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DE eaze
e -
DDD ED
DRapa

LEON DENIS

CATECISMO
'* ESPÍRITA
(7º edição)
Condensação dos pon-
tos cardiais da Doutrina,
ao alcance de todas as
inteligências, e que mui-
to se presta a auxiliar
o ensino do Ispiritismo
nos lares e nas escolas
espiritas.
Em apêndice, há exce-
lente trabalho sobre o
Exercício da mediunida-
de, além Ge outras ques-
tões de interesse, o que
LtIZ. No LAR
torna a obra muito pro-
curada por neófitos e,
mesmo, por estudiosos
da Doutrina.

ALLAN KARDEC

O PRINCIPIANTE,
ESPÍRITA
(14º edição)
A obra se inicia com
uma longa biografia de
Allan Kardec, do nasci-
mento à desencarnação.
Vem, em seguida, o
resumo dos princípios
da Doutrina Espírita, de
autoria. de Allan Kardec,
sendo estudados os pon-
tos capitais que o espi- Wsto livro foi composto na ortografia usada
rita não deve desconhe- pela Wditora, ou seja, a de 1943, com algu-
cer. Por fim, há uma
mas das modificações propostas pela de 1945.
série de respostas a per-
guntas que comumente
nos são dirigidas pelos
iniciantes ou pelos ad-
versários do Espiritismo.

A
em
Francisco Cândido Xavier

LUZ NO LAR
(ANTOLOGIA MEDIÔNICA)

Diversos Autores Espirituais

1.º edição
(10.000 exemplares)

C.G.C. n.º 33.644.857


I.E. n.º 097.035.01

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA.


(Departamento Editorial)
Rua Souza Valente, 1? e Avenida Passos, 80
asma

Rio, Gb — ZC-08
ANTECÂMARA, Emmanuelmp
E — “Culto Cristão no Lar, Emmanuel Ttassp .
“2 — Jesus em Casa, Irenê S:'Pinto ii. cu
—» Angústia Materna, Sebastiana Pires.
— Meu Lar, João idesDeusBY. uu cs ce
— No Reino: Doméstico; Irmão: Kids ur
— Colombina, Júlia Cortines eso tME = erra
— Mãe, Irmão IX dE). . Bad. sas. Ola
'— Sempre Amor, Jorge MatosirnA.. as AL
'— Luz no Lar, Seheillas ii. alva. obra)
— Conversa em Casa, Casimiro Cima e
— Na Intimidade Doméstica, Emmbimuel OTA A
— Lamento Paterno, José Guedes PA. oBnesald.
— Mãe, Meiwmei so sta. am. ah casworhe.
— Ternura Maternal, Carlos D; ernandos
— Verdugo e Vítima, Irmão X . BusuaTa.
— Oração da Criança, ido taesagaM
— .A Lenda da Criança, Timão Ksd. oleo ks
— O Berço, Bezerra de Menezes;CirSchutal,
Cármen Cinira, nes de: A eé Crue
C. SOUBO core rerasaso ciais vo odio DIR «ONT «LB RT.
ge), À) — Aborto Delituoso, EmimeninelSE OI. tá M
qm DM) — Filho que não nasceu, José aaPE
21 — Ante o Divórcio, Eminanuol . DEL O,
Composto e impresso
22 - Oração à Mulher, Meimei .cos. r.«DSI,
nas oficinas. da
28 “NoTemplo do Lar, Pio Ventania: aivd O
24 - Renúncia, Emvinanael! (GIGA. DBRRL E,
— FEDERAÇÃO — 2h Carta Paterna, Neio Erúcio Lo RES Ma SA,
“BS-RA; 10-095-L; 1968 “o Lol de Amor, Narcisa Amália Am. Romana,
87 O Grito de Cólera, Neio Lúcio cosequin),
4H Prolossores Diferentes, Emmanuel 90 op. va
INDICE

29 — Companheiros Mudos, Emmanuel ....suv.


30 — Carta aos Pais, Casimiro Cunha .........
31 — Um Desastre, Irmão X cus ces msn
32 — Solução Natural, Hilário Silva ...........
33 — A Infância, André Luiz, João de Deus, Batui-
ra, Casimiro Cunha e Emmanuel .........
34
35
— Resposta do Além, Irmão X .....cccccoo
— Corta: à meu PhG,d: sa so me e pvaeas ea Antecâmaia
36 — Pequeninos, Emmanuel ....c.ccccrmsentas
37 — Versos a Minha Mãe, Da Costa e Silva .....
88 — Confidência de Mãe, Andrudina de Oliveira “O culto do Evangelho ém casa conta hoje com
39 — História de um Pão, Irmão X .....c.cccccs numerosos núcleos .
40 — Essas Outras Crianças, Emmanuel ........ Porque não escrevem os wmigos desencarnados
41 — Album Materno, Irmão X sc. en ras sms um volume porticularmente dedicado a semelhante
42 — O Cristo em Casa, Casimiro Ounha ...... serviço?”
43 — A Mulher Ante o Cristo, Emmanuel ......
Xe
44 — Saudade Vazia, Jorge Faleiros ......ccccs
45 — Surpresa, JnmGo DE ques mes eu imenalrms quis
46 — No Lar, Momvanoel- js amais pura la mto datas Foto ES von “Queríamos um livro que nos desse algumas
47 — Coração Maternal, Meimei ....ccccccceme 120 noções de lar e família, à luz da reencarnação.”
48 — Trovas de Mãe, Delfina Benrigna da Cunha
49 — Em Casa, EmmmMel à sus asas sanita xe
Provação Materna, Valentim Magalhães ... 127
51 — Mensagem da Criança ao Homem, Meimei 128 “Realmente não temos, por agora, tempo bas-
52 — Conselho Materno, João de Deus ......... 130
53 — Preparação Familiar, Irmão X ..scese cenas 132
tante para despender com a leitura de um tratado
—4 — Santa Maternidade, Epiphanio Leite ...... 136 religioso, em nossas reuniões familiares, mas esti-
59 — Bapal. RICO, UNINDO: TÃG Sida ago sao) o 070 aa Po 137 martamos possuir um livro simples, para estudos
56 — Meu Filho, Epiphanio Leite ...cccccicco. 142 rápidos e independentes uns dos outros, no qual
ST — Crianças Doentes, Meimei .....ccccciacs 143 RReric meditar as lições de Jesus, conver-
58 — O Irmãozinho, João de Deus ......ccccc.. SUN
59 — Pais e BILHOS, JOGO! pise srs oval ereomand aged 147
e
60 — O Culto Cristão no Lar, Neio Lúcio ...... 151
61 — Confissão Materna, Dulce ..iccecsenca tes 154
62 — Paz em Casa, Emmanmel ..cicccccrcreeta 158 “Não ignoramos as obras notáveis, em torno
63 — Credores no Lar, Emmanuel .....ciciccos 160 do Evangelho; entretanto, para os entendimentos
64 — Compaixão em Família, Emmanuel ....... 163 em casu, no culto da oração, cremos nos seria de
65 — Mãe, Deus te Abençoe!..., Maria Dolores 165 grande valor o mamuscio de págimas ligeiras, mas
8 LUZ NO LAR
LUZ NO LAR 9

edificantes, que nos ajudassem a pensar sobre as Senhor, lançados pela bondade do Senhor, no solo
verdades do espírito, sem longo esforço.” de nossos corações. E, ao fazê-lo, rogamos a Ele,
o Divino Semeador, nos conceda força e diretriz,
x
compreensão e discernimento paro cultivá-los, em
NOSSO proveito, de modo a transformarmos a nossa
“Não poderemos ter um facilitário para assi-
milar as ideias espíritas-cristâs ?” área de ação em gleba de amor e luz para a Vida
Eterna. .

EMMANUEL
“Atualmente; vo culto: do. Evangelho em» casa
pede um conjunto de lições práticas, para reger, d Uberaba, 18 de Junho de 1968.
conversação estados oOL epltad os. ensinamentos
de Jesus? ; ge

“Sim, dispomos de excelentes volumes para O


exame sistemático do Evangelho, não só na Dou-
trina Espírita, quanto igualmente em outros cir-
culos religiosos, mas reconhecemos a necessidade de
mais livros para o culto do nosso Divino Mestre,
na intimidade do lar, livros que nos revelem os pre-
ceitos cristãos, de maneira tão súnples quanto Po
Sivel.”
gt

Respondendo às solicitações dessa natureza,


com que temos sido honrados por muitos: amigos,
reunimos os recursos da lavoura espírita evangé-
tica, de que se constitui este livro, para aferido:los
aos leitores: Qmigos. pr:
vB creiam, todos eles que: assim1 procedemos: não
porque sejam colhidos.de. merecimento, NOSSO; MAS
por. serem frutos, flores esementes da Seara do
E

Culto cristão no lar

O culto do Evangelho no lar não é uma ino-


vação. E” uma necessidade em toda parte onde o
Cristianismo lance raízes de aperfeiçoamento e su-
blimação.
A Boa-Nova seguiu da Manjedoura para as
pracas públicas e avançou da casa humilde de Simão
Pedro para a glorificação no Pentecostes.
A palavra do Senhor soou, primeiramente, sob
o teto simples de Nazaré e, certo, se fará ouvir, de
novo, por nosso intermédio, antes de tudo, no cir-
culo dos nossos familiares e afeiçoados, com os quais
devemos atender às obrigações que nos competem
no tempo.
(Quando o ensinamento do Mestre vibre entre
na quatro paredes de um templo doméstico, os pe-
queninos sacrifícios tecem a felicidade comum.
A observação impensada é ouvida sem revolta.
A calúnia é isolada no algodão do silêncio.
A enfermidade é recebida com calma.
O erro alheio encontra compaixão.
A maldade não encontra brechas para insi-
HunrHo,
12 LUZ NO LAR

E aí, dentro desse paraíso que alguns já estão


edificando, a benefício deles e dos outros, o estímulo
é um cântico de solidariedade incessante, a bon-
dade é uma fonte inexaurível de paz e entendimento,
a gentileza é inspiração de todas as horas, o sorriso
é a sombra de cada um e a palavra permanece re-
vestida de luz, vinculada ao amor que o Amigo Ce-
leste nos legou. a 2

Somente depois da experiência evangélica do


lar, o coração estã realmente habilitado para dis-
Jesus em casa
tribuir o pão divino da Boa-Nova,, junto da multi-
dão, embora devamos o esclarecimento amigo e o
conselho santificante aos companheiros da roma- O culto do MRS em casa,
gem humana, em todas ascircunstências. E" novo sol que irradia
Não olvidemos, assim, os impositivos- da, apli- A música da alegria
cação com o Cristo, no santuário familiar, onde nos -Em santa e, bela canção.
cabe o exemplo de paciência, compreensão, frater- E' a glória de Deus que vaza,
nidade, servico, fé e bom ânimo, sob o-reinado legi- O dom da Graça Divina,
timo do amor, porque, estudando a Palavra, do Céu Que regenera e ilumina
em quatro Evangelhos, que constituem o Testamen- O templo do coração.
to da Luz, somos, cada um de nós, o quinto Evan-
gelho inacabado, mas vivo e atuante, que estamos
escrevendo com. os próprios testemunhos, a fim de Ouvida a bênção da prece,
que a nossa vida seja uma revelação de Jesus, aberta Na sala doce e tranquila,
ao olhar e à apreciação de todos, sem necessidade A lição do bem cintila
de utilizarmos muitas palavras na advertência ou Como um--poema a brilhar.
na. pregação. O verbo humano enaltece
PR A caridade e a esperança,
» EMMANVEL Tudo é bendita mudança
No plano familiar.

Anula-pe q malquerença,
A Trago é contente e boa.
CEDOAT tjuem guarda ofensas, perdoa,
(quem mofro, agradece à cruz,
14 LUZ NO LAR

A maldade escuta e pensa


E o vício da rebeldia
Perde a máscara sombria...
Toda névoa faz-se luz!

Na casa fortalecida 3
Por semelhante alimento,
Tudo vibra entendimento
Sublime e renovador. Angústia materna
O dever governa a vida,
r

Vozes brandas falam calmas...


E' Jesus chamando as almas O coração materno é uma taça de amor em
Ao Reino do Eterno Amor! que a vida se manifesta no mundo.
Ser mãe é ser um poema de reconforto e ca-
rinho, proteção e beleza.
IRENE 8. PINTO
Entretanto, quão grave é o ofício da verdadeira
maternidade!...
Levantam-se monumentos de progresso entre
os homens e devemo-los, em grande parte, às mães
abnegadas e justas, mas erguem-se penitenciárias
sombrias e devemo-las, na: mesma proporção, às
mães indiferentes e criminosas.
E' que, muitas vezes, transformamos o mel da
ternura, destinado por Deus à alimentaçãodos ser-
vidores da Terra, em veneno do egoísmo que gera
monstros.
Fala-vos pobre mulher desencarnada, supor-
tando, nas esferas inferiores, o peso de imensa an-
gústia,.
Resumirei meu caso para não inquietar-vos
com a minha dor,
Moga ainda, desposei Claudino, um homem dig-
no e operoso, que ganhava honestamente o pão de
onda dia em atividades comerciais.
16 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 17

Um filhinho era o maior ideal de nossos cora- «Meus princípios, porém, eram diversos: dosdele
ções entrelaçados no mesmo sonho. e eu queria; meu, filho. para, vaidosamente reinar.
E, por essa razão, durante seis anos consecuti- “Na, escola pritaário Pedro se fêz. pegníaino
vos orei fervorosamente, suplicando a Deus nos demônio: SE
concedesse essa bênção... Desrespeitava, perturbava, destruia..
Uma criança que nos trouxesse a verdadeira Ainda assim, vivia eu mesma questionando com
alegria, que nos consolidasse o reino de amor e fe- os, professores, para que lhe fôssem assegurados
licidade... privilégios especiais.
Depois de seis anos, o filhinho querido vagia “A criança era transferida de estabelecimento
em nossos braços... a estabelecimento, porque instrutores e serventes
Chamamos-lhe Pedro, em homenagem ao se- me temiama agressividadesempre disposta à ferir.
gundoImperador do Brasil, cuja personalidade nos Em razão disso, na primeira mocidade, vi meu
merecia, entranhado respeito. filho incapacitado para mais amplos estudos.
Contudo, desde -as primeiras horas em que me Aindole de Pedro não se compadecia, comqual-
fizera mãe, inesperado exclusivismo, me-tomou Oo quer disciplina, porque eu, sua, mãe, lhe favorecera
espírito fraco. o despotismo, a vaidade é o orgulho gritantes.
'Acalentei meu: filho como se: a; a de: uma Quando nosso rapaz completou dezesseis anos,
leoa me despertasse no seio. ; o pai amoroso e correto providenciou-lhe tarcta,
digna, mas, findo o terceiro dia de trabalho, Pedro
Não obstante-os protestos de meu aids criei
Pedro-tão sômente: para a minha admiração, para chegou em casa choramingando, a queixar-se 'do
o" meu encantamento e para: o círculo estreito de chefe, e eu, em minha imprudência, lhe aceitei as
nossa casa.
lamentações e exigi que Claudino lhe 'dobrasse à
mesada, retirando-o do emprego em que, a meu ver,
Muitas vezes perdia-me em cismas fantasiosas, apenas encontraria pesares e humilhações.
arquitetando para, ele um futuro'diferente, no qual,
O esposo mefêz verà impropriedade de seme-
mais rico e mais poderoso que os outros homens,
vivesse consagrado à dominação. Ihante procedimento. no entanto, amava-me demais
para contrariar-me' os caprichos e, a breve tempo,
«Por esse motivo, mal, ensaiando os primeiros rosão filho" entregoú-se “a “deploráveisdissipações.
passos, Pedro, estimulado por minha leviandade e
Aquele para quem idealizara um futuro 'de rei,
invigilância, procurava ser forte em mau sentido. chopava ao lar em horas avançadas: ii sen cam-
Garantido por mim, apedrejava a casa. dos vi- balcando de embriaguez.
zinhos, humilhava os companheiros e entregava-se, O olhar piedoso de Claudino para as“minhas
no templo doméstico, aos, caprichos que bem. enten- lhgrimas dava-me a entender, que as minhas preo-
desse, ip supações surgiam demasiado: tarde;
“Debalde Claudino. me advertia,atencioso. Ea Podos 08 meus cuidados: foram então inúteis:
18 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 19

Gastador e viciado, Pedro confiou-se à bebida, amparasse aquele cuja posição moral eu apenas
à jogatina, comprometendo-se num estelionato de soubera agravar com desleixo delituoso.
grandes proporções, em que o nome paterno se en- “Amealhei algum dinheiro... ;
volveu numa dívida muito superior às possibilidades Dez anos correram apressados sobre a minha
de nossa casa. nova situação.
Claudino, desditoso e envergonhado, adoeceu, E porque as nossas migalhas viviam entesou-
sem que os médicos lhe identificassem a enfermi- radas em meu quarto de velha indefesa, cada noite
dade, falecendo após longos meses de martírio gi- me armava de um revólver sob o travesseiro, ao
lencioso. mesmo tempo que desbotada fotografia era acari-
Morto aquele que me fora companheiro devo- ciada por minhas mãos.
tadíssimo, vendi nossa. residência para solver gran- Numa noite chuvosa e escura, observei que um
des débitos. homem me rondava o leito humilde.
Recolhi-me com Pedro num domicílio modesto; Alteava-se a madrugada.
entretanto, embora me empregasse, aos cinquenta O desconhecido vasculhava gavetas procurando
anos, para atender-lhe as necessidades, comecei a algo que lhe pudesse, naturalmente, atender à vIl-
sofrer, das mãos de meu filho ébrio, dilacerações ciação.
e espancamentos. Não hesitei um momento.
Certa noite, não pude conter-lhe os criminosos Saquei da arma e buscava a mira correta para
impulsos e caí golfando sangue... que o tiro fôsse desfechado com segurança, quando
Internada num hospital de emergência, senti a luz de um relâmpago penetrou a vidraça...
medo de partilhar o mesmo teto com o homem que Apavorada, reconheci, no semblante do homem
meu ventre gerara com desvelado carinho e que se que me invadia a casa, meu filho Pedro, convertido
me transformara em desapiedado verdugo. em ladrão.
Fugi-lhe, assim, ao convívio. Esmoreceram-se-me os braços.
Procurei velha companheira da mocidade, pas- Quis gritar, mas não pude.
sando a morar com ela num bairro pobre. A comoção insofreável como que me estran-
E, juntas, organizámos pequeno bazar de quin- gulava a garganta.
quilharias. Contudo, através do mesmo clarão, Pedro me
Pensava em meu filho, agora, entre a saudade vira armada e bradou, sem reconhecer-me de
e a oração, entregando-o à proteção da Virgem San- pronto:
tíssima. Não me mates, megera! Não me mates!
Finda a tarefa diária, recolhia-me a sós em Avancou sobre mim como fera sobre a presa
singelo aposento, trazendo em minhas mãos o re- vencida e, despojando-me do revólver a pender-me
trato de Pedro e rogando ao Anjo dos Desvalidos das mãos desfalecentes, sufocou-me com os dedos
20 LUZ NO LAR LUZ NO LAR al

“queeu tantasvezes: havia acariciado, “e aires tre! Eu rogarmos juntos a bênção da reencarnação em que
fixiavam, agora, como garras"assassinás. 4º eu possa extirpar-lhe do sentimento a hera maldita
Não conserta realmente, Eee ima só do orgulho e do egoísmo, da viciação e da cruel-
palavra. ordo à FISAITIOS HOM na! dade.
No entanto, sado indo. ao meu corpo, meus E! enquanto sofro as consequências de meus
olhose meus: ouvidos: funcionavam. eficientes. erros deliberados, posso clamar para as minhas
Registei-lhe'o:| sadio rápido: isgjpre o acendedor companheiras do “mundo:
de: Lido SSI VI Hd E
— Mães da Terra, educai vossos filhos!
Espera alosagora contava simplesmente Afagai-os no carinho e na retidão, na justiça
com um cadáver. bem. ;
Contemplei-o . com.. a, ouso da adiar que i “paiacriança no berço é um diamante do Céu
ainda ama, apesar de sentir-se, em. derrocada, su-
para ser burilado.
prema, e notei que Pedro,Se, inclinou, instintiva-
Lembrai-vos de que o próprio Deus, em con-
mente, para, a, minha mão.geguerda, SepRia, a
duzindo à, Terra, o seu Filho. Divino, Nosso, Senhor
guardar-lhe. a fotografia Jesus-Cristo, fêlonascer, numa estrebaria, deu-lhe
" Horrorizado, exclamou: BOBO trabalho numa oficina, singela, | induziv-o a viver
— Mãe, minhamãe! Poisês tu? 3tf em serviçodos semelhantes, e permitiu que Ele, O
Justo, fôsse “imerecidamente imolado aos tormen-
verao equilíbrio. Orgânica,-acariciar-lhede. novo, 08
AA mad GR
tos da cruz.
cabelos edizer-lhe:— “Filho, querido, não se preo-
eupe! Regenere-se,e sejamos. felizes, voltando; a vi- O SEBASTIANA PIRES
ver juntos! Estou velha.«ecansada... Fique Samigo]
Fique comigo!...”
Entretanto, . minha língua, jazia, inanimada e
minhas mãos estavam hirtas. .
Lágrimas ardentes borbotavam-me dos” olhos
parados, enquanto avoz querida, meAtera estri-
dente ;
— — Mamãe! Mamãe! Minha. mãe!
Umsono profundo, pouco a pouco, seRBot
de mim e sômente mais tarde acordei numa casa
desocorro espiritual, onde pude”reconstituir minhas
forças” para empreender a res ração- de”ira
alma diante daLei.
“Noentanto, até agora, “púsco meu filho' para
Meu lar No reino doméstico.

Meu lar é um ninho quente, belo e doce Você, meu amigo, pergunta que papel desem-
Meu generoso e abençoado asilo, penhará o Espiritismo, na ciência das relações so-
Onde meu coração vive tranquilo ciais, e, muito simplesmente, responderei que, alia-
Na sacrossanta paz que Deus me trouxe. do ao Cristo, o nosso movimento renovador é a
chave da paz, entre as criaturas.
Já terá refletido, porventura, na importância
Meu refúgio sereno de esperanca, da compreensão generalizada, com respeito à jus-
Nele encontro essa luz terna e divina tiça que nos rege a vida, e à fraternidade que nos
Do amor que aperfeiçoa, ampara e ensina cabe construir na Terra?
Minhalma ingênua e frágil de criança. A sociologia não é a realização de gabinete.
E” obra viva que interessa o cerne do homem, de
modo a plasmar-lhe o clima de progresso subs-
tancial.
O lar é a minha escola mais querida, Reporta-se você ao amargo problema dos ca-
Doce escola em que nunca me confundo samentos infelizes, como se o matrimônio fôsse o
Onde aprendo a ser nobre para o mundo único enigma na peregrinação humana, mas se es-
E a ser alegre e forte para a vida. quece de que a alma encarnada é surpreendida, a
cada passo, por escuros labirintos na vida de asso-
ciação .
JOÃO DE DEUS Habitualmente, renascem juntos, sob os elos
da consanguinidade, aqueles que ainda não acer-
taram as rodas do entendimento, no carro da evo-
24 LUZ NO LAR LUZ! NO! LAR 25

lução, a fim de trabalharem com o abençoado buril eniyNãos:tenha dúvida. stnsmlavó rara a ajrora1
da dificuldade sobre as arestas que lhes impedem mo Orhomicídio, nas mais variadas formas, é ink
a harmonia. Jungidos à máquina das convenções tensamente praticado-sem armas visíveis, em todos
respeitáveis, no instituto familiar, caminham, lado os quadrantes “do Planeta. 5 V
a lado, sob os aguilhões da responsabilidade e da “Em quase-toda a parte, vemos pais e “mães
tradição, sorvendo o remédio amargoso da convi- que expressam ternura," ante os: filhos: desventu=
vência compulsória para sanarem velhas feridas rados, e que-serevoltam' contra; eles toda: vez que
imanifestas. se mostrem -prósperosoe felizes. "Há irmãos: que
E nesse vastíssimo roteiro de Espíritos em não suportam a superioridade: daqueles que lhes
desajuste, não identificaremos tão sômente os côn- partilham o nome e a experiência, e -companhceiros
juges infortunados. Além deles, há fenômenos sen- que apenas se alegram “com' a camaradagem' na
timentais mais complexos. Existem pais que não horas de necessidade e infortúnio. 3
toleram os filhos e mães que se voltam, impassí- “Ninguém pode negar a existência do amor no
veis, contra; os próprios descendentes: Há filhos fundo'das multiformes uniões aque nos referimos.
que se revelam inimigos dos progenitores e irmãos Mas “esse amor “ainda se encontra, à maneira do
que: se exterminam dentro do magnetismo degene- ouro inculto, incrustado no cascalho duro e con-
rado da antipatia: congênita, dilacerando:se uns aos tundente doegoísmo e da ignorância que, às vezes,
outros, com os raios mortiferos-e invisíveis do ódio matam sem a intenção de destruir e ferem sem
e do ciúme, da inveja e do despeito, apaixonada- perceber a inocência ou a grandeza de suas vítimas.
mente cultivados no solo-mental. tear: Por isso mesmo, o Espiritismo com Jesus, con-
Os hospitais e principalmente os manicômios vidando-nos ao sacrifício e à bondade, ao conheci-
apresentam significativo número 'de enfermos, que mento e ao perdão, aclarando a origem de nossos
não passam de mutilados espirituais dessa guerra antagonismos e reportando-nos aos dramas por nós
terrível e incrúenta na trincheira mascarada” sob todos já vividos no pretérito, acenderá um facho de
o nome de Lar. Batizam-nos os médicos 'com rotu- luz em cada coração, inclinando as almas rebeldes
lagens diversas, na esfera da diagnose complicada: ou enfermiças à justa compreensão do programa
entretanto, na profihdez das causas, reside a in- sublime de melhoria individual, em favor da tran-
fluência Maligna da” parentela consanguíinea que, quilidade coletiva e da. ascensão de todos.
não”raro, cópia as atitudes da! tribo selvageme Desvelando os horizontes largos da vida, a
enfurecida. 'Todos' os“ dias, semelhantes farrapos Nova Revelação dilatará a esperança, o estímulo
humanos atravessam os pórticos das" casas de 'saú à virtude e à educação em todas as inteligências
de ou de caridade, à maneira de restos indefiníveis amadurecidas na boa vontade, que passarão a en-
de náufragos, “perdidos em'mar tormentoso, pro- tender nas piores situações familiares pequenos cur-
curando 'a terra firme da costa, através da” ônda sos regenerativos, dando-se pressa em aceitá-los
Móvel, , ; t Fo «HM BOOT 28 MALHI com serenidade e paciência, de vez que a dor e a
26 LUZ NO LAR

morte são invariâvelmente os oficiais da Divina


Justiça, funcionando com absoluto equilíbrio, em
todas as direções, unindo ou separando almas, com
vistas à prosperidade do Infinito Bem.
Assim, pois, meu caro, dispense-me da obri-
gação de maiores comentários, que se fariam te-
diosos em nossa época de esclarecimento rápido,
através da condensação dos assuntos que dizem
respeito ao soerguimento da Terra.
Observe e medite.
E, quando perceber a imensa força ilumina-
Colombina
tiva do Espiritismo Cristão, você identificará Jesus
como sendo o Sociólogo Divino do Mundo, e verá
no Evangelho o Código de Ouro e Luz, em cuja
aplicação pura e simples reside a verdadeira re- Mascarada mulher o rabecão trouxera.
denção da Humanidade. Morrera em pleno baile a frágil Colombina
E, no egrégio salão de culto à Medicina,
IRMÃO X O professor leciona, em voz veemente e austera:

— “Rapazes, contemplai! E' rameira e menina.


'Tombou ébria no vício e com certeza era
Devassa meretriz, mistura de anjo e fera,
Flor de lama e prazer, Vênus e Messalina.”

Em seguida, a cortar, rompe a seda sem custo,


Desnuda-lhe, solene, a alva pele do busto,
Afasta, indiferente, as flores de rendilha...

No entanto, ao descobrir-lhe a face triste e bela,


O mestre cambaleia e chora junto dela...
“Encontrara na morta a sua própria filha.

JÚLIA CORTINES
LUZ NO LAR 29

Outras ' mulheres, como Joana, de Cusa é Ma-


ria, mãe de Tiago, dirigem-se, ansiosas, para'0
mesmo local, conduzindo perfuímes 'e preces gra-
tulatórias.” Não enxergam o Messias, mas entidades
resplandecentes lhes falam“do Mestre que partiu.
Pedro e João. acorrem, pressurosos, e ainda
vêem a pedra removida, o sepulcro vazio € “apal-
pam''os lençóis sbandonados.
Nocolégio dos de travam-se Epi
cas discretas.
viMã e. “— Seria? não seria?
Contudo, Jesus, o Amigo je mostra-se aos
'aprendizes no caminho de Emaús, que lhe reconhe-
Quando. Jesus ressurgiu do túmulo, a; negação cem a presença ao partir do pão.e, depois, aparece
e a dúvida imperavamnocirculo dos companheiros: aos onze cooperadores, num salão de” Jerusalém.
Voltaria Ele? perguntavam, perplexos, Quase As portas permanecem “fechadas e, no entanto, O
impossível. Seria, Senhor da Vida Eterna quem se Senhor 'demora-se, junto deles, plênamente mate-
entregara, na cruz, expirando entre malfeitores? rializado. Os discípulos estão deslumbrados, mas
Maria Madalena, porém, a renovada, vai ao o olhar do Messias é melancólico. Dizinos João
sepulero'de manhãzinha. E, maravilhosamente sur= Marcos que o Mestre lançou-lhes emrosto a incre-
preendida, vê o Mestre, ajoelhando-se-lhe aos' pés. dulidade e 'a dureza de coração. | Exorta-os' à “que
Ouve-lhe a 'voz repassada, de ternura, fixa-lhe o o vejam, que o apalpem. "Tomé chega, a consultar-
olhar sereno: e magnânimo. Entretanto, “para que lhe as chagas para adquirir a certeza do que ob-
a visão se lhe fizesse mais nítida, foi necessário serva. O" Celeste Mensageiro” faz-se ouvir “para
organizar o quadro exterior. O jardim rescendia todos. E, mais tarde, para que se convençam Os
perfumes para;'a-sua sensibilidade feminina, a Se- companheiros de' sua presença''e da, “continuidade
pultura, estava aberta, “€compelindo-a a raciocinar. de seu amor, segue-os, em. espírito, no' labor 'dá
Para que a gravação-das imagens se tornasse bem pesca. Simão Pedro 'regista-lhe “carinhosas reco-
olora, lnvando-lhe todas as dúvidas da imaginação, mendações, 'ao lançar 'as redes, e encontra-o ii
Maria julgou a princípio quevia o jardineiro. An- preces solitárias 'da noite. Odd E
bom ta cortoza, nm perquitição damente precedendo Em seguida, ' para que "os véthios: amigosse
a consolidação du (fé: Embriagada de júbilo, à certifiquem'da “ressurréição, “materializa-se num
donvertida do Magdala transmite: a:boa-nova-aos monte, apárecéndo, a GuinHentas Pessoas da Gali-
disoipulos confundidos, Og olhos sombrios de quase léia. º aro
todos so enchem de novo brilho. No Presttêcôltes, a fim de que os HERsnA lhe
30 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 31

recebam o Evangelho do Reino, organiza fenôme- espiritual, no plano divino, sem lágrimas, sem som-
nos luminosos e linguísticos, valendo-se da colabo- bras e sem morte!...
ração dos companheiros, ante judeus e romanos,
partos e medas, gregos e elamitas, cretenses e culo caco oro o nn O quo .. au. ..
árabes. Maravilha-se o povo. Habitantes da Pan-
fília e da Líbia, do Egito e da Capadócia ouvem a Homens e mulheres do mundo, que haveis de
Boa-Nova no idioma que lhes é familiar. afrontar, um dia, a esfinge do sepulcro, é possível
Decorrido algum tempo, Jesus resolve modifi- que estejais esquecidos plenamente,. no dia, imediato
car o ambiente farisaico e busca Saulo de Tarso ao de vossa partida, a caminho do Mais Além. Fami-
para o seu ministério; entretanto, para isso, é liares e amigos, chamados ao imediatismo da luta
compelido a materializar-se no caminho de Da- humana, passarão a desconhecer-vos, talvez, por
masco, a plena luz do dia. O perseguidor impla- completo. Mas, se tiverdes um, coração de mãe pul-
cável, para convencer-se, precisa experimentar a sando na Terra, regozijar-vos-eis, além da escura
cegueira temporária, após a claridade sublime; e fronteira de cinzas, porque aí vivereis amados e fe-
para que Ananias, o servo leal, dissipe o temor e lizes para sempre!
vá socorrer o ex-verdugo, é imprescindível que
Jesus o visite, em pessoa, lembrando-lhe o obséquio IRMÃO X
fraternal. )
Todos os companheiros, aprendizes, seguido-
res e beneficiários solicitaram a cooperação dos
sentidos físicos para sentir a presenca do Divino
Ressuscitado. Utilizaram-se dos olhos mortais,
manejaram o tato, aguçaram os ouvidos...
Houve, contudo, alguém que dispensou todos
os toques e associações mentais, vozes e visões.
Foi Maria, sua Divina Mãe. O Filho Bem-Amado
vivia eternamente, no infinito mundo de seu co- CNC
ração. Seu olhar contemplava-o, através de todas
as estrelas do Céu e encontrava-lhe o hálito perfu-
mado em todas as flores da Terra. A voz d'Ele
vibrava em sua alma e para compreender-lhe a
sobrevivência bastava penetrar o iluminado san-
tuário de si mesma, Seu Filho — seu amor e sua
vida — poderia, acaso, morrer? E embora a sau-
dade angustiosa, consagrou-se à fé no reencontro
aeto

»-SOMPre. AMOR, encimiil


Luz no lar
Torno, ansioso, da morte à, casa, que deixara.
Os meus, o lar, o amor... eis tudo o que ambiciono. ..: Se a tempestade nos devasta as plantações, não
Entro. Lá fora, o parque, a tristeza, O abandono...
nos esqueçamos do Espaço Divino do Lar, onde o
Mormaço, plenilúnio, o vento, a noite clara...
canteiro de nossa boa vontade, na vinha do Senhor,
deve e pode florir para a frutificação, a benefício
de todos.
Debalãe grito, corro, observo, inspeciono...
Organizemos o nosso agrupamento doméstico
Subo. Um morcego ronda pequena almenara... do Evangelho.
Nada. Ninguém me espera. A vida desertara. O Lar é o coração do organismo social.
Tudo silêncio e pó de tapera sem dono... Elm casa, começa nossa missão no mundo.
Entre as paredes do templo familiar, prepa-
ramo-nos para a vida com todos.
Sofro desilusão que o mundo não descreve,
Seremos,ló fora, no grande campo da experiên-
Mas alguém abre a porta e me chama, de leve... cia pública, o prosseguimento daquilo que já somos
Fito pobre mulher... Na face, o olhar sem brilho... na intimidade de nós mesmos.
Fujamos à frustração espiritual e busquemos
no relicário doméstico o sublime cultivo dos nossos
Conheço-a !... Minha mãe!... Quanta saudade, quanta!.. ideais com Jesus.
Vem lembrar-me a rezar... Beijo-lhe as mãos de santa!..
O Evangelho foi iniciado na Manjedoura e
Ela chora e repete: «Ah! meu filho! meu filho!..» demorou-se na casa humilde e operosa de Nazaré,
antes de espraiar-se pelo mundo.
Não há serviço da fé viva, sem aquiescência e
JORGE MATOS concurso do coração. E
84 LUZ NO LAR

Se possível, continuemos trabalhando sob a


tormenta, removendo os espinheiros da discórdia
ou tranformando as pedras do mal em flores de
compreensão, suportando, com heroísmo, o clima
do sacrifício, mas, se a ventania nos compele a pau-
sas de repouso, não admitamos o bolor do desã-
nimo nos serviços iniciados.
Sustentemos em casa a chama de nossa espe- 10
rança, estudando a Revelação Divina, praticando
a fraternidade e crescendo em amor e sabedoria,
porque, segundo a promessa do Evangelho Reden- Conversa em casa
tor, “onde estiverem dois ou três corações reunidos
em Seu Nome”, aí estará Jesus, amparando-nos
para a ascensão à Luz Celestial, hoje, amanhã e O suor da paciência
sempre. Encontra a luz por remate.
Não há provação difícil,
SCHEILLA O medo é que nos abate.

Conserva-te nobre e simples


Para que o bem não se torça.
Muita vez, a ingenuidade
E' grande sinal de força.

Venceste? Trabalha sempre,


Sem detenção no passado.
O herói que vive da fama
|” um vivo-morto enfeitado.
36 LUZ NO LAR

No que tange a confidências,


Fala a Deus em tua prece.
Quem melhor guarda um segredo
E' aquele que o desconhece.

Cultiva a reta intenção ti


Em tua própria defesa..
Mesmo vítima do engano,
Sinceridade é grandeza. Na intimidade doméstica
*
A história do bom samaritano, repetidamente
Onde tens o coração estudada, oferece conclusões sempre novas.
Reténs o próprio tesouro... O viajante compassivo encontra o ferido anô-
O dinheiro que escraviza nimo na estrada.
E” dura algema de ouro. Não hesita em auxiliá-lo.
Estende-lhe as mãos.
% Pensa-lhe as feridas.
Recolhe-o nos braços sem qualquer ideia de
Compra, guarda e ajunta livros, preconceito.
Mas estuda, dia a dia. Condu-lo ao albergue mais próximo,
Mostrar a biblioteca, Garante-lhe a pousada,
Não mostra sabedoria. Olvida conveniências e permanece junto dele,
enquanto necessário.
* Abstém-se de indagações.
Parte ao encontro do dever, assegurando-lhe
Perdoa e ajuda amparando a assistência com og recursos da própria bolsa, sem
Como as terras generosas, prescrever-lhe obrigações.
Que dão, em troco de estrume,
Pão e bênção, vida e rosas. x

Jesus transmitiu-nos a parábola, ensinando-nos


CASIMIRO CUNHA o exercício da caridade real, mas, até agora, trans-
corridos quase dois milênios, aplicamo-la, via de
memo

38 LUZ NO LAR

regra, às pessoas que não nos comungam o quadro


particular.
Quase sempre, todavia, temos os caídos do
reduto doméstico.
Não descem de Jerusalém para Jericó, mas
tombam da fé para a desilusão e da alegria para a
dor, espoliados nas melhores esperanças, em rudes
experiências. 12
Quantas vezes surpreendemos as vítimas da
obsessão c do erro, da tristeza e da provação, den-
tro de casa! Lamento paterno
Julgamos, assim, que a parábola do bom sa-
maritano produzirá também efeitos admiráveis,
toda vez que nos decidirmos a usá-la, na vida ín- Ah! meu filho, na concha de teu peito,
tima, compreendendo e auxiliando os vizinhos e Via-te o coração por céu vindouro,
companheiros, parentes e amigos, sem nada exigir Encerravas contigo, meu tesouro,
e sem nada perguntar. O futuro risonho, alto e perfeito.

EMMANUEL
Entretanto, prendite a cruzes de ouro,
Cujo peso carregas sem proveito,
Abatido, cansado, insatisfeito,
Arrojado a medonho sorvedouro. ..

Recolheste, no encanto de meu jugo,


O fascínio da posse por verdugo
CNIC E a preguiça forjando horrendas pragas.

Hoje, chamo-te em vão... Ouves apenas


O dinheiro vazio que armazenas
Na demência da usura em que te apagas!...

JOSE” GUEDES
LUZ NO LAR 41

de estrelas fulgurantes e, afagando-lhe a cabeça


curvada e trêmula, falou compadecido: Ne
— Dei o mundo ao homem, mas confiarei a
vida ao teu coração. ;
Em seguida colocou-lhe nos braços uma frágil
criança. Ê º
Desde então, a Mulher fêz-se Mãe e passou a
13 viver plenamente feliz.
MEIMEI

Mãe

Um dia, a Mulher solitária e atormentada che-


gou ao Céu e, rojando-se, em lágrimas, diante do
Eterno Pai, suplicou:
— Senhor, estou só! Compadece-te de mim.
Meu companheiro fatigado, cada dia, pede-me
repouso e devo velar-lhe o sono! quando triunfa no
trabalho, absorve-se na atividade mais intensa e,
muita vez distraído, afasta-se do lar, onde volta
somente quando exausto, a fim de refazer-se. Se
sofre, vem a mim, abatido, buscando restauração
e conforto...
Tu que deste flores ao arvoredo e que abriste
as carícias da fonte, no seio escuro e ressequido do
solo, consagras-me, assim, ao insulamento? Reser-
vaste a terra inteira ao serviço do homem que se
agita, livre e dominador, sobre montes e vales, e
concedes a mim apenas o estreito recinto da casa,
entre quatro paredes, para meditar c afligir-me
sem consolo? Se sou a companheira do homem,
que se vale de mim para lutar e viver, quem me
acompanhará na missão a que me destinas?
O Senhor sorriu, complacente, em seu trono
LUZ NO LAR 43

Ave que torna, em chaga, ao brando ninho,


Ouço divina música na sala,
E' a sua voz celeste que me embala,
14 Motes do lar que tornam de mansinho.

Ternura maternal Pp
Ergo-me agora... O corpo é o pelourinho
De que me desvencilho por beijá-la...
— «Mãe! Minha mãe!...»> — suspiro, erguendo a fala,
A soluçar de júbilo e carinho.

As paredes da casa em vão procuro, — «Dorme, filho querido! Dorme e sonhal!...»


Quero dizer adeus e não consigo... Nossa velha canção terna e risonha
Vejo apenas o vulto amargo e amigo Regressa com beleza indefinida...
Da morte que me estende o manto escuro.

Tomo-lhe os braços em que me acrisolo


Choro a estirar-me, trêmulo e inseguro, E durmo novamente no seu colo
O leito ensaia a pedra do jazigo... Para acordar no berço de outra vida.
Padeço, clamo e indago a sós comigo,
Qual pássaro que tomba contra um muro. CARLOS D. FERNANDES

A névoa espessa enreda o corpo langue,


E” o terrível crepúsculo do sangue
Que me tinge de sombra os olhos baços;

EINEOS
Mas surge alguém, no caos que me entontece,
E” minha mãe, que alonga as mãos em prece,
Doce estrela brilhando entre meus braços!...
LUZ NO LAR 45

as águas devem acabar com tudo, porque não me


beneficiar? O homem já passou dos setenta...
Morrerá a qualquer hora. Se nãofor hoje, será
amanhã, depois de amanhã... E o dinheiro guar-
dado? Não poderia servir para mim, que estou
moço e com pleno direito ao futuro?...
O aguaceiro caia sempre, na tarde fria.
15 O rapaz, hesitante, bateu à porta da chou-
pana molhada,
— “Seu” Licurgo! “Seu” Licurgo!...
Verdugo e vítima E, ante o rosto assombrado do velhinho que
assomara à, janela, informou:
— Se o senhor não quer morrer, não demore.
O rio -transbordava. Mais um pouco de tempo e as águas chegarão...
Aqui e ali, na crista espumosa da corrente Todos os vizinhos já se foram...
pesada, boiavam animais mortos ou deslizavam — Não, não... — resmungou o proprietário
toras e ramarias. —, moro aqui há muitos anos. Tenho confiança em
Vazantes em torno davam expansão ao cres- Deus e no rio... Não sairei.
cente lençol de massa harrenta. — Venho fazer-lhe um favor...
Famílias inteiras abandonavam casebres, sob — Agradeço, mas não sairei.
a chuva, carregando aves espantadiças, quando não Tomado de criminoso impulso, o arqueiro
estivessem puxando algum cavalo magro. empurrou a porta mal fechada e avançou sobre o
Quirino, o jovem barqueiro, que vinte e seis velho, que procurou em vão reagir.
anos de sol no sertão haviam enrijado de todo, — Não me mate, assassino!
ruminava plano sinistro. A voz rouquenha, contudo, silenciou nos dedos
Não longe, em casinhola fortificada, vivia Li- robustos do jovem.
curgo, conhecido usurário das redondezas. Quirino largou para um lado o corpo amole-
Todos o sabiam proprietário de pequena for- cido, como traste inútil, arrebatou pequeno molhe
tuna a que montava guarda, vigilante. de chaves do grande cinto e, em seguida, varejou
Ninguém, no entanto, poderia avaliar-lhe a ex- todos os escaninhos...
tensão, porque, sózinho, envelhecera e, sózinho, Gavetas abertas mostravam cédulas mofadas,
atendia às próprias necessidades. moedas antigas e diamantes, sobretudo diamantes.
— “O velho — dizia Quirino de si para con- Enceguecido de ambição, o moço recolhe quan-
sigo — será atingido na certa. E” a primeira vez
to acha.
que surge uma cheia como esta. Agarrado aos A noite chuvosa descera completa...
próprios haveres, será levado de roldão... E se
46 LUZ NO LAR

Quirino toma os despojos da vitima num co-


bertor e em minutos breves, o cadáver mergulha
no rio.
Logo após, volta à casa despovoada, recompõe
o ambiente e afasta-se, enfim, carregando a for-
tuna.
Passado algum tempo, o homicida não vê que
uma sombra se lhe esgueira à retaguarda. 16
E' o Espírito de Licurgo, que acompanha o
tesouro.
Pressionado pelo remorso, o barqueiro aban- Oração da criança
dona a região e instala-se em grande cidade, com
pequena casa comercial, c casa-se, procurando es-
quecer o próprio arrependimento, mas recebe o ve-
lho Licurgo, reencarnado, por seu primeiro filho... Amigo.
Ajuda-me agora, para que eu te auxilie depois.
IRMÃO X Não me relegues ao esquecimento, nem me con-
denes à ignorância e à crueldade.
Venho ao encontro de tua aspiração, de teu
convívio, de tua obra.
Em tua companhia estou na condição da argila
nas mãos do oleiro.
Hoje, sou sementeira, fragilidade, promessa...
Amanhã, porém, serei tua própria realização.
Corrige-me, com amor, quando a sombra do
erro envolver-me o caminho, para que a confiança
não me abandone.
Protege-me contra o mal.
- Ensina-me a descobrir o bem.
Não me afastes de Deus e ajuda-me a conservar
o amor e O respeito que devo às pessoas, aos ani-
mais e às coisas que nos cercam.
Não me negues tua boa vondade, teu carinho e
tua paciência.
48 LUZ NO LAR

Tenho tanta necessidade do teu coração, quanto


a plantinha tenra precisa da água para prosperar e
viver.
Dá-me tua bondade e dar-te-ei cooperação.
De ti depende que eu seja pior ou melhor
amanhã. 17
EUMANUEL
A lenda da criança

Dizem que o Supremo Senhor, após situar na


Terra os primeiros homens, dividindo-os em raças
diversas, esperou, anos e anos, pela adesão deles ao
Bem Eterno. Criando a todos para a liberdade, aguar-
dou pacientemente que cada um construísse o seu
próprio mundo de sabedoria e felicidade. A vista
disso, com surpresa começou a ouvir do Planeta
Terrestre, ao invés de gratidão e louvor, unicamente
desespero e lágrimas, blasfêmias e imprecações, até
que, um dia, os mais instruídos, amparados no pres-
tígio de Embaixadores Angélicos, se elevaram até
Deus, a fim de suplicarem providências especiais.
E, prosternados diante do Todo-Poderoso, rogaram,
cada qual por sua vez:
— Pai, tem misericórdia de nós!... Reparti-
mos a Terra, mas não nos entendemos... Todos re-
provamos o egoísmo; no entanto, a ambição nos en-
louquece e, um por um, aspiramos a possuir o maior
quinhão!...
— Oh! Senhor!... Auxilia-nos!... Deste-nos
a autonomia; contudo, de que modo manejá-la com
segurança? Instituíste-nos códigos de amparo mú-
tuo; no entanto, ai de nós!. .. Caímos, a cada passo,
pelos abusos de nossas prerrogativas!...
50 LUZ) NO LAR LUZ NO LAR 51

— Santo dos Santos, socorre-nos por pieda- Depois de alguns minutos, falou comovido:
de!... Concedeste-nos a paz e hostilizamo-nos uns — Não posso modificar as Leis Eternas. Dei-
aos outros. Reuniste-nos debaixo do mesmo Sol! , 5 -vos o Orbe Terrestre e sois independentes para es-
Nós, porém, desastradamente, em nossos desvarias, tabelecer nele a hase de vossa ascensão aos Planos
na conquista de domínio, inventamos aguerra... Superiores. Tereis, constantemente e seja onde for,
Ferimo-nos e ensanguentamo-nos, à maneira de feras o que quiserdes, em função de vosso próprio livre
no campo, como se não tivéssemos, dada por ti, a arbítrio!... Conceder-vos-ei, porém, um tesouro de
luz da razão!... vida e renovação, no qual, se quiserdes, conseguireis
— Pai Amantíssimo, enriqueceste-nos com os engrandecer o progresso e abrilhantar o Planeta...
preceitos da Justiça; todavia, na disputa de posi- Nesse escrínio de inteligência e de amor, disporeis
ções indébitas, estudamos os melhores meios de nos de todos os recursos para solidificar a fraternidade,
enganarmos reciprocamente, e, muitas vezes, con- dignificar a ciência, edificar o bem comum e elevar
vertermos as nossas relações em armadilhas nas o direito... De um modo ou de outro, todos tereis,
quais os mais astuciosos transfiguram os mais sim- doravante, esse tesouro vivo, ao vosso lado, em qual-
ples em vítimas de alucinadoras paixões... Ajuda- quer parte da Terra, a fim de que possais aperfei-
“nos e libertar-nos do mal!... çoar o mundo e santificar o porvir!...
— Ô Deus de Infinita Bondade, intervém a Dito isso, o Senhor Supremo entrou nos Taber-
nosso favor! Inflamaste-nos os corações com a cha- náculos Eternos e voltou de lá trazendo um ger pe-
ma do gênio, mas habitualmente resvalamos para Os quenino nos braços paternais...
despenhadeiros do vício... Em muitas ocasiões, Nesse augusto momento, os atormentados fi-
valemo-nos do raciocínio e da emoção para sugerir lhos da Terra receberam de Deus a primeira. criança.
a delinquência ou envenenar-nos no desperdício de
forças, escorregando para as trevas da enfermidade IRMÃO X
e da morte!...
Conta-se que o Todo-Misericordioso contemplou
os habitantes da Terra, com imensa tristeza, c ex-
clamou, amorosamente:
— Ah! meus filhos!... meus filhos!... Apesar
de tudo, eu vos criei livres e livres sereis para sem-
pre, porque, em nenhum lugar do Universo, aprova- CNICATO
rei princípios de escravidão!...
-— Qh! Senhor — soluçaram os homens —,
compadece-te então de nós e renova-nos o futuro!...
(Queremos acertar, queremos ser bons!...
O Todo-Sábio meditou, meditou...
LUZ NO LAR 53

O berço infeliz é um poema do Céu, dilacerado


na Terra.

18 RODRIGUES DE ABREU

O berço
A criança é uma lúcida promessa,
Convidando-te ao templo do amor puro.
Ajudemos a criança! O berço é o ponto vivo Em todo berço a vida recomeça,
em que a educação começa a brilhar. Procurando a vitória do futuro.

BEZERRA DE MENEZES CRUZ E SOUZA

X%

O menino que agora enjeitamos à porta da tem-


pestade será mais tarde um cultivador da tempes-
tade no mundo.

CAIRBAR SCHUTEL

Todo berço que sofre é uma porta sombria.


Traze ao anjo que chora a bênção de alegria
Da bondade cristã.
E estarás cooperando, nobremente,
Na formação do mundo diferente
Para a Luz de Amanhã.

CARMEN CINIRA
LUZ NO LAR 55

lhos, asfixiando-lhes a existência, antes que possam


sorrir para a bênção da luz.
vma esa ou uno vo rosa coro co Ds a nu su 4. cos o co. “a

Homens da Terra, e sobretudo vós, corações ma-


ternos chamados à exaltação do amor e da vida,
abstende-vos de semelhante ação que vos desequili-
bra a almae entenebrece o caminho!
“ Fugi do satânico propósito de sufocar os re-
bentos do próprio seio, porque os anjos tenros que
Aborto delituoso rechaçais são mensageiros da Providência, asso-
mantes no lar em vosso próprio socorro, e, se não
há legislação humana que vos assinale a torpitude
Comovemo-nos habitualmente, diante das gran- do infanticídio, nos recintos familiares ou na som-
des tragédias que agitam a opinião. bra da noite, os olhos divinos de Nosso Pai vos
Homicídios que convulsionam a imprensa e Mo- contemplam do Céu, chamando-vos, em silêncio, às
bilizam largas equipes policiais... provas do reajuste, a fim de que se vos expurgue
Furtos espetaculares que inspiram vastas me- da consciência a falta indesculpável que perpe-
didas de viligância... trastes
Assassínios, conflitos, Iudíbrios e assaltos de
todo jaez criam a guerra de nervos, emtoda apar- EMMANUEL
te; e, para coibir semelhantes fecundações de igno-
rância e delinguência, erguem-se cárceres e fundem-
-se algemas, organiza-se o trabalho forçado eem
algumas nações a própria lapidação de infelizes é
praticada na rua, sem qualquer laivo de compaixão.
Todavia, um crime existe mais doloroso, pela
volúpia de crueldade com que é praticado, no silên-
cio do santuário doméstico ou no regaço da Natu- GOA
reza... y
Crime estarrecedor, porque a vítima não tem
voz para suplicar piedade e nem braços robustos
com que se confie aos movimentos da reação. |
Referimo-nos ao aborto delituoso, em que pais
inconscientes determinam a morte dos próprios fi-
21

20 Ante o divórcio

Toda perturbação no lar, frustrando-lhe a via-


Filho que não nasceu gem no tempo, tem causa específica. Qual acontece
ao comboio, quando estaca indebitamente ou des-
carrila, é imperioso angariar a proteção devida para
Fui trazido ao teu colo e sussurro, baixinho:
que o carro doméstico prossiga adiante.
— «Mãe, eu serei na carne o sonho de teu sonho
!...» No transporte caseiro, aparentemente ancora-
Depois, em prece ardente, em ti meus olhos ponho, do na estação do cotidiano (e dizemos aparente-
Pássaro fatigado ante a úsnea do ninho. mente, porque a máquina familiar está em movi-
mento e transformação incessantes), quase todos
os acidentes se verificam pela evidência de falhas
Abraço-te. És comigo a esperança e O caminho...
diminutas que, em se repetindo indefinidamente,
Em seguida — oh! irrisão —, eis que, num caos medonho, estabelecem, por fim, o desastre espetacular.
Expulsas-me a veneno, e, bruto, me empeçonho,
Essas falhas, no entanto, nascem do comporta-
Serpe oculta a ferir-te em silêncio escarninho. mento dos mais interessados na sustentação do vei-
culo ou, mais prôpriamente, do marido e da mulher,
chamados pela ação da vida a regenerar o passado
Já me dispunha a dar o golpe extremo, quand
o ou a construir o futuro pelas possibilidades da re-
Surge alguém que me obriga a deixar-te dançando encarnação no presente, faltas essas que se mani-
Em formoso salão onde o prazer fulgura. festam de pequeno desequilíbrio a pequeno dese-
quilíbrio, até que se desencadeie o desequilíbrio
maior.
Nesse sentido, vemos cônjuges que transfigu-
Passao tempo. Hoje volto... É o amor que em mim arde.
Mas encontro-te, oh! mãe, a gemer, triste e tarde,
ram conforto em pletora de luxo e dinheiro, desfa-
Sombra que foi mulher, enjaulada à loucura...
zendo o matrimônio em facilidades loucas, como
se afoga uma planta por excesso de adubo, e obser-
JOSÉ GUEDES vamos aqueles outros que o sufocam por abuso de
58 LUZ NO LAR

sovinice; notamos os que arrasam a união conjugal


em festas sociais permanentes e assinalamos os que
a destroem por demasia de solidão; encontramos os
campeões da teimosia que acabam com a paz em
família, manejando atitudes do contra sistemático,
diante de tudo e de todos, e identificamos os que a
exterminam pelo silêncio culposo, à frente do mal;
surpreendemos os fanáticos da limpeza, principal-
ente muitas de nossas irmãs, as mulheres, quando
22
se fazem mártires de vassoura e enceradeira, dis-
postas a arruinar o acordo geral, em razão de leve
cisco nos móveis, e somos defrontados pelos que Oração à mulher
primam no vício de enlamear a casa, desprezando
a higiene.
Missionária da Vida:
Equilíbrio e respeito mútuo são as bases do Ampara o homem para que o homem te am-
trabalho de quantos se propõem garantir a felici- pare.
dade conjugal, de vez que, repitamos, o lar é seme- Não te conspurques no prazer, nem te mergu-
lhante ao comboio em que filhos, parentes, tutores lhes no vício.
e afeiçoados são passageiros. A felicidade na Terra depende de ti, como o
Alguém perguntará como situaremos o divór- fruto depende da árvore.
cio nestas comparações. Divorciar, a nosso ver, é Mãe, sê o anjo do lar.
deixar a locomotiva e seus anexos. Quem responde Esposa, auxilia sempre.
pela iniciativa da separação decerto que larga todo Companheira, acende o lume da esperança.
esse instrumental de serviço à própria sorte e cada Irmã, sacrifica-te e ajuda.
consciência é responsável por si. Não ignoramos Mestra, orienta o caminho.
que o trem caseiro corre nos trilhos da existência Enfermeira, compadece-te.
terrestre, com autorização e administração das Leis g Fonte sublime, se as feras do mal te poluiram
Orgânicas da Providência Divina e, sendo assim, as águas, imita a corrente cristalina que, no serviço
o divórcio, expressando desistência ou abandono de infatigável a todos, expulsa do próprio seio a lama
compromisso, é decisão lastimável, conquanto às que lhe atiram.
vezes necessária, com raízes na responsabilidade do - Por mais te aflija a dificuldade, não te confies
esposo ou da esposa que, a rigor, no caso, exercem à tristeza ou ao desânimo.
as funções de chefe e maquinista. Lembra os órfãos, os doentes, os velhos e os
desvalidos da estrada que esperam por teus braços
EMMANUVEL e sorri com serenidade para a luta.
80 LUZ NO LAR

Deixa que o trabalho tanja as cordas celestes


do teu sentimento, para que não falte a música da
harmonia aos pedregosos trilhos da existência ter-
restre.
Teu coração é uma estrela encarcerada..
Não lhe apagues a luz, para que o amor res-
plandeça sobre as trevas.
Eleva-te, elevando-nos. Ni
Não te esqueças de que trazes nas mãos a chave
da vida é a glória de Deus. No templo do lar
da vida, e a chave
MEIMEI
Indiscutivelmente, o avanço científico do mun-
do estabelece múltiplos sistemas de cura na atuali-
dade terrestre.
Vitaminas e hormônios, eletricidade e magmne-
tismo, fluidos e melodias são recursos empregados
no fortalecimento da saúde humana.
Acreditamos, no entanto, que o culto doméstico
do Evangelho é a fonte real da medicina preventiva,
sustentando as bases do equilíbrio físio-psíquico.
O centro da vida reside na mente e a mente se
nutre de emoções e de ideias. E quem se coloca sob
a orientação do Cristo, aceitando-lhe o governo es-
piritual no campo íntimo, harmoniza-se com a Boa
Lei, purificando propósitos, .elevando atitudes e su-
blimando resoluções que edificam a consciência e o
coração para a Vida Superior.
Os princípios evangélicos são elementos de vida
e, convenientemente aplicados no recesso do lar, sa-
nam as chagas da maledicência, previnem a cólera
destrutiva, curam os efeitos desastrosos da impru-
dência, afastam os perigos da antipatia gratuita,
balsamizam as úlceras da desilusão e favorecem o
clima da fraternidade e da confiança, suscetível de
82 LUZ NO LAR

criar a felicidade verdadeira para quantos se empe-


nham na evolução, no reajuste, na melhoria e na
elevação.
Pensar bem é edificar o que é bom. E sômente
Jesus é o Mestre do pensamento reto e purificado, a
expressar-se em favor do erguimento comum, no 24.
repouso e no trabalho, no silêncio e no ruído, na
dor e na alegria, que constituem importantes posi- Renúncia:
ções de nossa viagem para os cimos da vida.
Cultivar o Evangelho, no santuário familiar, é Se teus pais não procuram a intimidade do
nortear a nossa experiência para o Reinado de Deus, Cristo, renuncia. à felicidade de vê-los comungar
em nós e fora de nós. contigo o divino banquete da Boa Nova, e ajuda
Criar semelhante serviço, pois, no domicílio de teus pais.
nossas almas, é simples dever, porquanto, pela pala- Se teus filhos permanecem distantes do Evan-
vra que ensina e ajuda, aprenderemos a abrir as gelho, renuncia ao contentamento de sentir-lhes o
portas do coração para que, na intimidade de nós coração com o teu coração na senda redentora, e
mesmos, possamos sentir a Divina Presença de
ajuda teus filhos.
Jesus, nosso Mestre e Senhor. Se teus amigos não conseguem, ainda, perceber
o amor de Jesus, renuncia à ventura de guardá-los
PIO VENTANIA no calor de tua alma, ante o Sol da Verdade, e aju-
da teus amigos.
Renúncia com Jesus não quer dizer deserção.
Expressa devotamento maior.
Nele mesmo, o Senhor, vamos encontrar o su-
blime exemplo.
Esquecido de muitos e por muitos relegado às
agonias da negação, nem por isso se afastou dos
companheiros que lhe deram as angústias do amor-
-não-amado.
Ressurgindo da cruz, ele, que atravessara sô-
zinho os pesadelos da ingratidão e as torturas da
morte, volta ao convívio deles e lhes diz confiante:
— “His que estarei convosco, até ao fim dos
séculos.”
EMMANUEL
LUZ NO LAR 65

Irritas-te, quando se demora a movimentar-se


a teu mando. Contudo, exiges o automóvel para a
viagem de dois quilômetros.
Em muitas ocasiões, queixas-te contra ele. E
relaxado aos teus olhos, tem as mãos descuidadas
e a roupa não muito limpa. Entretanto, nunca ima-
ginaste que o apagado servidor jamais encontrou
25 oportunidades iguais às que recebeste. Além disto,
não lhe ofereces o ensinamento amigo e nem tempo
para cogitar das próprias necessidades espirituais.
Carta patema Reclamas longos dias para examinar pequenina
questão, referente ao teu hem-estar; todavia, não
lhe consagras nem mesmo uma hora por semana,
Meu filho, não tinhas razão em favor da có- ajudando-o a refletir...
lera,.
Respondes, enfadado, quando o velho companhei-
Vi, perfeitamente, quando o velhinho se apro-
ro te pede alguns níqueis, mas não vacilas em des-
ximou para servir-te.
pender pequenas fortunas com amigos ociosos, em
Trazia um coração amoroso e atento que não
noitadas alegres, nas quais te mergulhas em fanta-
soubeste compreender. :
sioso contentamento.
Deste uma ordem que o pobrezinho não ouviu
tão bem, quanto desejavas. Repetiste-a e, porque Interrogas, ingrato: — que fizeste do dinheiro
novamente te perguntasse qualquer coisa, profe- que te dei?
riste palavras feias, que lhe feriram as fibras mais Esqueces que o servidor de fronte enrugada
íntimas. não dispôs de tempo e recurso para calcular, com
Como foste injusto!... exatidão, os processos de ganhar além do necessário
Quando nasceste, o antigo servidor já vencera e não conseguiu ensejo de ilustrar o raciocínio com
muitos invernos e servira a muita gente. o refinamento que caracteriza o teu.
Enfraqueceram-se-lhe os ouvidos, ante as im- Ah! meu filho, quando a impaciência te visita
periosas determinações alheias. o espírito, recorda que o monstro da ira indesejável
Nunca refletiste na neblina que lhe enevoa o te bate à porta do coração. E quando a ele te en-
olhar? Adquiriu-a trabalhando à noite, enquanto tregas, imprevidente, tuas conquistas mais elevadas
dormias, despreocupado. tremem nos alicerces. Chego a desconhecer-te, por-
Sabes porque traz ele as pernas trêmulas? que a fúria dos elementos interiores te alteram a
Devorou muitas léguas a pé, solucionando proble- individualidade aos meus olhos e eu não sei se
mas dos outros. passas à condição de criança ou de demônio!...
3
66 LUZ NO LAR

Se não podes conter, ainda, os movimentos im-


pulsivos de sentimentos perturbadores, chegado o
instante do testemunho, cala-te e espera.
A cólera nada edifica e nada restaura... Ape-
nas semeia desconfiança e temor, ao redor de teus
passos.
Não ameaces com a voz, nem te insurjas contra
ninguém. g 26
E' provável que guardes alguma reclamaç ão
contra mim, teu pai, porque eu também sou ainda
humano. No entanto, filho, acima de nós ambos Lei de amor
permanece o Pai Supremo, e que seria de ti Eos
mim, se Deus, um dia, se encolerizasse contra nós:
— «Rua... Rua, infeliz que me ensombraste o nome!...» —
NEIO LÚCIO Clama o pai, a rugir para a filha que implora:
—» «Não me expulses, meu pai!... Temo a noite, lá fora !...»
E ele mostra o punhal na fúria que o consome.

Voa o tempo a rolar, sem que a vida o retome...


Ele, desencarnado, ansioso e triste agora,
Traz à filha exilada o coração que chora,
Espírito a sofrer, em sede, chaga e fome.

Ela sente-lhe a dor, através da lembrança,


E dá-lhe um corpo novo, ante a luz que o descansa
Nos fios da oração, em celeste rastilho!...

&, mais tarde, no lar que os apascenta e acalma,


Ele diz: «Minha mãe, doce mãe de minhalma!..»
E ela diz a cantar: «Deus te abençoe, meu filho!...»

NARCISA AMÁLIA
meato maçã
LUZ NO LAR 69

sitado de disciplina, e ele é um homem de bem, ido-


so e correto, que já venceu muitas tempestades para
amparar a família e defendê-la. Humilhado, supor-
tou as consequências de seu gesto impulsivo, por
vários dias, observado na oficina, qual se fora um
| menino vadio e imprudente.
27 Os resultados de sua gritaria foram, porém,
mais vastos.
A mãezinha piorou e o médico foi chamado.
O grito de cólera Medicamentos de alto preço, trazidos à pressa,
impuseram vertiginosa subida às despesas, e o pa-
pai não conseguiu pagar todas as contas de arma-
Lembra-se do instante em que gritou forte- zém, farmácia e aluguel de casa.

É
mente, antes do almoço? a É
Durante seis meses, toda a sua família lutou
Por insignificante questão de vestuário, você e solidarizou-se para recompor a harmonia que-

pe ae
pronunciou palavras feias em voz alta, desrespei- brada, desastradamente, por sua ira infantil.
az doméstica. :
Cento e oitenta dias de preocupações e traba-
O E filho, quantos males foram atraídos lhos árduos, sacrifícios e lágrimas! Tudo porque
por seu gesto de cólera!... a
você, incapaz de compreender a cooperação alheia,
A mamãe, muito aflita, correu para o interior,

Ea
se pôs a. berrar, inconscientemente, recusando a rou-
arrastando atenções de toda a casa. Voltou-lhe a
dor-de-cabeça e o coração tornou a descompassar-se; pa que lhe não agradava.
As duas irmãs, que cuidavam da refeição, diri- Pense na lição, meu filho, e não repita a expe-
giram-se precipitadamente para o quarto, a fim de riência.
socorrê-la, e duas terças partes do almoço ficaram Todos estamos unidos, reciprocamente, através
inutilizadas. de laços que procedem dos desígnios divinos. Nin-
Em razão das circunstâncias provocadas por guém se reúne ao acaso. Forças superiores impe-
sua irreflexão, o papai, muito contrariado, foi com- lem-nos uns para os outros, de modo a aprendermos
pelido a esperar a tempo em casa, chegando ao a ciência da felicidade, no amor e no respeito mú-
i m grande atraso. tuos.
eu(chefs não estava disposto a tolerar-lhe a O golpe do machado derruba a árvore de vez.
falta e recebeu-o com repreensão áspera. A ventania destrói um ninho de momento para.
Quem o visse, erecto e digno, a sofrer essa outro.
pena, em virtude da sua leviandade, sentiria, coti: A ação impensada de um homem, todavia, é
paixão, porque você não passa de um jovem neces- muito pior.
To LUZ NO LAR

mim pente mir


O grito de cólera é um raio mortífero, quepe-
netra o círculo de pessoas em que foi pronunciado
e aí se demora, indefinidamente, provocando molés-
tias, dificuldades e desgostos.
Porque não aprende a falar e a calar, a bene- 28
fício de todos?
Ajude em vez de reclamar. ]
A cólera é força infernal que nos distancia da

cia
e Professores diferentes
paz divina.
A própria guerra, que extermina milhões de
criaturas, não é senão a ira venenosa de alguns ho-
mens que se alastra, por muito tempo, ameaçando
Entre familiares e amigos, encontras, na Ter-
ra, a oficina do teu burilamento.
o mundo inteiro.
Com raras exceções, todos apresentam proble-
mas a resolver.
NEIO LÚCIO
Problemas na emoção e no pensamento.
Problemas na palavra e na ação.
Problemas no lar e no trabalho.
Problemas no caminho e nas relações.
Prossegues, assim, junto deles, como quem res-
pira ao pé de múltiplos instrutores num instituto
de ensino.
Muitos reclamam trabalho, lecionando paciên-
cia, enquanto outros te ferem a sensibilidade, diplo-
mando-te em sacrifício. Há os que te escandalizam
incessantemente, adestrando-te em piedade, e aque-
les que te golpeiam a alma, com as lâminas invisí-
veis da. ingratidão, para que aprendas a perdoar.
E as lições vão surgindo, à maneira de testes
inevitáveis.
Agora, é o esposo que deserta, dobrando-te a
carga de obrigações, ou, noutras circunstâncias, é
a esposa que se rebela aos compromissos, agonian-
do-te as horas... Hoje, ainda, são os pais que te
contrariam as esperanças, os filhos que te aniqui-
Tr".

72 LUZ NO LAR

lam os sonhos ou os amigos que se transformam


em duros entraves no serviço a fazer.

ASa
Nenhum problema, entretanto, aparece ao aca-
so, e, por isso, é imperioso te armes de amor para
a luta íntima,
Fugir da dificuldade é, muitas vezes, a ideia
que te nasce como sendo o melhor remédio. Seme-

Ds
lhante atitude, porém, seria o mesmo que debandar, 29
menosprezando as exigências da educação.
Carrega, pois, com serenidade e valor o fardo
de aflições que o pretérito te situa nos ombros, con-
victo de que os associados complexos do destino são Companheiros mudos
antigos parceiros de tuas experiências, a reponta-
rem do caminho, solicitando contas e acertos.
Seja qual for o ensinamento de que se façam Com excelentes razões, mobilizas os talentos da
palavra, a cada instante, permutando impressões
intérpretes, roga à Sabedoria Divina te inspire a
conduta, a fim de que não percas o merecimento da com os outros.
escola a que a vida te conduziu. Selecionas os melhores conceitos para os ouvi-
Ainda mesmo em lágrimas lê, sem revolta, no dos de assembleias atentas.
livro do coração, as páginas de dor que te impo- Aconselhas o bem, plasmando terminologia ade-
nham, ofertando-lhes por resposta as equações do quada para a exaltação da virtude.
amor puro, em forma de tolerância e hondade, au- Estudas Filologia e Gramática, no culto à lin-
xílio e compreensão. guagem nobre.
Encontras a frase exata, no momento certo,
Recorda que o próprio Cristo, sem débito al-
em que externas determinado ponto de vista.
gum, transitou, cada dia, na Terra, entre esses pro-
fessores diferentes do espírito. E, solucionando, na Sabes manejar o apontamento edificante, em
base da humildade, os problemas que recebia na
família,
atitude e no comportamento de cada um, submeteu-
Lecionas disciplinas diversas.
-se, à sós, à prova final da suprema renúncia, à qual Debates problemas sociais.
Analisas os sucessos diários.
igualmente te submeterás, um dia, na conquista da
própria sublimação — o único meio de te elevares Questionas serviços públicos.
ao clima glorioso dos companheiros já redimidos es Rr o verbo é luz da vida, de que
que te aguardam, vitoriosos, nas eminências da Es- ópriooJesuS se valeu
Eprón ] para legar-no
- s o Evangelho
piritualidade.
“Entretanto, nesta nota simples, vimos rogar-te
EMMANUEL apoio e consolação para aqueles companheiros
a
TA LUZ NO LAR

quem a nossa destreza vocabular não consegue ser-


vir em sentido direto.
Comparecem, às centenas, aqui e ali...
Jazem famintos e não comentam a carência
de pão.
Amargam dolorosa nudez e não reclamam con-
tra o frio.
Experimentam agoniadas depressões morais,
sem pedirem qualquer reconforto à ideia religiosa.
30
Sofrem prolongados suplícios orgânicos, inca-
pazes de recorrer voluntâriamente ao amparo da
Medicina. Carta aos pais
Pensa neles e, de coração enternecido, quanto
puderes, oferece-lhes algo de teu amor, através da
peça de roupa ou da xícara de leite, da poção medi- Não podes viver a esmo,
camentosa ou do minuto de atenção e carinho, por- Numa estrada indefinida.
que esses companheiros mudos e expectantes que Um pai tem obrigações
nos rodeiam são as criancinhas necessitadas e pa- Das mais nobres que há na vida.
decentes que não podem falar.
Meu irmão, em tua casa,
EMMANUBL
Nas ternuras dos filhinhos,
Personifica o bom-senso,
Entre os beijos e os carinhos.

Por enquanto, a Terra inteira


Inda é um mar encapelado.
Se não dominas a onda
CTNICAT Virás a ser dominado.

Entende a luz do caminho.


Atua finalidade
Não é sômente a da espécie
Nas lutas da Humanidade.
76 LUZ NO LAR LUZ NO LAR m"

Exige-se muito mais Gastar sômente o que é justo


Dos teus esforços no mundo; E” ser prudente e cristão.
Recebeste de Jesus Quem gasta o que não é seu
Um dom sagrado e profundo. Faz dívidas de aflição.

Se a missão das mães terrestres


E” conduzir e ensinar, Luta sempre, mas se os teus
O teu trabalho é de agir Não te seguirem os trilhos,
No esforço de transformar. Esperemos nesse Pai
De que todos somos filhos.
Não olvides teus deveres
Na esfera da educação, Na pobreza ou na fortuna,
Fazendo de tua casa Esforça-te, meu amigo.
A escola de redenção. Exemplifica o trabalho
E Deus estará contigo.
Um pai que deixa os filhinhos
Abandonados ao léu, CASIMIRO CUNHA
Não corresponde no mundo
A confiança do céu.

Cuida bem dos pequeninos.


A educação tem segredos
Que devem ser estudados
Desde os tempos dos brinquedos.

A tua função no lar


Não é sômente prover, CDA
Mas adotar providências,
Procurando esclarecer.

Ensina os teus a gastar.


Quem vive muito à vontade
Pode encontrar a miséria
No fim da ociosidade.
LUZ NO LAR 79

Noutras circunstâncias, era Elmo Bruno, o


amigo inseparável, que advertia, quando o carro de
luxo parecia comer o chão:
— Não corra assim tanto... Olhe os pedestres!
— Que tenho eu lá com isso?
E Bruno explicava:
— Hã pessoas distraídas, e crianças incons-
cientes. Nem sempre conseguem, “de pronto, ver os
sinais...
Um desastre Duarte encerrava o capítulo, acrescentando:
— Rodas foram feitas para rodar. E depressa.
De outras vezes, era o próprio pai dele à acon-
I selhá-lo, enquanto o veículo parecia voar:
— Meu filho, é preciso prudência... O volante
Duarte Nunes enriquecera. Duas grandes far- pede calma... Penso que, além dos quarenta quilô-
mácias, muito bem dirigidas, eram para ele duas metros, tudo é caminho para desastre...
galinhas de ovos de ouro. Dono do próprio tempo, — Frioleiras, papai — respondia Nunes, bem
não sabia usá-lo da maneira mais nobre e, por isso, humorado, agravando o problema.
estimava nas grandes emoções suas grandes fugas. Sempre que exortado, corria mais.
Corridas de cavalos, corridas de automóveis,
concursos de lanchas...
Entusiasta de todos os esportes. Gastador re- II
nitente. .
Apesar disso, era bom esposo e bom pai. De
vez em vez, levava os filhinhos, Marilene e Murilo, — Meninos de apartamento, aves engaioladas!
às brigas de galos. O belo casal de garotos, porém, — dizia a mamãe Duarte Nunes, abraçando os
não gostava. Marilene voltava o rosto para não netos.
ver, e Murilo, forte petiz de quatro anos, chorava — Então — disse o pai, sorrindo —., preferem
desapontado. vovó?
— Poltrão! — dizia o pai, com adocicada iro- — Sim, sim...
nia. E colocava os dois no carro para longo pas- Decorridos minutos, saem todos na manhã do-
seio. A esposa, muitas vezes presente, rogava afli- mingueira,.
ta: “Nunes, mais devagar” Ele, porém, sorria, sar- Dona Branca desce com a nora, amparando as
cástico, e dava largas ao freio. Sessenta, oitenta crianças, ao pé da própria casa a pleno sol de Tpa-
quilômetros... nema e declara:
80 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 81

— Nossos pássaros prisioneiros querem hoje a — Nunes, este menino é...


largueza da praia. Vamos respirar... — Riram-se — E' quem? Diga logo — falou Nunes, impa-
todos. ciente.
E o auto, conduzindo Nunes e Elmo, saiu em
Mas não precisou de maiores minúcias, por-
disparada.
que Bruno, traumatizado, disse-lhe apenas:
Mais tarde, Petrópolis. — Eseu filho...
Amigos improvisavam corridas de bicicletas.
Bandeirinhas. Anotações. Relógios em massa. Ho-
IRMÃO X
mens magros, pedalando, ansiosos e, por fim, o ága-
pe em hotel serrano, sob árvores farfalhudas.
Ao virar da tarde, o regresso.
Todoo Rio inda vibra de sol.
— Porque não buscar, primeiro, a cerveja pura
e gelada, em Copacabana? — perguntou Nunes, con-
tente.
O carro devora o asfalto.
— Devagar, devagar... — pede o amigo.
Depois da cerveja, o retorno a casa. Nunes ini-
cia a marcha, como quem decola.
— Devagar, devagar — roga o companheiro.
Ele ri. Desatende. A poucos minutos, ambos
vêem um pequeno em maiô. Está só. Agita-se. E
corre de través procurando o outro lado. Nunes EDE
tenta frear, mas é tarde. Atropela o garoto que
tomba qual pluma ao vento.
Populares gritando. O menino estendido na
rua é um pássaro que agoniza.
Sangue. Muito sangue. Nunes aflige-se. Elmo
volta e vê. Ergue a criança, espantado, e caminha
no rumo dele.
— Seja quem for — grita Nunes —, leve à
nossa farmácia... Toda a despesa gratuita...
Todavia, o amigo, hoquiaberto, apresenta-lhe o
menino morto e exclama:
LUZ NO LAR 83

ele renasceu dela mesma, por filho necessitado de


carinho e de compaixão.
Po
Os benfeitores descansaram.
O obsessor descansou.
A obsidiada descansou.
O esposo dela descansou.
Transformar obsessores em filhos, com a bên-
32 ção da Providência Divina, para que haja paz nos
corações e equilíbrio nos lares, muita vez é a única
solução.
Solução natural
HILÁRIO SILVA

Os espíritos benfeitores já não sabiam como


atender à pobre senhora obsidiada.
Perseguidor e perseguida estavam mentalmente
associados à maneira de polpa e casca no fruto.
Os amigos desencarnados tentaram afastar o
cbsessor, induzindo a jovem senhora a esquecê-lo,
mas dehalde.
Se tropeçava na rua, a moca pensava nele...
Se alfinetava um dedo em serviço, atribuia-lhe
o golpe...
Se o marido estivesse irritado, dizia-se vítima
NDA
do verdugo invisível...
Se a cabeça doia, acusava-o...
Se uma xícara se espatifasse, no trabalho do-
méstico, imaginava-se atacada por ele...
Se aparecesse leve dificuldade econômica, trans-
formava a prece em crítica ao desencarnado in-
feliz...
Reconhecendo que a interessada não encontra-
va libertação, por teimosia, os instrutores espirituais
ligaram os dois — a doente e o acompanhante invi-
sível -—— em laços fluídicos mais profundos, até que
LUZ NO LAR 8s

Ajuda a criança pobre,


Por amor ao teu filhinho.
O berço desamparado
E” treva para o caminho

CASIMIRO CUNHA

ço
C
Ke

Não menosprezes a tua oportunidade de esten-


A infância der mãos amigas aos filhinhos do infortúnio. Re-
corda que Jesus, o Enviado Divino, foi saudado por
uma estrela nas palhas da Manjedoura.
Quando o berço é relegado ao abandono, o lar
desce ao nível do inferno. EMMANUEL

ANDRÉ LUIZ

Na doce ternura em flor


De um pequenino a sorrir,
A vida te pede amor
Na construção do porvir.

JOÃO DE DEUS

Auxilia a infância torturada. A miséria e 0


sofrimento começam no berço desprotegido.

BATUÍIRA
LUZ NO LAR 87

perigos da inconsciência na educação infantil entre


mimos e caprichos satisfeitos. (Conhecemos, por
exemplo, um rifão inglês que recomenda: — “poupa
a vara e estraga a criança”, Mas, na América, ge-
ralmente, poupamos os defeitos da criança, para
que o jovem nos deite a vara logo que possa vestir-
-se sem nós. Naturalmente que os britânicos não
34 são pais desnaturados, nem monstros que atormen-
tem os meninos na calada da noite, mas compreen-
deram, antes de nós, que o amor, para educar, não
Resposta do Além prescinde da energia e que a ternura, por mais va-
liosa, não pode dispensar o esclarecimento.
Dentro do Novo Mundo, e principalmente em
Minha irmã: Valho-me do “correio do outro nosso País, as crianças são pequeninos e detestá-
mundo” para responder à sua carta, cheia da sen- veis senhores do lar que, aos poucos, se transfor-
sibilidade do seu coração de mulher. mam em perigosos verdugos. Enchemo-las de brin-
Pede-me a senhora o concurso de Espírito de- quedos inúteis e de carinhos prejudiciais, sem a vi-
sencarnado para a solução de problemas domésticos gilância necessária, diante do futuro incerto. Lem-
no setor de educação aos filhinhos que Deus lhe bro-me, admirado, do tempo em que se considerava
confiou. Conforta-me, sobremaneira, a sua gene- herói o genitor que roubasse um guizo para satis-
rosidade; entretanto, minha amiga, a opinião dos fazer a impertinência de algum pequerrucho tra-
mortos, esclarecidos na realidade que lhes constitui quinas e, muitas vezes, recordo, envergonhado, a
o novo ambiente, será sempre muito diversa do veneração sincera com que via certas mães insen-
conceito geral. satas a se debulharem em pranto pela impossibili-
A verdade que o túmulo nos fornece renova dade de adquirir uma grande boneca para a filhi-
quase Lodos os preceitos que nos pautavam as ati- nha exigente. A morte, todavia, ensinou-me que
tudes. tudo isso não passa de loucura, do coração.
Aí no mundo, entrajados no velho manto das E” necessário despertar a alegria e acender a
fantasias, raros pais conseguem fugir à cegueira luz da felicidade em torno das almas que recome-
do sangue. De orientadores positivos, que devería- cam a luta humana, em corpos tenros e, muita vez,
mos ser, passamos à condição de servidores menos enfermiços. Fôra tirania doméstica subtraí-las ao
dignos dos filhos que a Providência nos entrega, sol, ao jardim, à Natureza. Seria crime cerrar-lhes
por algum tempo, ao carinho e ao cuidado. o sorriso gracioso, com os ralhos inoportunos, quan-
Na Europa, trabalhada pelo sofrimento, exis- do os seus olhos ingênuos e confiantes nos pedem
tem coletividades que já se acautelam contra os compreensão. Entretanto, minha amiga, não cogi-
88 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 89

tamos de proporcionar-lhes a alegria construtiva, cidos, tentamos debalde o exercício tardio da corre-
nem nos preocupamos com a sua felicidade real. cão. Absolutamente desamparados de nossa lealda-
Viciamo-las simplesmente. de e de nossa previdência, por se manterem viciados
Começamos a tarefa ingrata, habituando-lhes pela nossa indesejável ternura, os filhos do nosso
a boca às piores palavras da gíria e incentivando- amor rolam, vida afora, aprendendo na aspereza
-lhes as mãos pequenas à agressividade risonha. do caminho comum. E? que, antes de serem os re-
Horrorizamo-nos quando alguém nos fala em corri- bentos temporários de nosso sangue, eram compa-
genda e trabalho. A palmatória e a oficina desti- nheiros espirituais no campo davida infinita, e,
nam-se aos filhos alheios. Convertemos o lar, san- se voltaram ao internato da reencarnação, é que
tuário edificante que a Majestade Divina nos confia necessitavam atender ao resgate, junto de nós ou-
na Terra, em fortaleza odiosa, dentro da qual en- tros, adquirindo mais luz no entendimento. Não
sinamos o menosprezo aos vizinhos e a guerra siste- devíamos cercá-los de mimos inúteis, mas de lições
mática aos semelhantes. Satisfazendo-lhes os ca- proveitosas, preparando-os, em face das exigências
prichos, dispomo-nos a esmagar afeições sublimes, da evolução e do aprimoramento, para a vida eterna.
ferindo nossos melhores amigos e descendo aos fun- Desse modo, minha amiga, use os seus recursos
dos abismos do ridículo e da estupidez. Fiéis às educativos compatíveis com o temperamento de
suas descabidas exigências, falhamos em setenta cada bebê, encaminhando-lhes o passo, desde cedo,
per cento de nossas oportunidades de realização es- na estrada do trabalho e do bem, da verdade e da
piritual na existência terrestre. Envelhecemo-nos compreensão, porque as escolas públicas ou parti-
prematuramente, contraímos dolorosas enfermida- culares instruem a inteligência, mas não se podem
des da alma e, quase sempre, só reconhecem algu- responsabilizar pela edificação do sentimento. Em
ma coisa de nossa renúncia vazia, quando o matri- cada cidade do mundo pode haver um Pestalozzi
mônio e a família direta os defrontam, no extenso que coopere na formação do caráter infantil, mas
caminho da vida, dilatando-lhes obrigações e traba- ninguém pode substituir os pais na esfera educa-
lhos. Ainda aí, se a piedade não comparece no qua- tiva do coração.
dro de suas concepções renovadas, convertem-nos Se a senhora, porém, não acreditar em minhas
em avós escravos c submissos. palavras, por serem filhas da realidade indisfarçó-
A morte, porém, colhe nossa alma em gua rede vel e dura, exercite exclusivamente o carinho e es-
infalível para que nos aconselhemos, de novo, com pere pela lição do futuro, sem incomodar-se com os
a verdade. Cai-nos a venda dos olhos e observamos meus conselhos, porque eu também, se ainda esti-
que os nossos supostos sacrifícios não representa- vesse envolvido na carne terrestre e se um amigo
vam senão amargoso engano da personalidade egoís- do “outro mundo” me viesse trazer os avisos que
tica. Nossas longas vigílias e atritos angustiosos lhe dou, provavelmente não os aceitaria.
eram, apenas, a defesa improfícua de mentiroso
sistema de proteção familiar. E humilhados, ven- IRMÃO X
LUZ NO LAR 91

Era tudo o que você, alterado e irreconhecível,


tinha agora a dizer.
Entretanto, o amor em minhalmaera o mesmo.
Tornei à noite recuada quando o afaguei pela
primeira vez.
Sua mãezinha dormia, extenuada...
Pequenino e tenro de encontro ao meu peito,
senti em você meu próprio coração a vagir nos
35 braços...
E as recordações desfilaram, sucessivas.
Você, qual passarinho contente a abrigar-se em
Carta a meu filho meu colo, o álbum de fotografias em que sua ima-
gem apresentava desenvolvimento gradativo em to-
das as posições, as festas de aniversário e os bolos
Meu filho, dito esta carta para que você saiba coloridos enfeitados de velas que seus lábios miúdos
que estou vivo. apagavam sempre numa explosão de alegria... Re-
Quando você me estendeu a taça envenenada memorei nossa velha casa, a princípio humilde e po-
que me liquidou a existência, não pensávamos nisso. bre, que o meu suor convertera em larga habitação,
Nem você, nem eu. rica e farta... Agoniado, recordei incidentes, desde
A ideia da morte vagueava longe de mim, por- muito esquecidos, nos quais me observava expul-
que esperava de suas mãos apenas o remédio anes- sando crianças ternas e maltrapilhas do .grande
tesiante para a minha enxaqueca. jardim de inverno para que nosso lar fôsse apenas
Entendi tudo, porém, quando você, transtor- seu... Reencontrei-me, trabalhando, qual suarento
nado, cerrou subitamente a porta e exclamou com animal, para que as facilidades do mundo nos aten-
frieza: dessem as ilusões e os caprichos...
— Morre, velho! Em todos os quadros a se me reavivarem na
As convulsões que me tomavam de improviso, lembrança, ecra você o grande soberano de nosso
traumatizavam-me a cabeça... pequeno mundo...
Era como se afiada navalha me cortasse as O passado continuou a desdobrar-se, dentro de
vísceras num braseiro de dor. mim. Revisei nossa luta para que os livros lhe mo-
Pude ainda, no entanto, reunir minhas forças dificassem a mente, o baldado esforço para que a
em suprema: ansiedade ec contemplar você, diante mocidade se lhe erigisse em alicerce nobre ao fu-
de meus olhos. turo... De volta às antigas preocupações que me
Suas palavras ressoavam-me aos ouvidos: — assaltavam, anotei-lhe, de novo, as extravagâncias
“morre, velho!” contínuas, os aperitivos, os bailes, os prazeres, as
82 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 93

companhias desaconselháveis, a rebeldia constante Há quem diga que sômente as mães sabem
e o carro de luxo com que o presenteei num mo- amar e, realmente, o regaço materno é uma, bênção
mento infeliz... do paraíso. Entretanto, meu filho, os pais tam-
Filho de meu coração, tudo isso revi... bém amam e, por amar imensamente a você, dirijo-
Dera-lhe todo o dinheiro que conseguira ajun- -lhe a presente mensagem, afirmando-lhe estar em
tar, mas você desejava o resto. prece para que a nossa falta encontre socorro e
Nas vascas da morte, vi-o, ainda, mãos ansio- tolerância nos tribunais da Divina Justiça, aos
sas, arrebatando-me o chaveiro para surripiar as quais rogo me concedam, algum dia, a felicidade de
últimas jóias de sua mãe... Vi perfeitamente quan- tê-lo novamente ao meu lado, por retrato vivo de
do você empalmou o dinheiro, que se mantinha fora. meu carinho... Então nós dois juntos, de passo
de nossa conta bancária, e, porque não podia odiá-lo, acertado no trabalho e no bem, aprenderemos, en-
orei talvez com fervor e sinceridade pela primeira fim, como servir ao mundo, servindo a Deus.
vez — rogando a Deus nos abençoasse e compreen-
dendo, tardiamente, que a verdadeira felicidade de J.
nossos filhos reside, antes de tudo, no trabalho e
na educação com que lhes venhamos a honrar a
vida.
Não dito esta carta para acusá-lo.
Nem de leve me passou pelo pensamento o pro-
pósito de anunciar-lhe o nome.
Você continua sangue de meu sangue, coração
de meu coração.
Muitas vezes, ouvi dizer que há filhos crimi-
nosos, mas entendo hoje que, na maioria das cir-
cunstâncias, há, junto deles, pais delinquentes por TNDCA
acreditarem muito mais na força do cofre que na
riqueza do espírito, afogando-os, desde cedo, na
sombra da preguiça e no vício da ingratidão.
Não venho falar, assim, unicamente a você,
porque seu erro é o meu erro igualmente. Falo
também a outros pais, companheiros meus de espe-
rança, para que se precatem contra o demônio do
ouro desnecessário, porque todo ouro desnecessário,
quando não busca o conselho da caridade, é tenta-
ção à loucura,
LUZ NO LAR 95

É indispensável prover as exigências do pre-


sente com todos os elementos necessarios à respei-
tabilidade da vida.

36 Urge, entretanto, assegurar o porvir, a esbo-


car-se impreciso, no mundo ingênuo da infância.
Abandonar pequeninos ao léu, na civilização
Pequeninos magnificente da atualidade, é o mesmo que levan-
tar soberbo palácio, farto de viandas, abarrotado
de excessos e faiscante de luzes, relegando o futuro
No mundo, resguardamos zelosamente livros e dono ao relaxamento e ao desespero, fora das
pergaminhos, empilhando compêndios e documen- portas.
tações, em largas bibliotecas, que são cofres fortes A criança de agora erigir-se-nos-á fatalmente
do pensamento. em biografia e retrato depois. Além de tudo, é
Preservamos tesouros artísticos de outras eras, preciso observar que, segundo os princípios da reen-
em museus que se fazem riquezas de avaliação ina- carnação, os meninos de hoje desempenharão, ama-
preciável. nhã, junto de nós, a função de pais e conselheiros,
' Perfeitamente compreensível que assim seja. orientadores e chefes.
A educação não prescinde da consulta ao pas- Não nos cansemos, pois, de repetir que todos os
sado. bens e todos os males que depositarmos no espírito
da criança ser-nos-ão devolvidos.
x
EMMANUEL
Acautelamos a existência de rebanhos e plan-
tações contra flagelos supervenientes, despendendo
milhões para sustar ou diminuir a força destrutiva
das inundações e das secas.
Mobilizamos verbas astronômicas, no ergui-
mento de recursos patrimoniais devidos ao conforto
da coletividade, tanto no sustento e defesa das ins-
tituições, quanto no equilíbrio e aprimoramento das
relações humanas.
Claramente normal que isso aconteça.
37
38
Versos a minha mãe
Confidência de mãe
Pássaro preso no recinto escasso
Do velho canavial, beirando o rio, Dei-te um berço de rendas e de flores,
Quis ver o mundo vasto e conheci-o, Adorei-te por nume excelso e amigo
Varando, em pleno voo, o azul doespaço... E inclinei-te, meu filho, a ser comigo
Soberano de sonhos tentadores.
Lembro-me agora... Enceguecido, abraço
A exaltação, a glória e o poderio... Ordenava no orgulho que maldigo:
Mas tudo, minha mãe, era vazio — “Não te curves nem sirvas, aonde fores..
,

Fora do amor que brilha em teu regaço. Entreguei-te mentiras por louvores
E enganosa fortuna por abrigo.

Vi mil chagas de dor que a fama incensa


Nos nervos de ouro da cidade imensa, Hoje, de alma surpresa, torno a casa!
E prazeres, em trágico desmando... Tremo ao ver-te no luxo que te arrasa,
Como quem dorme em trágico veneno!

Mas no colo a que, em sonho, me recostas, E choro, filho meu, choro vencida,
Tenho apenas teu vulto de mãos postas, Por guardar-te entre os grandes toda a vida,
Que teu filho recorda, soluçando... Sem jamais ensinar-te a ser: pequeno.

DA COSTA E SILVA ANDRADINA DE OLIVEIRA


LUZ NO LAR s9

Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre


vozes acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir
na oração, e como se a rogativa lhe servisse de
bússola, embora caminhasse às escuras, eis que, de
súbito, se lhe extingue a cegueira e ele vê, diante
de seus passos, um santuário sublime, faiscante de
39 luzes. ;
Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes po-
voavam-no em todas as direções.
História de um pão Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das
Preces de Louvor, nas faixas inferiores do firma-
mento.
Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo,
da morte, buscou debalde reintegrar-se no grande ante o ministro espiritual que velava no pórtico.
palácio que lhe servira de residência. Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico
A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se falou sereno:
da moradia, vendendo-lhe os adornos. — Barsabás, cada fragmento luminoso que con-
- Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e templas é uma prece de gratidão que subiu da
jarrões, tapetes e perfumes, jóias e relíquias, sob o "Perra.s.
martelo do leilociro, enquanto os filhos querela- — Ai de mim — soluçou o desventurado — eu
vam no tribunal, disputando a melhor parte da he- jamais fiz o bem...
rança. — Em verdade — prosseguiu o informante —,
. Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não trazes contigo, em grandes sinais, o pranto e o san-
fôsse para reclamar o ouro e a prata que doara a gue dos doentes e das viúvas, dos velhinhos e órfãos
mordomos distintos. indefesos que despojaste, nos teus dias de invigi-
E porque na memória de semelhantes amigos lância e de crueldade; entretanto, tens aqui, em teu
ele não passava, agora, de sombra, tentou o inte- crédito, uma oração de louvor...
resse afetivo de companheiros outros da infância... E apontou-lhe acanhada estrela, que brilhava
Todavia, entre estes encontrou simplesmente a à feição de pequenino disco solar.
recordação dos próprios atos de malquerença e de — Hátrinta e dois anos — disse, ainda, o ins-
usura. trutor —, deste um pão a uma criança e essa crian-
Barsabás entregou-se às lágrimas de tal modo, ca te agradeceu, em prece ao Senhor da Vida.
que a sombra lhe embargou, por fim, a visão, arro- Chorando de alegria e consultando velhas lem-
jando-o nas trevas... branças, Barsabás perguntou:
— Jonakim, o enjeitado?
100 LUZ NO LAR

— Sim, ele mesmo — confirmou o missionário


divino. — Segue a claridade do pão que deste, um
dia, por amor, e livrar-te-ás, em definitivo, do sofri-
mento nas trevas.
E Barsabás acompanhou o tênue raio do tênue 40
fulgor que se desprendia daquela gota estelar, mas,
em vez de elevar-se às Alturas, encontrou-se numa
carpintaria humilde da própria Terra. Essas outras crianças
Um homem calejado aí refletia, manobrando a
enxó em pesado lenho... É
Era Jonakim, aos quarenta de idade. Quando abracares teu filho, no conforto do-
Como se estivessem os dois identificados no
méstico, fita essas outras crianças que jornadeiam
doce fio de luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual via- sem lar.
jante abatido, de volta ao calor do lar...
%
ra e a a o Rn O 4 a O O a aU e O na O UU OD O O O O a 0 O O a 0 UU 0 1 0 0 O

Dispões de alimento abundante para que teu


Decorrido um ano, Jonakim, o carpinteiro, os- filho se mantenha em linha de robustez.
tentava, sorridente, nos braços, mais um filhinho, Essas outras crianças, porém, caminham des-
cujos louros cabelos emolduravam belos olhos azuis. norteadas, aguardando os restos da mesa que lhes
Com a bênção de um pão dado a um menino atiras, com displicência, findo o repasto.
triste, por espírito de amor puro, conquistara Bar- %
sabás, nas Leis Eternas, o prêmio de renascer para
redimir-ge.
Escolhes a roupa nobre e limpa com que teu
filho se vestirá, conforme a estação.
IRMÃO X
Todavia, essas outras crianças tremem de frio,
recobertas de andrajos.
*

Defendes teu filho, contra a intempérie, sob


teto acolhedor, sustentando-o à feição de jóia no
escrínio.
102 LUZ NO LAR
LUZ NO LAR 103

Contudo, essas outras crianças cochilam es-


ças se agitam em sombra ou desespero, e ajuda-as,
tremunhadas, na via pública, quando não se dis-
quanto possas!
tendem no espaço asfixiante do esgoto.
X*
*

Quem serve no amor do Cristo sabe que a boa


Abres ao olhar deslumbrado de teu filho os te- palavra e o gesto de carinho, o pedaço de pão e a
souros da escola. peça de vestuário, o frasco de remédio e a xícara.
E essas outras crianças suspiram debalde pela de leite operam maravilhas.
luz do alfabeto, acabando, muita vez, encerradas
no cubículo das prisões, à face da ignorância que Xe
lhes cega a existência.
Proclamas, a cada passo, que esperas, confian-
x*
te, o esplendor do futuro, mas, enquanto essas outras
crianças chorarem desamparadas, clamaremos em
Conduzes teu filho a exame de pediatras dis- vão pelo mundo melhor.
tintos, sempre que entremostre leve dor de ca-
beça. EMMANUEL
Entretanto, essas outras crianças, minadas por
moléstias atrozes, agonizam em leitos de pedra,
sem que mão amiga as socorra.

Ofereces aos sentidos de teu filho a festa per-


manente das sugestões felizes, através da educação
incessante.
No entanto, essas outras crianças guardam
olhos e ouvidos quase sempre sintonizados no lodo
abismal das trevas.
%

Afaga, assim, teu filho no trono familiar, mas


desce ao pátio da provação onde essas outras crian-
LUZ NO LAR 105

1942 — Novembro, 11 — Mauricinho adoeceu.


Sinto-me enlouquecer... Já recorri a seis médicos.
1943 — Dezembro, 15 — O pediatra aconse-
lhou-me deixar a amamentação e mandou que Mau-
ricinho largue a chupeta. Repetiu instruções, anun-
ciou, solene, que a educação da criança deve come-
41 car tão cedo quanto possível. Essa é boa! Eu sou
mãe de Mauricinho e Mauricinhó é meu filho, Que
tem o médico de se intrometer? Amamento meu fi-
Álbum materno lho e dou-lhe a chupeta, enquanto ele a quiser.
1944 — Março, 13 — Mauricinho, intranquilo,
arranhou, de leve, o rosto da ama com as unhas.
E nós respigamos alguns tópicos do álbum Brincadeira de criança, bobagem. Jorge, porém,
repleto de fotos, que descansava na penteadeira de agastou-se comigo por não repreendê-lo. Tentou ex-
Dona Silvéria Lima, ao lermos enternecidamente a plicar-me a reencarnação. Assegurou que a criança
história do filho, que ela própria escrevera,. é um Espírito que já viveu em outras existências,
1941 — Outubro, 16 — Meu filho nasceu, no quase sempre tomando novo corpo para se redimir
dia 12. Sinto-me outra. Que alegria! Como expli- de culpas anteriores, e repisou que os pais são res-
car o mistério da maternidade? Meu Deus, meu ponsáveis pela orientação dos filhos, diante de Deus,
Deus!... Estou transformada, jubilosa!... porque os filhos (palavras do coitado do. Jorge)
Outubro, 18 — Meu filho recebeu o nome de são companheiros de vidas passadas que regressam
Maurício. Aos seis dias de nascido, parece um te- até nós, aguardando corrigenda e renovação...
souro do Céu em meus braços!... Deu-me vontade de rir na cara dele. Antes do casa-
Outubro, 20 — Recomendei a Jorge trazer hoje mento, Jorge já andava enrolado com espíritas...
um berço de vime, delicado e maior. O menino é Reencarnação!... Quem acredita nisso? Balela...
belo demais para dormir no leito de madeira que Chega um momento de nervosismo, a criança chora,
lhe arranjámos. Coisa estranha!... Jorge, desde e será justo espancá-la, simplesmente por essa
que se casou comigo, nada reclamou... Agora, ad- razão ?
mite que exagero. Considerou que devemos pensar 1946 — Março, 15 — Jorge admoestou-me com
nas crianças menos felizes. Apontou casos de me- austeridade. Parecia meu avô, querendo puxar-me
ninos que dormem no esgoto, mas, que temos nós as orelhas. Declarou que não estou agindo bem.
com meninos de esgoto? Caridade!... Caridade é Acusou-me. Tratou-me como se eu fôsse irrespon-
cada um assumir o desempenho das próprias obri- sável. Tem-se a impressão de que é inimigo do pró-
gações. Meu marido está ficando sovina. Isso é O prio filho. Queixou-se de mim, alegou que estou
que é... deixando Maurício crescer como um pequeno mons-
LUZ NO LAR 107
106 LUZ NO LAR

Mauricinho precisa trabalhar sob disciplina. Que


tro (que palavra horrível!), tão só porque o meni- plano!... Meu filho com patrão... Era o que fal-
no, ontem, despejou querosene no cão do vizinho e tava!... Temos o suficiente para garantir-lhe sos-
ateou fogo... Era um cachorro intratável e imun- sego e liberdade.
do. Certamente que não estou satisfeita por haver 1957 — Janeiro, 14 — Jorge está doente. O
Maurício procedido assim, mas sou mãe... Meu médico pediu para que lhe evitemos dissabores ou
filho é um anjo e não fêz isso conscientemente.
choques. Participou-me, discreto, que meu marido
Talvez julgasse que o fogo conseguisse acabar com
tem o coração fatigado, hipertensão. Desde o ano
a sujeira do cão.
passado, Jorge tem estado triste, acabrunhado com
1948 — Abril, 9 — Crises de Maurício. Que- as calúnias que começam a aparecer contra o nosso
brou vidraças e pratos, esperneou na birra e atirou filhinho. Amigos-ursos fantasiaram que Maurício,
um copo de vidro nos olhos da cozinheira, que ficou em vez de frequentar o colégio, vive nas ruas, com
levemente machucada, seguindo para o hospital... vagabundos. Chegaram ao desplante de asseverar
Jorge queria castigar o menino. Não deixei. Dis- que meu filho foi visto furtando e, ainda mais...
cutimos. Chorei muito. Estou muito infeliz. Falaram que ele usa maconha em casas suspeitas.
1950 — Setembro, 5 — A professora de Mau- Pobre filho meu!... Sendo filho único, Maurício
rício veio lastimar-se. Moça neurastênica. Inventou, necessita de ambiente para estudar, e se vem, alta
faltas e mais faltas para incriminar o pobre garoto, madrugada, para dormir, é porque precisa do auxi-
Informou que não pode mantê-lo, por mais tempo, lio dos colegas, nas várias residências em que se
junto dos alunos. Mulher atrevida! Pintou meu fi- reúnem com os livros.
lho como se fôsse o diabo. Ensinei a ela que a porta 1958 — Outubro, 6 — Jorge ficou irado, por-
da rua é serventia da casa. Deixa estar! Ela tam- que exigi dele a compra de um carro para Maurício,
bém será mãe... Que bata nos filhos dela!... como presente de aniversário. Brigou, xingou, mas

ig io
1952 — Maio, 16 — Maurício já foi expulso de cedeu...
três colégios. Perseguido pela má sorte o meu ino-
1959 — Junho, 15 — Estou desesperada. Jor-
centinho!... Jorge afirma-se cansado, desiludi-
ge foi sepultado ontem. Morreu apaixonado, diante
do... Já falou até mesmo num internato de corre-
da violência do delegado policial que intimou Mau-
ção. Meu Deus, será que meu filho sômente encon-
ricinho a provar que não estava vendendo maconha.
tre amor e refúgio comigo? Tão meigo, tão bom!... Amanhã, enviarei um advogado ao Distrito. Se pre-
Prefiro desquitar-me a permitir que Jorge execute
ciso, processarei o chefe truculento. .. Ninguém ar-
qualquer ideia de punição que, aliás, não consigo
ruinará o nome de meu filho, que é um santo...
compreender... Meu filho será um homem sem
Oh! meu Deus, como sofrem as mães!...
complexos, independente, sem restrições... Quero
1960 — Agosto, 2 — Duas mulheres me pro-
Maurício feliz, feliz!...
curaram, com a intenção de arrancar-me dinheiro.
1956 — Meu marido quer empregar nosso fi-
Disseram que meu filho lhes surripiou jóias. Ve-
lho numa casa de móveis. Loucura!... Acredita que
108 LUZ NO LAR

lhacas e mandrionas. Maurício jamais desceria a


semelhante baixeza. Dou-lhe mesada farta. Expul-
sei as chantagistas e, se voltarem, conhecerão as
necessárias providências.
1961 — Fevereiro, 22 — Nunca pensei que o
nosso velho amigo Noel chegasse a isso!... Culpar
meu filho! Sempre a mesma arenga... Maurício
na maconha. Maurício no furto! Agora é um dos
mais antigos companheiros de meu esposo que vem 42
denunciar meu filho como incurso num suposto cri-
me de estelionato, comunicando-me, numa farsa
bem tramada, que Maurício lhe falsificou a letra
Cristo em casa
num cheque, roubando-lhe trezentos contos... Tudo
perseguição e mentira. Já ouvi dizer que Noel anda
caduco. Usurário caminhando para o hospício. Essa
é que é a verdade... Sou mãe!... Não permitirei Se desejas extinguir
que meu filho sofra; nunca admiti que alguém le-
A sombra que aflige e atrasa,
vantasse a voz contra ele... Maurício nasceu livre,
Não olvides acender
é livre, faz o que entende e não é escravo de nin-
A luz do Evangelho em casa.
guém. Estou revoltada, revoltada!.
Nesse ponto, terminavam as confidências de
Dona Silvéria, cujo corpo estava ali, inerte e ensan- Quanto possível, nas horas
guentado, diante de nós, os amigos desencarnados, De doce união no lar,
que fôramos chamados a prestar-lhe assistência. Estende a Lição Divina
Acabara de ser assassinada pelo próprio filho, obsi- Ao grupo familiar.
diado e sequioso de herança.
Enquanto selecionávamos as últimas notas do
Na chama viva da prece,
álbum singular, Maurício, em saleta contígua, tele-
O culto nobre inicia,
fonava para a Polícia, depois de haver armado
hãbilmente a tese do suicídio.
Rogando discernimento
A Eterna Sabedoria.
IRMÃO X
Logo após, lê, meditando
O Texto Renovador
Da Boa Nova sublime,
Que é fonte de todo o amor.
| LUZ NO LAR 111
I] 110 LUZ NO LAR
|| a vi É que, na Bênção do Cristo,
| Verás a tranquilidade, Clareia-se-nos a estrada
| Vestida em suave brilho, E a nossa vida ressurge,
Irradiando esperança Luminosa e transformada.
| Em todo o teu domicílio.
H

Conduze, pois, tua casa


| Ante a palavra do Mestre, A inspiração de Jesus,
||| Generosa, clara e boa, O Evangelho em tua mesa
| A experiência na Terra É pão da Divina Luz.
ki É luta que aperfeicoa.
CASIMIRO CUNHA

Mentiras da vaidade,
Velhos crimes da avidez,
Calúnia e maledicência
Desaparecem de vez...

Serpentes envenenadas
Do orgulho torvo e escarninho,
Sob o clarão da verdade,
Esquecem-nos o caminho.

Dificuldades e provas,
Na dor amargosa e lenta, /
São recursos salvadores
Com que o Céu nos apascenta.

E o trabalho por mais rude,


No campo de cada dia,
É dádiva edificante
Do bem que nos alivia.
LUZ NO LAR 113

sitaram, desassombradamente, sob a cruz do martí-


rio, quando os próprios discípulos debandavam,
Mais tarde, junto aos continuadores da Boa
Nova, sustentavam-se no mesmo nível de elevação
e de entendimento.
Dorcas, a costureira Jopense, depois de ampa-
43 rada por Simão Pedro, fêz-se mais ativa colabora-
dora da assistência aos infortunados. Febe é a
mensageira da epístola de Paulo de Tarso aos ro-
A mulher ante o Cristo manos. Lídia, em Filipos, é a primeira mulher com
suficiente coragem para transformar 2 própria casa
Toda vez nos disponhamos a considerar a mu- em santuário do Evangelho nascituro. Lóide e Eu-
lher em plano inferior, lembremo-nos dela, ao tem- nice, parentas de Timóteo, eram padrões morais da
po de Jesus. fé viva.
Há vinte séculos, com exceção das patrícias Entretanto, ainda que semelhantes heroínas
do Império, quase todas as companheiras do povo, não tivessem de fato existido, não podemos olvidar
na maioria das circunstâncias, sofriam extrema ab- que, um dia, buscando alguém no mundo para exer-
jeção, convertidas em alimárias de carga, quando cer a necessária tutela sobre a vida preciosa do
não fôssem vendidas em hasta pública. Embaixador Divino, o Supremo Poder do Universo
Tocadas, porém, pelo verbo renovador do Di- não hesitou em recorrer a Re mulher, escon-
vino Mestre, ninguém respondeu com tanta lealda- dida num lar apagado e simples...
de e veemência aos apelos celestiais. Humilde, ocultava a experiência dos sábios;
Entre as que haviam descido aos vales da per- frágil como o lírio, trazia consigo a resistência do
turbação e da sombra, encontramos em Madalena - diamante; pobre entre os pobres, carreava na pró-
o mais alto testemuho deSoerguimento moral, das pria virtude os tesouros incorruptíveis do coração,
trevaspara a luz; e entreas que se mantinham no e, desvalida entre os homens, era grande e presti-
monte «equilíbrio
do doméstico, surpreendemos em giosa perante Deus.
Joana de Cusa o mais nobre expoente de concurso Eis o motivo pelo qual, sempre que o racio-
e fidelidade. cínio nos induza a ponderar quanto à glória do
Atraídas pelo amor puro, conduziam à pre- Cristo — recordando, na Terra, a grandeza de nos-
senca do Senhor os aflitos e os mutilados, os doen- sas próprias Mães —, nós nos inclinaremos, reco-
tes e as crianças. E embora não lhe integrassem nhecidos e reverentes, ante a luz imarcescível da
o círculo apostólico, foram elas — representadas estrela de Nazaré.
nas filhas anônimas de Jerusalém — as únicas de-
monstrações de solidariedade espontânea que o vi- a EMMANUEL
4
é

44 45

Saudade vazia Surpresa

Desde muito chorava o belo filho morto, — Se alguém de outra vida pudesse materiali-
Num desastre de mar em suntuoso falucho... zar-se aos meus olhos -- dizia Germano Pereira, em
Triste, a fidalga anciã vivia em pranto e luxo, plena sessão no próprio lar —, decerto que a minha
No esplêndido solar ao pé de velho porto... fé seria maior... Um ser de outro planeta que me
obrigasse a pensar... Tanta gente se reporta a
visões dessa natureza! Entretanto, semelhantes apa-
Certo dia, a criada, em rijo desconforto, rições não passam do cérebro doentio que as ima-
Dá-lhe um pobre enjeitado, um magro pequerrucho. gina. Quero algo de evidente e palpável. Creio es-
Ela clama: “Não quero! Isto é morcego e bruxo, tarmos no tempo da elucidação positiva...
Tem na face de monstro o nariz feio e torto!...” Ouvindo-o, o Irmão Bernardo, mentor espiri-
tual da reunião, que senhoreava as energias me-
diúnicas, aventou, sorridente:
E a dama solitária, em angústia insofrida, — Você deseja, então, espetacular manifesta-
Atravessou a morte e acordou noutra vida, ção de Cima... Alguém que caia das nuvens à
Buscando, ansiosa e rude, a afeição do passado. .. feição de um pára-quedista do Espaço, em trajes
fantasmagóricos, usando idioma incompreensível...
um itinerante de outras constelações, cuja inopina-
Debalde soluçou, na lição do destino... da presença talvez ocasionasse enorme porção de
Ao desprezar na Terra o infeliz pequenino, mal, ao invés do bem que deveria trazer...
Recusara, orgulhosa, o filho reencarnado. — Não, nãoé tanta a exigência — aduziu Par-
reira, desapontado. — Bastaria um ser materiali-
JORGE FALEIROS zado na forma humana, sem a descida visível do
firmamento. Não será preciso que essa ou aquela
LUZ NO LAR 117

116 LUZ NO LAR


por seu carinho e devotamento, a fim de atender
entidade se converta em bólide para acentuar-me a plenamente à própria tarefa...
Como assim? como assim? — irrompeu Ger-
convicção. Poderia surgir em nossa intimidade do-
mano, incrédulo. — Nada vi, nada sei, não pode
méstica, sem qualquer passe de mágica, revelando-
ser...
-se no lar fechado em que antes não existia, a
Mas o Benfeitor Espiritual, controlando o mé-
mostrar-se igual a nós outros, sendo, contudo, es-
dium, ergueu-se a passo firme e, demandando apo-
tranho ao nosso conhecimento...
sento próximo, de lá regressou, trazendo leve fardo.
— No entanto, sabe você que toda concessão Ante a surpresa dos circunstantes, Bernardo
envolve deveres justos. Um Espírito, para mate- depositou-o com respeitosa ternura no regaço do
rializar-se na Terra, solicita meios e condições. Ima- amigo que ainda argumentava.
ginemos que a iniciativa transformasse o hóspede Parreira desenovelou curiosamente o pequenino
suspirado numa criatura doente e débil, requisitan- volume e, entre aflito e espantado, encontrou, em
do cuidado, até que pudesse expirimr-se com segu- plácido sono de recém-nato, o corpo miúdo e quente
rança. Incumbir-se-ia você de auxiliar o estrangei- do próprio filho...
ro, acalentando-o com tolerância e bondade, até que
venha a revelar-se de todo? Estaria disposto a IRMÃO X
sofrer-lhe as reclamações e as necessidades, até que
se externe, robusto e forte?
— Oh! isso mesmo. Perfeitamente!... — gri-
tou Parreira, maravilhado. — Contemplar um Jis-
pírito assim, de modo insofismável, sem que eu lhe
explique a existência no mecanismo oculto, conso-
lidaria, sem dúvida, a riqueza de minha fé na imor-
talidade. Isso é tudo quanto peço, tudo, tudo...
Bernardo sorriu, filosóficamente, e acrescentou:
— Mas, Parreira, isso é acontecimento de todo
CNO
dia e tal manifestação é recente sob o teto que nos
acolhe. Ainda agora, na quinzena passada, você re-
cebeu semelhante bênção, asilando no próprio lar
um viajante de outras esferas, com a obrigação de
ajudá-lo até que se enuncie sem vacilação de qual-
quer espécie... Esse gênio bondoso e amigo corpo-
rificou-se quase em seus braços. Bateu-lhe à porta,
que você abriu generosamente. Entrou. Descansou.
Permaneceu, E, ainda agora, ligado a você, espera
LUZ NO LAR 119

Receber um filho é deter entre os homens o


mais sagrado depósito.
Não desertes, assim, da abnegação em que deves
empenhar todas as forças peculiares à própria vida,
a fim de que o rebento de tuas aspirações humanas
se faça legítimo sucessor dos teus mais íntimos an-
46 seios de elevação.
| O lar, na Terra, ainda é o ponto de convergên-
cia do passado. Dentro dele, entre as quatro pare-

q=
No lar des que lhe constituem a expressão no espaço, re-
cebemos todos os serviços que o tempo nos impõe,
habilitando-nos ao título de cidadãos do mundo.
Não olvides que teu filho, sendo a materiali- Exercitemos, desse modo, o amor e o serviço,
zação de teu sonho, é também tua obra na Terra. a humildade e o devotamento, no templo familiar,
As vezes é um lírio que plantaste no tempo; àfrente de nossos amigos ou adversários do preté-
contudo, na maioria das ocasiões, é um fragmento rito transformados hoje em nossos parentes ou em
de mármore quedeixaste a distância. nossos filhos, e estaremos alcançando nos proble-
Flor que te pode encorajar ou pedra que te mas da eternidade a mais alta e a mais sublime
pode ferir. equação.
Recebe-o, pois, como quem encontra a oportu-
nidade mais santa de trabalho no mundo. BUMANUEL
Não lhe abandones o espírito à liberdade ab-
soluta, para que se não perca ao longo da estrada,
e nem cometas a loucura de encarcerá-lo em teus
pontos de vista, para que o teu exclusivismo não
lhe desfigure as qualidades inatas para o infinito
bem.
Ajuda-o, acima de tudo, a crescer para O ideal
superior, assim como auxilias a árvore nascente,
em ímpeto ascensional para a luz.
Livra-o das deformidades mentais, tanto quan-
to protejes o vegetal proveitoso contra à invasão
da erva sufocante.
Ser pai é ser colaborador efetivo de Deus, na
Criação.
a
LUZ NO LAR 121

herói passa, na rua, coroado de louros, ninguém se


lembra de ti, na retaguarda de aflição.
Deste tudo e tudo ofereceste: entretanto, raros
se recordam de que teus olhos jazem nevoados de
pranto e de que padeces angustiosa fome de com-
preensão e carinho.
47 No entanto, continuas amando e ajudando, per-
doando e servindo... .
Se a ingratidão te relega à sombra na Terra,
Coração maternal o Criador de tua milagrosa abnegação vela por ti,
dos Ceus, através do olhar cintilante de milhões de
estrelas.
Mãe, que te recolhes no lar atendendo à Di- Lembra-te de que Deus, a fonte de todo o amor
vina Vontade, não fujas à renúncia que o mundo te e de toda a sabedoria, é também o Grande Anônimo
reclama ao coração.
e o Grande Esquecido entre as criaturas.
Recebeste no templo familiar o sublime man- Tudo passa no mundo...
Ajuda e espera sempre.
dato da vida.
Muitas vezes, ergues-te cada manhã, com o suor Dia virá em que o Senhor, convertendo os bra-
do trabalho, e confias-te à noite, lendo a página
cos da cruz de teus padecimentos em grandes asas
de luz, transformará tua alma em astro divino a
branca das lágrimas que te manam da alma ferida.
iluminar para sempre a rota daqueles que te pro-
Quase sempre, a tua voz passa desprezada,
puseste socorrer.
como vazio rumor, no alarido das discussões do-
mésticas, e as tuas mãos diligentes servem, com sa- MEIMEI
crifício, sem que ninguém lhes assinale o cansaçe...
Lá fora, os homens guerreiam entre si, dispu-
tando a posse efêmera do ouro ou da fama, da evi-
dência ou da autoridade... Além, a mocidade, em
muitas ocasiões, grita festivamente, buscando o
mentiroso prazer do momento rápido...
Enquanto isso, meditas e esperas, na solidão
da prece com que te elevas ao Alto, rogando a, feli-
cidade daqueles de quem te fizeste o gênio guar-
dião.
Quando o santo sobe às eminências do altar,
ninguém te vê nas amarguras da base, e quando o
LUZ NO LAR 123

Mulher quando se faz mãe,


Seja ela de onde for,
Por fora, é sempre mulher,
Por dentro, é um anjo de amor.

48 Maternidade na vida,
Que o saiba quem não souber,
E uma luz que Deus acende
Trovas de mãe No coração da mulher.
Xe

Dia das Mães!... Alegrias


Das mais puras, das mais belas!. Coração de mãe parece,
Mas é preciso saber No lar em que se aprimora,
O dia que não é delas. Padecimento que ri,
Felicidade que chora.

O nosso berço no mundo, Pela escritura que trago,


Sem que ninguém o defina, Na história dos sonhos meus,
É um segredo entre a mulher Mãe é uma estrela formada
E a Providência Divina. De uma esperanca de Deus.

Quantas mães lembram roseira!


Mãe possui onde apareça Quantos filhos rosas são!...
Dois títulos a contento: Quanta rosa junto à festa!
Escrava do sacrifício, Quanta roseira no chão!...
Rainha do sofrimento.
DELFINA BENIGNA DA CUNHA
*
LUZ NO LAR 125

Hoje, partilhamos com ele, à feição de esposo


despótico ou de filho-problema, o cálice amargo
da redenção.
*

49 Ontem, esquecemos compromissos veneráveis,


arrastando alguém ao suicídio.
Hoje, reencontramos esse mesmo alguém na
pessoa de um filhinho, portador de moléstia irre-
Em casa versível, tutelando-lhe, à custa de lágrimas, o tra-
balho de reajuste.
Ninguém foge à lei da reencarnação. *

%
Ontem, abandonámos a companheira inexpe-
riente, à míngua de todo auxílio, situando-a nas
Ontem, atraicoâmos a confiança de um com- garras da delinquência.
panheiro, induzindo-o à derrocada moral. Hoje, achamo-la ao nosso lado, na presença da
Hoje, guardamo-lo na condição do parente di- esposa conturbada e doente, a exigir-nos a perma-
fícil, que nos pede sacrifício incessante. nência no curso infatigável da tolerância.
* X*

Ontem, abandonámos a jovem que nos amava, Ontem, dilacerámos a alma sensível de pais
inclinando-a ao mergulho na lagoa do vício. afetuosos e devotados, sangrando-lhes o espírito, a
Hoje, temo-la de volta por filha incompreen- punhaladas de ingratidão.
siva, necessitada do nosso amor. Hoje, moramos no espinheiro, em forma de lar,
carregando fardos de angústia, a fim de aprender
*
a plantar carinho e fidelidade.
Ontem, colocámos o orgulho e a vaidade no pei- A frente de toda dificuldade e de toda prova,
to de um irmão que nos seguia os exemplos menos abençoa sempre e faze o melhor que possas.
felizes. Ajuda aos que te partilham a experiência, ora
pelos que te perseguem, sorri para os que te ferem
e desculpa todos aqueles que te injuriam,..
126 LUZ NO LAR

A humildade é chave de nossa libertação.


E, sejam quais sejam os teus obstáculos na
família, é preciso reconhecer que toda construção
moral do Reino de Deus, perante o mundo, começa
nos alicerces invisíveis da luta em casa.

EMMANUEL 50

Provação materna

Gritava a nobre anciã, em rede morna e langue:


_ Bate, meu filho!... Zurze o chicote a preceito
Um servo é igual ao boi que nasceu para o e i t o . . .
E o filho, Dom Muniz, deixava o servo em sangue.

Dos salões da fazenda ao derradeiro mangue,


Esculpira a fidalga um carrasco perfeito.
Mas vem a morte, um dia, e leva o filho eleito,
A matrona pranteia e larga o corpo exangue...

No Além, cai Dom Muniz em abismos de prova....


Aflita, a pobre mãe pede a Deus vida nova,
Quer guardá-lo, outra vez, numa estrada sem bruno.

Hoje, mulher sem lar, definha, a pouco e pouco,


E, aos duros repelões de um jovem cego e louco,
Roga, em pranto de amor: «Não me batas, meu filho...

VALENTIM MAGALHÃES
LUZ NO LAR 129

porque eu não te apresente uma ficha de crédito,


descerei bem cedo ao torvelinho da morte.

%*

Proclamas o bem por base da evolução; toda-


o1 via, se não tens paciência para comigo, porque eu
te aborreça, provavelmente ainda hoje cairei na ar-
madilha do mal, como ave desprevenida no laço do
caçador.
Mensagem da criança ao homem
x

Construíste palácios que assombram a Terra; Em nome de Deus que dizes amar, compadece-te
entretanto, se me largas ao relento, porque me fal-
de mim!...
tem recursos para pagar hospedagem, é possível
Ajuda-me hoje para que eu te ajude amanhã.
que a noite me enregele de frio.
Não te peco o máximo que alguém talvez te
venha a solicitar em meu benefício...
*
Rogo apenas o mínimo do que me podes dar
para que eu possa viver e aprender.
Multiplicaste os celeiros de frutos e cereais,
garantindo os próprios tesouros; contudo, se me MEIMEI
negas lugar à mesa, porque eu não tenha dinheiro
a fim de pagar o pão, receio morrer de fome.

Levantaste universidades maravilhosas, mas,


se me fechas a porta da educação, porque eu não
possua uma chave de ouro, temo abraçar o crime
sem perceber.
*

Criaste hospitais gigantescos; no entanto, se


não me defendes contra as garras da enfermidade,
A n t e a tristeza
Dessa aspereza,
Desse amargor,
Filhinho amigo,
Dá-lhes abrigo,
Dá-lhes a m o r . . .
52
Ês irmãozinho
D o pobrezinho
Conselho materno Que aflito v a i . . .
N o s mesmos trilhos
5 Ouve, filhinho, Nós somos filhos
Pelo caminho D o mesmo P a i .
Encontrarás
Muita criança JOÃO DE DEUS
Sem esperança,
Sem luz, sem p a z . . .

10 A v e s pequenas,
Guardam apenas
O pranto e a dor,
Rolando ao vento
Do sofrimento
Esmagador.

Passam a sós,
Erguendo a voz,
Pedindo p ã o . . .
Passam em bando,
Dilacerando
O coração.
juriosas contra os maridos inocentes, preparem-se
para longo tempo de separação na esfera invisível,
onde, na melhor das hipóteses, receberão serviços
reeducativos, e m seu próprio f a v o r .
A morte seria u m monstro terrível se conso-
lidasse as algemas terrestres naqueles que tolera-
53 ram heroicamente a tirania e o egoísmo de outrem.
A l é m de seus muros de sombra, há castelos subli-
mes para os que amaram c o m alma e entesouraram,
Preparação familiar c o m o sentimento mais puro, o ideal e a esperança
numa vida melhor, e há também precipícios escuros,
p o r onde descem os revoltados, em desespero, p o r
O problema familiar, p o r mais que nos des- não poderem oprimir e martirizar, por mais tempo,
preocupemos dele, buscando fugir à responsabili- os corações devotados e sensíveis, de que se rodea-
dade direta, constituirá sempre uma das questões v a m na T e r r a .
fundamentais da felicidade humana. Feita a ressalva, alusiva aos princípios de afi-
E um erro tremendo supor que a morte apaga nidades que regem a sociedade espiritual, recorde-
as recordações, à maneira da esponja que absorve mos a missão educativa que o mundo confere ao
o vinagre, na limpeza do vaso culinário. Certamen- coração dos pais, em nome de D e u s .
te, os laços menos dignos terminam na sombra do Constituiria ato casual da Natureza a reunião
sepulcro, quando suportados valorosamente, e en- de duas criaturas, convertidas em pai e mãe de di-
carados c o m o sacrifício purificador, na existência versos seres? Mera eventualidade o erguimento de
material. Noventa per cento, talvez, dos matrimô- um berço enfeitado de flores?
nios, infelizes pela ausência de afinidade espiritual, Diz a Medicina que o f a t o se resume a simples
extinguem-se com a morte, que liberta naturalmen- acontecimento biológico, o estatuto político relacio-
t e as vítimas dos grilhões e dos algozes. O E v a n - na mais u m habitante a enriquecer o povoamento
gelho de Jesus ensina entre os vivos que Deus não do solo e a Teologia sustenta que o Criador acaba
é Deus de mortos, e os que perderam a indumentá- de formar outra alma, destinada ao teatro da vida,
ria carnal, sentindo-se mais vivos que nunca, acres- enquanto a instituição doméstica celebra a ocorrên-
centam que Deus não é Deus de condenados. Que cia c o m desvairada alegria, muito bela sem dúvida,
os Otelos da Terra se previnam, em suas relações mas vizinha da irreflexão e da irresponsabilidade.
c o m as Desdêmonas virtuosas do mundo, porque, B razoável que os pais sintam emoções verdadeira-
além do cadáver, não poderão apunhalar as esposas mente sublimes e acolham o rebento de seu amor
livres da carne, e as mulheres ciumentas, desgre- com indefiníveis transportes de júbilo. Todavia, é
nhadas dentro da noite, a gritarem blasfêmias in- necessário acrescentar que a galinha e a leoa fazem
o mesmo. Certas aves do sul da Europa chegam a dereçar aos companheiros encarnados as seguintes
roubar pequeninas jóias de damas ricas, a f i m de ponderações:
adornarem o ninho venturoso pela chegada dos fi-
— Bem-aventurados os pais pobres de dinheiro
lhotinhos. Por esse motivo, no círculo da Humani-
ou renome, que não tolhem a iniciativa própria dos
dade, é preciso instituir serviços eficientes contra
filhos, nos caminhos da edificação terrestre! A t r a -
o carinho inoportuno e esterilizante.
vés do trabalho áspero e duro, de decepções e di-
Os filhos não são almas criadas no instante do ficuldades, ensinam aos rebentos de seu lar que são
nascimento, conforme as velhas afirmativas do sa- irmãos dos batalhadores anônimos do mundo, dos
cerdocio organizado. São companheiros espirituais humildes, dos calejados, construindo-lhes a ventura
de lutas antigas, a quem pagamos débitos sagrados em bases sólidas e formando-lhes o coração na fé e
ou de quem recebemos alegrias puras, por créditos no trabalho, antes que venham a perverter o cé-
de outro t e m p o . O instituto da família é cadinho rebro c o m vaidades e fantasias! Esses, sim, podem
sublime de purificação e o esquecimento dessa ver- abandonar a Terra, tranquilamente, quando a morte
dade custa-nos alto preço na vida espiritual. lhes cerrar as pálpebras cansadas. . . Mas, infor-
É lamentável nosso estado dalma, quando vol- tunados serão todos os pais ricos de bagagens mun-
tamos à vida livre, de coração escravizado ao cam- danas, que desfiguram a alma dos filhos, impondo-
po inferior do mundo, em virtude do olvido de nos- -Ihes mentirosa superioridade pelos artificialismos
sas obrigações paternais. E m vão, tentaremos en- da instrução paga, carregando-lhes a mente de con-
sinar tardiamente as lições da realidade legítima; cepções prejudiciais, acerca do mundo e da vida,
debalde nos abeiraremos dos corações amados, para pelo exercício condenável de uma ternura falsa!
recordar a eternidade da vida. Semelhantes impul- Esses, esperem pelas contas escabrosas, porque, de
sos se verificam fora da ocasião desejável, porque fato, tentaram enganar a Deus, distanciando-lhe os
a fantasia j á solidificou a sua obra e a ilusão m o - filhos da verdade e da luz d i v i n a . . . Depois da mor-
dificou a paisagem natural do caminho. Não va- te do corpo, sentirão a dor de se verem esquecidos
lem mais o pranto e a lamentação. É indispensável no dia imediato ao dos funerais de seus despojos,
aguardar o tempo da misericórdia, j á que menos- acompanhando, em vão, como mendigos de amor,
prezamos o tempo do serviço! os filhos interessados na partilha dos bens, a reve-
larem atitudes cruéis de egoísmo e ambição!
Precatem-se, pois, os pais e mães terrestres,
para que não se percam, envenenando o coração Com estas palavras de um amigo, finalizo mi-
dos filhos, à distância do dever e do trabalho. A n i - nhas despretensiosas considerações sobre as respon-
quilem o egoísmo afetuoso que os cega, se não que- sabilidades domésticas, mas duvido que existam pai
rem cavar o abismo f u t u r o ! . . . e filhos na carne com bastante sensatez para nelas
acreditarem.
Enquanto escrevo, ouço um amigo, j á arreba-
tado igualmente da vida humana, que m e pede en- IRMÃO X
54 55

Santa maternidade Papai rico

Recordo, castelã!... O narciso trescala Conheci Cantídio Pereira em pleno fastígio


Do teu colo a fulgir de jóias soberanas... econômico. Duas fazendas na gleba fluminense e
Alguém morre na f e s t a . . . E, soberba, te ufanas grande conjunto residencial em formosa praia do
Do jovem que impeliste ao suicídio na sala. R i o . Gostava de carros e viagens, diversões e ape-
ritivos. Era, em suma, cavalheiro elegante e bem
posto, relacionando anedotas finas em cada con-
Tempos correram, presto... Entre humildes choupanas, versação .
Trazes agora ao peito um filhinho sem fala,
N ã o abraçava o grande amigo, desde muito
Mutilado ao nascer, flor que se despetala,
tempo, quando fui reencontrá-lo, justamente ali, em
No trato de aflição da prova em que te f a n a s . . .
velha casa consagrada a problemas e assuntos de
reencarnação.
Restauras, padecente, a vítima de outrora, Recolhi-o, de encontro a o peito, c o m a felici-
Ontem, transviada e ré, hoje, mãe que ama e c h o r a ! . . . dade de quem surpreende um irmão em país dife-
Salve a reencarnação, passaporte ao futuro! rente, e passámos a falar n o mesmo idioma de ca-
rinho e recordação.
Ignorando-lhe a mudança, da Terra para a Vida
Mãe, agradece a d o r ! . . . No porvir que vem perto, Espiritual, era natural m e espantasse, não apenas
Brilharás como estrela, ante o filho liberto, por revê-lo em pessoa, mas também a o verificar-
E alcançarás, ditosa, o reino do amor p u r o ! . . . -lhe a aflitiva apresentação.
O antigo "gentleman", que envergava costumes
EPIPHANIO LEITE de puro linho inglês nos repastos do Leme, parecia
desempenhar agora o papel de mendigo. Veste rota, a serem vendidos na feira de antiguidades. Cha-
desajeitada. Amargura, desencanto, t r i s t e z a . . . mados à cena, Eduardo e João, c o m as respectivas
Foi por isso, talvez, que às minhas primeiras esposas, desceram a outras minúcias e, ali mesmo,
indagações veladas respondeu sem r e b u ç o s : n o santuário doméstico, vi lembranças quebradas,
-— Não se admire, meu c a r o . . . Não é a morte vasos atirados pelas janelas, livros queimados e re-
que opera tamanha transformação. Ê a própria tratos destruídos, com a troca abundante de murros
vida que continua. . . e palavrões. O lar, dantes respeitado, fêz-se palco
de luta livre. Chorei e implorei concórdia, mas nin-
— Mas v o c ê . . .
guém me sentiu a presença. Na noite desse mesmo
— N ã o faça perguntas — falou bem humora- dia, meus genros procuraram meus filhos, c o m pe-
do — , explicarei. . . sadas reclamações. Afirmando-se injuriados, exi-
E prosseguiu: giam adiantamento sobre a herança. Surpreendidos
— V o c ê provavelmente ainda não sabe que por ameaças, na solidão do extenso gabinete que
voltei da Terra, há dois anos. Tempo bastante para m e f o r a refúgio, meus rapazes assinaram cheques
renovar-me em todas as dimensões, apesar de ter vultosos, tomados de ódio silencioso. N o dia ime-
vivido p o r lá mais de setenta. Imagine que meus diato, um dos genros comprou carro de luxo, ini-
quatro filhos eram meus quatro amores. V i ú v o des- ciando-se em bebedeiras, enquanto o outro dava
de a mocidade, concentrei neles a própria v i d a . curso à recalcada predileção pelas corridas, adqui-
João e Eduardo, Linda e Eunice resumiam meus rindo cavalos de grande f a m a . Linda e Eunice re-
sonhos. Casados, continuaram a ser minha doce clamaram em v ã o . Totalmente alterados pelo di-
alegria. A l é m disso, povoaram-me a velhice com nheiro fácil, ambos desgarraram para o v í c i o . Minhas
quatro netos, que eram para mim claros j o r r o s de filhas passaram a conhecer dificuldades que nunca
s o l . Julguei que a morte n ã o nos distanciasse uns viram. Linda, mais sensível, adoeceu, e, porque m o s -
dos outros; entretanto, meu amigo, tão logo cerrei trasse profundo desequilíbrio nervoso, foi recolhida
os olhos, a paixão do dinheiro endoideceu minha a uma casa de alienados mentais. Eunice enlou-
gente. Tudo começou, ao pé das orações que fize- queceu de outro m o d o . . . Acompanhando o marido
ram de boca, p o r intenção de minha felicidade, n o para fiscalizar-lhe as noitadas alegres, aderiu aos
sétimo dia depois da grande separação. Conduzido prazeres noturnos, caindo em conflitos sentimentais
por mãos amigas ao templo religioso em que se de que somente se livrará Deus sabe quando. . .
ajuntavam, observei, assombrado, que filhos e f i - João e Eduardo, a princípio unidos pelo interesse,
lhas, noras e genros se entreolhavam c o m inespe- acabaram desavindos. . . Disputaram a posse das
rada desconfiança. E m seguida às preces, Linda e vacas, praguejando entre s i . . . Depois, divergiram
Eunice começaram a rixar em nossa casa, pela quanto à escolha das terras, em seguida venderam-
posse de alguns pratos de porcelana chinesa, não -me as casas, desvastando-me os bens, assumindo a
pelo valor afetivo que assinalavam, mas pelo preço posição de inimigos f e r o z e s . . . D e bolsos recheados,
esqueceram as obrigações de família e puseram-se, as mãos postas em sinal de agradecimento e gritou,
desorientados, no tropel da a v e n t u r a . . . A s noras feliz:
igualmente, acreditando mais no dinheiro que no — Obrigado! O b r i g a d o ! . . . Renascer no Morro
trabalho, descambaram para mentiras douradas, dos Cabritos, c o m pouca memória, é muita felici-
apodrecendo em preguiça, e os meus pobres netos dade! . . .
são h o j e meninos infelizes. . . Os dois menores es- E concluiu, transtornado de j ú b i l o :
tão viciados em gotas entorpecentes e os dois maio- — Bendito seja D e u s !
res em flagelo de lambreta. . .
De expressão desenxabida, Pereira ajuntou: IRMÃO X
— Nunca recebi dos meus o favor de uma prece
realmente sincera, nem o socorro de um só pensa-
mento de gratidão. . . N o fundo, colhi o que se-
meei . . . A c i m a da riqueza amoedada, deveria c o -
locar o trabalho e a educação, a fraternidade e a
beneficência. . . A g o r a , é preciso voltar à Terra,
começar tudo de novo e olvidar a minha tragédia
de papai r i c o . . .
Nesse ínterim, o dirigente da instituição cha-
mou por ele e pude ouvir o instrutor dizer-lhe, g r a v e :
— Seu pedido de reencarnação, por enquanto,
não tem fundamento. . . V o c ê tem créditos para re-
pousar e preparar-se, p o r mais quarenta a cinquen-
ta anos, junto de n ó s . . .
— Entretanto — falou Cantídio — , tenho pres-
s a . . . Aspiro a novo corpo de carne, a agir e a es-
quecer . . .
— Bem — aduziu o diretor — , para o momen-
to, s ó dispomos de recurso difícil. Só existe uma
oportunidade, já, j á . . . O irmão poderá reencarnar
na região do R i o de Janeiro, m a s . . . não na beleza
e na glória da grande cidade que tanto amamos,
mas, sim, entre os filhos de um casal de idiotas, no
antigo Morro dos Cabritos. . .
Cantídio, no entanto, longe de aborrecer-se, pôs
56
57
Meu filho
Crianças doentes
Pilho meu de outro tempo, armei-te de ouro e lança,
Exortei-te a sonhar: «ama, constrói, ensina!...»
E transformaste o mando em presença assassina; Acalentas nos braços o filhinho robusto que o
Vejo-te a trilha em fogo onde a memória alcança. lar te trouxe e, c o m razão, t e orgulhas dessa pérola
v i v a . Os dedos lembram flores desabrochando, os
olhos trazem fulgurações dos astros, os cabelos re-
Quis ver-te reencarnado... O amor jamais descansa. cordam estrigas de luz e a boca assemelha-se a con-
E achei-te — águia enjaulada em gaiola mofina — cha nacarada, em que os teus beijos de ternura
Cego e mudo a esmolar e a gemer em surdina. desfalecem de amor.
Trazes luto no peito e chagas na lembrança!... Guarda-o, de encontro a o peito, p o r tesouro
celeste, mas estende compassivas mãos aos peque-
ninos enfermos que chegam à Terra c o m o lírios
Chorei ao reencontrar-te em provações supremas... contundidos pelo granizo d o sofrimento.
Louvo, entanto, meu filho, as ríspidas algemas Para muitos deles, o dia claro inda vem muito
Da dor a nos zurzir, ao redor de teus p a s s o s ! . . . longe...
São aves cegas que n ã o conhecem o próprio
ninho, pássaros mutilados esmolando socorro em
O pranto lavará nossas culpas longevas, recantos sombrios da floresta do m u n d o ! . . . Ã s
E, um dia, subirás da humilhação nas trevas vezes, parecem anjos pregados na cruz de u m corpo
Para a glória da luz na concha dos meus braços. paralítico ou mostram no olhar a profunda tris-
teza da mente anuviada de densas trevas.
H á quem diga que devem ser exterminados
EPIPHANIO LEITE
para que os homens não se inquietem; contudo,
Deus, que é a Bondade Perfeita, no-los confia hoje,
para que a vida, amanhã, se levante mais bela.
Diante, pois, do teu filhinho quinhoado de re-
conforto, pensa n e l e s ! . . . São nossos outros filhos
d o coração, que volvem das existências passadas,
mendigando entendimento e carinho, a fim de que
se desfaçam dos débitos contraídos consigo mes-
mos . . .
Entretanto, não lhes aguardes rogativas de 58
compaixão, de vez que, p o r agora, sabem t ã o s o -
mente padecer e c h o r a r .
Enternece-te e auxilia-os, quanto p o s s a s ! . . . O irmãozinho
E, cada vez que lhes ofertes a h o r a de assis-
tência ou a migalha de serviço, o leito agasalhante
ou a lata de leite, a peça de roupa ou a carícia d o Quando nasceu Antoninho,
talco, perceberás que o júbilo do B e m E t e r n o t e Disse vovó, c o m carinho:
envolve a alma no perfume da gratidão e na m e -
lodia da bênção.
— Nesta adorável criança,
Temos mais uma esperança
MEIME1
Ganhamos u m n o v o amigo
Que procura nosso a b r i g o .

Ê um Espírito que vem


Buscar a verdade e o b e m ;

Crescerá, junto de nós,


Terá força, terá v o z . . .

A g o r a , é um bebê risonho,
N o berço feito de s o n h o ;

Amanhã, que se comporte,


Será homem nobre e f o r t e .
mom]
146 LUZ NO LAR

Seu coração está cheio ;


Da grande luz de onde veio.

Ele volta ao nosso nível


Da imensa esfera invisível,

Procurando amor e luz 59


Para servir a Jesus.

Em seguida, vovôzinha Pais e filhos


Beijou-lhe a face branquinha,

E falou, findo o intervalo: Nas vésperas da reencarnação, sou impelido a


— Deus nos ajude a guardá-lo. falar-vos de minha bancarrota espiritual!...
Instrutores e guardiães recomendam-me des-
JOÃO DE DEUS tacar a importância do ouvido...
Conseguiria, no entanto, ensinar alguma coisa?
Devo compreender a razão dessa ordem.
Nada possuo de bom para dar; contudo, as vi-
timas da calúnia conseguem reter o doloroso privi-
légio de exibir a própria falência!...
Ó Deus de Amor, dai-me forças para confessar
a verdade, apenas a verdade!...
Pedreiro modesto, órfão de mãe desde a meni-
nice, casei-me por amor, embora contra os desig-
nios de meus irmãos, que me reservavam noiva
CDA Sa
diferente. Garantindo-me a escolha, porém, estava
nosso pai a meu lado — o abnegado pai que ama-
durecera o raciocínio nas dificuldades do mundo
e iluminara o coração no conhecimento do Espiri-
tismo. Carinhoso, assegurou-me o enlace, aprovou-
-me as decisões e intentou preparar-me, diante da
vida, dispensando-me ensinamentos que eu simu-
lava aceitar, de modo a lhe não perder a compla-
cência e a ternura...
148 LUZ NO LAR LUZ NO LAR 149

Seis anos passaram, sem que a hostilidade fa- -— E os pequeninos? Terão eles a culpa de nos-
miliar contra minha mulher esmorecesse, seis anos sas perturbações?
de maledicência na base da perseguição cordial... — Recorramos a prece, meu filho!... A prece
Alice, a companheira inexperiente, proporcio- nos clareará o caminho...
nara-me dois filhos queridos, quando se engravidou Silenciava, ao recolher-lhe as advertências, em
pela terceira vez. face da veneração que lhe tributava, mas, no ínti-
Nessa época, o veneno já me corroera a con- mo, articulava minhas respostas imanifestas: “ora-
fiança. rei pela boca do revólver”, “pobre pai”, “bobo de
Apontava-se amigo nosso de infância como sen- velho com setenta e seis anos”, “cabeça tonta”, “ca-
do o responsável pelos supostos desacertos daquela duco”, “fanático”
que a Providência Divina me colocara nas mãos por E, noite a noite, espreitava, de longe, os mo-
esposaleal. vimentos de Alice, à feição da serpente vigiando
Circunstâncias provocadas pelos que mostra- a furna de que aparentemente desertara.
vam interesse em nossa desunião, falsos testemu- Duas semanas decorreram, normais, quando go-
nhos, bilhetes anônimos e difamações fantasiadas breveio o momento em que lobriguei o vulto de um
de bons conselhos acabaram por arruinar-me. homem, que saía de nossa casa.
Discutimos. Seria o rival...
Guardei segredo e prossegui na tocaia.
Acusei-a, defendeu-se. Chorou, escarneci..
Mais quatro dias e o mesmo homem chegou
E, para fiscalizar-lhe a conduta, transferi-me de carro, despediu-se do motorista e entrou...
para a casa paterna, ameaçando tomar-lhe as crian- Puxei o relógio. Onze horas e quinze minutos.
cas, através do desquite. Para isso, porém, queria Noite quente.
provas, tinha fome de confirmações do inexistente. Prevenido, acerquei-me da moradia, que se lo-
Meu pai surgia conciliador: calizava em subúrbio remoto.
— Meu filho, paternidade é compromisso pe- Encontraram-se os dois com mostras de inti-
rante Deus... midade e, a distância, notei que se acomodavam
— Você não tem direito de proceder assim.. num banco de pedra do pátio lateral, que a sombra
— Onde a caridade para com a esposa in- envolvia. Conversavam sugerindo carinho mútuo.
gênua?.. Enxergava-lhes o perfil, mergulhado em penumbra,
— Mesmo que ela errasse, constituiria isso conquanto não lhes ouvisse as palavras, e estudei,
motivo para uma sentença de abandono implacável? friamente, a posição que ocupavam na peça estreita.
— Flá comportamentos ditados por des Desvairado, consultei o portão de entrada, ve-
brios espirituais que não conhecemos na origem.. rificando-o semiaberto. Acesso fácil.
— Pense nas tragédias da obsessão que cam- Com a sagacidade de um felino, avancei, des-
pelam no mundo... carregando a arma nos dois.
150 LUZ NO LAR

Ouvi gritos, mas ocultei-me na vizinhança, para

Ea
fugir em seguida, a sentir-me vingado.
Não vacilaria arrostar a polícia, se necessário.

a
Tentando refrigerar a cabeça, procurei descan-
sar algumas horas em praia deserta. Intreguei O
revólver à lama de esgoto esquecido e voltei a casa
para saber, aterrado, que eu não apenas assassinara 60
minha esposa, mas também meu abnegado pai que
a socorria...
Não acreditei. O culto cristão no lar
Corri ao necrotério e, ao reconhecê-los, tornei
ao lar, atormentado pelo remorso, e enforquei-me,
sem dar outra impressão que não fôsse a de um Povoara-se o firmamento de estrelas, dentro da
homem que a dor fizera delirar, atirando-o ao sui- noite prateada de luar, quando o Senhor, instalado
cídio... provisoriamente em casa de Pedro, tomou og Sa-
Elxilado por minha própria crueldade, em vales grados Escritos e, como se quisesse imprimir novo
tenebrosos, nunca mais vi os que amo... rumo à conversação que se fizera improdutiva e
Entendereis o que sofro? menos edificante, falou com bondade:
Quantos anos passaram sobre os meus crimes? — Simão, que faz o pescador quando se dirige
Não sei... Os que choram sem o controle do tempo para o mercado com os frutos de cada dia?
não sabem contar as horas... O apóstolo pensou alguns momentos e respon-
Misericórdia, meu Deus!... deu, hesitante:
Dai-me a reencarnação, os empeços da Terra, — Mestre, naturalmente escolhemos os peixes
a luta, a provação e o esquecimento, mas ainda que melhores. Ninguém compra os resíduos da pesca.
eu padeça humilhação e surdez, durante séculos, Jesus sorriu e perguntou, de novo:
permiti, Senhor, que eu aprenda a escutar!...
— E o oleiro? que faz para atender à tarefa
a que se propõe?
JOÃO
— Certamente, Senhor — redarguiu o pesca-
dor, intrigado —, modela o barro, imprimindo-lhe
a forma que deseja.
O Amigo Celeste, de olhar compassivo e ful-
CMDCA gurante, insistiu:
— E como procede o carpinteiro para alcançar
o trabalho que pretende?
152 LUZ NO LAR
LUZ NO LAR 153

O interlocutor, muito simples, informou sem dão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e
vacilar: dos animais.
— Lavraráã a madeira, usará a enxó e o serro- Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes.
te, o martelo e o formão. De outro modo, não aper- e lúcidos e, como não encontrasse palavras adequa-
feiçoará a peça bruta. das para explicar-se, murmurou, tímido:
Calou-se Jesus, por alguns instantes, e aduziu: — Mestre, seja feito como desejas.
— Assim, também, é o lar diante do mundo.
Então Jesus, convidando os familiares do após-
tolo à palestra edificante e à meditação elevada,
O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro
desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na
templo da alma. A casa do homem é a legítima

-
Terra, o primeiro culto cristão do lar.
exportadora de caracteres para a vida comum. Se
o negociante seleciona a mercadoria, se o marce-
neiro não consegue fazer um barco sem afeiçoar a NEIO LÓCIO
madeira aos seus propósitos, como esperar uma co-
munidade segura e tranquila sem que o lar se aper-
feiçoe? A paz do mundo começa sob as telhas a
que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em
paz, entre quatro paredes, como aguardar a har-
monia das nações? Se nos não habituamos a amar
o irmão mais próximo, associado à nossa luta de
cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos pa-
rece distante?
Jesus relanceou o olhar pela sala modesta, fêz
pequeno intervalo e continuou:
— Pedro, acendamos aqui, em torno de quan- CMDCA
tos nos procuram a assistência fraterna, uma cla-
ridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu
pão. Nela, recebes do Senhor o alimento para cada
dia. Porque não instalar, ao redor dela, a semen-
teira da felicidade e da paz na conversação e no
pensamento? O Pai, que nos dá o trigo para o ce-
leiro, através do solo, envia-nos a luz através do
“eu. Se a claridade é a expansão dos raios que
a constituem, a fartura começa no grão. Em razão
disso, o Evangelho não foi iniciado sobre a multi-
LUZ NO LAR 155

— Não oro mais...


— Porque não morri, na hora do nascimento?
— De todas as mulheres, sou a mais infeliz...
Alimentando a. ira por vício, estimava que os
outros me acreditassem enferma, sem perceber que
me transformava, a pouco e pouco, em fera huma-
na, sob a jaula da pele.
61 Se meu esposo, leal e amigo, surgia calmo, es-
bravejava contra ele, acusando-o de inerte; se pon-
derava quanto a despesas desnecessárias, chamava-
Confissão materna -lhe, de imediato, unha-de-fome; se me estendia
alguma dádiva menos cara, interpretava-lhe a gen-
Sou trazida a narrar-vos triste episódio de mi- tileza por sovinice; se me ofertava uma lembrança
nha derradeira experiência no mundo. de preço, queixava-me da mesma forma, gritando-
Onde, porém, as palavras que me possam exX- “lhe em rosto que ele nunes passara de um mané
primir a desolação? Coin gastador...
Ainda assim, amigos espirit uais asseveram que Foi nessa disposição insensata que me ergui,
devo falar às mães, e obedeço... j excitada, no dia terrível da provação.
A Provid ência Divina honrou -me o coração ,
As sete da manhã, acordei meu filhinho de
concedendo-me um lar na Terra, mas, dentro dele, oito anos para as lides da escola e escutei-o a
era eu a irritação em movimento. choramingar:
Nunca cheguei a examinar minha, cegueira de — Estou doente, mãezinha, hoje quero ficar
espírito. Em minha inquietação e egoísmo, dedi- com a senhora, não posso sair, tenho dor de ca-
cava-me a descobrir as faltas alheias. Respirando, beça...
entre a maledicência e a desconfiança, notava gal- Precipitada, frenética, não me contive e bradei:
pes nos mínimos gestos de amizade espontânea. — Preguiçoso! Trate de levantar-se! Doente
O próprio tempo não escapava. Toda tempe- com essa cara! Era só o que faltava... Chega o
ratura, no curso de cada dia, me encontrava des- que sofro!...
pejando condenação: — Mãezinha, deixe que eu fique! Hoje só...
-— A chuva ensopa... — Levante-se, levante-se, menino!
— O calor asfixia... Transtornada, sentei-o à força.
— Vento de peste... Ordenei-lhe que se calçasse, ao que se opôs, pe-
-— Melhor que o frio nos mate a todos... dindo, suplicante:
Qualquer bagatela me arrancava blasfêmias: — Mamãe, não me deixe ir!... Hoje só...
— Deus não me atende!... Encolerizada, tomei de um dos seus sapatos,
LUZ NO LAR 157
156 LUZ NO LAR

tenho recolhido o consolo de vários círculos consa-


colocando-o no pé, com a violência de quem espan- grados à prece.
ca, e ouvi-o clamar em altos gemidos: - Dizem que os supostos mortos devem falar às
— Ai! ai, mãezinha!... um espinho, um es- criaturas em aprendizado na Terra, para que as
pinho!... criaturas da Terra lhes aproveitem o aprendizado.
Sujeitei-o, com mais energia, ao calçado, ale- Será talvez por isso que, hoje, algo reanimada para
gando, arbitrária: abraçar o trabalho reeducativo que me espera, es-
— Malandro, não me venha com mentiras! tou sustentada por benfeitores, entre os vossos ou-
Escola ou surra!... vidos, nao somente para rogar-vos um pensamento
Nisso, porém, meu filhinho empalideceu e des- de auxílio, mas também para repetir às irmãs, a
maiou... Retirei o sapato e vi que um escorpião, quem Deus confiou as alegrias do lar:
escondido no fundo, lhe descarregara todo o ve- — Mães que pisais no mundo, compadecei-vos
neno... deavossos filhos!... Corrigi, amando! Ensinai, ser-
Ó Deus de Infinita Bondade, tu que foste imen- pps
vindo! À frente de qualquer dificu ldade, conservai
samente piedoso para confiar um anjo a uma leoa, a paciência e cultivai a oração!...
porque não climinaste a leoa para que o anjo con-
seguisse viver?.... DULCE
O que se passou, alcança o indescritível.
Apesar de toda a medicação, em breve tempo
minha ternura, que a dor desentranhara ao reben-
tar-me o coração de pedra, apertava simplesmente
um cadáver miúdo, de encontro ao peito...
As horas no relógio continuaram as mesmas;
entretanto, de minha parte, não mais me reconheci.
“Ai! ai, mãezinha!... um espinho, um espi-
nho!...” Aquelas palavras gemidas cresceram em
minha alma. Jamais o equilíbrio, não mais a espe-
rança. Minha cabeca encaneceu, meu pensamento
destrambelhou... Chorei até que meus olhos pa-
rassem, alucinados, na noite da loucura; acusei-me,
até que o manicômio me asilasse e até que o mani-
cômio me escondesse, piedoso, o agoniado transe
da morte!...
Desencarnada, encontrei a mim própria, de-
mentada, atormentada, arrependida, padecente...
Amparada por benditos mensageiros da caridade,
LUZ NO LAR 159

Recebe a refeição por bênção divina.


Usa portas e janelas, sem estrondos brutais.
Não movas objetos, de arranco.
Foge à gritaria inconveniente.
Atende ao culto da gentileza.
Há quem diga que o lar é o ponto de desabafo,
62 o lugar em que a pessoa se desoprime, Reconhe-
cemos que sim; entretanto, isso não é razão para
que ele se torne em praça onde a criatura se ani-
Paz em casa malize.
| Pacifiquemos nossa área individual para que
a àrea dos outros se pacifique.
“Em qualquer casa onde entrardes, dizei antes: |. Todos anelamos a paz do mundo; no entanto,
“paz seja nesta casa”.” : imperioso não esquecer que a paz do mundo parte
(LUCAS, 10:5.) e nós.

EMMANUEL
Compras na Terra o pão e a vestimenta, o cal-
cado e o remédio, menos a paz.
Dar-te-ã o dinheiro residência e conforto, com
exceção da tranquilidade de espírito.
Eis porque nos recomenda Jesus venhamos à
dizer, antes de tudo, ao entrarmos numa casa; “Daz
seja nesta casa.”
A lição exprime vigoroso apelo à tolerância
e ao entendimento.
No limiar do ninho doméstico, unge-te de com- CCO
preensão e de paciência, a fim de que não penetres
o clima dos teus, à feição de inimigo familiar.
Se alguém está fora do caminho desejável ou
se te desgostam arranjos caseiros, mobiliza a bomn-
dade e a cooperação para que o mal se reduza.
Se problemas te preocupam ou apontamentos
te humilham, cala os próprios aborrecimentos, Ji-
mitando as inquietações.
LUZ NO LAR 161

Embora desarmados, controlam-te os senti-


mentos.
- Não obstante dependerem de ti, alteram-te as
decisões com simples olhar.
De (doces hnhumes do carinho, passam, com o
tempo, à condição de examinadores constantes de
tua estrada.
63 Governam-te os impulsos, fiscalizam-te os ges-
tos, observam-te as companhias e exigem-te as
horas.
Credores no lar Reaprendem na escola do mundo com o teu
amparo ; todavia, à medida que se desenvolvem no
conhecimento superior, transformam-se em inspe-
tores intransigentes do teu grau de instrução.
No devotamento dos pais, todos os filhos são Muitas vezes choras e sofres, tentando adivi-
jóias de luz; entretanto, para que compreendas cer- nhar-lhes os pensamentos para que te percebam os
tos antagonismos que te afligem no lar, é preciso
testemunhos de amor.
saibas que, entre os filhos-companheiros que te Calas os próprios sonhos, para que os sonhos
apóiam a alma, surgem os filhos-credores, alcan-
deles se realizem.
cando-te a vida, por instrutores de feição diferente.
Apagas-te, a pouco e pouco, para que julguem
Subtraindo-te aos choques de caráter negati- em teu lugar.
vo, no reencontro, preceitua a eterna bondade da Recebes todas as dores que te impõem à alma,
Justiça Divina que a reencarnação funcione, recon- com sorrisos nos lábios, conquanto te amarfanhem
duzindo-os à tua presença, através do berço. É por o coração.
isso que, a princípio, não ombreiam contigo, em
E nuncapossuis o bastante para abrilhantar-
casa, como de igual para igual, porquanto reapa- -lhes a existência, de vez que tudo lhes dás de ti
recem humildes e pequeninos.
mesmo, sem faturas de serviço e sem notas de pa-
Chegam frágeis e emudecidos, para que lhes gamento.
ensines a palavra de apaziguamento e brandura.
Não te rogam a liquidação de débitos, na inti- x
midade do gabinete, e, sim, procuram-te o colo para
nova fase de entendimento. ns Quando te vejas, diante de filhos crescidos e
Respiram-te o hálito e escoram-se em tuas lúcidos, erguidos à condição de dolorosos. proble-
mãos, instalando-se em teus passos, para a trans- mas do espírito, recorda que são eles credores do
figuração do próprio destino. passado a te pedirem o resgate de velhas contas.
162 LUZ NO LAR

Busca auxiliá-los e sustentá-los com abnegação


e ternura, ainda que isso te custe todos os sacrift-
cios, porque, no justo instante em que a consciência
te afirme tudo haveres efetuado para enriquecê-los
de educação e trabalho, dignidade e alegria, terás
conquistado, em silêncio, o luminoso certificado de
tua própria libertação. 64
EMMANUEL
Compaixão em família

“Mas se alguém não tem cuidado dos seus e,


principalmente, dos da sua família, negou a fé”...
— Paulo.

(I TIMÓTEO, 5:8.)

São muitos assim.


Descarregam primorosa mensagem nas assem-
bleias, exortando o povo à compaixão; bordam con-
ceitos e citações, a fim de que a brandura seja
lembrada; entretanto, no instituto doméstico, são
CMDCA)
carrascos de sorriso na boca.
Traçam páginas de subido valor, em hora da
virtude, comovendo multidões; mas não gravam a
mínima gentileza nos corações que os cercam entre
ass paredes familiares.
Promovem subscrições de auxílio público, em
socorro das vítimas de calamidades ocorridas em
outros continentes, transformando-se em titulares
da grande henemerência; contudo, negam simples
olhar de carinho ao servidor que lhes põe a mesa.
Incitam a comunidade aos rasgos de heroísmo
econômico, no levantamento de albergues e hospi-
164 LUZ NO LAR

tais, disputando créditos publicitários em torno do


próprio nome; entretanto, não hesitam exportar,
no rumo do asilo, o avô menos feliz que a provação
expõe à caducidade. .
Não seremos nós quem lhes vá censurar se-
melhante procedimento. . j
Toda migalha de amor está registada na Lei,
em favor de quem a emite.
Mais vale fazer bem aos que vivem longe, que 65
não fazer bem algum.
Ajudemos, sim, ajudemos aos outros, quanto
nos seja possível; entretanto, sejamos bons para Mãe, Deus te abençoe!...
com aqueles que respiram em nosso hálito. Deve-
dores de muitos séculos, temos em casa, no traba-
lho, no caminho, no ideal ou na parentela, as nos- Quero, Mãezinha, agradecer-te, em festa, por
sas principais testemunhas de quitação. tudo o que me dás ao coração, entretecer-te uma
canção modesta, mas todo esforço é vão...
EMMANUEL Se pudesse dizer a gratidão que sinto por teu
santo carinho protetor, precisaria conhecer na es-
sência toda a glória do amor.
Tens o segredo da Bondade Eterna, Deus me
acena e sorri por tua face... Não há sábio no mun-
do que defina o Sol quando aparece, o lírio quando
nasce!...
Falar de ti, mostrar-te? Isso seria como ex-
plicar da Terra, olhando a Altura, a doce mara-
vilha de uma estrela a guiar o viajor em noite
escura.
Converto em prece o reconhecimento, que de
meu peito humilde se extravasa, rogando ao Céu
te envolva em rosas de ventura, anjo sustentador
de nossa casa!...
Deus te guarde, Mãezinha, pelo berço, descui-
dado e risonho, em que me acalentaste para a vida,
como flor de teu sonho.
166 LUZ NO LAR Francisco Cândido Xavier

FONTE VIVA
Deus te engrandeça pelos sacrifícios e pelos
sofrimentos que te impus, quando em pranto es- Este é o quarto livro da magnífica Série ditada
condido te arrasavas para ser minha luz. [ pelo Espírito de Emmanuel.
Deus te compense pelas noites tristes de afli- Em pequenos capítulos são luminosamente comen-
tados 180 versículos do Novo Testamento, sobressaindo
ção que te dei, pelo perdão de tantas vezes, tan-
em todas as páginas a profundeza dos conceitos e a
tas!... Quantas foram, não sei... leveza do estilo.
Deus te enalteca a fonte de ternura, que nunca E” obra que nos ensina a praticar a doutrina cristã.
se enodoa e nem se cansa, pelo cuidado com que me
restauras, ante o dom do trabalho e a força da es-
perança!
Perdoa se te oferto unicamente, na minha de-
Vinícius
voção de todo dia, o meu ramo de flores orvalhadas
nas lágrimas que choro de alegria! NAS PEGADAS DO MESTRE
Com júbilos divinos, Mãe querida, que a Ce-
leste Bondade te coroe!... Por tudo o que nos dás Vinícius, o venerando escritor de tantas obras
evangélicas, dedica, aos que trilham o Mundo de pro-
nos caminhos da vida, Deus te exalte e abençoe!...
vas e reparações, belíssimas páginas de conforto e paz,
ricas de grande justeza e saber, permitindo ao pen-
MARIA DOLORES samento humano mais largos voos em direção da ver-
dadeira Felicidade,

Antônio Lima

VIDA DE JESUS
E" a apresentação do Wilho de Maria à luz da Ter-
FIM ceira Revelação,
O dustrado Autor analisa as ideias dos mais fa-
monmos escritores o exegotas que se esforçaram por
Intorprotar a figura fmpar de Jesus, e após um estu-
do dam Religiões antigas, do Velho Testamento e dos
lovangelhos, penetra, com bons argumentos, no ponto
fundamental do livro, ou seja, a personalidade do
Enviado de Dous,
.

muda VA Ê
D
D
DDPAP
E

AVI
FRANCISCO O,
«REFORMADOR»
RELIGIÃO DX JB
Fundaso em 1.º de Janeiro
da i de 1883, é “Re- ESPÍRITOS

dopinita Hrdsiieida,fusnio
bladão. 5; difere! ia
ais interrompido em sua (2º edição )

O income»
am
Nas pági dessa revista
j mensal, o leitor Emmanuel,
r ev angélico
parável auto
no ente colaboração de estudiosos ge tantas
imas
obras-pr
régio ds as e edificantes mensagens me- mediúnica,
ca literatura
no s neste VOs
ea pe e verso, notícias extras e apresenta- apreclas
ic as
ao E EiRES transcrições, etc., ficando lume magníf
E 3
e co me nt ários em
ções
o a camentos dos livros edita- tância Xê-
torno da subs vro dos
O Li
ligiosa de
cujo tex-
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Fa ae experiência:
iênci assine o “Refor- Espíritos, “em assinala
orme
prove, por si mesmo, o que todos to — conf
manuel —
di zem: é uma das melhores revistas espíritas
do Brasil!
o próprio Em
n Kardec &
fixou Alla
ni çã o da No va Luz”.
de fi
, 91 capi-
são, ao todo
re ce bi do s po r Chi-
tulos ua l nú-
ig
«BRASIL - ESPÍRITA» co Xavier em
õe s pú bl icas
mero de sess
“C om un hã o Espírita
da
io Orgão orientador, noticloso
i e inári eraba, €
cristã”, de Ub
Bia de Juventude da FEB.“Bra ri ad os temas
estudam va
ân cia para
in oi lançado aos 18 de Abril de 1950, de alta import
vi da pr es en te € futu-
ud Eefe papel de primeira, é um jor- a
por exem-
ra, tais como,
o a, instrui, educa e moraliza rt o delituoso”,
plo, “Apo
Ro om agrado por jovens de tod. nt al”, “Ao
“ Atienação me
nh ei ro ”, “Me-
s, solteiros ou casados mi redo r do di
, “SO-
Com ape cruzei : diunidad e e de ve r”
nas alguns eu ta ná sia”,
poderã= o recebê-lo em suas das, a frimento e
mu lh er ante o Ctis-
“A
provação”,
to”, “Oração e
, “p ena de
“Suicídio”
o € amor”,
morte”, “Sex e reen-
Pecam
G informaçõ
ções ou É “Fisquecimento
ão ”, “p lu ralidade
assinaturas, escrevendo oao a carnaç
tados”,
ha bi
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FEDERAÇÃO ESPIRITA BRASILEIRA etc., etc.
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