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GERALDO PIRES DE SOUSA C. SS. R.

AS TRn,s CHAMAS

DO LAR

1. ESPOSA

2. MÃE E EDUCADORA 3. DONA DE CASA

VI EDIÇIIO

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

1958 EDITORA VOZES L TDA., PETROPOLIS, R. J. RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO BELO HORIZONTE
I M P R I M A T U R POR COMISSAO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PE­ TRóPOLIS. FREI DESIDÉRIO KALVER­ KAMP, O. F. M.
PETRóPOLIS, 28-11-1958.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

COM LICENÇA?

À porta de teu lar me apresento, leitora, e peço entrada. Venho trazer, nas páginas dêste livro, mui­tos pensamentos e muitas
idéias, muito confôrto e muito encorajamento para tua vida.
Tua vida! Está repartida em três chamas que iluminam e aquecem: a vida de espôsa, de mãe, de educadora e dona de casa.
Dirás que são os teus calvários. Mas calvários ilu­minados e redentores, quando o coração os transfi­gura. Nas linhas que vais
ler, rezando, para que Deus leia contigo, debruçado sôbre as páginas, procurei reunir vozes que falassem a teu coração de cristã. E' teu
-

coração essa lareira bendita onde se acendem os fachos de todos os ideais.


A linguagem do livro é simples e singela. E', sobre­tudo, cordial. Onde se torna mais severa, é onde jus­tamente isso reclama o
vivo interêsse por tua alma feita para ser feliz, mesmo dentro do lar, com tôdas as cruzes que o enfeitam.
Sai êste livro como preito de gratidão filial. Queria eu pagar à minha mãe tudo quanto fêz e sofreu - nisso se compendia a vida
das mães - por mim. Pensei que, auxiliando e orientando suas irmãs de sa­cramento e maternidade, estaria reconhecendo publi­camente os
méritos seus e das outras.

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Leitora, aceita êste livro com mais êste título para teu coração.
Se alguém divergir de minhas idéias, não me con­ dene por isso. Tome-se o tempo de refletir um pou­co sôbre elas. Nem
sempre as idéias são como flô­res que encantam. As vêzes são como nozes, ásperas, mas só por fora.
Vai também intercalada a encíclica do Santo Pa­dre Pio XI, dirigida aos casados. Na maioria dos ca­sos forma uma conclusão ao capítulo que
a precede. Na Terceira Parte, extraídos do livro do P. Be­thléem e livremente citados, seguem-se alguns trechos utilíssimos para a educ.adora.
V árias assuntos de importância não puderam ser tratados. Pois, resumidos, pouco diriam e, desenvol­vidos, aumentariam por
demais o volume do livro.
Grato serei a quem me expuser suas observações a respeito do que leu nestas páginas.
Destina-se ao amparo das vocações de missioná­rios redentoristas a renda desta publicação. As almas generosas êste motivo
dirá muito, convertendo-as em propagandistas do livro.

São Paulo, 18 de julho (festa da mãe e mártir santa Sinforosa) de 1938.

O Autor.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ESPóSA

1 . CHAMAS DO LAR

Várias são as comparações usadas pelo Sábio para designar a missão e a grandeza da mulher no lar. Dá-lhe o nome de
candelabro de ouro, de coluna, de chama do templo. Tece um hino à mulher forte e não omite a circunstância de andar sempre acesa a sua
candeia. "A sua candeia não se apaga à noite".
Cham.a que orienta, que ilumina, que acalma, que aconchega a si, que vela e velando se consome - tudo isso se entende e se
acha na vida da mulher que é espôsa, mãe e dona de casa.
Várias recompensas são prometidas ao homem jus­to, conforme asseveram os Livros Santos. Entre estas acentuam que figura
a espôsa virtuosa, a mãe solícita, a dona de casa habilidosa. Claramente diz o real pro­feta: O homem justo terá no retiro de sua casa uma
espôsa fértil "como a videira". Terá ao redor de sua mesa - como pimpolhos de oliveira - filhos, muitos e s.adios (SI 127).
Quanto ao título de mãe, parece que o próprio Deus lem ciúmes dêle. Freqüentemente assegura-nos que seu amor aos homens
"é ainda maior do que o amor de uma mãe a seu filho". Garante-nos até o seguinte: Se me ouvirdes, eu me compadecerei de vós mais do que
se compadece uma mãe (Ecli 4, 1 1 ) .

Fala-nos de carinhos que usará, tal como uma mãe acaricia o filhinho (Is 66, 12). Pergunta, mesmo, se 9
é possível se esqueça uma mãe de seu filho. Fá-lo, porém, para afirmar que, ainda quando isso se desse, êle nunca se esqueceria de nós (ls 49,
15).
No Evangelho vemos a mesma comparação. Nosso Senhor acha nas alegrias do coração materno a mais expressiva figura das
alegrias celestes: "Vosso cora­ção se alegrará como se alegra o coração de uma mãe". Nas suas alocuções ao povo vemo-lo lembrar o trabalho
da dona de casa. Fala da mulher que toma o fermento e coloca-o na massa. Da mulher que acen­de a luz e varre a casa. Da costureira que
prega re­mendo novo em vestido também novo. Tem pena das mães que, esquecidas dos filhos, choravam sôbre êle. Por fim, quis que sua Mãe
fôsse também querida por todos como mãe extremosa.
De tôda mãe quase se pode dizer que também ela é cheia de graça e tem o Senhor consigo. Que é ben­dita entre .as mulheres
por causa do fruto de suas entranhas. Realmente, há na maternidade a misteriosa colaboração de Deus com a criatura humana. Vem do céu a
alma da criança, mas é a mãe que lhe dá a veste do corpo e a põe no mundo.
Mas tôda essa grandeza pouco adianta, quando as almas se conservam rasteiras à terra, ou fechadas à graça de Deus. A graça
do céu é não só auxílio para a vontade, como também luz par.a a inteligência e orientação na vida.
Para facilitar e apressar a chegada da graça, com­pilamos estas páginas. Elas só querem ser uma coisa: esteiras de luz, veios
das águas da graça, convites para ascensões, auroras para desanimadas.
Trazem em suas linhas a doutrina do Santo Padre Pio XI, na sua mensagem aos casados.
Leitora, tens de ser ou continuar a ser a chama de teu lar. Aproxima-te da luz e absorve-a com viva ânsia! Aquece teu coração
junto ao de Deus, vivendo

lO
na sua amizade! Assim não haverá quem, em tua casa, sinta o frio dêste mundo invernoso. Geada al­guma queimará os botões que prometem
flôres e fru­tos para amanhã.
Sê a vinha "no retiro de tua c.asa". Nada de te­res a sorte da vinha falada pelo profeta: Deus a plantou, em vão esperou pelos
frutos. Por isso lhe tirou o muro de pedra. Então a invadiram os homens e os animais, calcando-a aos pés.

2. NOBREZA DE PROGRAMA . . .

"Eu sou cristão e falo a uma cristã escrevia Luís Veuillot à noiva. Penso que não me torno an­tipático, dizendo que considero
um dever a sábia de­terminação da Providência lembrada pela Igreja, atri­buindo ao homem a autoridade no lar.
Assim querem a boa ordem e a decência, da mes­ ma forma que meu gênio reclama essa plena auto­ ridade para a vossa
felicidade. Eu seria dos escra­vos o mais insuportável e serei, ao contrário, dos se­nhores o mais submisso. Não me pergunteis aonde vou:
sabê-lo-eis sempre. Não me prescrevais o que devo fazer, e nunca farei o que vos des.agrada.
Não gosto da sociedade, que é má; muito pior ela será para vós. Além de me adular, poderia certamente vos perturbar também.
Com isto tornar-me-ia mais insuportável e vós perderíeis de dois modos. Se me aceitais é um adeus pronunciado à fortuna. Não serei um rico,
nunca, a não ser que Deus o queira por tôda forma. Sou incapaz de qualquer arranjo que me enri­queça. Presto apenas para ganhar minha vida,
graças a Deus. Nesse particular tenho idéias muito antiqua­ das, muito meditadas, muito íntegras. Mais tarde vos falarei delas, certo de
conseguir vossa aprovação.

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Nada de fortuna e, por conseguinte, nada de luxos, de diversões, de vestidos custosos. E' preciso que en­ contreis vossa
felicidade dentro de vossa casa. Uma casa humilde, fechada como a vossa, visitad.a por ami­gos de confiança e, portanto, pouco numerosos.
Serão êles os vossos que me convierem e os meus que vos agradarem. Quereis fechar nessa restrita esfera as vossas aspirações e nesse
pequeno espaço as vossas alegrias?"
Ela concordou e ambos levantaram um lar feliz e honrado. Da obediência - alegou a interpelada - já tinha o costume e o
exemplo materno diante dos olhos. Da riqueza? Aprendera nesse particular a ben­ dizer a Deus pelos sofrimentos que amorosamente lhe
poupava e a aceitar o dado pelas suas mãos. Fôra criada sem amor aos divertimentos, podendo por isso viver sem êles para o futuro.
Que belos pontos para reflexão, te apresentam as perguntas e as respostas dêste programa, leitora! O certo é que por detrás
destas linhas te espreita a fe­licidade. Procura achai a entrada para lhe caíres nos braços.

3. PELOS LABIRINTOS DA ALMA . . .

Há só vantagens em conhecer a mulher certas fei­ções de sua alma, certos matizes de sua finalidade feminina.
E' complicada a situação da mulher na família. O filho, o pai, o marido, cada qual tem desejos dife­rentes e muitas vêzes
antagônicos em relação à tua pessoa, leitora. Todos êles te procuram, mas por mo­tivos diferentes. E fica difícil para ti, como mãe, com­binar
as paixões pelos filhos e de harmonizá-las com os atos que, como espôsa, te inspira a ternura pelo marido. Mais difícil ainda é compor tudo
isso com

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as afeições pelos pais e irmãos que deixaste em casa. Novas afeições ao lado de velhas e saudosas ami­zades, também ciumentas de seu
passado, como custa trazê-las de braços dados sem brigas e rixas!
Além disso, as pessoas, objeto de tuas paixões, mudam continuamente de desejos e exigem de ti qua­lidades e afeições opostas
entre si. E depois ainda dizem "que, leve como a pena, é a mulher", porque a cada passo está mudando de alma. Quer o môço que sua noiva
seja poética, ingênua, graciosa, inex­periente. Como marido, exige da mesma mulher mui­ta experiência de casa, de sociedade, etc., para se
ver livre dos cuidados materiais. O filho pequeno a cada passo grita pela mãe, não o dispensa nem de dia nem de noite. Que berreiro faz se a
mãezinha se retira e o deixa só! Já crescido, não quer saber de muitos conselhos, de muita vigilância, de muita expe­riência materna. Procura
iludir os olhos vigilantes de sua mãe.
Torturas de tua vida e de tua finalidade, leitora! Conta com elas como a luz conta com a sombra e o som com o eco. A
compreensão de tais verdades aju­dar-te-á na conformidade com um estado de coisas natural a teu estado e ao temperamento de filha de Eva.
PALAVRAS DO PAPA. A prole, a fidelidade, e o sacra­mento - diz S. Agostinho - são os benefícios que dirna­nam do casamento . . .
Pela fidelidade provê-se a que, fora do vínculo conjugal, não haja união com ·um outro ou como uma outra;
Pela prole provê-se a que esta se receba carinhosamente, se alimente com bondade e se eduque religiosamente;
Pelo sacramento provê-se a que se não dissolva a união e o repudiado ou a repudiada, nem sequer em vista da prole, se junte com outros. Esta é, por assim
dizer, a regra dos casamentos, pela qual não só é nobilitada a fecundidade da natureza, como também regulada a maldade da incontinência.

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4. GRITEI COM �LE!

- E' como lhe digo: durante muito tempo fui bo­ba e fui aceitando calada tôdas as desatenções de meu marido. Por exemplo,
esperava-o para o jantar até às onze horas da noite. Qualquer desculpa que me desse, eu aceitava. Um dia cansei-me e gritei com êle. Foi por
causa de uma abotoadura, em cuja procura o via empenhado, com brutalid.ade até. Pois ia ati­rando para fora do guarda-roupa e das gavetas
tudo que lá se achava. Protestei, bradei, falei alto, man­dei-o procurar a abotoadura na casa da mãe que o adorava. Foi. Telefonou-me que não
voltaria para dor­mir em casa. Eu botei, de noite, uma boa tranca na porta. Às dez horas ouvi tocar a campainha, mas não me levantei. No dia
seguinte ajustamos as contas, por entre nervos e lágrimas. Mas daí em diante meu ma­rido é outro homem.
Assim terminava a história de N. Não se pode, leitora, aprovar tudo o que ela fêz, como energica­mente se deve condenar o
procedimento do marido. Entretanto, é verdade que certos maridos só caem em si qu.ando encontram resistência e energia ria··es­pôsa. A
longa paciência e mansidão parece que os tornam mais desatenciosos ainda. Então a espôsa rea­g·e e ei-los mudados.
S.aiba a leitora que não desaprovo de todo a re­ceita. Se a bondade fôr inútil, venha a energia, a voz alterada e indignada. Uma
condição se impõe ime­diatamente no caso. E' que o "grito" seja raro, seja último recurso.
Isso de impor os caprichos a uma pessoa é tirania que muito deve envergonhar quem a pratica. Nada existe para justificá-la.
Nem Deus com sua lei nem a dignidade humana com suas exigências jamais impu-

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seram semelhante modo de tratamento no lar. Por con­seguinte, urge combatê-la de um ou de outro modo. Marido se trata com agrado e com
palmada - afirm.ava outra especialista em receita; do contrário, êles se prevalecem. Cabe à leitora estudar bem o tem­peramento e o método a
respeito de seu marido. Só­mente assim acertará sem faltar à caridade e sem rou­b.ar ao lar aquêle privilégio de ser o santuário da paz e do
carinho.

5. ESPELHO DA ALMA

Amor, leitora, é dom de si próprio. Egoísmo é a exclusiva preocupação consigo pró­prio; a desordem que te leva a antepor a satisfação do ser
- -

físico à do ser espiritual.


Algumas formas de egoísmo? EHas: 19 Tudo para mim/ E a mulher vive para seus ves­tidos, quer aparecer, ser comentada e apontada. Na
vid.a íntima quer o prazer, a comodidade, as prerro­gativas de espôsa sem os deveres de mãe. Nascem daí as cautelas contra a natureza.
Fogem da casa os berços com os filhinhos.
2<:> Ciúmes. Suspeitas contínuas, porque a espôsa só tem em vista o corpo. A alma vive prêsa, apesar dos direitos e das
ânsias que tem de se expandir numa santa liberdade. Os ciúmes matam a mútua confian­ça, impedem a certeza das fidelidades prometidas. No
lar predominam então as cenas violentas, as recrimi­nações, as lágrimas e os escândalos. Por fim o lar des­morona abalado pelo divórcio.
J9 Espírito de dominação e absorção. . . A espôsa pouco indaga se a saúde, se os gestos do marido são de acôrdo com os seus
desejos e caprichos de mu­lher egoísta. Como mãe, não educa os filhos para a

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vida, mas forma-os para si própria, para suas vaida­ des. Quer vê-los sempre ao redor de si; não gosta que êles cresçam, que
alarguem as afeições, que esco­lham um estado de vida, que fundem um lar ou se con­sagrem a Deus. Diz sempre: Eu então viverei sem êles,
depois de criá-los. . . para mim?

PALAVRAS DO PAPA. Com efeito, o matrimônio dos cris­tãos, segundo o testemunho do apóstolo, representa aquela perfeitíssima união que medeia entre
Cristo e a Igreja. Por nenhuma forma essa união poderá ficar dissolvida, até que viva Cristo e, por êle, a Igreja.
O que também S. Agostinho claramente nos ensina na­quelas palavras: Isto de fato se observa com fid·elidade en­tre Cristo e a Igreja para os quais, por
viverem ambos eter­namente, não hã divórcio que os possa separar. Dêste sacra­mento é tão zelosa a observância na cidade de Deus . . . isto é, na Igreja de Cristo . . . que,
quando para ter filhos, ou as mulheres se desposem com homens ou os homens se ca­sem com as mulheres, não é lícito abandonar a mulher estéril para casar-se com outra
fecunda. Que se alguém isto fizer é réu de adultério, não pela lei dêste século, mas pela lei do Evangelho, como outrossim é ré de adultério a mulher que desposar outrem.

6. MúTUA ADMIRAÇÃO? . . .

Sentencioso escritor afirma não ser o casamento uma sociedade de mútua admiração. Quem tivesse in­tenção de fundá-la, ao
casar-se, andaria errado. Em todo caso, a sociedade de mútua admiração pouco du­raria. O conhecimento íntimo e profundo dos senti­mentos
respectivos, manifestados pelos esposos com espontaneidade, em breve desfaria a sociedade. Atrás disso viria o desencantamento, à vista das
sombras dos seus sêres morais. Com a revelação dos segre­ dos disfarçados, das qualidades imperfeitamente co­ nhecidas, dos defeitos
completamente ignorados - ir­Sl·-ia a auréola iluminada pela ilusão.

I li
Prudente como é, a religião não exige que os ca­sados se admirem. Pede-lhes e lhes impõe que se es­timem, se respeitem, se
suportem.
Que é preciso para a mútua estima? Completa au­sência de defeitos na pessoa em vista? Não; exige-se apenas atenção para as
qualidades reais nela exis­tentf':;.
Mas se o marido perdeu a estima, até da sociedade que lhe conhece e relata os erros e as descaídas? Aí começa o dever do
respeito, prezada leitora. Tens dian­te de ti um ferido pelo pecado e pelo vício. E' êsse respeito uma homenagem ao que de divino existe na
criatura humana, capaz de se corrigir enquanto dura a vida. "E' um privilégio do casamento cristão, por­que o paganismo da antiguidade não
conheceu tão delicado sentimento. A espôsa era uma medrosa e o marido um desdenhoso. Com a crença da igualdade aos olhos de Deus veio
também êsse respeito dos ca­sados nas suas mútuas relações" (Hulst).
Homem, imagem de Deus, cristão remido, marido e pai - eis os títulos que de ti, leitora, reclamam respeito para com teu
companheiro de vida e de cal­vário. Respeita-o, apes.ar dos erros e das falhas. ódio ao mal e ao pecado, mas nobre franqueza, delicado tato
para com o pecador! Isabel Mor.a foi modêlo neste ponto. Todo mundo sabia da vida desregrada do sr. Cristóvão. Sabia dos seus jogos. Sabia
da sua amante. Na família sabiam até dos roubos caseiros praticados pelo jogador e estróina. Tudo isso não obs­tou a que Isabel o tratasse com
sumo respeito e o mes­mo sentimento incutisse no espírito das filhas que cri­ticavam o pai. E.le - o transviado - era o pai, inves­tido por Deus
de uma dignidade e de uma missão. Ninguém podia tocar nessas auréolas.
Os judeus diziam que as tábuas da lei eram velhas, mas eram tábuas de Deus e se achavam na Arca do

Tr�s Chamas - 2 1 7

Senhor. Os defeitos do espôso talvez não se pren­dam à idade, mas assim mesmo também êle é uma . . . cruz do Senhor.

PALAVRAS DO PAPA. Há motivos de sobra para se recear que aquêles que, antes das núpcias, em tôdas as coisas se procuram a si próprios e as próprias
comodidades, e costu­mam condescender com os próprios desejos, mesmo torpes, chegados depois ao matrimônio, serão tais quais a•ntes de contraí-lo e que colherão enfim o
que semearam, isto é, acha­rão, entre as paredes domésticas,
tristezas, pranto, mútuo desprêzo, brigas, aversão de ânimo, enfado da vida conjugal, e, o que é pior,
encontrarão a si mesmos com suas desenfreadas paixões ...

7. CONHECER-SE ...

No sertão, pilheriando, diz nosso caboclo que, pelo canto, é capaz de dizer � côr do galo. Tanto lhe é completo o
conhecimento que tem das coisas do ser­tão! Ora, eu desejaria que tôda leitora pudesse co­nhecer tão bem o seu marido que, pela entonação
da voz, conseguisse dizer a quantas anda o bom ou o mau humor.
l:.sse capítulo do mútuo conhecimento é importan­tíssimo na vida dos casados. Sobram razões para se exigir uma amorosa
observação neste ponto. Antes do casamento êle e ela não se conhecem bem, por­ que um ou outro encobre os defeitos. Na ânsia de agradar
ficam abafados os defeitos que podem desa­g radar c afastar. Impaciências emigram, o sereno bom humor parece ser inquilino jubilado da alma.
Depois n·ssa a repressão e acaba a ilusão. Ambos se conhe­n·rn \"111 ti•das as suas arestas.

IH
A espôsa está agora perante uma encruzilhada. Sur­gem recriminações, desesperos, desânimos. Meta a cristã o coração pela
frente, como luz orientadora, e ponha-se a estudar o marido! Com que intuito? Para poupar a êle contrariedades inúteis, a si própria, abor­
recimentos evitáveis e à vida desarmonias tôlas. Ora, o teu consorte, leitora, nada mais será do que uma miscelânea de boas e más qualidades.
Com a boa qua­lidade acontece o que acontece com a luz à tarde. "Expelida das furnas, apega-se aos vales; rechaçada das rechãs, segura-se
aos píncaros das serras; espan­cada dos montes pela noite que cresce, refugia-se nas nuvens; e já a treva cobriu tôda a terra, e ainda essa luz,
recalcitrante e teimosa, tinge vagamente o céu to­do povoado de estrêlas" . . . Procura, espôsa, em que vale, ou serra, ou nuvem ou estrêla
ficou cintilando a boa qualidade de teu espôso.
Tens, no teu marido, uma terra desconhecida. Nela precisas descobrir os gostos físicos (o prato predi­ leto, o tempêro
apreciado, o vestido preferido por cau­sa do seu conjunto, a cadeira predileta, etc.). Desco­bre-lhe as preferências intelectuais, sejam grandes
ou pequenas. Enumera-lhe as manias inocentes ou cace­tes, as infantis vaidades. Tudo isso forma um labi­rinto por onde andarás todos os dias
numa paciên­cia sempre nova e viçosa como a luz de cada dia. E por que não estudar o olhar, o sorriso do marido? O modo de abrir as portas,
de subir as escadas, os momentos de silêncio que prefere (na leitura dos jor­ nais) - tudo é cascalho que denota a vizinhança de qualquer
preciosa descoberta. Diz Dante que o enten­dimento da mulher é amoroso. Pois então estuda com amor, leitora, até o silêncio significativo no
qual o marido em certas horas se encaramuja. Assim ficarás sabendo que teclas devem ser batidas na alma do es­pôso e para que combinações
se prestam.

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O rosto humano é um espelho para olhos inteligen­tes. O que se passa na alma surge à tona dos olhos, na linha dos lábios, nas
rugas do semblante.
Os filhos são ótimos auxiliares neste ponto. Ob­servar o pai quando lida com os pequenos, quando lhes ouve as queixas,
lhes resolve as pequenas de­mandas, lhes recebe os carinhos, lhes sonega um pe­dido - é descobrir pedaços da alma do marido.
Tiveste surprêsa no c.asamento? Andas falando em descobertas de defeitos, de desilusões? Cuidado! Não seja tudo isso dor causada pela
queda dos "dentes de leite", que te restam dos tempinhos de môça mi­mada em casa. Não seja tudo isso exagêro, semelhante àquele dos
exploradores da "terra prometida", quan­do afirmaram que seus moradores eram . . . gigantes. Com muit.a graça dizia um senhor: De manhã,
eu examino como está coberta a cabeça de minha se­nhora. Se leva apenas um lenço, o tempo é bom; se carrega dois ou três, é indício de
trovoada; e pru­dentemente me cuido . . .
Onde está em teu marido o sinal meteorológico para cada dia? Ainda não o achaste? Olha, é possível que a vizinha o saiba.

8. COM MÃO DE CRIANÇA . . .

O coração é um cofre de segrêdo, Que uma criança pode abrir: Basta que o toque com um dedo, Nem tanto até: basta sorrir . . . e
assim, "com mão de criança, com sorriso de bon­dade", lerás no coração do marido . . .

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9. ASSIM EST Ã ESCRITO . . .

Não leu ainda o que o dr. N., o romancista N., o poeta N. escreveu sôbre o casamento? Pois aquilo, sim, é coisa que agrada e é
moderno e mostra com­preensão da alma feminina - expunha uma amiga na roda de outras amigas.
Digo, no entanto, que tais escritores, muitas vêzes, "vieram em seus próprios nomes" e não devem ser aceitos, conforme o
aviso do Mestre (Jo 5, 43).
Para um.a cristã esclarecida há alguém que não fala em seu nome, mas no de Deus, e ensina coisas que salvam. Dêle ouve-se
isso:
Faz-se mister que os cônjuges cristãos, com a gra­ ça divina que interiormente lhes forta�ece a fraqueza da vontade, se
conformem em tudo - pensamentos e conduta - com a puríssima lei de Cristo sôbre o casamento. Tão sàmente assim conseguirão para si e sua
família a verdadeira paz e felicidade.
Hoje é isso mais necessário e urgente. Pois são tan­tos os homens que ignoram de todo a grande santi­dade do matrimônio
cristão. São inúmeros os que des­caradamente a negam e até, aqui e acolá, a vão cal­cando aos pés. Como? Seguindo os falsos princípios de
uma nova e perversa moralidade.
Como cristã terás firme e inabalável convicção sô­hre a divina instituição do matrimônio. Não foi ins­tituído nem restaur.ado
pelos homens, mas por Deus, autor da natureza. E por Jesus Cristo, Redentor da mesma natureza, foi escudado com leis e confirmado e
nobilitado.
Essas leis não podem, por isso, ficar sujeitas a nenhum julgamento humano, a nenhuma convenção contrária. Nem os próprios
cônjuges podem mudá-las 21
ou contorná-las. Podes mudar a lei da luz, do calor, as órbitas dos astros? Não; são leis elementares. Se­melhante é a tua posição
perante as leis divinas do nsamento.
Esta é a doutrina dos Livros Santos; esta é a cons­tante e universal tradição da Igreja; esta é a solene definição do Concílio de Trento.
Contra tudo isso nada podem lindos conceitos, ou as lantejoulas da fantasia humana. Nem mais conse­guem os aforismos de
escritores espirituosos e . . . ocos, metidos dentro de umas nebulos.as.
Como vês, até aqui, leitora, figura apenas a von­tade do Criador. Mas também a vontade do homem traz o seu concurso para o
matrimônio. E é nobilís­ simo êsse concurso. De fato, nenhum casamento pode começar a vigorar senão depois do livre consentimento de
ambos os nubentes. Sem êste ato livre da vontade não há casamento. Autoridade alguma humana o po­de suprir.
Porém, só a uma se estende essa liberdade: que os nubentes queiram de fato contrair matrimônio e con­ traí-lo com uma
determinad.a pessoa. A natureza do matrimônio fica absolutamente subtraída à liberdade humana. Quem se casa fi·ca, por conseguinte, prêso
às leis e propriedades essenciais desta instituição divina.
Idéias claras, portanto, leitora! De Deus provêm a instituição, as leis, os fins, os bens do matrimônio.
Do homem depende a existência de qualquer matri­mônio particular, com os deveres e os direitos estabe­lecidos por Deus. E
tudo isso mediante a doação ge­nerosa da própria pessoa a outra pessoa, por tôda a vida, sob as bênçãos do céu . . .
Aí tens a voz do sucessor e representante de Nosso Senhor. A voz de Pio XI, voz de pastor vigilante.

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Desta voz está escrito que as ovelhas do Senhor a ouvem e conhecem e seguem.
Estranhas esta voz e a não queres seguir? Olha, não és do rebanho do Senhor! Ou então és ovelha desgarrada.

10. SARÇA ARDENTE . . .

Há no casamento a mútua entrega dos corpos. Há nêle um amor que não pode ser platônico, mas é hu­mano e sexual, sob as normas da lei
moral e reli­giosa. Quer até São Paulo que, entre esposos, "um se antecipe ao outro na honra e no respeito", a fim de com isso se conservar a
mútua afeição nos casados. O pudor, que dita as normas do respeito no amor, é também a melhor garantia de sua duração. Nunca deve faltar
nas relações dos corpos. Aquela casta re­serva de tua vida de môça, leitora, não pode mais existir nas tuas relações de casada. Pois o amor con­
jugal tem seus direitos e, entre o marido e a espôsa, caem todos os véus, sem que haja ofensa ou indis­crição de uma e de outra parte. Mas
êsse amor tem também seu pudor e nunca podes permitir ao marido que em ti sufoque êsse sentimento delicado.
�le não é dono de teu corpo, sem reservas e sem limites. E não podes te sujeitar a ser uma boneca nos braços dêle.
Lembra-lhe sempre que "marido e mulher" são ministros de um sacramento divino e au­xiliares de Deus. Necessitam por isso manter-se numa
serena e bela dignidade, quando cumprem a nobre missão de procriar filhos, por entre as delícias da união conjugal.
Era assim que procedia o rei e santo Luís de Fran­ ça. Cercava seu corpo com um cilício, mas sabia ser todo carinho e
meiguice com sua digna espôsa. A cas­tidade tem seus direitos, mesmo no leito conjugal. E',

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não há dúvida, de tôdas as formas de castidade a mais difícil. Existe, entretanto, para auxílio dos ca­sados, a graça de estado nesta obrigação.
Que bela m1ssao espera .a espôsa temente a Deus e desejosa de formar a castidade do marido, nessas relações! A e1a caberá corrigir-lhe
certas indelicadezas, certas sem­cerimônias ou desnecessárias intimidades. Há de o en­sinar a fazer seu dever com mais simplicidade, no res­
peito à verdade de que - êle e a espõsa - são filhos dos santos.
De outro lado, leitora, guarda-te de rigorismos to­los e tentadores para o marido. Não queiras ver pe­cado em tudo, ânsia essa
que tolhe a espontaneidade de teus desejos c entregas.
Mais adiante encontrarás normas bem positivas e clar.as neste assunto delicado.
Há labaredas de paixões, acesas pelos sentidos, nas mútuas relações dos casados. Mas se êles obser­varem em tudo a lei de
Deus, então se reproduz o milagre da sarça ardente. O fogo a envolvia nas suas chamas, mas não lhe desfazia os ramos em cinzas. Sai de
dentro da sarça uma voz, a voz de Deus, que diz a seu servo Moisés:
- E' sant.a a terra que pisas! De fato, até méri.; tos para o céu podem co'hêr os casados, quando cas­tos e pudicos nos seus
abraços e carinhos.

PALAVHAS DO PAPA. E' lei constante que o homem que vive submisso a Deus, com o auxílio da graça divi·na, sabe dominar suas paix<ies e
concupiscência: ao contrário, quem se rebe:a contra Deus experimenta dolorosa luta interior das paixf•t·s viol�·ntas. . . Tu a Deus, a carne a ti! Se d·es­prezares o Tu a Deus,
jamais alcançarás que a carne se sub­meta ao leu espírito .. .

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11. MORTO O MARIDO . . .

Todo mundo comentava as belas tranças de Maria � Teresa. Longas e sedosas lhe caíam pelos ombros,

·quando sôltas. O marido de Maria Teres.a, o impe­ 'rador da Áustria, gostava de acariciá-las, de repou­ sar sua cabeça cansada sôbre aquela
almofada. Mas no dia em que êle faleceu, a espôsa chama a cama­reira e lhe diz:
- Corta-me as tranças que eram para êle. juntos vivemos na melhor paz c harmonia; juntos andamos por entre as sombras e as
luzes da vida, numa sincer.a amizade e total confiança. Minha vida só valia vivida para êle. E agora não quero que repouse sua cabeça sôbre
outro encôsto.
A camareira vacila um momento. A ordem era ex­pressa e instantes depois as tranças caíam num ruído de sêda sôbre o tapete.
A imperatriz queria trazer sôbre a cabeça a touca da viuvez, porque estava morto o espôso, o único a quem desejava agradar.
Idênticas palavras citam-se de Joana de Chantal, que se desfez dos ricos vestidos, quando lhe morreu o marido.
Em tais gestos a atenta leitora pode ver um pro­ grama para seu procedimento. Agradar unkamente ao marido deve ser a
constante preocupação da cristã, dada por Deus como companheira e auxiliar ao ho­mem lutador.
Ser elegante no vestido, só para o marido?! E por que não, leitora? Não se veste e enfeita a senhora quando vai ver uma
desconhecida, ou visitar um ca­valheiro conhecido? Não se enfeita . . . quando quer zangar uma amiga, etc.? E para êle - para quem se ornou
no dia do casamento - há de ser menos en­cantadora? Que descaridade, andar uma espôsa cui­dando dos sapatos e vestidos, dos chapéus e
S')mbri-

25
nhas, ao sair para a praça, e andar com os pés em chinelos, com os cabelos em desalinho, tôda "négli­gée" dentro de casa! Mas
onde fica o trono da rainha: na rua ou no lar?
Isso já é tirania! - dirá a leitora. Não; eu digo que há nisso tudo muita prudência e muita caridade cristã. Anda certa a espôsa
que usa a côr do vestido preferida pelo marido, o penteado que é de seu gôsto, a flor que é de seu agrado ou à qual se prende uma amável
recordação. Ser bela ou parecer bela é um meio de guardar o amor do companheiro. Ser bela não é a única função que cabe à espôsa, mas,
sem favor, é uma das funções. O Espírito Santo fala na mulher que fêz "o encantamento da mocidade do homem".
Das belezas a mais cativante é a da alma. A beleza de uma mulher virtuosa ilumina a sua casa como a aurora que desce das
alturas de Deus sôbre o mundo - diz o Sábio (Ecli 26, 25). A espôsa preparada só pela arte e pela natureza traz consigo uma graça falaz e uma
vã beleza.

12. IGUAL A f.LE?

Natureza - eis a grande culpada da diferença que há nos conceitos do espõso e da espôsa sôbre o amor. Inegável é que, por
êste motivo, sejam muitos os so­frimentos no lado da mulher. Por isso andam por aí umas feministas de puro sangue pregando umas tan­tas
igualdades, recomendando até a lei de talião.
"0 homem é infiel? - dizem. Que também o seja a mulher. E' êle egoísta, só pensa em si próprio, nos seus negócios, nos
cômodos, nos seus passeios e ci­garros? Faça o mesmo a mulher e não se apoquente com cuidados por causa de tão ilustre consorte, que julga
o casamento uma aposentadoria agradável.

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Se o marido procura seus prazeres nos exercicJos da sua profissão, nos deslumbramentos da vida so­
·Cial e política, igualmente nisso procure a espôsa a aua satisfação e deixe o lar. Quer o homem ser amado sem amar? Quer receber sem dar
de si? Meça-o pelo mesmo padrão a espôsa incauta até hoje. Se o marido tem mais sabor pela perfeição estética da cspôsa do que pela sua
beleza moral e aperfeiçoamento inte­lectual, não se faça escrúpulos a falsamente avaliada. Cuide do seu físico, dê de barato a elegância de
uma conduta moral . . . Será mais querida com menos sa­crifícios. E será mais feliz ainda".
Mas quanta tolice em poucas exclamações! Narco­tizar a alma da mulher não é, com efeito, remédio universal para fazê-la
feliz, como uma rosa que pela manhã celebra suas núpci_as com o sol. Que ilusão ainda! Gina Lombroso diz por que o é: "A felicidade não é
um calçado que se adapta mais ou menos a todos os pés e que se faz sôbre um modêlo uniforme. E' algo pessoal, independente, caprichoso,
cujos in­gredientes são muitas vêzes os mais opostos. Para ela concorrem, vêzes não raras, tanto as dores como as alegrias".
Sôbre tudo uma coisa é indispensável para essa felicidade: a paz da consciência, que nada mais é do que uma carícia de Deus.
Para uma espôsa cristã há favos de doçura até nas garras das dores, quando a voz de Deus a aplaude como fiel cumpridora dos deveres de
espôsa, de mãe, de educadora. Isso de ce­nário externo é apenas atmosfera passageira. Uma brisa que venha do céu, um aceno de Deus - e
tudo já se mudou. O mais acertado, por conseguinte, é não dar ouvidos a tais criaturas, muito embora as mol­duras de uma inteligência, de
uma posição social, pa­reçam recomendar a estampa.

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Fica-te, leitora, com a voz da Igreja e os conse­lhos do meigo sucessor de Jesus Cristo, em Roma, o Papa Pio XI. Em trechos
de luz êles te esperam no fim de cada período.

PALAVRAS DO PAPA. Aquela igualdade, pois, de direitos, que tanto se exag.era e se ostenta, de reconhecer-se em tudo aquilo que é próprio da dignidade e
personalidade humana, e que provém do fato nupcial e é inato no matrimônio; no qne, certamente, ambos os cônjuges gozam perfeitamente dos mesmos direitos e são ligados
pelos mesmos deveres. Nas demais coisas deve haver uma certa igualdade e mo­deração, que é exigida pelo bem mesmo da família e pela obrigatória unidade e firmeza da
ordem e da sociedade do­méstica . . .

13. NOTA-TE ISSO!

O primeiro dever impôsto pela fidelidade é a mú­tua paciência. Pois quem não suporta os defeitos da pessoa amada não lhe
sabe ser fiel. Homem e mulher encontram, nessas alturas, a primeira provação do amor que se juraram.
O amor, sabidamente, é um sentimento que não basta a si mesmo. Alimenta-se e cresce com os mil pequenos e mútuos
serviços. Querer alimentá-lo tão sàmente com emoções violentas é matá-lo desde o comêço. Mútuos e constantes sacrifícios, mútuas e de­
licadas preocupações - isso o alegra, anima, consola e fortalece. As grandes infidelidades começam pelas pequenas infidelidades na mútua
paciência e no mútuo auxílio.
Quando só o homem é indiferente e desamoroso, pode a família ter a vida apesar de tudo. Alimenta-se então do amor e do
sacrifício da espôsa. Mas se esta, a mulher, pára de amar - acabou-se a família. Não há dentro dela luz que a ilumine e aqueça.

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14. COMO SE REPARTE . . .

O amor que é
caridade na alma religiosa, estima no pensamento, ternura no coração, devotamento bem regulado na atividade externa, e sob
todos os pontos de vista, amizade cristã - não tem motivo para não ser
paixão TUI carne. Só se trata de não romper o laço que une e prende tudo a Deus, pelo Cristo. Bastará fazer circular por tôda a
esfera a mesma influência moral e cristã.
O amor que une o casal - homem e mulher - está no seu direito quando nos esposos enlaça alma e corpo. Mas essa união deve
ter por centro a vida da alma.
Esposos cristãos, lembrai-vos de tudo que Deus quer, e depois gozai nobremente do que Deus vos dá nas relações de casados.
Não quer o cristão casado ofertar sua pessoa a Deus? Então que lhe ofereça uma parte dos direitos e das intimidades do amor hu­mano. Essa
ofert.a contribuirá para aumentar o amor divino. Que tudo aconteça, porém, de mútuo acôrdo. Que as renúncias sejam determinadas com
prudência, que sejam temporárias. E depois voltem os casados às su.as núpcias carnais, segundo o conselho do Após­tolo ( 1 Cor 7, 5) . Vide
Les Parents.

1 5. TUDO ISSO E' TEU . . .

Muito pouco pensam os casados nas graças que lhes trouxe o sacramento do matrimônio. Ainda me­ nos se lembram de
agradecer a Deus o régio presente divino. Não sabem explorar êsse riquíssimo tesouro. No meio de tantas jóias vivem pobres. A mesa de
tantas doçuras sentem as amarguras da vida.

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Leitora, sabes muito bem que o casamento não se baseia na inteligência, nas riquezas, nos sentidos. Seu alicerce é o coração,
centro físico e centro moral da vida. Êsse coração tanto pode ser rocha corno areia para alicerçar o lar. Pois é capaz de todos os he­roísmos, ao
lado de inesperadas covardias. Se o agi­tam as paixões, balança-se corno nau desarvorada sô­bre essas ondas. Com facilidade engana-se e
engana os outros.
Ora, a graça do sacramento apodera-se do coração c aperfeiçoa o amor do marido à mulher e vice-versa. El.a prolonga a
mocidade da alma e com o seu auxí­lio os esposos se amam ternamente, apesar das ruínas dos anos e das desilusões. Cada dia que passa é co­
rno mais um .anel a uni-los. Nosso amor é cada vez mais sólido, porque repousa sôbre o amor de Deus - escreve o general de Sonis, santo
espôso e pai amoroso.
A graça consolida a união do homem e da mulher. Encontrando-se, dois corações se amam e querem di­ vidir entre si as
alegrias e tristezas, as lágrimas e os prazeres. Prometem-se mutuamente colhêr juntos as searas de venturas e desventuras que Deus e os ho­
mens lhes espalham pelo longo da jornada. Nessa altura a graça do sacramento dá fibras a êsse amor, defende-o, protege-o contra
esmorecimentos.
A graça santifica os casados. A vida não é um mar de rosas, mesmo quando o amor dirige o leme. Todos os homens têm seus
defeitos e a vida em comum exi­ge sacrifícios, impõe deveres austeros. Sem o auxílio de Deus não é possível realizar o programa da união
conjugal. Árdua coisa é a educação dos filhos, cam­ po do qual os pais voltam com os pés feridos e as mãos sangrando. Quanta intuição,
quanta renúncia, quanta firmeza impõe a cada passo!

3()
Mas Deus vem em auxílio dos esposos que coope­ram com a graça oferecida.
Esposos cristãos, que isso compreendem, percebem também como o coração lh<:s continua emotivo e sen­ sível; como se
mostra pronto e resoluto para os sa­crifícios; como se contenta com pouco e sabe agra­decer o muito que recebe nos mútuos carinhos.
Dos pais desce para os filhos um CJ.Uê de santo e atraente, a cuja influência se sujeitam amorosamente os últimos.
Que lástima, quando tudo isso vive esquecido e nem é procurado pelos c.asados! Como se vinga na vida a profanação dessas
graças pelo desprêzo, ou pelas práticas imorais usadas pelos casados!
Sem o auxílio do céu o lar se ergue sôbre areia. E quando soprarem os ventos, virá a ruína com o des­moronamento de tudo.
Dessas graças hão de se lembrar os esposos quando Deus dêles exigir certas renúncias dolorosas para os sentidos. Há dias e
horas em que é heróica a casti­dade entre êles, mas também é seriamente reclamada pelas circunstâncias. Chegou então o momento daquilo
"que é teu", leitora, da graça poderosa com a qual tudo é possível. Em vez de lamúrias, junta as mãos e pede a Deus que suscite em ti a fôrça
do sacramento. Dize isto a teu marido, se o desânimo perante a luta e o sacrifício o quiser converter em um derrotado.
Tudo me é possível com aquêle que me conforta!

PALAVRAS DO PAPA. Pe:o fato, pois, de darem os fiéis com sinceridade êssc consen�imento, abrem para si o te­souro da graça sobrenatural, de onde hão
de haurir as fôr­ças sobrenaturais necessárias para cumprir a parte que lhes compete e os deveres prõprios do estado, fiel e santamente, com perseverança até à morte . . .
�ste sacramento não só aumenta a graça santificante (na­ queles que não lhe põem óbice positivo), mas lhe acrescenta ainda outros dons especiais,
disposições e germes de graça,

31
como um novo vigor e perfeição para as fôrças da natureza, a fim de que os cônjuges possam, não somente entender bem, mas também sentir intimamente, com firme
convicção e vontade resoluta, estimar e cumprir quanto concerne ao estado conjugal, seus fins ·e deveres . . . , concedendo-lhes ainda o direito oo auxílio atual da graça tôdas as
vêzes que dêle necessitem para bem cumprir com as obrigações do estado.

16. A CRUZ DE MUITAS

Um fato é inegável: muitos maridos usam e abu­sam de um certo direito. Pensam unicamente em si. Seus prazeres pessoais
prevalecem e orientam as exi­ gências. Longe lhes ficam os desejos expressos ou tácitos da espôsa cansada por vigílias, enfraquecida por
doenças. Ela não é lev.ada a sério nas suas ma­nifestações. Parece até não lhe assistir o direito de negar-se, quando tem razões para tanto.
Maridos há que apenas conhecem um meio de mos­tr.ar afeição e carinho à espôsa: as relações conjugais. Em muitíssimos
casos, entretanto, mais acertado se­ria poupá-la. Ela saberá medir o sacrifício do con­sorte, ser-lhe-á mais reconhecida. Se o souber ausente
em longas viagens, terã m.ais confiança na sua fôrça de vontade, capaz de renúncias.
Desconhecer semelhantes atenções é um dos meios mais aptos para ir afastando o coração feminino das órbitas da afeição. E
jus1amente o ato que devia unir corpo e alma serve para desuni-los. Daí vem, em muitos lares, aquela indiferença ou surda revolta da espôsa
para com o marido. Ela percebe que, em a procurando, procura a si próprio o marido, num egoís­mo por vêzes cruel.
Todo verdadeiro amor exige, por conseguinte, que o marido saiba moderar-se, evitando desta forma con­trariar a espôsa ou
importuná-la. Exercite-se no do­mínio de si próprio, a fim de não sujeitá-la a uma

32
tirania verdadeiramente cruel. Tem a leitora algum filho môço. Exercite-o então na renúncia às satisfa­ções lícitas. Vencendo-se no pouco,
vencerá também em terreno mais difícil. Mais tarde, não lhe parecerão impossíveis belas renúncias ao lado da espôsa. Com is­so progride,
firma-se, persevera o amor conjugal. Não fica n.a carne caprichosa, penetra no espírito, no coração. De outro lado, evite a espôsa explorar
êsse lado fraco do marido, quando dêle deseja obter concessões para caprichos e manhas. Seri.a tal procedimento um contrabando prejudicial
ao coração afidalgado pelo sacramento e enobrecido até na dádiva de si mesmo, através das relações da carne.

III

17. NA ILHA INCOMPREENSÃO . . .

Quero muito bem a meu marido. Porém êle vive numa ilha e eu moro noutra. Não sabendo nadar nenhum de nós, nunca nos
encontramos.
Espirituosamente, descreveu com isso uma senhora o estado de mútua e cordial incompreensão do seu lar. Sem querer, traçou t.ambém o
quadro de muitos casais. Não é verdade, leitora, ser tão comum a quei­xa de senhoras, que se julgam incompreendidas pelo marido? já não
entoaste, porventura, essa lamenta­ção? Queres te expandir. Queres olhar dentro do co­ração do marido como se fôsse uma caixa de vidro.
Entretanto, o marido amua-se, não paga no mesmo câmbio, não retribui as confidências, não liga para elas. Ora, a espôsa deve, nestas alturas,
evitar o êrro de não compreender o marido. O homem, sendo refle­tido e metódico, é capaz de aprender com a solidão, gosta de conversar
com ela. No silêncio vai analisan­do a si próprio e os outros e a ti também, leitora.
Trh Chamas - 3 33

Pouco emotivo, não entende a precisão de expansão sentida pela espôsa; não a encor.aja, não lhe faz con­fidências, nem corresponde às que
recebe. Nada curio­so sôbre o que se passa nas almas dos outros, muito se aborrece com a intromissão da mulher n.a sua alma. Não aprecia
essas excursões "por terras desconhe­cidas". Procura livrar-se disso com modos bruscos, com ares de não-achado. Tudo o que acontece ma­
go.a então a espôsa. A mulher, tão ávida em desco­ brir as paisagens de outras almas, dolorosamente se surpreende por ver quão pouco o
homem se interessa por ela. Ela, que julga morrer se tiver de passar a vida ao lado de quem não lhe quer as confidências, não pode
imaginar-se que o homem reprove tal pro­cedimento. E reprova-o por mera incompreensão! Sai logo à procura do motivo dêste fato. julga
achá-lo numa indiferença, numa aversão imaginária. Demasia­damente se aflige. Entretanto, tal acontece porque à mu!her repugnam a lógica e
o raciocínio, a serena in­trospecção de si própria, feita no silêncio revelador. Protesta contra o método masculino e não vê a causa do silêncio
na natureza diferentemente talhada.
Precisa, porém, de uma solução essa nossa incom­preendida. Não sabe nadar e teima em sair da ilha. Descobre o motivo da
pouca compreensão do mari­ do, do desinterêsse dêle pelas expansões e confidên­cias dela. Qual será o motivo? A presença de uma outra
pessoa que lhe tomou o lugar e as funções na vida do marido. . . E chora e se maldiz. Não pode vencer os v.agalhões. Debate-se nas águas. Se
não fôr auxiliada, pode perecer afogada no seu pranto de infeliz incompreendida.
Mas, leitora, por que não procuram tuas colegas meios e dados que lhes mostrem a alma do marido, mesmo sem as revelações
e confidências dêle? Por que não se aproveitam do noivado para um estudozinho

34
de psicologi.a? Com isso teriam um barco ancorado na Uha Incompreensão. Poderiam deixá-la repousar sôbre o coração do
marido, que vive na outra ilha, à es­pera de ser compreendido pela. espôsa inteligente.
Uma pergunta. Tem a senhora algum bote, ou lan­cha, na sua ilha? Sabe nadar nas águas da psicolo­gia humana?

PALAVRAS DO PAPA. Os fiéis que uma vez foram uni­dos pelo vínculo do matrimônio jamais podem ser privados do auxílio e ligame sacramental. Pelo que
os cônjuges que calram em adultério levam consigo aquêle vinculo sagrado, não já para a glória da graça, mas para castigo da culpa (e Isso à semelhança do apóstata que,
quebrando a união com Cristo, não perde o sacramento da fé, recebido no lavacro da Rgeneração).

18. eLES SÃO ASSIM . . .

São nove os temperamentos em que se classificam os maridos. A uma categoria pertencerá também o teu. Conhecendo seus
caracteres, te será mais fácil uma acomodação prudente ou um contôrno mais indi­cado em certas ocasiões.
Eis os temperamentos: o linfático, o sanguíneo, o co­ lérico, o melancólico, o nervoso, o sanguíneo-bilioso. o
sanguíneo-linfático, o sanguíneo-melancóli-co e o mus­cular. Analisaremos apenas os cinco principais, sob a orientação de Dubois.
O linfático. E' lento e lerdo nos seus movimentos. Nascido com meia hora de atraso, nunca mais tira essa diferença na vida.
-

Não possui nem vícios nem virtu­ des em destaque. Não é nem brasa nem gêlo. Tem um caráter calmo, conciliador, amante de suas como­
didades, apreciador de bons quitutes. Acha natural que todos o sirvam com devotamento, mas nunca sentirá vontade de imitar êsse gôsto.

Achará natural que a cspôsa se canse em servi-lo e estranhará que ela lhe 35
peç.a que se incomode. Gosta mais de ver na espôsa uma Marta solícita do que uma Maria que o contempla com enlêvo. - Diante de tal
marido é preciso que a espôsa seja firme e resoluta para acordá-lo, pô-lo em movimento, sacudir-lhe o torpor. Seja destemida para lhe
afugentar impr.essionismos e mêdos de doenças, de infelicidades.
O sanguineo. Tem um rosto alegre, uma prosa amena, uma inteligência viva, ao lado de uma memó­ria pronta, mas cigana.
-

Seu modo de julgar é super­ficial. Não se pode confiar muito nêle. Leviano, fà­cilmente leva uma emprêsa à ruína e, porque gosta do prazer,
sobretudo do carnal, lhe sacrificará sem mais remorsos a honra e a reputação. Consideração alguma lhe fará romper com uma relação ilícita e
infeliz. Por ser inconstante, um nada bastará para es­quecê-la. É-lhe inacessível a virtude sólida, embora lhe mereça admiração e aplausos. A
espôsa deve ser engenhosa para conter nos limites do dever uma na­tureza tão rica em recursos. Procurará dar duração a um ardor tão generoso,
moderando-o. �sse ardor está pronto a servir a espôs.a, consagrando-lhe tempo, cré­dito, bôlsa e pessoa. Tudo isso o marido sanguíneo põe à
disposição da espôsa, porém muito depressa se esquece das belas juras e promessas. Erra, por conse­guinte, a espôs.a que levantar uma briga
por causa de uma promessa esquecida. Tal esquecimento é tão pe­culiar à natureza do sanguíneo! Não procure uvas nessa urtiga.
O colérico. Costuma ter uma fisionomia rude em seus traços, tem uma vontade tenaz, desconhece­ dora de obstáculos,
• -

desejosa de mandar e dominar. Nêle predomina o amor ao mundo, como no sanguí­neo o amor ao prazer e no linfático o amor ao sos­sêgo. E'
o temperamento de um chefe, de um guia. Com tal marido, a mulher predsa renunciar aos ca-

36
rinhos freqüentes, às atenções delicadas. Tudo isso poderá encontrar com mais facilidade em tempera­mentos menos inclinados à
atividade externa. Não po­derá mandar em tal marido, mas em troca nêle en­contrará um sólido apoio, porque realmente pode apoiá-la quem é
capaz de impor-se e mandar a ou­tros homens. O dever da espôsa é salvaguardar a vi­da afetiva nesta natureza retesada pela luta e consu­mida
pela ambição. Saib.a também orientar essa ener­gia para uma finalidade nobre e inspirar-lhe sacrifícios por amor de Deus.
O melancólico. E' bem mais difícil .a convivência com o temperamento melancólico. Marido que o pos­sui é pessimista, é dono de uma
-

fantasia fúnebre e exaltada. Com os amigos é fiel, mas é misterioso com os outros. Vive desconfiado, todo enciumado no seu amor e gosta da
vingança. E' tipo do conspirador. Sua religião é sem alegria e seus prazeres são cruéis. Torna-se um pêso para si próprio e para os outros. Se a
vida lhe corre mal, pensa fàcilmente em suicídio. Tarefa da espôsa ao lado de tal temperamento é distraí-lo, alegrá-lo, ocupá-lo. Para isso
precisa pôr em movimento tôdas as reservas do espírito e do co­ração para encontrar consolações eficazes e encora­jamentos constantes que
inspirem confiança a essa n.atureza atormentada. Afaste dêle coisas que possam impressioná-lo.
O nervoso. - Caracteriza-se por uma sensibilidade excessiva. Costuma ser o temperamento dos artistas. Mas martiriza quem o
possui. O nervoso ama com excesso, com sinceridade e devotamento. Exige, po­rém, igual amor e reconhecimento. A espôsa cujo ma­rido
tem semelhante matiz no temperamento deve compreendê-lo, favorecer-lhe a confiança e a expan­são, sem nunca insistir sôbre desacordos
que possam surgir entre ela e êle.
***

37
Esta divisão de temperamentos não existe com con­ tornos bem definidos. Há, em geral, misturas e tintu­ ras várias. Daí a
necessidade do estudo contínuo, da observação diária por parte da espôsa, a fim de bem conhecer o marido. Desta forma ficará ao par da fi­
sionomia moral do espôso e evitará erros de tática no cumprimento dos deveres conjugais e domésticos. Co­nhecendo as qualidades de teu
marido, bem como os seus defeitos, terás, leitora, tua vida mais garantida contra surprêsas. Servir-te-ás das primeiras sem pro­ vocar os
segundos. Eis aí tua tarefa diária. Atenções e intuições diárias te levarão a um feliz resultado. Sobretudo quando procederes como cristã que
reza, re­flete e é sincera no exame de si mesma.
E' teu marido um vulcão na violência? Deixa-o deitar fogo e lava, conservando-te silenciosa, impas­sível durante a tormenta.
Terminada a irrupção, po­derás vir com suave e meiga voz expor teus projetos e tuas objeções.
Nunca estudes teu marido com a sombria preocu­pação de dominá-lo para teu proveito. Tal usurpação te faria infeliz. Seria
contra o plano de Deus que, dando ao homem uma companheira, a quer submissa e obediente. Diz acertadamente Dubois: "A espôsa é o
coração que anima a cabeça. Saiba permitir que a cabeça dirija o coração".

19. TUAS CARTAS

Não quero falar das cartas que revelam e traem. Quero crer que não as possuis, porque és uma peça inquebrantável de
fidelidade.
Penso nas c.artas escritas ao marido ausente. Há espôsas que pouco ou nunca escrevem ao marido au­sente. Há outras cujas
cartas são verdadeiras lamen­tações. Servem apenas para desassossegar e desfibrar

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marido nas lutas longe de casa. Mas sobejam tam­bém as amáveis cartas, sempre bem recebidas, lidas sem susto e guardadas
o
com carinho por êle.
- Tuas cartas me fazem esquecer os cuidados ma­teriais, guiam-me para a terra dos bons pensamentos e deixam-me a impressão de que velas
sôbre mim co­mo uma chama. - Assim escrevia o oficial Pedro Dupouey à espôsa, agradecido pelas cartas que dela recebi.a lá nas trincheiras,
durante a Grande Guerra. O colorido de tuas cartas, leitora, depende da con­vicção da tua missão junto ao marido. Sabes que, no plano divino,
tens de ser a companheira e a auxiliar dêle. Longe de ti ou perto de ti, sempre e em tôda parte. Do contrário, ei-lo sozinho. Não foi para ficar
sozinho que se casou. Deves igualmente conhecer a extensão dêsse auxílio.
"Logo, tua missão de companheira é de penetrar no espírito dêle, para que não se agite sozinho no emaranhado dos problemas.
Deves penetrar na sua imaginação, a fim de reconduzi-la por tua prudência às justas proporções nas medidas de onde nascem a paz e a
harmonia. Deves entrar no seu c.oração, onde, por teus enc.antos puros, combaterás as falsas sedu-' ções do prazer, onde suavizarás as
amarguras da vi­da de lutas. Deves entrar na sua vontade, na intenção de sustentá-lo por tu.a energia moral na hora do can­saço e desânimo.
Entrarás por fim na sensibilidade dêle para, por tua ternura, transformá-la em reserva de amor e de fecundidade. Do contrário, essa sensi­
bilidade, entregue .a si própria, será o mais terrível inimigo da alma de teu espôso . . . Não é bom o ho­mem estar só, não é bom sentir-se só"
(Dubois).
A espôsa esclarecida tem uma conv1cçao: sem mim tudo pode ser cilada para meu marido. Até os de­veres profissionais, as
ausências da profissão podem tornar-se malhas de uma traição moral.

39
As quantas anda tua correspondência com o mari­do, leitora? Pertences ao número daquelas que es­crevem muito aos pais,
relatando-lhes tudo, descreven­do-lhes o marido pormenorizado, com seus defeitos e desatenções?

PALAVRAS DO PAPA. Que as núpcias se contraiam por motivo da pro:e, no-lo atesta São Paulo assim : Quero que as môças se casem. E como se lhe
perguntasse : Por quê? logo acrescenta : Para procriarem os filhos, e serem boas mães de família.
Pio XI cita estas palavras de S. Agostinho, que comenta a sentença de São Paulo.

20. MAIS UM NA ARMADILHA

Idealista, queria Lacordaire que os moços imitas­sem o seu exemplo, renunciando ao casamento. Nem Ozanam, nem Veuillot,
amigos do afamado conferen­cista, deviam casar-se. Ciente de que o último fun­dara uma família, exclamou: Mais um que ficou na armadilha.
Relataram ao Papa a frase de L.acordaire e, sorrindo, comentou o Santo Padre: Eu não sabia que Nosso Senhor havia instituído seis
sacramentos e . . . uma armadilh�.
Sacramento como os outros, fonte de bênçãos pa­ ra os chamados, é o casamento rico em simbolismos, expressivo no seu
programa como fértil em graças. Mas qual é o seu programa? Muito simples e muito vasto, capaz de encher tôda uma vida. Nada mais e nada
menos é do que o consortium vitae, comunhão da vida tôda. Tôda, porque dur.a até à morte; tôda, porque abrange tôdas as suas manifestações.
Comunhão da vida natural. . e por isso uma se passa ao lado da outra, sem longas ausências, sem isolamentos perigosos.
.

Ordem é de Deus que a es­pôs.a não deixe o espôso; está escrito até que serão

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dois numa só carne. Nada, portanto, de solidões para o corpo e o coração.
Comunhão de interêsses. . . e por isso os bens ma­teriais, as perdas, andam em conjunto; os afetos se entrelaçam, saem de um coração e se
cruzam nas ór­bitas que descrevem. A espôsa fará seus os interês­ses do marido. Que bela comunhão de interêsses ha­via na família de
Pasteur! Espôsa e filha lhe pergun­tavam, até, como passava o cão que servia de expe­riências para o sábio. E por que escreve São Paulo "que
o homem ame a sua espôsa como a si próprio"? Comunhão de fidelidades e deveres. . . pois ambos cooperam para aumentar a vida e criá-la no
mundo. Ambos geram o corpo da criança e ambos concorrem para a ge;ação moral, isto é, para a educação da mes­ma. Ambos responsáveis e
ambos aureolados na mes­ma glória. Comungam da mesma autoridade sôbre os seus. Não o diz claramente o Senhor, impondo ao filho o
preceito de honrar pai e mãe?
Comunhão de trabalhos. . porque juntos cultivam o mesmo campo e nos mesmos espinhos sangram as mãos e ferem os
.

corações. Amealham no mesmo ce­leiro e choram as mesmas saudades.


Comunhão de lutas e vitórias. . . através das três fases da vida, com seus programas característicos: nascer, viver, morrer.
Cada fase há de unir ainda mais os que uniram os caudais de suas existências e jun­tos descrevem as sendas traçadas por Deus.
Que coisa grandiosa êsse consortium vitae! Até à eternidade o respeito no reconhecimento e idealização do amor conjugal,
paternal, maternal.

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21. HOJE E:LE ME FALTA . . .

O senhor acertou, quando me disse que um dia eu . desejaria um filho, mas em vão, expunha-me a espôsa "moderna" dos berços vazios. Hoje
eu choro, mas Deus não me atende.
De Deus vem o filho: êle é quem o chama como e quando quer. Por isso dizia com razão a heróica mãe dos Ma·cabeus: "Eu
não sei, 6 filhos, como fôstes formados em minhas entranhas. Pois nem fui eu quem vos deu a alma, o espírito e a vida, nem quem uniu os
vossos membros para dêles fazer um corpo. Mas o Criador do mundo é que formou o homem em seu nascimento e deu origem .a tôdas as
coisas". Nada impede que a cristã, arrependida de suas intervenções, peça "ao Criador do mundo" a fecundidade que a glorifica. Várias e
ocultas razões, entretanto, podem kvar o Altíssimo a negar-lhe essa alegria.
Nem sempre o número de filhos suaviza a vida e a morte de um.a mãe. Em muitos casos dá-se o que o Sábio louvava: Mais vantajoso é morrer
sem filhos do que deixar filhos ímpios (Ecli 16, 4). De Judas não diz o Evangelho que bom era para êle não ter nascido? Quem sabe, leitora,
poderia valer o mesmo de teu filho, por cuja ausência estás agora em pranto? P.ara certas mães o filho é um empecilho no serviço de Deus.
Apegam-se demasiadamente a êle, tratam de ajuntar-lhe fortuna, tudo sacrificam por êsse ídolo. Frouxas para educar, fazem da prole um
elemento prejudicial à sociedade e pouco prestável nas mãos e nos planos divinos. Sem filhos, essas espôsas se tornam mais caridosas,
derramam com mãos mais lar­gas a esmola no seio da pobreza. Não será o teu caso? - Cruzes e calvários preparam os filhos não rara vez às
suas mães. Nem tôdas podem beber dêsse cálice de amarguras. E tu, leitora, tens certeza de que

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te é dado sorver o fel dêsses cálices, e ainda por ci­ma bendizer a mão que to apresenta? Hoje choras porque te falta o filho,
porque Deus te castiga com a esterilidade. Amanhã, talvez, abrirás os lábios para maldições, para interpelações à Providência divina.
O mais .acertado, portanto, é a conformidade com o divino beneplácito. Já não vives na Lei Antiga, quando as mães
consideravam uma desgraça faltar­lhes algum descendente que visse os dias do Salvador prometido ao povo eleito.
Não tens filhos? Adota a pobreza de outras mães, socorrendo-as, amparando-as. Ao teu critério e con­selho de família entrego
a idéia de ficar com filhos alheios. Coisa essa difícil, espinhosa e vêzes muitas ingratíssima. - Fica-te com a penitência dessa so­ lidão
despovoada do sorriso alegre de uma criança. Aceita-a como penosa ausência de um laço a unir ainda mais marido e mulher, como dolorosa
falta de mais um anjo da guarda em tua vida. Pois a criança é guarda dos pais nas intuições da sua inocência.
PALAVRAS DO PAPA. Lembra o Papa que só da confor­ midade dos costumes conjugais com a lei de Deus pode nascer uma eficaz restauração do
matrimônio. Mas o conhe­cimento dessas leis não está entregue à razão de cada uma. Mestra é a Igreja : "E se isto vale para tantas verdades de ordem moral, sobretudo há de
valer para aquelas que dizem respeito ao matrimônio, visto e considerado ser tão fácil que a paixão da volúpia chegue a vencer a fraqueza humana, enganando-a, seduzindo-a.
E isso tanto mais que a obser­vância da lei exige por vêzes dos cônjuges árduos e prolon­gados sacrifícios. E a experiência demonstra que mesmo dês­tes se serve a humana
fragilidade, como de pretêxto para se eximir da observância da lei divina".

22. LIMITES E NORMAS DA OBEDH?;NCIA

Ciente de que buscavam o cadáver da espôsa que se atirara ao rio, ordenou o marido que o procuras­sem rio acima. Pois

aquela que em vida tanto o con-43


trariara, provàvelmente, como morta, faria o mesmo às leis da natureza.
Leitora, não te tenho em conta dessas espôsas que vivem desobedecendo c contrariando o marido. jul­go-te c.apaz de sacrificar
teus gostos nos vestidos, tuas despesas no toucador, tuas relações antigas e agradáveis, às justas exigências do espôso. Não du­vido em crer
que até tuas visitas à casa paterna, salvo os sentimentos de filha e de irmã, consultam à von­tade dêle. Realmente tudo a boa espôsa cristã pode
sacrificar pelo espôso, menos a consciência e Deus. Se êle quer entr.ar à fôrça no íntimo da alma e banir a fé, é preciso dizer: Devo primeiro
obedecer a Deus e depois aos homens.
Contudo, nesses casos é necessário proceder com prudência. Pois tua consciência, leitora, pode tomar como lei de Deus o que
é apenas teu ponto de vista pessoal, escrúpulo teu. Há senhoras que se sobrecar­regam com devoções, idas à igreja, etc., e tomam tu­do como
dever, quando tão somente são conselhos. Muito bem devem e podem ser omitidas, quando o go­vêrno da casa, a comodidade do marido, o
bem-estar e a vigilância devidos aos filhos o aconselham ou reclamam.
Há espôsas que, em suas relações íntimas com o espôso, se enchem de escrúpulos, de mêdos c enxer­gam pecado em tudo, menos nas justas e
cabíveis exigências do estado conjugal. Aconselha-te por isso pimeiro, antes de te armares de vigor, de resistên­cia. Como são tolos os
maridos que privam as espô­sas da orientação esclarecida de um confessor piedoso! Em segundo lugar, é preciso muita tática e pru­dência
para mostrar ao marido o que a tua consciên­cia não admite. Há modos e maneiras mil de mostrar, de insinuar, de expor ao espôso as
repugnâncias da consciência, sem lhe declarar uma guerra aberta. Essa

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resistência aberta muitas vêzes só aumenta o mal, pro­voca pecados maiores, que talvez poderiam ser evitados se a espôsa houvesse procedido
com mais jeito e tato. Só mesmo em casos desesperados, quando se acha diante do dilema: desobedecer ao marido ou ofender a Deus, é que a
espôsa deve corajosamente, mas sem­pre com doçura, dizer um mio resoluto. Não é possí­vel que, por muito tempo, o marido resista a essa
firme resolução, ainda mais quando sabe que a espôsa. de resto, é dócil e obediente a custo de sacrifícios pessoais. Essa serena e mansa
firmeza pode até tomar os ares de graça de Deus, convidando o marido a refletir no êrro.
Isabel Mora foi a santa espôsa do dr. Cristóvão Mora, célebre advogado em Roma. Recém-casada, mô­ça mimada pelos pais,
proibiu-lhe o marido as visi­ tas à casa paterna. Isabel obedeceu com lágrimas nos olhos. Da janela aguardava a passagem dos pais, para
saudá-los quando à vista. O marido proibiu-lhe também isso. E Isabel não apareceu mais à janela. Por isso também pôde dizer-lhe um não
heróico, no dia em que exigiu o seu consentimento para dar um passo errado.

23. PRENDAS NA ESPOSA

Há prendas que tôda espôsa deve cultivar. O Cria­dor requer que se lhe estimem os mimos. Erraria, já o dissemos, a espôs.a
que negligenciasse ser elegante, realçando sua beleza. O interêsse da família e do lar reclamam tal atividade, embora exija também que se
guardem os devidos limites. Nada de provocações ín­timas de quem anda sedutoramente despida . . .
Aqui mais interessa acentuar o valor das prendas interiores. Pois se destinam sobretudo à união das almas.

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Inteligência. Eis aí uma prenda de cujo valor para a felicidade do lar a espôsa nunca poderá ter uma exata idéia. Pior é o caso,
-

quando a prendada não se serve da sua inteligência.


Com essa inteligência, .atenta leitora, procurarás co­ nhecer o marido, ouvi-lo com interêsse e aconselhá-lo com prudência.
Três tarefas ricas em encantos para o coração ou em imolações para teu devotamento .. Evitarás o mais possível se passem despercebidas as
idéias e as preferências de teu espôso. Gosta êle de música, às flôres prefere a poesi.a ou os pássaros, aos quadros as estátuas, ao azul o verde,
às orações lon­gas as preces curtas? Farias mal se isso ignorasses, ou se disso pouco te incomod.asses. Há espôsas que chegam a decretar as
doenças que o marido pode ter, teimando em contrariá-lo quando diz estar sofrendo disso ou daquilo.
Ora, na espôsa êle só encontra incompreensões ou teimos.as negações, mas na amiga que lhe vem à casa, em visita à espôsa,
encontra uma alma que o com­preende. Na secretária do escritório acha quem lhe discute espirituosamente as idéias e amàvelmente lhe indica
.até remédios para dores do corpo. Não vês, leitora, que perigoso desvio se abre aqui para os ím­petos do coração? De semelhante tentação
estará li­vre teu marido, se em ti encontrar um entendimento amoroso.
Ouvir com interêsse o marido corre ao lado de compreendê-lo, leitora. Suponhamos que seja vasta e emaranhada a cultura dêle. Ser-te-á
impossível segui­lo como profissional. Pouco importa. Não é isso que procura o homem no casamento. Quer apenas uma auxi­liar devotada a
quem possa expor seus cuidados, mas certo de encontrar um coração de interêsse por tudo. Precisas entrar pelo mundo interno de teu espôso,

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deixando, porém, à porta o mundão de futilidades que te entram pela casa adentro, o dia inteiro.
Feliz a família onde o bom senso e a fé cristã de uma espôs.a pairam como sol fulgurante nas horas de crise, ou de graves
resoluções para a vida prática!
Aconselhar com prudência. eis o terceiro brilho da inteligência feminina no casamento. Nunca poderá fugir dest.a missão
-

aquela que deseja merecer com hon­ra o título de espôsa. Em certas horas terá de falar com prudência, a fim de bem governar a casa, os ne­
gócios. Como influir na educação sem o recurso do conselho? Mas para aconselhar é preciso ter uma ca­beça calma e ponderada, leitora.
Muito marido tem encontrado sua sorte na palavra serena e prudente da mulher. Foi ela que impediu um gesto infeliz, que apressou uma
resolução necessária. Lá um dia êle volta alquebrado, des.arvorado por causa de surprêsas e traições. Nessa altura a espôsa inteligente
primeira­mente adivinha o que acontece e depois, com muito carinho e tato, se interess.a por tudo. Finalmente, am­para-o, soergue-o, dá-lhe o
bastão na mão e lhe mos­tra a estrada do dever, da coragem. Convence-o de que nem tudo está perdido com a inesperada mudan­ça de um
cenário.
Eu seria hoje um criminoso, se naquele dia minha senhora, assentada a meu lado, horas a fio, não hou­vesse serenado meu
ódio, com seu bom senso e sua fé. Tal era a linguagem de um conhecido meu, leitora, saudoso da espôsa que Deus lhe tirara.
E' preciso, perguntemos, que o marido deixe um companheiro perigoso, que não traga para casa jor­nais e livros duvidosos,
que não ceda à tentação de pôr um filho em algum colégio protestante? Feliz dêle, quando então sua vontade esbarra com argu­mentos
inquietantes, que lhe expõe o bom senso da 47
espôsa! Mudará suas resoluções, porque ama sua es­pôsa e não pode contradizê-la sem razão.

PALAVRAS DO PAPA. Todos, pois, os que cuidam dos públicos -negócios e do bem comum não podem descurar estas necessidades materiais dos cônjuges
e das famílias, sem pre­judicar gravemente a sociedade e o bem comum. E por isto é que se torna necessário, no faur as leis e em ordenar as públicas despesas, tenham na maior
conta o cuidado de au­xiliar a pe.núria das famílias pobres, considerando isto como uma das principais atribuições do seu cargo.

24. PARA LHE AGRADAR . . .

Tem a palavra uma experimentada e inteligente se­nhora que se dirige às suas amigas casadas: "Diga­se o que se disser, daqui
até que o sexo forte se mostre completamente generoso para conosco, ver­nos-emos sempre obrigadas a dispender muito e a uma infinidade
de concessões, no intuito de prendermos ao lar um marido que, as mais das vêzes, não faz ne­ nhuma concessão e se julga, com tôda a
naturalidade, no seu direito.
Por conseguinte, enquanto a humanidade não so­ frer uma grande reforma, necessitamos de s.aber aquilo que, no fim de
contas, agrada ao homem, embora êle se não incomode absolutamente nada com esquecer o que .a nós nos agrada na sua pessoa.
Para que a mulher seja amada do homem, não de­ve ela ter nenhum traço masculino nem na sua pessoa moral nem n.a sua
pessoa física. Ser verdadeiramente mulher é coisa que demanda muita graça e muitas vir­tudes, em o número das quais há a considerar no pri­
meiro plano a abnegação e a dedicação . . . que o ho­mem nem sempre nos retribui.
homens querem uma companheira amável, ale­gre, serena e disposta a adaptar-se à vida, sejam quais forem as condições
Os
em que ela se lhe apresentar.

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Numa palavra, deve ser um raio de sol na casa dêles e não permitem que haja nuvem que o tolde, nem quando se recolhem rabugentos,
melancólicos ou pes­simistas. Gostam da mulher de conversação agradá­vel. . . quando desejam conversar, mas que saiba ca­lar-se logo que o
gôsto dêles seja conservarem-se si­lenciosos e pensativos, embebidos nas suas reflexões, ou que sintam vontade de falar sem que os
interrompam. Requerem-na suficientemente maternal para com­preender as necessidades das crianças grandes, tão bem como as das pequenas
(numa palavra, pode o marido não ter a mínima atenção para conosco, mas ficará muito admirado se o não amimarmos). Mes­mo que o
caráter dêles seja brusco para tôda gente, gostam que a mulher diga antes bem do que mal da humanidade (acertou, minha senhora!). Esperam
que esteja sempre pronta a simpatizar com os seus tédios ou com as suas alegrias . . . , mas conservando muitas vêzes uma soberana
indiferença pelas pequenas ocor­rências da vida dela.
Não raro se tornam resmungões com a idade, mas exigem que ela envelheça com graça. Desejam que vista bem, segundo a sua
condição . . . contanto que gaste muito pouquinho. Não querem que os vestidos dela dêem na vista, por isso que deve passar desper­cebida . . .
E pode um marido ser muito amável p.ara as mulheres dos outros, mas não quer que os seus con­gêneres suspeitem da existência da sua.
Quando vos disserem que um homem gosta das mulheres muito inteligentes, não o acrediteis em ab­soluto. Para lhe .agradar
escondei-lhe metade do cé­rebro e patenteai-lhe tôda a extensão do vosso cora­ção (que áureo conselho!). Por muito tempo ainda, os homens
não perdoarão à mulher que ela possa ele­var-se à altura intelectu.al dêles.

Tres Chamas - 4
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Não admitem na mulher frieza para com êles, ainda que sejam frios com ela. Necessitam-na afetuosa. Po­dem às vêzes estar
carrancudos, ariscos, muito con­ centrados ou pouco comunicativos. Assim mesmo te­ rão necessidade da suave pressão das mãos de sua
mulher e de um beijo terno, essa moedazinha de tanto curso na simpatia conjugal. Por sua parte nem sem­pre porão em prática a ordem e o
cuidado, mas que­rerão vê-los reinar no recinto da família. Talvez que gastem com grande largueza, mas a espôsa deverá ser econômica. Ou,
então, hão de exercer uma seve­r.a vigilância sôbre o seu dinheiro, pretendendo, no entanto, que a abundância reine em casa. O eterno co­zido
de todos os dias ràpidamente os desanima. E', pois, útil à mulher esforçar-se um pouco por adquirir uma certa dose de ciência gastronômica.
Pode ela, por seu lado, ser indiferente a êste pormenor de vida material, mas não deve esquecer que o paladar de um marido exige que o
lisonjeiem, não menos que a sua vista e que o seu ouvido.
O marido doente todo se compraz em que cuidem dêle e o animem, mas embirra de que a espôsa tenha uma saúde delicada.
Tratemos, pois, de arranjar uma saúde de ferro.
Enfim, o homem gosta de uma companheira, de uma mulher que tenha suficiente conhecimento do mundo para se guiar, para
saber dêle com o marido e tomar interêsse pela vida pública dêste, pelos seus projetos e pelas suas esperanças; de uma mulher que saiba
dizer-lhe uma palavra consoladora, escutá-lo com sossêgo e que tenha um olhar comovido para qual­quer desgôsto que sobrevenha a êsse
querido amo e senhor.
O homem é um pouco pessoal, digo-vo-lo baixinho, minhas irmãs. Foi para o completar que o Criador nos fêz a nós ternas e
delicadas. Cultivemos as nossas

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virtudes para a felicidade dêle . . . e para a nossa, porque, se procedêssemos de outro modo, .as coisas iriam de mal a pior.
E, depois, também, carreguei bastante as côres do quadro pela face masculina, e, aqui para nós, os ma­ridos, às vêzes, valem
mais do que isso".
A longa citação certamente não cansou a leitora. Diz muitas verdades com graça e fina ironia contra os homens. Ainda bem
que a última frase traz um ramo de oliveira e carinho.
Tudo faz lembrar o conceito do poeta, ideando pa- ra si uma espôsa:
Se me vinhas falar baixinho ao meu ouvido, doce como um perdão, triste como um gemido . . . eu me sentia bem.

IV 25. A VOZ DeLE

O assunto precedente é de tanta importância e atua­lidade que passo a estudá-lo com as palavras do Papa. A voz dêle é voz de
bom pastor. Quem a ouve ouve a de Deus. Quem a segue segue o divino Pastor. E' ovelha dêle e por êle será reconhecida. Deus garante pelo
profeta que "carregará nos ombros as ovelhas prenhes".
Ponhamos de um lado as desculpas e os princípios que se ouvem nas famílias e do outro a decisão do Papa: filho é carga incômoda. Muitos "ousam"
chamar a prole carga incômoda do casamento e afirmam dever ser cuidadosamen­te evitada pelos cônjuges. Mas isso não já com a continência honesta permitida, também no
matrimônio, quando um e outro cônjuge nisso concordam, mas viciando o ato na­tural.
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Os casados são livres na sua vida íntima!

E' impossível a continên· cia. E também a mulher não tem saúde, a fami· lia não tem recursos I

Tudo isso justifica que se evitem os filhos, por­que assim procedendo na­da se faz co
exagêro cha· mar de desonestos os ca· sados que, tendo rela­ções, evitam as onse­qüênciasl

Hé ainda a pobreza dos casais!


em não sentirá tomado de viva admiração ao ver uma mãe oferecer-se, com forta­leza
Mas Deus não pensa dês· te modo e sabe per· doar! . . .
à prole já concebida? A santa Igreja sabe também per­feitamente que com freqüência
do, quando, por mo­tivos verdadeiramente graves, e sem que com isso concorde, per­
se não torna réu, desde que se lembre das leis da caridade, procurando dis­suadir e
cedam contra a ordem da natureza os cônjuges que usam do seu direito na forma devida
de outras circunstân•cias defei­tuosas, não possam dar origem a uma nova vida. O Papa -

fins que aos cônju­ges é lícito desejar, desde que respeitem a natureza intrínseca do ato
al . . . Igualmente chegam ao íntimo da nossa alma os gemidos daqueles cônjuges que,
E as causas mais do que justas que há para tantos casais?
m gravíssimas dificuldades para man­ter a sua prole. No entanto, é ne­cessário estar bem
riais não induzam num êrro bem mais funesto, uma vez que não podem existir
Não é por comodidade que evito. Sofro demais e quase morro com os partos repetid

53
52
em, há casos em que é impossivel se­guir semelhante doutrina e guardar mandamento tão penoso!
cença, porque, tendo aver­são aos cuidados da prole, pre­tendem somente satisfazer seus apetit
própria des­culpa a incapacidade de observar a continência e a impossibilidade de admitir a pro
mãe, ou das condições econômicas da família. No entanto, não pode haver razão alguma, emb
forme com a natureza e honesto o que é in­trinsecamente contrário à natureza. E, sendo que o a
tem em vista a geração da prole, os que, ao praticá-lo, o tornam conscien­temente incapaz des
eza, e cometem uma ação torpe e intrin­secamente desonesta. Pelo que, não é maravilha que a M
as Escrituras sagra­das, tenha em sumo ódio tão hor­rendo delito e o tenha outrora castigado co
o. "Por­que se está desonestamente com a espôsa legítima, quando se im­pede o fruto da prole"
uso perverso do matrimônio são em geral imaginários ou exa­gerados, para não falar dos que sã
com­preende e conhece perfeitamente o que alegam a favor da saúde e do perigo de vida das m

Mas se o marido não ad­mite os filhos e foge ao dever que lhe cabe?

gada, porque meu confessor nunca con­denou meu procedimen­to! . . .

Como vejo, não há con­cessão alguma no caso?

ligiosa, mes· mo no caso de ''fazer como as outras".


brigar dos mandamentos de Deus, que proíbem todo
Se algum confessor ou pastor de almas, o que Deus não permita, induzisse êle
Em qualquer hipótese, os cônju­ ges, sustentados pela graça de Deu os confirmasse, quer aprovan­do, quer calando-se culposamente, saiba que terá de
ssão e conservar livre de tôda mancha a castidade no matrimônio. Pois é uma verda­de inconcão ao seu múnus, e considere como dirigidas a si as palavras de Cristo: "São cegos e
io magistério do Concílio de Trento, que "nin­guém deve seguir aquela opinião temerária, cego, ambos caem no abismo". Nossa palavra proclama altamen­te e novamente decreta
omu­nhão, que, para o homem justifi­cado, não há possibilidade de cumprir mandamentos dehumana, seja frustrado da sua natural vírtud·e procriadora, é contrário à lei de Deus e da
impossíveis, mas, ao orde­nar, adverte que faças o que pu­deres e peças o que não puderes e

tureza, e os que tal ousem prati­car tornam-se réus de culpa grave. Não gosto de ouvir os
Recomendamos, por isso, aos sa­padres falar sôbre isso!•••

cerdotes, que se ocupam na au­dição de confissões e a todos os outros que têm cura de almas, não permitam que os fiéis entre­gues aos se·us
cuidados possam errar em ponto tão importante da lei de Deus, e principalmente insis­timos em que se guardem a si mesmos dessas falsas
opiniões e com elas jamais se tornem coni­ventes. Então,
leitora, estamos certos neste assunto: a voz do Pastor das almas é
muito diferente das opiniões pronunciadas em rodas e palestras. Mesmo que no meio haja um senhor médico que,
em nome da ciên­cia, reclame liberdades, não vaciles. Fica com o Pas­tor da cristandade! A ciência, há muito tempo,
que já faliu perante a fé, sustentando coisas hoje para desmenti-las amanhã. Parece ironia, mas é realidade. Em
Paris, na mesma sala em que célebre professor exigia que se matasse o embrião, veio depois um seu discípulo, não
menos célebre, ensinar que nunca se deve fazer isso. Palavras humanas são vãs, mas as vozes de Deus não passam
nem desmerecem da verdade.
26. EXPIAÇÃO . . .
A lista dos erros não pode jamais levar ao deses­pêro. Uma cristã tem sempre o recurso da penitên­cia e da expiação.
Se lhe fôr a alma rubra pelos crimes, pode tornar-se alva como a neve - con­forme a promessa de Deus.
Quem sabe alguma leitora tem gravíssimas faltas. Foi infiel muitas vêzes ou uma só vez. Foi mãe assassi­ na
expulsando do ninho, prematuramente, as crianças 55
que esperavam a hora do nascimento. Recorreu a cer­tas operações que lhe roubaram a fecundidade, aliás incomodativa, e cujo impedimento
era mesmo inten­cionado pela intervenção.
Agora reconhece o êrro, mede-lhe as horríveis mar­gens e profundidades. Há de desesperar? Não!
Deus perdoa o êrro, quando encontra arrependi­mento, confissão humilde e leal promessa de não tor­nar a cair. Tudo isso se
mostrará no cuidado com que a espôsa fugir das ocasiões. Mais depressa o perdoará, se a cu'pada fôr perseverante nos sacra­mentos e na
oração. Cruzes e sofrimentos na famí­lia lhe servirão para cunhar a moeda da penitência e com ela poderá pagar até o último ceitil que deve a
Deus.
O marido, traído? Am.a-o com maior ternura e sa­crifício, leitora que o traíste. Consagra-te com todo ardor à sua felicidade
terrena e celeste. Poderás as­sim resgatar o êrro.
O mundo, a sociedade? Esta talvez não te perdoe fàcilmente o passo errado. Tentou-te, seduziu-te e agora toma ares de
puritana escandalizada. Vinga-te dest.a sociedade, não tomando em conta seus desca­ridosos comentários sôbre tua regeneração!
Oxalá essa sociedade ouvisse o conselho do poeta: Não insultes a espôsa que errou, pois não sabes sob que pêso sucumbe essa
pobre alma. Quem sabe di­zer quanto tempo lutou o seu coração?
A fôrça de modéstia, de humildade e de recata­menta a culpada cancelará sua falta.

27. SUBMISSÃO DE CRISTÃ . . .

Casei-me com uma mulher de ótima memória, agu­díssimo entendimento, mas sem vontade - dizia o rei Clodoveu, marido de
Clotilde. E' que essa santa

56
rainha estava bem compenetrada do papel da espôsa cristã, na amorosa submissão que deve ao marido.
De fato, leitora, as idéias modernas de indepen­dência, pregadas e seguidas por tantas senhoras, não alteram a verdade do que
está escrito nos Livros de Deus. Não passam de heresias para uma cristã te­mente a Deus e de consciência delicada.
As mulheres sejam sujeitas aos seus maridos (Ef 5, 22) . Mulheres, sêde sujeitas aos vossos maridos, como é necessário no
Senhor (Col 3, 18). Assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim as mulhe­res estejam sujeitas a seus maridos em tudo (Ef 5, 24) . Tais são
as palavras claras e imperecíveis de São Paulo.
Chefe, princípio que governa a família, é portanto o marido. Para isso recebeu no sacramento uma gra­ça de estado também.
Não pode ser um chefe tirâni­co, um ditador, um comandante militar, tal como aquêle centurião do Evangelho lembrou a Nosso Senhor: "Digo
a um soldado: vai! e êle vai".
Seu domínio, sua superioridade sôbre a espôsa é como o da cabeça sôbre o corpo, brando, influindo vigor, cheio de
benevolência. Melhor ainda: é como a autoridade de Jesus Cristo sôbre a Igreja, sua es­pôsa. Estaria errado, cometeria intolerável abuso, o
marido que quisesse fazer da espôsa uma escrava de suas ordens, ou se a considerasse obrigada à obediên­cia como um educando a deve ao
educador. Sôbre bases falsas estariam as relações dos cônjuges, se considerassem a autoridade como anterior ou, em seu exercício,
independente do amor. Marido e espôsa for­mam uma espécie de "assembléia deliberativa". A úl­tima palavra fica com o marido, porque êle
recebeu a delegação do poder, após mútuo entendimento.

Em tudo, diz São Paulo, para excluir qualquer vão pretêxto, qualquer subterfúgio, para não dar margens 57
a caprichos e rebeldias. Em tudo e no Senhor, porque onde há ofensa a Deus cessa a autoridade do marido e a obrigação da espôsa, que não é
escrava nem vil instrumento de depravações nas mãos dêle. Sêde su­jeitas como ao Senhor e no Senhor eis a luminosa divisa para as leitoras
-

bem intencionadas.
A espôsa deu-se ao marido e, salvo o que deve a Deus, está no poder do marido e só para êle deve vi­ver. Nessa obediência é
preciso ter em vista o bem dos filhos. Havendo abusos prejudiciais aos filhos, deve a espôsa apresentar os seus direitos, porque é também
responsável pela formação dos filhos que pôs no mundo. "Obedecei, espôsas, porque é melhor dar do que receber. Dar sem compensação é a
grande lei do amor; é pundonor e alegria dos sinceros e pro­fundos afetos" (Besson) .
Veremos mais adiante, leitora, certas exceções prá­ ticas nessa amorosa obediência. Clodoveu encontrou uma espôsa sem
vontade, porque nunca lhe pediu coisa que fôsse contra a vontade de Deus.

PALAVRAS DO PAPA. Quanto ao grau e ao modo desta submissão da mulher ao marido, pode ela variar conforme a variedade das p·essoas, dos lugares e
dos tempos; antes, se o homem faltar a seu dever, pertence à mulher suprir essa falta na direção da família. Mas em nenhum tempo e lugar é lícito subverter ou lesar a estrutura
especial da mesma família e a sua lei por Deus firmemente estabelecida . . .

28. PROFANAÇÃO E ESCANDALO

Uma história verdadeira, tirada, em resumo, de E. Burger (Entre leito e berço) :


"Depois da costumada viagem de núpcias o jovem par instalou-se na residência oficial, situada no pri­ meiro andar da
repartição dos correios. Logo na pri­meira manhã, às nove e meia, desce a mulher à sala da repartição, beija o maridinho e sussurra-lhe:

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- Meu amor, vem tomar café. - Mas não estás vendo que tenho agora serviço? - Ah! benzinho, só quinze minutos, quinze minu-
tos só! Se não vieres não me agradará o café. E puxa-o pela manga do casaco, belisca e pedincha tan­to que êle acaba deixando o trabalho
para acompanhá­la. As 1 1 está, outra vez, em baixo a mulher do chefe. - Benzinho, que demora em subires para tomar o lanche! Não há
remédio senão vir te buscar.
- Não tenho tempo; come sàzinh.a por esta vez . . . - Absolutamente impossível . . . Então não me que- res mais? . . . E pendura-se-lhe ao
pescoço: Meu ben­zinho adorado!
E' assim todo o santo dia! Se o vê sentado numa cadeira sem cncarapitar-sc-lhe no colo, é um mila­gre. Quando está lendo o
jornal, salta-lhe ao pescoço. O marido tem de abotoar-lhe e desabotoar-lhe os ves­tidos, e com os objetos mais íntimos el.a se apresenta na
sala da repartição, sem o menor acanhamento. A criada - uma môça simples e honesta - no fim de três seman.as, dá o aviso prescrito para
deixar o emprêgo.
- Como é sabido, diz ela, gente môça casada tem uns modos e umas modas que não são para nós sol­teiras, mas o que se passa
naquela casa . . . (Diz aqui Burger: Tudo isso dura pouco. O que o homem obtém assim com tanta facilidade perde, para êle, muito de­pressa,
todo o encanto. E' próprio da natureza do homem conquistar, querer sempre tomar posse. Lá onde a mulher afoga o marido em carinhos
excessi­vos e provoca-lhe a sensualidade, esfria muito depres­s.a todo sentimento nobre e o homem acaba sentindo­se enfarado, torna-se frio .
. . e não leva a rigor a fi­delidade conjugal. Quando, porém, a mulher sabe manter uma reserva discreta, um pudor delicado na sua grande
afeição, o homem, por sua vez, alia ao 59
amor sensual um verdadeiro aprêço, uma ternura res­peitosa, únicos elementos capazes de criar a união du­radoura das almas, que a .ambos
traz felicidade).
E o fim dêsse amor profanado pela espôsa do chefe do correio não tardou a aparecer. Com a gravidez acentuou-se no terreno
da sensualidade aquela série de caprichos, próprios a mulheres mal-educadas. Ninharias, que outrora não eram notadas, serviam agora de
pretêxto para brigas e discussões. Urrt dia ela esquecera-se de comprar botões de colarinho e o marido precisava de um.
- Não faz mal, benzinho; em compensação terás dez beijos. - Mas com isso não posso abotoar o co­larinho - gritou êle furioso e
abalou, atirando com a porta.
Resultado? Ao comêço, gritos e nervos, que não deram o resultado esperado pela mulher. Depois, ten­tativa de suicídio para
impressionar o marido. A ten­tativa terminou com um pé quebrado. Em seguida, aconteceu o que era de esperar que acontecesse: êle, privado
da espôsa, procurou por perto uma compen­ sação para sua incontinência. Achou-a em casa e na repartição. Ela - o favo de mel - foi
convalescer numa estação climatérica e fêz como o marido. Tudo acabou em divórcio.

29. FIEL E CASTA

No dia do teu casamento, a Igreja despediu-te do altar com uma prece e um desejo. Rogou ao Senhor pudesses servi-lo fiel é
castamente no matrimônio, tri­lhando os caminhos deixados por espôsas santas.
Antes de tudo tua fidelidade requer que mores jun­to com teu marido. Não podes deixá-lo, a não ser por gravíssimas razões.
Não quadram bem dentro des­ta exigência ausências demoradas e repetidas, só por-

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que a môça casada está louca de saudades dos pais. Onde ficará então o auxílio para o marido, o remé­dio para as exigências dos
sentidos, na efervescên­cia juvenil?
Há ainda três objetos que constituem o essencial dês te dever. E i-los: 19 dar o que é de dever; 29 não abusar do que se pode
fazer; 39 não repartir com ou­tro o que é privativo do marido.
}9 Dar o que é de dever. Portanto, certas recu­sas e desobediências tornam-te, leitora, grandemente culpada aos olhos de Deus, quando para
-

isso não há r.azões justas e proporcionadas à índole do marido. Só por vingança de criança nega-se uma espôsa ao ma­rido, para "castigá-lo"?
Ou então se esquiva por qualquer incômodo de somenos importância, por va­go receio de sofrer depois? Não falta também a fal­samente
piedosa que alega suas rezas e comunhões para obrigar o marido a renunciar a seu direito? Tô­das essas se expõem a serem, ou mesmo já são,
cau­sas de graves pecados contra a justiça e a caridade. 29 Não abusar do que se pode fazer. Entram aqui as tais precauções para evitar os
-

filhos. Não passam de verdadeiras imoralidades e ofensas a Deus. Que bênção pode haver numa casa onde habitualmente o sacramento é
quebrado dessa forma? Além disso são perniciosos os efeitos naturais destas práticas. Provo­cam sentimentos de inferioridade, trazem consigo
o mêdo angustiante de que o meio empregado venha a falhar e recalcam inutilmente o desejo da maternidade e gr.avidez na mulher. E' êste
desejo a voz de uma profunda necessidade da natureza feminina. Só moti­vos de ordem elevada e religiosa é que poderão re­primi-lo sem
perturbações. No caso contrário, de vio­lência, notamos as nevroses de angústia, as nevroses cardíacas e a própria aversão da mulher ao
marido. E onde fica a espontaneidade do abandono reei-61
proco, tão essencial à boa harmonia conjugal, quan­do existe o uso de cautelas e meios anticonsepcionais? Não peque a leitora, julgando que o
casamento lhe dá plena liberdade para tudo.
Isso seria casar e viver à moda de pagãos, de cria­turas que seguem a voz d.a carne e do sangue. Quem não pratica a castidade
conjugal - que regula as li­berdades e intimidades que não mancham o leito con­jugal - f.alta contra êste ponto. Que de uma coisa se convença
a leitora e dela convença o marido: O matrimônio é remédio para a concupiscência da carne, mas como remédio deve ser tom.ado com medida
e prudência, na preocupação de conservar a saúde. Ha­vendo abuso, ei-lo mudado em veneno para corpo e alma.
39 Não repartir com outro o que pertence ao ma­rido. Vem a propósito o adultério do coração e do corpo. Pensamentos c desejos entram na
-

lista dos per­tences do marido. Nosso Senhor disse que pecou com a mulher quem a olhou para desejá-la. Diga-se o mes­mo d.a mulher que
com desejos olha para outro homem. Terríveis, comuns e numerosos são os inimigos da fidelidade. Apenas alguns ficam apontados aqui.
Os romances, os teatros, os jornais com certos fo­lhetins, os cinemas - tantas e tantas vêzes fazem cam­panha contra a espôsa
fiel. Põem-na em papéis ridí­ culos, em situações tôlas e vestem com sêdas e galas as levianas. Os bailes de sociedade e certas diversões
públicas já viram o naufrágio de muita fidelidade. Até o guarda-vestidos pode estar cheio de perigos e cila­das. Pois, quando decotados,
exagerados na forma e nas linhas, parecem tais vestidos uma bandeira a convidar piratas de água doce e alto mar. As adula­ções masculinas
cercam o coração feminino com muita flor. Porém a flor da inocência não gosta de ser

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acompanhada por outras irmãs suspeitas. E por isto murch.a nos grandes e pequenos gestos de infidelidade.

PALAVRA 00 PAPA. E' um fato que, não mais escon­didamente e nas trevas, mas abertamente, pôsto de parte todo sentimento de pudor, com palavras,
escritos, represen­taç•ies teatrais de tôda espécie, romances, histórias e contos amenos, projeç1ies cinematográficas, discursos radiofônicos - enfim com tôdas as invenc;iies
mais modemas da ciência, vem conculcada e se piie em ridículo a santidade do matri­mônio, enquanto são louvados os divórcios, os adultérios e os vícios mais torpes ou pelo
menos pintados com tais côres, que parece quererem fazê-los aparecer isentos d·e tôda mácula c infâmia
...

30. PARA QUEM?

Vão estas linhas endereçadas a alguém que as pos­sa aplicar a si próprio. Encontro-as numa revista fran­cesa, destinada às
senhoras casadas. E' uma leitora que tem a coragem de falar às claras, para maior orientação de suas irmãs de sacramento.
- Li, sr. redator, como se mata a intimidade con­jugal. A ótima revista católica, orientadora das senho­ras casadas, merece meus elogios e
francos aplausos. Casada há vários anos, não me acanho de confessar que por pouco soçobrou meu lar, perante a falta de compreensão dessa
intimidade. Quanta revolta inter­na em face do inevitável e surpreendente dessa inti­midade, escondida a meus olhos por uma educação errada!
Que terrível reação de meu ser, quando vi que ao meu conceito de casamento e amor faltava a base! No comêço foi o falso pudor que reagiu. A
êle as­sociou-se depois o orgulho. Por fim, o amor próprio levantou as barreiras que me impediam voltar atrás no meu modo de proceder.
Minha salvação veio de uma proposta feita por meu marido. Ofereceu-me uma temporada em casa, ao lado de minha família . . . ,

63
para eu e êle têrmos descanço. Só então pude medir o cansaço que já o invadira, ao propor-me semelhante ausência, dispensando
os carinhos da espôsa, tão cus­tosa em dá-los. Percebi que se encaminhava para a completa indiferença.
Há muita razão em se afirmar que, em grande par­te, a responsabilidade das fraquezas extraconjugais dos maridos se deve às
espôsas cheias de recusas e negações, melindrosas de falso pudor. Eu quisera com­preendessem tôdas as môças recém-casadas o perigo que
lhes pode trazer êsse sistema. Infelizmente, fica-se sabendo de tudo quando já é tarde.
Quanta falt.a faz uma prudente e esclarecida inicia­ção maternal neste ponto!"
Leitora, se de um lado o falso pudor é funesto, igual­mente mau é o descuido em, aos poucos, acostumar o marido a renúnci.as
voluntárias. Sõmente assim es­tará êle prevenido para os dias de renúncias dolorosas e inevitáveis. O Santo Padre recomenda uma pru­dente
abstinência, principalmente .aos recém-casados. Até neste ponto o hábito, bom ou mau, é uma fôrça terrível, um recurso valioso.

31. SEMPRE EM CONSERTOS E REFORMA . . .

é a sorte de todo casamento, mesmo do mais bem afortunado. Nada é durável quando desleixado. Ca­sas, móveis, vestidos,
estofos devem ser reformados. Do contrário não se conservam prestáveis. E a dona de casa já conta com as goteiras do telhado, com os
arranhões do encerado, com as molas gastas de certos móveis.
E' prudência colocar os prazeres, as amizades e até o amor de casados na lista das coisas que hão de viver em reforma e
consertos. Os mal-entendidos, as desatenções inesperadas estremecem o edifício do
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lar. As pac1encias cansadas ferem os corações que esperavam por acolhimento de veludo.
Assim surgem os pequenos rancôres, recalcam-se sentimentos. E não costumam ser de muita profun­ didade as águas
represadas? Sentimentos represa­dos escavam-se, por isso, um leito profundo.
Exigência é, portanto, muito justa e compreensível, essa de se reconstruir a ventur.a do lar todos os dias. Não é necessário, porém,
reconstruí-la diàriamente por explicações. Nem tampouco recorra-se todos os dias a confidências e análises. A análise mútua e pro­funda
conduz a discussões inúteis, leva a bate-bôcas prejudiciais. Uma espôsa, verdadeiramente tal, adivi­nha os matizes, as ameaças, as correntes
do tempo, as sombras que descem sôbre o lar. Por instinto acha o remédio adequado e oportuno.
O marido, por sua vez, não ignor.a que, em vez de palavras, basta um olhar, um sorriso para dar expli­cações silenciosas.
Reconstruir a amizade respeitosa é tarefa abençoada de todos os dias. Cada qual apren­da .a respeitar as preferências do outro. Não creio,
leitora, que pretendas figurar entre as espôsas que contam com absurdos, todos os dias. Ora, um dêsses absurdos é imaginar que homem e
mu!her possam ter as mesmas idéias, os mesmos desejos e as mesmas opiniões. Coisa impossível e indesejável. Cada qual conserve o seu
colorido individual.
E' verdade que nos dias da lua de mel tu e êle descobríeis, a cada passo, uma semelhança de almas e de idéias. Páginas de
amor romântico, leitora! O tempo já as levou ou levará em breve.
Chega a hora em que as n.aturezas profundas re­tomam seus direitos.
"Chegou então a vez de espalhar a amizade seu encanto. Dois sêres reconhecem que se diferenciam moral e intelectualmente.
Mas, com prazer, aceitam

Três Chamas - 5 65

essa dissemelhança e nela encontram ensejo de mú­tuo progresso espiritual" (A. Maurois).
Tenha teu espírito, leitora, uns ares de atento e de inteligente, de discreto e de suave luz. Servirá para esclarecer a alma de teu
marido. Servirá para ilumi­nar-lhe a obscura metade do gênero humano, que é formada pelos pensamentos do mundo feminino.

PALAVRA DO PAPA. Antes, para que o bem da fidelidade resplandeça na devida pureza, mesmo as mútuas manifesta­çcies e familiaridades entre os
cônjuges devem ir assinala­das pela virtude da castidade, de modo tal que os cônjuges se comportem em tôdas as coisas de conformidade com a norma divina e as leis da
natureza, e se empenhem sempre em seguir, com grande respeito peia obra de Deus, a von­tade sapientissima e santíssima do Criador . . .

32. CAUTELA COM E. LE!

Não se trata, leitora, de cuidados com o marido, com móveis, com qualquer cristal de valor. Trata-se de vigiar a tua inclinação feminina para
o despotismo. Do contrário cairás no êrro de uma criatura despótica. O despotismo é tanto mais enraizado na mulher, quanto mais necessário
é para as suas funções prin­cipais de criar os filhos e dirigir um lar.
Um bebê não se educa fazendo-lhe as vontades. E' preciso substituir-lhe a vontade pela vontade da edu­cadora. Não se lhe
pergunta se quer tomar seu ba­nho, seu remédio, seu mingau. Impõe-se-lhe isso. No govêrno da casa não é admissível nem é prudente an­dar
indagando das vontades e preferências dos que a habitam. A dona de casa há de ser a autoridade su­perior, quase ditatorial, que resolve e
ordena.
Ninguém como a mulher sabe tão bem adivinhar as vontades alheias, mas também ninguém, como ela, se sente tão tentada a
impor a sua vontade própria. Somente obrigado pela religião, pelas leis e conve-

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meneias soc1a1s, resolve-se o homem a preocupar-se com a família. Para .a mulher é, entretanto, metade da sua ventura pessoal, o ter filhos e
poder servi-los, o trabalhar e inquietar-se por êles. Os filhos e a cas.a formam aquêle ambiente em que ela se sente bem para exercer seus
instintos ai truísticos: cuidar de outros c mandar nos outros.
Infelizmente, êssc despotismo, necessário até certo ponto, não é como o leite materno que vem e cessa a seu tempo.
Necessário ou não, oportuno ou ino­portuno, êle continua a existir, mesmo nas mulheres que já não têm o feudo dos filhos c do lar. E mais
obstinadas no despotismo mostram-se as pobres mu­ lheres a quem faltam crianças ou casa para gover­ narem, ou então qualquer outra
ocupação ideal que as absorva.
Assim procedem porque querem obrigar uma cria­ tura qualquer a fazer o que julgam que lhe aproveita. E' o altruísmo
mal-entendido, diz Gina Lombroso. como a tolerância no homem é um egoísmo bem­entendido.

33. O PRIMEIRO TíTULO

Quem o deu à mulher foi Deus, antes de criá-Ia. Destinou-lhe a finalidade, intitulando-a "auxílio ade­quado" para o homem.
Justamente isso significa a ex­ pressão hebraica do Gênesis. Ora, tal auxílio dá a mulher ao marido, ajudando-o em tudo. Ajuda-o com o
corpo, com o coração, com a inteligência. Suas ca­rícias e sua afeição de um lado, mas também seus pensamentos e seus conselhos e suas
intuições de ou­tro lado.
Espôsa às direitas, interessa-se ela pelo trabalho e pela posição do marido. Tem até estima à sua pro-67
fissão. Se fôr preciso ir para longe, para lugares sem confôrto, o .ajuda e não se queixa do exílio. Quantos maridos renunciam a vantajosas
posições só porque não se sentem acompanhados pela espôsa, tão apega­da a cer�as comodidades e certos meios!
Sempre é benfazeja a luz que sai de uma inteligên­cia amorosa de espôsa dedicada. Por isso, leitora, não ab.andones o marido
quando vive fazendo cálculos e ensaios para tomar uma resolução de mais impor­tância. Sôbre coisas que ameaçam a paz, o confôrto e a
estabilidade da família, tens certas intuições que faltam aos homens. Fala-lhe, portanto, com serenidade e amor. Teu instinto de conservação
saberá pôr em teus lábios palavras que são ponteiros do rumo a se­guir. E' difícil conservar sem arranhões a moralidade nos negócios. Nessa
altura tens importantíssimo papel de auxiliar. A ti cabe recusar qualquer proveito, qual-· quer confôrto que o marido te pode dar, mas somente
à custa de cert.as espertezas. Como errarias se, com tuas lamúrias e ambições vaidosas, o obrigasses a calcar aos pés as leis da honra.
Amoldar-se aos in­terêsses do marido em assuntos lícitos é também ou­tro auxílio apreciável. Muito padece o marido que, uma vez em cas.a,
só há de ouvir de sua espôsa o re­latório das artes dos pequenos, das má-criações da criada, das maledicências das vizinhas ou das ami­gas, das
espertezas do homem de venda, etc. Acha tudo isso fútil e chão demais.
"Como me torturava a mulher com sua incorrigível incompreensão! escreve um senhor. Eram-me insupor­táveis as bagatelas
que a preocupavam. Por mais que eu procure elevar a conversa, minha senhor.a a deixa cair sempre de novo. Ouve-me distraidamente, não se
interessa, não responde, muda de assunto, ataca uma questão pessoal. Tento ler-lhe alguma coisa. Sou interrompido por um nada: um gato que
entrou, uma

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criança que falou, um ruído que vem da rua . . . Quan­do lhe venho dar notícia de algum.a coisa importante que li nos jornais,
coisa que me apaixona, ela pare­ce-me de mármore. Só tem sangue e entusiasmo pelos seus ci rculozinhos de cada dia . . . "
Outro marido, poeta ilustre e homem de lindos con­ceitos, lia à espôsa umas ternas quadrinhas sôbre coi­sas da vida. Lia com
amor e entusiasmo. Ao levantar os olhos viu-a adormed6a em sua frente . . .
Ajudar o marido não se limita, portanto, a desco­brir mais uma receita culinária, a indagar se os sa­patos lhe servem, se os
chinelos lhe fazem falta. Se a mulher se descuida dos pensamentos e das preocu­ pações do marido, estabelece com isso uma espécie de
divórcio de cabeças. Daí provém fàcilmente um estra­ nhamento e separação. Por mais que teu marido te queira, leitora, não deve assim
mesmo sentir que lhe és por demais inferior. Outras seduções poderiam vir tentá-lo, impondo-se como comparações contigo. Mas
comparações desastrosas para teu coração. Não há re­médio: é necessário acompanhar o marido até a certas reuniões aborrecidas, se êle julga
tua presença neces­sária, ou amável, ou encantadora. Com tais atenções o habituas a repartir contigo .as suas alegrias e suas relações. Sem êle
o saber, estando a seu lado, serás talvez em muitos casos um anjo da guarda para o seu coração. Por tua causa evitará certas imprudências,
fugirá de certas ciladas ou ocasiões de pecado.

PALAVRA DO PAPA. tstes atos, pois na sociedade do­méstica não compreendem somente o mútuo auxílio, mas de­vem se estender e mais alvejar isto
principalmente : que os cônjuges se auxiliem entre si para uma formação sempre melhor e perfeição interior; de sorte que em sua mútua união de vida cresçam cada vez mais
na virtude, màxima­mente a sincera caridade para com o próximo, da qual, en­fim, depende tôda inteira a lei e os profetas . . .

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34. COMPREENSõES INDISPENSAVEIS . . .

Certos princípios devem ter seu berço em determi­nadas compreensões da espôsa. Assim munida e pre­venida não estranhará
atitudes e exigências, que dia a dia se .apresentam na vida de família.
Conte com oposição de caracteres no lar! eis a primeira máxima. Mesmo na família mais unida e mais cristã, a natureza
-

reclama certas manifestações que ferem c magoam. Segrêdo de penitência há nisso para a cristã prudente. Dessa oposição nascem as
divergências nas opiniões.
Conte com a confusão de limites nos direitos! eis outra norma. Muitas vêzes não se mostram com a nitidez necessária e
indiscutível os direitos de um ou de outro cônjuge. Ora, isso não impede a possibilida­de de conflitos, de intromissões mal recebidas e pior
interpretadas.
No meio de tudo guarde a cristã seu bom humor e calma! eis a terceira estrêla orientadora. Fal­tando êsse bom humor, os
-

menores desacordos avolu­mam-se em conflitos e choques. Morre então a união, esfria o mútuo amor. Mau humor só presta para con­tagiar os
outros: marido, filhos e até os animais do­mésticos. Gato atropelado pela manhã, devido ao mau humor da patroa, anda arredio o resto do dia.
êsse "nervo" é mais contagioso do que cachumba e gripe. E' belicoso, compra as briguinhas e brigonas, altera o sossêgo dos pacíficos, espanta
o riso e provoca a solidão. Cada um procura um canto seguro dos raios, com receio das descargas elétricas do mau hu­mor. O marido vai para
a rua, batendo a porta quando é malcriado, ou inventando um pretêxto quando é delicado. E lá na rua vai invejar os outros, que têm "espôsas
mansas e delicadas". Que perigo há nessa

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inveja! A criançada cala-se e espia de soslaio a cara feia da mãezinha. Parece uma ninhada . . . órfã.
E Deus? e a sua bênção e os seus anjos de paz?
Explore a fôrça do bom humor! eis o último princípio. E' êle uma chave misteriosa que abre todos os corações. Nem o
-

pequeno amuado, nem o marido casmurro, nem a filha grevista, nem a criada vinga­tiva resiste ao invencível bom humor da mãe e es­pôsa e
dona de casa. Torna-se qual ave cantora ou raio de sol espantando a solidão e as sombras. Logo a criançada interessa-se pela ave cantora,
compra êsse bom humor e espalha-o pela casa no sorriso ba­rulhento das almas inocentes. Até a graça de Deus éonta com êsse ambiente.

Bom humor, ou paciência sorridente, leitora, custe o que custar! E' êle o pão de cada dia que a todo preço precisa ser quebrado
para os famintos da ale­g�iil do teu lar. E' moeda a ser trocada em trôco miúdo o dia inteir.o.

35. CAMPAINHA ELÉTRICA

"sem isolador, tocando com e sem contacto - eis a mulher, que, por natureza, ama o trabalho e se dedica à ação. Daí lhe vem
que o gênio se azeda na idade madura, quando cessaram os filhos e se lhe restringiu o campo de atividade. Outra não é a ori­gem da atividade
das sogras, tão molestas às noras. E' a precisão de atividade. Esta leva a mulher a en­cher a casa com plantas, aves, gatos, cachorros que lhe
reclamam os cuidados. Por isso, começa infini­tos trabalhos de agulha, porque a livram de procurar outras ocupações. Por mais ruidosos e
custosos que sejam, são os divertimentos insuficientes para com­petirem com a profunda e íntima satisfação que tôda 71
mulher sente no emprêgo de sua atividade, em pro­veito da família, da humanidade.
Mal-entendidos nascem freqüentemente dessa cir-· custância, tantas vêzes ignorada ou desconsidera­ da. A espôsa não
compreende o amor do homem ao sossêgo, à meditação, à volúpia do ócio. Chama isso tudo de preguiça e moleza. Exagera-o como vício. De
outro lado o homem - para quem o sossêgo é o maior dos bens - não pode supor que para a espôsa seja maior recompensa o torná-la
comungante de seus trabalhos. Pelo contrário, quer proporcionar-lhe um dolce far niente, por ela refugado e detestado. O .agir e mexer-se é
para a mulher um prazer. Ei-la sofrendo, por conseguinte, quando se vê proibida de trabalhar" (Oi na Lombroso) .
O marido de Isabel Mora proibiu-lhe o lidar até com o bordado. Pela tarde, voltando a casa, ia exa­minar os dedos da espôsa.
Ralhava com ela se os via magoados pelo trabalho. . . Excesso de carinho, no­va espécie de martírio para uma espôsa que deseja ser "a mulher
forte e habilidosa", celebrada pelas Es­crituras.
Sirva o exposto para mostrar às noras, ainda jo­vens, os caminhos que as levem à compreensão de suas sogras.

PALAVRAS DO PAPA. O Santo Padre, depois de acen­tuar que o vínculo do casamento é indissolúvel, continua : "Antes de Cristo, a severidade da lei
primitiva foi muito atenuada pe:a dureza dos corações dos que faziam parte do povo eleito. Cristo, porém, em virtude de seu poder de legislador supremo, revogou esta licença
de maior liberdade e restabeleceu pl-enamente a lei primitiva com aquelas pala­ vras que nunca devem ser olvidadas: "O que Deus uniu, o homem não o desuna" . . O .

matrimônio traz consigo a per­petuidade do nó, tal, com efeito, que por nenhuma lei civil possa ser dissolvido.

72
36. CAMPOS DEFINIDOS

Não é demais, leitora, teres uma inteligência bem esclarecida ao lado de um coração devotado a Deus. Fica-te muito bem um exato
conhecimento do êrro e da vontade nesse terreno santo que é o casamento. Vamos expor com clareza o que pensa e diz o mun­do. Mas
também o que pensa e ensina o Evangelho. Verás o que a sodedade moderna afirma erradamente. Lerás, porém, ao lado, o que ensina o
representante de Nosso Senhor. Com o mundo estão palavras de morte. Com o Papa, os têrmos e as sendas da vida. Com o primeiro bradam
carne e sangue. Com o último, a razão e a fé, a voz da consciência e a voz de Deus. Seguindo o mundo, andarás pelas sombras da mor­te. Na
companhia do homem de Deus, que é Pio XI, seguirás atrás de esteiras de luz, de vida e de verdade. Fecundidade, fidelidade e sacramento são -

os três tesouros do matrimônio. Mas são tesouros ata­cadíssimos.


Contra a fecundidade o mundo inventa as fraudes da esterilidade.
Contra a fidelidade o mundo sai-se com erros de amor livre, de emancipação, de casamento temporário: Contra o sacramento o mundo atira a
instituição do casamento civil, mera cerimônia leiga.
Não te será difícil seguir a presente exposição, leitora, que desejas dar a Deus não só o culto do co­ração, como também o d.a
inteligência bem formada. Na presente situação dos espíritos, farás muito bem se leres mais vêzes êste capítulo. Iluminada, ilumi­ narás
depois. Orientada, apontarás rumos seguros às almas que te perguntarem pela estrêla de Deus. Mãe, terás palavras-bússolas para as filhas
noivas. Espôsa apenas, saberás corrigir faltas no marido. Como vês, sais lucrando para os teus e para tua consciência. 73
Vamos expor em confronto : 1 Q êrro e verdade sôbre a fecundidade ; 2Q êrro e verdade sôbre a fidelidade; 39 êrro e verdade sôbre o sacramento.

lQ SôBRE A FECUNDIDADE NO MATRIMôNIO

O ÊRRO DO MUNDO

t• Os filhos são uma car­ ga incômoda. Os casados podem evitá-los, viciando o ato
continência. .

3• O mundo fala de in­dicações "eugênicas", pa­ra melhorar a raça huma­na, seleCionando os indl-

A VERDADE DE DEUS J .• Muitos se atrevem a chamar de carga


vi­tá-la os casa<! os . . .
Arrogam-se também a crimino­ sa liberdade de cobiçar unicamen­ te a satisfação
2• O mundo fala de "Indicações terapêuticas" para procurar o abôrto ... Fala de matar a criança para salvar a mtros dizem que não podem guardar a continência.
Quaisquer que sejam as cir­cunstâncias, é possível aos casa­dos, robustecidos
ervar limpa e sem mancha a castidade. 2.• E' isso um crime gravíssimo no qual se atenta
rno.
Tratando-se da morte direta, ou se inflija à mãe ou à criança, se­rá sempre
atureza que brada : Não matarás! uma criança inocente? 3.• Há alguns que não se conten­tam com certos conselhos saluta­
Não se pode invocar aqui o di­reito de legítima defesa contra um agreepõem o
fim víduos sãos e mutilando
eugênico a todo outro fim os de taras hereditárias
mais elevado. ou lhes Impedindo o ca·
Querem que a autoridade públi­samento . . .
ca proíba o casamento daqueles que, segundo certas normas, hão de gerar filhos defeituosos. Ainda mais. Querem p rivá-los por lei, con­tra a sua
vontade, da natural fa­ culdade de procriar, util izando-se, para isso, da intervenção méuica . Todos os que assim agem, per­versamente se
. .

esquecem de que a família é mais santa do que o Es­tado. Esquecem-se de que os ho­mens geram não para a terra mas para o céu e a eternidade.
Não têm os governantes direitos sôbre a integridade corporal doe seus súditos, a não ser em casos de culpa que reclame castigo cruento. Nunca,
porém, por mo­tivos eugênicos.
29 SOBRE A FIDELIDADE NO MATRIMôNIO
A) INIMIGOS DA CASTIDADE
19 Não faltam contra a fidelidade os casados que se unem para atentar contra a prole . . .
2• E' preciso contempo­ rizar com as idéias e os costumes de nossos dias, a respeito de certa ami· zade dos casados com aJ. guma terceira pessoa . . . Tanto mais porque
não são poucos os qu�, pela sua índole congênita, dl· ficllmente podem saciar·
1 .• Sempre que se fJ'CCa contra a prole peca-se também, de certo modo e como conseqüênda, contra a fidelidade conjugal. Pois ambos os bens
(prole e fidelidade) estão entrelaçados no matrimônio. 2• Essa amizade é fingida, é per­niciosa. Quem assim procede fal­seia o conceito de
fidelidade.
Deus não te-ria instituído o ca­!lamento de um rom uma, se tal instituição não fôra suficiente pa­ra trazer remédio à concupiscên­cia da carne.
75
se dentro dos apertado! limites do casamento mo­nogâmico.

3• E' sinal de espírito atrasado, tacanoo; prova é de ciúmes tolos repro­var e evitar todo afeto e ato libidinoso com ter­ceira pessoa.
provam e evitam afetos libidino­sos com uma terceira pessoa. O sentimento nobre de esposos cas­tos rechaça e despreza como vãs e torpes semelhantes ficções.

8) OS INIMIGOS DA OBEDI�NCIA DA ESPOSA


1 .0 Todos os que empanam o bri­lho da fidelidade e castidade con­jugal atiram
t• E' uma indignidade a servidão de um cônjuge para com outro. Pois são iguaijeição da mulhe·r ao marido.
emancipada. Três são os modos dessa emanci­pação:
nem a dignís­sima liberdade que compete ao nobre e cristão ofício de espôsas. Muito ao
social econômica fisiológica.
er e da sua dignidade de mãe. E' o trans­tôr·no de tôda a sociedade familiar, .pelo qual ao
marido se tira a es­,pôsa, aos filhos, a mãe, e ao lar, a dona vigilan·te.
Essa igualdade antinatur·al só acarreta danos à mulher, pois a faz descer do
os do lar. 2.0 Não; tenha..se sempre em con­ta o que reclamam a índole di­versa do sexo
família . . . A sociedade doméstica foi estabelecida por uma autori­dade mais excelsa
udada nem por leis pú­blicas, nem por preferências pri­vadas.

2• Nas inovações sôbre os direitos políticos, so­ciais e econômicos da mulher, basta ter em vis­ta as co
da ordem social.

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C) OS INIMIGOS DO AMOR CONJUGAL
t• Em vez do genuíno amor no casamento, pro­curem conveniência de caracteres e conformlda· de de gênios. Chama-se isso simpatia.
I. • A instituição, a essência, os encargos pesados do matrimônio reclamam e supõem um genuíno, íntimo e .p·rofundo amor entre os casados.
Além disso, é ordem de Deus que se amem os casados. "Espo­sos, amai vossas espôsas, como Cristo amou sua Igreja". Basear o casamento
nessa simpatia, como sustentam os modernos inimigos do casamento, é o mesmo que edi­fioar uma casa sôhre areia. Dela disse Nosso Senhor
que, ao pri­meiro sôpro da adversidade, ruirá por terra . . . "E sopraram os ven­tos e deram com ímpeto naquela casa, e caiu e foi grande a sua
ruína". Mais adiante daremos em confronto a verdade e o êrro sôbre · o matrimônio, como sacramento.
Neste capítulo dos inimigos da fidelidade conju­gal, quadra destacar, especialmente, uma sentença do Papa: Ei-la:
"Tantas são as fontes de êrro que atacam a fide­ lidade conjugal, quantas são as virtudes domésticas que essa
fidelidade encerra, a saber: a casta lealdade de ambos os cônjuges, a honesta obediência da mu­lher ao marido e por
fim a firme e legítima caridade mútua".
39 OS ERROS CONTRA O SACRAMENTO
já mencionamos um êrro muito comum entre os ca­sados: o esquecimento das graças do sacramento do matrimônio.
Perante dificuldades alegam sempre fra­queza. o:vidam-se de que, com o sacramento, rece-
beram abundantíssimas fôrças para tôdas as emergên­cias da vida conjugal.
Agora interessa-nos apontar para outros inimigos que não são menos esquecidos. Ficam descobertos para que a leitora os
combata e contra êles viva prevenida.

A VOZ DO MUNDO A VOZ DE DEUS

O MATRIMONIO CIVIL
O sagrado caráter do casamen­to -- que vai intimamente iigado com a religião
O matrimônio é uma coisa puramente profana e exclusivamente civil. De modo
sua origem divina, quer do seu fim, que é gerar e educar para Deus a prole e levar igual­
sociedade . religiosa. Somente a sociedade civil é competente no casa­mento.
e o mútuo au­xílio, quer. . . porque o matrimônio ser­ve de condutor da vida, sendo os pais,
Contrato verdadeiro é exclusivamente o contra· to civil. O ato religioso é
supersticiosos . . .

OS CASAMENTOS MISTOS
A natureza religiosa do matri­ mônio exige dos futuros esposos uma santa
Licitamente, sem mere· cer repreensão, podem casar-se católicos e aca· tólicos
tam a êste respeito, e às vêzes pondo ern perigo sua salvação eterna, os que, sem graves
pedir o consentimento à autoridade religiosa.
li­cos com acatólicos).
Não pode deixar de acontecer se­não dificilmente que o cônjuge ca­tólico não haja d
para os filhos, com muita freqiiência, uma triste deser-

78
ção da religião, ou pelo menos a queda fácil no indiferentismo re­ligioso, próxima à incredulidade e impiedade.
A Igreja, com tôda a sel'eridadr, proíbe por tôda parte que se con­traia matrimônio entre duas pes­soas balizadas, das quais uma 1\ católica e outra pertença a seita
herética ou cismática. Sr, pois, houver perigo de pen•ersiío, por parte do cônjuge católico, ou da prole, o matrimônio é l'er!ado pt'/a mesma lei
divina.

O DIVóRCIO

t• E' necessário que vigo­ re uma lei mais humana, em substituição das leis antiqu iões de po­vos ou vontade de legisladores : "0 79
divórcio. Com a mu­dança dos tempos e cos­tumes, das opiniões e instituições dos povos, é indispensáv da prole sujeita a ser escandalizada pela discór­dia e outras culpas dos pais, etc.
29 O matrimônio é um contrato meramente pri­ vado, dependente por completo do
isso pode-se rescindi-lo, como aconte­ce com outros contratos, por qualquer motivo.

39 Causa para o divórcio é tudo o que torna .mais dura e desagradável a indiv!sível convivência. H
cônjuges. Depois o bem
J .• Mas o que sobretudo impede a rest·auração e a perfeição do ma­
empre cres(){'nte faci­lidade dos divórcios.
ônjuge é in· fiel ao outro, é licito à parte inocente procurar o divórcio e casar-se no· vamente.

2.• Os fautores hodiernos do neo­ paganismo, ainda não amestra


m mais acrimônia, a comba­ter a indissolubilidade sagrada do matrimônio e as leis que a defen­de

rém, permanece imóvel a lei de Deus, confirmada muito ampla­mente por Cristo, e que não
que Deus uniu, o homem não se­pare" (Mt 1 9, 6).
E se o homem afrontosamente se atrever a fazer isso, seu ato é completamente
irmou, direndo: "Quem repudiar sua mulher para casar com outra é adúltero, e quem
io" (Lc 16, 18). 4.• Todo aquêle que disser que o vínculo matrimonial pode ser dis­
olesta coabita­ção . . . , seja excomungado (Con­cilio d·e Trento). E se alguém dis­ser
inar que, de conformidade com a doutrina evan­gélica e apostólica, não pode ser
e um dos cônju­ges . . . , seja excomungado.
Se, pois, o vínculo matrimonial não pode ser dissolvido nem pelo adultério,
têm tôdas as demais causas do divórcio. 5." Em extremas circunstâncias permite-se a
o­rém, intacto o vínculo. 6.• Estabelecer as causas, as condi­ções, o modo e as cautelas da
e à incolumidade da família e se afastem, na medida d o possível, todos os danos que
5• Mas é uma tirania obrigar o inocente a vi· ver ao lado do culpado, no casamento.ivil, pertence às sagradas leis e, ao menos em par­te, também às leis civis, ·no tocante às
lecer as causas de sua separação.

80
7.• 7• Muitos são os bens
E' necessano considerar que, que traz o divórcio.
quanta é a abundância de bens que em si contém a firmeza in­dissolúvel do matrimônio, tan la é a seara de males que consigo acarretam os
divórcios. E,
rematando tudo, o Papa dá o seguinte confron­to, merecedor da mais atenta reflexão de esposos cristãos:
"De um lado, com a estabilidade do vínculo, os ma­tiimônios estão plenamente garantidos; de outro, ao contrário,
com a possibilidade e, antes, com a pro­babilidade do divórcio conjugal, torna-se instável ou pelo menos sujeito a
dúvidas e suspeitas.
De uma parte, ficou admiràvelmente consolidada a recíproca benevolência e a comunhão de bens; de ou­tra, a
mesma deploràvelmente enfraquecida diante da faculdade que lhe ofereceram de se poderem separar. De um lado,
valiosas defesas para a fidelidade con­jugal; de outro, estímulos perniciosos para a infide­lidade.
De uma parte, eficazmente promovidas a procria­ ção, proteção e educação da prole; de outra, a mes­ma sempre
exposta aos mais graves danos.
De um lado, fechado o múltiplo caminho às dis­ córdias entre famílias e parentes; de outro, se lhes oferece mais
freqüente a ocasião.
De uma parte, fàcilmente extintos os germes das dissensões; de outra, mais copiosa e la;gamente dis­seminados.
De um lado, a dignidade e o múnus da mulher rein­ tegrados e felizmente restaurados; de outro, indigna­ mente
deprimida, exposta a espôsa ao perigo de "ser abandonada depois de ter servido à paixão do ho­mem" (Leão XIII) .
Três Chamas - 6 81

37. A CAÇULA CASOU-SE . . .

e levou uma fazenda como dote e muitos aefeitos para tormento do marido. E' adorável o seu palminho de rosto e são
detestáveis as tormentas que nêle se armam. Mimada em casa, voluntariosa e respeitada em suas manhas, é-lhe uma delícia ser despótica,
cruel até, com o distinto rapaz que lhe empresta o nome e lhe dá o costumeiro confôrto.
Fica de mal com êle, semana inteira. Foge de sua presença. Mal lhe percebe os passos, ou a voz, corre a fechar-se no quarto.
Em vão a procura e por ela chama o mártir, que volta cansado da trabalheira. As roupas do marido não andam cuidadas. À mesa, sob o
pretêxto de qualquer palavrinha ou observação brincalhona, levanta-se a dona e sai arrastando sua grandeza . . . de más-criações. Faltou-lhe o
chá em pequena, porém não lhe faltarão duras, duríssimas pancadas da vida, se continuar nesse sistema.
Diante de Deus é isso pecado, porque é violação do amor que deve ao espôso. Para a alma da ex-ca­çula há no método um
perigo contínuo. E' que, mal humorada com o marido, fechou-se com seus pensa­mentos e recordações do tempo de môça e de namo­ros.
Muda o cenário da vida e põe um outro ao seu lado. Entrega-se aos devaneios e atira à correnteza dos desejos a santa fidelidade de espôsa
cristã. Aos olhos de Deus, aos clarões da consciência esclare­cida, até um desejo consentido já é grave infidelidade. Pois não vale, para a
espôsa, o nono mandamento do Senhor, apenas como troca dos têrmos em voga? - O marido, por fim, há de se cansar de tanta felici­dade às
avessas, com tanta humilhação imerecida, com tanto isolamento de coração e de corpo. Fora de casa pode achar tudo isso, sem maiores
inconvenientes so-

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C1a1s . . . V tm a tentação. Se fôr bom cristão, reagirá por temor de Deus. Mas . . .
Aqui começa uma históí ia de cuja origem a caçula está bem ciente.

38. ASSIM PENSARÁS E FALARAS

A lei do casamento não pode ser mais clara e sim­p'es. O t.spôso pertence à espôsa e a espôsa ao es­pôso, como o osso de seus ossos e
a carne de sua carne. Fidelid:1de total e mútua 0 por isso o primor­dial dever de ambos.
Contra essa lei levantam-se sofismas e sutilezas. A sociedade, as paixões, os maus exemplos tentam revogar a pressão da declaração
formal do Senhor do mundo e dos homens: "não serão mais dois, po­rém uma só carne".
A infid:.:lidade - o adultério - outra coisa não é senão um simples roubo, odioso e revoltante e de todos o mais indigno. Sei muito
bem que no mundo, no tcati'o ou no romance, nos cinemas e revistas não se lh2 dj êsse nome. Mas que importa?
Até o dia do casamento, o homem e a mulher eram livres um para com o outro. Uma vez casados, não o são mais, nem diante de
Deus nem diante da sua consciência, nem mesmo um para com o outro. O cspôso pertence à espôsa e esta a êle pertence. A mulher, portanto, que se
ent;·ega a um outro que não seja o seu marido, quem quer que seja, essa mulher pode muito bem ser uma senhora distinta aos o'hos do mundo, uma
rainha na elegância e na origem; po­de receber à sua passagem as mais lisonjeiras home. nagens, es�a mulher - por mais dura que seja a palavra,
·

ainda assim é justa - essa mulher é sim­plesmente uma ladra. Dá o que não lhe pertence, po;·que "a espôsa pertence ao marido".

li*
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