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Raúl, filho de Pedro e Quitéria, nasceu em 10 de Março de 2005.

No Verão de 2020, Raúl doou um valioso anel à sua namorada Sara e vendeu
um computador ao seu vizinho Nuno, por um significativo valor, a pagar no prazo
de um mês.

1.ª Hipótese: Sabendo da venda em Dezembro de 2020, Pedro, depois de


exigir, sem êxito, o pagamento do preço a Nuno, decide intentar uma acção com
vista à invalidação do negócio. Quid iuris?

2.ª Hipótese: Em Abril de 2022, Raúl casou com Teresa e, em Maio de 2022,
pretende intentar uma acção com vista à recuperação do anel que doara a Sara. Quid
iuris?

3.ª Hipótese: Em Junho de 2022, Raúl morreu. Em Maio de 2023, Pedro e


Quitéria pretendem anular os negócios feitos pelo filho. Quid iuris?

4.ª Hipótese: Nuno, que à data da compra era um jovem multimilionário, de


15 anos, ao perfazer 18 anos pretende obter a anulação do contrato. Quid iuris?

(ligeiramente adaptado de CARLOS LACERDA BARATA, Teoria geral


do Direito civil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012, 4.ª ed., pp. 89-90)

II

Carlos doou a Luísa, no dia do seu 15.º aniversário, uma casa situada na
costa alentejana.

Cinco meses após completar 16 anos, Luísa casa sem autorização dos seus
pais e sem procurar obter o respectivo suprimento judicial.

Já casada, mas ainda menor, Luísa, por escritura pública, vende aquele
imóvel a César. Quid iuris?

(FERNANDO TORRÃO, Casos práticos, Teoria geral do Direito civil,


Almedina, Coimbra, 2019, 2.ª ed., p. 13)

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III

Eunice tem de 12 anos e a caminho da escola, com mais 2 amigos, passaram


por umas obras e resolveram ver quem conseguia atirar mais longe pedras da
calçada que estavam ali a aguardar ser recolocadas no passeio.

Uma das pedras que Eunice arremessou atingiu um automóvel estacionado.


A reparação dos danos importa em 1.200€. Quid iuris?

IV

Fernando é solteiro, tem 25 anos e gasta compulsivamente todo o dinheiro


que ganha em jogos de azar. Os seus pais solicitam ao tribunal o acompanhamento
de Fernando, pedindo que a celebração de negócios de jogo e aposta, bem como de
negócios de alienação de bens de valor superior a 400€ seja sujeita a autorização do
acompanhante.

1. Quid iuris?
2. Admitindo que o processo de acompanhamento está já a meio, pode
Fernando, enquanto o processo estiver pendente, celebrar negócios de
jogo e aposta?
3. Suponha que Fernando é declarado maior acompanhado, nos termos
solicitados. Pode Fernando celebrar, como inquilino, um contrato de
arrendamento de um apartamento com a renda mensal de 500€?

Gabriel sofre de uma doença mental que faz com que ele, apesar dos seus 20
anos, tenha a maturidade de uma criança de 12 anos. Os seus pais, ainda Gabriel
tinha 17 anos, solicitaram e obtiveram a declaração de acompanhamento de Gabriel,
ficando o pai, Hermínio, como acompanhante. Atendendo à situação de Gabriel e ao
seu património (muito vasto), o tribunal decretou a representação geral e a
administração total de bens pelo acompanhante.

Dois anos depois, Hermínio arrenda por 10 anos um armazém de Gabriel a


uma subsidiária da Google, com excelentes condições. Alguns dias depois,
Hermínio é surpreendido por uma carta de Ilda em que esta lhe comunica que casou
com Gabriel e, por isso, irá solicitar ao tribunal a sua investidura, em lugar de
Hermínio, como acompanhante de Gabriel.

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1. Aprecie a validade dos negócios celebrado por Hermínio.


2. Aprecie a validade do casamento entre Gabriel e Ilda.
3. Pode Ilda solicitar a substituição de Hermínio como acompanhante?

VI

Analise os estatutos da Associação Amigos da Natureza e pronuncie-se


quanto às seguintes questões:

1. Xavier ingressou na associação há 2 meses e discorda totalmente da política


salarial da associação e do modo de progressão na carreira dos trabalhadores.
Resolve recolher assinaturas e solicitar a convocação de uma assembleia geral
para discutir essas matérias. Recolhe a assinatura de 2 quintos dos associados e
solicita a convocação. Passados 5 dias recebe uma carta da Direcção a dizer que
não irá convocar a assembleia por aquele não ser um assunto susceptível de
deliberação em assembleia geral. Quid iuris?

2. Admita que Xavier tem razão. Redija a convocatória.

3. Suponha que Daniela precisa de dinheiro. Como é ela quem faz os pagamentos
aos trabalhadores, todos os meses paga menos 10 euros a cada um, dizendo que
se trata de uma medida destinada a criar um fundo comum para apoio a
situações de desemprego. Daniela fica com esse dinheiro para si. Seis meses
depois desta prática se encontrar instituída, Zulmira, recepcionista, morre e os
seus herdeiros tomam conhecimento dos “descontos” e pretendem propor uma
acção para recuperar esse dinheiro.
3.1. Contra quem deve a acção ser proposta?
3.2. Suponha que Xavier pretende reagir a esta “escandaleira”. O que o
aconselharia a fazer?

VII

António, estrela rock, começa a namorar com Benedita. Nesse dia,


pretendendo que o fio de ouro que usa ao pescoço fosse lembrete dessa sua paixão,
mandou gravar no fecho (composto de dois elementos, estando cada um destes
encadeado em cada uma das extremidades do fio) “Amo-te, Benedita. António”.

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Aquando da comemoração do 1.º mês de namoro, António oferece a Benedita esse


fio depois de ter enrolado e atado ao fecho uma madeixa do seu cabelo como forma
de, simbolicamente, sempre acompanhar Benedita. Fio e madeixa foram, com igual
deleite, recebidos pela sua namorada.
Passados 2 meses, Benedita morre. Os herdeiros de Benedita, encontrando o
presente de António no seu espólio, organizam um leilão para venda do fio,
descrevendo-o como “o fio usado pelo rocker António”.
O preço do fio chega aos 25.000 € – oferecidos por Carlos, grande amigo de
António e de Benedita (e conhecedor do dito fio). Ao receber o fio, Carlos verifica
que este lhe é entregue sem o fecho e sem a madeixa. E exige-os. Dizendo que o
fecho é parte integrante do fio e que a madeixa é parte integrante do fecho. Os
herdeiros recusam a entrega, sustentando que o fecho é mera coisa acessória do fio,
e que a madeixa não é coisa para o Direito.
Quid iuris?

VIII

Dulce precisa de dinheiro para comprar uma casa. Como é proprietária de


várias jóias muito valiosas, resolve contratar Emílio, joalheiro, para lhe vender as
jóias.
Emílio compra, ele próprio, uma gargantilha, por 20.000€, e faz vários
contactos em ordem a alienar as restantes jóias.
Ao saber que Emílio ficou com a gargantilha para si, Dulce desconfia da
seriedade do seu representante e telefona-lhe, revogando a procuração e pedindo
que lhe venha entregar as jóias que ainda tem em seu poder. Emílio combina que irá
a casa de Dulce dali a 3 dias.
No dia seguinte, Emílio vende a Francisco um conjunto de brincos e anel de
safira. Dois dias depois entrega a Dulce as restantes jóias e presta-lhe contas.

Pode Dulce reaver a gargantilha e o conjunto de safira?

IX

António tem 15 anos e desloca-se diariamente para a escola de bicicleta.


Tendo experimentado uma bicicleta eléctrica, ficou muito entusiasmado, pois a
bicicleta eléctrica permitir-lhe-ia chegar mais rapidamente à escola. Ou seja:

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levantar-se mais tarde. António comentou com seus pais que gostaria de ter uma
bicicleta eléctrica e os pais acharam bem.
Alguns dias depois, António conheceu Bernardo junto à sua escola. Bernardo
estava a vender uma bicicleta eléctrica em bom estado por apenas 180€. António
fechou o negócio com Bernardo. Como não tinha o dinheiro consigo, combinaram
que no dia seguinte António iria ter a casa de Carolina (a bicicleta era de Carolina,
afirmando Bernardo ser seu representante) para pagar e receber a bicicleta.
No dia seguinte, António encontra Bernardo em casa de Carolina, entrega-lhe
o dinheiro que juntara das suas mesadas (recebia 200€ por mês) e recebe a bicicleta.
Ao chegar a casa, António verifica que a bicicleta não tem a campainha (que,
de resto, era muito original). Telefona a Bernardo a exigir a campainha e este diz-
lhe que se tratava de um acessório vintage e, portanto, não fazia parte da bicicleta
nem do negócio.
Alguns dias depois, os pais de António foram surpreendidos pela polícia e
por Carolina que lhes bateram à porta a reclamar a entrega da bicicleta. Carolina
tinha feito queixa, negando alguma vez haver conferido poderes a Bernardo para lhe
vender a bicicleta. António recusa-se a entregar a bicicleta sem que Carolina lhe
devolva os 180€. Carolina afirma que nada recebeu e, ao aperceber-se de que
António é menor, pretende anular o negócio com esse fundamento.

1. Admitindo a validade do negócio de venda da bicicleta, pronuncie-se acerca


de a campainha fazer parte da venda.

2. Pronuncie-se acerca da validade da compra e venda da bicicleta com


fundamento na idade de António. Se o negócio for inválido, deve afastar
especificamente as excepções à incapacidade do menor de aplicação
plausível.

3. Admitindo que o negócio celebrado por António é inválido com fundamento


na sua menoridade, pronuncie-se acerca de os pais de António e Carolina
poderem invocar a mencionada invalidade.

4. Admitindo que a menoridade de António não afectou o negócio por ele


celebrado, pronuncie-se acerca das repercussões para o negócio do facto de
Carolina não ter conferido poderes de representação a Bernardo.

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1. Identifique as situações jurídicas prefiguradas nos seguintes artigos:


a) 70.º, n.º 2, 2.ª parte. E qualificação quanto ao carácter activo/passivo;
b) 72.º, n.º 2, 1.ª parte. E qualificação quanto ao carácter activo/passivo;
c) 73.º. E qualificação quanto ao carácter activo/passivo e uni/plurisubj.;
d) 75.º, n.º 1, 1.ª parte. E qualificação quanto ao carácter activo/passivo;
2. O disposto no art. 405.º ilustra um direito subjectivo?
3. E no art. 1305.º? Como se qualifica essa situação jurídica (quanto ao seu
carácter patrimonial/não patrimonial, passivo/activo, simples/complexo,
analítico/ compreensivo)
4. Identifique as situações jurídicas prefiguradas nas seguintes normas:
a. Art. 1038.º, alínea a);
b. Art. 1038.º, alínea d);
c. Art. 1038.º, alínea e).

XI

Identifique as situações jurídicas que decorrem das seguintes cláusulas de um


contrato em que Antónia se obrigou a fazer um bolo para Bento:

Cláusula x.ª

(Entrega)

1. O bolo é entregue a B., em casa deste, no dia 20 de Outubro de 2008, até às 17


horas.

2. O bolo é entregue com 23 velas.

3. O preço acordado já abrange as velas.

4. O preço é pago no momento da entrega.

5. Sem a entrega não é devido o preço; sem o preço não é devida a entrega.

Cláusula y.ª

(Controlo de qualidade)

B. pode acompanhar a confecção do bolo, deslocando-se, para tal, à cozinha


desta, desde que o faça no dia 20 de Outubro das 9H às 12H00.
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