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Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Processos de comunicação oral, escrita, não verbal, leitura e interpre-


tação de textos
Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

A comunicação e a sua importância para o ser humano.............................................. 13


A linguagem....................................................................................................................... 15
Os signos............................................................................................................................ 17
Os processos de comunicação...................................................................................... 19
Os elementos da comunicação...................................................................................... 20
As funções da linguagem................................................................................................ 22
Competência comunicativa............................................................................................ 26
Os ruídos na comunicação............................................................................................. 27

Tipos de comunicação......................................................................................................... 29
A comunicação verbal ................................................................................................... 29
A comunicação oral . ...................................................................................................... 31
A comunicação escrita................................................................................................... 31
A comunicação não verbal............................................................................................. 32
Os signos visuais.............................................................................................................. 33

Leitura e interpretação de textos....................................................................................... 33


Procedimentos de leitura................................................................................................ 34

Sintetizando............................................................................................................................ 36
Referências bibliográficas.................................................................................................. 38

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Sumário

Unidade 2 - Comunicação escrita, expressão, diversidade linguística e coesão


textual
Objetivos da unidade............................................................................................................ 41

Elaboração de respostas..................................................................................................... 42
As conversações.............................................................................................................. 43
Denotação e conotação.................................................................................................. 44
Comandos de questão e elaboração de respostas.................................................... 48
Respostas subjetivas e objetivas................................................................................... 49

Comunicação e expressão.................................................................................................. 50
Texto e textualidade......................................................................................................... 51
Tipos de discurso e o contexto...................................................................................... 52
Diversidade linguística.................................................................................................... 53
Variantes linguísticas e estilo......................................................................................... 53

Composição............................................................................................................................ 54
Planejamento e organização de textos........................................................................ 55
Tema.................................................................................................................................... 55

Coesão textual....................................................................................................................... 56
Tipos de coesão textual................................................................................................... 58
A referência textual – relações anafóricas e catafóricas........................................ 59
Recursos da coesão textual........................................................................................... 61

Sintetizando............................................................................................................................ 64
Referências bibliográficas.................................................................................................. 66

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Sumário

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Sumário

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LÍNGUA PORTUGUESA/COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 8

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Apresentação

Cara(o) aluna(o),
Esta disciplina apresenta conceitos relativos ao ato de comunicação e seus
processos, considerando a importância que têm para o ser humano e sua in-
teração social.
Dessa forma, observaremos as características específicas tanto da comunica-
ção oral como da comunicação escrita e da comunicação não verbal, estimulando
o estudo dos signos linguísticos e dos signos visuais, a fim de ampliar a competên-
cia comunicativa dos alunos por meio da observação dos elementos da comunica-
ção e das funções da linguagem, o que pode levar à produção de atos comunicati-
vos com maior eficiência, tanto no aspecto pessoal quanto no profissional.
Também é alvo de consideração a importância da leitura e da interpreta-
ção de texto, assim como a necessidade da ampliação de repertório cultural
na esfera individual. Ambos ajudam na conquista de maior autonomia quanto
ao reconhecimento de procedimentos de leitura que permitam desenvoltura
e compreensão de sentidos dos diversos tipos textuais com os quais temos
contato diariamente, além das intenções comunicativas de seus produtores.

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A autora

A Professora Elisabete Ana da Silva é


especialista em Língua Portuguesa pela
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC) em 2002 e possui Bachare-
lado e Licenciatura em Letras – Curso de
Língua Portuguesa e Literatura Portu-
guesa pela Pontifícia Universidade Cató-
lica (PUC) em 1985.
É professora de Língua Portuguesa (gra-
mática, redação, literatura e interpreta-
ção de texto), ministrando aulas no En-
sino Fundamental II, no Ensino Médio e
no Curso de Magistério desde 1986 jun-
to à rede particular de ensino, em São
Paulo. Também é docente nos cursos
de Pedagogia e Recursos Humanos em
Centros Universitários, ministrando au-
las de Leitura e Produção Textual.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1186750490003710

Àquele que faz da língua materna o objeto de sua atividade profissional,


contribuindo para que o estudante em formação tome-a como instrumento
para a expressão daquilo que carrega em sua alma.

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UNIDADE

1 PROCESSOS DE
COMUNICAÇÃO
ORAL, ESCRITA, NÃO
VERBAL, LEITURA E
INTERPRETAÇÃO DE
TEXTOS

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Objetivos da unidade
Conceituar a comunicação e apresentá-la como mecanismo de interação
humana;

Evidenciar os conceitos relativos aos processos de comunicação;

Demonstrar a importância do conhecimento dos processos de comunicação


para a eficiência da comunicação em geral;

Ressaltar a importância da análise dos elementos que envolvem a


comunicação oral, escrita e não verbal;

Enfatizar a importância dos conhecimentos e da aplicação dos conceitos e


elementos da comunicação em sociedade;

Evidenciar mecanismos dos processos de comunicação que auxiliam a leitura


e interpretação de textos.

Tópicos de estudo
A comunicação e a sua impor- A comunicação não verbal
tância para o ser humano Os signos visuais
A linguagem
Os signos Leitura e interpretação de
Os processos de comunicação textos
Os elementos da comunicação Procedimentos de leitura
As funções da linguagem
Competência comunicativa
Os ruídos na comunicação

Tipos de comunicação
A comunicação verbal
A comunicação oral
A comunicação escrita

LÍNGUA PORTUGUESA/COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 12

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A comunicação e a sua importância para o ser humano
A necessidade de transmitir mensagens e encontrar formas de levá-las
aos demais é inerente ao ser humano desde o início de sua vida, ou seja, o ato
da comunicação sempre se fez presente em todos os momentos da existência
humana como forma de expressar desejos, realizá-los e transformar a realida-
de circundante.
Comunicar-se, desse modo, é algo primordial para a vida de qualquer pes-
soa e, entendendo que isso ocorre constantemente, deveria ser um processo
de completa eficiência e sucesso crescente para todos. Todavia, não é isso que
acontece na prática, pois encontramos indivíduos que, devido a fatores natu-
rais ou culturais, carregam em si enormes dificuldades de comunicação que
culminam com entraves para suas vidas e realização de seus interesses, sejam
eles pessoais ou profissionais.
Dessa forma, é necessário conhecer os processos que envolvem a comu-
nicação a fim de que tenhamos nossas necessidades e anseios concretizados
da melhor maneira, levando-nos a episódios de satisfação diante dos aconte-
cimentos diários.
A comunicação humana é extremamente rica, resultante de nosso inter-
câmbio entre os diferentes grupos sociais com os quais interagimos. Em outras
palavras, a comunicação é o ato ou efeito de interagir, transmitindo e receben-
do mensagens por meio de uma determinada linguagem, que pode ser escrita,
falada, não verbal ou visual.

EXPLICANDO
A palavra comunicação, do latim communicatio, representa o ato de re-
partir, distribuir e tornar comum; de communis, público, geral, compartido
por vários. A palavra notícia, do latim notitia, significa informação, conhe-
cimento; tornar conhecido, de notus, ser conhecido famoso etc.

Durante a maior parte do nosso cotidiano, buscamos formas de levar ao outro,


ou seja, repartir com os demais, nossos pensamentos e nossas ideias e, apesar do
termo comunicação parecer algo que faz parte da modernidade, o que se apre-
senta como moderno é o aparecimento constante das novas formas de sua ocor-
rência, o que leva a diferentes formas de linguagem com as quais precisamos lidar.

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Desde a demonstração de desconforto de qualquer natureza, expresso
pela criança que acaba de nascer por meio do choro e obtendo como resposta
sons, carinhos e expressões faciais de sua mãe, até a manifestação dos nossos
mais complexos raciocínios, buscamos o domínio dos processos de comunica-
ção, paulatinamente, a partir de nossas experiências e descobertas.
Em todos os instantes, em quaisquer que sejam os eventos dos quais par-
ticipamos, ocorre a comunicação social e precisamos produzir mensagens que
possam ser interpretadas e termos a capacidade de interpretar aquelas que
recebemos em um processo de troca, ou seja, de interação, que pode estar
carregado de maior ou menor complexidade.
As mensagens que produzimos, em sua maioria, podem ser ouvidas, fala-
das, lidas ou escritas em comportamentos de comunicação verbal; mas tam-
bém podem adotar formas não verbais, compostas por expressões faciais, mo-
vimentos corporais das mãos, dos braços, da cabeça, dentre outros.
Assim, escolhemos, intencionalmente ou não, atitudes e formas de comu-
nicação de acordo com nossos interesses e nossas possibilidades, dentro dos
contextos dos quais participamos.
É possível perceber, então, que o ato comunicativo carrega em si a tentati-
va de mudança de realidade, ou seja, tem como objetivo influenciar
os demais, manipulando essa realidade de acordo com os
interesses, fazendo uso de determinada linguagem; por
exemplo, o bebê chora para conseguir de sua mãe a ati-
tude de acabar com seu desconforto; essa responde ao
choro com afagos, cuidados e alimentação, na tentativa de
acabar com o desconforto da criança e a sua própria insatis-
fação nesse contexto.

DIAGRAMA 1. A COMUNICAÇÃO E A ALTERAÇÃO DA REALIDADE

Alteração ou
Interesse Linguagem Comunicação não da realidade
circundante

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A linguagem
Em termos gerais, a linguagem corresponde ao código escolhido para a
expressão de nossas ideias e o envio de nossas mensagens. Seu domínio
e de suas várias formas de expressão depende de aspectos ligados não só ao
desenvolvimento pessoal como também a questões sociais e culturais.

CITANDO
Conjunto das palavras e dos métodos de combiná-las, usado e compre-
endido por uma comunidade; capacidade de expressão de ideias; meio
sistemático de expressão de ideias ou sentimentos com o uso de marcas,
sinais ou gestos convencionados; qualquer sistema de símbolos e sinais,
código; linguajar (HOUAISS, 2004, p. 458).

Assim, a linguagem está na base das situações comunicacionais. Se ocorre a


comunicação, é porque há alguma forma de linguagem, que pode se apresen-
tar por meio de sinais diversos, sons, elementos gestuais executados esponta-
neamente ou intencionalmente, ou sinais estabelecidos por convenção, como
a escrita, dentre outros.
É pela linguagem que os sujeitos se comunicam entre si, valendo-se de sis-
temas de sinais, em sua maioria, padronizados, aprendidos e reconhecidos so-
cialmente.
De acordo com os estudiosos Rabaça e Barbosa, autores do livro Dicionário
de Comunicação, publicado em 1987, ela é um fato exclusivamente humano,
um método de comunicação racional de ideias, emoção e desejos por meio de
símbolos produzidos de maneira deliberada, ou seja, a linguagem é todo siste-
ma que se coloca a serviço da comunicação entre os indivíduos, possibilitando,
assim, a transmissão de conhecimentos e de aspectos culturais, permitindo o
funcionamento eficiente e o controle dos grupos sociais.
Consta em nossos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que “a lin-
guagem é a capacidade humana de articular significados coletivos e compar-
tilhá-los [...]. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de
sentido” (1999, p. 125 apud TERRA; NICOLA, 2008, p. 25). Desse modo, o uso
da linguagem e a produção de sentido garantem a comunicação e sua eficácia
dentro de uma comunidade linguística e, portanto, devem ser alvo de estudos
nas diferentes instituições de ensino do país.

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EXPLICANDO
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são elaborados pelo Governo
Federal e têm como objetivo nortear professores, diretores e coordena-
dores da rede particular e pública de ensino, mostrando diretrizes e o que
precisa ser ensinado em cada disciplina, cada nível e ano escolar.

Segundo Hoijer (1982, p. 289, apud CAMPEDELLI; SOUZA, 2002, p. 9):


A linguagem é de tal forma parte de nossas atividades diárias
que muitos podem considerá-la um fato mais ou menos natural
e automático, como respirar ou piscar. Evidentemente, se nos
detivermos a pensar no assunto, verificamos que nada há de au-
tomático em relação à linguagem. [...]
Uma sociedade sem linguagem não poderia empreender a não
ser as mais simples atividades cooperativas [...], não teria meios
de assegurar a continuidade do comportamento e da aprendiza-
gem necessária à criação da cultura.
Sendo assim, entendemos que tudo o que o ser humano alcan-
çou com o crescimento cultural está ligado à linguagem,
pois ela possibilita a existência da cultura e a transmis-
são de conhecimentos de geração para geração.
Evidencia-se, assim, o grau de importância da lin-
guagem e da comunicação para o ser humano, consi-
derando toda e qualquer esfera da qual faça parte, seja
familiar, profissional ou social.

DIAGRAMA 2. A LINGUAGEM POSSIBILITANDO CULTURA E PROGRESSO PARA


O SER HUMANO

Progresso
Cultura
Sentido e
Linguagem comunicação

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Os signos
Cabe à Linguística, ciência que estuda a linguagem humana, a estrutura das
línguas e suas origens, seu desenvolvimento e sua evolução (HOUAISS, 2004, p.
458), o estudo dos signos, termo como são denominados os sinais ou símbolos
utilizados para a linguagem e que, dependendo da forma de utilização, podem
apresentar mais de uma interpretação.
Segundo Vilela e Koch (2001, p. 17):
signos são entidades em que sons ou sequências de sons – ou as
suas correspondências gráficas – são ligados com significados ou
conteúdos. [...] Os signos são assim instrumentos de comunica-
ção e representação, na medida em que, com eles, configuramos
linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si.
Dessa forma, entendemos que os signos linguísticos, por exemplo, têm a
responsabilidade de representar nossas ideias na forma de palavras quando
os produzimos oralmente ou na escrita e os associamos a ideias específicas,
ou seja, usamos os signos para realizar substituições; segundo Pignatari (1993),
para Charles Sanders Peirce (1839 – 1914), fundador da Semiótica, “signo, ou
‘representante’, é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém
sob certos aspectos e em certa medida”.

EXPLICANDO
Semiótica é a ciência que estuda a relação entre os signos, linguísticos ou
não, e seus significados, semiologia.

Infere-se, então, que vários elementos podem ser signos.


Ainda, é preciso evidenciar que o signo é algo que guarda uma dupla ideia,
pois há um estímulo físico ou material, as letras, os sons, as imagens, os gestos,
entre outros, e uma ideia, um conceito atrelado a esses elementos; e temos,
então, respectivamente, um significante e um significado.
Um exemplo de significante corresponde às palavras, sejam escritas ou fa-
ladas, e as ideias ou conceitos associados a elas correspondem ao significado.
De acordo com Saussure (2012, p. 106), “o signo linguístico une não uma
coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica [...]”, ressalta

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ainda que “o signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, que pode
ser representada [...]”; desse modo, podemos analisar essas ideias a partir do
exemplo demonstrado na Figura 1.

c – a – s – a (letras):
significante (estímulo físico)

Casa

Figura 1. Exemplo de signo linguístico. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/08/2019. (Adaptado).

O exemplo de signo linguístico dado permite-nos verificar a existência de:


• Significante: sequência sonora: /kaza/ ou representação gráfica: casa;
• Significado (conceito): construção destinada à habitação.
Em um sistema de comunicação visual, por exemplo, também podemos ve-
rificar a relação entre significante e significado, conforme mostra a Figura 2.

Mensagem Significante (estímulo físico)

Significado (ideia, conceito)


Signo Proibido fumar

Figura 2. Significante x significado. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/08/2019. (Adaptado).

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Segundo Vanoye (1972, p. 30), “o signo é convencional. Entre o significante
e o significado não há outro liame senão o proveniente de um acordo implícito
ou explícito entre os usuários”.
Ressalte-se que vínculo que provoca a união entre o significante e o signifi-
cado, resultando em signo, é arbitrário, ou seja, não é opcional para o falante,
não depende de sua livre escolha; porém, o princípio da arbitrariedade do sig-
no não é contestado por ninguém.
Ao integrante de determinada comunidade linguística cabe o aprendizado
e o domínio sobre as linguagens usadas em seu grupo, dominando o conheci-
mento sobre os diversos signos utilizados por ele para que possa melhor co-
municar-se.

Os processos de comunicação
Em nossos estudos, a língua é entendida como um sistema de comunica-
ção verbal, um idioma; um conjunto de palavras e de regras que as combinam,
usado por uma determinada comunidade linguística como principal meio de
comunicação e de expressão, falado ou escrito.
Diariamente, como usuários da língua, a usamos com diferentes fins, tentan-
do expressar nossos sentimentos, opiniões e necessidades, materiais ou não,
pois precisamos realizar diversas tarefas, como comprar e vender, discutir, argu-
mentar, veicular informações de categorias distintas. Em suma, precisamos nos
comunicar com os demais, caso contrário, nossa existência será afetada.
No entanto, acreditar que o constante uso do sistema de comunicação
verbal e o simples envio de uma mensagem resultará em uma comunicação
efetiva não correspondente à realidade, pois há elementos que precisam ser
observados para que o processo comunicativo seja eficaz e a comunicação seja
estabelecida.
Isso quer dizer que somente há a ocorrência da comunicação se uma
mensagem passada for compreendida pelo receptor; ou seja, se o fa-
lante enviar uma mensagem, mesmo que seja para outro participante da
mesma comunidade linguística. Caso o segundo não entenda o conteúdo
dessa mensagem, não ocorrerá sua assimilação e o processo comunicativo
não se efetivará.

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Assim, faz-se necessário que compreendamos como se dá o processo co-
municativo e os elementos nele envolvidos, para que tenhamos consciência de
como ocorre a integração entre eles e como a comunicação é efetivada.

Os elementos da comunicação
O estudioso de linguística russo Roman Jakobson (1896 – 1982) é o responsável
pela teoria que define os elementos da comunicação e sua relação nos atos discur-
sivos, ou seja, nas situações comunicativas em geral, observando as intenções dos
indivíduos envolvidos no processo; de acordo com sua teoria, utilizamos funções
específicas, conforme nossas intenções durante o ato da comunicação.
Assim, a partir dos estudos de Jakobson, temos o esquema da teoria da
comunicação, conforme mostra o Diagrama 3.

DIAGRAMA 3. TEORIA DA COMUNICAÇÃO

Emissor Código Canal Contexto Mensagem Receptor

Desse modo, em síntese, temos:


• A mensagem – informação trans-
mitida;
• O emissor ou remetente – quem
transmite a mensagem;
• O receptor – quem recebe a men-
sagem;
• O canal – o meio empregado para
o envio da mensagem;
• O código – sistema de sinais em-
pregado no envio da mensagem;
• O referente ou contexto – o objeto ou a situação a que a mensagem se
refere.
Observemos o cartaz da campanha na Figura 3.

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Figura 3. Cartaz de campanha comunitária. Fonte: Prefeitura de Cabreúva, 2018.

Ao analisarmos os elementos da comunicação envolvidos no cartaz dessa


campanha comunitária, encontramos:
• A mensagem – a informação transmitida – a ocorrência de uma campanha
nacional de vacinação;
• O emissor ou remetente – quem transmite a mensagem – o governo esta-
belecido ou os órgãos competentes;
• O receptor – quem recebe a mensagem – a população em geral e respon-
sáveis por menores de um a quatro anos;
• O canal – o meio empregado para o envio da mensagem – o cartaz veicula-
do por meio dos diferentes meios de comunicação;
• O código – sistema de sinais empregado no envio da mensagem – há a
ocorrência do código verbal, no caso, a língua portuguesa, aliado ao código não
verbal, ou seja, as imagens ilustrativas;
• O contexto – a necessidade da vacinação e a consequente proteção da
saúde de crianças.
Ainda, a autora Vanessa Loureiro Correa, em seu livro Língua Portuguesa:
da oralidade à escrita, publicado em 2009, afirma que há outros estudiosos
que acrescentam informações à inicial teoria da comunicação, diferenciando o
emissor da fonte da mensagem, sendo que a fonte corresponde ao seu ponto
de partida, pois em alguns contextos comunicativos podemos perceber que a
fonte (de onde se origina a mensagem) e o emissor (quem envia a mensagem)
são distintos, como no seguinte exemplo:

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Diante das novas regras, o diretor solicitou ao gerente que ela-
borasse um comunicado, em seu nome, para os funcionários,
esclarecendo-os em relação às novas determinações.
Nesse caso, a fonte da mensagem é o diretor, que elaborou as novas regras,
portanto, a mensagem partiu dele; sendo que quem a transmite é o gerente, as-
sim, ele é o emissor, uma vez que passa a mensagem do diretor aos funcionários.
Evidencie-se que, ao mencionarmos o código, devemos observar que se tra-
ta do conjunto de sinais estruturados e usados por uma comunidade linguística
e pode ser verbal, fazendo uso de palavras, escritas ou faladas, ou não verbal,
fazendo uso de sinais, cores, desenhos, dentre outros recursos, como foi ob-
servado no cartaz da campanha de vacinação.
Ainda, outros termos são usados em correspondência, ou seja, o emissor
também é chamado de locutor, codificador ou remetente; e o receptor tam-
bém é conhecido como destinatário, decodificador ou locutário.

As funções da linguagem
Considerando os fatores envolvidos no ato da comunicação, ou seja, emissor,
receptor, mensagem, canal, referente e código, e as intenções do emissor da men-
sagem, predominam um ou mais desses fatores, estabelecendo-se o uso das fun-
ções da linguagem. Ainda, é importante ressaltar, conforme afirma Jakobson:
[...] embora distingamos seis aspectos básicos da linguagem, di-
ficilmente lograríamos, contudo, encontrar mensagens verbais
que preenchessem uma única função. A diversidade reside não
no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa
diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura verbal de
uma mensagem depende basicamente da função predominante
( JAKOBSON, 2010, p. 157).
Sendo assim, iniciando o estudo das funções da linguagem, é preciso evi-
denciar que elas devem ser observadas como de predominância, uma não ex-
cluindo outra. Inicialmente, observamos que prevalece determinada função a
partir da ênfase dada ao elemento da comunicação, a saber:
• Quando a ênfase é encontrada no emissor, temos a função emotiva (ou
expressiva). Ela ocorre quando o fator mais importante é o próprio remetente

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da mensagem e o assunto refere-se sobre quem fala (ou quem escreve), predo-
minando o uso de verbos e pronomes em primeira pessoa e sinais de pontua-
ção como reticências e pontos de exclamação, além do uso de onomatopeias
(palavras que imitam sons) e interjeições. No exemplo a seguir, trecho de um
poema escrito por Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, denomi-
nado Há metafísica bastante em não pensar em nada, da obra O Guardador de
Rebanhos, estão destacadas das marcas textuais mencionadas (verbos conju-
gados em primeira pessoa: penso, sei, adoecesse, pensaria, tenho; e os prono-
mes de primeira pessoa: eu, mim, minha):
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?

ASSISTA
Antônio Abujamra interpreta um trecho deste poema neste
vídeo, cujo arquivo original pertence ao programa Provo-
cações. Assista-o para entender melhor as entonações
usadas quando uma mensagem tem função emotiva.

• Quando a ênfase é encontrada na mensagem, temos a função poética, predo-


minando a valorização da mensagem em si mesma, observando-se o cuidado com
sua elaboração e o uso de recursos de estilo, tais como trocadilhos, figuras de estilo,
repetições, jogos de sons, disposição de palavras no papel ou mesmo pelo uso de
um texto esteticamente bonito. Assim, verificamos que a mensagem está centrada
na própria mensagem, com manipulações que dão novas dimensões às palavras.
No Poema Sujo a seguir, de Ferreira Gullar, é possível observar a sonoridade expres-
sa pela escolha e pela repetição das palavras e de fonemas consonantais:
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro menos menos
menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e

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muro: [menos que furo escuro
mais que escuro:
claro como água? Como pluma? Claro mais que claro claro: coisa
alguma e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem
sonhando [desde as entranhas.
• Quando a ênfase é encontrada no referente, temos a função referencial.
Nesse caso, há predomínio da informação, que é o elemento mais importante
no texto, também chamada de referente; por isso a função é chamada de refe-
rencial: refere-se ao conteúdo da mensagem, ao que é dito. É a linguagem do
objeto e da terceira pessoa, conforme pode ser visto no artigo “Desmatamento
no Brasil”, publicado no site Escola Kids:
O desmatamento no Brasil foi iniciado a partir do processo de coloni-
zação implementado pelos portugueses. Desde então, boa parte da
vegetação do país foi devastada.
O Brasil conta com seis tipos diferentes de florestas: a Mata Atlântica,
a Caatinga, o Cerrado, a Mata de Araucária, o Pantanal e a Floresta
Amazônica. Dentre eles, apenas a Floresta Amazônica possui um re-
lativo grau de preservação, apesar do aumento do desmatamento
nos últimos anos.
A floresta do Brasil que mais sofreu com a devastação foi a Mata
Atlântica. Como ela se encontra no litoral do país, acabou se tornan-
do o primeiro local para a ocupação da sociedade. Com isso, estima-
-se que restam apenas 7% da vegetação original da Mata Atlântica.
• Quando a ênfase é encontrada no receptor, temos a função apelativa (ou
conativa). Neste caso, tudo se concentra no receptor com o objetivo de alterar
seu comportamento. Como característica principal temos o emprego do verbo
no imperativo. Pode ser facilmente observada em campanhas publicitárias ou
textos instrucionais (manual, sermão, guia, receita culinária etc.). Como exem-
plo, podemos utilizar uma receita culinária, que se utiliza dos verbos leve, pin-
gue, adicione, deixe, abaixe, jogue etc., todos no modo imperativo:
Doces caramelados
Ingredientes:

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- 2 xícaras de açúcar
- 1 xícara de água
- 2 colheres de sopa de vinagre branco
Modo de preparo:
Leve ao fogo o açúcar e a água, deixando ferver até o ponto de
bala mole (pingue a calda em uma xícara com água para verifi-
car o ponto). Adicione o vinagre e deixe no fogo até ficar com
cor de champagne (no ponto de quebrar). Abaixe o fogo ao mí-
nimo. Jogue os doces um a um na calda, retire-os e coloque-os
sobre superfície untada com manteiga.
• Quando a ênfase é encontrada no canal, temos a função fática, ocorrendo
o estabelecimento do canal com expressões que iniciam um contato, sendo que
em alguns momentos busca prolongá-lo ou determina a sua finalização, conforme
mostra o trecho da música Sinal Fechado, de Paulo César Batista Faria:
- Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro…
E você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem
sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios! [...]
• Quando a ênfase é encontrada no código, temos a função metalinguísti-
ca, que ocorre com a prática de explicar um código usando o mesmo código. No
trecho do poema Nasce um poeta, de Ferreira Gullar, o poeta fala de verso, de
poema e do próprio poeta, usando para isso esse mesmo gênero textual:
Nasce um poeta
No princípio
era o verso
alheio
Disperso
em meio
às vozes

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e às coisas
o poeta dorme
sem se saber
ignora o poema
que não tem nada a dizer
Sendo assim, o indivíduo que integra a comunidade linguística, de acordo
com sua intencionalidade, escolhe as funções da linguagem que melhor podem
atender às suas necessidades de comunicação. Para tal, precisa dominar esse
uso, através do desenvolvimento de competências específicas.

Competência comunicativa
Competência comunicativa é a capacidade do integrante de uma comunidade
linguística de fazer uso da linguagem com propriedade, ou seja, com o conhecimen-
to, conseguindo se apropriar dos seus mecanismos em favor de seu ato comunica-
tivo e adaptando-o às diferentes situações vivenciadas para atingir seus objetivos.
Em linhas gerais, essa competência diz respeito à capacidade do usuário da
língua conseguir não apenas produzir textos adequados às situações específicas,
mas também à capacidade de compreender outros textos produzidos, conseguin-
do dominar e utilizar os mecanismos da língua em situações reais de comunicação.
Dentre as necessidades existentes para o desenvolvimento da competência
comunicativa está a capacidade de fazer uso do código estabelecido e a capacida-
de de sua descodificação.
Segundo Chalhub (1998, p. 11-12):
[...] código é a organização dos elementos que compõem um con-
junto com regras de permissão e de proibição que determinam
o modo de ocorrência da combinação desses sinais físicos. Por
exemplo, convencionou-se que no código da língua portuguesa
não é possível começar palavras com três consoantes, já no in-
glês essa regra não existe: through. É claro que a mensagem re-
quer um contexto para se referir, um referente, um “sobre o que
fala”, o assunto em torno do qual a mensagem está organizada.
Observa-se que o código é o resultado de “uma convenção, uma norma, um
consenso segundo o qual se controla a relação entre significante e significado. De-

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codificar é entender o código”, conforme Campedelli e Souza (2002, p. 22). É preci-
so evidenciar, entretanto, que a decodificação ocorre com maior facilidade quando
o falante domina o código comum, considerando seu uso por meio da linguagem
denotativa, ou seja, aquela usada de forma objetiva, linear, sem intenção literária;
com a ocorrência do uso por meio da linguagem conotativa, mais elaborada, car-
regada de subjetividade e expressividade, com intenção literária, podem ocorrer
dificuldades para a descodificação.
Assim, o usuário precisa se apropriar da norma estabelecida para que
consiga ter sucesso em seus atos comunicativos, desde que não encontre
entraves para isso.

Os ruídos na comunicação
A comunicação adequada é aquela que se concretiza sem que ocorram
mal-entendidos, atingindo objetivos definidos pelos interlocutores, ou seja, o
emissor e o receptor da mensagem, portanto, “[...] é bidimensional. Para que
ela ocorra, é necessário que haja resposta e validação das mensagens ocorri-
das” (SILVA, 2002, p. 18), isso quer dizer que é preciso que emissor e receptor se
entendam efetivamente.
No entanto, a comunicação adequada encontra dificuldades em muitos mo-
mentos, pois dentro do seu processo muitos estímulos são realizados, contan-
do com o conjunto de ideias, valores e experiências individuais, muitas vezes os
sinais são lidos não só de modo denotativo, mas também conotativo.
Lembrando que o uso da linguagem denotativa dirige o sujeito do ato co-
municativo para a realidade, já o uso da linguagem conotativa leva-o a outras
interpretações, o que pode causar interferências quanto à decodificação.
Além disso, ocorrem também as chamadas mensagens quentes, que são
aquelas que transmitem um grande número de informações, com um alto grau
de definição, de formalização, de rigidez e de tensão, devendo acontecer exi-
gência e esforço para sua decodificação e tornando-se pouco atraentes para os
interlocutores. Em contrapartida e temos as chamadas mensagens frias, cujas
características evidenciam-se pelo uso de uma linguagem mais objetiva e com
poucas informações, sem rigor e mais descontraída, exigindo pouco esforço de
seus destinatários para sua decodificação.

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Por outro lado, mesmo que os interlocutores tenham um repertório que
lhes possibilite transitar por mensagens de qualquer uma dessas caracterís-
ticas, podem ocorrer interferências que impossibilitem que a mensagem não
seja totalmente recebida ou não conquiste a resposta aguardada. Nesse caso,
podem ocorrer os chamados ruídos.
O processo comunicativo pode enfrentar fatores que atrapalham sua efeti-
vação, tais como:
• Ruídos – quaisquer intervenções que atrapalhem a difusão da mensagem,
como um som alto ou baixo, um aparelho de televisão ou rádio ligados, roupas
ou outros elementos que chamem a atenção do interlocutor, dentre outros;
• Entropia – a ocorrência de uma mensagem desordenada, causando ausên-
cia de sentido;
• Redundância – a ocorrência da repetição da mesma mensagem com ou-
tras palavras. Nesse caso, pode haver a crença de que o interlocutor
não tem domínio sobre o assunto, não sendo capaz de compreen-
der a mensagem enviada.
Ainda, é possível inferir que vários podem ser os fa-
tores que se transformam em ruídos, atrapalhando a
comunicação, tais como de ordem física, como dificul-
dades relativas aos sentidos, auditivas ou visuais; de
características psicológicas, como o enfrentamento de
problemas de ordem emocional, não permitindo que o interlocutor
preste atenção à mensagem enviada; de deficiências quanto ao reper-
tório de um dos falantes, como as de ordem semântica, ou seja, dificuldades
de entendimento do vocabulário.

EXPLICANDO
Semântica: ramo da linguística que estuda a evolução e as alterações
sofridas pelo significado das palavras no tempo e no espaço; diz respeito
ao significado das palavras.

Desse modo, é necessário que os interlocutores estejam atentos, também,


às suas condições e a do contexto em que se encontram para que o ato comu-
nicativo não seja prejudicado por elementos de interferência, causando pro-
blemas para a comunicação.

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Tipos de comunicação
Os meios de comunicação são de grande relevância para o processo comu-
nicativo, ou seja, os canais escolhidos para passarmos as informações, sejam
eles com uso de palavras, gestos, expressões faciais ou corporais, objetos ou
roupas utilizadas, entre outros, são fundamentais para a interação entre os
interlocutores, além da atenção que o receptor dá a qualquer um deles.
Correa (2009, p. 27-28) evidencia a necessidade dos interlocutores terem
em seus repertórios e experiências vividas que lhes permitam compreender
os signos presentes em vários atos comunicativos, pois devem ligar, devido a
experiências prévias, os mesmos objetos a suas representações. Considerando
que o conjunto organizado de signos nos apresenta o código, podemos encon-
trar os seguintes tipos de códigos:
• Comportamentais – são aqueles que ocorrem quando o emissor usa seu
próprio corpo por meio de gestos e expressões faciais;
• Artefatuais – são aqueles que compreendem os objetos e seus arranjos
utilizados pelo emissor, como roupas, acessórios, móveis etc.;
• Espaço-temporais – correspondem àqueles que usam o tempo e o espaço
como propósito de comunicação, como o ritmo de determinada música, a loca-
lização das pessoas em uma determinada cena etc.;
• Mediadores – correspondem àqueles que podem ser transmitidos por
meios impessoais de comunicação, como por meio da escrita ou de gráficos.
Observando-se essas classificações, é possível perceber que a comunica-
ção pode ocorrer não só com o uso das palavras, mas também com o uso de
elementos não verbais, ocorrendo, então, diferentes tipos de comunicação: a
verbal, a não verbal e a mista.

A comunicação verbal
A comunicação verbal é aquela que utiliza como código a língua, oralmen-
te ou por escrito, para expressar ideias e impressões, representando coisas
e seres em geral, ou seja, quando o ser humano faz uso da linguagem verbal
e de sua língua.
Entende-se por língua o sistema de representação constituído por pala-

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vras e regras de combinação e uso comuns aos membros de uma determi-
nada sociedade ou comunidade linguística.
Ao fazer uso da língua, um determinado membro de uma comunidade linguís-
tica realiza o ato de fala, que é um ato individual e que depende de várias circuns-
tâncias. Segundo Terra e Nicola (2008, p. 30), essas circunstâncias dependem:
[...] do que vai ser falado e de que forma, da intencionalidade, do
contexto, de quem fala e para quem se está falando. No entanto,
o falante vale-se de um código já convencionado e instituído antes
de ele nascer, ou seja, a criatividade de seu uso individual está
limitada à estrutura da língua e às possibilidades que ela oferece.
O arranjo das palavras, sua articulação e combinação num enunciado tex-
tual falado ou escrito que concretiza uma ideia que faz sentido para os interlo-
cutores envolvidos compreende a comunicação verbal, sendo que cada falante
deve buscar elementos que contribuam para o sucesso comunicativo.

DIAGRAMA 4. A FALA, A LINGUAGEM E A LÍNGUA

Fala: uso individual


do código verbal

Linguagem verbal: Língua: código verbal


sistema composto por de determinada comu-
signos linguísticos nidade linguística

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A comunicação oral
A comunicação oral baseia-se no uso da linguagem e da fala com inten-
ções comunicativas, visando a transmissão de informações, a persuasão ou,
por vezes, o entretenimento ou distração do interlocutor.
Em princípio, o emissor deve ter clareza de suas intenções comunicativas, do
domínio que tem sobre o conteúdo da mensagem e do domínio que apresenta
sobre os usos da língua, do código e da linguagem de sua comunidade linguística.
A ocorrência de uma comunicação não efetiva pode estar relacionada a
uma fala inadequada ao contexto ou ao interlocutor, o que pode demonstrar
as dificuldades que o emissor tem quanto ao uso e domínio da linguagem
como um todo, comprometendo não apenas o ato comunicativo como o pres-
tígio desse emissor como falante.
Dessa forma, fica evidente a necessidade que o emissor tem de procurar
desenvolver cada vez mais sua comunicação oral, pois pode não atingir seus
objetivos dentro do processo comunicativo, sofrendo prejuízos por não se
fazer entender de forma adequada.

A comunicação escrita
Como já verificamos, o uso da língua, no processo de comunicação, pode se
efetivar em enunciados falados ou escritos. Portanto, temos duas formas de inte-
ração social com o uso da linguagem verbal, baseadas na oralidade ou na escrita.
A linguagem falada é adquirida naturalmente, o significante (representa-
ção material do signo) é sonoro, apresentado pelo conjunto de sons que cha-
mamos de fonemas – fonema é a menor unidade sonora de uma língua, com
valor distintivo.
Na escrita, o significante é gráfico, pois usamos conjuntos de letras, ou
seja, representações gráficas dos sons da língua. Assim, a modalidade escrita
precisa ser aprendida.
Desse modo, existem particularidades que devem ser observadas durante
a produção de enunciados, ocorrendo marcas da escrita e marcas da oralida-
de que as caracterizam, tais como dependência ou não do contexto vigente,
necessidade ou não do planejamento sobre a produção da fala, predomínio

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de frases curtas ou longas, influência ou não das convenções etc.
Ainda, o tipo de registro empregado, informal ou culto, pode estar presen-
te em uma modalidade ou outra, dependendo da intencionalidade do falante
e o interlocutor envolvido no ato comunicativo.

A comunicação não verbal


Entende-se que a linguagem humana apresenta um sistema organizado de
sinais que, por vezes, é associado apenas à linguagem verbal, mas é preciso res-
saltar que a linguagem apresenta um conceito mais extenso, como um sistema
que permite a expressão ou a representação de pensamentos. Portanto, é preciso
acatar a ideia de haver diferentes linguagens ao nosso redor, que podem estar
associadas ou não à linguagem verbal.
Considerando essas diferentes linguagens, observamos a comunicação não
verbal como aquela que utiliza códigos diferentes da palavra para a expressão das
ideias, explorando linhas, cores, formas e luminosidade, como a pintura, desenhos
retratando seres, ações, situações e rituais, bem como a linguagem das libras, a
utilização de emoticons em ferramentas de comunicação digital, dentre outras inú-
meras possibilidades.
Assim, encontramos a comunicação não verbal com o uso do próprio corpo,
por meio de gestos faciais ou corporais, como ocorre com a dança, a música, a
fotografia, a arquitetura, a pintura, o desenho, os quadrinhos e as charges.
Ocorrendo a associação entre comunicação verbal e comunicação não-verbal,
temos a comunicação mista, ou linguagem mista, como se apresenta no demons-
trado na Figura 4.

Figura 4. Texto de linguagem mista (verbal e não verbal). Fonte: Cultura Mix, [s.d.]. Acesso em: 11/08/2019.

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A associação entre comunicação verbal e comunicação não verbal está presen-
te em várias mensagens do nosso cotidiano, como cartazes luminosos em ruas de
comércio, campanhas publicitárias ou comunitárias, principalmente com a inten-
ção de chamar a atenção do receptor da mensagem, causando-lhe impressões
sensoriais diversas e explorando signos visuais.

Os signos visuais
Os signos visuais são componentes básicos dos códigos, que possibili-
tam a expressão de uma ideia em substituição a determinados objetos.
Um condutor de veículo e um pedestre entendem que um sinal ver-
melho significa que devem parar sua ação e que um sinal verde indica
que podem prosseguir, conforme se convencionou. Assim, sinal ver-
melho ou sinal verde são signos visuais.
Além disso, é importante destacar que o signo visual pode assumir diferentes
representações, tais como:
• Icone – signo que apresenta relação de semelhança ou analogia com o objeto
a que se refere, como a planta de uma casa, um diagrama;
• Índice – signo que mantém uma relação natural causal ou de contiguidade
física com o objeto a que se refere, como fumaça, que indica fogo, uma pegada,
que indica a passagem de alguém;
• Símbolo – signo que se fundamenta numa convenção social e que, por isso,
mantém uma relação convencional com o objeto a que se refere, ocorrendo a ar-
bitrariedade com o signo linguístico, como a pomba branca, que representa a paz,
a auréola, representação de santidade, de inocência.

Leitura e interpretação de textos


A sociedade letrada coloca diariamente o falante da língua em contato com
variados tipos de textos, desafiando-o a interpretar de modo adequado o signi-
ficado de cada um deles, assim como as intenções de seus emissores.
Da mesma forma, a escrita também faz parte de nossas vidas em diferentes
circunstâncias, para expor nossas ideias, pedir informações, manifestar nossas
opiniões, para manter contatos diversos, seja de modo informal, como ocorre

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geralmente com o uso das redes sociais, ou em situações de maior exigência
formal, como no meio profissional ou escolar, em situações de avaliação.
Sendo assim, as atividades de leitura e escrita complementam-se e, em todas
as situações nas quais precisamos lidar com textos escritos, precisamos lidar
com estruturas específicas e sermos capazes de fazer uso da linguagem adequa-
da a uma situação de interlocução diante de um interlocutor específico; portanto,
como leitores, também precisamos reconhecer esses elementos para a eficácia
de nossa interpretação e entendimento dos textos aos quais somos expostos.

Procedimentos de leitura
A leitura está presente em nossas vidas, pois encontramos constantemente
ao nosso redor textos de diversos gêneros, como cartazes, outdoors, notícias em
jornais, revistas e meios eletrônicos, e-mails, rótulos de produtos, propagandas,
dentre outros exemplos.
Alguns desses textos exigem que confrontemos o conjunto de informações
que carregam com as informações presentes em nossa realidade, comprovando
sua veracidade, como notícias, artigos e outros gêneros que pertencem à esfera
jornalística; para isso, é necessário que tenhamos um repertório de conhecimen-
tos, repertório esse que precisamos enriquecer de forma constante e paulatina e
que não pode estar restrito aos bancos escolares.
Nesse sentido, é importante nossa ciência sobre alguns procedimentos de leitu-
ra a fim de que consigamos ler nas entrelinhas, ou seja, o que não está escrito ex-
plicitamente, pois frequentemente completamos as informações fornecidas pelos
textos com outras das quais dispomos em nossa bagagem de informações, realizan-
do deduções que acabam contribuindo para a construção dos sentidos dos textos.
Entre esses procedimentos, destacam o trabalho com os pressupostos, ou
seja, a percepção de uma ideia, uma circunstância, um juízo ou fato considerado
como antecedente necessário de algo que foi dito em determinado texto. Em ou-
tras palavras, o produtor do texto, ao elaborá-lo, conta com a ideia de que o leitor
carrega em si uma determinada bagagem para poder entender o que foi dito.
Em outros momentos, para a leitura, precisamos perceber aquilo que está im-
plícito, ou seja, temos que ir além do que foi dito, revelando aquilo que ficou su-
bentendido ou sugerido pelo texto, dependendo da capacidade do leitor de resga-

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tar informações evocadas pelo contexto, confrontando com dados estabelecidos
pelo próprio texto.
A inferência, importante para o trabalho com os pressupostos, demonstra a
necessidade de recuperação de algo para a compreensão do sentido do texto a
partir de pistas fornecidas, exigindo o uso de raciocínio e confrontação de dados
para atingir uma determinada conclusão.
Ainda, as autoras Maria Luiza Marques Abaurre e Maria Bernadete Marques
Abaurre, no livro Produção de texto – interlocução e gêneros, publicado em 2009, men-
cionam a ocorrência da intertextualidade, relação que se estabelece entre diferen-
tes textos no que se refere a conteúdo, forma, ou conteúdo e forma. Nesse caso, o
reconhecimento das relações de intertextualidade dependem do repertório adquiri-
do pelo leitor para perceber que o produtor do texto faz menção a outro.
Assim, percebemos que a leitura e a interpretação de textos são desafios que
só podem ser superados por quem se dispõe a ser um bom leitor, buscando um
repertório cultural que seja ampliado a todo instante, a fim de que, com maior
facilidade, possa perceber as informações que enriquecem os textos e exigem que
seus leitores percebam o trabalho dos produtores com a exploração de informa-
ções que contam com a pressuposição, a observação dos implícitos, as inferências
e o uso de relações de intertextualidade.

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Sintetizando
Nessa unidade, vimos que a comunicação é algo inerente ao ser humano e pri-
mordial para sua desenvoltura dentro da sociedade. O ato comunicativo tem como
objetivo o envio de mensagens de acordo com a intencionalidade do emissor da men-
sagem. Para a construção de suas mensagens, o ser humano faz uso da linguagem,
base das situações comunicacionais e, se ocorre a comunicação, isso quer dizer que
houve uma produção que apresentou sentido para o receptor dessa mensagem.
Os estudos sobre linguagem denotam que se trata de um conjunto de sinais,
compreendendo sistemas de códigos, através dos quais os seres humanos co-
municam-se entre si, fazendo uso de signos, que apresentam arbitrariedade,
pois não cabe ao indivíduo sua alteração, mas com os quais precisa aprender a
lidar para validar sua fala e a expressão de suas ideias.
Os signos são compostos por dois elementos: o significante e o significa-
do. Ao integrante de uma comunidade linguística cabe aprender e dominar
as diversas formas de linguagem usadas em seu grupo para compreender as
mensagens e produzi-las com sucesso.
Os estudos sobre teoria da comunicação evidenciam que ela apresenta ele-
mentos que se tornam mais ou menos importantes, dependendo da intenção
de cada integrante da comunidade linguística, sendo eles o emissor, o receptor,
o código usado, a mensagem em si, o canal para seu envio e o contexto em que
o ato comunicativo ocorre.
Devido à relevância que se apresenta diante do emissor da mensagem,
ocorre a exploração das funções da linguagem, ou seja, função emotiva (com
foco no emissor), função poética (com foco na elaboração da mensagem), refe-
rencial (com foco na informação, no referente), função apelativa (com foco no
receptor), função fática (com foco no canal, no veículo usado para a mensagem)
e função metalinguística (com foco no próprio código). Fazer uso desses ele-
mentos e perceber seus usos e as intenções do emissor fazem parte da compe-
tência comunicativa do falante de determinada língua.
As barreiras encontradas durante o ato comunicativo são conhecidas
como ruídos, que podem ocorrer em comunicações verbais, aquelas que fa-
zem uso das palavras, faladas ou escritas; ou em comunicações não verbais,
que fazem uso de imagens.

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Dessa forma, esses estudos visam a busca da eficácia quanto à produção de
sentidos das mensagens e a decodificação dessas, com participação positiva e
confiante do integrante da comunidade linguística em seus atos comunicativos.

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UNIDADE

2 COMUNICAÇÃO
ESCRITA, EXPRESSÃO,
DIVERSIDADE
LINGUÍSTICA E
COESÃO TEXTUAL

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Objetivos da unidade
Demonstrar a importância da elaboração de respostas com características
objetivas ou subjetivas, ressaltando a necessidade de adequação dessas quanto
aos contextos e aos interlocutores envolvidos;

Apresentar os conceitos de denotação e conotação, evidenciando seus usos de


acordo com as intenções dos falantes da língua;

Conceituar os diferentes níveis de linguagem, evidenciando as diferenças


linguísticas existentes na língua;

Ressaltar a importância do planejamento para a elaboração de textos;

Demonstrar a importância da ampliação de repertório para composição de


textos de características diversas, abordando temas diversos;

Conceituar coesão textual, evidenciando mecanismos de coesão e


demonstrando recursos oferecidos pela língua para garantir a concatenação e a
organização de ideias em textos escritos.

Tópicos de estudo
Elaboração de respostas Composição
As conversações Planejamento e organização
Denotação e conotação de textos
Comandos de questão e ela- Tema
boração de respostas
Respostas subjetivas e obje- Coesão textual
tivas Tipos de coesão textual
A referência textual – relações
Comunicação e expressão anafóricas e catafóricas
Texto e textualidade Recursos da coesão textual
Tipos de discurso e o contexto
Níveis de linguagem
Diversidade linguística
Variantes linguísticas e estilo

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Elaboração de respostas
Em nossos atos de comunicação, ocorram eles oralmente ou por escrito, em
muitos momentos, somos levados à necessidade de elaborar uma resposta, aqui
entendida como aquilo que se diz ou é escrito para responder a uma pergunta.
Inicialmente, é preciso que se entenda que a elaboração de uma resposta
compreende a organização de um texto e, como tal, deve seguir alguns princí-
pios, e responder a algo não pode ocorrer de forma automática; como produ-
ção de texto, a resposta deve ter clareza e deve ser organizada, de modo que
o interlocutor perceba que há um começo, um meio e um fim bem esboçados.
Em qualquer ato de interlocução, trabalhamos com os chamados elementos
da comunicação, são eles: a mensagem em si, ou seja, a informação transmiti-
da; o emissor, aquele que emite uma mensagem; o receptor, aquele que recebe
a mensagem; o canal, ou seja, o meio escolhido para o envio da mensagem; o
código, que compreende o sistema de sinais empregados no envio da mensa-
gem; o referente, objeto ou situação a que a mensagem se refere.
Além da necessidade do conhecimento do código escolhido, da escolha de um
canal adequado e que não possua interferências (chamadas de ruídos em comu-
nicação), nossos interlocutores dependem da clareza, da organização e da expres-
são dos nossos pensamentos para a compreensão das mensagens enviadas.
No momento em que elaboramos uma resposta, somos os emissores que
querem conquistar a compreensão de nossa mensagem e, levando em conta
nossos receptores, o contexto em que nos encontramos, nosso domínio sobre
o conteúdo a que se refere a pergunta feita e a forma como organizamos nos-
sos pensamentos, haverá facilidade ou não para que o receptor compreenda o
que desejamos com o envio da mensagem.
Também, precisamos lembrar que “o destinatário da comunicação não é um
receptor passivo, mas um intérprete que decodifica e compreende a mensagem
de acordo com sua experiência humana e cultural” (ALVAREZ; BARRACA, 2002, p.
47); isto quer dizer que, durante o processamento da mensagem enviada, pode
ocorrer um afastamento entre a intenção do emissor e o entendimento da parte
do receptor. Por isso, os indicadores enviados precisam ser claros para quem
recebe a informação, no entanto, é preciso ressaltar que o repertório de conhe-
cimentos também pode interferir no processo, pois os esquemas mentais e os

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conhecimentos adquiridos têm caráter bastante individualizados.
Se a situação do ato comunicativo é direta, através do diálogo, o emissor
pode contar com a comunicação não verbal, usando gestos e expressões, ou
até mesmo reformulando a mensagem.

CITANDO
Ora, quando falamos com alguém, não é só a palavra que está comunican-
do, e sim, a soma de gestos, a intensidade da voz, as expressões faciais
etc. Além disso, uma conversa se constrói no momento que está ocorren-
do. Tanto é que sentimos que nosso interlocutor não está entendendo bem.
Sabemos que tanto os produtores de mensagens quanto os destinatários
são, na verdade, intérpretes, ambos sujeitos ativos na comunicação, que
realmente só ocorre quando se dá a troca entre eles, quando interagem
efetivamente ao ato de comunicação (ALVAREZ; BARRACA, 2002, p. 47).

Entretanto, se o ato comunicativo ocorre através da escrita, o emissor deve


fazer todo o possível para que a mensagem não tenha a necessidade de ser
refeita, pois nem sempre poderá contar com essa oportunidade.
Ao se deparar com um raciocínio desorganizado e sem clareza, o receptor
não conta com as pistas necessárias para o entendimento da informação envia-
da e, mesmo que compreenda o código escolhido, terá dificuldades para chegar
à compreensão do enunciado pelo emissor, ou até mesmo não chegará a ela.
Em situações de avaliação, comuns na esfera escolar, por exemplo, o pro-
fessor depende da clareza e da organização da resposta elaborada pelo aluno
para sua avaliação. Desse modo, o sucesso comunicativo de uma resposta está
atrelado aos cuidados que envolvem sua elaboração, quanto à forma como é
elaborada e quanto ao seu conteúdo.

As conversações
As conversas costumam ter características mais ou menos informais, envol-
vendo nossas esferas de atividades, entre amigos, entre colegas de trabalho,
nos ambientes de estudo e, sejam os falantes portadores de formação escolar
ou não, a comunicação pode ocorrer observando a fala e algumas formas bá-
sicas de comunicação.
Especificamente, as conversações envolvem acordos e negociações para as

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tocas de turnos de interlocução, isto é, unidades que compreendem a parti-
cipação de cada um, auxiliando na formulação de textos dialogais, mas nem
sempre um interlocutor toma a palavra ao término da enunciação do outro. Por
vezes, ocorrem interrupções.
Terra e Nicola (2008) ressaltam características particulares dos textos con-
versacionais como:
• Emprego de linguagem verbal e de linguagem não verbal, com a utilização
de entonações, expressões faciais, gestos, olhares, movimentos, e até as rou-
pas, postura, penteados e adereços contribuem de alguma forma;
• Emprego de expressões fáticas, ou seja, aquelas que enfocam o canal de
comunicação, com uso de frases interjetivas, como “Certo?”, “Tudo bem?”, “Cla-
ro!”, entre outras;
• Negociação constante para a troca de turnos de fala, muitas vezes natural-
mente, outras de forma sutil e, às vezes, de modo grosseiro.
Assim, em situação de comunicação oral, a elaboração de respostas está
sujeita às características dos textos dialogais ora mencionados, cabendo aos
interlocutores a sua observação.

Denotação e conotação
Segundo Saussure (2012), a língua é a parte social da linguagem e o indi-
víduo não pode modificá-la sozinho, uma vez que ela existe por conta de um
“contrato” entre todas as pessoas que fazem parte da comunidade em questão.
Apesar disso, ele também afirma que a fala é sempre individual e que a língua
é necessária para que a fala produza seus efeitos.
A utilização da fala e da linguagem dependem das competências comunicativas
dos participantes do ato comunicativo, formulando enunciados (emissor/falante)
ou atribuindo-lhes significados (receptor/ouvinte ou leitor). Além disso, a ideologia
e a cultura dos interlocutores também se evidenciam na formulação e na leitura
que fazem dos enunciados. Somam-se ao processo as influências de aspecto psi-
cológico dos indivíduos no momento exato do ato comunicativo, tais como humor
e capacidade de tolerância, que podem interferir tanto na enunciação quanto na
interpretação, além da formulação dos enunciados, de modo que permitam ao
interlocutor o reconhecimento de suas formas (TERRA; NICOLA, 2008).

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Desse modo, encontramos, no que se refere à fala em sua produção, seja
oral ou escrita, dois mecanismos que participam do processo de escolha e
seleção das palavras e que interferem na organização e na combinação das
mesmas, conforme a determinação do falante e seus objetivos: a denotação e
a conotação. A utilização desses recursos depende das competências comuni-
cativas dos interlocutores.
Entendemos por denotação a relação direta de significado que um nome
estabelece com um objeto da realidade. O uso denotativo de uma palavra re-
fere-se ao seu uso literal, restrito e objetivo, com o significado normalmente
encontrado nos dicionários.
Por outro lado, a conotação faz referência a algo que uma palavra ou coisa
sugere, como se fosse uma ampliação do significado “comum”. O uso conota-
tivo de um termo exige que o interlocutor faça associações com elementos de
seu repertório, para que encontre sentido no enunciado. O uso conotativo de
um termo indica que o falante tem intenção literária e subjetiva.

DIAGRAMA 1. DIFERENCIANDO DENOTAÇÃO DE CONOTAÇÃO

Sentido Sentido
Denotação Conotação figurado
literal

Observe o trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987),


poeta e contista brasileiro:
A noite dissolve os homens
A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.

A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,


nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total in-
compreensão.

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A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.

E o amor não abre caminho na noite.


A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.

A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...


Os suicidas tinham razão.

Aurora, entretanto eu te diviso,


ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,


teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório. [...]
Considerando o sentido denotativo da palavra “noite”, encontramos seu signifi-
cado no dicionário como tempo que transcorre entre o poente e o nascer do sol. No
entanto, o poeta faz uso do termo “noite” sob outros aspectos, abraçando o sentido
conotativo, que ainda depende da contextualização quanto às preocupações apre-
sentadas no momento de criação do poema. “A noite dissolve os homens” é uma
metáfora sobre os horrores do avanço nazifascista, sobre o totalitarismo que trouxe
perseguições políticas em nosso país e o medo e a solidão do eu-lírico.
Também se evidencia o uso da palavra “aurora”, que o dicionário apresenta
como a claridade que precede o nascer do sol e no texto pode ser entendida
como a esperança diante dos problemas percebidos pelo eu-lírico.
Verifica-se, então, que os recursos usados causam uma transformação nos

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significados das palavras, provocando alteração do pensamento, pois os ele-
mentos da linguagem são desviados de seu uso normal, criando uma lingua-
gem nova (CAMPEDELI; SOUZA, 2003).
Assim, percebemos que o sucesso na comunicação e o uso que o indivíduo
faz da língua em seus processos comunicativos dependem não só do domínio
do código estabelecido entre os falantes e dos elementos da comunicação, mas
também da competência comunicativa dos interlocutores, da ideologia, da cul-
tura, do aspecto psicológico, das intenções e da seleção das palavras durante o
uso, trabalhando com os mecanismos de seleção e combinação de signos, que
não são aleatórios, pois estão relacionados à intenção do falante.

DIAGRAMA 2. FATORES QUE INTERFEREM NO SUCESSO DA COMUNICAÇÃO

Falante: competência
comunicativa, ideologia,
cultura, aspecto psicológico,
uso da língua – denotação ou
conotação

Interlocutor: competência
linguística, ideologia,
Intenção e contexto
cultura, aspecto
psicológico, repertório

Referente, mensagem,
código, canal

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Comandos de questão e elaboração de respostas
Muitas vezes, em processos de avaliação, principalmente nos ambientes
escolares, o indivíduo não alcança êxito por não conseguir elaborar respostas
que correspondam às questões que lhe são propostas, mesmo tendo se pre-
parado para elas.
Uma resposta deve ser completa, como uma produção que deve fazer sentido
para o interlocutor, além de apresentar início, meio e fim bem delineados. O coman-
do de uma questão corresponde ao verbo ao redor do qual a pergunta se concen-
tra, aparecendo geralmente no modo imperativo, como uma ordem, mas também
pode estar subentendido, não aparecendo explicitamente. Desse modo, é relevante
que se compreenda bem os comandos de questão e se obedeça a eles.
Observando que, quando se menciona discurso próprio, isso quer dizer que
se deve utilizar suas palavras, sem cópias de trechos motivadores ou outros, obe-
decendo aos padrões da norma culta, principalmente em situações de avaliação.

TABELA 1. COMANDOS DE QUESTÃO

Solicita um raciocínio associado ao conteúdo pedido na questão e


“Analise”
exige discurso próprio.

É preciso escolher e desenvolver os aspectos comuns e opostos entre


“Compare” os seres comparados. Não se deve simplesmente apresentar uma
definição de cada elemento; exige discurso próprio.

Também exige discurso próprio, exigindo que se limite a mostrar os


“Diferencie” aspectos em que os seres são diferentes entre si; não corresponde a
definir.

Exige discurso próprio e solicita o desenvolvimento de um raciocínio.


Lembrando que explicar não corresponde a exemplificar: explicar
“Explique”
através de exemplos é um recurso inválido usado apenas para escon-
der a incapacidade de argumentação do indivíduo.

É feita a partir de uma afirmativa dada e a resposta deve ser coerente


“Justifique”
com essa afirmativa. Também exige discurso próprio.

Não se tratando de discurso próprio, visto que o que se solicita é a


cópia de algum item ou trecho, deve-se colocar entre aspas o trecho
“Transcreva”
a ser transcrito. Para maior clareza, a resposta deve começar com
expressões como: “O trecho é...”, “O verso é...” etc.

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Inúmeros são os comandos de questão utilizados em sala de aula, cabendo
aos indivíduos que se encontram nas situações em que são apresentados buscar o
conhecimento de seus conceitos, a fim de que resultados satisfatórios correspon-
dam aos seus esforços, fazendo-se entender por seus avaliadores.

Respostas subjetivas e objetivas


De acordo com Houaiss (2004), o que é subjetivo está sujeito ao pessoal, não
havendo imparcialidade, e é tendencioso, não sendo concreto, exato ou objetivo.
Entendemos, então, que algo subjetivo é tudo o que é próprio do sujeito ou relati-
vo a ele, pertencendo ao comando de sua consciência e baseado na sua interpre-
tação individual e, sendo assim, pode não ser válido para os demais. Além disso, o
uso conotativo dos termos contribui para a presença da subjetividade nos textos.
Desse modo, entende-se que uma resposta subjetiva pode apresentar ele-
mentos que podem interferir num processo comunicativo, comprometendo situa-
ções de avaliação, por exemplo, pois possibilitam interpretações que dependem
do repertório individual de emissor e receptor, ou pode apresentar um juízo de
valor que não é compartilhado pelo receptor.
Desejando fazer uso de uma resposta subjetiva, precisamos verificar se há con-
dições de entendimento, dentro do contexto, de acordo com o canal e o código
escolhidos, além das características de nosso interlocutor; ainda, se há oportu-
nidade para esse uso, o que nem sempre ocorre em situações de avaliações na
esfera escolar.
Observando a possibilidade, precisamos garantir que ocorram pistas em nos-
so texto, oral ou escrito, que permitam a recuperação do sentido desejado e se há
organização entre as partes que o compõem, para que o interlocutor compreenda
as opiniões e interpretações que nele apresentamos.
Quanto à objetividade, de modo contrário à subjetividade, compreende a
qualidade daquilo que dá, ou pretender dar, uma representação fiel de um objeto
ou fato (HOUAISS, 2004), sendo assim, trazendo o uso dos termos que exploram
a denotação.
Quando desejamos fazer uso de respostas objetivas, buscamos a verossimi-
lhança com base na realidade para a apresentação de nossos conteúdos, de forma
isenta e impessoal, ou seja, sem a presença de nossas opiniões ou sentimentos.

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Nesse caso, a organização e a concatenação das informações apresentadas,
além de sua veracidade, são elementos relevantes que devem ser preservados
e, para que não haja comprometimento quanto ao que é apresentado, a coesão
entre as partes da resposta, considerando início, meio e fim bem marcados, for-
mulados com clareza, forma e conteúdo, devem levar o interlocutor à apropriação
do sentido do texto elaborado.

EXPLICANDO
O conceito de verossimilhança prende-se à característica do que é veros-
símil, ou seja, que aparenta ser ou é considerado verdadeiro.

Comunicação e expressão
Comunicar é partilhar informações, pensamentos, sentimentos e opiniões,
tendo como objetivo principal a influência entre os interlocutores no processo
comunicativo.
Fazem parte da interação humana a comunicação falada, a ilustrada, feita
por gestos, realizada em grupos, com o falante consigo mesmo, por ações, con-
siderando grandes grupos (comunicação de massa), por sons, pelas artes e pela
escrita (BERLO, 2003).

Figura 1. A comunicação humana acontece de diversas formas. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/08/2019.

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A comunicação através da escrita exige bem mais do falante do que a comuni-
cação oral e, muitas vezes, seu trabalho é tal que se assemelha a uma espécie de
tradução dentro da própria língua, devendo ser considerados vários fatores para
a elaboração de textos escritos carregados de sentido para os interlocutores.
Entre eles, encontramos a textualidade.
A expressão escrita tem se tornado cada vez mais frequente em nossa socie-
dade, em função do avanço da tecnologia, exigindo uma comunicação rápida e de
compreensão facilitada. Isso quer dizer que o compartilhamento de informações
exige que o usuário da língua tenha um domínio cada vez maior dos diversos siste-
mas de códigos disponíveis, para que seus textos sejam compreendidos tanto na
esfera pessoal quanto na esfera profissional.
A capacidade de síntese, de organização e de clareza em seus enunciados
também têm sido condições para que as situações de interação escrita definam
o êxito dos diversos usos dos textos escritos. Igualmente, é preciso que tenha
conhecimento e condições de discernir quais os níveis de linguagem apropriados
para os diferentes meios de expressão.

Texto e textualidade
Segundo Santos, Riche e Teixeira (2012), o texto é como um elemento de in-
teração marcado pela coesão entre os seus elementos; ou seja, várias frases não
podem ser chamadas de textos se elas não possuírem um significado juntas. Só
podemos afirmar que foi elaborado um texto se suas partes estiverem ligadas e
organizadas de tal modo que apresentem sentido.
Como integrantes de uma sociedade, fazemos parte de uma comunidade lin-
guística quando fazemos uso de um mesmo idioma dentro dessa comunidade, ou
seja, partilhamos uma mesma língua e apagar seus códigos de expres-
são, fazendo uso deles para nossas atividades de interação.
A língua, em sua organização, possui um léxico, ou seja,
um vocabulário, que é usado de acordo com um conjun-
to de regras que chamamos de gramática. O uso da lín-
gua deve obedecer, também, regras de textualização, ou
seja, normas de composição de textos, e normas sociais de
atuação, na situação interativa (SARMENTO, 2012).

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Quando nos deparamos com um conjunto de palavras ou frases soltas
que não obedecem aos padrões de organização da língua, dizemos que não
há textualidade ou textura, por isso não apresenta sentido, pois não observa
os elementos de textualização necessários, não ocorrendo coesão, coerência,
informatividade e intertextualidade.
Portanto, para que tenhamos um texto, a coesão é estabelecida com a ligação
entre as palavras, as frases, as orações e os períodos do texto. A coerência contri-
bui para o sentido não apresentando elementos em contradição entre suas partes
ou ideias; a informatividade apresenta a relevância das informações fornecidas; e a
intertextualidade fornece a relação com outros textos. Além disso, devemos consi-
derar o contexto – a situação em que o texto está inserido.
DIAGRAMA 3. TEXTUALIDADE OU TEXTURA

Coesão Coerência Informatividade Intertextualidade Texto

Tipos de discurso e o contexto


O contexto em que um texto está inserido precisa ser observado, visto que
uma mesma frase pode apresentar significados diferentes em situações distintas
e para interlocutores distintos. Por isso, muitas vezes, observamos alguém recla-
mar que não foi compreendido em suas intenções, pois sua frase foi descontex-
tualizada, ou seja, não foram observadas as condições em que foram proferidas,
acarretando interpretações indesejadas.
Além disso, temos que considerar o discurso escolhido, entendendo o ter-
mo discurso como o uso da língua em uma determinada situação de comunica-
ção entre interlocutores, constituindo o conjunto de enunciados de um emis-
sor e seu interlocutor, em um determinado momento em que se faz o uso da
língua (SARMENTO, 2012).
O texto dá origem ao discurso e o discurso materializa a produção textual.
Cabe ao emissor do texto escolher a forma de apresentação de suas ideias sobre
temas diversos e a forma de manifestação de seu discurso.

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Níveis de linguagem
Um fato que deve ser considerado
universal é que toda língua apresenta
variações, isto é, dependendo da situa-
ção de comunicação, naturalmente, o
seu uso acontece de forma variada de-
vido ao seu caráter social.
Geralmente, o usuário de uma língua
reconhece a necessidade de adequação
às condições de uso em determinadas
situações de interação comunicativa,
além de reconhecer quais os modelos
mais prestigiados e a necessidade de
empregá-los em textos escritos.
São denominados como níveis de
linguagem, também chamados de ní-
veis de fala, os diferentes registros que
o falante pode escolher em seus atos comunicativos, fazendo uso da linguagem de
acordo com os contextos em que se encontra, seus interlocutores e suas intenções
comunicativas.
Entretanto, a formação do emissor da mensagem e seu grau de escolaridade
podem interferir em suas escolhas, visto que os principais níveis de linguagem
compreendem o registro culto e o registro coloquial, sendo que o primeiro exige
aprendizagem nos bancos escolares.
O registro culto costuma ser observado em situações formais, predominando
na linguagem escrita, seguindo as normas estabelecidas pela gramática. Por outro
lado, o registro coloquial predomina em situações informais do nosso cotidiano,
quando a interlocução tem características descontraídas entre os familiares, ami-
gos e conhecidos.
No entanto, é possível que o registro culto seja exigido em situações de in-
terlocução oral, como em palestras, por exemplo, e o registro coloquial encontre
espaço em textos escritos, como forma de aproximação com o interlocutor, como
percebemos em campanhas publicitárias.

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Diversidade linguística
A língua, como um produto de interação social, apresenta mudanças contí-
nuas, recebendo novos termos em seu léxico, apropriando-se de palavras de
outras línguas, ocorrendo criações do falante (neologismos) que passam a ser
aceitas pela comunidade linguística como um todo, por isso essa comunidade
precisa garantir a manutenção de seu idioma. Para isso, em geral, as escolas
são encarregadas de apresentar as regras de seu uso em sociedade, conside-
rando o padrão de registro de maior prestígio, no caso, a norma padrão.
Assim, fica estabelecida uma forma de manutenção da norma padrão, cor-
respondendo àquilo que o falante utiliza com maior frequência, valorizada so-
cialmente e mais utilizada na esfera pública por imprensa, comércio, indústria,
universidade, governo etc.
Entretanto, não podem ser desconsideradas as variações linguísticas, pois
não existe apenas uma norma totalmente correta ou melhor que outra, mas di-
ferentes variantes cujo emprego deve se adequar às condições de comunicação,
para que ocorra a interatividade entre os interlocutores (SARMENTO, 2012).

EXPLICANDO
Neologismo corresponde a uma palavra criada na própria língua ou adap-
tada de outra, ou a uma palavra antiga sendo utilizada com sentido novo
(MICHAELLIS, 2009).

Variantes linguísticas e estilo


Variações linguísticas são as diferentes variações regionais, sociais e históricas
dentro de uma mesma língua. Entre elas, encontramos os dialetos e os registros.
Os dialetos são resultantes de fatores regionais, com palavras e constru-
ções que caracterizam os falantes de determinados espaços geográficos; de
fatores sociais, com a expressão de linguagem própria de grupos com interes-
ses comuns, caracterizando jargões profissionais, por exemplo, e formas de ex-
pressão características de grupos de falantes de diferentes condições sociais,
econômicas ou culturais; de fatores relacionados às diferentes faixas etárias;
e de fatores relacionados ao sexo do falante, que escolhe palavras diferentes,
conduzindo conversas de modo distinto (SARMENTO, 2012).

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Em geral, essas diferenças acontecem no campo lexical, pela escolha do vo-
cabulário, e no campo fonético, pois há mudanças na pronúncia e na entona-
ção usadas pelos falantes, ou seja, há os sotaques, facilmente observados nos
falantes de diferentes regiões.
Além disso, escolhas individuais resultam em estilos próprios, bastante
observados em textos literários, e estilos de época, observados pelo uso de
palavras e referências a determinados contextos, nos quais são verificados re-
cortes temporais, considerando épocas específicas e fatores históricos.
A variação histórica permite que percebamos a mudança que a língua sofre
no decorrer do tempo, ocorrendo quanto à grafia (escrita), à pronúncia, à se-
mântica (significado), ao léxico (vocabulário) e à sintaxe da língua (organização
dos termos nas frases).

Composição
A composição de textos depende das intenções do emissor, que faz escolhas
que precisam se adequar aos diferentes contextos e aos interlocutores envolvi-
dos ou previstos, e dos objetivos que pretende alcançar com sua produção.
De modo geral, nossas enunciações têm o objetivo de narrar fatos, realizar
descrições, argumentar em favor de nossas opiniões, ou dissertar, quando ex-
planamos nossas ideias e interpretações.
A partir da determinação dos objetivos de nossos enunciados, buscamos es-
quemas de produções textuais que as caracterizam e definimos as funções que
pretendemos com elas, considerando funções estéticas ou funções utilitárias.
A função estética ocorre quando exploramos as diversas potencialidades de
significado que as palavras carregam, utilizando a função poética e a
conotação, dando ênfase ao modo de dizer algo, de forma significa-
tiva e diferente da usual, tentando impressionar nossos
interlocutores.
A função utilitária está presente em textos cujo
maior significado encontra-se no que é dito, utilizan-
do a função referencial e a denotação, quando bus-
camos a exatidão e as palavras designam os elementos
aos quais tradicionalmente estão associadas.

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Planejamento e organização de textos
A elaboração de um texto não corresponde a um trabalho fácil. É necessário
planejamento do que será colocado no papel, para que sejam garantidos os ele-
mentos que tragam a textualidade que levará nossos pensamentos de modo con-
catenado, com clareza, organização e sentido que permitam que o interlocutor o
recrie em si, confirmando o alcance de nossos objetivos com a produção textual.
A leitura e a retomada constantes de cada frase, oração, período ou pará-
grafo, exigindo trabalho perseverante e atencioso, devem acompanhar o pro-
cesso de elaboração do texto a todo momento. É importante ressaltar que o
hábito de leitura de textos diversos contribui para que assimilemos formas de
composição que atendam a objetivos diferentes.
Por fim, a revisão com a confirmação de que o planejamento foi seguido ou
se houve necessidade de reformulação de objetivos deve ser um momento de
igual importância, o qual retomamos nossas ideias e verificamos se oferece-
mos ao interlocutor as condições para a compreensão do registro que fizemos
de nossos pensamentos.
Além disso, a revisão sobre as regras que caracterizam o padrão culto e de
prestígio da língua deve ser alvo de especial estudo e atenção, pois o desvio
de determinadas regras leva abaixo o trabalho de produção e ao descrédito o
produtor do texto.

Tema
O tema é o assunto que é desenvolvido no texto, seu desenvolvimento depen-
de dos conhecimentos adquiridos pelo emissor e do repertório que este adquiriu
até o momento da produção.
É certo que, dependendo da etapa de escolarização de um indivíduo, da sua
falta de contato com um ensino formal ou da sua experiência de vida, há
fatores que podem acarretar limitações quando ao desenrolar
de determinados temas e subtemas, isto é, assuntos a eles
relacionados.
Entretanto, também é certo que podemos discorrer so-
bre os mais diversos assuntos, de modo superficial ou especí-

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fico, dependendo do contato que tivemos com as informações em pauta, encon-
trando maior ou menor facilidade para a elaboração de textos sobre eles.
O ideal é que o emissor tente ampliar seu repertório constantemente, não
se limitando aos bancos escolares, mas buscando conhecimentos que ampliem
constantemente sua bagagem cultural através de leituras e pesquisas, tentando
conhecer diferentes linguagens e produções culturais, sempre que possível, to-
mando contato com produções teatrais, musicais ou filmes e buscando livros e
revistas de conteúdos diversos para que possa com segurança escrever sobre os
mais diversos temas.

Coesão textual
Diz-se que um texto coeso é o que se apresenta bem concatenado em suas
partes (CAMPEDELI; SOUZA, 2003), isto é, consegue estabelecer uma sequência
lógica e harmoniosa entre os seus elementos, ocorrendo ligações que auxiliam o
entendimento do texto.
A coesão textual permite que as ideias de um texto apresentem uma amarra-
ção entre si, admitindo maior eficiência na produção de textos quanto à comuni-
cação, pois apresentam sentido para o interlocutor.
Vários são os elementos linguísticos que se colocam a serviço da coesão tex-
tual, cabendo ao enunciador sua melhor utilização, pois sua ruptura provoca fal-
ta de sentido e consequente falta de entendimento por parte dos interlocutores
que recebem as mensagens.
Esses elementos linguísticos referem-se ao uso de pronomes, sinônimos, re-
gências, concordâncias, inadequações e ambiguidades, entre vários outros. O
seu uso incorreto acarreta graves problemas no ato comunicativo. Observe um
exemplo que demonstra falta de coesão textual:
“Eu sou um jogador onde que sempre sei que vou fazer muito.
Fazem cinco anos que estou na seleção brasileira.
Eu sou um jogador e aí é o problema, todos os jogos que joguei lutei muito
para marcar.
Numa copa do mundo falta pouquíssimo tempo. Acho que estou dentro des-
se grupo, não sei se vou entrar lá, essa copa é para o meu pai. Eu sou uma pessoa
que desde cedo, eu sabia que eu ia lá estar jogando, defendendo o meu país,

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onde que se nós todos quiséssemos nenhuma vez a copa estaria perdida” (CAM-
PEDELI; SOUZA, 2003, p. 41).
Facilmente percebemos que os problemas apresentados pela falta de ligação
adequada entre as ideias desse texto, evidenciando problemas em sua constru-
ção, comprometem não só o sentido do mesmo para o interlocutor, mas tam-
bém a imagem e o prestígio atribuído ao seu enunciador como falante da língua.
Aquele que escreve deve ter em mente que precisa fazer escolhas a cada passo
dado no texto, mantendo o raciocínio encadeado para que o outro o compreen-
da. Não havendo coesão textual, esse trabalho fica perdido e, havendo o domínio
dos mecanismos linguísticos disponíveis na língua, o que ocorre aos poucos, com
maior fluidez, pode-se externar com sucesso seus pensamentos no papel.

CITANDO
A sustentação de um texto se dá na coesão em dois sentidos: o gramatical
e o semântico. O primeiro visa à articulação dos elementos linguísticos,
observando a estrutura e as regras das relações sintáticas possíveis e
coerentes dentro de um texto; o segundo, a articulação de elementos
linguísticos que fazem referência a um determinado campo semântico
(NICOLA; TERRA, p. 98).

O campo semântico trabalha com os sentidos que uma única palavra apresen-
ta quando inserida em contextos diversos. Ele é, portanto, o conjunto dos diversos
sentidos que uma única palavra pode apresentar (PACHECO, 2019), lembrando
que a semântica estuda o significado de cada termo que existe em uma língua.
Desse modo, uma mesma palavra, dependendo da forma como é utilizada
e do contexto em que ocorre essa utilização, pode adquirir diferentes significa-
dos. Podemos citar como exemplo o termo “partir”: em seu campo semântico,
podemos relacionar “sair”, “ir embora”, “dar o fora” “sumir”, “morrer”, “quebrar”,
“espatifar” etc. (PACHECO, 2019).
Muitas vezes, o campo semântico é mencionado quando estudamos campos
lexicais, ocorrendo diferenças entre eles, visto que o léxico corresponde ao con-
junto de palavras utilizadas ou pertencentes a uma determinada língua.
Operamos com diferentes campos lexicais durante a elaboração de textos, ob-
servando que as palavras, nesse caso, pertencem a uma mesma área de conhe-
cimento, como o campo lexical do termo “trabalhar”, que pode ser formado por
palavras como “trabalhador”, “funcionário”, “patrão”, “salário”, “sindicato”, “profis-

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sional”, “operário”, entre outros (PACHECO, 2019).
O conhecimento e a ampliação de nosso repertório quanto ao uso de campos
lexicais e de campos semânticos permitem que exploremos melhor os recursos de
coesão textual, evitando repetições de palavras, ocorrência que prejudica a pro-
gressão textual e incomoda o interlocutor.
Observe o problema de coesão apresentado devido à repetição dos termos no
exemplo a seguir:
Mariana tentou desvendar as emoções da irmã e fazer a irmã
confessar seus sentimentos por Edward.
- É uma pena que Edward não aprecie muito as aquarelas –
disse ela, pois sabia da paixão de Elinor por pintura e quanto
gostava de desenhar e, para Marianne, pessoas enamoradas
devem apreciar as mesmas coisas na vida.
- Como disse isso, Marianne? Edward não pinta ou desenha,
mas sabe bem avaliar o que os outros produzem (CAMPEDELLI;
SOUZA, 2002, p. 42).
Percebe-se que a sensação que temos é a de que o texto não sai do mesmo
ponto, não apresentando ideias novas, ou seja, não apresentando progressão
textual. Os interlocutores esperam que ocorra um processo de articulação entre
os termos, que provoque retomadas entre as informações lançadas e, ao mesmo
tempo, traga novas informações, ocorrendo, então, coesão e progressão textuais.

Tipos de coesão textual


A maioria dos falantes de um idioma consegue produzir oralmente textos com
razoável construção da textualidade, entretanto, nem sempre isso ocorre durante
a elaboração de textos escritos.

CITANDO
Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas
pelo encadeamento semântico delas, criando, assim, uma trama semân-
tica a que damos o nome de textualidade. O encadeamento que produz a
textualidade chama-se coesão. Podemos definir coesão, mais especifica-
mente, dizendo que se trata de uma maneira de recuperar, em uma sen-
tença B, um termo presente em uma sentença A (ABREU, 2004, p. 13).

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Durante as produções orais, as re-
tomadas sem o devido processo de
coesão textual são mais toleradas e, fa-
cilmente, nós nos deparamos com cons-
truções do tipo a seguir:
“Vá à feira e compre laranjas. Colo-
que as laranjas na sacola e, quando esti-
ver em casa, não se esqueça de colocar
as laranjas sobre a mesa da cozinha,
para que as crianças, quando quiserem
laranjas, possam pegar as laranjas”.
Evidentemente, o termo A, ou seja, “laranjas”, não é recuperado de outra
maneira nas demais sentenças do texto, ocorrendo sério problema de falta de
coesão textual.
Na escrita, esse tipo de ocorrência não é tolerado e, em geral, os mecanismos
de coesão gramatical ocorrem por substituição, por conexão e por omissão. Já
os mecanismos de coesão semântica podem ocorrer por repetição lexical, uso de
sinonímia, de hiperônimos ou hipônimos, nesse caso, trabalhando com campos
semânticos e campos lexicais.
Conhecer os recursos de coesão oferecidos pela língua faz parte da preocupa-
ção de quem deseja apresentar textos cuja coesão trabalhe a favor de uma elabo-
ração que possibilite um texto com sentido para o interlocutor.

A referência textual – relações anafóricas e catafóricas


Inicialmente, precisamos conhecer a base das referências que ocorrem em um
texto, chamadas de relações anafóricas e relações catafóricas, pois são muito im-
portantes para a coesão do texto, articulando e relacionando as informações nele
presentes (NICOLA, 2010).
As relações baseadas na anáfora apresentam a retomada de referentes que
aparecem antes delas. Observe o exemplo:
“Maria pedira aos pais um cãozinho. Em poucos dias, eles perceberam que o
pequeno animal seria um problema para a arrumação da casa.”
O termo “pais” aparece antes da retomada feita pelo pronome “eles”. O mesmo

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ocorre como termo “cãozinho”, que também aparece antes da retomada feita com
a palavra “animal”. Por outro lado, as relações baseadas em uso de catáfora têm o
referente apresentado depois, como no exemplo:
“Finalmente, elas chegaram. Minhas velhas amigas vieram para meu ani-
versário.”
Observe que o pronome “elas” vem explicitado posteriormente, ou seja, o seu
referente é “minhas velhas amigas”.
Considerando as referências feitas, o uso de anáforas e catáforas é observado
quando ocorrem dentro do texto, tratando-se de referências endofóricas. Mas tam-
bém é possível a referenciação extratextual, ou seja, aquelas que fazem referência a
elementos que estão fora dele e que preenchem os significados, remetendo-nos a
situações do processo comunicacional, ou seja, as referências são encontradas fora
do texto e são chamadas de referências exofóricas. Observe o exemplo:
“Esse livro está sem identificação, mas é meu.”
Fazemos uso dos pronomes demonstrativos “este(s)”, “esta(s)” e “isto” quando
nos referimos a algo que está próximo do falante, mas fazemos uso dos prono-
mes “esses(s)”, “essa(s)” e “isso” quando nos referimos a algo que está próximo
do nosso interlocutor. Nesse caso, é possível entender que o livro em questão se
encontra próximo do interlocutor do emissor da mensagem. Essa informação não
se encontra no texto, mas no contexto, ou seja, na situação e, conhecendo o uso
desses pronomes, é possível compreender a mensagem que ele apresenta.

DIAGRAMA 4. RELAÇÕES POR REFERENCIAÇÃO

Contexto
extratextual: Anafórica -
Exofórica Endofórica

Referenciação

Contexto
textual: Catafórica -
Endofórica Endofórica

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Desse modo, com o uso de anáforas ou catáforas, quando utilizamos ideias
de espaço e tempo, sem definição, explorando pronomes demonstrativos ou
advérbios, tendo como objetivo fazer a localização de um fato em um determi-
nado espaço ou em um determinado tempo, usamos dêiticos. Alguns deles são
“lá”, “aqui”, “onde”, entre outros.

Recursos da coesão textual


Conhecer os recursos de coesão textual oferecidos pela língua é importante
para o falante em usos de textos verbais realizados oralmente, mas, primordialmen-
te, em textos verbais escritos. Desse modo, chamaremos a atenção quanto a alguns
desses recursos com base em Viana (2011), Terra e Nicola (2010). Assim, temos:
• Uso de pronomes do caso reto (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas) e do caso
oblíquo (átonos: me, te, o, a, lhe, se, nos, vos, os, as, lhes, se; tônicos: mim, comigo,
ti, contigo, si, consigo, ele, ela, nós, conosco, vós, convosco, si, consigo, eles, elas).
Os pronomes pessoais retos podem exercer a função de sujeito de uma oração,
isso quer dizer que são os elementos sobre os quais se faz uma declaração. Os
pronomes pessoais oblíquos, na maior parte das ocorrências, completam os sen-
tidos de verbos.
Os pronomes pessoais têm carga significativa plena quando relacionados a
substantivos, por exemplo:
“Maria é nossa prima, ela viajará conosco para a Europa na semana que vem.”
“Gostei do aspecto daquele doce. Comprei-o para o nosso lanche.”
• Uso de pronomes possessivos: aqueles que associam a ideia de posse às pes-
soas do discurso, relacionando a coisa possuída com a pessoa do possuidor, por
exemplo:
“João presentou suas ideias à gerência do banco.”
• Uso de pronomes relativos: aqueles que retomam um termo antecedente,
introduzindo orações, veja:
“Comprei os livros de que precisava para meus estudos.”
• Uso de pronomes demonstrativos: aqueles que, no contexto textual, relacio-
nam-se a uma pessoa do discurso e indicam a posição do substantivo em relação
ao que se declara dele:
“Preciso que esta caneta esteja sempre comigo.”

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O uso de “esta” indica que a caneta está próxima do falante.
• Uso de pronomes indefinidos: são aqueles que se referem à terceira pessoa
do discurso de modo impreciso, indeterminado e genérico, conforme o exemplo:
“Choro, lamentação, reclamação, nada o fará mudar de ideia.”
É importante ressaltar que, no caso de uso de palavras fóricas, isto é, de pa-
lavras que preenchem seu significado pela associação a um referente, como é o
caso dos pronomes, o distanciamento entre a palavra fórica e seu referente pode
provocar ambiguidade, ou seja, duplo sentido, ou até mesmo a ruptura da susten-
tação coesiva (TERRA; NICOLA, 2010), portanto a leitura e a releitura constantes
devem tentar evitar problemas desse tipo.
• Exploração de elipse: a elipse é a omissão do termo que fica subentendido,
mas cuja recuperação é fácil dentro do texto, como ocorre em:
“Comprei muitas frutas ontem.”
A desinência verbal de “comprei”, demonstrando a flexão do verbo na pri-
meira pessoa do singular, indica que o agente da ação corresponde ao emis-
sor da mensagem: “eu”, mas isso não está escrito no texto, ocorrendo um
apagamento de um termo.
• Uso de advérbios: termos que dão as coordenadas sobre localização no espa-
ço e no tempo dos elementos a que se referem e que podem aparecer no contexto
textual, como no exemplo:
“As crianças brincaram muito no parque; elas sempre se divertem muito lá.”
Observando a coesão por conexão, temos o uso de conectivos, ou seja, con-
junções e preposições, responsáveis pela ligação de elementos linguísticos como
palavras, frases, orações e períodos, não desempenhando funções sintáticas, mas
estabelecendo ligações e carregando noções semânticas (de sentido). O uso inde-
vido de conectivos pode trazer ao texto problemas sérios de sentido.
Temos ainda expressões que funcionam como ordenadoras dentro
dos textos, tais como “em resumo”, “por um lado”, “por outro lado”,
“então” etc. Elas se encarregam da organização das informações no
texto.
Os principais mecanismos da coesão semântica, ou seja, rela-
cionadas ao sentido, correspondem a:
• Repetição de um mesmo item lexical: consiste na reiteração
de um termo ou de termos pertencentes a uma mesma família

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lexical. É bom ressaltar que essa exploração é comum em textos literários e pouco
recomendável em textos de caráter objetivo.
• Uso de sinonímia: baseia-se na substituição de um termo por outro ou por
uma expressão que possua equivalência de significado.
• Uso de hiperonímia: a exploração de hiperônimos consiste no emprego de uma
palavra de sentido genérico que designa toda uma classe ou todo um conjunto.
• Uso de hiponímia: a exploração de uma palavra que que designa elemento
pertencente a uma classe ou a um conjunto.
A exploração da coesão semântica é resultante do conhecimento de diferentes
campos lexicais e de diferentes campos semânticos, já que se baseia no emprego
de termos pertencentes a um repertório associado a uma determinada realidade,
ciência ou estudo (TERRA; NICOLA, 2010).
Podemos elencar, ainda, outros recursos usados para a coesão, tais como o
uso de uma parte de um nome ou só o sobrenome para evitar repetições, uso de
perífrases, ou seja, expressões formadas por várias palavras que ficam em lugar
de outra, termos genéricos, associações, paráfrases, entre outros.
Cabe ao falante da língua procurar conhecer seu idioma e os mecanismos que
regem sua utilização, para que tire melhor proveito da língua como instrumento
de produção e retomada de sentidos.

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Sintetizando
Mesmo como usuários de uma língua, dominando os diversos mecanismos
de divulgação de nossas ideias e fazendo diariamente a utilização dos diferen-
tes códigos utilizados pela comunidade linguística, é comum encontrarmos
dificuldades no momento de elaboração de registros escritos de nossos pen-
samentos.
Desde a elaboração de respostas em situações dialogais ou por escrito, te-
mos que lidar com fatores de uso que dependem do repertório adquirido atra-
vés das experiências vividas pelos interlocutores, quando utilizam comandos
de questões ou respostas baseadas em denotação (uso literal dos termos da
língua) ou conotação (uso das palavras com sentido figurado).
No momento de elaboração de textos, precisamos garantir que eles apre-
sentem textualidade, observando a organização das ideias, a clareza, a coesão,
a coerência, a informatividade e a intertextualidade, respeitando a verossimi-
lhança interna ou externa, de modo que os interlocutores consigam recuperar
os sentidos propostos.
Considerando os diferentes níveis de linguagem, precisamos ter a capacida-
de de fazer a adequação de nossos enunciados de acordo com os contextos e
os interlocutores pretendidos, fazendo uso das variações que observem a nor-
ma padrão, considerada culta e de prestígio social, ou as linguagens coloquiais,
respeitando as diversidades e variantes linguísticas, resultantes de fatores re-
gionais, sociais e históricos.
Quanto aos conteúdos de nossos textos, é preciso que façamos o planeja-
mento e a organização de ideias, preparando-nos quanto às possibilidades de
exploração de diferentes temas, ampliando nossas experiências e nosso reper-
tório de conhecimentos, para que a informatividade se faça presente em nos-
sas produções e, observando as formas de elaboração dos textos, precisamos
fazer opções conscientes de acordo com nossos interesses.
Por fim, precisamos conhecer e explorar os diferentes recursos de coesão
textual oferecidos pela língua, explorando relações referenciais, baseadas em
substituições, pelo uso de conectivos e estabelecendo relações semânticas
que, por sua vez, dependem de conhecimentos de diferentes campos lexicais
e semânticos.

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Dessa forma, o domínio quanto à elaboração de textos depende de prática
de leitura e de composição de textos escritos. Precisamos conhecê-las para
que nossas produções atuem em favor da conquista de nossos interesses em
sociedade.

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UNIDADE

3 COERÊNCIA TEXTUAL,
RELAÇÕES COESIVAS,
PRODUÇÕES
TEXTUAIS E TIPOS DE
ARGUMENTO

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Objetivos da unidade
Conceituar coerência textual, demonstrando sua importância para a produção
de textos que permitam que o receptor descodifique as mensagens recebidas,
encontrando sentidos nos textos;

Apresentar os diferentes tipos de coerência e sua relação com a coesão


textual, contribuindo para a amarração das ideias no texto;

Evidenciar recursos que permitem as relações coesivas e coerentes nos


textos;

Ressaltar a importância do planejamento para a elaboração de textos;

Apresentar as características das tipologias textuais, diferenciando-as dos


gêneros textuais, evidenciando os elementos que garantem a coerência nas
diferentes tipologias;

Apresentar o conceito de argumento e os principais tipos de argumentos.

Tópicos de estudo
Coerência textual Produção de gêneros textuais e
Tipos de coerência específicos contextualizados
Relação entre coerência e Tipologias textuais
coesão Gêneros textuais
A coerência e os tipos textuais
Relações coesivas e coerentes
em diferentes situações Tipos de argumentos
Buscando a coesão e a coe- Argumento por citação
rência Argumento por comprovação
Paralelismo sintático Argumento por raciocínio
Paralelismo semântico lógico
Armadilhas do texto: ambigui-
dade e redundância

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Coerência textual
Muitas vezes, em contextos dialogados ou diante de textos escritos, tenta-
mos buscar um sentido para a mensagem que recebemos e não conseguimos
compreender aquilo que nosso interlocutor quis expressar.
Você já deve ter passado por esse tipo de situação e é certo que, em alguns
momentos, estamos frente à necessidade de acessar algo em nosso repertó-
rio, mas o item necessário não faz parte de nossas experiências anteriores;
entretanto, em outros momentos, o problema está na forma como ocorreu a
organização do texto e ele se apresenta incoerente para nós.
A coerência de um texto está ligada à maneira como ocorre sua organiza-
ção como um todo, à harmonia entre as partes que o compõem e às ideias que
apresenta. Claramente, podemos perceber o início, o meio e o fim desse texto,
além de ser possível observar a adequação da linguagem ao tipo de texto.

EXPLICANDO
Coerência: estado ou qualidade de coerente; ligação, harmonia, conexão
ou nexo entre os fatos e as ideias (MICHAELIS, 2008, p. 192).

Um texto incoerente não oferece condições para o interlocutor recriar em si


o sentido que pretende veicular e isso pode acontecer porque não traz concate-
nação ou argumentação, ou não apresenta verossimilhança interna ou externa.
A concatenação acontece com a relação ou a sequência lógica entre as ideias
e a argumentação deve oferecer fatos, razões e provas a favor ou contra algo,
permitindo ao interlocutor acompanhar essas informações sem estranhamento.
A verossimilhança se prende à observação daquilo que corresponde à ver-
dade, pode estar ligada a elementos específicos do texto, trazendo a verossimi-
lhança interna, ou à realidade circundante, verossimilhança externa.
Desse modo, se o interlocutor percebe que há desorganização quanto à
expressão das ideias, e as informações e os argumentos trazidos no texto não
encontram respaldo dentro do próprio texto ou dentro da realidade, não verá
coerência nele.
Vale ressaltar que outros elementos devem, ainda, entrar nessa questão,
tais como a adequação ao contexto em que estão os interlocutores, a adequa-

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ção em relação ao interlocutor, a bagagem de informações que ele adquiriu
até então, a intencionalidade do emissor, o código utilizado e o canal escolhido
para veicular a mensagem.
Os autores Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia, no livro A coerência
textual, publicado em 2008, afirmam que “a coerência deve ser entendida como
um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa si-
tuação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sen-
tido desse texto”.
Como deve ter percebido, os autores evidenciam que é preciso que o texto
ofereça ao interlocutor as condições de revelar em si as informações recebidas.
Quando isso acontece, uma condição é observada: a coerência. Portanto, você
deve deduzir que os cuidados para isso cabem ao emissor do texto.
Por outro lado, a coerência não caminha sozinha, tendo a coesão textual
ao lado dela, cuidando para que as ideias sejam devidamente amarradas. Ela
forma vínculos com informações fornecidas anteriormente, possibilitando a
entrada de novos elementos no texto e garantindo a sua progressão.

Tipos de coerência
Não imagine que está diante de uma batalha que não pode ser vencida; é certo
que a elaboração de textos é tarefa difícil, mas os conhecimentos sobre os usos da
língua, a leitura como um hábito e o treinamento constante da escrita, aos poucos,
levam ao sucesso de uma expressão escrita ou oral coerente e coesa.
Assim, com base nos estudos de Koch e Travaglia (2008), evidenciamos al-
guns tipos de coerência, para que fiquemos atentos em relação a alguns cuida-
dos que precisamos tomar durante a elaboração de nossos textos.
Os autores relacionam:
Coerência semântica: refere-se à relação entre os significados dos ele-
mentos das frases, colocados em sequência em um texto, ou entre os elemen-
tos do texto como um todo, isto é, uma palavra escolhida, devido ao significado
que apresenta, entra em contradição com as demais, ou seja, as palavras não
combinam, como observamos em:
“A família executou bem o problema na semana passada.”
O verbo “executou” não combina com a ideia de “problema”, então, talvez

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o receptor perceba que a intenção era apresentar a ideia de que a família con-
seguiu resolver o problema satisfatoriamente na semana passada, mas ficará
incomodado com a frase.
A coerência semântica costuma ser resultado, também, do desconhecimen-
to do léxico da língua, por isso a leitura de textos escritos e a busca do conheci-
mento dos significados dos termos devem ser hábitos do nosso cotidiano. Veja
o exemplo:
“O júri absorveu aquele homem.”
O termo “absorver” tem como significado “sorver”, “aspirar”, nesse caso,
podemos “absorver o ar”. Na frase que aparece no exemplo, é evidente que o
júri “absolveu” o homem, ou seja, inocentou-o.
Fica aqui uma dica: caso não tenha certeza da ortografia ou do significado
de uma palavra, pesquise. Se não puder fazer isso devido à situação em que se
encontra, troque o termo por outro que seja de seu conhecimento.
Coerência sintática: refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a
coerência semântica, como o uso de conectivos, isto é, conjunções e preposições
e o uso de pronomes, entre outros cujo conhecimento depende das informações
que o interlocutor recebeu sobre as regras da gramática normativa. Observe:
“A esperança onde senti foi grande.”
A incoerência ocorre sintaticamente, pois o pronome relativo “onde” deve
ser usado para recuperar ideia de lugar e o termo “esperança” não correspon-
de a isso. Nesse caso, poderiam ser usados os pronomes “a qual” ou “que”.
Outro exemplo:
“Maria foi ao evento, entretanto ele não havia sido convidada.”
Nesse caso, o termo em referência “Maria” não é retomado
pelo pronome “ele”, a frase não apresenta coesão textual e isso
compromete a sua coerência.
Coerência estilística: refere-se à observação
do contexto e dos níveis de linguagem esperados
para a concretização dos textos, isto é, a adequa-
ção da linguagem à situação. Imagine uma situa-
ção em que um médico tenha que dar uma notícia
dramática aos familiares de um paciente seu e faz a
seguinte comunicação:

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“Infelizmente, a paciente bateu as botas.”
Observe que não é esperado que um médico use esse estilo de linguagem
em tal situação.
Coerência pragmática: refere-se ao texto visto como uma sequência de
atos de fala organizados de modo apropriado, e que devem satisfazer as mes-
mas condições encontradas em uma situação comunicativa. Isso não acontece
se alguém diz algo e o interlocutor responde ou faz um comentário desconec-
tado do primeiro enunciado. Veja:
“- Bom dia! Fizeram a tarefa que solicitei ontem?”
“- Comi sanduíche de queijo pela manhã, professora!”
A resposta dada não tem ligação com a pergunta feita pela professora.
Outras formas de coerência devem se apresentar nos textos, entre elas,
podemos mencionar:
Coerência temática: refere-se à concordância entre um tema, ou seja, um
assunto e as ideias apresentadas para ele. É muito comum, em processos de se-
leção, que um candidato não compreenda o tema mencionado em uma propos-
ta de elaboração de texto e redija sobre um assunto diferente daquele esperado.
Coerência genérica: refere-se à escolha do gênero textual de acordo com a
necessidade, por exemplo, se a intenção comunicativa do emissor é vender um
produto, poderá elaborar um classificado de jornal; se optasse pela elaboração
de um conto, não atingiria seus objetivos.
Desse modo, percebe-se que é possível evitar a falta de coerência textual em
várias situações, principalmente na escrita, com a leitura e a revisão constantes
daquilo que é enunciado. Releia o que escreve sempre com a máxima atenção.

Relação entre coerência e coesão


Entendemos coesão como ligação com a coerência textual. A busca de um tex-
to coeso nos obriga a voltar com constância ao que já foi enunciado, buscando es-
tabelecer relações entre os termos, para que possamos avançar. Cada enunciado
deve estabelecer relações específicas com os outros, para que a estrutura do texto
se torne sólida o bastante para garantir a coerência.
A coesão também deve ser observada entre as frases, ou seja, fazendo a liga-
ção entre as orações do texto, entre os parágrafos que o compõem e entre suas

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ideias, isto é, é preciso pensar que o sentido do texto decorre de um mecanismo
de articulação, compreendendo uma estrutura na qual há diversos segmentos,
todos relacionados uns com os outros. Essas relações se estabelecem em dois pla-
nos: o do conteúdo (ideias) e o da amarração (relações linguísticas).
Costumamos considerar basicamente dois processos de coesão que englobam
os vários procedimentos: a coesão referencial e a coesão sequencial (KOCH; TRA-
VAGLIA, 2008, p. 40-41).

DIAGRAMA 1. OCORRÊNCIA DE COESÃO REFERENCIAL E DE COESÃO


SEQUENCIAL EM TEXTOS.

Coesão Coesão
referencial sequencial

Por Por
substituição recorrência

Por Por
reiteração progressão

Relações coesivas e coerentes em diferentes situações


Em situações discursivas dialógicas, ou seja, quando conversamos com al-
guém, a todo momento estamos realizando a coesão e não nos damos conta
disso, pois procuramos manter nosso pensamento bem organizado para que
nosso interlocutor nos compreenda.
Quando nos deparamos com enunciados em que as frases estão soltas,
sem ligação entre elas, dizemos que o texto não tem sentido, que não apresen-
ta coerência nem coesão.

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Você deve perceber que o trabalho de conectar os elementos dentro de um
texto é mais evidente que o processo de coerência entre as ideias, porque é
mais perceptível. Uma frase enunciada sem que se estabeleça a coesão refe-
rencial, por exemplo, logo leva o outro participante do processo de comunica-
tivo à admiração. É fácil perceber que algo está errado se estamos falando de
“chuva” e retomamos o termo, num processo de coesão referencial anafórico,
com o pronome “aquele”, logicamente, o texto perderá o sentido.
Isso quer dizer que, elaborando um texto por escrito, precisamos fazer es-
colhas linha a linha, buscando a progressão textual, com a apresentação de
novas ideias, mas sempre verificando se formamos elos de coesão entre as
informações anteriores e as novas.
Antônio Carlos Viana, em seu Guia de redação: escreva melhor, publicado em
2011, dá a seguinte orientação:
Há formas de saber se fomos ou não coerentes naquilo que enun-
ciamos. Uma delas é ver se a palavra mais importante do texto, a
palavra-chave, não desapareceu hora alguma. Outra é buscar um
equilíbrio entre a informação dada e a informação nova, porque o
texto precisa avançar e não ficar girando em torno de si mesmo,
sem apontar para uma direção segura. Para alcançar esse fim, te-
mos de fazer escolhas constantes, desde o uso das palavras até
aquilo que deve ser dito ou permanecer subentendido.

Buscando a coesão e a coerência


Dependendo do tipo de texto que você está escrevendo, precisará verificar se
o mecanismo selecionado realmente se presta àquela situação discursiva, pois
nem sempre o que serve para um texto de característica argumentativa serve
para um texto poético, por exemplo.
Os recursos de coesão mais utilizados se baseiam em: uso de pronomes; apa-
gamento de termos (elipse); utilização, no caso de nomes próprios, de sobreno-
mes no lugar dos nomes; exploração de perífrases, que são expressões equivalen-
tes; uso de termos genéricos, ou seja, uma palavra que tem sentido mais amplo do
que a que ela substitui; associações que podem ser feitas até mesmo por oposição
de ideias; uso de termos que englobam termos anteriores; uso de sinônimos ou

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quase sinônimos; uso de paráfrase, isto é, a retomada do que foi dito dando uma
explicação mais detalhada; uso de numerais e de advérbios; uso de pronomes
demonstrativos; uso de pronomes possessivos; uso e diversificação de pronomes
relativos.
Ainda, é preciso verificar a coesão sequencial apresentada pela sucessão de
palavras, de frases e de parágrafos, que ocorrem:
A. Pela ordenação de ações que se desenvolvem no tempo, por exemplo:
“Desci do ônibus, atravessei a rua, entrei na lanchonete e pedi um café.”
B. Pela descrição da ordem como determinada ação deve ser feita, por exemplo:
“Ao usar esse produto, primeiro passe um pano limpo e seco sobre o móvel,
em seguida, coloque o produto em um pano macio e passe delicadamente sobre
a superfície.”
C. Pelo estabelecimento de relações entre as frases, por exemplo:
“Se desejamos ter bons resultados, precisamos de muita dedicação.”
D. Pela criação de proximidade entre os parágrafos, como no exemplo:
“Muitos estudantes perguntam se é errado repetir palavras em suas reda-
ções. A resposta é simples: se houver finalidade enfática na repetição, você não
será penalizado.”
Entretanto, a escolha dos recursos coesivos mais adequados deve ser feita le-
vando-se em conta a articulação geral do texto, e, eventualmente, os efeitos esti-
lísticos que se desejam alcançar.

Paralelismo sintático
Na frase, o paralelismo sintático corresponde à ordenação de elementos de
natureza sintática gramatical semelhante. Em geral, somente aqueles que conhe-
cem detalhadamente as regras da gramática normativa conseguem reconhecer o
problema da coesão por falta de paralelismo sintático. Observe:
“Operários cogitam uma nova manifestação e isolar o presidente.”
A ocorrência de falta de paralelismo sintático acontece porque o ver-
bo “cogitar” apresenta dois complementos, sendo que o nú-
cleo do primeiro está representado pelo substantivo “mani-
festação”, enquanto o segundo aparece na forma da oração
reduzida de infinitivo “isolar o presidente”, ou seja, os dois

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complementos deveriam aparecer ou na forma de substantivo ou na forma de
oração. Assim, a frase deveria ser reformulada:
“Operários cogitam uma nova manifestação e o isolamento do presidente.”
Ou
“Operários cogitam fazer uma nova manifestação e isolar o presidente.”

Paralelismo semântico
Já o paralelismo semântico se refere ao encadeamento de ideias comparáveis,
pertencentes ao mesmo plano de significado. Veja:
“No próximo domingo, o Santos vai jogar contra a Espanha.”
Nesse caso, ocorre falta de paralelismo semântico, pois “Santos” é um time de
futebol, enquanto “Espanha” corresponde a uma seleção. Assim, deveríamos ter,
por exemplo:
“No próximo domingo, o Santos vai jogar contra o Barcelona.”

Armadilhas do texto: ambiguidade e redundância


O uso inadequado de elementos linguísticos também pode provocar
problemas na coerência dos textos. Um deles é a ambiguidade, ou
seja, a falta de clareza entre os enunciados permite que consiga-
mos entender mais de uma informação, causando uma dupla
interpretação. Veja a frase:
“A aluna preparou o trabalho e o colega fez sua apresentação.”
Nesse caso, não temos certeza se o pronome “sua” retoma o termo
“aluna” ou a palavra “colega”.
A ambiguidade pode ser decorrente de:
• Uso indevido de pronomes possessivos, como no exemplo anterior;
• Uso inadequado de pronomes relativos, como no exemplo a seguir:
“Visitamos o apartamento e o salão cuja decoração era impressionante.”
Não está claro se é o apartamento ou o salão que possui decoração impres-
sionante.
•Emprego indevido de coordenação:
“João e Maria querem casar-se.”

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Não está claro se João quer casar com Maria ou se cada um deseja casar-se
com outra pessoa.
• Colocação inadequada de palavras:
“A moça irritada recusou o convite.”
Não sabemos se a moça era irritada ou se ficou irritada naquele momento.
• Sentido indistinto entre agente e paciente:
“A aprovação do rapaz causou alegria a todos.”
Não entendemos se o rapaz aprovou algo ou se foi aprovado por alguém.
• Uso indistinto entre o pronome relativo e a conjunção integrante:
“O taxista disse ao rapaz que era mineiro.”
Não distinguimos se o taxista era mineiro ou se o rapaz era mineiro.
• Uso incorreto de formas nominais.
“A mãe viu a garota chegando ao apartamento.”
É possível interpretar que a mãe chegou ao apartamento ou que a
garota chegou.
Outro problema é a redundância, ou seja, a repetição
explícita de uma informação, que só deve ocorrer se ti-
ver função enfática no texto. De outro modo, é usada
inadequadamente e deixa a linguagem repetitiva e de-
selegante. Observe:
“Na volta das férias, tiveram uma surpresa inesperada.”

QUADRO 1. OUTROS EXEMPLOS DE REDUNDÂNCIA

Repetição desnecessária de ideias

Baseado em fatos reais Conclusão final


Consenso geral Encarar de frente
Conviver juntos Há dois anos atrás
Elo de ligação Hemorragia de sangue
Surpresa inesperada Sair para fora

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Produção de gêneros textuais e específicos
contextualizados
A produção de textos correspon-
de à forma organizada de expressão
de ideias, resultante dos processos
de comunicação dos quais participa-
mos e das informações a que tivemos
acesso, até o momento do ato comu-
nicativo, por meio das experiências e
das trocas de conhecimentos com os
demais interlocutores.
Atendendo às diferentes inten-
ções comunicativas dos usuários da
língua, que podem ter como objetivo informar, argumentar, descrever, relatar
ou orientar, temos as tipologias textuais que melhor atendem a esses obje-
tivos, escolhendo entre elas. As tipologias textuais são as diversas maneiras
de apresentação de um texto.
Desse modo, cada tipo textual tem um determinado propósito e marcas lin-
guísticas diferentes.

Tipologias textuais
Conforme as características que apresentam, como a estrutu-
ra, ou seja, sua organização como um todo, a maneira de orga-
nização das frases, os termos usados, a linguagem escolhida,
os tempos verbais explorados e o modo de interação com o
leitor, temos os diferentes tipos textuais.
Alguns deles apresentam características predominan-
tes de organização, porém aceitam a presença de outras ti-
pologias em sua constituição, como em um conto, que é predominantemente
narrativo, mas pode apresentar trechos descritivos.
Para maior clareza, tomamos como base a organização apresentada no Qua-
dro 2.

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QUADRO 2. TIPOLOGIA TEXTUAL: NOMENCLATURA SIMPLIFICADA E ADAPTADA

Características das
Objetivo e temática Marcas linguísticas
tipologias

Substantivos, adjetivos e advér-


Identificar, localizar, e qualificar
bios (modo e intensidade, prin-
seres, objetos e lugares, apresen-
Descrição cipalmente); verbos no presente
tando características físicas ou
ou pretérito imperfeito do modo
“psicológicas”.
indicativo.

Verbos, advérbios e conjunções


Relatar fatos, acontecimentos e (tempo e lugar); verbos no pre-
Narração
ações, numa sequência temporal. sente ou pretérito perfeito do
indicativo.

Operadores discursivos (conjun-


Discutir, informar ou expor um ções, preposições e expressões
tema, em uma organização lógi- denotativas), modalizadores (ex.:
Exposição
ca, mostrando relações de causa/ talvez, sem dúvida, provavelmen-
efeito, contraposição etc. te etc.), verbos no presente do
indicativo.

Operadores discursivos (conjun-


Defender ponto de vista ou opi-
ções, preposições e expressões
nião por meio de argumento, em
denotativas), modalizadores (ex.:
Argumentação uma organização lógica, mos-
talvez, sem dúvida, provavelmen-
trando relações de causa/efeito;
te etc.), verbos no presente do
contraposição etc.
indicativo.

Verbos com valor imperativo


(mesmo que não estejam no
Dar ordens, apresentar regras e
Injunção modo imperativo, mas no infi-
procedimentos a serem seguidos.
nitivo, por exemplo), pronomes
(você, vocês).
Fonte: SANTOS; RICHE; TEIXEIRA, 2010, p. 36-7. (Adaptado).

Você já deve ter notado que, geralmente, conseguimos perceber as principais


características das tipologias, isso porque estamos acostumados com os princi-
pais elementos que caracterizam suas
respectivas sequências.
Na sequência descritiva, há o predo-
mínio das frases nominais (sem verbos),
de orações centradas em predicados
nominais (com verbos de ligação e pre-
dicativos), de formas verbais no presente
ou no pretérito imperfeito, de adjetivos
com função tanto de adjunto adnominal
quanto de predicativo, e de períodos cur-
tos, prevalecendo a coordenação.

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A sequência narrativa é marcada pela temporalidade e, como seu material
é o fato e a ação, a progressão temporal é essencial para seu desenrolar, ou seja,
desenvolve-se, necessariamente, em uma linha de tempo e em um determinado
espaço. Gramaticalmente, deve haver o predomínio de frases verbais, indicando
um processo ou uma ação; predomínio do tempo passado (uso do pretérito im-
perfeito para fatos secundários e o uso do pretérito perfeito para o primeiro pla-
no); ainda, uso de advérbios de tempo e de lugar.
Na sequência expositiva, intenta-se explicar ou dar informações a respeito
de alguma coisa. O objetivo é fazer o interlocutor/leitor adquirir um saber, um co-
nhecimento que, até então, não tinha. Portanto, faz-se necessária, muitas vezes,
pesquisa a respeito do assunto, para que se abandone a superficialidade.
Na sequência argumentativa,
faz-se a defesa de um ponto de vista,
de uma ideia, ou se questiona algum
fato. Ao opinar, ou seja, expressar
um parecer sobre alguma pessoa,
acontecimento ou coisa, intenta-se
persuadir o leitor ou o ouvinte, funda-
mentando o que se diz com argumen-
tos de acordo com o assunto ou tema,
a situação ou o contexto e o interlocu-
tor. Assim, é necessária a progressão
lógica de ideias e uma linguagem mais
sóbria, objetiva e denotativa.
Na sequência injuntiva ou ins-
trucional, a marca fundamental é o
uso do verbo no imperativo (injun-
tivo é sinônimo de ‘obrigatório’, ‘im-
perativo’), ou outras formas que in-
dicam ordem ou orientação, prevalecendo a função apelativa no texto, pois
intenta-se mudar a atitude do leitor.
Assim, de acordo com as marcas linguísticas observadas, conseguimos distin-
guir se a intenção predominante do emissor do texto é descrever, narrar, expor,
argumentar, ou influenciar e alterar o comportamento de seu interlocutor.

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DIAGRAMA 2. RELAÇÃO ENTRE AS TIPOLOGIAS TEXTUAIS E AS SEQUÊNCIAS TEXTUAIS
QUE AS CARACTERIZAM

Tipologias textuais e
sequências textuais

Injunção: sequência
Descrição: sequência Exposição: sequência
injuntiva ou
descritiva expositiva
instrucional

Argumentação:
Narração: sequência
sequência
narrativa
argumentativa

Gêneros textuais
Gêneros textuais são grupos de textos que apresentam características em
comum. Em nossos atos comunicativos do cotidiano ou em situações dialó-
gicas, produzimos, transmitimos e interpretamos informações sem a preocu-
pação quanto ao gênero textual que empregamos. Entretanto, escrevendo,
conforme a intenção comunicativa e a situação de interlocução, escolhemos o
emprego de algum gênero textual.
Os gêneros textuais orais costumam ter a espontaneidade como uma das ca-
racterísticas, mas também apresentam formas de organização, pois,
em conversas e entrevistas, por exemplo, ocorrem trocas de
turnos, quando cada interlocutor toma a palavra, e sobre-
posição de turnos, quando os interlocutores falam ao
mesmo tempo; aparecem marcadores conversacionais,
como expressões fáticas ou para a finalização do turno;

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ocorrem hesitações e repetições de expressões ou informações; e há digressões,
que acontecem quando há uma fuga do tema principal do texto.
Segundo as autoras Maria Luiza Marques Abaurre e Maria Bernadete Marques
Abaurre, no livro Produção de texto – interlocução e gêneros, publicado em 2009:
Os gêneros discursivos correspondem a certos padrões de com-
posição de texto determinados pelo contexto em que são pro-
duzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade,
por seu contexto de circulação etc. São exemplos de gêneros
discursivos o conto, a história em quadrinhos, a carta, o bilhete,
a receita, o anúncio, o ensaio, o editorial, entre outros (p. 33).
E como os gêneros textuais estão relacionados ao uso que os falantes fazem
da linguagem em diferentes situações, ocorre a evolução que traz não só modifica-
ções em função de necessidades específicas, como o passar do tempo e o uso da
tecnologia, mas também o aparecimento de novos gêneros. Um exemplo do nos-
so cotidiano é o uso frequente que fazemos de mensagens eletrônicas, enquanto,
no passado, sem acesso à internet, as cartas e seu envio pelo correio eram uma
forma mais comum de comunicação entre as pessoas.

CURIOSIDADE
No Brasil, as cartas chegaram com os primeiros portugueses. Assim que a
esquadra de Pedro Álvares Cabral aportou, o escrivão Pero Vaz de Cami-
nha enviou uma carta ao rei D. Manuel I, comunicando o descobrimento
das novas terras.

Os diversos gêneros textuais são definidos de acordo, basicamente,


com três elementos. São eles: o conteúdo, o estilo e a estrutura de sua
composição. Porém, inicialmente, precisamos decidir se temos necessida-
de de narrar algum acontecimento, expor ideias, argumentar, descrever
algo ou instruir alguém, porque cada uma das necessidades gera um tipo
textual e um gênero específico.
Assim, com base nos tipos textuais, temos os textos nar-
rativos, que apresentam um relato que se organiza em tor-
no de acontecimentos que podem ser reais ou ficcionais,
e os elementos narrativos, como o espaço, tempo, persona-
gem, enredo e narrador.

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QUADRO 3. EXEMPLOS DE TEXTOS NARRATIVOS

Textos Narrativos

Texto ficcional breve e escrito


Conto
em prosa.

Narrativa figurada na qual as


Fábula personagens são animais com
características humanas.

Texto informativo sobre um tema


Notícia
atual ou algum acontecimento.

Narração sobre um fato ou um


Relato acontecimento marcante na vida
de uma pessoa.

Forma literária que apresenta


uma história composta por enre-
Romance
do, temporalidade, ambientação
e personagens definidos.

Observe como exemplo o trecho do romance O cortiço, de Aluísio de Azevedo.


Agostinho havia ido, segundo o costume, brincar à pedreira com outros dois rapazi-
tos da estalagem; tinham, cabritando pelas arestas do precipício, subido a uma altura
superior a duzentos metros do chão e, de repente, faltara-lhe o equilíbrio e o infeliz
rolou de lá abaixo, partindo os ossos e atassalhando as carnes.
Todo ele, coitadinho, era uma só massa vermelha; as canelas, quebradas no joelho,
dobravam moles para debaixo das coxas; a cabeça, desarticulada, abrira no casco e
despejava o pirão dos miolos; numa das mãos faltavam-lhe todos os dedos e no quadril
esquerdo via-se-lhe sair uma ponta de osso ralado pela pedra.
Foi um alarma no pátio quando ele chegou.
[...]
As mães dos outros dois rapazitos esperavam imóveis e lívidas pela volta dos filhos,
e, mal estes chegaram à estalagem, cada uma se apoderou logo do seu e caiu-lhe em
cima, a sová-los ambos que metia medo.
— Mira-te naquele espelho, tentação do diabo! exclamava uma delas, com o pe-
queno seguro entre as pernas a encher-lhe a bunda de chineladas. Não era aquele que
devia ir, eras tu, peste! aquele, coitado! ao menos ajudava a mãe, ganhava dois mil-réis
por mês regando as plantas do Comendador, e tu, coisa-ruim, só serves para me dar
consumições! Toma! Toma! Toma!

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Quando estamos diante da tipologia descrição, verificamos que é a realização
verbal da representação de um objeto, de uma pessoa ou de um lugar, indican-
do aspectos característicos. Não se trata apenas de enumerar elementos e qua-
lidades em uma ordem ou em determinada sequência, mas tentar, por meio das
palavras, causar uma impressão próxima daquilo que é descrito. Veja o exemplo
abaixo, retirado de O cortiço, de Aluísio Azevedo e observe como a descrição enri-
quece a tipologia narrativa:
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele
recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor verme-
lho das sestas de fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que
o atordoara nas matas brasileiras, era a palmeira virginal e esquiva que se não
torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso, era o sapoti
mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite
de fogo; e/a era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, e muriçoca doida,
que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
desejos, acordando-lhe as fibras, embambecidas pela saudade de terra, pican-
do-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro da sangue uma centelha daquele amor
setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva
daquela nuvem de cantáridas que zumbam em torno da Rita Baiana o espalha-
vam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
Grande parte dos textos que pertencem à tipologia narrativa apresentam
enredo, como é o caso de romances e contos, por exemplo. Nesse caso, são
organizados de modo que tragam a apresentação de uma situação inicial, na
qual podem estar evidenciados o tempo em que ocorrem os fatos; o espaço,
ou seja, o cenário dos acontecimentos; e as personagens da narrativa, cujas
ações são contadas por um narrador que pode ou não fazer parte da história,
colocando pronomes e verbos em primeira pessoa; apenas contando os fatos,
com verbos e pronomes em terceira pessoa, sem participação ou como uma
testemunha dos fatos narrados; e até mesmo fazendo os dois em um mesmo
texto ou opinando sobre os acontecimentos.
Após a contextualização para o leitor, é preciso que algo de interessante acon-
teça, como um problema, que chamamos de conflito na narrativa. Esse problema
vai agravando-se aos poucos com novos fatos, e temos a complicação no enredo.
Chegando ao ponto máximo de tensão do enredo, quando temos nossa curiosi-

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dade aguçada, temos o clímax e, por fim, com o desenlace dos acontecimentos,
chegamos ao desfecho da narrativa.
Comece a prestar atenção à maneira
como são organizados os fatos nos epi-
sódios de séries, que são apresentadas
através dos meios de comunicação, e à
estrutura das novelas, de seus capítulos
e dos filmes em geral. As partes dos en-
redos podem ser observadas na maio-
ria deles.
Ainda, podemos ter a exploração de
fatores ligados ao tempo, quando os fa-
tos são narrados linearmente, ou seja,
em ordem cronológica, ou quando ocor-
rem episódios que estão na lembrança
de alguma personagem. Nesse caso, di-
zemos que ocorre o tempo psicológico, o tempo da memória.
Além disso, temos a possibilidade de apresentar um determinado ponto
de vista sobre esse enredo, escolhendo um foco narrativo que seja signifi-
cativo, ou seja, quem está contando os fatos pode ter algum interesse que
precisamos perceber.
E que tal tentar elaborar um texto com essas características? É um interessante
desafio!
Os textos que pertencem à tipologia narração ou à tipologia descrição apre-
sentam predominância de substantivos concretos, por isso são caracterizados
como textos figurativos.
Já a ocorrência da tipologia exposição traz um texto temático, isso é, tem pre-
dominância de substantivos abstratos, tendo o objetivo de explicar e transmitir
um saber. Seus enunciados se baseiam em relações lógicas, envolvendo compara-
ções, relações de causa e efeito, e implicações. Observe o exemplo a seguir:
A lógica aristotélica foi largamente divulgada a partir do século VI, com a tradução
do romano Boécio. Mais tarde, a escolástica, principal corrente filosófica da Idade Mé-
dia, introduziu vários recursos para tornar o estudo da lógica mais acessível [...] (ARA-
NHA; MARTINS, 2005, p.161).

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A tipologia argumentação também tem predominância de uso de substanti-
vos abstratos, porém, além do caráter informativo, esse texto busca convencer
o leitor, lançando mão de argumentos, a fim de fazê-lo acreditar que um deter-
minado ponto de vista é aceitável. Veja o exemplo, retirado da obra Os sertões,
de Euclides da Cunha:
Insistamos sobre esta verdade: a
guerra de Canudos foi um refluxo em
nossa história. Tivemos, inopinada-
mente, ressurreta e em armas em nos-
sa frente, uma sociedade velha, uma
sociedade morta, galvanizada por um
doido.
A tipologia injunção denota clara
intenção do emissor da mensagem,
durante o processo interativo, provo-
car uma reação no receptor da mensa-
gem, trabalhando com a função ape-
lativa, na qual predominam ordens,
convites ou orientações, dependendo
dos respectivos contextos em que é
usada. Veja o exemplo a seguir, retirado da obra A escrava Isaura, de Bernardo
Guimarães:
- Mas o que é?... fala, Malvina.
- Não te lembras de uma promessa, que sempre me fazes, promessa sagrada,
quehá muito tempo devia ter sido cumprida? ... hoje quero absolutamente, exijo,
o seu cumprimento.
- Deveras?... mas que promessa?... não me lembro.
- Ah! como te fazes de esquecido!... não te lembras, que me prometeste dar
liberdade a...
- Ah! já sei, já sei - atalhou Leôncio com impaciência. - Mas tratar disso aqui
agora?
em presença dela? ... que necessidade há de que nos ouça?
- E que mal faz isso? mas seja como quiseres, - replicou a moça tomando a
mão deLeôncio e levando-o para o interior da casa; - vamos cá para dentro.

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Henrique, espera aí um momento, enquanto eu vou mandar preparar-nos o
café.
Ainda, temos que acrescentar que podemos fazer uso das diferentes tipolo-
gias textuais, tanto com caráter literário, quando temos a intenção de impres-
sionar nossos interlocutores, carregando o texto de subjetividade e recursos
de estilo, quanto com caráter não literário, quando optamos pela objetividade,
colocando em foco a informatividade do texto.

A coerência e os tipos textuais


Considerando as características de cada tipologia textual, podemos observar
quando não ocorre a coerência de acordo com o objetivo do emissor.
Nas narrações, as incoerências podem ser resultado da caracterização de de-
terminada personagem em relação às ações que lhe são atribuídas, por exemplo,
se no início da narração é dito que tal personagem é vegetariana e atua em defesa
da vida de qualquer animal, não é possível dizer, em seguida, que ela está partici-
pando de um evento em uma churrascaria e apreciando o que é servido.
As sequências das ações também podem fazer o texto narrativo perder a veros-
similhança, por exemplo, se é dito que a personagem não possui um automóvel,
mas, logo à frente, é mencionado que não se lembra de onde estacionou seu veículo.
É preciso lembrar que há textos ficcionais cujos fatos e características acei-
tamos porque ocorre uma verossimilhança interna, como no caso das obras de
Monteiro Lobato. Nelas, encontramos uma boneca que fala e toma todas as deci-
sões, a Emília, mas aceitamos isso, pois, dentro da contextualização dessa obra, há
uma concatenação de informações, mesmo sabendo que não há verossimilhança
externa, ou seja, isso não ocorre na realidade.

CONTEXTUALIZANDO
Monteiro Lobato (1882 – 1948) participou ativamente da vida cultural
brasileira. Deixou uma extensa obra, composta de contos, crônicas, en-
saios, artigos e uma série de livros para crianças que o transformaram no
verdadeiro iniciador de nossa literatura infantil. Foi promotor, fazendeiro e
jornalista. Foi também um ousado editor, contribuindo muito para o de-
senvolvimento de nosso mercado editorial e para a ampliação do público
leitor (TUFANO, 2012, p. 481).

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Como na tipologia descrição apresentamos uma espécie de retrato verbal
de pessoas, animais, ambientes ou paisagens e objetos, ressaltando elementos
que os caracterizam, de acordo com as situações escolhidas, precisamos fazer
uso de imagens coerentes com as cenas em que as descrições estão inseridas.
Por exemplo, se caracterizamos o cenário como de uma região na qual a neve
faz parte no inverno, fica incoerente dizer que a personagem acaba de sair
usando roupas de verão.
No caso da tipologia argumentação ou da tipologia exposição, a coerência é de-
corrente não apenas da adequação da conclusão quanto ao que foi apresentado
anteriormente no texto, mas também da própria organização das ideias trazidas
na argumentação.
Logicamente, com a ocorrência da tipologia da argumentação, pode haver opi-
niões divergentes quanto à tese e aos argumentos apresentados, mas eles devem
ser baseados na realidade, estando em conformidade com o ponto de vista em
evidência, e a conclusão deve ser uma consequência natural dessa argumentação.

Tipos de argumentos
Durante a interação social, é comum que expressemos nossa forma de
pensar sobre um determinado assunto. Nesses momentos, argumentamos,
ou seja, expressamos um posicionamento em relação a determinado tema
e temos como objetivo principal infl uenciar nossos interlocutores, para que
cada um altere seu ponto de vista, adotando o nosso.
Para que alcancemos nossas intenções, tentando convencer o outro, não bas-
ta apresentar as ideias, elas precisam ser organizadas de modo encadeado, e é
necessário apresentar um raciocínio lógico que faça sentido para o interlocutor.
Cada receptor está mais ou menos propenso a aceitar um ou outro ar-
gumento, por isso cabe ao emissor da mensagem se preparar com vários
recursos linguísticos, pois o que convence um interlocutor pode não con-
vencer outro.
E, partindo do princípio de que todo enunciado é carregado de intencio-
nalidade, nesse caso, persuadir é evidente e, para isso, precisamos explorar
diferentes recursos persuasivos durante o ato discursivo.

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Desse modo, é importante conhecer alguns tipos de argumentos usados
para tentar persuadir diferentes interlocutores.

Argumento por citação


O argumento por citação ocorre quando tomamos o enunciado de outro para
embasar nossas ideias. Deve ser alguém renomado e que traga veracidade nas
palavras, dando confiabilidade às nossas declarações. Exemplo:
[...] Segundo Walter Benjamin, com as novas possibilidades de reprodução técnica, a
obra de arte perde a sua “aura” religiosa de produto “autêntico” e “único”, responsável
pelo verdadeiro ritual que constitui a apreciação artística [...] (PIGNATARI, 1993, p. 71).

Argumento por comprovação


A argumentação por comprovação se efetiva quando os argumentos são ve-
rossímeis e estão apoiados em fatos, ou seja, em dados comprováveis. Veja o frag-
mento do texto de Victor Caputo, publicado no site Exame:
Um levantamento do Ibope Inteligência traçou um perfil do público brasileiro de
internet. De acordo com a pesquisa, o público feminino é maioria. Entre os usuários de
internet, 53% são do sexo feminino e 47% do sexo masculino.
De acordo com a pesquisa, a maior parcela de usuários de internet no Brasil é da
classe C (o Ibope usa a definição do Critério de Classificação Econômica Brasil para di-
visão de classes). Os números mostram que 52% dos usuários são da classe C, 34% são
da classe B, 10% das classes D/E e 4% da classe A.
Os argumentos apresentados no texto foram obtidos por intermédio de um
órgão conhecido e respeitado como fonte de informações confiáveis. Além disso,
o uso de numerais dá ao leitor a sensação de confiabilidade.

Argumento por raciocínio lógico


A argumentação por raciocínio lógico apresenta argumentos que estão am-
parados por relações de causa e efeito, ou causas e consequências, e tendem a
persuadir com a relação entre as suas ideias. Observe o exemplo a seguir:

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O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admi-
timos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os
nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas
terminantemente. Para os desobedientes, cadeia (VARELLA, 2000).

DIAGRAMA 3. DEMONSTRAÇÃO DE QUE ARGUMENTOS TÊM PESOS


DIFERENTES PARA CADA INTERLOCUTOR

Argumento por raciocínio lógico

Argumento por comprovação

Dessa forma, procure treinar no seu cotidiano o uso desses recursos de per-
suasão, mas, para isso, procure enriquecer seu repertório, pois seu interlocutor
pode apresentar argumentos que sejam mais consistentes que os seus.

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Sintetizando
Nesta unidade, observamos a importância do cuidado com a elaboração
dos textos, sejam eles realizados oralmente ou na escrita, considerando os ti-
pos de coerência e a coesão textual, para que ambas caminhem lado a lado.
Vale lembrar que a coerência se refere ao sentido do texto, e a coesão aos pro-
cessos linguísticos que garantem a amarração entre as palavras, as orações, as
frases, os parágrafos e as ideias do texto como um todo.
Abordamos, também, as tipologias textuais (descrição, narração, exposi-
ção, argumentação e injunção), a partir das quais temos os inúmeros gêneros
textuais, que são renovados com o passar do tempo e de acordo com as neces-
sidades dos falantes.
Por fim, estudamos alguns tipos de argumentos usados para a persuasão
do interlocutor, a fim de que partilhe de nossas ideias de acordo com nossos
objetivos.
Dessa forma, conhecendo melhor os recursos que nos permitem apresen-
tar textos com coesão, coerência e concatenação de informações durante nos-
sas interações sociais, fazemos melhor uso da língua dentro da comunidade
linguística que integramos e maiores são nossas possibilidades de influenciar
o mundo em que vivemos.

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Referências bibliográficas
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neros. São Paulo: Editora Moderna, 2007.
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lo: Editora Moderna, 2005.
AZEVEDO, A. O cortiço. 4. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2004. (Coleção
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CAMPEDELLI, S. Y.; SOUZA, J. B. Produção de textos e usos da linguagem.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 17. ed. São Paulo: Editora
Contexto, 2008.
MICHAELIS: dicionário escolar língua portuguesa. São Paulo: Melhoramen-
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PEREZ, L. C. A. Tipos de coerência. Mundo Educação, [s.d.]. Disponível
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m#targetText=São%20eles%3A%20coerência%20sintática%2C%20semân-
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VIANA, A. C. Guia de redação – escreva melhor. São Paulo: Scipione, 2011.

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UNIDADE

4 USO DE
VOCABULÁRIO
ADEQUADO, FERRAMENTAS
DE PRODUÇÃO DE
TEXTO, PERSUASÃO E
ARGUMENTAÇÃO
E TÓPICOS GRAMATICAIS

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Objetivos da unidade
Apresentar a necessidade de observação da linguagem adequada aos
contextos discursivos, especialmente em textos escritos;

Evidenciar mecanismos de produção de textos e suas características


específicas, considerando estruturação e linguagem adequadas;

Demonstrar o uso de recursos argumentativos com a finalidade de persuasão


ou de argumentação, ressaltando suas diferenças;

Apresentar as diferenças entre uso de fatos e de opiniões em textos, levando


em conta o contexto de comunicação social;

Evidenciar tópicos gramaticais relevantes para a produção de texto escritos,


em especial, a acentuação gráfica, a pontuação, a colocação pronominal e as
novas regras ortográficas;

Ressaltar a importância do conhecimento das características das produções


escritas e do uso da variedade culta da norma padrão da língua em sociedade.

Tópicos de estudo
Uso de vocabulário adequado Persuasão e argumentação
Linguagem denotativa e lin- Argumentação em textos
guagem conotativa Lógica, silogismo e sofisma
Uso de sinônimos
O uso de sufixos Tópicos gramaticais
Modalizadores discursivos Acentuação gráfica
Pontuação
Ferramentas de produção de Novas regras ortográficas
textos Colocação pronominal
Resumo Novas regras ortográficas
Resenha Mudanças nas regras de
Relatório acentuação
Dissertação Uso do hífen

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Uso de vocabulário adequado
Você já deve ter sentido, como a maioria das pessoas, dificuldades na hora
de elaborar textos que observam a norma padrão, especificamente, a varieda-
de culta da língua, ou seja, aquela que é considerada de prestígio social, vista
como mais importante dentro das situações formais de interlocução, usada
nas esferas públicas, como meios de comunicação escrita, instituições de ensi-
no e órgãos públicos.
Isso acontece porque é necessário dominar as regras da gramática norma-
tiva, estudadas nos bancos escolares, algo que muitos desejam esquecer, pois,
em muitos casos, há a exigência da capacidade de decorar e de aplicar concei-
tos, algo nada agradável durante o período de formação inicial.
Por outro lado, nem todos têm a oportunidade de tomar contato com esse
estudo e de realizar as atividades que possibilitam esse domínio. No entanto,
cabe aqui ressaltar a importância que a sociedade dá a esse conhecimento.
Outro fator que dificulta a expressão das ideias durante o ato da escrita é
a escolha das palavras mais adequadas para a expressão dos pensamentos,
principalmente porque hoje em dia, em nossas interações através das redes
sociais, contamos com imagens que completam nossas ideias e, às vezes, até
as substituem, como os conhecidos emojis.

EXPLICANDO
Também conhecido como emoticon, os emojis se tornaram cada vez mais
populares com o avanço da internet e das redes sociais e já são conheci-
dos pela maioria das pessoas. Consistem em representações gráficas que
servem para completar ou até substituir as mensagens escritas, demons-
trando emoção ou dando significado a algo.

O brasileiro carrega essa dificuldade que poderia ser combatida com o há-
bito de leitura constante de todos os tipos de textos e a tentativa de diversifi-
cação do uso dos termos no dia a dia. Como isso não ocorre com a maioria da
população, o uso do léxico, que é o conjunto de palavras da língua, é limitado
às conversas do cotidiano e aos termos específicos da atuação profissional.
Muitas vezes, até nas situações que exigem o registro formal da língua, são
usados termos coloquiais e o falante não consegue comunicar o que pretendia,

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provocando erros de interpretação e fracasso em sua intenção comunicativa.
Em vários momentos, diante das corriqueiras dúvidas, o melhor é buscar
o uso de um termo mais específico de seu conhecimento porque, às vezes, ar-
riscar a aplicação de uma palavra cujo significado é desconhecido pode trazer
constrangimentos ao falante. O hábito de recorrer a dicionários, verificando
com atenção os verbetes e os significados mencionados, é importante, pois
sempre há detalhes que precisam ser considerados.
Uma dica interessante é buscar os verbetes que apresentam um menor nú-
mero de significados, de forma mais objetiva. Quando a listagem é extensa,
sem conhecer ideias subentendidas ou implícitas, você pode se perder entre os
exemplos apresentados, dificultando sua escolha.
Por outro lado, as diferentes áreas de estudo apresentam linguagens espe-
cíficas, termos técnicos importantes e, se quiser se fazer entender e ter suas
ideias levadas em consideração, precisa fazer um esforço para dominar essas
linguagens e os códigos usados. Num primeiro momento, é sempre mais difícil,
mas é comum que essas dificuldades sejam eliminadas com o passar do tempo,
desde que você se empenhe para isso. Fazer anotações constantemente e bus-
car as informações devem ser atitudes comuns em seu cotidiano de estudos.

CITANDO
Quando um escritor seleciona o vocabulário a ser empregado em seu
texto, leva em consideração a situação geral de comunicação em que o
seu texto se insere: assim, há circunstâncias que exigem vocábulos de
conteúdo semântico geral, como ferramenta, doença, militar, morrer etc.,
enquanto outras circunstâncias podem permitir um vocábulo de conteúdo
mais específico, como martelo, osteoporose, coronel, parecer etc. Nos
textos infantis, por exemplo, predominam os vocábulos gerais, enquanto
nos textos especializados, dominam os específicos. O importante é verifi-
car se a seleção do vocábulo foi adequada, pois, a priori, nenhum vocábu-
lo é melhor do que o outro (CARNEIRO, 1998, p. 20).

Espera-se que você associe essa declaração ao uso de hipe-


rônimos e hipônimos, lembrando que os hiperônimos se re-
ferem aos termos que, em relação a outros, têm significados
mais abrangentes, e os hipônimos, aos termos de significados
mais específicos, como acontece com os exemplos a seguir.

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QUADRO 1. HIPERÔNIMOS E HIPÔNIMOS

Hiperônimos Hipônimos

assento cadeira, sofá, poltrona

religioso padre, bispo, frei, pastor

agasalho casaco, paletó, sobretudo

Assim, é importante verificar que alguns termos que usamos no dia a dia
podem ser substituídos e um exercício interessante é tentar fazer essas substi-
tuições, como podemos observar no quadro a seguir, conforme Carneiro (1998).

QUADRO 2. EXEMPLOS DE TERMOS COMUNS E POSSIBILIDADES DE SUBSTITUIÇÃO

Significados gerais Significados específicos

possuir, portar; contar com; experimentar;


ter conter; mostrar; usar, vestir; exercer; manter;
esboçar; importar

criar; construir; escrever, compor, redigir;


fazer arrumar; cortar, aparar; completar; preparar;
prestar; produzir

cobrir, bastar; encontrar, deparar com; trazer;


dar
trocar; entregar, oferecer; publicar; frutificar

vestir; publicar; pendurar, fixar; depositar,


pôr guardar; apoiar; esconder, ocultar; escrever,
empregar, usar; atribuir; montar
Fonte: CARNEIRO, 1998. (Adaptado).

Desse modo, com empenho e dedicação, aos poucos você ampliará seu
repertório e terá maior segurança ao expor suas ideias e argumentos.

Linguagem denotativa e linguagem conotativa


Quando desejamos fazer referência às coisas e aos seres que
existem no mundo de modo literal, ou seja, de maneira exata, uti-
lizamos a denotação, isto é, buscamos os sentidos objetivos que
encontramos nos verbetes dos dicionários.
Por outro lado, fazemos uso da conotação quando dese-
jamos atribuir significados diferentes às palavras, por meio de

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associações, ligadas a aspectos sociais dos sentidos, de modo diverso ao da
denotação, lembrando que a conotação é variável, enquanto a denotação
tem caráter mais fixo dentro da língua.
Ainda, o uso conotativo de um termo pode variar de um grupo para o outro ou
até de pessoa para pessoa. A ampliação do repertório linguístico auxilia no enten-
dimento de usos conotativos das palavras.
Veja os exemplos abaixo:
Exemplo 1:
Coração: órgão muscular oco, que recebe o sangue das veias e o impulsiona
para as artérias (HOUAISS, 2004, p. 192).
Exemplo 2:
O coração humano
“É um teatro em que se apresentam todas as cenas, das mais trágicas às
mais burlescas. É um manequim a que se acomodam todas as máscaras, a do
tirano e a do hipócrita. É um instrumento em que todas as cordas vibram, e que
nem sempre anda afinado. Umas vezes restrito e quieto, outras vezes amplo e
bulhento como uma hospedaria em que entram caras novas todos os dias.” [...]
(ANDRÉ, 1998, p. 81).
Observe que o exemplo 1 traz exatamente qual é o significado da palavra “co-
ração”, enquanto o exemplo 2 apresenta metáforas, ou seja, um emprego com
sentidos que se associam por comparações subjetivas, no caso, associando “cora-
ção” a “um teatro”, “um manequim” e a comparação que se estabelece por meio do
conectivo, em “como uma hospedaria”.
Essas observações são importantes quando falamos sobre o uso do vocabulá-
rio geral e do vocabulário específico da língua, pois o entendimento da conotação
exige mais do falante do que o uso denotativo, o que acrescenta mais uma dificul-
dade para o entendimento e a comunicação, como você pôde perceber.
A falta de habilidades para o entendimento desses usos pode gerar pro-
blemas relacionados à apreensão dos sentidos, pois requer a interpretação
da parte do usuário da língua e, consequentemente, comprometer a com-
preensão das mensagens.
Portanto, para a compreensão dos sentidos de um texto, precisamos lidar com
a apreensão dos sentidos das mensagens que nos são transmitidas, e isso depen-
de do nosso repertório, daquilo que está guardado em nossa memória.

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Quando fazemos uso da linguagem verbal apenas com a intenção de entender
e de sermos entendidos, buscamos o uso denotativo das palavras e exploramos,
basicamente, a função utilitária da língua.
Porém, ao fazermos uso conotativo dos termos, utilizando combinações
incomuns e surpreendentes, buscando impressionar nossos interlocutores,
fazemos o uso da língua com sua função estética. Isso acontece com os textos
literários, que exploram a função poética da linguagem, trabalhando recursos
ligados à sonoridade, por exemplo.

Uso de sinônimos
Chamamos de sinônimos as palavras que estão ligadas por um sentido co-
mum, fundamental; no entanto, cada termo de uma sequência de sinônimos pos-
sui um aspecto característico, peculiar, de sentido, e isso precisa ser observado
quando elaboramos nossos textos.
O uso de sinônimos, ou seja, de sinonímia, auxilia os mecanismos de coesão
e coerência textuais. Nesse caso, trabalhamos com a coesão lexical, lembrando
que, em resumo, a coesão corresponde às ligações que fazemos entre os termos,
as orações, as frases e os parágrafos de um texto, a coerência corresponde ao seu
sentido e o léxico é o conjunto das palavras da língua.
Observe o exemplo:
O gato da vizinha é muito bonito! Eu adoro aquele felino!
Assim, ao escolhermos os termos para nossas produções, precisamos ga-
rantir também a coesão textual e a unidade de sentido do texto, o que reforça
a necessidade de ampliação nossa bagagem quanto ao conhecimento dos
significados das palavras.

Uso de sufixos
Você já deve ter percebido que temos muitas possibilidades dentro de nosso
idioma, o que nos dá a impressão de que é difícil dominar suas regras relativas à
variedade culta norma padrão.
Mas existem nuances quanto ao uso das palavras, aspectos que trazem dife-
renças interessantes. Um deles é o uso de sufixos; em especial, destacamos quan-

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to ao grau aumentativo e ao grau diminutivo. Veja os exemplos:
• Uso do diminutivo associado ao conceito de maior afeto ou depreciação:
“Convidei os amiguinhos do meu Pedrinho para a festa.” (Afeto)
“Que livrinho tedioso!” (Depreciação)
• Uso do grau aumentativo associado à ideia de grande importância ou de algo
brutal ou grotesco:
“O lugar estava rodeado de casarões de grande beleza!” beleza!” (De grande
importância)
“Aquele homenzarrão causava medo em todos.” (Brutal)
Esses detalhes demonstram não só o quanto podemos enriquecer nossos atos
comunicativos, mas também que precisamos ficar atentos à nossa expressão, pois
nossos interlocutores possuem experiências diferentes das nossas e, por esse mo-
tivo, podem encontrar sentidos que não prevíamos para nossas mensagens.

EXPLICANDO
Sufixo é um elemento acrescentado após o radical para produzir formas
derivadas ou flexionadas, quanto a gênero, número e grau (HOUAISS, 2004).

Modalizadores discursivos
Conforme Pacheco (2019), modalizadores discursivos são elementos responsá-
veis por evidenciar nossa opinião tanto na fala quanto na escrita, ou seja, o enun-
ciador deixa em evidência uma determinada atitude em relação ao conteúdo de
sua própria mensagem.
São denominamos de modalizadores discursivos os elementos que agem
como indicadores de argumentação, evidenciam o ponto de vista assumido pelo
falante e asseguram o modo como ele elabora o seu discurso.
Podemos destacar entre os modalizadores da língua:
• O uso de advérbios: os advérbios apresentam circunstâncias que podem ser
atribuídas aos verbos, aos adjetivos e aos próprios advérbios, trazendo ideias de
tempo, modo, lugar, afirmação, negação, concessão, matéria, instrumento, meio
e preço, mas também podem apresentar ideias que podem ser atribuídas a toda
uma oração, veja:
“Infelizmente, nem todos os corruptos são punidos por seus atos.”

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Observe que o uso do advérbio “infelizmente” apresenta um juízo de valor,
uma opinião sobre o que é enunciado em sequência.
• O uso de modo verbal: O imperativo indica ordem, convite, pedido, sugestão;
o subjuntivo indica possibilidade, incerteza, hipótese; o indicativo traz a certeza, a
realidade; entretanto, veja o exemplo seguinte:
“Gostaria que ele estivesse aqui.”
O uso do modo subjuntivo expressa, no exemplo, um desejo.
Esses dois exemplos evidenciam que novas possibilidades de interpretação
são apresentadas pela exploração de outros recursos linguísticos. Assim, precisa-
mos ficar atentos a essas probabilidades para melhor compreendermos as inten-
ções comunicativas de nossos interlocutores, identificando pressupostos e pontos
de vista significativos.

Ferramentas de produção de textos


Com objetivo de auxiliá-lo na produção de textos que costumam estar pre-
sentes entre as solicitações dos professores das diversas áreas de formação ou
atividades profissionais, selecionamos alguns gêneros textuais, sintetizando
suas características e apresentando orientações que se tornam ferramentas
para as suas produções.

Resumo
A elaboração de um resumo tem várias finalidades. Pode atender à solicitação
de um professor, por exemplo, no contexto escolar, mas pode ter como finalidade
auxiliar a compreender e fixar determinados conteúdos.
A produção de um resumo consiste em reduzir um texto, conservando suas
ideias mais importantes, eliminando aquelas que são apresentadas para reforço
ou embasamento e, ao fazer isso, conseguimos identificar o fio condutor do racio-
cínio do autor do texto original.
Leila Lauar Sarmanto (2006) sugere como etapas de elaboração de um re-
sumo:
• Leitura atenta do texto, quantas vezes forem necessárias, a fim de identificar
os itens essenciais, que podem ser destacados ou anotados em separado;

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• Redação do resumo, a partir das ideias selecionadas;
• Revisão do trabalho, para que se faça alguma alteração ou correção.
É importante que se evidencie que o resumo deve trazer informações, da-
dos e opiniões do texto original, usando a ordem direta dos termos, mas pro-
videnciando o apagamento de detalhes que não sejam fundamentais para a
compreensão, como os exemplos e os juízos de valor, ou seja, as opiniões, evi-
tando formas que não sejam curtas e simples.

Resenha
A resenha é um gênero bastante comum, encontrado em jornais e revistas,
mas também é alvo de solicitação nos bancos de estudos. Consiste na ava-
liação de um determinado produto, obra, livro, filme ou evento artístico, por
exemplo, apresentando uma reflexão crítica sobre os pontos positivos e nega-
tivos encontrados nesse produto.
O objetivo da resenha é oferecer um parecer crítico ao leitor, com informa-
ções e opiniões que podem levá-lo ou não ao consumo do produto em foco. As
resenhas geralmente são estruturadas da forma mostrada na Tabela 1 a seguir.

TABELA 1. ESTRUTURA BÁSICA DE UMA RESENHA

Apresentação contextualizada da obra em evidência, trazendo informações


Introdução biográficas do autor – se foi premiado, quando foi publicada, etc. Um posi-
cionamento sobre a obra pode ser mencionado já na introdução.

Geralmente, são apresentadas as características principais da obra, trazen-


do uma avaliação crítica a seu respeito, apresentando uma sinopse e uma
Desenvolvi-
avaliação sobre a obra, uma apreciação, com a exposição da opinião do
mento
resenhista a respeito da mesma, apresentando argumentos para defender
suas ideias.

A finalização do texto pode trazer uma síntese do posicionamento do rese-


Conclusão nhista sobre a obra, reforçando sua opinião positiva ou negativa, demons-
trando a relevância ou não quanto ao consumo da mencionada obra.

É preciso que se evidencie que a linguagem da resenha geralmente é adequada


ao seu público-alvo. No caso de textos a serem avaliados, faça uso da variedade
culta da norma padrão, e, tratando-se de um texto opinativo, cabe ao resenhista
avaliar com argumentos consistentes a qualidade de uma obra. Portanto, selecio-
ne esses argumentos com o objetivo de persuadir seu interlocutor.

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Relatório
Um relatório é um gênero textual usado tanto no setor público quanto no
setor privado; nele são registrados os resultados de um procedimento, uma
experiência ou uma ocorrência.
A seguir, você encontrará a sugestão de Sarmento (2008) para a elaboração
de um relatório, que normalmente está dividido nos seguintes itens, sendo que
é usual que também apresente local e data, no início ou no final, além da assi-
natura do remetente ao finalizar o relatório:
• Título: objetivo e sintético;
• De: designação do remente;
• Para: refere-se ao destinatário;
• Assunto: apresenta o objetivo do trabalho;
• Referências: fontes de consulta;
• Texto principal: desenvolvimento do relatório, que também pode apresen-
tar gráficos, tabelas, quadros, descrições, relatos e dados numéricos;
• Conclusão: resumo, resultados, constatações e sugestões.
A linguagem do relatório deve ser clara, resumida e objetiva, seguindo a
variedade padrão formal.

Dissertação
Dissertar significa expor um assunto de modo sistemático,
abrangente e profundo, oralmente ou por escrito (HOUAISS,
2004). Já um texto dissertativo-argumentativo é aquele que
expõe ideias e tenta explicá-las da melhor forma.
Inicialmente, no texto, há o estabelecimento de uma tese, ou
seja, um ponto de vista, que é sustentada por argumentos e que remetem a uma
conclusão em concordância com a tese apresentada.
O texto dissertativo-argumentativo é encontrado em editoriais de jornais
ou revistas, em artigos de opinião, em cartas argumentativas, em seminários,
entre outros. Faz parte da rotina escolar a sua elaboração e é o mais solicitado
nos exames vestibulares. Uma possibilidade de estruturação para um texto
dissertativo-argumentativo pode ser vista na tabela seguir.

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TABELA 2. ESTRUTURAÇÃO DE UM TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

Apresentação da tese, evidenciando o ponto de vista que norteará a argu-


Introdução
mentação sobre o tema enfocado.

Poderá apresentar relações de causas e consequências, enfocando de duas


Desenvolvi- a três causas e suas respectivas consequências, em quantos parágrafos
mento forem necessários, acrescentando argumentos que ajudem a embasar o
ponto de vista.

Conclusão Frase de remate que reforce o ponto de vista e a argumentação apresentada.

A linguagem desse tipo de texto deve ser impessoal, denotativa e objetiva,


eliminando marcas de primeira pessoa do singular. Lembre-se de que o objeti-
vo é persuadir o leitor quanto ao ponto de vista defendido.

Persuasão e argumentação
Constantemente, tentamos convencer nossos interlocutores a respeito de
nossas ideias, defendendo-as, a fim de que consigamos atingir nossos objetivos.
Para isso, lançamos mão de informações que pretendem alterar os pensamen-
tos e os comportamentos daqueles que participam de nossos atos dialógicos.
Alguns interlocutores conseguem fazer bom uso da retórica, que é enten-
dida como a arte de persuadir o interlocutor com o uso da linguagem, ou seja,
por meio da língua e dos recursos que essa disponibiliza.
Quando o enunciador consegue fazer um bom uso das palavras, pode levar
alguém a se submeter às ideias que embasam seu discurso, fazendo uso de ra-
ciocínios que podem ter como apoio provas científicas ou a lógica. Nesse caso,
consegue convencer o interlocutor por meio da persuasão.
Ao ser persuadido, o interlocutor adere às ideias propostas livremente,
aceita e aprova as ideias expostas, sendo convencido e não obrigado a isso.
Para que isso ocorra, é preciso apresentar argumentos, isto é, recursos de lin-
guagem que são usados para persuadir e tornar uma proposição mais interes-
sante para o interlocutor que outra.
O que ocorre é uma espécie de batalha de ideias, vencendo aquela que pa-
recer mais atraente para o interlocutor. Mas é preciso ressaltar que alguém
pode ser convencido a fazer algo, mas isso não quer dizer que foi persuadido,
isto é, concordar não significa aderir a uma ideia com liberdade.

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Desse modo, faz parte da persuasão a arte de fazer bom uso de argumen-
tos, quem consegue isso domina a retórica e pode influenciar os interlocutores
em benefício de suas ideias.

DIAGRAMA 1. O USO DA RETÓRICA PARA PERSUADIR O INTERLOCUTOR

Uso de
Retórica Persuasão
argumentos

Argumentação em textos
A estruturação do texto baseado em argumentação depende da forma de
argumentar, costumamos dizer que o texto passa a ter um “caminho” escolhido
pelo autor para defender suas ideias. Conforme Valença (2006), uma argumen-
tação sustenta-se basicamente em:
• Uso de argumentos de valor universal – são aqueles argumentos inques-
tionáveis. Com eles, conquistamos a adesão completa do leitor são argumen-
tos fortes, relevantes e devem ser adequados à defesa de um ponto de vista;
• Uso de dados retirados da realidade – são informações exatas e de co-
nhecimento de todos, devem estar baseadas em fonte confiáveis; nesse caso,
podemos utilizar dados estatísticos, pesquisas e informações científicas;
• Uso de citações de autoridades – são declarações de pessoas que podem
falar a respeito de determinados assuntos, com conhecimento reconhecido, ou
seja, são autoridades em relação ao tema abordado. Assim, podemos fazer uso
de suas palavras, pois a voz de uma autoridade traz credibilidade à argumenta-
ção, mas é preciso lembrar que a citação deve ser acompanhada de argumen-
tação autoral, isto é, ideias do enunciador;
• Uso de exemplos e ilustrações – a exemplificação fortalece a argumen-
tação, desde que os exemplos e os fatos apresentados tenham relevância de
sejam de conhecimento geral.
É preciso ressaltar que afirmações que têm como base emoções, sentimen-
tos, preconceitos e crenças devem ser evitadas, pois apresentam um caráter

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pessoal e são questionáveis como argumentos. Argumentos baseados em sen-
so comum, muitas vezes, não conseguem enriquecer o percurso argumentati-
vo. O raciocínio lógico, igualmente, contribui para a o sucesso da argumenta-
ção.
DIAGRAMA 2. PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS

Argumentos de valor Dados colhidos na


universal realidade

Argumentação

Citações de autoridades Exemplos e ilustrações

Lógica, silogismo e sofisma


De acordo com as autoras Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires
Martins, em seu livro Temas de Filosofia (2005), a lógica corresponde a “estudos dos
métodos e princípios da argumentação; a investigação das condições em que a
conclusão de um argumento segue necessariamente de suas premissas.”
As premissas são os enunciados que aparecem antes de uma conclusão e
dão base a ela. Correspondem a operações de pensamento que realizamos,
checando ideias para verificar sua validade, isto é, trabalhamos com lógica para
verificar a argumentação que é usada por nossos interlocutores.
Segundo as autoras, um argumento é uma sequência de proposições ou
enunciados, em que existe uma relação entre as premissas e a conclusão, sen-
do que as premissas devem sustentar e fundamentar a conclusão, ou seja,
concatenação, organização, entre as premissas deve levar a uma inferência,
dedução, válida. Observe o exemplo:
• Premissa maior: todo homem é mortal;
• Premissa menor: sócrates é homem;
• Conclusão: logo, Sócrates é mortal.

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Ao nos depararmos com uma estruturação de premissas e conclusões váli-
das, temos um silogismo. Entretanto, é possível que as premissas ou a conclu-
são apresentem problemas e sejam elaborados com a intenção de enganar o
interlocutor. Nesse caso, temos um sofisma. Veja o exemplo a seguir:
• Premissa maior: todos os mamíferos são mortais;
• Premissa menor: os pássaros são mortais;
• Conclusão: logo, os pássaros são mamíferos.
Como você pode perceber, precisamos ficar atentos aos argumentos usa-
dos pelos demais, pois podemos ser levados a acreditar em falsas premissas
ou em falsas conclusões.

Tópicos gramaticais
Sem dúvida alguma, dificilmente
encontramos pessoas que não se sin-
tam incomodadas com o estudo da
gramática. Gramática e dificuldade são
termos que, constantemente, apare-
cem associados no vocabulário dos
estudantes que veem as regras da nor-
ma culta como uma imposição que não
tem qualquer relação com seus interes-
ses e muitos acabam concluindo a vida
escolar sem o domínio da leitura e da
escrita. Entretanto, é necessário fazer
uma distinção entre a gramática nor-
mativa e a gramática da língua.
Conforme as autoras Paschoalin e Spadotto (2008), a gramática estuda as
relações estabelecidas entre as palavras na oração e as relações das próprias
orações dentro de um texto.
Os autores Ernani Terra e José Di Nicola, em seu livro Práticas de linguagem,
leitura e produção de textos (2008), observam que os falantes de uma língua ad-
quirem de forma natural e, gradativamente, os conhecimentos necessários para
usar a língua de sua comunidade linguística.

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Isso quer dizer que, aos poucos, o falante aprende os signos linguísticos e as
possibilidades de combinação entre eles, o que lhe possibilita a atividade comu-
nicativa e isso acontece de forma inconsciente, ou seja, o falante vai incorporan-
do naturalmente as regras de combinação da língua e adquirindo competência
comunicativa.
Esse conhecimento adquirido, que nos possibilita construir frases, escolher
palavras e colocá-las em determinada ordem, organizando os enunciados para
a comunicação, fazendo com que o falante nativo entenda enunciados e se faça
entender por meio deles, chamamos de gramática natural.
Já a gramática sistematizada, que registra, descreve ou
prescreve os fatos gramaticais e que tenta estabelecer um
determinado uso da língua denominado uso cul-
to, apresentando um conjunto de regras que
deve ser seguido pelo falante, chamamos de
gramática normativa.
Isso quer dizer que a gramática normativa
se preocupa somente com a linguagem culta,
principalmente quando é feito o registro escrito,
estudando os mecanismos da variedade culta, que
é a oficial e que representa a língua padrão da comunidade.
De acordo com Pascoalin e Spadotto (2008), são três os aspec-
tos de estudo da palavra apresentados pela gramática normativa, sendo eles
divididos em:
• Fonologia e fonética – compreende a representação gráfica da estrutura
sonora das palavras. A fonologia estuda os fonemas que formam as palavras e a
fonética estuda a realização dos fonemas. Já a representação gráfica correspon-
de à ortografia.
• Morfologia – estuda a estrutura mórfica das palavras, isto é, as formas e os
processos de formação das palavras, além de organizar a classificação delas em
classes de palavras ou classes gramaticais.
• Sintaxe – estuda as relações estabelecidas entre as palavras para formar
orações e entre as orações de um texto.
É a gramática normativa que tem tirado o sono de muitos estudantes; por
isso, alguns tópicos gramaticais merecem nossa atenção.

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Acentuação gráfica
Buscando uma expressão escrita que corresponda às regras da gramáti-
ca normativa, percebemos que algumas palavras apresentam acento gráfico,
enquanto outras não. Na pronúncia das palavras, também percebemos que
existem sílabas que apresentam maior intensidade sonora e outras não têm
essa característica.
Inicialmente, para esse estudo, precisamos considerar que ocorrem classifica-
ções diferentes a partir da observação de sílabas tônicas e de sílabas átonas nos
termos. Tomando por base os estudos de Sarmento (2012) e Cegalla (2012), temos
as seguintes informações e exemplos:
Classificação das palavras quanto à sílaba tônica:
Quanto à sílaba tônica (a sílaba de pronúncia mais forte), as palavras de mais
de uma sílaba podem ser classificadas em:
• Oxítonas – quando a sílaba tônica é a última: café, você, anzol, atum, escritor;
• Paroxítonas – quando a sílaba tônica é penúltima: difícil, lápis, carinho, mon-
tanha, cansaço;
• Proparoxítonas – quando a sílaba tônica é a antepenúltima: árvore, líquido
plástico, físico.
Após essas informações, podemos observar quando escrever uma palavra
com ou sem acento gráfico. Veja:
• Quanto ao acento tônico, os monossílabos (palavras que apresentam uma
única sílaba) classificam-se em:
a) Monossílabos tônicos – quando pronunciados com mais intensidade: flor,
gás, chão;
b) Monossílabos átonos – quando pronunciados com menos intensidade:
sem, me, nos.
Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em:
a(s): lá, cá, há, má, más
e(s): pé, mês, dês, pés
o(s): só, pó, nós, pôs
ditongos abertos éi, éu, ói: véu, réis, dói, sóis, véus
Acentuam-se as oxítonas terminadas em:
a(s): sofá, sofás, gambá, será, está

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e(s): jacaré, vocês, Tietê, você, freguês, pajés
o(s): paletó, avós, vovô, vovó, avós
em, ens: ninguém, armazéns, armazém
ditongos abertos éi, ói, éu: herói, papéis, anzóis, chapéu, fiéis
Acentuam-se as paroxítonas terminadas em:
l: fácil, móvel
n: pólen, hífen
r: mártir, dólar
os: bíceps, fórceps
x: tórax, látex, fênix, Félix
us: vírus, Vênus
i, is: júri, lápis, biquíni, táxi
om, on: íons, cânon, elétron
um, um: álbum, álbuns, fórum, médiuns
ã(s), ão(s): órfã, órfãs, órfão, órfãos, bênçãos, ímãs, órgão, órgãos
ditongo oral (seguido ou não de s): jóquei, túneis, vôlei, úteis, lêsseis, fáceis
As proparoxítonas são todas acentuadas graficamente. Exemplos: trágico,
pêssego, patético, lêssemos, árvore, lógico, inúmeros.
No caso dos hiatos, acentuam-se o “i” e “u” tônicos quando formam hiato
com a vogal anterior, estando eles sozinhos na sílaba ou acompanhados ape-
nas de “s”, desde que não sejam seguidos por “-nh”.
Exemplos:
sa – í – da ca – fe – í – na e – go – ís – mo sa – ú – de
ba – ú fa – ís – ca he – ro – í – na ju – í – zo
Não se acentuam, portanto, hiatos como os das palavras:
ju – iz a – in – da ra – iz ru - im sa – ir – mos ca – ir
Razão: -i ou -u não estão sozinhos nem acompanhados de -s na sílaba.
Cabe esclarecer que existem hiatos acentuados não por serem hiatos, mas
por outras razões. Veja os exemplos:
po – é – ti – co - proparoxítona;
bo – ê – mio - paroxítona terminada em ditongo crescente;
ja – ó - oxítona terminada em “o”.
No caso do acento diferencial, duas palavras obrigatoriamente continuarão
recebendo o acento após o acordo ortográfico:

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• Pôr (verbo) mantém o circunflexo para que não seja confundido com a pre-
posição por;
• Pôde (o verbo conjugado no pretérito perfeito) também mantém o circunflexo
para que não haja confusão com pode (o mesmo verbo conjugado no presente).
Com os verbos ter e vir, acentua-se com circunflexo a 3ª pessoa do plural do
presente do indicativo dos verbos, bem como nos seus compostos (deter, conter,
reter, advir, convir, intervir etc.). Veja:
Ele tem Eles têm
Ela vem Elas vêm
Ele retém Eles retêm
Ele intervém Eles intervêm
Nos verbos compostos de ter e vir, o acento ocorre obrigatoriamente, mesmo
no singular. Distingue-se o plural do singular mudando o acento de agudo para
circunflexo. Por exemplo: “ele detém/eles detêm”.

Pontuação
Conforme Cereja (2013), a linguagem verbal não é constituída apenas de
palavras. Na fala, há outros elementos que participam da interação verbal e
tornam mais preciso o sentido do que falamos. É o caso, por exemplo, da en-
tonação, dos gestos, da expressão facial, da ênfase sobre algumas palavras,
do ritmo da fala, etc.
A pontuação, até certo ponto, cumpre o papel de tornar mais claro e preciso o
sentido dos textos, transpondo os recursos citados para a linguagem escrita. Os
sinais de pontuação são estes:
• Ponto (.): o ponto é empregado no final de frases declarativas.
• Ponto de interrogação (?): É empregado no final de frases interrogativas
diretas.
• Ponto de exclamação (!): O ponto de exclamação é empregado no final de fra-
ses exclamativas, com a finalidade de indicar estados emocionais, como surpresa,
espanto, dor, alegria, entre outros.
• Dois-pontos (:): o dois-pontos é usado para introduzir uma explicação, um
esclarecimento, uma citação ou a fala de um personagem.
• Ponto e vírgula (;): emprega-se o ponto e vírgula:

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a) Nas orações coordenadas sindéticas adversativas e conclusivas, quando
apresentarem a conjunção posposta ao verbo. A conjunção, nesse caso, aparece
entre vírgulas;
b) Para separar orações, desde que a segunda contenha zeugma (um tipo de
elipse, ocorre quando se omite um termo que já apareceu);
c) Para separar itens dos enunciados enumerativos.
• Parênteses (()): os parênteses são empregados para separar palavras ou fra-
ses explicativas dentro do período e nas indicações bibliográficas. Não podem ser
usados para isolar erros ou rasuras.
• Colchetes ([]): os colchetes são usados, sobretudo em Matemática, como a
primeira opção aos parênteses.
• Travessão (—): o travessão é utilizado para:
a) Indicar a mudança de interlocutor nos diálogos;
b) Isolar a fala da personagem da narração;
c) Para destacar ou isolar palavras ou expressões no interior de frases.
• Barra (/): a barra é usada:
a) Na abreviação de datas;
b) Na análise sintática, para separar termos de uma oração;
c) Na análise sintática, usado em duplicidade (//), para separar as orações.
• Asterisco (*): o asterisco é usado para remeter o leitor a uma nota ao pé da
página ou no fim do capítulo, ou do livro.
• Vírgula (,): emprega-se a vírgula para:
a) Datas, para separar o nome da localidade;
b) Depois de sim e não, usados como respostas, para separá-los no início
da frase;
c) Indicar a omissão de um termo (elipse);
d) Separar termos de uma mesma função sintática ou termos de uma enu-
meração;
e) Separar o vocativo;
f) Separar o aposto (exceto o aposto especificativo);
g) Separar palavras e expressões explicativas;
h) Separar palavras e expressões retificativas;
i) Separar certos predicativos;
j) Separar adjuntos adverbiais deslocados;

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k) Separar objetos (diretos ou indiretos) deslocados;
l) Separar os elementos paralelos de um provérbio;
m) Separar os pleonasmos;
n) Separar as repetições;
o) Separar conjunções (ou locuções conjuntivas) coordenativas;
p) Separar orações coordenadas sindéticas (com exceção das introduzidas
por e, ou e nem);
q) Separar orações coordenadas assindéticas;
r) Separar orações intercaladas (interferentes);
s) Separar orações subordinadas adjetivas explicativas (estudadas na 8ª série);
t) Separar orações subordinadas substantivas antepostas às principais;
u) Separar orações subordinadas adverbiais antepostas às orações princi-
pais, que vêm no meio delas ou não;
v) Separar orações subordinadas substantivas apositivas;
w) Separar orações reduzidas.
• Reticências (...): indicam a interrupção da frase, feita com a finalidade de:
a) Sugerir dúvida, hesitação, surpresa;
b) Indicar quebra de sequência na fala ou no pensamento do narrador ou
da personagem;
c) Marcar supressão de trecho em textos.
• Aspas (“”): as aspas são usadas:
a) No início e no final de citações;
b) Para destacar palavras estrangeiras, neologismos, gírias;
c) Para indicar mudança de interlocutor nos diálogos.

Colocação pronominal
A colocação pronominal determina a posição dos pronomes oblíquos áto-
nos (me, te, o, a, lhe, se, nos, vos, os, as, lhes), ou seja, antes, no meio ou de-
pois do verbo. São regras usadas em situações que pedem o uso do registro
formal, durante as quais o falante encontra-se em contexto de avaliação, por
exemplo.
De acordo com a posição do pronome em relação ao verbo, temos a prócli-
se, a mesóclise e a ênclise. Veja:

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• Próclise (pronome antes do verbo) – ocorre quando há:
a) Advérbios – se houver vírgula, a próclise é desfeita.
Exemplo: Não o via.
Não, encontrei-o na sala.
b) Pronomes substantivos (são os pronomes pessoais retos, pronomes de-
monstrativos e os pronomes indefinidos).
Exemplos: Eu me sinto bem.
Este me pertence.
Alguém me chamou.
c) Pronomes relativos.
Exemplo: O livro que me pediu está aqui.
d) Conjunções subordinativas (adverbiais ou integrantes).
Exemplo: Quando o vi, fiquei feliz.
Disse que me traria o livro.
e) Conjunções coordenativas alternativas.
Exemplo: Ou me entrega o livro, ou faz o exercício.
f) Preposição em seguida de verbo no gerúndio.
Exemplo: Em se tratando de livros...
g) Frases exclamativas, interrogativas e optativas.
Exemplos: Deus me livre!
Quem te contou?
Que Deus o abençoe.
Observação: não se inicia frase com pronome oblíquo átono.
• Mesóclise (pronome no meio do verbo) – ocorre quando há:
a) Verbo conjugado no futuro do presente, desde que não se justifique a
próclise.
Exemplo: Convidar-me-ão para a solenidade. (Convidarão)
Eles me convidarão para a solenidade.
b) Verbo conjugado no futuro do pretérito, desde que não se justifique a
próclise.
Exemplo: Convidar-te-ia para viajar comigo, se pudesse. (Convidaria)
Eu te convidaria para viajar comigo, se pudesse.
• Ênclise (pronome depois do verbo) – ocorre quando há:
a) Início de frase ou após sinal de pontuação (vírgula, ponto e vírgula).

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Exemplo: Comenta-se que ele receberá o prêmio.
Alunos, apresentem-se ao diretor.
b) Em orações reduzidas de infinitivo ou de gerúndio.
Exemplo: Vim pessoalmente entregar-te os documentos.
Modificou a frase, tornando-a ambígua.
c) Em frase iniciada com verbo.
Exemplo: Entreguei-lhe as roupas.
d) Em frases imperativas afirmativas.
Exemplo: Sente-se agora.

Novas regras ortográficas


Como sabemos, a língua não se congela. Palavras e expressões que estão em
pleno uso numa época caem em desuso em outra, e novas palavras e expressões
são acrescentadas ao idioma. E não há como conter esse crescimento, sendo que
a globalização só ajuda nesse processo. Com isso, muitos consideram que per-
demos a pureza da língua, outros que somos beneficiados com as mudanças.
De qualquer forma, as alterações se fazem presentes e precisamos também nos
adequar a elas. É o que ocorre com as novas regras ortográficas do nosso idioma.
A língua portuguesa já passou por várias reformas com o passar dos anos
e as últimas alterações referem-se ao Acordo ortográfico da Língua Portu-
guesa, que foi assinado na cidade de Lisboa, no dia 16 de dezembro de 1990
por toda a comunidade lusófona, ou seja, todos os países que falam a língua
portuguesa, no caso, Portugal, Brasil, São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde,
Moçambique e Guiné-Bissau. Depois, por Timor Leste.
No Brasil, o acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo nº 54, de 18 de
abril de 1995, mas é preciso ressaltar que as alterações ocorreram apenas na
escrita, não ocorrendo alterações na língua falada.
A partir de 2008, a preocupação dos brasileiros ficou em evidência quan-
to a essas mudanças, principalmente daqueles que dependiam da escrita em
suas atividades profissionais, professores e estudantes, em especial aqueles
que prestariam exames de seleção. Todos carregavam muitas dúvidas, não so-
mente sobre o acordo, mas também sobre a data de validade das novas regras,
decisão que dependia do governo em vigência.

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Por esse motivo, muitas foram as editoras, assim como sites voltados para
a educação, que procuraram divulgar o acordo, a fim de esclarecer dúvidas e
preparar aqueles que dependiam da escrita para a adaptação.
O renomado professor Douglas Tufano, autor de livros didáticos de língua
portuguesa, foi um dos que se empenharam nessa divulgação, organizando
o Guia Prático da Nova Ortografia (2008). Observaremos as principais mu-
danças a seguir, usando sua obra como base.

Mudanças nas regras de acentuação


Não se usa mais o trema (¨), que era colocado sobre a letra u para mostrar
que sua pronúncia deveria ser nos grupos gue, gui, que, qui. Portanto, pala-
vras como “cinqüenta”, “lingüiça” e “seqüestro” passaram a ser escritas sem
trema. Apesar disso, ele ainda permanece em palavras estrangeiras como
Müller, por exemplo.
Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxíto-
nas, como, por exemplo: idéia passou a ser escrita ideia, jibóia se tornou jiboia,
Coréia virou Coreia, etc. Já as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói e
óis continuam com acento, como papéis, troféu e herói, por exemplo.
Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos
quando vierem após um ditongo. Já se a palavra for oxítona e o i ou o u esti-
verem em posição final, o acento permanece.
Também não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e
ôo(s). Dessa forma, algumas palavras sofreram alterações: voo, enjoo, creem
são exemplos de palavras que não possuem mais acento.
Também houve mudança no acento que servia para diferenciar palavras
como pára e para, pêlo e pelo, pólo e polo, entre outras.

Uso do hífen
Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h, como
super-homem e anti-higiênico, por exemplo.
Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal
com que se inicia o segundo elemento. Exemplos: aeroespacial, agroindustrial,

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anteontem, antiaéreo, antieducativo, autoaprendizagem, etc. Também não se
usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa
por consoante diferente de r ou s.
Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen somente se o segundo
elemento começar pela mesma vogal. Quando o prefixo termina por consoan-
te, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante. Ape-
sar disso, com o prefixo sub, usa-se hífen também diante de palavra iniciada
por r, como sub-raça, por exemplo.
No caso dos prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré e pró, usa-se
sempre o hífen.
Também é necessário utilizar o hífen para ligar duas ou mais palavras que
ocasionalmente se combinam, formando encadeamentos vocabulares como
Rio-São Paulo, por exemplo.

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Sintetizando
Nesta unidade, vimos que, apesar das dificuldades existentes para que pos-
samos expressar nossas ideias por escrito, existem mecanismos linguísticos
que podemos explorar a fim de melhorar nossas produções, observando a va-
riedade culta da norma padrão.
As orientações sobre uso do vocabulário adequado e as ferramentas de
produção de textos, considerando os gêneros mais enfocados na esfera de
formação acadêmica, como a resenha, o relatório, o resumo e a dissertação
ganharam evidência, com instruções sobre a estrutura, a linguagem e os con-
teúdos esperados, ou seja, suas principais características.
Ainda falamos sobre tópicos gramaticais importantes no ato da escrita
como a acentuação gráfica, a pontuação, a colocação pronominal e as altera-
ções apresentadas para a ortografia da língua portuguesa no último acordo
ortográfico.
Dessa forma, esperamos que você consiga fazer uso dos recursos apresen-
tados, oferecendo, sempre que isso lhe for solicitado, textos de acordo com a
norma padrão, defendendo suas ideias com argumentação pertinente.

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