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Caso 3

Nuno e Matilde conheceram-se numa viagem à China e, no cimo da Grande Muralha, trocaram
juras de amor eterno. Após uma semana de intenso romance por terras asiáticas, regressaram a
Portugal e, no aeroporto, Nuno pediu Matilde em casamento, tendo esta logo aceite.
Nesse momento, combinaram que casariam no dia após Matilde defender a sua tese de mestrado
que se encontrava a preparar. Nuno organizaria, entretanto, todos os preparativos do casamento.
E assim aconteceu. Nuno encomendou o copo de água junto de uma empresa chinesa de modo a
relembrar os tempos passados na China, sinalizando (prestando de sinal) o negócio com 2.500€
tendo reservado a lua-de-mel no Vietname, tendo pago para tal 2.000€.
Nuno e Matilde celebravam o seu aniversário na mesma data, dia 18 de Outubro, pelo que nesse
mesmo dia Nuno ofereceu um colar de pérolas a Matilde e esta, por sua vez, ofereceu-lhe um
conjunto de botões de punho cravados a esmeraldas e diamantes.
Matilde escolheu Sónia, a sua colega de viagem à China, para madrinha, a qual ficou tão
contente que lhe ofereceu um curso de Mandarim no valor de 1.000€ e, como prenda de
casamento, o vestido de noiva, no valor de 1.500€.
Nuno, na véspera da entrega da tese, ofereceu a Matilde um anel de noivado de diamantes, no
valor de 4.000€.
No período entre a entrega da tese e a sua defesa Matilde envolveu-se amorosamente com o seu
orientador, Chen Weng Poo. As cenas românticas entre os dois foram presenciadas por Nuno,
quando decidiu fazer uma surpresa a Matilde.
1) Nuno comunicou a todos os convidados que já não haveria casamento. Quid iuris?
2) Imagine que Nuno era o CEO de uma conhecida empresa multinacional (pelo que
passava grande parte do tempo a viajar) e que ao solicitar à empresa de aviação o
cancelamento das viagens para a lua-de-mel a agência devolveu-lhe um voucher no
valor da viagem, que ele poderia utilizar para descontar em eventuais viagens futuras.
Quid iuris?
Caso 4
Em 4 de Abril de 1983, Adriano, de 18 anos, iniciou um tórrido romance com Bernardo de
15 anos. Adriano desconhecia a verdadeira idade de Bernardo, uma vez que este era um
verdadeiro “especialista” em falsificação de documentos.
Nesse mesmo ano, Adriano e Bernardo celebraram casamento civil e Bernardo doou a
Adriano um belo quadro de Paula Rego.
Dez anos depois de celebrado o casamento, Adriano adotou Carlota, de 5 anos de idade,
filha de Humberta e pai desconhecido.
Em 2003, Carlota, que sempre tivera uma queda por homens mais velhos, apaixonou-se,
depois de trocaram várias cartas, por Ursolino, e fugiu de casa nesse mesmo ano para poder
contrair casamento civil com este.
Como Ursolino se encontrava preso no Estabelecimento Prisional de Lisboa, por homicídio
na forma tentada na pessoa do seu cônjuge, Ursolino passou uma procuração a Joaquim, de
18 anos, conferindo-lhe poderes especiais para casar com Carlota, não indicando porém a
modalidade do casamento.
O casamento foi celebrado no dia 25 de Outubro de 2003 e só dois meses depois pôde
Carlota visitar Ursolino na prisão. Ao ver Ursolino, Carlota reconheceu algo de familiar e
Ursolino revelou-lhe o que ela menos esperava: ele era seu pai natural!
Entretanto Carlota, para tentar esquecer Ursolino aproximou-se de Dário, colega de trabalho
de Adriano.
Dário e Carlota celebraram casamento civil em Fevereiro de 2004, sendo que Dário, que
sempre fora hipocondríaco, descobriu que Carlota era filha de mão diabética, sobrinha-neta
de tuberculoso, prima de hemofílico e que nos últimos 10 anos andava constantemente a
tomar analgésicos.
Dário pretende desta forma pôr fim a este terrível casamento, que apenas lhe agravou a sua
doença.
1) Analise os casamentos de:
a. Adriano e Bernardo, assim como a doação feita por Bernardo a Adriano;
b. Carlota e Ursolino; e
c. Carlota e Dário.
2) Pronuncie-se quanto à pretensão de Dário.
Caso 5
Após um período de namoro, Maria e Nuno casam civilmente em Janeiro de 1999, ambos
com 17 anos de idade, com o intuito de se emanciparem.
Nuno havia já casado civilmente, sem precedência de processo preliminar de publicações,
em Dezembro de 1998, tendo sido recusada a homologação do mesmo por falta de
cumprimento de formalidade devidas, facto que era do conhecimento de Maria.
Logo após o casamento com Maria, Nuno doou-lhe a mota de água que os padrinhos lhe
oferecem quando completou 16 anos.
Em Julho desse ano, Maria descobre que afinal fora adotada por Paulo e que o seu pai
biológico é Quim, irmão mais velho de Nuno.
Maria e Nuno ficam chocados com a descoberta e a relação conjugal entre ambos deteriora-
se ainda mais quando Maria vem a saber, um mês depois, que Nuno fora condenando, em
1997, por posse e tráfico de estupefacientes.
1) Aprecie os possíveis impedimentos e causas de invalidade do casamento de Maria e
Nuno.
2) Imagine que os pais, quer de Maria, quer de Nuno, eram completamente contra este
casamento. E se somente os pais de Maria fossem contra?
3) Admita que o casamento de Maria e Nuno foi anulado por decisão transitada em
julgado em 1 de Dezembro de 2001, com fundamento no facto de Maria ter sido
coagida a casar. Aprecie a pretensão de Maria.
4) Suponha agora que Nuno faleceu na pendência da ação referida na questão anterior e
que Maria pretende preservar a sua posição sucessória (cf. Artigos 2133.º n.º 1 al. a) e
2157.º, ambos do Código Civil). Aprecie de novo a pretensão de Maria.
Caso 6
Ana, de 18 anos, e Bruno, de 30, conhecem-se num centro de convívio e, após algum tempo
de namoro, decidem casar.
Dias depois, Ana fica gravemente ferida num incêndio no centro de convívio, e, sentindo a
finitude da sua vida, pede a Bruno para casarem, o que fazem de imediato, em 25 de Abril
de 2001, assistindo emocionados os quadrigémeos Silva, bombeiros.
Dias depois, na Conservatória de Registo Civil, o Conservador toma conhecimento através
do médico assistente de Bruno que este sempre sofrera de “graves perturbações psíquicas” e
arquiva o processo.
Enquanto Ana recupera no hospital, Bruno, durante a conferência sobre o combate ao crime,
ocorrida em 15 de Junho de 2001, trava conhecimento com Clara, nascida no dia 25 de
Dezembro de 1984, e, passados dois meses, casam civilmente.
No dia seguinte, Bruno oferece a Clara, como prova do seu amor, um iate. Nesse mesmo
dia, Clara telefona à sua mãe, Dora, comunicando-lhe que havia casado com Bruno, ao que
Dora responde que tal casamento fora um erro, visto que Clara era adotada, sendo Guida,
mãe de Bruno, a sua mãe biológica. Tal foi o seu espanto quando Bruno lhe disse que
sempre soubera desse facto.
Perturbadíssima com a notícia, Clara discute com Bruno e, durante essa discussão, acusa-o
de a ter embriagado momentos antes do casamento e que só dessa forma ele conseguira que
ela casasse com ele, assim como o acusa de lhe ter ocultado que havia morto Eva, anterior
cônjuge de Bruno, falecida em Janeiro de 2001.
1) Aprecie a validade do casamento entre Ana e Bruno e o respetivo regime.
2) Analise a validade do casamento entre Bruno e Clara e o respetivo regime.
3) Imagine que o casamento entre Bruno e Clara e anulado e que Bruno pretende reaver o
iate. Quid iuris?
Caso 7
Em Janeiro de 1995, Ana, de 15 anos, e Bernardo, de 19 anos, casaram civilmente, sem
consentimento dos pais. Ana era filha de Manuela e Bernardo, mas tinha sido adotada por
Daniela e Carlos.
O casamento não correu bem e o divórcio foi decretado em Julho de 1998.
Em Março de 1999, Bernardo casa com Eva, perante um pároco sem ter corrido
previamente o processo preliminar de publicações visto que Eva estava em iminência de
morte. Eva melhorou da sua doença, que julgavam erradamente ser incurável e fatal e doou
a Bernardo o seu apartamento no Algarve.
Em Abril de 1999, descobriram que Eva era filha biológica de Carlos, sem contudo estar
estabelecida a paternidade.
O Conservador do Registo Civil recusou-se a transcrever o casamento.
Uns dias depois do casamento, durante a lua-de-mel, Eva descobriu que Bernardo é
impotente.
Em Maio de 2000, Fernanda, que há muitos anos queria casar com Bernardo, aproveitando
a ocasião de este estar a ser ameaçado pelos seus credores, propôs-lhe novamente
casamento, declarando que após o mesmo lhe faria uma doação no valor das suas dívidas.
Sem outra solução, Bernardo aceitou e casaram em Junho de 2000.
1) Existem impedimentos aos casamentos de Ana e Bernardo, de Bernardo e Eva e de
Bernardo e Fernanda? Em caso afirmativo, indique quais e enumere as consequências.
2) Pode Eva anular o seu casamento com Bernardo com base em falta ou vícios da
vontade?
3) Pode Bernardo anular o seu casamento com Fernanda, com base em falta ou vícios da
vontade? E Fernanda?
4) Imagine que Fernanda morre e após a sua morte Bernardo pretende suceder à herança
desta. Guilherme e Miguel, filhos do primeiro casamento de Fernanda contestam tal
pretensão, alegando ser inválido o casamento de sua mãe com Bernardo. Comente de
forma fundamentada ambas as posições.
Caso 8
Em Janeiro de 1987, Ana, filha de Carlos e Diana, contrai casamento católico com
Bernardo, filho de Eduarda e Filipe.
Dois meses depois, descobrem que Eduarda e Carlos são irmãos naturais.
Em Fevereiro de 1999, é declarada a morte presumida de Ana, que desaparecera há alguns
anos em circunstâncias misteriosas.
Em Julho de 1999, Diana, que se divorciara de Carlos, tenta suicidar-se. Não morre, mas
fica em estado grave. Na altura os médicos não lhe deram mais do que uma semana de vida.
Diana ameaça Bernardo de o denunciar à polícia, se este não casasse consigo, afirmando ter
provas concretas de que foi Bernardo quem matou Ana.
Em 15 de Julho de 1999, Bernardo, receoso de tal denúncia, contrai casamento urgente,
perante pároco, com Diana, que fora adotada por Filipe.
Alguns dias depois, para que Bernardo a perdoasse do sucedido, Diana doa-lhe um
apartamento no valor de 100.000€.
Constata-se, logo após o casamento, que afinal a situação de Diana não era tão grave como
os médicos diagnosticaram.
Entretanto, descobre-se que Diana sofria de anomalia psíquica desde Janeiro de 1999. O
Conservador do Registo Civil decidiu não transcrever este casamento.
Em Dezembro de 1999, Ana regressa.
Em Janeiro de 2000, Diana é dada como curada da anomalia psíquica.
Em 10 de Fevereiro de 2000, é celebrado casamento civil entre Diana e Guilherme.
Em Setembro de 2013, vem-se a descobrir que Guilherme é filho natural de Filipe, filiação
que não se encontrava estabelecida à data da celebração do casamento.
1) Existem impedimentos aos casamentos de:
a. Ana e Bernardo? Em caso afirmativo indique e enumere as consequências.
b. Bernardo e Diana? Em caso afirmativo indique e enumere as consequências.
c. Diana e Guilherme? Em caso afirmativo indique e enumere as consequências.
2) Pode Bernardo anular o seu casamento com Diana, com base em falta ou vícios da
vontade?
3) Aprecie o comportamento do Conservador do Registo Civil.
4) Imagine que Guilherme morre e após a sua morte, Diana pretende suceder à herança
deste. João e Miguel, filhos do primeiro casamento de Guilherme, contestam tal
pretensão, alegando ser inválido o casamento do pai com Diana. Comente de forma
fundamentada ambas as posições.
Caso 8.1
Questão 1

Ana e Diogo namoravam há 7 anos quando Diogo perguntou a Ana se aceitaria


casar consigo. Ana aceitou.
Os 6 meses seguintes foram passados a planear o casamento. Os pais de Ana
ofereceram-se para suportar as despesas do copo d’água, tendo pago 5.000 euros de
sinal à empresa de catering e assumido o compromisso de entregar igual quantia após a
realização da cerimónia.
Duas semanas antes do casamento, Ana descobre que Diogo a trai com uma
colega de trabalho, decidindo romper o noivado.

a) Pode Diogo exigir a Ana a manutenção da promessa?


b) Podem os pais de Ana exigir algum tipo de compensação a Diogo?

Questão 2

Diana e Rita vivem juntas há 6 meses e pretendem contrair matrimónio. Rita


terá porém de se ausentar de Portugal, por motivo de trabalho, até ao próximo ano. Por
isso, outorga uma procuração a favor do seu amigo João, atribuindo-lhe poderes para a
representar no casamento com Diana.
Uma semana antes da data marcada para o casamento, João descobre que Diana
e Rita são irmãs uterinas, facto que ambas desconhecem.

a) Deve João exercer o seu poder de procurador e representar Rita no casamento


com Diana?
b) Supondo que o casamento entre Diana e Rita é efetivamente celebrado,
pronuncie-se sobre a sua validade.

Caso 8.2
Questão 1

Ana e Diogo namoravam há 7 anos quando Diogo perguntou a Ana se aceitaria


casar consigo. Ana aceitou.
Os 6 meses seguintes foram passados a planear o casamento. Os pais de Ana
ofereceram-se para suportar as despesas do copo d’água, tendo pago 5.000 euros de
sinal à empresa de catering e assumido o compromisso de entregar igual quantia após a
realização da cerimónia.
Duas semanas antes do casamento, Ana descobre que Diogo a trai com uma
colega de trabalho, decidindo romper o noivado.

c) Pode Diogo exigir a Ana a manutenção da promessa?


d) Podem os pais de Ana exigir algum tipo de compensação a Diogo?

Questão 2

Diana e Rita vivem juntas há 6 meses e pretendem contrair matrimónio. Rita


terá porém de se ausentar de Portugal, por motivo de trabalho, até ao próximo ano. Por
isso, outorga uma procuração a favor do seu amigo João, atribuindo-lhe poderes para a
representar no casamento com Diana.
Uma semana antes da data marcada para o casamento, João descobre que Diana
e Rita são irmãs uterinas, facto que ambas desconhecem.

c) Deve João exercer o seu poder de procurador e representar Rita no casamento


com Diana?
d) Supondo que o casamento entre Diana e Rita é efetivamente celebrado,
pronuncie-se sobre a sua validade.
Caso 9
António e Beatriz, casados sem prévia celebração de convenção antenupcial, praticaram os
seguintes atos:
a) António é escritor e utilizou a quantia recebida a título de direitos de autor pelo
seu último livro na aquisição de um automóvel;
b) Beatriz é médica radiologista e vendeu um aparelho de RX antigo, por ela
levado para o casamento, para adquirir um novo. E se o aparelho de RX antigo
tivesse sido comprado na constância do matrimónio?
c) António utiliza com exclusividade um automóvel que tinha sido deixado a
ambos por testamento, sendo que da deixa testamentária constava
expressamente que António não podia administrar o bem;
d) António, com o consentimento de Beatriz, passa a utilizar um computador
portátil que esta recebeu, por partilha, por ocasião de morte do seu pai;
e) Beatriz conferiu ao seu marido António um mandato para que este exerça todos
os atos de administração ordinária e extraordinária da quinta sita no Alentejo,
bem que levou para o casamento. E se a quinta tivesse sido adquirida na
constância do casamento?
f) Beatriz passa a utilizar uma fração autónoma que foi adquirida após o
casamento para aí instalar o seu consultório médico;
g) António denuncia o contrato de arrendamento, por si celebrado antes do
casamento, relativo à casa onde habita com Beatriz;
h) Beatriz vendeu, sem o consentimento de António o terreno que lhe havia sido
doado por seu pai depois do casamento.
Aprecie cada uma das situações supra descritas, tendo em conta o regime das relações
patrimoniais entre cônjuges.

Caso 10
Ana, fotógrafa, e Belmiro casam em Dezembro de 1998, com a seguinte convenção
antenupcial:
a) Os bens adquiridos durante o século XX, quando adquiridos nos anos
pares serão comuns e quando adquiridos nos anos ímpares serão próprios; no
século XXI, o regime aplicável será o da comunhão de adquiridos;
b) Cada um dos cônjuges poderá livremente movimentar e gerir os
rendimentos laborais de ambos;
Em Janeiro de 2000, Ana adquire para a sua atividade um sofisticado equipamento
fotográfico.
Meses depois, Belmiro ofereceu o referido equipamento a Carlos e prometeu
adquirir-lhe uma aparelhagem de som para colocar na sala de jantar da residência,
visto que tanto ele como Ana eram apaixonados por música.
1) Em que regime de bens estão casados Ana e Belmiro?
O artigo 1698º CC consagra o princípio de liberdade de os esposos estipularem, em
convenção antenupcial, o regime que mais for do seu agrado. As restrições deste
princípio encontram-se consagradas no art 1699º CC. O enunciado do caso nada nos
diz acerca da idade dos nubentes, pelo que em princípio estes têm capacidade para
celebrar as convenções antenupciais (art 1708º CC).
As convenções têm de ser celebradas por escritura publica ou pelo conservador do
registo civil (art 1710º CC) e para terem eficácia, tem de ser sujeitas a registo (art
1711º CC).
No caso concreto, verifica-se que os nubentes adotaram, em convenção antenupcial, que
o seu regime de bens compreende várias caraterísticas dos vários regimes de bens
(separação de bens, comunhão de adquiridos, comunhão geral de bens). Assim verifica-
se que o regime estipulado pelas partes é um regime atípico. As partes ainda
subordinaram a convenção antenupcial, a um termo (art 1713º CC), pois verifica-se
que quando as partes entrarem no seculo 21, que o regime que se aplicará será o da
comunhão de adquiridos (1721º e ss)

2) Pronuncie-se juridicamente sobre o comportamento de Belmiro.


O ato praticado por Belmiro verifica-se no século 20 pelo que vigora o regime atípico
estipulado em convenção antenupcial. Como compra foi feita num ano impar, o bem é
comum do casal, como ficou estipulado na convenção antenupcial.
No entanto, Ana adquiriu um instrumento de trabalho, pelo que o art 1678/2 al. e) estipula
que o cônjuge tem a administração dos bens próprios ou comuns por ele utlizados como
instrumento de trabalho. Assim, concluiu-se que B não tinha legitimidade para oferecer o
equipamento a Carlos. Quem podia alienar e administrar o bem era a sua mulher, porque
este a administração deste bem cabe-lhe a ela (1681/1).

3) Carlos, tendo perdido várias oportunidades de vender a aparelhagem, exige a Ana


o pagamento da compensação pecuniária devida. Quid iuris?

Imagine agora que em vez da convenção supra referida, Ana e Belmiro celebraram a
seguinte convenção antenupcial:
a) Até ao nascimento do nosso primeiro filho, vigorará o regime de separação
de bens; depois passará a vigorar o regime da comunhão geral;
b) Cada um dos cônjuges poderá dispor livremente dos seus bens próprios;
c) As dívidas que onerem bens recebidos por herança serão sempre dívidas
próprias do herdeiro dos bens.

Em fevereiro de 2004, Belmiro compra uma televisão, usada em casa por ambos os
cônjuges. Três meses depois, Ana vende a televisão.

Em Dezembro de 2004, nasce Carolino, filho do casal. Um mês depois Ana dirige-se
ao IKEO e adquire mobiliário de bebé utilizando para tal o cartão da conta conjunta
do casal, conta esta onde são creditados os vencimentos de Ana e Belmiro.

Em Janeiro de 2005, por ocasião de morte do seu pai, Belmiro adquire um palacete na
Lapa avaliado em 5.000.000€. Um mês depois Belmiro é notificado por parte da CML
para pagar o valor de 114.000€ a título de IMI e paga-o de imediato a partir da conta
conjunta.

4) Analise o teor da convenção antenupcial.

O artigo 1698º CC consagra o princípio de liberdade de os esposos estipularem,


em convenção antenupcial, o regime que mais for do seu agrado. As restrições deste
princípio encontram-se consagradas no art 1699º CC. O enunciado do caso nada nos
diz acerca da idade dos nubentes, pelo que em princípio estes têm capacidade para
celebrar as convenções antenupciais (art 1708º CC).
As convenções têm de ser celebradas por escritura publica ou pelo conservador do
registo civil (art 1710º CC) e para terem eficácia, tem de ser sujeitas a registo (art
1711º CC).
No caso concreto, verifica-se que os nubentes adotaram, em convenção antenupcial,
que o seu regime de bens compreende várias caraterísticas dos vários regimes de bens
(separação de bens (art 1735º CC e ss) e regime comunhão geral de bens (1732º
CC e ss)). Assim verifica-se que o regime estipulado pelas partes é um regime atípico.
As partes ainda subordinaram a convenção antenupcial, a uma condição (nascimento
do filho) (art 1713º CC), pois verifica-se que a eficácia do regime da separação de
bens depende da ocorrência do facto convencionado pelas partes, pelo que ocorrendo o
nascimento do bebé, o regime que vigora é da comunhão geral de bens (art 1733 e ss).

5) Analise a validade dos comportamentos:


a. De Ana, ao vender a televisão;

Em fevereiro de 2004, o regime de bens que vigorava era o da separação de bens


(art 1735º CC). Regra geral, neste regime todo o património dos cônjuges está
separado, pelo que os bens que correspondem a cada cônjuge, são próprios deles.
Assim, a televisão adquirida por Belmiro, é seu bem próprio. Mas, de acordo com o art
1682/3 al.a), carece do consentimento de ambos a alienação de bens utilizados pelos
dois na vida do lar. Assim não tem legitimidade para vender a televisão. Quem tem
legitimidade é o Belmiro, mas mesmo assim a alienação do bem estava dependente do
consentimento de Ana.

b. De Ana, ao comprar o conjunto de mobílias;

Quando Ana adquire o conjunto de mobílias, o regime que vigora é da comunhão


geral de bens (art 1732º CC), uma vez que o facto condicional se verificou (o
nascimento do filho), pelo que todo o património dos cônjuges passa a pertencer a
ambos, vigora o princípio de que todos os bens são bens comuns, exceto os previstos no
art 1733º CC. O artigo 1678/3º + 1682º cc estipula que cada um dos cônjuges tem
legitimidade para praticar atos de administração/alienar os bens próprios do casal, sem o
consentimento um do outro, apenas se consistir num ato de administração ordinária. Se
for um ato de administração extraordinária é necessário que o outro cônjuge dê o seu
consentimento.
Para resolver esta hipótese cabe averiguar se a compra das mobílias é um ato de
administração ordinária ou extraordinária. O conceito jusfamiliar de administração tem
em consideração o significado económico do ato praticado no estatuto do casal. Assim,
apenas nos casos em que a dimensão financeira do gasto praticado seja muito relevante
para o casal, deverá considerar-se um ato de administração extraordinária. Se,
inversamente, se tratar de uma despesa que seja compatível com o padrão financeiro do
casal, será considerada um ato de administração ordinária.
Assim eu concluo que o ato praticado pelo Ana é um ato de administração
extraordinária, pelo que carece do consentimento do seu marido. É verdade que o casal
estava à espera de um filho, e que era previsível esta despesa, mas adquirir mobílias não
deixa de ser um ato de dimensão financeira grande, pelo que o cônjuge terá sempre de
dar seu consentimento.

c. De Belmiro, ao pagar o imposto.

Em 2005, o regime que vigora é o regime da comunhão geral (1732) pelo que todo
o património do cônjuge é conjunto e todos os bens são próprios, exceto os do art
1733º.
Qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dividas sem o consentimento

do outo (1690º) O artigo 1691/1 al. e) que remete para o art 1693º CC estipula que
as dividas que onerem heranças são da respetiva responsabilidade do cônjuge aceitante,
ainda que com o consentimento do outro cônjuge. Este artigo vai de encontro ao que foi
estipulado pelas partes em convenção antenupcial “As dívidas que onerem bens

recebidos por herança serão sempre dívidas próprias do herdeiro dos bens”.
Como o regime que vigora no momento em que a divida foi contraira, é do
regime da comunhão geral, a conta conjunta é bem comum dos cônjuges. Assim
verifica-se que Belmiro não podia recorrer primeiramente ao dinheiro que se encontrava
nessa conta, porque a responsabilidade da divida apenas se aplica a ele e não a ambos os
cônjuges. O artigo 1696/1 estipula que pelas dividas de responsabilidade de um so
cônjuge responde primeiro os seus bens próprios e só depois, em caso de insuficiência,
os bens comuns do casal.
Caso 11
António, agente de grandes estrelas da música pop internacionais, e Beatriz, professora da
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, estavam casados há 10 anos quando esta
decide “suspender” o seu casamento por um período de tempo, após ter tido conhecimento que
António mantinha uma relação extraconjugal com uma agenciada sua, Crihana. Para isso,
propôs uma ação de separação de pessoas e bens, tendo sido a separação decretada por sentença
em Novembro de 2003.
Beatriz tomando conhecimento que António continuava com a sua relação extraconjugal,
começou a publicar em vários jornais diários mensagens como “Não me responsabilizo pelas
dívidas de António Correia, que tem várias dívidas e é mau pagador”, “Não me responsabilizo
pelas dívidas de António Correia, que não é pessoa de confiança e é mentiroso”.
Ultrajado com tais acusações, António pretende propor uma ação de divórcio litigioso a fim de
obter o divórcio com a declaração de Beatriz como principal culpada. Além deste pedido,
António pretende cumular na mesma ação o pedido indemnizatório pelo facto de, devido às
acusações de Beatriz em “praça pública”, ter perdido o agenciamento de uma das suas maiores
estrelas, Bustin Jieber.
Por sua vez, Beatriz pretende converter a separação de pessoas e bens em divórcio, com
fundamento em adultério praticado por António e por ter descoberto agora que António, em
2000, havia tido um filho com Cátia Vanessa, sua colega de trabalho. Mais, Beatriz pretende
ainda cumular ao pedido de conversão, o pedido indemnizatório pelo incumprimento dos
deveres conjugais nomeadamente: o dever de fidelidade, o dever de débito conjugal e o dever de
assistência.
1) Aprecie as pretensões de António. (alunos A ao J)
2) Aprecie as pretensões de Beatriz. (alunos M ao Z)
Caso 12
Ana, engenheira, e Bruno, doméstico, casaram civilmente em Dezembro de 2002, no regime de
separação de bens.
O casal passou, após o casamento, a viver numa casa própria de Ana, sita em Coimbra. Desse
casamento, nasceu, em Dezembro de 2003 Carlos. Feliz com o nascimento de Carlos, Ana doa a
Bruno um automóvel.
No entanto, a partir de Março de 2004, Ana e Bruno começam a desentender-se. Ana acaba por
sair de casa em Junho de 2004, indo viver para uma outra casa, bem próprio, sita em Aveiro. No
mesmo mês ambos decidem por termo ao casamento.
Imagine que Ana e Bruno o/a consultam a si, especialista em Direito da Família, com a
pretensão de recorrerem ao divórcio por mútuo consentimento.
1) De quem seria a competência para instruir e decretar tal processo?
2) Determine os elementos que devem ser instruídos durante o processo de divórcio por
mútuo consentimento. Descreva a tramitação processual do mesmo.
3) Imagine que o acordo sobre as responsabilidades parentais quanto ao filho Carlos não
acautelava devidamente os interesses do menor. Que consequências jurídicas advêm
desse facto?
4) Imagine que afinal o casamento fora celebrado no regime de comunhão geral de bens.
Imagine também, que o casal, no dia em que Ana voltou da maternidade com o pequeno
Carlos, adquiriu um cachorro, de raça Chihuahua, ao qual deram o nome de Rocky
Balboa. Passa-se que, por lapso seu, deu nota da existência do animal no acordo sobre a
divisão dos bens comuns. Quais seriam as consequências de tal ato?
5) Considerando de novo o regime de separação de bens, imagine que, após a decretação
do divórcio por mútuo consentimento, Ana vem alegar que a doação do automóvel que
havia sido por ela realizada, não tem qualquer efeito, analise a procedência da sua
pretensão.
6) Considere que o divórcio foi decretado nos moldes pretendidos e que no acordo sobre
as responsabilidades parentais quanto ao filho Carlos fico estabelecida a guarda
exclusiva no pai Bruno. Bruno vem agora requerer, por um lado, que continue a viver
com o filho na casa em Coimbra, e por outro uma pensão de alimentos para o filho
Carlos e outra pensão de alimentos para si próprio tendo em conta que sempre abdicou
da sua carreira para cuidar da casa e da família.
Caso 13

Em Janeiro de 2013, Carla e Daniel casam. Depois do casamento, Carla é submetida a uma
histerectomia. Carla e Daniel propõem, e António e Berta aceitam, o pagamento da quantia de €
100.000,00 para que Berta seja “barriga de aluguer”. Em centro autorizado, António, Berta e
Daniel prestam consentimento por escrito para a inseminação artificial de Berta com gâmetas de
Daniel. Depois de realizada a inseminação artificial nos termos acordados, Berta dá à luz Eva,
em Setembro de 2014. Na Conservatória de Registo Civil, Daniel declara o nascimento de Eva,
indicando ser Carla a mãe.
1. Pronuncie-se sobre a filiação de Eva.
2. Imagine que a filiação de Eva é efetivamente estabelecida, tendo como pai Daniel e como
mãe Carla. Anos mais tarde Eva descobre sobre a histerectomia de Carla e pretende,
assim, descobrir quem é a sua verdadeira mãe.
Caso 14

António e Berta casam-se em 2003. À data do casamento, Berta tinha um filho de cinco anos,
Carlos, fruto de um dos muitos relacionamentos fortuitos que teve no passado e por isso filho de
pai incógnito. Em 2012, Berta dá à luz dois gémeos, de sexos diferentes, a quem decide chamar
África e Virgilinda, propondo ainda a António que Carlos passe a ter o sobrenome de António.
António não concorda com os nomes dos gémeos, mas concorda com a pretensão de Berta
relativamente a Carlos.
Após o nascimento dos gémeos, Berta torna-se fumadora. António pede a Berta que não fume
em casa, porque prejudica a saúde dos filhos, ao que Berta responde que a lei do tabaco é muito
restritiva dos seus direitos e que a sua casa é o único sítio não público em que se sente
confortável a fumar, motivo pelo qual não prescinde desse direito.
Em 2013, Carlos, que frequentava uma escola religiosa, decide querer educação laica,
contrariando a vontade da mãe. Berta atribui a rebeldia de Carlos à namorada do filho, Eva, e
proíbe-o de a ver. Berta e Carlos desentendem-se.
Ainda em 2013, o pai de António, Fausto, doa 5.000€ a cada um dos gémeos, tendo excluído
António da administração dessa quantia. Sem consultar ninguém, Berta usa os 5.000€
correspondentes ao gémeo que primeiro nasceu para comprar uma mota, que regista em nome
desse menor, e utiliza os 5.000€ correspondentes ao gémeo que nasceu em segundo lugar para
comprar uma mobília nova para o quarto desse menor.
Em Setembro de 2014, António e Berta decidem divorciar-se e reduzem a escrito o seguinte
acordo de exercício das responsabilidades parentais dos gémeos: a) Os gémeos residirão com a
mãe, mas ao pai incumbirá a administração de todos os bens dos menores; b) O pai terá de
prestar contas semestralmente da administração efetuada, respondendo civilmente no caso de
agir com diligência inferior à de um pai de família; c) Os avós paternos garantem o
cumprimento da prestação de alimentos de António perante os gémeos.
1. Pronuncie-se sobre as pretensões de Berta relativamente ao nome a atribuir aos gémeos,
sobre a atribuição do sobrenome de António a Carlos e ainda no que respeita à posição
assumida por António quanto a tais pretensões.
2. Aprecie o pedido de António e a recusa de Berta quanto a fumar em casa.
3. Pronuncie-se sobre o desentendimento de Berta e Carlos relativamente à educação
religiosa e à namorada de Carlos.
4. Aprecie os termos da doação de Eduardo aos gémeos e aprecie a utilização que Berta faz
dos correspondentes montantes.
5. Pronuncie-se sobre as cláusulas de regulação do exercício das responsabilidades parentais
e determine o modelo de exercício que os pais terão pretendido estabelecer.

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