Cristo reerg u eu Madale­
na arrependida. E hoj e sobram arrependidas no
meio, na classe.

22. DIÁLOGO DE NOIVAS

Num mosteiro, na Idade Média, duas jovens bor­


davam um vestido. Eram nobres de sangu e e de
espírito. Enquanto os dedos lidavam, a conversa deu
num diálogo interessante. Uma, Hildegardis, era noi­
va de Cristo e de um cristão, a outra.
- Hildegardis, você é noiva de Cristo, a quem
vai pertencer na vida religiosa neste mosteiro. Esco­
lheu sem dúvida a parte m elhor e mais santa.
- E você, Hiltrudis, é candidata a u m santo sa­
cramento que funda o lar. Vai pertencer a um es­
tado instituído, a bençoado por Deus. Cristo estêve
presente numa festa de casamento e ali fêz seu
primeiro milagre. Meu estado virginal é nobre, mas
não é um sacramento.
- Então eu posso ser agradável ao Senhor e me­
recer sua bênção como espôsa e mãe?
� Sem dúvida, minha amiga. Escute : é preciso
que sejamos virgem e mãe, ao mesmo tempo. Eu_
maternal na minha virg indade e você virgem pela
pureza de seu ideal, na sua maternidade.
Hoje a cristã está bem instruída sôbre o proble­
ma de escolha entre virgindade e maternidade. Na
sua Encíclica sôbre a virgindade, Pio XII iluminou o
conjunto e suas relações. Diz que a virgindade, como
estado, é mais nobre do que o matrimônio, embora
êste seja um sacramento. A cristã sabe de sua per-

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sonalidade realizada, m esmo deixando de casar-se.
Na vida religiosa não é u m a diminu ída, porque
deixou de ser mãe. Os conceitos da sociedade estão
necessitando de uma total revisão. Não precisa a mu­
lher ligar-se a u m homem no matrimônio para com­
pletar sua p essoa.
O que importa, igual m ente, é u m a elevação d e
conceito sôbre noivado e casamento . Urge tenha
a cristã uma a lta idéia de sua vocação, mostrando-a
numa cu idadosa preparação para seu enlace, que
é sacramento.
Infelizmente não andam desfraldadas as bandeiras
de idealismo neste particular. O casamento passa
por u m acontecimento social. São calculadas as po­
sições sociais1 econômicas. Angulos h umanos predo­
minam. Os val_ores sobrenaturais não p esam na es­
colha. Entretanto são êles realidades maiores do
qu� posses e haveres materiais. Por exemplo, a pre­
paração religiosa é reduzidíssima, atropelada, quase
sumária. Mais importa o véu sôbre a cabeça do que
a sêda da graça no coração.
Deus pensa de modo diferente, família dêste pro­
grama. Avalia m uito o nobre amor h umano, mas o
quer dentro de u m sacramento, enobrecido e guar­
dado ness� u rna sagrada. - Qual será o teu caso?

2 3. MORADORES INVISIVEIS EM TEU LAR


Quando abençoa uma casa p ede a Igreja que ne­
la morem os anjos do Senhor, livrando-a das ciladas
dos inimigos. A p ropósito dos Anjos quero relatar
à família ouvinte dois fatos recentes, como confirma-

Mundos Entre Berços - 4 49


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ção da verdade que a fé nos ensina sôbre os a má­
veis Anjos, que o Pai do céu colocou ao l ado de
seus filhos e de suas filhas, ao longo da vida.
U m casal resolve sair à noite, deixando na casa
a filhinha de cinco anos. Um assaltante penetra na
casa e no escritório procura por dinheiro. Com o
barulho a pequena a corda, entra no escritório, dá
com o intruso . Na sua ingenuidade estabelece o se­
guinte diálogo:
- Homem, você é ladrão? Que p rocura?
- Quero dar com as jóias de sua mãe. Onde es-
tão guardadas? Se não me disser onde estão, eu l he
corto o pescoço. - Isto dizendo agarra a criança
pelo ombro, sacode-a com violência .
- Cortar m e u pescoço, homem? Isso você não
pode fazer, ouviu?
- E por que não posso fazer o que eu quero,
m enina?
- Porque meu Anjo da guarda não deixa. E:le
me quer muito bem . . .
- E onde tem você seu Anjo da guarda?
- Está aqui. Venha vê-lo.
Isto dizendo a criança encaminhou o assaltante
para seu quartinho onde bonecas dormiam e mos­
trou-lhe u m belo quadro do Anjo da guarda, dizendo :
- Tôdas as noites eu peço ao meu Anjo que m e
proteja. Hoj e ê l e vai m e proteger contra você, que
entrou aqui.
O assaltante sente um nó na garganta ao contem­
plar o quadro e a confiança de sua pequena prega­
dora. Seus olhos ficaram mais úmidos. Lembrou-se
de sua infância, com a mãe que o ensinara a rezar
diante de um quadro do Anjo, tôdas as noites. Aquê­
l e quadro era mais pobre, mas era igual a represen-

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tação. Estava dependurado ao lado de sua caminha
·
d e menino pobre, mas honrado.
Está bem, criança, diz êle. E' bonito o seu quadro.
Reze por mim. - Diz e retira-s·e . Ao saltar o m u ro
cai nas mãos de uma patrulha policial . Perante o
delegado conta a história que relatei.
Outro caso. Perante uma vitrina, apertando seu
dedinho contra o vidro, uma garotinha quer saber
do pai o que significava um lindo quadro com o
Anjo clp guarda. Sem fé na alma, êste lhe dá u m a
resposta cruel. Diz-lhe q u e s e tratava d a represen­
tação de uma boa fada que acompanha as crianças
quando são boas. A filha indaga se não era o Anjo
que ali estava representado. Contrariado, o pai re­
truca que era bobagem crer em Anjos e vai puxando
pela mão a filhinha, que de olhos arregalados estra­
nhava a atitu de paterna.
- Fada, papai? Bobagem os Anjos do céu? Sa­
be que eu gosto dêles, paizinho?
O assunto parecia encerrado por fora . Por den­
tro aquêle pai revoltava-se com a gente atrasada
que põe tais crendices na cabeça de uma criança.
Entretanto Deus, conferindo seu relógio, achou que
era chegada a hora de dar uma lição àquele cris­
tão degenerado. Pela tarde o pai volta para casa e
dá com um aglomerado de povo e uma ambulância
em frente ao prédio de apartamentos em que mo­
rava. Depressa penetra pela barreira humana e com
certa angústia quer saber o que acontecera. Rece­
be-o um médico :
- E' o senhor o pai dessa criança, que estou
curando?
- Sou eu, sim, senhor. . . Mas . . o que houve?
indaga pálido e nervoso.
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- Meus parabéns, então. Sua filhinha tem um
bom . . . Anjo da guarda. Caiu do terceiro andar e
sofreu apenas lesões sem maior importância.
Recolhida a menina, o pai sai apressado em busca
do quadro que representava "a boa fada", mas n o
qual o s olhos cristãos da acidentada reconheceram
o Anjo da guarda. Compra-o na sua bela moldura ,
leva-o para a casa, dependura-o sôbre a cama d a
filha. Naquela noite a menina e . . . o p a i rezavam
para o Anjo do Senhor.
Família ouvinte, não espere por assaltantes nem
por acidentes para o Anjo entrar como quadro em
seu lar. Faça dos Anjos uma santa presença na casa
e na vida dos filhos. São protetores, são a migos po­
derosos, são co-educadores também. Chegam onde
os corações dos pais não chegam, a lcançam onde as
mãos paternas e maternas não alcançam. Sobretudo
hoje quando a morte dos corpos e das almas ronda
pelas ruas e esquinas das cidades, pelas estradas e
rotas aéreas.

24. DE TOCAI A

no coração da criança, assim digamos, estão


as prendas do batismo. A p resença da graça divina­
e das virtudes teologais na alma infantil aguarda o to­
que de fora, para a formação religiosa. Quero tei­
mar em repetir esta verdade. Deus está na criança'
batizada, mas ela não o sabe nos primeiros anos
de vida.
O pequeno batizado tem uma fé infusa que é an­
terior a todos os esforços dos educadores.. Tem

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ainda outras espontaneidades sobrenaturais da fé.
Eis o papel da educação religiosa : ajudar a criança
a viver sua fé, fazendo d e Deus u m a presença em
sua vidinha de botão. Atenção, família ouvinte ! A
palavra não é a idéia, mas sinal da idéia. Conforme
a experiência que se tem da idéia significada é o
pensamento, que corresponde a uma e mesma pala­
vra, mais rico ou menos rico. Um exemplo prático,
ouvinte. Um sentido tem a palavra " mamãe" na
bôca de u m pequen ito, outro na bôca de um môço
ou de um homem feito.
Então a conseqüência a tirarmos de tudo é a se­
gui nte. Deve o educador ajudar a criança a progre­
dir, a ser rica de pensamento ao pronunciar a pala­
vra Deus. Sabemos que no comêço predominam as
imagens na vida infantil. Não carregam idéias por­
que estas só aparecem com a inteligência que pe­
ga a significação de u m a i magem. Ensinam os psi­
cólogos que com três anos a criança toma conhe­
cimento do eu, do seu mundo e nêle se instala.
Impõe-se, portanto, sustentar a idéia de Deus
por imagens, que primeiramente serão apenas isso
antes de ser um pensamento inteligente. Deus pre­
cisa estar presente por m eio de imagens. Se o
pequeno acorda para a vida do pensamento, no
meio de um m undo que não possui Deus, tudo
corre perigo. Mais tarde terá que reintroduzir Deus
no seu u niverso familiar, mundo fechado que o
d ispensava. Ora o nome de Deus é pronunciado
com respeito quando se tem a consciência de sua
presença. E a criança nota a diferença do tom, do

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ca rinho, da confiança com que é pronunciado um
nome. Mas ao pequeno que não ouve pronunciar
o nome de Deus, ou pronunciá-lo como qualquer
outra palavra, falta-lhe algo da presença de Deus.
Ouve êsse nome emoldurado num respeito e ca­
rinho, fal ado de outro jeito? Então associa respei­
tos, ajudado pela fé que opera em sua alma. Ergue
um nicho em sua alma .
Por aí meçam os pais as conseqüências do nome
de Deus calado, blasfemado, caçoado no lar.

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v

2 5. VISOES DE CRISTÃ
Escritora de um d iário e mãe, ela anota : " Onze
horas da noite . . . Perto de mim ouço a rápida e cur­
ta respiração de Mônica. Ah, essa coisinha tão pe­
quenina, absolutamente pura, que Vós, Senhor, de­
pusestes em minhas mãos ! Que imp rudênda da
vossa parte, Senhor! De certo me direis que não é
i mprudência. E' confiança, confiança, minha filha.
Mas, Senhor, não será a mesma coisa? Uma idéia
quase me faz parar o coração. O terrível pensamento
de vo-la entregar menos pura, menos bela do que
de Vós a recebi. Não. O coração i rá parar, se eu
acreditar que m in has mãos me pertencem, são uni­
camente minhas. Elas são vossas, Senhor Jesus. En­
tre nós está o vosso Coração que a ama, vosso
Espírito que a forma. Nosso trabalho ao lado dos
pequenos é apenas êste : redizer-lhes a vossa pala­
vra. Portanto ficarão entre vossas mãos, se acom­
panharmos vossas mãos. Quando me inclino para
Mônica, tomo-a entre meus braços, é o Senhor,
que vivendo em mim se inclina para ela, olha-a,
toma-a em vossos braços. Quanta doçura e segu­
rança neste pensamento ! Mas a mim parece que
Mônica é o p róprio Senhor. Sinto i ntensamente que,
quando me ocupo com ela, ocu po-me convosco,
meu Deus. E' a Vós que tomo nos braços. Sois

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Vós que me sorris nos sorrisos da filhinha . . O que
.

fazeis ao menor de meus i rmãos a m i m fazeis . . .


De fato, ao meu lado está alguém bem pequenino.
Tão pequeno que na sua vida só há lugares para
poucos dias. Alguém que nada pode fazer, a não
ser ajudado, em completa dependência de outrem,
nas menores coisas. Que lição para a gente grande
i mitar êsse abandono ! Mônica não sabe andar e por
isso também não ensaia passos. E nós ensaiamos
com muita pretensão o que não sabemos fazer, Jn
vez de esperar por Vós, Senhor, deixando que vos­
sas mãos nos guiem. Calar-se, sorrir, gritar para
mim, sem explicações - eis o que a pequena Mô­
nica sabe fazer. Eis também o que deveríamos
fazer convosco, Senhor. Nada de andar assustan­
do, procurando compreender, explica r as coisas . . . "

: Mãezinhas que me ouvis, quanta ternura e quanta


espiritualidadê há hest'a s linhas de u m d iário, ano­
tado por mãe genuinamente cristã ! De fato, tôda a
criança que Deus põe ao l ado dos pais é como men­
sagem de amor e mensagem de g raça, também.
Vive ensinando aos pais, com sua total dependên­
cia, total abandono, total confiança. A mãe que se
expandiu para nosso contentamento sabia ler e
l eu realmente coisas belíssimas no livrinho, que era
sua pequena Mônica. E o livro vivo que é todo fi­
lho, vai crescendo com êles, vai-se tomando rico
ém lições, vai diplomando educadores. Grande cas­
tigo é serem os pais analfabetos na leitura de tal
l ivro.
Outros i rão ler o l ivro, a vida irá examiná-lo, a
sociedade irá aplaudi-lo ou reprová-lo.

:56
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Para esta mãe era fácil entender, através da filhi­
nha, a sentença que afirm a :
Não posso chegar até Deus sem o s outros.
Não posso chegar aos outros sem Deus.

2 6. A úLTIMA CANÇÃO
Ouçam êste fato, ocorrido no Japão há pouco
tempo. A morte i a separar u m casal de esposos cató­
licos. Moribundo o marido, pergunta-lhe a espôsa
pelo desejo de ouvir a canção do casamento. A mes­
ma que fôra cantada no dia do enlace, entre flôres
e perfumes. Concordou o interrogado e ela, já ido­
sa, entoa a canção, tal como fizera em dias alegres
e tristes ao longo da vida conjugal. Ao som da doce
melodia o marido falece.
Ao ler êste fato veio-me à lembrança a visão de
um quadro com o títul o " A velha m elodia" . E:le,
embranquecido, recostado à janela, tira de seu vio­
lino a melodia que a envelhecida espôsa, sentada
à mesa e tricotando, escuta com um sorriso.
Certamente a vida do casal da canção foi uma
harmonia em verso e p rosa. O mesmo há de ser
a vida de todo casal cristão, unido pelo amor natural
e sobrenatural. Para, à hora da morte, ser bem­
vinda uma canção, é preciso que ela exista duran­
te a vida. Quando na vida, hoje u m maldiz e ama­
nhã outro grita e i njuria, lá se foi a harmonia dos
sons. Sobretudo é linda a melodia entoada por dois
à mesa da comunhão junto ao coração de Deus.
Não se diga que falta tempo para tanto . Em geral
as mais das vêzes falta a vontade no caso.

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Hoje há u m belo movimento nesse sentido, nas
equipes de casais. Marido e mulher trocam suas
idéias, seus sentimentos, acertando suas vontades.
Surgem panoramas de almas, constelações de sen­
timentos ou mesmo se acendem sinais vermelhos
na direção dos dias. Devem ser substituídos pelos
sinais verdes do trânsito livre. De tal conversa pre­
cisam os casais, porque a vida dêles não é monólo­
go, mas diálogo. Só êste cria o. clima de mútua
compreensão, a vontade de auxílio mútuo e a ge­
nerosidade resistente aos golpes da fragilidade hu­
mana.
- Padre, dizia-me uma senhora, compareço às
festas e reuniões como uma viúva. Sempre só.
Meu marido nunca depara facilidade em acom­
panhar-me . . .
Viúvas como esta andam em desfile por aí. A
companhia do marido faz parte da canção e sendo
ausência sufoca a alegria no lar. Sempre é êrro
pensar o homem que, depois de casado, tem a mes­
ma liberdade para seus horários de trabalho, saídas
e viagens. A família vem antes do negócio e dos en­
contros comerciais. No casamento, companhia não
é retórica ou enfeite para exibições. E' u ma forma
do amor, do mútuo auxílio program ados pelo sacra­
mento . Casamento e lar sem canções continuam
vazios.

27 SUBLIMAÇÃO ACERTADA
Outro dia mencionei o prazer da m esa a ser in­
tegrado no sistema cristão. A manducação partici­
pa da nobreza do homem e do cristão, tem parte
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na sua finalidade natural e sobrenatural. Não po­
demos tolerar que somente o instinto comande a
ação. Nossos instintos? Em sua base são sadios,
mas exorbitam fàcilmente em suas exigências. N a
alimentação h á , sem dúvida, u m caráter menos
elevado. E' ação comum com os animais.
Para integrá-la na vida cristã impõe-se uma subli­
mação, uma tal qual transfiguração. N ada de ficar
num plano comum e deixar u ma região superior,
mais espiritual e mística. Não precisamos de artifícios
no caso. Eis que a Igreja nos convida explicitamente
a isso. De que modo? Ei-lo. A Igreja apresenta ora­
ções para antes e depois das refeições . Na última
Ceia Cristo Senhor levantou os olhos para o céu e
agradeceu a Deus. Na sua l iturgia a Igreja acompa­
nha as festas do ano, variando suas invocações na
bênção da m esa e dos alimentos.
Há regiões onde as crianças pronunciam as ora­
ções. S. Agostinho prefere que o pai faça a reza.
Não é êle - pergunta o santo - o bispo da diocese
familiar?
Notem-se as famíl ias esta bela comparação! E so­
bretudo o chefe da casa não se esqueça d e tirar-lhe
as conseqüências práticas.
Outro meio de sublimar a refeição cristã é des­
tacar seu caráter comunitário e fraternal. A com en­
salidade sempre figurou como sinal e expressão
de amizade. Venha a lmoçar, venha j antar comigo -
é o convite da amizade. Reunidos ao redor da mesma
mesa, tomando o mesmo pão trocamos nossas idéias
e nossos sentimentos. Isso tudo une os corpos e os
corações. S. Luís, rei de França, conhecia mais
outro recu rso para a elevação. Convidava pobres à
sua mesa. E:.le mesmo servia-os, recordado da pala-

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vra do Juiz Supremo sôbre a fome que passou, sem
ter sido alimentado em seus pobres. Que cena be­
l íssima a de Cristo sentado à mesa de Lázaro, Marta
e Mari a ! Se a família ouvinte não resolve trazer um
pobre à sua mesa, guarde-lhe uma boa e reservada
porção para alimentá-lo, em lugar combinado.
Agora isto merece tôda condenaçã o : sentar-se a
família à mesa sem oração alguma, num entrevêro
de reclamações, mútuas acusações a respeito dos
alimentos, fatos, pessoas e situações. Nem é hora
indicada para repreensões merecidas. Lembre-se
quem me ouve: o próprio Cristo fal a de sua mesa,
ao redor da qual terá alegria em ver-nos assentados,
lá na casa de seu Pai. Logo, nunca perder de vista . .
.

esta outra mesa.

2 8. SEMPRE ATRAENTE
"Minha filha, dizia experimentada mãe de fa­
mília, nunca deixe de atrair seu m arido, uma vez
casada". Assino a sentença porque concordo com
a opinião. E' o mal de muita senhora casada. Con­
qu istado o m ôço, passada a sedução do noivado, a lua
de mel j á em minguante, não mais existe no d icio­
nário de seu coração o verbo atrair.
Para atrair u rge conhecer a fundo as situações
de cada época da vida de família. Acompanhará
essas situações, variando com a i dade. Uma é a
situação quando se conjuga o verbo " esperar", ou
lamenta-se o outro "demorar", com referência ao
filho. A mesa continua ocupada só por dois e não

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brotam os rebentos de oliveira, decantados pelo
Salmista, como prêmio na casa do justo.
Outra é a situação, quando o lar está enfeitado
por u m restinho feiticeiro d e criança, que na cova
de suas mãozinhas esconde dois corações de pais.
Ou então o cenário muda à cabeceira de uma doen­
tinha que luta pela saúde ou pela vida, da qual é
a única ou o único representante no lar. Outras
são as tintas quando muitas boquinhas esperam p e­
lo pão e os recursos são insuficientes. Cada situa­
ção requer outra atuação por parte da espôsa, ge­
nuinamente cristã e valorosa auxiliar do marido.
S . Inácio tem uma norminha que vale por uma
biblioteca neste assunto de atrair e convencer. Diz
ela : entrar pela porta do outro e sair com êle pela
porta que se escolhe. A convivência mostrará quais
são e onde se acham essas portas. To do marido
tem portas que sempre deixa abertas ou encostadas.
Não me refiro às portas da casa ou dos quartos que,
abertas ou fechadas, poderão às vêzes irritar a espôsa .
Família ouvinte, uma coisa é importante. A es­
pôsa precisa entrar a tempo, como se anota nas par­
tituras musicais. A tempo, isto é, a ntes que se des­
viem as correntes naturais do amor. Todo reinado
n este mundo tem duração marcada. Mesmo o rei­
nado do amor. Por isso só é eterno o que está lá
do outro lado, ou nêle ancorado. E' o que se dá
com o amor de Deus.
E.rro g ravíssimo seria pretender forçar o marido
a entrar pela p rimei ra porta que lhe abre a espôsa.
Pelo contrário, ela entre pela porta que lhe. abriram ,
aceite a s concessões q u e lhe fazem. Mas depois ma­
nobre assim, que à hora da saí9a d e uma resolução
seja esta tomada na direção da porta que ela, es-

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pôsa, soube abrir. Temos todos a inata fraqueza de
erradas conclusões. O êrro foi da gente, mas a culpa
sem dúvida vai cair sôbre outros. Errou a espôsa na
manobra, na conjugação do verbo atrair, caindo
porém a culpa no marido.
E por atrair entendo muita coisa : atrair para
Deus, para si mesma, para o lar, para os filhos, para
a luta, para o dever, para a vida sem avareza. E creio
que já estou sendo bem entendido também .

2 9. QUE SAIBA REZAR


Foi assim que o sábio Legouvé, falando na es­
cola de Monge, em 1 877, disse de sua escolha, ca­
so se visse obrigado diante do dilema de resolver en­
tre ciência e oração para um menino. Saber rezar,
ajuntava, é saber ler no mais belo livro que há. E'
saber ler na face daquele de quem emana tôda luz,
tôda justiça e tôda bondade.
A frase dêste homem afamado bem mostra o
critério que há de governar os pais. Felizmente não
se trata de dilema algum entre saber ler ou saber
rezar. Bem pode um menino saber as duas coisas
e deve aprender uma e outra. Talvez possa, um dia,
achar com sua inteligência tesouros para legar aos
vindouros. Os homens ainda estão muito longe d e
esgotar o oceano de verdades naturais, q u e o Cria­
dor entregou às descobertas de seus esforços. Sem­
pre m e comovo quando vejo um pai sacrificando-se
pela formação de um filho.
Mas nada de ilusãq, família ouvinte. O que melho­
ra a humanidade não é a ciência. Hoje sobeja m

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provas do que afirmo. Grandes descobertas são rea­
lizadas para deixar a humanidade em suspenso, no
mêdo de u m a catástrofe. Vai o homem ao espaço,
desce ao fundo do mar. Como cogumelos surgem
ginásios por tôda a parte, abrem-se Faculdades pelo
interior adentro. Longe de nós lançar uma pedra con­
tra a ciência. A Igreja sempre favoreceu o estudo.
Em nossa cidade de S. Paulo os primeiros jesuítas
foram os primeiros mestres.
Contudo tantos arcos de triunfo para a ciência não
desfazem as vitórias das mãos postas em oração.
Abençoado o filho que une a oração ao estudo. Pois
é a primei ra que nos leva ao coração de Deus e
através dela ao coração dos homens. Aqui um aviso,
pais. A ciência da oração pode ser apagada na vida
dos filhos, quando na família não há cooperação.
A ciência da oração é que revoluciona a vida, sendo
a mais bendita de tôdas e também a mais exposta.
O mau exempl o na família, onde o filho nunca
vê pais rezdndo, pode dificultar o hábito ou tirar o
gôsto pela oração. Família alguma concordaria em
tirar da cabeça dos filhos conhecimentos que apren­
deram com sacrifício. Por que então não usar do
mesmo sistema, em se tratando da ciência da ora­
ção? Havendo negligência em manusear os livros, a
família censura o dissidioso. E por que não censurar
quando abandona o "estudo" da oração?
Aqui vem a propósito a formação l itúrgica dos
filhos. Saberá ler no livro belíssimo da l iturgia que
é oração de Cristo.

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30. ESCREVA UM SUFICIENTE!

Certo mestre corrigia os cadernos de seus a lunos.


Vivia sàzinho em companhia da mãe. Esta viu como
o filho ia riscando, aqui e ali, a cada passo a com­
posição apresentada. Os riscos vermelhos tingem
de sangue as p ág inas. Muitos erros. Por detrás do
filho a mãe acompanha a tragédia. Agora o filho
professor vai somar as faltas e escrever um "in­
suficiente" Nisso intervém a mãe e pede-lhe que
escreva um "suficiente" para não desanimar o po­
bre aluno. Alega que de certo êle é mais fraco n a
compreensão e forte na boa vontade. Enfim advo­
ga a causa do infeliz. E o p rofessor concorda com
o p edido, escrevendo um suficiente.
Na vida há cenas que emolduram verdades pre­
ciosas. Esta é uma delas. Dá-se conosco o mesmo
em relação com nossa Mãe do céu. Cada dia en­
chemos páginas de nossa vida, com uma tarefa mar­
cada pelos deveres, por Deus. Mas quando êle vai
corrigir aparecem erros de tôda espécie. Sua mão
está pronta para escrever um insuficiente. Nisso
intervém sua bendita Mãe. Pede-lhe que tenha dó
do pobre coitado que é cada u m de nós. E Deus
não escreve o insuficiente.
Famílias ouvintes, o que descrevo não é pura re­
tórica. E' realidade diária, embora nem sempre vi­
sível. A mãe de m isericórdia tem destas atitudes,
salvando pecadores, convertendo indiferentes, con­
seguindo o "suficiente" para muita gente . Sobretu­
do emprega tal método com aquêles que dela se
lembram. Como i mporta, portanto, cultivar nos fi­
lhos o culto filial de invocação e de amor à Mãe
de Deus.
64
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Mas ajunto que, ao lado das palavras, andem os
exemplos dos pais apegados à Mãe de Deus. Sem­
pre que em Aparecida observo o desfile dos romeiros
diante do nicho da Rainha do Brasil, comovo-m e
ao ver pais e mães levantando seus pequenos para
que bem de perto veja m a imagem milagrosa e lhe
atirem seus beijinhos e se persignem pedindo-lhe
a bênção. Nunca é demais insistir sôbre o exem­
plo dos pais.
De outro lado, não posso compreender a calma
em que vivem pais omissos em seus exemplos cris­
tãos ou, pior ainda, renitentes a bons conselhos que
recebem n este assunto. H á tantos, que depressa aco­
l hem um conselho fútil, mundano, nocivo ao filho
cristão. E por que tardam em aceitar convites insis­
tentes, que só podem converter-se em bênçãos para
os filhos e a família tôda? E' claro, entre as famílias
ouvintes não será êsse o caso.

Mundos Entre Berços 5


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VI

3 1. TEOLOGIA POLITICA
O grande bispo Bossuet escreveu um livro i nti­
tulado Teoiogia Política. Não pensem as famílias que
eu m e venha a perder nessa mata virgem, que é
a política. Quero apenas p reveni r contra erros com
relação à política. Nunca, fam ílias, aceiteis a frase
afirmando que a religião não se deve meter na po­
lítica, que nada tem com ela. E' sofisma, é ardil d e
gente q u e deseja explorar o s concidadãos. Quando
a política excursiona pelo terreno que está sob a ju­
risdição da religião, esta tem de ag ir. Do contrário,
verá valores comprometidos pelo seu silêncio.
Estão aí os que não só fazem diferença entre
religião e política, mas até as separam completam en­
te, não admitindo que uma exerça influência sôbre
a outra. Não são muito diferentes daqu eles desejo­
sos de um Estado com9letamente sem Deus, Cria­
dor e Senhor de tôdas as coisas (Leão XIII) .
Não aceiteis os que metem no m esmo caldeirão
religião e um partido político. Não quero condenar
partidos políticos com p rogramas sadios e morais.
Outra vez Leão XIII previne: "Aí estão os que mis­
turam e confundem por assim dizer religião com
um partido político, a ponto de afirmar que os de
outro partido pol ítico já quase não são católicos.
li* 67
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Isto é romper a concórdia fraternal e abrir a porta
a muitos e funestos inconvenientes"
Temos hoje a camuflagem, as alianças oportunis­
tas que levam a usar o têrmo de partido neutro. O
Papa previne: "Todos os católicos têm por dever.
que deve ser cumprido religiosa e invioiàvelmente
em tôdas as circunstâncias da vida privada e pú­
blica, guardar firmemente e professar sem mêdo
os princípios da Verdade cristã, ensinada pelo Ma­
g istério da Igreja católica ".
Famílias, atenção! Vamos ouvir uma solene con­
denação formulada pelo mesmo Papa. Parece que
estêve sentado à mesa onde nossos homens e se­
n horas discutem problemas da política. "Devem os
católicos abordar a vida política, não para aprovar o
que d e reprovável têm as instituições políticas, mas
para tirar dessas mesmas instituições, em quanto
possível, o bem público sincero e verdadeiro, com o
propósito de infundir em tôdas as veias do Estado
uma seiva e um sangue reparador, a virtude e a
influência da religião católica . "
Portanto não é lícito cruzar os braços, ou ficar
em casa sem levar o voto com o risco de com tal
abstenção, ou voto em branco, dar ganho de causa
a algum programa reprovável. Sabemos que Pio XII
em vésperas de certa eleição falou d a grande hora
da consciência católica. - Famílias que me ouvis,
não cogito de vossas justas preferências quando al­
gum partido nada tem contra a religião e a moral.
Lembro contudo que acima de todo partido está o
partido de Deus. Antes de vosso nome ser registado.
num partido, foi registado no partido do batismo,
que é de Deus e de sua causa. Nada de trair êsse

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registo, renegar tal batismo que por sinal se g rava
indelével na alma.
Seria favor, famílias, a anotação do seguinte prin­
cípio: "Um cidadão católico pode agir como católi­
co, sem agir como cidadão, mas não pode n unca
agir como cidadão, sem agir como católico" (E.
Dreher, S . J . ) . Logo escolhendo partido, levando seu
voto às u rnas, h á de seguir uma "teologia política".
Está em andamento uma intensa formação cívico­
católica para nosso povo. Não podemos viver como
católicos de sacristia. Somos o fermento da massa.
Os últimos Papas são claros e positivos neste assun­
to. Nossos Bispos andam censurando a indiferença
política de nossos eleitores quando estão em jôgo
valiosos patrimônios morais, cívicos e religiosos.

3 2. QUE BERÇOS TIVERAM?


Um jornal estrangeiro noticia um proj eto infame,
bem revelador de desu mana e irreligiosa mentali­
dade. Trata-se de levantar um hotel de luxo, com
piscinas, salões de bailes no . jardim das Oliveiras,
em Jerusalém ! Onde Cristo Senhor - Deus e Ho­
mem - agonizou à vista dos crimes d os homens,
gente civilizada do século vinte aparece com tal pro­
jeto. Felizmente a indignação e resistência foram
gerais. Protestou o Custódio franciscano da Terra
Santa. Protestou o patriarca de Jerusalém. Seus
protestos foram atendidos pelo govêrno da Jordânia.
Parece inc:rível tal idéia, mas é bem o sinal da
época, cruel e desumana, que estamos atravessando.
Ao lado da crueldade, o desrespeito e sacrilégio co-

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metido contra u m lugar santificado, venerado. Al i
sofreu o mais nobre dos homens que a terra jamais
viu. Os gozadores da vida calcam aos pés tudo que
é sagrado. Nem sequer sentem o pudor p erante lu­
gares, testemunhas de uma tragédia humano-divina.
Agora um contraste para deitar luz no quadro
sombrio. Em Dachau, lugar onde a pessoa huma­
na foi desrespeitada, martirizada, aos milhares, nas
câmaras de g ás, convertem em igreja o forno cre­
mátorio. Centenas de moços fazem romarias a pé,
em espírito de penitência, de expiação pelos crimes
de seus conterrâneos. Atitude q u e eleva e redime
e edifica ! Durante quatro horas marcham a pé, em
demanda de Dachau, onde a igreja é dedicada à
Agonia de Cristo. Que contraste!
Daqui eu pergunto : que berços tiveram uns e ou­
tros? Os primeiros com seu hotel sacrílego e os úl­
timos com sua atitude penitente? Sim, é verdade
que berços balançam o mundo. Gente criada em
berços sem Deus não encontra os rastos de Deus
na terra ensopada por seu sangue. Moços de ber­
ços cristãos descobrem Cristo nas cinzas dos inci­
nerados num forno crematório.
Famílias ouvintes, do seio de famílias saíram os
profanadores e os adoradores. Nessa altura pergun­
tai-vos : "De meus berços receberá o mundo heróis,
corações nobres ou vis exploradores do próximo?
Sairá a bênção ou a maldição para a humanidade?"
Posso tornar-me p rofeta, conforme o cenário que
a família apresentar. Sendo á rvore má, maus serã -,
seus frutos. Sendo árvore boa, bons serão êles na
afirmação de Cristo, nosso Mestre . Naturalmente a

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árvore boa conhece o preço a pagar neste caso.
Renúncia, sacrifício, amor ao próximo, visão cristã
do Corpo Místico de Cristo - eis seu preço que
não admite regateios.

3 3. COMO UMA DAS INSENSATAS


falou a mulher de Job, vendo-o coberto de le­
pra, mas paciente e confiante em Deus. Queria ver
seu marido bendizer a Deus e morrer, em vez de per­
severar na sua simplicidade. Job disse-lhe: " Falas­
te como uma das mulheres insensatas. Se nós re­
cebemos os bens das mãos de Deus, por que não
havemos de receber também os males?"
Deus tirara tudo a Job: casas, rebanhos, filhos e
filhas. Mas lhe deixa ra a mulher. Malicioso comen­
tarista vê nessa "sobra" o maior flagelo sofrido pelo
pai e marido. Pela fala da mulher t e m-se vontade de
dar crédito ao comentarista. Para um casal cristão a
hora da doença e do infortúnio é a hora-moldura
para o verdadeiro amor cristão. Isso de se quererem
os casados quando tudo anda no compasso certo,
não é difícil. Sempre foi fácil remar rio a baixo.
Mas as doenças, longas e cheias de imolações,
revelam o verdadeiro amor. A mulher foi dada ao
homem como "auxiliar", sem mais reservas. Logo
há de mostrar-se dentro do p rograma à hora menos
agradável do sofrimento. Pois a doença afeta o cor­
po e também a alma do paciente, por causa da com­
binação entre corpo e alma. O rgãos do corpo e sua
pele são atingidos pela dor. E internamente as fa­
culdades da alma fica m acabrunhadas. Abate-se o

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espírito, afrouxa a vontade sua resistência, chora
o coração. Eis a hora de apresentar-se "a auxiliar" .
Infelizmente m uitas vêzes apresenta-se a "insensata" .
Quero lembrar aqui u mas palavras d e Pio XII :
" O sofrimento é lei de tôda vida humana, como em
todo ramo de rosas, onde as flôres estão misturadas
com os espinhos" (1 6 de outubro de 1 940) . E a in­
da antes dissera êle : " No jardim da humanidade, des­
de que deixou de ser o paraíso terrestre, amadure­
cerá sempre a dor, como um dos mais amargos
frutos do pecado original. Para um verdadeiro cris­
tão a debilidade converteu-se num título ao respeito
e a enfermidade! num título de amor" ( 1 7 de julho
de 1 940) .
Ouviram bem, p rezadas radiouvintes : respeito e
amor? Com isso não necessitamos ignorar o lado
penoso para a natureza h umana, para a sensibilida­
de feminina, acarretado pela doença. Sobretudo
quando seu cenário é u m lar sem recurso, mal-aco­
modado. Sei de verdadeiras vias-sacras percorridas
em romarias pelos sofredores. Mas a graça do sa­
cramento elevou o a mor humano para enfrentar
essas horas. Por entre seus ponteiros Deus espera
pelas almas.

34. AS MÃOS DE MAMÃE


A professôra dera como tema para suas alunas
o título acima. E explicou como fazê-lo, lembrando
as mãos maternas que lavam, costuram, varrem.
Era o fio da m eada. As crianças debruçam-se sô­
bre os cadernos e escrevem. Tudo p ronto. As com­
posições são recolhidas, corrigidas.
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- Fulana, diz a professôra, já somou quantas
mãos tem sua mãezinha? Duas para cá, duas para lá,
duas aqui e duas ali. Some uma vez!
E a pequena soma em voz alta : "Mamãe tem duas
mãos para p apai, duas para cada uma de nós que
somos oito, duas para a horta, duas para a cozinha,
duas para os pobres e . duas para Deus. Tudo vin­
te e seis mãos ! " - Não sabia a professôra se o riso
ou a comoção deveria tomar conta de seu semblante.
Daqui acho que mãe com vinte e seis mãos tem
de ser necessàriamente uma bênção para os filhos.
Mãos que se multiplicara m de duas para vinte e
seis ! Nem faltaram duas para os pobres e duas, in­
dispensáveis, para Deus. Seria o caso de perguntar
às mães que me ouvem às quantas anda a multipli­
cação de suas mãos. No elogio dado pelo Espírito
Santo à mulher ideal, vem mencionado êste: "Não
comeu seu pão na ociosidade, suas mãos souberam
manejar o fuso, acender as luzes, vender e comprar"
Vivo repetindo que muito importam duas · materni­
dades na fam ília, que levam o nome de física e
espiritual. E as mãos devem servir para uma e ou­
tra. Por isso devem desdobrar-se.
Infelizmente hoj e há muito desequilíbrio no caso.
Mães operárias quase só trabalham com as mãos
nas máquinas. Outras, na fartura, d eixam-nas ocio­
sas ou lidando apenas com futilidades. Mãos mu lti­
plicadas em muitos trabalhos de fábricas, escritórios,
empregos . Receio os maus efeitos de mãos que não
se multiplicam para os pobres, não se juntam
para Deus.
Uma criança, como essa que descreveu as "vinte
e seis mãos" de sua mãe, saberá multipli car tam­
bém suas mãos futuramente. O exemplo diário fi-

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cou-lhe na alma. A originalidade de sua composi­
ção provou que as mãos maternas haviam causado
impressão a seus olhos de criança. Sobretudo ao
ver que pobres e Deus eram considerados, como
expressão do mandamento de amar a Deus e ao pró­
ximo. Hoje fala-se em tantos meios de educação
moderna, escolas experimentais, etc. A primeira
escola, sempre antiga e sempre moderna, é o lar e
as lições que nêle são dadas. Nada l hes supre a fal­
ta. Seu diploma de formatura é o mais indispensável
e o mais promissor na vida.

3 5. BúSSOLA ESQUECIDA
Todo mundo conhece a bússola que orienta na­
vegantes. Sempre anda seu ponteiro apontando o
norte. Lembro aos pais de família uma realidade es­
quecida com a inteligência da criança depois do ba­
tismo. Mesmo antes de todo pensamento distinto,
de tôda atividade intelectual, já se encontra sua in­
teligência adaptada às verdades sobrenaturais: Con­
formada já à visão cristã do mundo.
Falou alguém que a criança e as estrêlas enten­
dem-se muito bem. E assim quando vosso filho ba­
tizado abrir os olhos de sua alma, abrirá ao mesmo
tempo os olhos cristãos de sua fé. A presença dessa
fé infusa é qual outra bússola em atividade. Creio
que não preciso sublinhar o que significa êsse fato.
Acarreta tremenda " responsabilidade para os pais
encarregados da formação religiosa dos fil hos. A
luz dos olhos na face de um filho não dispensa cuida­
dos com seus órgãos. Dispensá-los-á outra luz que
é a fé?

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Diga-se o mesmo da esperança, que inclina a al­
ma para Deus como destino sobrenatural. E' a espe­
rança qual compasso de espera para o momento em
que a criança se torna consciente de si m esma. En­
tão muda-se em desejo, movimento d o coração para
Deus. E a caridade infusa? Converte-se nessa hora
em sentido da fraternidade espiritual. H oje fal a-se
mu ito de hereditariedade. Ninguém foge de suas l eis.
Sempre haverá semelhanças entre filhos e pais.
Ora a adoção d ivina, dando-nos a vida divina, con­
verte-nos em filhos de Deus, dando-nos uma inde­
lével semelhante com êle.
O que estou expondo já foi lembrado numa outra
irradiação. Repito os conceitos, seguindo Rimaud,
por ser tão importante o assunto. Retorno à exposi­
ção porque é assunto igualmente m uito esqu ecido,
muito fora de p reocupações nas famílias. Está certo
cultivar a inteligência dos filhos formando-os em
escolas. Mas por que não formar, diplomar u m cris­
tão na sua fé, na sua esperança, na sua caridade?
No mar da vida a bússola da fé jamais pode ser dis­
pensada . Os riscos são tremendos em caso de desvio
de rotas.
Aqu i pergunto uma coisa. Como explicar a en­
trega dos filhos a escolas sem religião, ou contra
a religião? Sempre estamos insistindo no grave de­
ver de uma escolha acertada. Não pode aqui preva­
lecer a voz da amizade, da simpatia, etc. Motivos
muito graves hão de p esar no caso. Em caso· algum
ficarão dispensadas as cautelas por parte da família,
quando houver escolha forçada d e escolas que, não
educando na h eresia, são de acatólicos.
Sem dúvida, família alguma mandaria seus filhos
a u m estabelecimento onde campeassem moléstias

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contagiosas, digamos para os olhos. E os olhos da
alma - a fé infusa - não merecem os mesmos ou
ainda maiores cuidados? Lamento profu ndamente
o descaso de muitos lares neste particu lar. O lema
de "menino católico em escola católica " nem lhes
merece, ao m enos, u ma modesta preferência. Nau
de bússola avariada perde a rota e bate em escolhos,
com risco de naufrágio. Será diferente a lei no caso
de vossos filhos com fé avariada?

3 6. MULTA ORIGINAL
Era boa a estrada, melhor o carro e ótimo o moto­
rista. Por isso velocidade excessiva. Mas o guarda
era também uma p resença e uma vigilância. E acon­
teceu o que se esperava. O carro foi detido, o mo­
torista m ultado.
- Cidadão, o sr. está multado por excesso de ve­
locidade. Contudo permita-me que lhe sugira u m a
idéia. N ã o pague a multa. Compre com ela u m ra­
malhete de flôres e leve-o a sua sra. Estamos en­
tendidos?
- Claro que sim, guarda - responde o multado
sorrindo, surp reendido.
Nosso multado foi leal. De fato comprou um belo
ram alhete de flôres e levou à senhora, ao regressar
para casa. Causou alegre surprêsa à espôsa, já há
muito tempo desacostumada de tais atenções. Aque­
las flôres deram outro colorido à casa e aos cora­
ções, que devagar já iam tomando rumos mu ito
egoístas. Ambos descobriram que as flôres também
têm linguagem própria.

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Não sei se algum marido estará escutando o que
digo. Estarão provàvelmente muito ocupados com
lutas pela vida. Mas alguém poderá lhes contar o
ocorrido, como quem conta uma anedota. E junte
ainda o comentário que vai ouvir. Repito sempre
que está errado o marido, de hoje, aposentar o noi­
vo de ontem. Ou então a espôsa de hoje fazer o
m esmo com a noiva de ontem. Vestido de noiva po­
de ser tirado e guardado. Mas a n oiva como tal de­
ve viver ao lado da espôsa e o noivo ao lado d o
marido. Os dois podem conviver, s e m ciúmes, em­
bora com modificações que a mudança do horizon­
te e responsabilidades justificam.
O grande Papa Pio XII não achou demais lem­
brar tal norma aos recém-casados. Disse-lhes que
ficariam bem pequenas atenç.ões, pequenas surprê­
sas para com a companheira de cada dia. Em se
tratando de verdadeiros cristãos, não há nada pe­
queno. Pois tudo se avoluma, cresce, agiganta-se
quando a alma entra no pequeno. E' ela que dá
dimensões às coisas. O copo de água dado ao seden­
to pesa para a vida eterna.
Ora tôda espôsa é sedenta de carinho, seja de u m a
ou d e outra forma. Causa-lhe u m mal-estar a ausên­
cia dêles a longo prazo. Ou então a presença dê­
les, apenas em certas esferas da vida íntima. Não
pode a alma ficar esquecida. Os carinhos que ela
deseja, e lhe fazem bem, são outros. Assim h á per­
mutas de almas, sem o que nunca será completa
a união de vida e para a vida.
Deixo sôbre tu a mesa êsse ramalhete de flôres.

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VII

37 O DOMINGO DA CRIANÇA
Era tema da aula de desenho o domingo. Deviam
as m�ninas desenhar o domingo de uma criança .
E sabem as famílias qual foi o desenho mais impres­
sionante? O desenho que representava u m a criança
largada, sàzinha, pensativa e triste no m eio dos seus
brinquedos . A aluna que assim expressou sua
experiência fêz u m belo sermão para muitas famí­
l ias. De fato, a criança espera pelo domingo porque
é o dia em que vai vestir seu vestido bonito, vai ter
os pais a seu lado. Nesse dia os pais lhe pertencem.
Dizia com alvorôço uma pequenita : Domingo pa­
pai é meu.
Durante a semana o escritório, a fábrica, a ofici­
na, o consultório, o balcão, o automóvel requisitam
o pai. E infelizmente, numa violência que se vingará ,
também requisita a mãe. Domingo o s pais são de­
volvidos à família, aos fil hos. E a família em pêso
apresenta-se ao Pai de famílias que é Deus, na assis­
tência aos ofícios religiosos. E' então que o pai po­
de dar-se conta da sua p aternidade, representando
a paternidade de Deus. Como fica bem, então, ma­
nifestá-la melhor aos pequenos !
Ausências ao domingo, abandono dos filhos nes­
se dia, sobretudo, não educam nem formam. Até
parece que rompem o nexo da paternidade humana

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com a paternidade de Deus. Por isso, famílias que
m e ouvis, ocupai-vos com vossos filhos aos domin­
gos. A primeira coisa é levá-los à presença de Deus,
pela presença à missa de p receito. Passeios e ex­
cursões devem respeitar sempre o sagrado dever
da missa. Quanto mais agitada a semana, mais acon­
chego haja nos domingos. Marido e espôsa saem
lucrando com essa calma e paz no Senhor.
Certa criança definiu bem o domingo : é o dia de
a gente se querer bem. Isso mesmo. Querer bem a
Deus, aos pais, aos filhos, aos a migos, aos ne­
cessitados.
Estarei, porventura, fazendo um exame de cons­
ciência em tua casa, prezado ouvinte, ou generosa
ouvinte dêste p rograma? E o que lhe responde a
consciência? Louva-o? Então, parabéns. Censura-o?
Então não retarde a emenda. Teimar num êrro traz
consigo algo de satânico. Desprezar um aviso pode
coincidi r com a repulsa a uma graça que por êle
Deus te envia. O melhor é tomar a atitude que o
caso requer. Perseverar no acertado e corrigir o
errado.

38. LITURGIA DA MESA

Quem acompanha êste programa sabe como vivo


i nsistindo na união da vida com a religião. Mas em
todos os setores, sem fazer geografia da religião,
localizada nesta ou naquela igreja. Religião é fer­
mento. Tem de levedar a massa da vida humana,
familiar, social, p rofissional.

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Em teu lar, família ouvinte, há uma mesa que
reclama uma liturgia. As alegrias não podem fu­
gir ao p rograma que reclamo. Na mesa aparecem
a dedicação do pai trazendo o pão com seu salário.
E' evidente a solicitude da mãe e dona de casa
que providenciou tudo, desde o horário até o guar­
danapo, toalha bonita com flôres. Três palavras ser­
virão - conforme certo autor - para orientação
dêste prazer e alegri a : integração, sublimação, mor­
tificação.
Por hoje vejamos a primeira. Integração do co­
mer no sistema cristão reclamada está pelo princípio
que estabelece nada haver de indiferente, profano,
insignificante para o cristão autêntico. Tôda a ação
ordenada conforme à vontade de Deus é bela, no­
bre, meritória. Repercute na eternidade, embora seja
passageira, fugaz. Na alimentação há um caráter
moral e sagrado. Primeiro porque foi o próprio Deus
quem criou o corpo do homem. Fê-lo sujeito às
funções nutritivas. Deu-lhe para tanto um robusto
instinto de conservação em busca do alimento, de
uma ingeniosidade para p rocurar e aperfeiçoar êste
último. Deus regula a oferta e procura, pondo ao
alcance p lantas e animais necessários à alimentação
humana. Ao homem foi entregue a terra para pro­
duzir-lhe o n ecessário . Comendo, o homem não aten­
de apenas a um instinto incoercível. Obedece à von­
tade do Criador e lhe realiza o pensamento.
Todo cristão tem por lei ser perfeito como o Pai
no céu. Ora o corpo não está excluído dessa per­
feição. Isso reclama saúde, vigor, beleza, capaci­
dade dependentes por sua vez da alimentação ra­
cional. O cristianismo impõe tal solicitude com o
corpo. Sem dúvida temos de mencionar u ma escala
Mundos Entre Berços - 6
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de valores em nós, na qual o corpo ocupa o último
lugar. Entretanto convém lembrar que outras fun­
ções superiores - intelectuais, morais, profissio­
nais, espirituais - nem são possíveis sem a saúde,
assegurada pela alimentação. Doentes, subnutridos
ficam com sua personalidade afetada. Diz o Pe.
Lorson, S . J . : "Em geral doentes e subalim entados
são, sem uma graça de Deus, menos homens e me­
nos cristãos. Possuem menos concentração inte­
l ectual, menos vigor moral, menos contrôle de si
mesmos, menor resistência às tentações, com me­
nor dinamismo criador. Há sem dúvida suplências
espirituais. Mas não influem em todos os casos.
Estão longe disso".
Logo, família ouvinte, se reclamo uma liturgia
para a mesa é porque o p razer da alimentação tem
de ser integrado na religião, expressa no caso pela
liturgia. Frase é de S. Paulo aquela onde manda
fazer tudo em nome do Senhor Jesus, comendo,
bebendo ou fazendo qualquer outra coisa. Com pe­
sar temos de constatar como nossas famílias vão
paganizando suas mesas, tanto no conceito como
na prática. Uma pergunta : Que faz o "pão nosso de
cada dia", na oração ensinada por Cristo Senhor?
Falo ao meio-dia, pegando todos à mesa, talvez
em flagrante paganismo. Ninguém rezou, elevou a
m ente a Deus, teve u m rito litúrgico antes de sen­
tar-se. Mas, graças a Deus, há tempo para corrigir
uma atitude errada.

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3 9. MAMÃE E' REMÉDIO
Assim reza u ma receita que vem sendo seguida
e m muitos hospitais inglêses. Dizem os entendidos
que a mãe é o melhor remédio. Estão facilitando o
mais possível a presença, os tratos, o pouso das
mães junto ao leito de seus filhinhos doentes. Po­
dem elas ver como médicos e enfermeiras tratam
os pequeninos e vão assim aprendendo, enriquecen­
do seus conhecimentos. Com isso velhas receitas
dos tempos, em que as doenças não eram tão sa­
bidas como hoje, desaparecem.
De outro lado a criança doente tem a impressão
de estar em casa. O ar sombrio do hospital muda-se
para coisa melhor. Até com gente grande se dá o
mesmo. Certo soldado prisioneiro m orria l entam ente.
Era a saudade que o m atava. O médico, tendo des­
coberto o m otivo, providenciou, por meio da Cruz
Vermelha, a remessa de um pão feito em casa
pela mãe do prisioneiro. E veio o pão trazendo o
cheiro do trigo dos campos maternos, do forno do­
méstico. Aquêle pão cuja farinha fôra amassada pe­
las mãos da mãe ausente fêz o milagre. Ainda o
doente não acabara de comê-lo e já a saúde estava
de volta.
Presença m aterna - o m elhor remédio. Isto vale
para tôda a vida, para tôdas as doenças, físicas e
morais. Mas naturalmente sob uma condição. Qual?
Que essa p resença seja abençoada, cercada de u m
nimbo de sobrenaturalidade. Seja a o mesmo tem­
po uma presença humana e cristã, tôda saturada de
Deus. Uma presença vazia dêstes valores pouco valor
terá. Há sobra de tais presenças vazias nos lares
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não sentindo os filhos sua infl uência para o bem
e o nobre.
Saibam as famílias que, para as mães serem pre­
senças na vida dos filhos, hão de ser por sua vez
presenças j unto de Deus. Ou m elhor u rge que Deus
seja uma presença na vida dos pais.
Por isso me explico tanto fracasso e tanta desi­
lusão na formação dos filhos : os pai s eram ausen­
tes de Deus.

40. UM ROSTO NA PEDRA


Há séculos deu-se na Inglaterra o seguinte fato,
ainda hoje lembrado numa pedra. Lord Meffons,
ouvida sua condenação que era u m a morte lenta,
foi recolhido em prisão perpétua. A cela recebia
apenas algumas migalhas de luz espalhadas pelo
sol. Cela fria para 35 anos de idade do prisioneiro.
G rades de ferro barrando um belo e empreendedor
roteiro. No comêço Lord Meffons passava dias in­
teiros com a cabeça enterrada entre as duas mãos,
pensando no l indo céu azul que jamais tornaria a
ver. U m dia, porém, pede ao carcereiro que lhe
arrume um martelo e u ma talhadeira. No comêço
o pedido causou estranheza ao bom carcereiro. De­
pois de várias insistências , foi Meffons atendido.
E ei-lo agora a martelar a pedra. Devagar vai ti­
rando u m corpo, uns braços, uma cabeça coroada,
u m Crucificado, enfim. Deu-lhe a expressão que via
na sua alma atribulada. Durante vinte anos martelou,
cortou, aperfeiçoou sua imagem. Por fim vendo que
era a mesma na pedra como na sua alma, sentiu-se

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aliviado. Floresceu dentro dêle uma primavera. E
certo dia abrem o pesado portão do cárcere e nêle
entra a li berdade. O condenado obtivera o perdão.
Nada mais de prisão perpétua. Mas aquêle rosto
na pedra nunca mais lhe saiu da lembrança. Mais
tarde o cárcere foi convertido numa capela e l á está
o Crucificado diante do qual rezara um condenado.
Hoje diante dêle rezam a lmas agradecidas.
Famílias ouvintes, vossos lares não são cárceres.
Não há solidão e desespêro dentro dêles, sobretudo
quando vozes infantis os enchem de alegria. Mas
assim mesmo é preciso que nêle exista a imagem
do Crucificado. E' uma questão de amor e gratidão.
Do sangue do Crucificado nasceram as graças que
enriquecem o sacramento que funda o lar. Das ago­
nias dêle nasceram as alegrias que convertem o
lar numa palavra canção. A fôrça para as horas difí­
ceis da família cai da cruz do Crucificado.
E' incrível, mas possível. Há famíl ias que se di­
zem católicas e não têm a devoção da cruz. Não há
em suas casas a cruz com sua vítima. Os olhos dos
pequenos não enxergam o amigo das crianças a mor­
rer por elas. Em troca - quem sabe? - há quadros
e estátuas condenáveis e prejudiciais. Dizem que é
amor à arte. Mas o que salva a família não é a a rte.
E' a bênção traçada pela mão do Crucificado.
A pedra de um cárcere é muda e c ruel. No entan­
to Lord Meffons fêz a pedra falar. Um rosto nela
esculpido continua exprimindo a tragédia de u m a
d o r e a redenção d e u m sofrimento.

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41. MAES EM FÉRIAS
Certamente vou encontrar descrença, objeções ou
pessimismo, agora, ao expor um programa. Nada
menos do que férias para as mães e donas de casa.
Em casa deixam maridos e filhos e tocam-se para
u m recanto calmo, saudável, descansado. E isso
em companhia de outras mães. Tudo para um mere­
cido e indispensável repouso.
Já estou ouvindo os comentários: coisa impossí­
vel ! Provo o contrário e, provado que tenho razão,
minhas ouvintes concordem com meu plano. Em
geral se diz que, contra fatos, não há a rgumentos.
Apresento um fato. Na Alemanha, onde as mães
são tão caseiras e do lar, surgiu a idéia, foi traçado
o plano e executado o planejado. Surgi ram recan­
tos m etidos em bosques, em vales, aos pés das
montanhas, sôbre elas, perto do mar. Fêz-se a cam­
panha convidando as mães cansadas. E qual a mãe
que não é criatura cansada?
E o resultado : No comêço diziam que era im­
possível tal repouso. Impossível também o êxito des­
sas férias. Mas é sempre assim . As coisas que hoje
são g randes realidades no comêço pareciam i mpos­
síveis. A prova do possível está agora entregue aos
números. Contra êles nada valem sofismas. Só no
ano passado, essas colônias foram procuradas por
80.000 mães de família e donas de casas. Certamen­
te êsses milhares de veranistas tinham serviços, cuida­
dos e compromissos em casa. Mas conseguiram com­
binar tudo, sem prejuízo de monta para ninguém.
E foram repousar.

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Vejo ao lado as fotografias que mostram as ca­
sas, os campos, as florestas, os grupos de mães em
salões de leituras, de j ogos, em excursões, em ro­
das e palestras. Até u mas estão ali tocando seus
violinos, guitarras, acordeões. Relem bram alegres
seus tempinhos de môças.
Não falta assistência religiosa aos grupos. A pre­
sença ou vizinhança de algum bom médico acalma
as mais nervosas com seus achaques. E depois das
férias voltam elas saudáveis, contentes, sem nervos,
valorizadas pela ausência aos olhos do espôso e
dos filhos.
Ora não m erecem nossas mães coisa semelhante?
Não concordarão os maridos com o repouso neces­
sário para elas? Não pode a Confederação das Fa­
mílias começar com tais colônias de férias? Lugares
amenos não faltam em nossa terra, tão bem apaisada.
Espero que concordem comigo as famílias ouvin­
tes e cooperem no plano.

4 2. VIVO TAO SOZINHA . . .

Com aquela senhora subiam a escada várias quei­


xas contra o inquilino do andar superior. Ela esco­
lhera a dedo seu apartamento no prédio de cons­
trução modesta. Otimo, calmo, ideal. E agora, de
repente, o barulho intruso . . . No tôpo da escada vê
como uma m enina pequena abre a porta d e seu
apartamento e dêle salta o culpado pelo estôrvo :
u m cãozinho prêto, que pula, se vira e dá saltos.
Fazia uma festa para sua patroinha. A criança rea­
ge. Agarra-o nos braços, acaricia-o e diz:

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- Já sei que estava com saudades minhas, Tér­
ri. Chega de festa. Sei que você gosta de mim.
E nisso o cãozinho lhe lambe o rosto, com a sêda
de sua língua. A reclamante entra no d iálogo, per­
guntando pelo pai da criança. A resposta é triste.
O pai sumira na guerra. E a mãe? Essa não tarda­
ria a voltar do serviço. Rematando as respostas a
pequena, tomando u m ar triste, diz:
- Minha senhora, vivo tão sozinha . . . Térri é
m eu único companheirinho, o dia todo. A senhora
veio para reclamar alguma coisa?
Fica embaraçada a interrogada e disfarça, mas a
pequena é a rguta :
- Se é por causa do meu cãozinho, por favor,
tenha u m pouco de paciência. E' nôvo, mas daqui
a dois meses cria juízo e não dará os uivos de agora.
A reclamante enternece-se e ajuda a acariciar o
bichano. Não disse do assunto de sua reclamação,
da qual desistiu finalmente.
Já no seu apartamento, ao notar a algazarra da
pequenina e do cãozinho, vinha-lhe à m ente aquêle
"vivo tão sozinha" E já não dava mais importân­
cia aos uivos do animalzinho. Lembrava-se da felici­
dade de uma criança ligada ao barulhento. Estava
compreendendo a situação.
Família ouvinte, diz a sentença que compreender
é perdoar. Ou p elo menos é tolerar e ter paciência,
para assim aliviar o sofrimento alheio. E' contra
todo cristianismo êsse completo desinterêsse pela
situação do p róximo. S. Paulo diz-nos que sabia rir

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e chorar, acompanhando a alegria ou o pranto do
próximo.
Os vizin hos sempre constituem um problema, re­
clamando solução cristã. O primeiro direito que nós
todos temos é de ser caridosos e compreensíveis. Só
traçar seus círculos fechando-se dentro dêles é egoís­
mo, censurado pela lei da caridade. Num p rédio
de apartamentos imperam leis de p rudência, de u r­
banidade. Mas acima de tôdas está a lei cristã da
caridade.

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VIII

43. VIGILANCIAS FLORIDAS

- Agora tenho mais cinco vigilâncias em flor,


d izia-me u m amigo. E apontava para cinco macieiras
floridas, com promessa de belas frutas que davam
bom preço na praça. Se a prezada mãe ouvinte d is­
ser o mesmo quanto aos filhos, lhe direi da corres­
pondência das vigilâncias com o número dêstes. A
criança é á rvore em flor. A idade vai amadurecendo
e com ela deve ir o batismo no mesmo programa.
Sobretudo depois da primeira comunhão. Pois já
o uso da razão e a graça da união com Cristo im­
põem desvelos maiores. De outro lado é muito co­
mum um êrro condenável. O menino alega que "já
tirou a primeira comunhão" para desertar do cate­
cismo, da instrução religiosa. Com freqüência en­
contram apoio na família tão encontradiços deser­
tores. Ora com mais um tesouro na vida dos filhos
a responsabilidade aumenta, reclamando maior vi­
gilância. Tam bém a instrução religiosa há de ser
vigiada, controlada, acompanhada com interêsse
pelos pais.
Em casa vemos pequenos serviços prestados pela
infância. O pequeno leva isso daqui para ali. E os
olhos maternos acompanham o caminho do presti­
moso, vigiando qualquer imprudência quando as
mãos carregam coisa frágil. Vamos apl icar tudo isso

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à graça. Instrução religiosa é g raça iluminando a
inteligência. Sempre achei inconseqüência no zêlo
pela "tarefa" da escola no dia seguinte e desinterês­
se pela "tarefa " religiosa. Naturalmente os pais
querem que o filho passe de ano e não fique de­
pendurado numa segunda época ou reprovação.
Isso, além do vexame, dobra as despesas do lar.
Entretanto que vantagem haverá para os filhos, se
caminharem pela vida mal diplomados em religião?
A idade, a floração, na vida dos filhos caminha
para os frutos. Se u ma árvore, embora florida, pode
tornar-se u m fracasso na colheita, também poderá
ocorrer o mesmo com a infância e adolescência.
últimamente há uma p reocupação com os tais na
casa dos dez. Não falte método e interêsse quando
se trata da vida cristã. Todo mundo sabe como é
d ecisivo para o futuro o primeiro decênio da vida,
tanto religiosa como socialmente. Não me foge que
"os decimais" estão na idade mais ingrata para a
formação. Mas por difícil que seja, o problema tem
de ser enfrentado, não admite adiamento.
Os diques são levantados em tempo para um rio
não extravasar. Digamos o mesmo no caso em es­
tudo. Pois em tôda idade é o filho u m depósito
sagrado. Poderá variar o método de vigilância por­
que os filhos já não vivem, quase o dia inteiro, sob
os olhos maternos ou paternos. Nunca porém deixa­
rá de ser uma realidade eficiente. Do contrário bem
d epressa a floração - sobretudo a religiosa - será
perdida, sem os frutos esperados. A integridade cor­
poral é um bem e, apesar da idade, já mais cônscia
dos perigos, vivem os pais alarmados com ela. Não
omitem conselhos e cuidados. Por exemplo, quan­
tos conselhos não dão sôbre os perigos do trânsito !

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Merecerá a vida superior da graça, a integridade
sobrenatural da alma m enos cuidados? Não disse
o divino Mestre que a alma está acima do corpo?
Não avisou S. Paulo que levamos em vasos frágeis
os tesouros de Deus e da eternidade? Logo haja tam­
bém vigilância de acôrdo "tom os valores em risco.

44. BELEZAS CANINAS


Se em tua família há muita vida repartida e acusa­
da pela presença dos filhos, estarás l ivre, prezada
ouvinte, de erros como o seguinte. Em certa cidade
há um salão para embelezamento de cães. Pentea­
dos à escolha da dona dos cachorros de estimação.
E também pintura para as unhas dos bichanos, e m
côres da moda. Até agora h á escolha para cinco
penteados diferentes. Dizem que uma dona de cer­
to macaco é boa freguesa do instituto .
Tais provocantes aberrações só podem vingar e m
casas onde faltam filhos, ou existe apenas u m só,
que veio ao mundo control ado ou também descon­
trolado. Não é em vão que S. Paulo avisa uma ver­
dade. Qual? Salva-se a mulher pelos fil hos. São êles
uma defesa legítima contra criminosos d esvios do
coração e provocantes gastos de,s necessários. Tives­
sem tais donas, de cachorros e macacos, filhos para
pentear e não viveriam rodeadas de tais ridículos,
culpadas de tais pecados.
Tremendo desvio do coração mostram certas fa­
m ílias onde os animais domésticos vivem mais cuida­
dos e assistidos do que os filhos. De um rei cruel, a
quem a lei proibia matar suínos, diziam os vassalos:

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"Mais vale ser u m porco no chiqueiro de H erodes,
do que um filho em seu palácio".
Feitas as mudanças, creio que a acusação é bem
aplicável a certas famílias. E depois como pode um
cristão ver seu irmão maltrapilho e faminto, sone­
gando-lhe o auxílio que vai despender em embele­
zamento de cães? Mas é nisso que acaba o coração
humano quando não se compenetra de Deus. Tais
aberrações é que irritam e provocam os deserdados
da sorte. Igualmente irritam o coração mais nobre
e bondoso que h á : o de Deus.
Coisa curiosa ! Os santos, tão chegados a Deus,
eram amigos enternecidos das criaturas irracionais.
Nunca admitiram que elas fôssem maltratadas. Mas
deixaram-nas sempre no pôsto em que o Criador
as colocara. Portanto, é verdade inegável o enobre­
cimento do coração humano, em tôdas as direções,
sempre que Deus nêle predomina. E o mesmo se
dará com os corações que formam uma família.
Reine Deus em teu lar, ouvinte, e sobrarão até ter­
nuras comedidas para gatos, aves e cães em tua casa.
Mas sem precisão de visitas a Institutos com cinco
penteados para cachorros.

45. SONHOS DE CRIANÇAS


Que valem sonhos no primeiro decênio da vida?
Crianças sonham dormindo e sonham acordadac;.
Contudo certa vez uma m enina teve um sonho, que
programou seu futuro. Em sonhos viu-se andando
pela rua, olhada por um menino pobre, com ares
de esmoler. Deu-lhe u m a pequena moeda. Era tôda
a sua fortuna .
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- Olhe para mim, m enina, diz-lhe o pobrezinho.
- E onde você mora, garôto? indaga a sonhadora.
- Moro lá no céu. Sou o Menino Deus. Tenho
na terra m uitos irmãozinhos pobres.
Clara Fey, a menina do sonho, fêz dêle um pro­
grama para sua vida. Fundou uma Congregação
para cuidar dos "irmãozinhos pobres". Seu nome
tem ressonância na Igreja. Nunca as preocupações
de fundadora conseguiram separá-la das crianças
pobres.
Família ouvinte, num lar católico a l eitura da vida
dos santos, em frases ou quadrinhos, deve ser u m a
presença habitual e abençoada. Há u m valor p eda­
gógico incalculável em suas vidas. Podem formar
constelações e sonhos que se convertem em realida­
des seculares. Já tenho dito nesta rádio que, pelo
batismo, a criança recebe uma n atural inclinação
para o que vem de Deus e para êle l eva. Por que
não explorar êste veio de Deus nas almas infantis?
Por que encher a fantasia dos pequenos, apenas com
histórias de fadas, de bruxas, de princesas e prínci­
pes encantados? Que bênção deixou a vida de Clara
Fey no seu roteiro pelo mundo ! Sempre parecia­
lhe ouvir aquêle lindo menino, lembrando seus ir­
mãozinhas pobres e abandonados.
Lamento que, em nossa literatura religiosa, seja
fracamente tra balhada a infância dos grandes cris­
tãos, os santos. Na França há livros que relatam ,
à moda infantil, a infância dos santos franceses. A
criança quer conhecê-los " quando eram pequenos",
como reza o título dos livrinhos. Existe a lgo nesse
sentido em nossas l ivrarias. Mas ainda é pouco por­
que o interêsse das famílias por tal literatura é
também pouco. O pouco é pouco p rocurado!

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Deus traçou a vida dos santos também para os
pequenos. S. Ambrósio afirma que o Espírito Santo,
para seu trabalho, não conhece a fraqueza da i dade.
Num corpo de menina colocou a alma de um le­
gionário romano, como foi o caso de S. Inês. Sim.
Os céus abrem-se sôbre as crianças quando lêem
num livro bom . Como as águas cristalinas, suas al­
mas retratam melhor as estrêlas do céu.

4 6. SOL E HONRA
Pirro realizava a conquista da Itália . Vencera com
a espada e pensava vencer também pelo ouro. Fabrí­
cio, o embaixador do senado, foi o p rimeiro roma­
no a quem o ouro tentou comprar. Mas a resposta do
altivo romano serve de progra ma até nossos dias:
"Majestade, é mais fácil desviar o sol do que Fa­
brício do caminho da honra".
Grande atestado em favor de quem a realizou é,
sem dúvida, tal frase. Maior ainda será o mérito da
família que forma u m filho para a mesma firmeza
na honra. Honra perante os homens e honradez pe­
rante Deus. Dar a Deus o que é de Deus, para dar
aos homens, m esmo ao mais pobre, o que lhe com­
pete. Já um dia andei lembrando nesta rádio u m
ponto essencial. O têrmo honradez, homem honra­
do, homem de bem só é completo quando Deus en­
tra na lista. Os direitos dêle devem ser respeitados.
Do contrário é ilusão esperar que alguém possa cum­
prir o integral programa da honradez.
Realmente, como sonegar a Deus o culto que lhe
é devido, a obediência a que tem direito, o amor do

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qual antecipou provas infinitas, sem faltar ao con­
ceito de homem honrado? Família ouvinte, teu fi­
lho é um cristão. Portanto é uma criatura de pala­
vra empen hada no batismo. As renúncias feitas n a
ocasião e confirmadas, mais tarde, n a p rimeira co­
munhão são claras e u rgentes. Nada no mundo po­
de dispensá-las. Nem a glória, nem os prazeres, nem
as honrarias poderão mudar a palavra dada, e m
hora tão solene.
Lamentável frouxidão nota-se tantas vêzes nos
pais, tão apressados em concordar com os sofismas
dos filhos neste ponto. Por qualquer motivo julgam­
se êstes d ispensados de vários pontos de honra nas
relações com Deus e com a sua Igreja. Se um ro­
mano pagão achou que era indigno vender-se pelo
ouro, tomando partido do inimigo, como poderá u m
cristão abandonar a causa d e Deus? Digo abando­
ná-la na sua vida, na sua alma e no lugar que ocupa
-
na sociedade. Hoje vive o menino no mundo infan­
til, amanhã será um jovem. No seu pequeno m u n­
do há u m código de honra . Importa aplicá-lo no
trato com Deus e nos deveres da religião.
Cabe aos pais disso convencer os filhos e pràtica­
mente acostumá-los ao exercício dessa honradez.
A frase de Fabrício tornou célebre a fibra de honra
dos romanos. Acabaram vencendo. Se teu fil ho, fa­
mília ouvinte, viver essa frase, será sem dúvida u m a
honra para o s pais.
Procedimento contrário certamente desonrará a
família que o educou. Pergunto-me sempre por que
se aceita tal verdade só com respeito ao trato so­
cial, à fidelidade nas relaçôes de am izade, de co­
mércio, de política?
Mundos Entre Berços - 7 97
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Bem mais seguro será a conduta de quem, antes
de tudo, honra sua palavra empenhada a Deus no
batismo. Todo homem honrado no trato com Deus
tem mais garantia de o ser também na lida com seu
próximo. Portanto, nada de admitir nos filhos uma
exceção no conceito e na prática da hon ra. Que se­
jam firmes no seu caminho, como o sol é fixo no
firmamento.

4 7.. ORAÇÃO DIFERENTE


Era simplesmente magistral aquela professora no
seu papel de educadora. Amor e dedicação acendra­
dos dedicavam-lhe os a lunos. Muita alegria colheu
no seu magistério. Um dia, porém, adoece, indo parar
numa cadeira de rodas, com dores contínuas. Ao
lado dessas sentavam-se também muita paciência
e mu ita alegria. Anualmente era peregrina de Lour­
des, tornando-se figura proverbial para os padiolei­
ros da gruta. Admiravam-se da teimosia da profes­
sora, sempre fracassada nos seus pedidos. Nunca
recebia a saúde. E' que ignoravam um segrêdo.
Aquela doente rezava diferente. Não pedia a saúde.
Pedia à Mãe de Deus que a não curasse. Queria
sofrer pelas intenções apostólicas de seu amor
cristão.
Veja a prezada família até aonde chegam os cla­
rões da fé ! Nossa paciente enxergava horizontes
ocultos a muitos outros cristãos. Via e apalpava o
valor do sofrimento. Por isso pedia a continuação
de sua doença.

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Os lares que me ouvem tirem daí umas conclusões.
Não digo que devam imitar a oração dessa p rofes­
sôra. Mas copiem-lhe a visão cristã, valorizada, do
sofrimento. Há nêle um fator de salvação e de p e­
dagogia insubstituível. Pesa na balança muito mais
do que capital e juros, do que i móveis e terras. E' pa­
ganismo receber uma família os sofrimentos com
pedras na mão. Digo com reclamações, com i nter­
pelações dirigidas a Deus. Pior ainda quando no caso
abandona a religião.
E' visível que sua religiosidade era interesseira,
como a dos j udeus no Velho Testam ento. Por causa
da saúde dos filhos, das farturas em colheitas do
campo e do pomar, da paz em suas propriedades,
adoravam a Deus. E' p raticada só p ara receber de
Deus como p rêmio neste mundo a saúde, a ausência
de sofrimentos físicos e morais.
Para os filhos o modo de aceitar os sofrimentos
na família é lição de primeira grandeza. Grava-se e m
suas almas. Amanhã a dor achará o enderêço dê­
les, morem onde morarem . Tiveram diante de si
uma atitude cristã mostrada pelos p ais? Ei-los imi­
tando o que viram. Viram o contrário? Irão copiar
as atitudes pagãs e demolidoras.
Um lar cristão tem de acertar essa atitude cor­
reta. Deus não criou seus filhos para o sofrimento.
Permite-o para maiores méritos na etern idade. O
pecado trouxe a dor, mas a graça valoriza-a, suavi­
za-a. Há valores expiatórios e redentores nêles. Se
fracassam os m eios humanos e lícitos para mitigar a
dor, resta aceitá-la cristãmente. Entre ela e a coroa
do céu não há p roporção.
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48. RECEITAS HUMANAS E DIVINAS
Aquela mãe ia ter o seu sexto filho, com o espôsa
de um médico. Adoece g ravemente dos rins, ficando
entre vida e morte. O marido vai atrás de u m es­
pecialista e sua sentença é simples : a mãe não po­
de ficar com a criança nas suas entranhas, sob o
risco de morrerem ambas. Outro especial ista e a
mesma sentença. Vem um afamado p rofessor e con­
firma em nome da ciência a opinião de seus cole­
gas. Então o marido senta-se à beira do leito, to­
ma nas suas as mãos da espôsa, participa-lhe o ve­
redito da ciência e ajunta :
- Jamais consentirei na solução proposta pelos
colegas. Só Deus é dono da vida e da morte. Dono
da vida de nosso filhinho.
Veio pronta a resposta daquela genuína cristã :
- Meu caro, nem sei como lhe agradecer a úni­
ca solução que eu aceito . Vá chamar o vigário. Que­
ro que meu filho me acompanhe até à eternidade.
Veio o sacerdote, deu os sacramentos do caso
e deixou a doente à espera de sua hora. E esta
trouxe nos seus ponteiros a compaixão de Deus e
a vida. Nasceu uma criança, o sexto filho da família.
Tornou-se o raio de sol do lar, a prova evidente de
pais tementes a Deus.
Que lástima,_ família ouvinte, quando a fé desa­
parece na vida dos casados ! Digo a fé viva, filial,
em Deus que é o primeiro pai de tôda criança que
êle mesmo manda ao mundo.
Como pesa ouvir da bôca de u m médico frase
como esta : Padre, eu poderia ter uma carreira bri­
lhante e ficar rico, caso quisesse tornar-me um as­
sassino de vidas ocultas.
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Espero que família alguma, das que me ouvem,
admita tal sistema de liquidar casos difíceis por re­
ceitas "humanas", com desprêzo das receitas divi­
nas. Repito e informo novamente que a Igreja lan­
ça a excomunhão sôbre quem pratica tal crime, con­
seguindo o que intenta. O quinto mandamento -
receita divina - não fica ab-rogado por causa de
receita humana, que tenta resolver riscos e perigos
só para o corpo. Nunca um cristão deve fazer seus
cálculos excluindo a vontade de Deus e, mais ainda,
o seu coração que tem amor às crianças e aos pais
que por elas se sacrificam . O Criador não se prende
às receitas de médicos. Seu poder vai m uito mais
longe.
Exemplos como o citado é que merecem ser con­
tados nas rodas de senhoras, quando mutuamente
relatam casos que sabem. O mau costume de calar
grandezas de uma alma diminui o tamanho de m u i­
tas outras.

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IX

4 9. CRISTAL E CRIANÇA
Nada mais frágil do que uma criança, que é u m
cristal humano. A frase é feita e pacífica, servindo
de aviso. Ora muito importa convencer os respon­
sáveis de que há várias fragil idades. A física e a
moral. As vêzes, a pri meira menos exposta do que a
segunda. Aquela pode diminuir com os anos e esta
em geral aumenta com êles. Fragilidade física é,
pois, relativa, mudando-se mais tarde em fôrça e
competência . A outra é aquela herança da culpa
original.
Pio XII repetiu que é pedagogia fracassada, a que
não conta com o pecado original e suas conseqüên­
cias no homem. Por sereno que pareça o lago, há
tormentas nas suas águas. De límpidas, podem tor­
nar-se bem depressa turvas. Alguém escreveu que
não há santo algum, que não tenha sido censurado
e castigado na sua infância. Não há herói algu m , que
não haja sofrido reprimendas pa ra trazê-lo no trilho
certo, quando nos anos da sua adolescência. Enfim,
tornaram-se os santos uns prodígios de fôrça m oral
porque, advertidos, corrigidos e vigiados, por quem
de direito, cooperaram com o auxílio.
Lembro tal fragilidade moral para dizer aos pais
qual e qu anta há de ser a vigilância dos filhos. Vi­
gilância que dá com os defeitos e vai corrigindo-os.

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Família ouvinte, não posso entender a cal m a de
tantos pais que não vigiam a vida m oral dos seus
tutelados. Parece que lhes basta o filho levar o so­
brenome da família. Pais, antes de vosso filho assi­
nar o sobrenome da família, assina o nome dos pri­
meiros pais, assim : fulano de tal, filho de Adão e Eva.
Só depois é que aparecem vossos nom es. Portanto, a
criança é herdeira da desordem do pecado original,
inclinada ao mal.
Na família ninguém larga uma criança à vontade,
sob o pretêxto de que tem pernas para andar e cor­
rer à vontade. Ao contrário teremos quedas e feri­
mentos evitáveis. Espera-se que seus pezinhos e
perninhas fiquem firmes e depois aos poucos se lhe
vai ensinando o andar. Na ordem m oral nossas per­
nas, da infância à velhice, são frouxas, trôpegas.
E aqui não vale como documento a honradez pas­
sada de um lar, nem seu ambiente de elevada conduta
moral. Poderá facilitar a firmeza, sem nunca dispen­
sar a vigilância.
Um dos conselhos de Cristo aos adultos é a vi­
gil ância. Usou comparações eloqüentes para con­
vencer seus ouvintes de todos os séculos. Foi por
isso que S. Pedro falou de "um leão" que anda ron­
dando para devorar-nos. Além da vigilância dos
olhos, há a outra do coração que se preocupa com
a oração. Ela ajuda a vigiar. Porque não rezarão os
pais: Não deixeis, Senhor, meus filhos cair em ten­
tação? Aqui torno a insistir calorosamente sôbre a
invocação dos Santos Anjos, por parte dos filhos e
dos pais.

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Porventura o ritmo atual da vida,. as maravilhas da
técnica, os encontros forçados e repetidos, o desa­
parecimento do sentido do mal e do pecado não
estão aí como outros leões que devoram os incautos?

5 0. VAMOS RECORDAR?
Um dia a generosa ouvinte, dona de um l ar, viu
um acontecimento. Um môço, todo engravatado,
alinhado, tocou-se para sua casa e foi pedir a sua
mão. Foi hora solene, com repiques festivos para o
coração. Depois, na igreja minha ouvinte estende u
sua mão para o noivo, enquanto suave m elodia en­
chia o recinto. Sôbre as mãos unidas Deus traçou
uma bênção. Entrelaçadas p ela estola da liturgia,
as duas mãos ficaram consagradas para suas ativi­
dades. Talvez ainda perdure na memória aquêle
cenário.
Mas a propósito de que estou recordando um pas­
sado? Por causa das mãos. Ou melhor, por causa
da função que têm. As mãos podem estender-se
para aceitar, para pedir, para oferecer. Temos as­
sim um belo programa, tanto para o hum ano como
para o divino na vida.
Aceitar- o que Deus manda ou permite, sejam
lá dias felizes ou não. Sejam rosas ou espinhos, sor­
risos ou lágrimas. Estender as jlãos para a bande­
ja d e prata, que a felicidade traz cheia de presentes.
Ou então para a cruz que do ombro de Cristo passa
para o nosso. Aceitar . . . ! Que arte! Muito sofrimen­
to, quando somado, acusa um êrro : não foi aceito.
Foi aceito tardiamente. Ou recusado desabridamente.

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Pedir - Pedimos u m a coisa que está afastada de
nossas mãos. Que está eventualmente no coração
de Deus. Pedi r é um dever, quando significa oração.
O pão nosso de cada dia nos dai hoj e . . . Eis u m
pedido que o Mestre incluiu n a sua oração-modêlo.
Chegou a dar uma ordem : pedi . . . e recebereis. Co·
mo é importante no lar saber conjugar o verbo pe­
dir, tanto em relação aos de casa, aos de fora, aos
do céu ! S. Agostinho, sempre lapidar em suas frases,
diz: Sê mendigo de Deus e . escuta a mendicância
de teu próximo. Pedir para si e para os outros, que
nada pedem. Os bem-aventurados do céu pedem
sem cessar pelos lutadores na terra.
Oferecer - encerra um programa de carinho, de
amor, de vitória e triunfo. Também de gratidão e
devotamento. Oferta do pequeno e do grande, do
agradável e desagradável, do sol, da luz e da noite
e das trevas. Endereçado a Deus, a êle oferecido
com alma pura, tudo pode e deve ser oferecido. Ou
carnais, ou bebais, ou façais qualquer outra coi­
sa . . . fazei-o em nome do Senhor Jesus - avisa-nos
S. Paulo. Do contrário falta ao lar sua hóstia de
cada dia sôbre o altar da vida .
Alegrias e dores podem ser oferecidas e rendem
quando o são. Naturalmente a lei de aceitar, pedir
e oferecer, nobremente, urge nas relações com o
espôso e os filhos. Para isso pediu alguém tua mão.

5 1. OLHOS PARA REALIDADES


Um fenômeno caracteriza os tempos modernos.
E' que o progresso moral não se tem desenvolvido
em forma paralela ao progresso m aterial. E:ste úl-

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timo foi m uito i ngente. Tem revolucionado as formas
da existência humana e as relaçôes entre os ho­
mens. Entretanto o primeiro tem sido vítima de u m
formalismo estéril, vazio de espírito evangélico, d e
sincera relig iosidade, como observa Contreras.
Com denôdo e coragem Pio XII diz: "Têm-se os
homens rebelado contra o cristianismo, verdadeiro
e fiel a Cristo e à sua doutrina. Forjaram um cristia­
nismo à sua maneira. Um nôvo ídolo que não salva,
que não se opõe às paixões da concupiscência da
carne, à avidez do ouro e da prata, à soberba da
vida. Enfim uma nova rel igião sem alma, ou uma
alma sem religião. Uma m áscara de u m cristianismo".
Também na família aconteceu o mencionado mal.
E' só abrir os olhos num leal exa me de consciência,
portas adentro e quartos trancados . Urge devolver
<1 Cristo o que a êle p ertence . Entregar a Deus o que
é obra dêle. U m lar que não aceita p ràticamente a
doutrina de Cristo, tranca-lhe a porta da casa. Não
é possível aceitar-lhe a pessoa e rej eitar sua doutrina.
!:.le declarou que não é dêle, que não está com êle
quem recusa sua doutrina. Tanto \À l e a norma para
o indivíduo como para a família, a sociedade inteira.
Por isso, neste progra ma, tanto i nsisto sôbre a
doutrina, a pa rte de Deus na inteligência humana.
Vem acentuada numa repetição teimosa de quem
conta com uma florada e uma colheita. Por exem­
plo, a família que não tiver i déia clara a respeito do
"contrato-sacramento " em que vive sonegará a Cris­
to o que lhe pertence, m esmo nas sêdas do amor
humano e físico. E' uma vinha plantada pelo Se­
nhor que em vão espera pelos frutos. Assim a fa­
mília ouvinte saberá que o casam ento, do qual nas­
ceu, é uno. Isto é, união de um só homem com u m a

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só mulher. A disfarçada poligamia atual, o divórcio
que se converte sucessivamente em poligamia e po­
liandria, destroem por completo a identidade dos
casados, sua união.
Mais. Da recíproca comunicação da personalida­
de de cada consorte surge uma nova personalidade,
tão completa que não admite rival. Consciência por
consciência, como amor por amor, vida por vida,
alma por alma, liberdade por l iberdade, tal é a lei
do casamento. Introduzi outro participante, além
dos consortes, e o ideal morre. Desaparece o aspec­
to sagrado, morre a justiça (Proudhom) . - E ruí­
nas não são realidades?

52. CONTAREI A SUA MÃE


Era na procissão do Santíssimo Sacramento, pas­
sando por entre as filas dos doentes em Lourdes.
Sabem os ouvintes que nessa hora se dão os m ila­
gres. E' uma procissão por entre esperanças e an­
gústias. Os doentes, ao receberem a bênção sacra­
mental, imploram a saúde. E os milagres sucedem-se.
Tal não se deu com um pobre rapaz, abençoado,
mas incurado. Mas êle não se deu por achado e ex­
clamou em voz alta :
- Cristo Jesus, vou contar à sua mãe que passou
sem me curar!
O cardeal oficiante ouviu a reclamação e voltando­
se traçou pela segunda vez a bênção com Jesus, fi­
l ho de Maria, presente na hóstia consagrada do os­
tensório. O milagre acompanhou a bênção. Voltou
a saúde do pobre môço, conforme constatou a co-

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missão de médicos que trabalha no lugar milagroso.
Contar à mamãe ! Frase essa, companheira de nos­
sa infância saudosa ! Foi tantas vêzes ouvida como
ameaça por alguém que nos vigiava, ou sofreu al­
gum desafôro, ou encontrou teimosia e resistência
de nossa parte. Hoje é uma saudade para m uitos,
que nem mãe possuem para ouvir a acusação. No
môço miraculado a frase significava fé profunda,
cordial compreensão do que há de "familiar" na
comunhão dos santos, na Igreja de Deus.
De fato, nossa religião quer relações cordiais, den­
tro da família de Deus. Temos Pai celeste, Cristo
Senhor como irmão, Maria Santíssima como mãe
comum dos necessitados . Nosso rapaz deu p :bva da
enorme confiança que depositava no poderoso cora­
ção materno da Virgem Maria. Foi recompensado
pelo Filho de Maria, que se enterneceu com a infan­
til ameaça, honrosa para sua m ã e.
Nesta altura, partindo da abençoada ameaça do
curado, refiro-me às ameaças reprováveis usadas
nos lares. Não são dosadas, nem p ronunciadas por
motivos adequados e morrem no a r. Ou então pas­
sam a figura r, como a meaças, coisas louváveis em
si e até úteis para a formação. Neste capítulo en­
tram costum es herdados de geração em geração.
Em muitas casas de família bem se poderia colocar
o letreiro : " Casa das ameaças" A ninguem foge o
fracasso dêste sistema na educação dos filhos. Na­
da consegue e acaba desmoralizando os educado­
res. Chegam mesmo a p rovocar caçoadas por parte
dos filhos, como de outro lado p romessas não cum­
pridas os irritam, roubam-lhes a confiança nos pais.
Há ameaças que todos nós devemos levar a sério.
São as de Deus, fiel na sua palavra. Podem ter efei-

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to retardado, mas a seu tempo real izam-se. A casa
que êle não levanta, que não vigia não se erguerá
nem se terá segurança. O que êle diz de pais in­
sensatos cumprir-se-á nos filhos . Mas igual rotei­
ro têm suas promessas de bênção e prosperidade
para lares, que o servem e amam. A cada passo os
Livros Sagrados mencionam tais realidades.

5 3. VISAO PARA UM DIA?


Sempre quando volta o dia das m ães, voltam elas
aos corações dos filhos. I mprensa, Rádio, Igreja lhes
dedicam um programa. Até o comércio bate na
data, insinuando lembranças à mostra em suas vitri­
nas. Neste programa, o ano inteiro, temos em nos­
sa rádio o quarto de hora do lar. Portanto também
da chama do lar, que é a mãe.
A palestra de hoje quer prolongar o "dia das
mães" E isso pela seguinte exposição que abrirá
largos horizontes às ouvintes. Resumo o que l i e
estudei no caso. Deus comunicou dois privilégios à
human idade. U m é o sacerdócio, matern idade o ou­
tro. Pelo sacerdócio, Deus propaga a vida sobrenatu­
ral. Pela materni dade, a vida natural. E assim -
com ambos - continua sua criação, realiza seu rei­
no eterno. E' inegável : a glória de Deus terá a exten­
são, que lhe derem o sacerdócio e a maternidade,
conforme forem instru mentos mais ou menos dó­
ceis a seu amor.
Todos os eleitos terão de nascer de uma mulher
e. do Espírito Santo, através do sacerdócio. A
santidade - temos de afirmá-lo - mais depende

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do sacerdócio do que da m aternidade. E aqui, mãe
ouvinte, brilha em teu céu u ma verdade qual estrêla
luminosa. Ouve-a, guarda-a em teu coração. Ei-la :
o número dos santos e de modo indireto o valor
dêles dependem em primeiro lugar da maternidade,
que é um g rande mistério. Continuemos, ouvinte.
Duas teses surgem hoj e em dia. Uma é sem mistério
espiritual e assim parece mais verossímil. Consiste
ela em afirmar que a maternidade termina com a
g eração do corpo, portanto com u m a função m era­
mente fisiológica. A segunda vai ao fundo das coi­
sas e afirma que a maternidade é sobretudo função
espi ritual.
Um mundo de conseqüências acompanha a prefe­
rência que se dá à primeira ou segunda das teses.
Termina m esmo a maternidade com a geração do
corpo do fil ho? Então entra-se pelo caminho do
menosprêzo da mulher. No m undo há muitas ma­
ternidades, em outros reinos da natureza. Acentua­
se a alma? Então eis l evantado u m arco de triunfo
para a mulher-mãe. Outro é então o conceito d e tu­
do que precede ao casamento. Amor, noivado, lar,
geração tomam outras molduras. Há o conceito ele­
vado, augusto e o rebaixado e m esmo vil. Cada
uma das coisas que constituem a vida hu mana defi­
ne-se de u m modo nobre ou vulgar, de acôrdo com
a idéia formada sôbre a maternidade.

Sustento pois que a nobreza da visão não pode ser


só para u m dia. Há de ser êxtase permanente, des­
lumbramento na vida.

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5 4. CONTO A HISTóRIA DE ALGUÉM?
Hoje posso alongar-me um pouco mais no progra­
ma. Vou contar uma história, um fato sucedido. Era
visível o mau humor daquela dama examinando
seus vestidos. Tinha de escolher um para elegantís­
sima reunião. Nisso o rádio faz um apêlo, p ed indo
socorros para umas vítimas de g rande inundação.
Aquilo era irritante para nossa dama. Desliga o rá­
dio, achando que não l he importava a miséria alheia.
Problemas alheios? Não lhe bastavam porventura os
problemas pessoais que já tinha? Mas que vesti­
do escolher, entre tantos e tão bonitos? Cada u m
contava a história d e u m a luta para obter a verba
do marido. Entretanto êle acabara de fazer um g ran­
de donativo em favor dos flagelados. Nossa dama
recorda o diálogo :
- Então, marido, você não se incomoda em ser
ou não ser eu admirada?
- Você, Regina, já tem tantos vestidos novos e
além do mais eu j á sou seu admirador. Isto basta.
E creio também que é o mais importante.
Conclusão de Regina : meu marido já não gosta
de mim, gosta de . . . outra. Nisso abre-se a porta e
para dentro atira-se a filhinha do casal, dando o
bom dia carinhoso. Voltava da escola para a casa .
Tem u m recado para sua mãe:
- Mamãe, no colégio estão fazendo coleta para
auxiliar as crianças empobrecidas pela inundações.
- E daí, menina?
- Olhe, mamãe, a senhora dá licença para eu
vender meus brinquedos e aquêle l indo vestido ver­
m elho, do qual eu gosto demais?

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- Nada disso, menina. Tudo bobagem. Que te­
mos nós com a miséria dos outros? Trate de ir al­
moçar e depois escreva as tarefas para a aula.
- Mas é dever de religião, mamãe. E' dever de
cristão amar o próximo.
- Sempre a eterna história de dever cristão . . .
Já disse, menina, vá almoçar.
A pequena insiste no seu "mamãe, deixa?" E m
vão. Tem d e sair d o quarto com l ágrimas nos olhos.
Nessa hora entra o pai. Autoriza a filhinha a vender
os brinquedos e o vestido vermelho. U m olhar es­
tranho dirige ela à sua mãe, que é convidada li acom­
panhar o m arido ao escritório. Lá êle lhe diz com
seriedade e firmeza :
- Regina, você não é mais aquela môça piedo­
sa, pobre que eu amei e desposei. Lamento-o m uito.
Por causa de vantagens m ateriais que lhe propor­
cionei vive esquecida de Deus e do p róximo. Você
tornou-se uma egoísta cruel. Mas uma coisa eu
exij o : não se ponha a contagiar com seu egoísm o
nossa filhinha, q u e é u m a criança a nós entregue por
Deus. Criança de coração compassivo e generoso.
Temos que lhe conservar êsses traços. Regina, seu
caminho está errado.
E tomando a mão da espôsa diz-lhe o marido : " Re­
gina, minha querida, religião e amor ao próxim o ja­
mais prejudica ram a m ulher algum a ". A interpelada
l evanta-se mordendo os lábios e retira-se para seu
quarto. Já não l he interessam os vestidos. As pa­
l avras ouvidas, o olhar estranho da filhinha envol­
veram sua alma . Tinha de concordar com o que aca­
bara de ouvir e ver. De fato, já não e ra a mesma ;
era outra : Havia-se afastado de Deus, já começava
a estranhar o marido e a filhinha. Tudo foi uma p e-
Mundo• Entre Berços - 8 1 13
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d rada no exam e dos remorsos. Eles picaram-na.
Nossa dama retoma ao escritório, abraça o m ari­
do e lhe confessa :
- Você tem razão. Já não sou a mesma. Ajude­
m e a ser o que eu era, a ser aquela que você esco­
l heu para espôsa.
Resolvido, Regina. Amanhã vamos juntos pro­
___,.

curar o que enviar aos flagelados. Eles restituíram­


m e minha Regina.
Com as m esmas côres, ou pequenas cambiantes,
estarei contando a história de alguma família ouvinte?

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X

5 5. FILHOS POR S I
Dona Mercedes entra no quarto dos netinhos: Re­
nato de 4 e Dioguinho d e 6 anos. Alegria geral. Que­
rem os pequenos uma história da vovó. O mais nôvo
pede-a ; o mais velho manda contar. A mandada
observa ao pequeno que não se manda, mas se pede.
Pergunta em seguida pela oração da noite.
Nisso entra a nora com o marido. Reclama, pro­
testa contra a oração aconselhada. Diz grosseira­
mente que não quer sejam seus filhos uns beatões
de rezas. Invoca a autoridade do marido, convidan­
do-o a concordar com a p roibição. Cássio, o marido,
é fraco e lhe dá razão com grande espanto da velha
mãe, dona Mercedes. E assim continuava a nora,
aqui e ali, protestando contra orações. Os filhos ti­
nham que valer a si m esmos, tornando-se homens
de iniciativa, independentes do céu . Magoada sem­
pre, dona Mercedes perde a batalha.
Mas depois veio a vida com suas lições. A vovo­
zinha já era falecida quando Renato morreu aos quin­
ze anos, prostrado por m oléstia contagiosa. Sua mãe,
cobardemente, pôs têrmo à vida num desespêro
ímpio. Cássio, o marido, envelheceu aos golpes ines­
perados e lá um dia diz a Diogo, j á rapaz esbelto :
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- Meu filho, minha mãe tinha razão. Devería­
mos ter rezado mais em nossa vida, ficando mais ao
lado de Deus.
- Papai, não fal e bobagens, - retruca o mal­
criadão do m ôço. - Sozinho a gente vence na vida.
Prefiro ficar com o conselho que mamãe nos dava.
Vovó só sabia falar de rezas. A gente enfrenta tudo,
por si mesmo.
Falou e deixou o qua rto e nê:e o pai acabrun hado,
com remorsos na alma. Parecia-lhe ver o olhar de
censuras que recebera da mãe, quando capitulara
à pergunta da falecida espôsa. Por sua vez, Diogo
enfrentou a vida contando só consigo mesmo. Sem
oração, sem Deus. E fracassou tremendamente. U m
belo dia foi parar nas barras d e u m tri bunal, acusa­
do de g raves falcatruas. Condenado, foi enterrar sua
mocidade de vinte e seis anos atrás das grades de
uma prisão.
Família ouvinte, é uma injustiça dizer que não
passa de beato quem cumpre seus deveres para
com Deus, dando-lhe o culto da oração. E' violentar o
programa do batismo na alma dos filhos essa opo­
sição à prática dos deveres religiosos. E pergunto,
esperando por u ma resposta sincera. Merece censu­
ra o filho que dá aos pais a reverência, o amor que
êles m erecem?
Ora Deus é o melhor dos pais, é propriamente o
único Pai.

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5 6. ATITUDE RESPONSAVEL

Não resta dúvida que a atitude dos pais perante


o sacerdote é a responsável pelo conceito da crian­
�a sôbre êste último. Lacordaire era garôto, mas n a
alma s e l h e g ravou o respeito d e seu pai p o r u m
pobre sacerdote, perseguido pelos revolucionários.
Os filhos hão de concluir à vista da reverência pater­
na que o sacerdote é u m homem de Deus. Que é
u m encarregado de recordar o divino, o eterno , a
g raça do Salvador, sua lei e seus mandamentos. Fe­
l izes os lares que sabem lidar com os sacerdotes.
E' claro, não se trata aqui de visitas cheias de ce­
rimônias, ou de algazarra com que se recebe ve­
l ho conhecido da casa. Seja recebido com a respei­
tosa familiaridade que cria um a mbiente agradável
aos pequenos. Certa vez, ao visitar um Educandá­
rio, dei com negrinho detido por indisciplina. De
furioso, parecia uma ferinha. Por êle intercedi, ale­
gando que a criança devia identificar a presença do
padre com a p resença de u m perdão.
U rge lembrar às fam ílias que o sacerdote não é
u m homem como os demais, nem pode nivela r-se
aos leigos em muita coisa, que a êstes não fica mal.
E' sempre representante de uma classe, faz parte
de uma coletividade. Em tôda parte é u m u ng ido,
u m consagrado ao Senhor, um "separado" pelas
mãos do Senhor, escolhido entre os homens. Dizia
Dom Bosco num palácio de Florença : "Deveis sa­
ber que Dom Bosco em tôda parte é e será sempre
padre". Há famílias que gostam de receber a visita
do padre amigo, mas nêle enxergam somente o ho­
mem, o cidadão amigo. Pode até acontecer que u m

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conselho dado por êle, como sacerdote, não sej a
bem recebido.
Isso está errado. Um padre, que entra e sai apenas
como um cidadão am igo, está falhando em sua
missão. Pode ser que com isso esteja apenas tor­
nando aceitável o homem, para depois agir como
m inistro de Deus. Entra pela porta que lhe abrem
e leva os de casa pela porta que escolhe. Sem dú­
vida, neste caso só merece louvor, contanto que não
se lim ite ou impressione com o clima menos favorá­
vel a seu plano.
Quem p ercorre as páginas das perseguições na
Revolução francesa, na guerra à religião no México
e nos países comunistas, fica impressionado com
tantas famílias que souberam agasalhar sacerdotes.
Tudo com risco para seus lares. Diante de tanto
heroísmo, fica muito mal a desculpa dada em vá­
rios casos : não há ninguém da família em casa. Vol­
ta várias vêzes o sacerdote e ouve sempre a mesma
m entira. Pior ainda quando lhe barram a entrada
para algum doente. Pode o médico voltar muitas
vêzes e até acompanhado por outros para uma con­
ferência. Fala-se talvez até de testamento quando a
sua om issão é patente.
Os filhos, porém, não fixam na sua memória a
visita do homem de Deus com os confortos de Deus
para a hora de Deus. Não o quiseram em casa.
Pelo contrário, ficam sabendo que se trata de u m
indesejável perturbador de " nervos" . Não irão mais
tarde repetir a cena? Ou não sentirão revolta con­
tra os pais, caso se aproximem mais de Deus e ha­
jam de reconhecer que na sua família se cometeu
u m êrro, se faltou contra o dever cristão?

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Fa mílias ouvintes, todo dever cumprido é valio­
so elemento de educação. Sobretudo quando o de­
ver vem ungido pela religião com seus sacramentos.

57 HORARIOS DA VIDA
- Santo Padre, seu relógio é m uito primitivo . E'
de níquel, g rande demais e sem enfeite. Vamos tro­
cá-lo pelo meu, que é de ouro com b rilhantes e ou­
tras maravilhas. - Assim dizia rico visitante a Pio
X, o santo de tiara.
- Por nada neste mundo trocarei meu relógio
pelo seu, sr. banqueiro. Sabe de uma coisa? Este
relógio pertenceu a meu pai, marcando-lhe as ho­
ras de seus deveres, religiosamente cumpridos por
muitos anos. Marcou-lhe um dia a hora da morte.
Ficará comigo tal como é, pobre, sem arte, mas
com saudades dependuradas em seus ponteiros. -
Assim falando Pio X guardava séu relógio, sorrindo
amàvelmente para o ofertante da troca.
O pai de José Sarto, nosso Pio X, tinha sido bom
cristão e funcionário modesto sempre fidelíssimo
a seus deveres. O horário do dia era sagrado para
aquêle pai. Mu itos sacrifícios escreveram aqu êles
ponteiros. Agora iriam marcar outros sacrifícios para
o chefe da cristandade. E' sempre assim, pais cris­
tãos. Quando fidelidades humildes e d iárias se p ren­
dem a um objeto, êste torna-se sagrado. O mesmo
acontece a lugares testemunhas de devotam entos
humanos .
Eu lamentaria se, na família ouvinte, o rel ógio
se convertesse em acusador de cada hora e cada

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dia. Seria o caso de desrespeito a seus ponteiros,
quando marcam horas de Deus, horas de trabalho,
horas dos filhos, horas da eternidade. Uma casa
sem horário para Deus acaba não tendo horário para
o próximo. A paz, a harmonia, o carinho, as carida­
des nunca têm hora na vida do casal sem hora _para
Deus. E se os ponteiros só pudessem apontar horas
sinistras, nas quais o dever foi gravemente violado? !
Tenho para mim que numa família cristã o reló­
gio é expressão da vontade de Deus que tudo orde­
na com tempo, medida e pêso certos. Os deveres
têm suas horas ao longo da vida. Quando Luís XIV
morreu, um criado, subindo a uma cadeira, fêz parar
o relógio, que até hoje está marcando a hora em
que desapareceu o rei. E' o que se dá conosco. Quan­
do pára a vida, pára o relógio-tempo de servir a
Deus e lhe fazer as vontades com mérito e prêmio.
Faço uma pergunta à família ouvinte : pode u m
dia legar aos filhos relógio com auréolas q u e os
torne mais p reciosos do que ouro e brilhantes? Se­
rão programas ou meras heranças . . . arcaicas?

5 8. SILE:NCIOS ABENÇOADOS
- Padre, aqui tem o senhor a seringa e a InJe­
ção com que eu pretendia dar cabo de minha vida.
Agora mudei de idéia graças a êstes dias de silên­
cios abençoados no retiro. - Assim falava, com
enérgica atitude, uma pobre desencaminhada e lo­
grada n a vida. Se o corpo sofria de moléstia incurá­
vel, p ior ainda era o estado da alma desprovida de
suas vestes batismais. E por cima a consciência ver-

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rumava-lhe o coração tirando tôda paz e tranqüili­
dade. Daí a resolução daquela senhora infeliz . Caíra
no enrêdo de a mizades perigosas, de modernismos
que tudo taxam de preconceitos superados.
No retiro a graça divina tocara o coração sofre­
dor. Os silêncios da solidão trouxeram bênçãos e
coragens para enfrentar a situação, confessá-la e
abandoná-la . A pecadora encontrou-se com a mi­
sericórdia de Deus, tão convidativa p elas palavras
do pregador.
As famílias ouvintes certamente já ouviram falar
muito em retiros para casais. Uma das muitas formas
de retiros, pregados em lugares bem dispostos para
os interessados. Não sei, entretanto, se a família ou­
vinte já se interessou alguma vez por um retiro es­
piritual. E' bem possível que já tenha sido convida­
da para fazê-lo e haja alegado mil razões para omi­
ti-lo, recusando o convite. Muito eu l amentaria o
caso. Ora tudo tem p reço e dificuldades vencidas
são uma vez o preço das graças de um retiro. Outras
famílias certam ente encontraram as mesmas ou até
maiores dificuldades. Contudo souberam vencê-Ias
ou, melhor ainda, quiseram vencê-las.
O certo m esmo é estudar, quando feito um con­
vite, o modo de contornar as dificuldades. Viagens,
passeios tam bém encontram dificuldades. Mas a fa­
mília, desejosa dêles, sabe como dar um jeito e lá
se toca para seus veraneios . E por que não dar j eito
para um "veraneio da alma", nos " ares saudáveis"
do eterno, do sobrenatural? Dias de retiro são dias
vividos na praia do eterno, sentindo os pés a areia
movediça das coisas e dos bens, dos prazeres e dos
sofrimentos da terra. Mu itos casais, feito o primeiro

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retiro, aprenderam a vencer os empecilhos e retor­
naram a essa p raia do eterno.
E' claro, não conto com seringas e injeções para
suicídios, como motivo para aconselhar um retiro
espiritual. Entretanto se o problema não é êste,
poderá ser outro também pungente e agudo. Justa­
mente os pais, com tantas esferas para atritos e
contusões morais, precisam de confôrto redobrado.
Precisam encontrar-se com o coração de Deus, num
colóquio mais í ntimo, mais pormenorizado. Encon­
tros com o Cristo do Evangelho, sentado à mesa de
um banquete nupcial, à cama de uma menina morta
restituindo-a viva ao pai desolado. Ou então conver­
sando sôbre supostos " maridos" de uma samaritana
pecadora. Ou atendendo ao pai de um possesso,
à mãe que tinha urna filha m uito mal. Ou perdoando
à espôsa infiel. Aí está Cristo olhando para os tra­
balhos de uma dona de casa, que costura, que pre­
para a massa para o fermento, que varre a casa em
busca de uma moeda p erdida, que acende a luz co­
locando-a bem alto para iluminar tudo.
O problema dos fi lhos - vinda ao mundo e edu­
cação - pode ser tratado com êle, que os a braça­
va e acariciava e d izia-os donos do reino do céu.
Lá poderão ouvir que a Cristo recebe quem recebe
um pequeno em nome dêle. Ouvir também a amea­
ça de chorar pelos filhos. Ou então escutar a tremen­
da sentença d e, com pedra ao pescoço, ser atirado
no fundo do mar. E por quê? Por causa de escân­
dalo dado a um pequeno que nêle crê.
Família ouvinte, um pedido: pense e estude corno
remover as dificuldades perante um convite para
o retiro.

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5 9. UM RISCO NA PAREDE,
e logo naquele palácio, era também um risco
no coração de uma mãe. Esta levou na história o
nome de Eugênia Montejo. Numa caçada em Com­
piegne Napoleão 111 lhe d eu a entender que, em bre­
ve, seria a imperatriz dos franceses. Um ano depois
e eis a imperatriz Eugênia. Bela e jovem, sorridente
e feliz, está no seu palácio de Compiegne. Come­
çam as fam osas soirées, brilham fardas, rodam sê­
das. Tudo elegante, num ambiente encantado.
Era a glória . . . Mas veio Sédan e tudo desmorona.
O turista visita êste palácio silencioso e visita tam­
bém o de Liri, onde vinte anos depois de destrona­
da morre Eugênia, ex-imperatriz dos franceses. An­
tes de morrer quis recordar sua glória em Compiegne.
Vai visitar o palácio, onde morou sua fel icidade e
sua beleza deslumbrou. Como mãe, chora ao ver
na parede o risco com que medira a altura de seu
filho de dez anos. Recorda que depois o môço pe­
recera num combate na Africa.
Um dia, em Sevilha, Eugênia morre. Antes de
morrer diz : " Estou cansada. E' hora de ir-me
embora"
Tôda mãe pode apontar para detalhes que recor­
dam dias de seus filhos. Um risco m edindo-lhes o
tamanho num canto da casa, um brinquedo quebra­
do, um ramo de árvore, um retrato. Qualquer coisa,
enfim. E atrás de tudo espreita-a um sofrimento.
Por onde passou um filho na vida, tôda mãe colhe
um espinho de sofrimento. Sua sorte é essa : can­
sa r-se por êles e depois desejar ir-se embora.

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Feliz a mãe que em tôda parte risca seu dever,
cumprindo-o. Ou então recorda o cumprimento
de um dever, onde recorda um filho. Mais feliz
contudo aquela que, em tôda parte, com riscos o u
sem riscos medindo alturas, coloca Deus e sua von­
tade. Pois assim em tôda parte achará um consola ­
dor. Também na educação e formação dos fil hos.
Nunca me foi possível entender como possa a mãe
viver sem Deus. Educar sem Deus, orientar os filhos
sem Deus? Pois não são êles, primeiramente, filhos
de Deus?
Tudo que não vem de Deus não deixa Deus na
vida e na alma dos filhos.
- Foi aqui que meu fil ho ajoelhava-se para rezar.
Foi esta a imagem que êle venerava. Foi esta a igreja
que freqüentava . . .
Sem dúvida, belas recordações para tôda mãe
cristã, ciente do tesouro que recebeu dos céus, com
o nascimento dos filhos.

60. ETERNIDADE, PRIMEIRO


Um cartão tarjado de prêto, com letra tremida
de mãe dando notícia da morte do jovem filho,
assim dizia :
"Com viva e contínua dor participo-lhe que nosso
querido Max tombou num combate perto de Moreuil,
l evando uma bala na cabeça, às 9 horas da noite.
Teve morte instantânea. Apenas seis semanas na
guerra e já é um morto, em plena mocidade! Terá
Max acertado com sua feliz eternidade . . . ?"

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Nestas linhas a pobre mãe revelou sua alma cristã,
preocupada com a "vida eterna" do filho, ceifado
tão môço e tão promissor. Conh eci-o menino no
seminário e depois môço fardado, quando uma tar­
de p rocurava a confissão. No meio de uma dor l e­
gítima, a cristã pergunta pela eternidade feliz do
pranteado. A alma está despedaçada pela morte
cruel num com bate e angustiada pelo acêrto da ou­
tra vida.
Família ouvinte, de fato a maior preocupação dos
pais, com mentalidade cristã, há de ser sempre a
vida do século vindouro e eterno. Aqui a vida pode
durar muito ou pouco tempo. Pode ter um desfe­
cho comum e tranqüilo ou pode tê-lo violento e
doloroso, como o caso dêste pobre môço. Mas a
Igreja sustenta que na morte "não se tira, mas se
troca" uma vida por outra. E' sem dúvida vida fra­
cassada tôda aquela que termina numa eternidade
fracassada. D e onde se segue que tudo farão os
pais para que, por parte dêles ao menos, tudo con­
duza a feliz eternidade.
Em nossas famílias falta muita compreensão por
esta verdade. Os problemas familiares, vocacionais,
sociais são resolvidos na base do temporal e passa­
geiro. Muitas vêzes é patente o risco para a perdi­
ção eterna dos filhos. Outros preocupam-se com tal
evidência, avisam, imploram. Tudo em vão. As van­
tagens passageiras vencem na solução. Eu quisera
que a família ouvinte pensasse de m odo diferente.
Assim prepararia os fil hos para a passagem da
casa paterna, pela morte, para a casa do melhor
dos pais - Deus. Naturalmente tal programa es­
corraça o outro tão preferido de gôzo imediato, d e
visão tôda terrestre. Tem preço e t e m rotas certas,

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digo reclama renúncias, exige obediência à vonta­
de divina. Contudo fica valendo para todos os tem­
pos a afirmação de S. Paulo, quando diz que a fe­
licidade da outra vida fica muito acima dos sacri­
fícios desta vida. Nunca se paga preço alto demais
por ela. Entre uma e outra há enorme desproporção .
P i o X I I queixava-se d a visão por demais terrena
nos homens de hoje. Permitam os céus que tal quei­
xa não valha a teu respeito, família ouvinte. Cristo
quer se procure primeiro o reino do céu e o resto
depois. Tão grande é a diferença entre u m e outro !
Reino um, resto o outro. Não m erece o nome de
amor a mentalidade dos pais que colocam nas mãos
dos filhos, em vez de um reino, um resto. E' claro,
para tais visões urge andar viva a luz da fé. Só com
os olhos da face ninguém dá com êsses horizontes
encantados e . próximos. Tão p róximos que, fe­
chados os olhos pela morte, êles são vistos imedia­
tamente pelo filho que deixa o mundo.
Afinal de contas foram criados, remidos, batizados,
confiados aos pais para o eterno, para a outra vida.
Colombo, das praias da Europa, parecia enxergar
"outra terra", nossa América. Armou caravelas e
veio descobri-la. E' assim que teus filhos andarão
na vida : vendo sempre "outra terra" . Desejando-a
e merecendo-a para maior glória do berço que os
embalou .

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XI

61. BE:NÇAO OU MASCOTE?


Em muitas casas, m esmo quando l evam os no­
mes de apartamentos, palacetes, etc., não faltam
objetos que traduzem a m entalidade supersticiosa
de seus inquilinos ou donos. Entretanto todo cató­
lico sabe m u ito bem, quando medianamente ins­
truído, a diferença que há entre mascotes e bênçãos
rituais. Há lugares onde as famílias se lembram
dessa bênção e pedem-na ao sacerdote.
Certa vez u m grupo de famílias resolveu pedir
uma bênção p ara suas casas. Veio o padre, benzeu­
as e abençoou no fim os moradores de tôdas. Coisa
curiosa ! Vizinhos das casas abençoadas, moravam
vários protestantes. Indagaram interessadamente sô­
bre o que viera fazer o sacerdote nas casas. Sabendo
d a verdade foram, com tôda a simplicidade, pedir
a mesma bênção para suas moradias. Com prazer
atendeu-os o rogado.
Sem dúvid a deram uma lição a muita fa mília ca­
tólica relaxada no uso dos sacramentais. Muito lu­
crariam as famílias seguindo tal costume. O que a
Igreja benze fica realmente abençoado. Nas ora­
ções que pronuncia ela pede muitas graças para os
moradores das casas. Pede ventura, paz, felicidade,

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a presença dos anjos naquela morada. Implora tudo
com muita insistência, pelos méritos de nosso Re­
dentor Jesus Cristo. A água benta onde cai leva por
sua vez os rogos com que a Igreja acompanhou sua
bênção, mistu rando-a com u m pouco de sal.
Qu e vale mais, pergunto : a bênção ou a mascote?
Que bênção pode trazer uma ferradura, ou uma
outra tol ice qualquer à porta? Traduz apenas a i gno­
rância religiosa dos donos da casa, ou a sua supers­
tição caudatária de usos errados. Ao contrário, com
a bênçã0 ritual da Igreja entram de fato no local
proteções para o corpo e p ara a alma. Infelizmente
é assim a seqüência dos fatos. Quando a fé sai pela
porta a superstição salta pela janela adentro. O
pior é o menosprêzo dos supersticiosos para com
os que preferem bênçãos a mascotes .
Por isso, pergunto à família ouvinte e espero res­
posta: já pediu a bênção para sua casa? Se não o
fêz, faça-o quanto antes. E' um pedido que dirijo
aos lares cristãos. Que mandem pedir a paz, a saú­
de, a pureza, a prosperidade, o bem-estar na ·com­
panhia de Deus e seus anjos. U rge retornar a êsse
costu me cristão. Digo mais. Que a família ouvin­
te seja apóstola dêsse uso, aconselhando-o às fa­
mílias de suas relações. Para que a conselhar às ami­
gas sàmente receitas para a mesa, remédios para
dores e doenças, lojas para as compras, lugares para
passeios? Vamos aconselhar também o que vem
de Deus.

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62. MESA E' ALTAR
Estamos nu m casamento de ricos camponeses na
Suíça. Em seus lares a fartura foi sempre inquilina
satisfeita. Os alimentos são atirados pela j anela, sob
risadas e aplausos. O chão está forrado de pão es­
banjado, calcado aos pés como tapête original. Al­
guém repara em tanto desperdício e reclama: " Não
se deve proceder assim com a bênção de Deus!" -
A isso retruca o noivo muito rebolão de suas moedas :
- Eu não preciso pedir o pão de cada dia. Meus
campos garantem-no e m eus depósitos bancários
escoram qualquer transtôrno que surgir.
Os céus escutaram o desafio sete anos depois. Veio
uma fome nunca vista em 1 81 7, porque os campos
ressecados não apresentaram seus frutos. Nosso
blasfemador perdeu seus haveres e, i ndo de casa
e m casa, pedia algo para comer. E antes de comer
seu pão, rezava outra vez o seu "pão nosso de cada
dia nos dai hoje" Estava curado e passou para a
história .
Não sei s e nos lares q u e m e ouvem é praxe ge­
ral o respeito pela bênção de Deus, que é o pão sô­
bre a mesa. Muitas famílias já larga ra m o costume
da oração antes e depois das refeiç.ões. A mesa se
sentam como ingratos e d ela se levantam mais in­
gratos ainda. Não mostram pelo h ábito que reco­
nhecem a procedência do pão que vão comer. Há
países onde a gente, simples e firme na fé, traça
um sinal da cruz sôbre o p rimeiro pedaço de pão
que leva à bôca. Nosso pão rezado . . por onde
.

andará?
Mundos Entre Berços - 9
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Ora a mesa é para u m cristão outro altar, sôbre
o qual toma seu alimento com alma grata, oferece
seu sacrifício com alguma mortificação. Pio XII lem­
bra aos casais "o lugarzinho" de Deus, sempre co­
berto e com seu prato . Nesse p rato é colocada a
porção destinada ao p rimeiro faminto que bater à
porta. O número dos que morrem de fome pelo
mundo afora é apavorante, a começar por nossas
cidades. Como pode uma família cristã viver des­
lembrada de tal realidade? Pior ainda. Como pode
fartar-se indiferente à lei do amparo, ao imperati­
vo divino que manda repartir o pão com o i rmão
pobre?
Tudo isso é desrespeito ao pão que, voltando to­
dos os dias à mesa, representa um carinho de Deus.
O que eu estranho nisso tudo é o n exo dos erros.
Não se reza perante o pão e depois se sonega ao
necessitado. Para mim sonegar não se limita à re­
cusa dada a um pedinte eventual, mas estende-se
ao esquecimento, ao desinterêsse generalizado como
se não existissem necessitados pelo mundo. Impres­
siona recordar que Cristo nos avisou sôbre sua pre­
sença faminta, sedenta ao longo d a história do mun­
do. Várias vêzes contou-me u m colega alemão u m a
cena de s u a infância, na pátria ocupada p o r tropas
inimigas. A mesa da família sentavam-se oficiais
h ospedados na casa. De um lado, êles com a fartura
e do outro lado a pobre viúva com os fil hos famintos
e p obres alimentos. Muitas vêzes os ocupantes, to­
cados de pena, passavam seus alimentos melhores
e abundantes para o outro lado da "fronteira" ape­
sar da proibição. Ora, família ouvinte, em tua m esa
não há fronteira visível. Mas para um coração cris­
tão as invisíveis batem-lhe à porta.

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- Padre, rezo assim, dizia-me uma menina : " Pai
do céu, obrigado pelo pão e dai-o aos que passam
fome" Eis nessas palavras uma floração do batismo.

63. UMA ALEGRIA ROU BADA


O ritmo acelerado da vida tirou aos homens de
hoj e a alegria do tempo. Fomos rou bados. Ninguém
é rico em tempo, ou pelo m enos vive sob a angús­
tia de não ter tempo . Nossos avós liam livros, escre­
viam seus diários e nós mal ouvimos uma notícia de
rádio, ou lemos os títulos das notícias. Cartas são
escritas em estilo telegráfico. Não se tem tempo
para a família. Menos ainda para as crianças, para
l hes contar histórias de fadas.
O vizinho, o próximo, o hóspede entram na falta
de tempo. Piora o caso, quando até para si próprio
o homem não tem tempo. Por fim, Deus não encon­
tra tempo na vida de tantos. A própria alma, com
seus problemas, não tem vaga para expor-se. O ho­
mem tem pressa demais para encontrar-se consigo
mesmo.
Entretanto faria tão bem a família ter tempo para
si, para os filhos, para o próximo. Imensam ente
bem rodarem os ponteiros das ,horas, encontrando
a Deus. Não temos tanta coisa para agra decer, pe­
dir, oferecer ao Senhor? A criança ensinamos agra­
. decer um doce e nós, g randes, ficamos desag rade­
Idos perante dádivas riquíssimas dos céus. Falta de
tempo? Ora, como é vazia a vida quando não se
tem tempo para o Pai, que está nos esplendores
da luz !
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Vivemos na época do jato. No a r, nos mares, sô­
bre o solo e estradas voamos, disparamos. Em pou­
cas horas podem encontrar-se homens de long ín­
quos continentes. Mas será de fato um encontro,
com o natural enriquecimento do sentimento hu­
mano? Não. Nunca estiveram mais ausentes os povos
e os indivíduos do que agora. O tempo que a má­
quina nos poupa, só serve para outras pressas.
Contudo, família ouvinte, quem negará que tudo
isso depende de cada um de nós?
E aqui explico a afirmação. O valor de nossa vida
não depende, contudo, do tempo. Depende da nossa
atitude interna perante o tempo. Logo também da
nossa vontade, do nosso coração. Podemos d ividir
o tempo em outros tantos devotamentos, de acôrdo
com o assunto que o ocupa. Para um cristão todo
tempo é de Deus, cuja vontade marca horários e
deveres da vocação ou da profissão. Há folgas de
tempo e há avarentos dessas folgas. Nunca as co­
n hecem para outros que necessitam de nosso tempo.
Por conseguinte, importa educar os filhos no res­
peito ao tempo, que tem de ser repartido com Deus,
com os deveres e com o próximo. Permitir que mas­
sacrem ou profanem o tempo é êrro e pecado, tam­
bém social .

64 O EFE:MERO E O ETERNO

Em Moscou celebravam-se os 40 anos da revolu­


ção comunista. Muita exibição, com desfile sem fim
das armas, das classes, da bomba atômica. A tarde
mais festejos. A noite fogos de artifício. Como re-

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m ate de tudo um enorme retrato de Lenine, do
esputnik. Tudo preparando a instalação do paraíso
que os comunistas p rometem para o futuro, en­
quanto convertem o presente num inferno para os
homens. No meio do p ovo está um repórter ociden­
tal. Entalado na massa tem a seu lado um russo des­
conhecido a quem pergunta :
- Então, camarada, que achas dêsses retratos,
de tudo isso, da política?
- Olhe, - responde sorrindo o i nterpelado, ve­
nha fazer-me uma visita e verá. Em o nosso quarto
de dormir está dependurado u m quadro de Nossa
Senhora . Está no mesmo lugar em que o deixa­
ram nossos avós. Do outro lado da parede estava
primeiro o paizinho czar. Depois veio Lenine. Isso
foi no tempo em que acreditávamos no paraíso pro­
metido. Foi uma ilusão, porque veio o contrário.
Saiu o quadro de Lenine, dando lugar ao de Sta lin.
Depois dêle vieram três de uma vez. E já houve
mais uma mudança entre êles. Só o quadro da San­
tíssima Virgem é que ficou sempre no mesmo lu-
gar Deus conserve-nos a paz, camarada.
Assim terminou o homem do povo. Suas palavras
revelam muita sabedoria. As mudanças ati ngem ape­
nas os homens. Deus, o d ivino, o sobrenatural, o
eterno não se mudam. Há u m verso alemão que diz :
cada época com outros homens e êstes com outros
deuses, mas só um fica sempre o mesmo: Deus.
Nosso saudoso D. José Afonseca, falando a jubila­
res da Academia de Direito nesta capita l , lembrou
a m esma verdade. Naquela data deviam êles cons­
tatar muitas mudanças no p rédio e aulas da Acade­
mia. Mas ao lado encontravam a m esma igreja de
25 anos atrás, a de S. Francisco. No caso deviam

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reconhecer u m simbolismo. O que vem de Deus du­
ra e resiste ao tempo. O que vem dos homens, de
seus erros e paixões passa. Tal como uma onda na
praia é apagada por outra.
Família ouvinte, daí surge uma i mperiosidade, di­
go a de gravar nas almas dos filhos, nos hábitos do
lar o que fica e não é efêmero : Deus e seus d i reitos.
Podemos chamar de vertical a educação que inten­
ciona tal visão . Ficando apenas horizontal, esten­
dida sôbre a terra e o tempo, a educação é falha,
pobre, movediça como as areias de nossas p raias.
E hoje a tendência é conhecida demais : perder de
vista o eterno, trocando-o pelo efêmero.

65. PÃO NO CHÃO


Na entrada de u m a cidade rapazes jogam futebol.
Gritos e assobios de companheiros na bancada ani­
mam o jôgo. Depois vem uma pausa para a meren­
da. Abre um mocinho o seu sanduíche. Analisados
o pão e a fatia de queijo, mostra-os aos companhei­
ros, oferecendo o que lhe repugnava comer. N u m
lance atira o p ã o à lata de l ixo, sob as risadas de
todos.
Mas um senhor, arrastando u ma perna de pau,
retira do lixo o pão e diz ao mocinho que o leve para
casa . Ajunta u m pedido : que o não atirasse fora.
Nosso jovem recebe o pão, atira-o para o ar, ca­
beceia e torna j ogá-lo para dentro da lata de l ixo.
Um aplauso dos companheiros soa-lhe como re­
compensa. Nisso aquêle senhor idoso empalidece e,
antes de alguém o entender, assenta uma estralada

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tapona no ouvido do mocinho. Há um reboliço entre
os rapazes. Mas o perneta agarra o faltoso pelo pei­
to, puxa-o para perto de si, censurando-o severa­
m ente.
- Rapazola, tom e nota desta l ição ! O que você
acaba de fazer merece oito anos de p risão na Sibé­
ria, onde a fome rói as entranhas e a sujeira devora
a gente ainda viva. Então lá vem um compassivo
russo e, às ocultas, dá ao prêso um p edaço de seu
pão. Do seu pão, ouviu, rapaz? Pão que traz o cheiro
do trigo, do sol da pátria. E então você começa a
chorar como uma criança pequena.
O homem solta o culpado, passa a mão pelos ca­
belos, olhos perdidos na distância, como que re­
vendo cenas passadas. Continua depois com firmeza :
- Mas onde pode você aprender isso? Seus pais
devem sabê-lo e deveriam ensinar-lhe respeito por
um pedaço de pão e, se preciso, auxiliados por u ns
bons tapas. E:.les . . . , êles, porém, j á se esqueceram
de tudo, da guerra, da fome . . . Tudo esquecido .
Isto dizendo, o mutilado foi se afastando, sacudin­
do a cabeça. Os rapazes olham-se envergonhados.
Apenas uma mulher comenta, dando razão ao mu­
tilado de guerra : "E:.le tem razão, pobre mutilado e
prisioneiro a p assar fom e na Sibéria. O pão é santo.
Cristo benzeu-o e partiu-o".
Famílias que me ouvis, não preciso comentar êste
fato verídico. Sirva apenas para um exame. Ainda
estou vendo na calçada, em frente a u m prédio de
apartamento, pãezinhos bons e frescos, atirados
numa lata de lixo. Quem os atirou não teve lembran­
ça dos pobres, dos fam intos?
Orione foi u m grande sacerdote, amigo dos peque­
nos famintos. Levantou para êles prédios, escolas,

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asilos. Mas sempre exigia de todos respeito pelo
pão. Até de seus congregados sacerdotes. E por
quê? Porque e m casa, voltando exausto da dura
colheita do trigo, a mãe lhe punha n o coração res­
peito e amor pelo pão, fruto de tanto trabal ho .
Pois bem. U m ex-comunista e escritor, viaj ando
na companhia de um congregado de Orione, notou
como o padre recolhia a sobra do pão, no fim d a
refeição. Perguntado, respondeu q u e êsse era o cos­
tume dos filhos de Dom Orione.
Em vossos lares, famílias, há respeito pelo pão?

6 6. NÃO GOSTO DE VER-TE


assim, mãezinha, dizia piedosa menina, arrepa­
nhando os decotes no vestido materno. A própria
mãe da santa menina conta-nos o fato, ao mesmo
tempo instrutivo. Por entre carinhosa e escandali­
zada, a pequena corrigia uma exibição condenável.
Nas portas das igrejas pode-se ler com freqüên­
cia a frase de uma carta de Pio XII: "Os direitos da
alma estão acima dos direitos da moda". Não será
tempo perdido repeti-la em casa, ou mandar escre­
vê-la nos guarda-roupas das filhas. Nada de relati­
vidade do pudor. Um no i nverno, outro no verão.
Um na cidade, outro nos salões, nas praias. Tôda
família que não vive na lua sabe m Ü ito bem do
plano destruidor: acabar com o pudor, perverter a
mulher, torná-la insensível ao perigo para corromper
a sociedade.
Ora, dar auxílio a tal p lano é trair a religião e a
Igreja. Nem entendo como ainda se tenha de andar

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provando tudo isso a mães, que são responsáveis
pela conduta dos filhos. Não é de hoj e que a Igre­
ja vive alarmando as consciências. Aos maridos Pio
XII recorda que também êles não podem nem de­
vem vestir suas espôsas de modo inconveniente e
exibi-las em salões, a pretêxto de que são senhoras
casadas. O casamento não dispensa o pudor, nem
garante contra infidelidades do espírito, do coração
e do corpo. Bem pode estas aparecer na aproximação
indevida de um fraco ou perverso, provocado pela
falta de pudor da espôsa mal vestida.
Mais ainda. Como i rá ter delicadeza e intuições
de pudor, com respeito às filhas, a mãe que não
se respeita no trajar? Não adianta a legar posição
social. Nossa primeira e mais fidalga posição é a
filiação divina, adquirida no batismo pela g raça.
Terá autoridade moral para impor quem fôr re­
missa em dar exemplo de recato? Nossa menina,
com sua alma delicada, tinha visão dos puros. Olhos
puros enxergam melhor, notam mais depressa a
ronda do mal.
Logo, mães que m e ouvis, anotai m eu pedido
e meu eviso: respeitai o pudor em vossas filhas, res­
peitando-o em vós m esmas ! Poderá isso exigir o
sacrifício. Mas não é a educação moral um n ôvo
parto com novas dores? Quando se educou para
vida, sem sacrifícios? Dor é renúncia de algo que n os
agrada e adula. Penso que uma revisão nos vesti­
dos poderia ser bem indicada para mais de u m a fa­
mília ouvinte. Deus, no dia das contas, saberá do
corte de todos os vestidos. Se não forem de seu agra­
do, irá revestir de glória o corpo ressuscitado? Não.

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XII

67 SEM VISTAS PARA AS FLORES

O homem que não vê as flôres tem ausência de


sentidos para o belo. Um homem que não tem co­
ração para crianças padece de uma fal ha. Muita
falha. Ninguém sentirá um clima cálido e agasalha­
dor perto dêle. Congelou-se nêle a dureza, o mau
humor. Há d e ser homem fechado, alheio ao am­
biente.
Ora, quem se desgosta de crianças não terá von­
tade de voltar à infância, reclamada por Deus para
a posse do paraíso. A criança é chegada, é acarician­
te, é confiada, pronta para dar-se a outros. Apesar
de seus atrevimentos e más-criações não carrega fal­
tas grandes, g raves. E' um mistério. Certamente não
era amigo de crianças quem escreveu : "Mais amigo
torno-me de u m cão, quanto mais convivo com os
h omens"
Mesmo na era do jato e dos arranha-céus os olhos
azuis ou negros de uma criança abrem horizontes
encantadores. E a p rova temos num fato inegável
que exponho. Quando os grandes - em tamanho,
profissão, capacidade e renome - tomam-se o tem­
po de entreter-se com uma criança, ajudando-a num
brinquedo, voltam risonhos à infância passada. Uma
ternura hu mana i nvade-lhes a alma. Saudades de
mundos perdidos saem da alma.

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Matias Claudius foi u m grande sábio, jurista , h is­
toriador e p oeta. Numa poesia, das mais belas q u e
escreveu, n ã o pede a Deus riquezas, renome. Ape­
nas a graça de i mitar o que dia a dia estava contem­
plando em seus doze filhos - eis o que implora.
" Fezei-me, Senhor, simples e sem dobras. Qu e se­
jamos aqui na terra piedosos e risonhos como as
crianças"
Família ouvinte, de certo em teu lar há flôres
nos jardins e nos berços. Suponho que pai e mãe
tenham olhos para ambas as flôres. Digo mais. Con­
to com o realidade o tempo que têm para as crianças.
Seria lamentável falha, prej udicial ao coração hu­
mano dos pais, banir a criança para longe. Falha,
repito, entregá-la mais aos cu idados de babás. N u m a
sala podem pequenos entreter-se com seus planos,
que são chamados de brinquedos. Podem ao mesmo
tempo os grandes tratar de seus brinquedos, aos
quais chamam de negócios. Uma alma mais singela,
mais lembrada da infância saberia ficar sempre na
apreciação certa das preocupações.
A certo pai, que m uito cu idava de seu automó­
vel, com abandono da convivência com os filhos,
perguntou u m dêles :
- Papai, por que o sr. não se entretém com
mamãe e conosco?
- Porque tenho de tratar de meu caro automó­
vel, filho. Representa um capital.
- E nós não somos um capital, papai?
Aí está, família ouvinte. Na sua simplicidade o
pequeno recordou uma grande verdade. Não há
capital que valha mais do que o humano, com as
riquezas do coração e da inteligência. E mais ainda

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com os destinos eternos e mensagens que recebe­
ram de Deus.
No jardim, as flôres despercebidas acusam u m a
ausência, a inda tolerável. Mas n o lar tal ausência
de visão para a flor humana é uma i nfelicidade.
Ao meu lado, enquanto escrevo, tenho um qua­
d rinho, mostrando-me u m nenê, olhando-me de seu
fôfo bercinho. Seus olhos perguntam-me se eu o
estou vendo e apreciando. Digo-lhe que sim e muito.

6 S.. CORES DESAPARECIDAS


O cenário é uma loja de sapatos, com uma se­
nhora tropeçando na escada, uma bôlsa abrindo-se
e dinheiro caindo no chão. Depressa um menino
abaixa-se, recolhe as notas, passa-as à mão da se­
nhora reconhecida. Depois a cena é outra. Sai a
sen hora e nosso pequeno cavalhei ro a o tirar o len­
ço do bôlso deixa cair uma nota novinha e dobradi­
nha de dez m a rcos. Ligeiro estende a mão para p e­
gá-la. Mas depressa o lojista agarra-o, exclamando :
- Então, meu ladrãozinho, guardou para você
esta bonita nota, hein?
Corando, retruca o m enino que não era l adrão,
mas só para ouvir o irônico comentário d e ser essa
a linguagem de todos os gatunos. Então emperti­
ga-se e de faces vermelhas responde:
- Posso j urar a verdade do que digo. Ganhei êste
dinheiro fazendo a limpeza no pátio de u ma pada­
ria, ali da esquina. O padeiro pode informar. Traba­
lhei muitas horas para merecê-lo. Com êle quero
comprar u m par de sapatos para minha mãe, que
amanhã faz anos. Não sou ladrão.
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O lojista emudeceu, puxou para si o menino, abra­
çando-o. Beija-lhe a testa, comovido, arrependido
por ter feito mau juízo de um filho dedicado. Corou
também de vergonha pel a injustiça praticada, pro­
curando repará-la, ali mesmo.
Família ouvinte, abençoados os que ainda sabem
corar de vergonha por causa de um êrro moral.
Há m uita gente que avermelha as faces quando
falta a esta ou àquela norma de u rbanidade, de
protocolo numa reunião. Mas não cora por causa
de u m vestido indecente, de conversa imoral. A ver­
gonha cultiva-se e também se perde. Ninguém terá
coragem de dizer que há sobra de vergonha, hoje,
na vida doméstica, social, política, religiosa e eco­
nômica.
As côres da vergonha estão desaparecendo até
dentro dos lares. Haja vista a sem-cerimônia dos tra­
j es mesmo entre irmãos e irmãs, sob pretêxto de
que estão em casa. Certa doméstica afirmou-me re­
tirar-se de uma casa, porque não podia ver como
andavam pelas salas as môças da família. Nem fal­
tam também as revistas que, para serem l idas e olha­
das, supõem de antemão o desapareci m ento das cô­
res da vergonha. Um filósofo pagão, ao notar como
certo jovem corava perante umas conversas, elo­
giou-o por " ainda ter no rosto as côres da virtude".
Os vestidos podem variar de côres segundo a
moda caprichosa e suas donas ainda m a is capricho­
sas. Mas a virtude não varia de côr. O pudor não
suporta côres desaparecida!>.

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6 9. ESTÃ0 MAIS PERT O DE DEU S
as nossas crianças, com as suas almas na gra­
ça santificante, seus sonhos mais orvalhados do
céu, seus desejos mais puros, i nocentes e suas
palavras como ecos d o sobrenatural. A criança en­
sina o ambiente onde vive. Vamos a uma compro­
vação do que digo.
Era na vizinhança de Ferrara, na Itália, onde numa
noite as águas de tremenda enchente do rio Pó le­
vavam tudo de roldão, rompida certa comporta.
Atingem a casa de u m lavrador, Malcantone, u m
pouco a cavalheiro d o rio. Arrastam consigo uma
caminha onde dormiam duas crianças, Antônio e
Antonieta. Quando acordaram já estava disparando
com a correnteza das águas enfurecidas por as ha­
verem fechado na comporta. Não tarda e o leito
prende-se nuns galhos de árvore que rodara. A
êles agarram-se os pequenos e gritam, sem serem
ouvidos. Amanhece o dia e os gritos repetem-se em
vão em meio da neblina. Antônio anima a i rmãzi­
nha a não ceder ao sono e a esperar pelo Anjo de
asa branca que virá socorrê-los. Tardava em vir,
porque estava socorrendo outras crianças que " não
tinham galho de árvore" que as segurassem.
O pequeno falou a verdade. Não tardou e na for­
ma de um soldado pontoneiro, que com seu barco
procu rava os náufragos, o Anjo apareceu para l i­
bertar os pequenos. Já antes providenciara a árvo­
re como amparo. Providências como esta repetem­
se diàriamente na vida dos pequenos. A Igreja en­
sina esta verdade tão consoladora para os pais. O
próprio Papa João XXII I , de tão saudosa e edifican-

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te memória, lembrou a devoção dos recados pelos
Anjos.
Por isso pergunto às famílias ouvintes qual a cau­
sa de se omitirem, com tanta freqüência nesta fé
e neste recurso com relação aos Anjos? Hoj e q u e
o s perigos morais e físicos formam tremenda cons­
piração contra grandes e pequenos, como deixar de
lado os Anjos de Deus? Morrem êles com nossa
infância? Muito eu lamentaria também se, em vez
de Anjos, andassem as famílias contando com amu­
l etos, mascotes para proteção dos filhos. Na bên­
ção das casas a Igreja pede ao Senhor que faça dela
uma morada dos Anjos, para a proteção de quantos
a habitam. Benzer as casas é muito mais inteligente
e cristão, do que querer defendê-las com ferraduras
e outras superstições.
Nas ruas os autos, nas paredes os cartazes, às
portas dos cinemas os convites com exibições de
cenas imorais, - isso tudo não é perigo para a
vida do corpo e da alma? Os Anjos são contra am­
bos os perigos. Seus desvelos têm braços mais lon­
gos e poderosos do que os da família.

70. NO SEU APOGEU


Pio XII mencionou um apogeu perigoso para a de­
cantada técnica. Hoje ela invadiu os lares, nas vá­
rias formas de utilidades e recreios. Transformou-se
de fato num grave perigo espi ritual, para grandes e
pequenos. Dá ao homem moderno, inclinado dian­
te de seu altar, u m sentido de auto-suficiência, de
satisfação plena das duas aspirações de conheci-

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mento e poder, sem limites. Daí a exclamação vaido­
sa : " Como é grande o homem !"
O emprêgo múltiplo, a absoluta confiança que
suscita a técnica, o mundo que promete, desenvol­
ve em tôrno do homem contemporâneo vastíssima
visão. E esta leva muita gente a confu ndi-lo com o
próprio infinito. O homem é senhor, é dono absoluto,
faz o que quer da natureza. E' um gigante, é infinito.
Logo o homem é também autônomo. N inguém pode
dar-lhe ordens. Está criada a idéia errada da vida e do
mundo. O nome para tal êrro é "o espírito técnico".
Mas em que consiste êsse espírito, família ouvin­
te? Consiste em achar a gente que o mais alto va­
lor humano da vida está em tirar o maior proveito
das fôrças e dos elementos da natureza. De valor
extraordinário é então o homem que inventa, fa­
brica uma máquina. Quanto mais progresso nes­
sas invenções, dizem m u itos, tanto maior a cultura,
tanto maior a felicidade terrena.
Pio XII diz que é antes de tudo um êrro fundamen­
tal visionar assim o mundo e a vida. Quem chega
ao alto de uma montanha vê, por exemplo, o pano­
rama vasto que se abre a seus olhos. A primeira
vista parece sem limites. Mas não passa de u m pa­
norama parcial. Os olhos não passam de certos
horizontes. Assim também com a paisagem que a
técnica desvenda aos olhos do homem moderno.
Por m·a is extensa que seja, é sempre parcial sua vi­
são da vida no con_j unto da real idade. Pois mostra
apenas as relações da técnica com a matéria. Neste
mundo, porém, nem tudo é matéria, pedra, mon­
tanha, água, energia elétrica, distância e estrada.
Sem dúvida, o panorama é alucinante para o h o­
mem demasiado crédu l o na imensidade e onipo-
Mundos Entre Berços - 10
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tência da técnica. Vastíssima é a p n sao, mas limi­
tada. Com o tempo torna-se insuportável ao ge­
nuíno espírito humano. Uma cidade, u m pa ís onde se
encerrasse um homem, por grandes que fôssem, sem­
pre seriam só uma parte do mundo. A técnica é ape­
nas uma região da atividade e do espírito humano.
Viver só numa região de atividade não limitará
porventura o horizonte? Afirma-o Pio XII, d izendo :
" O olhar, bem longe de prolongar-se através da rea­
lidade infinita - que não é só matéria - sentir­
se-á oprimido pelas barreiras que esta necessàriamen­
te lhe opõe. Eis a fonte da oculta angústia do homem
de hoje, tornado cego por se ter voluntàriamente
cercado de trevas"
Insisto : a técnica por si só não leva a renegar os
valores religiosos, por fôrça de lógica. Bem pode o
homem concluir de suas descobertas a sabedoria
de quem lhe deu inteligência e tudo ordenou em
pêso e medida neste mundo. O perigo está na pres­
sa da máquina que passa para o homem. Hoje te­
mos o homem atropelado. Lá diz um brocardo orien­
tal : A pressa foi inventada pelo diabo.
A técnica invadiu os espaços com seus fogue­
tes e satélites. Se em teu lar, família ouvinte, alguém
a decantar celebrando a inteligência hu mana, já sa­
bes como pensar e avaliar sua realidade.

71. DEUS DESAFIADO


Não foi um desafio irreverente. Um casal de noivos,
em Vlissingen, na Holanda, resolveu levar um noiva­
do bem puro. Combinaram um desafio : que Deus

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l hes tirasse o primeiro filho, no caso de uma viola­
ção do prometido. Nasceu o garôto, forte, olhos azuis,
louro e com muita vontade de vi..fer. Deus, contudo,
aceitou o desafio dos pais, premiando-lhes a pureza.
Chamou para seu serviço, como padre, o filho do
casal. Em 1 936 os pais viram aquêle filho celebrando,
por entre flôres e festas, sua primeira missa-nova.
Família ouvinte, toco num capítulo muito sério:
o noivado dos filhos! E' problema g ravíssim o para
pais cristãos. A pureza há de ser a primeira condi­
ção em todo noivado. Contra ela conspi ram a efer­
vescência da idade, as imprudências e leviandades
da época, para não dizer a libertinagem do tempo.
Os princípios modernos são imorais neste ponto.
Em muitos lares, moços e môças têm-se em conta
de ingênuos, quando não avançam l iberdades proi­
bidas.
Não adianta alegar que muitos fazem o m esmo.
O dever é pessoal e individual. Não admite desculpas
com o êrro dos outros. Ninguém a lega que pode
manchar suas vestes, só porque há outros que an­
dam com manchas em seus trajes. Por que então,
na ordem moral, usar de tal sofisma? Por isso,
pais, muita vigilância e i nsistências cordiais no
assunto.
Há outra coisa, ainda. Ao lado dos conselhos, re­
corram os pais à oração. Hão de rezar pelos filhos
que navegam em mares tempestuados. Fazem isso
quando doenças graves põem em risco as vidas dos
seus. O noivado é " moléstia grave" na ordem mo­
ral. E doença necessá ria, mas sem deixar de ser peri­
g osíssima. - Quando as liberdades acabam num
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atropêlo de casamento, ou nascimento antecipado à
data comum, temos as gritarias no lar e as zomba­
rias na sociedade. Por que estranhar um fruto pro i­
bido nessa árvore da plena liberdade nos noivos?

72. DIFERENTES DOS OUTROS


são os olhos das mães, como sustenta um autor
(Kiefer) . Não são feitos como os das outras pessoas.
Descobrem à d istância e, na sombra, podem ler até
nos corações. Com esta frase quero entrar no assunto
da vigilância. Pessoas e coisas dentro do lar e fora
dêle reclamam-na.
Pessoas? A lista não é pequena. Aí estão certos
membros da família, da parentela, dos amigos e
visitantes. Irmãos maiores e irmãs mais evoluídas.
Domésticos, fornecedores que batem à porta às m es­
mas horas. Ajuntemos as relações sociais, os en­
contros de praias e veraneios e também os fortui­
tos, que não raras vêzes se abrem em encruzilhadas.
E' longa a lista e mais longa ainda a tarefa da vigilân­
cia. Perguntará alguém, com espanto : "Então po­
derá haver perigo para os filhos no próprio seio da
família?" Eu não responderei, a não ser pela bôca
do bispo Dupanloup que escreve :
" Acreditar-me-ão os pais? E' m uitas vêzes sob
o seu teto, quase sob os seus olhos cerrados por
uma lamentável segurança, é aí muitas vêzes que
o mal contamina os filhos. E como poderiam evitá-lo,
se êles nem sequer suspeitam da sua presença?"
Perdoem-me, se detalho pessoas e assinalo contor­
nos para identificações. O próprio pai pode ser um

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perigo para os fil hos. Mas de que forma? Quando
o pai despreza a religião, a moral nos n egócios, na
conduta social e privada . Não acontece o pai elo­
giar diante da família gente i moral, desonesta, ou
mesmo gabar-se da amizade com ela?
Neste caso será duplo o trabalho da mãe vigilan­
te. Convencer o marido sôbre sua nefasta influên­
cia na mentalidade dos filhos, e p roteger êstes con­
tra o que ouvem. Sem dúvida, uma situação mui­
to triste, mas possível. Lembro-me de um pai que
ridicularizava perante 'o filho a religiosidade mater­
na, tendo eu de chamar a atenção do mocinho quan­
to aos têrmos, com que classificava o bom exemplo
que recebia da mãe.
Os irmãos mais velhos podem ser outra causa de
perigo. Temos tal caso porque a ação é recíproca,
uns caçoando dos outros, corrompendo-se m u­
tuamente.
A idade confere-lhes mais ascendência sôbre os
mais novos. Por instinto êstes imitam aquêles. E
fazem muito m ais depressa o que os olhos enxer­
gam em quem lhes leva vantagem no tamanho e
na liberdade. Dão mais valor à visão dos exemplos
nos irmãos e irmãs do que às palavras dos pais.
Também a timidez pode entrar na composição da
imitação.
- Padre, os irmãos e irmãs mais velhos estão
estragando m inha caçu linha, queixava-se uma atila­
da mãe. O espaço nas natividades fôra muito longo,
embora sem culpa materna .
Família ouvinte, permitam os céus que e m teu
lar os olhos da mãe, do pai, sejam diferentes dos
outros. Deus lhes dê uma intuição de anjos.

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XIII

73. COM SESSENTA E UM ANOS


certo pai rezou, pela primeira vez, seu têrço.
Sem dúvida impressiona ouvir tal confissão numa fa­
mília católica. De certo o pobre retardatário na sua
devoção a Nossa Senhora não teve quem puxasse
por êle nesse sentido. Ou então opôs resistência e
teima . . Ou nem chegou a ver tal devoção na família.
Suposições que eu faço, mas tôdas bem tristes.
Não é normal um cristão esperar sessenta e um
anos para recitar seu primeiro têrço na vida.
Famílias ouvintes, como i mporta formar hábitos
abençoados na vida dos filhos! O hábito forma-se
pelo costu me e êste alimenta-se do exercício e do
exemplo. Não desej aria tal caso se desse com
famílias que me ouvem, porque remissas e falhas
em dar o exemplo. Há no mundo uma campanha
organizada a favor do têrço em família. Esta devo­
ção é interessante e a bençoada. Pois encerra u m
resumo das principais verdades da fé. E' interes­
sante, eloqüente para a família, porque faz desfilar
cenas da fa mília mais santa e mais sofredora que
houve no mundo. Por exemplo, os mistérios da
Anunciação, da Visitação, Nascimento, Apresentação
no templo, Encontro no templo, fazem surgir cená­
rios e angústias de família diante de nós.

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N em de longe quero supor que, entre meus ou­
vintes, figurem famílias m erecedoras de acusação,
por omissão do têrço. Sempre repito que, em cres­
cendo as lutas e dificuldades da família, mais ela há
de viver perto de Deus. Bem pode ser que Deus per­
mita essa via-sacra de cuidados e angústias, que
afligem tantas famílias hoje em dia. Quer que o
procurem, ao m enos pelo pão que hão de comer,
pelo vestido que hão de vestir. Deus quer de nôvo
o saúdem como o Pai q u e está nos céus, de cujas
mãos recebemos o pão de cada dia.
Nunca o Pai dos céus deu pedra a quem lhe pe­
dia um pedaço de pão. J:.le tem mais comprom is­
sos conosco do que os tem com as aves do céu e
as flôres dos campos. E no têrço vive endereçada
a Mãe de Deus, cuja vida conheceu cuidados com
o lar, com o destino do Filho santíssimo. Por que
não p rocurá-la, interessando-a nos mesmos cuida­
dos de suas i rmãs na maternidade?
Muito chefe de família tem conseguido mudar
a situação do lar, da profissão, da vida dos filhos
porque, ao lado do esfôrço humano, colocou o
coração de Deus e de sua Mãe bendita perto de
suas precisões. Ninguém espere p elos sessenta e
u m anos no caso . . .

7 4. UM TITULO, UM VOTO
Pio XII, pronto orientador na atualidade, falou cla­
ramente sôbre certos deveres em foco. Acentua que
o centro de g ravidade de uma democracia, normal­
m ente constituída, reside na representação popular.
Destaca contudo que tal representação se i rradia
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em correntes políticas, penetrando todos os domí­
n ios da vida pública. Isso tanto para o bem como
para o mal. Textualmente assegura "que é uma ques­
tão de vida ou de morte, de prosperidade ou deca­
dência, de pujança ou de perpétuo mal-estar, a
aptidão prática, a capacidade moral dos dq>utad05
eleitos".
Aí está, fam ílias ouvintes: questão de vida ou de
morte, para um povo, a escolha de deputados. Pois
bem, perante tal seriedade do dilema é admissível,
ou antes não é cri minosa, uma abstenção? Pode de
consciência tranqüila desinteressar-se uma família
de votar? Ou então não é isso um voto que j á ga­
nhou qualquer candidato, que devia ser barrado?
E tenho a inda uma p e rgunta a que as fa mílias
devem responder. Poderá um cristão ou uma cristã,
sem renegar a sua consciência, segu i r preferências
pessoais, partidárias, ou de amizade em assunto tão
grave e tão cheio de "vida ou de morte?" Vamos
ser francos neste ponto. Como há u m egoísmo in­
d ividual, há também o egoísmo de família, de clas­
se, de partido político. Pio XII avisava o seguinte:
"No domínio da política os partidos têm quase
como lei servir a seus p róprios interêsses, com pre­
juízo dos outros, ao invés de p rocurarém discreta­
m ente o bem comum por u ma emulação mútua e
na variedade de suas opiniões. E que vemos então?
Multiplicam-se as conjurações. Ciladas, assaltos con­
tra os cidadãos e os próprios funcionários públicos;
terrorismos, ameaças, revoltas abertas e outros
excessos do mesmo gênero, que se tornam m ais
g raves porque, como é do uso dos modernos sis­
temas representativos, o povo há de tomar uma
parte mais vasta na direção do Estado. A doutrina

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da Igreja não reprova essas instituições políticas
conformes ao direito e à razão. Mas declara que
se prestam mais fàcilmente ao jôgo de's leal das
facções".
Logo, família ouvinte, teu voto - os votos de teu
lar - vigiarão conchavos de vendilhões de consciên­
cias . Não te faltarão palavras orientadoras à hora
certa. Não alegue a gentil radiouvinte sua condição
de mulher, de espôsa, de mãe para uma possível eva­
são ao dever. Tenho aqui palavras pessoais de Pio XII :
" Esta participação direta, esta colaboração efetiva
na atividade social e política não alteram em nada
o caráter p róprio e a ação ordinária da mul her" .
Nos arraiais inimigos a mulher não pensa d a
m esma forma. Torna-se propagandista, fica na fila
dos votantes, comparece a comícios, leva seu voto.
Seria vergonhoso ficar atrás uma católica, alistada
pelo batismo à causa de Deus.
Repito, famílias: o dever de ser eleitora e votar
é dever sagrado. Os filhos devem l evar a impressão
do bom exemplo dado pelos pais neste assunto.
Urge dar testemunho de Cristo até às u rnas. Eis a í
u m modernismo sadio. O outro q u e s e mostra em
liberdades de entradas e saídas e encontros, em tra­
jes ousados, atitudes atrevidas nas p raias e salões -
não eleva a mulher.

7 5. UM DIALOGO E UMA MULHER


Há muitos diálogos a favor, contra e a respeito
de mulheres. Nem sempre apresentáveis, irradiáveis.
Mas o seguinte diálogo m erece uma irradiação para
u m exame de consciência .
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Encontram-se dois amigos, mais môço u m e m a is
velho o outro. O primeiro j á mais rel axado na fé e o
outro nela viçoso e robusto. Dialogam assim :
- Então, meu jovem a migo, há quanto tempo
não nos vemos! Mas parece-me que você está mu­
dado. Digo, assim com a res de quem não se benze
muis. Que aconteceu com você, a migo?
- Isso mesmo, meu velho amigo. Faz dez anos
que não me benzo, nem vou à igreja . Tão pouco
me confesso e comungo. Nada rezo. Eu não era
assim .
Ora, que desastre ! Sofreu você algum abalo na
vida? Teve algum fracasso ou provação muito dura?
Desastrou-se sua vida, talvez?
- Sim. Houve um desastre na minha vida. e des­
ta vez foi m esmo a mulher. Minha mulher, bem
entendido. Sem rel igião, vivia caçoando de m i m
p o r ir à m issa, aos sacramentos. Caçoadas a tôda
hora, troças acompanhadas de risadas e ridiculari­
zações. Isso um dia atrás do outro. Por fim .
- De certo às tantas lembrou-se d e que era o
chefe na fam ília e exigiu respeito, não é assim?
- Assim eu deveria ter p rocedido. Ao contrário,
cansei de ser objeto de troças e l arguei mãos do
leme e das práticas religiosas . Queria ter paz em
casa. Hoje tenho sossêgo na família e não o tenho
na alma. Vivo humilhado porque fui e sou u m co­
barde.
Temos aqui, família ouvinte, um caso interessante,
possível e real não poucas vêzes. A contínua con­
vivência de marido e espôsa, a diária troca de idéias
e sentimentos, acaba criando um clima. No caso
exposto a mulher, com suas troças, criou um clima
mortífero à rel igiosidade do marido, cuja alma de-

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saclimou-se na religião. Sem dúvida, tremenda res­
ponsabilidade para a cupada. Fracassou na su a m i s­
são de ser auxiliar do homem, no corpo e na alma,
para o tempo e a eternidade. Cuidou-lhe do corpQ
e matou-lhe a alma.
Mais freqüente é o caso contrário, quando o ma­
rido é o trocista e engraçado, visando sempre a re­
ligiosida de da espôsa. Ou, então, culpa a religião
pelas fraquezas humanas da espôsa, como se êle
não as tivesse em sortimento bem maior. Usa sofis­
mas surrados para enganar os a rgumentos da es­
pôsa. Em vez de companheiro na rota é condutor
para desvios, cujo preço terá que pagar. Ou no
próprio lar ou nas contas com Deus.

7 6. GUARDE SEU NOME !


E êste nome é Alice Rolls, a protestante que tinha
uma alma sacerdotal. Convertera-se ao catolicismo
porque ia casar com católico convicto e combativo,
dono de um castelo famoso como refúgio dos per­
seguidos por causa da fé, no tempo de Isabel I.
Ali, às ocultas, eram celebradas dezenas de m issas,
diàriamente.
Mas Alice converteu-se de fato e lá um dia disse
ao espôso, herdeiro do castelo e da bravura de he­
ráldicas: "Peço a Deus que escolha nossos fil hos
para o seu santo serviço" .
Agora escutem as famílias que acompanham êste
programa. Dos treze filhos de Alice dez foram servir
a Deus, uns como sacerdotes e religiosos e outras
como religiosas. Um dos filhos foi cardeal, outro

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apostólico bispo na Austrália. A Inglaterra conhe­
ceu também a poderosa palavra de um grande ora­
dor, padre Bernardo Vaughan.
Alice tinha por costum e levar os filhos a verem a
miséria alheia e animava-os a darem de suas eco­
nomias. Das coisas pequenas costumava passar para
maiores. Certo dia um filhinho seu estava com o re­
lógio ao ouvido, acompanhando o tique-taque das
rodinhas.
- Meu filho, diz Alice Yaughan, êste tique-taque
pára, quando a corda, a mola se a rrebenta. Nosso
coração tem um tique-taque. Quando êle pára, Deus
lhe dá outra vez corda para estarmos com êle.
Uma protestante fazendo-se católica, recebendo a
mentalidade dos intrépidos Yaughans, tornando-se
mãe de sacerdotes e religiosas . . . ! Sem dúvida, sua
alma pertencia à classe das mencionadas por René
Bazin : "Há mães que têm almas sacerdotais". Será
o caso de alguma de minhas ouvintes nesta Rádio?
E' glória, e das grandes, dar alguém um filho a Deus.
Pois denota que Deus dirigiu um olhar especial para
esta ou aquela família, indo procurar-lhe um filho
ou uma filha para seu santo serviço. A família foi
lembrada pelo Rei dos reis, por sua Altíssima Ma­
j estade Deus Nosso Senhor!
Coincidência curiosa, em gera l : Deus lembra-se,
quando também é lem brado . Dêle lembre-se a fa­
mília aos domingos especialmente, como remate da
lembrança de todos os dias. Chamamento requer
clima. Portanto, se uma família vive fora "do clima
de Deus", desaturada dêle, da religião como a massd
do fermento, então será difícil o chamamento do
Senhor.

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Clima eucarístico, na tríplice forma da piedade
eucarística : visita, comunhão e m issa - eis aí o que
favorece as vocações.
Em nossa terra há alarmante escassez de clero.
E' um mal que tem de ser rem ediado. Inclui u m
dever para c o m a Pátria também. Há de existir in­
terêsse pela feliz solução dêste g ravíssimo problema
que já mereceu avisos e exortaç-ões do sucessor de
Cristo Senhor na terra.
A lei portanto é esta : "dar u m filho a Deus, ou
ajudar filhos de outras famílias na real ização da vo­
cação sacerdotal. Se Deus não honrar tua família, lar
que me ouves, se não chamar u m dos teus, então
mãos abertas para amparar outras vocações de famí­
lias menos amparadas pela fortuna.
E' lei que atinge todos os lares que se prezam
como católicos instruídos e clarividentes, à a ltura
do século em que vivem neste Brasil.
Presença é a lei : Presença física - dando u m fi­
lho. Presença moral - rezando pelas vocações. Pre­
sença econômica - ajudando vocações necessitadas.

7 7.. SERIA TEU CONSELHO?


Uma jovem postul ante da vida religiosa escreve
o seguinte : "Certo dia fomos fazer uma excursão
de barco, em companhia de u mas religiosas. Acon­
teceu encontrar-me com algumas colegas de u ma
associação esportiva. Uma delas, a chefe, parecia
convencida de estar eu entre as rel igiosas contra a
minha vontade. Puxou-me de lado e segredou-me
u m conselho. Escute, colega, - foi ela dizendo -

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você está contrariada, aí no meio dessas freiras. Não
tenha receio. Tenho na mala um vestido que assenta
bem para você. Torne a mala e vá ali para dentro
mudar de trajes e depois acompanhe-nos. Poderá
fugir sem que n inguém o perceba . . . Precisei de tôda
minha retórica para convencer a amiga de que eu era
postu lante por livre e espontânea vontade. Não
estava a fôrça ou contrariada no convento. A hora
que eu quisesse, poderia deixar as I rmãs e voltar
pa ra casa. Ninguém me seguraria lá dentro"
Gostaria eu, família ouvinte, de perguntar se se­
m elhante conselho seria aprovado ou reprovado por
você. Vou mais longe, indagando se na família existe
a necessária compreensão para a vocação religiosa
das filhas. Sei que em muitas, que se dizem até reli­
giosas, é criticada, minimizada a vocação para o con­
vento. Não faltam as que soprepõem o casamento e
a mãe de fam ília acima da vida religiosa. Andam
vendo com acuidade os defeitos em Irmãs e não
comentam as faltas entre casados.
Quero aqui p reven ir contra um êrro. E' doutrina
da Igreja, lembrada ainda recentemente por Pio
XII, que, como estado, a vida religiosa na virgindade
é mais perfeita do que a vida conjugal. E isso ape­
sar do sacramento que os casados recebem. Poderá
contudo acontecer que, pessoalmente, u ma mãe de
família seja mais virtuosa do que u m a religiosa, re­
m issa nos seus deveres. Isso não justifica afirmar a
supremacia da vida de família sôbre a de convento.
Procedem mal as famílias que desalentam as fi­
lhas com objeções, aliás aplicáveis à vida de ca­
sados. Pior seria o caso de uma oposição aberta
ao chamamento de Deus. A êle pertencem os filhos,
em primeiro lugar. Ele é quem traça o roteiro de

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vida para cada criatura, cada cristã. E' sentença de
S. Afonso que muitos pais e muitas mães veremos
conden3dos no dia do ju ízo, por se terem oposto à
vocação dos filhos. Lego o conselho daquelas ami­
gas à nossa postulante mostrou profunda ignorân­
cia religiosa. Trata-se de u m caso fácil de ser en­
contrado, mas sempre Iastimàvel.

7 8. COM TEUS VESTIDOS


O espírito materialista, que inspira uma bem g ran­
de parte da civilização de hoje, não deixou de inva­
dir o setor da moda . Nela vemos instalado muitas
vêzes um luxo provocante, desconhecido de todo
pudor, Preocupado apenas em adular a vaidade e o
orgulho. Em vez de elevar e enobrecer a pessoa hu­
mana, o traje com freqüência procura degradá-la
e envilecê-la. O traje exprime de modo muito ime­
diato as tendências, os gostos da pessoa. Não po­
dem nem assim fugir a certas regras bem claras, que
ultrapassam e comandam o simples ponto de vista
estético.
Família ouvinte, ninguém exige - disse-o Pio XII -
que se viva fora da época. Deus não pede à mulher
que permaneça indiferente às exigências da moda,
a ponto de tornar-se ridícula por vestir-se em opo­
sição aos usos comuns das contemporâneas, sem
preocupação em agradar. Santo Tomás afirma que
há u m ato meritório de virtude na toilete feminina,
quando de acôrdo com o uso, a posição da pessoa
e na boa intenção. Mas tudo na suposição de que se­
ja respeitada a decência cristã.

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Família ouvinte, Deus exige que te lembres do se­
guinte: Que a moda não pode ser a lei suprema de
tua conduta. Que acima da moda, e suas imposi­
ções, há leis sagradas e imperiosas, princípios su­
periores e i mutáveis. E:.stes em caso algum podem ser
sacrificados ao bel-prazer ou ao capricho. Perante
êles os ídolos da moda devem perder sua fugitiva
onipotência. Há uma escala de valores também
para a moda. A alma há de estar acima do corpo e
temos de preferir às vantagens e exibições de nosso
corpo o bem da alma do próximo.
Poderá dizer uma senhora, ou môça, que tal ou
tal forma de vestido é mais cômoda e também mais
higiênica. Mas, caso se torne um grave perigo pa­
ra a saúde da alma, já não é higiênica para o espí­
rito e deve ser sacrificada. E' certo que, por u m
mero prazer físico, ninguém tem o direito de pôr
em risco a saúde física dos outros. Porventura não
será menos lícito ainda comprometer-lhes a pró­
pria vida da al ma? Pode u ma senhora ou jovem di­
zer que não se impressiona mal com a audácia
de modas. Poderá dizer o mesmo com relação às
impressões alheias?
Família ouvinte1 estou falando com palavras de
Pio Xll a u ma Delegação feminina da Cruzada pela
Decência. Quem se atreverá a dizer haja reparos ou
erros no que o Santo Padre afirma? E por que, en­
tão, não se tiram as conclusões práticas, na aplica­
ção aos vestidos?
Intolerância dos padres ! Assim classificam o zêlo
dos responsáveis pela lei da modéstia. Quero que
minhas ouvintes saibam da compreensão de Pio
XII no caso. Chega a afirmar que, como Deus ves­
tiu as flôres de belas e várias côres, j usto é andem
Mundos Entre Berços - 11
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suas filhas com belos vestidos à luz de seu sol. Mas
higiene, pudor e arte devem orientar as modas. A
higiene diz respeito ao clima e suas variações, a ou­
tros agentes externos. Por causa da interdependên­
cia entre os três, não basta o pretêxto higiênico para
justificar deplorável licença, máxime em público. O
pudor não perde seus direitos perante abdicações
atrevidas de muitas, ou aplausos de insensatos. A
arte revela o bom gôsto e pode variar segundo as
épocas, jamais ultrapassando os limites da moral.
Aqui exponho uma verdade que aparece com o
dedo de quem avisa u m risco. Aos domingos, nas
festas da Igreja, a cristã põe seu vestido mais bonito.
Enfeita-se. Isso m esmo. O domingo figura nossa
ressurreição antecipada, na qual nosso corpo será
revestido de luz, aparecerá formosíssimo, se ressus­
citar para a glória. Pronto e ornado para entrar nos
salões de Deus, numa festa eterna. Pergunto então:
"Não será melhor garantir êsse " vestido de luz"
por tôda eternidade? Mesmo a preço de vestidos mais
modestos sôbre um corpo, que a cristã preparar para
a última e mais linda festa de sua vida?"

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XI V

7 9. FAMfLIA POLITIZADA
Não estranhem as famílias se me ponho a m en­
cionar um assunto que muitos querem separado dos
lares cristãos. Refiro-me à política, aos deveres polí­
ticos de todo cristão, como indivíduo ou como classe.
Sei que há muita gente empenhada em separa;: a
política da rel igião. E' claro, ninguém vai advogar
lutas políticas dentro do lar. Contudo é preciso to­
car para fora dos lares a idéia de que religião e po­
lítica devem andar sepa radas.
O cardeal Gomá explica-nos bem a situação. Co­
meça dizendo que a política versa sôbre o regime da
sociedade civil, que é fundada pelo conjunto das fa­
mílias. Rel igião ocupa-se da salvação das almas e
é uma prática na vida. Não parece ter contacto algum
com a política, que é a rte de governar. Mas uma
sociedade sem Deus não é concebível e nunca se
viu na história. Portanto não se governa sem Deus.
Onde há homens, há sociedade e há religião. Deus
é o mais forte laço da vida social e por consegu inte
há de ser algo necessário na ordenação da vida so­
cial. E esta ordenação leva o nome de política. Por
sua vez a política apóia-se na religião, porque é u m
ramo d a moral, aplicada à vida social. Pode .u m a
sociedade ter fins secundários, m a s s u a finalidade
indispensável é fazer bons os cidadãos. E como po-
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derá a política obter êste programa, se não obedecer
às normas dadas por Deus?
Família ouvinte, não é demais relembrar o que
disse Leão XIII: "Há os que não só costumam di<>­
tinguir a política da religião como separá-las com­
pletamente, alegando que J]ada existe de comum en­
tre elas. Não diferem muito dos que querem u m
Estado constituído e administrado longe d e Deus
Criador e Senhor de tôdas as coisas". - E o Papa
continua condenando também aquêles q u e confun­
dem a religião com um partido político. Nesse sen­
tido o êrro é evidente. Pois é u m a invasão da polí­
tica no campo religioso.
Vamos falar com mais clareza ainda. O Papa con­
dena o pessoal de "braços cruzados nas contendas
políticas", quando se prevê que a abstenção l evará
o triunfo de u ma tendência, da qual pode nascer
um dano para a religião. Logo as famílias ouvintes
hão de rejeitar a tal separação entre religião e polí­
tica. A própria religião com seus imperativos exige
que o cristão, e com êle as famílias cristãs, d efen­
dam os direitos de Deus, as garantias religiosas den­
tro da sociedade civil. Não é e nunca será família,
à altura do seu batismo, a que não anda com i déias
claras. Nada de desculpar omissões com a frase co­
modista de que a religião nada tem a ver com a polí­
tica. àltimamente Pio XII, João XXIII e Paulo VI
foram bem claros e positivos. Falando às m ôças ca­
tólicas, Pio XII disse que desejava vê-las percorrendo
ruas, casas, bairros, praças sustentando em véspe­
ras de eleiç.ões os direitos da religião e de Deus.
Hoje o título de eleitor é título de cristão adulto,
é obrigatório, há de ser levado às u rnas. Não se ex­
plica como, sendo nós a maioria, tenhamos que so-

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mar deputados, senadores, prefeitos, vereadores aves­
sos à rel igião. Diz um Papa que numa democracia
os erros dos governos " repartem" suas culpas com
os cidadãos. E digamos, com cidadãos omissos ou
culposamente úteis à vitória dos maus. Mais .u m a
vez : família alguma alegue a religião para afastar-se
de seus deveres cívicos. O contrário está com a
verdade .

80. UMA SOMA


A soma dos votos dados pelo povo põe coroas
nas cabeças dos eleitos. Amanhã estarão dentro das
Câmaras e Assembléias os deputados que o povo
elegeu. Portanto lá estarão os que forem eleitos por
católicos, como por eleitores inimigos do regime e
da estabilidade do país. Estarão lá tantos quantos
êles elegerem. Uma equação é certa : quanto maior
o número de eleitores católicos, votando disciplinada­
mente, com mentalidade de batizados, que os ins­
creve no maior partido - o de Deus - tanto
maior será o nú mero de bons elementos nas Câma­
ras e Assembléias.
E' claro que isso acarreta sérias responsabilidades.
Existindo o sufrágio u niversal, dêle deve valer-se
o católico para a causa de Deus, que sempre coin­
cide com a causa da Pátria. Na família ouvinte vive­
rão eleitores, reais ou possíveis. Que votem, que se
alistem ! E' imperativo de consciência, como Pio XII
declara. Quem duvida serem os deputados os legis­
ladores num país? E essas leis bem podem ser u m
desastre, como j á temos visto e m nossa terra. E

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se, amanhã, a rna10na dêles fôr contra a relig ião, a
Pátria, a liberdade, nosso passado cristão, que leis
serão aprovadas no Brasil?
Mas se os eleitos fazem as leis, os eleitores fazem
os deputados legisladores. Logo u rn a conseqüência
é certa. Quem vota coopera para as leis. Tudo isso
é verdade quase banal. Mas é verdade que deve ser
respeitada e obedecida. Não obstante há famílias, e
nelas eleitores, que votam sem consciência cristã.
Ou então abandonam o dever, desertam da bandeira
e Çeixarn passagem livre para os maus. Quem vota
nal aumenta o nú mero dos indignos eleitos.
Família ouvinte, é urna calamidade da qual nossos
patrícios e irmãos na fé ainda não se deram conta.
Mas sem desculpas no caso. Teimam em insistir na
frase do comodismo que reza assim : "na m inha
opinião penso diferente" Todos têm liberdade de
aceitar a verdade ou o êrro, respondendo pela esco­
lha. Até com a lei de Deus é assim. Podem os ho­
mens guardá-la ou rej eitá-la. Quem entretanto dirá
que nisso não haja êrro e culpa?
U rge, portanto, que a família torne consciência
de seu dever e eduque os fil hos no respeito a êle.
A Igreja vive alertando, lembrando o dever. Ninguém
pode alegar ignorância no caso. A isso ajunte o
apostolado que procura alertar, ensinar e convencer
os faltosos.

8 1. CONTAS PELOS DEDOS


Aproxima-se o abençoado mês do Rosário. A Igre­
ja inteira pelo mundo afora reúne-se diante dos al­
tares, passa as contas pelos dedos. Contas que assi-
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nalam Ave-Ma rias e Pai-nossos e Glórias. Vão elas
acompanhando a meditação das alegrias, das do­
res e das vitórias de Cristo e sua Mãe. Oração antiga
e moderna e perene, atualíssima e apostólica. Os
representantes de Cristo na terra, os Papas em Ro­
ma, sucedem-se no trono e nas recordações des­
sa devoção. João XXII I não fechou a série. Está com
a chama votiva que passará em seu brilho a seu
sucessor. Estão aí movimentos modernos em vários
países convidando as famílias ao retôrno ao têrço.
E' rezado nas rádios, é irradiado desde o Vatica­
no até à mais pobre capela.
Daqui torno a repetir o lema do Padre Patrick Pey­
ton : rezar junto o têrço para a família viver j unto.
U ma família católica, bem moderna, não estará à
altu ra do movi mento provocado por Deus com a re­
introdução do têrço, se não aderir ao movimento.
Faça-o por solidariedade cristã. Seria mais do que
lamentável se numa família entre as que me ouvem
alguma houvesse desamorosa do têrço. Não é o ro­
sário a devoção recomendada p el a p rópria Mãe de
Deus? Nas ú ltimas aparições - Lourdes, La Salette,
Fátima - vemo-la mostrando as contas que temos
de passar pelos dedos, rezando. Por que viver à mar­
gem de tantos convites?
Pio XII declara que o rosário é a devoção da fa­
mília cristã que tem seus mistérios gozosos, doloro­
sos e gloriosos. Afirma que a vida matrimonial é
como um rosário, começado aos pés do altar para
ser continuado ao longo da vida. Exclama Pio XII :
"Em nome de Nosso Sen hor vos suplicamos, d ile­
tos esposos recém-casados, estimai e guardai in­
tacto o belo costume das famílias cristãs : a oração
da noite em comum, o honrar a Virgem Imaculada

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com o rosano de seus louvores". Sustenta que essa
devoção bem se harmoniza com as precisões da vida
doméstica, que fica bem nas mãos da criança, da
menina e môça, do môço, da mãe de família, do
pai de família, dos vel hos, dos agonizantes.
Nosso povo tem o costume de enrolar u m têrço
nas mãos de seus falecidos. Mas o que adianta
êsse têrço quando as mãos já estão frias, se durante
a vida suas contas não passaram por entre os de­
dos de nossos mortos7
Certa feita bateram à casa de u m vigário. Alguém
entra e diz aflito que precisa contar seus pecados.
Indagado pelo motivo, relata que, de p rofissão, era
assaltante nas estradas. Vivia atacando os incautos
nas estradas, como "sócio" de um bando volante.
Mas a o assaltar um operário, tomando-lhe todo o
dinhei ro, dera com um têrço. Isto dizendo mostra-o
ao vigário.
- Empalid eci, padre, continua o convertido, ao
lembrar-me de minha mãe que o rezava e muitas
vêzes me dizia que o rezasse para tornar-me um
homem de bem. E agora . . . , como assaltante, aque­
las palavras rasgavam minha alma. Restituí o dinhei­
ro ao operário e apenas lhe disse que ficaria com o
têrço. O operário concordou com minha oferta, ce­
deu-me o têrço para que o rezasse e "me tornasse
um homem de b em " Repetiu as palavras de minha
mãe! Confesse-me e ajude-me a mudar de profissão !
No fim da confissão confessor e penitente esta­
vam comovidos. Deus havia passado por entre êles
e depois dêl e . . . uma mãezinha rezadora de têrço.
Nota - Ao recompilar esta irradiação já venceu, em nossa
terra, a campanha do Padre Peyton . Multidões de fiéis reú­
nem-se agora, nas praças de nossas cidades, para recitar o
santo rosário. Deus seja louvado !

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8 2. DONA AFLITA
- Urna coisa lhe digo, filha. Casada não vire
dona Aflita. Guarde o nome que leva, - dizia u m
pai à môça de nome Serena .
Havia e há ainda sabedoria n o conselho. Andam
os lares cheios de donas Aflitas. E às vêzes o casal
é de aflitos. O conselho de Cristo recomenda para
cada dia contentar-se com seu f� rdo. Mas os afli­
tos carregam o fardo do dia e mais 364 outros do ano
inteiro. Não se lembram serem êles como as varas
do feixe da fábula. Tôdas juntas são inquebrantá­
veis. Urna por urna, lá se vai o feixe e sobra dispo­
sição para começar o m esmo serviço com outro.
Um por um, dia por dia, vencemos anos a fio.
Agora, tudo de uma vez torna-se p roblema penoso.
Portanto o certo, família ouvinte, é ficar a gente com
as cruzes de hoje, sem querer o nome das vindou­
ras, amanhã e depois. O dia hoj-e será o ontem,
amanhã. E o amanhã? Muito simples a resposta, na
bôca do adágio espanhol, que diz: Amanhã . ? E'
. .

outro dia. Chegará a vez dêle. Ninguém lhe precisa


antecipar o martírio.
Há casais que se inquietam com o que aconteceu
e mais o que poderia acontecer, somado ao que vai
acontecer. Com isso levantam uma pirâmide de
tôdas as dificuldades imaginárias. Onde fica nesta
altura a confiança na Providência de Deus? Tudo,
tudo dependerá apenas das nossas "incertas provi­
dências", nome dado pelo Sábio a os nossos cuida­
dos? Coisa curiosa. Os pais vivem ao l ado de gran­
des mestres da confiança, embora sejam pequenos
de tamanho. Refiro-me às lições práticas de con-

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fiança, dadas pelos filhos. Confiam em papai e ma­
mãe. Deixam-se guiar por êles. Sentem que é o
amor que lhes toma as mãozinhas. Para êles não
existe o dia d e amanhã.
Família ouvinte, o que importa é a santificação
de cada dia, encabeçados todos na semana pelo
dia do Senhor, o domingo. Viver cada dia com
Deus e para Deus. Cristo não quer haja preocupação
d emasiada com o alimento, o vestido, a legando que
o Pai do céu sabe de tôdas essas p recisões. O que
Deus pede é a plenitude do amor, no "sacramento
do dever presente" . Convém anotar o têrmo "sa­
cramento do dever"
Acabo de lembrar o dever, que tem de ser vivido
na plenitude do instante presente. Assim agiam e
agem ainda os santos. Eram serenos, dados ao de­
ver do presente e confiantes no futuro, entregue à
Providência divina. Não misturavam os papéis. A
cada u m o seu dever. Para o homem o dever é o
p resente. E Deus encarrega-se tanto do presente
como do futuro. Por isso dona Aflita p recisa mudar
de nome e mais ainda de conduta.

8 3. SEMPRE CONVIDADA
Pelo fim do século passado havia certo Ministro
maçônico, prepotente, que tudo controlava. Até li­
cença para se fundar u m convento nas matas da
Africa dependia de sua assinatura. Certo dia anun­
ciam-se umas religiosas com o programa de fundar
um convento em terras sujeitas ao Ministro. E:ste
recebe-as com fria polidez. Ouve-lhes os desejos, os

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p lanos. Escu ta atenciosamente os trabalhos daque­
l as religiosas entre os nativos da Africa. Comove-se
com a história, ainda mais quando a requerente
lhe diz que nova fundação é sempre chamariz de
m a is vocações para aliviar os sofrim entos dos doen­
tes. Enfim , o Ministro fica ao par dos planos e dos
recursos que viriam da generosidade dos benfeito­
res. Concorda com a expm �ição feita, pede a planta
da construção e promete seu apoio.
De fato, foi homem de palavra . Fêz aprovar pelo
Govêrno os papéis necessários. Tudo correu bem :
fundação, recrutamento, funcionamento. O tempo
passou e derrubou o Ministro, cujo lugar foi ocupa­
do por outros figu rões políticos. Nosso prepotente
ficou esquecido, relegado, à sombra da história.
Adoeceu depois seriamente. Ninguém o p rocura ou
aparece para uma visita. Já n inguém precisava dêle
ou de uma sua assinatura. Outros homens, outros
deuses na política. Aquêle isolamento era um mar­
ti do para o doente.
Certo dia entregam-lhe uma carta de muitas fô­
lhas. A sobrinha lê para o tio o que contavam as
l inhas. Era a carta da madre, daquela conhecida há
muitos anos como humilde suplicante de uma fun­
dação. Começava contando de sua g ratidão pelo
apoio recebido, continuava compadecendo-se do
doente e prosseguia historiando os benefícios pro­
vindos da l icença concedida pelo então Ministro.
Prometia orações ain·da mais fervorosas e termina­
va com o oferecimento da p rópria vida pela do Mi­
n istro, caso Deus concordasse com a oferta.
- Veja, sobrinha, como são as coisas, - diz o
ex-Ministro enxugando as lágrimas. - Tanta gente
foi beneficiada por m i m e só essa p obre religiosa

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é que se lembra de mim ! Entretanto eu não dei
auxílio direto à sua emprêsa. Apenas facilitei a mar­
cha da papelada. Como isto me comove! Tome de
seu livro de reza e reze alguma coisa para eu acom­
panhar. - A sobrinha ficou admirada. H á quantos
anos aquêle tio não rezava m ais!
Atrás da oração veio a conversão, a confissão, o
retôrno a Deus. A gratidão arrastou consigo o fio
de ouro do amo r de Deus.
Não sei se a família ouvinte cultiva em seu lar a
flor da gratidão, ensinando os filhos a serem agn­
decidos em casa e fora de casa. Principalmente com
os humildes servidores. Há nobreza em tôda grati­
dão. E' ela chave que abre corações e o próprio
Cristo estranhou certa vez sua ausência na cura de
dez leprosos, dos quais apenas um voltou para agra­
decer a misericordiosa cura.
Hoje se inventa muita coisa para substituir o ouro
da virtude. Até se chega ao ponto de caluniá-la, co­
mo complexo de inferioridade. Daqui repito que a
gratidão há de ser sempre uma bem-vinda convi­
dada em tôda família cristã. Para com Deus a grati­
dão ·da oração, que agradece o dia recebido e vivi­
do, a proteção, a bênção, a graça divina.
Comece a fam ília pela oração à mesa agradecen­
do o "pão nosso de cada dia" Não se trata apenas
de pedi-lo. Agradecê-lo é pedido ao m esmo tempo.

84. O CARRO 1 39
do Expresso do Norte regurgitava de crianças
alemães. Contentes, sadias, queimadas de sol, vinham
da Bélgica de retôrno à pátria. Um nú mero, apenas,
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da sene de muitos outros carros. Anualmente duas
mil crianças são enviadas para lares, que voluntària­
mente se abrem para agasalhar filhos dos desalo­
jados.
O mais interessante é que as crianças belgas ofe­
recem suas pequenas economias, para fim tão ca­
ridoso. Está nisso uma confirmação do que vivemos
repetindo. O batismo faz uma sementeira divina na
alma dos pequeninos. Semente abençoada é a da
cari·d ade, que os pais devem fazer viçar, florescer e
dar frutos. Há uma educação para a caridade, n o
amplo sentido d a palavra amor ao próximo, por
motivo sobrenatural. Sentimentos e ações traduzem
então a presença dessa caridade.
Famílias, não basta vosso filho estar presente no
mundo. Há de estar p resente como cristão, ciente
de outros cristãos, criaturas humanas, por elas in­
teressado. Andam certos os pais que, cedinho, já
vão acostum ando seus pequenos à lembrança de
misérias alheias. Quando a criança come, bebe, dor­
me numa cama quentinha, devora uma guloseima,
urge que, de vez em quando, se lhe recorde outra
criança, que nada disso possu i na vida.
Ei-la vestidinha e agasalhada. Deve saber que há
outras sem vestidos e agasalhos. E para saber, que
coisa melhor do que levar os filhos em visita aos
pobres, às famílias deserdadas? Lemos na vida de
muitos heróis da caridade que, assim, u saram com
êles os pa is. Quase não se tem direito de chamar
a Deus por Pai, quando tantos irmãos nossos, filhos
do mesmo Pai, vivem ao abandono ou n ecessitados.
Sem dúvida com a alma sensível que a criança

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possui, g ravam-se nela cenanos de mtsenas, afi­
nam-se melhor sensibilidades humanas e cristãs.
A tudo ajuntemos a espontaneidade da g raça q ue
trabalha nessas almas. Somemos o exemplo cari­
doso dos pais. E eis que amanhã teremos almas no­
bres e compassivas, cheias de compreensão e rea­
ção perante a miséria.
As guerras deixam sempre u m a sementeira de
ódios. Os ódios são a maior ruína q u e elas acumu­
lam. Agora a União da Caridade p rocura é acabar
com tal praga. Temos a p rova nesse belo movimen­
to anual. Lares da Bélgica, abrindo-se para abrigar
por meses os pequenos desalojados, vítimas _.da
guerra. Só assim a colheita de paz é promissora.

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XV

85. DEUS NUM LETREIRO


Um famoso pintor andava de férias pelas mon­
tanhas, quando deu com u m quadro bem tôsco
desenhado por mãos pesadas de camponeses. Re­
presentava um carretão rolando montanha abaixo.
O letreiro era sugestivo. Dizia: "Não é longe o ca­
m inho para a eternidade. As nove êle partiu e às
dez horas estava chegando" O pintor impressionou­
se com a frase que lhe g ritava na alma, dentro da­
quela silenciosa floresta . Ficou-lhe corno uma bên­
ção na memória. Deus lhe falara por meio de u rnas
letras singelas. Muitos anos depois, ao descer os
degraus da igreja, escorregou no gêlo, ferindo-se
g ravemente. Por pouco pereceu. Lembrou-se do le­
treiro, lá da floresta, e ainda comentou : " Eu iria
levar menos de urna hora para chegar à eternidade".
- Um dia os amigos celebravam-lhe urna data. A es­
pôsa, sempre delicada e risonha, a rranjara tudo com
arte e gôsto, numa bela escala de côres. Enchiam­
se os copos para o brinde. Eis que ao lado d o pin­
tor cai sua espôsa, segurando-lhe a mão. Morria
fulminada por um colapso . . . E o pintor convenceu­
se de que um risco apenas pode s eparar-nos da
eternidade.
Não estranhe a fam í l ia ouvinte a seriedade desta
narração. E' que sem pensamentos sérios não há

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balastro para a vida, que ruma para a eternidade.
U m cristão não toma sua vida, nem educa para a
vida sem ter os olhos fitos na "outra vida" e na
distância " entre esta e a quela. A vida que começa
no berço, continua no lar e atinge sua maturidade,
ainda não é a vida total. E' comêço de outra vida.
O botão não é ainda uma flor, nem um veio d'água
é u m rio, ou uma p lantinha, uma árvore capada.
Tudo é comêço e p rograma.
Assim a vida que se move dentro de vossos la­
res, famílias ouvintes, é um comêço, ou mel hor, é
preparação de u ma outra eterna. Daí nascem pon­
derações mu ito sérias e formadoras. Por exemplo,
tendo a outra vida diante dos olhos, os filhos com­
preenderão bem que seus atos têm dois cenários e
frutificam em dois mundos reais. Certos atos não
amadurecem nem conhecem colheitas, a não ser
na outra vida. Está escrito que "nossos atos nos
acompanharão".
Além do mais paira sôbre nós todos a i ncerteza
da distância. O sinistrado do letreiro levou uma
hora e a espôsa do pintor gastou u m instante. U rge
entretanto fugir de u m êrro, qual seria supor que o
pensamento da etern idade é fúnebre e desalentador.
Cristo Senhor pensa diferente e com êle seus san­
tos neste mundo. Mandou o Senhor trabalhar e agir
enquanto se tem a luz do dia. Depois haverá uma
troca pela luz eterna na qual o Senhor habita, "nos
esplendores dos santos" Logo, sempre preocupa­
ção com a luz. E quando foi fúnebre a luz?
Interessante o rotei ro que Cristo d isse ser o seu.
"Saí do Pai e volto para o Pai " Aí está, famílias ou­
vintes. Vida daqui e de lá igual à vida na presença
do Pai, rumo à casa do Pai . Paga a pena educar nes-

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te sentido. Há mais de sete côres na vida, quando
olhamos tudo por êste p risma. Há criaturas que
trazem o rosto antecipadamente iluminado pelos ful­
gores do eterno. Foi assim a vida de Ana Taígi, a
santa mãe de família e vidente do futuro.

8 6. UMA ALMA ENTRE MÃOZ INHAS


Naquela noite o pai vigiava à cabeceira da ca­
minha da filhinha gravemente enfêrma. Via que iria
perdê-la em breve. Com alma profundamente amar­
g u rada acompanha a respiração ofegante da crian­
ça. Aquêle botão de vida não se tornaria flor. As
tantas a p equena ajunta as mãozinhas e diz para
u m Crucifixo, que lhe ficava na parede de frente:
- Pai do céu , junto as mãozin has e levanto-as
para ti. Vou fechar meus olhinhos para dormir . . . -
Assim era sua oração da noite, dia por dia. Naquela
noite rezou-a, respirou fraquinha, recostou a cabeça
no travesseiro e se foi com os anjos de Deus.
Contou-me isso o próprio pai, ajuntando que sua
alma ficou entre as mãozinhas da criança. Acaba­
ra de receber uma lição, aprendendo a falar nova­
mente com Deus. Voltou à prática da religião. O
fato vem confirmar uma verdade que tanto apon­
to para os pais. E' a verdade de que os filhos são
também uma g raça para os pais. Educam por sua
vez. O Evangelho lembra-nos verdades que são re­
cordadas por bôcas infantis. Aí está o Domingo de
Ramos com os aplausos das crianças de Jerusalém,
reconhecendo e festejando a Cristo, o rei que en­
trava como filho de David.
Mundos Entre Berços - 12
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Daqui podemos então m edir a culpa dos pais, que
não se interessam por rezas aprendidas e recita­
das pelos filhos. A criança poderá um dia repetir a
oração aprendida. E isso numa hora d isputada por
Deus e pelo diabo. Poderá aparecer numa encruzi­
lhada do bem e do mal na vida dos pais. Peço
encarecidamente aos pais que me ouvem , não se
privem de tão valioso e terno auxílio. A espontaneida­
de dos pequenos vem saturada da g raça do batis­
mo recebido. Tôda criança vem ao mundo com uma
mensagem p a ra os pais.
Na teoria do Corpo Místico os pequenos também
representam seus papéis. São patrulhas e vanguar­
das da graça. Fazem-no com maior eficiência, por­
que a pureza de alma não impede a circulação li­
vre pelas veias dêsse Corpo abençoado. E' a culpa e
o pecado que travam, como um torniquete, a circula­
ção da graça. Teresinha, a santa das rosas, era
criança quando lutou com Deus, rezando pela con­
versão de um condenado à morte. Saiu vitoriosa.
Pergunto-me agora : por que não exploram os
pais a fôrça dessa oração infantil na solução de seus
problemas, negócios e dificuldades? Quanto rumo
seria mudado, sob a pressão de uma mãozinha sô­
bre o leme da vida !

8 7.. ESTORVO INVENTADO


Mu itos cristãos vivem como se a vida de família
fôsse um estôrvo na u nião com Deus, no progresso
da al ma. Repetem a desculpa do convidado do Evan­
gelho, alegando seu casamento como desculpa para

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o festim real. Tal idéia merece até um exorcismo.
Está completamente errada. Pensar que a vida de
casados com suas lutas, suas compensações, seus
carin hos, seja impedimento para servir a Deus como
bom cristão, é u m desastre.
O amor humano, planejado por Deus com os
seus domínios - corpo e alma - pode e deve exis­
tir no casamento. Aviso é de S. Paulo que um não
se negue ao outro. Pode ser espiritualizado. Não d e­
ve ficar m eram ente p assional, sarça a rdente nas la­
baredas dos sentidos, sem que Deus fale de dentro
dela. O amor é doaç;ão de si mesmo, é um desapê­
go em favor de outro. E' coisa de dois que não que­
rem ser dois. Podem os casa·dos ir comparando por
êle o amor que dão a Deus. Sentirão vergonha do
pouco que doam. Virão os remorsos perante as co­
bardias de sonegações na vida cristã.
No Evangelho Cristo Senhor não aceitou a des­
cu lpa de quem apelou para seu casamento, como
pretêxto. Também hoje não aceitará tal desculpa.
Pio XII, nas suas alocuç;ões aos recém-casados, vi­
via acentu ando essa verdade. Não admitia a exclu­
são de Deus e de seus direitos na vida dos casados.
Acentuava-lhes a precisão de uma vida genuinamen­
te cristã no lar. E por que tem a Igreja uma bên­
ção para o leito nupcial? Abençoar um entrave para
a vida cristã? Ora, tôda l iturgia da Igreja é forma­
dora da inteligência e educadora da vontade, sem
omitir a pu rificação dos sentimentos.
Lares que me ouvis, mu ito importa u ma revisão de
idéias erradas com suas descul_!)as descabi-das. Nada
de convertê-las em escudo para proteção de má von­
tade, de p ouca generosidade no serviço de Deus.
Está certo que marido e espôsa se completem, na

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alma e no corpo. Sendo pais, não se l hes negam
amor e luta pelos filhos, dia e noite. Mas nada disso
lhes torna impossível o céu com seu Deus e l he
atender aos convites. Quando Deus quer formar os
seus santos, lhes põe junto ao berço pais genuina­
mente cristãos. Neste caso a família nem estorvou
os pais, mas até os ajudou como cooperadores do
Senhor na formação de eleitos, de heróis. Mimosa
leitura neste particular oferece o livro "História de
uma família " , que conta a vida dos pais de S.
Teresinha.
A presença dos filhos reclama, ao contrário, mais
aproximação de Deus. Impõe uma vida cristã redo­
brada. As vigilâncias de palavras, atitudes e exem­
plos são naturalmente bem maiores. Mãozinhas d�
crianças cortam-se em facas, queimam-se em fogo
a seu alcance. E também suas almas inocentes po­
dem sofrer cortes e queimadu ras. Daí a vigilância
dos responsáveis. Transpondo tudo isso para o lado
moral e religioso, fica evidente que os filhos coope­
ram para uma vida cristã por parte dos pa is.
Há uma frase afirmadora de uma verdade. Qual?
Os filhos descem do céu e voltam a êle com os pais.
Por conseguinte, ninguém fale em estôrvo visando
a família. Ninguém recuse o convite para o banque­
te com Deus, alegando que tem mulher, que tem
marido, que tem filhos e uma casa a cuidar.

8 8. PAO REZADO
é o nome que dou àquele que é comido, pre­
cedido de u m a oração. Refiro-me à tão desleixada
oração à m esa. Tão belo costum e cristão desapa-
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receu quase totalmente de nossos lares. Nossas fa­
mílias alimentam-se, l evantam-se da mesa, esque­
cidas de quem fêz nascer os alimentos sôbre a ter­
ra. Acompanhando os pais, também os filhos nada
rezam.
Em casa de boas maneiras a criança é acostuma­
da a dizer o seu muito obrigado, a cada passo. E
por que negá-lo então a Deus? Será êle tão estra­
nho assim, em nossa vida? Ou então o nosso pão
nada tem a ver com êle e sua bênção?
Tenho em mãos u m a amável cartinha de certa
mãe de família. Sugere-m e uma campanha a fa­
vor do retômo da oração à mesa. Bela sugestão que
corresponde a u m íntimo desejo que nutro na alma.
Daqui tomo a fazer o apêlo feito há meses: famílias
de minha terra, vamos voltar à oração que precede
e acompanha n ossas refeições.
A carestia da vida, os preços exorbitantes das uti­
lidades, a ausência de tanta coisa, cuj a presença era
tão natural em outros tempos, é um aviso de Deus.
E:le quer que lhe peçam os o pão de cada dia. E que
igualmente lhe agradeçamos a presença dêsse pão.
E' também ordem de S. Paulo que santifiquemos
tudo que fazemos. Ou carnais, ou bebais, ou façais
qualquer coisa, fazei-o em nome do Senhor Jesus.
Não lemos no Evangelho como Cristo rezava an­
tes de partir o pão? Por que relega r tudo isso a
u m m useu de usos passados? Ninguém duvide: não
demorará o bem-estar, omitida a oração, irá figu­
rar nesse m useu de . . . ingratidão. O que é de Deus
nunca é antiquado. E' sempre, será sempre atual
e moderno como nossa fome, a fom e dos filhos, a
fome dos necessitados. Estas serão modernas en­
quanto o m undo dura r.

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Sei de uma coisa. Criaturas que andaram curtindo
fome na guerra e nos campos de concentração, nos
êxodos forçados, sabem dar valor aos dons de
Deus. Pergunto, porém, se será preciso que Deus
nos deixe faltar tudo, para só depois nós nos lem­
brarmos dêle?
Vamos, famílias, nada de respeito humano ou
mútuo acanhamento à m esa. Façamos nossa ora­
ção. Que seja breve, se é esta a dificuldade. Mas se­
ja oração. Daqui abençôo vossa m esa. Nunca lhe
falte o pão e a paz.

8 9. TRISTE LEGADO
deixa para a geração vindoura a família omissa
no seu dever de votante. Incúrias, cobardias, displi­
cências e indisciplinas neste dever, acarretam mal­
dições dos filhos. Voto na mão, voto na urna, vo­
to no digno é lema sagrado hoje em dia.
Os inimigos da nossa causa vivem dizendo que a
religião nada tem com a política. Até certo ponto
vale a frase. E' falsa e insidiosa, quando pretende
sustentar que votar não é dever religioso. Agora
falam assim e depois, com podêres nas mãos, in­
vestem contra a reli'g ião. Agora convidam à omis­
são e aplaudem-na. Chegam mesmo a apontar como
católicos modelos os desertores das urnas. Os cum­
pridores do dever eleitoral são taxados de politi­
queiros, interesseiros .
Quem recebeu de Deus a missão de nos orientar
já afirmou e vive repetindo a u rgência do dever no
assunto. Reclama uma visão clara e corajosa dos

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problemas da hora atual. Quer que se passe ao
contra-ataque. Convida a mulher a descer à arena
e tomar parte na luta. Não se contenta com u m a
resistência vigorosa, m a s meramente defensiva. O
lema é : contra-atacar. Isso vale para tôda mulher
ou ainda môça sem compromissos com o lar, ou já
prêsa aos laços da família (Pio XII) .
Não posso acreditar que a família ache mais acer­
tado ouvir inimigos da família, da rel igião, de Deus
do que dar crédito ao guia pôsto por Cristo. Lembro
a ameaça do Mestre: " Quem vos ouve a mim ouve,
quem vos despreza a m i m despreza" Logo importa
cristianizar o sufrágio un iversal. Como fazê-lo, sem
a contribuição ardorosa da família, sobretudo da
mulher como mãe, espôsa e filha?
Acentuo de nôvo que n inguém faz favor à Igrej a,
aceitando tal dever. Abandoná-lo é renegar o batis­
mo recebido. O primeiro partido no qual fomos ins­
critos é o partido de Deus. Este estará sempre acima
de todo e qualquer outro partido, quando su rgirem
conflitos no programa, ou na indicação dos candi­
datos aos votos.
Segue-se que, sendo cristianizado o sufrágio, o
voto terá outro colorido.
Tôda idéia cristã combatida e a bafada tem a
sorte da semente que é destruída. Não surge a á rvo­
re, não aparece o fruto, não amadurece o trigo, não
se transforma em pão. Dirá uma fam ília que o voto
é questão de consciência. Sem dúvida o é. Mas a
consciência, para não desencaminhar, há de estar
bem formada.

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90. PRESENTE E FUTURO
Não se trata aqui de tempos gramaticais. Trata-se
dos dois cenários de nossa vida. Ou melhor, da nossa
dupla vocação, terrestre e celeste. Alma e corpo que
formam o indivíduo, a pessoa hu mana com todos
os seus direitos e deveres. Outro d ia enfrentei nesta
rádio o êrro de apreciação de nosso corpo contra a
mentalidade católica. O corpo nasce, forma-se e
vive na família. Nada demais acentuar, portanto,
o segu inte :
Nossa religião não é m1m1ga do corpo humano,
quando o mantém no seu papel. O pão, o alimento,
a veste, a habitação para êsse corpo fizeram na Igre­
ja os hospitais, os asilos e orfanatos. Entre as obras
de misericórdia aponta tanto as para o espírito, como
as para o corpo. Declarou heróis m u itos de seus fil hos,
que viveram cuidando de corpos famintos ou mal­
trapilhos, doentes ou mutilados. Por isso família
alguma dê crédito a tais calúnias .
E' preferível seguir pelo mesmo roteiro de idéias
traçado pela Igreja. Na vida p resente nossa religião
quer o corpo tratado, mas sujeito às leis de Deus e
respeitoso auxiliar da alma, de cujo destino glorio­
so irá participar numa gloriosa ressurreição. A Igre­
ja não combate o sadio esporte, sujeito à escala dos
reais valores com a primazia da alma em tudo. Pois
cultivar u m corpo, sacrificando-lhe a alma, é cultivar
cadáveres. Há leis de modéstia, de pudor, de traba­
lho, de subordinação para os cristãos que adora m
u m Crucificado. H á idéias que auxiliam a observâ "1-

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cia dêstes mandamentos. Tudo isto porque na vida
presente o corpo tem de auxiliar a alma no serviço
de Deus. Os pés é que nos levam à igreja, os joe­
l hos é que se dobram em sinal de nosso respeito ao
Senhor. Nossa língua fala, canta, excl ama perante
os altares ou em horas de oração.
Famílias ouvintes, tenho m u ito receio de que haja
muita omissão de vossa parte, quando se trata d e
constelar idéias cristãs na alma dos filhos. Meros
costumes sem fundamentos de princípios, ideais e
dogmas, podem ficar sem rastos n o areia! da vida.
U rge dizer aos filhos a razão do pudor e do respeito
com que devem tratar seus corpos e os alheios. Ex­
por-lhes a razão dos sacrifícios que o trabalho, as
doenças, as temperanças imp.õem n esta vida. Quem
não tiver semelhança com o Crucifica do, no corpo
ou na alma, corre grande risco de não ser semelhan­
tea êle na ressurreição.
Hoj e vivemos na época da somatolatria, com por­
tas escancaradas para as imposições da moda, do
esporte, das praias, dos salões. Os Papas andam
repetindo a realidade dos cenários para os corpos
e as almas. Não pedem andem os cristãos vestidos
como gente de outras épocas. Mas os querem res­
peitando também a época para que foram criados,
digo a eterna. Beleza, agilidade, mocidade eterna são
flôres para outros jardins, isto é, para a outra vida
que deve ser preparada agora. Felizes as crianças
que ouviram isso em casa e em seus lares foram
acostumadas às conclusões, pequenas e diárias, g ran­
des e raras, decorrentes do dogma da ressurreição.

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Torno a repetir. Se eu tivesse de levantar mais
u m a igreja na minha vida, consagrá-la-ia a Cristo
ressuscitado. Para quê? Para avivar a fé nessa res­
surreição que nos espera e ensinar como prepará-Ia
para o corpo e para a alma.
As sepulturas encerram os restos mortais de san­
tifica-dores e profanadores de seus corpos. Na mes­
ma quadra de jazigos será d iferente a ressu rreição.
Talvez até entre os mortos da m esma família.

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X VI

91. OUÇAM MINHA QUEIXA


Venho queixar-me com as famílias ouvintes por
causa de um grave descuido que m uitas vêzes andam
cometendo. Uma triste experiência impõe-me falar
bem claro no assurito. Refiro-me ao papel da famí­
lia, quando alguém adoece gravemente em casa.
Está para morrer o marido, ou alguém da família.
Sei de um amigo meu que passou o sábado todo
e a noite inteira gemendo, falando que ia morrer. A
espôsa, aliás dedicada, cuidou de tudo. Menos d a re­
ligião . Deixou morrer o m arido sem assistência re­
ligiosa. Quando me contou o caso, lamentei seu êrro
e ela desculpou-se com um nada qual quer. Estava
cuidando das dores do marido, do méd ico, etc. Na­
da d isso impedia chamar o vigário que, por sinal,
tinha telefone e morava quatro quadras abaixo. Meu
pobre amigo não teve Deus à sua cabeceira. Não
teve oportunidade de deixar para os filhos o último
bom exemplo de sua vida.
Sei que m uitas vêzes a ignorância religiosa tem
seu papel no que lamento. A espôsa a que m e re­
firo contou-me que, morto o marido, rezou um têrço
por êle com os filhos .
Daqui torno a avisar: famílias, é g rave o dever de
providenciar assistência aos doentes que correm pe­
rigo de vida na família. E' duro avisar, m as é preciso.

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O dever é sagrado. Não faltará jeito de, com tacto e
tino, cham ar a atenção do doente para tão g rave
obrigação. O que não pode acontecer é que, rodea­
do de pessoas religiosas, morra um cristão sem os
sacramentos, dentro de u ma família católica.
Que se chame "o pronto socorro" da med icina e
da religião. A Unção dos enfermos é remédio para
o corpo também, quando a saúde entra nos d esíg­
nios de Deus.
Quem deixa seu próximo morrer sem Deus cor­
re o perigo de morrer do mesmo modo. Por amor de
Deus, fam ílias, deixai êsse tolo respeito humano
que fecha a bôca a tímidos. Avisai com jeito, carinho
e caridade vossos doentes que perigam. Ainda mais,
quando se trata do marido, de quem a m ulher é
auxiliar, no corpo e na alma, na vi·d a e na morte.
Acudir às dores físicas é inegável dever, sem dú­
vida alguma. Porém fazer o m esmo para com as
dores da alma é dever ainda mais sagrado. O abu­
sivo silêncio não pode continuar em nossos lares.
Nada de crueldade para com os pobres doentes. En­
tra em jôgo um testam ento? Aí a atitude já é outra .

9 2. HISTORIA PARA MUITAS F AMfLIAS


Ouçam os responsáveis pelos filhos esta história
de Pierre L'Eremite.
Falecera o velho vigário de uma paróquia, peque­
na e rural. Houve comentários sôbre sua bondade,
sua dedicação sempre apressada em atender às ove­
l has de seu rebanho. Depois falou a esperança. Cer­
tamente o Bispo mandaria logo u m padre mais mô-

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ço, mais atualizado. Era claro, a paróquia não podia
prescindir de u m vigário.
Mas os dias foram andando, muita água correu
por debaixo da ponte e nada de vir o nôvo vigário.
Situação desagradável, sem dúvida. E ainda por ci­
ma comentada por outras paróquias de igual valor,
onde os vigários eram logo substituí dos. Morriam
doentes sem a presença do padre, mortos eram se­
pultados só com lágrimas dos parentes, sem a bên­
ção litúrgica. E aí vinha o Natal, ameaçado da au­
sência de um celebrante . Surgiu então a resolução.
I ria uma comissão ter com o Bispo. Lá se foram os_
g raúdos do lugar e expuseram ao prelado a falta
que l hes fazia um vigário. E a resposta?
- Meus senhores, disse-lhes o interpelado, louvo
o interêsse p elo nôvo vigário. Mas há u m ponto no
caso. A paróquia onde vivem os senhores teve vi­
gários durante cinqüenta anos ! Nunca contudo en­
viou uma vocação para o Seminário. Está vivendo
do sacrifício que outras famílias fizeram entregan­
do seus filhos para o sacerdócio. Agora as famí­
lias reclamam vigário numa paróquia omissa no
Seminário. Mas ficaram e ficam com seus filhos em
casa. Querem que dê um prêmio para tal omissão?
E' claro, devo premiar as paróquias cuja s famílias
foram mais generosas, que não vivem com tanto
egoísmo. Não tenho padre para os senhores.
Envergonhados pela franca observação, ao m es­
mo tempo verdadeira, os emissários retiraram-se
pedindo desculpas. Prometeram interessar-se pelas
vocações e voltaram na consolação de m elhores dias.
Levaram para casa sàmente uma vaga promessa.
Certamente as famílias ouvintes estão se aplicando
o conto.

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E daqui eu pergunto se não será êste o caso de
muitas famílias. Vivem dos sacrifícios de famílias
mais generosas. Vivem das lágrimas da saudade
dos pais e dos filhos de outros lares. E.les deram um
filho para Deus e para as almas, para os fil hos de
outras famílias. Não será a tua família, prezada ou­
vinte, parasita na comunhão dos santos? Teus fi­
lhos poderiam ser hoje sacerdotes, dedicados a ou­
tras almas e outros corações. Não o são. Estão em
casa, aparecem quando estão longe. De quem é a
culpa?
Sem dúvida, mesmo repartindo-a, sobra uma g ran­
de culpa para a família omissa. Não houve interêsse,
não se deu valor à vocação. Não se criou o clima fa­
vorável a ela. Vida cristã frouxa, sem ambiente eu­
carístico, sem educação para o sacrifício, sem for­
mação "social" Também sem oração pelas vocações,
sem auxílio pecuniário para outras vocações n ecessi­
tadas. Fam ília que cultiva caprichos nos filhos, que
lhes faz tôdas as vontades, que lhes poupa todos os
sacrifícios não ambienta para o sacerdócio.
Quem sabe, já passaram gerações levando o n o­
m e da família e nada de u m "voluntário" para Deus,
nada de um padre . Está certo isso? E estando er­
rado pretende a família ouvinte continuar no êrro?
E isso em nossa terra onde a falta de sacerdotes é
comentada no mundo inteiro, povoando de angús­
tias as noites dos Papas? Temos apenas um padre
para mais ou menos sete mil fiéis.
Quando será tua vez?

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9 3,. E' A MÃO DE MAMÃE
Num dos p rimeiros bombardeios de Londres pela
aviação nazista, ficou gravemente ferido um soldado.
Hospital izado, eram-lhe p roibidas as visitas. Nem a
própria mãe escapou da sentença d a papeleta pre­
gada à porta do quarto. Mal lhe permitiram alojar­
se na ala fronteiriça de onde, de sua j anela, podia
ver o fil ho virar-se no leito de dores. Certo dia veio­
lhe uma idéia que mereceu aprovação do médico.
Disfarçada em religiosa e sem trair seu nome, cuida­
ria do enfêrmo que levava bandagem nos olhos. O
d isfarce deu certo, até o dia em que, colocando ela
sua mão sôbre a testa do ferido, para m edir a febre,
foi descoberta.
- Qu e sinto? - diz o soldado. - E' a mão de
mamãe!
O médico-chefe que há pouco relatou o fato ajun­
ta o seguinte comentário : " O amor à mãe vive eterna­
mente no coração do homem. Manifesto o desejo de
ver tôdas as mães merecendo serem reconhecidas de
tal modo pelos filhos"
Prezada ouvinte, não é a carícia de u ma mão ma­
terna que revela as mães. E' a ternu ra que o coração
lhe comunica . Sobretudo quando êsse coração é sa­
turado de amor cristão pelos filhos. Bendita mãe
que ao dar, ao castigar, ao recusar, ao cura r, ao am­
parar, ao apontar um ideal pode ser reconhecida pe­
la sua mão! Tenho para mim ser isso impossível,
quando as mãos maternas não se ajuntem em ora­
ção diante de Deus. Será difícil ao filho reconhecê-las.
Piora o caso quando as mãos vivem poupadas, por­
que a mãe não sabe ocupá-las também em devota-

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mentos caseiros ou caridosos. Perdem a sêda d a ma­
ternidade. Sei que não faltam mães compreendendo
que são, na vi-da dos seus, uma representação m u ito
pálida da Providência de Deus, sempre "pai e mãe"
para suas criaturas. E' indiscutível uma verdad e : quan­
to mais perto de Deus vivem as m ães, melhor o re­
presentam. Quanto mais afastadas dêle pelo pecado,
pela falta de religião e piedade, tanto menos são re­
conhecidas pelos filhos.
Nesta altura gostaria de ver minhas ouvintes entre
as primeiras classificadas. E' pobre demais quem vê
na mate:-nidade apenas u m fenômeno natural da p ro­
pagação da espécie . Um sacramento, misterioso em
Cristo, prepara as maternidades com antecipação de
graças, de auxílios, de luzes, de intuições. Lamento
demais seja êle lembrado apenas para aniversários,
bodas de prata e de ouro. De resto vive esquecido,
apesar de ser um sacramento permanente ao longo da
vida dos casais. Como pensas, ouvinte?

94. SOMOS ASSIM


Certo dia disseram amigos a Franklin: "O sr. deve
ser muito feliz com tanto renome, tanta ciência, tan­
tos amigos e haveres". O sábio Franklin nada res­
pondeu, mas chamou uma criança que brincava por
ali e deu-lhe uma bela maçã. A presenteada ficou
radiante de alegria. Sem demora cravou seus d en­
tinhos na macia polpa da fruta. O sábio deu-lhe mais
uma masã, maior ainda e mais bonita. Nôvo brilho
nos olhinhos da criança. Agora suas mãozinhas es­
tavam tomadas. E lá veio a terceira masã, muito

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maior e muito mais apetitosa. E então a criança lar­
gando no chão as três frutas desandou a chorar. Era
felicidade demasiada ou incapacidad e para tanta fe­
l icidade .
- Meus senhores - d isse Franklin - aí está nos­
sa imagem d iante das apregoadas felicidades da ter­
ra. Sem dúvida, somos pequenos para segurar tôdas.
E quem poderá desmentir tal afirmação? Portanto
muita razão têm aquêles pais que p rocuram desen­
volver nos filhos o sentido da sobriedade. Que sa­
bem ensiná-los a se contentarem com pouco, com
uma maçã, sem p reocupação com outras, qu e podem
ser maiores e mais bonitas. Hoje m u ito se peca con­
tra tal programa. Muita criança é uma esponja embe­
bida de desejos. Vive saturada, empanturrada de agra­
dos e brinquedos, de divertimentos e de gulodices.
E' claro, tudo acabará em chôro porque somos
feitos limitados de mãos, de coração. O que é demais
satura, enfastia, ou, pior ainda, d esperta maiores
gulas de coisas i mpossíveis.
Não digam as famílias ouvintes que a gente deve
ter coração mole e bondoso para com os pequen os,
cujo futuro poderá ser bem cruel nas i ncertezas que
nos cercam. Jamais negarei os direitos da bondade
quando justificados e educadores. Mas saturar os pe­
quenos, pôr-lhes nas mãozinhas o que é demais, ter­
mina em pranto. Tal p rocedimento tem outro lado
m uito sério. Pois essa saturação converte os peque­
nos em terríveis egoístas, desprovidos de senso so­
cial, sem visão para outras mãos vazias.
A vida não anda d istribuindo m açãs, em croma­
tismos de tamanhos e belezas. E' dura e muitas vê­
zes poderá ser cruel, arrancando o p ouco que se tem
nas mãos. Por isso ir treinando os p equenos para as
Mundos Entre Berços - 13
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renúncias vin d ouras. Mas tu do basea do numa men­
talidade cristã, que apela para princípios sobre­
natura is. Ao lado da criança com duas maçãs nas
mãos caminha Cristo, pequeno com os pequenos,
de mãos vazias de fel icidade. Vosso filho, família ou­
vinte, precisa ter essa visão cristã. Em vez de querer
o que não pode segu rar, saiba repartir. Pois há mais
felicidade em dar do que em receber.
Há mães que possuem um carisma neste ponto.
Obrigam a um sacrifício e recompensam-no com u m
sorriso canção para a alma d o filho. Contentar-se
com o pouco, numa sobriedade cristã e comunitária,
é garantia para felicidades mais freqüentes e mais
intensas na vida.

95. ENSINO ESQUECIDO


Outro dia insisti com a fam ília no cumpri mento de
um dever sagrado : exigir ensino religioso para os fi­
lhos alunos. Preveni-a contra valorização exagera­
da de conheci mentos de história, ciências e desco­
nhecimento da religião. A propósito trago uma cita­
ção interessante de M. Raymond. Está no livro "O
homem que se vingou de Deus". Diz êle o seguinte :
" A noção da soma e da subtração será mais impor­
tante do que o conhecimento, de que a natureza hu­
mana, "somada" à natureza divina da Segunda Pes­
soa, "subtraiu " o débito infinito que o homem tinha
contraído com Deus? Será mais útil que a criança
seja cuidadosamente instruída no saber cancelar si­
nais arbitrários e símbolos, do que instruída no can­
celamento dos pecados? A mente juvenil, no mo­
mento em que desabrocha, deverá ser atulhada

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com a descrição de tôdas as guerras da história, e
ficar na ignorância da guerra incessante que o ho­
mem tem que combater contra Satanás? Será, acaso,
mais vantajoso saber as causas da ruína da Grécia e
de Roma, do que saber que o nosso pior inimigo so­
mos nós próprios? Para a educação ser vital deve ser
sinônima de "construção". O seu objetivo essencial
deve ser a " expressão" e a "construção gradual" do
homem, que está escondido debaixo d a criança e de
elevá-lo até à gigantesca estatura de Jesus Cristo.
A educação laica não é e não pode ser educação,
visto que, para educar o homem, é p reciso conduzi-lo
a Deus. O sistema atual das escolas públicas, desde os
jardins de infância até às Universidades, serve para
ensinar aos alunos a ganharem a vida, mas não a
viverem a vida. Ora, enquanto o homem não sabe
viver a vida , não está educado"
Raymond refere-se aos laboratórios de química e
física, à biologia e à higiene. Mas acentua que há
outros mistérios na religião mais n ecessários para hi­
giene espiritual. Fala da educação que mostra estrê­
las e planêtas, mas não indica "a nossa casa para
além dos p lanêtas". E isto é de péssimo gôsto. A pri­
meira sem a segun da é simples conjunto de noções.
A primeira com a segunda é sabedoria. Enquanto,
com o nosso ensino, não encararmos tal sabedoria,
seremos sempre "o cego guiando outro cego", com­
panhia que, evidentemente, não l eva a bom fim .
Famílias, pensai u m pouco nisto tudo .

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9 6. A MAIOR LEI DA VIDA
é, sem dúvida, amar a Deus e ao próximo por
causa de Deus. Nós valemos o que vale nosso amor.
Temos o tamanho que êle tem. De tempos a tem­
pos a Providência envia-nos exemplos heróicos que
apagam as fogueiras do ódio. Aí está o caso verídi­
co que vou relatar à família ouvinte.
Era na luta civil espanhola dirigida contra os comu ­
nistas. Certo rernendão d e sapateiro foi alçado por
êste3 a prefeito de um lugar conquistado. Bem de­
pressa mandou prender um pequeno industrial, orde­
nando que o fuzilassem. Mas só d epois de ter visto
o sangramento de suas duas únicas filhas. Não que­
ria sobrevivessem ao pai. Suas o rdens foram bàrba­
ramente cumpridas.
Veio a reconquista do lugar pelas tropas de Franco.
Prêso, por sua vez, nosso "prefeito" é condenado à
morte. Dizia abertamente não se arrepender de suas
sentenças. Lamentava apenas ter deixado viva a viú­
va do industrial. Esta, cristã da gema, procura o co­
mandante da praça e pede clemência para o conde­
nado. I rritado, o jovem capitão recrimina à senhora
tal pedido, indigno dos brios de urna espanhola. Ou­
ve uma resposta à altura : quem lhe pedia clemência
punha os brios de cristã acima de qualquer outro.
Como cristã tinha de amar os inimigos. Pede depois
l he seja entregu e a pobre menina, filha do condena­
do. Nem isso. O Estado cuidaria da ó rfã.
Então D. Teresa vai ao encontro do condenado, que
já era levado para a praça do fuzilamento. Roga-lhe
a entrega da menina pequena. Ouve a fúria respon­
der-lhe um não cruel. Preferiria que juntamente com
êle fuzilassem a pequena. Mas a bondade teimosa aca-
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ba vencendo. O pai entrega a filhinha aos cuidados
de outro amor, mais forte e mais a bastado. A meni­
na passa a ser filha de u ma senhora a quem a mal­
d ade havia roubado outras filhas. A criança cresce
num lar cristão, ao calor de outro amor materno.
Tornou-se verdadeira e carinhosa filha, enchendo d e
a legria a viuvez de sua benfeitora. D. Teresa morre,
enfim, pranteada pela filha adotiva. E esta herda tô­
da a fortuna existente.
No lugar todo mundo apontava nossa heroína como
uma santa da caridade. Consagrava-lhe profunda ve­
neração. De fato, tal caridade só pode nascer do amor
a Deus. Só a graça d ivina pode impor silêncio ao
a larido dos sentimentos humanos num caso como o
exposto. Pedro achava que, somando sete perdões
ao ofensor, já estaria quite com seu dever. Mas Cristo
Senhor exigiu u ma soma muito maior: 70 X7. Isto é,
número indeterminado.
Agora, família ouvinte, um exame. Em tua famí­
lia cultiva-se a caridade da esmola, do p erdão ( esmo­
la ainda maior) , da discrição? Receio que mu ita fa­
mília ande falando em brios e honras, esquecida dos
brios e honras da cristã. De forma alguma é briosa
cristãmente a família que cultiva inim izades, pratica
vinganças, corta relações, nega palavra e cumprimen- '
tos por motivos inaceitáveis em inexistentes. Na ba­
l ança cristã o pêso de ofensas e injustiças recebidas
é outro.
Pior ainda o caso quando tais atitudes passam co­
mo macabra herança para os fil hos. Não se aleguem
brios "sociais". Nossa comunhão dos santos tem di­
reitos aos mesmos brios. Nossa inserção no Corpo
Místico de Cristo Senhor tem heráldica de fidalguias
com brios ainda maiores.

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X VII

9 7. JA PENSOU N ISSO?

Vamos recorrer a uma comparação, família ouvin­


te. Durante mu ito tempo não se dava mais impor­
tância, nem se reconhecia a natu reza social do ho­
mem. Falava-se como se os homens fôssem u m
número igual d e individualidades isoladas. Agrupa­
dos em diversas sociedades, tudo tomava feição de
um fenômeno secundário, desligado da personali­
dade do homem. Hoj e n inguém rejeita a afirmação
de ser o homem um ente social, de uma maneira
interior, em si mesmo.
Nascemos vitalmente como membros de comu­
nidades naturais. Primeiramente como membros da
comunidade familiar. Há outras sociedades onde
o homem se inscreve depois, livremente. Por exem­
plo, a escola é uma delas. Mas os laços da família
e da escola são de natureza muito d iferente. A crian­
ça não pertence vitalm ente à escola. Essa pertinên­
cia dada pela natu reza é com a famíl ia. Agora, fa­
mília ouvinte, vamos adiante para obrigar a uma
reflexão mais profunda em responsabilidades.
Na Igreja a criança batizada não figura com o u m
aluno figu ra na escola, onde está porqu e o aceita­
ram como tal. Não está como um sócio inscrito
num movimento juvenil. Não . Pelo n ascimento so­
brenatural , que é o batismo, - êsse esquecido ! -

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converte-se a criança em membro da Igreja, cuja
vida recebeu. Não está na condiÇão de u ma criança
que foi adotada, ou de um cidadão que conseguiu
carta de cidadania num país estrangeiro. Não. O
batizado - no caso teu filho - de maneira inte­
rior, pela vida sobrenatural de sua alma, é m em­
bro vivo da Igreja de Cristo.
Daí nascem conseqüências muito sérias para a
família e para o batizado. Primeiramente, a fam ília
há de preocupar-se com essa filiação e o programa
da incorporação a Cristo, à sua Igreja. Tem d e p en­
sar nisso, como pensa em integrar seu filho sadia­
mente na sociedade civil, formando-o para bom ci­
dadão, útil, dedicado à sua pátria. Vasto é o pro­
g rama no assunto. Inteligência, vontade, coração, ati­
vidades dos sentidos, da profissão ao longo da vi­
da - tudo há de ser saturado dêsse pensamento.
Saturado e atualizado. Pio XII afirma que o verda­
deiro cristão é homem para tôda e qualquer época.
Está sempre à altura do tempo. Isso não se dando,
houve falha na formação. Já pensou nisso, fam ília
ouvinte? Em caso de omissão, repare o êrro em
tempo. Ninguém deve reduzir o batismo à mera
cerimônia religiosa. São tantas as reservas que
acumula na a lma, que se torna lastimável o des­
perdício delas. ! Já pensou nisso?
.

9 8. O HORARIO DO DEVER
Ozanam, tão conhecido no mundo da caridade,
era um homem de Deus. Ideou e fundou as Confe­
rências de S. Vicente que hoje são uma potência

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no mundo da caridade. Dêle, por exemplo, são as
palavras que cito à família ouvinte : " Entre o pas­
sado onde estão as nossas recordações e o futuro,
onde andam as nossas esperanças, está o presente
com os nossos deveres".
Muitos casais vivem falando do dia de amanhã.
Adiam para amanhã um mundo de coisas. Até a
vida, transmitida com amor, é adiada para amanhã.
Entretanto o verdadeiro dever está na sombra, à
espera da vontade.
Possivelmente uma palavra deve ser dita com se­
riedade e amor ao filho, à filha. Fica sempre para
amanhã. Mas o tempo não espera quando traz
problemas que reclamam soluções exatas, para im­
pedir erros que têm p ressa de chegar. Quando se
trata de lucro em moeda não se deixa para o dia
de amanhã. Mas Deus tem de m orar no amanhã
com seus direitos. O dever religioso fica adiado.
Uma conversão necessária fica na sombra até a
vontade resolver-se. Uma d ívida a ser paga fica para
amanhã quando as posses o permitem hoje e a
necessidade do p róximo o impõe.
Ora, cada dia é uma vida em miniatura, escreve
Knox. Daí o aviso de S. Paul o : " Exortai-vos uns aos
outros, todos os dias, du rante o tempo que se cha­
ma hoje" ( Heb 3,13) . Para um cristão a época não
é adiamento. Muita coisa reclama sua vida integral
na religião, seu apostolado no ambiente em que vi­
ve porq u e chegou a hora dos leigos. A Igreja con­
clama-os. Quer arregimentá-los porque para os m aus
não há o amanhã. Só existe o hoj e. Nosso Brasil
está seriamente ameaçado na sua estrutura religio­
sa por protestantes, espíritas, comunistas. Pode em

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tal emergência uma fam í l ia católica viver son hando
com o passado, largando o ·d ia d e hoje para o
inimigo?
Conta-se que certo rei recebeu u ma mensagem
para ler. Deixou-a para o dia seguinte, o tal ama­
nhã. Mas naquela noite foi assassinado, conforme a
m ensagem avisava, alertava.
Que papel representa na pedagogia o tal emprêgo
do amanhã? Papel funesto. Pois os pais vivem deixan­
do para amanhã o que u rge corrigir nos filhos. To­
leram em seus lábios a deserção do dever de hoje,
engavetado cômodamente pela TV para o dia se­
guinte. Família ouvinte, guarda bem esta máxima
em tua conduta : "O dever é majestade. Seu horá ­
rio é sagrado".

9 9. RAMO COM CEREJAS


Na alma de um pequeno culpado gravou-se aquê­
l e ramo com cerejas pretas. Homem feito, nunca
mais dêle se esqueceu. Ouçamo-lo : " Eu era garôto
e apanhei u m ramo de cerejas p retas e depois es­
petei-o no meu chapéu. Assim enfeitado, com um
assobio nos l ábios entrei em casa, onde meus bon­
dosos pais labutavam pela vida. Quebrara o ramo
no pomar do vizinho, às escondidas do dono e do
cão que vigiava as árvores. Ver-m e e perguntar-me
pelo ramo onde o colhera, foi uma só coisa em mi­
nha mãe. Respondi que o ramo era do nosso pomar.
Mas depressa me lembrei que cerejas pretas não
existiam nêle. Fiquei esperando por coisas pretas.
Mentira descaradamente. Mamãe contudo nada dis-

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se. Calou-se e saiu da sala, entrando na despensa.
Fui atrás dela e encontrei-a chorando num canto.
Parecia o chôro de mãe cujo filho é l evado para a
cadeia. Abriram-se então meus olhos. Vi que mi­
nha mentira era a causa daquelas lágrimas m ater­
nas, tão sentidas e tão i merecidas. Na bôca dissera
u m a mentira e nos olhos minha mãe tinha lágri­
mas. Confessei depressa minha mentira, pedi per­
dão à minha mãe, que me ordenou devolver o
ramo. Queria que confessasse ao vizinho o meu
êrro. Obedeci e m tudo.
- Ora veja, - respondeu-me o roubado, rindo-se.
- Então por causa de um punhado de cerejas
vem confessar-se comigo? De bom coração dou-lhe
o ramo e as cerejas que êle carregava. Sabe de
uma coisa, garôto? A á rvore é sempre visitada pe­
los ladrões. Plantei-a para . . . êles. Lamento você
figurar entre êles. - Aprendi para o resto da vida :
aquêle pobre homem tinha árvores só para ladrões !
No caso relatado a mãe soube curar uma "arte"
do filho pequeno. Soube também corrigir um êrro
e uma falta, a m entira. A bem-aventurança do Evan­
gel ho, sôbre os que coram pela justiça, teve apli­
cação aqui. A mãe do culpado foi consolada pelo
a rrependimento q u e soube provocar. Lamentável é
que hoje em dia faltem tais lágrimas em m uitos
l ares. Mas não faltam filhos desrespeitosos do alheio
- bens e fama. Certo colégio reuniu os pais dos
alunos e l hes m ostrou os danos por êles causados
nas instalações, nos livros, nas carteiras, etc. Deviam
constatar a falta de senso social nos filhos. O que
então viram foi tremenda acusação contra os lares
de onde p rovinham.

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O problema da m entira é hoje estudado pela
psicologia moderna. Mas o remédio? Nem sempre
será o castigo físico, ou a reprimenda mole e fingi­
da. Digo fingida, porque não raro acontece ser a
mentira relatada como " inteligência" do filho que
soube sair-se de u m apuro. Tenho a qu i uma per­
gunta dolorosa. Não há porventura pais, mestres
em mentir, perante os filhos? Não compram m enti­
ras dos filhos para seus apuros? Vão com isso per­
dendo a autoridade moral para corrigir o que êles
mesmos ensinaram .
Era à entrada de u m ônibus, onde u m fiscal per­
guntou pela idade da criança. Não coincidiam as
m entiras dos pais que foram obrigados a tirar a
passagem, da qual tencionavam escapar. E o fis­
cal a me dizer, entre irônico e gaiato : "Veja só, êles
não combinaram antes !"
Há tais combinações em teu lar, família ouvinte?
Ou lágrimas num canto para emenda dos mentirosos?

1 00. NAO E' PROGRAMA


Impressionante cena relata um desterrado, meti­
do no barracão da morte com outros companheiros.
Era no campo de concentração de Auschwitz onde
os espancamentos bárbaros se sucediam sem com­
paixão. Levado para o tal bloco da morte e anexo
crematório, dá com outros mortos e outros que ago­
nizam. E de repente ouve um gemido, entrecorta­
do com o seguinte pedido : "Companheiro, se me es­
tás ouvindo, vem ajudar-me!"

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Nosso desterrado vai se arrastando por entre mor­
tos até chegar junto do agonizante. Para que o cha­
m a ra? Para desabafar sua vida. Relata o roteiro dela,
com pobreza inicial, conquista lenta, ascensão, bem­
estar final. Depois a prisão, o espancamento, a mor­
te próxima. Mas entre m uita coisa que disse, repe­
tiu. como a última e com insistência sua vida d e
família.
- Tive m u l her e filhos que me amavam - fa­
lou - mas eu pouco correspondia a tudo isso. Como
m e pesa tal p rocedimento !
Família ouvinte, aí está u m arrependimento tar­
dio. Por isso relembro o grande dever do amor cris­
tão e mútuo entre marido e mulher. Importa ir vi­
vendo êsse p rograma de amor, nas m inúcias apa­
rentemente insignificantes de cada dia. Para devo­
tamento louvável não se torna necessário um ce­
nário imponente e vistoso. Nem auditório a bater
palmas. O mundo pequeno do lar é suficiente para
apreciá-lo e dêle tirar exemplo para o futuro.
O simbolismo de teu casam ento, espôso, é gran­
de. Representa o mais belo e mais heró ico amor que
a terra jamais viu. Digo o amor de Cristo à sua Igre­
ja pela qual se imolou. Nosso agonizante chamou
alguém para lhe ouvir o remorso tardio. Deveria ter
mostrado mais amor à mulher e aos fil hos . E
para a ilustre espôsa tenho outro fato a relatar. Cer­
ta vez, atendendo eu a u m amigo que m orria, tive de
ouvir a espôsa lamentar-se de não o ter compreen­
dido, não o ter suportado mel hor, nem ajudado com
mais amor.
Ora, para que esperar por tais remorsos, que na­
da mais resolvem? Sei que não faltam desculpas e
pretextos, ou m esmo dificuldades r�ais. Mas cem

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d i ficuldades não dispensam d e u m d ever básico. Foi
o a mor que falhou e na sua falta houve exagêro
na avaliação dos entraves. Justamente para disci­
plinar a resistência do amor há graças especiais, cha­
madas "graças de estado". Os casados cristãm ente
recebem-nas com o sacramento do m atrimônio. São
energias latentes, sempre à disposição dos interes­
sados.

1 0 1. VOCE E' VOCE


e nós somos nós - repetia certa mãe, qu<:n­
do refutava reparos dos filhos sôbre a diferença de si­
tuações sociais. E' que na classe havia crianças que
se portavam como princesas . Tratadas com luxo e m
casa, estendiam-no também à escola . Na família
dormiam quando queriam, deitavam-se quando es­
colhiam a hora. Chovia? Ficavam em casa, por cau­
sa de possíveis resfriados. Resfriavam-se? Eram tra­
tadas a chocolate e bombons e visitas. Fazi a m pro­
posital sombra para as companheiras.
Estas copiavam-lhes os modos, as elegâncias, as
falas, os penteados, os gastos. Olhares desdenhosos
eram então dirigidos às crianças, que no aniversário
nada ganhavam em presentes de valor. Então, em
casa, as companheiras viviam lembrando aos pais
aquelas princesas. Queriam o mesmo trato. E nos­
sa mãe não dava mais valor às reclamações de suas
pequenas comparativas. Apenas lem brava-lhes a po­
sição que ocupavam, redizendo-l hes sempre a frase:
Vocês são vocês e nós somos nós.

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Aí estâ u m ponto d e importância na formaçã o dos
filhos, família ouvinte. U rge incutir-lh es a presen­
ça de pessoas de nível diferente, real ou aparente.
E estas com bôlsas maiores e de mais recu rsos, com
conceitos diversos quanto ao amor d os pais. E:ste
amor não será p rovado apenas com capitulações,
perante exigências recebidas dos filhos.
Em nosso caso tratava-se de meninas . Na classe
dos m eninos sobejavam imaginários lordes e prín­
cipes. Recebiam custosos presentes, freqüentavam
cinemas à vontade e sempre tinham dinheiro para
gastos. Mas a mãe, que cita a frase, lembrava-se en­
tão de seu tempo de menina, quando por sua vez
fazia a mesma reclamação e recebia a resposta re­
petida agora aos filhos.
Sem dúvida, a resposta encerra sabedoria digna
de ser herdada e transmitida. Criar filhos numa
atmosfera irreal de confôrto e fartura é êrro g ra­
víssimo. O que mais importa é radicá-los na situa­
ção em que se encontram. Poderão partir dessa ba­
se para novas conquistas na vida. Nunca se deve co­
locá-los como marginais na vida, vivendo longe da
realidade. Não é preciso que teu filho, família ou­
vinte, tenha tudo que outros têm. Poderás atender
um ou outro desejo. Todos não, mesmo que a lote­
ria derrame em tua casa a sorte g rande. Sonhos e
desejos próprios ao ambiente são a d missíveis. São
da idade. Olhos, vendo o que outros p ossuem, não
podem ser fechados. Nunca para cultivar a inveja
e a insatisfação. O pesar causado por tal visão não
fará mal aos filhos .

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102. VAMOS OUVIR
um conto chinês. Um môço, filho de u m a
viúva, a mava a u m a bela jovem. Mas esta só queria
brincar e acabou traindo-o. O môço deixa sua aldeia
onde tudo lhe recordava uma felicidade desfeita. An­
da pelo mundo, m etendo-se e m aventuras, brigas, jô­
go. Vai o povo e diz à mãe que seu filho enlouquecera.
- Meu filho não enlouqueceu, responde a mãe.
Quer apenas esquecer o passado. Posso comp reen­
dê-lo.
Depois o môço ficou rico e celebrado. Volta o
povo a dizer à mãe que o môço tinha agora a res
sombrios e tristes. A informada responde que de
certo se tratava de muita preocupação com os ne­
gócios. Não se tratava de tristeza, de orgulho, arre­
matando sempre com o final :
- Meu filho não é isso. Posso compreendê-lo.
Certo dia o filho volta ao lar. Já mais embranque­
cido, com ares de muita reflexão. Recebeu-o a mãe
com a conhecida frase sôbre a compreensão. Nisso
acontece o inesperado. O rosto daquele homem
abre-se num sorriso. U m abraço aperta a mãe a seu
coração. Com a cabe�a reclinada sôbre o o mbro
materno, o aparecido fala :
- fv\ãe, és a única que me compreendeu ao longo
da vida.
Família ouvinte, sério problema é êste, para os
pais, que leva o nome de compreensão. Nêle há
coisas lentas e pacientes ditadas pela observação
dos filhos, em suas várias fases de vida. Nos filhos
há rea!idades que amadurecem e não se apresentam
a não ser em dada " estação", ou idade. Não obede-

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cem ao comando dos pais. Importa m uito ver sem­
pre o lado de Deus e o lado do homem na criatura,
a crescer, a m exer-se em teu lar. E:.rro grave come­
tem os pais quando só sabem apontar os defeitos
dos filhos, como se fôssem cegos às qualidad es
existentes, realmente ou possivelmente.
Nem faltam os erros dos que vivem fazendo com­
parações desalentadoras, quando elas d everiam ser
alentadoras. A si mesmo disse Agostinho, que se
converteu em grande santo : "Se os outros puderam,
porque não poderei também eu?" A pais cristãos
lembro que o Espírito Santo é o primeiro educador
compreensível que temos e teremos sempre. Impor­
ta buscar com êle as luzes e intuições de filho a fi­
lho. Notam os filhos que são compreendidos? Abrem­
se aos pais, entregam-lhes as chaves de todos os
seus cofres e segredos.
Contudo p revino que compreensão não é smom­
mo de tolerância ou conivência com o mal, o re­
provável na vida de um cristão em qualquer idade.

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X VIII

103. A TV SILENCIOU
justamente num domingo, pela manhã,
quando a pequena de sete anos se divertia com
ela. Luz e música desapareceram. E logo a menina
a perguntar, chorosa :
- Mamãe, que vou fazer agora? Não tenho mais
nada com que me divertir. - Entretanto sobravam
brinquedos pelo tapête e lá em cima a irmãzinha
não tardaria a ficar p ronta para descer. Nossa pe­
quena já estava saturada de tudo e só reagia diante
da TV, que lhe estragara o sadio apetite de criança.
Queria coisas mais vivas, mais condimentadas, mais
em reboliço do que os silenciosos brinquedos.
Família ouvinte, dizem os anúncios comerciais
que a TV é a m elhor paj em , babá sempre às ordens.
Mas isso não passa de tática comercial . Na Bélgica
os srs. Bispos pensam de modo diferente e enviaram
uma Circular alertando sôbre os deveres de educa­
dores cristãos no caso.
" Por mais admirável que seja esta invenção -
escrevem êles - por mais interessante que ela
seja em vários pontos, é certo que interfere sensivel­
mente na vida de u ma família. Diminu i o amor ao
estudo, à l eitu ra na mocidade. Reforça a inclinação
para u ma passividade espiritual".

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Sem dúvida, resultados muito desfavoráveis. E
isso sem tomar em conta o conteúdo d os p rogramas.
Entre nós os programas infantis são doentios, de­
seducadores e muitas vêzes abertamente i morais.
Os critérios que controlam a exibição ou a produ­
zem são comerciais, ou são de u m l iberalismo in­
crível. Lembro a palavra de Pio XII chamando a TV
de injeção " endovenosa " Entra na família, veia d a
sociedade. Francamente, e u gostaria andassem os
pais com mais escrúpulos neste ponto. E' a TV
assunto para o exame de consciência para as confis­
sões. Na Alemanha os srs. Bispos condenam a pre­
sença do aparelho da TV no quarto de dorm i r dos
pequenos. Condenam seu funcionamento antes da
preparação das tarefas escolares para o dia seguinte.
Mu ita criança - como tenho visto - não sabe fa­
zer o sinal da cruz, não sabe rezar as orações ele­
mentares da vida cristã. Mas já sabem l igar e desli­
gar a TV, sabem os nomes dos que falam e traba­
lham no programa.
Levo a triste convicção de ser a TV um campo
de batalha onde em geral os pais são derrotados.
Mais ainda. A passividade das famílias que não
gritam, não reclamam contra maus programas acusa
uma falta de consciência da fôrça que têm nas m ãos,
ausência de agressividade na luta pela alma dos
filhos. Sobretudo acusa uma falta moral que deve
despertar remorsos.
Com isso não quero desfazer do bem que umd
TV bem orientada e controlada pode trazer para o
seio das famílias. O bem, o belo, o verdadeiro -
com seus reinos encantados - podem invadir mui­
tos lares.

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Mas não posso terminar sem u m brado de alerta.
Familias, na luta de atrevidos contra desinteressados
ou desanimados a vitória já tem seu lugar certo.
Vencerão os primeiros. Pouco adiantam críticas, d e­
sabafos, censu ras por entre rodas de am igos. Para
que temos o correio? Para que temos o telefone?
Para que temos Movimentos familiares, Confede­
ração de famílias, Equipes de casais, Legião de Ma­
ria, etc.? A reclamação, o protesto sejam repetidos.
As firmas que patrocinam programas condenáveis
m erecem e devem sentir o boicote. Por favor, famí­
lias ouvintes, não digam a frase dos derrotistas: Não
adianta reclamar! - Reclamem, protestem e sua
consciência ficará em paz.

1 04. UM RETRATO NA CARTEIRA


Em geral nossos rapazes gostam de l evar retra­
tos em suas carteiras. Nem sempre são retratos re­
comendáveis. As vêzes são mesmo indecentes e
indignos. Mas o caso que relato é d iferente. Aquê­
le jovem m arinheiro americano estava no navio ca­
pitânea, já p ronta a esquadra para um ataque ao
inimigo, em Manilha . Eis que lhe cai ao mar sua
blusa. Pede licença para apanhá-la e recebe uma ne­
gativa. Sem vacilar nosso marinheiro salta ao mar
e volta com a blusa. E' prêso como desertor. E' j u l­
gado e condenado a vários anos de p risão.
Mas Dewey, o comandante, quer saber da razão
que levou o condenado àquele gesto de desobedi­
ência. A resposta é simples, mas eloqüente. Dentro
da blusa se achava o retrato da mãe do marinheiro.

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Dewey levanta-se, aperta a mão do suba lterno e re­
leva-lhe a punição, dizendo: "Quem sabe expor sua
vida pelo retrato de sua mãe, saberá fazer o m esmo
pela Pátria".
O gesto do marinheiro depõe, sem dúvida, e m
favor da mulher q u e l h e foi m ã e e educadora. Sou­
be gravar-se no coração do filho, que nem m esmo
à hora de perigo queria estar privado de seu re­
trato. Há mães que sabem conquistar tanto o co­
ração dos filhos, que continuam sempre presentes
dentro dêles. Estão longe dos olhos, mas perto do
coração. São aquelas que souberam sacrifica r-se por
êles. Que souberam respeitar o lugar de Deus n o
coração e na vida de seus filhos. Souberam ensinar
e corrigir, guiar e elevar a alma. Souberam dar a
Deus o que era de Deus e aos filhos o que era
dos filhos.
Nunca se ensina demais o que nunca se aprende
demais, reza uma velha sentença l atina. Por isso
nunca será demais dizer às mães que ser mãe é
programa mu ito sério. Mãe no parto físico e no par­
to moral. O primeiro parto é lembrado no Evangelho
como hora de sofrimento. Mas fica bem para trás
do parto moral, que dura da infância à idade adul­
ta e ainda tem influência sôbre esta. O trabalho é
-de mu itos anos, mu itas horas, a p reço de m uita
paciência, perseverança e oração. As mães que nã0
sabem ter o segundo parto não são integrais. De­
ram vida a corpos e não animaram almas.
Ora, é certo que só ficam, na memória dos fi­
l hos, as mães que souberam gravar suas almas sô­
bre as almas dêles. E' inegável que essa gràvação
será tanto mais atuante quanto mais saturada de

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Deus forem as almas maternas. Saturada de Deus?
Sim, cada dia pela oração, cada semana pela Mis­
sa. Os meses e os anos irão aumentando as dimen­
sões de Deus na alma.

1 Ü 5. OURO POR OURO


Faz alguns anos u m a lavadeira deu o que falar na
cidade de Munique. Sua renda não era grande como
é no caso dessa humilde profissão. Era assídua à
catedral, onde rezava m uito. Idade e doenças ati­
raram-na no fundo da cama. Sentindo-se mal, man­
dou cham ar uma de suas antigas vizinhas, cujo
neto no seminário já estava de ordenação e Missa
nova marcadas.
� Olhe, vizinha, chegue perto de minha cama, -
disse a doente à recém-chegada. - Estou no fim
da vida, mas quero deixar-lhe êste pacote. Nêle
estão guardados duzentos marcos ouro, herança re­
cebida de meus pais. E m ande fazer do ouro u m cá­
lice para a Missa nova de seu neto. Faça-me esta
vontade, sim?
- Mas como é possível ter a sra. tal idéia, na
pobreza em que está?
- Muito simples, vizinha. Quando eu ia à cate­
dral e tinha que sentar-m e num degrau da escadaria
por me faltar o fôl ego, era sempre seu neto que de
saída com outros m e levantava, me conduzia para
dentro da catedral, m e deixando recomendada a
algum conhecido. Sempre guardei no coração tan­
ta delicadeza por parte de um môço. Deus pague a
seu neto tudo isso e diga-lhe que se l embre da po-

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bre lavadeira, quando celebrar sua primeira m issa.
O ouro do cálice é por causa do ouro que êle tem
no coração .
Sabem as famílias ouvintes que sobram no mun­
do e nas cidades os deserdados da saúde, da fortu­
na e do amor. Entre os deserdados figuram n ossos
velhos e nossas velhas que são mal tolerados na casa.
Pio XII pediu , numa alocução aos jovens casais, amor
e carinho para êsses velhos no lar. Há falta de amor
paciente e atencioso para com êles. São árvores que
já deram frutos, sombra e agasalho. Já viram e so­
freram, justa ou injustamente na vida. Trazem suas
cicatrizes no rosto encarqu ilhado. Entretanto não há
sobra de veneração e delicadeza para com êles. Ve­
l hos são como crianças, necessitados de agrados.
E.ste nosso môço tinha de fato ouro no coração.
Q"uem o formou foi a família onde cresceu. O ouro,
que a lavadeira lhe guardou para a Missa nova, ti­
nha seu semelhante no caráter caridoso e nobre do
jovem. Família ouvinte, se os velhos são tratados
como sobrecarga, trastes que incomodam, que im­
põem cuidados em todo sentido, l á se foi o clima
para êles e para os pequenos. Estes crescendo mal
acostu mados e desatenciosos e aqu êles chorando
suas mais amargas l ág rimas na vida.
E' simplesmente indigno de u m cristão dar mais
valer a u m quadro antigo, a um animal que envelhe­
ceu no serviço da família do que a sêres humanos
consanguíneos, construtores do lar, da fortuna e
qu içá do nome que a família leva. Sei que o assun­
to não é tão fácil de ser resolvido, m áxime hoj e com
a vida em apartamentos ou casas sem espaço vital.

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Mas tenha o coração sua chama de amor, sobretudo
cristão, e não será tão difícil amenizar a velhice dos
nossos. Pio XII quer tenham êles o calor de u m a
lareira e de u n s corações.

1 0 6. NUM ANELZINHO A PAZ


Foi assim a história verídica, que leio numa re­
vista católica. Rosinha e Pedro queriam-se como
j ovens no limiar da vida. U m dia ela estendeu para
o .namorado o dedo minguinho, num gesto infan­
til. E:le bem ·depressa agarrou-lhe a mão tôda. De­
pressa ficaram noivos e casaram-se. Viveram m uitos
anos felizes. Mas um dia o céu toldou-se, houve tro­
vões, relâmpagos. Discussão fechada. N inguém que­
ria ceder. O futuro parecia comprometido.
Nessa altu ra Rosinha teve rápida intuição da rea­
lidade. Mais valia a paz do que uma tonelada de ra­
zões, sem ela. Teve uma saída. As tantas, num ges­
to de menina travêssa, estendeu para o marido o
d edo minguinho, acompanhado de u m olhar cheio
de promessas. E:le entendeu o convite. Outra vez to­
ma a mão tôda, símbolo de uma paz. De volta da
cidade traz um belo anel e coloca-o no dedinho da
paz. Alegre reconciliação para os corações. E daí
em diante, quando as coisas iam enveredando rumo
a uma tempestade, pronto : o dedinho entrava em
ação. Era estendido e oferecido em sinal de paz.
Tôda demanda acabava como que por encanto.
Não estou , família ouvinte, preconizando a com­
pra de mais um anel para a espôsa. P retendo ape­
nas que os casais tirem daí uma lição. Qual? A paz

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tem preço e rende mais do que a razão, bandeira
esfarrapada que um pretenso vencedor leva na con­
tenda . Sem dúvida poderá haver ocasiões em
que a razão deva ser sustentada, por exigências de
consciência. Pio XII aconselha a paz sempre que o
dever não imponha firmeza na própria opinião.
Quando direitos e responsabilidades são iguais -
como na educação dos filhos - há de prevalecer a
razão, aprovada pela própria consciência. Mas isso
após serena discussão e exame dos m otivos, de la­
do a lado. Fora disso não paga a pena discutir. A
paz vale mais. E não raramente a parte que cedeu
pode constatar que a outra , a chamada vitoriosa,
lhe vem devolver a suposta vitória do campeonato
de razões. O mal das discussões é aquêle azedum e
que fica nas almas o u s e espalha pela família, di­
vidindo-a. Com elas invade o lar uma luz que tudo
deforma. Tudo é interpretado como vingança, pi­
cuinha, ou coisa pior, por quem perdeu na luta
Tem a ouvinte semelhante anelzinho no dedo, de­
notando conquista da paz?

1Ü7 SIM REPETIDO


A palavra é pequena, composta de três letras
apenas : sim. Em tua vida, prezada radiouvinte, ela
foi dita várias vêzes. A primeira vez foi para declarar
ou confirmar um amor humano ao jovem eleito do
coração. êle também disse um sim e a palavra tor­
nou-se canção.
Depois, perante o oficial civil o sim foi repetido,
declarando q ue Fulano e Fulana se recebiam como

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marido e mulher, perante a lei. Mero contrato civil
que todo cidadão observa, ciente d e que não está
em face de um sacramento. Aliás a Cúria diocesa­
na faz questão que seja observada a lei que o pres­
creve . E' mais u ma garantia para o futuro.
Depois, num cenário todo especial, com flôres,
música, Ave-Maria, marcha nupcial, velas acesas,
foi repetido o sim perante Deus. Foi a hora do sa­
cramento, presente de bodas que Cristo deixou para
o amor humano ao fundar u ma família. Vieram os
parabéns dos pais, dos amigos. Fotografias perpe­
tuaram o acontecimento.
Agora , marido e mulher que me ouvis, resta o
quarto sim. J:.sse é mais corajoso porque enfrenta
as provas do amor fiel e constante. Sim para u ma
fidelidade recíproca, u m amor mútuo e constante,
um devotamento mútuo e coti·d iano. Sobretudo o
sim . . perante a vida. H á casais egoístas que pro­
curam o gôzo e fogem da vida a ser transmitida.
E' grande o sim nas coisas pequenas de cada dia, que
o ponteirinho do relógio debulha sem cessar. Mas
êle é, em certas ocasiões, heróico quando enfrenta
o dilema da profanação ou da geração. Há casais
cobardes nessa hora. Tornam-se então pecadores den­
tro do sacramento em que vivem. Não é programa
para a construção de um lar.
De pequeno, nós cristãos fomos acostumados a
dizer um sim a Deus. Como diz o Pai-nosso? Seja
feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
Quando os pais dizem sim à vida, há respeito à von­
tade de Deus. Para os filhos, aos quais o sim trouxe
a vida, a atmosfera cristã do lar onde a vontade de
Deus se respeita é cl ima para coragem nos deveres.

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Diz uma sentença que os filhos se parecem com os
pensamentos dos pais. As almas tam bém herdam
fisionomias morais, religiosas.
Dizer um sim a Deus, sempre e alegremente, era
propósito executado por S. Teresinha. Clemente Au ­
gusto, o leão de Münster, bispo destemido em de­
fender os direitos humanos contra a fúria de H itler,
disse certa vez : "Sou o décimo terceiro filho que
minha mãe trouxe ao mundo. Agradeço à minha
mãe ter dito sim, quando chegou minha vez"
Por isso importa andar com o sim nos lábios, du ­
rante a vida e em qualquer situação. Assim está sen­
do preparado o " últi mo sim " , à hora decisiva da mor­
te. Nada se improvisa. E nesta hora está armada a
cátedra para a última lição dos pais aos fil hos. Ca­
pital num banco ou em terras ou em prédios não
i mpedem uma falência moral, que se dá quando nes­
sa hora fracassam pais cristãos .

1 08. VOLTANDO COM O ARADO


Terra bem arada torna-se melhor, quando o ara­
do retoma muitas vêzes sôbre o m esmo campo.
N isso as idéias acompanham o arado. Por isso re­
pito conceitos, servindo-me de coisas atu ais. As
famílias já comesam a entender, sentir até, a pre­
cisão de uma confederação. Reunir fôrças, visões e
vontades. Há pouco em Búfalo teve lugar a vigé­
sima sétima Assembléia Católica das Famílias. Com­
pareceram 1 .1 00 delegados de 71 dioceses e vários
representantes da Bélgica, França, Argentina e Uru-

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guai. Além de 1 98 sacerdotes, figuraram na reunião
36 relig iosas, 432 casais.
Nos temas, acentuou-se ser mais importante a es­
piritualização da família, do que a corrida atrás da
sociologia. Um dos oradores mencionou as virtudes
da vida familiar, exaltando sobretudo a castid ade.
Disse-a protetora da união matrimonial, no meio de
um " ambiente sexu a l " , cuja infecção pode atingir
o lar. E atenção, fam í l ia ouvinte ! Disse P. Fahey
que a felicidade familiar depende também do espíri­
to de pobreza.
" Não deve h aver "teu " nem " meu " , senão pro­
pri edade em comum, partilhada com generosidade.
O salário do marido tam bém pertence à espôsa e
esta sacrificará seus caprichos - u m vestido nôvo,
u m chapéu - ao bem-estar da família. Nesse assun­
to uma boa espôsa fará sacrifício às vêzes maiores
que a religiosa com voto de pobreza. Pois esta última
não tem que vencer tentação de comprar um sem
fím de coisas, que o comércio oferece habitualmen­
te às mulheres casadas. As espôsas, concluiu, que
sabem distinguir entre "necessidade" e "capricho"
e inclusive amoldar as "necessidades" à situação
econômica da família, praticam a virtude da po­
breza. Colaboram assim para a felicidade do lar
cristão" (P. Fahey) .
Outro orador destacou a necessidade de dominar
o próprio individualismo em favor do bem da famí­
lia. Da compreensão do a mor é que depende a ven­
tura no lar. Mas compreensão prática no cenário de
cada dia.

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Muitos dos casais que participaram da assembléia
vieram com seus filhos pequenos - 1 20 ao todo
- e alguns ainda em fraldas. Enquanto os pais assis­
tiam às reuniões, as crianças, divididas segundo as
idades, foram atendidas por jovens estudantes da
Escola de Enfermagem do Colégio d'Youville, de
Búfalo.
Em nossa cidade (São Paulo) temos a Confe­
deração das Famílias Católicas. Recomendo-a à fa­
mília ouvinte. Pio XII acentuava muito a necessidade
dessa união, da formação de uma frente capacitada
para lutas inevitáveis. E' o caso de recordar a lição
do feixe de varas. Isoladas são quebradas . . .

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XIX

1 09. UMA VELA HISTORIADA


Eis a história de uma vela, nas mãos de certa
mãe. Branca e alva saiu de sua gaveta. Colocaram ­
na nas mãos d a parturiente, quando l h e nasceu
o sexto filho. Digo, uma menina. A mãe teceu u m a
coroa d e f[ôres com q u e ornou a vela. Determinou
a rdesse à hora do batismo da filhinha Líoba. E o
mesmo acontecesse no dia de sua primeira com u ­
nhão. Aleg rou-se em vê-la acesa q uando Líoba foi
crismada. Teve a alma em alvorôço vendo-a môça
e esbelta como a vela que levava, quando se apre­
sentou de noiva no altar. la receber um sacramento
com alma branca. Veste, véu , vela, alma - tudo
branco .
Depois a vela passou para a posse de Líoba. Não
teve ela a a legria de acendê-la no nascimento de u m
filho, porque Deus a provou com a esterilidade. Mas
certo dia veio a doença abrindo-lhe chagas nos pés
e nas mãos, no corpo todo. Ficou Líoba prêsa ao
leito de doente longos anos, numa santa paciência
de predestinada. O espôso, cristão exemplar, con­
templava aquela espôsa consumindo-se como u m a
vela. Anos passados retirou esta, j á b e m gasta, para
a colocar nas m ãos da espôsa agonizante. Viu en-

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tão como as duas velas - a de cêra e a de carne
humana - se consumiam lentamente. Ambas iam
apagando-se, por entre orações da cristã sofredora.
Que belo símbolo de fé representa essa vela ! Não
faço questão de uma cêra em forma de vela , família
ouvinte. Faço questão de seu símbolo, já que repre­
senta a luz de uma fé perseverante. Essa luz tem
de ser acesa na alma dos filhos, para arder em tê­
das as horas da vida. Sobretudo à hora dos sofri­
m entos. E.stes não podem faltar numa família e nem
devem ser mal recebidos1 profanados, convertendo­
se em mau exemplo deixado nos lares.
Tão abençoada luz precisa ser acesa na alma dos
pais, como numa lareira se acende uma vela. Lasti­
m ável é portanto a ausência dessa luz na vida de
pais e educadores cristãos. Como conseguirão en­
frentar e ensinar coragem, à hora das cruzes? Cris­
to mencionou u m programa para todos sem exceção:
tom ar a cruz e ir atrás dêle. Logo, importa contar
com a realidade, a presença de sofrimentos. Vendo-os
santificados pelos pais, mais fácil será aos fil hos re­
cordar um passado edificante.
A cruz é também capital com juros para quem
herda o nome e as virtudes dos pais. Por isso, famí­
lia ouvinte, vamos acertar nossa visão a respeito
desta realidade. Errado seria contar com improvisa­
ções amanhã. A virtude é treino, é conquista. Vive
ensaiada ao longo de anos para a sua hora.

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1 10. VIDA E BêNÇÃO
Estamos numa escola, onde as crianças são in­
terrogadas por uma ilustre visita, o Sr. Bispo diocesa­
no. Pergunta p elo que deseja m ser na vida. Variam
as respostas como variam os rostos e os tamanhos.
São citadas profissões, carreiras, ambições, etc. Tam­
bém surgem qu imeras. Uma pequena está calada,
de asas encolhidas como avezinha que espera pelo
sol. No amável sorriso do Sr. Bispo que lhe pergunta,
especialmente, a pequena encontra seu clima e diz:
- Eu, sr. Bispo, quero ser uma bênção na vid a !
N ã o mencionou profissão, mas encerrou tôdas n u m
têrmo : bênção. Sem dúvida belo p rograma citou a
pequena. Eu, se estivesse presente, perguntaria lo­
go à pequena pela família que a educou. Pois a res­
posta é um elogio para a família e revela-lhe o cli­
ma cristão d e devotamento ao próximo. Lares que
me ouvis, é isso mesmo a vocação: ser uma bênção
para os outros. Abracem vossos filhos esta ou aque­
la profissão, não pode ser outro o p rograma. Ser
bênção exclui o egoísmo. A vida é uma dívida e bem
paga torna-se uma bênção.
Esta criança estava sabendo que não nascera
só para si e para seus planos, para seus círculos fe­
cha-dos e vigiados. Tinha uma finalidade abençoada.
Há fil hos que podem ser uma maldição para a famí­
lia e para a sociedade. A história está cheia de tais
exemplos e exemplares. Alguns j á começam bem
cedo com o programa da maldição . Vivem na m al­
dição do pecado e do vício. Chamam maldições na
vida de outros, pelos escândalos e seduções. Tudo
isso nossa pequena interrogada excluía de sua
existência.
Mundos Entre Berços - 15 225
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Ora , famí lias, ninguém se improvisa em bênção
futura, quando no presente não vive vida a bençoa­
da, não vê vidas abençoadas. Por isso o clima cris­
tão de amor a Deus e ao próximo é indispensável
num lar. Que lástima e temeridade, quando a famí­
lia prescinde da religião na formação dos filhos !
Mera bondade natural não suporta a carga da mal­
dade humana, que nunca deve envenenar nossa
alma ou estancar nossa bondade.
Dos santos e das santas de Deus sabemos que
foram bênçãos na vida. Um Vicente, uma Alice Le­
clerc, um Ozanam, um D. Bosco, um João de Deus,
uma Sofia Barat perpetuaram suas bênçãos até hoje.
Os séculos passaram, colheram-nas e elas ainda p en­
dem das árvores de suas obras. Há cidadãos que
ao morrer deixam u m vazio na sociedade pelo mui­
to que fizeram em benefício de seus semelhantes.
Outros deixaram campos de concentração, câma­
ras de � ases, etc.
Aqui p revino que família alguma deve esperar
por cenários majestosos para ensaiar os filhos como
bênçãos. Todo exemplo de fidelidade, dependura­
do nos ponteiros dos relógios de cada hora, forma
os filhos. Fidelidade, digamos, ao dever para com
Deus, para com o próximo . Todo mau exemplo no
lar, tôda pequena cobardia ou apostasia diante de
.u ma renúncia é vento nocivo do deserto.
Sobretudo l embro à família cristã que "todo
pecado é u m a maldição, é um foco de infecção no
Corpo místico de Cristo" , como disse Pio XII. Não
há pecado meramente individual, sem repercussão
social. E esta começa pelos filhos, pelos membros
que compõem os lares. Comp ensa criar os fil hos
para bênçãos, porque esta é antecipada nos seus

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efeitos sôbre os pais. Também êles convertem-se
em bênçãos e morrem abençoados. Uma visitante
de Lisieux foi ao túm u l o dos pais de S. Teresinha
para lhes agradecer a filha que haviam dado ao
mundo. Foi agradecer u m a bênção.

111. RESPEITOS EM CASA


"Meu filho, dizia o marquês de Comillas ao ga­
rôto, não d eixes no chão êste pedaço de pão. Res­
peite�o porque é dom de Deus". Não creio andasse
exagerando quem assim se dirigia ao filho. De fato
de quanto trabalho, abençoado por Deus, é prova
o hu milde pão que vem à mesa ! Foi semente n u m
campo, foi colheita debaixo d e sol d e verão. Foi
farinha nos moinhos, foi massa às noites nas m ãos
de padeiros, foi carga depositada às portas pelos
entregadores. Representa a fadiga de quem o ga­
nhou. Por fim é solicitud e de mãos que o colocaram
ao alcance dos famintos, sôbre a mesa familiar.
Há em nossas famílias respeito por êle? H á eco­
nomia primária no trato com êle? Não m andou
Cristo recolher as sobras do pão que multiplicou no
deserto? Certamente nunca será respeito o esban­
jamento, o desperdício, a sonegação de um pedaço
a u m necessitado. Parece-me ver ainda dentro de
uma lata de l ixo, à porta de u m prédio de aparta­
mento, aquela dúzia de pãezinhos ainda bons. E
entretanto o coração de tôda criança tem abertas
suas portas, para sentir tôda a delicadeza do assun­
to e ergue r um nicho para tal respeito.
15 ° 227
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Pio XII menciona mais u m respeito esqu ecido : o
dos velhinhos no lar. Todo velho é dono de qualquer
coisa grande e nobre n a vida. O p assado desapa reci­
do deixa-lhe uma certa majestade. O desmorona­
mento do corpo representa longas fadigas suporta­
das pelos seus. Os passos l entos, a palavra comedida .
denotam a grande experiência acu mulada ao longo
dos anos com seus golpes e sofrimentos. Todo ve­
lho é uma pregação viva confirmando nossa rápida
passagem pelo mundo, onde não temos residência
permanente.
E' verdade, ao lado disso estão aí as misérias, os
defeitos do i ndivíduo, físicos e morais, acompanhan­
do a idade. Mas os familiares têm de aprender, a
qualquer preço, o respeito pelos velhinhos. Pior o
caso quando ao lado do desrespeitado surgem caçoa­
das que magoam, ou reprimendas descaridosas. A
velhice acompanha a primeira infância na sensibili­
dade, como na ânsia de agrado. O Sábio da Escri­
tura vive aconselhando veneração e respeito por
êles. Vão falhando nêles os sentidos. Mas o Senhor
proíbe se ponham tropeços para o surdo, o cego.
As considerações para com êles é forma nobre de
caridade, enobrecedora por sua vez. Sobretu do quan­
do no lar vive uma velhinha, de neve na cabeça e
calos nas mãos, a p assar o dia e as noites rezando
por muita gente. Família ouvinte, se o representan­
te de Cristo na terra fala assim, é para que suas ove­
l has proceda m assim.

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1 1 2. APRENDEU EM CASA
Há coisas que ficam bem, quando aprendidas em
casa. Há outras que, n este caso, são acusações con­
tra a família. Monsenhor Dupanloup conta-nos a
propósito o seguinte caso . Um menino fôra expulso
de certo colégio. E então a cena assim se desenro­
lou, entre a mãe e o diretor do estabelecimento :
- Se meu filho já conhece o mal, sr. diretor, foi na
sua companhia, aqui em seu colégio, que êle o
aprendeu. Eu lho entreguei puro e de bons costum es .
- Infelizmente, minha senhora, tenho provas em
contrário. Não foi aqui que soube do mal. Tem a
sra . em sua casa u m empregado, que l he m erece
tôda confiança. E foi êsse que perdeu o seu filho .
Queira perguntar ao pequeno se isso é ou não ver­
dade .
Era verdade e j á era tarde.
Vigilância dos empregados e das empregadas é
lei sagrada para tôda família. Começa com a escolha
conscienciosa, baseada em informações mais se­
guras. Sem dúvida, lemos na vida dos santos de em­
pregadas que encaminharam pequenos para Deus.
Mas ta mbém sabemos que a mãe de S. Teresinha
levou tempo em descobrir a má influência que certa
empregada exercia sôbre uma i rmãzinha da santa.
O mau gênio da menina tinha sua nascente aí.
Vitor Hugo escreve : " Basta que um pássaro des­
ça a uma ribeira, para que um outro lhe siga o vôo.
Crianças são como passarin hos. Voam umas atrás das
outras. A companh ia sempre teve mu ita influência
sôbre elas" Companhei ros ultrapassam às vêzes em
autoridade os pais, os p rofessôres e até o próprio
sacerdote.
229
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Por que esta menina, tão dócil , recusa certo dia
usa r uma blusa, uma saia que antes aceitava gosto­
samente? E' porque lá u m dia alguma companheira
fêz troça da blusa, da saia, dizendo que estava fora
da moda. E essa opinião bem pode ser precipitada
ou falsa. Contudo obrigam os pais a esgotar sua
autoridade para impor a peça recusada. Impuseram,
mas não convenceram.
- Padre - disse um garôto a u m sacerdote ami­
go que estranhava andar êle com tanto dinheiro -
meus companheiros zombam daqueles que andam
sem dinheiro . - Na idéia dêste menino os com­
panheiros tinham razão. E os pais, que não lhe da­
vam dinheiro, estavam errados.
Por aí, famílias que me ouvis, podeis medir a in­
flu ência da companhia da criadagem dentro de casa.
Na cozinha, na copa, na garagem, nos quartos. An­
dem Anjos da guarda por tôda a p a rte da casa. E
os pais secundem o trabalho dos Anjos .
D. Bosco dizia que nos colégios os maus logo se
encontram. E não se dará o mesmo nas casas de
família? Poderão os filhos ter más tendências. So­
madas ao encontro de outras más tendências na
criadagem, temos um resultado bem triste.

1 1 3. CONSELHOS E REMORSOS
Por um triz aquêle passageiro perdia o rápido d e
Bruxelas. Olhares censuram-no por ter chegado à
última hora, com o trem quase pegando velocidade.
Assim foi recebido no vagão. Ninguém ligava para
sua respiração cansada de retardado. E por cima

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todos os lugares tomados. Por fim u m senhor diz-lhe:
- Reverendo, eu chego mais para o canto e o lu­
gar dá para nós dois. Sua companhia de certo i rá
sossegar-me u m pouco.
Quem assim falava era um senhor com aparência
de doente, ofegante. A oferta é aceita e agradecida.
O ofertante não era outro senão o deputado co­
munista Jacquemotte . Causa estranheza aos presen ·
tes o diálogo que então se estabelece entre ambos.
O comunista fala da sua infância religiosa, da sua
primeira comunhão, da saudosa mãe tão cristã. Men­
ciona o êrro cometido ao abandonar tudo, alistan do­
se no ímpio partido comunista. Conta de seu arre­
p endimento e remorso por ter errado. Torna a ben­
dizer a mãe e seus conselhos abandonados, com tan­
to pesar agora.
Os presentes estavam ouvindo tudo e admira­
va m-se. O padre sabia muito bem do papel de
Jacquemotte na Assembléia . Estava para responder­
lhe com uma boa palavra, quando o compan heiro
desmaia e cai em seus braços. Depressa êsse confes­
sor improvisado dá absolvição ao moribundo, que
após alguns segundos falecia.
Caminhos misteriosos segue a Providência, que
correu com o padre e pegou o trem à última hora,
sentando-se ao lado de u m arrependido. Jacquemotte
lutara contra Deus, pela palavra e pela pena. Mas a
presença do sacerdote lhe desperta, pouco antes da
morte, um enxame de recordações. Surge a mãe
cristã com seus conselhos, digo conselhos lastrea­
dos pela oração e sofrimento. Essa recordação arran­
ca do culpado uma confissão pública e reparadora
do êrro. Um perdão divino acolhe o a rrependido.

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Família ouvinte, foi e será sempre assim. Quando
o pano de fundo, no palco da vida, traz bem pintada
a presença de uma mãe religiosa, o ato final dessa
vida acaba nos bra�os de Deus. Tremenda cul pa se­
ria o contrário. Mãe sem Deus, sem rel igião, sem
exemplo de vida cristã, sem princípios cristãos. Sem
visão da outra vida, eterna. E' êsse o apêlo que vivo
fazendo: mães, sêde os anjos do santu ário de Deus
que é a família, anjos na vida de vossos filhos, g ran­
des ou pequenos ! A "onda" de orações e sacrifícios
envolva vossos filhos, sempre e em tôda p a rte.
Extraviado o filho, Deus mandará u m seu emissá­
rio alcançá-lo, mesmo com um trem de partida.

1 14. MARIDO SEM RELIGIÃO?


Trago por meio dêste p rograma mais uma orien­
tação às senhoras que vivem ao lado de marido sem
religião. Sei da facilidade com que muito marido re­
cebe esta classificação. "Senhoras - dizia o famo­
so P. Conejos - nem sempre são os homens o que
parecem. Parecem incrédulos e nem sempre são tais.
Mas disseram uma vez para sempre que não acredi­
tam nas coisas de suas espôsas. Teimam em repetir
a afirmação. Não querem voltar atrás"
N osso escritor Artur Azevedo m enciona certo ma­
rido que industriou a espôsa a ser-lhe infiel, chaman­
do sua atenção para um caso irreal . Assim há es­
pôsas que quase obrigam o pobre marido a ser des­
crente. Querem adesão a tudo, que nem sequer é

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doutrina d a Igreja. Então lhe pespega m a etiquêta
de descrente, só por êsse motivo. Todos os cami­
nhos religiosos têm d e ser trilhados pelo consorte.
�le não quer? Opõe-se? Pronto. E' um homem
sem religião.
A qualificação é repetida seguidamente. Tudo aca­
ba numa revolta da vítima. Ferida no seu amor-pró­
prio, junta os pés e se passa com a rmas e bagagem
para a oposição. Se fôr d e bom humor, começará
por contraria r a espôsa em assuntos religiosos, só
pelo gôsto de vê-la em ebulição.
Entretanto no fundo não se trata de um autêntico
descrente ou incrédulo. Espôsas que me ouvis, sêde
prudentes e m aneirosas n este ponto. Nada de for­
çar um marido a acreditar em tôdas as visões, em
tôdas as frases de padre fulano ou padre sicrano,
ou em coisas que aparecem nos jornais católicos.
Na fé dá-se o mesmo que acontece com os manda­
mentos. Deus prescreve dez mandamentos apenas.
A rtigos de fé não vivem por aí como estrêlas es­
parramadas no céu . Por isso não exigir de um ma­
rido o que Deus não exige.
A receita não é condenar. Mudemos umas letras
neste último verbo, dizendo que é " coordenar". Sim,
coordenar a vida de espôsa, mãe e dona de casa
com as imposições da fé, de uma piedade sadia e
ordenada. Coordená-la com um devotamento in­
cansável ao marido, aos filhos. A última coordena­
ção é com o apostolado da oração, do sacrifício, da
perseverança. O exemplo diário grava na alma do

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marido uma v1sao, que reforça fortemente u m ou
outro conselho que da espôsa recebe. Não foi ou­
tro o caminho trilhado por almas de elite que vive­
ram nos lares, no papel de espôsas e mães. Isso
em tempos de paganismo de uma S. Mônica, como
nos tempos modernos de uma Elisabeth Mora, em
Roma.
O têrmo " marido sem religião " é contundente.
Pode ferir muito, sobretudo sendo injusto e mal
empregado quanto à pessoa e ao tempo.

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XX

1 1 5. JUSTO ORGULHO MATERNO


Leio o fato e comento-o para a fam ília ouvinte.
Um menino encontra u m a bôlsa com documentos,
caderno de xeques e dinheiro no valor de cem m i l
cruzeiros. Uma fortuna, portanto. E m casa mostra
à sua mãe o achado. Esta olha-o, com a res de quem
sonda uma atitude.
- Mamãe, é muito dinheiro e nós somos quase
pobres. Mas dinheiro alheio não traz alegria para
a gente. Vou devolver tudo ao dono, cujo enderêço
está aqui.
Disse-o e j á monta em sua bicicleta, em busca do
legítimo dono. J:.ste não ligou para a pobreza, da
roupa e da bicicleta, de quem l he devolvia uma for­
tu na. Recompensa tudo com uma nota de apenas
cem cruzeiros. Embora desapontado, n osso garôto
acha que com cem cruzeiros poderá comprar u m
presente para a mãe, n o próximo dia d e Natal.
Foi pena não houvesse êle entregue o achado à
polícia para assim receber o prêmio estabelecido
pela lei, em tais casos. Também a mãe l amentou
êsse equívoco do filho, elogiando-o contudo pela
honradez da devolução. Ficou orgulhosa de tal filho.
Seu trabalho não tinha sido em vão. Ali e3tava u m
futuro homem d e bem, respeitador d o alheio, mes­
mo diante de uma fortuna tentadora.

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Família ouvinte, o triunfo que menciono foi o
fruto de longa educação. Hoje ainda importa ensinar
aos fil hos o respeito pelo a lheio. E isso com eçando
pelos de casa. Certa vez uma mãe reclamou, dizen­
do-me que suas filhas môças viviam em demanda
quase diária. Hoje uma pegava a saia da outra. Ama­
nhã era uma blusa que mudava de corpo. Outro dia
era uma cinta mais vistosa que era cobiçada. Não. As
mãos leves da criança hão de afastar-se do que per­
tence a papai, a mamãe ou aos irm ãos.
Sem dúvida parecerá coisa pequena a muita gen­
te. Mas quem pode medir o pêso moral de um cos­
tume que vai crescendo, formando hábito e acaban­
do em mentalidade? Não se espere pelo j uízo. J:.ste
já deve encontrar u m hábito adquiri·d o e aprová-lo.
Outra vez, família, mais um setor de repetição. A
verdade repetida acaba em voz interna e quase ins­
tintiva. Cria u m fundo de rendas para o futuro. O
contrário cria a mania, o vício; enfraquece a resistên­
cia da vontade, nutrindo a cobiça. Não sonega a vi­
da seus p rêmios aos sacrifícios da infância. Fica por
conta de Deus o prêmio que poderá ser retardado,
com aparição na primeira ou segunda geração. Nun­
ca deixará d e ser uma realid ade.
O hábito de bu lir em coisa alheia também a ma­
durece e continua, apenas com mudança de modo
e maneira. Em todo caso não formará um menino
imitador do gesto dêste nosso p equeno herói. Muito
pouco vale então inventar nomes modernos para
velhos vícios e pecados. Golpista não passa de mas­
carado ·de ladrão.

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1 1 6. CARTA ABENÇOADA
O grande poeta Schiller tem uma frase que vale
por ouro em pó: "Dos bens não é a vida o maior,
dos males a culpa é o maior". Eis como um capelão
de hospital relata a confirmação desta sentença. Con­
ta que, pela primeira vez, viu a mocinha dêste ca­
so na sala de espera do ambulatório. Estava sen­
tada, encolhida, com uma trouxa ao lado. A pergun­
ta comunicativa, responde seu nome, sua procedên­
cia. O resto já era sabido do capelão e estava dian­
te dos olhos. Delicadamente afasta-se o capelão, di­
zendo que de certo ainda a veria nos próximos dias.
Aquela pobre menina perdera sua m a is bela coroa,
a honra. Profunda tristeza, bem visível, acabrunha­
va-a. Corara ao ouvir falar o sacerdote . . .
Um dia, ao entrar no quarto, o capelão encon­
trou todos em alvorôço.
- Papai escreveu-lhe - disse um dos irmãos à
môça. O capelão leu a carta que lhe passaram . Ela
dizia: "Sempre fui bom para com você e eduquei-a
com todo cuidado, filha. Pode você imaginar quan­
to sofri ao saber de seu passo errado . Para m i m vo­
cê, contudo, continua sendo filha. Mas uma filha que
não deu ouvidos aos meus conselhos e avisos. Pre­
feriu andar pelos seus camin hos. Caminhos errados,
caminhos de pecados. Mas eu quero dar-lhe meu
perdão. Quero ser mais uma vez bondoso com você,
que continuará sendo minha filha. Minha casa está
aberta. Pode voltar e Deus a abençoe. - Seu pai"
Famílias ouvintes, m uitas vêzes o êrro de üma fi­
lha é a soma de muitos erros dos pais. Não a edu­
caram de modo cristão, não a vigiaram. Deram-lhe

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demasiada liberdade, cederam demais às suas re­
clamações. E quando vem a vergonha, acontece que
os maiores cu lpados também se mostram indigna­
dos e intransigentes. Será uma indignação, justa até
certo ponto. Mas remediará ela o mal7 Creio que a
primeira penitência dos pais, n u m caso de êrro de
tal filha, é ampará-la para que não resvale pelo êrro
e pelo vício.
Sei que se alega a honra da família, o renome da
família, etc. Pergunto, porém, se o abandono por
parte dos pais diminuirá a temida desonra. A sal­
vação da alma da filha está acima d a honra e do
renome da família. E bem podem honra e salvação
entrar em harmonia.
A carta que li é típica. Revela uma alma com intui­
ções cristãs. Creio que Deus é o p rimeiro pai a assi­
nar tal m ensagem. Pois costum a perdoar e reabili­
tar os arrependidos. Os pais representam-no.

117 FLORES IMURCHECIVEIS


Era feio e chuvoso o dia, deitando tristeza nas al­
mas, numa cidade alemã. Pára o bonde, com a des­
cida e subida costumeira de passageiros. Um entra
com belo ramalhete de flôres. Dirigindo-se à motor­
neira diz-lhe:
- Senhora, peço licença para oferecer-lhe êste
ramalhete de flôres, que era destinado à minha es­
pôsa, hoje aniversariante. Acaba de avisar-me que
foi chamada pela mãe adoentada. Só voltará daqui
a uns dias. E eu não auero deixar murchar tão belas
flôres, sem causar uma alegria a alguém. Por fa­
vor, aceite-as!
2.33
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O rosto da endereçada estampou surprêsa e de­
pois alegria. Nos oito anos de trabalho, nunca vira
coisa semel hante. A visível tristeza de antes, desa­
parecera. A presenteada enxergou um sol risonho,
mesmo por entre as gôtas da chuva.
Aí está, família ouvinte, um pormenor interessan­
te. Aquêles que nos servem nos transportes, nos ele­
vadores, nos guichês de estradas e lojas, nos bal­
cões são sedentos de compreensão humana. Não
como móveis silenciosos. São g ratos por uma boa
palavra de agradecimento. Lembro-me da alegria
de u m atormentado motorista de ônibus, quando u m
passageiro l h e enfiou n o bôlso u m pun hado d e bom­
bons para os filhos em casa.
Nós somos, em geral, muito avaros n este assun­
·
to. Custará porventura uma fortuna a palavra, o
olhar amável, o agradecimento, a compaixão com
o sacrifício dos que nos servem?
Muito i mporta ensinar tal atitude aos filhos. Nin­
guém quer ser tratado como uma peça qualquer.
Interessante era o procedimento cordial dos santos
neste ponto. Tão unidos a Deus e tão sensíveis pe­
rante o próximo! Aí está o passarinho que S. Ge­
raldo fêz voltar à gaiola de um garôto choroso. Aí
estão as coisas que S. Pedro Fou rier fazia os peque­
nos acharem em seus bolsinhos, quando se lastima­
vam de p erdas. Para com os subalternos ou servido­
res, tinham entranhas de delicadeza.
Quando na família reina o egoísmo, o círculo fe­
chado do parentesco - então não viçam louçanias
nas almas dos filhos. Hoje fazem-se casas com ja­
nelas, que só olham para pátios internos. Nada de
visão para fora, para os outros, para a vida. Entretan-

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to continua d e pé a verdade e a lei : é pela bondade,
pela compreensão que os homens se prendem uns
aos outros, se entre-ajudam e amenizam as agruras
da vida. Nada perderá à família que educar os fi­
lhos com flôres nas mãos. São imurchecíveis.

1 1 8. ALEGRIA PASCAL
A Semana Santa terminou com a glori osa festa
da Ressurreição do Senhor. De Roma envia o Santo
Padre sua mensagem de Páscoa ao m undo, desejan­
do-lhe se enriqueça com os frutos da Redenção. Ca­
da ano é acentuada, entre luzes, repi ques de sinos
e fogos, a verdade do programa de Cristo. f:.le ressus­
citou para que nós ressuscitemos agora, deixando
o pecado. E depois da morte, deixando a sepultu ra
com corpos transfigurados. Desde criança ensina­
ram-nos a dizer o "creio na ressurreição da carne, na
vida eterna"
Ora estas palavras, denotando uma fé, abrem
também um horizonte e somam conseqüências pre­
sentes. O destino de nosso corpo não é ficar numa
simples decomposição na sepultura. Dizem as Escri­
turas que um dia os m ortos ouvirão a voz do Senhor
e ressuscitarão. Há tempo andamos rebatendo n es­
ta rádio a acusação daqueles que falam do desprêzo
católico pelo corpo humano. Falam de uma Igreja
inimiga do sadio desenvolvimento das formas do
corpo humano, tanto masculino como fem inino.
A razão d a acusação é simples. A Igreja não admi­
te se adore o corpo e se lhe satisfaçam todos os ape­
tites, a começar pelo sexual. Não tolera a i modéstia

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nos trajes, com exibições da carne humana. Prescre­
ve u m ou outro j ejum e mais abstinência para o pa­
l adar. E' certo também que os santos não trataram
seus corpos com luvas de pelica, sujeitando-os a
duras penitências e exaustives trabalhos.
Fizeram-no os santos e fazem coisa semelhante
os cristãos verdadeiros por uma razão muito justa.
Querem sujeitar o corpo à alma, os seus apetites às
visões do espírito. Muita gente jejua e endurece o
corpo por causa do esporte, da linha elegante. Su­
jeita-se a duros jejuns e treinos cansativos. O mé­
dico dietista que prescreve quantidade e qualidade
d e alimentos não passa por atrasado. Costuma ter
boa freguesia. A Igreja respeita o corpo humano e
por isso não quer que se torne objeto de cobiças.
Não proíbe enfeitá-lo com trajes e vestidos da épo­
ca, mas dentro dos d ireitos da alma, que estão a ci­
ma dos direitos da moda. Não condena o doente sa­
crificando parte do corpo, numa operação, para sal­
var a vida a meaçada.
Não, prezada família ouvinte. Nossa religião não
é inimiga do corpo, mas o quer na subordinação à
alma, ao eterno, à ressurreição que o espera. Chega
m esmo a venerar as relíquias, os restos dos corpos
de santos. São guardados em urnas de valor e cida­
des ufanam-se de os terem como tesouro. E' o
que acontece em Goa com S. Francisco Xavier, em
Pádua com S. Antônio, em Lisieux com S. Teresi­
nha, em Caposele com S. Geraldo Majela, em Pagani
com S. Afonso Maria, em Roma com S. Maria
Goretti.
Santos e santas souberam honrar e santificar seus
corpos, preparando-os para a gloriosa ressurreição.
A Igreja lhes antecipa a glória, já agora nesta terra.
Mundos Entre Berços - 16
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Vivemos numa época materializada. Tôda afirma­
ção da supremacia da a l ma sôbre o corpo é hoje
indicada, necessária, u rgente. O mundo precisa sa­
ber que há valores acima da matéria. E isso a co­
m eçar pelo pequeno mundo que é o lar de nosso
ouvinte. Felizes os lares onde os corpos são tratados
e respeitados como destinados à futura ressurreição!
Os que profanam o corpo com doutrinas e usos abo­
mináveis são os seus maiores inimigos. Arruinam­
lhe a vida p resente e a glória da ressurreição. Vol­
taremos ao assunto.

1 1 9. PROFANO AQUI, SAGRADO LA?


Nunca será demais repetir: a vida não pode ser
uma j ustaposição do profano e do sagrado. Do na­
tural e do sobrenatural. Deve h aver penetração da
religião no p rafano. Assim, por exemplo, no casa­
mento a- Encarnação continua sendo o paradigma
da vida cristã. Em N osso Senhor não há duas natu­
rezas independentes : a humana e a divina. Aquela
não possui autonomia de p essoa. Pertence à Pessoa
do Verbo em que subsiste. Realizada a Redenção,
a vida divina, da qual o cristão se tornou participante,
estende-se aos homens, i mpregnando todo seu ser:
alma e corpo, inteligência e vontade.
Não há i nstituição humana que melhor manifeste
tal impregnação, como o matrimônio. Este tem uma
peculiaridade. Um ato humano, até então com fi­
nalidade natural, - a multiplicação dos filhos - é
pelo sacramento transformado em instrumento da
ação divina . Não temos outro sacramento que san-

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tifique diretamente a vida p rofissional. E assim a fa­
mília é a única comunidade, cuja fonte é um sacra­
mento. Nem a vida religiosa, que é consagração a
Deus, goza de tal p rivilégio.
Assim Deus entra, de certo modo, como um ter­
ceiro fator na intimidade conjugal, m esmo com os
seus elementos carnais e espirituais. Santifica todo
o amor.
Por isso a Igreja não vacila, num sadio realismo, em
colocar, no seu Ritual de bênçãos, também uma para
o leito conjugal. A partir do compromisso, aceito p �­
l a Igreja, os casados enveredam por uma estrada
na qual Deus os acompanha e sustenta, diária­
m ente. Tôdas essas coisas simples e cotidianas, em
que decorre a vida conjugal, são santificadas pelo
sacramento do matrimônio. Hoje em dia os casais
procuram compreender melhor tal verdade. Temos
os diários de Mireille-Dupouey e Lucie Ollé-Lapru ne.
Esposos dêste quilate j á não pedem sàmente que
Deus lhes bendiga a união. Querem introduzi-lo nes­
sa mesma união.
Plenamente estão conscientes do alcance da En­
carnação. Querem pôr todos os valores humanos
a s'erviço de Deus. Por quê? Porque aspiram encon­
trar a Deus nesses valores humanos sobrenaturali­
zados. Logo seria lamentável, família ouvinte, se
em teu lar houvesse uma espécie de compartimentos
" estanques " : Deus aqui, o homem ali. A vida ali,
Deus lá, ao longe. Estas l inhas foram colhidas de
várias leituras e ponderações. São repetidas porque
gosto de repetir, como já disse, as floradas de árvo­
res. Alguma flor converter-se-á em fruto. Mas que­
ro o fruto para teu lar.

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1 20. DEZ MAIS DO QUE CEM .
Achei g raça na velhinha que teimava em conven­
cer-me de que dez pessoas, falando, fazem mais
barulho do que cem caladas. Refleti porém e en­
contrei uma filosofia no caso. Na vida temos d is­
so. Pelo mundo e pela .sociedade poderão dez vozes
falar contra a fé, o pudor, contra a obediência à Igre­
ja e aos pais. E certamente farão mais i mpressão
do que cem vozes, que se calam .
Família ouvinte, justamente isso aa>ntece no mun­
do no qual vosso filho estuda, move-se, diverte-se.
Não podemos dizer sejam bons os tempos para a
fé e a moral. Há uma aberta e atrevida conspiração
contra a virtude, ousada afirmação do direito de
pecar e errar. Carne e corpo tornaram-se deuses e
seus apetites são tolerados e imitados em vários
casos.
Além dos fatos, andam por aí princtpios, justifi­
cando erros, pondo a ridículo a virtude. Saint-Beuve,
que não era lá de muitos escrúpulos, d isse dos livros
de Balzac: " Depois de os ler, sinto precisão de la­
var as mãos . " Pois bem. Vosso filho, família que
me ouvis, caminha neste ambiente. O dia todo vê
e ouve o que dez vozes falam. Mas onde estão as
cem vozes que deviam falar? Estão .caladas. Cala­
das na família que não corrige, não previne, não
desfaz impressões más, que não vigia.
Quando estoura uma epidemia, todo mundo to­
ma conhecimento das medidas preventivas e apli·
ca-as com diligência. Atitude louvável, sem dúvida.
E por que não admitir o mesmo processo, em se
tratando de contágios piores e crônicos como são
•.

244
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os de ordem m oral? Hoje o mundo entra nos lares
e aplica-lhes - na frase de Pio XII - uma injeção
endovenosa p elo rádio e pela televisão. Poderá fi­
car sem vigilância tal acontecimento? Ficará ao cri­
tério das crianças e dos adolescentes o botão dos
aparelhos? Ou terão de dobrar-se os pais perante
as p referências dos filhos neste assunto?
Enrolado em fôlhas de livros, de revistas e jornais
o mundo invade os lares. Como explicar o zêlo de fa­
mílias que não admitem visitas de conversas incon­
venientes, m as toleram a bertas as portas para a en­
trada de visitantes mudos, que são as publica­
ções? Isso mesmo. Cem bôcas caladas perdem de
dez bôcas que falam. O silêncio de cem dá coragem
ao atrevimento de dez. Eu p revino que nesse silêncio
há um pecado. Há um sério preju ízo causado à al­
ma dos filhos. Lembro o louvor do Sábio à m u l her
que, de luz acesa, percorre sua casa observando e
vigiando se tudo está em ordem. Fragilidade, ida­
de e época má - eis os motivos da vigilância .

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XXI

1 2 1. PREGOS NA CONSCIE:NCIA
eis o nome que um orador popular dá a
seus programas em praça pública nas cidades da
Baviera. Leppich é o nome dêsse pregador j esuíta.
Creio no proveito para os radiouvintes se m artelar
alguns dêsses pregos. E' bem possível que as m ar­
teladas de fora já andem esperadas lá por dentro
do coração. Diz Leppich :
"Pais, que tal quando domingo m andais vossos
filhos à missa e vosso sono continua? Quanta gente
já sepultou Cristo no cemitério da tolerância, já con­
verteu sua fé numa doçura de guaraná ou de refri­
gerante qualqu er? A sombra de vossas igrejas g �­
mem acidentados do tráfego e ninguém vai atrás de
u m padre para atender ao ferido, ou reza ao ouvido
do infeliz . . . Quantos moços há que descobrem al­
mas em suas noivas? Buscam e acham apenas cor­
pos. O espírito tem de voltc:.r a seu trono que o corpo
ocupou "
E:sse orador deixa sempre cravos enterrados nas
consciências dos ouvintes. Sem dúvida bater pre­
gos é sempre melhor do que deixar uns a lfinêtes
espetados na aveludada consciência de tantas famí­
lias, falhas em seus deveres de educação, de assis­
tência aos domésticos, desde o salári o justo até ao
interêsse pela vida religiosa. Famílias d esaturadas

247
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do espírito de Cristo - amor e caridade - precisam
de verdades perfurantes.
Tenho mais. Ao lado contemplo umas comoventes.
fotografias. O mesmo orador falando aos pequenos
e pedindo-lhes ofertas de brinquedos para crianças
pobres em terras pagãs. Vejo braços e mãozinhas
estendendo-se com bonecos, carrinhos, ursin hos, flau­
tinhas e todo êsse mundo encantado de brinquedos,
que a fantasia das crianças converte em pedaços do
paraíso. Já vários brinquedos estão nas mãos do
orador. Nos olhinhos dos doadores mirins enxergo
lágrimas. Estão comovidos diante da pobreza de
seus irmãozinhos mais pobres e sentem entregar
seus brinquedos. A cena repete-se em tôdas as ci­
dades. No fim da "oferta" Leppich pega o seu vio­
lão e toca e canta com a petizada modinhas infantis.
Nunca é demais insistir com as famílias: formai
nos pequenos uma compaixão ativa e generosa pe­
rante as misérias de outros pequenos. ·Mas compai­
xão cristã, sem mero sentimentalismo. Tudo ao
clarão da palavra de Cristo : o que fizerdes ao m enor
de meus irmãos a mim tereis feito. E' preciso que teus
filhos, família ouvinte, sintam a agridoce alegria de
dar u m pedaço do coração junto com algum brin­
quedo.
Já sobram egoísmos cruéis neste mundo que dei­
xou a órbita de Cristo. Para que educar mais egoís­
tas na vida? Para que trabalhar em favor dessa raça
desgraçada, que é a negação do primeiro mandamen­
to que manda amar a Deus e ao p róximo como a si
mesmo?
A criança pobre não falta apenas roupa, o alimen­
to, o brinquedo. Falta o carinho para o coração. São
flôres sedentas dêsse orval ho. Logo com o presente

248 .
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seja dado o carinho também. O brinquedo pode
quebrar-se, a roupa g astar-se, o alimento ser comi­
do. Mas fica sempre a recordação do carinho, can­
tando uma canção nas almas dos socorri d os.

1 2 2. H ERANÇA CORDIAL
Há muito êrro, quando se trata de heranças. São
tidas em estima quando significam depósitos de ban­
cos, imóveis, ações valorizadas, etc. Contudo há
outras muito mais valiosas, porque governam as
agulhas no trilho da vida. Ouçamos o que nos escre­
ve certo escritor:
"Minha mãe não falava muito de rel igião. Vi­
via-a. Não me admiro, hoje, que andasse rezando
tanto pelas pobres almas do purg atório. Eu não pen­
sava assim. Certo dia vi meu pai asperg i r água benta
e traçar cruzes, pedindo a piedade ·de Deus em fa­
vor das almas. Irreverente, fiz uma brincadeira, usan­
do um têrmo do qual m inha mãe não gostou. Ficou
entristecida, por ouvir u m seu filho falar com me­
nosprêzo de um sacramental. Nada me disse no
momento.
Certo dia mostrou-me onde guardava as velas
e a cruz para o seu viático . Aflita ajuntou :
- Quem rezará por minha pobre alma, quando
eu estiver morta? Quer você, meu filho, encarregar­
se d isso?
- Sim, respondi eu, mais com os lábios do que
com o coração e a cabeça. Pouco depois era eu a
única pessoa da família p resente no hospital, quan­
do mamãe morria, tendo rezado n aquele dia seu

249
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têrço pelas almas. - Desde então as almas não me
dão sossêgo. Se durante o dia não rezei por elas,
não consigo dormir. Tenho que reparar a omissão
e começar a rezar pelas minhas tuteladas. Mas tam·
bém são hoje minhas mais eficientes auxiliares. Sa·
bem ser g ratas"
Aí está, famílias ouvintes desta rádio, uma he­
rança que eu chamaria de cordial e cristã. Os mor­
tos da família, os mortos que em vida aqueceram
nossa vida, as almas em geral, devem ser lembra­
das nas orações. E' herança que há de passar de
mãe para filhos. Parece que assim a mãe está per­
petuando sua caridade. Portanto u rge ir acostuman­
do os filhos a essa devoção, que é também obra de
misericórdia.
Lembro aqui uma verdade muito séria. Que m du­
rante a vida pouco se lembrou das almas, é candi­
dato ao esquecimento dos outros. Ou então Deus
endereça, a outras almas, o que neste mundo fôr
oferecido pela alma do cristão deslembrado, em
vida, de seu próximo no purgatório.
A mesma medida de misericórdia que se usa com
os outros, emprega-a Deus conosco . Está avisada
no Evangelho tal medição.

1 23. LAMENT AÇOES LAMENTAVEIS


Conheci certo conferencista que não suportava la­
mentações de espôsas por causa de maridos indi­
ferentes na religião. Achava-as mu ito lamentáveis,
umas e outras. "Nada de indiferença, minha senho­
ra. Seu marido é um grande comodista religioso, em

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mu itos casos. Não quer ter trabalho com práticas
religiosas. Nem pretende incomodar-se com Deus
ou por êle ser incomodado. N ada de idas e vindas
por causa de Deus. Então esconde-se gostosam ente
atrás do têrmo indiferente. Em grande número de
casos estam os apenas d iante de preguiça religiosa ".
O afamado conferencista tinha razão. E' sempre
mais cômodo passar u m domingo dentro de u m
pijama, ou numa chácara de fim-de-semana, do que
programar o dia para Deus. Digo programa de m i'>­
sa, sermão ou apostolado qualquer. Tornam-se mui­
to mais "diferentes" tais indiferentes, quando en­
tram seus interêsses, suas políticas, seus negócios,
seus esportes ou visitas no meio. Quando isso irrom­
pe pelo dom ingo, então o critério é outro. Tem-se
tempo, não se tem cansaço, dá-se um jeito, há aco­
modações para atender o choque de programas da
espôsa e dos filhos.
E aqui a tentação de Eva a Adão repete-se, fa.
mília ouvinte. Não raras vêzes a espôsa sabe ven­
cer a indiferença do marido perante os programas
que ela quer para seus domingos e feriados. Torna­
se eloqüente ora por meio de queixas e compara­
ções, ora insinuando cam inhos e composições. Mas
suponho o caso mais edificante: a espôsa está tra­
balhando o marido para deixar a tal i ndiferença
religiosa. Então não esmoreça. Use de tôdas as
retóricas femininas que são mais convincentes do
que as da eloqüência. Tudo será a gôta de águ a ba­
tendo na pesada pedra da indiferença. Acaba ca­
vando seu pocinho, sua entrada, como freqüente­
m ente vem os em a natureza.
Faço outra suposição. O marido é filho de peixe.
Veio de águas paradas para Deus. Não teve quem

251
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puxasse por êle. E' u m meio congelado, não tem
embalo p a ra Deus. Cresceu assim sem fôrça d e
arranque. E agora n ã o acha j eito para deixar o tri·
lho em que se formou. A menor rampa de d ificulda­
de ou de esfôrço de vontade paralisa-o. E' de opi­
nião formada que o domingo é dia dêle. Não é dia
do Senhor. Não é um rebelde. Tem a alma em pon­
to morto. Em tal caso a teima, carinhosa, mas cons­
tante, dará vitória à espôsa, que não acredita na
indiferença .
Repito à espôsa ou espôsas que me ouvem : não
d esistam d a catequese, mesmo que uma cara feia
de menino amuad o a receba hoje, amanhã e de­
pois de a m anhã. Recorra à oração, redobre su as es­
molas para Deus fazer a maior esmola que todos os
mendigos receberã o : a sua g raça. Um santo usava
sempre os têrmos " Deus e o tempo" para tais ca­
sos e outros semelhantes. Aí fica a receita. E' mais
importante do que receitas para bolos e petiscos.
Outra coisa . Nunca esquecer a intervenção dos
filhos no caso. As crianças são muitas vêzes uma
g raça divina em comprimidos . Atu am adm iràvel ·
mente.

1 24. U MA CHAVE ABRIU


risonho futuro para o jovem N iels Carlson.
Atravessava uma rua em Hamburgo, sobraçando
uns papéis de desenho. Nisso entra em seu carro
u m senhor, senta-se ao volante e prepara-se para
d a r partida. Mas a chave do automóvel escapa-lhe
dos dedos e cai para fora. Depressa Niels chega

252
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perto, toma da chave e entrega-a ao dono, que fi­
cou surprêso com tanta gentileza.
E aqui começa outra história. Aquêle motorista
era um forte proprietário de petróleo e derivados.
Era americano. Indaga pelo nome do jovem, con­
vida-o a dar u m a volta com êle. Terminada esta, o
futuro está resolvido. Niels aceita o convite para es­
tudar na América e trabalhar para seu i mprovisado
amigo. Uma objeção fazia o môço quanto à separa­
ção da mãe, de quem cuidava . Também êste p ro­
blema se resolve. Por conta do benfeitor a mãe te­
rá viagem paga aos Estados Unidos, anualmente.
Niels justificou as esperanças e hoj e é a lguém de
pêso na vida. O futuro começou por uma simples
u rbanidade para com u m estranho. De certo em
casa a mãe ensinara Niels a ser u rbano para com
todo mundo. E o menino, mais tarde o môço, assim
andou fazendo. Mas um dia a fortuna estava l iga­
da a uma u rbanidade.
Família ouvinte, mesmo sem prêmio como êste
descrito, a u rbanidade ensinada e praticada é u m
imperativo. Para um cristão significa a palavra u m
outro têrmo ou forma de caridade no trato social.
E porque todos os homens são credores de amor
cristão, para com todos a u rbanidade é de dever.
Seria êrro e hipocrisia recomendá-la apenas com
relação a p essoas de destaque. Ou então com vistas
interesseiras.
Os santos, os mais chegados a Deus, eram u rba­
nos e compreensivos, respeitadores do próximo, sem
distinção de pessoas. O qu e importa no caso é en­
sinar os filhos a converter essa u rbanidade numa
expressão de caridade. Hoje em dia u rge acentuar
m u ito tal conduta. A m ocidade é l evada a ver em

253
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tudo coação, preconceito social, coisa a ser substi­
tuída. Ora podemos mudar os modos, nunca porém
a natureza do homem . E por natureza sempre mais
nos agradará u m modo urbano, do que um modo
desabrido e g rosseiro.
Portanto nada perde a família que teimar n esta
forma de educação. Mas comece bem cedo com a
tarefa. Com ela há chaves nas mãos dos filhos.

1 2 5. COMO PEIXE FORA D' AGUA


definiu um amigo a criança católica em
escola l eiga, digo, do Estado. E por isso reclamava do
Diretor da escola ensino religioso para seu filho. Usa­
va de um direito que lhe confere a lei, obedecia a u m
d itame d e sua consciência. Lembro êsse direito, do
qual tantas famílias culposamente vivem esquecidas.
E' grave a obrigação neste ponto. Pois a vontade ex­
pressa dos pais dá direito ao ensino na escola.
De fato u ma criança com seu programa de batis­
mo está sem "clima " numa escola leiga, sem Deus.
Nossa religião, disse alguém, não é um mero sistema
ideológico ou uma soma de preceitos rituais, mais
ou menos mecânicos. Não. E' vida em tôda a ampli­
tude e p rofu ndidade da palavra. E' a vida de Deus
no homem pela fé, pela esperança, pela caridade.
Essas virtudes prendem o homem a Deus pelo pen­
samento, pela vontade e p elo amor. Estando o cris­
tão na graça divina tem a amizade de Deus, a
SSma. Trindade morando nêle e com êle operando
maravi l has de uma vida em verdade divina.

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Clima completamente leigo, portanto, é diametral­
m ente oposto à natureza de semelhante vida. O ba­
tismo, família ouvinte, não foi cerimônia passagei­
ra na vida de teus fil hos. Criou um estado, u m ca­
ráter, uma ideologia com programa bem traçado.
E' hoje maior d imensão da vida . . . O laicismo toca
Deus para fora, como um desconhecido ou i mpor­
tuno. Expulsa a Cristo com sua doutrina e sua pe­
dagogia. Ele, o grande modêlo da humanidade, pro­
g ramado para todos os tempos, alcançando todos os
séculos, fica sem atuação numa geração na escola
chamada leiga .
Ouço logo a objeção : "Mas o laicismo n ão é con­
tra Deus; apenas não toma nota dêle". Ora, quem
não toma nota da luz é da sombra que a ela se opõe.
Leão XIII denunciou o êrro ao escrever: "A única
educação que agrada aos maçons, com a qual se­
gundo afirmam deve ser formada a juventude, é a
que chamam de leiga, independente, livre. Isto é,
que exclua tôda a idéia religiosa" Coisa curiosa.
Não querendo saber de Deus, o laicismo coloca su­
cedâneos dêle. Falam então de super-homem, de
humanidade, d e liberdade e tantas outras inven­
ções da imbecilidade humana. Nem faltam hoje os
comunistas com o tal " bem coletivo" . Todo mundo
sabe como êle termina num bem m uito privativo
de certa classe.
Saiba a família ouvinte que o racionalista D' Alem­
bert, u m dos enciclopedistas, educou sua filha com
o catecismo na mão. Perguntado, respondeu que
suas entranhas de pai queriam u m a felicidade ga­
rantida para a criança. Juarés, o furioso anticlerical
socialista, escrevia ao filho que lhe pedira autoriza­
ção para faltar ao estudo da religião : " Tal autoriza-

255
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ção, querido filho, jamais te darei. Pois tenho em­
penho decidido por tua completa instrução e educa­
ção, que não seria real sem o estudo sério e acaba­
do das verdades rel igiosas".
Aqui se torna indispensável u m sério exa m e de
consciência para m uitos lares que me ouvem. Os
problemas, reclamando respostas u rgentes da reli­
gião, vão cruzando p elos caminhos de nossa juven­
tude. Muita resposta será encontrada fàcilmente,
quando o estudo da religião fôr "sério e acabado"
Caso contrário as inteligências, as vontades e os
arroubo:; do coração navegarão à deriva d e qualquer
doutrina que sopre com mais violência.
Peixe fora d'água na escola e fora d'água . . . na
família, fria e relaxada, ignorante ou presunçosa na
religião, que destino será o teu? Que mundo teu
berço estará balançando?

1 2 6. CASA PATERNA AOS 50 ANOS


Ângelo Roncalli - o Papa João XXIII - escreve
aos pais, ao completar 50 anos de idade: "Depois d e,
aos dez anos, ter deixado vossa casa li m uitos li­
vros e a.!Jrendi muitas coisas. Eram coisas que vós
não me podíeis ensinar. Mas as poucas coisas que
aprendi convosco, no lar, continu aram sendo as mais
deliciosas e mais importantes. Sempre aquecem com
seu calor as outras mu itas que mais tarde aprendi
em longos estudos e professorado"
Ângelo, ao perder a mãe, escreve a u m amigo
relatando o g rande sacrifício que fazia não podendo

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estar presente " ao último e mais santo momento"
em que sua mãe fechou os olhos para a luz d êste
mundo . Lembra a alegria materna ao ver o filho
bispo passar u m mês em férias na singela casa. E'
claro, a partida era dor renovada. Mas a mãe conso­
lava-se,... Que faria ela com um bispo em casa o tem­
po todo? Daria para suspeitar qualquer fugida ao
dever, por parte do filho.
Família ouvinte, a í está u m fato i negável. Sempre
que os pais "atuaram" na vida dos filhos, jamais
são olvidados. A medida que ensinaram renúncias,
mostrando-as com o exemplo, ficaram os filhos ape­
g ados à l embrança do lar paterno. Quando o con­
trário se dá, então a recordação da falha educação
recebida revolta mais tarde suas vítim as, os filhos.
Hoje é tão comum a cobardia do lar em exigir ou
negar na educação. Predomina a lei das concessões,
das acomodações. Quer-se o sossêgo, a paz em
casa. Nada de contrariar, domar vontades injustas
ou rebeldes.
Nesses casos os pais não ensinam coisas que, l em­
bradas, são deliciosas e importantes no futuro. Todo
filho que entra num lar vem com uma mensagem
de Deus, que o quer criado e educado para e:t<e.
Filhos não são passatempos nem propriedades dos
pais. São depósitos do amor de Deus, confiados aos
que na vida lhe devem representar a paternidade e a
solícita providência.
Olhemos para a natu reza . Porventura Deus nos
dá sempre o tempo que desejamos? Sua chuva não
cai tantas vêzes dificultando nossos planos ou frus­
trando nossas esperanças? O seu sol não castiga com
Mundos Entre Berços - 17
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calor nossas j ornadas, que nem por isso po d em ser
abandonadas? Entretanto, o dever não pode depen­
der do sol e da chuva, do bem-estar ou do mal-estar.
Foi isso que Angelo Roncalli viu na vida daqueles
camponeses chamados pelos nomes de pai e mãe.
Vamos concluir então o segu inte : pai e mãe hão
de ser livros ensinando o que outros l ivros não en­
sinam. Sobretudo ensinando a amar a Deus.

258
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XXII

1 27 RESPOSTAS ACUSAM
Sacerdotes americanos fizeram u m a expenencia
colecionando respostas de alunos nos mais desta­
cados colégios da América. Perguntara m : "Que pe·
d iria você, se Cristo lhe entrasse em casa?" - Vie­
ram as respostas que acusam m uita gente de lá
e de cá.
Um menino de rico colégio de Los Ãngeles r€s­
ponde: "Tenho 1 2 anos, mas quanto p osso me lem­
brar só tive e tenho um desejo. Que mamãe volte
a morar conosco. Ela visita-me todo segundo domin·
go e cada três meses posso ir vê-la e também o
outro pai. Determinação do juiz. Se tivesse sorte de
encontrar-m e com Cristo, lhe diria me mandasse
d e volta mamãe e mandasse o outro pai às urtigas".
Catarina, filha de estrêla de revista, rabiscou com
l etra trêmula o que segue: " Faz pouco mamãe via­
jou para Las Vegas para divorciar-se de meu ter­
ceiro daddy (pai) . Estou farta da contínua troca.
Se Cristo Senhor me aparecesse pedir-lhe-ia, assim
à queima-roupa, que mandasse dinamitar Las Vegas.
Quem sabe mamãe acharia jeito de voltar a viver
com papai".
Lana, menina muito sabida de Chicago, respon­
de: "Se Cristo entrasse em nossa casa e os m eus
17 ° 259
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fôssem previamente avisados1 convidaria a famí­
lia tôda, com tios e tias e amigos, oferecendo-lhe
u m cocktail. Mamãe sentar-se-ia ao harmônio to­
cando um coraL Os presentes achariam enjoada a
idéia, p edindo um cha-cha-cha ou u m boogie-woogie.
Nosso Senhor, irritado, tocaria todo mundo para
fora, tomando o dinheiro de meus pais. Quando
êles eram mais pobres vivíamos com mais felicidade"
Uma garôta de 13 anos, filha de casal que é da
nata de S. Francisco, informa de seu desejo. Con­
sistiria no seguinte : "Cristo aparecendo em casa
daria pancadas na cabeça das mulheres e dos ho­
mens dos salões. Sobretudo poria fim a tanta hipo­
crisia e maldade. Da minha parte p ediria a Nosso
Senhor um purgatório de cem mil anos para as da­
mas cheias de enfeites e perfu mes. E um inferno
para os tol os de homens que só falam de cadillacs
e cheques"
A pequena Susana diz logo que pediria ao divino
visitante a fizesse ainda mais bonita, e para sempre
bonita, a sua bonita mãezinha. Assim ela gastaria
m enos tempo com espelhos e cabeleireiras, achando
mais vaga para brincar com "a gente" - Uma outra
garante reclamaria a volta do irmãozinho que mor­
reu, para que os pais não vivessem tão tristes. Tudo
com a promessa de tôdas as noites escovar os den­
tes e dar de esmolas durante vários anos suas pe­
quenas economias.
Tremendamente acusadoras são tôdas estas res­
postas. Fala em suas linhas a infelicidade de muita
criança. Contudo são flôres mimosas dos d ivórcios
dos lares sem Deus. E ainda há, entre nós, gente
de namoros com o divórcio. Saiba a família ouvinte
que a idéia, a defesa, a cooperação para êle é ri-

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gorosamente proibida pela doutrina católica. Nem
em rodas de amigas ou reuniões deve u ma católi­
ca apoiá-la. Seja disciplinada e não coopere para
m u itas desgraças, sob pretêxto de remediar u m ou
outro casamento mal sucedido.
O bem comum, a soberania da verdade devem
prevalecer. A felicidade dos filhos tem mais direitos
no caso.

1 28. DIMINUIÇÃO ERRADA


Em contas quem erra numa diminuição leva sem­
pre prejuízo, ou dá prej uízos a outros. Família ou­
vinte, na vida há dimin u ições nocivas e infelizmente
mu ito comu ns. Vamos a um exemplo : certos traba­
l hos e mesmo certas profissões. Quando tudo é sim­
ples, corriqueiro e escondido, já vivemos mudando
o padrão de seu valor. Quando as coisas aparecem,
são vistas e comentadas já suspendemos a craveira
do mérito e da profissão.
Não foi isso que nos ricos salões do Vaticano Pio
XI quis ensinar, ao receber a visita corporativa dos
lixeiros de Roma. Eram perto de dois mil na audiên­
cia especial para êles. Na saudação ao Papa o o ra­
dor lixeiro falou da baixa profissão que exerciam.
Pio XI respondeu assim : "Vosso orador designa vos­
so trabalho como baixo no sentido de seu valor.
Quero, porém, dizer-vos que trabalho algum é vil,
quanto a seu valor. Todo trabalho é d igno de hon­
ra, quando é honesto e útil. Quando estabelecemos
u ma diferença entre o valor do trabalho, só podemos
fazê-lo olhando o padrão da honradez e utilidade.

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N esse sentido vosso trabalho está acima em util i­
dade. Que seria de uma cidade bela e rica, se não
a mantivessem asseada e fôssem suas ruas aban­
donadas?"
Meus ouvintes podem por aí corrigir certas avalia­
ções mentais ou orais, qu e fazem sôbre a escal a
de valores no trabalho. Abençoada, sem dúvida, é
a família onde ninguém despreza o mais modesto
trabalho, útil para o asseio e ordem doméstica. E
muito menos rebaixa o valor da pessoa que cui­
da dêste asseio. Aliás, o respeito pelas domésticas
numa família é lei sagrada para todo coração bem
form ado na religião.
Hoje em dia as famílias vivem queixosas de suas
empregadas. Não lhes nego, sem m ais nem menos,
a razão. As leis e os sindicatos complicaram muito a
lealdade e humanidade das relações entre patrões e
empregados. Mas não será também motivo, real e
ponderável, a subestim a que se m ostra para com a
classe? Leis nunca podem substitui r a caridade cris­
tã, a estima à pessoa humana, a valorização cristã
do trabalho.
Daí vamos concluir uma coisa, famílias. Importa,
e mu ito, educar os filhos - e sobretudo as filhas
- na estima ao humiJ.de trabalho, feito por pessoas
hum ildes, que vivem de sua modesta profissão.

129. EM SEU TEMPO, MAMÃE .


a situação era outra, dizia a filha, sempre
que a mãe lhe chamava a atenção para certas condu­
tas. Creio que a afirmação merece um esclarecimento,
útil sem dúvida para tôda educadora bem intencio-
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./
nada. Ouçamos Pio XII. Diz êle, l ivremente citado :
" Antigamente o caráter da vida e a orientação cul­
tural da mu lher eram inspirados pelo instinto n atu­
ral, que lhe d esignava a família por domínio de sua
atividade. Menos no caso de haver ela escolhido a
virgindade por amor a Cristo. A margem da vida pú­
blica e alheia às profissões fora do lar, qual botão
cu idadosamente guardado e reservado, tinha a mô­
ça um destino: tornar-se por vocação espôsa e mãe.
Ao lado da mãe iniciava-se nas lidas femininas e
domésticas. Ajudava na vigilância dos irmãos peque­
nos. Com isso desenvolvia suas fôrças e aptidões,
exercendo-se na arte de dirigir o lar doméstico. E ra m
simples e n aturais as formas d e vida d o povo, da
educação religiosa profunda e prática. Isso d u rou
até o fim do século dezenove. O casa mento era
contraído em boa hora, uso êsse possível naquelas
conjunturas sociais e econômicas. A família man­
tinha sua primazia na vida do povo. Tudo isso e
outros detal hes estão radicalmente mudados nos
dias de hoje. Mas formavam o primeiro apoio natu ­
ral dêsse caráter e dessa cultura feminina.
Hoje, ao contrário, a antiga figura feminina so­
freu uma transformação rápida. Vemos a mulher, e
sobretudo a môça, sair de seu retiro e p enetrar em
quase tôdas as profissões, ontem campo de ação
rese�ado ao homem. No comê<:o era tímido o en­
saio e depois sempre mais acentuado, sob a influ ên ­
c i a do desenvolvimento da indústria e do p rogresso
moderno. Mas, faz alguns anos, parece que se rom­
peram as comportas de tôda a resistência. O mun­
do feminino penetra por todo terreno da vida do
povo. Dá-se com êle na mais afastada vila na mon­
tanha, como no labirinto das grandes cidades, nas

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lojas, nos escritórios, nas usinas. Os costum es e
orientações d e outrora tiveram que ceder lugar, sem
condições, ao m ovim ento moderno".
Pio XII diz claramente que a Igreja não pode ne­
gar o fato nem pode desinteressar-se dêle. Diz que
tal complexo de vida não é u m mal em si m esmo,
embora acarrete ordinàriamente perigos. Faz votos
para que as atividades femininas sej am empregadas
em ocupações que mais condigam com sua n ature­
za e sua missão. Afirma que não p odemos nem ex­
clu i r nem diminuir os perigos. Condena o falso su­
posto sôbre o qual repousa a atual estrutura da so­
ciedade: como base, a paridade quase absoluta do
homem e da mulher.
Sem dúvida, é verdade que homem e mulher têm
igualdade de honra, de dignidade, de valor e de es­
tima. Tudo isso, contudo, quanto à personalidade.
Igualdade completa não há. Existe variedade de dons,
de inclinações rep a rtidos de modo desigual, ou mais
acentuados num do que no outro. Motivam seme­
lhante d iferença os diverços campos de atividade
que a natureza lhes marcou no caso. E trata-se de
qualidades que repercutem essencialmente na vida
de família e na comunidade humana.
Ora, todo mundo sabe que a natureza reprimida
com violência rompe um dia seu caminho para o
antigo leito. Resta-nos ver e observar se u m dia
ela não reformará a atual estrutura social. - Assim
Pio XII. Resumamos tudo na seguinte sentença : tudo
que diminui a cristã e desloca a mulher não é pro­
gresso verdadeiro, sadio. E' perda e diminuição.

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1 30. O M ISTÉRIO DE DEUS ERA VOCt,
disse a irmã ao jovem irmão, delinqüente e
J a numa prisão. Vejo no clichê da revista um lata­
gão de môço, diante de um juiz que o interroga.
Agora êle deixou de ser caladão teimoso. Fala e
confessa o êrro. A confissão foi preparada pelo se­
guinte diálogo com a i rmã visitante :
- Há uns anos atrás, mano, você não seria ca­
paz de fazer o que fêz, agora. Era outro naquele
tempo - diz a môça.
- Naquele tempo vivia ainda mamãe e eu reza­
va com ela. Não poderia fazer o que fiz, confesso.
O caso seria outro, se ,mamãe estivesse viva. Hoje
todo mundo está contra mim e por dentro vivo divi­
dido, me atrapalhando.
- Pois é, mano. Antigamente, ao lado de mamãe,
você era feliz. Pequenino, acompan hava-a rezando
assim : " Pequenino, m eu Deus, é meu coração. Mas
dentro dêle vós cabeis e cabe a pureza. Nada mais
quero que nêle entre. Abençoai-me" Hoj e moram
em seu coração ódios, vinganças e . (Um solu ço
da irmã) .
- E amargo arrependimento, - a rrematou o
prêso.
- Lembro-me, pobrezinho, quando papai morreu
e nossa mãe chorou muito, mas de repente, com
um brilho nos olhos, exclamou : Fil ha, eu carrego
o mistério de Deus nas entranhas. Eu era pequena
demais para entender que se referia a você, já vivo
debaixo de seu coração. O mistério de Deus era
você, irmão .

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Um silêncio segu iu-se às palavras do mistério.
Suspirando, a visitante diz com p rofunda convicção:
- Não pode perder-se quem foi um m istério de
Deus confiado à mãe tão do céu, como era nossa
mãe. I rmão de meu coração, você tem de ser outro.
Confesse seu êrro, aceite a pena e comece outra vida.
Um olhar do interpelado fixa-se no rosto da i rmã,
onde descobre traços do rosto materno. Os olhos
eram os mesmos, de veludo a voz quente e insinuan­
te. Ressuscita uma infância ensolarada . E enérgico
o rapaz promete:
- Vou ser outro, irmã adorada, a começar de
hoje. Confessarei tudo ao juiz. Mamãe dizia que, se
confessarmos nossos pecados, Deus é fiel e justo
para levar-nos a uma vida nova.
Família ouvinte, não comento a história. Deixo-a
· para seu coração e sua fé.

1 3 1. f:LE . . . EM TUA CASA


Depois de amanhã vamos entrar no bendito m ês,
de junho, todo iluminado por festas religiosas, po­
pulares e tradicionais. Mas sobretudo consagrado à
devoção do sacratíssimo Coração de Cristo Senhor.
Seria falta imperdoável não referir o que deve a fa­
mília a Cristo Jesus. Urge afervorar a família ou­
vinte a santificar o mês pelo culto ao Coração do
melhor Amigo que os homens jamais tiveram. Tê­
da família católica há de saber o quanto deve a êle.
Sempre dêle recebeu a mor, alta estima, acentuadas
preferências e confiadas responsabilidades.

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Esse Coração bateu, pela primeira vez na terra,
dentro de uma casa de família, sob o coração de
u ma mulher bendita entre tôdas as outras. N essa
casa foram ensaiados os passos daquele que viera
procurar os pescadores. Nas bodas de Caná estêve
presente e milagroso o carinho dêsse Coração. Du­
rante seu apostolado entrava nas casas de família,
m esmo onde moravam pecadores e doentes. la con­
verter uns e curar outros. Um dia mandou pedir ao
chefe de família a grande sala, de que necessitava
para sua última ceia. Aí instituiu o Sacramento da
sua presença.
De famílias honradas tira seus santos e sacerdotes.
As primeiras Missas foram celebradas em casas d e
família. O p a i de Lacordaire guardava como santu á­
rio o quarto onde um pobre padre, perseguido pelos
revolucionários, celebrava a Santa Missa. Perseguido,
Cristo refugia-se em l a res com seu Sacrifício euca­
rístico. Finalmente seu Coração preparou um sacra­
mento para os casais que fundam novos berços
de vida.
Poderia uma família agradecida desconhecer tudo
isso? Nada mais justo do que no m ês de j unho ben­
dizer e louvar êsse Coração tão rico em dádivas para
nossas famílias. Nas paróquias junho é celebrado
com devoções especiais. Família ouvinte, não d ei­
xes de acompanhar êsse culto. E' dívida de gratidão.
E' culto de a mizade indispensável e abençoada. E'
verdade, essas devoções nas matrizes não obrigam
sob pecado. Contudo sua omissão é prova de espí­
rito que vai se descristianizando.
Mais. Cristo Senhor revelou que deseja ser entroni­
zado nos lares. Quer que o reconheçam como Dono
da casa, amigo da família, Pai amoroso dos grandes

267
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e pequenos. Belo ato de reconhecimento, tem a fa­
mília que se lembrar de entronizar u m a estátua ou
um quadro do Coração de Jesus. Ricas promessas
prendem-se a êste ato. Pergunto se a família ouvinte
já fêz tão abençoada entronização. Pergunto e im­
ploro ao mesmo tempo. Que a faça ainda êste mês.
Não deixe para depois.
Aqui conto um fato que serve de aviso. Certa se­
nhora combinou comigo a entronização. Escolheu
o lugar que ficava bem de frente de u m quadro que
chamava de nu "artístico"
- Por favor, minha senhora, retire essa " arte"
daqui. Seria um pecado ela continuar na sala onde
deve estar o trono do Filho puríssimo da Virgem
Maria, tão conhecido seu desde os tempos do colé­
gio. Modernizou-se?
O quadro desapareceu e Cristo com seu Coração
foi entronizado em boa hora . Cruzes estavam es­
magando aquela família.
Há famílias que fazem a entronização depender
de uma bela i magem. Sem dúvida, é louvável esco­
lher i magens que, agradando à vista , se insinuem
no coração. O que os olhos refugam dificilmente
será aceito pelo coração. Mas não haja exagêro no
caso. Nosso Senhor nunca estabeleceu tal beleza
impecável como condição de sua bênção.

1 3 2. CONTRATO OU SACRAMENTO?
- Padre - dizia-me certo amigo - acho cho­
cante a gente levar uma jovem ao cartório, decla­
rar que a toma por espôsa e já se está casado para
todos os efeitos. Tal como acontece, quando eu com-
268
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pro ou vendo u m imóvel. J::.ste pelo menos eu regis ­
tro e o casamento fica sem registro, a não ser como
comprovante quando viajo . Entregam-me som ente
uma declaração, afirmando meu respeito pela lei
civil. Nunca m e entra pela cabeça ser isso o suficien·
te para dois cristãos viverem como casados, perante
Deus e os homens.
O amigo tinha razão, em parte. A lei civil tem
direito de ser respeitada, porque o Estado precisa in­
teirar-se do contrato de casamento e proteger os
nu bentes e seus filhos. A p rópria Igreja na praxe
dos casamentos, em nossa terra, faz questão dêsse
contrato para assegura r o casamento religioso. Fi­
cando no seu lugar, o contrato civil não padece
objeções. Mas querer aceitá-lo como o único válido é
profanar e laicizar o casamento. Em tôda parte, ao
longo da história, o casamento sempre se revestiu
de caráter religioso.
Família ouvinte, para um católico o casamento
civi l será sempre um mero contrato legal , que não
lhe confere o direito de viver conjugalmente, sem
ofensa à lei de Deus. Tudo porque contrato e sacra­
mento não se separam. Ou é tal ou é concubinato
perante Deus. Eis a razão por que a I g rej a não re·
conhece como válido e lícito o mero contrato ci­
vil, que não é sacramento. Avisa aos pais para que
não programem núpcias somente perante a lei. Res­
ponsabiliza-os, se omitirem intervenção quando se
exclu i o casamento religioso.
O papel do Estado é respeitar os dire itos de Deus
na ordem moral. Na o rdem das leis físicas o Esta­
do não se atreve, por exemplo, a violar a lei da água,
do fogo, da eletricidade . Se fôr negligente nesse
ponto, terá contra si a g rita da imprensa e os desas-

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tres e inun d ações. Sobejam noticiários que acusam
escoamentos insuficientes para as águas pluviais
nas grandes cidades. O desrespeito aos cálculos tem
seu preço porque as leis da física são i ntangíveis.
Na ordem moral as conseqüências, por serem re­
tardadas, não deixam de ser reais e também desas­
trosas. Tirar o casamento de suas d imensões de
sacramento é o mesmo que apaga r a chama que o
alimenta, o clima para a cultura do verdadeiro amor
cristão e da genuína educação cristã dos filhos. Não
se admite ignorância neste ponto em famílias que,
ao redor de si, encontram igrejas e sacerdotes.

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XXIII

1 3 3. DEZ GENEROSIDADES
para a vida acusava a presença de dez filhos,
sentados à mesa naquela família. Pai e mãe tinham
suas horas e seus dias totalmente ocupados em cu i­
dados para criação e educação daqueles dez pro­
g ramas. E não eram gente de recurso. Mas assim
mesmo, com poupanças e sacrifí cios, nunca faltou
o pão, a roupa, a escola à buliçosa estirpe. Pai e
mãe deixavam isto e aquilo com o fim economi­
zar para os filhos.
A Hungria levanta labaredas de revolução. Há l u­
tas e mortes. Famílias inteiras fogem em demanda
da Austria. São milhares os fugitivos, em favor dos
quais foi feito um grande apêlo em tôda parte. Há
um convite gera l : aceitar crianças húngaras ! Naque­
le lar generoso a mãe, ao ouvir o rád io, apelando
por uma família para os pequenos fugitivos, resolve
acertar as coisas com o marido.
- Que tal, meu caro, se pegássemos um garôto
fugitivo para criar? Há um leito vazio, já que a filha
mais velha foi para o convento. Que acha?
- Mulher, u ma cama de sobra não resolve o caso.
O garôto tem de ser alimentado e vestido e educado.
São parcos demais nossos recursos. Mas, enfim,
Deus é g rande. Vá a Viena e procure seu garôto.
Boa sorte !

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Lá vai a generosidade atrás da m iséria. Mostram à
senhora u m garôto, que carregava ao colo u m a
irmãzinha com a q u a l brincava .
- Minha senhora - diz o encarregado - o ga­
rôto perdeu uma perna e não podemos separar dêle
a i rmãzinha.
Nossa heroína olha, vacila, enternece-se, confia em
Deus e responde que levaria os dois. E levou-os . Em
casa o marido alarma-se e reclama, para logo depois
concordar com a espôsa que, para Deus, tanto faz
sustentar mais uma criaturinha inocente.
Fa mília ouvinte, dessas generosidades é que o
mundo dos lares precisa. Não digas que são parcos
teus recursos. Foi sempre assim : o generoso depres­
sa passa para o au mentativo de mais generoso. Já
está no embalo, vive praticando o hábito. É-lhe mais
fácil acelerar o ritmo. Os egoístas, os que trazem
bem contados os filhos e as notas no banco, desis­
tem até da mais elementar generosidade. Em tro­
ca torna m-se adoradores dos poucos fil hos que têm.
Para êstes têm excessos de carinhos. São os seus
escravos. Entretanto a outros necessitados deveriam
dar o que é claramente demais para tais filhos. -
Como é teu caso? Quantas generosidades tens à
mesa?

1 34. NO BILHAR DA ALEGRIA


Uma pequena alegria, bola azul, bate em outra
bola e esta em outras e outras. E m pouco tempo
tôdas as bolas movimentam-se sôbre o fêltro da
mesa, ou sôbre o tablado da vida. Sim, u m a pe-

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quena alegria inesp erada tem fôrça d e varinha d e
condão. Muda fisionomias e corações, faz pronun­
ciar palavras que parecem u ma canção. Vamos a
u m fato.
Um lar. Um m a rido serião, como de costume. Ame­
senda-se, abre um j ornal e em pouco tempo terá
lido as notícias e tomado sua refeição matinal. Ho­
mem de horário para tudo, em casa e fora de casa.
Isso há quatorze anos. Um relógio humano. Mas, na­
quele dia, Francisca, a espôsa, sem saber por quê,
beij a ligeiramente o horário humano, que era seu
marido que se d espedia. O agrado inesperado foi
varinha de cond ã o . Guilherme alegra-se pelo agrado
tão raro, abraça a e-s pôsa e dá o trôco do carinho.
Continuou a varinha de condão. Gu ilherme entra
sorridente no seu escritório. Pouco d ep ois a secretá­
ria-chefe entrava e era cu mprimentada com u m
sorriso delicado. Sensação. D e volta, conta à s com­
panheiras que o chefe era outro hoje. Estava afá­
vel, contava histórias. Deixara em casa o rosto amar­
rado de chefe. Não demora a secretária vem " ex­
plorar" a alegria. Pede e consegue u m sábado l ivre
para excursionar com uma amiga. E ainda ouve
a observação de que todo mundo, de vez em quan­
do, precisa ter u ma alegria inesperada . . . Era outra
bola atingida pela tacada da alegria.
Alma em guizos, a secretária sai e dá com um mo­
cinho recém-colocado, mascando a ponta do l ápis,
na sala anexa. Não havia m eio de acertar as contas.
Depressa ela, que sempre vivia caçoando dos apuros
do inexperiente, debruça-se sôbre o livro e em pou­
co tempo descobre o êrro e põe em ordem as con­
tas. O atribulado sorri . Era outra bola em alegre
movimento.
Mundos Entre Berços - 18
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O mocinho agradece o auxílio e o conselho de es­
crever os números em colunas bem exatas. Alegre,
entra em casa de volta, levando um presente para
a mãe. Conta-lhe o auxílio recebido da secretária
chefe. A pobre senhora fica contente com o presen­
te e o interêsse da chefe. Segunda-feira manda o
filho entregar-lhe uma caixa de bombons. Na volta
ouve o fil ho noticiar-lhe a promessa de ser assistido
pelo interêsse da chefe, que atendia ao pedido feito
pela mãe presenteadora.
Nosso Guilherme entra no lar e entrega à espôsa
um belo ramalhete de flôres . . . Outra bola a rodar
alegre. Há muito tempo não entravam flôres leva­
das pelas mãos de um carinho. No fim do dia havia
um bilhar de alegria na vida de m u ita gente.
Fa mília ouvinte, temos no fato um mosaico, digo
melhor, uma pedrinha de mosaico. Entretanto as
pequenas coisas, as pequenas alegrias são como
prelúdios de belas sinfonias. E' tol ice esperar por
palcos complicados na vida para então a gente
representar papéis heróicos. Nada disso. Contagiar
com sadia alegria, ou animada esperança, as p es­
soas com que lida mos cada dia - eis aí um pro­
grama.
Almas em guizos de alegria, seguindo bandeiras
desfraldadas pela coragem e fé em Deus - a rras­
tam atrás de si outras almas. Uma alma depois da
outra.
O contrário é verdade também. Revolta, tristeza,
descontentamento contagiam em mau sentido. Co­
mo é caridade contagiar outros com sã alegria, é

274
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descaridade a atitude contrária. De certo na família
ouvinte funciona muito bem o bilhar da alegria. Caso
não exista em alguma casa, por favor, p eço o adqui­
ram quanto antes.

1 3 5. VISÃO LUMINOSA
Comovente foi, sem dúvida, a romaria de 1 .800
cegos a Lourdes. Foram guiados por capelães, tam­
bém cegos. A romaria é conhecida pelo nome de
Cruzada dos Cegos. A pregação, os cânticos, as ora­
ções, as alocuções na gruta da aparição deixaram
nas almas uma doce paz. Os cegos sentiram-se mais
conformados com suas cruzes. Seus olhos ficaram
mais clarividentes, porque viram "a aparição lumi­
nosa" dentro de suas almas. O que os olhos ino­
centes de Bernadette viram na gruta, viram êles den­
tro de si mesmos.
Família ouvinte, peço a Deus que tenham olhos
sadios todos os que vivem em teu lar. Mas que te­
nham igualmente olhos caridosos que enxergam o
sofrimento alheio, as aperturas do p róximo a come­
çar pelo que se passa em casa. E' tão comum
a mulher queixar-se de que o marido não vê nada.
Não vê a toalha mais bonita que está na mesa, o
vestido mais bonito que veste para agradar-lhe, o
penteado que a deixa com ares mais juvenis. Não
vê nada, nem os apertos e os cansaços da dona de
casa. Não vê e não agradece. Só enxerga quando
quer reclamar.
E lá de seu lado o marido tem uma l ista de coisas
que lamentàvelmente a mulher não enxerga. A co-
18° 275
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meçar pela roupa, pela ordem, pelos horários, pelo
j ornal, pelo cinzeiro, etc.
Como importa ter olhos s adios para ver a p recisão
do próximo mais próximo, que é o pessoal de casa :
pai, mãe, filhos e filhas, domésticos! Aqui aju nto
uma observação. Para u m batizado, i ntegrado no
seu batismo e no Corpo Místico, não basta a visão
dos olhos da face. E' p reciso que se lhe ajunte a
visão dos olhos da alma. Digo a visão da fé, do in­
visível e do sobrenatural. G u ido de Fontgalland assis­
tia, menino, às palhaçadas de um clown num circo.
As tantas disse à babá : " Como estará a alma dêsse
palhaço?" - Era o desejo de uma outra visão do
que a roupagem berrante, que vestia o corpo do
cômico do circo .
Os olhos paternos gozam da visão de filhos que
vão crescendo esbeltos e corados, com luz inteli­
gente nos olhos. Para isso não são cegos. Aconte­
cerá o mesmo com a beleza interna da alma na gra­
ça santificante? Há pais cegos de olhos na face e
cegos de olhos na alma. Esta cegueira é a mais
comum e a menos lamentada. Nem é tida por i nfe­
l icidade. Deus permita que na família ouvinte todos
vejam a " aparição luminosa " da fé e da graça.

1 3 6. O MONúLOGO DA ARVORE
Vamos lá, pais ouvintes : é ou não é comum a
vossa queixa, a respeito da repetição dos m esmos
avisos aos m esmos filhos? Parece inútil e cansativo
d izer, redizer inútilmente o que já foi repetido tan­
tas vêzes. O aviso foi dado com pedagogia, com

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amor, com seriedade. Entretanto parece que os filhos
nunca o ouviram. Fazem sempre o contrário. Daí as
reclamações, os desânimos, ao lado das explosões
dos pais. Sentem a tentação da desistência. Ora, aos
d esanimados aponto aquela árvore, que se entretém
com u m monólogo.
Olhem para a laranjeira que está tôda branquinha
de flôres, como uma noiva enfeitada. E a árvore
per� unta : "Cada flor será u m fruto? Não virão tem­
pestades, granizos, geadas, roubando-me as flôres?
Já sei. Apenas uma parcela chegará a ser fruto e
semente. E assim foi em outras florações. Mas não
importa. Repetirei a florada, cada primavera. Há
mu ita flor no chão. Alegro-me com as que ficaram
e i rão vergar meus ramos convertidas em frutos".
E' assim mesmo. A árvore não se entristece, nem
desanima. Na volta da primavera voltam-lhe as flô­
res, com suas p romessas. Pode o vento como u m
selvagem sacu dir-lhe o s galhos, carregando suas
flôres. Contudo o programa repetido mostra a ri­
queza eterna de uma fôrça perdida humildemente.
Daqui parece-me ouvir essa árvore censurar os
desani mados. Censura-os por causa da pressa com
que desanimam da tarefa. Repete-lhes que i mporta
florescer, sempre florescer, sempre avisar. Florescer
no amor. Lembra que nem tôda a palavra terá su­
cesso, como nem tôda flor será fruto. Frutificam,
porém, as flôres que ficam. E termina assim : " Eu
guardo sempre muitas flôres e vossos filhos guar­
darão muitos avisos. E:.les verão meus frutos e vós
vereis suas vidas frutificando, pela repetição dos avi­
sos e dos conselhos".
Deixo a alegoria, família ouvinte. Quis somente
preveni r contra o desânimo. Também com Deus se

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dá a repetição para corrigir seus filhos. Espera pela
conversão. Diz que se coloca à porta do coração e
fica batendo até que lhe abram. Além do mais, avi­
sos repetidos acalmam a consciência, porque lem­
b ra m um dever cumprido. Sempre ficará ainda por
cima uma flor hoje e um fruto, amanhã, na alma
dos filhos. Um conselho, pais. Rezai vosso aviso.
Entrará acompanhado por Deus.

1 3 7. JOGANDO E REZANDO
Robespierre estava sentado à m esa no café da
rua de Rivoli. Um tabuleiro com figuras de xadrez,
u ma carranca fechada de homem que jogava so­
zinho. Os sombrios pensamentos pareciam curvar­
lhe a cabeça de tirano. Toma em sua mão o rei,
rola a figura pelos dedos e diz: " Ainda bem que
és um rei de madeira ; do contrário tua cabeça ro­
laria na gu ilhotina" - De repente do outro lado da
mesa uma mão delgada e pálida desliza sôbre o
tabuleiro e empurra u m peão atrevido. Começa o
j ôgo que devagar põe Robespierre em apuros, não
obstante sua perícia de jogador. Após meia hora a
partida estava p erdida para êle. Outra partida e ou­
tra derrota. Aquela mãozinha mexia com as figu ras
aparando ataques e desfechando outros. Três horas
durara o duelo xadrezista. Só então Robespierre le­
vanta a cabeça e olha para a sua parceira. Era uma
elegante jovem.
- Cidadã, parabéns! A senhora tem muita sorte
no jôgo. - Com olhar penetrante convida para mais
uma partida que é aceita pela parceira. Ele, sem-

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pre tão seguro nos seus lances, recorre a tôdas as suas
táticas. A parceira com mão resoluta rebate os ata­
ques e de repente exclama: Cidadão, xeque ao rei !
Xeque mate ! Partida perdida .
- Cidadã, outra vei ganhaste a partida. Mas . . .
1 trôco de que ficou tantas horas enfrentando meu
a
renome sombrio em três partidas?
- Cidadão, a trôco da cabeça de um homem, -
responde a jovem com voz firme. - Eu ganhei essa
cabeça. Agora o cidadão irá me entregá-la depressa.
Do contrário o carrasco leva-a logo. - Isto dizendo,
tira do bôlso um salvo-conduto onde se lia o nome do
conde Roncourt e apresenta-o à assinatura. Desar­
mado pela coragem da jovem, Robespierre assina
o documento e Roncourt estava livre .
- Mas quem és tu, cidadã?
- Sou a irmã do conde Roncourt e Irmã Léonie
du Sacré Coeur, - responde a jovem e retira-se co 11
o documento, enquanto o tirano, mal-hu morado pe­
las derrotas e admirando a coragem da relig iosa,
acompanha-a com seu olhar. A religiosa deixara o
convento, revestira seus trajes do m undo e viera en­
frentar o leão na sua cova. Queria salvar a vida de
um pobre irmão. Viera e jogara rezando, como vivia
rezando no seu convento.
Famílias, cito o caso para mais uma vez provar
que é calúnia dizer que morrem para a familia filhos
e filhas que a trocam pela casa de Deus. Certamen­
te nosso conde devia ter outros irmãos e outras ir­
mãs. Não vieramJ nem pretendo condená-los por
isso. Mas a Irmã Léonie, a morta para a família, veio
e na cova do leão enfrentou-o durante horas em
partidas de xadrez, salvando u m pobre condenado.
Peço à família ouvinte que não admita em seu lar

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uma calúnia, como a que acabo d e expor. Também
eu, certo dia, deixei os afazeres de meu apostolado
e como único da família plantei-me ao lado do ve­
lho pai que tinha de ser operado. O amor à família
não morre naqueles que Deus escolhe para seu ser­
viço. Toma outros ares, aprofunda-se em Deus, trans­
forma-se em oração constante. Conforme a situação
torna-se uma presença. Ainda m e parece ver aquê­
le velhinho a rezar em nossa igreja, sempre acom­
panhado por uma filha que dêle cuidava. Só retor­
nou a seu convento, de onde viera, d epois que fe­
chou os olhos do santo velhinho . Lembre-se a famí­
lia que os filhos são de Deus, em primeiro luga r. E
sempre êsse direito é santo e há de ser respeitado.
Falar de outra forma não é de cristãos tementes a
Deus.

1 3 8. ROTEIRO DA MORTE
Francisco e Renata já haviam acertado o roteiro
da vida conjugal. Era um roteiro de morte. Primei­
ro, um palacete. Depois, um automóvel de luxo. E
finalmente . . . a vida, u m filho, u m só. Seria o sufi­
ciente para unir a vida do pai e da mãe.
E começou o trabalho, a economia, a ganância.
Quando surgia u ma vida no seio materno, inespera­
damente, a solução era sempre a mesma : fora com
�la ! E assim ergueu-se o palacete, veio o rabo-de­
peixe, vieram os veraneios, custosos e exibidores.
Todos os caprichos fizeram fila e foram atendidos.
Agora podia vir a vida. Davam licença para o filho.
Mas - coisa curiosa ! - por mais que o casal
quisesse um filho, a espôsa j á não podia concebê-lo.
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Começou a correria da espôsa, de médico para mé­
dico. Tudo em vão. Ela mesma havia estragado a
fonte da vida, nela formada por Deus com vistas à
m aternidade. E ra tarde demais. Botões, que antes
haviam p rocurado desabrochar em flôres, tinham
sido eliminados. E à hora em que os pais queriam
uma flor, o Criador retirara sua mão criadora.
N esa altu ra começou o roteiro da m orte. A espôsa
adoeceu, com perigo de vida. Pouco valiam agora o
palacete, o rabo-de-peixe, a vila d e veraneio. Fran­
cisco, não agüentando as queixas e lamúrias da es­
pôsa cúmplice, sai num dia batendo as portas. Esta­
va resolvido. Iria viver com outra que lhe desse u m
filho, enchendo-lhe as noites e os d ias. E Renata
curtiu sua doença. Nas noites de insônia parecia-lhe
ouvir vozes de crianças, passos de garotos correndo
pela casa. Estariam por ali, se não houvesse escolhi­
do o roteiro da morte.
Saibam as famílias que o homem não é máquina
que se possa pôr em movimento, ou tirar uma peça
e recolocá-la, quando se quer. Intervenções atrevi­
das mutilam o corpo e estancam a fonte da vida. O
casal acima historiado repete-se hoje em d ia. Há
tantos lares vazios, por crime e pecado. Ninguém
pode alegar ignorância, pois o assunto vive expli­
cado e pregado. Em caso de dúvida não faltam con­
selheiros autorizados para as soluções aprovadas
e certas.
Lamentaria muito se, em algum lar que me es­
cuta, houvesse um Francisco e u m a Renata no
papel desta história. Também aqui o crime não com­
pensa. Ninguém precisa fazer a experiência para
averiguar a verdade. Tenha-se docilidade à doutrina
da Igreja e tudo está o rientado.

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fNDICE GERAL

1. Quem balança u m berço . . . .. . . .. ... . . . 7


2. Ela esperava . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. ... . . . 9
3. E a mãe reviveu . . . . . . . . . . .. . . .. ... . . . 11
4. Vestidos e modas . . . . . . . . . .. . . .. ... . . . 12
5. Dias na liturgia . . . . . . . . . . . .. . . .. ... . . . 15
6. Meus olhos pelos teus olhos .. . . .. ... . . . 16
li
7. Em casa a metade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
8 . Crianças e metros quadrados . . . . . . . . . . . 20
9. Uma lista acusa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1 0. Uma carta-programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1 1 . Eu vejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1 2. Em teu lugar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
111
1 3. Assinatura falsa . . . . . . . . . . . . . . . . ..... .. 31
1 4. Cruzes ao chão . . . . . . . . . . . . . . . . ....... 33
1 5. Descobrindo o batismo . . . . . . . . . ........ 34
1 6. De repente acharam tempo . . . . ....... 36
1 7. A glória de u m a u rna . . . . . . . . . . ....... 38
1 8. Conformismo errado . . . . . . . . . . . . ....... 40
IV
1 9. Batismo atrazado ..... ................. 43
20. Repetição inútil? . ..... ....... ... ....... 44
21 . Peço licença . . . . . ..... ................. 46
22. Diálogo d e noivas .... ... ... . .. . ..... .. 48

283
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23. Moradores invisíveis em teu lar . . . . . . . . . 49
24. De tocaia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

v
25. Visões de cristã . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . 55
26. A última canção . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . 57
27. Sublimação acertada . .. .. . . . . . . . . . . . . . . 58
28. Sempre atraente . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . 60
29. Que saiba rezar . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . 62
30. Escreva u m suficiente! . .. . . . . . . . . . . . . . . 65

VI
31 . Teologia política . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . 67
32. Que berços tiveram? . . . . . .. . . . . .. . . . . . 69
33. Como uma das insensatas . .. . . . . .. . . . . . 71
34. As mãos de mamãe . . . . . .. . . . . .. . . . . . 72
35. Bússola esquecida . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . 74
36. Multa original . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . 76

vli
37. O domingo da criança . . .. . .. . .. .... .. . 79
38. Liturgia da mesa . . . . . . . . .. . .. . .. .... .. . 80
39. Mamãe é remédio . . . . . . .. . .. . .. .... .. . 83
40. Um rosto na pedra . . . . . .. . .. . .. .... .. . 84
41 . Mães em férias . . . . . . . . .. . .. . .. .... .. . 86
42. Vivo tão sozinha . . . . . . . . .. . .. . .. .... .. . 87

VIII
43. Vigilâ n cias f!oridas . . ........ . ... . . . . . . . . 91
44. Belezas caninas . . . . ........ . ... . . . . . . . . 93
45. Sonhos de crianças ........ . ... . . . . . . . . 94
46. Sol e honra . . . . . . ........ . ... . . . . . . . . 96
47. Oração diferente . . . ........ . ... . . . . . . . . 98
48. Receitas humanas e divinas . ... . . . . . . . . 1 00

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IX
49. Cristal e criança . . ... . . . . . . . . . . . . . . 103
. . .

50. Vamos recordar? . . . . . . . . . . . . ... . . 105


. . . . . .

51 . Olhos para realidades . .... . . . . . . . . . . 1 06


. . . .

52. Contarei à sua mãe . . . . . . . . . . . . . . 1 08


. . . . .

53. Visão para um dia? . . . . . . . . . . . . . . 110


. . . . .

54. Conto a história d e alguém? . . ..


. . 112 . . . . .

X
55. Filhos por si . . . . . .
. ... .. .. . .. .. ..... .. 115
56. Atitude responsável . . ... .. .. . .. .. ..... .. 1 17
57. Horários da vida . . . ... .. .. . .. .. ..... .. 119
58. Silêncios abençoados ... .. .. . .. .. ..... .. 1 20
59. Um risco na parede . . . .
. . . .. . . ... . . .. 1 23
60. Eternidade, primeiro . ... ..... .. .. ..... .. 1 24
XI
61 . Bênção ou mascote? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 27
62. Mesa é altar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 29
. . . . . . . .

63. Uma alegria roubada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 31


64. O efêmero e o eterno . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 32
65. Pão no chão .. . . . . . . . . ...
. . . .
. . 1 34
. . . . . . .

66. Não gosto de ver-te . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 36


Xli
67. Sem vista para as flôres . . . . . .. . . . . . . . 1 39
68. Côres desaparecidas . . . . . . . . . . .. . ... . . . 141
69. Estão mais perto de Deus . . . . .. . ... . . . 1 43
70. No seu apogeu . . . . . . . . . . . . . . .. . ... . . . 1 44
71 . Deus desafiado . . . . . . . . . . . . . . . .. . ... . . . 1 46
72. Diferentes dos outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 48
XI li
73. Com sessenta e u m anos . . . . . . . . . . . . . . 1 51
74. Um título, u m voto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 52 .
75. Um diálogo e uma mulher . . . . . . . . . 1 54 . . .

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76. Guarde seu nome! . . . . 1 56 . . . . . . . . . . . . . . . .

77. Seria teu conselho? . . . . . 1 58


. . . . . . . . . . . . . . .

78. Com teus vestidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 60


XIV
79. Família politizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 63 .

80. Uma soma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 65


. . .

81 . Contas pelos d edos . . .. . .. . .. . .. . . . . . . . 1 66


82. Dona aflita . . . . . . . .
. . .. . .. . .. . .. . . . . . . . 1 69
83. Sempre convidada . . . . .. . .. . .. . .. . . . . . . . 1 70
84. O carro 1 39 . . . . . . . . .. . .. . .. . .. . . . . . . . 1 72
XV
85. Deus num letreiro . . . . . . . . . . ... . . .. . 1 75
. . .

86. Uma alma entre mãozinhas .. ..... . . . . . . 1 77


87. Estôrvo inventado . . . . . . . . . .. ..... . . . . . . 1 78
88. Pão rezado . . . . . . . . . . . . . .
. .. ..... . . . . . . 180
89. Triste legado . . . . . . . . . . . . . .. . .
. . . . . . . 1 82
. .

90. Presente e futuro . . . . . . . . . .. ..... . . . . . . 1 84


XVI
91 . Ouçam minha queixa . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 87
92. História para muitas famílias . ..... .... . 1 88
93. E' a mão de mamãe . . . . . . . . .. . . . .. . . 1 91
94. Somos assim . . . . . . . . . . . . . . .
. ..... .... . 1 92
95. Ensino esquecido . . . . . . . . . . . . ..... .... . 1 94
96. A maior lei da vida . . . . . . . . . ..... .... . 1 96
XVII
97. Já pensou nisso? . ,...... . . . . .......... 1 99
98. O horário do dever . . . . . . . . . .......... 200
99. Ramo com cerejas . . . . . . . . . . .......... 202
1 00. Não é programa . ... . . . . . . . . . .
. .
. . . . . . 204
1 01 . Você é você . . . . . . . . . . . . . . . . ... .. . . . . . 206
1 02. Vamos ouvir . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . 208

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XVI I I
1 03. A TV silenciou ..... . ....... .......... 21 1
1 04. U m retrato na carteira ....... .......... 213
1 05. Ouro por ouro . . . . . . . .. . . ..
. . . . . . . . . . . 21 5
1 06. Num anelzinho a paz . . . ..... .. ..
. . . . . 217
1 07. Sim repetido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 8
1 08. Voltando com o arado . . . . . . . . . . . . . . . . . 220
XIX
1 09. Uma vela h istoriada . . . . . . . . . . . . . 223
. . . . . .

1 10. Vida e bênção . . .


. . . . . . . . . . . . . ... . 225 . . . . .

111. Respeitos em casa . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 227


1 1 2. Aprendeu em casa . . . . . . . . . . . . . . 229
. . . . . .

1 1 3. Conselhos e remorsos . . . .. . . . . . . . . . . . . 230


1 1 4. Marido sem religião? . . . . . . . .
. . . . 232
. . . . . .

XX
1 1 5. Justo orgulho materno . . . . . . . . . . . 235
. . . . .

1 1 6. Carta abençoada .. .... . . . . . . . . .. . . 237


. . . . .

1 1 7. Flôres imu rchecíveis . . . . . . . . . . . . .


. . 238
. . . .

1 1 8. Alegria pascal . . . . . . . . . .
. ... . . . . . . . . . . . 240
1 1 9. Profano aqui, sagrado lá? ... . . . . . . . . . . . 242
1 20. Dez mais do que cem . . . ... . . . . . . . . . . . 244
XXI
1 21 . Pregos na consciência . . . . . .. ... ... ... . . 247
1 22. Herança cordial . . . . . . . . . .
. ........... . . 249
1 23. Lamentações lamentáveis . . . . .
. . . . . . . . . . 250
1 24. Uma chave abriu . . . . . . . . . .. ... ...... . . 252
1 25. Como peixe fora d'água . . . . .. ..
. . . . . . . 254
.

1 26. Casa paterna aos 50 anos . ........... . . 256


XXII
1 27. Respostas acusam . . .. .
. . . . . . . . . . . . . . . 259
.

1 28. Diminuição errada . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . . 261

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1 29. Em seu tempo, mamãe . . . . . . . . 262 . . . . . . . .

1 30. O mistério d e Deus era você . . . . . 265 . . . . . .

1 31 . E.le . . . em tua casa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266


1 32. Contrato ou sacramento? . . . . . . . 268 . . . . . . .

XXI II
1 33. Dez generosidades . . . . . . . . .. . . . . . .
. 271 . . . .

1 34. No bilhar da aleg ri a . . . . . . .. . . . .. 272


. . . . . .

1 35. Visão luminosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275


. . . . . .

1 36. O monólogo da árvore . . . . .


. . . . . 276
. . . . . .

1 37. Jogando e rezando . . . . . . . . .. .. . . . 278


. . . . . .

1 38. Roteiro da morte . . . . . . . .


. . . . . . . . . . . . . . 280

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